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oje, a presença feminina é marcante em todos os níveis de formação educacional, mas nem

sempre foi assim. As mulheres ingressaram na escola tardiamente e com formação voltada
para os cuidados com o lar e a família.

De acordo com as leis portuguesas, o sexo feminino fazia parte do imbecilitus sexus, ou sexo
imbecil, uma categoria à qual pertenciam mulheres, crianças e doentes mentais.

Essa ideia persistiu no Brasil Colônia, onde também eram comumente declamados versinhos
como: “mulher que sabe muito é mulher atrapalhada, para ser mãe de família, saiba pouco ou
saiba nada”; "a mulher honrada deve ser sempre calada"; e “mulher que sabe latim não tem
marido, nem bom fim” – muitos dos quais encontrados na literatura de escritores portugueses
do gênero masculino.

Mesmo já no século XIX, Charles Darwin, por exemplo, acreditava que as mulheres eram
intelectualmente inferiores – opinião semelhante à de outros homens biólogos na época.

Jesuítas: os primórdios da educação brasileira

As escolas do período colonial foram constituídas, inicialmente, pela ordem dos padres
jesuítas. Localizadas nas vilas e cidades, eram voltadas para o público masculino, visando à
formação de uma elite colonial culta e religiosa. Tanto as mulheres brancas, ricas ou não, como
as negras escravas e as indígenas não tinham acesso à leitura e à escrita.

A primeira reivindicação pela instrução feminina no Brasil partiu de um indígena, que pediu ao
padre Manoel de Nóbrega que ensinasse sua mulher a ler e a escrever. Os indígenas
estranhavam a diferença de oportunidades educacionais entre homens e mulheres, visto que
estas eram consideradas companheiras.

O padre sensibilizou-se com o pedido, já que os jesuítas tinham o desejo de fundar


recolhimentos para as mulheres no Brasil. No entanto, a ideia não se concretizou por ter sido
considerada ousada demais pela rainha de Portugal, Dona Catarina.

Apesar disso, alguns indígenas conseguiram burlar as regras. A autora Arilda Ribeiro afirma ter
encontrado registros de que Catarina Paraguassu, também conhecida como Madalena
Caramuru, teria sido não apenas a primeira indígena, mas a primeira mulher a aprender a ler e
a escrever, tendo feito uma carta de próprio punho ao padre Manoel de Nóbrega em 1561.
As mulheres ficaram excluídas do sistema escolar estabelecido na colônia. Quando muito,
podiam educar-se na catequese. Na segunda metade do século XVII, surgiram conventos no
Brasil, cujas “escolas” para moças ensinavam, sobretudo, costura e bordado (“trabalhos de
agulha”), boas maneiras e muita reza para “afastar maus pensamentos”.

Esses locais também eram usados como prisões por homens que tivessem muitas filhas e
temessem a divisão de suas propriedades com futuros genros; por maridos traídos ou pelos
que tinham a intenção de trair suas esposas; além de irmãos que, pensando na herança
familiar, preferiam não repartir os bens.

Até então, a educação feminina seguia restrita aos cuidados com a casa, o marido e os filhos.

historia da educacao feminina 2A inclusão limitada das mulheres na escola

A implementação de uma série de reformas estabelecidas por Sebastião José de Carvalho,


futuro Marquês de Pombal, entre 1750 e 1777, na metrópole e nas colônias portuguesas,
culminou com a expulsão dos jesuítas (1759). Assim, a educação passou da mão destes para o
Estado.

A reforma educacional pombalina representou uma primeira tentativa de transformação da


instrução feminina, embora pouco tenha mudado na prática. Com Pombal, oficialmente, as
mulheres tiveram permissão para frequentar salas de aula (separadas por sexo); e o magistério
público surgiu como mercado de trabalho para elas, que poderiam dar aulas apenas para
moças.

historia da educacao feminina 3Pela reforma, foi proibido o ensino particular sem a permissão
da recém-criada Diretoria Geral de Estudos; o conteúdo do ensino e os livros didáticos
passaram a ser controlados; e foram criadas as aulas régias, que marcaram o surgimento do
ensino público oficial e laico.

Com a vinda da família real portuguesa, em 1808, a educação feminina, de forma geral,
continuou a mesma. A preocupação era que as mulheres soubessem cuidar do lar e pudessem
aparecer em público sem causar vergonha ao marido ou aos pais.

Por influência dos estrangeiros que chegavam, surgiu o interesse e a procura, por parte das
famílias, por professoras particulares, que, geralmente, ensinavam, simultaneamente, meninos
e meninas da família.
Diferentes estabelecimentos no centro da cidade, destinados à educação feminina, apareciam
em anúncios na Gazeta do Rio de Janeiro, alguns dirigidos por inglesas e francesas. A
portuguesa Maria do Carmo da Silva e Gama anunciava seu estabelecimento para “filhas de
boas famílias”, em 1813, por exemplo.

Durante o período do Império Brasileiro, ainda que as mulheres tenham começado a ter
acesso à instrução das primeiras letras, eram desobrigadas de cursarem o ensino secundário,
cuja função era preparar os homens para o ensino superior.

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