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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


EFLCH – Campus Guarulhos

Curso ABI Ciências Sociais


UC Pesquisa I (Código CSO 2603)
2º semestre/2021
Prof.ª Dr.ª Liana de
Paula
Monitor PAD Dhiego Carrera

SEGUNDA AVALIAÇÃO
Entrega via Google Classroom até 04/02/2022

Nome: Mirella Alvino Bastos

1 - Questão

O desenvolvimento acadêmico da carreira sociológica foi marcado por


sucessivas crises e debates acerca da produção de conhecimento científico. Sendo estes,
os temas centrais da obra “ O Ofício do Sociólogo”, realizada em conjunto por três
autores franceses, Pierre Bourdieu, Jean-Claude Chamboredon e J. C Passeron, a fim de
obter-se uma solução para o determinado contexto sociológico. É a partir da
enumeração, em capítulos, de três práticas essenciais para a pesquisa sociológica - a
ruptura, a construção e a constatação - que os autores irão dispor-se a solucionar a
problemática epistemológica da sociologia. Neste texto, tratarei de enunciar, de maneira
resumida, do que se compõe as práticas essenciais, dadas pelos autores, para a produção
científica de conhecimento sociológico.
Na primeira parte da obra, os autores irão se preocupar com o elemento central
que caracteriza qualquer ciência: o afastamento do senso comum. Diante deste tema, de
ruptura dos saberes comuns para a produção de saberes científicos, a Ciências Sociais
deixaria de ser uma literatura de descrição do mundo real ou uma ciência espontânea,
sem qualquer rigor científico, para, por fim, tornar-se uma ciência com rigor
investigativo. Deste modo, os autores elencaram técnicas para o afastamento de noções
subjetivas, encontradas no senso comum, sendo uma das mais importantes a noção de
vigilância epistemológica. Iniciada desde o momento de observação de um fato até o
desenvolvimento de teorias, o sociólogo, como proposto na obra, deve afastar-se das pré

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noções concebidas, tanto pela linguagem, utilizada como instrumento de pesquisa nas
mais diversas ferramentas, como os questionários realizados aos indivíduos estudados,
quanto pela própria observação do sociólogo. Consequentemente, ao atentar-se ao
afastamento dessas pré-noções a sociologia fundamenta-se, segundo os autores, pelo
princípio de não-consciência, que consiste em construções de “ sistemas das relações
objetivas nas quais os indivíduos se encontram inseridos e se exprimem mais
adequadamente na economia ou morfologia dos grupos do que nas opiniões e intenções
declaradas dos sujeitos” (BOURDIEU, 2002, p.29).
Com base no conceito de não-consciência, inicia-se o processo de construção
epistemológica do objeto e, a qual é exposta na segunda parte da obra. Partindo da
crítica ao empirismo exacerbado, o qual utiliza-se da descrição exata da realidade para
construção do objeto, os autores destacam a importância da construção do fato induzido
por um processo imaginativo. Assim como é, também, enunciado por Weber “Não são
as relações reais entre as 'coisas' que constituem o princípio da delimitação dos
diferentes campos científicos, mas as relações conceituais entre problemas”
(BOURDIEU, 2002, p.45). Portanto, a construção de um objeto a ser estudado
vincula-se, diretamente, com a necessidade da formulação de um modelo teórico que
permita a sistematização de questionamentos, tanto pelas suas causas quanto pelas suas
consequências, de uma problemática central. Consecutivamente, os autores, através do
destaque do modelo teórico para o desenvolvimento epistemológico, chegam à parte
final da obra: a constatação. A perspectiva de ordenamento do objeto pelo processo
imaginativo, ou seja, a construção de hipóteses diante de um modelo central, possui
como finalidade científica a produção de um rigor metodológico organizado, que
permita a análise e a validação constante deste. Em suma, o período final de uma
pesquisa - a constatação- refere-se a reformulação do processo epistemológico, o qual
são colocadas à prova da razão as hipóteses e o princípio de vigilância aplicado.
Conclui-se a partir da enumeração das três técnicas essenciais que a maior
preocupação do sociólogo deve centrar-se no processo de desenvolvimento de uma
atitude de vigilância e, também, da teoria para, enfim, obter-se a sistematização do
corpus científico.

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2 - Questão

Em virtude da origem, ocidental e capitalista, das Ciências Sociais, teóricos se


propuseram a refletir acerca das consequências de tal contexto de origem para o
desenvolvimento desta ciência. Tendo como objetivo central, criticar a monopolização
euro-americana sobre os conceitos teóricos-epistemológicos, como a caracterização do
que se trata a modernidade e, por fim, garantir uma possível solução desenvolve-se a
corrente decolonial. Neste presente trabalho, apresentarei as críticas e uma possível
solução, de uma das representantes desta nova corrente, a socióloga Raewyn Connell,
acerca da monopolização epistêmica euro-americana.
Anteriormente à exposição de uma possível solução proposta por Connel, se faz
necessário entendermos como é fundamentada e, do que se trata, sua crítica. Em
princípio, a socióloga, em sua obra “Southern Theory”, evidencia a segregação do
mundo epistêmico utilizando as expressões “Norte” e “Sul”, as quais ocupam um
espaço relacional da intelectualidade “ entre metrópole e periferia, salientando as
relações de autoridade, exclusão, inclusão, hegemonia, parceria”(SLIDE, Sul e
pensamento social).Portanto, o Norte engloba o campo intelectual produzido pelos
antigos colonizadores, enquanto o Sul ocupa o espaço dos colonizados. Diante de tal
comparação, Connell, declara que o Sul ainda ocupa uma posição de marginalidade em
comparação à produção científica com o Norte. Sendo um dos exemplos, a
conceitualização de modernidade, retratada sempre da mesma maneira pelos sociólogos
ocidentais, assim como é exposto na obra “Da Divisão do Trabalho Social”, de Émile
Durkheim, a modernidade só é contextualizada a partir do sistema capitalista. A partir
desta universalização conceitual do mundo moderno, aos olhos do contexto capitalista,
é possível verificar a monopolização teórica sempre ao lado dos colonizadores e, ainda
que busquem compreender realidades fora de seu contexto, o protagonismo
epistemológico continua em seu favor, “ a coleta e aplicação de dados acontecem nas
colônias, as teorizações são privilégio das metrópoles”(ROSA, 2014, p.54). Logo, o
principal questionamento exposto na obra Southern Theory, trata-se da teorização

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universal imposta pelo Norte, a qual exclui outras formas de produção científica e,
consequentemente, outras formas de conceitualização da realidade, como do que se trata
a visão de modernidade fora do contexto capitalista.
Tratando-se da Sociologia uma ciência que estuda a realidade, a socióloga, irá
propor uma produção de conhecimento sociológico simétrico em que, as duas realidades
sejam sobrepostas no mesmo campo intelectual. Desta forma, o desenvolvimento
científico, proposto pela sociologia, deve ser teorizado e conceitualizado apenas no
espaço em que se objetiva compreender, utilizando-se dos principais elementos
constituintes desse espaço, os indivíduos e a cultura. Contudo, caso haja a permanência
da falta de contato com os protagonistas que se encontram fora do contexto capitalista, a
produção epistêmica continuará prevalecendo-se do lado em que, comumente,
associa-se à inauguração científica. É a partir de tal tese, que a autora segue o
questionamento do rumo científico da Ciências Sociais “podemos ter uma teoria social
que não reivindique universalidade a partir de um ponto de vista da metrópole, que não
observe de um único ponto de vista, que não exclua a experiência de pensamento social
da maior parte da humanidade?” (Connell, 2007, p. 206). Logo, chega-se ao objetivo
central da obra, a ocupação simétrica no espaço intelectual, tanto pelo Norte quanto pelo
Sul, buscando a prevalência de “ pensamento social mais democrático”(ROSA, 2014,
p.56).
Por fim, é possível observar a importância da ocupação intelectual dos países
que tiveram sua historicidade marcada pelo colonialismo para obter-se o fim da
desigualdade epistêmica. Em especial à Ciências Sociais, que tendo como objetivo a
compreensão de diferentes realidades sociais deve-se atentar à produção científica e, por
fim, a própria compreensão de determinada realidade social pela própria raiz, ou seja,
pela própria produção epistêmica de determinada localidade.

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