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COMPÓSITOS LAMINADOS
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2020
MODELOS MICROMECÂNICOS APLICADOS À ANÁLISE MULTIESCALA DE
COMPÓSITOS LAMINADOS
iii
“O desejo de saber define nossa inteligência enquanto potência de vida.”
iv
Aos meus pais e à minha namorada.
v
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Marcelo A. Savi, pela orientação durante a pesquisa e pela paciência nas
revisões incansáveis dos meus textos incompreensíveis.
Aos Professores Ana L.F. Barros, Ricardo C. Paschoal, Paulo P. Kenedi e Jaime T.P.
Castro, que me orientaram durante graduação e mestrado e aos quais muito devo pelo
que fizeram para me ajudar.
vi
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)
Fevereiro/2020
vii
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)
February/2020
viii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 1
1.1. Organização do Trabalho 6
2. MODELOS DE MICROMECÂNICA - PARTE 1:
PROPRIEDADES ELÁSTICAS 9
2.1. Modelos Baseados na Regra das Misturas 10
2.1.1. Regra da Mistura (ROM) 10
2.1.2. Modelo de Chamis (Ch) 13
2.1.3. Modelo de Halpin-Tsai (HT) 14
2.2. Modelos Baseados na Teoria da Elasticidade 15
2.2.1. Modelo Auto-Consistente Generalizado (GSCM) ou dos Cilindros
Concêntricos 16
2.2.2. Modelo de Mori-Tanaka (MT) 22
2.2.3. Modelo de Bridging (Br) 26
2.2.4. Homogeneização Assimptótica - Simetria Quadrada (AHs) e Simetria
Hexagonal (AHh) 28
2.3. Modelo da Regra das Misturas Modificada (ROMm) 32
2.4. Comparação dos Modelos 34
3. MODELOS DE MICROMECÂNICA - PARTE 2: RESISTÊNCIAS 45
3.1 Critérios de Falha dos Constituintes 45
3.1.1 Critério de Falha das Fibras 45
3.1.2 Critério de Falha da Matriz 46
3.1.3 Critério de Falha da Interface 50
3.2 Critérios de Falha da Lâmina Submetida à Carregamentos Longitudinais 51
3.2.1 Resistência à Tração Longitudinal 52
3.2.2 Resistência ao Cisalhamento no Plano 57
3.2.3 Resistência à Compressão Longitudinal 73
3.3 Modelos de Resistências da Lâmina Submetida à Carregamentos
Transversais 88
3.3.1 Modelo de Fator de Concentração de Tensão 88
3.3.2 Modelo de Chamis 90
3.3.3 Modelo Bridging 92
3.3.4 Modelo de Chamis Modificado 94
3.3.5 Modelagem Proposta 95
3.3.6 Resultados e Discussões Sobre as Resistências Transversais 108
4. ANÁLISE MULTIESCALA DE PLACAS COM ENTALHE 117
4.1 Modelo de Micromecânica 121
4.2. Análise de Tensões - Formalismo de Stroh 122
4.3. Critério de Falha de Puck 125
4.4. Resultados e Discussões 127
4.4.1 Influência do Modelo de Micromecânica 128
4.4.2 Influência da Aproximação de Placa Infinita 131
4.4.3 Estudo Paramétrico 133
5. ANÁLISE DE FALHA DE VASOS DE PRESSÃO 144
5.1. Homogeneização do Laminado - Homogeneização Assimptótica 147
5.2. Análise de Tensões - Formalismo de Lekhnitskii 149
5.3. Critério de Falha de Tsai-Wu 154
5.4 Resultados e Discussões 156
ix
6. COMPÓSITOS INTELIGENTES 161
6.1. Modelo Constitutivo Equivalente para SMAC 164
6.2. Estudo da Aplicação de SMAC para Diminuir Impactos Estruturais de
Terremotos 168
6.2.1. Modelo Constitutivo do SMA 174
6.2.2. Modelo Constitutivo da Matriz 178
6.2.3. Modelo Constitutivo do Compósito Homogeneizado 180
6.2.4. Modelo Dinâmico da Estrutura 180
7. CONCLUSÕES 195
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 198
x
LISTA DE FIGURAS
xi
as lâminas do WWFE (SODEN et al., 1998; KADDOUR &
HINTON, 2012, KADDOUR et al., 2013) com fibras de vidro e
as estimativas de resistência ao cisalhamento dos modelos
analíticos.
Figura 3.10 Comparação entre os ensaio de cisalhamento longitudinal para
as lâminas do WWFE (SODEN et al., 1998; KADDOUR &
HINTON, 2012, KADDOUR et al., 2013) com fibras de
carbono e as estimativas de resistência ao cisalhamento dos
modelos analíticos. 71
Figura 3.11 Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para
resistência ao cisalhamento longitudinal 72
Figura 3.12 Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para
resistência ao início do dano para o cisalhamento longitudinal 73
Figura 3.13 Fotografia da falha de uma lâmina sob compressão longitudinal
(VOGLER & KYRIAKIDES, 1999). 74
Figura 3.14 Representação esquemática dos modos de falha por compressão
longitudinal; compressão com as fibras alinhadas, falha por
cisalhamento e falha por extensão. 75
Figura 3.15 Representação do diagrama de corpo livre da fibra para o
modelo proposto. 81
Figura 3.16 Calibração dos modelos analíticos da resistência à compressão
longitudinal. 85
Figura 3.17 Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à compressão longitudinal. 86
Figura 3.18 Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à compressão longitudinal. 86
Figura 3.19 Razão entre as estimativas dos modelos analíticos para
resistência à compressão longitudinal e os valores
experimentais. 87
Figura 3.20 Imagem de uma medição fotoelástica que indica a concentração
de tensão gerada pelo efeito das fibras na matriz (DANIEL &
ISHAI, 2006). 89
Figura 3.21 RVE e suas subdivisões considerando uma fibra quadrada. 90
Figura 3.22 Influência de nt de acordo com V f para CFRP e GFRP. 94
Figura 3.23 Influência de nc de acordo com V f para CFRP e GFRP. 95
Figura 3.24 Sistema de coordenadas utilizado para descrever as tensões na
matriz na região da interface com a fibra. 96
Figura 3.25 Distribuição de tensões normalizada na matriz na região da
interface com a fibra para laminados de carbono (CFRP) e de
vidro (GFRP). 97
Figura 3.26 RVE com as indicações das faces em que são impostos os
deslocamentos para a simulação de EF. 98
Figura 3.27 Exemplo de malha para o RVE com V f = 0.6 . 100
Figura 3.28 Ajuste numérico da soma das tensões normais na matriz de
acordo com a fração volumétrica de fibras. 102
Figura 3.29 Variação de uvc de acordo com ξ para valores típicos de uma
matriz epóxi. 103
Figura 3.30 Variação da função de falha de Drucker-Prager normalizada ao 103
xii
longo da interface.
Figura 3.31 Calibrações numéricas dos ajustes da função de falha de
Drucker-Prager. 105
Figura 3.32 Calibração da função de ajuste gic (V f ) para a falha na interface
considerando o carregamento compressivo transversal. 106
Figura 3.33 Calibração dos modelos analíticos para estimar a resistência à
tração transversal. 110
Figura 3.34 Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à tração transversal. 110
Figura 3.35 Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à tração transversal. 111
Figura 3.36 Calibração dos modelos analíticos para estimar a resistência à
compressão transversal. 112
Figura 3.37 Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à compressão transversal. 113
Figura 3.38 Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à compressão transversal. 114
Figura 3.39 Calibração dos modelos analíticos para estimar a resistência ao
cisalhamento transversal. 115
Figura 3.40 Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à cisalhamento transversal. 115
Figura 3.41 Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à cisalhamento transversal. 116
Figura 4.1 Representação esquemática da abordagem multiescala: o
processo de homogeneização é aplicado na Etapa 1 e a placa é
assumida homogênea em todas as etapas seguintes. 120
Figura 4.2 Mecanismos de falha da matriz: modo A, modo B e modo C. 126
Figura 4.3 Comparação das estimativas das propriedades das lâminas com
os dados experimentais utilizando o modelo proposto e os
modelos Bridging e Chamis. 129
Figura 4.4 Comparação das estimativas da carga máxima para o início do
dano, Sot (90°, V f ) e S oc (90°, V f ) , utilizando o modelo proposto
e os modelos Bridging e Chamis. 130
Figura 4.5 Comparação das estimativas das resistências transversais das
lâminas utilizando o modelo proposto e os modelos Bridging e
Chamis. 130
Figura 4.6 Exemplo de malha utilizada para a simulação de elementos
finitos. 132
Figura 4.7 Comparação entre a concentração de tensão máxima para
placas infinitas (solução analítica) e placa finitas (simulação
numérica). 132
Figura 4.8 Erro na concentração de tensão máxima gerado pela hipótese de
placa infinita (solução analítica) comparando com placa finita
(simulação numérica). 132
Figura 4.9 Variação da concentração de tensão, σ 11(l ) / σ n , na borda do furo
de uma placa com fibra de carbono de acordo com V f para
α = 0°, 45°,90° . 133
xiii
Figura 4.10 Variação da concentração de tensão, σ 11(l ) / σ n , na borda do furo
de uma placa com fibra de vidro de acordo com V f para
α = 0°, 45°,90° . 134
Figura 4.11 Comparação da concentração de tensão para laminas com fibras
de carbono e de vidro. 135
Figura 4.12 Variação das resistências à tração, Sot , e compressão, S oc , de
acordo com V f para α = 0°, 45°,90° . 136
Figura 4.13 Influência de α no tipo de falha para um laminado de fibra de
carbono com carregamento trativo σ 11∞ = S ot (α , V f = 0.5) . 137
Figura 4.14 Influência de α no tipo de falha para um laminado de fibra de
vidro com carregamento trativo σ 11∞ = S ot (α , V f = 0.5) . 138
Figura 4.15 Influência de V f no tipo de falha para um laminado de fibra de
carbono com carregamento compressivo
σ 11∞ = − S oc (α = 90°,V f ) . 138
Figura 4.16 Influência de V f no tipo de falha para um laminado de fibra de
vidro com carregamento compressivo σ 11∞ = − S oc (α = 0°, V f ) . 139
Figura 4.17 Envelopes de falha da matriz e as combinações de tensões na
borda do furo em coordenadas materiais. 140
Figura 4.17 Variação da resistência à tração, Sot , de acordo com α e V f . 141
Figura 4.18 Variação da resistência à compressão, S , de acordo com α e
c
o
Vf . 141
Figura 4.19 Variação do mecanismo de falha para a resistência à tração, S , t
o
xiv
Figura 5.7 Variação da pressão máxima para o início do dano de acordo
com n e Vf para extremidade fechada. 159
Figura 6.1 Relação termomecânica do SMA para os fenômenos de
pseudoelasticidade e memória de forma. 164
Figura 6.2 Pseudoelasticidade para SMAC. 166
Figura 6.3 Pseudoelasticidade em SMAC para carregamentos que não
resultam na transformação de fase completa. 167
Figura 6.4 Primeiro ciclo de aquecimento para o efeito de memória de
forma. 168
Figura 6.5 Detalhe do comportamento da fibra de SMA durante o
carregamento térmico. 169
Figura 6.6 Deformação da barra e a tensão nas fibras de SMA durante o
carregamento térmico completo. 169
Figura 6.7 Evolução temporal das frações volumétricas de martensita e da
deformação de acordo com a temperatura. 170
Figura 6.8 Quantidade de terremotos por ano ao redor do mundo (U.S.
Geological Survey, 2019). 171
Figura 6.9 Evolução temporal da tensão e da fração volumétrica de
martensita e curva tensão-deformação. 177
Figura 6.10 Curvas tensão-deformação de SMA representando sub-loops. 177
Figura 6.11 Energia total, tensão e fração volumétrica de martensita ao
longo do tempo para os carregamentos apresentados na Figura
6.10 com deformação prescrita. 178
Figura 6.12 Modelo dinâmico com um grau de liberdade. 181
Figura 6.13 Aceleração de base do El Centro (Vibrationdata, 2019). 182
Figura 6.14 Deslocamento relativo máximo da estrutura elástica sem os
reforços. 182
Figura 6.15 Deslocamento relativo ao longo do tempo para os casos limites
(matriz pura, Vsma → 0.0 , e SMA puro, Vsma → 1.0 ) para
a = 10−10,10−9, 10−8 . 183
Figura 6.16 Evolução temporal da martensita para Vsma → 1.0 . 184
Figura 6.17 Curvas tensão-deformação para Vsma → 1.0 . 184
Figura 6.18 Energia total e energia por unidade de volume para cada braço
para Vsma → 1.0 . 185
Figura 6.19 Influência de a e Vsma no deslocamento relativo máximo para
braços de SMAC com matriz de epóxi (esquerda) e alumínio
(direita). 185
Figura 6.20 Deslocamento relativo máximo de acordo com Vsma para a
matriz epóxi. 186
Figura 6.21 Deslocamento relativo e curvas tensão-deformação para braços
de matriz epóxi com a = 2 ×10−9 e Vsma = 0.4, 0.6, 0.8 . 187
Figura 6.22 Deslocamento relativo e curvas tensão-deformação para braços
de matriz epóxi com a = 5 × 10−9 e Vsma = 0.4, 0.6, 0.8 . 188
Figura 6.23 Deslocamento relativo e curvas tensão-deformação para braços 188
xv
de matriz epóxi com a = 9 × 10−9 e Vsma = 0.4, 0.6, 0.8 .
Figura 6.24 Deslocamento relativo máximo de acordo com Vsma para a
matriz de alumínio. 189
Figura 6.25 Deslocamento relativo ao longo do tempo para braços de
SMAC com matriz de alumínio com a = 1× 10−9 e
Vsma = 0.4, 0.5, 0.8 . 189
Figura 6.26 Evolução da fração volumétrica de martensíta ao longo do
tempo para braços de SMAC com matriz de alumínio com
a = 1× 10−9 e Vsma = 0.4, 0.5, 0.8 . 190
Figura 6.27 Curvas tensão-deformação para braços de SMAC com matriz
de alumínio com a = 1× 10−9 e Vsma = 0.4, 0.5, 0.8 . 190
Figura 6.28 Deslocamento residual para braços com matriz de alumínio. 191
Figura 6.29 Deslocamento residual para braços com matriz de alumínio e
a = 1× 10−9 . 191
Figura 6.30 Curvas tensão-deformação para braços com matriz de alumínio
com a = 4 × 10−9 e Vsma = 0.0, 0.5,1.0 . 192
Figura 6.31 Curvas tensão-deformação para braços com matriz de alumínio
com a = 10 × 10−9 e Vsma = 0.0, 0.2,1.0 . 192
Figura 6.32 Influência de a e Vsma no deslocamento máximo em um braço
de compósito híbrido com Eeq = 72.4GPa . 193
Figura 6.33 Comparação entre o deslocamento relativo máximo para
compósitos com fibras de SMA e matriz de epóxi e de alumínio
e o compósito híbrido 194
xvi
LISTA DE TABELAS
xvii
1 INTRODUÇÃO
1
acoplada na estrutura como uma montagem, que pode conter a representação geométrica
de cada lâmina ou também as propriedades efetivas do laminado homogeneizado.
1
“An experimental program to generate the mechanical properties and design allowable of composite
materials for aircraft structures may cost millions of dollars and years of work.” (TSAI & MELO, 2014)
2
“in spite of the very high cost and time required, the experimental data obtained from these tests provide
information, which is only specific to the tested conditions. This is because the trends obtained from
notched specimens have been shown to be much dependent upon variables such as material properties”
(SHAH et al., 2009)
2
estrutura de forma paralela em diferentes escalas, mas mesmo assim o custo
computacional é bastante elevado e impossibilita estudos paramétricos detalhados.
ANDRIANOV et al. (2018) apresentaram uma extensa discussão sobre as vantagens do
uso da modelagem analítica, especificamente da homogeneização assimptótica, em
contraponto à modelagem numérica, principalmente para avaliar a influência de cada
parâmetro no sentido de otimização estrutural3. Baseado nisso, o presente estudo tem
por objetivo estudar técnicas analíticas para modelagem de laminados constituídos de
laminas unidirecionais, com fibras longas, utilizando a ideia de abordagem multiescala,
partindo das propriedades das fibras, da matriz, da interface fibra-matriz e da geometria.
Antes de iniciar o desenvolvimento do trabalho, vale destacar uma motivação
importante. Uma das principais lacunas no projeto de materiais compósitos do ponto de
vista estrutural é a definição da falha. Mesmo para o carregamento estático, diferentes
mecanismos concomitantes podem ser responsáveis pela falha, como ilustrado na Figura
1.3. De forma geral, a modelagem de dano pode ser considerada um tópico em
consolidação mesmo para materiais isotrópicos, como discutido por CHRISTENSEN
(2013). Para ilustrar tal argumento, vale destacar o uso de efeitos de outros invariantes
do tensor das tensões, ao invés do segundo invariante do tensor desviador das tensões
considerado pelo critério clássico de von Mises (CRANDALL, 1978), conforme
apresentado em MALCHER & MAMIYA (2014). Cabe destacar a importância do
primeiro invariante do tensor das tensões que quantifica o efeito das tensões normais; o
critério de von Mises assume que materiais dúcteis são insensíveis ao estado de tensões
triaxial com todas as componentes das tensões iguais (hidrostático), o que não pode ser
afirmado ara materiais frágeis.
Voltando para compósitos, um ponto que é facilmente percebido avaliando a
literatura é a imensa quantidade de critérios de falha propostos, sendo todos compatíveis
com seus próprios dados experimentais, como regra de ouro para propor um modelo. No
entanto, muitas vezes os modelos são pouco eficazes quando comparados com outros
3
“we have a dream that the developed approaches and the obtained formulas will attract attention of
specialists working with codes, in particular, for the purposes of optimal design” (ANDRIANOV et al.,
2018)
3
dados experimentais4. Dessa forma, a escolha do critério de falha a ser aplicado em um
projeto de laminados está longe de ser um assunto fechado.
Para investigar os principais critérios de falha existentes, na década de 1990
iniciou-se um esforço internacional denominado World Wide Failure Exercise -
WWFE. O WWFE está atualmente na sua terceira edição (KADDOUR et al., 2013) e os
resultados e conclusões das duas primeiras edições estão apresentados em SODEN et
al.(2004) e KADDOUR & HINTON (2013), respectivamente.
4
“Closer examination reveals the fact that current commercial design practices place little or no reliance
on the ability to predict the ultimate strength of the structure with any great accuracy” (HINTON et al.,
2004)
4
participantes, assim como a configuração do laminado (como as dimensões e direção
das lâminas);
iii) com esses resultados, para cada laminado que será posteriormente testado
sob condições de carregamento especificadas, os participantes devem publicar artigos
com estimativas do comportamento do laminado (como envelopes de falha, por
exemplo);
iv) uma vez que as estimativas são publicadas, os organizadores publicam
também os resultados experimentais dos laminados, juntamente com uma comparação
entre os modelos;
v) tendo exposto quais modelos melhor representaram cada resultado
experimental, os participantes têm então a chance de submeter uma nova modelagem,
dessa vez baseando-se nos resultados experimentais apresentados pelos organizadores,
de tal forma a tentar melhorar o critério proposto;
vi) após todos os participantes publicarem dois artigos, um antes e outro depois
de conhecerem os resultados experimentais, os organizadores fazem um novo estudo
comparativo, indicando avanços obtidos por cada modelo, assim como algumas
recomendações.
Como o objetivo principal do WWFE é obter uma comparação isenta entre os
critérios, é vedada a participação dos organizadores como participantes que propõem
critérios.
Na conclusão do WWFE1, os organizadores apontaram que, mesmo entre os
cinco critérios de falha que obtiveram o melhor desempenho, aproximadamente 25%
das estimativas tiveram um erro maior do que 50% (SODEN et al., 2004). No WWFE2
houve um avanço significativo, porém o resultado ainda mostra a necessidade de
melhora dos modelos; mais de 10% dos testes tiveram erros maiores do que 50% e
parâmetros ajustáveis ainda são necessários5. A grande margem de erro nas estimativas
é uma consequência da dificuldade na modelagem adequada de materiais compósitos
devido a fatores como distribuição real das fibras, tensões residuais e problemas nas
interfaces entre fibra e matriz.
5
“the reader might like to form a view regarding the quality and absolute fidelity of those theories […]
when one considers that the good correlations achieved were based on curve fitting certain parameters to
the experimentally observed data (a self-fulfilling methodology?)” (KADDOUR & HINTON, 2013)
5
Para todas as edições, as propriedades das fibras, das matrizes e das lâminas de
cada laminado são dados de entrada fornecidos pelos organizadores. Consequentemente,
apesar do significativo progresso recente nessa área, ainda pode-se perceber uma falta
do conhecimento necessário para uma fase anterior do projeto: a capacidade dos
modelos de micromecânica para estimar as propriedades elásticas e as resistências da
lâmina para a seleção dos constituintes que serão utilizados. Note que os organizadores
do WWFE forneceram as propriedades das lâminas e as mesmas são válidas apenas para
aquela configuração. Para qualquer alteração, mesmo que seja apenas na fração
volumétrica, são necessários novos testes para obter as propriedades porque
efetivamente o material não é mais o mesmo.
Baseado nisso, surge a motivação central do presente estudo: qual o erro gerado
se todas escalas forem consideradas na modelagem de materiais compósitos? Ou seja,
avaliar o projeto de um laminado a partir das propriedade dos constituintes (fibras,
matriz e interface), o que representa uma condição real. O objetivo é embasar a escolha
de um modelo analítico de micromecânica e ressaltar suas aplicações. Assim, pretende-
se não apenas apontar o melhor conjunto de equações a ser utilizado, como também
deixar claro quais são as margens de erro que devem consideradas.
Baseando-se nessa motivação de incluir a microescala na modelagem de falhas
seguindo as recomendações do ponto de vista macroscópicos do WWFE e levando em
conta a vantagem da modelagem analítica, conforme exposto por ANDRIANOV et al.
(2018), o estudo visa contribuir para a discussão do efeitos dos constituintes nos
diferentes tipos de falha desenvolvendo um modelo micromecânico que estime as
propriedades macromecânicas com menor erro em relação aos dados experimentais do
que os modelos existentes na literatura.
6
concentração de tensão. O Capítulo 5 discute o projeto de vasos de pressão. O Capítulo
6 apresenta um estudo sobre a utilização de fibras de ligas com memória de forma
(SMA - Shape Memory Alloy) para a construção de um compósito inteligente. Nessa
discussão, apresenta-se uma introdução ao conceito de projetos com SMA e
posteriormente uma investigação sobre a aplicação de compósitos com SMA para
diminuir danos resultantes de terremotos.
A presente tese tem como característica desenvolver capítulos o mais
autocontidos possível. Desta forma, as revisões de literatura, os desenvolvimentos e os
principais resultados são apresentados a cada capítulo. Na opinião do autor, a
consequência direta da adoção desta abordagem permite ao leitor a possibilidade de
consultar o capítulo de interesse de forma quase independente, apesar da leitura
contínua facilitar o entendimento global.
Desta forma, a contribuição científica pode ser destacada a partir de seus
capítulos que estão associados a publicações independentes, sendo 6 artigos de revistas
e 10 trabalhos de congresso. Entre os trabalhos de revistas, os seguintes estão
publicados:
i) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., (2018), “Multiscale Failure Analysis of
Composite Pressure Vessel”, Latin American Journal of Solids and Structures, v. 15,
e63.
ii) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., PACHECO, P.M.C.L., KALAMKAROV,
A.L., (2019), “Comparative analysis of micromechanical models for the elastic
composite laminae”, Composites Part B – Engineering, v. 174, 106961.
iii) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., EL-BORGI, S., (2020), “Nonlinear Dynamics
of Earthquake-Resistant Structures Using Shape Memory Alloy Composites”, Journal
of Intelligent Material Systems and Structures, v. 31, 771-787.
Os seguintes artigos de revista estão em fase de submissão:
i) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., PACHECO, P.M.C.L., KALAMKAROV, A.L.,
“Micromechanical analysis of longitudinal and shear strength of composite laminae”.
ii) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., PACHECO, P.M.C.L., KALAMKAROV,
A.L., “Micromechanical models to estimate transversal strength of composite laminae”.
iii) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., PACHECO, P.M.C.L., KALAMKAROV,
A.L., “Analytical Multiscale Analysis of Damage Onset in Notched Composite Plates”.
7
Entre os trabalhos de congresso, 7 estão publicados em anais (VIGNOLI et al.,
2017; VIGNOLI & SAVI, 2017a; VIGNOLI & SAVI, 2017b; VIGNOLI & SAVI,
2018b; VIGNOLI et al., 2019b; VIGNOLI et al., 2019c; VIGNOLI et al., 2019d) e 3
estão em fase de submissão (VIGNOLI & SAVI, 2020; VIGNOLI et al., 2020b;
VIGNOLI et al., 2020c).
8
2 MODELOS DE MICROMECÂNICA - PARTE 1:
PROPRIEDADES ELÁSTICAS
tarefa fácil uma vez que as hipóteses de simetria na distribuição das fibras não
representam bem a maioria das estruturas reais; todavia, pode-se entender como uma
parte da microestrutura que represente o comportamento geral do material7.
9
Os métodos discutidos a seguir possuem uma abordagem analítica, sendo
separados em dois grupos: modelos baseados na regra das misturas e modelos baseados
na teoria da elasticidade. Os modelos baseados na regra das misturas tratam os
constituintes essencialmente como elementos em série ou em paralelo, dependendo do
tipo de carregamento. Os modelos com base na teoria da elasticidade possuem uma
modelagem matemática mais rigorosa para avaliar a distribuição de carga entre os
constituintes. Essa classificação dos modelos em dois grandes grupos não é um
consenso na literatura (CHRISTENSEN, 1998), mas será adotada a seguir porque, na
opinião do autor, é a que melhor define os modelos.
10
Para o módulo de elasticidade na direção longitudinal, a compatibilidade
cinemática, o equilíbrio e as relações constitutivas lineares e elásticas do compósito, da
fibra e da matriz são
σ11 = V f σ 11f + (1 − V f )σ 11
m (2.2)
m
σ11 = E mε11
m (2.6)
onde V f é a fração volumétrica das fibras, ε11 , σ11 e E1 são a deformação, a tensão e
E1 = V f E1f + (1 − V f ) E m (2.6)
ε 22 = V f ε 22f + (1 − V f )ε 22
m
(2.7)
σ 22 = σ 22f = σ 22
m (2.8)
σ 22 = E2ε 22 (2.9)
11
σ 22f = E2f ε 22f (2.10)
m
σ 22 = E mε 22
m (2.11)
E 2f E m (2.12)
E2 =
E 2f (1 − Vf ) + E mVf
f
ν 12 = ν 12V f + (1 − V f )ν m (2.13)
f
G12 Gm (2.14)
G12 =
f
G12 (1 − Vf ) + G mVf
12
f
K 23Km
K 23 = (2.15)
f
K 23 (1 − Vf ) + K mVf
Como será discutido com mais detalhe posteriormente (Seção 2.4), o modelo
ROM funciona relativamente bem para E1 e para ν12 ; o primeiro porque realmente
O modelo de Chamis é baseado na ROM mas conta também com fatores semi-
empíricos (CHAMIS & SENDECKYJ, 1968). CHAMIS (1983) propõem a inclusão do
efeito não-linear da fração volumétrica das fibras e a influência de vazios na
microestrutura oriundos do processo de fabricação. Com isso, o modelo usa as seguintes
equações
E1 = E m + (1 − Vv )V f (E1f − E m ) (2.16)
Em
E2 = (2.17)
1 − (1 − Vv )Vf [1 − (E m / E 2f )]
Gm
G12 = (2.18)
1 − (1 − Vv )Vf [1 − (G m / G12
f
)]
Gm
G23 = (2.19)
1 − (1 − Vv )Vf [1 − (G m / G23
f
)]
13
onde Vv é a fração volumétrica de vazios e G23 é o módulo de cisalhamento fora do
plano ou transversal.
Note que, desprezando-se o efeito dos vazios na microestrutura, o modelo de
1 + ζ E ηE V f
E2 = Em 2 2 (2.21)
1 − ηE Vf
2
1 + ζ G ηG Vf
G12 = G m 12 12
1 − ηG V f (2.22)
12
14
onde
(E 2f / E m ) − 1
ηE = (2.23)
2
(E 2f / E m ) + ζ E
2
(G12f / G m ) − 1
ηG =
12
(G12f / G m ) + ζ G (2.24)
12
ζ E = 2 + 40Vf 10 (2.25)
2
ζ G = 1 + 40Vf 10 (2.26)
12
Muitos modelos baseados em soluções elásticas têm sido propostos para estimar
as propriedades mecânicas da lamina, incluindo soluções exatas baseadas na teoria da
elasticidade e estimativas de valores limites pela utilização de princípios variacionais.
15
Destaca-se aqui a crítica feita por ANDRIANOV & MITYUSHEV (2017) sobre o
termo exato para denotar soluções analíticas8. Segundo o autor, este termo deveria ser
evitado uma vez que muitas hipóteses precisam ser estabelecidas na formulação do
problema e que soluções escritas em forma de séries infinitas nunca podem ser
computadas de forma exata. Essa crítica não é um consenso na literatura (CRUZ &
BRAVO-CASTILLERO, 2017), todavia o presente estudo tem o objetivo de avaliar as
estimativas de cada modelo e compará-las com dados experimentais, sem aprofundar-se
nessa discussão.
A seguir, quatro modelos são apresentados: auto-consistente generalizado, Mori-
Tanaka, Bridging e homogeneização assimptótica. O modelo proposto por LUCIANO
& BARBERO (1994) apresenta boas estimativas quando comparado com dados
experimentais, no entanto ele não é discutido por se limitar a fibras isotrópicas.
Adicionalmente, alguns fundamentos teóricos são omitidos na discussão a seguir, como
o princípio de Hill-Mandel (SOUZA NETO et al., 2015), para evitar extensão
excessiva. Sendo assim, adota-se como objetivo apresentar o mínimo necessário para o
entendimento de cada modelo.
8
“term “exact solution” continues to be used too loosely and its attributes are lost” e “Authors’ claims on
closed-form expressions for the effective coefficients, true for any parameter values, are absolutely
unjustified” (ANDRIANOV & MITYUSHEV, 2017)
16
é possível realizar o processo de homogeneização de tal forma que V f ≅ (Rf / R)2 ,
como mostrado na Figura 2.3. Como consequência, pode-se adotar que a parte externa
aos cilindros concêntricos é equivalente ao material homogeneizado.
17
assumido para os outros dois carregamentos prescritos, mas o procedimento é similar
(para o módulo de cisalhamento transversal utiliza-se também o princípio de Eshelby).
Para o carregamento macroscópico triaxial da forma σ11 = σɶL ,
u1 = εɶx1 (2.28)
α1r if 0 ≤ r ≤ Rf
ur = α3 (2.29)
α 2r + if Rf ≤ r ≤ R
r
onde αi são constantes que devem ser determinadas pelas condições de contorno do
∂u1
ε11 = = εɶ (2.30)
∂x1
α1 if 0 ≤ r ≤ Rf
u3
ε rr = = α3 (2.31)
r α 2 + 2 if Rf ≤ r ≤ R
r
α1 if 0 ≤ r ≤ Rf
∂u3
εθθ = = α3 (2.32)
∂r α 2 − 2 if Rf ≤ r ≤ R
r
18
σrrf (r = Rf ) = σrr
m
(r = Rf ) (2.34)
m
σrr (r = R) = σɶT (2.35)
as constantes podem ser obtidas como função dos carregamentos que estão sendo
aplicados. Para o caso em que σɶT = 0 , tem-se
Rf R
1
f m
σ11 = σɶL (εɶ) = σ11rdr + σ11rdr (2.36)
R2 0
Rf
Como E1 = σ11 / ε11 = σɶL (εɶ) / εɶ , basta manipular a Eq.(2.36) para obter
f
4Vf (1 − Vf )(ν12 − ν m )2
E1 = E1fVf m
+ E (1 − Vf ) +
(1 − Vf ) Vf 1 (2.37)
f
+ m
+ m
K 23 K 23 G
tem-se
1 1
f
Vf (1 − Vf )(ν12 − νm ) −
Km K f
ν12 f
= ν12Vf + ν m (1 − Vf ) + 23 23
(2.38)
(1 − Vf ) Vf 1
+ +
f
K 23 K 23 G m
m
19
σ22 = cɶ2222 ε22 + cɶ2233 ε33 = σɶT (2.39)
m
Vf
K 23 = K 23 +
1 1 − Vf (2.42)
+
f m m m
K 23 − K 23 K 23 +G
f
m
G12 (1 + Vf ) + G m (1 − Vf )
G12 = G f
(2.43)
G12 (1 − Vf ) + G m (1 + Vf )
20
2
G G
A 23 + B 23 + C = 0 (2.44)
Gm m
G
onde
B = b0 + bV
1 f
+ b2Vf 2 + b3V f 3 + b4V f 4 (2.46)
C = c 0 + cV
1 f
+ c 2V f 2 + c3V f 3 + c 4Vf 4 (2.47)
a1 = 8(G m )2 (G23
f
− G m )[2G 23
f
G m + K 23
f f
(G 23 + G m )][(G m )2 +
(2.49)
G m K m + (K m )2 ]
a 2 = −12(G m )2 (K m )2 (G 23
f
− G m )[ 2G 23
f
G m + K 23
f f
(G 23 + G m )] (2.50)
a3 = 8(G m )2 {(G 23
f
G m )2 K 23
f f
+ (G 23 )G m K m (K 23
f
−Gm ) +
(2.51)
(K m )2 [G23
f
G m (G23
f
− 2G m ) + K 23
f f
(G 23 − G m )(G23
f
+ G m )]}
a 4 = 2(G m )2 (G 23
f
− G m )(2G m + K m )[K 23
f
G mK m −
f (2.52)
G23 (2G m (K 23
f
− K m ) + K 23
f
K m )]
b1 = 8(G m )2 K m (G23
f
− G m )[2G 23
f
G m + (G 23
f
+ G m )K 23
f
](G m − K m ) (2.54)
b2 = −2a 2 (2.55)
b3 = −2a3 (2.56)
b4 = −4(G m )3 (G 23
f
− G m ){K 23
f
G m K m − G23
f
[2G m (K 23
f
− K m ) + K 23
f
K m ]} (2.57)
c1 = 8(G m K m )2 (G 23
f
− G m )[ 2G 23
f
G m + K 23
f f
(G 23 + G m )] (2.58)
c2 = a 2 (2.59)
c3 = a 3 (2.60)
21
c4 = −2(G m )2 K m (G23
f
− G m ){K 23
f
G m K m − G 23
f
[ 2G m (K 23
f
− K m ) + K 23
f
K m ]} (2.61)
σ ij∞ + σɶ ij = cijkl
m
(ε kl∞ + εɶkl ) (2.62)
σ ij∞ + σɶ ij = cijkl
f
(ε kl∞ + εɶkl ) (2.63)
Pelo método da inclusão equivalente, admite-se que existe uma situação tal que a
não-homogeneidade é equivalente a uma inclusão homogênea (material de mesma
propriedade) que resulte no mesmo campo de tensões e deformações, mas apresentando
autodeformação. Ou seja, apesar da deformação total na fibra (inclusão) permanecer a
mesma, ε ij∞ + εɶij , a deformação elástica deve ser reescrita como ε ij∞ + εɶij − ε ij* . Dessa
σ ij∞ + σɶ ij = cijkl
m
(ε kl∞ + εɶkl − ε kl* ) (2.64)
22
Para que exista equivalência entre os problemas deve-se ter,
f
cijkl (ε kl∞ + εɶkl ) ≡ cijkl
m
(ε kl∞ + εɶkl − ε kl* ) (2.65)
*
εɶkl = Sklmn ε mn (2.66)
onde S klmn é o tensor de Eshelby que depende apenas da geometria das inclusões e das
5 − 4ν m
S 2222 = S 3333 = (2.67)
8(1 − ν m )
4ν m − 1
S 2233 = S 3322 = (2.68)
8(1 − ν m )
νm
S 3311 = S 2211 = (2.69)
2(1 − ν m )
3 − 4ν m
S 2323 = (2.70)
8(1 − ν m )
1
S 3131 = S1212 = (2.71)
4
23
Note que o tensor de Eshelby não é completamente simétrico, isto é,
Sijkl = S jikl = Sijlk , mas Sijkl ≠ Sklij . Voltando, as relações constitutivas podem ser
reescritas como
f
cijkl (ε kl∞ + S klmn ε mn
* m
) = cijkl (ε kl∞ + S klmn ε mn
*
− ε kl* ) (2.72)
f
cɶijkl εkl = Vf cijrs εrsf + cijpq
m m
ε pq −Vf cijuv f
εuv (2.73)
Suponha que exista um tensor de quarta ordem tal que a seguinte relação seja
válida
f
εmn = Amnkl εkl (2.74)
Eq.(2.73), tem-se
m
cɶijkl = cijkl (
f
+ Vf cijmn m
− cijmn Amnkl ) (2.75)
24
As propriedades equivalentes podem ser diretamente calculadas a partir das
componentes do tensor Amnkl . Vale ressaltar que essa não é uma tarefa elementar e
existem alguns modelos na literatura que abordam esse problema de formas diferentes
(PYRZ, 2008).
O modelo de Mori-Tanaka considera que, como a autodeformação só é nula no
interior das fibras (inclusões), a diferença entra as deformações médias nas fibras e na
matriz é equivalente a deformação no problema não-homogêneo que gera a
autodeformação na transformação para inclusão. Isto é,
εij* = sijkl
m m
(cklmn f
− cklmn f
) εmn (2.77)
deformações médias na fibra e na matriz como εijf = Tijkl ε klm e utilizando a Eq.
(2.76), tem-se
Note que existe uma relação entre os tensores Aijkl e Tijkl , no entanto, para o
25
não necessitar computar o tensor de quarta ordem apresentado na Eq.(2.78). Isso
permite que o mesmo seja implementado sem o conhecimento dos tensores de Eshelby.
As equações explícitas são
E1
E1 f
E2 =
1
+ 2V 1 + ν f − E2 (1 − ν m ) +
1 − (ν m )2
f Z 2 23
1 − (ν )
m 2
Em
E f 1 + ν m f (2.80)
1 + ν 23
Vf Z1 1
2
− +
E m E m E1f E2f
Z1
ν12 = ν m + 2Vf m
f
(ν12 − νm )[1 − (ν m )2 ] (2.81)
E
E m 4Vf
G12 = 1 + Vf − (2.82)
2(1 − Vf )(1 + ν m ) f
G12 m
1 + V f + 2(1 − Vf ) (1 + ν )
Em
−1
m
V f
G23 = E 2(1 + ν ) +
m
(2.83)
1 − Vf f
G23
+
8[1 − (ν ) ] E − 2G23 (1 + ν )
m 2 m f m
onde
(ν f 2
) 1 − ν f (1 + ν m
)[1 + V (1 − 2ν m
)] −1 (2.84)
Z1 =
f
−2(1 −Vf ) + (1 − Vf ) +
23 23
E f
E f
E m
1 2
26
concêntricos foi proposta (WANG & HUANG, 2015). A principal vantagem deste em
relação aos modelos que foram utilizados como base é a sua capacidade de modelar
efeitos não-lineares (HUANG & ZHOU, 2011).
Assumindo que existe um tensor de quarta ordem que relaciona as tensões na
matriz e na fibra, denominado tensor de Bridging, σ ijm = Bijkl σ klf , pode-se seguir um
−1
cɶijkl = [(1 − V f )Bijpq + Vf I ijpq ]Dpqkl (2.86)
Em ν m (ν m − ν 12f )
[B ]11 = 1 + (2.87)
E1f (1 + ν m )(1 − ν m )
1 E m ν m (1 − ν f ) 2ν f
23 12 m
[B ]12 = [B ]13 = − + ν (2.88)
2(1 − ν m ) (1 + ν m ) E 2f E1f
Em (ν m − ν 12
f
)
[B ]21 = [B ]31 = (2.89)
2E1f (1 + ν m )(1 − ν m )
1 (ν f − 3) ν mν f
m
[B ]22 = [B ]33 = E 23 + 12
+
(ν m − 1)(ν m + 1) 8E 2f
2E1f
(2.90)
(ν m + 1)(4ν m − 5)
8
27
1 (3ν f − 1) ν mν f
m
[B ]32 = [B ]23 = E 23 + 12
+
(ν m − 1)(ν m + 1) 8E 2 f
2E1f
(2.91)
(ν m + 1)(1 − 4ν m )
8
Gm (3 − 4ν m )
[B ]44 = + (2.92)
f
4G 23 (1 − ν m ) 4(1 − ν m )
G m + G12
f
[B ]55 = [B ]66 =
f
(2.93)
2G12
28
Vf (km − k f )2 K
k = k fVf + km (1 − Vf ) − (2.94)
m1
Vf (km − k f )(lm − l f )K
l = l fVf + lm (1 − Vf ) − (2.95)
m1
Vf (lm − l f )2 K
n = n fVf + nm (1 − Vf ) − (2.96)
m1
p = pm − 2Vf pm P (2.97)
m = mm − Vf (mm − m f )M (2.98)
onde
χp
P = (2.101)
[1 + Vf χp − (2a − 1)χp 2R 4a (S 2a )2 ]
1 + κm
M = (2.102)
[1 + κm (m f / mm )](1 + R 2H − − I )
1 + κm
M'= (2.103)
[1 + κm (m f / mm )](1 + R 2H + − I ')
κf ,m = 1 + 2(m f ,m / k f ,m ) (2.104)
pm − p f
χp = (2.105)
pm + p f
π
H + = Ar1 + B κm + (3 − a )B[(S 4 / π) + πg1 ] (2.106)
sin(π / a )
29
π
H − = Ar1 + B κm − (3 − a )B[(S 4 / π) + πg1 ] (2.107)
sin(π / a )
r = β42aa−−11β42aa−+11R 4a + 2 (S 4a )2 (2.110)
r3 = β31β73R 6S 4S 8 (2.113)
r4 = β73β75R 6 (S 8 )2 (2.114)
g1 = −6S 4R 2 (2.116)
g 4 = −5R 2 β12
6 5
S12 + 5β10T11 (2.119)
[κm (m f / mm ) − κf ]
A= B (2.120)
[(m f / mm ) + κf ]
[1 − (m f / mm )]
B= (2.121)
[1 + κm (m f / mm )]
mm
C = (2.122)
[mm + kmVf + k f (1 − Vf )]
30
k!
βkl = (2.124)
l !(k − l )!
3.1512120 se a = 2
S4 = (2.125)
0 se a = 3
0 se a = 2
S6 = (2.126)
5.8630316 se a = 3
4.2557731 se a = 2
S8 = (2.127)
0 se a = 3
3.9388490 se a = 2
S12 = (2.128)
6.00096399 se a = 3
0 se a = 2
T5 = (2.129)
5.6568027 se a = 3
4.5155155 se a = 2
T7 = (2.130)
0 se a = 3
3.8807309 se a = 2
T11 = (2.131)
6.0301854 se a = 3
31
Com isso, as componentes do tensor de rigidez são calculadas por
c1111 = n (2.132)
modelo proposto utiliza as mesmas equações da ROM para essas propriedades e tem
objetivo de melhorar as estimativas das demais propriedades elásticas (módulo de
elasticidade na direção transversal, E 2 ; módulo de cisalhamento longitudinal, G12 ;
32
(2.138)
1
E2 = E m
1 + [(E m / E f ) − 1]V
2 f
(2.139)
1
G12 =G m
1 + [(G m / G f ) − 1]V
12 f
1
K 23 = K m (2.140)
1 + [(K m / K f ) − 1]V
23 f
1
E2 = E m (2.141)
1 + ξ [(E / E f ) − 1V
m
] f
E2 2
1
G12 =G m (2.142)
1 + ξ [(G m / G f ) − 1V
] f
G12 12
1
G23 =G m (2.143)
1 + ξ [(G / G f ) − 1]V
m
G23 23 f
33
ξG = a 4 + a5Vf + a 6(G m / G12f ) (2.145)
12
Figura 2.5: Microscopia de uma lâmina unidirecional real onde não há simetria
identificável (SELVADURAI & NIKOPOUR, 2012).
34
G12 , 26 dados de G23 e 29 dados de ν12 . Destaca-se que algumas referências indicam
E1
G23 = (2.147)
4[(E1/E 2 ) − ν12 2 ] − (E1 / K 23 )
20 Ch(Vv=2.5%)
GSCM
E2 [GPa]
HT
15 HTm
MT
ROM
10
ROMm
exp
5
0
0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
Vf
35
avaliar quantitativamente qual modelo obteve uma melhor estimativa. Além disso, se a
comparação envolver diferentes fibras e matrizes, como é o caso do presente estudo, a
quantidade de figuras cresce de forma considerável.
36
médio do erro, também em módulo, somando o erro em relação a todos os dados e
dividindo pela quantidade dos mesmos. No presente estudo, define-se erro como a
diferença entre o valor experimental e o valor estimado por um modelo divido pelo
valor experimental.
A segunda abordagem fornece o erro médio, todavia pode resultar em
conclusões distorcidas se analisada individualmente porque se apenas uma estimativa
for muito ruim, o que pode ser consequência até mesmo de possíveis problemas no
corpo de prova ensaiado, como grande porcentagem de defeitos microestruturais e
diferentes adesões na interface entre a fibra e matriz, o erro médio pode aumentar
significativamente.
Os parâmetros da modificação proposta da ROM foram calibrados utilizando o
algoritmo de Levenberg-Marquardt (NOCEDAL & WRIGHT, 1999) e estão na Tabela
2.2. Note que esses parâmetros ajustados só devem ser utilizados para as fibras e
matrizes utilizadas para a calibração; para a utilização do modelo proposto para outros
tipos de fibra e matriz uma verificação adicional precisa ser realizada.
Note que para a maioria dos modelos baseados na ROM as estimativas para essas
propriedades é a mesma. Destaca-se as seguintes conclusões:
i) todos os modelos obtiveram boas estimativas para E1 , uma vez que que os
37
ii) apesar das estimativas serem próximas para ν12 , o modelo de Chamis obteve
(a)
(b)
Figura 2.7: Resultados para o módulo de elasticidade na direção longitudinal, E1 : (a)
38
(a)
(b)
Figura 2.8: Resultados para o coeficiente de Poisson no plano, ν12 : (a) erro médio; (b)
margem de erro.
iii) uma medida experimental de ν12 tem muitas dificuldades intrínsecas, tanto
por essa propriedade precisar de duas medidas de deformações quanto pela não-
homogeneidade do compósito, sendo os dados experimentais muito dispersos;
iv) uma alternativa para melhorar as medidas de ν12 é a utilização de técnicas
39
v) como as estimativas dos modelos para E1 são acuradas o bastante utilizando a
(a)
(b)
Figura 2.9: Resultados para o módulo de elasticidade na direção transversal, E 2 : (a)
40
de elasticidade transversal, E 2 , os resultados são apresentados na Figura 2.9. Destaca-se
os seguintes pontos:
i) para E 2 a ROMm obteve a melhor estimativa considerando ambas
metodologias adotadas, com erro médio de 11% e 57.4% dos testes com erro menor de
10%;
ii) o modelo modificado de HT, HTm, não apresentou melhora quando
comparado com o modelo original;
iii) comparando os dois modelos de homogeneização assimptótica, AHs obteve
estimativas mais próximas dos dados experimentais que AHh, indicando que a
metodologia proposta por ELNEKHAILY & RALREJA (2018), onde inicialmente a
simetria quadrada é considerada e uma proposta de modificação de acordo com o grau
de não-uniformidade de distribuição de fibras é apresentada, tende a se tornar bastante
relevante para simulações numéricas;
iv) uma vez que a distribuição de fibras é altamente influenciada pelos processos
de fabricação, a quantificação de incertezas relacionadas ao grau de não-uniformidade
para cada processo aparenta ser uma melhora promissora em relação as abordagens
usuais utilizando elementos finitos.
Para o módulo de cisalhamento longitudinal, G12 , os resultados são apresentados
dos dados;
iii) por essa não-linearidade, os niveis de tensão e deformação de cisalhamento
longitudinal considerados nesse estudo são baixos o suficientes para satisfazer todas as
hipóteses da teoria da elasticidade linear (novamente ressalta-se que uma discussão mais
detalhada é apresentada no capítulo seguinte);
41
iv) como consequência disso, os modelos baseados na ROM e na teoria da
elasticidade obtiveram estimativas próximas, com uma pequena vantagem para os
modelos ROMm, HT e Ch que possuem parametros calibrados de acordo com dados
experimentais.
(a)
(b)
Figura 2.10: Resultados para o módulo de cisalhamento longitudinal, G12 : (a) erro
42
(a)
(b)
Figura 2.11: Resultados para o módulo de cisalhamento transversal, G23 : (a) erro
experimentais, sendo o erro medio de 7.19% e 84.6% das estimativas com erro menor
que 10%;
ii) os modelos Br e AHs també apresentaram excelentes estimativas para G23 ,
ambos com erro menor que 10% para 75% dos casos e um erro médio inferior à 10%;
43
iii) uma quantidade menor de dados experimentais é encontrada na literatura
para G23 porque a abordagem mais tradicional para laminados, a teoria clássica do
laminados, assume um estado plano de tensões em cada lâmina e não utiliza essa
propriedade (BARBERO, 2018);
iv) com o avanço de tecnicas computacionais, os efeitos das tensões e
deformações na direção fora do plano têm sido mais estudados assim como suas
consequências em falhas por delaminação e para placas com entalhes, por exemplo
(REDDY, 2003);
v) como o cisalhamento transversal pode também ser considerado como uma
combinação de tração-compressão pelo círculo de Mohr (CRANDALL, 1978), uma
investigação do efeito da distribuição não uniforme de fibras para essa propriedade é
também sugerida para trabalhos futuros.
44
3 MODELOS DE MICROMECÂNICA - PARTE 2: RESISTÊNCIAS
Uma vez que as propriedades elásticas efetivas são estimadas em função das
propriedades dos constituintes e suas frações volumétricas, como visto no Capítulo 2, o
passo seguinte na modelagem multiescala de um laminado é estimar as resistências
macroscópicas da lâmina. Para um projeto estrutural estático, as propriedades elásticas
são utilizadas para avaliar a distribuição de tensões e deformações e as resistências são
utilizadas para definir a falha a partir de um critério. Este capítulo é dividido em três
partes: inicialmente os critérios de falha dos constituintes (i.e. fibra, matriz e interface)
são apresentados; depois as resistências longitudinais; e por último as resistências
transversais.
Seis resistências macromecânicas devem ser calculadas: resistência à tração
t c
longitudinal ( S11 ); resistência à compressão longitudinal ( S11 ); resistência ao
s t
cisalhamento longitudinal ( S12 ); resistência à tração transversal ( S 22 ); resistência à
c s
compressão transversal ( S 22 ); e resistência ao cisalhamento transversal ( S 23 ).
45
Como discutido por HA et al. (2008), por causa da anisotropia das fibras, o
critério de falha ideal deveria ser capaz de avaliar o efeito do carregamento combinado
de acordo com as resistências em direções ortogonais. No entanto, medir as
propriedades elásticas na direção transversal da fibra já não é uma tarefa fácil; obter as
resistências transversais ainda parece distante da realidade. Dessa forma, por
simplicidade, assume-se que apenas o carregamento longitudinal pode resultar na falha
da fibra. Matematicamente, pode-se definir a função de falha de fibra como
σ 11f
f se σ 11f ≥ 0
St
ff =
f
(3.1)
| σ 11 |
Sf se σ 11f < 0
c
constituintes.
46
1 µI
f mDP = J2 + 1 (3.2)
k 6
tensões, J 2 = (1 / 2)sij sij é o segundo invariante do tensor desviador das tensões, que é
δ ij = 0 se i ≠ j ).
1 σ112 µσ 11
f mDP = + (3.3)
k 3 6
Sm − Sm
µ = 2 cm tm (3.4)
Sc + St
Stm 2Scm
k= (3.5)
3 Scm + Stm
47
n
σ I1
f mmDP = vM + cr (3.6)
σ cr
vM I1
experimentalmente e
1/ n
cr α n +α
σ vM = Stm (3.7)
α +1
α n +α
I1cr = Stm n (3.8)
α −1
onde α = Scm / Stm . MACEDO et al. (2017) utilizam 3.15 ≤ n ≤ 6.10 e HA et al. (2008)
sugerem n = 2 , o que resulta em
cr
σ vM = S tm S cm (3.9)
S mSm
I1cr = mc t m (3.10)
Sc − St
3.1. O erro nas estimativas de S sm são apresentados na Figura 3.1. Baseando-se nesse
resultado, de forma geral o critério tradicional de Drucker-Prager, que é equivalente à
Eq.(3.6) com n = 1 , obtém resultado satisfatório para a maioria das matrizes, indicando
não haver necessidade da utilização de sua forma modificada para a maioria das
matrizes.
48
Tabela 3.1: Dados experimentais fornecidos pelos organizadores do WWFE para todas
as matrizes das três edições.
Baseando-se em ASP et al. (1995), ASP et al. (1996a) e ASP et al. (1996b),
ELNEKHAILY & TALREJA (2018) e ELNEKHAILY & TALREJA (2019) sugerem
utilizar dois critérios de falha distintos para a matriz: um definido pela densidade de
energia de dilatação crítica, que causa a cavitação quando submetido à um carregamento
triaxial trativo, e outro para modelar ruptura. Para o carregamento transversal trativo, a
49
cavitação ocorre antes do início da falha na interface, sendo esse critério então
alternativo a modelagem da interface para o início do dano nesse carregamento. O
problema na aplicação desse critério é que a densidade de energia de dilatação crítica
deve ser medida em um ensaio triaxial trativo e poucos dados experimentais estão
disponíveis na literatura. Para corroborar com a teoria, NEOGI et al. (2018) realizaram
simulações de dinâmica molecular para estudar o efeito do carregamento triaxial em
epóxi. Os resultados mostraram que para carregamentos triaxiais a cavitação ocorre para
deformações menores do que para o carregamento uniaxial. No entanto, os autores
ressaltam que os resultados desse tipo de simulação (dinâmica molecular) só podem ser
considerados qualitativamente, sem poder afirmar o valor crítico para a cavitação. Essa
abordagem será avaliada na Seção 3.3, onde discute-se os modelos de resistência à
tração transversal da lâmina.
Outros exemplos de critérios de falha de matrizes poliméricas podem ser
encontrados na literatura (ALTENBACH & TUSHTEV, 2001; FIELDLER et al.,
2001), além de utilização do clássico critério de Mohr-Coulomb (ELNEKHAILY &
TALREJA, 2018). Alternativamente, SERRANO et al. (2019) apresentam uma
modelagem da fratura de corpo de provas (CPs) de epóxi com entalhes em ensaios de
flexão de três pontos utilizando elementos coesivos. O escopo do presente trabalho não
é aprofundar na discussão dos critérios de falha para polímeros, apenas apresentar de
forma breve as principais bases para a modelagem de compósitos e, como os resultados
da Figura 3.1 indicam, o critério de Drucker-Prager pode ser considerado satisfatório.
50
2 2 2
t trθ trz
fi = rri + i + i (3.11)
S
n Ss Ss
onde trr = max(0, trr ) é o colchete de Macaulay, trr , trθ e trz são as trações na
51
Nesta seção são discutidos modelos micromecânicos para as seguintes
t c
resistências: tração longitudinal, S11 , compressão longitudinal, S11 , e cisalhamento
s
longitudinal, S12 . Optou-se no presente trabalho utilizar a nomenclatura cisalhamento
52
em paralelo. Em outras palavras, o comportamento da lamina é assumido idealmente
frágil.
t
Assumindo que a falha ocorre quando σ 11 = S11 na lâmina, o que equivale à
σ11 = V f σ 11f + (1 − V f )σ 11
m t
= S11 (3.12)
Como, por hipótese, as fibras e matriz têm comportamento linear e elástico até o
momento da falha e que ε11 = ε11f = ε11
m
pela compatibilidade geométrica, pode-se
escrever
t
S11 = V f E1f ε11 + (1 − V f ) E mε11 (3.13)
Como ε11 = ε11f = St f / E1f no momento da falha, a Eq.(3.13) pode ser reescrita
como
Em
t
S11 = Vf + (1 − Vf ) Stf (3.14)
Ef
1
Figura 3.2: Erro das estimativas do modelo baseado na ROM para todos os
dados experimentais.
53
Para frações volumétricas de fibras baixas, a falha da lâmina pode ser também
controlada pela matriz. Mas essa condição representa uma lâmina que não tem um
comportamento mecânico desejado e não será considerada no presente estudo.
Tabela 3.2: Referências com dados experimentais para resistência à tração longitudinal.
Referência Tipo de Fibra
Aboudi (1988) carbono
Barbero et al. (2005) carbono
Bogdanor et al. (2015) carbono
Falcó et al. (2018) carbono
Hsiao & Daniel (1996) carbono
Jumahat et al. (2011) carbono
Kaddour & Hinton (2012) carbono e vidro
Kaddour et al. (2013) carbono e vidro
Namdar & Darendeliler (2017) carbono
Perogamvros & Lampeas (2015) carbono
Reddy et al. (2017) carbono e vidro
Soden et al. (1998) carbono e vidro
Wang et al. (2004) carbono
54
todos os dados avaliados a estimativa analítica é maior do que o valor medido
experimentalmente. Para avaliar esse efeito, a seguinte equação é proposta
Em
t
S11 = Vf + (1 − Vf ) (1 − r )Stf (3.15)
Ef
1
onde r é a redução da resistência da fibra. Note que para o caso limite em que V f → 1 ,
t
S11 ≠ St f se r = 0 . No entanto, o parâmetro r é incluído para avaliar a diminuição da
resistência da fibra in situ quando comparada com a resistência da fibra virgem, Stf .
t
Figura 3.3: Variação do erro médio das estimativas de S11 de acordo com r .
55
desenvolvimentos futuros. O primeiro é que não parece ser razoável que todas as fibras
falhem ao mesmo tempo (i.e. tenham exatamente a mesma resistência). O segundo é o
efeito do tamanho na resistência do material. De acordo com TIMOSHENKO (1953),
Leonardo da Vinci (1452-1519) foi o primeiro a reportar o efeito do tamanho na
resistência. Hoje, sabe-se que muitos materiais, principalmente os mais frágeis, exibem
esse comportamento pela probabilidade de haver algum microdefeito, embora também
seja usual considerar esse efeito para materiais dúcteis, como por exemplo na
modelagem de fadiga (CASTRO & MEGGIOLARO, 2016a).
Figura 3.4: Faixas de erro das estimativas dos modelos baseado na ROM.
56
de Weibull de forma acurada. Para representar a lâmina real é necessário um arranjo de
aproximadamente 1600 fibras. A distribuição das fibras na microestrutura não se
mostrou um parâmetro relevante para essa propriedade. CHRISTENSEN et al. (2015)
mostraram a influência do tamanho das fibras no valor da resistência.
SWOLFS et al. (2016) apresentaram um excelente resumo sobre a modelagem
estatística da falha das fibras. Além do efeito do tamanho, os autores discutiram também
muito outros fatores como os diferentes testes existentes, a influência da quantidade de
fibras medidas, a variação do diâmetro nominal, o efeito das propriedades da matriz e da
interface, o efeito dinâmico resultante da propagação do dano da fibra e a redistribuição
de carga ao redor da mesmo.
57
v) D7078/D7078M é similar ao D5379/D5379M, mas com menor probabilidade
de falha próximo ao ponto de aplicação da carga.
As normas definem duas resistências ao cisalhamento: resistência ao início do
dano (offset shear strength), que é a tensão de cisalhamento correspondente ao ponto
em que uma reta paralela ao módulo de cisalhamento e deslocada da origem para iniciar
no ponto em que a deformação de cisalhamento é igual à 0.2%, e resistência ao
cisalhamento, que é a tensão de ruptura do CP ou a tensão máxima quando a
deformação é igual à 5%. A Figura 3.6 mostra um exemplo retirado da ASTM
D3518/D3518M.
D4255/D4255M D7078/D7078M
Figura 3.5: Ilustração dos cinco ensaios de cisalhamento longitudinal recomendados
pela ASTM D4762-18.
58
Essa não linearidade pode ser explicada pelos mecanismos de dano existentes
(i.e. dano da matriz e da interface). Na matriz, o dano se inicia próximo à fibra e tende a
se propagar. Se a carga aumentar, uma região cada vez maior começa ser danificada,
podendo chegar a ruptura ou um movimento similar ao de corpo rígido se não houver
mais material para resistir ao aumento de carga, como um problema de analise limite
(LUBLINER, 2008). Alternativamente, a tensão de cisalhamento na interface entre fibra
e matriz pode ser alta o suficiente para causar a falha da interface, resultando na
separação entre fibra e matriz e uma variação brusca na rigidez do sistema.
59
resultados experimentais. Por exemplo, JUMAHAT et al. (2010) reportaram para
laminas com fibras de carbono e matriz polimérica (CFRP) uma resistência ao
cisalhamento considerando o regime linear elástico de 52MPa e uma resistência à
ruptura de 101MPa (uma variação de aproximadamente 100%) e LAUSTSEN et al.
(2015) indicaram para laminas com fibras de vidro e matriz polimérica (GFRP) uma
resistência inicial de 27MPa e final de 70MPa (uma variação de aproximadamente
150%).
Como o dano na matriz pode resultar na perda de funcionalidade da estrutura
(CAMANHO et al., 2006), o presente trabalho visa apresentar modelos analíticos para a
modelagem da resistência ao cisalhamento considerando o início do dano.
O modelo mais simples para estimar a resistência ao cisalhamento é baseado na
ROM. Considerando fibra e matriz como elementos em paralelo (Figura 3.8), no
m
momento do início do dano na matriz σ 12 = S sm e no compósito σ 12 = S12
s
. Como
m
σ12 = σ 12 = σ 12f para elementos em paralelo, tem-se
s
S12 = S sm (3.16)
DANIEL & ISHAI (2006) propõem utilizar a ROM como base, mas utilizam um
fator de concentração de tensão para correção. De acordo com os autores, pode-se
estimar a resistência ao cisalhamento longitudinal como
60
s Ssm
S12 = (3.17)
kτ
onde
1 − Vf [1 − (G m / G12
f
)]
kτ = (3.18)
1 − (4Vf / π)0.5[1 − (G m / G12
f
)]
Note que para a ROM o início do dano coincide com a ruptura. Por outro lado, o
modelo sugerido por DANIEL & ISHAI (2006) é implicitamente referente ao início do
dano porque a concentração de tensão de tensão é de natureza local (VIGNOLI, 2016).
O modelo definido pelas Eq.(3.17-18) é denominado nesse estudo ROM-Kt.
DEVIREDDY & BISWAS (2014) apresentaram um estudo numérico
comparando propriedades elásticas e térmicas efetivas de compósitos unidirecionais
assumindo fibras circulares e quadradas. De acordo com os resultados apresentados, não
há uma diferença significativa nas propriedades efetivas obtidas utilizando fibra com
seção transversal circular ou quadrada.
RVE pode ser subdivido em 3 elementos em paralelo (ver Figura 3.8): o elemento 2,
que é constituído por três sub-elementos (matriz 2a, fibra 2b e matriz 2c) no meio dos
61
elementos 1 e 3 constituídos exclusivamente pela matriz. Assume-se que, no momento
da falha, a tensão de cisalhamento nos elementos 2a e 2c, e consequentemente no 2b
pela condição de equilíbrio, é igual à resistência ao cisalhamento na matriz e que os
elementos 1 e 3 estão em regime elástico. Logo, pela condição de equilíbrio
s 2
S12 b = (G12f 2ε12f )a 2 + (G m 2ε12
m ,e
)[(b − a )b] + S sm [a(b − a )] (3.19)
m ,e ε 12f a 2 + ε 12
m, p
[ a (b − a )]
ε 12 = ε 12 = (3.20)
ab
m m, p
σ12 = G m 2ε12 = S sm (3.21)
m, p
Mas como os sub-elementos 2a, 2b e 2c estão em paralelo, σ12f = σ 12 = S sm .
Logo
S sm
ε12f = (3.23)
2G12f
Substituindo na Eq.(3.20)
m, e 1 a 1 (b − a ) S sm
ε12 = + m (3.24)
f
G12 b G b 2
62
Com isso, a resistência ao cisalhamento longitudinal é
s 1 2 2 Gm 2 m
S12 = ( a + b − ab ) + ( ab − a ) Ss (3.25)
b2 G12f
escrita como
s Gm
S12 = (1 + V f − V f ) + f ( V f − V f ) S sm (3.26)
G12
G12f
s
S12 = Vf + (1 − Vf ) Ssm (3.27)
(αG12
f
+ (1 − α )G m )
s S sm
S12 = (3.28)
K12 λ4
onde
9
De acordo com o conhecimento do autor, essa dedução não é apresentada de forma explicita em
nenhuma referência original do modelo de Chamis. Sendo assim, o autor considera que vale deixar o
registro da dedução desse modelo.
63
G12f − G m 1 [V f + a66 (1 − V f )]
K12 = 1 − V f f m
W − (3.29)
G12 + G 3 a66
1 4 2 5
W = π Vf − − Vf − Vf 2 (3.30)
4V f 128 512 4096
a66
λ4 = (3.31)
V f + a66 (1 − V f )
B
u κx = Aκ r + κ cos θ (3.33)
r
κ 1 ∂uκx ∂uκr 1 Bκ
ε xr = + = Aκ − 2 + Cκ cos θ (3.36)
2 ∂r ∂x 2 r
64
1 1 ∂u κx ∂uθκ 1 Bκ
ε xκθ = + = − Aκ + 2 + Cκ sin θ (3.37)
2 r ∂θ ∂x 2 r
Bκ
σ κxr = 2G12
κ κ κ
ε xr = G12 Aκ − + Cκ cos θ (3.38)
r2
Bκ
σ κxθ = 2G12
κ κ κ
ε xθ = −G12 Aκ + 2
+ Cκ sin θ (3.39)
r
u xf ( x, a, θ ) = u xm ( x, a, θ ) (3.40)
u xm ( x, b, θ ) = 0 (3.43)
Bm
Amb + b cos θ = 0 (3.47)
Note que das quatro condições de compatibilidade geométrica, apenas três são
linearmente independentes.
A condição de equilíbrio na interface é representada por
65
σ xrf ( x, a,θ ) = σ xr
m
( x , a, θ ) (3.48)
Utilizando a Eq.(3.38),
B
( )
G12f A f + C f cos θ = G m Am − m2 + C m cos θ
a
(3.49)
Por último, assumindo que é imposta uma deformação macroscópica ε12 , pode-
a 2π b 2π
(ε
2
ε12 (π b ) = (ε xrf cos θ − ε xfθ sin θ )rdθ dr + m
xr cos θ − ε xmθ sin θ )rdθ dr (3.51)
0 0 a 0
onde V f ≅ a 2 / b 2 .
Cm = C f (3.53)
Bm
Am = − (3.54)
b2
66
Bm 1 1
A f = Am + 2
= Bm 2 − 2 (3.55)
a a b
2
1 1 a B a2
A f V f + Am (1 − V f ) = Bm 2 − 2 2 − m2 1 − 2 = 0 (3.56)
a b b b b
2ε12 = C f = Cm (3.57)
(G m − G12f )(1 − V f )
Af = 2ε12 (3.58)
(G m − G12f )V f + (G m + G12f )
(G m − G12f )V f
Am = − 2ε12 (3.59)
(G m − G12f )V f + (G m + G12f )
(G m − G12f )
Bm = a 2 2ε12 (3.60)
(G m − G12f )V f + (G m + G12f )
m
(G m − G12f )V f
σ xr = 1 − m f m f
(G − G12 )V f + (G + G12 )
(3.61)
(G m − G12f ) m
− m G 2ε12 cos θ
(G − G12f )V f + (G m + G12f )
67
(G m − G12f )V f
σ xmθ = − 1 −
(G m − G12f )V f + (G m + G12f )
(3.62)
(G m − G12f ) m
+ m G 2ε12 sin θ
(G − G12f )V f + (G m + G12f )
m m
σ12 = σ xr cos θ − σ xmθ sin θ
(G m − G12f )V f
= 1 − m
(G − G12 )V f + (Gɶ e + G12 )
f m f
(3.63)
a
2
(G m − G12f ) m
− cos 2θ G 2ε12
r (G m − G12f )V f + (G m + G12f )
m ,max
2G12f m
σ 12 = m f m f
G 2ε12 = S sm (3.64)
(G − G12 )V f + (G + G12 )
Ssm G (1 + V f ) + G12 (1 − V f )
m f
ε12 = (3.65)
4G m G12f
68
f
m
G12 (1 + Vf ) + G m (1 − Vf )
G12 = G f
(3.66)
G12 (1 − Vf ) + G m (1 + Vf )
s
Logo, utilizando a relação constitutiva linear-elástica σ12 = S12 = G12 2ε12 , a
resistência ao início do dano para o cisalhamento longitudinal pode ser definida como
s Sm (G12f + G m ) + (G12f − G m )V f
S12 = s (3.67)
2 G12f
10
KADDOUR & HINTON (2012) incluíram a seguinte nota de explicação por causa dos resultados da
lâmina T300/PR319: “Please note that values are considered to be low, compared with typical data for the
same material published somewhere else or quoted by the manufacturers. We have not attempted to
change them in order to facilitate a comparison with test data in Part B of the exercise”
69
iv) o modelo Bridging foi o que mais se aproximou da resistência à ruptura.
70
Figura 3.10: Comparação entre os ensaio de cisalhamento longitudinal para as lâminas
do WWFE (SODEN et al., 1998; KADDOUR & HINTON, 2012, KADDOUR et al.,
2013) com fibras de carbono e as estimativas de resistência ao cisalhamento dos
modelos analíticos.
71
Para uma avaliação mais quantitativa, a seguir são utilizadas três definições de
resistência ao cisalhamento para avaliar o erro médio de cada modelo: além das duas
resistências definidas pela norma, a resistência ao cisalhamento medida com o módulo
de cisalhamento deslocado para deformação de 0.2%, S12s ,0.2% , e a resistência à ruptura,
S12s ,r , utiliza-se também a resistência ao início do dano, S12s ,o . Adota-se S12s ,o como a
Figura 3.11: Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para resistência ao
cisalhamento longitudinal.
72
ser considerada no critério de falha. Com isso, a resistência ao início do dano é utilizada
para avaliar as margens de erro apresentadas na Figura 3.12. Destaca-se a similaridade
entre as estimativa dos modelos Ch e CC.
Figura 3.12: Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para resistência ao
início do dano para o cisalhamento longitudinal.
Em
c
S11
= Vf + (1 −Vf ) Scm (3.68)
Ef
1
73
estrutural em regime elástico, de forma similar a clássica modelagem de flambagem de
uma viga apoiada em um fundação elástico (TIMOSHENKO & GERE, 2009). Por
outro lado, no kinking a falha é caracterizada pelo dano na matriz por causa do
desalinhamento da fibra. CHAUDHURI (2010) sugere que o fenômeno de kinking é o
responsável pela não-linearidade de laminados submetidos a cisalhamento longitudinal.
A Figura 3.13 mostra um exemplo de falha por compressão longitudinal da lâmina.
Figura 3.13: Fotografia da falha de uma lâmina sob compressão longitudinal (VOGLER
& KYRIAKIDES, 1999).
E m Vf E E1
m f
c,e
S11 = 2 Vf + (1 − Vf ) (3.69)
E1f 3(1 − Vf )
74
c,s Gm
S11 = (3.70)
1 − Vf
Como o menor valor estre os dois modos de flambagem será responsável pela
falha, a estimativa de resistência do modelo de Rosen pode ser escrita como
c c,e c,s
S11 = min(S11 , S11 ) (3.71)
kG
σcr =
2
l kAG (3.72)
1+
n π EI
75
Adptando a Eq.(3.72) para uma lamina, os autores consideraram k = 1.5 ,
propuseram a seguinte equação
c G12
S11 = (3.73)
1.5 + 12(χ / π)2 (G12 / E1 )
c G12
S11 = (3.74)
1.5 + 12(6 / π)2 (G12 / E1)
c G12
S11 = (3.75)
1 − (φ / γY )
76
Os autores também sugeriram que uma boa estimativa pode ser obtida
considerando φ / γY ≅ 4 . Para abranger todos os dados apresentados por
−0.69
G φ
c
S11 = G12 1 + 4.76 12 (3.76)
s
S12
77
dilute composites), com altas frações de fibras. Segundo os autores, a deformação crítica
que resulta na flambagem de compósitos diluídos é praticamente constante
(independente da fração volumétrica) e para compósitos não-diluídos o modelo de
Rosen obtém um limite de aproximação.
ABOUDI & GILAT (2006) estudaram o problema de flambagem utilizando a
analogia de propagação de ondas em sólidos, visto que ambas as modelagens chegam a
equações semelhantes. Utilizando equações de elastodinâmica, a equação de governo foi
deduzida e resolvida numericamente. Posteriormente o trabalho foi generalizado por
GILAT (2010) para incluir a modelagem de fibras anisotrópicas.
PIMENTA et al. (2009a) apresentaram um estudo numérico e experimental que
serviu de base para o posterior estudo analítico dos mesmo autores. O modelo numérico
inclui o efeito elastoplástico da matriz, a falha na interfase usando modelos de zonas
coesivas, o desalinhamento das fibras e não-linearidade geométrica. A seguinte
sequência descritiva de dano foi proposta baseada em observações experimentais:
inicialmente, a fibra e a matriz estão em regime elástico e as imperfeições de
desalinhamento induzem uma flexão nas fibras e cisalhamento na matriz; com o
aumento da carga, a matriz começa a ter regiões plásticas; por último, as fibras se
rompem por excesso de curvatura nas regiões onde inicialmente havia desalinhamento.
Baseados nessas observações, PIMENTA et al. (2009b) propuseram o uso da seguinte
equação
G m d + (π / L)2 E f I V 2D
c
S11 = Ssm 2D f 1 f
f (3.77)
S + π(y / L)G
m m Af
s 0 2D
78
1050µm < L < 2800µm . Os outros termos da Eq.(3.28) são correções sugeridas para a
estrutura tridimensional possa ser aproximada por um modelo bidimensional
equivalente e são definidos como
π
tm = df − 1 (3.78)
2 3V
f
df
Vf2D = (3.79)
d f + tm
Gm
G2mD = (3.80)
1 − Vf2D
79
deformação crítica (máxima deformação em que não ocorre falha) pode ser então escrita
como
2/3
Em f
1 + 2 6 E1 1
c,max
ε11 = (Vf − Vfmax )λ (3.81)
Ef Em [ − (ν m )2 ][1 − (Vf / Vfmax )]
31
1
80
MATSUO & KAGEYAMA (2017) estudaram o efeito da temperatura na falha
por compressão de laminados com fibra de carbono e matriz termoplástica, indicando
que a resistência à compressão longitudinal diminui com a temperatura.
Apesar de todos esses estudos apresentados, nenhum modelo discute a influência
da resistência à compressão pela falha por ruptura ou esmagamento da fibra
considerando o desalinhamento inicial. Uma vez que o desalinhamento inicial da fibra
resulta na criação de um momento fletor, espera-se que a o valor limite de carga
diminua de forma não desprezível. O modelo apresentado, a seguir é desenvolvido com
esse propósito.
Figura 3.15: Representação do diagrama de corpo livre da fibra para o modelo proposto.
81
dx2
θ= = 3ax12 + 2bx1 + c (3.83)
dx1
φ 4 3
x2 = − x1 + 2 x12 (3.84)
L 3L
4φ 1 2
θ= − x1 + x1 (3.85)
L L
φ 4 3
M = M 0 − Px2 = M 0 − P − x1 + 2 x12 (3.86)
L 3L
N = − P cos θ ≅ − P (3.87)
A energia de deformação desse pedaço da fibra pode então ser calculada como
L
M2 N2 M2 N2
U=
+
2 E1f I f 2 E1f A f
dl ≅
+
2 E1f I 2 E1f A f
0
dx1
2 52 2 3 2 2 (3.88)
M0 L + P L φ − M 0 PL2φ 2
315 3
= + P L
2 E1f I f 2 E1f A f
momento M 0 é
82
1
M 0 = PLφ (3.89)
3
17 P2 L3φ 2 P2 L
U= + (3.90)
315 2 E1f I f 2 E1f Af
17 L2φ 2 1 PL
δ = + (3.91)
315 I f A f E1f
Como a fibra está sendo modelada como uma viga imperfeita com combinação
dos carregamentos de momento fletor e força axial, para haver falha da fibra a seguinte
condição deve ser satisfeita
N M max P 1 P Lφ d f
σ (min)
f = − y=− c − c = − Scf (3.92)
Af If Af 3 I f 2
Ou seja
−1
8 Lφ π d f 2 f
Pc = 1 + (3.93)
3 d f
Sc
4
Então
−1
Lφ
2 Lφ L f
272 8
δc = + 1 1 + S (3.94)
315 d f 3 d f E1f c
83
Por outro lado, para haver falha, a tensão macroscópica na lamina é
c
σ11 = E1ε11 = E1δ / L = S11 . Fazendo δ = δ c ,
c
Em 1 + (272 / 315)( Lφ / d f ) 2 f
S11 = V f + f (1 − V f ) Sc (3.95)
E
1 1 + (8 / 3)( Lφ / d f )
Tabela 3.3: Referências com dados experimentais para resistência à tração longitudinal.
Referências Tipos de fibras
Barbero et al. (2005) carbono
Falcó et al. (2018) carbono
Hsiao & Daniel (1996) carbono
Jumahat et al. (2011) carbono
Kaddour & Hinton (2012) carbono e vidro
Kaddour et al. (2013) carbono e vidro
Koerber & Camanho (2011) carbono
Lee & Soutis (2007) carbono
Lo & Chim (1992) carbono
Perogamvros & Lampeas (2015) carbono
Reddy et al. (2017) vidro
Soden et al. (1998) carbono e vidro
Thomson et al. (2019) carbono
Wang et al. (2004) carbono
84
Figura 3.16: Calibração dos modelos analíticos da resistência à compressão
longitudinal.
Como mostrado na Figura 3.16, os parâmetros que resultam no menor erro médio de
cada modelo foram: φ = 0.5° para o modelo de Barbero, φ / γ Y = 4.2 para o modelo de
85
Lφ / d f = 2.39 para o modelo proposto. Note que tanto Lφ / d f = 0.09 quanto
Lφ / d f = 2.39 resultam em
c
Em
S11 ≅ 0.8 V f + f (1 − V f ) Scf (3.96)
E1
Figura 3.17: Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
compressão longitudinal.
Figura 3.18: Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
compressão longitudinal.
86
Utilizando esses valores que resultam no menor erro médio, uma comparação
entre os resultados de todos os modelos e os dados experimentais é apresentada nas
Figuras 3.17-19. As seguintes conclusões podem ser destacadas:
i) o modelo proposto foi o que resultou em um menor erro médio (15%),
representando uma melhora de 11% em relação à estimativa baseada na ROM que
considera a fibra perfeitamente alinhada;
ii) os modelos de Barbero, Budiansky, Lo & Chim e Pimenta obtiveram erros
médios próximos a 20%;
iii) apesar de não ser possível afirmar qual o mecanismo de falha predominante
pela proximidade dos erros das estimativas, destaca-se a importância da imperfeição da
fibra na diminuição da resistência, até mesmo considerando a falha por ruptura das
fibras como no modelo proposto;
Figura 3.19: Razão entre as estimativas dos modelos analíticos para resistência à
compressão longitudinal e os valores experimentais.
87
iv) baseando-se nos modelos de Barbero, Budiansky e Pimenta, pode-se notar
uma tendência maior de flambagem ou falha pelo escoamento da matriz, que são
mecanismos que tendem a ocorrem quase simultaneamente, para fibras de carbono do
que para fibras de vidro, o que é justificável pela diferença de rigidez;
v) o modelo de Lo & Chim obteve uma das melhores estimativas utilizando
apenas propriedades elásticas, sendo então bastante útil por precisar de menos dados de
entrada.
88
Dos livros-textos clássicos de compósitos, DANIEL & ISHAI (2006),
AGARWAL et al.(2006) e GIBSON (1994) sugerem a utilização da seguinte estimativa
para concentração de tensão micromecânica
1 − Vf [1 − (E m / E 2f )]
kσ = (3.97)
1 − (4Vf / π)0.5[1 − (E m / E 2f )]
Figura 3.20: Imagem de uma medição fotoelástica que indica a concentração de tensão
gerada pelo efeito das fibras na matriz (DANIEL & ISHAI, 2006).
t Stm
S 22 = (3.98)
kσ
c Scm
S 22 = (3.99)
kσ
89
3.3.2. Modelo de Chamis
(2)
(2 a ) b b
(2b ) (2 a ) (2b )
ε 22 = ε 22 1 − + ε 22 = ε 22 (1 − V f ) + ε 22 V f (3.102)
a
a
a −b (3) a − b
σ 22 a 2 = σ 22
(1)
a (2)
+ σ 22 ab + σ 22 a (3.103)
2 2
90
(2) (2 a ) (2b ) (2 c )
σ 22 = σ 22 = σ 22 = σ 22 (3.104)
Ou seja,
Tem-se então que a relação entre as tensões em cada sub-elemento pode ser
escrita como
(1)
Em
(2)
σ 22 = (1 − V f ) + f V f σ 22 (3.108)
E2
Substituindo na Eq.(3.107)
E m
(2)
σ 22 = 1 − 1 − f
( V f − V )
f σ 22 (3.109)
E2
(2)
Para o carregamento trativo, no momento da falha σ 22 = Stm e σ 22 = S 22
t
. Da
(2)
mesma forma, para a falha por compressão, σ 22 = − Scm e σ 22 = − S22
c
. Logo
91
E m
t
S 22 = 1 − 1 − f ( V f − V f ) Stm (3.110)
E2
E m
c
S 22 = 1 − 1 − f ( V f − V f ) Scm (3.111)
E2
E m 4Vv m
t
S 22 = 1 −
( )
Vf − Vf 1 − f 1 −
E
S
π (1 − Vf ) t
(3.112)
2
E m 4Vv m
c
S 22 = 1 −
( )
Vf − Vf 1 − f 1 −
E
S
π (1 − Vf ) c
(3.113)
2
Gm
1 − Vf 1 −
Gf
s
= 23
Ssm
S 23 (3.114)
G
m
1 − Vf 1 − f
G
23
Vale ressaltar, mais uma vez, que originalmente Chamis propõe que as
propriedades dos constituintes sejam obtidas através de forma inversa a partir dos
resultados experimentais da lâmina. MISHRA & NAIK (2009) também propuseram a
utilização de modelos de micromecânica inversos para medir as resistências das fibras
devido à dificuldade em obtê-las experimentalmente de forma direta.
92
Para as resistências transversais, o modelo assume a hipótese de deformação
plana e considera o efeito da concentração de tensão ao redor da fibra, do ponto de vista
da micromecânica. Usando o critério de falha de Coulomb-Mohr para definir a falha na
matriz, as resistências são estimadas como (HUANG & XIN, 2017)
E 2f Sm
t
S 22
= Vf + (1 − Vf ) t (3.115)
(β E 2 + (1 − β )E )
f m t
k22
E2f Sm
c
S 22 = Vf + (1 − Vf ) c (3.116)
(β E2 + (1 − β )E )
f m c
k22
−1
E2f kc kt
s
S 23 = Vf + (1 −Vf ) 22 + 22 (3.117)
(β E2 + (1 − β )E )
f m
Sc
m
Stm
onde β = 0.4 pode ser assumido (HUANG & LIU, 2014). Adicionalmente, baseado na
distribuição de tensão na microestrutura, a concentração de tensão na fibra é dada por
+
b
[Vf 2 cos(4ϕ) + 4(1 − 2 cos(2ϕ))Vf cos2 (ϕ)]
(3.118)
2(1 − Vf )
+ Vf (2 cos(2ϕ) + cos(4ϕ)] }
t
k22 = k22 (0) (3.119)
c
k22 = k22 (φ) (3.120)
Sm − Sm
+ asin c
π 1
φ= t
(3.121)
4 2 Scm + Stm
93
(1 + ν23
f
)E m − (1 + ν m )E2f
b= (3.123)
[ν m + 4(ν m )2 − 3]E2f − (1 + ν23
f
)E m
n
t
E m t m
S 22 = 1 − 1 − f ( V f − V f ) St (3.124)
E2
n
c
E m c m
S 22 = 1 − 1 − f ( V f − V f ) Sc (3.125)
E2
94
Figuras 3.23: Influência de nc de acordo com V f para CFRP e GFRP.
acordo com V f , para valores típicos de fibras de carbono e de vidro e uma matriz epóxi.
σ 22
σ rrm (σ 22 ,θ ) = [(1 − γ ) + (1 − β ) cos(2θ )] (3.126)
2
m σ 22
σ θθ (σ 22 , θ ) = [(1 + γ ) − (1 + 3β ) cos(2θ )] (3.127)
2
95
σ 22
σ rmθ (σ 22 ,θ ) = − [(1 − β ) sin(2θ )] (3.128)
2
σ zzm (σ 22 ,θ ) = ν m [σ rrm (σ 22 ,θ ) + σ θθ
m
(σ 22 , θ )] (3.129)
onde
κ f = 3 − 4ν 23f (3.130)
κ m = 3 − 4ν m (3.131)
G mκ f − G23f κ m
α= (3.132)
G23f + G mκ f
G m − G23f
β= (3.133)
G m + G23f κ m
α −β
γ= (3.134)
(1 − β ) − β (1 − α )
Apesar da solução ser deduzida para materiais isotrópicos, a mesma pode ser
utilizada também para materiais transversalmente isotrópicas, desde de que o plano de
isotropia seja o plano perpendicular à inclusão (MANTIC, 2009). A Figura 3.25 mostra
a distribuição das tensões para valores típicos de fibras de carbono e de vidro e uma
matriz epóxi.
96
Figura 3.25: Distribuição de tensões normalizada na matriz na região da interface com a
fibra para laminados de carbono (CFRP) e de vidro (GFRP).
1 − 2ν m m 2
uv =
6 E m (σ ii ) (3.135)
σ 22
σ rrm (σ 22 , 0) = [(1 − γ ) + (1 − β )] (3.136)
2
m σ 22
σ θθ (σ 22 , 0) = [(1 + γ ) − (1 + 3β )] (3.137)
2
σ rmθ (σ 22 , 0) = 0 (3.138)
σ zzm (σ 22 , 0) = ν m [σ rrm (σ 22 , 0) + σ θθ
m
(σ 22 , 0)] = ν mσ 22 (1 − 2β ) (3.139)
97
1 − 2ν m
uvmax (V f → 0) = m
m
[(1 + ν )(σ 22 )(1 − 2 β )]
2
(3.140)
6 E
Note que a Eq.(3.140) é restrita ao caso ideal de uma fibra em um meio infinito
( V f → 0 ). Assume-se que a Eq.(3.140) pode ser generalizada para qualquer fração
1 − 2ν m
uvmax (V f ) = uvmax (V f → 0)[ gt (V f )]2 = m
m
[(1 + ν )(σ 22 )(1 − 2β ) gt (V f )]
2
(3.141)
6 E
Figura 3.26: RVE com as indicações das faces em que são impostos os deslocamentos
para a simulação de EF.
98
superior para indicar se estão orientadas no sentido positivo ou negativo. O
comprimento de cada aresta do cubo na direção xi é Li . Para definir a condição de
simetria, o único requisito necessário é que a variação entre o deslocamento de uma face
positiva e uma face negativa seja constante, que matematicamente pode ser descrito
como
U i( J + ) − U i( J − ) = λi( J ) (3.142)
onde λi( J ) é a constante que indica a diferença entre os deslocamento das faces J+ e J-
na direção i, U i( J + ) e U i( J − ) , respectivamente.
deslocamentos
U1(1+ ) = δ11 U 2(2 + ) = δ 22 U1(2 + ) = δ 21
não-nulos
σ11 σ 22
propriedades c1111 = c2222 =
ε11 ε 22 σ 12
efetivas c1212 =
σ 22 σ 33 2 ε12
c1122 = c2233 =
ε11 ε 22
99
Dessa forma, a obtenção das propriedades efetivas é dividida em três etapas. Em
cada etapa, um deslocamento é imposto e com isso pode-se calcular as deformações
efetivas do RVE. As tensões efetivas são calculas utilizando a reação obtida como saída
da simulação de EF dividida pela área. A Tabela 3.4 mostra o procedimento realizado
em cada etapa.
Após um estudo de convergência da malha utilizando o software ANSYS, o
elemento de ordem superior SOLID186 foi escolhido, 2 elementos são definidos ao
longo da direção longitudinal e dependendo do valor V f são definidas entre 80 e 120
100
A variação do valor máximo de σ rrm + σ θθ
m
+ σ zzm normalizado por σ 22 é
gt (V f ) = 1 − 5.8γ V f 3 (3.143)
Figura 3.28: Ajuste numérico da soma das tensões normais na matriz de acordo com a
fração volumétrica de fibras.
1 − 2ν m
uvmax = m [(1 + ν m )( S 22
t
)(1 − 2 β )(1 − 5.8γ V f 3 )]2 = uvc (3.144)
6E
101
Isolando a resistência à tração transversal,
t 1 6Em c
S 22 = m
uv (3.145)
(1 +ν )(1 − 2β )(1 − 5.8γ V f 3 )
m
1 − 2ν
1 − 2ν m 2 1 − 2ν m
uvc = m (σ 11 + σ 22 + σ 33 ) = m (ξ Stm ) 2 (3.146)
6E 6E
t ξ
S 22 = m 3
Stm (3.147)
(1 + ν )(1 − 2β )(1 − 5.8γ V f )
fosse feita em um ensaio de tração uniaxial. A Figura 3.29 mostra a variação de uvc de
acordo com ξ para valores típicos de uma matriz epóxi; para 1 < ξ < 2 , uvc está na faixa
de valor descrita por ELNEKHAILY & TALREJA (2019).
102
Figura 3.29: Variação de uvc de acordo com ξ para valores típicos de uma matriz epóxi.
103
De maneira similar ao utilizado para o carregamento transversal trativo, utiliza-
se a solução da distribuição proposta por HONEIN & HERRMANN (1990) apresentada
nas Eq.(3.126-129).
Assumindo que a falha na matriz pode ser modelada pelo critério de Drucker-
Prager, como discutido na Seção 3.1.2, a variação da função de falha ao longo da
interface normalizada por σ 22 / k é apresentada na Figura 3.30 para diferentes valores
de µ .
c
1 µ I1 S22 2
f mDP = J 2 + = (1 − β ) (3.148)
k 6 k 4
c
S 22 2
f mDP = (1 − β ) g c ( µ , β ) (3.149)
k 4
c
S 22 2
f mDP = (1 − β ) g c1 ( µ ) g c 2 (V f ) (3.150)
k 4
104
Figura 3.31: Calibrações numéricas dos ajustes da função de falha de Drucker-Prager.
c 2 2k
S 22 = (3.153)
(1 − β ) g c1 ( µ ) g c 2 (V f )
Eq.(3.126-129) com trr = σ rrm , trθ = σ rmθ e trz = 0 , o valor máximo da função de falha da
interface pode ser calculado como
105
2 2
max σ 1− β
fi (V f → 0) = 22i (3.154)
S 2
2 2
max max σ 1− β
fi (V f ) = f i (V f → 0) g ic (V f ) = 22i gic (V f ) (3.155)
S 2
c
No momento da falha, σ 22 = − S22 e fimax (V f ) = 1. Ou seja,
106
2
max S c 1 − β 2
fi (V f ) = 22i gic (V f ) = 1 (3.157)
S 2
c Si 2
S 22 = (3.158)
gic (V f ) 1 − β
s t
S 23 = S22 (3.159)
s c cos θ 0
S 23 = S22 cos θ 0 sin θ 0 + (3.160)
tan θ0
s t
S 23 = α t S22 (3.161)
s c
S 23 = α c S22 (3.162)
107
s
S 23 = α s S sm (3.163)
Tabela 3.5: Referências com dados experimentais para resistência à tração transversal.
Referências Tipos de Fibras
Aboudi (1988) carbono
Falcó et al. (2018) carbono
Gopalakrishnan et al. (2016) vidro
Hsiao & Daniel (1996) carbono
Kaddour & Hinton (2012) carbono e vidro
Kaddour et al. (2003) vidro
Kaddour et al. (2013) carbono e vidro
Namdar & Darendeliler (2017) carbono
Soden et al. (1998) carbono e vidro
Perogamvros & Lampeas (2015) carbono
Reddy et al. (2017) vidro
108
representa a fração volumétrica de vazios em compósitos reais. Para o modelo de
Chamis modificado, que é um ajuste semi-empírico proposto para alterar a estimativa
do modelo de Chamis com Vv = 0 , com a potência nt = 5 o erro médio diminui de
90.1% para 23.8%. Destaca-se ainda que as estimativas utilizando a densidade de
energia de dilatação crítica são menos sensíveis ao parâmetros calibrados do que o
modelos de Chamis.
109
Figura 3.33: Calibração dos modelos analíticos para estimar a resistência à tração
transversal.
Figura 3.34: Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para resistência à tração
transversal.
110
Figura 3.35: Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
tração transversal.
111
possível assumir uvc = 0.18MPa na falta de dados experimentais da resistência da
matriz.
Figura 3.36: Calibração dos modelos analíticos para estimar a resistência à compressão
transversal.
112
resistências intermediárias, e VARANDAS et al. (2017) e CHEVALIER et al. (2019),
que apesar de utilizarem valores diferentes para resistência normal e ao cisalhamento da
interface sugerem 50MPa e 75MPa, respectivamente.
Figura 3.37: Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
compressão transversal.
113
Figura 3.38: Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
compressão transversal.
com S i = 65MPa , os valores das resistências da matriz não foram utilizados como
entrada para as estimativas dos modelos que obtiveram melhor desempenho no presente
estudo comparativo.
Por último, a Figura 3.39 mostra a calibração dos modelos de resistência ao
cisalhamento transversal. Os modelos visam generalizar as estimativas propostas por
s
FENNER & DANIEL (2019) e DÁVILA et al. (2005), que sugerem que S 23 seja
t c
proporcional à S 22 e S 22 , respectivamente.
As Figuras 3.40-41 mostram os erros médios e as faixas de erros dos modelos
s
analíticos para S 23 . Baseando-se nesses resultados, pode-se concluir:
i) os modelos de Bridging e Chamis obtiveram melhores desempenhos nas
estimativas de resistência ao cisalhamento transversal do que nas estimativas das outras
114
duas resistências transversais vistas anteriormente, resultando em um erro médio de
22.3% e 30.8%, respectivamente;
Figura 3.40: Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
cisalhamento transversal.
s t
ii) estimar S 23 = S22 , como sugerido por FENNER & DANIEL (2019), resulta em um
erro médio de 37%;
115
iii) a generalização da proposta de FENNER & DANIEL (2019) para estimar
s t
S 23 = α t S22 resulta em uma melhora significativa das estimativas, sendo o erro médio
Figura 3.41: Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
cisalhamento transversal.
116
4 ANÁLISE MULTIESCALA DE PLACAS COM ENTALHE
Poucos esforços analíticos podem ser encontrado na literatura para modelar o efeito
de entalhes em compósitos, sendo a maioria focado apenas na distribuição de tensões,
sem avaliar a falha (SAVIN, 1970; LEKHNITSKII, 1987; HWU & TING, 1989). Um
modelo analítico para avaliar a falha de placas com furos foi proposto por TAN (1987),
onde considera-se um carregamento uniaxial que resulta na falha no ponto em que a
concentração de tensão é maximizada, analogicamente aos resultados mais conhecidos
para materiais isotrópicos. Todavia, resultados experimentais (KAMAN, 2011),
analíticos e numéricos (VIGNOLI & CASTRO, 2020) indicam que o ponto de maior
concentração de tensão não coincide, em geral, com o caso de materiais isotrópicos e
que a falha pode não acontecer aonde a concentração de tensão é máxima. Dentre os
estudos analíticos, destaca-se VIGNOLI et al. (2019e) que discutiram detalhadamente a
influência da orientação das fibras no início do dano para uma lâmina de fibra de
carbono considerando diversos carregamentos em uma plana infinita com furo elíptico.
Como estruturas reais não estão em um estado de tensão plana e nem de deformação
plana, embora essas aproximações sejam úteis na simplificação da modelagem, uma
comparação entre as estimativas com ambas as hipóteses é também apresentada,
baseando-se nos resultados apresentados por GÓES et al. (2014).
Considerando os estudos experimentais, destaca-se IARVE et al. (2005) e
MOLLENHAUER et al. (2006), que aplicaram a técnica de interferência de Moiré para
medir experimentalmente os campos de deformações e quantificar o dano ao redor de
entalhes. LEE & SOUTIS (2008) discutiram a influência da geometria do CP no
resultado de um ensaio. O’HIGGINS et al. (2008) apresentaram um análise
experimental comparativa de compósitos com fibras de carbono e fibras de vidro,
avaliando a influência dos tipos de fibra na falha de um CP com furo circular submetido
a tração. De acordo com os autores, os laminados com fibra de carbono têm maior
resistência e rigidez, enquanto os de fibra de vidro têm uma maior deformação total até
a falha. ERÇIN et al. (2013) estudaram o efeito do tamanho em laminados mantendo a
mesma razão entre o diâmetro do furo e largura da placa. Os resultados indicam que a
resistência à ruptura tende a diminuir para placas mais largas. Os autores também
117
propõem um metodologia para estimar o início do dano na lâmina externa. No entanto,
vale ressaltar que o dano normalmente não se inicia na camada externa.
FURTADO et al. (2016) investigaram laminados híbridos, onde as lâminas com
orientação paralela ao carregamento são mais espessas do que as lâminas com
orientações não-paralelas. De acordo com os autores, essa hibridização aumenta a
resistência a ruptura de laminados com entalhes. ZHOU et al. (2019) estudaram a
diferença da sequência de empilhamento na falha de uma laminado com furo circular
sob compressão. Todos os três laminados têm 24 camadas, sendo 6 de cada orientação
(0º, -45º, +45º e 90º). De acordo com os resultados experimentais, a diferença na
resistência à ruptura pode ser maior do que 40%.
Apesar da indiscutível importância da abordagem experimental, como há um
grande número de variáveis envolvidas no projeto com materiais compósitos (TSAI &
MELO, 2014), as conclusões desses estudos são limitadas às condições específicas dos
testes, como destacado por SHAH et al. (2010).
Baseando-se na ideia de otimização de estruturas, a modelagem multiescala se
torna indispensável para o projeto de materiais compósitos (ARTEIRO et al., 2018).
FARROKHABADI & BABAEI (2019) apresentam uma modelagem multiescala
implementada no ANSYS. Para um determinado carregamento aplicado no RVE, as
propriedades efetivas são calculadas e utilizadas como entrada para o modelo
macromecânico. Uma abordagem similar é apresentada por BABAEI &
FARROKHABADI (2019). JUNSHAN et al. (2017) apresentaram uma análise
multiescala em que cada lâmina é modelada individualmente. LI et al. (2014)
apresentaram uma modelagem multiescala baseada em HA et al. (2008) de um
laminado de fibra de carbono com furo circular submetido à compressão. Apresar da
boa correlação com os dados experimentais, apenas uma fração volumétrica foi
discutida, necessitando de mais investigações para melhor discutir a influência de cada
parâmetro. Destaca-se que, mesmo com o avanço computacional, um estudo
paramétrico que envolva variáveis de diferentes escalas se torna quase inviável apenas
com modelos numéricos (ANDRIANOV et al., 2018). A partir dessa ponderação surge
a motivação deste capítulo: realizar um estudo paramétrico analítico sobre a influência
das fibras na falha de uma placa com entalhe.
118
O presente estudo visa modelar apenas o início do dano, sendo assim uma
abordagem mais conservadora e que pode ser aplicada de forma mais geral, sem
necessitar de efeitos de espessura. O início do dano é também objeto de estudo de
ELNEKHAILY & TALREJA (2018) e ELNEKHAILY & TALREJA (2019). Os efeitos
da propagação do dano em laminados com entalhes é discutido em VIGNOLI &
CASTRO (2020).
Uma justificativa adicional sobre a importância da modelagem do início do dano
pode ser encontrada em CUGNONI et al. (2018), que estudaram lâminas mais finas
para aplicações aeroespaciais. Apesar da diminuição da espessura resultar em um
aumento da resistência in situ, a falha final tem características mais frágeis. Para
laminados com entalhe, a resistência à ruptura diminui com a espessura porque a
propagação do dano em concentradores de tensões tende a ser retardada pela
delaminação, que é um mecanismo mais característico em laminados mais espessos. De
forma geral, para avaliar a propagação do dano é necessário considerar o efeito da
espessura, o que não é o objetivo da presente investigação. Uma discussão do efeito da
espessura na resistência in situ é apresentada em BARBERO (2018) e CATALANOTTI
(2019).
O procedimento multiescala adotado é ilustrado na Figura 4.1. As propriedades
da matriz e da fibra são utilizadas como dados de entrada para o modelo micromecânico
e as propriedades efetivas das lâminas são obtidas. Como hipótese consequente da
micromecânica, assume-se que a lâmina com propriedades equivalentes pode ser
modelada como uma estrutura homogênea em escala macroscópica. A partir do passo 2
o material homogeneizado é considerado.
Com base nas recomendações do WWFE, o critério de falha de Puck é utilizado.
Esse modelo é capaz de distinguir a falha da fibra e da matriz, evidenciando a
importância de cada constituinte. Note que na primeira edição do WWFE, considerou-se
casos de tensão plana, todavia, apenas na terceira, que ainda não está concluída, o efeito
de entalhes foi abordado.
Três diferentes sistemas de coordenadas são necessários para a modelagem
119
borda do furo. O ângulo entre x1 e x1(l ) é θ e o ângulo entre x1 e x1(g ) é α . σn denota a
tensão nominal aplicada na placa em uma região distante o suficiente do furo para ser
considerado que o carregamento é aplicado no infinito.
Etapa 3: Rotação do Tensor das Tensões (de coordenada local para material)
120
4.1. Modelo de Micromecânica
E1 = V f E1f + (1 − V f ) E m (4.1)
1
E2 = E m (4.3)
1 + ξ [(E m / E f ) − 1]V
E2 2 f
1
G12 =G m (4.4)
1 + ξ [(G / G f ) − 1]V
m
G12 12 f
Em
t
S11 = 0.92 Vf + (1 −Vf ) Stf (4.5)
Ef
1
c
Em
S11 = 0.8 V f + f (1 − V f ) Scf (4.6)
E1
t 1 6Em c
S 22 = m
uv (4.7)
(1 +ν m )(1 − 2β )(1 − 5.8γ V f 3 ) 1 − 2ν
c Si 2
S 22 = (4.8)
gic (V f ) 1 − β
S sm (G12 + G ) + (G12 − G )V f
f m f m
s
S12 = (4.9)
2 G12f
121
onde
Os valores de uvc e S i podem variar de acordo com cada laminado. Porém, como
base nos resultados obtidos no Capítulo 3, uvc = 0.18MPa e S i = 65MPa são usados.
Uma breve discussão sobre a vantagem do presente modelo de micromecânica é
apresentada na Seção 4.4.1, destacando de forma resumida as conclusões apontadas
anteriormente.
122
onde p é definido como autovalor do material. Baseado nessas considerações, a
seguinte equação é obtida, e serve como base para o desenvolvimento do formalismo,
Q + (R + RT )p + Tp 2 v = 0 (4.15)
−1 2
E E1
(
[S BL ]12 = − 1 − ν12ν 21 ) (
1 + 2 1 − ν12ν 21
G12
)
E 2
(4.19)
123
−1 2
E E2
(
[S BL ]21 = 1 − ν12ν 21 ) (
2 + 2 1 − ν12ν 21
G12
)
E1
(4.20)
−1 2
E E1
(
[LBL ]11 = E1 1 + 2 1 − ν12ν 21
G12
)
E 2
(4.21)
−1 2
E E2
[LBL ]22
G12
(
= E 2 2 + 2 1 − ν12ν 21 )
E1
(4.22)
(l )
σ11 = i (G1(l )τ 2 + G(3l )τ1 ) − i 2 (G1(l )τ1 − G(3l )τ 2 ) (4.24)
T T
onde i = [1 0 0] , i 2 = [0 1 0] , τ1 = σ11 0 e τ 2 = σ12 σ∞22 0
1111
∞ ∞ ∞
σ12 definem o
G1(l ) = [N1(l ) ]T − N(3l )SL−1 e G(3l ) = −N(3l )L−1 são definidos para compactar a equação,
(l ) (l ) −1 (l ) T
N1(l ) = −[T ]−1[ R ]T e N3 = − R [T ] [ R ] − Q são denominadas de matrizes
(l ) (l )
(l ) (l )
fundamental da elasticidade.
Para um carregamento uniaxial em que a única tensão não nula em coordenadas
globais no infinito é σ 11( g ) = σ n , pode-se utilizar a tensão normal ao longo da borda do
(l ) (l )
furo, σ11 , para calcular a concentração de tensão como σ11 / σn .
σn
∞
σ11 = (1 + cos 2α) (4.25)
2
124
σn
∞
σ 22 = (1 − cos 2α) (4.26)
2
σn
∞
σ12 =− sin 2α (4.27)
2
125
compressão considera a influência do cisalhamento na instabilidade da fibra. As
expressões para as funções de falha da fibra são
E
1
fP( f ,t ) = σ11 + 1f ν12
f
m f − ν12 σ22 (4.28)
t E
S11 1
E σ 2
1 f
ν m − ν12 σ22 + 10 12
1
fP( f ,c ) = σ11 + (4.29)
c E f 12 f G12
S11 1
é perpendicular à σ22 ; se σ22 < 0 dois diferentes modos podem ocorrer, sendo modo B
direção normal ao plano e σ22 . Note que para compressão pura a falha ocorre em modo
C.
definidas por
126
σ 2 σ 2 t σ22 σ11
n
12 22 p12
fP(m ,A) = + +2 σ22 1 − + (4.30)
S S t t
S 22 X11
12 22 S12
σ 2 c σ n
12 p12
fP(m ,B ) = + 2 σ22 + 11 (4.31)
S X
12 S12 11
c
onde p12 t
e p12 são parâmetros ajustáveis, X11 = 1.1S11
t
se σ11 > 0 ou X11 = −1.1S11
c
(23) 2
S σ
γ = a cos 23 12 + 1
1
S σ (4.33)
(
c
2 1 + p12 ) 12 22
onde
S12 c
c S 22
(23)
S 23 = 1 + 2p12 − 1 (4.34)
c
2p12 S12
127
dos modelos de micromecânica e a Seção 4.4.2 avalia o erro resultante da distribuição
de tensão pelo formalismo de Stroh para placas infinitas comparado com resultados de
elementos finitos ara placas finitas. Neste capítulo são utilizadas as fibras e a matriz
listadas na Tabela 4.1.
Tabela 4.1: Propriedades da matriz e das fibras (KADDOUR & HINTON, 2012).
Matriz Fibra
Epóxi Carbono Vidro
(MY750) (IM7) (E-glass)
128
todas as propriedades. Note que G23 e S 23s não são utilizados porque assume-se que a
placa está em estado plano de tensões. O modelo proposto obteve um erro médio menor
do que os outros modelos em quase todas as estimativas, excetuando os módulo de
cisalhamento e a resistência ao cisalhamento. Para as propriedades de cisalhamento, o
modelo de Chamis obteve uma melhor estimativa para a resistência definida pela norma
medida deslocada 0.2% no eixo da deformação, mas a diferença, comparando com o
modelo proposto, é de menos de 1% para o módulo e menos de 2% para a resistência.
Dessa forma, fica evidente a vantagem da utilização do modelo proposto.
Figura 4.3: Comparação das estimativas das propriedades das lâminas com os dados
experimentais utilizando o modelo proposto e os modelos Bridging e Chamis.
de todos os modelos para α = 90° . O subindice “o” é utilizado para indicar a resistência
ao início do dano (onset damage strength). α = 90° é escolhido para essa comparação
porque para as fibras com essa orientação sempre ocorre falha da matriz no mesmo
ponto (VIGNOLI et al., 2019e; VIGNOLI & CASTRO, 2020) e exatamente para as
resistências transversais que o modelo proposto mais se destaca em relação ao Bridging
e Chamis (ver discussão apresentada no Capítulo 3 e Figura 4.3).
129
Figura 4.4: Comparação das estimativas da carga máxima para o início do dano,
Sot (90°, V f ) e S oc (90°, V f ) , utilizando o modelo proposto e os modelos Bridging e
Chamis.
outro lado, para a resistência à compressão, S oc (90°, V f ) , o modelo proposto estima uma
resistência maior do que os outros para quase todo o intervalo estudado, excetuando
V f < 0.35 para fibra de vidro, onde o modelo Bridging estima a maior resistência.
Figura 4.5: Comparação das estimativas das resistências transversais das lâminas
utilizando o modelo proposto e os modelos Bridging e Chamis.
130
obteve um erro médio na comparação das estimativas com os dados experimentais
consideravelmente menor do que os outros modelos, pode-se assumi-lo como
referência. Dessa forma, conclui-se que os modelos Bridging e Chamis tendem a
superestimar S 22
t
e subestimar S 22
c
.
A presente seção visa avaliar qual erro gerado com a aproximação de placa
infinita (i.e. grande o suficiente para que nenhum efeito adicional de borda seja
considerado além do furo) em função da relação entre o tamanho da placa, H , e o
diâmetro do furo, d . Para placas finitas, a distribuição de tensão é obtida através de
simulações de elementos finitos utilizando o software ANSYS. As mesmas
propriedades macromecânicas são utilizadas nos modelos numérico e analíticos, sendo
essas calculadas pelo modelo de micromecânica proposto.
Assumindo que para a maioria dos casos práticos 0.3 ≤ V f ≤ 0.7 , os valores
extremos, V f = 0.3 e V f = 0.7 , são considerados a seguir. Deseja-se então avaliar o erro
máximo gerado pela hipótese de placa infinita da solução analítica. Para uma placa
infinita, H / d → ∞ . Todavia, em estruturas reais essa hipótese obviamente não é
satisfeita. Numericamente é possível reproduzir o efeito de uma placa infinita com
H / d = 60 (GÓES et al., 2014). Para avaliar o erro gerado com essa aproximação,
considera-se o carregamento uniaxial com α = 0°,15°,30°, 45°, 60°, 75°,90° . O
comprimento longitudinal da placa é mantido sessenta vezes maior do que o diâmetro
do furo, apenas o comprimento transversal é avaliado. Para avaliar o caso mais prático,
adota-se H = 6d , conforme padronizado pelas normas ASTM D5766/D5766M e
ASTM D6484/D6484M.
Assumindo também a hipótese de estado plano de tensões, o elemento de ordem
superior PLANE183 é utilizado. Após uma análise de convergência, 120 divisões são
definidas ao redor da borda do furo (VIGNOLI & CASTRO, 2020). Um exemplo de
malha é mostrado na Figura 4.6.
131
Figura 4.6: Exemplo de malha utilizada para a simulação de elementos finitos.
Figura 4.7: Comparação entre a concentração de tensão máxima para placas infinitas
(solução analítica) e placa finitas (simulação numérica).
Figura 4.8 Erro na concentração de tensão máxima gerado pela hipótese de placa
infinita (solução analítica) comparando com placa finita (simulação numérica).
132
A Figura 4.7 mostra como a concentração de tensão varia de acordo com α para
os dois tipos de fibra e os dois valores de V f . Para uma avaliação mais quantitativa, a
Figura 4.8 mostra o erro gerado pela hipótese de placa infinita assumida no modelo
analítico comparando a concentração de tensão máxima com o resultado da simulação
de elementos finitos. Com esses resultados é possível concluir que o erro máximo para
fibras de carbono é menor que 10%, enquanto para fibras de vidro é menor que 5%.
133
Porém, antes de iniciar a análise de dano é importante uma avaliação da
concentração de tensão ao redor do furo pela solução analítica. Por simplicidade,
inicialmente é estudada a influência de V f para α = 0°, 45°,90° . Esses valores de α
são selecionados por sua grande aplicação prática com a regra dos 10% (HART-
SMITH, 2012). As Figuras 4.9-10 mostram a concentração de tensão de tensão para
laminados com fibra de carbono e de vidro, respectivamente. Baseando-se nestes
resultados, pode-se concluir:
i) devido à anisotropia das fibras de carbono, a concentração de tensão é mais
severa para os laminados constituídos com as mesmas do que para fibras de vidro;
ii) para um material isotrópico, a concentração de tensão varia entre -1 e 3 para
uma placa infinita com furo circular carregada uniaxialmente (CASTRO &
MEGGIOLARO, 2016a), enquanto para os compósitos estudados varia entre -4.5 e 7.5
para fibras de carbono e -2.5 e 4 para fibras de vidro;
iii) a concentração de tensão é praticamente insensível à V f para 0.3 ≤ V f ≤ 0.7 .
134
α = 0°,15°,30°, 45°, 60°, 75°,90° e V f = 0.5 . Nessa figura, a linha preta mais espessa
representa o furo, as linhas pretas pontilhadas indicam as linhas com referências dos
valores da concentração de tensão e as linhas coloridas as distribuição para cada valor
de α . Note que a mesma escala é utilizada para as duas lâminas com o objetivo de
enfatizar a diferença e que a parte interna ao furo significa compressão e a parte externa
tração. Pode-se concluir que para os dois tipos de lâminas, a concentração de tensão
máxima tende a ser na direção perpendicular à fibra para qualquer valor de α .
Figura 4.11: Comparação da concentração de tensão para laminas com fibras de carbono
e de vidro.
135
Figura 4.12: Variação das resistências à tração, Sot , e compressão, S oc , de acordo com
136
iv) para os laminados de fibras de carbono com entalhe submetido à compressão,
as resistências para as fibras paralelas ao carregamento, α = 0° , ou perpendiculares,
α = 90° , são praticamente iguais para V f > 0.5 ;
v) a orientação das fibras α = 45° é a que resulta em uma menor resistência à
compressão para todos os valores de V f nos dois tipos de fibras;
vi) em alguns casos, tanto para tração quanto para compressão, aumentar V f
como variam as funções de falha para α = 0°, 45°,90° com V f = 0.5 . Tanto para fibras
de carbono quanto para fibras de vidro, ocorre a falha da matriz sob tração (modo A
pelo critério de Puck). Isto explica o fato das resistências à tração das placas com
entalhe serem tão próximas, ao contrário do que acontece para placas sem entalhe (ver
Capítulo 3).
137
Figura 4.14: Influência de α no tipo de falha para um laminado de fibra de vidro com
carregamento trativo σ 11∞ = S ot (α , V f = 0.5) .
138
Para entender a variação de S oc são selecionados dois casos críticos: para fibras
de carbono com α = 90° (Figura 4.15) e para fibras de vidro com α = 0° (Figura 4.16).
Para fibras de carbono, a Figura 4.15 indica uma mudança no modo de falha; para
menores valores de V f a matriz falha em modo C e tende a falhar em modo B quando
V f → 0.7 . Apesar dos dois modos representarem a falha da matriz sob compressão, a
diferença entre eles é o plano crítico: o plano crítico do modo B é paralelo às fibras,
enquanto para o modo C pode haver um ângulo de até aproximadamente 53º (ver Eq.
4.33). Por outro lado, para fibras de vidro a mudança é mais drástica. A matriz falha
inicialmente em compressão no modo B e conforme aumenta o valor de V f ela tende a
Figura 4.16: Influência de V f no tipo de falha para um laminado de fibra de vidro com
139
apresentados na Figura 4.15 e a coluna da direita é equivalente a Figura 4.16. Nesse
gráfico, as linhas verde, azul escuro e cianeto representam os modos de falha A, B e C
da matriz, respectivamente, conforme apresentado na Seção 4.3, e os marcadores
vermelho indicam as componentes das tensões (coordenada material) ao longo da borda
do furo. Os pontos dentro do envelope representam uma região onde não há dano no
material e o ponto que tocar o envelope será o primeiro evento de dano. Pode-se então
observar a mudanças do modo C para o modo B nos laminados com fibra de carbono e
do modo B e para o modo A para os laminado com fibra de vidro.
140
se concluir também que Sot é maximizado para α = 0° . Para S oc os dois tipos de fibras
também apresentam um resultado similar, sendo a menor resistência para α ≅ 45° .
Adicionalmente, o laminado de vidro apresenta uma mudança mais brusca de S oc ,
indicando a variação no mecanismo de falha.
141
Figura 4.20: Variação do mecanismo de falha para a resistência à tração, Sot , de acordo
com α e V f .
acordo com α e V f .
142
(modo A) é o único mecanismo de falha para Sot . Por outro lado, para S oc ocorrem os
três modos de falha da matriz: sob tração, modo A, e sob compressão, modos B e C.
Destaca-se as seguintes contribuições deste capítulo:
i) primeira modelagem multiescala utilizando o modelo micromecânico proposto
e as recomendações do WWFE;
ii) a concentração de tensão em laminado com furo circular tende a ser
insensível à V f ;
iii) para laminados com fibra de carbono, Soc (0°, V f ) ≅ Soc (90°, V f ) para V f > 0.5
143
5 ANÁLISE DE FALHA DE VASOS DE PRESSÃO
Vasos de pressão compósitos têm sido estudados com diferentes abordagens por
décadas. Esse tema tem sido um objeto de estudo popular pela sua grande aplicação
industrial, como armazenamento e transporte de fluidos. Apesar disso, há ainda desafios
que precisam ser investigados.
O formalismo de Lekhnitskii é a abordagem mais importante para a modelagem
de problemas tridimensionais em materiais elásticos e anisotrópicos (LEKHNITSKII,
1981). Para o desenvolvimento que será apresentado, as maiores contribuições baseadas
na teoria da elasticidade são relacionas à TING (1996), TING (1999) e CHEN et al.
(2000). Uma abordagem complementar é apresentada por EVANS & GIBSON (2002),
que estudaram especificamente a influência da razão entre a rigidez da fibra e da matriz
no processo de falha.
Baseado em métodos analíticos, TITA et al. (2012) desenvolveram uma
ferramenta computacional para analisar tubos laminados espessos submetidos à pressão
interna com um solução homogeneizada simplificada. De forma alternativa, ANSARI et
al. (2010) também propuseram uma formulação híbrida (numérica e analítica) baseados
na teoria da elasticidade tridimensional e aplicando o método das diferenças finitas para
resolver as equações diferenciais, obtendo então as tensões e deformações através da
parede do tubo laminado considerando carregamentos termomecânicos dinâmicos.
Todavia, todos esses estudos utilizaram as propriedades macromecânica
anisotrópicas. Para um avanço no projeto de compósitos, a modelagem precisa
considerar um procedimento multiescala, como tem sido discutido ao longo de toda a
tese, para ser capaz de avaliar a influência dos constituintes e do lay-up do laminado.
CHATZIGEORGIOU et al. (2008) e SUN et al. (2014) estudaram a homogeneização de
tubos com uma abrupta variação das propriedades nas interfaces. A principal vantagem
do processo de homogeneização na análise de multiescala é que as condições de
contorno entre as camadas é sempre satisfeita intrinsicamente, eliminando a necessidade
de resolver um sistema de equações associado ao laminado, que pode ser obtido
modelando como uma série de tubos concêntricos, em cada camada significa uma
lâmina independente. Uma abordagem alternativa é apresentada por LIU et al. (2012)
usando elementos finitos. De acordo com CARRERE et al. (2012a) e CARRERE et al.
144
(2012b), a técnica de modelagem numérica multiescala é a opção que consegue
representar a estrutura real de forma mais fiel, mas tem a desvantagem do grande custo
computacional, o que impossibilita análises de otimização. Por causa dessas
características da análise mutiescala, a otimização de estruturas de compósitos necessita
considerar uma grande quantidade de variáveis (TSAI & MELO, 2014).
Experimentalmente, alguns estudos mostram resultados que indicam as
complicações da modelagem. COHEN et al. (2001) reportaram que a resistência de uma
tubo laminado aumentou cerca de 10% se a fração volumétrica das fibras aumentar de
0.52 para 0.65. Por outro lado, RAFIEE & AMINI (2015) indicaram que aumentar a
fração volumétrica das fibras pode resultar em diminuir a resistência de um vaso de
pressão.
Uma revisão dos desafios encontrados nos projetos de vasos de pressão são
detalhados em MARTINS et al. (2012) e MARTINS et al. (2013), incluindo os efeitos
do ângulo de laminação de acordo com as terminações. Os autores classificaram as
terminações, de acordo com suas reações, de 3 diferentes formar: fechado (closed-ends),
aberto (open-ends) e restrito (restrained-ends), onde a condição de extremidade restrita
é equivalente à hipótese de deformação plana. Algumas considerações sobre as
restrições nas extremidades podem ser encontradas em CHRISTENSEN (2005) e
ONDER et al. (2009).
DROZDOV & KALAMKAROV (1995) propuseram um modelo analítico capaz
de modelar o efeito viscoelástico durante o processo de fabricação. Uma revisão sobre
processos de fabricação pode ser encontrada em BARBERO (2018). KAM et al. (1997)
e CHANG (2000) apresentaram resultados experimentais em que aplicaram a técnica de
emissão acústica para detecção de dano. KRIKANOV (2000) considerou a influência da
massa no processo de otimização. PARNAS & KATIRCI (2002) desenvolveram um
procedimento para aplicações de cilindros laminados em motores, onde a velocidade
angular desenvolve um importante papel. QUARESIMIN & CARRARO (2014)
investigaram efeitos de carregamentos multiaxiais na fadiga de tubos feitos com fibras
de vidro. SARVESTANI et al. (2016) propuseram um método baseado na teoria
layerwise para estudar a flexão de tubos laminados com cisalhamento transversal.
ALMEIDA Jr. et al. (2016) apresentaram um estudo computacional sobre o dano de
tubos com pressão externa.
145
Esse capítulo consta de um estudo multiescala da influência das condições das
extremidades, da fração volumétrica de fibras e ângulo de laminação na falha de vasos
de pressão. O processo de homogeneização é utilizado em duas etapas: primeiro, o
modelo de micromecânica desenvolvido nos Capítulos 2 e 3 é utilizado para calcular as
propriedades efetivas da lâmina e depois a técnica de homogeneização assimptótica é
aplicada para obter as propriedades efetivas do laminado. As distribuições de tensões e
deformações são obtidas utilizando o formalismo de Lekhnitskii e a falha é determinada
pelo critério de Tsai-Wu, ambos considerando a escala macromecânica. Uma fibra de
carbono e uma matriz de epóxi são considerados em um laminado do tipo angle-ply de
2n camadas, ou seja, [ ±α ]n . Uma abordagem similar, porém utilizando os modelos
Bridging e Chamis é apresentada em VIGNOLI & SAVI (2018a) e VIGNOLI & SAVI
(2017b), respectivamente, assim como a validação da modelagem analítica multiescala
com os resultados experimentais apresentados por MARTINS et al., (2014).
146
respectivamente; e a micro-coordenada yi , utilizada na homogeneização assimptótica.
(SOKOLNIKOFF, 1956).
∂u ε (X, y) 1 ∂u ε (X, y)
σijε (X, y) = C ijkl (y) k + k
(5.2)
∂ X l ε ∂ yl
11
Uma vez que todas as equações do modelo proposto já foram apresentadas individualmente nos
Capítulos 2 e 3 e de forma sistemática no Capítulo 4, as mesmas são omitidas neste capítulo para evitar
repetições.
147
σijε (X, y) = σij(0)(X, y) + εσij(1) (X, y) + ε2σij(2)(X, y) + ... (5.4)
∂σij(0)(X, y)
=0 (5.5)
∂y j
∂σij(0)(X, y) ∂σij(1)(X, y)
+ =0 (5.6)
∂X j ∂y j
∂uk(0)(X, y)
= 0 ∴ uk(0)(X, y) = uk(0)(X) (5.7)
∂yl
∂u (0)(X) ∂u(1)(X, y)
σij(0)(X, y) = C ijkl (y) k + k
(5.8)
∂ X ∂ y
l l
∂u(1)(X, y) ∂u (2)(X, y)
σij(1)(X, y) = C ijkl (y) k + k
(5.9)
∂ Xl ∂ yl
∂uk(0)(X)
un(1)(X, y) = N nkl (y) (5.10)
∂Xl
148
∂N mkl (y) ∂uk(0)(X)
σij(0)(X, y) = C ijkl (y) + C ijmn (y) (5.11)
∂ y ∂X
n l
1 ∂N mkl (y)
Cɶijkl = ∫ C ijkl (y) + C ijmn (y) dy (5.13)
Y ∂ y
Y n
d dN (y ) dC (y )
C i 3m 3 (y 3 ) mkl 3 = − i 3kl 3 (5.14)
dy 3 dy 3 dy 3
−1
Cɶijkl = Cijkl − C ijn 3Cn−31p 3C p 3kl + C ijn 3Cn−31s 3 Cs−31p 3 C p−31q 3Cq 3kl (5.15)
149
Esta seção apresenta a solução da distribuição das tensões baseada nos
desenvolvimentos propostos por CHEN et al. (2000) e TING (1999). A principal ideia
de CHEN et al. (2000) é que existe uma solução genérica, independente das condições
de contorno, para o problema axissimétrico em deformação plana generalizada de tal
forma que a única alteração seria o cálculo das constantes que aparecem na solução das
tensões. Por outro lado, TING (1999) considera carregamentos independentes e utiliza o
princípio da superposição. Soluções alternativas são encontradas em LEKHNITSKII
(1981) e TING (1996), sendo o segundo o único, no conhecimento do autor, que
utilizou o formalismo de Stroh.
Considerando um tubo cilíndrico anisotrópico submetido a um carregamento
mecânico axissimétrico e assumindo a hipótese de deformação plana generalizada, o
campo de tensões deve depender apenas da coordenada radial. Logo, as equações de
equilíbrio podem ser definidas por
Note que os valores médios são assumidos, representados pela notação ... ,
a1
σr θ = (5.19)
r2
a2
σrz = (5.20)
r
150
onde a1 e a2 são contentes que devem ser obtidas pelas condições de contorno. Como
apenas a pressão interna e os carregamentos nas extremidades são considerados, não
pode haver força de cisalhamento nas paredes internas e externas do tubo.
Consequentemente, σr θ = σrz = 0 qualquer que seja r , o que é equivalente a
dizer que a1 = a2 = 0 .
A abordagem clássica utiliza funções de tensões para determinar a componentes
do tensor das tensões (LEKHNITSKII, 1981; CHEN et al., 2000), mas de forma
alternativa, TING (1999) assumiu que as componentes da deformações podem ser
escritas como
duz
ezz = =ξ (5.21)
dz
ur
eθθ = (5.22)
r
dur
err = (5.23)
dr
1 du θ
ez θ = = γr (5.24)
2 dz
1 du z
erz = (5.25)
2 dr
1 duθ uθ
er θ = − (5.26)
2 dr r
−1 −1 −1 −1
ξ = Cɶ1111 σzz + Cɶ1122 σθθ + Cɶ1133 σrr + 2Cɶ1112 σθz (5.27)
−1 −1 −1 −1
γr = Cɶ1211 σzz + Cɶ1222 σθθ + Cɶ1233 σrr + 2Cɶ1212 σθz (5.28)
151
Manipulando as Eq.(5.27), obtém-se
1
σzz =
ξ
−1
Cɶ1111
−
−1
Cɶ1111
(Cɶ1122
−1 −1
σθθ + Cɶ1133 −1
σrr + 2Cɶ1112 σθz ) (5.29)
1 Cɶ−1
σθz = γr − 1211 ξ − β1222 σθθ − β1233 σrr (5.30)
2β1212 −1
Cɶ1111
−1 −1 ɶ −1 ɶ−1
onde βijkl = Cɶijkl − (Cɶ11ij / C 1111 )C 11kl . Nesse ponto é necessário obter a distribuição
ɶ −1 −1 −1
C 1112 (β3312 − β2212 ) − β1212 (Cɶ1133 − Cɶ1122 )
a3 = ξ (5.33)
(β β − β
2
) − (β β − β
2
)
3333 1212 3312 2222 1212 2212
2β2212 − β3312
a4 = γ (5.34)
(β β − β
2
) − 4(β β − β
2
)
3333 1212 3312 2222 1212 2212
152
Considerando que o vaso de pressão está submetido apenas a uma pressão
interna p , as seguintes condições de contorno precisam ser satisfeitas
σrr r = Ri
= −p (5.35)
σrr r = Re
=0 (5.36)
p − a3 [(Ri / Re )k −1 − 1] − a 4 [(Ri / Re )k −1 Re − Ri ]
a6 = (5.38)
(Ri / Re )k −1 Re −k −1 − Ri −k −1
Dessa forma, todas as constantes necessárias são obtidas como função da rotação
e da extensão por unidade de comprimento. Duas condições complementárias são
necessárias para definir completamente as distribuições de tensões, onde o Princípio de
Saint-Venant é considerado. Nesse trabalho, adotou-se as condições discutidas por
MARTINS et al. (2014): extremidades abertas, fechadas e restritas, onde a última
equivale a hipótese de deformação plana ( ξ = γ = 0 ). Para deixar a notação clara, a
partir dessa etapa, a condição de extremidade restrita será chamada de deformação
plana, dessa forma a hipótese adotada fica evidente e ainda inclui casos estremos para
tubos longos. Para as outras configurações, as equações adicionais de equilíbrio
necessárias são
2π Re
153
2π Re
onde N = 0 para vasos abertos e N = pπRi 2 para vasos fechados. Note que, de forma
geral, a distribuição normal não é uniforme ao longo da espessura nem para
carregamento axial puro por requerimentos de equilíbrio (VIGNOLI & KENEDI, 2016).
'
onde os tensores H ij e H ijkl dependem da resistência da lâmina e da direção das fibras.
1 1
h11 = − (5.42)
t c
S11 S11
154
1 1
h22 = h33 = − (5.43)
t c
S 22 S 22
1
'
h1111 = (5.44)
t c
S11S11
1
'
h2222 = h3333
'
= (5.45)
t c
S22S 22
1
'
h1212 = h1221
'
= h2112
'
= h2121
'
= h1313
'
= h1331
'
= h3113
'
= h3131
'
= (5.46)
4(S12 )2
1
'
h2323 = h2332
'
= h3223
'
= h3232
'
= (5.47)
4(S23 )2
'
h1122 = h2211
'
= h1133
'
= h3311
'
= α12 (5.48)
'
h2233 = h3322
'
= α23 (5.49)
Os parâmetros α12 e α23 podem ser estimados como (LIU & TSAI, 1998;
MAIARÚ et al., 2017)
1
α12 = − (5.50)
t c t c
2 S11S11S 22S22
1
α23 = − (5.51)
t c
2S 22S22
155
Definir a falha como função das deformações é conveniente nesse estudo por
três razões: a continuidade das deformações para resultar em deslocamentos
geometricamente compatíveis; as deformações efetivas calculadas no tubo
homogeneizado são similares às deformações do tubo real (KALAMKAROV &
GEORGIADES, 2002); as componentes das deformações são diretamente calculados
utilizando o tensor de flexibilidade equivalente.
Figura 5.2: Curvas de nível da máxima pressão interna admissível de acordo com α e
Vf para n = 5 e n = 10 para extremidade restrita (deformação plana).
156
Figura 5.3: Curvas de nível da máxima pressão interna admissível de acordo com α e
Vf para n = 5 e n = 10 para extremidade aberta.
157
pode ser definido, com boa precisão, independentemente do número de camadas e da
fração volumétrica de fibras, dependendo apenas das condições de contorno da
extremidade. VIGNOLI & SAVI (2018a) apresentam resultados que indicam que o tipo
de fibra também não influência no ângulo ótimo.
Figura 5.4: Curvas de nível da máxima pressão interna admissível de acordo com α e
Vf para n = 5 e n = 10 para extremidade fechada.
Figura 5.5: Variação da pressão máxima para o início do dano de acordo com n e Vf
158
Figura 5.6: Variação da pressão máxima para o início do dano de acordo com n e Vf
Figura 5.7: Variação da pressão máxima para o início do dano de acordo com n e Vf
159
(CHRISTENSEN, 2005). Por outro lado, ara extremidades abertas, percebe-se uma
variação de aproximadamente 5º no valor do ângulo ótimo, que é entre 85º e 90º.
O aumento do número de lâminas resulta em um aumento significativo da
pressão máxima que o vaso suporta, assim como aumentar a fração volumétrica das
fibras. Para analisar isso, a variação da máxima pressão de acordo com a fração
volumétrica e o número de camadas é mostrada nas Figuras 5.5-7. Apenas um ângulo α
é selecionado para cada condição de extremidade (a seleção é feita baseando-se nos
valores ótimos apresentados nas Figuras 5.2-4). Esses resultados indicam a semelhança
entre duas abordagens distintas de projeto: aumentar a fração volumétrica em cada
lâmina ou aumentar o número de lâminas. Note que essa conclusão só pode ser afirmada
considerando a modelagem de falha inicial, sem propagação de dano.
160
6 COMPÓSITOS INTELIGENTES
161
térmico, Θ é o coeficiente de expansão térmica e T é a temperatura. O índice inferior
“0” é utilizado para denotar o estado inicial antes da aplicação do carregamento.
Para a modelagem das evoluções das frações volumétricas de martensíta, define-
se: aM = 2 ln(10) / (Ms − M f ) , aA = 2 ln(10) / (Af − As ) , bM = aM / C M ,
1 − βσ 1 + βσ
0 π cr 0
βσ = cos [σ − σ f − C M (T − M s )] + (6.2)
2 cr cr
σ s − σ f 2
βσ − βσ
βT = βT 1 − 0 (6.3)
0 1 − βσ
0
(ii) a transformação de austenita para martensita se σ scr < σ < σ fcr e T < Ms
1 − βσ π 1 + βσ
βσ = 0
cos (σ − σ cr
f
)+ 0
(6.4)
2 σ cr − σ cr 2
s f
βσ − βσ
βT = βT 1 − 0 +∆ (6.5)
0 T
1 − βσ
0
onde
1 − βT T < T0
∆T = 2
0
M ( (
cos a T − M
f )) + 1 if
M f < T < Ms (6.6)
0 else
162
(iii) a transformação de martensita para austenita se
C A(T − Af ) < σ < C A(T − As ) e T > As
βσ σ
+1
(6.7)
0
βσ = cos a
A
T − AS
−
2 C
A
βT σ
+1
(6.8)
0
βT = cos a
A
T − As
−
2
C A
Tabela 6.1: Propriedades do modelo de SMA da Brinson (PAIVA & SAVI, 2006).
Temperaturas de
Propriedades do Material Parâmetros do Modelo
Transformação
EA = 67GPa M f = 282K C M = 8MPa / K
ε R = 0.067 Af = 322K σ cr
f
= 170MPa
ser eliminada por um carregamento térmico. Por outro lado, para T = 333K a
microestrutura é inicialmente austenítica e a aplicação carregamento mecânico resulta
163
em uma transformação de fase para martensita não-maclada. Para esse caso, quando o
carregamento é removido a transformação reversa ocorre e não há deformação residual.
O primeiro caso, para T = 288K, exemplifica o fenômeno de memória de forma e o
segundo, para T = 333K, o de pseudoelasticidade.
2
4.6 1 − T − 273 GPa se 294.1K ≤ T < 483K
Em = 210 (6.9)
se 73K < T < 294.1K
( )
13.41 − 0.030T GPa
164
se 294.1K ≤ T < 483K
α m
=
(
32.195 − 0.0325T + 0.000217T
2
) (6.10)
(
5.221 + 0.123T ) se 73K < T < 294.1K
dT = dT m = dT SMA (6.12)
Definindo
165
Eɶ = E m (1 − VSMA ) + E SMAVSMA (6.17)
ɶ = E m α m (1 − V
Θ ) − ΘSMAVSMA (6.19)
SMA
ɶ ε − E SMAεɶ d β − Θ
dσ 11 = Ed ɶ dT (6.20)
11 R σ
Integrando
0 0
σ11 − σ 11 = (Eɶ ε11 − Eɶ 0ε11 ) − εɶR (E SMA βσ − E 0SMA βσ ) − (Θ
ɶT −Θ
ɶ T)
0 0 (6.21)
0
166
máximo aplicado é de 600MPa e posteriormente o mesmo é retirado. Note que VSMA→0
corresponde ao comportamento de uma barra feita apenas do material polimérico da
matriz e VSMA→1 à uma barra de SMA.
167
pelo efeito pseudoelástico para uma faixa de carregamento bem inferior ao que seria
necessário para haver transformação de fase se a barra fosse constituída apenas por
SMA. Por exemplo, VIGNOLI et al.(2017) indicaram que uma variação de 0.1% na
fração volumétrica de SMA pode ser preponderante para uma estrutura ter uma resposta
periódica ou caótica quando submetida à um forçamento harmônico.
Para a memória de forma, devido ao carregamento termomecânico, uma outra
característica vantajosa do SMAC é percebida em relação ao SMA. Pensando no
exemplo do projeto de atuadores, para SMA é necessário construir dispositivos
acoplados a outros elementos elásticos. Por exemplo, considerando que o SMA tenha
uma deformação inicial residual εR , durante a atuação aplica-se um carregamento
168
volumétrica de martensita não-maclada e a tensão na fibra de SMA para cada
compósito. Esses gráficos indicam que a microestrutura não sofre uma transformação
completa para baixas frações de SMA mesmo para carregamentos térmicos elevados.
Figura 6.6: Deformação da barra e a tensão nas fibras de SMA durante o carregamento
térmico completo.
169
restaurada até a temperatura ambiente novamente. O primeiro ciclo apresenta uma
característica diferente dos demais por contar com uma distribuição de carga interna.
Quando o carregamento térmico é retirado e a temperatura volta a ser igual a
temperatura ambiente, a fibra e matriz ficam agora com uma tensão residual uma vez
que a grande deformação resultante da memória de forma não é restaurada pela matriz.
Para indicar essa diferença, o primeiro ciclo é indicado por linhas pontilhadas nos
gráficos. A partir dessas figuras conclui-se que uma maior faixa de atuação de
deformação é obtida para menores valores de VSMA apesar de ser necessária uma
temperatura maior para reorientar a microestrutura do SMA. Note que a faixa de
atuação deve ser avaliada pelos ciclos posteriores, não pelo primeiro.
170
Atividades sísmicas são fenômenos naturais que podem ter consequências
catastróficas. Desde o ano 2000, foram registrados entre 1300 e 2500 terremotos por
ano ao redor do mundo com magnitude maior do que 5 na escala Richter (Figura 6.8),
resultando em uma média de 50102 mortes por ano (U.S. Geological Survey, 2019).
Algumas discussões adicionais sobre danos resultantes de terremotos podem ser
encontrados em PADGETT et al. (2008) e DESROCHES et al. (2011). Por causa disso,
estruturas resistentes à terremotos têm uma importância especial na tentativa de
diminuir os danos resultantes.
2500
5.0-5.9
2000
6.0-6.9
7.0-7.9
8.0+
1500
1000
500
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Figura 6.8: Quantidade de terremotos por ano ao redor do mundo (U.S. Geological
Survey, 2019).
171
estrutura e assim dissipar energia por atrito. ERÖZ & DESROCHES (2008) também
propuseram dispositivos que dissipam energia por atrito.
Estruturas com rigidez e amortecimento variáveis também são uma alternativa
explorada na literatura. SAHASRABUDHE & NAGARAJAIAH (2005) desenvolveram
um dispositivo composto por quatro molas. O mesmo é capaz de alterar a direção das
molas por controle ativo e com isso variar a rigidez de acordo com a condição de
carregamento.
O uso de materiais inteligentes é uma alternativa de destaque para estrutura
resistentes à terremotos, principalmente SMA (CARDONE & DOLCE, 2009; YANG et
al., 2010; QIAN et al., 2013; ASGARIAN et al., 2016) pela sua rica possibilidade de
resposta devido à não-linearidades do sistema, resultando em uma alta capacidade de
dissipação de energia (SAVI, 2015). A pseudoelasticidade tem uma alta capacidade de
dissipação de energia pela histerese transformação oriunda do transformação de fase
sem ter deformação residual (BARATA & CORBI, 2002).
KHODAVERDIAN et al. (2012) e ZHANG & ZHU (2007) propõem
dispositivos para a dissipar energia por atrito onde alguns membros são conectados por
fios de SMA, tendo como resultado um duplo mecanismo de dissipação. Outros
materiais inteligentes também têm sido aplicados com esse propósito, como
magnetoreológicos (XU & GUO, 2006; LI et al., 2013) e piezoelétricos (LU & Lin,
2009). Uma discussão sobre alternativas de controle para essas aplicações é apresentada
por RABIEE & CHAE (2019).
Entretanto, considerando todos os materiais inteligentes, SMA é o que apresenta
mais vantagens para essa aplicação, principalmente SMAC; para uma detalhada
discussão sobre SMAC, ver LESTER et al. (2015). BILLAH & ALAM (2012)
investigaram uma estrutura híbrida onde colunas de concreto foram reforçadas com
barras de SMA e barras de polímeros reforçados com fibras de carbono. ZAFAR &
ANDREWES (2015) apresentaram um estudo parecido, mas utilizaram fibras de vidro.
ABOU-ELFATH (2017) utilizaram SMA e aço para braços de reforços transversais.
Essa última abordagem pode ser vantajosa por ter dissipação tanto pela
pseudoelasticidade quanto por plasticidade, mas pelos resultados apresentados pelos
autores não é possível entender a influência de cada forma de dissipação.
172
Para avaliar o efeito de cada constituinte de um compósito, faz-se necessário um
estudo paramétrico detalhado que só pode ser realizado de forma analítica e numérica
por causa do grande número de variáveis envolvidas (TSAI & MELO, 2014; VIGNOLI
et al., 2019a). Apesar de existirem alguns artigos indicando que a estrutura pode resistir
forma mais eficaz ao carregamento sísmico com SMA (DULCE et al., 2005;
BOROSCHEK et al., 2007; JOHNSON et al., 2008; SHRESTHA et al., 2015) e com
SMAC (NEHDI et al., 2010), um estudo paramétrico detalhado é uma ferramenta
fundamental para entender a resposta estruturas para projetos com SMAC.
Estruturas resistentes a terremotos são geralmente analisadas a partir de modelos
arquétipos como os quadros de n andares (SAADAT et al., 2001; OZBULUT et al.,
2011). Reforçar a estrutura com o uso de braços nas diagonais é especialmente atraente
devido facilidade de acoplamento. YAN et al. (2013) apresentaram estudos numéricos e
experimentais de estruturas de três andares com braços diagonais de SMA, comparando
quatro condições diferentes: sem nenhum reforço, com reforço no primeiro andar, com
reforço nos dois primeiros andares e com reforço em todos os andares. Apesar da adição
de reforços diagonais em mais de um andar diminuir a amplitude da oscilação, é difícil
mensurar a variação da fração volumétrica de martensita, e, portanto, não é possível
concluir se a melhora do desempenho da estrutura se deve à pseudoelasticidade ou
simplesmente ao aumento da rigidez.
Esta seção trata da análise dinâmica de uma estrutura resistente à terremotos,
construída com reforços nas diagonais de SMAC. Um modelo de uma estrutura de um
andar sujeito a cargas sísmicas é estudado. A dinâmica não-linear de um modelo de
ordem reduzida representado por oscilador de um grau único de liberdade é analisada
considerando a força de restituição fornecida pelo SMAC. A análise micromecânica
permite a obtenção de um modelo macroscópico para a resposta do SMAC. Uma análise
paramétrica é realizada para avaliar a influência da fração volumétrica de SMA. Além
disso, a influência do tipo de matriz é discutida considerando dois tipos de matrizes: um
polímero linear-elástico e um alumínio elastoplástico. Apesar da maior dificuldade de
fabricar SMAC com matrizes metálicas, existe na literatura um exemplo de aplicação
para esse tipo de material (FREED & ABOUDI, 2009), além da possiblidade de avaliar
o efeito da plasticidade da matriz na resposta do compósito.
173
Destaca-se que tanto a matriz polimérica quanto a metálica podem apresentar
comportamento dependentes da taxa de carregamento (viscoelástico e viscoplástico),
assim como o SMA. Todavia, por simplicidade, assume-se que os efeitos dependentes
das taxas são desconsiderados para o presente estudo, assim como possíveis efeitos
térmicos que podem ser oriundos da transformação de fase do SMA. Adicionalmente, a
liga de SMA deve ser selecionada de acordo com a temperatura de trabalho; possíveis
variações muito grande de temperatura, como em caso de contato com fogo ou neve,
podem resultar na inibição da pseudoelasticidade uma vez que as faixas de tensões
críticas que resultam na transformação de fase são dependentes da temperatura. A
possibilidade de unir o SMA e outras fibras (por exemplo, vidro e carbono) também é
investigada, avaliando a influência da rigidez elástica. Uma discussão detalhada sobre
variação da tensão, da deformação, da fração volumétrica de martensita, do
deslocamento e da energia dissipada ao longo do tempo é apresentada, permitindo uma
compreensão adequada do comportamento do sistema.
A estrutura está sujeita à uma excitação de base que representa os dados de
aceleração do terremoto El Centro (18 de maio de 1940 - Imperial Valley, EUA), que
teve magnitude 7.1 na escala Richter. Simulações numéricas mostram a grande
capacidade de dissipação de energia do SMAC, estabelecendo as condições ideais de
projeto e a vantagem do uso de materiais compósitos.
174
Assumindo que deseja-se modelar apenas a pseudoelasticidade, βT = 0; ou seja,
(
f M (σɶ ) = f σɶ , n1f , n2f ) (6.23)
1 2
2 s1 if 0 ≤ σɶ ≤ b
f (σɶ , n1 , n2 ) = (6.24)
1 − 1 s 2 if b < σɶ ≤ 1
2
2
1
b= ( n1 − n2 + 1) (6.25)
2
175
β = β0 f A(σsma ) (6.28)
(
f A (σɶ ) = f σɶ , n1r , n2r ) (6.29)
n1r e n 2r .
n1f n 2f n1r n 2r
176
processo, são considerados três casos de carregamento diferentes, associados à ciclos
distintos (Figura 6.10). Inicialmente, o SMA é submetido a uma carga elástica, até P1 e,
em seguida, completamente descarregado. O segundo caso considera uma
transformação de fase incompleta até o ponto P2, onde β = 0.5 . Por último, o terceiro
caso está associado com a transformação completa de fase até o ponto P3, onde β = 1 .
177
juntamente com as evoluções temporais da tensão e da fração volumétrica de
martensita. As linhas verdes horizontais tracejadas representam a energia dissipada pela
pseudoelasticidade. A energia dissipada durante o primeiro ciclo elástico (P1) é zero,
pois não há transformação de fase, o que significa que toda a energia armazenada é
liberada durante o descarregamento, sem dissipação. Por outro lado, quando ocorre a
transformação de fase, existe uma diferença entre a energia antes e depois do ciclo.
Observe que o segundo ciclo (P2) tem uma dissipação de 2475 kJ/m3. Finalmente, o
último ciclo associado à transformação de fase completa (P3) tem uma dissipação
calculada pela diferença entre os dois níveis de energia representados pelas duas linhas
verdes tracejadas (9760 - 2475 = 7285 kJ/m3), que é exatamente o valor calculado da
área do ciclo de histerese.
Figura 6.11: Energia total, tensão e fração volumétrica de martensita ao longo do tempo
para os carregamentos apresentados na Figura 6.10 com deformação prescrita.
genérico elastoplástico (assumindo a deformação plástica, εmp , nula para o epóxi) como
σ m = Em (ε m − ε mp ) (6.30)
178
Note para a matriz com comportamento elástico (epóxi) ε mp = 0 .
O comportamento elastoplástico assume que a superfície de escoamento tem
uma combinação de endurecimento isotrópico, α , e cinemático, q , que pode ser
representado pelas sequintes leis de fluxo (SIMO & HUGHES, 1997; SOUZA NETO et
al., 2008)
qɺ = γ h sign(σ m − q ) (6.32)
αɺ = γ (6.33)
Fm (σ m , q, α ) = σ m − q − (Sy + K α ) ≤ 0 (6.34)
resistência ao escoamento.
Tabela 6.3: Propriedades das matrizes (AURICCHIO & PETRINI, 2004; FREED &
ABOUDI, 2009).
Epóxi 3.45 - - -
γ ≥ 0 , Fm (σ m , q, α ) ≤ 0 , γ Fm (σ m , q, α ) = 0 (6.35)
γ Fɺm (σ m , q, α ) = 0 se Fm (σ m , q, α ) = 0 (6.36)
179
As propriedades das matrizes, alumínio e epóxi, são listadas na Tabela 6.3.
(0 )
onde E = Vsma Esma + (1 − Vsma )Em , E * = Vsma Esma , E 0* = Vsma Esma e
σ 0 = V f σ sma
0
− Em ε mp .
σ = Eε − εRE *β − f0 (6.38)
onde f0 = (σ 0 − E 0*ε 0 + ε RE 0* βS ) .
0
movimento é
180
uɺɺ + 2ξωn uɺ + ωn2u + aσ cos θ = −uɺɺg (6.39)
apresentadas anteriormente.
Pela análise cinemática, a relação entre a deformação nos braços de SMAC, ε, e
o deslocamento relativo da massa concentrada, u , é dada por
∆L (u − ug )cos θ u
ε= = = sin θ cos θ (6.40)
L (H / sin θ ) H
E
uɺɺ + 2ξωn uɺ + ωn2 + a sin θ cos 2 θ u − aε RE * cos θβS = −uɺɺg − af0 cos θ (6.41)
H
181
Figura 6.13: Aceleração de base do El Centro (Vibrationdata, 2019).
182
mais crítico ocorre para ωn = 0.78rad / s , que será utilizado para todas as simulações
futuras.
Utilizando como base o desenvolvimento teórico apresentado anteriormente,
quatro parâmetros são necessários para a análise da estrutura com os braços de reforços:
ωn , ξ , a e Vsma . A frequência natural, ωn , e a dissipação, ξ , são consideradas
que estabelece uma relação entre a área da seção transversal dos braços e a massa, são
consideradas variáveis de projeto.
Figura 6.15: Deslocamento relativo ao longo do tempo para os casos limites (matriz
pura, Vsma → 0.0 , e SMA puro, Vsma → 1.0 ) para a = 10−10,10−9, 10−8 .
Inicialmente, apenas SMAC com matriz epóxi é considerado, com dois casos
limites de fração volumétrica de SMA: Vsma → 0.0 e Vsma → 1.0 . Note que
183
Vsma → 0.0 é equivalente ao braço sem SMA enquanto Vsma → 1.0 é uma barra de
6.15 apresenta o deslocamento relativo para esses casos com Vsma → 0.0 e
Vsma → 1.0 . Para o caso limite de Vsma → 1.0 , a Figura 6.16 apresenta a evolução
184
volume de acordo com o tempo. Para a energia, destaca-se que a mesma considera a
energia elástica armazenada nos braços, que tem característica oscilatória, e a dissipada
pela pseudoelasticidade (transformação de fase), que apresenta saltos irreversíveis. A
diferença entre a energia e a energia por unidade de volume na Figura 6.17 ilustram a
importância do parâmetro a . Com esses resultados, 10−8 ≤ a ≤ 10−9 é a faixa escolhida
para estudo aprofundado, uma vez que o efeito do SMA não é significativo para alterar
a amplitude do movimento para a = 10−10 .
Figura 6.18: Energia total e energia por unidade de volume para cada braço para
Vsma → 1.0 .
185
A seguir é apresentada a comparação entre o SMAC com matriz de epóxi e de
alumínio. A Figura 6.19 apresenta o deslocamento relativo máximo de acordo com a e
Figura 6.20: Deslocamento relativo máximo de acordo com Vsma para a matriz epóxi.
186
três comportamentos principais são destacados: a amplitude não tem uma variação
significativa para 1× 10−9 ≤ a ≤ 2 × 10−9 ; um comportamento mais complexo ocorre para
O projeto de estruturas com SMA para resistir à terremotos deve ser capaz de
avaliar as energias elástica e a dissipada por unidade de volume, relacionada a
transformação de fase, e as energias totais, integradas em todo o volume da estrutura.
Duas estruturas diferentes são consideradas para ilustrar esse cenário. A primeira tem
um braço de SMAC com uma menor área, resultando em uma menor influência na
estrutura. A Figura 6.21 mostra esse primeiro exemplo com a = 2 × 10−9 para
Vsma = 0.4, 0.6, 0.8 . Apesar da curva tensão-deformação serem diferentes, a área e
Vsma = 0.8 para a = 9 × 10−9 , percebe-se que as amplitudes são bem próximas. Apesar
187
da histerese ser maior para Vsma = 0.8 do que para Vsma = 0.6 se houver transformação
completa, os sub-loops influenciam de forma decisiva na resposta do sistema. Este
comportamento complexo é caracterizado por três mecanismos concorrentes: o nível de
tensão para iniciar a transformação de fase, a histerese e a porcentagem de fase
transformada, sendo este último responsável por definir o tamanho dos sub-loops.
188
braços com áreas menores, a energia dissipada devido à plasticidade da matriz é mais
significativa do que a dissipação devido à transformação de fase da SMA. O
comportamento do plástico deve ser destacado, a fim de identificar o principal motivo
da considerável alteração na resposta do sistema.
Figura 6.24: Deslocamento relativo máximo de acordo com Vsma para a matriz
de alumínio.
189
Figura 6.26: Evolução da fração volumétrica de martensíta ao longo do tempo para
braços de SMAC com matriz de alumínio com a = 1× 10−9 e Vsma = 0.4, 0.5, 0.8 .
190
término do terremoto, uma deformação residual é observada no deslocamento relativo,
assim como uma grande influência de β induzido por compressão devido à tendência
assimétrica resultante de plasticidade da matriz.
O deslocamento residual associado à matriz de alumínio é apresentado na Figura
6.28 para todas combinações estudadas de a e Vsma . A Figura 6.29 ilustra de forma
Figura 6.29: Deslocamento residual para braços com matriz de alumínio e a = 1× 10−9 .
191
Figura 6.30: Curvas tensão-deformação para braços com matriz de alumínio com
a = 4 × 10−9 e Vsma = 0.0, 0.5,1.0 .
Figura 6.31: Curvas tensão-deformação para braços com matriz de alumínio com
a = 10 × 10−9 e Vsma = 0.0, 0.2,1.0 .
192
avaliando a Figura 6.31: para a = 10 × 10−9 , o braço com Vsma = 0.2 é o que tem a
menor amplitude. Note que essas conclusões também podem ser obtidas analisando a
Figura 6.24, mas com estas figuras adicionais é possível obter um melhor entendimento
com as curvas tensão-deformação ao longo de todo o período de tempo avaliado.
A análise desenvolvida até agora considera braços de compósitos construídos
por uma matriz homogênea (epóxi ou alumínio) e fibras de SMA. Deve-se ressaltar que
isso implica em uma diferença considerável entre os módulos de elasticidade de ambas
as matrizes (o alumínio é cerca de 20 vezes mais rígido que o epóxi). Além disso,
assume-se a capacidade de escoamento do alumínio, que é negligenciada para o epóxi.
A plasticidade da matriz aumenta a dissipação de energia, apesar do inevitável problema
de deslocamento residual.
193
equivalente do conjunto matriz e fibras elásticas pode ser calculado como
Eeq = EmVm + E f V f , onde E f é o módulo de elasticidade longitudinal da fibra
Figura 6.33: Comparação entre o deslocamento relativo máximo para compósitos com
fibras de SMA e matriz de epóxi e de alumínio e o compósito híbrido.
194
7 CONCLUSÕES
11%, 13.6% e 7.2%, respectivamente. Uma comparação entre a regra das misturas
modificada proposta e o modelo de homogeneização assimptótica considerando uma
simetria quadrada, mostra que foram os dois modelos que obtiveram as melhores
estimativas. Os resultados indicam que o modelo proposto tem a vantagem de precisar
apenas de 8 equações para ser implementado, enquanto para homogeneização
assimptótica são necessárias 43 equações. Todavia, o modelo de homogeneização
assimptótica tem a vantagem de não conter parâmetros calibrados e ser válido para
quaisquer constituintes.
O Capítulo 3 apresenta uma revisão dos modelos micromecânicos analíticos para
cálculo das resistências, propondo alguns modelos que aprimoram as estimativas
existentes na literatura. Na sequência, apresenta-se uma comparação com 157 dados
experimentais obtidos na literatura. Para as resistências à tração e à compressão
longitudinal há uma redução na resistência estimada pela regra das misturas de 8% e
20%, respectivamente, por causa de danos e irregularidades durante a fabricação. As
estimativas propostas resultam em erros médios de 12.5% para tração e 15% para
compressão. Uma forma fechada para estimar a resistência ao cisalhamento longitudinal
(no plano) é obtida utilizando o modelo de cilíndricos concêntricos generalizados e
resulta no menor erro médio considerando o início do dano utilizando 10 curvas
195
experimentais de tensão-deformação de cisalhamento. Para as resistências à tração e à
compressão transversal considera-se que os responsáveis pela falha são a densidade de
energia de dilatação crítica (tração) e a resistência da interface (compressão), que
podem ser estimadas como valores médios de uvc = 0.18MPa e S i = 65MPa e resultam
erros médios de 27.4% e 22.1%. Para a resistência ao cisalhamento transversal,
s
demonstra-se que estimar S 23 = S sm resulta em um erro médio de 7.1%.
196
transformação de fase para faixas de carregamentos menores. SMAHC mostram grande
capacidade de diminuir danos resultantes de terremotos, indicando um melhor
desempenho do que SMAC com matriz epóxi ou de alumínio porque consegue
aumentar a rigidez do sistema e eliminar o problema de tensão residual por causa da
deformação plástica da matriz.
Para continuação da investigação apresentada, sugerem-se os seguintes temas:
i) comparação dos modelos propostos com novos conjuntos de dados
experimentais;
ii) desenvolvimento de modelos que possam considerar efeitos de tensões
residuais e de propagação do dano na microescala em laminados unidirecionais;
iii) estudo do carregamento tridimensional aplicados à modelos micromecânicos
que incluam a propagação do dano;
iv) desenvolvimento de modelos tridimensionais para SMAC;
v) avaliar a influência da temperatura na matriz para aplicação de atuadores com
memória de forma utilizando SMAC;
vi) incluir o efeito da taxa de carregamento na aplicação de SMAHC para
terremotos.
197
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