Você está na página 1de 3

A educação feminina do século XIX: Entre a escola e a literatura

Whashington Dener dos Santos


Cunha
Rosemaria J. Vieira Silva

Introdução
O intuito inicial é demonstrar aspectos da educação feminina no século XIX a partir da
literatura nacional e seu papel na formação da mulher ideal.

A partir do processo de independência no Brasil, surge a necessidade de se preocupar


com a educação das mulheres. Passa a ser obrigatório o ensino primário direcionado a
essa população. Apesar da obrigatoriedade, o número de Escolas das Primeiras Letras
era muito reduzida e não alcançava toda a população a que se destinava.

Além das poucas escolas construídas, mulheres mais pobres não frequentavam a escola,
muitas não tinham interesse e outras não tinham disponibilidade para tal. Em
contrapartida, mulheres com condições de vida melhores, ao invés de se deslocarem até
essas escolas, tinham preceptores, ou seja, ensino em casa.

Em 1827, foi decidido a ementa base para a educação feminina no Brasil, seria ensinado
somente a ler, escrever e apenas as quatro operações de matemática. Afirmaram que
como a educação feminina deveria ser aplicada por professoras mulheres, não teriam
profissionais aptas para aulas mais complexas.

Foi imposto que os professores e professoras seriam contratadas através de concurso


público, entretanto dificultava que mulheres passassem nesses concursos, pela falta de
qualificação. Portanto na primeira metade do século XIX foi criado as Escolas Normais,
a fim de fortalecer o ensino. Portanto, as mulheres mais pobres tinham acesso ao ensino
das Escolas das Primeiras Letras e Escolas Normais.

Essas instituições educativas eram mantidas pelo Estado e/ou Ordens Religiosas
Femininas. O ensino era voltado em sua maior parte para prendas domésticas, leitura,
escrita e noções matemáticas básicas. Ao fim da formação, essas mulheres poderiam
exercer o magistério. Entretanto, o ensino básico era privilégio de poucas mulheres. As
mulheres pobres em sua maioria, não tinham a sua educação como principal fator. Os
responsáveis por elas, acreditavam que o mais importante era saber como cuidar da casa
e arrumar um casamento agradável.

Conforme foi ocorrendo o crescimento urbano, as famílias mais abastadas passaram a


transferir a responsabilidade da educação de suas filhas para as escolas privadas. No
Ato Adicional de 1834 estabeleceu-se que caberia ao governo central a obrigatoriedade
do ensino superior, à Corte o ensino secundário e às províncias o ensino primário e
secundário. As escolas privadas ainda eram o foco do ensino de mulheres mais
abastadas.
O ensino secundário passou a ser mais um centro de sociabilidade, onde as mulheres
mais abastadas promoviam festas e encontros entre as famílias com mais posses.
Mesmo as instituições que se esforçavam em promover o ensino ao invés do social,
encontravam dificuldades, uma vez que esse não era o foco principal. Portanto, para se
adaptarem ao que de fato era procurado, essas escolas promoviam o ensino de línguas, e
valores que eram procurados de uma mulher de família e “culta”. A maior parte das
escolas mantinham seus valores de educar as mulheres para criação de seus filhos e
cuidados com a casa. Pouquíssimas instituições tinham de fato o interesse de uma
educação mais intelectual. As mulheres, mesmo as de classes mais altas, não tinham
acesso ao ensino superior, salvo exceções onde conseguiam autorizações.

A partir do estudo e da historiografia, percebe-se que em diversas localidades no Brasil,


havia diferentes entendimentos do que era o ideal de mulher. Nos sertões piauiense e
cearense no século XIX, era entendido que para mulher viver bem, ela deveria se casar
com um homem de posses e ser branca. Essas funções sociais se mantinham no
patriarcalismo muito forte da época. Enquanto mulheres pobres, não tinham esse ideal
presente, uma vez que o casamento não contava com acertos familiares e não havia
dotes.

Guacira Lopes Louro, faz uma abordagem acerca da saída de homens do ensino
primário no final do século XIX e a ocupação dessa função por mulheres. Lentamente
os homens foram abandonando esse espaço docente, o que foi abrindo margem para que
mulheres o ocupassem. O discurso seria de que mulheres possuem intrinsicamente o
instinto maternal, atribuindo a essas mulheres o dever de cuidar não somente de seus
filhos, mas agora dos filhos de todos.

As mulheres pobres no século XIX que se viam com filhos, solteiras, ou até mesmo
conciliava a criação dos filhos e trabalho com seus parceiros, atuavam no trabalho
informal. Portanto, apesar da submissão inerente, essas mulheres tinham certa
independência. O objetivo principal na educação dessas mulheres eram o trabalho
doméstico e cuidado dos filhos.

Literatura e personagens femininas


A literatura no século XIX fomentava os ideais femininos da época. As obras escritas
por grandes literários estabelecia como mulheres deveriam se vestir, estudar, e se
comportar como uma moça de família.

Deveriam estudar línguas, tocar piano, falar bem, mas tudo isso de forma superficial. O
ensino ainda era precário e raso. Portanto, essas mulheres deveriam saber o básico de
tudo, o básico do francês, do piano etc. Não tinham o estudo filosófico, e não era do
interesse patriarcal que elas obtivessem acesso a esses estudos.

Os autores da época tinham o interesse em educar sobre o que seriam os valores ideais
das mulheres e criticar aquilo que para a sociedade patriarcal, era o oposto. Portanto,
usavam do espaço que tinham para fortalecer a função social das mulheres como
guardiãs do lar e dos bons costumes. Claramente, essas obras eram voltadas para as
mulheres abastadas que tinham acesso a literatura. Era um movimento de definição dos
ideias patriarcais.

Você também pode gostar