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MODELOS MICROMECÂNICOS APLICADOS À ANÁLISE MULTIESCALA DE

COMPÓSITOS LAMINADOS

Lucas Lisbôa Vignoli

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de


Pós-graduação em Engenharia Mecânica,
COPPE, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Doutor em Engenharia
Mecânica.

Orientador: Marcelo Amorim Savi

Rio de Janeiro
Fevereiro de 2020
MODELOS MICROMECÂNICOS APLICADOS À ANÁLISE MULTIESCALA DE
COMPÓSITOS LAMINADOS

Lucas Lisbôa Vignoli

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ


COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM
CIÊNCIAS EM ENGENHARIA MECÂNICA.

Orientadores: Marcelo Amorim Savi

Aprovada por: Prof. Marcelo Amorim Savi


Prof. Daniel Alves Castello
Prof. Pedro Manuel Calas Lopes Pacheco
Prof. Flávio de Andrade Silva
Prof. Volnei Tita

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL


FEVEREIRO DE 2020
Vignoli, Lucas Lisbôa
Modelos Micromecânicos Aplicados à Análise
Multiescala de Compósitos Laminados / Lucas Lisbôa
Vignoli. - Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2020.
XVII, 220 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Marcelo Amorim Savi
Tese (doutorado) - UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Mecânica, 2020.
Referências Bibliográficas: p. 198-220.
1. Materiais Compósitos. 2. Modelagem Multiescala.
3. Laminados Unidirecionais. I. Savi, Marcelo Amorim.
II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,
Programa de Engenharia Mecânica. III. Título.

iii
“O desejo de saber define nossa inteligência enquanto potência de vida.”

A.-D. Sertillanges, O.P.

iv
Aos meus pais e à minha namorada.

v
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais e à minha namorada, pela paciência e incentivo.

Ao Professor Marcelo A. Savi, pela orientação durante a pesquisa e pela paciência nas
revisões incansáveis dos meus textos incompreensíveis.

Aos Professores Ana L.F. Barros, Ricardo C. Paschoal, Paulo P. Kenedi e Jaime T.P.
Castro, que me orientaram durante graduação e mestrado e aos quais muito devo pelo
que fizeram para me ajudar.

Aos Professores Pedro M.C.L. Pacheco, Alexander L. Kalamkarov e Sami El-Borgi,


pelas revisões dos artigos que resultaram em alguns dos capítulos da tese.

Aos colegas de MECANON que tornam o ambiente do laboratório o mais agradável


possível (novamente agradeço ao Professor Marcelo, sem o qual, evidentemente, esse
ambiente não seria possível) e me ajudaram muitas vezes a superar dificuldades por não
poder estar diariamente no laboratório.

Ao Departamento de Engenharia Mecânica e à CAPES, pela bolsa concedida na


primeira parte do doutorado.

vi
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)

MODELOS MICROMECÂNICOS APLICADOS À ANÁLISE MULTIESCALA DE


COMPÓSITOS LAMINADOS

Lucas Lisbôa Vignoli

Fevereiro/2020

Orientador: Marcelo Amorim Savi

Programa: Engenharia Mecânica

O trabalho apresenta um estudo multiescala da modelagem de materiais


compósitos, especificamente laminados unidirecionais. Uma revisão crítica dos modelos
micromecânicos existentes na literatura é realizada considerando resultados
experimentais como referência. Nesse contexto, 345 dados experimentais são
considerados, sendo 188 das propriedades elásticas e 157 das resistências. Baseando-se
nisso, novos modelos analíticos são propostos. O modelo proposto é capaz de estimar
todas as cinco propriedades elásticas e as seis resistências de uma lâmina unidirecional,
indicando uma melhora significativa nas estimativas em relação aos outros modelos
existentes na literatura quando comparado com dados experimentais. Concluída a
investigação da escala micro, dois estudos acoplam esses resultados em uma análise
multiescala: a influência do tipos de fibra na resistência ao início do dano de laminados
com entalhes; e a aplicação da técnica de homogeneização assimptótica para avaliar a
pressão máxima suportada por um vaso de pressão. Esses dois casos mostram diferentes
ferramentas na modelagem analítica de laminados, tanto na análise de tensões
(formalismos de Stroh e de Lekhnitskii) quanto no critério de falha (critérios de Puck e
de Tsai-Wu). Por último, um estudo de compósitos inteligentes com fibras de memória
de forma é apresentado visando seu uso em estruturas submetidas à terremotos. Os
resultados indicam que a melhor resposta da estrutura é obtida com a utilização de
compósitos híbridos.

vii
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)

MICROMECHANICAL MODELS APPLIED TO MULTISCALE ANALYSIS OF


LAMINATE COMPOSITE

Lucas Lisbôa Vignoli

February/2020

Advisor: Marcelo Amorim Savi

Department: Mechanical Engineering

This contribution presents a multiscale approach for composite materials,


specifically unidirectional laminates. A critical review of micromechanical models
from literature is carried out and compared with experimental data. A set of 345
experimental data is compiled, where 188 are of elastic properties and 157 of strengths.
Based in this investigation, novel models are proposed. The study has two steps: first
the elastic properties are discussed and next the strengths. The proposed model is able
to estimate all of the five independent elastic properties as well as all of the six
strengths of unidirectional laminae with a closer prediction of the experimental data
than the other micromechanical models from literature. Once the microscale
investigation is concluded, two studies are presented coupling these results in a
multiscale analysis: the fiber influence in damage onset of notched laminates; and the
application asymptotic homogenization technique to design pressure vessels. These two
cases present different tools for laminate analytical modelling in both macroscale steps,
stress analysis (Stroh and Lekhnitskii formalisms) and failure criterion (Puck and Tsai-
Wu failure criteria). At last, an investigation of smart composites with shape memory
alloy fibers to decrease injury from earthquakes is presented. The results indicate a
considerable improvement using hybrid composites.

viii
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 1
1.1. Organização do Trabalho 6
2. MODELOS DE MICROMECÂNICA - PARTE 1:
PROPRIEDADES ELÁSTICAS 9
2.1. Modelos Baseados na Regra das Misturas 10
2.1.1. Regra da Mistura (ROM) 10
2.1.2. Modelo de Chamis (Ch) 13
2.1.3. Modelo de Halpin-Tsai (HT) 14
2.2. Modelos Baseados na Teoria da Elasticidade 15
2.2.1. Modelo Auto-Consistente Generalizado (GSCM) ou dos Cilindros
Concêntricos 16
2.2.2. Modelo de Mori-Tanaka (MT) 22
2.2.3. Modelo de Bridging (Br) 26
2.2.4. Homogeneização Assimptótica - Simetria Quadrada (AHs) e Simetria
Hexagonal (AHh) 28
2.3. Modelo da Regra das Misturas Modificada (ROMm) 32
2.4. Comparação dos Modelos 34
3. MODELOS DE MICROMECÂNICA - PARTE 2: RESISTÊNCIAS 45
3.1 Critérios de Falha dos Constituintes 45
3.1.1 Critério de Falha das Fibras 45
3.1.2 Critério de Falha da Matriz 46
3.1.3 Critério de Falha da Interface 50
3.2 Critérios de Falha da Lâmina Submetida à Carregamentos Longitudinais 51
3.2.1 Resistência à Tração Longitudinal 52
3.2.2 Resistência ao Cisalhamento no Plano 57
3.2.3 Resistência à Compressão Longitudinal 73
3.3 Modelos de Resistências da Lâmina Submetida à Carregamentos
Transversais 88
3.3.1 Modelo de Fator de Concentração de Tensão 88
3.3.2 Modelo de Chamis 90
3.3.3 Modelo Bridging 92
3.3.4 Modelo de Chamis Modificado 94
3.3.5 Modelagem Proposta 95
3.3.6 Resultados e Discussões Sobre as Resistências Transversais 108
4. ANÁLISE MULTIESCALA DE PLACAS COM ENTALHE 117
4.1 Modelo de Micromecânica 121
4.2. Análise de Tensões - Formalismo de Stroh 122
4.3. Critério de Falha de Puck 125
4.4. Resultados e Discussões 127
4.4.1 Influência do Modelo de Micromecânica 128
4.4.2 Influência da Aproximação de Placa Infinita 131
4.4.3 Estudo Paramétrico 133
5. ANÁLISE DE FALHA DE VASOS DE PRESSÃO 144
5.1. Homogeneização do Laminado - Homogeneização Assimptótica 147
5.2. Análise de Tensões - Formalismo de Lekhnitskii 149
5.3. Critério de Falha de Tsai-Wu 154
5.4 Resultados e Discussões 156

ix
6. COMPÓSITOS INTELIGENTES 161
6.1. Modelo Constitutivo Equivalente para SMAC 164
6.2. Estudo da Aplicação de SMAC para Diminuir Impactos Estruturais de
Terremotos 168
6.2.1. Modelo Constitutivo do SMA 174
6.2.2. Modelo Constitutivo da Matriz 178
6.2.3. Modelo Constitutivo do Compósito Homogeneizado 180
6.2.4. Modelo Dinâmico da Estrutura 180
7. CONCLUSÕES 195
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 198

x
LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1: Aplicações de materiais compósitos nas indústrias aeronáutica,


civil e de energia (CHAWLA, 2012). 1
Figura 1.2: Esquema representativo da modelagem multiescala (adaptado
de TAN et al., 2018). 2
Figura 1.3: Exemplos de modos de falhas distintos de um mesmo laminado
com concentrador de tensões (adaptada de HALLETT et al.,
2009). 4
Figura 2.1: RVE - parte representativa da microestrutura de uma lâmina. 9
Figura 2.2: Representação de uma microestrutura com simetria e de uma
microestrutura não-simétrica. 17
Figura 2.3: Cilindros concêntricos; assume-se que a propriedade do
material na região cinza da figura à esquerda é equivalente ao
material homogeneizado. 17
Figura 2.4: Distribuição das fibras para simetria quadrada e hexagonal 31
Figura 2.5: Microscopia de uma lâmina unidirecional real onde não há
simetria identificável (SELVADURAI & NIKOPOUR, 2012). 34
Figura 2.6: Exemplo da abordagem mais tradicional para comparar
estimativas de modelos analíticos com dados experimentais
(dados de TSAI & HAHN, 1980). 35
Figura 2.7: Resultados para o módulo de elasticidade na direção
longitudinal, E1 : (a) erro médio; (b) margem de erro. 38
Figura 2.8: Resultados para o coeficiente de Poisson no plano, ν12 : (a) erro
médio; (b) margem de erro. 39
Figura 2.9: Resultados para o módulo de elasticidade na direção
transversal, E 2 : (a) erro médio; (b) margem de erro. 40
Figura 2.10: Resultados para o módulo de cisalhamento longitudinal, G12 :
(a) erro médio; (b) margem de erro. 42
Figura 2.11: Resultados para o módulo de cisalhamento transversal, G 23 : (a)
erro médio; (b) margem de erro. 43
Figura 3.1 Erros nas estimativas de resistência ao cisalhamento de dez
matrizes de acordo com o parâmetro n da equação modificada
de Drucker-Prager 49
Figura 3.2 Erro das estimativas do modelo baseado na ROM para todos os
dados experimentais. 53
Figura 3.3 Variação do erro médio das estimativas de S11 t
de acordo com
r. 55
Figura 3.4 Faixas de erro das estimativas dos modelos baseado na ROM. 56
Figura 3.5 Ilustração dos cinco ensaios de cisalhamento longitudinal
recomendados pela ASTM D4762-18. 58
Figura 3.6 Exemplo de ensaio de cisalhamento de acordo com a norma
ASTM D3518/D3518M (adaptado). 59
Figura 3.7 Estimativa de distribuição de tensão baseada na ROM. 60
Figura 3.8 Modelo simplificado do RVE com fibra quadrada. 61
Figura 3.9 Comparação entre os ensaio de cisalhamento longitudinal para 70

xi
as lâminas do WWFE (SODEN et al., 1998; KADDOUR &
HINTON, 2012, KADDOUR et al., 2013) com fibras de vidro e
as estimativas de resistência ao cisalhamento dos modelos
analíticos.
Figura 3.10 Comparação entre os ensaio de cisalhamento longitudinal para
as lâminas do WWFE (SODEN et al., 1998; KADDOUR &
HINTON, 2012, KADDOUR et al., 2013) com fibras de
carbono e as estimativas de resistência ao cisalhamento dos
modelos analíticos. 71
Figura 3.11 Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para
resistência ao cisalhamento longitudinal 72
Figura 3.12 Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para
resistência ao início do dano para o cisalhamento longitudinal 73
Figura 3.13 Fotografia da falha de uma lâmina sob compressão longitudinal
(VOGLER & KYRIAKIDES, 1999). 74
Figura 3.14 Representação esquemática dos modos de falha por compressão
longitudinal; compressão com as fibras alinhadas, falha por
cisalhamento e falha por extensão. 75
Figura 3.15 Representação do diagrama de corpo livre da fibra para o
modelo proposto. 81
Figura 3.16 Calibração dos modelos analíticos da resistência à compressão
longitudinal. 85
Figura 3.17 Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à compressão longitudinal. 86
Figura 3.18 Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à compressão longitudinal. 86
Figura 3.19 Razão entre as estimativas dos modelos analíticos para
resistência à compressão longitudinal e os valores
experimentais. 87
Figura 3.20 Imagem de uma medição fotoelástica que indica a concentração
de tensão gerada pelo efeito das fibras na matriz (DANIEL &
ISHAI, 2006). 89
Figura 3.21 RVE e suas subdivisões considerando uma fibra quadrada. 90
Figura 3.22 Influência de nt de acordo com V f para CFRP e GFRP. 94
Figura 3.23 Influência de nc de acordo com V f para CFRP e GFRP. 95
Figura 3.24 Sistema de coordenadas utilizado para descrever as tensões na
matriz na região da interface com a fibra. 96
Figura 3.25 Distribuição de tensões normalizada na matriz na região da
interface com a fibra para laminados de carbono (CFRP) e de
vidro (GFRP). 97
Figura 3.26 RVE com as indicações das faces em que são impostos os
deslocamentos para a simulação de EF. 98
Figura 3.27 Exemplo de malha para o RVE com V f = 0.6 . 100
Figura 3.28 Ajuste numérico da soma das tensões normais na matriz de
acordo com a fração volumétrica de fibras. 102
Figura 3.29 Variação de uvc de acordo com ξ para valores típicos de uma
matriz epóxi. 103
Figura 3.30 Variação da função de falha de Drucker-Prager normalizada ao 103

xii
longo da interface.
Figura 3.31 Calibrações numéricas dos ajustes da função de falha de
Drucker-Prager. 105
Figura 3.32 Calibração da função de ajuste gic (V f ) para a falha na interface
considerando o carregamento compressivo transversal. 106
Figura 3.33 Calibração dos modelos analíticos para estimar a resistência à
tração transversal. 110
Figura 3.34 Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à tração transversal. 110
Figura 3.35 Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à tração transversal. 111
Figura 3.36 Calibração dos modelos analíticos para estimar a resistência à
compressão transversal. 112
Figura 3.37 Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à compressão transversal. 113
Figura 3.38 Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à compressão transversal. 114
Figura 3.39 Calibração dos modelos analíticos para estimar a resistência ao
cisalhamento transversal. 115
Figura 3.40 Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à cisalhamento transversal. 115
Figura 3.41 Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para
resistência à cisalhamento transversal. 116
Figura 4.1 Representação esquemática da abordagem multiescala: o
processo de homogeneização é aplicado na Etapa 1 e a placa é
assumida homogênea em todas as etapas seguintes. 120
Figura 4.2 Mecanismos de falha da matriz: modo A, modo B e modo C. 126
Figura 4.3 Comparação das estimativas das propriedades das lâminas com
os dados experimentais utilizando o modelo proposto e os
modelos Bridging e Chamis. 129
Figura 4.4 Comparação das estimativas da carga máxima para o início do
dano, Sot (90°, V f ) e S oc (90°, V f ) , utilizando o modelo proposto
e os modelos Bridging e Chamis. 130
Figura 4.5 Comparação das estimativas das resistências transversais das
lâminas utilizando o modelo proposto e os modelos Bridging e
Chamis. 130
Figura 4.6 Exemplo de malha utilizada para a simulação de elementos
finitos. 132
Figura 4.7 Comparação entre a concentração de tensão máxima para
placas infinitas (solução analítica) e placa finitas (simulação
numérica). 132
Figura 4.8 Erro na concentração de tensão máxima gerado pela hipótese de
placa infinita (solução analítica) comparando com placa finita
(simulação numérica). 132
Figura 4.9 Variação da concentração de tensão, σ 11(l ) / σ n , na borda do furo
de uma placa com fibra de carbono de acordo com V f para
α = 0°, 45°,90° . 133

xiii
Figura 4.10 Variação da concentração de tensão, σ 11(l ) / σ n , na borda do furo
de uma placa com fibra de vidro de acordo com V f para
α = 0°, 45°,90° . 134
Figura 4.11 Comparação da concentração de tensão para laminas com fibras
de carbono e de vidro. 135
Figura 4.12 Variação das resistências à tração, Sot , e compressão, S oc , de
acordo com V f para α = 0°, 45°,90° . 136
Figura 4.13 Influência de α no tipo de falha para um laminado de fibra de
carbono com carregamento trativo σ 11∞ = S ot (α , V f = 0.5) . 137
Figura 4.14 Influência de α no tipo de falha para um laminado de fibra de
vidro com carregamento trativo σ 11∞ = S ot (α , V f = 0.5) . 138
Figura 4.15 Influência de V f no tipo de falha para um laminado de fibra de
carbono com carregamento compressivo
σ 11∞ = − S oc (α = 90°,V f ) . 138
Figura 4.16 Influência de V f no tipo de falha para um laminado de fibra de
vidro com carregamento compressivo σ 11∞ = − S oc (α = 0°, V f ) . 139
Figura 4.17 Envelopes de falha da matriz e as combinações de tensões na
borda do furo em coordenadas materiais. 140
Figura 4.17 Variação da resistência à tração, Sot , de acordo com α e V f . 141
Figura 4.18 Variação da resistência à compressão, S , de acordo com α e
c
o

Vf . 141
Figura 4.19 Variação do mecanismo de falha para a resistência à tração, S , t
o

de acordo com α e V f . 142


Figura 4.20 Variação do mecanismo de falha para a resistência à
compressão, S oc , de acordo com α e V f . 142
Figura 5.1 Sistemas de coordenadas utilizados na modelagem do vaso de
pressão. 146
Figura 5.2 Curvas de nível da máxima pressão interna admissível de
acordo com α e Vf para n = 5 e n = 10 para extremidade
restrita (deformação plana). 156
Figura 5.3 Curvas de nível da máxima pressão interna admissível de
acordo com α e Vf para n = 5 e n = 10 para extremidade
aberta. 157
Figura 5.4 Curvas de nível da máxima pressão interna admissível de
acordo com α e Vf para n = 5 e n = 10 para extremidade
fechada. 158
Figura 5.5 Variação da pressão máxima para o início do dano de acordo
com n e Vf para extremidade restrita (deformação plana). 158
Figura 5.6 Variação da pressão máxima para o início do dano de acordo
com n e Vf para extremidade aberta. 159

xiv
Figura 5.7 Variação da pressão máxima para o início do dano de acordo
com n e Vf para extremidade fechada. 159
Figura 6.1 Relação termomecânica do SMA para os fenômenos de
pseudoelasticidade e memória de forma. 164
Figura 6.2 Pseudoelasticidade para SMAC. 166
Figura 6.3 Pseudoelasticidade em SMAC para carregamentos que não
resultam na transformação de fase completa. 167
Figura 6.4 Primeiro ciclo de aquecimento para o efeito de memória de
forma. 168
Figura 6.5 Detalhe do comportamento da fibra de SMA durante o
carregamento térmico. 169
Figura 6.6 Deformação da barra e a tensão nas fibras de SMA durante o
carregamento térmico completo. 169
Figura 6.7 Evolução temporal das frações volumétricas de martensita e da
deformação de acordo com a temperatura. 170
Figura 6.8 Quantidade de terremotos por ano ao redor do mundo (U.S.
Geological Survey, 2019). 171
Figura 6.9 Evolução temporal da tensão e da fração volumétrica de
martensita e curva tensão-deformação. 177
Figura 6.10 Curvas tensão-deformação de SMA representando sub-loops. 177
Figura 6.11 Energia total, tensão e fração volumétrica de martensita ao
longo do tempo para os carregamentos apresentados na Figura
6.10 com deformação prescrita. 178
Figura 6.12 Modelo dinâmico com um grau de liberdade. 181
Figura 6.13 Aceleração de base do El Centro (Vibrationdata, 2019). 182
Figura 6.14 Deslocamento relativo máximo da estrutura elástica sem os
reforços. 182
Figura 6.15 Deslocamento relativo ao longo do tempo para os casos limites
(matriz pura, Vsma → 0.0 , e SMA puro, Vsma → 1.0 ) para
a = 10−10,10−9, 10−8 . 183
Figura 6.16 Evolução temporal da martensita para Vsma → 1.0 . 184
Figura 6.17 Curvas tensão-deformação para Vsma → 1.0 . 184
Figura 6.18 Energia total e energia por unidade de volume para cada braço
para Vsma → 1.0 . 185
Figura 6.19 Influência de a e Vsma no deslocamento relativo máximo para
braços de SMAC com matriz de epóxi (esquerda) e alumínio
(direita). 185
Figura 6.20 Deslocamento relativo máximo de acordo com Vsma para a
matriz epóxi. 186
Figura 6.21 Deslocamento relativo e curvas tensão-deformação para braços
de matriz epóxi com a = 2 ×10−9 e Vsma = 0.4, 0.6, 0.8 . 187
Figura 6.22 Deslocamento relativo e curvas tensão-deformação para braços
de matriz epóxi com a = 5 × 10−9 e Vsma = 0.4, 0.6, 0.8 . 188
Figura 6.23 Deslocamento relativo e curvas tensão-deformação para braços 188

xv
de matriz epóxi com a = 9 × 10−9 e Vsma = 0.4, 0.6, 0.8 .
Figura 6.24 Deslocamento relativo máximo de acordo com Vsma para a
matriz de alumínio. 189
Figura 6.25 Deslocamento relativo ao longo do tempo para braços de
SMAC com matriz de alumínio com a = 1× 10−9 e
Vsma = 0.4, 0.5, 0.8 . 189
Figura 6.26 Evolução da fração volumétrica de martensíta ao longo do
tempo para braços de SMAC com matriz de alumínio com
a = 1× 10−9 e Vsma = 0.4, 0.5, 0.8 . 190
Figura 6.27 Curvas tensão-deformação para braços de SMAC com matriz
de alumínio com a = 1× 10−9 e Vsma = 0.4, 0.5, 0.8 . 190
Figura 6.28 Deslocamento residual para braços com matriz de alumínio. 191
Figura 6.29 Deslocamento residual para braços com matriz de alumínio e
a = 1× 10−9 . 191
Figura 6.30 Curvas tensão-deformação para braços com matriz de alumínio
com a = 4 × 10−9 e Vsma = 0.0, 0.5,1.0 . 192
Figura 6.31 Curvas tensão-deformação para braços com matriz de alumínio
com a = 10 × 10−9 e Vsma = 0.0, 0.2,1.0 . 192
Figura 6.32 Influência de a e Vsma no deslocamento máximo em um braço
de compósito híbrido com Eeq = 72.4GPa . 193
Figura 6.33 Comparação entre o deslocamento relativo máximo para
compósitos com fibras de SMA e matriz de epóxi e de alumínio
e o compósito híbrido 194

xvi
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1: Referências usadas na compilação de dados experimentais. 36


Tabela 2.2: Parâmetros calibrados da ROM modificada. 37
Tabela 3.1: Dados experimentais fornecidos pelos organizadores do WWFE
para todas as matrizes das três edições. 49
Tabela 3.2: Referências com dados experimentais para resistência à tração
longitudinal. 54
Tabela 3.3: Referências com dados experimentais para resistência à tração
longitudinal. 84
Tabela 3.4: Procedimento para cálculo das propriedades elásticas efetivas. 99
Tabela 3.5: Referências com dados experimentais para resistência à tração
transversal. 108
Tabela 3.6: Referências com dados experimentais para resistência à
compressão transversal. 109
Tabela 3.7: Referências com dados experimentais para resistência ao
cisalhamento transversal. 109
Tabela 4.1: Propriedades da matriz e das fibras (KADDOUR & HINTON,
2012). 128
Tabela 4.2: Parâmetros do critério de Puck ((PUCK & SCHURMANN,
1998). 135
Tabela 5.1: Propriedades da fibra e da matriz (KADDOUR & HINTON,
2012). 157
Tabela 6.1: Propriedades do modelo de SMA da Brinson (PAIVA & SAVI,
2006). 163
Tabela 6.2: Propriedades do modelo de SMA da Brinson modificado
(ENEMARK et al., 2014; ALVES et al., 2018). 176
Tabela 6.3: Propriedades das matrizes (AURICCHIO & PETRINI, 2004;
FREED & ABOUDI, 2009) 179

xvii
1 INTRODUÇÃO

Os materiais compósitos têm sido utilizados cada vez mais em diversas


indústrias devido a fatores como alta resistência, baixo peso e facilidade em aplicações
de reparos. A Figura 1.1 mostra algumas aplicações para pás de turbinas aeronáuticas,
reparos de colunas em prédios e turbinas eólicas (CHAWLA, 2012).

Figura 1.1: Aplicações de materiais compósitos nas indústrias aeronáutica, civil e de


energia (CHAWLA, 2012).

A principal ideia do uso dos materiais compósitos é a possibilidade de unir mais


de um material para obter a propriedade desejada, sendo cada constituinte responsável
por uma característica na estrutura final. Um laminado é constituído por uma série de
lâminas agrupadas na direção da espessura. A lâmina é a parte formada por um conjunto
de fibras embebidas em uma matriz. As fibras mais comuns são de carbono ou vidro.
A modelagem de um compósito envolve múltiplas escalas e, portanto, é dividida
em etapas. Uma fibra de carbono ou vidro tem diâmetro na ordem de 5-15 µm, enquanto
uma lâmina tem espessura da ordem de 0.1-1 mm (BARBERO, 2018). A Figura 1.2
ilustra o conceito da modelagem multiescalas e as etapas que um projeto otimizado deve
seguir. Inicialmente, com as propriedades das fibras e da matriz, obtêm-se a propriedade
efetivas da lamina, que do ponto de vista mecânico podem ser tanto as propriedades
elásticas quanto as resistências. Destaca-se que outros conjuntos de propriedades, como
as térmicas, também podem ser modeladas, mas estão fora do escopo do presente
estudo. Com as propriedades efetivas da lâmina homogeneizada, define-se a sequência
de lâminas que forma o laminado. Por último, o compósito é modelado de forma

1
acoplada na estrutura como uma montagem, que pode conter a representação geométrica
de cada lâmina ou também as propriedades efetivas do laminado homogeneizado.

Figura 1.2: Esquema representativo da modelagem multiescala (adaptado de TAN et al.,


2018).

Essa modelagem pode ser realizada a partir de três abordagens distintas:


experimental, numérica e analítica. Devido ao grande número de variáveis envolvidas
no projeto (e.g. constituintes, frações volumétricas, orientações das lâminas, número de
camadas), a abordagem experimental se torna inviável 1 , ou pelo menos pouco
aconselhável, devendo ser então utilizada apenas como uma prova do conceito baseado
em modelos analíticos e numéricos2.
Mesmo com o avanço da computação, representar todas as fibras de todas as
lâminas para uma simulação numérica é inviável. Existem técnicas que simulam a

1
“An experimental program to generate the mechanical properties and design allowable of composite
materials for aircraft structures may cost millions of dollars and years of work.” (TSAI & MELO, 2014)
2
“in spite of the very high cost and time required, the experimental data obtained from these tests provide
information, which is only specific to the tested conditions. This is because the trends obtained from
notched specimens have been shown to be much dependent upon variables such as material properties”
(SHAH et al., 2009)

2
estrutura de forma paralela em diferentes escalas, mas mesmo assim o custo
computacional é bastante elevado e impossibilita estudos paramétricos detalhados.
ANDRIANOV et al. (2018) apresentaram uma extensa discussão sobre as vantagens do
uso da modelagem analítica, especificamente da homogeneização assimptótica, em
contraponto à modelagem numérica, principalmente para avaliar a influência de cada
parâmetro no sentido de otimização estrutural3. Baseado nisso, o presente estudo tem
por objetivo estudar técnicas analíticas para modelagem de laminados constituídos de
laminas unidirecionais, com fibras longas, utilizando a ideia de abordagem multiescala,
partindo das propriedades das fibras, da matriz, da interface fibra-matriz e da geometria.
Antes de iniciar o desenvolvimento do trabalho, vale destacar uma motivação
importante. Uma das principais lacunas no projeto de materiais compósitos do ponto de
vista estrutural é a definição da falha. Mesmo para o carregamento estático, diferentes
mecanismos concomitantes podem ser responsáveis pela falha, como ilustrado na Figura
1.3. De forma geral, a modelagem de dano pode ser considerada um tópico em
consolidação mesmo para materiais isotrópicos, como discutido por CHRISTENSEN
(2013). Para ilustrar tal argumento, vale destacar o uso de efeitos de outros invariantes
do tensor das tensões, ao invés do segundo invariante do tensor desviador das tensões
considerado pelo critério clássico de von Mises (CRANDALL, 1978), conforme
apresentado em MALCHER & MAMIYA (2014). Cabe destacar a importância do
primeiro invariante do tensor das tensões que quantifica o efeito das tensões normais; o
critério de von Mises assume que materiais dúcteis são insensíveis ao estado de tensões
triaxial com todas as componentes das tensões iguais (hidrostático), o que não pode ser
afirmado ara materiais frágeis.
Voltando para compósitos, um ponto que é facilmente percebido avaliando a
literatura é a imensa quantidade de critérios de falha propostos, sendo todos compatíveis
com seus próprios dados experimentais, como regra de ouro para propor um modelo. No
entanto, muitas vezes os modelos são pouco eficazes quando comparados com outros

3
“we have a dream that the developed approaches and the obtained formulas will attract attention of
specialists working with codes, in particular, for the purposes of optimal design” (ANDRIANOV et al.,
2018)

3
dados experimentais4. Dessa forma, a escolha do critério de falha a ser aplicado em um
projeto de laminados está longe de ser um assunto fechado.
Para investigar os principais critérios de falha existentes, na década de 1990
iniciou-se um esforço internacional denominado World Wide Failure Exercise -
WWFE. O WWFE está atualmente na sua terceira edição (KADDOUR et al., 2013) e os
resultados e conclusões das duas primeiras edições estão apresentados em SODEN et
al.(2004) e KADDOUR & HINTON (2013), respectivamente.

Figura 1.3: Exemplos de modos de falhas distintos de um mesmo laminado com


concentrador de tensões (adaptada de HALLETT et al., 2009).

De forma geral, o WWFE tem o objetivo de comparar as estimativas de cada


critério de falha, realizadas pelos próprios autores da teoria, e com isso propor uma série
de recomendações para aplicações dos modelos sobre quais têm a capacidade de melhor
estimar cada tipo de falha. Na primeira edição, apenas casos com estado plano de
tensões plana foram considerados; na segunda edição, carregamentos tridimensionais
foram incluídos e apenas na terceira que efeitos de concentradores de tensões foram
considerados.
Resumidamente, o WWFE é composto pelas seguintes etapas:
i) os organizadores decidem os materiais que serão testados, assim como os
carregamentos que devem ser avaliados, baseando-se em aplicações práticas;
ii) para cada laminado, as propriedades das fibras, da matriz e da lâmina são
obtidas experimentalmente e os resultados desses testes são fornecidos aos

4
“Closer examination reveals the fact that current commercial design practices place little or no reliance
on the ability to predict the ultimate strength of the structure with any great accuracy” (HINTON et al.,
2004)

4
participantes, assim como a configuração do laminado (como as dimensões e direção
das lâminas);
iii) com esses resultados, para cada laminado que será posteriormente testado
sob condições de carregamento especificadas, os participantes devem publicar artigos
com estimativas do comportamento do laminado (como envelopes de falha, por
exemplo);
iv) uma vez que as estimativas são publicadas, os organizadores publicam
também os resultados experimentais dos laminados, juntamente com uma comparação
entre os modelos;
v) tendo exposto quais modelos melhor representaram cada resultado
experimental, os participantes têm então a chance de submeter uma nova modelagem,
dessa vez baseando-se nos resultados experimentais apresentados pelos organizadores,
de tal forma a tentar melhorar o critério proposto;
vi) após todos os participantes publicarem dois artigos, um antes e outro depois
de conhecerem os resultados experimentais, os organizadores fazem um novo estudo
comparativo, indicando avanços obtidos por cada modelo, assim como algumas
recomendações.
Como o objetivo principal do WWFE é obter uma comparação isenta entre os
critérios, é vedada a participação dos organizadores como participantes que propõem
critérios.
Na conclusão do WWFE1, os organizadores apontaram que, mesmo entre os
cinco critérios de falha que obtiveram o melhor desempenho, aproximadamente 25%
das estimativas tiveram um erro maior do que 50% (SODEN et al., 2004). No WWFE2
houve um avanço significativo, porém o resultado ainda mostra a necessidade de
melhora dos modelos; mais de 10% dos testes tiveram erros maiores do que 50% e
parâmetros ajustáveis ainda são necessários5. A grande margem de erro nas estimativas
é uma consequência da dificuldade na modelagem adequada de materiais compósitos
devido a fatores como distribuição real das fibras, tensões residuais e problemas nas
interfaces entre fibra e matriz.

5
“the reader might like to form a view regarding the quality and absolute fidelity of those theories […]
when one considers that the good correlations achieved were based on curve fitting certain parameters to
the experimentally observed data (a self-fulfilling methodology?)” (KADDOUR & HINTON, 2013)

5
Para todas as edições, as propriedades das fibras, das matrizes e das lâminas de
cada laminado são dados de entrada fornecidos pelos organizadores. Consequentemente,
apesar do significativo progresso recente nessa área, ainda pode-se perceber uma falta
do conhecimento necessário para uma fase anterior do projeto: a capacidade dos
modelos de micromecânica para estimar as propriedades elásticas e as resistências da
lâmina para a seleção dos constituintes que serão utilizados. Note que os organizadores
do WWFE forneceram as propriedades das lâminas e as mesmas são válidas apenas para
aquela configuração. Para qualquer alteração, mesmo que seja apenas na fração
volumétrica, são necessários novos testes para obter as propriedades porque
efetivamente o material não é mais o mesmo.
Baseado nisso, surge a motivação central do presente estudo: qual o erro gerado
se todas escalas forem consideradas na modelagem de materiais compósitos? Ou seja,
avaliar o projeto de um laminado a partir das propriedade dos constituintes (fibras,
matriz e interface), o que representa uma condição real. O objetivo é embasar a escolha
de um modelo analítico de micromecânica e ressaltar suas aplicações. Assim, pretende-
se não apenas apontar o melhor conjunto de equações a ser utilizado, como também
deixar claro quais são as margens de erro que devem consideradas.
Baseando-se nessa motivação de incluir a microescala na modelagem de falhas
seguindo as recomendações do ponto de vista macroscópicos do WWFE e levando em
conta a vantagem da modelagem analítica, conforme exposto por ANDRIANOV et al.
(2018), o estudo visa contribuir para a discussão do efeitos dos constituintes nos
diferentes tipos de falha desenvolvendo um modelo micromecânico que estime as
propriedades macromecânicas com menor erro em relação aos dados experimentais do
que os modelos existentes na literatura.

1.1. Organização do Trabalho

A tese é separada três principais investigações: micromecânica, modelagem


multiescalas e compósitos inteligentes. A análise micromecânica é subdividida em duas
etapas: propriedades elásticas, apresentado no Capítulo 2, e resistências, apresentado no
Capítulo 3. A modelagem multiescalas faz a integração das escalas micro e macro,
sendo tratada nos Capítulos 4 e 5. O Capítulo 4 apresenta o estudo de um problema de

6
concentração de tensão. O Capítulo 5 discute o projeto de vasos de pressão. O Capítulo
6 apresenta um estudo sobre a utilização de fibras de ligas com memória de forma
(SMA - Shape Memory Alloy) para a construção de um compósito inteligente. Nessa
discussão, apresenta-se uma introdução ao conceito de projetos com SMA e
posteriormente uma investigação sobre a aplicação de compósitos com SMA para
diminuir danos resultantes de terremotos.
A presente tese tem como característica desenvolver capítulos o mais
autocontidos possível. Desta forma, as revisões de literatura, os desenvolvimentos e os
principais resultados são apresentados a cada capítulo. Na opinião do autor, a
consequência direta da adoção desta abordagem permite ao leitor a possibilidade de
consultar o capítulo de interesse de forma quase independente, apesar da leitura
contínua facilitar o entendimento global.
Desta forma, a contribuição científica pode ser destacada a partir de seus
capítulos que estão associados a publicações independentes, sendo 6 artigos de revistas
e 10 trabalhos de congresso. Entre os trabalhos de revistas, os seguintes estão
publicados:
i) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., (2018), “Multiscale Failure Analysis of
Composite Pressure Vessel”, Latin American Journal of Solids and Structures, v. 15,
e63.
ii) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., PACHECO, P.M.C.L., KALAMKAROV,
A.L., (2019), “Comparative analysis of micromechanical models for the elastic
composite laminae”, Composites Part B – Engineering, v. 174, 106961.
iii) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., EL-BORGI, S., (2020), “Nonlinear Dynamics
of Earthquake-Resistant Structures Using Shape Memory Alloy Composites”, Journal
of Intelligent Material Systems and Structures, v. 31, 771-787.
Os seguintes artigos de revista estão em fase de submissão:
i) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., PACHECO, P.M.C.L., KALAMKAROV, A.L.,
“Micromechanical analysis of longitudinal and shear strength of composite laminae”.
ii) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., PACHECO, P.M.C.L., KALAMKAROV,
A.L., “Micromechanical models to estimate transversal strength of composite laminae”.
iii) VIGNOLI, L.L., SAVI, M.A., PACHECO, P.M.C.L., KALAMKAROV,
A.L., “Analytical Multiscale Analysis of Damage Onset in Notched Composite Plates”.

7
Entre os trabalhos de congresso, 7 estão publicados em anais (VIGNOLI et al.,
2017; VIGNOLI & SAVI, 2017a; VIGNOLI & SAVI, 2017b; VIGNOLI & SAVI,
2018b; VIGNOLI et al., 2019b; VIGNOLI et al., 2019c; VIGNOLI et al., 2019d) e 3
estão em fase de submissão (VIGNOLI & SAVI, 2020; VIGNOLI et al., 2020b;
VIGNOLI et al., 2020c).

8
2 MODELOS DE MICROMECÂNICA - PARTE 1:
PROPRIEDADES ELÁSTICAS

A primeira etapa do processo de homogeneização de um laminado é a avaliação


das propriedades elásticas de uma lâmina. Qualquer que seja o objetivo da modelagem,
independente do requisito mecânico, as propriedades elásticas são necessárias porque a
distribuição das tensões dependem das propriedades elásticas para materiais
anisotrópicos (LEKHNITSKII, 1981). Sendo assim, o desenvolvimento do projeto tem
como base estimar as propriedades efetivas da lâmina de acordo com os dados dos
constituintes, que para o este estudo focado em laminados unidirecionais são as fibras e
a matriz.
Assumindo a priori que os materiais considerados têm respostas elásticas e
lineares 6 , a homogeneização das propriedades visa modelar como o carregamento
aplicado é dividido entre os constituintes do compósito. Considere um RVE
(Representative Volume Element) genérico mostrado na Figura 2.1. A matriz é
considerada isotrópica enquanto as fibras e a lâmina são consideradas transversalmente
isotrópica, sendo o plano x 2 − x 3 de isotropia. A definição exata do RVE não é uma

tarefa fácil uma vez que as hipóteses de simetria na distribuição das fibras não
representam bem a maioria das estruturas reais; todavia, pode-se entender como uma
parte da microestrutura que represente o comportamento geral do material7.

Figura 2.1: RVE - parte representativa da microestrutura de uma lâmina.


6
Destaca-se que as matrizes poliméricas podem ter comportamento viscoelástico ou viscoplástico,
dependendo da taxa de carregamento (SCHAEFER & DANIEL, 2018)
7
De acordo com WONGSTO & LI (2005), “[RVE] should contain sufficiently large number of fibres so
that the uniformity in a statistical sense can be assumed reasonably”.

9
Os métodos discutidos a seguir possuem uma abordagem analítica, sendo
separados em dois grupos: modelos baseados na regra das misturas e modelos baseados
na teoria da elasticidade. Os modelos baseados na regra das misturas tratam os
constituintes essencialmente como elementos em série ou em paralelo, dependendo do
tipo de carregamento. Os modelos com base na teoria da elasticidade possuem uma
modelagem matemática mais rigorosa para avaliar a distribuição de carga entre os
constituintes. Essa classificação dos modelos em dois grandes grupos não é um
consenso na literatura (CHRISTENSEN, 1998), mas será adotada a seguir porque, na
opinião do autor, é a que melhor define os modelos.

2.1. Modelos Baseados na Regra da Mistura

A regra das misturas (ROM - do inglês, Rule of Mixtures) é um procedimento


clássico para representar as propriedades homogêneas de um compósito fornecendo uma
estimativa razoável para algumas propriedades de forma simples. Além disso, é possível
construir modelos baseados na regra das misturas, promovendo refinamentos teóricos
ou baseados em dados experimentais e/ou numéricos. YOUNES et al. (2012) definiram
a regra das misturas e todas as suas variações como semi-empíricas. Contudo, a regra da
misturas pode ser deduzida a partir de argumentos puramente mecânicos, embora as
suas validades possam ser questionáveis por não considerar efeitos de perturbações no
estado de tensões resultantes principalmente de carregamentos transversais. Na
sequência, discute-se a regra das misturas e algumas de suas variações.

2.1.1. Regra da Mistura (ROM)

A ROM pode ser deduzida a partir de argumentos mecânicos considerando


fibras e matriz como elementos elásticos acoplados. Desta forma, o módulo de
elasticidade na direção paralela às fibras e o coeficiente de Poisson são avaliados
considerando uma associação em série, enquanto o módulo de elasticidade na direção
perpendicular as fibras e o módulo de cisalhamento consideram uma associação em
paralelo (JONES, 1999).

10
Para o módulo de elasticidade na direção longitudinal, a compatibilidade
cinemática, o equilíbrio e as relações constitutivas lineares e elásticas do compósito, da
fibra e da matriz são

ε11 = ε11f = ε11


m
(2.1)

σ11 = V f σ 11f + (1 − V f )σ 11
m (2.2)

σ11 = E1ε11 (2.3)

σ11f = E1f ε11f (2.5)

m
σ11 = E mε11
m (2.6)

onde V f é a fração volumétrica das fibras, ε11 , σ11 e E1 são a deformação, a tensão e

módulo de elasticidade na direção longitudinal, respectivamente. O índices superiores


“f” e “m” são utilizados para denotar as grandezas relacionadas às fibras e à matriz e a
ausência de índice é utilizado para denotar as grandezas efetivas da lamina.
Substituindo as relações constitutivas apresentadas nas Eq.(2.3-6) na Eq.(2.2) e
utilizando a Eq.(2.1), o módulo de elasticidade efetivo na direção longitudinal pode ser
escrito como

E1 = V f E1f + (1 − V f ) E m (2.6)

Para o módulo de elasticidade na direção transversal, assumindo os elementos


em série, a deformação média é calculada assumindo que o deslocamento total é a soma
dos deslocamentos de cada constituinte, as tensões são iguais pela condição de
equilíbrio e a relação constitutiva precisa ser definida direção transversal porque as
fibras podem ser anisotrópicas. Desse forma, tem-se

ε 22 = V f ε 22f + (1 − V f )ε 22
m
(2.7)

σ 22 = σ 22f = σ 22
m (2.8)

σ 22 = E2ε 22 (2.9)

11
σ 22f = E2f ε 22f (2.10)

m
σ 22 = E mε 22
m (2.11)

onde ε 22 , σ 22 e E2 são a deformação, a tensão e módulo de elasticidade na direção


transversal, respectivamente.
Substituindo as relações constitutivas apresentadas nas Eq(2.9-11) na Eq.(2.7) e
utilizando a Eq.(2.2), o módulo de elasticidade efetivo na direção transversal pode ser
escrito como

E 2f E m (2.12)
E2 =
E 2f (1 − Vf ) + E mVf

Todas as outras propriedades efetivas podem ser deduzidas de forma similar. As


equações que definem as demais propriedades são (JONES, 1999)

f
ν 12 = ν 12V f + (1 − V f )ν m (2.13)

f
G12 Gm (2.14)
G12 =
f
G12 (1 − Vf ) + G mVf

onde ν 12 e G12 são o coeficiente de Poisson e módulo de cisalhamento longitudinal. ν 12

e G12 são denominados coeficiente de Poisson e módulo de cisalhamento no plano (ou

longitudinal), nomenclatura que usualmente é utilizada para coincidir com a da teoria


clássica dos laminados.
Considerando um carregamento biaxial no plano transversal às fibras, a
propriedade que relaciona diretamente a as tensões com as deformações no mesmo
plano é o módulo de compressibilidade transversal, K 23 . Sendo assim, o módulo de
compressibilidade transversal é outra propriedade do material que pode ser estimada
considerando elementos em paralelo, descrita pela seguinte equação (HULL & CLYNE,
1996)

12
f
K 23Km
K 23 = (2.15)
f
K 23 (1 − Vf ) + K mVf

Como será discutido com mais detalhe posteriormente (Seção 2.4), o modelo
ROM funciona relativamente bem para E1 e para ν12 ; o primeiro porque realmente

funciona de forma similar a um conjunto de elementos elásticos em paralelo e o


segundo porque a faixa de variação dos coeficientes de Poisson para diferentes materiais
não é tão ampla. As estimativas das outras propriedades não se aproximam bem de
resultados experimentais por causa das não-linearidades envolvidas na deformação.

2.1.2. Modelo de Chamis (Ch)

O modelo de Chamis é baseado na ROM mas conta também com fatores semi-
empíricos (CHAMIS & SENDECKYJ, 1968). CHAMIS (1983) propõem a inclusão do
efeito não-linear da fração volumétrica das fibras e a influência de vazios na
microestrutura oriundos do processo de fabricação. Com isso, o modelo usa as seguintes
equações

E1 = E m + (1 − Vv )V f (E1f − E m ) (2.16)

Em
E2 = (2.17)
1 − (1 − Vv )Vf [1 − (E m / E 2f )]

Gm
G12 = (2.18)
1 − (1 − Vv )Vf [1 − (G m / G12
f
)]

Gm
G23 = (2.19)
1 − (1 − Vv )Vf [1 − (G m / G23
f
)]

ν12 = ν m + (1 − Vv )Vf (ν12


f
− νm ) (2.20)

13
onde Vv é a fração volumétrica de vazios e G23 é o módulo de cisalhamento fora do

plano ou transversal.
Note que, desprezando-se o efeito dos vazios na microestrutura, o modelo de

Chamis se torna similar ao ROM, apenas substituindo Vf por Vf para o módulo de

elasticidade transversal e o módulo de cisalhamento longiudinal.


CHAMIS et al. (2013) sugerem uma abordagem inversa da modelagem
resolvendo um sistema de equações para obter as propriedades da fibra e da matriz
avaliando a partir da medida das propriedades da lamina.
Vale destacar que o modelo de Chamis da forma como foi apresentado pode ser
encontrado em diversos outras trabalho (CHAMIS, 1984a; CHAMIS, 1984b), todavia
em nenhum deles a dedução e uma discussão teórica detalhada sobre as hipóteses
consideradas são apresentadas. HOPKINS & CHAMIS (1985) apresentam uma breve
discussão, onde indicam que assumem que a fibra é assumida como tendo uma seção
transversal quadrada, mas obtém equações diferentes. As equações obtidas são
diferentes das Eq.(2.16-20). No presente estudo, convencionou-se utilizar o conjunto de
equações utilizado mais recentemente pelos autores (CHAMIS et al., 2013). Vale ainda
citar que os autores também não utilizaram as mesma equações apresentadas em
HOPKINS & CHAMIS (1985) nos trabalhos seguintes (CARUSO & CHAMIS, 1986;
CHAMIS, 1989).

2.1.3. Modelo de Halpin-Tsai (HT)

O modelo de Halpin-Tsai (HALPIN & TSAI, 1969) utiliza as seguintes


equações para estimar o módulo de elasticidade transversal e o módulo de cisalhamento
longitudinal

 1 + ζ E ηE V f 
E2 = Em  2 2  (2.21)
 1 − ηE Vf 
 2 
 1 + ζ G ηG Vf 
G12 = G m  12 12 
 1 − ηG V f  (2.22)
 12 

14
onde

(E 2f / E m ) − 1
ηE = (2.23)
2
(E 2f / E m ) + ζ E
2

(G12f / G m ) − 1
ηG =
12
(G12f / G m ) + ζ G (2.24)
12

e ζ E e ζ G são parâmetros que podem ser calibrados experimentalmente para cada


2 12

material. Na ausência de dados experimentais, as seguintes estimativas podem ser


usadas (HALPIN & KARDOS, 1976)

ζ E = 2 + 40Vf 10 (2.25)
2

ζ G = 1 + 40Vf 10 (2.26)
12

Após um estudo paramétrico pelo método dos elementos finitos considerando


uma vasta gama de possíveis arranjos de fibras, GINER et al. (2015) sugeriram a
utilização da seguinte equação

4.924 − 35.888V + 125.118V 2 − 145.121V 3 if V < 0.3


f f f f
ζE =  18 (2.27)
2
 1.5 + 5500Vf if Vf ≥ 0.3

O uso da modelo de Halpin-Tsai em conjunto com a estimativa presente na


Eq.(2.27) será denominada de HTm.

2.2. Modelos Baseados na Teoria da Elasticidade

Muitos modelos baseados em soluções elásticas têm sido propostos para estimar
as propriedades mecânicas da lamina, incluindo soluções exatas baseadas na teoria da
elasticidade e estimativas de valores limites pela utilização de princípios variacionais.

15
Destaca-se aqui a crítica feita por ANDRIANOV & MITYUSHEV (2017) sobre o
termo exato para denotar soluções analíticas8. Segundo o autor, este termo deveria ser
evitado uma vez que muitas hipóteses precisam ser estabelecidas na formulação do
problema e que soluções escritas em forma de séries infinitas nunca podem ser
computadas de forma exata. Essa crítica não é um consenso na literatura (CRUZ &
BRAVO-CASTILLERO, 2017), todavia o presente estudo tem o objetivo de avaliar as
estimativas de cada modelo e compará-las com dados experimentais, sem aprofundar-se
nessa discussão.
A seguir, quatro modelos são apresentados: auto-consistente generalizado, Mori-
Tanaka, Bridging e homogeneização assimptótica. O modelo proposto por LUCIANO
& BARBERO (1994) apresenta boas estimativas quando comparado com dados
experimentais, no entanto ele não é discutido por se limitar a fibras isotrópicas.
Adicionalmente, alguns fundamentos teóricos são omitidos na discussão a seguir, como
o princípio de Hill-Mandel (SOUZA NETO et al., 2015), para evitar extensão
excessiva. Sendo assim, adota-se como objetivo apresentar o mínimo necessário para o
entendimento de cada modelo.

2.2.1. Modelo Auto-Consistente Generalizado (GSCM) ou dos Cilindros


Concêntricos

O modelo de Cilindros Concêntricos ou Auto-Consistente Generalizado (GSCM


- Generalized Self Consistent Model) considera que a fibra e a matriz possam ser
aproximadas por cilindros concêntricos de tal forma que a influência da quantidade de
material entre dois cilindros paralelos seja desprezível. O desenvolvimento apresentado
a seguir é baseado em CHRISTENSEN (2005) e ZHANG & WAAS (2014).
A Figura 2.2 ilustra duas possíveis situações da microestrutura da lâmina. Na
primeira há simetria retangular, enquanto na segunda não há uma ordenação definida.
Note que o modelo não se restringe a microestrutura do material. Assume-se apenas que

8
“term “exact solution” continues to be used too loosely and its attributes are lost” e “Authors’ claims on
closed-form expressions for the effective coefficients, true for any parameter values, are absolutely
unjustified” (ANDRIANOV & MITYUSHEV, 2017)

16
é possível realizar o processo de homogeneização de tal forma que V f ≅ (Rf / R)2 ,

como mostrado na Figura 2.3. Como consequência, pode-se adotar que a parte externa
aos cilindros concêntricos é equivalente ao material homogeneizado.

Figura 2.2: Representação de uma microestrutura com simetria e de uma microestrutura


não-simétrica.

Figura 2.3: Cilindros concêntricos; assume-se que a propriedade do material na região


cinza da figura à esquerda é equivalente ao material homogeneizado.

Para obter todas as propriedades equivalentes do material é necessário


considerar separadamente três tipos de carregamento: um carregamento triaxial, onde
σ11 = σɶL e σ22 = σ33 = σɶT , e dois carregamentos cisalhantes distintos, um

longitudinal e outro transversal. Apenas o primeiro carregamento é discutido de forma


estendida no presente texto, visto que a principal diferença é o campo de deslocamento

17
assumido para os outros dois carregamentos prescritos, mas o procedimento é similar
(para o módulo de cisalhamento transversal utiliza-se também o princípio de Eshelby).
Para o carregamento macroscópico triaxial da forma σ11 = σɶL ,

σ22 = σ33 = σɶT , assumindo a hipótese de estado plano generalizado de

deformações e a axissimetria do problema, as componentes não-nulas do campo de


deslocamentos podem ser descritas por

u1 = εɶx1 (2.28)

 α1r if 0 ≤ r ≤ Rf

ur =  α3 (2.29)
α 2r + if Rf ≤ r ≤ R
 r

onde αi são constantes que devem ser determinadas pelas condições de contorno do

problema. Assumindo pequenas variações de deslocamentos (small deformations),


pode-se escrever as deformações como

∂u1
ε11 = = εɶ (2.30)
∂x1

 α1 if 0 ≤ r ≤ Rf
u3 
ε rr = = α3 (2.31)
r α 2 + 2 if Rf ≤ r ≤ R
 r
 α1 if 0 ≤ r ≤ Rf
∂u3 
εθθ = = α3 (2.32)
∂r α 2 − 2 if Rf ≤ r ≤ R
 r

Na interface entre fibra e matriz, assim como entre a matriz e o material


equivalente, as seguintes condições devem ser satisfeitas

urf (r = Rf ) = urm (r = Rf ) (2.33)

18
σrrf (r = Rf ) = σrr
m
(r = Rf ) (2.34)

m
σrr (r = R) = σɶT (2.35)

Utilizando a relação constitutiva dos constituintes, que nesse caso são


considerados elásticos e lineares, é possível obter αi = αi (σɶT , εɶ) . Em outras palavras,

as constantes podem ser obtidas como função dos carregamentos que estão sendo
aplicados. Para o caso em que σɶT = 0 , tem-se

 Rf R 
1  
 
f m
σ11 = σɶL (εɶ) =  σ11rdr + σ11rdr  (2.36)
R2  0 
 Rf

Como E1 = σ11 / ε11 = σɶL (εɶ) / εɶ , basta manipular a Eq.(2.36) para obter

f
4Vf (1 − Vf )(ν12 − ν m )2
E1 = E1fVf m
+ E (1 − Vf ) +
(1 − Vf ) Vf 1 (2.37)
f
+ m
+ m
K 23 K 23 G

Pela definição do coeficiente de Poisson, ν12 = −εrr (r = R) / ε11 . Explicitamente

tem-se
 1 1 
f
Vf (1 − Vf )(ν12 − νm ) − 
 Km K f 
ν12 f
= ν12Vf + ν m (1 − Vf ) +  23 23 
(2.38)
(1 − Vf ) Vf 1
+ +
f
K 23 K 23 G m
m

Alternativamente, considera-se o caso de deformação plana, ε11 = 0 , mantendo

o desenvolvimento apresentado até a Eq.(2.35). A tensão normal média na direção pode


ser escrita como

19
σ22 = cɶ2222 ε22 + cɶ2233 ε33 = σɶT (2.39)

Utilizando a operação de rotação de tensores (SOKOLNIKOFF, 1956), ou


alternativamente o círculo Mohr (CRANDALL et al., 1978), tem-se

ε22 = εrr cos 2 θ + εθθ sin 2 θ (2.40)

ε33 = εrr sin 2 θ + εθθ cos 2 θ (2.41)

Substituindo na Eq.(2.39), fazendo a integral da área das componentes radial e


tangencial da deformação normal e utilizando a definição de módulo de
compressibilidade transversal, a seguinte equação pode ser obtida

m
Vf
K 23 = K 23 +
1 1 − Vf (2.42)
+
f m m m
K 23 − K 23 K 23 +G

O mesmo procedimento pode ser realizado para obter o módulo de cisalhamento


longitudinal, alterando apenas o deslocamento prescrito. Omitindo a dedução, o módulo
de cisalhamento longitudinal pode ser escrito como

f
m
G12 (1 + Vf ) + G m (1 − Vf )
G12 = G f
(2.43)
G12 (1 − Vf ) + G m (1 + Vf )

Para o módulo de cisalhamento transversal o problema se torna mais complicado


pela falta de simetria para mapear os deslocamentos. Para a solução desse problema é
necessário utilizar o teoria de inclusões de Eshelby (MURA, 1987). A propriedade
equivalente pode ser obtida resolvendo a seguinte equação

20
2
G  G 
A  23  + B  23  + C = 0 (2.44)
Gm   m
  G 

onde

A = a 0 + a1V f + a 2V f 2 + a 3Vf 3 + a 4Vf 4 (2.45)

B = b0 + bV
1 f
+ b2Vf 2 + b3V f 3 + b4V f 4 (2.46)

C = c 0 + cV
1 f
+ c 2V f 2 + c3V f 3 + c 4Vf 4 (2.47)

a0 = −2(G m )2 (2G m + K m )[ 2G23


f
G m + K 23
f f
(G23 + G m )][ 2G23
f
Gm +
(2.48)
K m (G23
f
+ G m )]

a1 = 8(G m )2 (G23
f
− G m )[2G 23
f
G m + K 23
f f
(G 23 + G m )][(G m )2 +
(2.49)
G m K m + (K m )2 ]

a 2 = −12(G m )2 (K m )2 (G 23
f
− G m )[ 2G 23
f
G m + K 23
f f
(G 23 + G m )] (2.50)

a3 = 8(G m )2 {(G 23
f
G m )2 K 23
f f
+ (G 23 )G m K m (K 23
f
−Gm ) +
(2.51)
(K m )2 [G23
f
G m (G23
f
− 2G m ) + K 23
f f
(G 23 − G m )(G23
f
+ G m )]}

a 4 = 2(G m )2 (G 23
f
− G m )(2G m + K m )[K 23
f
G mK m −
f (2.52)
G23 (2G m (K 23
f
− K m ) + K 23
f
K m )]

b0 = 4(G m )3[ 2G23


f
G m + K 23
f f
(G 23 + G m )][ 2G 23
f
G m + K m (G23
f
+ G m )] (2.53)

b1 = 8(G m )2 K m (G23
f
− G m )[2G 23
f
G m + (G 23
f
+ G m )K 23
f
](G m − K m ) (2.54)

b2 = −2a 2 (2.55)

b3 = −2a3 (2.56)

b4 = −4(G m )3 (G 23
f
− G m ){K 23
f
G m K m − G23
f
[2G m (K 23
f
− K m ) + K 23
f
K m ]} (2.57)

c1 = 8(G m K m )2 (G 23
f
− G m )[ 2G 23
f
G m + K 23
f f
(G 23 + G m )] (2.58)

c2 = a 2 (2.59)

c3 = a 3 (2.60)

21
c4 = −2(G m )2 K m (G23
f
− G m ){K 23
f
G m K m − G 23
f
[ 2G m (K 23
f
− K m ) + K 23
f
K m ]} (2.61)

2.2.2. Modelo de Mori-Tanaka (MT)

A base do modelo de Mori-Tanaka (MORI & TANAKA, 1973; BENVENISTE,


1987) pode ser definida como o conceito de autodeformações (eigenstrain) e a teoria de

inclusões de Eshelby. Autodeformações ( ε kl* ) são definidas como sendo deformações

inelásticas genéricas, ou deformações elásticas que não são resultantes de um


carregamento mecânico como, por exemplo, efeitos térmicos e de mudança de fase
(MURA, 1987). Além disse, supõe-se que elas só existem na inclusão, sendo nulas na
matriz.

Considere que seja aplicado um carregamento σ ij∞ em uma região do contorno

distante de onde está sendo realizada a análise (matematicamente equivalente ao

infinito) e que o mesmo resultaria em uma deformação ε kl∞ se o material fosse

homogêneo e não houvesse inclusões. Como as inclusões não-homogêneas resultam em


perturbações nos campos de tensões, σɶij , e de deformações, εɶkl , a relação constitutiva

dos constituintes (matriz e fibras) podem ser escritas como

σ ij∞ + σɶ ij = cijkl
m
(ε kl∞ + εɶkl ) (2.62)

σ ij∞ + σɶ ij = cijkl
f
(ε kl∞ + εɶkl ) (2.63)

Pelo método da inclusão equivalente, admite-se que existe uma situação tal que a
não-homogeneidade é equivalente a uma inclusão homogênea (material de mesma
propriedade) que resulte no mesmo campo de tensões e deformações, mas apresentando
autodeformação. Ou seja, apesar da deformação total na fibra (inclusão) permanecer a

mesma, ε ij∞ + εɶij , a deformação elástica deve ser reescrita como ε ij∞ + εɶij − ε ij* . Dessa

forma, a relação constitutiva da inclusão equivalente é definida por

σ ij∞ + σɶ ij = cijkl
m
(ε kl∞ + εɶkl − ε kl* ) (2.64)

22
Para que exista equivalência entre os problemas deve-se ter,

f
cijkl (ε kl∞ + εɶkl ) ≡ cijkl
m
(ε kl∞ + εɶkl − ε kl* ) (2.65)

A partir da solução clássica do problema de Eshelby (ESHELBY, 1957;


ESHELBY, 1959), pode-se escrever que

*
εɶkl = Sklmn ε mn (2.66)

onde S klmn é o tensor de Eshelby que depende apenas da geometria das inclusões e das

propriedades das matrizes. Soluções genéricas considerando tanto materiais isotrópicos


quanto anisotrópicos são apresentadas em MURA (1987). Considerando que as fibras
podem ser aproximadas por elipsoides com semi-eixos a1 , a 2 e a3 , onde a1 = a 2 e

a3 → ∞ , as componentes não nulas do tensor de Eshelby para uma matriz isotrópica

podem ser explicitadas como

5 − 4ν m
S 2222 = S 3333 = (2.67)
8(1 − ν m )

4ν m − 1
S 2233 = S 3322 = (2.68)
8(1 − ν m )

νm
S 3311 = S 2211 = (2.69)
2(1 − ν m )

3 − 4ν m
S 2323 = (2.70)
8(1 − ν m )

1
S 3131 = S1212 = (2.71)
4

23
Note que o tensor de Eshelby não é completamente simétrico, isto é,
Sijkl = S jikl = Sijlk , mas Sijkl ≠ Sklij . Voltando, as relações constitutivas podem ser

reescritas como

f
cijkl (ε kl∞ + S klmn ε mn
* m
) = cijkl (ε kl∞ + S klmn ε mn
*
− ε kl* ) (2.72)

E então as autodeformações podem ser obtidas em função das propriedades dos


materiais e das deformações resultantes, o que implica que a hipótese do Método da
Inclusão Equivalente é valida.
Por definição, pode-se escrever as tensões e deformações médias na célula

unitária como σ ij = Vf σ ijf + (1 −Vf ) σ ijm e εij = Vf εijf + (1 −Vf ) εijm .

Usando as relações constitutivas dos constituintes, deseja-se obter a relação constituinte


equivalente que possa ser escrita como σ ij = cɶijkl ε kl , definindo um tensor de

rigidez equivalente do material. Para tal, manipulando as equações anteriores, pode-se


escrever

f
cɶijkl εkl = Vf cijrs εrsf + cijpq
m m
ε pq −Vf cijuv f
εuv (2.73)

Suponha que exista um tensor de quarta ordem tal que a seguinte relação seja
válida

f
εmn = Amnkl εkl (2.74)

onde Amnkl representa o tensor de concentração de deformação na fibra. Logo, pela

Eq.(2.73), tem-se

m
cɶijkl = cijkl (
f
+ Vf cijmn m
− cijmn Amnkl ) (2.75)

24
As propriedades equivalentes podem ser diretamente calculadas a partir das
componentes do tensor Amnkl . Vale ressaltar que essa não é uma tarefa elementar e

existem alguns modelos na literatura que abordam esse problema de formas diferentes
(PYRZ, 2008).
O modelo de Mori-Tanaka considera que, como a autodeformação só é nula no
interior das fibras (inclusões), a diferença entra as deformações médias nas fibras e na
matriz é equivalente a deformação no problema não-homogêneo que gera a
autodeformação na transformação para inclusão. Isto é,

εijf − εijm = εɶij = Sijkl εkl* (2.76)

Relembrando que a condição de equivalência na inclusão é definida por


m f m *
(cijkl − cijkl ) εklf = cijkl εkl , pode-se obter

εij* = sijkl
m m
(cklmn f
− cklmn f
) εmn (2.77)

Partindo da hipótese de que existe um tensor de quarta ordem que relaciona as

deformações médias na fibra e na matriz como εijf = Tijkl ε klm e utilizando a Eq.

(2.76), tem-se

Tijkl = [I ijkl − S ijrs (crspq


m
)−1(c pqkl
m
− c pqkl
f
)]− 1 (2.78)

Note que existe uma relação entre os tensores Aijkl e Tijkl , no entanto, para o

presente estudo, não há vantagem em explicitar a relação.


Com isso, o modelo está completamente definido. ABAIMOV et al. (2016)
obtiveram as equações explícitas do modelo de Mori-Tanaka em função das
propriedades mecânicas dos constituintes, facilitando a popularização do modelo por

25
não necessitar computar o tensor de quarta ordem apresentado na Eq.(2.78). Isso
permite que o mesmo seja implementado sem o conhecimento dos tensores de Eshelby.
As equações explícitas são

E1 = Vf E1f + (1 −Vf )Em + 2Vf (1 − Vf )Z1(ν12


f
− ν m )2 (2.79)

E1 
  E1   f 
E2 = 

1
+ 2V    1 + ν f − E2 (1 − ν m )  +
1 − (ν m )2 
f  Z 2   23 
 1 − (ν )
m 2
  Em 
 E f   1 + ν m f   (2.80)
1 + ν 23
Vf Z1  1  
2 
− + 
 E m   E m E1f E2f  

Z1
ν12 = ν m + 2Vf m
f
(ν12 − νm )[1 − (ν m )2 ] (2.81)
E
 
 
E m  4Vf 
G12 =  1 + Vf −  (2.82)
2(1 − Vf )(1 + ν m )  f
G12 m 

 1 + V f + 2(1 − Vf ) (1 + ν ) 
Em

 −1

 


m 
 V f 
G23 = E  2(1 + ν ) +
m
 (2.83)
 1 − Vf f
G23 

 + 

 8[1 − (ν ) ] E − 2G23 (1 + ν ) 
m 2 m f m

onde


 (ν f 2
) 1 − ν f (1 + ν m
)[1 + V (1 − 2ν m 
)] −1 (2.84)
Z1 =  
f
 −2(1 −Vf ) + (1 − Vf ) +
23 23


 E f
E f
E m 


 1 2 

Z 2 = E2f (3 + Vf − 4ν m )(1 + ν m ) + (1 −Vf )E m (1 + ν23


f
) (2.85)

2.2.3. Modelo de Bridging (Br)

O modelo de Bridging foi desenvolvido inicialmente usando como base o


modelo de Mori-Tanaka (HUANG, 2000; HUANG & ZHOU, 2011; LIU & HUANG,
2014), mas posteriormente uma formulação alternativa utilizando o modelo de cilindros

26
concêntricos foi proposta (WANG & HUANG, 2015). A principal vantagem deste em
relação aos modelos que foram utilizados como base é a sua capacidade de modelar
efeitos não-lineares (HUANG & ZHOU, 2011).
Assumindo que existe um tensor de quarta ordem que relaciona as tensões na

matriz e na fibra, denominado tensor de Bridging, σ ijm = Bijkl σ klf , pode-se seguir um

procedimento similar ao apresentado na seção anterior e obter a seguinte relação

−1
cɶijkl = [(1 − V f )Bijpq + Vf I ijpq ]Dpqkl (2.86)

onde Dijkl = (1 − V f )sijpq


m f
B pqkl + V f sijkl .

Considerando a simetria do tensor das tensões e do tensor das deformações,


pode-se ainda representar esses tensores de segunda ordem como vetores de 6 linhas e o
tensor de quarta que relaciona ambos como uma matriz 6x6. De forma análoga, o tensor
de Bridging pode ser definido como uma matriz 6×6 com as seguintes componentes

Em  ν m (ν m − ν 12f ) 
[B ]11 = 1 +  (2.87)
E1f  (1 + ν m )(1 − ν m ) 

1  E m ν m (1 − ν f ) 2ν f  
 23 12  m
[B ]12 = [B ]13 =   − + ν  (2.88)
2(1 − ν m )  (1 + ν m )  E 2f E1f  

Em (ν m − ν 12
f
)
[B ]21 = [B ]31 = (2.89)
2E1f (1 + ν m )(1 − ν m )

1   (ν f − 3) ν mν f 
 m
[B ]22 = [B ]33 = E  23 + 12 
+
(ν m − 1)(ν m + 1)   8E 2f
2E1f 
(2.90)
(ν m + 1)(4ν m − 5) 

8 

27
1   (3ν f − 1) ν mν f 
 m
[B ]32 = [B ]23 =  E  23 + 12 
+
(ν m − 1)(ν m + 1)   8E 2 f
2E1f 
(2.91)
(ν m + 1)(1 − 4ν m ) 

8 

Gm (3 − 4ν m )
[B ]44 = + (2.92)
f
4G 23 (1 − ν m ) 4(1 − ν m )

G m + G12
f
[B ]55 = [B ]66 =
f
(2.93)
2G12

Utilizando essa definição, as propriedades equivalentes podem ser diretamente


calculadas pela Eq.(2.86).

2.2.4. Homogeneização Assimptótica - Simetria Quadrada (AHs) e Simetria


Hexagonal (AHh)

A técnica de homogeneização assimptótica é bastante popular na modelagem de


compósitos (KALAMKAROV & KOLPAKOV, 1997; KALAMKAROV, 2014). Para o
cálculo de propriedades elásticas efetivas, KALAMKAROV (1992) apresentou uma
solução considerando simetria quadrada e constituintes isotrópicos. RODRÍGUEZ-
RAMOS et al.(2001) e GUINOVART-DÍAZ et al. (2001) estenderam a abordagem
considerando fibras transversalmente isotrópicas e simetrias quadrada e hexagonal. Os
autores obtiveram as soluções elásticas dos problemas, todavia a ideia de obter uma
forma fechada de solução não é satisfeita porque a solução é obtida em forma de uma
série infinita.
A abordagem da modelagem é similar, em certo sentido, ao discutido no modelo
auto-consistente generalizado. Um campo de deslocamentos é proposto em ambos os
modelos, todavia, no presente adota-se um campo de deslocamentos em forma de uma
série assimptótica. ANDRIANOV et al. (2007) e ANDRIANOV et al. (2013)
apresentaram uma comparação entre ambos.
De acordo com BRAVO-CASTILLERO et al. (2012), as séries infinitas podem
ser truncadas no segundo termo com boa precisão, resultando nas seguintes equações

28
Vf (km − k f )2 K
k = k fVf + km (1 − Vf ) − (2.94)
m1

Vf (km − k f )(lm − l f )K
l = l fVf + lm (1 − Vf ) − (2.95)
m1

Vf (lm − l f )2 K
n = n fVf + nm (1 − Vf ) − (2.96)
m1

p = pm − 2Vf pm P (2.97)

m = mm − Vf (mm − m f )M (2.98)

m ' = mm − Vf (mm − m f )M ' (2.99)

onde

 (2a − 1)(1 + κm )CR 4a (S 2a )2 


K = C Vm +  (2.100)
 B −1 + R 4a − 2 [AB −1r + g + (2a − 1)DR 2 (S 2a )2 ] 

χp
P = (2.101)
[1 + Vf χp − (2a − 1)χp 2R 4a (S 2a )2 ]

1 + κm
M = (2.102)
[1 + κm (m f / mm )](1 + R 2H − − I )

1 + κm
M'= (2.103)
[1 + κm (m f / mm )](1 + R 2H + − I ')

κf ,m = 1 + 2(m f ,m / k f ,m ) (2.104)

pm − p f
χp = (2.105)
pm + p f

π
H + = Ar1 + B κm + (3 − a )B[(S 4 / π) + πg1 ] (2.106)
sin(π / a )

29
π
H − = Ar1 + B κm − (3 − a )B[(S 4 / π) + πg1 ] (2.107)
sin(π / a )

 R12 (Ar − Bg )(Ar − Bg )


 2 2 3 3
se a = 2
10
 1 + R (Ar4 − Bg 4 )
I = 8 2 2 2 (2.108)
 3R B (15R S 6 − 4T5 ) se a = 3
 1 + 100R12A(S )2
 6

R12 (Ar2 + Bg 2 )(Ar3 + Bg 3 )


I'= (2.109)
1 + R10 (Ar4 + Bg 4 )

r = β42aa−−11β42aa−+11R 4a + 2 (S 4a )2 (2.110)

r1 = (2a − 1)(S 2a )2 R 4a − 2 (2.111)

r2 = β33β75R 6S 4S8 (2.112)

r3 = β31β73R 6S 4S 8 (2.113)

r4 = β73β75R 6 (S 8 )2 (2.114)

g = −(2a − 1)(R 2 β42aa S 4a − β42aa−−21T4a −1 ) (2.115)

g1 = −6S 4R 2 (2.116)

g 2 = −R 2 β82S 8 + β65T7 (2.117)

g 3 = −5R 2 β86S 8 + 5β65T7 (2.118)

g 4 = −5R 2 β12
6 5
S12 + 5β10T11 (2.119)

[κm (m f / mm ) − κf ]
A= B (2.120)
[(m f / mm ) + κf ]

[1 − (m f / mm )]
B= (2.121)
[1 + κm (m f / mm )]

mm
C = (2.122)
[mm + kmVf + k f (1 − Vf )]

D = 2[(k 2 / k1) − 1]C (2.123)

30
k!
βkl = (2.124)
l !(k − l )!

3.1512120 se a = 2
S4 =  (2.125)
0 se a = 3

0 se a = 2
S6 =  (2.126)
5.8630316 se a = 3

4.2557731 se a = 2
S8 =  (2.127)
0 se a = 3

3.9388490 se a = 2
S12 =  (2.128)
6.00096399 se a = 3

0 se a = 2
T5 =  (2.129)
5.6568027 se a = 3

4.5155155 se a = 2
T7 =  (2.130)
0 se a = 3

3.8807309 se a = 2
T11 =  (2.131)
6.0301854 se a = 3

sendo a = 2 para a simetria quadrada e a = 3 para simetria hexagonal. Uma


comparação entre a distribuição das fibras em ambas as simetrias é apresentada na
Figura 2.4.

Figura 2.4: Distribuição das fibras para simetria quadrada e hexagonal.

31
Com isso, as componentes do tensor de rigidez são calculadas por

c1111 = n (2.132)

c1122 = c2211 = c1133 = c3311 = l (2.133)

c2222 = c3333 = k + m ' (2.134)

c2233 = c3322 = k − m ' (2.135)

c2323 = c2332 = c3223 = c3232 = m (2.136)

c1212 = c1221 = c 2112 = c2121 = c1313 = c1331 = c3113 = c3131 = p (2.137)

Outros exemplos da utilização de homogeneização assimptótica para obter


propriedades efetivas de compósitos são ANDRIANOV et al. (2008) e GUINOVART-
DÍAZ et al. (2013) que incluíram o efeito de uma interfase entre a fibra e matriz, e
KALAMKAROV et al. (2016), que estudaram propriedades térmicas.

2.3. Modelo da Regra das Misturas Modificada (ROMm)

Uma modificação da ROM é proposta a seguir, baseando-se na possibilidade de


adicionar parâmetros que permitam um ajuste com dados experimentais.
Assumindo que a ROM é capaz de estimar com razoável precisão o módulo de
elasticidade na direção longitudinal, E1 , e o coeficiente de Poisson no plano, ν12 , o

modelo proposto utiliza as mesmas equações da ROM para essas propriedades e tem
objetivo de melhorar as estimativas das demais propriedades elásticas (módulo de
elasticidade na direção transversal, E 2 ; módulo de cisalhamento longitudinal, G12 ;

módulo de cisalhamento transversal, G23 ).

Manipulando as Eq.(2.12,14,15), pode-se reescrevê-las como

32
  (2.138)
1
E2 = E  m 
 1 + [(E m / E f ) − 1]V 
 2 f 
  (2.139)
1
G12 =G  m 
 1 + [(G m / G f ) − 1]V 
 12 f 
 1 
K 23 = K m   (2.140)
 1 + [(K m / K f ) − 1]V 
 23 f 

Inspirando-se na ideia de Halpin-Tsai de adicionar parâmetros ajustáveis que


podem ser estimados quando comparados com certa quantidade de dados experimentais,
propõe-se uma mudança nas equações anteriores. No entanto, no modelo de Halpin-
Tsai, o ajuste é feito considerando apenas a influência da fração volumétrica.
Observando as Eq.(2.138-140), sugere-se que além da fração volumétrica seja
considerada a razão entre a propriedade da matriz e da fibra. Dessa forma, as seguintes
equações são propostas

 
1
E2 = E  m  (2.141)
 1 + ξ [(E / E f ) − 1V
m
] f 
 E2 2 
 
1
G12 =G  m  (2.142)
 1 + ξ [(G m / G f ) − 1V
] f 
 G12 12 
 
1
G23 =G m  (2.143)
 1 + ξ [(G / G f ) − 1]V
m 
 G23 23 f 

onde ξE , ξG e ξG são adicionados para ajustar os dados experimentais. Note que,


2 12 23

por simplicidade, G23 é utilizado ao invés de K 23 . Adicionalmente, propõe-se

ξE = a1 + a 2Vf + a3(E m / E2f ) (2.144)


2  

33
ξG = a 4 + a5Vf + a 6(G m / G12f ) (2.145)
12  

ξG = a 7 + a8Vf + a9(G m / G23


f 
) (2.146)
23  

onde ai são os parâmetros ajustados.

Apesar de modelos baseados na teoria da elasticidade oferecerem uma melhor


compreensão física da modelagem da estrutura, modelos baseados na ROM são algumas
vezes desejados porque implicitamente levam em consideração a desordem e a
aleatoriedade da distribuição de fibras. Sabe-se que a microestrutura de laminados
unidirecionais normalmente não segue um padrão uniforme, seja esse quadrado ou
hexagonal, como discutido na Seção 2.2.4 pelo método de homogeneização
assimptótica. Um exemplo de microestrutura real é mostrado na Figura 2.5, onde dois
quadrados diferentes são mostrados e indicam que a fração volumétrica do volume
representativo escolhido não é constante ao longo de toda a microestrutura.

Figura 2.5: Microscopia de uma lâmina unidirecional real onde não há simetria
identificável (SELVADURAI & NIKOPOUR, 2012).

2.4 Comparação dos Modelos

Nessa seção são comparadas as estimativas dos modelos apresentados


anteriormente com os resultados experimentais compilados das 25 referências listadas
na Tabela 2.1, resultando em um total de 33 dados de E1 , 54 dados de E 2 , 46 dados de

34
G12 , 26 dados de G23 e 29 dados de ν12 . Destaca-se que algumas referências indicam

uma grande dispersão nas medidas experimentais pelas dificuldades de medição e


influência de parâmetros que não são facilmente controlados durante a fabricação. A
seleção dos resultados experimentais foi realizada de tal forma a obter o maior número
possível de dados e assumindo a confiabilidade das publicações.
Para estabelecer uma comparação direta entre os modelos, as seguintes
propriedades são utilizadas: E1 , E 2 , ν12 , G12 e G 23 . Para os modelos que estimam o

módulo de compressibilidade transversal, o módulo de cisalhamento transversal pode


ser cálculo como (CHRISTENSEN, 2002)

E1
G23 = (2.147)
4[(E1/E 2 ) − ν12 2 ] − (E1 / K 23 )

Tsai & Hahn (1980)


30
AHh
AHs
25 Br
Ch(Vv=0%)

20 Ch(Vv=2.5%)
GSCM
E2 [GPa]

HT
15 HTm
MT
ROM
10
ROMm
exp
5

0
0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
Vf

Figura 2.6: Exemplo da abordagem mais tradicional para comparar estimativas de


modelos analíticos com dados experimentais (dados de TSAI & HAHN, 1980).

A forma mais tradicional de comparar modelos de micromecânica com dados


experimentais é plotando a variação da propriedade efetiva da lâmina de acordo a fração
volumétrica. Os dados experimentais são normalmente sobrepostos à essas curvas como
marcadores. No entanto, esse tipo de gráfico só pode ser útil para uma comparação
qualitativa. A Figura 2.6 mostra a comparação entre todos os modelos analíticos e os
dados experimentais para uma combinação de matriz e fibra. Torna-se impossível

35
avaliar quantitativamente qual modelo obteve uma melhor estimativa. Além disso, se a
comparação envolver diferentes fibras e matrizes, como é o caso do presente estudo, a
quantidade de figuras cresce de forma considerável.

Tabela 2.1: Referencias usadas na compilação de dados experimentais.


# Referencia Fibra Matriz
1 Kriz & Stinchcomb (1979), Huang (2001) Carbono Epóxi
2 Tsai & Hahn (1980) Vidro Epóxi
3 Tsai & Hahn (1980) 1 Vidro Epóxi
4 Wilczyfiski & Lewifiski (1995) Polietileno Epóxi
5 Soden et al. (1998) Carbono Epóxi
6 Soden et al. (1998) Carbono Epóxi
7 Soden et al. (1998) Vidro Epóxi
8 Soden et al. (1998) Vidro Epóxi
9 Bledzki et al. (1999) 2 Vidro Epóxi
10 Yim & Gillespie (2000) 3 Carbono Epóxi
11 Huang & Talreja (2005) Carbono Epóxi
12 Camanho et al. (2007) 4 Carbono Epóxi
13 Lee & Soutis (2007) 4 Carbono Epóxi
14 Benzarti et al. (2011) Vidro Epóxi
15 Kaddour & Hinton (2012) Carbono Epóxi
16 Kaddour & Hinton (2012) Carbono Epóxi
17 Kaddour & Hinton (2012) Carbono Epóxi
18 Kaddour & Hinton (2012) Vidro Epóxi
19 Kaddour & Hinton (2012) Glass Epóxi
20 Kaddour et al. (2013) Carbono Epóxi
21 Kaddour et al. (2013) Carbono Epóxi
22 Kaddour et al. (2013) Carbono Epóxi
23 Kaddour et al. (2013) Vidro Epóxi
24 Schaefer et al. (2014) Carbono Epóxi
25 Li et al. (2014) 4 Carbono Epóxi
1: dados suplementares da fibra e da matriz foram obtidos de #7 e #2, respectivamente
2: propriedades das fibras de #19
3: dados suplementares da fibra obtidos em #22
4: propriedades da fibra e da matriz de #20

Para comparar as estimativas são utilizadas duas formas diferentes de


quantificação do erro. A primeira é separar as estimativas por margem de erro, em
módulo, usando seguintes grupos em relação ao erro: inferior a 10%, entre 10% e 20%,
entre 20% e 30%, entre 40% e 50% e maior do que 50%. A segunda é utilizar o valor

36
médio do erro, também em módulo, somando o erro em relação a todos os dados e
dividindo pela quantidade dos mesmos. No presente estudo, define-se erro como a
diferença entre o valor experimental e o valor estimado por um modelo divido pelo
valor experimental.
A segunda abordagem fornece o erro médio, todavia pode resultar em
conclusões distorcidas se analisada individualmente porque se apenas uma estimativa
for muito ruim, o que pode ser consequência até mesmo de possíveis problemas no
corpo de prova ensaiado, como grande porcentagem de defeitos microestruturais e
diferentes adesões na interface entre a fibra e matriz, o erro médio pode aumentar
significativamente.
Os parâmetros da modificação proposta da ROM foram calibrados utilizando o
algoritmo de Levenberg-Marquardt (NOCEDAL & WRIGHT, 1999) e estão na Tabela
2.2. Note que esses parâmetros ajustados só devem ser utilizados para as fibras e
matrizes utilizadas para a calibração; para a utilização do modelo proposto para outros
tipos de fibra e matriz uma verificação adicional precisa ser realizada.

Tabela 2.2: Parâmetros calibrados da ROM modificada.


x1 x2 x3
2.2603 -1.4759 -0.2964
x4 x5 x6
2.3145 -1.6043 -0.4199
x7 x8 x9
1.7906 -0.9657 0.0065

As Figuras 2.7 e 2.8 apresentam os resultados de E1 e ν12 , respectivamente.

Note que para a maioria dos modelos baseados na ROM as estimativas para essas
propriedades é a mesma. Destaca-se as seguintes conclusões:
i) todos os modelos obtiveram boas estimativas para E1 , uma vez que que os

constituintes trabalham de forma similar à elementos em paralelo para carregamento


longitudinais;

37
ii) apesar das estimativas serem próximas para ν12 , o modelo de Chamis obteve

uma pequena melhora considerando o efeito de vazios, indicando um possível ponto de


desenvolvimento;

(a)

(b)
Figura 2.7: Resultados para o módulo de elasticidade na direção longitudinal, E1 : (a)

erro médio; (b) margem de erro.

38
(a)

(b)
Figura 2.8: Resultados para o coeficiente de Poisson no plano, ν12 : (a) erro médio; (b)

margem de erro.

iii) uma medida experimental de ν12 tem muitas dificuldades intrínsecas, tanto

por essa propriedade precisar de duas medidas de deformações quanto pela não-
homogeneidade do compósito, sendo os dados experimentais muito dispersos;
iv) uma alternativa para melhorar as medidas de ν12 é a utilização de técnicas

que medem um campo de deslocamentos (e.g. DIC - Digital Image Correlation) ao


invés de fazer uma medida pontual (e.g. strain gages);

39
v) como as estimativas dos modelos para E1 são acuradas o bastante utilizando a

ROM e para ν12 nenhuma melhora significativa é percebida, as estimativas propostas

pelas Eq. (2.1) e (2.13) são recomendadas pela sua simplicidade.

(a)

(b)
Figura 2.9: Resultados para o módulo de elasticidade na direção transversal, E 2 : (a)

erro médio; (b) margem de erro.

Para as outas propriedades as conclusões são discutidas individualmente por


causa da maior quantidade de modelos e maior discordância entre eles. Para o módulo

40
de elasticidade transversal, E 2 , os resultados são apresentados na Figura 2.9. Destaca-se

os seguintes pontos:
i) para E 2 a ROMm obteve a melhor estimativa considerando ambas

metodologias adotadas, com erro médio de 11% e 57.4% dos testes com erro menor de
10%;
ii) o modelo modificado de HT, HTm, não apresentou melhora quando
comparado com o modelo original;
iii) comparando os dois modelos de homogeneização assimptótica, AHs obteve
estimativas mais próximas dos dados experimentais que AHh, indicando que a
metodologia proposta por ELNEKHAILY & RALREJA (2018), onde inicialmente a
simetria quadrada é considerada e uma proposta de modificação de acordo com o grau
de não-uniformidade de distribuição de fibras é apresentada, tende a se tornar bastante
relevante para simulações numéricas;
iv) uma vez que a distribuição de fibras é altamente influenciada pelos processos
de fabricação, a quantificação de incertezas relacionadas ao grau de não-uniformidade
para cada processo aparenta ser uma melhora promissora em relação as abordagens
usuais utilizando elementos finitos.
Para o módulo de cisalhamento longitudinal, G12 , os resultados são apresentados

na Figura 2.10 e as principais conclusões são:


i) para G12 todos os modelos têm estimativas próximas, indicando a distribuição

das fibras tende não ser significativa para essa propriedade;


ii) a não-linearidade na curva tensão-deformação para o cisalhamento
longitudinal é destacada na literatura (BARBERO, 2018) como resultado da propagação
do dano na matriz e será discutida em mais detalhes no capítulo seguinte, tornando a
medida de G12 uma tarefa difícil e, consequentemente, espera-se uma maior dispersão

dos dados;
iii) por essa não-linearidade, os niveis de tensão e deformação de cisalhamento
longitudinal considerados nesse estudo são baixos o suficientes para satisfazer todas as
hipóteses da teoria da elasticidade linear (novamente ressalta-se que uma discussão mais
detalhada é apresentada no capítulo seguinte);

41
iv) como consequência disso, os modelos baseados na ROM e na teoria da
elasticidade obtiveram estimativas próximas, com uma pequena vantagem para os
modelos ROMm, HT e Ch que possuem parametros calibrados de acordo com dados
experimentais.

(a)

(b)
Figura 2.10: Resultados para o módulo de cisalhamento longitudinal, G12 : (a) erro

médio; (b) margem de erro.

Por último, para o módulo de cisalhamento transversal, G23 , os resultados são

apresentados na Figura 2.11 e as seguintes conclusões são destacadas:

42
(a)

(b)
Figura 2.11: Resultados para o módulo de cisalhamento transversal, G23 : (a) erro

médio; (b) margem de erro.

i) para G23 a ROMm obteve a melhor concordância com os dados

experimentais, sendo o erro medio de 7.19% e 84.6% das estimativas com erro menor
que 10%;
ii) os modelos Br e AHs també apresentaram excelentes estimativas para G23 ,

ambos com erro menor que 10% para 75% dos casos e um erro médio inferior à 10%;

43
iii) uma quantidade menor de dados experimentais é encontrada na literatura
para G23 porque a abordagem mais tradicional para laminados, a teoria clássica do

laminados, assume um estado plano de tensões em cada lâmina e não utiliza essa
propriedade (BARBERO, 2018);
iv) com o avanço de tecnicas computacionais, os efeitos das tensões e
deformações na direção fora do plano têm sido mais estudados assim como suas
consequências em falhas por delaminação e para placas com entalhes, por exemplo
(REDDY, 2003);
v) como o cisalhamento transversal pode também ser considerado como uma
combinação de tração-compressão pelo círculo de Mohr (CRANDALL, 1978), uma
investigação do efeito da distribuição não uniforme de fibras para essa propriedade é
também sugerida para trabalhos futuros.

44
3 MODELOS DE MICROMECÂNICA - PARTE 2: RESISTÊNCIAS

Uma vez que as propriedades elásticas efetivas são estimadas em função das
propriedades dos constituintes e suas frações volumétricas, como visto no Capítulo 2, o
passo seguinte na modelagem multiescala de um laminado é estimar as resistências
macroscópicas da lâmina. Para um projeto estrutural estático, as propriedades elásticas
são utilizadas para avaliar a distribuição de tensões e deformações e as resistências são
utilizadas para definir a falha a partir de um critério. Este capítulo é dividido em três
partes: inicialmente os critérios de falha dos constituintes (i.e. fibra, matriz e interface)
são apresentados; depois as resistências longitudinais; e por último as resistências
transversais.
Seis resistências macromecânicas devem ser calculadas: resistência à tração
t c
longitudinal ( S11 ); resistência à compressão longitudinal ( S11 ); resistência ao

s t
cisalhamento longitudinal ( S12 ); resistência à tração transversal ( S 22 ); resistência à

c s
compressão transversal ( S 22 ); e resistência ao cisalhamento transversal ( S 23 ).

3.1. Critérios de Falha dos Constituintes

De forma geral, os critérios de falha analisados no WWFE utilizam as


resistências da lâmina para avaliar se um determinado estado de tensões e deformações
macroscópicas podem resultar na falha da estrutura. Todavia, a obtenção experimental
de todas as seis resistências é um processo de alto custo e inviável do ponto de vista de
otimização. Para contornar esse problema, inicialmente é necessário avaliar os critérios
de falha apropriados para cada um dos constituintes. Note que apesar da interface não
ser propriamente um constituinte, um critério de falha da interface precisa ser
estabelecido visto que a mesma é responsável por uma grande parcela das falhas para o
carregamento transversal.

3.1.1. Critério de Falha das Fibras

45
Como discutido por HA et al. (2008), por causa da anisotropia das fibras, o
critério de falha ideal deveria ser capaz de avaliar o efeito do carregamento combinado
de acordo com as resistências em direções ortogonais. No entanto, medir as
propriedades elásticas na direção transversal da fibra já não é uma tarefa fácil; obter as
resistências transversais ainda parece distante da realidade. Dessa forma, por
simplicidade, assume-se que apenas o carregamento longitudinal pode resultar na falha
da fibra. Matematicamente, pode-se definir a função de falha de fibra como

σ 11f
 f se σ 11f ≥ 0
 St
ff = 
f
(3.1)
 | σ 11 |
 Sf se σ 11f < 0
 c

onde σ11f é a tensão normal na fibra na direção longitudinal e St f e Scf são as


resistências à tração e à compressão da fibra, respectivamente. Por definição, no
momento da falha f f = 1 . A função de falha ser unitária define a falha de todos os

constituintes.

3.1.2. Critério de Falha da Matriz

Dentre os constituintes, o critério de falha para a matriz é o que apresenta maior


discordância na literatura. Isto pode ser atribuído ao fato de que as matrizes epóxi são
materiais predominantemente frágeis, mas que suportam certo acumulo de dano para
determinados carregamentos. Adicionalmente, tensões resíduas e possíveis mudanças
nas ligações químicas podem resultar em propriedades diferentes in situ
(CATALANOTTI, 2019).
Muitos autores têm utilizado o critério de Drucker-Prager para materiais frágeis
como base. ROMANOWICZ (2012) utilizou o critério original de Drucker-Prager, que
pode ser escrito como (LUBLINER, 2008)

46
1 µI 
f mDP =  J2 + 1  (3.2)
k 6

onde k e µ são propriedades do material, I1 = σ ii é o primeiro invariante do tensor das

tensões, J 2 = (1 / 2)sij sij é o segundo invariante do tensor desviador das tensões, que é

definido por sij = σ ij − (1 / 3) I1δ ij , onde δ ij é o delta de Kronecker ( δ ij = 1 se i = j e

δ ij = 0 se i ≠ j ).

Para um carregamento uniaxial na direção x1 , I1 = σ 11 e J 2 = (1 / 3)σ 112 . Logo, a


Eq.(3.2) pode ser reescrita como

1  σ112 µσ 11 
f mDP =  +  (3.3)
k 3 6 
 

Considerando um carregamento trativo com σ 11 = Stm e um compressivo com

σ 11 = − Scm , onde Stm e Scm são as resistências à tração e à compressão da matriz,


respectivamente, k e µ podem ser calculados como

 Sm − Sm 
µ = 2  cm tm  (3.4)
 Sc + St 

Stm  2Scm 
k=   (3.5)
3  Scm + Stm 

Alternativamente, alguns autores propõem modificações no critério de Drucker-


Prager para ajustar as estimativas aos dados experimentais (HA et al., 2008;
MUTHUSAMY & SIVAKUMAR, 2014; NAYA et al., 2017). Destaca-se a
modificação proposta por HA et al. (2008), que escreve a função de falha como

47
n
σ   I1 
f mmDP =  vM  +  cr  (3.6)
 σ cr
 vM   I1 

onde σ vM = 3J 2 é a tensão equivalente de von Mises, n é um parâmetro ajustado

experimentalmente e

1/ n
cr α n +α 
σ vM = Stm   (3.7)
 α +1 

α n +α 
I1cr = Stm  n  (3.8)
 α −1 

onde α = Scm / Stm . MACEDO et al. (2017) utilizam 3.15 ≤ n ≤ 6.10 e HA et al. (2008)
sugerem n = 2 , o que resulta em

cr
σ vM = S tm S cm (3.9)

 S mSm 
I1cr =  mc t m  (3.10)
 Sc − St 

Para avaliar a influência do parâmetro n na estimativa de falha da matriz, a

seguir são avaliadas as estimativas de resistências ao cisalhamento da matriz, S sm , das


dez matrizes consideradas em todas as três edições do WWFE utilizando as resistência à
tração, Stm , e à compressão, Scm . Os dados experimentais estão apresentados na Tabela

3.1. O erro nas estimativas de S sm são apresentados na Figura 3.1. Baseando-se nesse
resultado, de forma geral o critério tradicional de Drucker-Prager, que é equivalente à
Eq.(3.6) com n = 1 , obtém resultado satisfatório para a maioria das matrizes, indicando
não haver necessidade da utilização de sua forma modificada para a maioria das
matrizes.

48
Tabela 3.1: Dados experimentais fornecidos pelos organizadores do WWFE para todas
as matrizes das três edições.

Referência Epóxi Stm [MPa] Scm [MPa] S sm [MPa]

Soden et al. (1998) BSL914 75 150 70


Kaddour & Hinton (2012) 8551-7 99 130 57
Kaddour & Hinton (2012) PR319 70 130 41
Kaddour & Hinton (2012) 1 85 120 50
Kaddour & Hinton (2012) 2 73 120 52
Kaddour & Hinton (2012) MY750 80 120 54
Kaddour et al. (2013) 8552 99 130 57
Kaddour et al. (2013) 5260 70 130 57
Kaddour et al. (2013) 3501-6 69 250 50
Kaddour et al. (2013) LY556 80 120 54

Figura 3.1: Erros nas estimativas de resistência ao cisalhamento de dez matrizes de


acordo com o parâmetro n da equação modificada de Drucker-Prager.

Baseando-se em ASP et al. (1995), ASP et al. (1996a) e ASP et al. (1996b),
ELNEKHAILY & TALREJA (2018) e ELNEKHAILY & TALREJA (2019) sugerem
utilizar dois critérios de falha distintos para a matriz: um definido pela densidade de
energia de dilatação crítica, que causa a cavitação quando submetido à um carregamento
triaxial trativo, e outro para modelar ruptura. Para o carregamento transversal trativo, a

49
cavitação ocorre antes do início da falha na interface, sendo esse critério então
alternativo a modelagem da interface para o início do dano nesse carregamento. O
problema na aplicação desse critério é que a densidade de energia de dilatação crítica
deve ser medida em um ensaio triaxial trativo e poucos dados experimentais estão
disponíveis na literatura. Para corroborar com a teoria, NEOGI et al. (2018) realizaram
simulações de dinâmica molecular para estudar o efeito do carregamento triaxial em
epóxi. Os resultados mostraram que para carregamentos triaxiais a cavitação ocorre para
deformações menores do que para o carregamento uniaxial. No entanto, os autores
ressaltam que os resultados desse tipo de simulação (dinâmica molecular) só podem ser
considerados qualitativamente, sem poder afirmar o valor crítico para a cavitação. Essa
abordagem será avaliada na Seção 3.3, onde discute-se os modelos de resistência à
tração transversal da lâmina.
Outros exemplos de critérios de falha de matrizes poliméricas podem ser
encontrados na literatura (ALTENBACH & TUSHTEV, 2001; FIELDLER et al.,
2001), além de utilização do clássico critério de Mohr-Coulomb (ELNEKHAILY &
TALREJA, 2018). Alternativamente, SERRANO et al. (2019) apresentam uma
modelagem da fratura de corpo de provas (CPs) de epóxi com entalhes em ensaios de
flexão de três pontos utilizando elementos coesivos. O escopo do presente trabalho não
é aprofundar na discussão dos critérios de falha para polímeros, apenas apresentar de
forma breve as principais bases para a modelagem de compósitos e, como os resultados
da Figura 3.1 indicam, o critério de Drucker-Prager pode ser considerado satisfatório.

3.1.3. Critério de Falha da Interface

A interface é o “constituinte” que tem maior dificuldade intrínseca para medição


de propriedades. A modelagem do processo de fabricação envolve muitas variáveis que
usualmente não são controladas e afetam diretamente as resistências da interface.
Apesar disso, como será discuto com mais detalhe posteriormente, a falha da interface
desempenha um papel fundamental na falha de uma lamina. Por simplicidade, utiliza-se
a seguinte função de falha polinomial como critério para início da separação entre fibra
e matriz (MACEDO et al., 2017)

50
2 2 2
 t   trθ   trz 
fi =  rri  +  i  +  i  (3.11)
 S
 n   Ss   Ss 

onde trr = max(0, trr ) é o colchete de Macaulay, trr , trθ e trz são as trações na

interface e S ni e S si são as resistências na interface aos carregamentos normal e


cisalhante, respectivamente.
TOTRY et al. (2008) consideraram que a resistência normal e ao cisalhamento
da matriz têm o mesmo valor, i.e. S si = Sni = S i , e fizeram uma simulação considerando
a resistência igual à 57.55MPa e outra com a resistência de 14.38MPa. De acordo com
TANG et al.(2015), 30MPa, 69MPa e 300MPa são valores de resistências que
caracterizam interfaces fracas, moderadas e fortes, respectivamente. HA et al. (2008)
sugerem utilizar S si = 3Sni . O'DWYER et al.(2014) utilizaram 85MPa para a resistência
normal e 125MPa para a resistência ao cisalhamento, enquanto VARANDAS et al.
(2017) e CHEVALIER et al. (2019) definiram a resistência normal igual à 50MPa e a
resistência ao cisalhamento igual à 75MPa. MACEDO et al. (2017) utilizaram valores
diferentes de acordo com a simetria da microestrutura; 86.38MPa para a resistência
normal e 76.97 para a resistência ao cisalhamento considerando uma simetria hexagonal
e 87.57MPa para a resistência normal e 128.75MPa para resistência ao cisalhamento
para a simetria quadrada. Destaca-se aqui que normalmente essas resistências são
calibradas como um problema inverso: dado o valor das resistências macroscópicas da
lâmina, calcula-se o valor da resistência da interface; i.e. as propriedades da interface
são calibradas de tal forma a obter o menor erro entre a estimativa do modelo
micromecânico e as resistências macroscópicas medidas experimentalmente. Para mais
detalhes sobre essa abordagem, ver MACEDO et al.(2017).
Considerando essa grande variação de valores diferentes apresentados na
literatura, assume-se por simplicidade S si = Sni = S i neste estudo. Deseja-se então obter
um valor médio de resistência da interface para ser utilizado como referência, como será
discutido na Seção 3.3.5.

3.2. Critérios de Falha da Lâmina Submetida à Carregamentos Longitudinais

51
Nesta seção são discutidos modelos micromecânicos para as seguintes
t c
resistências: tração longitudinal, S11 , compressão longitudinal, S11 , e cisalhamento
s
longitudinal, S12 . Optou-se no presente trabalho utilizar a nomenclatura cisalhamento

longitudinal, que ocorre no plano x1 − x2 , e cisalhamento transversal, que ocorre no

plano x2 − x3 , para melhorar a classificação dos modelos. No entanto, encontra-se


também na literatura o cisalhamento longitudinal sendo denominado de cisalhamento
axial ou cisalhamento no plano, sendo o último referente à nomenclatura tradicional
utilizada na teoria clássica dos laminados.
Um grande argumento em favor da importância das resistências longitudinais
pode ser baseado no critério de falha do círculo unitário, proposto por TSAI & MELO
(2016). Os autores propõem que a falha final de um laminado é dominada pela falha das
lâminas que estão orientadas com as fibras na direção paralela ao carregamento. Por
exemplo, existe uma recomendação de projeto de materiais compósitos chamada de
regra dos 10% (HART-SMITH, 2002). A regra dos 10% sugere que pelo menos 10%
das lâminas de um laminado estejam orientadas a 0º, 10% a -45º, 10% a 45º e 10% a
90º. Baseando-se nisso, o envelope de falha no plano ε11 − ε 22 pode ser normalizado de
t ,max t
acordo com as deformações máximas longitudinais, ε11 = S11 / E1 para ε ii ≥ 0 e
c ,max c
ε11 = − S11 / E1 para ε ii < 0 , resultando em um círculo de raio unitário. Com essa
hipótese, apenas as resistências longitudinais são necessárias para estimar a falha final
do laminado. Apesar de ser bastante simples, a comparação com alguns resultados
experimentais indica uma correlação para laminados que possuem um comportamento
frágil.

3.2.1 Resistência à Tração Longitudinal

Para modelar a resistência à tração na direção longitudinal, a modelagem


tradicional baseada na regra das misturas usualmente apresenta estimativas razoáveis,
pois, assim como para os modelos de E1 , o material tem um comportamento

aproximadamente linear até a ruptura e fibras e matriz se comportam como elementos

52
em paralelo. Em outras palavras, o comportamento da lamina é assumido idealmente
frágil.
t
Assumindo que a falha ocorre quando σ 11 = S11 na lâmina, o que equivale à

σ 11f = Stf na fibra, pode-se escrever a seguinte condição de equilíbrio

σ11 = V f σ 11f + (1 − V f )σ 11
m t
= S11 (3.12)

Como, por hipótese, as fibras e matriz têm comportamento linear e elástico até o
momento da falha e que ε11 = ε11f = ε11
m
pela compatibilidade geométrica, pode-se
escrever

t
S11 = V f E1f ε11 + (1 − V f ) E mε11 (3.13)

Como ε11 = ε11f = St f / E1f no momento da falha, a Eq.(3.13) pode ser reescrita
como
  Em 
t
S11 = Vf + (1 − Vf )   Stf (3.14)
  Ef 
  1 

Figura 3.2: Erro das estimativas do modelo baseado na ROM para todos os
dados experimentais.

53
Para frações volumétricas de fibras baixas, a falha da lâmina pode ser também
controlada pela matriz. Mas essa condição representa uma lâmina que não tem um
comportamento mecânico desejado e não será considerada no presente estudo.

Tabela 3.2: Referências com dados experimentais para resistência à tração longitudinal.
Referência Tipo de Fibra
Aboudi (1988) carbono
Barbero et al. (2005) carbono
Bogdanor et al. (2015) carbono
Falcó et al. (2018) carbono
Hsiao & Daniel (1996) carbono
Jumahat et al. (2011) carbono
Kaddour & Hinton (2012) carbono e vidro
Kaddour et al. (2013) carbono e vidro
Namdar & Darendeliler (2017) carbono
Perogamvros & Lampeas (2015) carbono
Reddy et al. (2017) carbono e vidro
Soden et al. (1998) carbono e vidro
Wang et al. (2004) carbono

Para avaliar as estimativas desse modelo, 27 dados experimentais das 13


referências apresentadas na Tabela 3.2 são considerados. O resultado do erro absoluto
de cada estimativa é apresentado na Figura 3.2. A linha vermelha indica o erro médio
absoluto que foi 16.5%.
De acordo com BARBERO (2018), a resistência da fibra no compósito pode
diminuir até 53% para fibras de vidro e 30% para fibras de carbono quando comparada
para os valores de resistência medidos pelo ensaio das fibras (sem a matriz). Essa
diminuição da resistência é uma consequência direta de possíveis danos causados
durante a fabricação e é responsável pela diferença entre as estimativas de resistência a
tração longitudinal pela Eq.(3.14) e os resultados experimentais. Note que para quase

54
todos os dados avaliados a estimativa analítica é maior do que o valor medido
experimentalmente. Para avaliar esse efeito, a seguinte equação é proposta

  Em 
t
S11 = Vf + (1 − Vf )    (1 − r )Stf (3.15)
  Ef 
  1  

onde r é a redução da resistência da fibra. Note que para o caso limite em que V f → 1 ,
t
S11 ≠ St f se r = 0 . No entanto, o parâmetro r é incluído para avaliar a diminuição da

resistência da fibra in situ quando comparada com a resistência da fibra virgem, Stf .

t
Figura 3.3: Variação do erro médio das estimativas de S11 de acordo com r .

A variação do erro médio de acordo com a redução da resistência da fibra é


apresentado na Figura 3.3. O resultado indica que r = 0.08 é o valor que tem um menor
erro médio, 12.5%. As margens de erro são apresentadas na Figura 3.4 para r = 0.00 e
r = 0.08 . Além da sensível melhora (diminuição de 4% no erro médio), a Eq.(3.15) com
r = 0.08 é recomendada porque a mesma resulta também em uma estimativa mais
conservadora.
Apesar da estimativa de resistência baseada no modelo simples da ROM ser
bastante útil e eficaz, dois pontos principais devem ser levantados como possíveis

55
desenvolvimentos futuros. O primeiro é que não parece ser razoável que todas as fibras
falhem ao mesmo tempo (i.e. tenham exatamente a mesma resistência). O segundo é o
efeito do tamanho na resistência do material. De acordo com TIMOSHENKO (1953),
Leonardo da Vinci (1452-1519) foi o primeiro a reportar o efeito do tamanho na
resistência. Hoje, sabe-se que muitos materiais, principalmente os mais frágeis, exibem
esse comportamento pela probabilidade de haver algum microdefeito, embora também
seja usual considerar esse efeito para materiais dúcteis, como por exemplo na
modelagem de fadiga (CASTRO & MEGGIOLARO, 2016a).

Figura 3.4: Faixas de erro das estimativas dos modelos baseado na ROM.

Para contornar esses dois problemas, uma forma alternativa de modelar a


resistência à tração longitudinal de lâminas unidirecionais é utilizando função de
densidade de probabilidade de Weibull (BARBERO & KELLY, 1993). Uma discussão
detalhada sobre a modelagem de dano e quais propriedades são efetivamente afetadas
pelo dano das fibras pode ser encontrada em TITA (2003).
SWOLFS et al. (2015) apresentaram um estudo numérico indicando três
principais problemas relacionados a utilização da distribuição de Weibull para estimar a
resistência. A saber: a quantidades de testes, a distribuição microestrutural das fibras e a
quantidade de fibras necessária para implementar o modelo numérico. De acordo com
os autores, o número padrão de testes feitos para medir a resistência das fibras varia
entre 25 e 100, sendo essa quantidade insuficiente para ajustar os parâmetros do modelo

56
de Weibull de forma acurada. Para representar a lâmina real é necessário um arranjo de
aproximadamente 1600 fibras. A distribuição das fibras na microestrutura não se
mostrou um parâmetro relevante para essa propriedade. CHRISTENSEN et al. (2015)
mostraram a influência do tamanho das fibras no valor da resistência.
SWOLFS et al. (2016) apresentaram um excelente resumo sobre a modelagem
estatística da falha das fibras. Além do efeito do tamanho, os autores discutiram também
muito outros fatores como os diferentes testes existentes, a influência da quantidade de
fibras medidas, a variação do diâmetro nominal, o efeito das propriedades da matriz e da
interface, o efeito dinâmico resultante da propagação do dano da fibra e a redistribuição
de carga ao redor da mesmo.

3.2.2. Resistência ao Cisalhamento no Plano

O comportamento de uma lâmina submetida ao cisalhamento longitudinal é o


que apresenta a maior não-linearidade, resultante da propagação de dano da matriz (HA
et al., 2008). Antes de entrar na discussão dos modelos analíticos, para esse
carregamento torna-se proveitosa a análise breve dos procedimentos experimentais
descritos por normas para medir essa propriedade. De acordo com as recomendações da
norma ASTM D4762-18, os principais testes e suas características são:
i) D3518/D3518M tem a vantagem de ter um CP de simples elaboração, que é
um laminado do tipo [±45]ns , e o ensaio pode ser realizado em uma máquina de tração
convencional, sendo por isso o mais utilizado, mas é ruim para medir a resistência à
ruptura e o estado de tensões não é de cisalhamento puro;
ii) D5379/D5379M utiliza um CP com entalhe em V que precisa de um aparato
experimental especial e juntamente com o D7078/D7078M são os mais recomendados
porque se aproximam mais de um estado de tensões de cisalhamento puro, mas para
laminados de alta resistência ao cisalhamento a falha pode ocorrer próximo ao ponto de
aplicação da carga;
iii) D4255/D4255M é um ensaio difícil e com alto custo, além de historicamente
ter baixa reprodutibilidade por causa de concentradores de tensões;
iv) D5448/D5448M é limitado para testes de cilindros finos e possui dificuldade
de fixação na máquina de ensaio;

57
v) D7078/D7078M é similar ao D5379/D5379M, mas com menor probabilidade
de falha próximo ao ponto de aplicação da carga.
As normas definem duas resistências ao cisalhamento: resistência ao início do
dano (offset shear strength), que é a tensão de cisalhamento correspondente ao ponto
em que uma reta paralela ao módulo de cisalhamento e deslocada da origem para iniciar
no ponto em que a deformação de cisalhamento é igual à 0.2%, e resistência ao
cisalhamento, que é a tensão de ruptura do CP ou a tensão máxima quando a
deformação é igual à 5%. A Figura 3.6 mostra um exemplo retirado da ASTM
D3518/D3518M.

D3518/D3518M D5379/D5379M D5448/D5448M

D4255/D4255M D7078/D7078M
Figura 3.5: Ilustração dos cinco ensaios de cisalhamento longitudinal recomendados
pela ASTM D4762-18.

58
Essa não linearidade pode ser explicada pelos mecanismos de dano existentes
(i.e. dano da matriz e da interface). Na matriz, o dano se inicia próximo à fibra e tende a
se propagar. Se a carga aumentar, uma região cada vez maior começa ser danificada,
podendo chegar a ruptura ou um movimento similar ao de corpo rígido se não houver
mais material para resistir ao aumento de carga, como um problema de analise limite
(LUBLINER, 2008). Alternativamente, a tensão de cisalhamento na interface entre fibra
e matriz pode ser alta o suficiente para causar a falha da interface, resultando na
separação entre fibra e matriz e uma variação brusca na rigidez do sistema.

Figura 3.6: Exemplo de ensaio de cisalhamento de acordo com a norma ASTM


D3518/D3518M (adaptado).

Uma outra forma de entender essa propagação do dano para o cisalhamento


longitudinal é avaliando do ponto de vista da mecânica da fratura (BARBERO, 2018).
Uma possível trinca que tenha nucleado durante o carregamento deve se propagar em
modo II, ao contrário do que acontece para o carregamento trativo na direção
transversal, como será visto mais adiante, que pode ser entendido como modo I de
propagação. Da teoria da mecânica da fratura (CASTRO & MEGGIOLARO, 2016c),
sabe-se que uma trinca tende a se propagar com muito mais facilidade em modo I e que
o modo II necessita de uma alta energia para propagar a trinca de forma crítica.
Alguns autores, como CLAY & KNOTH (2017), utilizam essas duas resistências
cisalhamento. Para enfatizar a importância dessa distinção basta avaliar alguns

59
resultados experimentais. Por exemplo, JUMAHAT et al. (2010) reportaram para
laminas com fibras de carbono e matriz polimérica (CFRP) uma resistência ao
cisalhamento considerando o regime linear elástico de 52MPa e uma resistência à
ruptura de 101MPa (uma variação de aproximadamente 100%) e LAUSTSEN et al.
(2015) indicaram para laminas com fibras de vidro e matriz polimérica (GFRP) uma
resistência inicial de 27MPa e final de 70MPa (uma variação de aproximadamente
150%).
Como o dano na matriz pode resultar na perda de funcionalidade da estrutura
(CAMANHO et al., 2006), o presente trabalho visa apresentar modelos analíticos para a
modelagem da resistência ao cisalhamento considerando o início do dano.
O modelo mais simples para estimar a resistência ao cisalhamento é baseado na
ROM. Considerando fibra e matriz como elementos em paralelo (Figura 3.8), no
m
momento do início do dano na matriz σ 12 = S sm e no compósito σ 12 = S12
s
. Como
m
σ12 = σ 12 = σ 12f para elementos em paralelo, tem-se

s
S12 = S sm (3.16)

Figura 3.7: Estimativa de distribuição de tensão baseada na ROM.

DANIEL & ISHAI (2006) propõem utilizar a ROM como base, mas utilizam um
fator de concentração de tensão para correção. De acordo com os autores, pode-se
estimar a resistência ao cisalhamento longitudinal como

60
s Ssm
S12 = (3.17)

onde

1 − Vf [1 − (G m / G12
f
)]
kτ = (3.18)
1 − (4Vf / π)0.5[1 − (G m / G12
f
)]

Note que para a ROM o início do dano coincide com a ruptura. Por outro lado, o
modelo sugerido por DANIEL & ISHAI (2006) é implicitamente referente ao início do
dano porque a concentração de tensão de tensão é de natureza local (VIGNOLI, 2016).
O modelo definido pelas Eq.(3.17-18) é denominado nesse estudo ROM-Kt.
DEVIREDDY & BISWAS (2014) apresentaram um estudo numérico
comparando propriedades elásticas e térmicas efetivas de compósitos unidirecionais
assumindo fibras circulares e quadradas. De acordo com os resultados apresentados, não
há uma diferença significativa nas propriedades efetivas obtidas utilizando fibra com
seção transversal circular ou quadrada.

Figura 3.8: Modelo simplificado do RVE com fibra quadrada.

Baseando-se nisso, a seguir é considerado que o RVE constituído pela fibra e


pela matriz pode ser assumido como dois quadrados concêntricos com lados a = d f

(quadrado azul representado como 2b na Figura 3.8) e b , onde V f = (a / b)2 . Assim, o

RVE pode ser subdivido em 3 elementos em paralelo (ver Figura 3.8): o elemento 2,
que é constituído por três sub-elementos (matriz 2a, fibra 2b e matriz 2c) no meio dos

61
elementos 1 e 3 constituídos exclusivamente pela matriz. Assume-se que, no momento
da falha, a tensão de cisalhamento nos elementos 2a e 2c, e consequentemente no 2b
pela condição de equilíbrio, é igual à resistência ao cisalhamento na matriz e que os
elementos 1 e 3 estão em regime elástico. Logo, pela condição de equilíbrio

s 2
S12 b = (G12f 2ε12f )a 2 + (G m 2ε12
m ,e
)[(b − a )b] + S sm [a(b − a )] (3.19)

Para os deslocamentos serem geometricamente compatíveis entre os elementos


1, 2 e 3, tem-se que

m ,e ε 12f a 2 + ε 12
m, p
[ a (b − a )]
ε 12 = ε 12 = (3.20)
ab

No momento em que a tensão nos elementos 2a e 2c se iguala à resistência ao


cisalhamento da matriz

m m, p
σ12 = G m 2ε12 = S sm (3.21)

σ 12f = G12f 2ε12f (3.22)

m, p
Mas como os sub-elementos 2a, 2b e 2c estão em paralelo, σ12f = σ 12 = S sm .
Logo

S sm
ε12f = (3.23)
2G12f

Substituindo na Eq.(3.20)

m, e  1 a 1 (b − a )   S sm 
ε12 = + m   (3.24)
f
 G12 b G b   2 

62
Com isso, a resistência ao cisalhamento longitudinal é

s 1  2 2 Gm 2  m
S12 =  ( a + b − ab ) + ( ab − a ) Ss (3.25)
b2  G12f 

Como a hipótese geométrica inicial é b = a / V f , ab = a 2 / V f e

ab / b2 = (a 2 / V f ) / (a 2 / V f ) = V f . Utilizando esse resultado, a resistência pode ser

escrita como

s  Gm 
S12 =  (1 + V f − V f ) + f ( V f − V f )  S sm (3.26)
 G12 

A Eq.(3.26) é a equação do modelo de Chamis 9.


O modelo de Bridging inicialmente estimava a resistência ao cisalhamento pela
seguinte equação

 G12f 
s
S12 = Vf + (1 − Vf ) Ssm (3.27)
 (αG12
f
+ (1 − α )G m ) 

onde α é um parâmetro ajustável do modelo, sendo α = 0.45 recomendado na


ausência de dados experimentais para calibração (HUANG, 2001).
Recentemente, HUANG (2019) propôs a seguinte equação considerando a média
da concentração de tensão no momento da ruptura

s S sm
S12 = (3.28)
K12 λ4

onde

9
De acordo com o conhecimento do autor, essa dedução não é apresentada de forma explicita em
nenhuma referência original do modelo de Chamis. Sendo assim, o autor considera que vale deixar o
registro da dedução desse modelo.

63
  G12f − G m   1   [V f + a66 (1 − V f )]
K12 = 1 − V f  f m 
  W −  (3.29)
  G12 + G   3   a66

 1 4 2 5 
W = π Vf  − − Vf − Vf 2  (3.30)
 4V f 128 512 4096 
 
a66
λ4 = (3.31)
V f + a66 (1 − V f )

a66 = 0.3 + 0.7(G m / G12f ) (3.32)

Para diferenciar os dois modelos, o modelo Bridging definido pela Eq.(3.17) é


denominado Br e o modelo modificado definido pela Eq.(3.28-32) é denominado Br-Kt.
Baseando-se em ZHANG & WAAS (2014), a seguir é apresentada uma
estimativa para o início do dano na matriz. Apesar de utilizar o modelo de cilindros
concêntricos, CC, que é bastante popular na literatura (CHRISTENSEN, 2005), a
equação final desenvolvida no presente trabalho não consta em nenhum outro trabalho
que seja do conhecimento do autor.
O campo de deslocamento é assumido como

 B 
u κx =  Aκ r + κ  cos θ (3.33)
 r 

uκr = Cκ x cos θ (3.34)

uθκ = −Cκ x sin θ (3.35)

onde χ = f , m é referente a qualquer dos dois constituintes, havendo então seis


incógnitas.
Com isso, pode-se calcular as deformações e as tensões como

κ 1  ∂uκx ∂uκr  1  Bκ 
ε xr =  +  =  Aκ − 2 + Cκ  cos θ (3.36)
2  ∂r ∂x  2  r 

64
1  1 ∂u κx ∂uθκ  1 Bκ 
ε xκθ =  +  = −  Aκ + 2 + Cκ  sin θ (3.37)
2  r ∂θ ∂x  2 r 

 Bκ 
σ κxr = 2G12
κ κ κ
ε xr = G12  Aκ − + Cκ  cos θ (3.38)
 r2 
 Bκ 
σ κxθ = 2G12
κ κ κ
ε xθ = −G12  Aκ + 2
+ Cκ  sin θ (3.39)
 r 

Para não haver singularidade no campo de deslocamento, B f = 0 . Dessa forma,

restam 5 incógnitas. Para isso, considera-se as seguintes condições de compatibilidade


geométrica nas interfaces

u xf ( x, a, θ ) = u xm ( x, a, θ ) (3.40)

uθf ( x, a, θ ) = uθm ( x, a, θ ) (3.41)

urf ( x, a, θ ) = urm ( x, a, θ ) (3.42)

u xm ( x, b, θ ) = 0 (3.43)

Substituindo nas Eq.(3.33-35)

( A f a ) cosθ =  Am a + Bam  cos θ (3.44)

−C f x sin θ = −Cm x sin θ (3.45)

C f x cos θ = Cm x cos θ (3.46)

 Bm 
 Amb + b  cos θ = 0 (3.47)
 

Note que das quatro condições de compatibilidade geométrica, apenas três são
linearmente independentes.
A condição de equilíbrio na interface é representada por

65
σ xrf ( x, a,θ ) = σ xr
m
( x , a, θ ) (3.48)

Utilizando a Eq.(3.38),

 B 
( )
G12f A f + C f cos θ = G m  Am − m2 + C m  cos θ
 a 
(3.49)

Por último, assumindo que é imposta uma deformação macroscópica ε12 , pode-

se utilizar o tensor de rotação λij = cos( xi , x j ) (SOKOLNIKOFF, 1956) e escrever

ε12 = (λ1r λ2 x + λ1x λ2r )ε xr + (λ1θ λ2 x + λ1x λ2θ )ε xθ


(3.50)
= ε xr cos θ − ε xθ sin θ

A deformação média no RVE pode ser calculada como

a 2π b 2π

   (ε
2
ε12 (π b ) = (ε xrf cos θ − ε xfθ sin θ )rdθ dr + m
xr cos θ − ε xmθ sin θ )rdθ dr (3.51)
0 0 a 0

Resolvendo a integral, obtém-se a última equação necessária para resolver o


sistema e obter todas as incógnitas

2ε12 = ( A f + C f )V f + ( Am + Cm )(1 − V f ) (3.52)

onde V f ≅ a 2 / b 2 .

Pelas Eq.(3.45), (3.47) e (3.44), respectivamente, tem-se

Cm = C f (3.53)
Bm
Am = − (3.54)
b2

66
Bm  1 1 
A f = Am + 2
= Bm  2 − 2  (3.55)
a a b 

Com esses resultados, note que

2
 1 1 a B  a2 
A f V f + Am (1 − V f ) = Bm  2 − 2  2 − m2  1 − 2  = 0 (3.56)
a b b b  b 

Logo, a Eq.(3.52) pode ser resolvida e obtém-se

2ε12 = C f = Cm (3.57)

A solução das outras incógnitas é

(G m − G12f )(1 − V f )
Af = 2ε12 (3.58)
(G m − G12f )V f + (G m + G12f )

(G m − G12f )V f
Am = − 2ε12 (3.59)
(G m − G12f )V f + (G m + G12f )

(G m − G12f )
Bm = a 2 2ε12 (3.60)
(G m − G12f )V f + (G m + G12f )

Com isso, as tensões na matriz na interface com a fibra, onde r = a , são

m
 (G m − G12f )V f
σ xr = 1 − m f m f
 (G − G12 )V f + (G + G12 )
(3.61)
(G m − G12f )  m
− m  G 2ε12 cos θ
(G − G12f )V f + (G m + G12f ) 

67
 (G m − G12f )V f
σ xmθ = − 1 −
 (G m − G12f )V f + (G m + G12f )
(3.62)
(G m − G12f )  m
+ m  G 2ε12 sin θ
(G − G12f )V f + (G m + G12f ) 

De forma similar ao que foi feito anteriormente para as deformações, a tensão de


cisalhamento longitudinal para cada constituinte pode ser calculada como

m m
σ12 = σ xr cos θ − σ xmθ sin θ
 (G m − G12f )V f
= 1 − m
 (G − G12 )V f + (Gɶ e + G12 )
f m f
(3.63)

a
2
(G m − G12f )  m
−  cos 2θ  G 2ε12
 r  (G m − G12f )V f + (G m + G12f ) 

Assumindo que o dano inicial é da matriz e ocorrem em r = a e θ = 0 , a tensão


máxima na matriz é

m ,max
 2G12f  m
σ 12 = m f m f
 G 2ε12 = S sm (3.64)
 (G − G12 )V f + (G + G12 ) 

onde S sm é a resistência ao cisalhamento da matriz. Ou seja, a deformação de


cisalhamento no momento do início do dano é

Ssm  G (1 + V f ) + G12 (1 − V f ) 
m f
ε12 =   (3.65)
4G m  G12f 

Como visto anteriormente na Seção 2.2.1, pela Eq.(2.33) o módulo de


cisalhamento longitudinal pode ser estimado pelo modelo de cilindros concêntricos por

68
f
m
G12 (1 + Vf ) + G m (1 − Vf )
G12 = G f
(3.66)
G12 (1 − Vf ) + G m (1 + Vf )

s
Logo, utilizando a relação constitutiva linear-elástica σ12 = S12 = G12 2ε12 , a
resistência ao início do dano para o cisalhamento longitudinal pode ser definida como

s Sm  (G12f + G m ) + (G12f − G m )V f 
S12 = s   (3.67)
2  G12f 

Como foi discutido anteriormente, para a resistência ao cisalhamento


longitudinal existem duas definições distintas para a resistência. No entanto, a maioria
dos valores encontrados na literatura utilizam a resistência à ruptura, que a norma define
apenas como resistência ao cisalhamento. Para evitar esse problema, apenas os dados
das 10 lâminas utilizadas nas três edições do WWFE (SODEN et al., 1998; KADDOUR
& HINTON, 2012, KADDOUR et al., 2013) são consideradas porque a curva completa
de tensão-deformação para cisalhamento é fornecida. As curvas e as estimativas dos
modelos apresentados são mostradas na Figura 3.9 para fibras de vidro e na Figura 3.10
para fibras de carbono. Destaca-se as seguintes conclusões:
i) o modelo proposto, representado por CC (cilindros concêntricos), foi o que
obteve as estimativas mais próximas do início do dano;
ii) as estimativas do modelo proposto (CC) e do modelo de Chamis (Ch) são
bastante próximas para os dados analisados;
iii) o valor da tensão de cisalhamento no ponto em que a curva tensão-
deformação passa pela reta paralela ao módulo de cisalhamento deslocada de 0.2% na
deformação está entre a resistência ao cisalhamento da matriz (ROM) e a estimativa do
modelo de Chamis (Ch) para quase todas as lâminas, menos para lâmina com fibra T300
e matriz PR31910;

10
KADDOUR & HINTON (2012) incluíram a seguinte nota de explicação por causa dos resultados da
lâmina T300/PR319: “Please note that values are considered to be low, compared with typical data for the
same material published somewhere else or quoted by the manufacturers. We have not attempted to
change them in order to facilitate a comparison with test data in Part B of the exercise”

69
iv) o modelo Bridging foi o que mais se aproximou da resistência à ruptura.

Figura 3.9: Comparação entre os ensaio de cisalhamento longitudinal para as lâminas do


WWFE (SODEN et al., 1998; KADDOUR & HINTON, 2012, KADDOUR et al.,
2013) com fibras de vidro e as estimativas de resistência ao cisalhamento dos modelos
analíticos.

70
Figura 3.10: Comparação entre os ensaio de cisalhamento longitudinal para as lâminas
do WWFE (SODEN et al., 1998; KADDOUR & HINTON, 2012, KADDOUR et al.,
2013) com fibras de carbono e as estimativas de resistência ao cisalhamento dos
modelos analíticos.

71
Para uma avaliação mais quantitativa, a seguir são utilizadas três definições de
resistência ao cisalhamento para avaliar o erro médio de cada modelo: além das duas
resistências definidas pela norma, a resistência ao cisalhamento medida com o módulo
de cisalhamento deslocado para deformação de 0.2%, S12s ,0.2% , e a resistência à ruptura,

S12s ,r , utiliza-se também a resistência ao início do dano, S12s ,o . Adota-se S12s ,o como a

tensão no início da não-linearidade da curva tensão-deformação.


Os resultados das estimativas de erro médio são apresentadas na Figura 3.11.
Pode-se concluir que:
i) para a resistência ao início do dano, S12s ,o , o modelo CC apresenta o menor erro
médio (31.18%) apesar do resultado ser próximo os modelos Ch (34.39%) e ROM-Kt
(39.39%);
ii) para S12s ,0.2% os menores erros médios foram obtidos pelos modelos Ch
(14.01%) e CC (15.89%), sendo as estimativas do modelo CC mais conservadores (ver
Figuras 3.9-10);
iii) apenas os modelos Br e Br-Kt estimam explicitamente a resistência à ruptura,
sendo o erro médio de 14.62% para Br e 9.12% para Br-Kt em relação à S12s ,r .

Figura 3.11: Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para resistência ao
cisalhamento longitudinal.

Como destacado por Ha et al. (2008), o ideal é que os modelos micromecânicos


sejam capazes de estimar a resistência ao início do dano e a propagação do mesmo deve

72
ser considerada no critério de falha. Com isso, a resistência ao início do dano é utilizada
para avaliar as margens de erro apresentadas na Figura 3.12. Destaca-se a similaridade
entre as estimativa dos modelos Ch e CC.

Figura 3.12: Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para resistência ao
início do dano para o cisalhamento longitudinal.

3.2.3. Resistência à Compressão Longitudinal

O modelo mais simples para estimar a resistência à compressão longitudinal é


baseado na ROM, da mesma forma que o modelo anteriormente mostrado para
resistência à tração longitudinal. Sendo assim, pode-se substituir diretamente a
resistência à tração da fibra na Eq.(3.14) pela sua resistência à compressão, resultando
na seguinte equação

  Em 
c
S11 
= Vf + (1 −Vf )   Scm (3.68)
  Ef 
  1 

No entanto, para o carregamento compressivo paralelo às fibras outros


mecanismos de falha podem acontecer. Os dois principais são: microflambagem e a
criação de kink band (ou kinking). Na microflambagem ocorre a falha por instabilidade

73
estrutural em regime elástico, de forma similar a clássica modelagem de flambagem de
uma viga apoiada em um fundação elástico (TIMOSHENKO & GERE, 2009). Por
outro lado, no kinking a falha é caracterizada pelo dano na matriz por causa do
desalinhamento da fibra. CHAUDHURI (2010) sugere que o fenômeno de kinking é o
responsável pela não-linearidade de laminados submetidos a cisalhamento longitudinal.
A Figura 3.13 mostra um exemplo de falha por compressão longitudinal da lâmina.

Figura 3.13: Fotografia da falha de uma lâmina sob compressão longitudinal (VOGLER
& KYRIAKIDES, 1999).

O primeiro modelo que estimou a resistência à compressão longitudinal de


laminados unidirecionais assumindo que as fibras falham por flambagem foi proposto
por ROSEN (1965). Uma discussão detalhada sobre essa modelagem é apresentada por
JONES (1999). Dois diferentes modos são considerados (ver Figura 3.14): extensão,
onde as fibras são simétricas em relação às linhas pontilhadas vermelhas e a matriz tem
partes sob compressão e sob tração, e cisalhamento, onde as fibras se deslocam todas
para o mesmo lado e não há extensão na matriz. Modelando a fibra como uma viga de
Euler-Bernoulli sobre uma fundação elástica, que representa a matriz, o valor da
resistência estimada pelos modos de extensão e cisalhamento, respectivamente, são

 E m  Vf E E1
m f
c,e
S11 = 2 Vf + (1 − Vf )  (3.69)
 E1f  3(1 − Vf )

74
c,s Gm
S11 = (3.70)
1 − Vf

Figura 3.14: Representação esquemática dos modos de falha por compressão


longitudinal; compressão com as fibras alinhadas, falha por cisalhamento e falha por
extensão.

Como o menor valor estre os dois modos de flambagem será responsável pela
falha, a estimativa de resistência do modelo de Rosen pode ser escrita como

c c,e c,s
S11 = min(S11 , S11 ) (3.71)

A maioria dos modelos mais recentes modelam apenas o modo de cisalhamento


porque o modo de extensão só ocorre para frações volumétricas de fibra muito baixas.
LO & CHIM (1992) modelaram a fibra utilizando o modelo de Tioshenko para
vigas e o método de minimização de energia potencial. Para uma viga, a carga crítica de
flambagem é

kG
σcr =
2
 l  kAG (3.72)
1+  
 n π  EI

onde k é o fator de forma de Timoshenko.

75
Adptando a Eq.(3.72) para uma lamina, os autores consideraram k = 1.5 ,
propuseram a seguinte equação

c G12
S11 = (3.73)
1.5 + 12(χ / π)2 (G12 / E1 )

Originalmente, LO & CHIM (1992) propuseram utilizar χ = 6 calibrando com


resultados experimentais, resultando na seguinte equação

c G12
S11 = (3.74)
1.5 + 12(6 / π)2 (G12 / E1)

O módulo de elasticidade na direção longitudinal e o módulo de cisalhamento


longitudinal do compósito podem ser estimados pelos modelos apresentados no
Capítulo 2. Originalmente Lo e Chim utilizaram a equação do modelo de auto-
consistente generalizado. Como a estimativa pela regra da mistura é virtualmente
equivalente para E1 , a Eq.(2.6) é utilizada. Para G12 , a Eq.(2.43) é utilizada.

ARGON (1972) e BUDIANSKY (1983) consideraram o efeito da plasticidade


da matriz na falha por kinking, utilizando modelos constitutivos rígido-perfeitamente-
plástico e elástico-perfeitamente-plástico (elastoplástico sem encruamento), além do
desalinhamento inicial. BUDIANSKY & FLECK (1993) generalizaram essa
abordagem com o uso da equação de Ramberg-Osgood para definir o comportamento
elastoplástico da matriz e concluíram que a modelagem sem encruamento pode obter
resultados satisfatórios e de forma mais simples. A estimativa de resistência
considerando a matriz elástica-perfeitamente-plástica é

c G12
S11 = (3.75)
1 − (φ / γY )

76
Os autores também sugeriram que uma boa estimativa pode ser obtida
considerando φ / γY ≅ 4 . Para abranger todos os dados apresentados por

BUDIANSKY & FLECK (1993), pode-se considerar 0 < φ / γY < 8 .

BARBERO (1998) utilizou uma relação hiperbólica entre a tensão e a


deformação de cisalhamento longitudinal para modelar a falha na região em que há o
desalinhamento inicial das fibras. As imperfeições das fibras são modeladas utilizando
uma distribuição gaussiana e a equação simplificada proposta é

−0.69
 G φ
c
S11 = G12  1 + 4.76 12  (3.76)
 s 
S12
 

Vale ressaltar que a equação mostrada anteriormente não utiliza constantes


empíricas, a mesma foi obtida numericamente para simplificar a equação obtida
analiticamente. Adicionalmente, o autor recomenda utilizar dados experimentais para os
valores do módulo de cisalhamento e da resistência ao cisalhamento. No entanto, no
presente estudo são utilizadas apenas estimativas de analíticas. BARBERO (2018)
sugere utilizar o modelo de cilindros concêntricos para o módulo de cisalhamento e o
modelo de Chamis para a resistência ao cisalhamento na falta de dados experimentais.
No presente trabalho, para manter a consistência teórica, utiliza-se o modelo de
cilindros concêntricos, apresentado na Eq. (3.67), para estimar a resistência ao
cisalhamento.
NAIK & KUMAR (1999) também apresentaram uma breve revisão e apontaram
os modelos de Lo & Chim e de Budiansky como estimativas mais recomendadas.
ADAMS (2002) e JOYCE et al. (2002) discutem alguns dos problemas e
dificuldades relacionados a testes experimentais de compressão em laminado
unidirecionais. KOERBER & CAMANHO (2011) também reportaram que em todos os
cinco testes experimentais realizados as falhas foram nas regiões próximas as garras
superiores ou inferiores da máquina de ensaio, resultando em um valor de resistência
consideravelmente abaixo dos valores reportados para o mesmo material na literatura.
PARNES & CHISKIS (2002) separaram a modelagem em compósitos diluídos
(dilute composite), com baixas frações volumétricas de fibras, e não-diluídos (non-

77
dilute composites), com altas frações de fibras. Segundo os autores, a deformação crítica
que resulta na flambagem de compósitos diluídos é praticamente constante
(independente da fração volumétrica) e para compósitos não-diluídos o modelo de
Rosen obtém um limite de aproximação.
ABOUDI & GILAT (2006) estudaram o problema de flambagem utilizando a
analogia de propagação de ondas em sólidos, visto que ambas as modelagens chegam a
equações semelhantes. Utilizando equações de elastodinâmica, a equação de governo foi
deduzida e resolvida numericamente. Posteriormente o trabalho foi generalizado por
GILAT (2010) para incluir a modelagem de fibras anisotrópicas.
PIMENTA et al. (2009a) apresentaram um estudo numérico e experimental que
serviu de base para o posterior estudo analítico dos mesmo autores. O modelo numérico
inclui o efeito elastoplástico da matriz, a falha na interfase usando modelos de zonas
coesivas, o desalinhamento das fibras e não-linearidade geométrica. A seguinte
sequência descritiva de dano foi proposta baseada em observações experimentais:
inicialmente, a fibra e a matriz estão em regime elástico e as imperfeições de
desalinhamento induzem uma flexão nas fibras e cisalhamento na matriz; com o
aumento da carga, a matriz começa a ter regiões plásticas; por último, as fibras se
rompem por excesso de curvatura nas regiões onde inicialmente havia desalinhamento.
Baseados nessas observações, PIMENTA et al. (2009b) propuseram o uso da seguinte
equação

G m d + (π / L)2 E f I  V 2D
c
S11 = Ssm  2D f 1 f
 f (3.77)
 S + π(y / L)G
m m  Af
 s 0 2D 

onde Af = d f é a área da seção transversal da fibra, I f = d f 3 / 12 é o segundo

momento de inércia da seção transversal da fibra, ambos considerando a geometria


bidimensional de espessura unitária, y 0 e L são parâmetros que quantificam o

desalinhamento inicial das fibras, denominados de amplitude de desalinhamento e


comprimento de onda (assumindo que a imperfeição tem um formato senoidal de onde),
respectivamente. De acordo com os autores, 21µm < y 0 < 70µm e

78
1050µm < L < 2800µm . Os outros termos da Eq.(3.28) são correções sugeridas para a
estrutura tridimensional possa ser aproximada por um modelo bidimensional
equivalente e são definidos como

 
 π
tm = df − 1 (3.78)
 2 3V 
 f 

df
Vf2D = (3.79)
d f + tm

Gm
G2mD = (3.80)
1 − Vf2D

onde tm é a espessura da matriz, Vf2D é a fração volumétrica da fibra, G2mD é o módulo

de cisalhamento da matriz. Esse modelo, apesar de ser baseado em aspectos


micromecânicos observados em experimentos, está implicitamente considerando uma
alta fração volumétrica de fibras, de tal modo que o cisalhamento na matriz possa ser
considerado constante. Dessa forma, espera-se que o mesmo obtenha melhores
estimativas o quanto maior for a fração volumétrica das fibras.
GUTKIN et al. (2010a) apresentaram estudos experimentais sobre a transição
dos mecanismos de dano na região de desalinhamento das fibras. Foram usados corpos
de prova entalhados e a propagação do dano foi avaliada. Baseando-se nesses
resultados, GUTKIN et al. (2010b) realizaram um estudo numérico para estudar o efeito
do carregamento combinado de compressão longitudinal com cisalhamento
longitudinal. GUTKIN et al. (2011) propuseram um critério de falha analítico para
carregamento combinado de compressão longitudinal e cisalhamento. GUTKIN et al.
(2016) apresentaram uma extensão do modelo para casos de tensões 3D.
ANDRIANOV et al.(2012) estudaram a flambagem transversal, também
considerando compósitos diluídos e não-diluídos de forma independente. A ideia desse
estudo é obter uma equação única que seja capaz de reproduzir o fenômeno de
flambagem transversal independente da fração volumétrica dos constituintes. A

79
deformação crítica (máxima deformação em que não ocorre falha) pode ser então escrita
como

2/3
 Em   f 
1 + 2 6 E1 1
c,max
ε11 =  (Vf − Vfmax )λ  (3.81)
 Ef   Em [ − (ν m )2 ][1 − (Vf / Vfmax )]
31 
 1   

onde V fmax é a fração volumétrica máxima de fibra determinada por fatores

geométricos da microestrutura (considerando a simetria hexagonal, V fmax = π / 2 3 ) e

λ pode ser utilizado para ajustar o modelo. Os autores sugeriram λ = 1.2 .


PRABHAKAR & WAAS (2013a) investigaram o efeito do tamanho em um
modelo 2D de laminados unidirecionais e sua influência na resposta a compressão do
compósito. Mantendo a mesma fração volumétrica, os autores concluíram que é
necessário representar 48 fibras desalinhadas para descrever um RVE, principalmente
para o regime pós-flambagem. Para estudar o efeito da compressão em laminados
multidirecionais, PRABHAKAR & WAAS (2013b) sugeriram manter a representação
das fibras e da matriz nas lâminas que têm a orientação paralela ao carregamento e
homogeneizar as demais utilizando o modelo de cilindros concêntricos, visando
otimizar o desempenho computacional.
BARULICH et al. (2016) foram os primeiros a modelarem efeitos de defeitos
em geometrias tridimensionais. Para geometria 2D, o desalinhamento é normalmente
considerado como tendo forma senoidal. Por outro lado, para geometria 3D, foi
considerada uma forma helicoidal. Microestruturas com simetrias quadrada e hexagonal
foram levadas em consideração na análise, assim como não-linearidades físicas e
geométricas. Os autores indicaram que para pequenas imperfeições, a fração
volumétrica da fibra e a plasticidade na matriz têm grande importância. No entanto, para
grandes imperfeições, alterar a fração volumétrica não fibra não resulta em mudanças
significativas na resposta do material. Uma abordagem para quantificar o defeito pode
ser encontrada em WILHELMSSON et al. (2019).

80
MATSUO & KAGEYAMA (2017) estudaram o efeito da temperatura na falha
por compressão de laminados com fibra de carbono e matriz termoplástica, indicando
que a resistência à compressão longitudinal diminui com a temperatura.
Apesar de todos esses estudos apresentados, nenhum modelo discute a influência
da resistência à compressão pela falha por ruptura ou esmagamento da fibra
considerando o desalinhamento inicial. Uma vez que o desalinhamento inicial da fibra
resulta na criação de um momento fletor, espera-se que a o valor limite de carga
diminua de forma não desprezível. O modelo apresentado, a seguir é desenvolvido com
esse propósito.

Figura 3.15: Representação do diagrama de corpo livre da fibra para o modelo proposto.

Apesar de alguns autores utilizarem uma forma senoidal para representar o


desalinhamento da fibra (BARULICH et al., 2016), essa escolha tem base empírica e
não pode ser justificada com argumentos físicos. Por facilidade matemática, é assumido
que a configuração inicial da fibra pode ser presentada por uma curva polinomial de
terceira ordem da seguinte forma (ver Figura 3.15)

x2 = ax13 + bx12 + cx1 + d (3.82)

Com isso, o ângulo de desalinhamento da fibra é

81
dx2
θ= = 3ax12 + 2bx1 + c (3.83)
dx1

Assumindo como condição de contorno da geometria x2 (0) = 0 , θ (0) = 0 ,

θ ( L) = 0 e θ max = φ , pode-se reescrever a equação da posição inicial da fibra e o


ângulo de desalinhamento em cada ponto como

φ 4 3 
x2 = − x1 + 2 x12  (3.84)
L  3L 
4φ  1 2 
θ=  − x1 + x1  (3.85)
L  L 

Para θ < 5° , que é normalmente o caso para laminados unidirecionais, sin θ ≅ θ


e cos θ ≅ 1 . Desprezando o efeito do cortante, os esforços internos podem ser escritos
como

φ 4 3 
M = M 0 − Px2 = M 0 − P − x1 + 2 x12  (3.86)
L  3L 
N = − P cos θ ≅ − P (3.87)

A energia de deformação desse pedaço da fibra pode então ser calculada como

L
 M2 N2   M2 N2 
U= 
 +
 2 E1f I f 2 E1f A f

 dl ≅


 +
 2 E1f I 2 E1f A f
0
 dx1


 2 52 2 3 2 2  (3.88)
 M0 L + P L φ − M 0 PL2φ  2
315 3
= + P L
2 E1f I f 2 E1f A f

Pelo teorema de Castigliano, ∂U / ∂M 0 = 0 (CRANDALL, 1978). Com isso, o

momento M 0 é

82
1
M 0 = PLφ (3.89)
3

Pode-se então reescrever a energia de deformação como

17 P2 L3φ 2 P2 L
U= + (3.90)
315 2 E1f I f 2 E1f Af

Pelo teorema de Castigliano, o deslocamento no ponto de aplicação da força P


pode ser calculado fazendo a derivada em relação a própria força, δ = ∂U / ∂P
(CRANDALL, 1978). Fazendo a derivada, obtém-se

 17 L2φ 2 1  PL
δ = +  (3.91)
 315 I f A f  E1f

Como a fibra está sendo modelada como uma viga imperfeita com combinação
dos carregamentos de momento fletor e força axial, para haver falha da fibra a seguinte
condição deve ser satisfeita

N M max P 1 P Lφ d f
σ (min)
f = − y=− c − c = − Scf (3.92)
Af If Af 3 I f 2

Ou seja
−1
 8 Lφ  π d f 2 f
Pc =  1 + (3.93)
 3 d f 
Sc
  4

Então
−1
  Lφ 
2   Lφ   L f
272 8
δc =    + 1 1 +   S (3.94)
 315  d f    3  d f   E1f c
   

83
Por outro lado, para haver falha, a tensão macroscópica na lamina é
c
σ11 = E1ε11 = E1δ / L = S11 . Fazendo δ = δ c ,

c
  Em   1 + (272 / 315)( Lφ / d f ) 2  f
S11 = V f +  f  (1 − V f )    Sc (3.95)
E 
  1    1 + (8 / 3)( Lφ / d f ) 

O modelo proposto será abreviado como ROMmis (Rule of Mixture with


misaligned fiber).
Para avaliar as estimativas desse modelo, 61 resultados experimentais das 14
referências indicadas na Tabela 3.3 são considerados. Antes de apresentar uma
comparação entre os resultados, os modelos que têm parâmetros calibrados são
avaliados individualmente para minimizar o erro médio.

Tabela 3.3: Referências com dados experimentais para resistência à tração longitudinal.
Referências Tipos de fibras
Barbero et al. (2005) carbono
Falcó et al. (2018) carbono
Hsiao & Daniel (1996) carbono
Jumahat et al. (2011) carbono
Kaddour & Hinton (2012) carbono e vidro
Kaddour et al. (2013) carbono e vidro
Koerber & Camanho (2011) carbono
Lee & Soutis (2007) carbono
Lo & Chim (1992) carbono
Perogamvros & Lampeas (2015) carbono
Reddy et al. (2017) vidro
Soden et al. (1998) carbono e vidro
Thomson et al. (2019) carbono
Wang et al. (2004) carbono

84
Figura 3.16: Calibração dos modelos analíticos da resistência à compressão
longitudinal.

Como mostrado na Figura 3.16, os parâmetros que resultam no menor erro médio de
cada modelo foram: φ = 0.5° para o modelo de Barbero, φ / γ Y = 4.2 para o modelo de

Budiansky, Vv = 0 para o modelo de Chamis, χ = 6.5 para o modelo de Lo & Chim,

L = 2925µm e y 0 = 24µm para o modelo de Pimenta e Lφ / d f = 0.09 e

85
Lφ / d f = 2.39 para o modelo proposto. Note que tanto Lφ / d f = 0.09 quanto

Lφ / d f = 2.39 resultam em

c
  Em  
S11 ≅ 0.8 V f +  f  (1 − V f )  Scf (3.96)
  E1  

Figura 3.17: Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
compressão longitudinal.

Figura 3.18: Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
compressão longitudinal.

86
Utilizando esses valores que resultam no menor erro médio, uma comparação
entre os resultados de todos os modelos e os dados experimentais é apresentada nas
Figuras 3.17-19. As seguintes conclusões podem ser destacadas:
i) o modelo proposto foi o que resultou em um menor erro médio (15%),
representando uma melhora de 11% em relação à estimativa baseada na ROM que
considera a fibra perfeitamente alinhada;
ii) os modelos de Barbero, Budiansky, Lo & Chim e Pimenta obtiveram erros
médios próximos a 20%;
iii) apesar de não ser possível afirmar qual o mecanismo de falha predominante
pela proximidade dos erros das estimativas, destaca-se a importância da imperfeição da
fibra na diminuição da resistência, até mesmo considerando a falha por ruptura das
fibras como no modelo proposto;

Figura 3.19: Razão entre as estimativas dos modelos analíticos para resistência à
compressão longitudinal e os valores experimentais.

87
iv) baseando-se nos modelos de Barbero, Budiansky e Pimenta, pode-se notar
uma tendência maior de flambagem ou falha pelo escoamento da matriz, que são
mecanismos que tendem a ocorrem quase simultaneamente, para fibras de carbono do
que para fibras de vidro, o que é justificável pela diferença de rigidez;
v) o modelo de Lo & Chim obteve uma das melhores estimativas utilizando
apenas propriedades elásticas, sendo então bastante útil por precisar de menos dados de
entrada.

3.3. Modelos de Resistências da Lâmina Submetida à Carregamentos Transversais

Nesta seção serão discutidos modelos micromecânicos para as resistências:


t c s
tração transversal, S 22 , compressão transversal, S 22 , e cisalhamento transversal, S 23 .
De maneira alternativamente ao que foi apresentado anteriormente, as subseções
a seguir são separadas de acordo com os modelos, ao invés de serem separadas de
acordo as resistências. Dessa forma a apresentação se torna mais contínua, uma vez que
serão apresentados três modelos existentes na literatura, onde cada modelo tem a
abordagem similar para modelar a falha à tração e à compressão transversal.
Posteriormente, duas modelagens alternativas são propostas: uma modificação do
modelo de Chamis e uma híbrida baseada na teoria da elasticidade com ajustes
numéricos baseados em resultados de simulações de elementos finitos.

3.3.1. Modelo de Fator de Concentração de Tensão

A modelagem das resistências que são influenciadas principalmente pela falha


da matriz se torna ainda mais complexa do que a resistência à compressão longitudinal.
Isso se deve ao fato de que as fibras podem ser vistas como concentradores de tensões
do ponto de vista micromecânico. A Figura 3.20 mostra a distribuição de franjas
fotoelásticas que indicam as concentrações de tensões em uma lamina submetida a um
carregamento transversal para uma microestrutura com periodicidade retangular e
ilustra bem esse efeito.

88
Dos livros-textos clássicos de compósitos, DANIEL & ISHAI (2006),
AGARWAL et al.(2006) e GIBSON (1994) sugerem a utilização da seguinte estimativa
para concentração de tensão micromecânica

1 − Vf [1 − (E m / E 2f )]
kσ = (3.97)
1 − (4Vf / π)0.5[1 − (E m / E 2f )]

Figura 3.20: Imagem de uma medição fotoelástica que indica a concentração de tensão
gerada pelo efeito das fibras na matriz (DANIEL & ISHAI, 2006).

Com isso, as resistências à tração e à compressão transversal podem ser


estimadas utilizando como base a ROM e incluindo o fator de concentração de tensão.
Esse modelo é denominado ROM-Kt no presente estudo e é estimado pelas seguintes
equações

t Stm
S 22 = (3.98)

c Scm
S 22 = (3.99)

89
3.3.2. Modelo de Chamis

Como mencionado anteriormente, a seguir é apresentada a dedução da


estimativa de resistência que considera a fibra quadrada. A mesma não foi encontrada
pelo autor nos artigos do próprio Chamis, mas acredita-se que essa seja a maneira
correta de interpretar o modelo do Chamis.

Figura 3.21: RVE e suas subdivisões considerando uma fibra quadrada.

Considerando que as subdivisões 1, 2 (2a+2b+2c) e 3 se comportam como


elementos em paralelo e 2a, 2b e 2c como elmentos em série, pode-se escrever as
seguintes equações de compatibilidade cinemática

(1) (2) (3)


ε 22 = ε 22 = ε 22 = ε 22 (3.100)

(2) (2 a )  a − b  (2b ) 2 (2c )  a − b 


ε 22 ab = ε 22 b  + ε 22 b + ε 22 b   (3.101)
 2   2 

Como V f = (a / b)2 , tem-se

(2) 
(2 a ) b b
(2b ) (2 a ) (2b )
ε 22 = ε 22 1 −  + ε 22   = ε 22 (1 − V f ) + ε 22 V f (3.102)
 a  
a

As condições de equilíbrio podem ser escritas como

 a −b  (3)  a − b 
σ 22 a 2 = σ 22
(1)
a (2)
 + σ 22 ab + σ 22 a   (3.103)
 2   2 

90
(2) (2 a ) (2b ) (2 c )
σ 22 = σ 22 = σ 22 = σ 22 (3.104)

Ou seja,

(1) b (2) (1)b (2)


σ 22 = σ 22  1 −  + σ 22   = σ 22 (1 − V f ) + σ 22 V f (3.105)
 a  a  

(1) (3) (1) (3)


Pela simetria do problema, σ 22 = σ 22 e ε 22 = ε 22 . Logo,

(1) (2) (2 a ) (2b )


ε 22 = ε 22 = ε 22 (1 − V f ) + ε 22 Vf (3.106)

Utilizando a relação constitutiva linear-elástica em cada sub-elemento,

(1) (2) (2)


σ 22 σ 22 σ 22
= (1 − V f ) + Vf (3.107)
Em Em E2f

Tem-se então que a relação entre as tensões em cada sub-elemento pode ser
escrita como

(1)
  Em 
(2)

σ 22 =  (1 − V f ) +  f  V f  σ 22 (3.108)
  E2  

Substituindo na Eq.(3.107)

   E m  
(2)
σ 22 = 1 − 1 −  f 
  ( V f − V )
f  σ 22 (3.109)
   E2   

(2)
Para o carregamento trativo, no momento da falha σ 22 = Stm e σ 22 = S 22
t
. Da
(2)
mesma forma, para a falha por compressão, σ 22 = − Scm e σ 22 = − S22
c
. Logo

91
   E m   
t
S 22 = 1 − 1 −  f   ( V f − V f )  Stm (3.110)
 
   E2   

   E m   
c
S 22 = 1 − 1 −  f   ( V f − V f )  Scm (3.111)
 
   E2   

Para considerar o efeito de vazios, CHAMIS et al. (2013) propõem utilizar

  E m   4Vv  m
t
S 22 = 1 −

(  )
Vf − Vf  1 − f   1 −
E  
S
π (1 − Vf )  t
(3.112)
  2   
  E m   4Vv  m
c
S 22 = 1 −

(  )
Vf − Vf  1 − f   1 −
E  
S
π (1 − Vf )  c
(3.113)
  2   

Para resistência ao cisalhamento transversal a seguinte equação é proposta

  Gm  
1 − Vf 1 − 
  Gf 
s
=  23 
 Ssm
S 23 (3.114)
  G  
m
 1 − Vf 1 − f  
  G  
 23  

Vale ressaltar, mais uma vez, que originalmente Chamis propõe que as
propriedades dos constituintes sejam obtidas através de forma inversa a partir dos
resultados experimentais da lâmina. MISHRA & NAIK (2009) também propuseram a
utilização de modelos de micromecânica inversos para medir as resistências das fibras
devido à dificuldade em obtê-las experimentalmente de forma direta.

3.3.3. Modelo Bridging

92
Para as resistências transversais, o modelo assume a hipótese de deformação
plana e considera o efeito da concentração de tensão ao redor da fibra, do ponto de vista
da micromecânica. Usando o critério de falha de Coulomb-Mohr para definir a falha na
matriz, as resistências são estimadas como (HUANG & XIN, 2017)

 E 2f  Sm
t
S 22 
= Vf + (1 − Vf )  t (3.115)
 (β E 2 + (1 − β )E )
f m t
 k22
 E2f  Sm
c
S 22 = Vf + (1 − Vf )  c (3.116)
 (β E2 + (1 − β )E )
f m c
 k22
−1
 E2f   kc kt 
s
S 23 = Vf + (1 −Vf )   22 + 22  (3.117)
 (β E2 + (1 − β )E )
f m
  Sc
m
Stm 

onde β = 0.4 pode ser assumido (HUANG & LIU, 2014). Adicionalmente, baseado na
distribuição de tensão na microestrutura, a concentração de tensão na fibra é dada por

Vf E2f + (1 − Vf )[β E2f + (1 − β )E m ]  a


k22 (ϕ) = 1 + Vf cos(2ϕ)
β E + (1 − β )E
f m  2
2

+
b
[Vf 2 cos(4ϕ) + 4(1 − 2 cos(2ϕ))Vf cos2 (ϕ)]
(3.118)
2(1 − Vf )
+ Vf (2 cos(2ϕ) + cos(4ϕ)] }

O modelo pode ser completamente definido com os seguintes parâmetros

t
k22 = k22 (0) (3.119)
c
k22 = k22 (φ) (3.120)

 Sm − Sm 
+ asin  c
π 1
φ= t
 (3.121)
4 2  Scm + Stm 

[1 − ν m − 2(ν m )2 ]E2f − [1 − ν23


f
− 2(ν23
f 2
) ]E m
a = (3.122)
(1 + ν m )E2f + [1 − ν23
f
− 2(ν23
f 2
) ]E m

93
(1 + ν23
f
)E m − (1 + ν m )E2f
b= (3.123)
[ν m + 4(ν m )2 − 3]E2f − (1 + ν23
f
)E m

3.3.4. Modelo de Chamis Modificado

Avaliando dados experimentais, percebe-se que a resistência à tração transversal


da lâmina é menor do que a resistência à tração da matriz. De forma oposta, a
resistência à compressão transversal da lâmina é maior do que a resistência à
compressão da matriz. Baseando-se nesse observação, a seguinte modificação é
proposta no modelo de Chamis para resistência à tração e à compressão transversal

n
t
   E m    t m
S 22 = 1 − 1 −  f   ( V f − V f )  St (3.124)
   E2   
n
c
   E m    c m
S 22 = 1 − 1 −  f   ( V f − V f )  Sc (3.125)
   E2   

onde nt e nc são expoentes que serão calibrados posteriormente na comparação com


dados experimentais.

Figuras 3.22: Influência de nt de acordo com V f para CFRP e GFRP.

94
Figuras 3.23: Influência de nc de acordo com V f para CFRP e GFRP.

As Figuras 3.22-23 mostram exemplos da influência dos expoentes nt e nc de

acordo com V f , para valores típicos de fibras de carbono e de vidro e uma matriz epóxi.

Com base em dados experimentais, assume-se nt ≥ 0 e nc ≤ 0 .

3.3.5. Modelagem Proposta

Para modelar o início do dano para o carregamento transversal é necessário obter


a distribuição de tensões na interface, seja para modelar a falha da matriz ou da própria
interface. Para isso, utiliza-se a solução proposta por HONEIN & HERRMANN (1990),
que considera o problema de uma inclusão elástica em um meio infinito assumindo o
estado de deformação plana. Considerando as coordenadas cilíndricas apresentadas na
Figura 3.24, as tensões não-nulas na matriz na região da interface com a fibra para um
carregamento σ 22 aplicado em uma região distante o suficiente da fibra para se
considerar infinito são calculadas por

σ 22
σ rrm (σ 22 ,θ ) = [(1 − γ ) + (1 − β ) cos(2θ )] (3.126)
2
m σ 22
σ θθ (σ 22 , θ ) = [(1 + γ ) − (1 + 3β ) cos(2θ )] (3.127)
2

95
σ 22
σ rmθ (σ 22 ,θ ) = − [(1 − β ) sin(2θ )] (3.128)
2
σ zzm (σ 22 ,θ ) = ν m [σ rrm (σ 22 ,θ ) + σ θθ
m
(σ 22 , θ )] (3.129)

onde

κ f = 3 − 4ν 23f (3.130)

κ m = 3 − 4ν m (3.131)

G mκ f − G23f κ m
α= (3.132)
G23f + G mκ f

G m − G23f
β= (3.133)
G m + G23f κ m

α −β
γ= (3.134)
(1 − β ) − β (1 − α )

Figura 3.24: Sistema de coordenadas utilizado para descrever as tensões na matriz na


região da interface com a fibra.

Apesar da solução ser deduzida para materiais isotrópicos, a mesma pode ser
utilizada também para materiais transversalmente isotrópicas, desde de que o plano de
isotropia seja o plano perpendicular à inclusão (MANTIC, 2009). A Figura 3.25 mostra
a distribuição das tensões para valores típicos de fibras de carbono e de vidro e uma
matriz epóxi.

96
Figura 3.25: Distribuição de tensões normalizada na matriz na região da interface com a
fibra para laminados de carbono (CFRP) e de vidro (GFRP).

De acordo com ELNEKHAILY & TALREJA (2018), o dano por um


carregamento transversal trativo se inicia pela cavitação em uma região próxima à fibra
com θ = 0° e a grandeza que define o início dessa cavitação é a densidade de energia de
dilatação na matriz. A densidade de energia de dilatação é definida por

 1 − 2ν m  m 2
uv = 
6 E m  (σ ii ) (3.135)
 

Para θ = 0° , que é o ponto o usualmente ocorre a cavitação, as componentes das


tensões apresentadas pelas Eq.(3.126-129) são

σ 22
σ rrm (σ 22 , 0) = [(1 − γ ) + (1 − β )] (3.136)
2
m σ 22
σ θθ (σ 22 , 0) = [(1 + γ ) − (1 + 3β )] (3.137)
2
σ rmθ (σ 22 , 0) = 0 (3.138)

σ zzm (σ 22 , 0) = ν m [σ rrm (σ 22 , 0) + σ θθ
m
(σ 22 , 0)] = ν mσ 22 (1 − 2β ) (3.139)

Substituindo na densidade de energia de dilatação

97
 1 − 2ν m 
uvmax (V f → 0) =  m 
m
 [(1 + ν )(σ 22 )(1 − 2 β )]
2
(3.140)
 6 E 

Note que a Eq.(3.140) é restrita ao caso ideal de uma fibra em um meio infinito
( V f → 0 ). Assume-se que a Eq.(3.140) pode ser generalizada para qualquer fração

volumétrica de fibra da seguinte forma

 1 − 2ν m 
uvmax (V f ) = uvmax (V f → 0)[ gt (V f )]2 =  m 
m
 [(1 + ν )(σ 22 )(1 − 2β ) gt (V f )]
2
(3.141)
 6 E 

onde gt (V f ) é uma função que precisa ser obtida.

Para calibração da função gt (V f ) são realizadas simulações micromecânicas de

elementos finitos considerando a simetria quadrada da distribuição de fibras. Porém,


antes de obter a distribuição de tensão na matriz na interface com a fibra, é necessário
obter as propriedades efetivas do compósito.

Figura 3.26: RVE com as indicações das faces em que são impostos os deslocamentos
para a simulação de EF.

Para calcular as propriedades efetivas elásticas, adota-se o procedimento


sugerido por BARBERO (2008) e TITA et al. (2015). Uma ilustração do RVE é
apresentada na Figura 3.26. As letras maiúsculas são utilizadas para definir as seis faces,
sendo o índice inferior utilizado para coincidir com o sistema de coordenadas e o índice

98
superior para indicar se estão orientadas no sentido positivo ou negativo. O
comprimento de cada aresta do cubo na direção xi é Li . Para definir a condição de
simetria, o único requisito necessário é que a variação entre o deslocamento de uma face
positiva e uma face negativa seja constante, que matematicamente pode ser descrito
como

U i( J + ) − U i( J − ) = λi( J ) (3.142)

onde λi( J ) é a constante que indica a diferença entre os deslocamento das faces J+ e J-

na direção i, U i( J + ) e U i( J − ) , respectivamente.

Tabela 3.4: Procedimento para cálculo das propriedades elásticas efetivas.

deslocamentos
U1(1+ ) = δ11 U 2(2 + ) = δ 22 U1(2 + ) = δ 21
não-nulos

U1(1− ) , U1(1+ ) , U1(1− ) , U 2(1+ ) , U 2(1− ) , U 3(1+ ) , U 3(1− ) ,


deslocamentos
U 2(2 + ) , U 2(2 − ) , U 2(2 − ) , U1(2 − ) , U 2(2 + ) , U 2(2 − ) , U 3(2 + ) , U 3(2 − ) ,
nulos
U 3(3+ ) , U 3(3 −) U 3(3+ ) , U 3(3− ) U 2(3+ ) , U 2(3− ) , U 3(3+ ) , U 3(3− )
deformações δ11 δ 22 1 δ 21
ε11 = ε 22 = ε12 =
não-nulas L1 L2 2 L2
F11 F22
σ 11 = σ 22 =
tensões L2 L3 L1L3 F21
σ 12 =
não-nulas F22 F33 L1 L3
σ 22 = σ 33 =
L1L3 L1L2

σ11 σ 22
propriedades c1111 = c2222 =
ε11 ε 22 σ 12
efetivas c1212 =
σ 22 σ 33 2 ε12
c1122 = c2233 =
ε11 ε 22

99
Dessa forma, a obtenção das propriedades efetivas é dividida em três etapas. Em
cada etapa, um deslocamento é imposto e com isso pode-se calcular as deformações
efetivas do RVE. As tensões efetivas são calculas utilizando a reação obtida como saída
da simulação de EF dividida pela área. A Tabela 3.4 mostra o procedimento realizado
em cada etapa.
Após um estudo de convergência da malha utilizando o software ANSYS, o
elemento de ordem superior SOLID186 foi escolhido, 2 elementos são definidos ao
longo da direção longitudinal e dependendo do valor V f são definidas entre 80 e 120

divisões tangencialmente, 7 a 10 divisões radiais na fibra a partir de uma região interna


quadrada criada para melhorar a geração da malha e 5 a 12 divisões radiais na matriz. A
Figura 3.27 mostra o exemplo de uma malha para V f = 0.6 . O contato entre fibra e

matriz é definido como bonded e a formulação MPC (Multi Point Constraints) é


utilizada. Esse tipo de contato e essa formulação só podem ser utilizados porque a fibra
e a matriz são consideradas perfeitamente unidas, sem haver separação ou deslizamento
entre os elementos que estão inicialmente em contato. A principal vantagem da
formulação MPC ao invés das tradicionais formulações, que utilizam multiplicadores de
Lagrange ou o método da penalidade, por exemplo (BATHE, 1995), é que uma restrição
cinemática é imposta aos nós de elementos em contato fazendo com que eles sempre
coincidam no espaço em qualquer tempo da simulação, diminuindo a penetração e o
custo computacional (LEE, 2014).

Figura 3.27: Exemplo de malha para o RVE com V f = 0.6 .

100
A variação do valor máximo de σ rrm + σ θθ
m
+ σ zzm normalizado por σ 22 é

apresentada na Figura 3.28. A função de ajuste gt (V f ) proposta é

gt (V f ) = 1 − 5.8γ V f 3 (3.143)

OH et al. (2006) propuseram utilizar a série de Fourier para obter a distribuição


de deformação ao redor da fibra, visto a periodicidade da mesma. No entanto, os autores
não chegaram a obter uma expressão genérica que possa ser utilizada para qualquer
compósito.

Figura 3.28: Ajuste numérico da soma das tensões normais na matriz de acordo com a
fração volumétrica de fibras.

No momento do início do dano, que é equivalente à cavitação da matriz, uv = uvc


(ELNEKHAILY & TALREJA, 2018). Assumindo que a propagação do dano é um
mecanismo quase imediato com um pequeno incremento de tensão, a tensão aplicada
que resulta em uv = uvc é σ 22 = S 22
t
. Ou seja, no momento da falha

 1 − 2ν m 
uvmax =  m   [(1 + ν m )( S 22
t
)(1 − 2 β )(1 − 5.8γ V f 3 )]2 = uvc (3.144)
 6E 

101
Isolando a resistência à tração transversal,

t 1  6Em  c
S 22 =  m 
 uv (3.145)
(1 +ν )(1 − 2β )(1 − 5.8γ V f 3 )
m
 1 − 2ν 

A dificuldade na aplicação na Eq.(3.145) é a obtenção do valor da densidade de


energia de dilatação crítica, que deve ser medida em um ensaio triaxial. Para contornar
esse problema, duas possíveis abordagens diferentes são adotadas a priori: baseando-se
em ELNEKHAILY & TALREJA (2019), que citam que a densidade energia de
dilatação crítica usualmente varia entre 0.13MPa e 0.2MPa para epóxi, deseja-se
calibrar um valor médio de uvc de acordo com os dados experimentais; alternativamente,

assume-se que uvc ∝ ( Stm )2 e deseja-se calibrar a constante de proporcionalidade por um


ajuste com os resultados experimentais.
A primeira abordagem implica na utilização direta da Eq.(3.145). A segunda,
que supõe uvc ∝ ( Stm )2 , resulta na seguinte equação

 1 − 2ν m  2  1 − 2ν m 
uvc =  m   (σ 11 + σ 22 + σ 33 ) =  m   (ξ Stm ) 2 (3.146)
 6E   6E 

onde ξ é a constante de proporcionalidade entre uvc e (Stm )2 . Dessa forma

t ξ
S 22 = m 3
Stm (3.147)
(1 + ν )(1 − 2β )(1 − 5.8γ V f )

Note que ξ = 1 é como se a medida de densidade de energia de dilatação crítica

fosse feita em um ensaio de tração uniaxial. A Figura 3.29 mostra a variação de uvc de

acordo com ξ para valores típicos de uma matriz epóxi; para 1 < ξ < 2 , uvc está na faixa
de valor descrita por ELNEKHAILY & TALREJA (2019).

102
Figura 3.29: Variação de uvc de acordo com ξ para valores típicos de uma matriz epóxi.

A calibração dos modelos de resistência à tração transversal é apresentada na


próxima seção. Antes disso, são apresentados a seguir os modelos de resistência à
compressão e ao cisalhamento transversal.
Para a compressão transversal são adotadas duas hipóteses: ou a falha se inicia
na matriz ou na interface. Note que para a tração transversal o desenvolvimento
proposto é baseado na afirmação de ELNEKHAILY & TALREJA (2018) de que a
cavitação é o mecanismo inicial de dano e precede falha da interface; i.e. o mecanismo
de cavitação é a força motriz da nucleação da trinca que posteriormente se propaga e
resulta na falha da interface.

Figura 3.30: Variação da função de falha de Drucker-Prager normalizada ao longo da


interface.

103
De maneira similar ao utilizado para o carregamento transversal trativo, utiliza-
se a solução da distribuição proposta por HONEIN & HERRMANN (1990) apresentada
nas Eq.(3.126-129).
Assumindo que a falha na matriz pode ser modelada pelo critério de Drucker-
Prager, como discutido na Seção 3.1.2, a variação da função de falha ao longo da
interface normalizada por σ 22 / k é apresentada na Figura 3.30 para diferentes valores

de µ .

Para µ → 0 , Scm ≅ Stm e valor máximo da função de falha normalizada ocorre

em θc → 45° . Com essa condição, a única tensão não-nula na interface é a tensão de

cisalhamento σ rmθ e a função de falha pode ser escrita como

c
1 µ I1  S22 2
f mDP =  J 2 +  = (1 − β ) (3.148)
k 6 k 4

Para o caso genérico, com µ ≠ 0 , utiliza-se a seguinte aproximação

c
S 22 2
f mDP = (1 − β ) g c ( µ , β ) (3.149)
k 4

onde g c ( µ , β ) é uma função a ser obtida calibrando com as simulações de EF.


Assumindo que pode ser feita uma separação de variáveis de tal forma que
gc ( µ , β ) = g c1 ( µ ) g c 2 (V f ) , pode-se reescrever a Eq.(3.149) como

c
S 22 2
f mDP = (1 − β ) g c1 ( µ ) g c 2 (V f ) (3.150)
k 4

104
Figura 3.31: Calibrações numéricas dos ajustes da função de falha de Drucker-Prager.

Seguindo um procedimento similar ao apresentado anteriormente para o


carregamento trativo, a Figura 3.31 mostra as calibrações de g c1 ( µ ) e gc 2 (V f ) . As

mesmas são definidas por

gc1 ( µ ) = −0.37 βµ 2 − 0.56 µ − 0.51( β − 1) (3.151)

gc 2 (V f ) = 0.85( β − 1)V f + 1.32 (3.152)

Fazendo f mDP = 1 na Eq. (3.150), tem-se

c 2 2k
S 22 = (3.153)
(1 − β ) g c1 ( µ ) g c 2 (V f )

Alternativamente, assumindo que a falha por occore ocorre na separação entre a


fibra e matriz, ou seja, propriamente na interface, utiliza-se a função de falha
apresentada na Eq. (3.11). Supondo S ni = S si = S i e que para V f → 0 pode-se utilizar as

Eq.(3.126-129) com trr = σ rrm , trθ = σ rmθ e trz = 0 , o valor máximo da função de falha da
interface pode ser calculado como

105
2 2
max  σ  1− β 
fi (V f → 0) =  22i    (3.154)
 S   2 

De forma similar ao que foi feito anteriormente, assume-se que pode-se


multiplicar a equação obtida para o caso ideal de V f → 0 por uma função gic (V f ) para

obter a distribuição para compósitos reais. Ou seja,

2 2
max max  σ   1− β 
fi (V f ) = f i (V f → 0) g ic (V f ) =  22i    gic (V f ) (3.155)
 S   2 

Calibrando utilizando os resultados da simulação de elementos finitos, de forma


similar a que foi feito para o carregamento trativo, a Figura 3.32 mostra a função de
ajuste, que pode ser expressa por

gic (V f ) = −7.71(0.14 + β )V f3 + 6.63(0.01 + β )V f2


(3.156)
+ 0.16(3 + β )V f − 0.76(−0.24 + β )

Figura 3.32: Calibração da função de ajuste gic (V f ) para a falha na interface

considerando o carregamento compressivo transversal.

c
No momento da falha, σ 22 = − S22 e fimax (V f ) = 1. Ou seja,

106
2
max  S c   1 − β 2
fi (V f ) =  22i    gic (V f ) = 1 (3.157)
 S   2 

Isolando a resistência à compressão transversal, tem-se

c Si  2 
S 22 =   (3.158)
gic (V f )  1 − β 

Para a resistência ao cisalhamento transversal, FENNER & DANIEL (2019)


sugerem estimar igual à resistência à tração transversal. Ou seja,

s t
S 23 = S22 (3.159)

Por outro lado, DÁVILA et al. (2005) propuseram estimar a resistência a


resistência ao cisalhamento transversal utilizando a resistência a compressão transversal
da seguinte forma

s c  cos θ 0 
S 23 = S22 cos θ 0  sin θ 0 +  (3.160)
 tan θ0 

onde θ0 ≅ 53° é usualmente o valor do ângulo de fratura. Note que θ0 ≅ 53° é


s c
equivalente a S 23 ≅ 0.37 S22 .
Baseando-se em FENNER & DANIEL (2019) e DÁVILA et al. (2005),
propõem-se avaliar possíveis equações

s t
S 23 = α t S22 (3.161)
s c
S 23 = α c S22 (3.162)

onde αt e α c são constantes a serem calibradas.


Alternativamente, de forma simplificada, sugere-se a seguinte estimativa

107
s
S 23 = α s S sm (3.163)

onde α s também é um parâmetro a ser calibrado.


Dessa forma, propõem-se avaliar as Eq.(3.161-163) como estimativas da
resistência ao cisalhamento transversal.

3.3.6. Resultados e Discussões Sobre as Resistências Transversais

A presente seção tem dois objetivos: primeiro é apresentadar a calibração dos


modelos analíticos e posteriormente a comparação das estimativas dos mesmos com os
resultados experimentais. Para isso, são utilizados 58 dados experimentais, sendo 31 de
t c s
S 22 , 18 de S 22 e 9 de S 23 . Todas as referências de onde dados experimentais foram
retirados estão apresentadas nas Tabelas 3.5-7.

Tabela 3.5: Referências com dados experimentais para resistência à tração transversal.
Referências Tipos de Fibras
Aboudi (1988) carbono
Falcó et al. (2018) carbono
Gopalakrishnan et al. (2016) vidro
Hsiao & Daniel (1996) carbono
Kaddour & Hinton (2012) carbono e vidro
Kaddour et al. (2003) vidro
Kaddour et al. (2013) carbono e vidro
Namdar & Darendeliler (2017) carbono
Soden et al. (1998) carbono e vidro
Perogamvros & Lampeas (2015) carbono
Reddy et al. (2017) vidro

Para a resistência à tração transversal, a calibração dos modelos é apresentada na


Figura 3.33. O valor de fração volumétrica de vazios que resulta no menor erro médio
pelo modelo de Chamis é 0.09. Destaca-se que esse valor é bastante elevado e não

108
representa a fração volumétrica de vazios em compósitos reais. Para o modelo de
Chamis modificado, que é um ajuste semi-empírico proposto para alterar a estimativa
do modelo de Chamis com Vv = 0 , com a potência nt = 5 o erro médio diminui de
90.1% para 23.8%. Destaca-se ainda que as estimativas utilizando a densidade de
energia de dilatação crítica são menos sensíveis ao parâmetros calibrados do que o
modelos de Chamis.

Tabela 3.6: Referências com dados experimentais para resistência à compressão


transversal.
Referências Tipos de Fibras
Falcó et al. (2018) carbono
Kaddour & Hinton (2012) carbono e vidro
Kaddour et al. (2013) carbono e vidro
Lee & Soutis (2007) carbono
Namdar & Darendeliler (2017) carbono
Perogamvros & Lampeas (2015) carbono
Soden et al. (1998) carbono e vidro

Tabela 3.7: Referências com dados experimentais para resistência ao cisalhamento


transversal.
Referências Tipos de Fibras
Kaddour & Hinton (2012) carbono e vidro
Kaddour et al. (2013) carbono e vidro

109
Figura 3.33: Calibração dos modelos analíticos para estimar a resistência à tração
transversal.

Figura 3.34: Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para resistência à tração
transversal.

110
Figura 3.35: Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
tração transversal.

As Figuras 3.34-35 mostram os erros médios e as faixas de erros dos modelos


analíticos. Baseando-se nesses resultados, pode-se concluir:
i) os modelos Bridging e Chamis resultam em um erro médio maior do que o
modelo mais simples que estima o valor da concentração de tensão máxima;
ii) a modificação proposta do modelo de Chamis foi o modelo que obteve o
menor erro médio (23.8%) e a maior porcentagem das estimativas com erro menor que
30% (74.2%);
iii) entre as estimativas baseadas na densidade de energia de dilatação crítica, a
abordagem que utiliza a hipótese de proporcionalidade com a resistência à tração da
matriz ( uvc = ξ Stm ) e a abordagem que utiliza um valor médio de uvc obtiveram um erro
médio quase igual, 28.1% e 27.4%, respectivamente;
iv) comparando os modelos que utilizam a densidade de energia de dilatação
crítica pelas faixas de erros, conclui-se que assumindo a constante de proporcionalidade
com a resistência da matriz 93.5% dos testes têm erro menor que 50%, enquanto para
uvc = 0.18MPa 67.7% dos testes têm erro menor que 30%;

v) como o modelo modificado de Chamis é bastante sensível a potência nt ,


recomenda-se utilizar os modelos da densidade de energia de dilatação crítica, sendo

111
possível assumir uvc = 0.18MPa na falta de dados experimentais da resistência da
matriz.

Figura 3.36: Calibração dos modelos analíticos para estimar a resistência à compressão
transversal.

Para a resistência à compressão transversal, a calibração dos modelos é


apresentada na Figura 3.36. O valor de fração volumétrica de vazios que resulta no
menor erro médio pelo modelo de Chamis é 0.0. Note que a diferença entre a fração
volumétrica de vazio que minimiza o erro para resistências diferentes é consequência da
natureza semi-empírica do modelo. Para o modelo de Chamis modificado, a potência
nc = −1 é a que resultou no menor erro médio. Para o modelo que estima a falha da
interface, o valor da resistência da interface de 65MPa obteve as melhores estimativas.
Destaca-se aqui que é consistente com TOTRY et al. (2008), que propõem utilizar a
resistência de 57.55MPa, TANG et al.(2015), que sugere 69MPa para interfaces com

112
resistências intermediárias, e VARANDAS et al. (2017) e CHEVALIER et al. (2019),
que apesar de utilizarem valores diferentes para resistência normal e ao cisalhamento da
interface sugerem 50MPa e 75MPa, respectivamente.

Figura 3.37: Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
compressão transversal.

As Figuras 3.37-38 mostram os erros médios e as faixas de erros dos modelos


analíticos. Baseando-se nesses resultados, pode-se concluir:
i) os modelos de Bridging e Chamis obtiveram um erro médio alto, 35% e
37.6%, respectivamente, porém menores do que para resistência à tração;
ii) por outro lado, o modelo que assume a concentração de tensão máxima
resultou em estimativas piores para a resistência à compressão, o que é esperado visto a
falha para esse tipo de carregamento não ocorre na região em que a concentração de
tensão é máxima;
iii) o modelo de Chamis modificado resultou em um erro médio de 26.9% e
66.7% das estimativas tiveram erros menores que 30%;
iv) o modelo baseado no critério de Drucker-Prager resultou em estimativas
próximas aos modelos de Bridging e Chamis, com erro médio de 44.4%, indicando que
para esse carregamento há uma tendência da falha não ser resultado direto do dano na
matriz e sim da interface;

113
Figura 3.38: Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
compressão transversal.

v) o modelo baseado na falha da interface obteve as melhores estimativas, com


erro médio de 22.1% e 38.9% das estimativas com erros menores do que 10%,
indicando que esse é o principal mecanismo de falha resultante da compressão
transversal;
t
vi) destaca-se que tanto para S 22 , utilização de uvc = 0.18MPa , quanto para S 22
c
,

com S i = 65MPa , os valores das resistências da matriz não foram utilizados como
entrada para as estimativas dos modelos que obtiveram melhor desempenho no presente
estudo comparativo.
Por último, a Figura 3.39 mostra a calibração dos modelos de resistência ao
cisalhamento transversal. Os modelos visam generalizar as estimativas propostas por
s
FENNER & DANIEL (2019) e DÁVILA et al. (2005), que sugerem que S 23 seja
t c
proporcional à S 22 e S 22 , respectivamente.
As Figuras 3.40-41 mostram os erros médios e as faixas de erros dos modelos
s
analíticos para S 23 . Baseando-se nesses resultados, pode-se concluir:
i) os modelos de Bridging e Chamis obtiveram melhores desempenhos nas
estimativas de resistência ao cisalhamento transversal do que nas estimativas das outras

114
duas resistências transversais vistas anteriormente, resultando em um erro médio de
22.3% e 30.8%, respectivamente;

Figura 3.39: Calibração dos modelos analíticos para estimar a resistência ao


cisalhamento transversal.

Figura 3.40: Erro médio das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
cisalhamento transversal.

s t
ii) estimar S 23 = S22 , como sugerido por FENNER & DANIEL (2019), resulta em um
erro médio de 37%;

115
iii) a generalização da proposta de FENNER & DANIEL (2019) para estimar
s t
S 23 = α t S22 resulta em uma melhora significativa das estimativas, sendo o erro médio

14.7% para αt = 1.43 ;


s c
iv) estimar S 23 = 0.37 S22 , como sugerido por DÁVILA et al. (2005), resulta em
um erro médio de 31.4%, indicando que é mais razoável estimar a resistência ao
cisalhamento utilizando a resistência à compressão do que a resistência à tração;
s c
v) generalizando também a proposta de DÁVILA et al. (2005) para S 23 = α c S22

diminui o erro médio para 7.6% para α c = 0.29 ;


vi) a estimativa da resistência ao cisalhamento transversal ser igual à resistência
ao cisalhamento da matriz (i.e. α s = 1 ) também obteve um excelente resultado, com erro
médio de 7.1%;
vii) avaliando as faixas de erro apresentadas, destaca-se que as estimativas
s c s
S 23 = 0.29S22 e S 23 = S sm obtiveram um erro menor que 10% para 88.9% das
estimativas;
s
viii) além da estimativa S 23 = S sm resultar no menor erro médio, elimina a

necessidade de um dos testes mais complicados da lamina.

Figura 3.41: Faixas de erro das estimativas dos modelos analíticos para resistência à
cisalhamento transversal.

116
4 ANÁLISE MULTIESCALA DE PLACAS COM ENTALHE

Poucos esforços analíticos podem ser encontrado na literatura para modelar o efeito
de entalhes em compósitos, sendo a maioria focado apenas na distribuição de tensões,
sem avaliar a falha (SAVIN, 1970; LEKHNITSKII, 1987; HWU & TING, 1989). Um
modelo analítico para avaliar a falha de placas com furos foi proposto por TAN (1987),
onde considera-se um carregamento uniaxial que resulta na falha no ponto em que a
concentração de tensão é maximizada, analogicamente aos resultados mais conhecidos
para materiais isotrópicos. Todavia, resultados experimentais (KAMAN, 2011),
analíticos e numéricos (VIGNOLI & CASTRO, 2020) indicam que o ponto de maior
concentração de tensão não coincide, em geral, com o caso de materiais isotrópicos e
que a falha pode não acontecer aonde a concentração de tensão é máxima. Dentre os
estudos analíticos, destaca-se VIGNOLI et al. (2019e) que discutiram detalhadamente a
influência da orientação das fibras no início do dano para uma lâmina de fibra de
carbono considerando diversos carregamentos em uma plana infinita com furo elíptico.
Como estruturas reais não estão em um estado de tensão plana e nem de deformação
plana, embora essas aproximações sejam úteis na simplificação da modelagem, uma
comparação entre as estimativas com ambas as hipóteses é também apresentada,
baseando-se nos resultados apresentados por GÓES et al. (2014).
Considerando os estudos experimentais, destaca-se IARVE et al. (2005) e
MOLLENHAUER et al. (2006), que aplicaram a técnica de interferência de Moiré para
medir experimentalmente os campos de deformações e quantificar o dano ao redor de
entalhes. LEE & SOUTIS (2008) discutiram a influência da geometria do CP no
resultado de um ensaio. O’HIGGINS et al. (2008) apresentaram um análise
experimental comparativa de compósitos com fibras de carbono e fibras de vidro,
avaliando a influência dos tipos de fibra na falha de um CP com furo circular submetido
a tração. De acordo com os autores, os laminados com fibra de carbono têm maior
resistência e rigidez, enquanto os de fibra de vidro têm uma maior deformação total até
a falha. ERÇIN et al. (2013) estudaram o efeito do tamanho em laminados mantendo a
mesma razão entre o diâmetro do furo e largura da placa. Os resultados indicam que a
resistência à ruptura tende a diminuir para placas mais largas. Os autores também

117
propõem um metodologia para estimar o início do dano na lâmina externa. No entanto,
vale ressaltar que o dano normalmente não se inicia na camada externa.
FURTADO et al. (2016) investigaram laminados híbridos, onde as lâminas com
orientação paralela ao carregamento são mais espessas do que as lâminas com
orientações não-paralelas. De acordo com os autores, essa hibridização aumenta a
resistência a ruptura de laminados com entalhes. ZHOU et al. (2019) estudaram a
diferença da sequência de empilhamento na falha de uma laminado com furo circular
sob compressão. Todos os três laminados têm 24 camadas, sendo 6 de cada orientação
(0º, -45º, +45º e 90º). De acordo com os resultados experimentais, a diferença na
resistência à ruptura pode ser maior do que 40%.
Apesar da indiscutível importância da abordagem experimental, como há um
grande número de variáveis envolvidas no projeto com materiais compósitos (TSAI &
MELO, 2014), as conclusões desses estudos são limitadas às condições específicas dos
testes, como destacado por SHAH et al. (2010).
Baseando-se na ideia de otimização de estruturas, a modelagem multiescala se
torna indispensável para o projeto de materiais compósitos (ARTEIRO et al., 2018).
FARROKHABADI & BABAEI (2019) apresentam uma modelagem multiescala
implementada no ANSYS. Para um determinado carregamento aplicado no RVE, as
propriedades efetivas são calculadas e utilizadas como entrada para o modelo
macromecânico. Uma abordagem similar é apresentada por BABAEI &
FARROKHABADI (2019). JUNSHAN et al. (2017) apresentaram uma análise
multiescala em que cada lâmina é modelada individualmente. LI et al. (2014)
apresentaram uma modelagem multiescala baseada em HA et al. (2008) de um
laminado de fibra de carbono com furo circular submetido à compressão. Apresar da
boa correlação com os dados experimentais, apenas uma fração volumétrica foi
discutida, necessitando de mais investigações para melhor discutir a influência de cada
parâmetro. Destaca-se que, mesmo com o avanço computacional, um estudo
paramétrico que envolva variáveis de diferentes escalas se torna quase inviável apenas
com modelos numéricos (ANDRIANOV et al., 2018). A partir dessa ponderação surge
a motivação deste capítulo: realizar um estudo paramétrico analítico sobre a influência
das fibras na falha de uma placa com entalhe.

118
O presente estudo visa modelar apenas o início do dano, sendo assim uma
abordagem mais conservadora e que pode ser aplicada de forma mais geral, sem
necessitar de efeitos de espessura. O início do dano é também objeto de estudo de
ELNEKHAILY & TALREJA (2018) e ELNEKHAILY & TALREJA (2019). Os efeitos
da propagação do dano em laminados com entalhes é discutido em VIGNOLI &
CASTRO (2020).
Uma justificativa adicional sobre a importância da modelagem do início do dano
pode ser encontrada em CUGNONI et al. (2018), que estudaram lâminas mais finas
para aplicações aeroespaciais. Apesar da diminuição da espessura resultar em um
aumento da resistência in situ, a falha final tem características mais frágeis. Para
laminados com entalhe, a resistência à ruptura diminui com a espessura porque a
propagação do dano em concentradores de tensões tende a ser retardada pela
delaminação, que é um mecanismo mais característico em laminados mais espessos. De
forma geral, para avaliar a propagação do dano é necessário considerar o efeito da
espessura, o que não é o objetivo da presente investigação. Uma discussão do efeito da
espessura na resistência in situ é apresentada em BARBERO (2018) e CATALANOTTI
(2019).
O procedimento multiescala adotado é ilustrado na Figura 4.1. As propriedades
da matriz e da fibra são utilizadas como dados de entrada para o modelo micromecânico
e as propriedades efetivas das lâminas são obtidas. Como hipótese consequente da
micromecânica, assume-se que a lâmina com propriedades equivalentes pode ser
modelada como uma estrutura homogênea em escala macroscópica. A partir do passo 2
o material homogeneizado é considerado.
Com base nas recomendações do WWFE, o critério de falha de Puck é utilizado.
Esse modelo é capaz de distinguir a falha da fibra e da matriz, evidenciando a
importância de cada constituinte. Note que na primeira edição do WWFE, considerou-se
casos de tensão plana, todavia, apenas na terceira, que ainda não está concluída, o efeito
de entalhes foi abordado.
Três diferentes sistemas de coordenadas são necessários para a modelagem

completa do sistema: as coordenadas globais, xi(g ) , onde o carregamento é definido; as

coordenadas do material, x i ; e as coordenadas locais, x i(l ) , utilizada para mapear a

119
borda do furo. O ângulo entre x1 e x1(l ) é θ e o ângulo entre x1 e x1(g ) é α . σn denota a

tensão nominal aplicada na placa em uma região distante o suficiente do furo para ser
considerado que o carregamento é aplicado no infinito.

Etapa 1: Homogeneização (Modelo de Micromecânica)

Etapa 2: Distribuição de Tensão na Borda do Furo (Formalismo de Stroh)


placa não-homogênea - estrutura real placa homogênea - estrutura idealizada

Etapa 3: Rotação do Tensor das Tensões (de coordenada local para material)

Etapa 4: Análise de Falha da Fibra e da Matriz (Critério de Puck)

Figura 4.1: Representação esquemática da abordagem multiescala: o processo de


homogeneização é aplicado na Etapa 1 e a placa é assumida homogênea em todas as
etapas seguintes.

120
4.1. Modelo de Micromecânica

O modelo de micromecânica desenvolvido no presente estudo foi apresentado e


discutido anteriormente nos Capítulos 2 e 3. Nesta seção, o objetivo é de resumir de
forma sucinta as principais equações obtidas. Assumindo que a placa estudada está
submetida a um estado plano de tensões, o módulo de cisalhamento transversal, G23 , e a

resistência ao cisalhamento transversal, S 23s , não são utilizados na modelagem a seguir.


Todas as propriedades necessárias, elásticas e resistências, podem ser calculadas com as
seguintes equações

E1 = V f E1f + (1 − V f ) E m (4.1)

ν12 = V f ν12f + (1 − V f )ν m (4.2)

 
1
E2 = E m   (4.3)
 1 + ξ [(E m / E f ) − 1]V 
 E2 2 f 
 
1
G12 =G  m  (4.4)
 1 + ξ [(G / G f ) − 1]V
m 
 G12 12 f 
  Em 
t
S11 = 0.92 Vf + (1 −Vf )   Stf (4.5)
  Ef 
  1 

c
  Em  
S11 = 0.8 V f +  f  (1 − V f )  Scf (4.6)
  E1  

t 1  6Em  c
S 22 =  m 
 uv (4.7)
(1 +ν m )(1 − 2β )(1 − 5.8γ V f 3 )  1 − 2ν 

c Si  2 
S 22 =   (4.8)
gic (V f )  1 − β 

S sm  (G12 + G ) + (G12 − G )V f 
f m f m
s
S12 =   (4.9)
2  G12f 

121
onde

ξE =  2.2603 − 1.4759Vf − 0.2964(E m / E 2f ) (4.10)


2  

ξG = 2.3145 − 1.6043Vf − 0.4199(G m / G12


f 
) (4.11)
12  

gic (V f ) = −7.71(0.14 + β )V f3 + 6.63(0.01 + β )V f2


(4.12)
+ 0.16(3 + β )V f − 0.76(−0.24 + β )

Os valores de uvc e S i podem variar de acordo com cada laminado. Porém, como

base nos resultados obtidos no Capítulo 3, uvc = 0.18MPa e S i = 65MPa são usados.
Uma breve discussão sobre a vantagem do presente modelo de micromecânica é
apresentada na Seção 4.4.1, destacando de forma resumida as conclusões apontadas
anteriormente.

4.2. Análise de Tensão - Formalismo de Stroh

O formalismo de Stroh (TING, 1996; HWU, 2009) é uma formulação


matemática bastante útil para análise elástica de materiais anisotrópicos pela sua
poderosa capacidade de obter soluções compactas quando comparadas com outras
abordagens analíticas, como o formalismo de Lekhnitskii (LEKHNITSKII, 1987).
Considerando a elasticidade linear, a condição de equilíbrio, negligenciando forças de
corpo e utilizando a hipótese de pequenas deformações, pode ser escrita como

cijkl uk ,lj = 0 (4.13)

A solução geral dessa equação é u = vg(z ) , ou uk = vk g(z ) , onde v depende

das propriedades do material, denominado autovetores do material, e g (z ) é uma função

que satisfaz as condições de contorno de cada problema. Nessa expressão, z = x1 + px 2 ,

122
onde p é definido como autovalor do material. Baseado nessas considerações, a
seguinte equação é obtida, e serve como base para o desenvolvimento do formalismo,

[ci1k1 + (ci1k 2 + ci 2k1 )p + ci 2k 2 p 2 ]vk = 0 (4.14)

Definindo as matrizes 3x3 Q , R e T como Qik = ci1k 1 , Rik = ci1k 2 e

Tik = ci 2k 2 , a Eq.(4.2) pode ser reescrita de forma matricial como

Q + (R + RT )p + Tp 2  v = 0 (4.15)
 

Com algumas manipulações algébricas, a Eq.(4.3) pode ser reescrita na forma


padrão de problemas de autovalores. Detalhes da dedução podem ser encontrados em
TING (1996), HWU (2009), VIGNOLI (2016) e VIGNOLI et al. (2019e).
Como a borda do furo é uma superfície livre, a única componente não-nula da
(l )
tensão é σ11 . Com isso, é conveniente escrever as grandezas definidas em função das

coordenadas locais. Para isso, define-se

Q(l ) = Q cos 2 θ + (R + RT )sin θ cos θ + T sin 2 θ (4.16)

R(l ) = R cos 2 θ + (T − Q)sin θ cos θ + RT sin 2 θ (4.16)

T(l ) = T cos2 θ − (R + RT )sin θ cos θ + Q sin 2 θ (4.18)

Outras grandezas necessárias para definir o problema são os tensores de segunda


ordem de Barnett-Lothe, que para o caso de tensão plana têm as componentes não-
nulas, em forma matricial, definidas pelas seguintes equações

−1 2
 E  E1 
(
[S BL ]12 = − 1 − ν12ν 21 ) (
 1  + 2 1 − ν12ν 21
 G12 
) 
E 2 
(4.19)

123
−1 2
 E  E2 
(
[S BL ]21 = 1 − ν12ν 21 ) (
 2  + 2 1 − ν12ν 21
 G12 
) 
E1 
(4.20)

−1 2
 E  E1 
(
[LBL ]11 = E1  1  + 2 1 − ν12ν 21
 G12 
) 
E 2 
(4.21)

−1 2
 E  E2 
[LBL ]22
 G12 
(
= E 2  2  + 2 1 − ν12ν 21 ) 
E1 
(4.22)

[LBL ]33 = G13G 23 (4.23)

A solução da tensão normal na borda do furo pode ser escrita como


1111

(l )
σ11 = i (G1(l )τ 2 + G(3l )τ1 ) − i 2 (G1(l )τ1 − G(3l )τ 2 ) (4.24)

T T
onde i = [1 0 0] , i 2 = [0 1 0] , τ1 = σ11 0 e τ 2 = σ12 σ∞22 0 
1111

∞ ∞ ∞
σ12 definem o
   

carregamento, σij∞ são as tensões aplicadas no infinito em coordenadas do material,

G1(l ) = [N1(l ) ]T − N(3l )SL−1 e G(3l ) = −N(3l )L−1 são definidos para compactar a equação,

(l ) (l ) −1 (l ) T
N1(l ) = −[T ]−1[ R ]T e N3 = − R [T ] [ R ] − Q são denominadas de matrizes
(l ) (l )
(l ) (l )

fundamental da elasticidade.
Para um carregamento uniaxial em que a única tensão não nula em coordenadas
globais no infinito é σ 11( g ) = σ n , pode-se utilizar a tensão normal ao longo da borda do
(l ) (l )
furo, σ11 , para calcular a concentração de tensão como σ11 / σn .

As componentes de tensão para o carregamento aplicado podem ser computadas


por

σn

σ11 = (1 + cos 2α) (4.25)
2

124
σn

σ 22 = (1 − cos 2α) (4.26)
2
σn

σ12 =− sin 2α (4.27)
2

4.3. Critério de Falha de Puck

Mecanismos simultâneos de falha fazem a estimativa de falha em compósitos


uma tarefa complicada. Um resumo dos resultados do WWFE e uma discussão
detalhada sobre o tema podem sem encontrados em SODEN et al. (2004), KADDOUR
e HINTON (2013). Considerando esses resultados, o critério de Puck é selecionado para
o presente estudo. Além do critério de Puck, SODEN et al. (2004) também recomendam
a utilização dos critérios de Tsai-Wu e LaRC05. VIGNOLI et al. (2019e) apresentam
uma comparação entre as estimativas desses três critérios. O critério de Tsai-Wu tem a
desvantagem de não diferenciar a falha das fibras ou da matriz, que é um dos objetivos
dessa investigação. Por outro lado, o critério LaRC05 diferencia a falha das fibras e a
falha da matriz, mas tem estimativas próximas ao critério de Puck para casos da placas
em estado plano de tensões e tem um custo computacional maior. Adicionalmente,
pode-se encontrar em MACEDO et al. (2017) uma comparação indicando que o
envelope de falha obtido pelo critério de Puck é similar ao envelope de falha obtido
utilizando elementos finitos.
O critério de Puck é utilizado com a intensão de definir qual dos constituintes
está falhando em cada caso estudado. As funções de falha que serão utilizadas variam
entre zero e um, sendo o valor unitário correspondente à falha. Destaca-se que
usualmente é desejado diferenciar falha e dano: falha está associada à ruptura ou perda
de funcionalidade do material, enquanto dano é um entidade matemática criada para
definir os estados intermediários quando a peça não está mais em sua condição virgem e
a falha. Todavia, está fora da intenção do presente estudo avaliar a propagação do dano
e, consequentemente, o início do dano corresponde a falha.
A função de falha da fibra é baseada na teoria da tensão normal máxima. O
critério de Puck utiliza a teoria da tensão normal máxima e acrescenta um termo para
considerar o efeito dos diferentes coeficientes de Poisson da fibra e da matriz e para

125
compressão considera a influência do cisalhamento na instabilidade da fibra. As
expressões para as funções de falha da fibra são

E 
1 
fP( f ,t ) = σ11 +  1f ν12
f
m f − ν12  σ22 (4.28)
t  E 
S11  1

E   σ 2
 1 f
ν m − ν12  σ22 + 10 12 
1
fP( f ,c ) = σ11 +  (4.29)
c  E f 12 f   G12 
S11  1

onde m f é um parâmetro que pode ser calibrado baseado em dados experimentais.

Considerando a falha da matriz, o conceito de plano crítico do critério de


Coulomb-Mohr para matérias isotrópicos frágeis é adotado (KNOPS, 2008). Esse
conceito permite definir uma carga crítica e também a direção (orientação) em que a
falha ocorre (veja Figura 4.2). Assumindo a hipótese de tesão plana, existem três
diferentes modos de falha da matriz: se σ22 ≥ 0 , denomina-se modo A e o plano crítico

é perpendicular à σ22 ; se σ22 < 0 dois diferentes modos podem ocorrer, sendo modo B

se σ22 é perpendicular ao plano crítico e modo C se houver uma inclinação γ entre a

direção normal ao plano e σ22 . Note que para compressão pura a falha ocorre em modo

C.

Figura 4.2: Mecanismos de falha da matriz: modo A, modo B e modo C.

Adicionando o efeito de crescimento de vazios trincas quando aplica-se uma


tensão normal na direção paralela às fibras, σ11 , as funções de falha da matriz são

definidas por

126
 σ 2  σ 2 t  σ22   σ11 
n
 12   22  p12 
fP(m ,A) =   +   +2 σ22 1 −  +   (4.30)
 S   S t   t 
S 22   X11 
 12   22  S12 

 σ 2 c  σ n
 12  p12 
fP(m ,B ) =   + 2 σ22 +  11  (4.31)
 S   X 
 12  S12  11 

 σ cos γ 2  σ sin γ cos γ 2 c  σ n


 12 
 +   + 2 p 
fP(m ,C ) =  
22

12
σ22 cos γ +  11 
2 (4.32)
 S   (23)
  X 
 12
S 23 S12  11 

c
onde p12 t
e p12 são parâmetros ajustáveis, X11 = 1.1S11
t
se σ11 > 0 ou X11 = −1.1S11
c

se σ11 < 0 , n = 8 e o ângulo do modo C pode ser obtido explicitamente como


  (23) 2  

  S σ  
γ = a cos   23 12  + 1 
1
 S σ  (4.33)





(
c
2 1 + p12 )  12 22 


 
 
onde
 
S12  c
c S 22 
(23)
S 23 =  1 + 2p12 − 1 (4.34)
c  

2p12  S12

Uma discussão mais detalhada pode ser encontrada em KNOPS (2008),


DEUSCHLE & PUCK (2013) e VIGNOLI (2016).

4.4. Resultados e Discussão

Um estudo paramétrico do projeto de placas compósitas com entalhe (furo


circular) é apresentado a seguir. Basicamente, deseja-se avaliar a influência das fibras
na carga máxima que a placa suporta sem sofrer nenhum dano. Para isso, três
parâmetros das fibras são utilizados: o tipo (i.e. fibra de vidro ou de carbono), a fração
volumétrica e a orientação. Antes de iniciar a discussão dos resultados, seguem duas
seções de validação da abordagem utilizada. A Seção 4.4.1 apresenta uma comparação

127
dos modelos de micromecânica e a Seção 4.4.2 avalia o erro resultante da distribuição
de tensão pelo formalismo de Stroh para placas infinitas comparado com resultados de
elementos finitos ara placas finitas. Neste capítulo são utilizadas as fibras e a matriz
listadas na Tabela 4.1.

4.4.1. Influência do Modelo de Micromecânica

O modelo de micromecânica proposto nos Capítulos 2 e 3 é apresentado de


forma resumida na Seção 4.2. Para destacar a importância da utilização do mesmo, a
seguir é feita uma comparação com os modelos Bridging e Chamis. Apenas esses dois
modelos são utilizados nessa comparação por serem os únicos que também propõem
estimativas para todas as propriedades.

Tabela 4.1: Propriedades da matriz e das fibras (KADDOUR & HINTON, 2012).
Matriz Fibra
Epóxi Carbono Vidro
(MY750) (IM7) (E-glass)

E m [GPa] 3.35 E1f [GPa] 276 74

νm 0.35 E2f [GPa] 19 74

Stm [MPa] 80 G12f [GPa] 27 30.8

Scm [MPa] 120 ν 12f 0.2 0.2

St f [MPa] 5180 2150

Scf [MPa] 3200 1450

A Figura 4.3 mostra uma comparação do erro médio de todas as propriedades


para esses três modelos. Destaca-se que foram utilizados os mesmos 309 dados
experimentais citados anteriormente (33 dados para E1 , 29 dados para ν12 , 54 dados
t c t
para E 2 , 46 dados para G12 , 27 dados para S11 , 61 dados para S11 , 31 de S 22 , 18 de
c s
S 22 e 10 dados para S12 ), sendo essa figura utilizada para uma comparação direta entre

128
todas as propriedades. Note que G23 e S 23s não são utilizados porque assume-se que a
placa está em estado plano de tensões. O modelo proposto obteve um erro médio menor
do que os outros modelos em quase todas as estimativas, excetuando os módulo de
cisalhamento e a resistência ao cisalhamento. Para as propriedades de cisalhamento, o
modelo de Chamis obteve uma melhor estimativa para a resistência definida pela norma
medida deslocada 0.2% no eixo da deformação, mas a diferença, comparando com o
modelo proposto, é de menos de 1% para o módulo e menos de 2% para a resistência.
Dessa forma, fica evidente a vantagem da utilização do modelo proposto.

Figura 4.3: Comparação das estimativas das propriedades das lâminas com os dados
experimentais utilizando o modelo proposto e os modelos Bridging e Chamis.

Para uma comparação do efeito influência do modelo de micromecânica na


carga máxima que a placa resiste sem sofrer nenhum dano, denominadas como
S ot (α , V f ) para tração e S oc (α , V f ) para compressão, a Figura 4.4 mostra as estimativas

de todos os modelos para α = 90° . O subindice “o” é utilizado para indicar a resistência
ao início do dano (onset damage strength). α = 90° é escolhido para essa comparação
porque para as fibras com essa orientação sempre ocorre falha da matriz no mesmo
ponto (VIGNOLI et al., 2019e; VIGNOLI & CASTRO, 2020) e exatamente para as
resistências transversais que o modelo proposto mais se destaca em relação ao Bridging
e Chamis (ver discussão apresentada no Capítulo 3 e Figura 4.3).

129
Figura 4.4: Comparação das estimativas da carga máxima para o início do dano,
Sot (90°, V f ) e S oc (90°, V f ) , utilizando o modelo proposto e os modelos Bridging e

Chamis.

Pode-se destacar que os modelos Bridging e Chamis estimam uma resistência à


tração, Sot (90°, V f ) , maior do que o modelo proposto para qualquer valor de V f . Por

outro lado, para a resistência à compressão, S oc (90°, V f ) , o modelo proposto estima uma

resistência maior do que os outros para quase todo o intervalo estudado, excetuando
V f < 0.35 para fibra de vidro, onde o modelo Bridging estima a maior resistência.

Figura 4.5: Comparação das estimativas das resistências transversais das lâminas
utilizando o modelo proposto e os modelos Bridging e Chamis.

Para entender esses resultados, basta comparar as estimativas das resistências


transversais da lâmina, S 22
t
e S 22
c
, apresentadas na Figura 4.5. Como o modelo proposto

130
obteve um erro médio na comparação das estimativas com os dados experimentais
consideravelmente menor do que os outros modelos, pode-se assumi-lo como
referência. Dessa forma, conclui-se que os modelos Bridging e Chamis tendem a
superestimar S 22
t
e subestimar S 22
c
.

4.4.2. Influência da Aproximação de Placa Infinita

A presente seção visa avaliar qual erro gerado com a aproximação de placa
infinita (i.e. grande o suficiente para que nenhum efeito adicional de borda seja
considerado além do furo) em função da relação entre o tamanho da placa, H , e o
diâmetro do furo, d . Para placas finitas, a distribuição de tensão é obtida através de
simulações de elementos finitos utilizando o software ANSYS. As mesmas
propriedades macromecânicas são utilizadas nos modelos numérico e analíticos, sendo
essas calculadas pelo modelo de micromecânica proposto.
Assumindo que para a maioria dos casos práticos 0.3 ≤ V f ≤ 0.7 , os valores

extremos, V f = 0.3 e V f = 0.7 , são considerados a seguir. Deseja-se então avaliar o erro

máximo gerado pela hipótese de placa infinita da solução analítica. Para uma placa
infinita, H / d → ∞ . Todavia, em estruturas reais essa hipótese obviamente não é
satisfeita. Numericamente é possível reproduzir o efeito de uma placa infinita com
H / d = 60 (GÓES et al., 2014). Para avaliar o erro gerado com essa aproximação,
considera-se o carregamento uniaxial com α = 0°,15°,30°, 45°, 60°, 75°,90° . O
comprimento longitudinal da placa é mantido sessenta vezes maior do que o diâmetro
do furo, apenas o comprimento transversal é avaliado. Para avaliar o caso mais prático,
adota-se H = 6d , conforme padronizado pelas normas ASTM D5766/D5766M e
ASTM D6484/D6484M.
Assumindo também a hipótese de estado plano de tensões, o elemento de ordem
superior PLANE183 é utilizado. Após uma análise de convergência, 120 divisões são
definidas ao redor da borda do furo (VIGNOLI & CASTRO, 2020). Um exemplo de
malha é mostrado na Figura 4.6.

131
Figura 4.6: Exemplo de malha utilizada para a simulação de elementos finitos.

Figura 4.7: Comparação entre a concentração de tensão máxima para placas infinitas
(solução analítica) e placa finitas (simulação numérica).

Figura 4.8 Erro na concentração de tensão máxima gerado pela hipótese de placa
infinita (solução analítica) comparando com placa finita (simulação numérica).

132
A Figura 4.7 mostra como a concentração de tensão varia de acordo com α para
os dois tipos de fibra e os dois valores de V f . Para uma avaliação mais quantitativa, a

Figura 4.8 mostra o erro gerado pela hipótese de placa infinita assumida no modelo
analítico comparando a concentração de tensão máxima com o resultado da simulação
de elementos finitos. Com esses resultados é possível concluir que o erro máximo para
fibras de carbono é menor que 10%, enquanto para fibras de vidro é menor que 5%.

4.4.3. Estudo Paramétrico

Três principais parâmetros são objetos desse estudo paramétrico:


i) o tipo de fibra;
ii) fração volumétrica dos constituintes;
iii) a direção das fibras.
Dentre esses, apenas o tipo de fibra é uma variável discreta. Por isso, todas as
análises apresentam resultados para ambas as fibras listadas na Tabela 4.1 (carbono e
vidro).

Figura 4.9: Variação da concentração de tensão, σ 11(l ) / σ n , na borda do furo de uma

placa com fibra de carbono de acordo com V f para α = 0°, 45°,90° .

133
Porém, antes de iniciar a análise de dano é importante uma avaliação da
concentração de tensão ao redor do furo pela solução analítica. Por simplicidade,
inicialmente é estudada a influência de V f para α = 0°, 45°,90° . Esses valores de α

são selecionados por sua grande aplicação prática com a regra dos 10% (HART-
SMITH, 2012). As Figuras 4.9-10 mostram a concentração de tensão de tensão para
laminados com fibra de carbono e de vidro, respectivamente. Baseando-se nestes
resultados, pode-se concluir:
i) devido à anisotropia das fibras de carbono, a concentração de tensão é mais
severa para os laminados constituídos com as mesmas do que para fibras de vidro;
ii) para um material isotrópico, a concentração de tensão varia entre -1 e 3 para
uma placa infinita com furo circular carregada uniaxialmente (CASTRO &
MEGGIOLARO, 2016a), enquanto para os compósitos estudados varia entre -4.5 e 7.5
para fibras de carbono e -2.5 e 4 para fibras de vidro;
iii) a concentração de tensão é praticamente insensível à V f para 0.3 ≤ V f ≤ 0.7 .

Figura 4.10: Variação da concentração de tensão, σ 11(l ) / σ n , na borda do furo de uma

placa com fibra de vidro de acordo com V f para α = 0°, 45°,90° .

Para uma comparação mais genérica sobre a concentração de tensão, a Figura


4.11 mostra a variação da concentração ao redor da borda do furo para

134
α = 0°,15°,30°, 45°, 60°, 75°,90° e V f = 0.5 . Nessa figura, a linha preta mais espessa
representa o furo, as linhas pretas pontilhadas indicam as linhas com referências dos
valores da concentração de tensão e as linhas coloridas as distribuição para cada valor
de α . Note que a mesma escala é utilizada para as duas lâminas com o objetivo de
enfatizar a diferença e que a parte interna ao furo significa compressão e a parte externa
tração. Pode-se concluir que para os dois tipos de lâminas, a concentração de tensão
máxima tende a ser na direção perpendicular à fibra para qualquer valor de α .

Figura 4.11: Comparação da concentração de tensão para laminas com fibras de carbono
e de vidro.

Tabela 4.2: Parâmetros do critério de Puck ((PUCK & SCHURMANN, 1998).


c t mf
p12 p12

IM7 (carbono) 0.3 0.35 1.1


E-glass (vidro) 0.25 0.3 1.3

135
Figura 4.12: Variação das resistências à tração, Sot , e compressão, S oc , de acordo com

V f para α = 0°, 45°,90° .

Apesar da distribuição das tensões não variar significativamente de acordo com


V f , não se pode afirmar que o efeito dos entalhes é insensível à fração volumétrica dos

constituintes. A distribuição das tensões por si só não é suficiente porque o principal


efeito a ser considerado deve ser o dano, que dependem das resistências e variam
bastante com V f (ver Capítulo 3). Para aprofundar a investigação, a Figura 4.12 mostra

a variação da resistência à tração e à compressão, utilizando os parêmateros


apresentados na Tabela 4.2 para o critério de Puck. Pode-se concluir que:
i) apesar da fibra de carbono ser mais do que duas vezes mais resistente do que a
fibra de vidro, o valor das resistências dos laminados com entalhes não indicam essa
discrepância;
ii) para as resistências à tração, Sot , todos os laminados indicam uma variação

suave, com a resistência aumentando para α = 0° e diminuindo para α = 45°,90° ;

iii) para as resistências à compressão, S oc , o laminado de fibra de vidro com

α = 0° apresenta uma brusca variação na resistência em V f ≅ 0.5 ;

136
iv) para os laminados de fibras de carbono com entalhe submetido à compressão,
as resistências para as fibras paralelas ao carregamento, α = 0° , ou perpendiculares,
α = 90° , são praticamente iguais para V f > 0.5 ;
v) a orientação das fibras α = 45° é a que resulta em uma menor resistência à
compressão para todos os valores de V f nos dois tipos de fibras;

vi) em alguns casos, tanto para tração quanto para compressão, aumentar V f

pode resultar em uma diminuição da resistência, como evidenciado principalmente para


fibras de vidro sob compressão com α = 0° .

Figura 4.13: Influência de α no tipo de falha para um laminado de fibra de carbono


com carregamento trativo σ 11∞ = S ot (α , V f = 0.5) .

Para entender os resultados apresentados para Sot as Figuras 4.13-14 mostram

como variam as funções de falha para α = 0°, 45°,90° com V f = 0.5 . Tanto para fibras

de carbono quanto para fibras de vidro, ocorre a falha da matriz sob tração (modo A
pelo critério de Puck). Isto explica o fato das resistências à tração das placas com
entalhe serem tão próximas, ao contrário do que acontece para placas sem entalhe (ver
Capítulo 3).

137
Figura 4.14: Influência de α no tipo de falha para um laminado de fibra de vidro com
carregamento trativo σ 11∞ = S ot (α , V f = 0.5) .

Figura 4.15: Influência de V f no tipo de falha para um laminado de fibra de carbono

com carregamento compressivo σ 11∞ = − S oc (α = 90°, V f ) .

138
Para entender a variação de S oc são selecionados dois casos críticos: para fibras
de carbono com α = 90° (Figura 4.15) e para fibras de vidro com α = 0° (Figura 4.16).
Para fibras de carbono, a Figura 4.15 indica uma mudança no modo de falha; para
menores valores de V f a matriz falha em modo C e tende a falhar em modo B quando

V f → 0.7 . Apesar dos dois modos representarem a falha da matriz sob compressão, a

diferença entre eles é o plano crítico: o plano crítico do modo B é paralelo às fibras,
enquanto para o modo C pode haver um ângulo de até aproximadamente 53º (ver Eq.
4.33). Por outro lado, para fibras de vidro a mudança é mais drástica. A matriz falha
inicialmente em compressão no modo B e conforme aumenta o valor de V f ela tende a

falha em tração no modo A. Ou seja, mesmo com o carregamento compressivo a placa


falha sob tração. Essa mudança é a responsável pela variação brusca de S oc (α = 0°, V f )

apresentada na Figura 4.12.

Figura 4.16: Influência de V f no tipo de falha para um laminado de fibra de vidro com

carregamento compressivo σ 11∞ = − S oc (α = 0°, V f ) .

Uma forma alternativa de avaliar os modos de falha é com os envelopes de falha


apresentados na Figura 4.17, onde a coluna da esquerda representa os mesmos casos

139
apresentados na Figura 4.15 e a coluna da direita é equivalente a Figura 4.16. Nesse
gráfico, as linhas verde, azul escuro e cianeto representam os modos de falha A, B e C
da matriz, respectivamente, conforme apresentado na Seção 4.3, e os marcadores
vermelho indicam as componentes das tensões (coordenada material) ao longo da borda
do furo. Os pontos dentro do envelope representam uma região onde não há dano no
material e o ponto que tocar o envelope será o primeiro evento de dano. Pode-se então
observar a mudanças do modo C para o modo B nos laminados com fibra de carbono e
do modo B e para o modo A para os laminado com fibra de vidro.

Figura 4.17: Envelopes de falha da matriz e as combinações de tensões na borda do furo


em coordenadas materiais.

Apesar da discretização de α ser útil do ponto de vista prático, muito esforço


tem sido realizado nos últimos anos para o desenvolvimento de melhorias em processos
de fabricação que possibilitem a otimização α , possibilitando assumir essa variável
contínua (TSAI et al., 2019). Com essa consideração, as Figuras 4.18-19 mostram as
variações de Sot e S oc de acordo com α e V f , onde 0° ≤ α ≤ 90° e 0.3 ≤ V f ≤ 0.7 .

Uma variação suave de Sot é apresentada na Figura 4.18, sendo o laminado de

carbono mais resistência do que o de vidro pra qualquer combinação de α e V f . Pode-

140
se concluir também que Sot é maximizado para α = 0° . Para S oc os dois tipos de fibras
também apresentam um resultado similar, sendo a menor resistência para α ≅ 45° .
Adicionalmente, o laminado de vidro apresenta uma mudança mais brusca de S oc ,
indicando a variação no mecanismo de falha.

Figura 4.18: Variação da resistência à tração, Sot , de acordo com α e V f .

Figura 4.19: Variação da resistência à compressão, S oc , de acordo com α e V f .

141
Figura 4.20: Variação do mecanismo de falha para a resistência à tração, Sot , de acordo

com α e V f .

Figura 4.21: Variação do mecanismo de falha para a resistência à compressão, S oc , de

acordo com α e V f .

As Figuras 4.20-21 mostram as variações dos mecanismos de falha de acordo


com α e V f para Sot e S oc . Conforme visto anteriormente, a falha da matriz sob tração

142
(modo A) é o único mecanismo de falha para Sot . Por outro lado, para S oc ocorrem os
três modos de falha da matriz: sob tração, modo A, e sob compressão, modos B e C.
Destaca-se as seguintes contribuições deste capítulo:
i) primeira modelagem multiescala utilizando o modelo micromecânico proposto
e as recomendações do WWFE;
ii) a concentração de tensão em laminado com furo circular tende a ser
insensível à V f ;

iii) para laminados com fibra de carbono, Soc (0°, V f ) ≅ Soc (90°, V f ) para V f > 0.5

iv) pode-se generalizar a observação apontada por VIGNOLI et al. (2019e) de


que a falha de laminados com entalhe tende a se iniciar pelo dano na matriz;
v) mesmo para um carregamento compressivo, a matriz pode falhar sob tração
ao redor da borda do furo para laminados com fibras de vidro.

143
5 ANÁLISE DE FALHA DE VASOS DE PRESSÃO

Vasos de pressão compósitos têm sido estudados com diferentes abordagens por
décadas. Esse tema tem sido um objeto de estudo popular pela sua grande aplicação
industrial, como armazenamento e transporte de fluidos. Apesar disso, há ainda desafios
que precisam ser investigados.
O formalismo de Lekhnitskii é a abordagem mais importante para a modelagem
de problemas tridimensionais em materiais elásticos e anisotrópicos (LEKHNITSKII,
1981). Para o desenvolvimento que será apresentado, as maiores contribuições baseadas
na teoria da elasticidade são relacionas à TING (1996), TING (1999) e CHEN et al.
(2000). Uma abordagem complementar é apresentada por EVANS & GIBSON (2002),
que estudaram especificamente a influência da razão entre a rigidez da fibra e da matriz
no processo de falha.
Baseado em métodos analíticos, TITA et al. (2012) desenvolveram uma
ferramenta computacional para analisar tubos laminados espessos submetidos à pressão
interna com um solução homogeneizada simplificada. De forma alternativa, ANSARI et
al. (2010) também propuseram uma formulação híbrida (numérica e analítica) baseados
na teoria da elasticidade tridimensional e aplicando o método das diferenças finitas para
resolver as equações diferenciais, obtendo então as tensões e deformações através da
parede do tubo laminado considerando carregamentos termomecânicos dinâmicos.
Todavia, todos esses estudos utilizaram as propriedades macromecânica
anisotrópicas. Para um avanço no projeto de compósitos, a modelagem precisa
considerar um procedimento multiescala, como tem sido discutido ao longo de toda a
tese, para ser capaz de avaliar a influência dos constituintes e do lay-up do laminado.
CHATZIGEORGIOU et al. (2008) e SUN et al. (2014) estudaram a homogeneização de
tubos com uma abrupta variação das propriedades nas interfaces. A principal vantagem
do processo de homogeneização na análise de multiescala é que as condições de
contorno entre as camadas é sempre satisfeita intrinsicamente, eliminando a necessidade
de resolver um sistema de equações associado ao laminado, que pode ser obtido
modelando como uma série de tubos concêntricos, em cada camada significa uma
lâmina independente. Uma abordagem alternativa é apresentada por LIU et al. (2012)
usando elementos finitos. De acordo com CARRERE et al. (2012a) e CARRERE et al.

144
(2012b), a técnica de modelagem numérica multiescala é a opção que consegue
representar a estrutura real de forma mais fiel, mas tem a desvantagem do grande custo
computacional, o que impossibilita análises de otimização. Por causa dessas
características da análise mutiescala, a otimização de estruturas de compósitos necessita
considerar uma grande quantidade de variáveis (TSAI & MELO, 2014).
Experimentalmente, alguns estudos mostram resultados que indicam as
complicações da modelagem. COHEN et al. (2001) reportaram que a resistência de uma
tubo laminado aumentou cerca de 10% se a fração volumétrica das fibras aumentar de
0.52 para 0.65. Por outro lado, RAFIEE & AMINI (2015) indicaram que aumentar a
fração volumétrica das fibras pode resultar em diminuir a resistência de um vaso de
pressão.
Uma revisão dos desafios encontrados nos projetos de vasos de pressão são
detalhados em MARTINS et al. (2012) e MARTINS et al. (2013), incluindo os efeitos
do ângulo de laminação de acordo com as terminações. Os autores classificaram as
terminações, de acordo com suas reações, de 3 diferentes formar: fechado (closed-ends),
aberto (open-ends) e restrito (restrained-ends), onde a condição de extremidade restrita
é equivalente à hipótese de deformação plana. Algumas considerações sobre as
restrições nas extremidades podem ser encontradas em CHRISTENSEN (2005) e
ONDER et al. (2009).
DROZDOV & KALAMKAROV (1995) propuseram um modelo analítico capaz
de modelar o efeito viscoelástico durante o processo de fabricação. Uma revisão sobre
processos de fabricação pode ser encontrada em BARBERO (2018). KAM et al. (1997)
e CHANG (2000) apresentaram resultados experimentais em que aplicaram a técnica de
emissão acústica para detecção de dano. KRIKANOV (2000) considerou a influência da
massa no processo de otimização. PARNAS & KATIRCI (2002) desenvolveram um
procedimento para aplicações de cilindros laminados em motores, onde a velocidade
angular desenvolve um importante papel. QUARESIMIN & CARRARO (2014)
investigaram efeitos de carregamentos multiaxiais na fadiga de tubos feitos com fibras
de vidro. SARVESTANI et al. (2016) propuseram um método baseado na teoria
layerwise para estudar a flexão de tubos laminados com cisalhamento transversal.
ALMEIDA Jr. et al. (2016) apresentaram um estudo computacional sobre o dano de
tubos com pressão externa.

145
Esse capítulo consta de um estudo multiescala da influência das condições das
extremidades, da fração volumétrica de fibras e ângulo de laminação na falha de vasos
de pressão. O processo de homogeneização é utilizado em duas etapas: primeiro, o
modelo de micromecânica desenvolvido nos Capítulos 2 e 3 é utilizado para calcular as
propriedades efetivas da lâmina e depois a técnica de homogeneização assimptótica é
aplicada para obter as propriedades efetivas do laminado. As distribuições de tensões e
deformações são obtidas utilizando o formalismo de Lekhnitskii e a falha é determinada
pelo critério de Tsai-Wu, ambos considerando a escala macromecânica. Uma fibra de
carbono e uma matriz de epóxi são considerados em um laminado do tipo angle-ply de
2n camadas, ou seja, [ ±α ]n . Uma abordagem similar, porém utilizando os modelos

Bridging e Chamis é apresentada em VIGNOLI & SAVI (2018a) e VIGNOLI & SAVI
(2017b), respectivamente, assim como a validação da modelagem analítica multiescala
com os resultados experimentais apresentados por MARTINS et al., (2014).

Figura 5.1: Sistemas de coordenadas utilizados na modelagem do vaso de pressão.

O vaso de pressão considerado é ilustrado na Figura 5.1. Quatro sistemas de


coordenadas são necessários para definir completamente o problema: as coordenadas
cilíndricas, r , θ , z , usadas para descrever aspectos macroscópicos da estrutura (i.e.
análise de tensões e falha); as coordenadas locais, x i , onde x1 coincide com a direção

da fibra na lâmina; as coordenadas globais, X i , utilizadas como referência na

homogeneização do laminado e X1 , X 2 e X 3 coincidem com z , θ e r ,

146
respectivamente; e a micro-coordenada yi , utilizada na homogeneização assimptótica.

O processo de homogeneização assimptótica é aplicado ao longo da espessura tubo,


logo pode ser considerado como unidimensional e é conveniente definir y 3 = X 3 / ε ,

onde ε = 1 / n ≪ 1 . A rotação de tensores definidos em coordenadas locais para defini-

los em coordenadas globais é definida pelo operador λij = cos(Xi , x j )

(SOKOLNIKOFF, 1956).

5.1. Homogeneização do Laminado - Homogeneização Assimptótica

Com o cálculo das propriedades elásticas, como feito anteriormente, pode-se


computar o tensor de rigidez11. Inicialmente, para obter as componentes do tensor de
rigidez de cada lâmina no sistema de referência global é necessário realizar a seguinte
transformação: C ijkl = λipλjq λkr λlscpqrs , onde cpqrs é o tensor de rigidez em

coordenadas materiais. A condição de equilíbrio e a relação constitutiva linear elástica,


considerando pequenas deformações e negligenciando o efeito das forças de corpo, são
definidas por

∂σijε (X, y) 1 ∂σij (X, y)


ε
+ =0 (5.1)
∂X j ε ∂y j

 ∂u ε (X, y) 1 ∂u ε (X, y) 
σijε (X, y) = C ijkl (y)  k + k 
 (5.2)
 ∂ X l ε ∂ yl 

Assumindo que os deslocamentos e as tensão possam ser escritos como séries de


potência da forma

uiε (X, y) = ui(0)(X, y) + εui(1)(X, y) + ε2ui(2)(X, y) + ... (5.3)

11
Uma vez que todas as equações do modelo proposto já foram apresentadas individualmente nos
Capítulos 2 e 3 e de forma sistemática no Capítulo 4, as mesmas são omitidas neste capítulo para evitar
repetições.

147
σijε (X, y) = σij(0)(X, y) + εσij(1) (X, y) + ε2σij(2)(X, y) + ... (5.4)

Usando a série das tensões na equação de equilíbrio, Eq.(5.1), as seguintes


relações são obtidas igualando as potências de ε

∂σij(0)(X, y)
=0 (5.5)
∂y j

∂σij(0)(X, y) ∂σij(1)(X, y)
+ =0 (5.6)
∂X j ∂y j

Combinando as expansões dos deslocamentos e da tensões, tem-se

∂uk(0)(X, y)
= 0 ∴ uk(0)(X, y) = uk(0)(X) (5.7)
∂yl

 ∂u (0)(X) ∂u(1)(X, y) 
σij(0)(X, y) = C ijkl (y)  k + k 
 (5.8)
∂ X ∂ y
 l l 
 ∂u(1)(X, y) ∂u (2)(X, y) 
σij(1)(X, y) = C ijkl (y)  k + k 
 (5.9)
 ∂ Xl ∂ yl 

Com essas equações, uma função periódica genérica na célula unitária é


considerada, N nkl (y) , e a seguinte relação é obtida

∂uk(0)(X)
un(1)(X, y) = N nkl (y) (5.10)
∂Xl

Integrando a Eq.(5.10) ao longo da célula unitária usando o teorema da


divergência, o termo de primeira ordem da solução das tensões se torna nulo pelo
requerimento de equilíbrio (KALAMKAROV & GEORGIADES, 2002). O termo de
ordem zero da tensão é então reescrito como

148
 ∂N mkl (y)  ∂uk(0)(X)
σij(0)(X, y) = C ijkl (y) + C ijmn (y)  (5.11)
 ∂ y  ∂X
 n  l

Integrando a equação de equilíbrio obtém-se

1  ∂N mkl (y)  ∂2uk(0)(X)


∫ C ijkl (y) + C ijmn (y)  dy =0 (5.12)
Y  ∂y  ∂X j ∂Xl
Y  n 

Em outras palavras, o tensor de rigidez equivalente pode ser definido como

1  ∂N mkl (y) 
Cɶijkl = ∫ C ijkl (y) + C ijmn (y)  dy (5.13)
Y  ∂ y 
Y  n 

Considerando a homogeneização ao longo da espessura, a representação


unidimensional da função genérica deve satisfazer a seguinte relação

d  dN (y )  dC (y )
C i 3m 3 (y 3 ) mkl 3  = − i 3kl 3 (5.14)
dy 3  dy 3  dy 3
 

Integrando duas vezes na célula unitária e utilizando o requerimento de


periodicidade para obter a solução, o tensor de rigidez equivalente é definido como

−1
Cɶijkl = Cijkl − C ijn 3Cn−31p 3C p 3kl + C ijn 3Cn−31s 3 Cs−31p 3 C p−31q 3Cq 3kl (5.15)

onde * = (1 / v )∫ (*)dv representa a média do tensor.

5.2. Análise de Tensão - Formalismo de Lekhnitskii

149
Esta seção apresenta a solução da distribuição das tensões baseada nos
desenvolvimentos propostos por CHEN et al. (2000) e TING (1999). A principal ideia
de CHEN et al. (2000) é que existe uma solução genérica, independente das condições
de contorno, para o problema axissimétrico em deformação plana generalizada de tal
forma que a única alteração seria o cálculo das constantes que aparecem na solução das
tensões. Por outro lado, TING (1999) considera carregamentos independentes e utiliza o
princípio da superposição. Soluções alternativas são encontradas em LEKHNITSKII
(1981) e TING (1996), sendo o segundo o único, no conhecimento do autor, que
utilizou o formalismo de Stroh.
Considerando um tubo cilíndrico anisotrópico submetido a um carregamento
mecânico axissimétrico e assumindo a hipótese de deformação plana generalizada, o
campo de tensões deve depender apenas da coordenada radial. Logo, as equações de
equilíbrio podem ser definidas por

d σrr σrr − σθθ


+ =0 (5.16)
dr r
d σr θ σr θ
+2 =0 (5.17)
dr r
d σrz σrz
+ =0 (5.18)
dr r

Note que os valores médios são assumidos, representados pela notação ... ,

enfatizando que as tensões macroscópicas são referentes ao cilindro homogeneizado.


Pelas duas últimas equações, conclui-se

a1
σr θ = (5.19)
r2
a2
σrz = (5.20)
r

150
onde a1 e a2 são contentes que devem ser obtidas pelas condições de contorno. Como
apenas a pressão interna e os carregamentos nas extremidades são considerados, não
pode haver força de cisalhamento nas paredes internas e externas do tubo.
Consequentemente, σr θ = σrz = 0 qualquer que seja r , o que é equivalente a

dizer que a1 = a2 = 0 .
A abordagem clássica utiliza funções de tensões para determinar a componentes
do tensor das tensões (LEKHNITSKII, 1981; CHEN et al., 2000), mas de forma
alternativa, TING (1999) assumiu que as componentes da deformações podem ser
escritas como

duz
ezz = =ξ (5.21)
dz
ur
eθθ = (5.22)
r
dur
err = (5.23)
dr

1 du θ
ez θ = = γr (5.24)
2 dz
1 du z
erz = (5.25)
2 dr

1  duθ uθ 
er θ =  −  (5.26)
2  dr r 

onde ξ e γ são constantes que representam extensão e rotação por unidade de


comprimento, respectivamente.
Utilizando a relação constitutiva,

−1 −1 −1 −1
ξ = Cɶ1111 σzz + Cɶ1122 σθθ + Cɶ1133 σrr + 2Cɶ1112 σθz (5.27)
−1 −1 −1 −1
γr = Cɶ1211 σzz + Cɶ1222 σθθ + Cɶ1233 σrr + 2Cɶ1212 σθz (5.28)

151
Manipulando as Eq.(5.27), obtém-se

1
σzz =
ξ
−1
Cɶ1111

−1
Cɶ1111
(Cɶ1122
−1 −1
σθθ + Cɶ1133 −1
σrr + 2Cɶ1112 σθz ) (5.29)

1  Cɶ−1 

σθz =  γr − 1211 ξ − β1222 σθθ − β1233 σrr (5.30)
2β1212  −1
Cɶ1111 

−1 −1 ɶ −1 ɶ−1
onde βijkl = Cɶijkl − (Cɶ11ij / C 1111 )C 11kl . Nesse ponto é necessário obter a distribuição

das tensões σθθ e σrr e as constantes γ e ξ para resolver o problema. A solução

da componente normal na direção radial da tensão é (CHEN et al., 2000)

σrr = a3 + a 4r + a5r k −1 + a6r −k −1 (5.31)

onde k = (β1212 β3333 − β33122 ) / β1212 β2222 − β22122 . Da primeira equação de


equilíbrio

σθθ = a3 + 2a4r + a5kr k −1 − a6kr −k −1 (5.32)

Usando a compatibilidade geométrica, obtém-se

 ɶ −1 −1 −1 
 C 1112 (β3312 − β2212 ) − β1212 (Cɶ1133 − Cɶ1122 ) 
a3 =  ξ (5.33)
 (β β − β
2
) − (β β − β
2
) 
 3333 1212 3312 2222 1212 2212 

 
 2β2212 − β3312 
a4 =  γ (5.34)
 (β β − β
2
) − 4(β β − β
2
) 
 3333 1212 3312 2222 1212 2212 

Logo, nesse ponto é necessário calcular quatro constantes para obter a


distribuição completa das tensões: γ , ξ , a5 e a6 .

152
Considerando que o vaso de pressão está submetido apenas a uma pressão
interna p , as seguintes condições de contorno precisam ser satisfeitas

σrr r = Ri
= −p (5.35)

σrr r = Re
=0 (5.36)

onde Ri e Re são os raio interno e externo, respectivamente.


Manipulando a Eq.(5.31), pode-se obter

p − a3 [(Ri / Re )−k −1 − 1] − a 4 [(Ri / Re )−k −1 Re − Ri ]


a5 = (5.37)
(Ri / Re )−k −1 Re k −1 − Ri k −1

p − a3 [(Ri / Re )k −1 − 1] − a 4 [(Ri / Re )k −1 Re − Ri ]
a6 = (5.38)
(Ri / Re )k −1 Re −k −1 − Ri −k −1

Dessa forma, todas as constantes necessárias são obtidas como função da rotação
e da extensão por unidade de comprimento. Duas condições complementárias são
necessárias para definir completamente as distribuições de tensões, onde o Princípio de
Saint-Venant é considerado. Nesse trabalho, adotou-se as condições discutidas por
MARTINS et al. (2014): extremidades abertas, fechadas e restritas, onde a última
equivale a hipótese de deformação plana ( ξ = γ = 0 ). Para deixar a notação clara, a
partir dessa etapa, a condição de extremidade restrita será chamada de deformação
plana, dessa forma a hipótese adotada fica evidente e ainda inclui casos estremos para
tubos longos. Para as outras configurações, as equações adicionais de equilíbrio
necessárias são

2π Re

∫∫ σzz rdrd θ = N (5.39)


0 Ri

153
2π Re

∫∫ σθz r 2drd θ = 0 (5.40)


0 Ri

onde N = 0 para vasos abertos e N = pπRi 2 para vasos fechados. Note que, de forma
geral, a distribuição normal não é uniforme ao longo da espessura nem para
carregamento axial puro por requerimentos de equilíbrio (VIGNOLI & KENEDI, 2016).

5.3. Critério de Falha de Tsai-Wu

O critério de falha é um ponto essencial para a modelagem de materiais


compósitos, sendo fundamental para definir os ângulos de laminação ótimos e a máxima
pressão interna para vasos de pressão. Nesse estudo, o critério de Tsai-Wu é aplicado
baseado nos resultados do WWFE (HINTON et al. 2004; SODEN et al. 2004;
KADDOUR & HINTON, 2013). Este critério foi originalmente proposto para ser
aplicado a qualquer material anisotrópico (TSAI & WU, 1971; LIU & TSAI, 1998;
KURAISHI et al., 2002) e pode ser escrito de forma genérica como

fTW = H ij σij + H ijkl


'
σij σkl (5.41)

'
onde os tensores H ij e H ijkl dependem da resistência da lâmina e da direção das fibras.

Considerando que as resistências são definidas em coordenadas do material, como


apresentado no Capítulo 3, as seguintes operações de rotação de tensores precisam ser

realizadas: H ij = λik λjl hkl e H ijkl


'
= λipλjq λkr λls hpqrs
'
, da mesma forma que foi feito

anteriormente com o tensor de rigidez. As componentes não-nulas dos tensores hkl e


'
hpqrs são

1 1
h11 = − (5.42)
t c
S11 S11

154
1 1
h22 = h33 = − (5.43)
t c
S 22 S 22

1
'
h1111 = (5.44)
t c
S11S11

1
'
h2222 = h3333
'
= (5.45)
t c
S22S 22

1
'
h1212 = h1221
'
= h2112
'
= h2121
'
= h1313
'
= h1331
'
= h3113
'
= h3131
'
= (5.46)
4(S12 )2

1
'
h2323 = h2332
'
= h3223
'
= h3232
'
= (5.47)
4(S23 )2
'
h1122 = h2211
'
= h1133
'
= h3311
'
= α12 (5.48)
'
h2233 = h3322
'
= α23 (5.49)

Os parâmetros α12 e α23 podem ser estimados como (LIU & TSAI, 1998;
MAIARÚ et al., 2017)

1
α12 = − (5.50)
t c t c
2 S11S11S 22S22

1
α23 = − (5.51)
t c
2S 22S22

Uma discussão sobre a influência desses parâmetros é apresentada por LI et al.,


(2017).
Alternativamente, a função de falha pode ser calculada como função das
deformações como

fTW = H ijC ijpq epq + H ijkl


'
C ijpqC klrs epq ers (5.52)

155
Definir a falha como função das deformações é conveniente nesse estudo por
três razões: a continuidade das deformações para resultar em deslocamentos
geometricamente compatíveis; as deformações efetivas calculadas no tubo
homogeneizado são similares às deformações do tubo real (KALAMKAROV &
GEORGIADES, 2002); as componentes das deformações são diretamente calculados
utilizando o tensor de flexibilidade equivalente.

5.4. Resultados e Discussão

A influência da direção da lâmina (α), da espessura da parede do tubo e da


fração volumétrica das fibras é discutida considerando diferentes condições de
contorno. As propriedades mecânicas dos constituintes, i.e. fibra e matriz, são
apresentadas na Tabela 5.1. As condições de contorno são analisadas de formas
independentes, visto que a definição se as extremidades do vaso serão abertas, fechadas
ou restritas é usualmente uma condição de projeto relacionada ao tipo de aplicação e o
objetivo do presente estudo é apresentar uma discussão sobre aspectos relevantes à
otimização. Para todos os casos estudados, a espessura da lâmina é de 0.125mm e o raio
interno do vaso é de 150mm.

Figura 5.2: Curvas de nível da máxima pressão interna admissível de acordo com α e
Vf para n = 5 e n = 10 para extremidade restrita (deformação plana).

156
Figura 5.3: Curvas de nível da máxima pressão interna admissível de acordo com α e
Vf para n = 5 e n = 10 para extremidade aberta.

Tabela 5.1: Propriedades da fibra e da matriz (KADDOUR & HINTON, 2012).


Fibra de Carbono (T300)

E1f [GPa] E 2f [GPa] f


G12 [GPa] f
G23 [GPa] f
ν 12 S tf [MPa] Scf [MPa]

231 15 15 7 0.2 2500 2000


Matriz de Epóxi (8551-7)

E m [GPa] νm S tm [MPa] Scm [MPa] S sm [MPa]

4.08 0.38 99 130 57

As Figuras 5.2-4 mostram as curvas de nível para a máxima pressão permitida


sem que ocorra dano em nenhuma camada de acordo com a fração volumétrica de fibra
e a direção das lâminas. Configurações diferentes são analisadas considerando três
diferentes condições de contorno das extremidades e dois números de repetições da
célula unitária ao longo da espessura, [±α]n: n = 5 e n = 10. Esse tipo de análise é útil
para ilustrar a combinação ótima e suas variações. Em relação a pressão máxima, a
condição de extremidades abertas indica a maior variação do ângulo ótimo, 85º ≤ α ≤
90º (Figura 5.2). Considerando extremidades restritas e fechadas, as Figuras 5.2,4
mostram que α = 90º e α ≅ 55º, respectivamente, são os ângulos ótimos quase que
independentemente da espessura do vaso. Esta comparação indica que o ângulo ótimo

157
pode ser definido, com boa precisão, independentemente do número de camadas e da
fração volumétrica de fibras, dependendo apenas das condições de contorno da
extremidade. VIGNOLI & SAVI (2018a) apresentam resultados que indicam que o tipo
de fibra também não influência no ângulo ótimo.

Figura 5.4: Curvas de nível da máxima pressão interna admissível de acordo com α e
Vf para n = 5 e n = 10 para extremidade fechada.

Figura 5.5: Variação da pressão máxima para o início do dano de acordo com n e Vf

para extremidade restrita (deformação plana).

158
Figura 5.6: Variação da pressão máxima para o início do dano de acordo com n e Vf

para extremidade aberta.

Figura 5.7: Variação da pressão máxima para o início do dano de acordo com n e Vf

para extremidade fechada.

Para a condição de deformação plana, α = 90º pode ser entendido como


consequência do carregamento adicional, i.e. força normal e a torção, nas extremidades
para manter as deformações fora do plano nulas. Para extremidades fechadas, α ≅ 55º
indica que a fibra desempenha o principal papel nesse tipo de vaso, sendo a principal
responsável por resistir ao carregamento, como na modelagem clássica de vasos finos

159
(CHRISTENSEN, 2005). Por outro lado, ara extremidades abertas, percebe-se uma
variação de aproximadamente 5º no valor do ângulo ótimo, que é entre 85º e 90º.
O aumento do número de lâminas resulta em um aumento significativo da
pressão máxima que o vaso suporta, assim como aumentar a fração volumétrica das
fibras. Para analisar isso, a variação da máxima pressão de acordo com a fração
volumétrica e o número de camadas é mostrada nas Figuras 5.5-7. Apenas um ângulo α
é selecionado para cada condição de extremidade (a seleção é feita baseando-se nos
valores ótimos apresentados nas Figuras 5.2-4). Esses resultados indicam a semelhança
entre duas abordagens distintas de projeto: aumentar a fração volumétrica em cada
lâmina ou aumentar o número de lâminas. Note que essa conclusão só pode ser afirmada
considerando a modelagem de falha inicial, sem propagação de dano.

160
6 COMPÓSITOS INTELIGENTES

O presente capítulo tem o objetivo de investigar a aplicação de compósitos feitos


com materiais inteligentes, especificamente ligas com memória de forma (Shape
Memory Alloys - SMAs), resultando em um compósito denominado SMAC (Shape
Memory Alloy Composite). Dois mecanismos diferentes tornam as SMAs especialmente
atraentes para determinadas aplicações de engenharia: a pseudoelasticidade e o efeito de
memória de forma (Shape Memory Effect - SME) (LAGOUDAS, 2008; SAVI et al.,
2016). Essencialmente, as propriedades singulares das SMAs estão associadas a
transformação de fase que pode ser induzida tanto por tensão quanto por temperatura.
Basicamente, duas fases estão presentes nas ligas: austenita e martensita. A austenita é
estável a altas temperaturas em um estado livre de tensões. Por sua vez, a martensita é
estável em baixas temperaturas, livre de tensão, mas pode apresentar diferentes
variantes associadas aos campos de tensão.
Antes de dar prosseguimento a análise desses fenômenos, torna-se útil introduzir
um modelo constitutivo para uma melhor compreensão de discussão que virá a seguir.
Para isso, o modelo de Brinson (BRINSON, 1993) é utilizado. É preferível a utilização
do modelo de Brinson ao modelo de Tanaka (TANAKA & NAGAKI, 1982; TANAKA,
1985) pela separação das frações volumétricas martensíticas em uma parcela induzida
por tensão e uma induzida por temperatura. Uma detalhada revisão sobre os modelos
constitutivos de SMA é apresentada por PAIVA & SAVI (2006).
O modelo constitutivo unidimensional de Brinson pode ser escrito como

σ − σ 0 = (E ε − E0ε 0 ) − ε R (E βσ − E 0 βσ ) − Θ(T − T0 ) (6.1)


0

onde E = E (β ) = EA + β (EM − EA ) é o módulo de elasticidade equivalente da liga,

EA é o módulo de elasticidade da austenita, EM é o módulo de elasticidade da

martensita, β = βT + βσ é a fração volumétrica da martensita, sendo βT a martensita

induzida por temperatura (maclada) e βσ a martensita induzida por tensão (não-

maclada), ε R é a máxima deformação que a liga consegue recuperar por carregamento

161
térmico, Θ é o coeficiente de expansão térmica e T é a temperatura. O índice inferior
“0” é utilizado para denotar o estado inicial antes da aplicação do carregamento.
Para a modelagem das evoluções das frações volumétricas de martensíta, define-
se: aM = 2 ln(10) / (Ms − M f ) , aA = 2 ln(10) / (Af − As ) , bM = aM / C M ,

bA = aA / C A , AM = π / (Ms − M f ) , AA = π / (Af − As ) . Utilizando esses

parâmetros, as equações de evolução das transformações de fase são definidas nas


seguintes três condições distintas:
(i) a transformação de austenita para martensita se

σ scr + C M (T − M s ) < σ < σ fcr + C M (T − M s ) e T > Ms

1 − βσ   1 + βσ
0  π cr  0
βσ = cos  [σ − σ f − C M (T − M s )] + (6.2)
2 cr cr
σ s − σ f  2

 βσ − βσ 
βT = βT 1 − 0  (6.3)
0  1 − βσ 
 0 

(ii) a transformação de austenita para martensita se σ scr < σ < σ fcr e T < Ms

1 − βσ  π  1 + βσ
βσ = 0
cos  (σ − σ cr
f
)+ 0
(6.4)
2  σ cr − σ cr  2
 s f 

 βσ − βσ 
βT = βT  1 − 0 +∆ (6.5)
0   T
1 − βσ
 0 

onde

1 − βT T < T0

∆T =  2
0
 M ( (
 cos a T − M
f )) + 1 if 
M f < T < Ms (6.6)
 0 else


162
(iii) a transformação de martensita para austenita se
C A(T − Af ) < σ < C A(T − As ) e T > As

βσ    σ   
 +1
   (6.7)
0
βσ =  cos a 
A
T − AS

2   C
   A  
βT    σ   
 +1
   (6.8)
0
βT =  cos a 
A
T − As

2  
  C A  

Tabela 6.1: Propriedades do modelo de SMA da Brinson (PAIVA & SAVI, 2006).
Temperaturas de
Propriedades do Material Parâmetros do Modelo
Transformação
EA = 67GPa M f = 282K C M = 8MPa / K

EM = 26.3GPa M s = 291.4K C A = 13.8MPa / K

Θ = 0.55MPa / K As = 307.5K σ scr = 100MPa

ε R = 0.067 Af = 322K σ cr
f
= 170MPa

Para explicar os fenômenos de pseudoelasticidade e memória de forma,


considera-se que o material tem as propriedades listadas na Tabela 6.1. Para a
temperatura inicialmente constante, considera-se para dois casos distintos: T = 288K e T
= 333K. Em ambos os casos assume-se que não há tensão residual. Um carregamento
uniaxial é aplicado até que a tensão seja igual à 600MPa e posteriormente é removido.
Os caminhos desses carregamentos são ilustrados na Figura 6.1. Para T = 288K, no
estado inicial a microestrutura é martensítica do tipo maclada e quando o carregamento
mecânico e aplicado ocorre a reorientação da martensita, se tornando do tipo não-
maclada. Todavia, quando o carregamento é removido, a reorientação reversa da
microestrutura não acontece, resultando em uma deformação residual εR que só pode

ser eliminada por um carregamento térmico. Por outro lado, para T = 333K a
microestrutura é inicialmente austenítica e a aplicação carregamento mecânico resulta

163
em uma transformação de fase para martensita não-maclada. Para esse caso, quando o
carregamento é removido a transformação reversa ocorre e não há deformação residual.
O primeiro caso, para T = 288K, exemplifica o fenômeno de memória de forma e o
segundo, para T = 333K, o de pseudoelasticidade.

Figura 6.1: Relação termomecânica do SMA para os fenômenos de pseudoelasticidade e


memória de forma.

6.1. Modelo Constitutivo para SMAC

Utilizando o modelo de Brinson apresentado na seção anterior, a seguir é


mostrado a aplicação do mesmo para o caso de compósitos híbridos, ainda assumindo a
hipótese unidimensional. Consequentemente, a análise a seguir é aplicável à uma barra
de SMAC.
O modelo constitutivo das fibras de SMA foi apresentado anteriormente. Para a
matriz, assume-se que a mesma está em regime elástico linear e com as propriedades
dependentes da temperatura pelas seguintes relações (BERMAN & WHITE, 1996)

  2
4.6 1 −  T − 273   GPa se 294.1K ≤ T < 483K

Em =    210   (6.9)
  
se 73K < T < 294.1K
( )
 13.41 − 0.030T GPa

164
 se 294.1K ≤ T < 483K
α m
=
(
 32.195 − 0.0325T + 0.000217T
2
) (6.10)
(
 5.221 + 0.123T ) se 73K < T < 294.1K

onde E m = E m (T ) e α m = α m (T ) são o módulo de elasticidade e o coeficiente de


expansão térmica da matriz, respectivamente.
A compatibilidade geométrica, a hipótese de distribuição homogênea da
temperatura e a condição de equilíbrio na barra são definidas de forma incremental
como

d ε11 = d ε m = d ε SMA (6.11)

dT = dT m = dT SMA (6.12)

dσ 11 = (1 − VSMA )dσ m + VSMAdσ SMA (6.13)

Note que o índice inferior ressalta a hipótese de que apenas a direção


longitudinal da barra é modelada e que adota-se o índice superior para diferenciar os
constituintes.
As tensões na matriz e na fibra são calculadas como

dσ m = E md ε11 − E m α mdT (6.14)

dσ SMA = E SMAd ε11 − ε RE SMAd βσ − ΘSMAdT (6.15)

Substituindo na condição de equilíbrio e reorganizando, tem-se

dσ 11 = [E m (1 − VSMA ) + E SMAVSMA ]d ε11 − [ε RE SMAVSMA ]d βσ


(6.16)
− [E mα m (1 − VSMA ) − ΘSMAVSMA ]dT

Definindo

165
Eɶ = E m (1 − VSMA ) + E SMAVSMA (6.17)

εɶR = ε RVSMA (6.18)

ɶ = E m α m (1 − V
Θ ) − ΘSMAVSMA (6.19)
SMA

Pode-se reescrever e Eq.(6.16) como

ɶ ε − E SMAεɶ d β − Θ
dσ 11 = Ed ɶ dT (6.20)
11 R σ

Integrando

0 0
σ11 − σ 11 = (Eɶ ε11 − Eɶ 0ε11 ) − εɶR (E SMA βσ − E 0SMA βσ ) − (Θ
ɶT −Θ
ɶ T)
0 0 (6.21)
0

Comparando as Eq.(6.1-21) conclui-se que pode-se considerar um modelo


constitutivo equivalente para a barra de SMAC bastante similar ao da barra de SMA,
apenas sendo necessário computar propriedades equivalentes para o compósito.

Figura 6.2: Pseudoelasticidade para SMAC.

O estudo da pseudoelasticidade é considerado a seguir para uma temperatura


constante T = 333K, da mesma forma como mostrado anteriormente para o caso de uma
estrutura homogênea de SMA. A Figura 6.2 apresenta o gráfico tensão-deformação para
diferentes frações volumétricas de SMA, todos considerando que o carregamento

166
máximo aplicado é de 600MPa e posteriormente o mesmo é retirado. Note que VSMA→0
corresponde ao comportamento de uma barra feita apenas do material polimérico da
matriz e VSMA→1 à uma barra de SMA.

Figura 6.3: Pseudoelasticidade em SMAC para carregamentos que não resultam na


transformação de fase completa.

Focando na capacidade de dissipar energia resultante da transformação de fase


que caracteriza a pseudoelasticidade, a dissipação aumenta de acordo com VSMA, como
pode-se perceber pelo tamanho do laço de histerese. No entanto, essa conclusão é
verdadeira apenas para os casos em que o carregamento é alto o suficiente para resultar
em uma transformação de fase completa nas fibras de SMA para todos os compósitos.
Para faixas menores de carregamento, um valor menor de VSMA pode ser desejado,
como mostrado na Figura 6.3, para induzir alguma transformação de fase e dissipar
energia. Essa dependência do valor de VSMA no comportamento dinâmico da estrutura
resulta em características únicas de SMAC, tornando possível a dissipação de energia

167
pelo efeito pseudoelástico para uma faixa de carregamento bem inferior ao que seria
necessário para haver transformação de fase se a barra fosse constituída apenas por
SMA. Por exemplo, VIGNOLI et al.(2017) indicaram que uma variação de 0.1% na
fração volumétrica de SMA pode ser preponderante para uma estrutura ter uma resposta
periódica ou caótica quando submetida à um forçamento harmônico.
Para a memória de forma, devido ao carregamento termomecânico, uma outra
característica vantajosa do SMAC é percebida em relação ao SMA. Pensando no
exemplo do projeto de atuadores, para SMA é necessário construir dispositivos
acoplados a outros elementos elásticos. Por exemplo, considerando que o SMA tenha
uma deformação inicial residual εR , durante a atuação aplica-se um carregamento

térmico para haver a deformação resultante da reorientação da microestrutura e quando


o carregamento é removido a estrutura volta a sua posição inicial por causa do elemento
elástico acoplado. Para SMAC, a própria matriz já atua como elemento elástico
restaurando a posição inicial após a remoção do carregamento térmico.

Figura 6.4: Primeiro ciclo de aquecimento para o efeito de memória de forma.

A Figura 6.4 mostra a deformação de acordo com o carregamento térmico. Note


que ao aplicar um carregamento térmico, a própria interação entre os constituintes
resulta em um carregamento mecânico; i.e. a fibra tende a ter uma deformação negativa
para eliminar a sua deformação residual pré-existente, comprimindo a matriz, enquanto
a matriz tende a se expandir, tracionando a fibra. Para entender melhor como ocorre
essa transferência de carga interna no SMAC, a Figura 6.5 mostra como evolui a fração

168
volumétrica de martensita não-maclada e a tensão na fibra de SMA para cada
compósito. Esses gráficos indicam que a microestrutura não sofre uma transformação
completa para baixas frações de SMA mesmo para carregamentos térmicos elevados.

Figura 6.5: Detalhe do comportamento da fibra de SMA durante o carregamento


térmico.

Figura 6.6: Deformação da barra e a tensão nas fibras de SMA durante o carregamento
térmico completo.

Utilizando esses resultados como base, a seguir considera-se apenas as frações


volumétricas de SMA iguais a 0.30, 0.45 e 0.60 para uma discussão complementar. A
Figura 6.4 mostra a deformação apenas do primeiro ciclo térmico, a deformação para
ciclos posteriores é apresentada nas Figuras 6.6-7. Duas etapas são consideradas: a
partir da temperatura inicial (T = 288K), um incremento de temperatura é aplicado para
obter a reorientação da microestrutura e posteriormente a temperatura na barra é

169
restaurada até a temperatura ambiente novamente. O primeiro ciclo apresenta uma
característica diferente dos demais por contar com uma distribuição de carga interna.
Quando o carregamento térmico é retirado e a temperatura volta a ser igual a
temperatura ambiente, a fibra e matriz ficam agora com uma tensão residual uma vez
que a grande deformação resultante da memória de forma não é restaurada pela matriz.
Para indicar essa diferença, o primeiro ciclo é indicado por linhas pontilhadas nos
gráficos. A partir dessas figuras conclui-se que uma maior faixa de atuação de
deformação é obtida para menores valores de VSMA apesar de ser necessária uma
temperatura maior para reorientar a microestrutura do SMA. Note que a faixa de
atuação deve ser avaliada pelos ciclos posteriores, não pelo primeiro.

Figura 6.7: Evolução temporal das frações volumétricas de martensita e da deformação


de acordo com a temperatura.

6.2. Estudo da Aplicação de SMAC para Diminuir Impactos Estruturais de


Terremotos

170
Atividades sísmicas são fenômenos naturais que podem ter consequências
catastróficas. Desde o ano 2000, foram registrados entre 1300 e 2500 terremotos por
ano ao redor do mundo com magnitude maior do que 5 na escala Richter (Figura 6.8),
resultando em uma média de 50102 mortes por ano (U.S. Geological Survey, 2019).
Algumas discussões adicionais sobre danos resultantes de terremotos podem ser
encontrados em PADGETT et al. (2008) e DESROCHES et al. (2011). Por causa disso,
estruturas resistentes à terremotos têm uma importância especial na tentativa de
diminuir os danos resultantes.

2500

5.0-5.9
2000
6.0-6.9
7.0-7.9
8.0+

1500

1000

500

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Figura 6.8: Quantidade de terremotos por ano ao redor do mundo (U.S. Geological
Survey, 2019).

Para pontes, DESROCHES et al. (2000) sugerem utilizar restrições nas


articulações, enquanto XU (2007) recomenda a utilização de amortecedores
viscoelásticos nas bases. Uma discussão aprofundada sobre a aplicação de
amortecedores viscoelásticos é apresentada por XU (2009) e XU et al. (2017).
Uma abordagem alternativa é acoplar algum dispositivo em uma estrutura já
existente. YEGHNEM et al. (2009) e COLALILLO & SHEIKH (2012) colaram
compósitos em colunas e paredes para aumentar a resistência e a rigidez. KIM &
JEONG (2016) utilizaram placas de aço que podem deslizar sobre a superfície da

171
estrutura e assim dissipar energia por atrito. ERÖZ & DESROCHES (2008) também
propuseram dispositivos que dissipam energia por atrito.
Estruturas com rigidez e amortecimento variáveis também são uma alternativa
explorada na literatura. SAHASRABUDHE & NAGARAJAIAH (2005) desenvolveram
um dispositivo composto por quatro molas. O mesmo é capaz de alterar a direção das
molas por controle ativo e com isso variar a rigidez de acordo com a condição de
carregamento.
O uso de materiais inteligentes é uma alternativa de destaque para estrutura
resistentes à terremotos, principalmente SMA (CARDONE & DOLCE, 2009; YANG et
al., 2010; QIAN et al., 2013; ASGARIAN et al., 2016) pela sua rica possibilidade de
resposta devido à não-linearidades do sistema, resultando em uma alta capacidade de
dissipação de energia (SAVI, 2015). A pseudoelasticidade tem uma alta capacidade de
dissipação de energia pela histerese transformação oriunda do transformação de fase
sem ter deformação residual (BARATA & CORBI, 2002).
KHODAVERDIAN et al. (2012) e ZHANG & ZHU (2007) propõem
dispositivos para a dissipar energia por atrito onde alguns membros são conectados por
fios de SMA, tendo como resultado um duplo mecanismo de dissipação. Outros
materiais inteligentes também têm sido aplicados com esse propósito, como
magnetoreológicos (XU & GUO, 2006; LI et al., 2013) e piezoelétricos (LU & Lin,
2009). Uma discussão sobre alternativas de controle para essas aplicações é apresentada
por RABIEE & CHAE (2019).
Entretanto, considerando todos os materiais inteligentes, SMA é o que apresenta
mais vantagens para essa aplicação, principalmente SMAC; para uma detalhada
discussão sobre SMAC, ver LESTER et al. (2015). BILLAH & ALAM (2012)
investigaram uma estrutura híbrida onde colunas de concreto foram reforçadas com
barras de SMA e barras de polímeros reforçados com fibras de carbono. ZAFAR &
ANDREWES (2015) apresentaram um estudo parecido, mas utilizaram fibras de vidro.
ABOU-ELFATH (2017) utilizaram SMA e aço para braços de reforços transversais.
Essa última abordagem pode ser vantajosa por ter dissipação tanto pela
pseudoelasticidade quanto por plasticidade, mas pelos resultados apresentados pelos
autores não é possível entender a influência de cada forma de dissipação.

172
Para avaliar o efeito de cada constituinte de um compósito, faz-se necessário um
estudo paramétrico detalhado que só pode ser realizado de forma analítica e numérica
por causa do grande número de variáveis envolvidas (TSAI & MELO, 2014; VIGNOLI
et al., 2019a). Apesar de existirem alguns artigos indicando que a estrutura pode resistir
forma mais eficaz ao carregamento sísmico com SMA (DULCE et al., 2005;
BOROSCHEK et al., 2007; JOHNSON et al., 2008; SHRESTHA et al., 2015) e com
SMAC (NEHDI et al., 2010), um estudo paramétrico detalhado é uma ferramenta
fundamental para entender a resposta estruturas para projetos com SMAC.
Estruturas resistentes a terremotos são geralmente analisadas a partir de modelos
arquétipos como os quadros de n andares (SAADAT et al., 2001; OZBULUT et al.,
2011). Reforçar a estrutura com o uso de braços nas diagonais é especialmente atraente
devido facilidade de acoplamento. YAN et al. (2013) apresentaram estudos numéricos e
experimentais de estruturas de três andares com braços diagonais de SMA, comparando
quatro condições diferentes: sem nenhum reforço, com reforço no primeiro andar, com
reforço nos dois primeiros andares e com reforço em todos os andares. Apesar da adição
de reforços diagonais em mais de um andar diminuir a amplitude da oscilação, é difícil
mensurar a variação da fração volumétrica de martensita, e, portanto, não é possível
concluir se a melhora do desempenho da estrutura se deve à pseudoelasticidade ou
simplesmente ao aumento da rigidez.
Esta seção trata da análise dinâmica de uma estrutura resistente à terremotos,
construída com reforços nas diagonais de SMAC. Um modelo de uma estrutura de um
andar sujeito a cargas sísmicas é estudado. A dinâmica não-linear de um modelo de
ordem reduzida representado por oscilador de um grau único de liberdade é analisada
considerando a força de restituição fornecida pelo SMAC. A análise micromecânica
permite a obtenção de um modelo macroscópico para a resposta do SMAC. Uma análise
paramétrica é realizada para avaliar a influência da fração volumétrica de SMA. Além
disso, a influência do tipo de matriz é discutida considerando dois tipos de matrizes: um
polímero linear-elástico e um alumínio elastoplástico. Apesar da maior dificuldade de
fabricar SMAC com matrizes metálicas, existe na literatura um exemplo de aplicação
para esse tipo de material (FREED & ABOUDI, 2009), além da possiblidade de avaliar
o efeito da plasticidade da matriz na resposta do compósito.

173
Destaca-se que tanto a matriz polimérica quanto a metálica podem apresentar
comportamento dependentes da taxa de carregamento (viscoelástico e viscoplástico),
assim como o SMA. Todavia, por simplicidade, assume-se que os efeitos dependentes
das taxas são desconsiderados para o presente estudo, assim como possíveis efeitos
térmicos que podem ser oriundos da transformação de fase do SMA. Adicionalmente, a
liga de SMA deve ser selecionada de acordo com a temperatura de trabalho; possíveis
variações muito grande de temperatura, como em caso de contato com fogo ou neve,
podem resultar na inibição da pseudoelasticidade uma vez que as faixas de tensões
críticas que resultam na transformação de fase são dependentes da temperatura. A
possibilidade de unir o SMA e outras fibras (por exemplo, vidro e carbono) também é
investigada, avaliando a influência da rigidez elástica. Uma discussão detalhada sobre
variação da tensão, da deformação, da fração volumétrica de martensita, do
deslocamento e da energia dissipada ao longo do tempo é apresentada, permitindo uma
compreensão adequada do comportamento do sistema.
A estrutura está sujeita à uma excitação de base que representa os dados de
aceleração do terremoto El Centro (18 de maio de 1940 - Imperial Valley, EUA), que
teve magnitude 7.1 na escala Richter. Simulações numéricas mostram a grande
capacidade de dissipação de energia do SMAC, estabelecendo as condições ideais de
projeto e a vantagem do uso de materiais compósitos.

6.2.1. Modelo Constitutivo do SMA

Recentemente, alguns avanços consideráveis no desenvolvimento de modelos


constitutivos de SMA podem ser encontrados na literatura (CISSE et al., 2016;
OLIVEIRA et al., 2016; OLIVEIRA et al., 2018), assim como alguns modelos
simplificados para obter uma rigidez e um amortecimento equivalente, comparando a
energia dissipada pela histerese presente no comportamento pseudoelástico com a
energia dissipada por um amortecedor viscoso (GHODKE & JANGID, 2016). Para o
presente estudo, utiliza-se a modificação proposta por ENEMARK et al. (2014) para o
modelo da Brinson. A diferença é a forma em que a evolução da fração volumétrica de
martensita é descrita, como será apresentado a seguir.

174
Assumindo que deseja-se modelar apenas a pseudoelasticidade, βT = 0; ou seja,

β = βσ + βT = βσ . Considerando o carregamento trativo e compressivo, assume-se


−1 ≤ β ≤ 1, onde o valor negativo representa a compressão. A transformação de austenita

para martensita ( A → M ± ), que originalmente era definida por um cosseno, é agora


definida pelo intervalo σ fs ≤| σ sma |≤ σ ff , onde os limites são σ fs = CM (T − Ms ) e

σ ff = CM (T − M f ) , e a fração volumétrica de martensíta é calcula como

β = β0 + [sign(σ sma ) − β0 ] f M (σ sma ) (6.22)

(
f M (σɶ ) = f σɶ , n1f , n2f ) (6.23)

onde σɶ = ( σ sma − σ fs ) / (σ ff − σ fs ) e os parâmetros n1f e n 2f são ajustados de acordo

com dados experimentais. Baseando-se em ENEMARK et al. (2014), as curvas de


Bézier podem ser definidas de forma genérica como

 1 2
 2 s1 if 0 ≤ σɶ ≤ b
f (σɶ , n1 , n2 ) =  (6.24)
 1 − 1 s 2 if b < σɶ ≤ 1
2
 2
1
b= ( n1 − n2 + 1) (6.25)
2

−n1 + n12 + (b − 2n1)σɶ


s1 = (6.26)
b − 2n1

n2 − n22 − (b + 2n2 −1)(1 − σɶ )


s2 = (6.27)
b + 2n2 −1

De forma similar, a transformação reversa ( M ± → A ) é definida no intervalo


σ rf ≤ σ sma ≤ σ rs , onde σ rf = CA (T − Af ) e σ rs = CA (T − As ) . A fração volumétrica
de martensita é calculada como

175
β = β0 f A(σsma ) (6.28)

(
f A (σɶ ) = f σɶ , n1r , n2r ) (6.29)

onde a função de endurecimento é novamente definida utilizando as curvas de Bézier


definida pela Eq.(6.24), mas utilizando σɶ = ( σ sma − σ rf ) / (σ rs − σ rf ) e os parâmetros

n1r e n 2r .

A principal vantagem da utilização das curvas de Bézier ao invés do cosseno é a


possibilidade de explicitar a solução da deformação em função da tensão na Eq.(6.1).
Consequentemente, a implementação da solução numérica da equação diferencial do
movimento pelo método de Runge-Kutta se torna computacionalmente mais eficiente.
Assumindo uma deformação prescrita de taxa constante, a variação da tensão e
da fração volumétrica de martensita e a curva tensão-deformação são apresentadas na
Figura 6.9 utilizando as propriedades listadas na Tabela 6.2.

Tabela 6.2: Propriedades do modelo de SMA da Brinson modificado (ENEMARK et


al., 2014; ALVES et al., 2018).
ε R [%] EA [GPa ] EM [GPa ] C A [ MPa/º C] C M [MPa/º C ]

4.08 44.5 25.8 7.70 11.84

As [ºC ] Af [ºC ] M s [ºC ] M f [ºC ]

0.8 17 11.8 -6.5

n1f n 2f n1r n 2r

0.286 0.001 0.166 0.280

Um ciclo de histerese completo está associado à uma dissipação de energia de


7285 kJ/m3. No entanto, subloops internos dissipam menos energia e não estão
associados de forma diretamente proporcional à β . Durante o processo de
carregamento e descarregamento, existem duas energias distintas: a energia elástica e
energia dissipada por pseudoelasticidade. Para analisar a energia decorrente desse

176
processo, são considerados três casos de carregamento diferentes, associados à ciclos
distintos (Figura 6.10). Inicialmente, o SMA é submetido a uma carga elástica, até P1 e,
em seguida, completamente descarregado. O segundo caso considera uma
transformação de fase incompleta até o ponto P2, onde β = 0.5 . Por último, o terceiro
caso está associado com a transformação completa de fase até o ponto P3, onde β = 1 .

Figura 6.9: Evolução temporal da tensão e da fração volumétrica de martensita e curva


tensão-deformação.

Figura 6.10: Curvas tensão-deformação de SMA representando sub-loops.

A energia por volume é calculada a partir da área sob a curva tensão-


deformação, que é realizada por integração numérica pela regra dos trapézios
(RUGGIERO & LOPES, 2000). Numericamente, energia é adicionada durante o
processo de carregamento (tensão ou compressão) e subtraída durante o processo de
descarregamento. A Figura 6.11 apresenta a variação da energia total por volume,

177
juntamente com as evoluções temporais da tensão e da fração volumétrica de
martensita. As linhas verdes horizontais tracejadas representam a energia dissipada pela
pseudoelasticidade. A energia dissipada durante o primeiro ciclo elástico (P1) é zero,
pois não há transformação de fase, o que significa que toda a energia armazenada é
liberada durante o descarregamento, sem dissipação. Por outro lado, quando ocorre a
transformação de fase, existe uma diferença entre a energia antes e depois do ciclo.
Observe que o segundo ciclo (P2) tem uma dissipação de 2475 kJ/m3. Finalmente, o
último ciclo associado à transformação de fase completa (P3) tem uma dissipação
calculada pela diferença entre os dois níveis de energia representados pelas duas linhas
verdes tracejadas (9760 - 2475 = 7285 kJ/m3), que é exatamente o valor calculado da
área do ciclo de histerese.

Figura 6.11: Energia total, tensão e fração volumétrica de martensita ao longo do tempo
para os carregamentos apresentados na Figura 6.10 com deformação prescrita.

6.2.2. Modelo Constitutivo da Matriz

A modelagem da matriz considera duas possibilidades distintas: uma matriz


epóxi, com comportamento linear e elástico, e uma matriz de alumínio, com
comportamento elastoplástico. De forma geral, ambas podem ser descritas pelo modelo

genérico elastoplástico (assumindo a deformação plástica, εmp , nula para o epóxi) como

σ m = Em (ε m − ε mp ) (6.30)

178
Note para a matriz com comportamento elástico (epóxi) ε mp = 0 .
O comportamento elastoplástico assume que a superfície de escoamento tem
uma combinação de endurecimento isotrópico, α , e cinemático, q , que pode ser
representado pelas sequintes leis de fluxo (SIMO & HUGHES, 1997; SOUZA NETO et
al., 2008)

εɺmp = γ h sign(σ m − q ) (6.31)

qɺ = γ h sign(σ m − q ) (6.32)

αɺ = γ (6.33)

A superfície de escoamento é representa pela seguinte condição

Fm (σ m , q, α ) = σ m − q − (Sy + K α ) ≤ 0 (6.34)

onde K é o módulo plástico, h é o módulo de endurecimento cinemático e S y é a

resistência ao escoamento.

Tabela 6.3: Propriedades das matrizes (AURICCHIO & PETRINI, 2004; FREED &
ABOUDI, 2009).

Matriz Em [GPa] S y [MPa] h [GPa] K [GPa]

Epóxi 3.45 - - -

Alumínio 72.4 300 5 33.7

As condições de Kuhn-Tucker e de consistência são expressas como

γ ≥ 0 , Fm (σ m , q, α ) ≤ 0 , γ Fm (σ m , q, α ) = 0 (6.35)

γ Fɺm (σ m , q, α ) = 0 se Fm (σ m , q, α ) = 0 (6.36)

179
As propriedades das matrizes, alumínio e epóxi, são listadas na Tabela 6.3.

6.2.3. Modelo Constitutivo do Compósito Homogeneizado

Baseando-se nos modelos constitutivo do SMA da matriz, é possível escrever a


seguinte relação constitutiva para o compósito

σ = σ 0 + (Eε − E0*ε 0 ) − εR(E *β − E0*β ) (6.37)

(0 )
onde E = Vsma Esma + (1 − Vsma )Em , E * = Vsma Esma , E 0* = Vsma Esma e

σ 0 = V f σ sma
0
− Em ε mp .

De uma forma geral, pode-se reescrever a relação constitutiva do compósito


como

σ = Eε − εRE *β − f0 (6.38)

onde f0 = (σ 0 − E 0*ε 0 + ε RE 0* βS ) .
0

6.2.4. Modelo Dinâmico da Estrutura

A investigação de estruturas submetidas à carregamentos sísmicos é realizada


utilizando um modelo arquétipo de um grau de liberdade submetido à aceleração da
base. A Figura 6.12 ilustra o modelo estrutural com a geometria inicial composta por
um andar sobre suas colunas de altura H com dois bracos de SMAC nas diagonais de
comprimento L . O sistema equivalente é também representado. Assumindo o
deslocamento relatívo u = u − ug , onde ug é o deslocamento da base, a equação de

movimento é

180
uɺɺ + 2ξωn uɺ + ωn2u + aσ cos θ = −uɺɺg (6.39)

onde ωn = 2k / m , ξ = c / mωn , a = 2Ab / m e Ab é a área da seção transversal dos

braços. Note que β = β (σ ) e σ = σ(Vsma , ε ) são definidos pelas equações constitutivas

apresentadas anteriormente.
Pela análise cinemática, a relação entre a deformação nos braços de SMAC, ε, e
o deslocamento relativo da massa concentrada, u , é dada por

∆L (u − ug )cos θ  u 
ε= = =   sin θ cos θ (6.40)
L (H / sin θ ) H 

Usando a relação constitutiva do SMAC apresentada na Eq.(6.38), pode-se


reescrever a Eq.(6.39) como

 E  
uɺɺ + 2ξωn uɺ + ωn2 + a   sin θ cos 2 θ  u − aε RE * cos θβS = −uɺɺg − af0 cos θ (6.41)
 H  

A equação de movimento é resolvida numericamente utilizando o método de


Runge-Kutta de quarta ordem seguindo o procedimento indicado por SAVI (2015).

Figura 6.12: Modelo dinâmico com um grau de liberdade.

181
Figura 6.13: Aceleração de base do El Centro (Vibrationdata, 2019).

Figura 6.14: Deslocamento relativo máximo da estrutura elástica sem os


reforços.

O caso estudado considera a aceleração de base do terremoto El Centro, em 18


de maio de 1940, no Imperial Valley, Estados Unidos, com magnitude 7.1 na escala
Richter, apresentado na Figura 6.13. Como diferentes tipos de estruturas podem estar
submetidas ao mesmo terremoto, um estudo paramétrico inicial é relizido para avaliar o
caso mais crítico. Assumindo que a dissipação intrínseca de estruturas reais pode ser
representada por amortecedor viscoso com ξ = 0.1 , a estrutura sem os braços diagonais
de reforços é considerada inicialmente. O objetivo é definir a frequência natural que
associada à maior amplitude de resposta para o carregamento do El Centro. A Figura
6.14 mostra o deslocamento relativo máximo, em valor absoluto, de acordo com a
frequência natural para ξ = 0.1 . Baseando-se nesse análise, pode-se concluir que o caso

182
mais crítico ocorre para ωn = 0.78rad / s , que será utilizado para todas as simulações

futuras.
Utilizando como base o desenvolvimento teórico apresentado anteriormente,
quatro parâmetros são necessários para a análise da estrutura com os braços de reforços:
ωn , ξ , a e Vsma . A frequência natural, ωn , e a dissipação, ξ , são consideradas

conhecidas (ver Figura 6.14). A fração volumétrica de SMA, Vsma , e o parâmetro a ,

que estabelece uma relação entre a área da seção transversal dos braços e a massa, são
consideradas variáveis de projeto.

Figura 6.15: Deslocamento relativo ao longo do tempo para os casos limites (matriz

pura, Vsma → 0.0 , e SMA puro, Vsma → 1.0 ) para a = 10−10,10−9, 10−8 .

Inicialmente, apenas SMAC com matriz epóxi é considerado, com dois casos
limites de fração volumétrica de SMA: Vsma → 0.0 e Vsma → 1.0 . Note que

183
Vsma → 0.0 é equivalente ao braço sem SMA enquanto Vsma → 1.0 é uma barra de

SMA. Destaca-se que há uma limitação da fração volumétrica de SMA assumindo a


distribuição de fibras em um compósito (BARBERO, 2018), todavia esse caso limite é
útil para avaliar diretamento o efeito da pseudoelasticidade.

Figura 6.16: Evolução temporal da martensita para Vsma → 1.0 .

Figura 6.17: Curvas tensão-deformação para Vsma → 1.0 .

Para a matriz de epóxi, considera-se nesta etapa a = 10−10,10−9, 10−8 . A Figura

6.15 apresenta o deslocamento relativo para esses casos com Vsma → 0.0 e

Vsma → 1.0 . Para o caso limite de Vsma → 1.0 , a Figura 6.16 apresenta a evolução

temporal da fração volumétrica de martensita, a Figura 6.17 as curvas tensão-


deformação correspondentes e a Figura 6.18 a energia e a energia por unidade de

184
volume de acordo com o tempo. Para a energia, destaca-se que a mesma considera a
energia elástica armazenada nos braços, que tem característica oscilatória, e a dissipada
pela pseudoelasticidade (transformação de fase), que apresenta saltos irreversíveis. A
diferença entre a energia e a energia por unidade de volume na Figura 6.17 ilustram a
importância do parâmetro a . Com esses resultados, 10−8 ≤ a ≤ 10−9 é a faixa escolhida
para estudo aprofundado, uma vez que o efeito do SMA não é significativo para alterar
a amplitude do movimento para a = 10−10 .

Figura 6.18: Energia total e energia por unidade de volume para cada braço para
Vsma → 1.0 .

Figura 6.19: Influência de a e Vsma no deslocamento relativo máximo para braços de


SMAC com matriz de epóxi (esquerda) e alumínio (direita).

185
A seguir é apresentada a comparação entre o SMAC com matriz de epóxi e de
alumínio. A Figura 6.19 apresenta o deslocamento relativo máximo de acordo com a e

Vsma para a matriz de epóxi (esquerda) e de alumínio (direita). Os resultados permitem


concluir que:
i) o compósito com matriz epóxi é mais sensível a esses parâmetros do que o de
matriz de alumínio;
ii) a amplitude mínima, relacionada com a condição ótima de projeto, é similar
para ambas as matrizes, mas com diferentes combinações dos parâmetros a e Vsma ;
iii) os resultados da matriz epóxi tendem a ser melhores para frações
volumétricas de SMA mais altas, enquanto para a matriz de alumínio não é possível
perceber uma tendencia tão evidente.

Figura 6.20: Deslocamento relativo máximo de acordo com Vsma para a matriz epóxi.

Para uma análise mais compreensiva, a Figura 6.20 mostra o deslocamento


máximo relativo de acordo com Vsma para a matriz de epóxi com alguns valores
selecionados de a . Apesar da dificuldade de se identificar padrões na variação de
amplitude baseando-se nas Figuras 6.19-20 por causa da não-linearidade da resposta,

186
três comportamentos principais são destacados: a amplitude não tem uma variação
significativa para 1× 10−9 ≤ a ≤ 2 × 10−9 ; um comportamento mais complexo ocorre para

3 × 10−9 ≤ a ≤ 6 ×10−9 ; para 7 × 10−9 ≤ a ≤ 10 × 10−9 existe um platô a partir de um

determinado valor de Vsma .

Figura 6.21: Deslocamento relativo e curvas tensão-deformação para braços de matriz


epóxi com a = 2 × 10−9 e Vsma = 0.4, 0.6, 0.8 .

O projeto de estruturas com SMA para resistir à terremotos deve ser capaz de
avaliar as energias elástica e a dissipada por unidade de volume, relacionada a
transformação de fase, e as energias totais, integradas em todo o volume da estrutura.
Duas estruturas diferentes são consideradas para ilustrar esse cenário. A primeira tem
um braço de SMAC com uma menor área, resultando em uma menor influência na
estrutura. A Figura 6.21 mostra esse primeiro exemplo com a = 2 × 10−9 para
Vsma = 0.4, 0.6, 0.8 . Apesar da curva tensão-deformação serem diferentes, a área e

ainda muito pequena para diminuir significativamente a amplitude da resposta.


Aumentando o parâmetro a esse comportamento começa a mudar. A Figura 6.22 mostra
os resultados para a = 5 × 10−9 , enquanto a Figura 6.23 mostra os resultados para
a = 9 × 10−9 . A transformação de fase se inicia em um nível menor de tensão para
valores menores de Vsma , mas dissipam menos energia. Comparando Vsma = 0.6 e

Vsma = 0.8 para a = 9 × 10−9 , percebe-se que as amplitudes são bem próximas. Apesar

187
da histerese ser maior para Vsma = 0.8 do que para Vsma = 0.6 se houver transformação
completa, os sub-loops influenciam de forma decisiva na resposta do sistema. Este
comportamento complexo é caracterizado por três mecanismos concorrentes: o nível de
tensão para iniciar a transformação de fase, a histerese e a porcentagem de fase
transformada, sendo este último responsável por definir o tamanho dos sub-loops.

Figura 6.22: Deslocamento relativo e curvas tensão-deformação para braços de matriz


epóxi com a = 5 × 10−9 e Vsma = 0.4, 0.6, 0.8 .

Figura 6.23: Deslocamento relativo e curvas tensão-deformação para braços de matriz


epóxi com a = 9 × 10−9 e Vsma = 0.4, 0.6, 0.8 .

A seguir, o SMAC com matriz de alumínio é estudado. A Figura 6.24 apresenta


uma análise paramétrica mostrando o deslocamento relativo máximo em relação à
fração de volume da SMA e diferentes valores do parâmetro a. Observe que, para

188
braços com áreas menores, a energia dissipada devido à plasticidade da matriz é mais
significativa do que a dissipação devido à transformação de fase da SMA. O
comportamento do plástico deve ser destacado, a fim de identificar o principal motivo
da considerável alteração na resposta do sistema.

Figura 6.24: Deslocamento relativo máximo de acordo com Vsma para a matriz
de alumínio.

Figura 6.25: Deslocamento relativo ao longo do tempo para braços de SMAC


com matriz de alumínio com a = 1× 10−9 e Vsma = 0.4, 0.5, 0.8 .

189
Figura 6.26: Evolução da fração volumétrica de martensíta ao longo do tempo para
braços de SMAC com matriz de alumínio com a = 1× 10−9 e Vsma = 0.4, 0.5, 0.8 .

Figura 6.27: Curvas tensão-deformação para braços de SMAC com matriz de


alumínio com a = 1× 10−9 e Vsma = 0.4, 0.5, 0.8 .

As Figuras 6.25-27 mostram variação da deslocamento e da fração volumétrica


de martensíta ao longo do tempo, juntamente com as curvas tensão-deformação. No

190
término do terremoto, uma deformação residual é observada no deslocamento relativo,
assim como uma grande influência de β induzido por compressão devido à tendência
assimétrica resultante de plasticidade da matriz.
O deslocamento residual associado à matriz de alumínio é apresentado na Figura

6.28 para todas combinações estudadas de a e Vsma . A Figura 6.29 ilustra de forma

destacada o deslocamento residual para a = 1× 10−9 . Este resultado mostra a


complexidade relacionada ao projeto de materiais compósitos: variando apenas Vsma e
mantendo todos os outros parâmetros constantes, pode-se ter um deslocamento residual
positivo, negativo ou nulo.

Figura 6.28: Deslocamento residual para braços com matriz de alumínio.

Figura 6.29: Deslocamento residual para braços com matriz de alumínio e a = 1× 10−9 .

191
Figura 6.30: Curvas tensão-deformação para braços com matriz de alumínio com
a = 4 × 10−9 e Vsma = 0.0, 0.5,1.0 .

Figura 6.31: Curvas tensão-deformação para braços com matriz de alumínio com
a = 10 × 10−9 e Vsma = 0.0, 0.2,1.0 .

Apesar da complexidade associada ao projeto com materiais compósitos, pode-


se ilustrar uma vantagem significativa avaliando a mudança de desempenho de acordo
com a fração volumétrica de SMA. A Figura 6.30 mostra que para a = 4 × 10−9 , o
compósito com Vsma = 0.5 resulta em uma menor amplitude do que o braço feito
exclusivamente de alumínio ou de SMA. Uma conclusão similar pode ser obtida

192
avaliando a Figura 6.31: para a = 10 × 10−9 , o braço com Vsma = 0.2 é o que tem a
menor amplitude. Note que essas conclusões também podem ser obtidas analisando a
Figura 6.24, mas com estas figuras adicionais é possível obter um melhor entendimento
com as curvas tensão-deformação ao longo de todo o período de tempo avaliado.
A análise desenvolvida até agora considera braços de compósitos construídos
por uma matriz homogênea (epóxi ou alumínio) e fibras de SMA. Deve-se ressaltar que
isso implica em uma diferença considerável entre os módulos de elasticidade de ambas
as matrizes (o alumínio é cerca de 20 vezes mais rígido que o epóxi). Além disso,
assume-se a capacidade de escoamento do alumínio, que é negligenciada para o epóxi.
A plasticidade da matriz aumenta a dissipação de energia, apesar do inevitável problema
de deslocamento residual.

Figura 6.32: Influência de a e Vsma no deslocamento máximo em um braço de


compósito híbrido com Eeq = 72.4GPa .

Baseando-se nisso, é importante avaliar a influência da rigidez do braço, sem


nenhum efeito adicional, como plasticidade. Para tal, um compósito híbrido é
considerado, em que SMA é adicionado à matriz epóxi com outras fibras elásticas (por
exemplo, carbono ou vidro), aumentando o módulo de elasticidade, denominado como
SMAHC (Shape Memory Alloy Hybrid Composite). Uma modificação simples deve ser
feita para descrever esse novo compósito híbrido: Vm + V f + Vsma = 1 , onde V f é a

fração volumétrica da fibra elástica adicional. Além disso, um módulo de elasticidade

193
equivalente do conjunto matriz e fibras elásticas pode ser calculado como
Eeq = EmVm + E f V f , onde E f é o módulo de elasticidade longitudinal da fibra

(VIGNOLI et al., 2019a).

Figura 6.33: Comparação entre o deslocamento relativo máximo para compósitos com
fibras de SMA e matriz de epóxi e de alumínio e o compósito híbrido.

Considerando essas alterações, a influência dos parâmetros a e Vsma no


deslocamento relativo máximo da estrutura reforçada com braços de SMAHC é
apresentado na Figura 6.32. Note que o módulo de elasticidade equivalente é igual ao
módulo de elasticidade do alumínio para uma comparação direta com a Figura 6.19. A
Figura 6.33 apresenta uma análise comparativa da variação da amplitude de acordo com
Vsma para a = 5 × 10−9 e a = 10 × 10−9 considerando as matrizes de epóxi e de alumínio e
os compósitos híbridos. Ambas as figuras destacam a capacidade dos SMAHC de
diminuir a amplitude do movimento, acrescentando a vantagem de não resultar em
nenhum deslocamento residual.

194
7 CONCLUSÕES

A modelagem multiescala de materiais compósitos unidirecionais é um


procedimento indispensável no projeto de estruturas laminadas, principalmente
tratando-se de otimização, tanto de custo quanto do ponto de vista mecânico requisitado
para cada aplicação. O estudo apresentado visa contribuir para o desenvolvimento dessa
abordagem.
O Capítulo 2 faz uma revisão dos modelos micromecânicos analíticos existentes
na literatura para o cálculo das propriedades elásticas efetivas, propondo um novo
modelo. Depois, estabelece-se uma comparação entre modelos com 188 dados
experimentais. A regra das misturas é recomendada para estimar E1 e ν12 com erros

médios de 4.7% e 12.7%, respectivamente. Uma modificação da regra das misturas é


proposta para estimar as propriedades E 2 , G12 e G23 , resultando em erros médios de

11%, 13.6% e 7.2%, respectivamente. Uma comparação entre a regra das misturas
modificada proposta e o modelo de homogeneização assimptótica considerando uma
simetria quadrada, mostra que foram os dois modelos que obtiveram as melhores
estimativas. Os resultados indicam que o modelo proposto tem a vantagem de precisar
apenas de 8 equações para ser implementado, enquanto para homogeneização
assimptótica são necessárias 43 equações. Todavia, o modelo de homogeneização
assimptótica tem a vantagem de não conter parâmetros calibrados e ser válido para
quaisquer constituintes.
O Capítulo 3 apresenta uma revisão dos modelos micromecânicos analíticos para
cálculo das resistências, propondo alguns modelos que aprimoram as estimativas
existentes na literatura. Na sequência, apresenta-se uma comparação com 157 dados
experimentais obtidos na literatura. Para as resistências à tração e à compressão
longitudinal há uma redução na resistência estimada pela regra das misturas de 8% e
20%, respectivamente, por causa de danos e irregularidades durante a fabricação. As
estimativas propostas resultam em erros médios de 12.5% para tração e 15% para
compressão. Uma forma fechada para estimar a resistência ao cisalhamento longitudinal
(no plano) é obtida utilizando o modelo de cilíndricos concêntricos generalizados e
resulta no menor erro médio considerando o início do dano utilizando 10 curvas

195
experimentais de tensão-deformação de cisalhamento. Para as resistências à tração e à
compressão transversal considera-se que os responsáveis pela falha são a densidade de
energia de dilatação crítica (tração) e a resistência da interface (compressão), que
podem ser estimadas como valores médios de uvc = 0.18MPa e S i = 65MPa e resultam
erros médios de 27.4% e 22.1%. Para a resistência ao cisalhamento transversal,
s
demonstra-se que estimar S 23 = S sm resulta em um erro médio de 7.1%.

O Capítulo 4 investiga a aplicação do modelo micromecânico desenvolvido para


o problema de uma placa com furo circular, utilizando o formalismo de Stroh para
solução analítica das tensões e o critério de Puck para definição de falha. A falha de
laminados com entalhe tende a se iniciar pelo dano na matriz tanto para fibras de
carbono quanto para fibras de vidro com carregamento uniaxial. Para laminados com
fibras de vidro, mesmo para um carregamento compressivo a matriz pode falhar sob
tração na região próxima ao entalhe.
O Capítulo 5 faz uma análise multiescala em vasos de pressão, apresentando
uma sequência adicional de homogeneização. As lâminas são utilizadas para calcular as
propriedades efetivas de um laminado do tipo angle-ply pela técnica de
homogeneização assimptótica. O formalismo de Lekhnitskii é utilizado para o cálculo
das tensões e deformações e o critério de Tsai-Wu para estimar a falha. Demonstra-se
que a condição ótima da direção das fibras para projeto de vasos de pressão laminados
do tipo angle-ply são insensíveis ao número de camadas e à fração volumétrica de
fibras, embora tenha uma grande variação de acordo com as condições de contorno das
extremidades.
O Capítulo 6 apresenta um estudo sobre compósitos inteligentes, considerando
laminados com fios de SMA ao invés das tradicionais fibras de vidro e de carbono.
Inicialmente discutem-se as vantagens de utilizar um compósito de SMA para explorar a
pseudoelasticidade e a memória de forma, e na sequência um estudo de caso para
aplicação em estruturas submetidas à terremotos é apresentada. Para compósitos
inteligentes, diminuir a fração volumétrica de SMA pode aumentar a amplitude de
atuação para um SMAC considerando o efeito memória de forma, mas necessita de uma
maior temperatura para transformação de fase. SMAC apresentam vantagens em relação
ao uso de SMA para estruturas submetidas à terremotos porque o SMAC pode iniciar a

196
transformação de fase para faixas de carregamentos menores. SMAHC mostram grande
capacidade de diminuir danos resultantes de terremotos, indicando um melhor
desempenho do que SMAC com matriz epóxi ou de alumínio porque consegue
aumentar a rigidez do sistema e eliminar o problema de tensão residual por causa da
deformação plástica da matriz.
Para continuação da investigação apresentada, sugerem-se os seguintes temas:
i) comparação dos modelos propostos com novos conjuntos de dados
experimentais;
ii) desenvolvimento de modelos que possam considerar efeitos de tensões
residuais e de propagação do dano na microescala em laminados unidirecionais;
iii) estudo do carregamento tridimensional aplicados à modelos micromecânicos
que incluam a propagação do dano;
iv) desenvolvimento de modelos tridimensionais para SMAC;
v) avaliar a influência da temperatura na matriz para aplicação de atuadores com
memória de forma utilizando SMAC;
vi) incluir o efeito da taxa de carregamento na aplicação de SMAHC para
terremotos.

197
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