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PROJETO DE PILARES-PAREDE SEGUNDO A NBR 6118:2014

(BREVES NOTAS E EXEMPLO DE CÁLCULO)

Petrus Gorgônio B. da Nóbrega, Prof. Dr.


DARQ - CT - UFRN
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Campus Universitário, Natal-RN 59078-970
petrus.nobrega@ufrn.br

Lattes: http://lattes.cnpq.br/8546876805965263
ResearchGate: https://www.researchgate.net/profile/Petrus_Nobrega

Sumário
Pág.
1. Definição de pilar-parede 01
2. Consideração do pilar-parede como uma barra 02
3. Esforços solicitantes e seus efeitos no pilar-parede 02
4. Dispensa da análise dos efeitos localizados de 2ª ordem 04
5. Consideração aproximada dos efeitos localizados de 2ª ordem 04
6. Cálculo da esbeltez do pilar-parede 05
7. Detalhamento da armadura 06
8. Metodologia de cálculo dos pilares-parede por outras normas 06
9. Referências principais 07

1. Definição de pilar-parede
A seção 14.4.2.4 da NBR 6118:2014 enuncia o conceito dos pilares-parede:
“Elementos de superfície plana ou casca cilíndrica, usualmente dispostos na vertical
e submetidos preponderantemente à compressão. Podem ser compostos por uma
ou mais superfícies associadas. Para que se tenha um pilar-parede, em alguma
dessas superfícies a menor dimensão deve ser menor que 1/5 da maior, ambas
consideradas na seção transversal do elemento estrutural.”
Observe-se que os pilares-parede não são classificados como barras, diferentemente das
vigas, pilares, arcos e tirantes, feitas nas seções 14.4.1.1 a 14.4.1.4. Esta definição,
orientada pelo aspecto geométrico, também está explicitada na seção 18.5. Assim, têm-se
as seguintes relações para o pilar e para o pilar-parede, simples e composto:
b1
h1
h

b2

b h2
Projeto de pilares-parede segundo a NBR 6118:2014 P.G.B. Nóbrega, junho/2022

Composto:
Simples: h1  5 b1
Pilar
h5b e
h2  5 b2
Composto:
Simples h1 > 5 b1
Pilar-parede
h5b e/ou
h2 > 5 b2
Figura 1. Relações geométricas da seção transversal do pilar e do pilar-parede.

2. Consideração do pilar-parede como uma barra


Embora o pilar-parede seja uma superfície, sua representação no modelo estrutural pode
ser admitida por uma barra (elemento linear), segundo a seção 15.9.1.
“Para que os pilares-parede possam ser incluídos como elementos lineares no
conjunto resistente da estrutura, deve-se garantir que sua seção transversal tenha
sua forma mantida por travamentos adequados nos diversos pavimentos e que os
efeitos de 2ª ordem locais e localizados sejam convenientemente avaliados. A
análise dos efeitos locais deve ser realizada conforme 15.8.”
São duas condições a serem atendidas:
a) Travamentos adequados nos pavimentos;
b) Efeitos de 2ª ordem locais e localizados avaliados.
A seção 15.9.1 destaca, ademais, que a análise local deve ser realizada conforme 15.8,
que é aquele que rege o cálculo de pilares isolados submetidos à flexo-compressão, de
seção e armadura constantes ao longo de seu eixo. Trata-se de um conjunto extenso de
prescrições abordando em síntese quatro metodologias de cálculo.
Existe ainda a seção 14.8.1, que também menciona a possibilidade de consideração do
pilar-parede como barra:
“Para a consideração de uma viga-parede ou um pilar-parede como componente de
um sistema estrutural, permite-se representá-lo por elemento linear, desde que se
considere a deformação por cisalhamento, e um ajuste de sua rigidez à flexão para o
comportamento real.”
Todavia, a NBR 6118:2014 não menciona qualquer valor referente a esse ajuste.

3. Esforços solicitantes e seus efeitos no pilar-parede


A citação dos esforços solicitantes e dos seus efeitos no pilar-parede apresenta-se em
18.5:
“No caso de pilares cuja maior dimensão da seção transversal exceda em cinco
vezes a menor dimensão, além das exigências constantes nesta subseção e em
18.4, deve também ser atendido o que estabelece a Seção 15, relativamente a
esforços solicitantes na direção transversal decorrentes de efeitos de 1ª e 2ª ordens,
em especial dos efeitos de 2ª ordem localizados.”

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Inicialmente, cabe destacar que a distinção entre efeito de 1ª ordem e de 2ª ordem,


segundo a definição clássica, é que os efeitos de 1ª ordem são obtidos na análise
estrutural considerando a estrutura na posição indeformada da estrutura, e para os efeitos
de 2ª ordem admite-se a configuração deformada (daí, novos esforços solicitantes surgem
e os já determinados aumentam de valor).
Definição análoga está claramente manifestada na seção 15.2:
“Efeitos de 2ª ordem são aqueles que se somam aos obtidos em uma análise de
primeira ordem (em que o equilíbrio da estrutura é estudado na configuração
geométrica inicial), quando a análise do equilíbrio passa a ser efetuada
considerando a configuração deformada.”
Evidentemente, qualquer pilar ou pilar-parede estará submetido a uma força normal e
momentos fletores, segundo a maior e a menor direção de sua seção transversal, os
quais são calculados pela análise global da estrutura (estes seriam os efeitos de 1ª ordem
globais). Existem ainda as forças cortantes e o momento torsor, que normalmente não
influenciam no dimensionamento deste elemento. Ainda da análise global, e considerando
as não linearidades física e geométrica, determinam-se os efeitos de 2ª ordem globais da
estrutura.
Posteriormente, quando do cálculo específico de cada pilar, faz-se uma análise isolada do
mesmo com a determinação dos efeitos locais de 2ª ordem, não devendo ser esquecidas
a ação das imperfeições geométricas (locais). Decorrem, por último, que pelo fato dos
pilares-parede serem uma superfície, é possível o aparecimento de efeitos de 2ª ordem
ainda maiores, chamados de efeitos localizados, estes inexistentes nos pilares comuns.
KIMURA (2016) apresenta uma didática ilustração do cálculo destes esforços,
apresentado a seguir, destacado que esta imagem se aplica aos pilares, existindo ainda
os efeitos localizados quando o elemento em estudo são os pilares-parede.

Figura 2. Parcelas do esforço total em pilares.


Uma discussão qualitativa sobre estes esforços e efeitos nos pilares encontra-se
explicitada na seção 15.4.1:
“Sob a ação das cargas verticais e horizontais, os nós da estrutura deslocam-se
horizontalmente. Os esforços de 2ª ordem decorrentes desses deslocamentos são
chamados efeitos globais de 2ª ordem. Nas barras da estrutura, como um lance de
pilar, os respectivos eixos não se mantêm retilíneos, surgindo aí efeitos locais de 2ª
ordem que, em princípio, afetam principalmente os esforços solicitantes ao longo
delas.
Em pilares-parede (simples ou compostos) pode-se ter uma região que apresenta
não retilineidade maior do que a do eixo do pilar como um todo. Nessas regiões
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surgem efeitos de 2ª ordem maiores, chamados de efeitos de 2ª ordem localizados


(ver Figura 15.3). O efeito de 2ª ordem localizado, além de aumentar nessa região a
flexão longitudinal, aumenta também a flexão transversal, havendo a necessidade de
aumentar a armadura transversal nessas regiões.”

Figura 2. Efeitos de 2ª ordem localizados.

4. Dispensa da análise dos efeitos localizados de 2ª ordem


Embora esteja clara a existência do efeito localizado de 2ª ordem no pilar-parede, existe a
possibilidade deste não ser considerado, de acordo com a seção 15.9.2 (dada a baixa
esbeltez do elemento):
“Os efeitos localizados de 2ª ordem de pilares-parede podem ser desprezados se,
para cada uma das lâminas componentes do pilar-parede, forem obedecidas as
seguintes condições:
a) a base e o topo de cada lâmina devem ser convenientemente fixados às lajes do
edifício, que conferem ao todo o efeito de diafragma horizontal;
b) a esbeltez  i de cada lâmina deve ser menor que 35, ...”

5. Consideração aproximada dos efeitos localizados de 2ª ordem


Em sendo a esbeltez de alguma lâmina do pilar-parede maior que 35, a consideração dos
efeitos localizados de 2ª ordem é obrigatória. A NBR 6118:2014, contudo, estabelece que
pode ser seguido um procedimento simplificado, caso seja atendida uma condição, de
acordo com a seção 15.9.3:
“Nos pilares-parede simples ou compostos, onde a esbeltez de cada lâmina que os
constitui for menor que 90, pode ser adotado o procedimento aproximado descrito a
seguir para um pilar-parede simples.”
A condição reside basicamente na esbeltez limite (i = 90) para cada lâmina. Se satisfeita
esta premissa, o procedimento consiste em dividir o pilar-parede em vários pilares
independentes e analisados de forma isolada (as faixas verticais). O efeito localizado é
“simulado” pela análise dos efeitos locais de 2ª ordem nas faixas verticais de cada lâmina.
“O efeito localizado de 2ª ordem deve ser considerado através da decomposição do
pilar-parede em faixas verticais, de largura ai, que devem ser analisadas como
pilares isolados, submetidos aos esforços Ni e Myid, onde

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ai = 3 h ≤ 100 cm
Myid ≥ M1d,mín, quando for adotado o momento mínimo de primeira ordem
para consideração das imperfeições geométricas
O efeito localizado de 2ª ordem em torno da menor dimensão de cada faixa i é
assimilado ao efeito local de 2ª ordem de um pilar isolado equivalente a ela, não
sendo necessário adotar valores de α b superiores a 0,6 nesta análise, quando M yid <
M1d,mín.”

Figura 3. Procedimento aproximado de avaliação dos efeitos localizados de 2ª ordem.

6. Cálculo da esbeltez do pilar-parede


Restou claro, dos itens anteriores, que a determinação da esbeltez das lâminas do pilar-
parede é imprescindível para determinar se a avaliação dos efeitos localizados de 2ª
ordem pode ser dispensada ou não, e em não sendo, se pode ser seguido o
procedimento aproximado. A seção 15.9.2 fornece as expressões para este cálculo.

Onde, para cada lâmina:


= é o comprimento equivalente;
= é a espessura.
O valor de depende dos vínculos de cada uma das extremidades verticais da lâmina:

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Figura 4. Cálculo da esbeltez das lâminas do pilar-parede.

7. Detalhamento da armadura
O capítulo 18 da NBR 6118:2014 é o que trata do detalhamento dos elementos lineares. A
seção 18.5 versa, especificamente, sobre os pilares paredes.
“No caso de pilares cuja maior dimensão da seção transversal exceda em cinco
vezes a menor dimensão, além das exigências constantes nesta subseção e em
18.4, deve também ser atendido o que estabelece a Seção 15, relativamente a
esforços solicitantes na direção transversal decorrentes de efeitos de 1ª e 2ª ordens,
em especial dos efeitos de 2ª ordem localizados.
A armadura transversal de pilares-parede deve respeitar a armadura mínima de
flexão de placas, se essa flexão e a armadura correspondente forem calculadas.
Caso contrário, a armadura transversal por metro de face deve respeitar o mínimo
de 25 % da armadura longitudinal por metro da maior face da lâmina considerada.”
Em resumo, tem-se a prescrição da continuidade de todas as exigências para os pilares
isolados, além da introdução de uma determinação mais rigorosa para a armadura
transversal, que passa a ser um percentual da longitudinal.

8. Metodologia de cálculo dos pilares-parede por outras normas


SALLABERRY (2021) fez um interessante trabalho de comparação das metodologias do
projeto de pilares-paredes segundo quatro normas internacionais: a brasileira NBR
6118:2014, a americana ACI 31819, a canadense CSA A23.3-14 e a europeia EN 1992-1-
1:2004. As figuras 5 e 6 expõem algumas comparações deste estudo.

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Projeto de pilares-parede segundo a NBR 6118:2014 P.G.B. Nóbrega, junho/2022
ABNT NBR 6118 ACI 318-19 CSA A23.3-14 Eurocode 2
Seções das normas que tratam dos pilares-parede
Há diretrizes acerca do dimensionamento Os pilares-parede são considerados Há diretrizes acerca do dimensionamento Os pilares-parede são considerados
das armaduras longitudinais e transversais como um tipo de parede estrutural dos pilares-parede, que é a seção 14.4. como paredes reforçadas de concreto
em uma seção específica para os pilares- "structural wall" no capítulo 2 da norma. Porém, nesta seção, não existem "reinforced concrete walls" no Anexo I
parede, que é a seção 18.5. Outras Logo, todas as diretrizes acerca desses especificações claras acerca das da norma. Não há especificações acerca
especificações são tratadas também nas elementos devem ser tomadas de acordo armaduras tranversais, sendo assim das dimensões e da armadura dos pilares
seções 13.2.3, 14.8.1, 15.9, 18.5 e com o especificado para as paredes tomadas aquelas relativas ao no Anexo I, sendo assim tomadas
24.6.1. estruturais. dimensionamento de paredes. aquelas relativas ao dimensionamento de
paredes.

Dimensões mínimas
Para ser considerado como pilar parede, Para ser considerada como parede Para ser considerada como parede Para ser considerada como parede
a menor dimensão de sua seção estrutural, a menor dimensão de sua estrutural, a menor dimensão de sua estrutural, a menor dimensão de sua
transversal deve ser menor do que 1/5 da seção transversal deve ser menor do que seção transversal deve ser menor do que seção transversal deve ser menor do que
maior (14.4.2.4). A espessura mínima de 1/3 da maior (2.3). Para paredes 1/6 da maior. Para paredes estruturais, a 1/4 da maior. Valores de dimensões
um pilar parede é de 19 cm, podendo se estruturais, a espessura mínima deve ser espessura mínima deve ser o maior valor mínimas não são especificados (9.6.1).
reduzir à 14 cm desde que se o maior valor entre 100 mm e 1/25 do entre 150 mm, lw/25 ou hu/25 (sendo lw
multipliquem os esforços solicitantes de menor valor entre a altura de travamento o comprimento da parede e hu a altura
cálculo a serem considerados no e o comprimento da parede estrutural de travamento da parede) (14.1.7.1).
dimensionamento por um coeficiente (11.3.1).
adicional γn, não se permitindo seção
transversal de área inferior a 360 cm²
(13.2.3).

Figura 5. Comparação de critérios de projeto de pilar-parede segundo diferentes normas.

ABNT NBR 6118 ACI 318-19 CSA A23.3-14 Eurocode 2


Armadura longitudinal mínima
A área mínima de armadura transversal A área de armadura longitudial deve ser
Para peças submetidas a um esforço
O diâmetro das barras longitudinais não deve ser 0,0015Ag (14.1.8.5). O superior à 0,002Ac e inferior à 0,04Ac.
cortante baixo (Vu < 0,5φαcλ√fc' Acv),
pode ser inferior a 10 mm nem superior a espaçamento máximo da armadura O espaçamento entre as barras
a áreas mínima de armadura longitudinal
1/8 da menor longitudinal deve ser o menor valor entre logitudinais não deve ser superior à 400
deve ser 0,0012Ag (11.6.1). O
dimensão transversal. O espaçamento 500 mm e 3 vezes a menor dimensão do mm ou 3 vezes a espessura da parede, o
espaçamento máximo varia entre paredes
mínimo livre entre as faces das barras pilar-parede (14.1.8.4). menor entre os valores (9.6.2).
moldadas in loco e pré-moldadas. Para
longitudinais deve ser o maior valor entre
as primeiras, deve ser o menor valor
20 mm, o diâmetro da barra e 1,2 vezes
entre 450 mm e 3 vezes a espessura da
o diâmetro do agregado graúdo.
parede (3h). Para as últimas, o valor
mínimo entre 5 vezes a espessura da
parede (5h) e 450 mm no caso de
paredes externas ou 750 mm para
paredes internas (11.7.2).

Armadura transversal mínima


A armadura transversal de pilares-parede Para peças submetidas a um esforço A área mínima de armadura transversal A área mínima de armadura transversal
deve respeitar a armadura mínima de cortante baixo (Vu < 0,5φαcλ√fc' Acv), deve ser 0,002Ag (sendo Ag a área deve ser o maior valor entre 25% da
flexão de placas, se essa flexão e a a áreas mínima de armadura transversal bruta da seção) (14.1.8.6). O armadura longitudinal e 0,001Ac (sendo
armadura correspondente forem deve ser 0,0025Ag. O espaçamento espaçamento máximo da armadura Ac a área da seção transversal de
calculadas. Caso contrário, a armadura máximo da armadura varia entre paredes transversal deve ser o menor valor entre concreto). O espaçamento entre as
transversal por metro de face deve moldadas in loco e pré-moldadas. Para 500 mm e 3 vezes a menor dimensão do barras tranversais não deve ser superior à
respeitar o mínimo de 25 % da armadura as primeiras, deve ser o menor valor pilar-parede (14.1.8.4). 400 mm (9.6.3).
longitudinal por metro da maior face da entre 450 mm e 3 vezes a espessura da
lâmina considerada. parede. Para as últimas, o valor mínimo
entre 5 vezes a espessura da parede e
450 mm no caso de paredes externas ou
750 mm para paredes internas (11.7.3).

Figura 6. Comparação de critérios de projeto de pilar-parede segundo diferentes normas.

9. Referências principais
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de
estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

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KIMURA, A. E. Cálculo de pilares de concreto armado – Introdução, visão geral &


exemplos. São Paulo: ABECE, 2016.
KIMURA, A. E.; FRANÇA, R. L. S. Exemplos de aplicação dos conceitos da seção 15:
dimensionamento de pilar-parede. In: BUERNO, S.; KIMURA, A. (coord). ABNT NBR
6118:2014: comentários e exemplos de aplicação. São Paulo: IBRACON, 2015. p. 311-
325.
SALLABERRY, A. N. Projeto de pilares-parede de concreto de acordo com as
normas NBR 6118:2014, ACI 318-19, CSA A23.3-14 e EN 1992-1-1:2004. 2021. 111 f.
Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de
Tecnologia, Curso de Engenharia Civil, Natal, 2021. Disponível em:
https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/37942

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Projeto de pilares-parede segundo a NBR 6118:2014 P.G.B. Nóbrega, junho/2022

8. Exemplo de cálculo
Os dados básicos de geometria e de ações são:

b x h = 20 cm x 120 cm
L = 320 cm (topo e base fixados às lajes dos pavtos)
cpilar = 3 cm

fck = 30 MPa

Momentos totais globais (1ª + 2ª ordem)


Nd = 4.244,2 kN (topo e base)
Mxd = + 348,6 kN.m (topo) e – 249,1 kN.m (base)
Myd = – 22,3 kN.m (topo) e + 23,7 kN.m (base)

a) Cálculo dos índices de esbeltez (seção 15.9.2)


=
= = 3,20 m (lâmina do tipo “1”)
Assim,
= = 9,2 (direção mais rígida, em torno do eixo x)

= = 55,4 (direção menos rígida, em torno do eixo y)

Conclusão: como a esbeltez do pilar-parede é maior que 35, os efeitos localizados de 2ª


ordem não podem ser dispensados (seção 15.9.2). Todavia, como ela é menor que 90,
pode ser adotado o procedimento aproximado (seção 15.9.3), o qual consiste na
decomposição do pilar parede em pilares isolados.

b) Cálculo dos momentos mínimos (seção 11.3.3.4.3)


( )
onde h é a altura da seção transversal na direção considerada, em metros.
Assim,
( ) = 216,4 kN.m (direção mais rígida, em torno
do eixo x)
( ) = 89,1 kN.m (direção menos rígida, em torno
do eixo y)

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Conclusão: em torno do eixo x os momentos atuantes são maiores que o mínimo, fato que
não ocorre em relação ao eixo y.

c) Análise local do pilar considerando os esforços oriundos da combinação ELU


Segundo 15.8.2:
“15.8.2 Dispensa da análise dos efeitos locais de 2ª ordem
Os esforços locais de 2ª ordem em elementos isolados podem ser desprezados
quando o índice de esbeltez for menor que o valor-limite 1 ...”
A expressão de cálculo de 1 e seus limites são:

O valor de 1 é fortemente influenciado pelo coeficiente de b, o qual procura levar em


conta o tipo de vinculação nos extremos do pilar, bem como a forma do diagrama de
momentos fletores. No cálculo de b aparecem as variáveis MA e MB.
Para pilares biapoiados sem cargas transversais (o presente caso):
com

MA e MB são os momentos totais (1ª ordem + 2ª ordem global), devendo-se adotar para
MA o maior valor absoluto ao longo do pilar biapoiado e para MB o sinal positivo, se
tracionar a mesma face que MA, e negativo, em caso contrário.
Iniciando os cálculos:

 Em torno do eixo x:
= 348,6 m = – 249,1 m
= = 0,0821 m

 =

Conclusão: como < , os efeitos locais de 2ª ordem podem ser


desprezados e = 139,4 kN.m (momento na seção
intermediária).

 Em torno do eixo y:
= – 22,3 m = + 23,7 m

= = 0,0056 m

Para o cálculo de b, a alínea (d) da seção 15.8.2 estabelece:


“para pilares biapoiados ou em balanço com momentos menores que o momento
mínimo estabelecido em 11.3.3.4.3: = .

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Assim,

Conclusão: como > , os efeitos locais de 2ª ordem devem ser


considerados. O momento de 1ª + 2ª ordem global em uma seção intermediária
corresponderia a = 23,7 kN.m, mas é imperativo adotar um
dos métodos previsto na seção 15.8.3 para o cálculo deste momento considerando
também o efeito local de 2ª ordem.

Método do pilar-padrão com rigidez  aproximada


 
√ √ ( )


 kN.m (momento na seção intermed.).

Em síntese, faz-se necessário definir a armadura do pilar a fim de que resista aos
esforços finais em uma seção no topo, no meio e na base do pilar, de respectivos valores
(efeitos de 1ª + 2ª ordem, global e local):

Seção Nd (kN) Mxd (kN.m) Myd (kN.m)


TOPO 4.244,2 + 348,6 – 22,3
INTERMEDIÁRIA 4.244,2 + 139,4 + 58,5
BASE 4.244,2 – 249,1 + 23,7

Vide imagens do cálculo do programa TQS, os quais confirmam os valores determinados


anteriormente.

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Figura 1. Efeitos de 1ª e 2ª ordem (global e local) em torno do eixo x.

Figura 2. Efeitos de 1ª e 2ª ordem (global e local) em torno do eixo y.

CONCLUSÃO DO ITEM (c)


A armadura que se revela necessária para suportar estes esforços pode ser adotada
como 820 (4 em cada face). A imagem do aplicativo Pcalc confirma que esta armadura
possibilita que a curva de resistência Rd englobe as situações de solicitação Sd.

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Figura 3. Simulação do pilar no aplicativo Pcalc considerando A s = 820.

d) Análise local do pilar considerando a imperfeição geométrica


Deve ser feita uma análise à flexão composta normal, em torno de cada um dos eixo, com
o momento mínimo (calculado no item b anterior).

 Em torno do eixo x:
= 216,4 kN.m (direção mais rígida, em torno do eixo x)
= = 0,0510 m

Conclusão: como < , os efeitos locais de 2ª ordem podem ser


desprezados e o será o próprio = 216,4 kN.m.

 Em torno do eixo y:
= 89,1 kN.m (direção menos rígida, em torno do eixo y)

= = 0,0210 m

Conclusão: como > , os efeitos locais de 2ª ordem devem ser


considerados para o cálculo de .

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Método do pilar-padrão com rigidez  aproximada


 
√ ( ) √ ( )


 kN.m = .

CONCLUSÃO DO ITEM (d)


A armadura que se revela necessária para suportar estes esforços pode ser adotada
como 2020 (10 em cada face). A imagem do aplicativo Pcalc confirma que esta
armadura possibilita que a curva de resistência R d englobe as situações de solicitação Sd
referentes às envoltórias mínimas de 1ª ordem.

Figura 4. Simulação do pilar no aplicativo Pcalc considerando A s = 2020.

e) Análise dos efeitos localizados


Sabendo-se que a esbeltez do pilar-parede = 55,4, os efeitos localizados de 2ª ordem
devem ser considerados, podendo-se adotar o processo aproximado descrito na seção
15.9.3 da NBR 6118:2014. A maior dimensão de cada faixa vertical corresponde a ai = 3 h
≤ 100 cm. Dado que a menor dimensão é 20 cm, ter-se-á duas faixas verticais com seção
20 x 60 cada.
Segundo o texto da norma, os efeitos localizados de 2ª ordem em torno da menor
dimensão de cada faixa “i” é substituído pela análise do efeito local de 2ª ordem de um
pilar isolado equivalente a esta própria faixa, não sendo necessário adotar valores de
superiores a 0,6 nesta análise, quando .

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Por último, observe-se que é necessário fracionar adequadamente os esforços


solicitantes no pilar-parede em cada uma destas duas faixas, as quais, somadas,
compõem o valor total. Perceba-se, para este “fracionamento”, que segundo a maior
direção o pilar-parede está submetido aos momentos M xd = + 348,6 kN.m (topo) e – 249,1
kN.m (base) os quais provocam o aumento ou a diminuição da força normal na divisão da
lâmina nas duas faixas verticais.

Figura 5. Esforços Nd e Mxd no pilar-parede antes da divisão nas faixas.


Assim, é necessário calcular uma força normal equivalente, para cada faixa vertical,
considerando esta composição entre a normal e o momento. Isto, inclusive, para o topo e
para a base. Daí, a normal a ser pega para toda a faixa vertical será a média entre estas
duas forças normais. Tem-se, de forma esquemática:

Figura 6. Esquemático da divisão dos esforços nas faixas.

Este cálculo das forças normais está muito próximo ao feito pelo TQS, ilustrado na figura
seguinte. O próximo passo consiste em calcular cada uma das faixas verticais como
pilares isolados.

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Projeto de pilares-parede segundo a NBR 6118:2014 P.G.B. Nóbrega, junho/2022

Figura 7. Força normal nas faixas.

e.1) Faixa 1
= = 55,4

= 2059,85 kN
= = – 11,15 kN.m

= = + 11,85 kN.m
( ) = 43,26 kN.m
Observação: Segundo a seção 15.9.3, como , não é necessário
adotar para a faixa o coeficiente superiores a 0,6.
= = 0,0210 m

Conclusão: como > , os efeitos locais de 2ª ordem devem ser


considerados para o cálculo de .

Método do pilar-padrão com rigidez  aproximada


 
√ ( ) √ ( )

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Projeto de pilares-parede segundo a NBR 6118:2014 P.G.B. Nóbrega, junho/2022


 kN.m.

Em síntese, têm-se os seguintes esforços nas seções.


Seção Nd (kN) Myd (kN.m)
TOPO 2059,85 – 11,15
INTERMEDIÁRIA 2059,85 + 51,23
BASE 2059,85 + 11,85

Vide imagens do cálculo do programa TQS, os quais confirmam os valores determinados


anteriormente.

Figura 8. Efeitos de 1ª e 2ª ordem (global e local) em torno do eixo y na Faixa 1.

Para atender exclusivamente os efeitos localizados de 2ª ordem, entretanto, basta adotar


os esforços correspondentes ao Nd = 2059,85 kN e MSd = M1d,mín,faixa1 = 43,26 kN.m no
topo (e zero na base, ou vice-versa), o que resulta um momento na seção intermediária
Md,tot,faixa1 = 51,23 kN.m.

CONCLUSÃO DO ITEM (e), faixa 1


A armadura que se revela necessária pode ser adotada como 620 (3 em cada face). A
imagem do aplicativo Pcalc confirma.

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Projeto de pilares-parede segundo a NBR 6118:2014 P.G.B. Nóbrega, junho/2022

Figura 9. Simulação do pilar no aplicativo Pcalc considerando A s = 620.

e.2) Faixa 2
= = 55,4

= 2184,25 kN
= = – 11,15 kN.m

= = + 11,85 kN.m
( ) = 45,87 kN.m
Observação: Segundo a seção 15.9.3, como , não é necessário
adotar para a faixa o coeficiente superiores a 0,6.
= = 0,0210 m

Conclusão: como > , os efeitos locais de 2ª ordem devem ser


considerados para o cálculo de .

Método do pilar-padrão com rigidez  aproximada


 
√ ( ) √ ( )


 kN.m.

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Projeto de pilares-parede segundo a NBR 6118:2014 P.G.B. Nóbrega, junho/2022

Em síntese, têm-se os seguintes esforços nas seções.


Seção Nd (kN) Myd (kN.m)
TOPO 2184,25 – 11,15
INTERMEDIÁRIA 2184,25 + 54,32
BASE 2184,25 + 11,85

Vide imagens do cálculo do programa TQS, os quais confirmam os valores determinados


anteriormente.

Figura 10. Efeitos de 1ª e 2ª ordem (global e local) em torno do eixo y na Faixa 2.

Para atender exclusivamente os efeitos localizados de 2ª ordem, entretanto, basta adotar


os esforços correspondentes ao Nd = 2184,25 kN e MSd = M1d,mín,faixa1 = 45,87 kN.m no
topo (e zero na base, ou vice-versa), o que resulta um momento na seção intermediária
Md,tot,faixa1 = 54,32 kN.m.

CONCLUSÃO DO ITEM (e), faixa 2


A armadura que se revela necessária pode ser adotada como 820 (4 em cada face). A
imagem do aplicativo Pcalc confirma. Destaca-se que uma armadura 620 não é
admissível, como a encontrada na faixa anterior, embora seja por muito pouco.

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Projeto de pilares-parede segundo a NBR 6118:2014 P.G.B. Nóbrega, junho/2022

Figura 9. Simulação do pilar no aplicativo Pcalc considerando A s = 620.

CONCLUSÃO DO ITEM (e)


Observando-se os resultados das faixas 1 e 2, ter-se-ia 1420 (7 em cada face), porém
dispostas de forma diferente, 620 na primeira lâmina e 820 na segunda lâmina, o que
se mostra inadequado do ponto de vista executivo, pois na armação esta disposição
poderia ser invertida.
Assim, o mais adequado seria estabelecer 1620 (8 em cada face).

CONCLUSÃO GERAL PARA A ARMADURA


A armadura que atende a todas as combinações de esforços e seus efeitos é 2020 (10
em cada face).

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