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Crianças de Elite
Como eram educadas?
Quais os princípios, sentimentos e atitudes que os adultos, no Brasil imperial, possuíam em
relação a seus filhos?
Colégio particulares para meninas
Professoras Alemãs – dificuldade em impor disciplina às crianças brasileiras
“Uma criança brasileira é pior que mosquito hostil”
Incompreensão dos estrangeiros em relação aos hábitos tropicais: hábitos portugueses +
sociedade colonial + Cultura negra
É dentro desta normalidade cotidiana que as crianças brasileiras da elite oitocentista
viviam
Era a rotina do adulto que determinava o cotidiano infantil e juvenil;
Séc. XIX marca a associação dos termos “infância” e “adolescência” como idades da vida.
Termos como “criança”, “adolescente” e “menino” compõem os dicionários de 1830.
Criança significa cria da mulher – associado ao termo criação. ( criação está relacionado
ao ato de amamentar)
Primeira idade
Infância
Nascimento – 3 anos
Brasil Oitocentista
3 anos – 12 anos
Desenvolvimento de
Puerícia
atributos físicos
Período de
desenvolvimento
intelectual: Meninice
A família imperial adorava fotografias – as crianças eram retratadas de acordo com o
enquadramento do olhar adulto.
Vestimenta inspirada na moda francesa.
Exigia-se elegância para os retratos da família
Educação
Literatura moralista
Modelos para os meninos ou rasgos de humanidade, piedade filial e de amor
fraterno. Obra divertida e moral, publicado em Recife em 1869
A escola oferecia ensino enciclopédico e a família a educação moral “antes educação do que
instrução, antes moralidade do que ciência, antes fazermos homens de bem do que sabichões”.
Apesar da misoginia do documento, ele revela a origem da distinção de uma educação para
meninos, ministrada por homens e uma para meninas, ministrada por mulheres. Distinção esta
presente nos colégios da Corte imperial, como também na educação das princesas imperiais.
Dona Francisca, em carta de 1863, elogiava a educação da princesa Isabel: “acho que fazes bem
em dar uma educação de homem a sua filha mais velha, sobretudo que é provável que venha a
governar o país [...]”.
Onde residiria a diferença nas duas formas de educar?
1. Autoconhecimento como regra primeira;
2. Ensinar a relação entre natureza física e natureza social, baseado nos princípios de bondade e
justiça;
3. Condenar a tirania e valorizar o amor fraternal;
4. Harmonia entre religião e política;
5. Uma educação eminentemente masculina
6. Priorizar o conhecimento em detrimento da memorização: “saber por meio das letras”;
7. Nada de grandes devaneios abstratos: “que o imperador, sem abraçar nunca a nuvem por Juno,
comprhenda bem que pão he pão e o queijo he queijo;
8. O professor de física deverá apresentar suas leis cuja origem é divina;
9. Ensinar o monarca a incentivar o trabalho produtivo;
10. Trabalho como princípio e virtude maior;
11. Encaminhar o imperador “com seu genio docil e cordial para a compreensão da verdade e do
bem”;
Os meninos da elite iam para a escola aos sete anos e só terminavam sua instrução, dentro
ou fora do Brasil, com um diploma de doutor, geralmente de advogado.
Num colégio conceituado como o Externato Pedro II, frequentado por quase todos os
filhos da aristocracia cafeicultora imperial e pela elite urbana, havia um rol exaustivo de
disciplinas que englobava: filosofia, retórica, poética, religião, matemática, geografia,
astrologia, cronologia, história natural, geologia, ciências físicas, história, geografia
descritiva, latinidade, língua alemã, língua inglesa, língua francesa, gramática geral e
nacional, latim, desenho caligráfico, linear e figurado e música vocal, distribuídas ao longo
de sete anos.
Os meninos tinham uma opção alternativa aos colégios particulares, podendo optar por
uma formação militar: o Colégio Naval.
A partir da segunda metade do século XIX, também nas fazendas, os pais poderiam instruir
seus filhos nos colégios, em vez de mantê-los em casa, com uma preceptora; mas tal
escolha só era feita a partir dos sete anos de idade.
Da mesma forma, a instrução das meninas variou ao longo do século XIX e apesar de
manter a valorização das habilidades manuais e dos dotes sociais, já se encontrava no
currículo das escolas, desde meados da década de 1870, um conjunto de disciplinas tais
como “línguas nacional, franceza e ingleza, arithmética, história antiga e moderna,
mithologia,”
No entanto, ainda em 1820, como constatou um observador estrangeiro, no Brasil, a moça
de boa formação, uma moça prendada é aquela que com um pouco de música e francês,
sabe dançar um solo inglês e fazer crochê
O mesmo observador apontava para o fato de que a educação feminina, iniciada aos sete
anos e terminada na porta da igreja, aos 14 anos, supervalorizava o desempenho feminino
na vida social.
Na Corte imperial, das meninas da alta sociedade, exigia-se perfeição no piano, destreza
em língua inglesa e francesa, e habilidade no desenho, além de bordar e tricotar.
Os colégios, frequentados pelos filhos da elite rural e urbana, eram todos pagos e para os
internos variavam entre cem e 150 mil réis por trimestre, além das aulas extras de piano,
canto e desenho ou qualquer outro idioma além do inglês e francês.
Cuidado
Quanto mais ricos e nobres, na escala social, tanto mais distante dos pais estavam as
crianças.
Aluguel de ama de leite
As princesas e príncipes imperiais foram também criados por amas, seguindo um costume
herdado da tradição lusitana em que, algumas mulheres de elevada condição social,
podiam não querer amamentar seus filhos.
Dom Pedro II foi amamentado pela mesma ama que sua irmã, a princesa Maria Paula. A
ama de leite da princesa Isabel foi uma colona alemã, habitante da região de Petrópolis,
contratada com um ordenado de quarenta mil réis por mês.
O que de fato regia os comportamentos era a tradição das avós que, por sua vez,
aprenderam de suas avós: crianças no interior da casa, bem enroladinhas, protegidas do ar
frio e mamando de uma negra saudável e bem alimentada.
Art.7º – governanta [...], dar-lhe-á bons conselhos e exemplos, explicar-lhe-á a razão
porque lhe nega certas coisas, ou lhes a proíbe, não consentirá, que se lhe meta medos com
coisa alguma só sim lhe infundirá temor de Deus, respeito, e amor a seu pai, e mãe, e
humanidade para com seu próximo, não lhe deixando fazer mal, mesmo a animal algum,
para que o seu coração não se endureça
ensina-lhe-ha a rezar, a ouvir a missa, cozer, a bordar e a tudo mais que constitua uma
senhora ordinária bem prendada, pois que muito convem que saiba tudo [...]
Art.14o – Não consentirão que as Meninas conversem com pretos, ou pretas, nem que
brinquem com molequinhos e cuidarão muito especialmente, que as Meninas não os vejam
nús [...]
Quando as Meninas se vestirem, terão todo o cuidado, que ellas se não descomponhão
fazendo-lhes ceonhecer, que ellas não só devem ter pudor de si, mas vergonha de suas
próprias criadas.
A disciplina doméstica ficava por conta do temor a Deus, obtido por uma educação pia e pela
rotina diária de orações.
Antes de se levantar e antes de dormir... “Com Deus me deito, com Deus me levanto...” Além de
disciplinar o cotidiano, a
religiosidade estabelecia os ritos da vida familiar que indicavam a entrada da criança num
mundo de novas atribuições.
Outro rito da religiosidade católica presente no cotidiano das crianças era a primeira comunhão que
se realizava
geralmente entre dez e 13 anos. No caso das meninas, o mais cedo possível para se evitar a
proximidade com o casamento,
evento associado a uma outra idade da vida. A primeira comunhão era, portanto, uma solenidade
que determinava o fim da
puerícia, Na família imperial, os ritos de passagem na vida das suas crianças adquiriam uma
dimensão de evento público, compondo o quadro de representações necessário à Corte imperial.
Em 27 de maio de 1888, já no final do segundo Império
primeira comunhão do filho mais velho da princesa Isabel, Pedro, foi motivo de grande
solenidade.
Desde cedo, deviam se submeter às prescrições de normas de conduta que lhes limitavam
os movimentos.
No atelier do fotógrafo eram aprisionados à pose, nas festas de família aos trajes
enfeitados, nas escolas à disciplina dos estudos e em casa à moral das orações e aos
temores a Deus.
Contra tudo isso, levantava-se a energia infantil potencializada nos momentos de
descontração, quando podia dar vazão às alegrias e aproveitar o banho de cachoeira,o
passeio de barco, a volta de bonde pelo Jardim Botânico ou as cavalgadas pelo campo.