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As ideias e opiniões expressas neste livro são de exclusiva responsabilidade dos Autores, não refletindo, necessaria-
mente, a opinião desta Editora.
CONSELHO EDITORIAL:
Alceu de Oliveira Pinto Junior Gilsilene Passon P. Francischetto
UNIVALI UC (Portugal) – FDV/ES
Antonio Carlos Brasil Pinto Jorge Luis Villada
UFSC UCASAL - (ARGENTINA)
Cláudio Macedo de Souza Juan Carlos Vezzulla
UFSC IMAP (Portugal)
C933c
Cristóvam, José Sérgio da Silva
Combate preventivo à corrupção no Brasil: para além do modelo repressivo-
punitivista / Amanda Pauli De Rolt...[et al.]; Organizadores: José Sérgio da
Silva Cristóvam e Pedro de Menezes Niebuhr
1ª ed. – Florianópolis: Habitus, 2020.
recurso digital
Formato: e.book
Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-86381-97-9
1. Direito Administrativo 2. Administração Pública 3. Combate à
corrupção 4. Prevenção à corrupção - Brasil I. Título
CDU 341.3
É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, inclusive quanto às características
gráficas e/ou editoriais.
A violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal, art.184 e seus §§ 1º, 2º e 3º, Lei n° 10.695, de
01/07/2003), sujeitando-se à busca e apreensão e indenizações diversas (Lei n° 9.610/98).
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
José Sérgio da Silva Cristóvam
Pedro de Menezes Niebuhr
(Organizadores)
COMBATE PREVENTIVO À
CORRUPÇÃO NO BRASIL
PARA ALÉM DO MODELO
REPRESSIVO-PUNITIVISTA
Florianópolis
2020
AUTORES
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
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APRESENTAÇÃO – SALOMÃO RIBAS JUNIOR
Os estudos que nos são agora apresentados pela UFSC abordam com
propriedade a discussão de alguns equívocos que cometemos. Um exemplo
é o tratamento dando excelência ao mercado e fracasso ao poder público. A
questão não é simples assim como demonstram recentes casos da chamada
grande corrupção. Empresários, políticos e servidores estão no mesmo nível
de responsabilidade. A sensação é de que há um clima geral de desrespeito à
lei e à ética nos negócios em geral. O poder público surge mais intensamente
pelo enorme volume de recursos que manipula. A rigor é o maior comprador
de bens e serviços do país. O mercado sabe disso.
Outros aspectos da prevenção estão ligados à atividade regulatória do
poder público e ao excesso de burocracia para a tramitação administrativa.
No primeiro caso, é flagrante a necessidade de uma visão mais eficiente da-
quilo que é essencial para a regulação e do que é apenas excesso. Regulamen-
to em excesso é tão nefasto quanto a ausência absoluta de qualquer regra.
Outro aspecto importante diz respeito à sempre anunciada e nunca realizada
efetivamente desburocratização do serviço público. A simplificação dos pro-
cedimentos impede que sejam criadas dificuldades para vender facilidades,
velha e conhecida prática de alguns setores burocráticos públicos. É o caso
tratado sob o título “Regulação e Corrupção: O Efeito Dissuasor de Arquite-
turas Regulatórias Eficientes (Pedro de Menezes Niebuhr, Arthur Rodrigues
Dalmarco, Luiz Eduardo Altemburg Assis).
No campo tributário, dois artigos cuidam de aspectos importantes que
causam ou permitem a corrupção. Tratam da evasão fiscal e das práticas de
desoneração tributária. Ambas as situações são um verdadeiro campo mi-
nado. O que se sabe concretamente, ou se percebe, é que o volume de recur-
sos que se evadem ou que deixam de entrar nos cofres públicos é grande.
A academia começa a cuidar desse assunto. Afinal, não se sabe exatamente
como e porque ocorreram uma e outra prática. A afirmação geral de que
a iniciativa privada faz melhor do que o poder público precisa ser melhor
avaliada. Faz melhor a que custo?
Curiosamente, a justificativa dos paraísos fiscais para esconder dinheiro
oriundo de práticas ilícitas separa a sonegação da corrupção. Isto é, a sone-
gação fiscal é um meio de que dispõe o mercado para se defender da sanha
tributária dos Estados.
Cada um dos artigos acadêmicos cuida de aspectos importantes destes
e de outros pontos do fenômeno. Com o rigor acadêmico a que me referi
sustentam suas certezas e suas dúvidas em doutrinadores nacionais e estran-
geiros. A maioria deles de reconhecida autoridade no tema central.
Alguns pontos chamam mais atenção pela sua originalidade e, sobretu-
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
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PREFÁCIO
Marcelo Harger
Mestre e Doutor em Direito do Estado pela PUC/SP
Advogado e membro da Comissão Especial de Direito Administrativo do CFOAB
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Prof. Dr. José Sérgio da Silva Cristóvam
Prof. Dr. Pedro de Menezes Niebuhr
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INTRODUÇÃO
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BREVE INVENTÁRIO SOBRE AS RAÍZES DA
CORRUPÇÃO NO BRASIL
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O relatório divulgado pelo Fórum Econômico Mundial destaca o Brasil
na impressionante 4º colocação como país mais corrupto e menos ético, dentre
os 138 Estados nacionais analisados. Na categoria falta de ética e corrupção,
nosso país perde apenas para Venezuela, Bolívia e Chade.4 No mesmo sentido,
a partir de análise realizada pela Transparência Internacional no ano de 2016,
relacionada à percepção sobre a corrupção, é possível localizar o Brasil na 79ª
posição, dentre 176 Estados nacionais pesquisados.5
Infelizmente, esse quadro preocupante e de acentuada percepção de um
aparente Estado de corrupção (Cleptocracia) acaba, em larga medida, reforçado
pelos recentes e recorrentes escândalos de corrupção, em especial nesse início
de século XXI, amplamente noticiados e que colocam a temática da corrupção
no centro do debate nacional. Pauta cotidiana de uma mídia monotemática que
alimenta vorazmente essa pauta monocular e monopolizadora das conversas
nas residências, nas mesas de bar, nos sistemas de justiça (Poder Judiciário,
Ministério Público, Polícia Federal) e nas Universidades.
Isso, de per si, já justificaria um estudo crítico e aprofundado sobre o fenô-
meno da corrupção, para além do senso comum. Há uma série de questões que
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2. CONCEITOS DE CORRUPÇÃO
Cumpre iniciar o debate a partir de uma breve recuperação da ideia de
corrupção, um termo bastante elástico, como outros que lhes são correlatos
(suborno, integridade, improbidade), em larga medida submetido a comple-
xas e instáveis construções sociais6. De fato, não se pode olvidar que a noção
de corrupção é variável no tempo e no espaço, de acordo com as regras de
conduta no plano jurídico, moral e ético7. Conforme aponta Richard White, a
semântica é importante para promover uma avaliação sobre a corrupção – o
que inclui o estudo sobre suas raízes8.
Do ponto de vista etimológico, a formação da palavra corrupção advém
de rumpere – ruptura – , aliada ao prefixo con, que introduz a ideia de parti-
cipação, soma, colaboração para determinado fim. Portanto, desde a origem a
palavra corrupção estaria associada à noção de conluio para uma ruptura, para
a destruição ou ruptura de algo. Uma indicação inicial no domínio jurídico leva
a interpretar o termo como o rompimento com o ordenamento jurídico, com as
bases da dimensão estabelecida pelo conjunto jurídico-normativo9.
Por seu turno, o Dicionário Michaelis define corrupção (do latim corruptiô-
ne/corruptîo) como: “(1) ação ou efeito de corromper; decomposição, putrefa-
ção; (2) Depravação, desmoralização, devassidão; (3) suborno”10.
Com efeito, afora a dimensão semântico-etimológica, uma perspectiva
sociológica e jurídica sobre o fenômeno da corrupção também ostenta invul-
gar relevo. No que tange às ciências sociais, a corrupção é em geral entendida
como comportamento em determinado ambiente, que se condiciona conforme
6 GRANOVETTER, Mark. A construção social da corrupção. Revista Política e Sociedade, Florianó-
polis, v. 5, n. 9, p. 11-37, 2006. p. 12.
7 RIBAS JUNIOR, Salomão. Corrupção pública e privada: quatro aspectos. Belo Horizonte: Fórum,
2014. p. 46.
8 WHITE, Richard. What counts as corruption? Research: an international quarterly, Baltimore, v. 80,
n. 4, p. 1033-1056, Winter, 2013. p. 1037.
9 ABAD, Raphael Madeira. As diversas espécies de corrupção. In: BARBUGIANI, Luiz Henrique
Sormani (Coord.). Corrupção como fenômeno supralegal. Curitiba: Juruá, 2017. p. 119-120.
10 MICHAELIS: Dicionário prático da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2008. p. 233.
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JOSÉ SÉRGIO DA SILVA CRISTÓVAM – JOÃO FILGUEIRAS GOMES RAMIREZ – JULIANA DE ALANO SCHEFFER
11 RIBAS JUNIOR, Salomão. Corrupção pública e privada: quatro aspectos. Belo Horizonte: Fórum,
2014. p. 69-70.
12 RIBAS JUNIOR, Salomão. Corrupção pública e privada: quatro aspectos. Belo Horizonte: Fórum,
2014. p. 71.
13 BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Brasí-
lia: Editora UnB, v. 1, 11 ed. 1998. p. 291-292.
14 TANZI, Vito. Corruption around the world: causes, consequences, scope, and cures. International
Monetary Fund. 1998. Disponível em: https://www.imf.org/external/pubs/ft/wp/wp9863.pdf. Acesso
em: 9 mar. 2019. p. 8.
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15 WHITE, Richard. What counts as corruption? Research: an international quarterly, Baltimore, v. 80,
n. 4, p. 1033-1056, Winter, 2013.
16 RIBAS JUNIOR, Salomão. Corrupção pública e privada: quatro aspectos. Belo Horizonte: Fórum,
2014. p. 36.
17 ABAD, Raphael Madeira. As diversas espécies de corrupção. In: BARBUGIANI, Luiz Henrique
Sormani (Coord.). Corrupção como fenômeno supralegal. Curitiba: Juruá, 2017. p. 137.
18 RIBAS JUNIOR, Salomão. Corrupção pública e privada: quatro aspectos. Belo Horizonte: Fórum,
2014. p. 98.
19 Nesse sentido: “Art. 15. Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que
sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometidos intencionalmente: a) A promessa, o
oferecimento ou a concessão a um funcionário público, de forma direta ou indireta, de um benefício
indevido que redunde em seu próprio proveito ou no de outra pessoa ou entidade com o fim de que
tal funcionário atue ou se abstenha de atuar no cumprimento de suas funções oficiais; b) A solicitação
ou aceitação por um funcionário público, de forma direta ou indireta, de um benefício indevido que
redunde em seu próprio proveito ou no de outra pessoa ou entidade com o fim de que tal funcionário
atue ou se abstenha de atuar no cumprimento de suas funções oficiais.” ORGANIZAÇÃO DAS NA-
ÇÕES UNIDAS. Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. 2003. Disponível em: http://
www.cgu.gov.br/assuntos/articulacao-internacional/convencao-da-onu/arquivos/2007_uncac_port.
pdf. Acesso em: 9 mar. 2019.
20 ABAD, Raphael Madeira. As diversas espécies de corrupção. In: BARBUGIANI, Luiz Henrique
Sormani (Coord.). Corrupção como fenômeno supralegal. Curitiba: Juruá, 2017. p. 137.
21 ABAD, Raphael Madeira. As diversas espécies de corrupção. In: BARBUGIANI, Luiz Henrique
Sormani (Coord.). Corrupção como fenômeno supralegal. Curitiba: Juruá, 2017. p. 127.
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JOSÉ SÉRGIO DA SILVA CRISTÓVAM – JOÃO FILGUEIRAS GOMES RAMIREZ – JULIANA DE ALANO SCHEFFER
22 Nesse sentido: “Concussão. Art. 316 – Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: [...]”. BRASIL. De-
creto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/Del2848compilado.htm. Acesso em: 9 mar. 2019.
23 Nesse sentido: “Peculato. Art. 312 – Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qual-
quer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo,
em proveito próprio ou alheio: […] § 1º – Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora
não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em pro-
veito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário”.
Peculato culposo. § 2º – Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: […] §
3º – No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue
a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. […] Peculato mediante erro de
outrem. Art. 313 – Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu
por erro de outrem: […]”. BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm. Acesso em: 9 mar. 2019.
24 Nesse sentido: “Tráfico de influência. Art. 332 – Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para ou-
trem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário públi-
co no exercício da função: […]”. BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm. Acesso em: 9 mar. 2019.
25 Nesse sentido: “Artigo 18. Tráfico de Influências. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de
adotar as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para qualificar como delito,
quando cometido intencionalmente: a) A promessa, o oferecimento ou a concessão a um funcionário
público ou a qualquer outra pessoa, de forma direta ou indireta, de um benefício indevido com o fim
de que o funcionário público ou a pessoa abuse de sua influência real ou suposta para obter de uma
administração ou autoridade do Estado Parte um benefício indevido que redunde em proveito do ins-
tigador original do ato ou de qualquer outra pessoa; b) A solicitação ou aceitação por um funcionário
público ou qualquer outra pessoa, de forma direta ou indireta, de um benefício indevido que redunde
em seu proveito próprio ou no de outra pessoa com o fim de que o funcionário público ou a pessoa
abuse de sua influência real ou suposta para obter de uma administração ou autoridade do Estado
Parte um benefício indevido”. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção das Nações
Unidas contra a Corrupção. 2003. Disponível em: http://www.cgu.gov.br/assuntos/articulacao-inter-
nacional/convencao-da-onu/arquivos/2007_uncac_port.pdf. Acesso em: 9 mar. 2019.
26 ABAD, Raphael Madeira. As diversas espécies de corrupção. In: BARBUGIANI, Luiz Henrique
Sormani (Coord.). Corrupção como fenômeno supralegal. Curitiba: Juruá, 2017. p. 130.
27 Nesse sentido: “Exploração de prestígio. Art. 357 – Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra
utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça,
perito, tradutor, intérprete ou testemunha: […]”. BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
41 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 40.
42 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 82.
43 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.
79-80.
44 BRASIL. Emenda Constitucional nº 91, de 18 de fevereiro de 2016. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc91.htm. Acesso em: 9 mar. 2019.
24
JOSÉ SÉRGIO DA SILVA CRISTÓVAM – JOÃO FILGUEIRAS GOMES RAMIREZ – JULIANA DE ALANO SCHEFFER
45 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.
147-149.
46 WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Tradução de Regis
Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. Brasília: Editora da UnB, 1999.
47 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 146.
48 Para uma análise sobre a noção do interesse público e sua centralidade para o regime jurídico-ad-
ministrativo, ver: CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. Administração Pública democrática e supre-
macia do interesse público: novo regime jurídico-administrativo e seus princípios constitucionais
estruturantes. Curitiba: Juruá, 2015.
49 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo:
Globo, 2001.
50 IGLESIAS, Francisco. Revisão de Raymundo Faoro. In: GUIMARÃES, Juarez (Org.). Raymundo
Faoro e o Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. p. 37-40.
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51 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo:
Globo, 2001. p. 38.
52 LESSA, Renato. O longínquo pesadelo brasileiro. In: GUIMARÃES, Juarez (Org.). Raymundo Fao-
ro e o Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. p. 67.
53 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo:
Globo, 2001. p. 32-41.
54 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo:
Globo, 2001. p. 822.
55 LESSA, Renato. O longínquo pesadelo brasileiro. In: GUIMARÃES, Juarez (Org.). Raymundo Fao-
ro e o Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. p. 65.
26
JOSÉ SÉRGIO DA SILVA CRISTÓVAM – JOÃO FILGUEIRAS GOMES RAMIREZ – JULIANA DE ALANO SCHEFFER
56 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo:
Globo, 2001. p. 39-40.
57 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo:
Globo, 2001. p. 197-198.
58 IGLESIAS, Francisco. Revisão de Raymundo Faoro. In: GUIMARÃES, Juarez (Org.). Raymundo
Faoro e o Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. p. 47.
59 VIEIRA, Padre Antônio. Sermões pregados no Brasil. v. 2, Lisboa: Agência Geral das Colônias,
1940. p. 275, apud FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasilei-
ro. 3 ed. São Paulo: Globo, 2001. p. 198.
60 IGLESIAS, Francisco. Revisão de Raymundo Faoro. In: GUIMARÃES, Juarez (Org.). Raymundo
Faoro e o Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. p. 52.
27
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
61 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo:
Globo, 2001. p. 201-202.
62 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo:
Globo, 2001. p. 199.
63 IGLESIAS, Francisco. Revisão de Raymundo Faoro. In: GUIMARÃES, Juarez (Org.). Raymundo
Faoro e o Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. p. 41.
64 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo:
Globo, 2001. p. 236.
65 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo:
Globo, 2001. p. 236-253.
66 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo:
Globo, 2001. p. 446-449.
67 IGLESIAS, Francisco. Revisão de Raymundo Faoro. In: GUIMARÃES, Juarez (Org.). Raymundo
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72 SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017. p. 23.
73 SOUZA, Jessé. Weber. In: AVRITZER, Leonardo et. al (Org.). Corrupção: ensaios e críticas. 2 ed.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. p. 69.
74 SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017. p. 33.
75 SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. São
Paulo: Leya, 2015. p. 21.
76 SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017. p. 191.
77 SOUZA, Jessé. Para além de Raymundo Faoro? In: GUIMARÃES, Juarez (Org.). Raymundo Faoro
e o Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. p. 157.
78 SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. São
Paulo: Leya, 2015. p. 28.
30
JOSÉ SÉRGIO DA SILVA CRISTÓVAM – JOÃO FILGUEIRAS GOMES RAMIREZ – JULIANA DE ALANO SCHEFFER
79 SOUZA, Jessé. Weber. In: AVRITZER, Leonardo et. al (Org.). Corrupção: ensaios e críticas. 2 ed.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. p. 171.
80 SOUZA, Jessé. Para além de Raymundo Faoro? In: GUIMARÃES, Juarez (Org.). Raymundo Faoro
e o Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. p. 154-155.
81 SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017. p. 184-190.
82 SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. São
Paulo: Leya, 2015. p. 21.
83 SOUZA, Jessé. Weber. In: AVRITZER, Leonardo et. al (Org.). Corrupção: ensaios e críticas. 2 ed.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. p. 73.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
84 SOUZA, Jessé. Para além de Raymundo Faoro? In: GUIMARÃES, Juarez (Org.). Raymundo Faoro
e o Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. p. 159.
85 SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. São
Paulo: Leya, 2015. p. 22.
86 SOUZA, Jessé. Para além de Raymundo Faoro? In: GUIMARÃES, Juarez (Org.). Raymundo Faoro
e o Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. p. 165.
87 SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017. p. 27.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não se pode pretender uma conceituação fechada e com disposições de
universalização acerca da noção de corrupção, que é variável no tempo, no es-
paço e, inclusive, no âmbito jurídico-normativo. Em sentido amplo, a ideia de
corrupção remete àquela situação de desvio que prejudica o espaço público, em
benefício privado, embora possa ostentar origem tanto pública como privada.
Nesse estudo, mais do que a pretensão em se estabelecer um conceito de
corrupção, nossa preocupação centrou-se em averiguar se é possível estabele-
cer um denominador comum, de base preponderantemente sociológica, capaz
de explicar/justificar o fenômeno da corrupção no Brasil – em especial a partir
do debate sobre os contributos de Holanda, Faoro e Souza.
Holanda e Faoro são considerados autores clássicos, e que auxiliaram na
concepção das raízes sociológicas do Brasil, inclusive sobre o fenômeno da cor-
rupção. Ambos destacam o patrimonialismo como uma característica intrinse-
camente brasileira, que marcaria de forma indelével a relação entre as pessoas
88 SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017. p. 225-227.
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6. REFERÊNCIAS
ABAD, Raphael Madeira. As diversas espécies de corrupção. In: BARBUGIANI, Luiz Henrique
Sormani (coord). Corrupção como fenômeno supralegal. Curitiba: Juruá, 2017.
ALVIM, Eduardo Arruda. Breves Considerações Sobre as Sanções da Lei de Improbidade Admi-
nistrativa (Lei no 8.429/92). In: LUCON, Paulo Henrique dos Santos; COSTA, Eduardo José da
Fonseca; RECENA COSTA, Guilherme (Coord). Improbidade Administrativa: aspectos processuais
da Lei nº 8.429/92. 2. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2015, p. 148.
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Brasília: Dicionário de Política.
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36
A MORAL DO AGENTE PÚBLICO NO BRASIL E AS
PRÁTICAS DE CORRUPÇÃO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Nesse capítulo propomos refletir sobre a moral do agente público4 no Brasil
e as práticas de corrupção. Iniciamos com uma discussão sobre o caracteriza a
corrupção a partir de diferentes pontos de vista: do direito, do interesse públi-
co, da opinião pública e do cargo público. Somente a ação caracterizada como
corrupta pela norma jurídica é que levará a uma punição também jurídica, no
entanto, as práticas consideradas corruptas a partir dos demais pontos de vista
também podem produzir efeitos danosos para a Administração Pública brasilei-
ra, por isso a necessidade de refletir sobre elas. Caracterizada a corrupção, pro-
curamos compreender de que maneira a ética enquanto campo de conhecimento
que reflete sobre a moral, ou seja, sobre a distinção entre o certo e o errado, per-
mite dizer qual é a forma correta de agir. Apresentamos, em termos gerais, as três
principais correntes éticas – deontológica, teleológica e da virtude – para, em
seguida, compreender qual seria a atuação moral do agente público no Brasil.
Esclarecemos que não se pode falar, nas sociedades hodiernas, de uma única
moral. Nossas sociedades caracterizam-se pelo pluralismo, mas também pelo
egoísmo, que representam dois grandes dilemas para se pensar qual é a forma
correta de agir. Tendo em vista que vivemos em sociedades plurais, marcadas
1 Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGD/UFSC), com período san-
duíche na Université Paris-Ouest Nanterre la Défense. Mestre em Direito, na linha Filosofia e Teoria
do Direito, pelo PPGD/UFSC. Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Catarina. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7671057803491130
2 Graduada em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É editora-chefe da Re-
vista Acadêmica da Graduação em Direito – Revista Avant. É membro dos grupos Núcleo de Estudos
em Filosofia e Teoria do Direito – NEFTD e Grupo de Estudos em Direito Público – GEDIP da Uni-
versidade Federal de Santa Catarina. Realizou intercâmbio acadêmico na Universidad de Granada
em 2016 e na University of Bristol em 2015. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7270245386190426
3 Graduada em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Integrante do Corpo
Editorial da Revista AVANT (Revista de Direito para os acadêmicos da graduação da UFSC), par-
ticipante do Grupo de Estudos em Filosofia do Direito (GEFID) e do Grupo de Estudos em Direito
Público da UFSC (GEDIP). Estudante da Escola da Magistratura de Santa Catarina – ESMESC.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2175448985389999
4 Sempre que nos referirmos ao agente público estaremos tratando de qualquer pessoa física que exer-
ça, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação
ou qualquer forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função pública.
37
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
2. CORRUPÇÃO: O QUE É?
Corrupção é um fenômeno complexo que pode ser estudado a partir de
diversas abordagens: jurídica, sociológica, econômica, política, histórica, entre
outras. É vasta a literatura que trata de possíveis causas e consequências advin-
das dessa prática, assim como de possíveis soluções. Em comparação, nem tan-
tos trabalhos se debruçaram a escrever uma definição do termo “corrupção”.
Mesmo assim, as possibilidades de conceitos são diversas. Esse capítulo não
tem a pretensão de esgotar as possíveis definições do termo, também não pre-
tende formular um conceito próprio, mas espera que a discussão sobre os con-
ceitos sirva como orientação para o debate sobre uma ética do agente público.
James C. Scott define corrupção como um comportamento desviante
do padrão5. Essa definição é complementada pelo seguinte questionamento:
5 SCOTT apud GARDINER, John A. Defining Corruption. In: HEIDENHEIMER, Arnold J; JOHNS-
TON, Michael (Org.). Political corruption: Concepts and contexts. 3. ed. New Brunswick: Trasac-
38
LUANA RENOSTRO HEINEN – JÚLIA BORDIN MANDELLI CORREA – MANOELLA PEIXER CIPRIANI
39
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
Publishers, 2002.
11 GARDINER, John A. Defining Corruption. In: HEIDENHEIMER, Arnold J; JOHNSTON, Michael
(Org.). Political corruption: concepts and contexts. 3. ed. New Brunswick: Trasaction Publishers, 2002.
12 FRIEDRICH, Carl J. Corruption Concepts in Historical Perspective. In: HEIDENHEIMER, Arnold
J; JOHNSTON, Michael (Org.). Political corruption: concepts and contexts. 3. ed. New Brunswick:
Trasaction Publishers, 2002.
13 GARDINER, John A. Defining Corruption. In: HEIDENHEIMER, Arnold J; JOHNSTON, Michael
(Org.). Political corruption: concepts and contexts. 3. ed. New Brunswick: Trasaction Publishers, 2002.
14 GARDINER, John A. Defining Corruption. In: HEIDENHEIMER, Arnold J; JOHNSTON, Michael
(Org.). Political corruption: concepts and contexts. 3. ed. New Brunswick: Trasaction Publishers, 2002.
40
LUANA RENOSTRO HEINEN – JÚLIA BORDIN MANDELLI CORREA – MANOELLA PEIXER CIPRIANI
maior de os agentes públicos orientarem suas ações com base na cultura local
do que com base em legislações15. Ademais, a opinião pública promove uma
base para a execução das leis, já que a opinião dos cidadãos molda a forma
com que se comportam. O problema, por outro lado, está na definição de
qual o público a ser consultado e como medir suas opiniões, principalmente
no caso de divergências. Philp acrescenta que a opinião pública não pode ser
analisada como uma variável independente, já que em certos casos a falha da
opinião pública em se comprometer na busca do bem comum é um sintoma
do alto grau de corrupção de determinada sociedade16.
Além dos três critérios apresentados por Scott para a definição do
comportamento padrão do qual os atos de corrupção se desviam, há uma
forma de definir corrupção baseada no elemento cargo público. Nye define
corrupção como:
[...] um comportamento desviante dos deveres formais de uma função pú-
blica por conta de ganhos pecuniários ou de status voltados a interesses
privados (pessoais, familiares, grupo), ou que viola regras contra o uso
de certos tipos de influência pessoal. Esses comportamentos incluem su-
borno [...], nepotismo [...] e apropriação indevida de recursos públicos17.
Essa definição é reconhecida por estar centralizada no elemento cargo
público, diferentemente da proposta por Friedrich – que enfoca o interesse pú-
blico. No entanto, como observa Philp, é uma definição que implicitamente
reconhece o prejuízo ao interesse público quando coloca que o comportamento
desviante deve visar um ganho particular18.
Segundo Philp, tanto conceitos que tem como base o interesse público
quanto os que utilizam o cargo público enfrentam o mesmo tipo de proble-
ma: qual visão acerca da função pública ou interesse público será aceita?19 O
que é tido por normalidade da função pública? Se pressupormos que a fun-
41
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
ção pública é regida por normas que buscam o alcance do interesse público,
falta, ainda, defini-lo.
Aumentando o debate, Mark Warren20, teórico da democracia, traz a
perspectiva de que as definições que tem como raiz o abuso da função pública
para benefícios privados são insuficientes para identificar e esclarecer quais
são as práticas de corrupção em instituições democráticas. Acrescenta que essa
concepção não se desenvolveu por meio de normas democráticas, mas sim em
respostas aos anseios liberais clássicos de garantir a separação entre a esfera
pública e privada. Warren reconhece a importância dessa definição, mas in-
dica que seus elementos devem ser lidos conjuntamente com os pressupostos
de uma democracia. Em uma construção democrática, corrupção passa a ser
entendida como “uma danosa forma de exclusão daqueles que têm o direito
de estar incluídos em decisões e ações coletivas. Corrupção envolve um tipo
específico de desempoderamento injustificável”21.
Apresentar as diferentes concepções do que pode caracterizar a corrupção
nos possibilita identificar, no debate público, as acepções que o conceito adquire
e os critérios para a definição de um padrão de comportamento, buscando susci-
tar a discussão sobre como um agente público deve orientar suas ações.
Há que se reconhecer, no entanto, que a responsabilização jurídica (seja
criminal, cível ou administrativa) depende da legislação estipular de forma es-
trita que a conduta do agente caracteriza-se como ato ilegal. A legislação em si
poderá ser questionada, pois ela pode ser resultado de um parlamento corrup-
to ou de uma ideologia nefasta, como no caso de regimes autoritários como o
regime nazista. Porém, quando não há a tipificação legal da conduta, o debate
fica em aberto para caracterizar a conduta como corrupta a partir de conside-
rações sobre desrespeito ao cargo público ou desvio do interesse público, ainda
que sem possibilidade de punição jurídica.
Com a apresentação da caracterização da corrupção, a seguir discutire-
mos os padrões de comportamento que devem pautar a conduta do agente
público de modo a agir de modo moralmente correto.
42
LUANA RENOSTRO HEINEN – JÚLIA BORDIN MANDELLI CORREA – MANOELLA PEIXER CIPRIANI
22 DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 12.
23 DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
24 DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
25 DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 65.
26 DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
27 DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
43
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
28 Cf. BORGES, Maria de Lourdes; DALL’AGNOL, Darlei; DUTRA, Delamar Volpato. Ética. Rio de
Janeiro: DP&A, 2002.
29 Borges, Dall’agnol e Dutra (2002) dividem a ética normativa em teleológica (subdividida em con-
sequencialista e da virtude) e deontológica (BORGES, Maria de Lourdes; DALL’AGNOL, Darlei;
DUTRA, Delamar Volpato. Ética. Rio de Janeiro: DP&A, 2002).
30 KANT, Immanuel. Metafísica dos costumes, Parte I – Princípios Metafísicos da Doutrina do Direito.
Lisboa, Portugal: Edições 70, 2004, p. 20.
31 Nos dizeres de Kant: “O imperativo categórico (incondicionado) é o que pensa uma acção como objectiva-
mente necessária e a torna necessária, não de um modo mediato, graças à representação de um fim que se
possa alcançar com a acção, mas através da simples representação dessa própria acção (da sua forma), isto
é, imediatamente; nenhuma outra doutrina prática, excepto a que prescreve obrigação (a dos costumes),
pode apresentar como exemplo tais imperativos” (KANT, Immanuel. Metafísica dos costumes, Parte I
– Princípios Metafísicos da Doutrina do Direito. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2004, p. 27).
32 KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos costumes. Lisboa, Portugal: Edições 70,
2007, p. 33.
44
LUANA RENOSTRO HEINEN – JÚLIA BORDIN MANDELLI CORREA – MANOELLA PEIXER CIPRIANI
33 COSTA, Cláudio F. Razões para o utilitarismo: uma avaliação comparativa de pontos de vista éticos,
2002, p. 156.
34 Cf. TUGENDHAT, Emst. Lições sobre ética. Petrópolis. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
35 DURKHEIM, Émile. Da divisão social do trabalho. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
36 DURKHEIM, Émile. Da divisão social do trabalho. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
45
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
a religião perde cada vez mais espaço37. Nesse contexto, a ciência ganha im-
portância, mas a ciência não pode responder aos indivíduos qual é o sentido da
vida, questão que era facilmente respondida pela religião. Assim, para Weber,
os indivíduos da sociedade moderna precisam se confrontar com essa perda de
sentido e, ao lidar com ela, podem optar de um lado pelo retorno a religião e,
de outro, contentar-se com a falta de sentido e buscar atuar de forma coerente
com o sistema de valores escolhido pelo indivíduo38.
Com o fim de uma fundamentação religiosa unificadora do mundo, vi-
sualiza-se a existência de uma significativa pluralidade de referências a va-
lores presentes nos distintos grupos sociais, alguns religiosos, outros não,
cada grupo adota diferentes perspectivas sobre a moralidade. Essa situação
é identificada pelo filósofo político John Rawls como o “fato do pluralismo”
que é o fato de existir uma radical diversidade de convicções morais com as
quais se identificam os integrantes das sociedades democráticas contemporâ-
neas39, nas palavras de Rawls:
[...] a diversidade de doutrinas religiosas, filosóficas e morais abrangentes
e razoáveis não é uma simples condição histórica que pode desaparecer
logo; é um traço permanente da cultura pública da democracia. Sob as
condições políticas e sociais asseguradas pelos direitos e liberdades bási-
cos de instituições livres, a diversidade de doutrinas abrangentes confli-
tantes e irreconciliáveis – e, mais ainda, razoáveis – surgirá e persistirá,
se é que essa diversidade já não se verifica40.
O filósofo escocês Alasdair MacIntyre, por sua vez, explica o desacordo
moral que prevalece nas sociedades modernas como incomensurável, na me-
dida em que partimos de conceitos morais diferentes que são inconciliáveis,
como a contraposição entre equidade e liberdade no debate sobre acesso
aos bens sociais41.
Um outro aspecto fundamental dessa crise de valores é a prevalência
do individualismo. O individualismo é a característica central do iluminis-
mo e da defesa dos direitos individuais, trata-se de um passo fundamental
na filosofia política para valorizar o ser humano como ser dotado de valor
intrínseco e, assim, levantar uma barreira a possíveis arbitrariedades do Es-
tado face ao indivíduo. O outro lado do individualismo é o desenvolvimen-
to do egoísmo que faz com que cada indivíduo atue pensando unicamente
nos seus interesses próprios, sem qualquer preocupação com a coletividade
ou com os demais indivíduos.
37 SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica: Durkheim, Weber e Marx. 2. ed. Petrópolis, Rio de
Janeiro: Vozes, 2010.
38 Cf. SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica: Durkheim, Weber e Marx. 2. ed. Petrópolis, Rio de
Janeiro: Vozes, 2010.
39 SILVEIRA, Pablo da. John Rawls y la justicia distributiva. Madri: Campo de ideas, 2003, p. 19-20.
40 RAWLS, John. O liberalismo político. São Paulo: Ática, 2000, p. 80.
41 MACINTYRE, Alasdair. Tras las virtud. Barcelona: A & M Gràfic, 2004, p.18.
46
LUANA RENOSTRO HEINEN – JÚLIA BORDIN MANDELLI CORREA – MANOELLA PEIXER CIPRIANI
42 TRUBEK, David. Max Weber sobre direito e ascensão do capitalismo (1972). In: RODRIGUEZ,
José Rodrigo (Org.). O novo direito e desenvolvimento: presente, passado e futuro – textos selecio-
nados de David Trubek. São Paulo: Saraiva, 2009.
43 TRUBEK, David. Max Weber sobre direito e ascensão do capitalismo (1972). In: RODRIGUEZ,
José Rodrigo (Org.). O novo direito e desenvolvimento: presente, passado e futuro – textos selecio-
nados de David Trubek. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 34.
44 TRUBEK, David. Max Weber sobre direito e ascensão do capitalismo (1972). In: RODRIGUEZ,
José Rodrigo (Org.). O novo direito e desenvolvimento: presente, passado e futuro – textos selecio-
nados de David Trubek. São Paulo: Saraiva, 2009.
45 Cf. BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico: lições de Filosofia do Direito. São Paulo: Ícone,
1995, p. 223 et seq.
46 Zagrebelsky assim caracteriza nossas sociedades plurais: “marcadas por la presencia de una diversi-
dade de grupos sociales con interesses, ideologias y proyectos diferentes, pero sin que ninguno tenga
fuerza suficiente para hacerse exclusivo o dominante y, por tanto, estabelecer la base material de la
soberania estatal en el sentido del passado” (ZAGREBELSKY, G. El derecho ductil. Ley, derechos y
justicia. 10. ed. Trad. Marina Gascón. Madrid: Trotta, 2011, p. 13).
47
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
47 Cf. ZAGREBELSKY, G. El derecho ductil. Ley, derechos y justicia. 10. ed. Trad. Marina Gascón.
Madrid: Trotta, 2011, p. 13.
48 ZAGREBELSKY, G. El derecho ductil. Ley, derechos y justicia. 10. ed. Trad. Marina Gascón. Ma-
drid: Trotta, 2011.
49 FARALLI, Carla. A filosofia contemporânea do direito: temas e desafios. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2006, p. 5.
50 FARALLI, Carla. A filosofia contemporânea do direito: temas e desafios. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2006, p. 4.
51 Dworkin distingue os princípios de políticas: “Denomino ‘política’ aquele tipo de padrão que esta-
belece um objetivo a ser alcançado, em geral uma melhoria em algum aspecto econômico, político
ou social da comunidade (ainda que certos objetivos sejam negativos pelo fato de estipularem que
48
LUANA RENOSTRO HEINEN – JÚLIA BORDIN MANDELLI CORREA – MANOELLA PEIXER CIPRIANI
algum estado atual deve ser protegido contra mudanças adversas). Denomino ‘princípio’ um padrão
que deve ser observado, não porque vá promover ou assegurar uma situação econômica, política ou
social considerada desejável, mas porque é uma exigência de justiça ou equidade ou alguma outra
dimensão da moralidade. Assim, o padrão que estabelece que os acidentes automobilísticos devem
ser reduzidos é uma política e o padrão segundo o qual nenhum homem deve beneficiar-se de seus
próprios delitos é um princípio.” (DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Mar-
tins Fontes, 2002, p. 36).
52 FARALLI, Carla. A filosofia contemporânea do direito: temas e desafios. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2006, p. 5.
53 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Malheiros,
2011.
54 Nesse sentido, ver: CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. O conceito de Interesse Público no Estado
Constitucional de Direito: o novo regime jurídico administrativo e seus princípios constitucionais
estruturantes. 379 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciên-
cias Jurídicas. Programa de Pós-Graduação em Direito, Florianópolis, 2014; STRECK, Lenio Luiz.
Ministros do STJ não devem se aborrecer com a lei. Consultor Jurídico, 7 de jun. de 2012.
55 ZOLLER, Elisabeth. Introduction to Public Law: A Comparative Study. Leiden: Martinus Nijhoff,
2008, p. 12.
49
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
56 BENTHAM, Jeremy. Uma Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação. Tradução: Luiz João
Baraúna. In: Os Pensadores, v. 34. São Paulo: Abril S. A. Cultural e Industrial, 1974, p. 10.
57 BENTHAM, Jeremy. Uma Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação. Tradução: Luiz João
Baraúna. In: Os Pensadores, v. 34. São Paulo: Abril S. A. Cultural e Industrial, 1974, p. 10.
58 BENDITT, Theodore M. The Public Interest. Philosophy & Public Affairs, v. 2, n. 3, p. 291-311,
spring, 1973.
59 ZOLLER, Elisabeth. Introduction to Public Law: A Comparative Study. Leiden: Martinus Nijhoff,
2008.
60 ZOLLER, Elisabeth. Introduction to Public Law: A Comparative Study. Leiden: Martinus Nijhoff,
2008.
61 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social: Princípios de Direito Político. Tradução de Antônio
P. Machado. Estudo crítico de Afonso Bertagnoli. Ed. Especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
62 No original: Any gathering of people that forms a nation necessarily forms an association whose
object is a “public thing”. There exists therefore a public interest, separate from private interest and
forming a reality sui generis (ZOLLER, Elisabeth. Introduction to Public Law: A Comparative Stu-
dy. Leiden: Martinus Nijhoff, 2008, p. 14, tradução livre).
50
LUANA RENOSTRO HEINEN – JÚLIA BORDIN MANDELLI CORREA – MANOELLA PEIXER CIPRIANI
63 “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mora-
lidade, publicidade e eficiência [...].” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988).
64 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2014.
51
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
65 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 23. ed. São Paulo: Editora RT, 1997,
p. 85.
66 DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
52
LUANA RENOSTRO HEINEN – JÚLIA BORDIN MANDELLI CORREA – MANOELLA PEIXER CIPRIANI
67 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2014.
68 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
69 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 79.
70 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
71 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 17. ed. São Paulo: Malheiros,
2003, p. 109.
53
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dos72. Dar publicidade aos atos, no entanto, não se justifica como um dever
por si só, mas por suas consequências, pois é a publicidade que possibilita
que sejam feitos os controles de legitimidade e legalidade dos atos por parte
dos administrados.
Assim, pode-se afirmar que a exigência de publicidade se fundamenta
tanto na ética do dever (publicidade como dever de transparência), como na
ética dos fins, na medida em que tornar públicos os atos da Administração é
um meio de possibilitar seu controle.
Dessa exigência decorrem o direito de petição aos órgãos públicos e o di-
reito de acesso a informação73, regulamentado pela Lei nº 12.527, de 18.11.2011
(Lei de Acesso à Informação)74.
A existência de exceções à regra da publicidade reforça ainda mais o seu
caráter teleológico, caso se tratasse de um dever, dificilmente comportaria ex-
ceções. No entanto, como tem em vista a realização de um fim – o controle dos
atos administrativos, comporta as exceções que são previstas na Constituição
Federal que resguarda o sigilo de informações quando se revela indispensável
à segurança da sociedade e do Estado (art. 5º, XXXIII, da CF) e permite que a
lei limite a publicidade dos julgamentos para que, em certos atos, só estejam
presentes as partes e seus advogados ou apenas estes (art. 93, IX, da CF)75.
Por fim, o último princípio previsto na Constituição é o da eficiência, que
foi acrescentado pela Emenda Constitucional nº 19 de 199876, que realizou o
que ficou conhecido como Reforma Administrativa. Com essa Emenda, o Bra-
sil passou de um modelo de Administração Burocrática – implantada no Bra-
72 Cf. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2014.
73 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos
públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão presta-
das no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível
à segurança da sociedade e do Estado; (...) XXXIV – são a todos assegurados, independentemente
do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de
direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal” (BRASIL. Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988).
74 BRASIL. Lei n.º 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto no
inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal;
altera a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e
dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências.
75 “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder
Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes,
em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988).
76 BRASIL. Emenda Constitucional nº 19, de 4 de junho de 1998. Modifica o regime e dispõe sobre
princípios e normas da Administração Pública, servidores e agentes políticos, controle de despesas e
finanças públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal, e dá outras providências.
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LUANA RENOSTRO HEINEN – JÚLIA BORDIN MANDELLI CORREA – MANOELLA PEIXER CIPRIANI
77 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2014, p. 31.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
práticas irregulares do chefe aparece então como mais uma forma de perpetuar
e facilitar as condutas corruptas.
Ademais, isso explicita o caráter institucionalizado da corrupção no Bra-
sil de forma que a corrupção, ao invés de representar uma desorganização, na
verdade apresenta-se como uma forma de organização93. Assim, “mais do que
as práticas e transações classificadas como ‘criminosas’, as práticas de corrup-
ção expressam mundos morais”94 em determinado tempo e espaço. Dessa for-
ma, podemos observar que no Brasil “as práticas designadas como corruptas e
corruptoras estão fundadas em princípios de ação associados à lógica pessoal
que [...] orientam e regulam [...] as ações daqueles que são responsáveis pelo
seu funcionamento e das pessoas que com ele interagem”95.
Portanto, por mais que se possa encontrar no direito administrativo uma
referência moral que deve nortear as ações dos agentes públicos, percebe-se
que o uso da coisa pública para favorecimento de interesses pessoais ainda é
uma escolha plausível para o agente público, em grande parte por conta dos
itens apontados anteriormente.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos o trajeto desse artigo debruçadas sobre a complexidade do
tema com que nos engajamos. Longe de querer idealizar a iniciativa privada e
demonizar o Estado96, buscamos compreender os fatores que levam a inegável
presença da corrupção na Administração Pública brasileira, lançando um olhar
a partir da ética e da atuação do agente público. Nosso foco de análise não foi,
60
LUANA RENOSTRO HEINEN – JÚLIA BORDIN MANDELLI CORREA – MANOELLA PEIXER CIPRIANI
portanto, a relação dos particulares com o Estado, mas as ações dos próprios
agentes públicos. Mais do que defender, no entanto, um padrão moral de atua-
ção para todos os agentes públicos, preocupamo-nos em partir da ética para
analisar qual seria o ponto de referência comum possível na nossa sociedade
fortemente marcada pelo pluralismo e pelo egoísmo.
Podemos encontrar no direito, em sua configuração atual, a referên-
cia comum de atuação para os agentes públicos, mais especificamente nos
princípios do Direito Administrativo, na supremacia do interesse público, na
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Esses prin-
cípios consagram diferentes perspectivas éticas – deontológica, teleológica
e das virtudes. A aplicação deles na vida prática do agente público pode en-
sejar dúvidas quanto a prevalência de um ou outro, no entanto, diante dessa
dúvida, ao agente cabe a liberdade de atuação, em conformidade com sua
discricionariedade. Não se trata da discricionariedade em si um problema,
mas muito mais da falta de uma cultura de respeito pela coisa pública.
Percebemos que o egoísmo prevalecente na sociedade cria uma cisão
entre o sujeito e o cidadão que não se vê comprometido com a coisa públi-
ca, no entanto, ao mesmo tempo em que se beneficia de pequenas práticas
corruptas, brada contra os grandes esquemas de corrupção em nome de um
punitivismo a todo custo.
Por mais que o conceito de interesse público seja criticado por sua in-
determinação de sentido, consideramos possível entende-lo em uma pers-
pectiva do republicanismo, que o distingue de um agregado de interesses
particulares. A defesa da coisa pública entendida como bem comum nos pa-
rece, dentro do contexto e parâmetros legais atualmente em vigor no país, o
melhor caminho para afirmar que a atuação do agente público deve se pautar
sempre no interesse público.
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64
A TRANSPARÊNCIA COMO INSTRUMENTO DE
PREVENÇÃO À CORRUPÇÃO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O combate à corrupção na Administração Pública brasileira, fenômeno
atinente a todas as classes econômicas, políticas e sociais, é um tema que gera
inúmeras discussões, tendo em vista a ausência de consenso sobre a forma
mais efetiva de seu enfrentamento.
Principalmente na segunda década do século XXI, período em que houve
a eclosão das maiores investigações e operações policiais que visam ao comba-
te da corrupção no Brasil, esse tema ganhou bastante destaque nas mídias e se
tornou assunto oficial das principais discussões acadêmicas e políticas.
Com essa série de megaoperações, encabeçadas pela Polícia Federal e
pelo Ministério Público Federal, verificou-se a existência de corrupção sistêmi-
ca dentro da administração pública brasileira, em especial no tocante às contra-
tações públicas realizadas pelos seus órgãos. A percepção desses atos ilícitos,
por parte da sociedade, fortaleceu o surgimento de uma sensação generalizada
de desconfiança na atuação dos agentes públicos e dos seus atos praticados.
Seja por aqueles que defendem uma punição mais incisiva dos agentes
envolvidos em práticas corruptas ou por aqueles que defendem o desenvolvi-
mento de técnicas de prevenção, fato é que toda ferramenta que visa ao com-
bate efetivo à corrupção passa invariavelmente pelo aperfeiçoamento das fer-
ramentas de controle da administração pública.
Adiante-se que não se está a falar necessariamente sobre a criação de
1 Pós-graduando em Direito Processual Civil pelo Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina
(CESUSC). Bacharel em direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
2 Graduada em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pós-graduanda em Di-
reito Constitucional pela Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDCONST) e em Direito
Público pela Escola Superior da Magistratura Federal no Rio Grande do Sul (ESMAFE-RS). Inte-
grante do Grupo de Estudos em Direito Público (GEDIP/UFSC).
3 Mestrando em Direito pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). Integrante do Grupo de Estudos em Direito Público (GEDIP/
UFSC). Integrante do Grupo de Pesquisa em Direito, Racionalidade e Inteligência Artificial (DRIA.
UnB). Colaborador do Portal Jurídico Investidura (PJI). Colaborador da Loja.Legal. Autor de artigos
acadêmicos, especialmente na área de Direito Administrativo e Tecnologia. Advogado.
65
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
4 ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 85-86.
5 STRECK, Lenio Luiz. Verdade e Consenso: constituição, hermenêutica e teorias discursivas. 4. ed.
São Paulo: Saraiva, 2011, p. 565-569.
66
GUSTAVO STOLLMEIER MATIOLA – ANA LUÍSA SEVEGNANI – EDUARDO ANDRÉ CARVALHO SCHIEFLER
as condutas a serem adotadas pelo Poder Público. Diante dessa análise, impe-
rioso ressaltar que, na atual conjuntura do ordenamento jurídico brasileiro, os
princípios administrativos adquirem a função de conferir eficácia plena ao sis-
tema de gestão administrativa, a fim de concretizar os valores e pressupostos
de um Estado Democrático de Direito.6
A partir da Constituição Federal de 1988, a administração pública brasi-
leira passou a ser o principal agente fomentador e concretizador dos direitos
fundamentais do cidadão, função executada em sua maior parte por intermé-
dio de processos administrativos das mais variadas espécies. Conforme as
lições de Sérgio Ferraz e Adilson Abreu Dallari, o processo administrativo,
atualmente, “muito mais que um iter para a produção dos atos administrati-
vos, [...] é um instrumento de garantia dos administrados em face de outros
administrados e, sobretudo, da própria Administração”, de modo que “nada
do que nele se passa é alheio aos interesses dos administrados, por mais re-
motamente que seja”.7
Nesse contexto, o princípio da publicidade e da transparência administra-
tiva encontram-se elencados dentre os pressupostos fundamentais do ordena-
mento jurídico, objetivando conferir maior clareza e divulgação possíveis entre
os indivíduos da sociedade. O caráter público do poder, para Norberto Bobbio,
consiste em uma característica essencial da democracia, a qual não pode se
manifestar mediante um regime sigiloso.8 Do mesmo modo, a publicidade e
a transparência foram características determinantes para a transformação do
Estado Absoluto, marcado pelo extremo sigilo e ausência de participação social
nas decisões tomadas pelo soberano, ao Estado Constitucional atual, que con-
solidou a regra da ampla publicidade dos atos do Poder Público.9
Essa transformação permitiu o controle sobre a legitimidade, legalidade e
eficácia dos atos administrativos editados, bem como sobre a conduta adotada
pelos agentes públicos. O controle pode se concretizar por meio de alguns ins-
trumentos jurídicos, tais como: a) as certidões emitidas por órgãos para atestar
determinados fatos e para conferir publicidade aos direitos dos cidadãos, pre-
visto na alínea “b” do inciso XXXIV do artigo 5º da Constituição Federal; b) o
direito de petição, no qual os cidadãos podem formular pedidos às instituições
6 FREITAS, Juarez. O Controle dos Atos Administrativos e os Princípios Fundamentais. 2. ed. São
Paulo: Malheiro Editores, 1999, p. 47-49.
7 FERRAZ, Sérgio; DALLARI, Adilson Abreu. Processo Administrativo. 3. ed. São Paulo: Malheiros,
2012, p. 26-31.
8 Com efeito, Bobbio transcreve trecho fundamental do Catecismo Republicano, do bispo de Viço Mi-
chele Natale, para a compreensão da importância da publicidade na formação das democracias mo-
dernas: “Não existe nada de secreto no Governo Democrático? Todas as operações dos governantes
devem ser conhecidas pelo Povo Soberano, exceto algumas medidas de segurança pública, que ele
deve conhecer apenas quando cessar o perigo”. BOBBIO, Norberto. O governo do poder público em
público. In: ______. O Futuro da Democracia: uma defesa das regras do jogo. 6. ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1984, p. 86.
9 BOBBIO, Norberto. Ibid, p. 83-92.
67
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
10 FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 31. ed. São Paulo: Editora
Atlas, 2017, p. 26-27.
11 FREITAS, Juarez. O Controle dos Atos Administrativos e os Princípios Fundamentais. 2. ed. São
Paulo: Malheiro Editores, 1999, p. 70.
12 JÚNIOR, Wallace Paiva Martins. Transparência Administrativa: publicidade e participação popular.
São Paulo: Saraiva, 2004, p. 19-20.
13 RODRIGUES, João Gaspar. Publicidade, Transparência e Abertura na Administração Pública. Revis-
ta de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 266, maio/ago. 2014, p. 93-94.
68
GUSTAVO STOLLMEIER MATIOLA – ANA LUÍSA SEVEGNANI – EDUARDO ANDRÉ CARVALHO SCHIEFLER
69
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
17 SUNDFELD, Carlos Ari. Princípio da Publicidade Administrativa (Direito de Certidão, visita e inti-
mação). Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 199, p. 97-110, jan./mar. 1995.
70
GUSTAVO STOLLMEIER MATIOLA – ANA LUÍSA SEVEGNANI – EDUARDO ANDRÉ CARVALHO SCHIEFLER
71
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
72
GUSTAVO STOLLMEIER MATIOLA – ANA LUÍSA SEVEGNANI – EDUARDO ANDRÉ CARVALHO SCHIEFLER
23 Art. 16. As informações serão apresentadas de forma simples, com a utilização de recursos de nave-
gação intuitiva a qualquer cidadão, independentemente de senhas ou conhecimentos específicos de
informática.
Art. 17. Todo o conteúdo técnico deverá ser precedido de texto introdutório e, sempre que possível,
acompanhado por notas explicativas, na forma de dicas de tela.
24 Art. 7o O acesso à informação de que trata esta Lei compreende, entre outros, os direitos de obter:
I – orientação sobre os procedimentos para a consecução de acesso, bem como sobre o local onde
poderá ser encontrada ou obtida a informação almejada; II – informação contida em registros ou
73
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documentos, produzidos ou acumulados por seus órgãos ou entidades, recolhidos ou não a arquivos
públicos; III – informação produzida ou custodiada por pessoa física ou entidade privada decorrente
de qualquer vínculo com seus órgãos ou entidades, mesmo que esse vínculo já tenha cessado; IV –
informação primária, íntegra, autêntica e atualizada; V – informação sobre atividades exercidas pelos
órgãos e entidades, inclusive as relativas à sua política, organização e serviços; VI – informação
pertinente à administração do patrimônio público, utilização de recursos públicos, licitação, contra-
tos administrativos; e VII – informação relativa: a) à implementação, acompanhamento e resultados
dos programas, projetos e ações dos órgãos e entidades públicas, bem como metas e indicadores
propostos; b) ao resultado de inspeções, auditorias, prestações e tomadas de contas realizadas pelos
órgãos de controle interno e externo, incluindo prestações de contas relativas a exercícios anteriores.
25 Art. 10. Qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a informações aos órgãos e entida-
des referidos no art. 1º desta Lei, por qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter a identificação
do requerente e a especificação da informação requerida.
26 Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder Executivo Federal, o reque-
rente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias [...].
27 Disponível em: <https://www.comprasgovernamentais.gov.br/index.php/painel-de-compras-de-go-
verno> Acesso em 3 out. 2017.
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37 ARAÚJO, Alexandra Fuchs; FILOGONIO, Henrique Magalhães. O combate à corrupção por meio
do controle social participativo: limitações e perspectivas. In: Alexandre J Carneiro da Cunha Filho;
Glaucio Roberto Brittes de Araújo; Roberto Livianu; Ulisses Augusto Pascolati Júnior. (Org.). 48
visões sobre a corrupção. São Paulo: Quartier Latin, 2016, v. 1, p. 168.
38 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Disponível em <http://pfdc.pgr.mpf.
mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/direitos-humanos/declar_dir_homem_cidadao.
pdf>. Acesso em 01 out. 2017.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
39 Art. 41. A Administração não pode descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha
estritamente vinculada. §1o Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar edital de licitação por
irregularidade na aplicação desta Lei, devendo protocolar o pedido até 5 (cinco) dias úteis antes da
data fixada para a abertura dos envelopes de habilitação, devendo a Administração julgar e responder
à impugnação em até 3 (três) dias úteis, sem prejuízo da faculdade prevista no § 1o do art. 113.
40 Art. 4º O edital de chamamento público deverá, no mínimo: [...] IV – ser objeto de ampla publicidade,
por meio de publicação no Diário Oficial da União e de divulgação no sítio na internet dos órgãos e
entidades a que se refere o art. 2º.
41 SCHIEFLER, Gustavo Henrique Carvalho. Op. cit. p. 253.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A publicidade e a transparência são princípios basilares de uma república
democrática participativa, insculpidos expressa e implicitamente pela Cons-
tituição Federal de 1988. Os deveres impostos por esses princípios também
foram normatizados por legislação federal, em especial a Lei de Responsabi-
lidade Fiscal e a Lei de Acesso à Informação. Após a edição da Lei Comple-
mentar n° 131/2009, estas obrigações foram ampliadas para níveis municipal e
estadual, determinando que a administração pública adquirisse uma postura
ativa na disponibilização de dados, a fim de facilitar o acesso às informações
pelos particulares e órgãos de controle.
A transparência, portanto, revela-se como uma forma de publicidade
mais abrangente, que determina uma postura ativa da administração pública
em disponibilizar toda uma série de dados e informações sobre atos e contra-
tos administrativos celebrados pelo Poder Público de forma acessível, sim-
ples e organizada.
Ocorre que não é difícil verificar, em que pese todas as mudanças citadas,
a presença de uma corrupção sistêmica no interior da administração pública
brasileira, especialmente nos órgãos responsáveis pelas contratações e com-
pras públicas, o que faz com que aflore uma sensação generalizada de descon-
fiança, por parte da sociedade, perante o Poder Público.
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GUSTAVO STOLLMEIER MATIOLA – ANA LUÍSA SEVEGNANI – EDUARDO ANDRÉ CARVALHO SCHIEFLER
7. REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2014.
ARAÚJO, A. F. O combate à corrupção por meio do controle social participativo: limitações e
perspectivas. In: Alexandre J Carneiro da Cunha Filho; Glaucio Roberto Brittes de Araújo; Ro-
berto Livianu; Ulisses Augusto Pascolati Júnior. (Org.). 48 visões sobre a corrupção. 1ed. São Paulo:
Quartier Latin, 2016, v. 1.
ASSOCIAÇÃO CONTAS ABERTAS. Índice de Transparência. Disponível em: <https://indicede-
transparencia.com/historico/> Acesso em 3 out. 2017.
BRASIL. Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2011-2014/2012/decreto/d7724.htm> Acesso em 2 out. 2017.
______. Decreto nº 8.428, de 2 de abril de 2015. Disponível: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2015-2018/2015/decreto/d8428.htm> Acesso em 1 out. 2017.
______. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/LCP/Lcp101.htm> Acesso em 28 set. 2017.
______. Lei Complementar nº 131, de 27 de maio de 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/lcp/lcp131.htm> Acesso em 28 set. 2017.
______. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/L8666cons.htm> Acesso em 28 set. 2017.
______. Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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DESBUROCRATIZAÇÃO DA ATIVIDADE ESTATAL
COMO MEIO DE COMBATE À CORRUPÇÃO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Administração Pública, neste trabalho, é entendida como o aparelhamen-
to a serviço do Estado para o exercício da função administrativa, meio pelo
qual se promovem políticas públicas. Essa estrutura, como não poderia deixar
de ser, não funciona por conta própria, depende de recursos humanos para
organizá-la e movimentá-la, os chamados agentes públicos. Para movimentar
a máquina administrativa e executar a função administrativa, os agentes públi-
cos utilizam técnicas de gestão pública. Por conta disso, o sucesso do Estado no
exercício da função administrativa depende, em grande medida, da adoção de
técnicas de gestão pública eficientes por parte dos agentes públicos.
O Estado brasileiro passa por uma intensa crise de legitimidade. Essa crise
decorre, por um lado, da total incapacidade da Administração Pública de exe-
cutar as tais políticas públicas de forma satisfatória. Umas das explicações para
esse fenômeno é que o método de gestão pública burocrático, majoritariamente
utilizado pela Administração Pública nacional, dificulta que a atividade admi-
nistrativa se dê de forma eficiente. Para além disso, a estrutura que o uso do mé-
todo deficiente demanda é extremamente dispendiosa, sendo constantemente
necessário que se busquem formas de racionalizar esses custos. Em defesa do
método burocrático está o fato de que ele supostamente é baseado em premissas
1 Advogado. Sócio fundador da Leduc Lins Advogados. Mestre em Direito pela Universidade Federal
de Santa Catarina – UFSC, onde desenvolveu pesquisa na área de Direito Administrativo. Bacharel
em Direito pela UFSC. Presidente da Alumni ‘32 – Associação dos Egressos da Faculdade de Direito
de Santa Catarina. Vice-Presidente da Comissão de Licitações e Contratos da OAB/SC. Membro da
Comissão de Direito Urbanístico da OAB/SC. Representante titular da OAB/SC no Núcleo Gestor
do Plano Diretor de Florianópolis. Professor do curso de Direito da Faculdade Cesusc, onde leciona
a disciplina de Direito Civil III – Direito das Obrigações. Professor substituto do curso de Direito da
UFSC, onde lecionou as disciplinas de Prática Jurídica II, III e IV (2016-2017). Professor da Fun-
dação Escola de Governo – ENA (2017). Membro do Grupo de Estudos de Direito Administrativo
Constitucionalista – GEDAC e do Grupo de Estudos em Direito Público – GEDIP, ambos vinculados
ao curso de Direito da UFSC. Autor do livro “Organizações Sociais e Contratos de Gestão” (2ª edição
no prelo), além de capítulos de livros e de artigos publicados em periódicos especializados.
2 Advogada. Mestranda em Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de São Pau-
lo – PUC/SP. Graduada em Administração Pública pela Universidade Estadual de Santa Catarina
(2013). Graduada em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (2016). Membro do Gru-
po de Estudos de Direito Administrativo Constitucionalista – GEDAC e do Grupo de Estudos em
Direito Público – GEDIP, ambos vinculados ao curso de Direito da UFSC. Membro da Comissão de
Desenvolvimento e Infraestrutura da OAB/SC.
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2.2. BUROCRACIA
Como se viu, o tipo puro do modelo de gestão burocrático não é possível
de ser aplicado na prática porque não leva em conta as suas disfunções, que
sempre acabam sendo identificadas com o seu uso. O burocratismo, segundo
Bencini, é caracterizado pela:
Proliferação de organismos sem conexão com as exigências gerais de
funcionalidade, acentuação de aspectos formais e processuais sobre os
aspectos substanciais com a consequente morosidade das atividades e
redução das tarefas desempenhadas [...], e, finalmente, triunfo da orga-
nização – a burocracia – sobre suas finalidades10.
Uma das principais disfunções do modelo burocrático e que levam a
chamada burocracia é a presença de uma organização informal no seio da
organização formal, que adota práticas não previstas nos regulamentos bu-
rocráticos. “A presença dessa organização informal decorre da impossibili-
dade de perfeitamente aplicarem-se na prática todos os rigorismos formais
previstos nos regulamentos burocráticos, sem que haja qualquer tentativa de
fuga por parte dos seus membros”11. A completa maquinação da atividade
administrativa realizada por seres humanos é irreal.
7 WEBER, Max. Economia e Sociedade. V.1. 4. ed. Brasília: Editora da Universidade de Brasília,
2012, p. 145.
8 CROZIER, Michel. O Fenômeno Burocrático. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981, p. 281.
9 MOTTA, Fernando C. Prestes; BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Introdução à Organização Buro-
crática. São Paulo: Brasiliense,1980, p. 23.
10 BENCINI apud NOHARA, 2011, p. 57
11 LINS, Bernardo Wildi. Organizações Sociais e Contratos de Gestão. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2015, p. 49.
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BERNARDO WILDI LINS – AMANDA PAULI DE ROLT
14 CAETANO, Marcello. A Reforma Administrativa. In: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella; SUND-
FELD, Carlos Ari (Orgs.). Fundamentos e Princípios do Direito Administrativo: coleção doutrinas
essenciais: Direito Administrativo. V. 1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 117.
15 Maria das Graças Rua informa os fundamentos da New Public Management: “a) O foco é o cidadão,
e as atividades se orientam para a busca de resultados. b) O princípio da eficiência econômica cede
espaço ao princípio da flexibilidade. c) Ênfase na criatividade e busca da qualidade. d) Descentrali-
zação, horizontalização das estruturas e organização em redes. e) Valorização do servidor, multies-
pecialidade e competição administrada. f) Participação dos agentes sociais e controle dos resultados”
(RUA, Maria das Graças. Desafios da Administração Pública Brasileira: governança, autonomia,
neutralidade. Revista do Serviço Público. Brasília, ano 48, n. 3, set./dez. 1997, p. 143).
16 FIGUEIREDO, Cláudio Eduardo Regis. Administração Gerencial & a Reforma Administrativa no
Brasil. Curitiba: Juruá, 2002, p. 68.
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4. CONCEITO DE CORRUPÇÃO
Como é bastante comum nesse segmento do Direito, não existe um con-
senso na doutrina quanto ao conceito de corrupção. Todavia, é possível obter
diversas noções que se aproximam, das quais é possível extraírem-se elemen-
tos para a construção de um conceito útil ao estudo. Por exemplo, para Emer-
son Garcia e Rogério:
Especificamente em relação à esfera estatal, a corrupção indica o uso ou a
omissão, pelo agente público, do poder que a lei lhe outorgou em busca da
obtenção de uma vantagem indevida para si ou para terceiros, relegando a
plano secundário os legítimos fins contemplados na norma. Desvio de po-
der e enriquecimento ilícito são elementos característicos da corrupção19.
Fernando Filgueira e Ana Luiza Melo Aranha comentam o fenômeno na
17 ARAGÃO, Cecília Vescovi de. Burocracia, Eficiência e Modelos de Gestão Pública: um ensaio.
Revista do Serviço Público. Brasília, ano 48, n. 3, set./dez. 1997.
18 Osborne e Gaebler trazem em sua obra analogia que ajuda a esclarecer o ponto: “O governo precisa
de algumas regras, obviamente. O navio do governo precisa de uma ou duas demãos de tinta; se a re-
movermos completamente, deixando o metal à mostra, irá enferrujar. O problema é que os governos
vieram acumulando uma dúzia de demãos de tinta, e mais camadas e camadas de tralha sem utilidade.
A meta da desburocratização é voltar ao ponto de apenas duas demãos de tinta. Essa é a proteção de
que precisamos, para que o navio possa mover-se novamente” (OSBORNE, David; GAEBLER, Ted.
Reinventando o Governo. Brasília: MH Comunicação, 1994, p. 123).
19 GARCIA, Emerson. ALVES, Rogério. Improbidade administrativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2011. p. 7.
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20 FILGUEIRA, Fernando. ARANHA, Ana Luiza Melo. Controle da Corrupção e Burocracia da Linha
de Frente: Regras, Discricionariedade e Reformas no Brasil. Revista Dados. Rio de Janeiro, v. 54, n.
2, 2011, p. 354.
21 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. A corrupção como fenômeno social e político. Revista de
Direito Administrativo. Rio de Janeiro, n. 185, jul./set. 1991, p. 3.
22 PIOVESAN, Flávia. GONZAGA, Victoriana. Combate à corrupção e ordem constitucional: desafios
e perspectivas para o fortalecimento do estado democrático de direito. Revista dos Tribunais, v. 967,
maio 2016, p. 23.
23 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Corrupção e Democracia. Revista de Direito Administrati-
vo. Rio de Janeiro, n. 226, out./dez. 2001, p. 215.
24 FIGUEIREDO, Cláudio Eduardo Regis. Administração Gerencial & a Reforma Administrativa no
Brasil. Curitiba: Juruá, 2002, p. 59
25 Estado, instituições e democracia: república / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília:
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31 LINS, Bernardo Wildi. Organizações Sociais e Contratos de Gestão. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2015, p. 57.
32 BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Gestão do Serviço Público: estratégia e estrutura para um novo
Estado. In: BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos; SPINK, Peter (Orgs.). Reforma do Estado e Admi-
nistração Pública Gerencial. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998.
33 KEINERT, Tania Margarete Mezzomo. Administração Pública no Brasil: crise e mudanças de para-
digmas. 2. ed. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2008, p. 93.
34 ABRUCIO, Fernando Luiz. Trajetória Recente da Gestão Pública Brasileira: um balanço crítico e a
renovação da agenda de reformas. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, Edição Espe-
cial Comemorativa, 2007.
35 BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos; PACHECO, Regina Silvia. Instituições, Bom Estado e Reforma
da Gestão Pública. Revista Eletrônica sobre a Reforma do Estado. Salvador, nº 3, set./out./nov. 2005.
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BERNARDO WILDI LINS – AMANDA PAULI DE ROLT
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Persiste na Administração Pública brasileira o método de gestão pública
burocrático, que objetivava, entre outros, afastar condutas patrimonialistas. Na
prática, apesar de ser importante para a organização da máquina pública, em
muitos casos o modelo burocrático apresentou uma série de disfunções, que
contribuem, até hoje, para a ineficiência do aparato administrativo e para a
promoção de práticas de corrupção.
O método burocrático não afastou as práticas patrimonialistas, quanto
maior a complexidade dos procedimentos mais desvios e corrupção são come-
tidos pelos agentes públicos. Parece, portanto, evidente que a burocracia é um
catalisador da corrupção, na medida em que procedimentos mais complexos
ocasionam fugas do sistema pelos agentes públicos e vendas de facilidades aos
particulares. A burocracia em excesso é um dos fatores que contribui para os
desvios e a captura do aparelho estatal por interesses particulares.
O modelo de gestão pública gerencial, imaginado em 1995 por Bresser
Pereira, pode ser um importante instrumento para mitigar as práticas de cor-
rupção por meio da desburocratização. A desburocratização seria, portanto,
política que contribui para a redução da corrupção, pois (i) elimina a venda de
facilidades ao particular frente aos entraves da burocracia e (ii) reduz a atuação
direta do Estado, elevando o particular à protagonista da gestão pública, res-
tringindo a quantidade de agentes corrompíveis.
Desse modo, a reforma gerencial e outras iniciativas visando a desburo-
cratizar a atividade administrativa ser para mitigar as disfunções da burocracia
e combater a corrupção. Entretanto, muitos órgãos da Administração Pública
ainda são diagnosticados com distorções provocadas pelo excesso de burocra-
cia, contribuindo diretamente com os altos níveis de corrupção no país.
7. REFERÊNCIAS
ABRUCIO, Fernando Luiz. Trajetória Recente da Gestão Pública Brasileira: um balanço crítico e a
renovação da agenda de reformas. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, Edição Especial
Comemorativa, 2007.
ARAGÃO, Cecília Vescovi de. Burocracia, Eficiência e Modelos de Gestão Pública: um ensaio.
Revista do Serviço Público. Brasília, ano 48, número 3, set-dez 1997.
ALVARENGA, Alixandre Abel. Impactos da burocracia no desenvolvimento econômico do país. Dispo-
nível em: <https://unieducar.org.br/artigos/Impactos%20da%20burocracia%20no%20desenvolvi-
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
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A CORRUPÇÃO NAS LICITAÇÕES E CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS – A LEI Nº 8.666/93
EM SEUS 25 ANOS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A corrupção dentro da Administração Pública no Brasil é tema de vasta
discussão, sendo objeto de diversos estudos que vão da área jurídica à psicolo-
gia, passando pela sociologia, economia, administração, contabilidade, dentre
outras áreas do conhecimento.
Não há dúvida, portanto, da complexidade do tema, da dificuldade de se
apresentar soluções simples e unitárias que sejam capazes, em uma espécie de
emplasto milagroso, de resolver esta mazela brasileira que possui raízes histó-
ricas profundas em nossa nação.
Neste contexto seria impossível, sobretudo em um singelo artigo, ter a
pretensão de enfrentar um problema de tamanha magnitude. Logo, o recorte
metodológico do caso torna-se imperativo.
No presente estudo foram aplicados três recortes importantes: o primeiro
divide a corrupção na esfera pública e privada, sendo tratada aqui a corrupção
no âmbito da Administração Pública.
O segundo recorte fundamental é sobre qual área da Administração Pú-
blica será direcionado o estudo, para a qual foi feita a opção de analisar as
contratações públicas, desde a sua fase interna do processo licitatório, até as
etapas de pagamento e encerramento do contrato.
No terceiro recorte metodológico, dividiu-se os atos administrativos pas-
1 Advogado. Mestre e Doutorando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGD/
UFSC).
2 Mestranda em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo. Graduada em Direito pela Uni-
versidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tendo sido contemplada com o Prêmio Alumni ‘32 por
Envolvimento com a Universidade Federal de Santa Catarina. Monitora do curso de Pós-Graduação
em Direito Administrativo da Fundação Getúlio Vargas (SP) – FGVLaw. Presidente do Centro Aca-
dêmico XI de Fevereiro (Gestão 2015/2016). Bolsista da University Studies Abroad Consortium –
USAC para intercâmbio na University of Nevada – Reno (2016). Membro do Grupo de Estudos em
Direito Público – GEDIP/UFSC, vinculado ao PPGD/UFSC.
3 Advogado. Graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Membro do Grupo de
Estudos em Direito Público – GEDIP/UFSC, vinculado ao PPGD/UFSC.
99
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
síveis de corrupção, pela teoria dos atos administrativos, entre atos discricio-
nários e os atos vinculados.
Esta última divisão é a essência do presente artigo, os atos administra-
tivos passíveis de corrupção podem acontecer em duas esferas. De um lado,
gestores mal-intencionados podem praticar atos administrativos ímprobos no
campo de seus atos discricionários ou de menor vinculação legal, de outro se-
riam a corrupção praticada na simples omissão ou descumprimento de um ato
administrativo vinculado.
Assim o gestor agiria em um terreno pantanoso, de difícil controle e ad-
ministração. São exemplos destes atos nos contratos administrativos as espe-
cificações técnicas dos editais, a opção entre a compra ou locação de um deter-
minado bem, a escolha de determinada tecnologia nos sistemas da Adminis-
tração, dentre outros.
Esta espécie de atos corruptivos possui uma complexidade extremamente
alta. São diversos os aspectos a ela relacionados que vão da cultura do jeiti-
nho brasileiro à ingerência política em decisões administrativas, passando pela
falta de capacitação e valorização de servidores públicos, ausência de meca-
nismos lícitos para que a empresa privada apresente novas soluções ao Poder
Público, volume de operações contratuais contrastado com a insuficiência da
estrutura dos órgãos de controle para fazer frente a todos os processos, além
de diversas outras causas.
Por outro lado, no que tange ao controle de atos vinculados, naqueles em
que a legislação prevê, claramente, os critérios e prazos para realização do ato,
a omissão do gestor público ou a prática de atos corruptivos seria, ao menos
em tese, mais facilmente controlável.
Isto porque, diferentemente dos atos discricionários, nos quais sempre
haverá uma discussão teórica acerca da viabilidade do judiciário se imiscuir
nas atividades administrativas, ou da própria atividade de controle tendo in-
gerência sobre atos de gestão, nos atos de natureza vinculada, a ação do gestor
segue parâmetros objetivados por lei, o que deveria representar uma possibili-
dade de controle mais rápido e efetivo.
Tome-se, como exemplo, o pagamento de um contrato administrativo. O
prazo de pagamento máximo estabelecido por lei é de 30 (trinta) dias contados
da data do adimplemento da obrigação pelo particular (alínea “a” do inciso
XIV do art. 40 da Lei 8.666/1993). Trata-se de ato estritamente vinculado, no
qual o gestor público tem o dever de pagar até o limite do prazo legal.
Mesmo nos atos vinculados, em que o gestor público teria a obrigação
legal de agir, por vezes até mesmo com prazo estabelecido em lei, é cediço que
muitos casos não ocorre o cumprimento da obrigação legal.
100
FELIPE CESAR LAPA BOSELLI – GIOVANNA MAISA GAMBA – LEONARDO MORAES
2. OS GATILHOS DE CORRUPÇÃO
O processo licitatório contratual tornou-se, nos últimos anos, a menina
dos olhos da corrupção no cenário nacional. Passados os grandes escândalos de
funcionários fantasmas, ainda presentes, mas em menor quantidade, a grande
caixa-preta nacional no que tange à corrupção, são os contratos administrativos.
O histórico da Lei nº 8.666/1993 apresenta este indicativo, uma norma
redigida e aprovada na onda do processo de impeachment do ex-presidente
Fernando Collor, sob a acusação de inúmeros casos de corrupção, dentre eles
diversos ligados à contratação pública.
Neste cenário, a Lei nº 8.666/1993 veio como um claro instrumento de
combate à corrupção, na qual pretendia-se estancar os pontos nodais do pro-
cesso licitatório, nos quais existiriam a possibilidade de prática a atos lesivos
ao patrimônio público.
A Lei nº 8.666/1993 possui, espalhada entre seus 126 artigos, diversos
elementos que permitem identificar esses gatilhos de corrupção, nos quais foi
restringida a liberdade de agir do gestor público, de forma a limitar a possibi-
lidade de praticar atos lesivos ao erário.
Dentre estes diversos gatilhos de corrupção limitados pelo legislador, po-
dem ser destacados:
a) a combinação entre vinculação ao instrumento convocatório e julgamento
objetivo (arts. 3º e 41), que limitam o poder decisório do gestor na análise
das propostas;
b) a cronologiciedade dos pagamentos (art. 5º) que estabelece a ordem de pa-
gamento de acordo com as suas exigibilidades, impedindo que o gestor
público ordene o pagamento de acordo com sua preferência ou vantagens
recebidas;
c) a vedação, como regra geral, à limitação de marca no processo licitatório
101
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(art. 15, § 7º), como forma de impedir que o gestor direcione o instrumento
convocatório a um fornecedor específico;
d) a interpretação restritiva aplicada às dispensas de licitação (art. 24), limi-
tando os processos em que o gestor pode contratar de forma direta, sem a
realização de licitação;
e) os critérios máximos estabelecidos para a habilitação das empresas (arts.
27 a 33), evitando que o gestor público exigisse documentos que pudessem
direcionar, indevidamente, a escolha da empresa a ser contratada;
f) as condições mínimas estabelecidas para o edital (art. 40), em especial:
i) prazo para assinatura (inciso II), evitando que o gestor deixe de
firmar contrato com o licitante vencedor;
ii) os critérios de julgamento claramente expostos (inciso VII), restrin-
gindo a possibilidade de subjetivismos no certame; e
iii) as condições de pagamento e o prazo (inciso XIV), afastando a pos-
sibilidade da exigência de vantagens indevidas para liberação do
pagamento devido ao contratado.
a) a definição dos prazos de execução e possibilidades de prorrogação (art.
57, § 1º), garantindo isonomia na execução contratual entre os licitantes e
evitando que vantagens escusas pudessem garantir à empresa o direito a
atrasar a execução contratual desmotivadamente;
b) os critérios para alterações contratuais, sobretudo quanto ao seu valor (art.
65), garantindo isonomia e que a vantajosidade aferida no processo licita-
tório seja mantida durante a execução do contrato;
c) os prazos para recebimento do objeto (art. 73), inclusive com a regra de re-
cebimento tácito (art. 73, §4º), criando a obrigação legal de o fiscal da obra
dar o atesto da entrega que libera o particular de suas obrigações; e
d) os casos em que é possível a rescisão contratual (art. 78) evitando a pos-
sibilidade de rescindir contrato com o particular que se negue a oferecer
vantagens a determinado gestor.
Nota-se que, além de outros casos, evidentemente, o legislador, em di-
versas oportunidades, buscou limitar a possibilidade de coação da empresa
licitante ou contratada a determinado pagamento ou vantagem.
Reitere-se aqui, de forma contundente, não se está a afirmar que a corrup-
ção ocorre apenas nestes casos, nem mesmo que esta é a maior parte das suas
possibilidades. O que se está a desenvolver no presente artigo é, tão somente,
um recorte metodológico, para que se possa buscar uma solução, ainda que
parcial, para um problema complexo que, certamente, jamais poderia ser en-
frentado com uma ou poucas intervenções isoladas.
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4 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2014, p. 391.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
mento do contrato; de outro lado, não pode ir além deste estritamente necessá-
rio, que, na realidade, na maioria das vezes, é verificado caso a caso.
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5 Considerando que o pagamento fora da ordem cronológica é crime tipificado no artigo 92 da Lei nº
8.666/1993 e que os portais de transparência infelizmente ainda padecem de problemas relacionados
à falta de atualização ou mesmo à ausência de informações relevantes, os autores optaram por não
citar nenhum caso específico. Não obstante, basta o leitor acessar alguns portais de transparência, na
aba de pagamentos a fornecedores, que conseguirá constatar, por si, o quão contumaz é esta prática.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
6 VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Direito Comercial: Teoria Geral do Contrato. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2014, p. 127.
7 NIEBUHR, Joel de Menezes. Dispensa e Inexigibilidade de Licitação Pública. Belo Horizonte: Fó-
rum, 2015, p. 74.
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FELIPE CESAR LAPA BOSELLI – GIOVANNA MAISA GAMBA – LEONARDO MORAES
tação obrigacional.
O aumento do risco, por lógica, implica no aumento do valor dos contra-
tos. Ora, no momento de realização da proposta, o particular precisa conside-
rar no seu custo todos os riscos envolvidos no pacto que está aderindo. Veja-se,
isso não se refere apenas aos contratos firmados entre a Administração Pública
e particulares, mas a todos os negócios jurídicos firmados entre dois sujeitos
dotados de capacidade.
Além dessa necessária implicação no aumento do risco gerado pelo pró-
prio dispositivo legal, ele ainda é agravado pela interpretação equivocada exa-
rada em precedentes judiciais que decidem com base em princípios normati-
vos e afastam regras legais.
Por vezes, com base no princípio da continuidade do serviço público, sus-
tentado na tese da supremacia do interesse público, olvida-se a regra prevista
na Lei de Licitações e se impede o particular de rescindir o contrato por conta
do inadimplemento do ente público, o que é incompatível com o ordenamento
vigente, conforme cita Justen Filho:
Quando a CF/1988 assegura a propriedade privada, reprime a expropriação
de bens particulares sem previa indenização, impõe a moralidade e obriga
à distribuição equitativa das cargas públicas, produz um conjunto insupe-
rável de limites à atuação estatal. Esse plexo de garantias não pode ser frus-
trado por via direta nem indireta. Logo, não se admite que a Administração
obtenha, através do expediente de cessar os pagamentos devidos ao contra-
tado, o efeito de apropriar-se do patrimônio privado. A hipótese caracteriza
espécie de confisco, incompatível com a ordem jurídica vigente.8
Deste modo, a interpretação do dispositivo deve ser no sentido de asse-
gurar o interesse público e, ao mesmo tempo, respeitar a propriedade privada,
não configurando situação de onerosidade excessiva ao particular. Quando
ocorrem situações que resultem num prejuízo extremo, a única alternativa que
resta ao contratado é negociar diretamente com o ente público para que seja
efetuado o pagamento, sob pena de falência. É então que se abre espaço para
tratativas escusas e ilegais.
Para garantir que sua contraprestação seja sempre adimplida e, preferen-
cialmente, no prazo pactuado, o particular pode se ver obrigado a negociar
com a Administração Pública e, eventualmente, ao pagamento de propina para
os agentes públicos envolvidos.
Isso gera um duplo efeito: particulares que não estejam interessados em
arcar com custos tão altos e, conhecedores da realidade que circunda o Po-
der Público, tendem a não participar de licitações, deixando o caminho aberto
8 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2014, p. 1178.
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FELIPE CESAR LAPA BOSELLI – GIOVANNA MAISA GAMBA – LEONARDO MORAES
Com isso tudo se quer dizer que a interpretação ora atribuída à suprema-
cia do interesse público, princípio que grande parte da doutrina administrativa
ainda considera como o fundamento do próprio direito administrativo, contri-
bui para a bancarrota do Estado. Ora, a salvaguarda do interesse público não
significa, de forma alguma, o desrespeito ao direito de particulares de boa-fé,
como vem sendo aplicado em diversas decisões de tribunais.
Em importante lição sobre o tema, assim escreveu Justen Filho:
[...] o ordenamento jurídico é composto por uma pluralidade de princí-
pios, que refletem a multiplicidade dos valores consagrados constitucio-
nalmente. Pela própria natureza dos princípios, é usual a colidência na sua
aplicação. Isso não significa que se configure contradição no ordenamento
jurídico, nem se impõe a eliminação de um dos princípios colidentes. Por-
tanto, a supremacia e indisponibilidade do interesse público não afasta a
existência de outros princípios, destinados inclusive a assegurar a proprie-
dade e a liberdade privadas.10
É preciso que haja significativa mudança de mentalidade por parte de
agentes públicos e, principalmente, do Poder Judiciário, no sentido de reco-
nhecer a importância de se garantir a mínima segurança dos particulares que
decidem contratar com o Poder Público, sob pena de afastar os empresários
idôneos e probos, criando-se verdadeiro favorecimento àqueles que sucum-
bem às barganhas ofertadas pelos detentores do poder.
Ora, é imprescindível que, no caso concreto, sejam aplicadas as previ-
sões legais que estabelecem um mínimo de garantia de que a contraprestação
contratual por parte da Administração vai ser efetivada. E mais: é preciso que,
frente a uma ilegalidade, o Poder Judiciário seja eficiente e célere no reconheci-
mento do direito do particular, quando provocado.
Veja que aqui não se trata de um “caça às bruxas” de agentes públicos
ímprobos. Na verdade, o objetivo é somente proteger o direito obrigacional de
quem contrata com o Poder Público.
Ora, se o particular sofreu determinada ameaça ou lesão, é preciso que
essa situação seja revertida com o máximo de brevidade. Para uma empresa,
pouco importa se o agente público foi processado em Ação Civil Pública,
destituído do cargo e sofrido todas as sanções previstas na Lei de Improbi-
dade. O que de fato importa é que a empresa tenha seu crédito devidamente
adimplido e de forma célere.
Na medida em que se institucionalizar um ambiente de segurança para
os entes envolvidos, as relações negociais serão azeitadas e tenderão a render
melhores frutos para a própria Administração Pública. Com mais particulares
10 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014,
p. 151.
113
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
6. REFERÊNCIAS
CAMMAROSANO, Márcio. Contratos administrativos: atrasos de pagamentos e direitos dos
contratados. Fórum de Contratação e Gestão Pública – FCGP, Belo Horizonte, ano 14, n. 167, nov.
2015. Disponível em: <http://www.bidforum.com.br/PDI0006.aspx?pdiCntd=238969>. Acesso em:
1 mar. 2018.
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
______. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2014.
NIEBUHR, Joel de Menezes. Dispensa e Inexigibilidade de Licitação Pública. Belo Horizonte: Fórum,
2015.
______. O que fazer diante do inadimplemento da administração pública. Direito do Estado, ano
2016, n. 95. Disponível em: http://www.direitodoestado.com.br/colunistas/joel-de-menezes-nie-
buhr/o-que-fazer-diante-do-inadimplemento-da-administracao-publica. Acesso em: 01 mar. 2018.
SUNDFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo para céticos. São Paulo: Malheiros, 2014.
VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Direito Comercial: Teoria Geral do Contrato. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2014.
114
OUTORGAS DE RADIODIFUSÃO, LIBERDADE DE
INFORMAÇÃO E VÍNCULOS ENTRE A ESFERA POLÍTICA
E MÍDIA
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Não há como negar a essencialidade do papel da imprensa na garantia
dos ideais democráticos, pois é quem fiscaliza os poderes, informa, investiga
e denuncia, sendo uma peça chave no combate à corrupção e na construção
de instituições sólidas. Coincidência ou não, um levantamento recente feito
pelo Repórteres sem Fronteiras4 revela que as primeiras posições no ranking
mundial da liberdade de imprensa são ocupadas por países reconhecidos
pela integridade de seu governo e população, enquanto nos últimos lugares
estão países que enfrentam problemas crônicos de corrupção, guerras ou re-
gimes ditatoriais.
Além de noticiar os acontecimentos e dar transparência aos atos e deci-
sões governamentais que serão considerados pela população para firmar suas
convicções, a mídia transmite ao governo os anseios e insatisfações sociais,
sendo uma razão à orientação de políticas públicas num sentido ou em outro.
Por este motivo, o artigo 220 da Constituição Federal assegura a manifestação
do pensamento, a liberdade de criação, expressão e informação, e igualmente
proíbe a oposição de entraves à plena liberdade de imprensa em qualquer veí-
culo de comunicação social.
Unindo as peças deste mosaico, chega-se a uma primeira conclusão: a
proximidade entre os meios de comunicação e os detentores do poder é pre-
judicial ao jogo democrático, pois retira da mídia seu papel contramajoritá-
rio, tornando-a porta-voz do governo em exercício. Como consequência, a
1 Pós-graduado em Direito Administrativo pela FGV Direito SP e mestre em Direito do Estado pela
PUC/SP. Advogado e membro do Grupo de Estudos em Direito Público – GEDIP.
2 Mestre em Direito Administrativo pela Universidade Federal de Santa Catarina. Bacharel em Direito
pela UFSC. Advogado e membro do Grupo de Estudos em Direito Público – GEDIP.
3 Pós-graduado em Direito Administrativo pela Unisul. Procurador Federal da AGU e membro do
Grupo de Estudos em Direito Público – GEDIP.
4 REPORTERES SEM FRONTEIRAS. Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa 2017. Dis-
ponível em: < https://rsf.org/pt/classificacao_dados>. Acesso em: 05 ago. 2017.
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5 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 37. ed. São Paulo: Saraiva,
2011, p. 116.
6 SANTOS, Suzy; CAPPARELLI, Sérgio. Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um velho
conceito. In: BRITTOS, Valério Cruz; BOLANO, Cesar Ricardo Siqueira (org.). Rede Globo: 40
anos de poder e hegemonia. 1. ed. São Paulo: Paulus, 2005.
7 SANTOS, Suzy; CAPPARELLI, Sérgio. Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um velho
conceito. In: BRITTOS, Valério Cruz; BOLANO, Cesar Ricardo Siqueira (org.). Rede Globo: 40
anos de poder e hegemonia. 1. ed. São Paulo: Paulus, 2005.
8 BRASIL. Acesso à internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal: 2015
/ IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. – Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível em
<http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv99054.pdf>. Acesso em 15 jul. 2017
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GIANCARLO BERNARDI POSSAMAI – GUSTAVO RAMOS DA SILVA QUINT – RAFAEL BARRETO DA SILVA
zo, este texto apresenta um diagnóstico do uso político das outorgas de rádio
e TV no Brasil, e tenta traçar algumas linhas de reflexão sobre o tema.
9 GRAU, Eros. A ordem econômica na Constituição de 1988 (interpretação e crítica). 14. ed. São
Paulo: Malheiros, 2010. p. 138.
10 Há quem chame atenção para as distorções que esta sistemática parece causar, já que a necessidade
de atos do Executivo e do Congresso Nacional na concessão e renovação de outorgas resulta num
conflito de interesses que compromete a imparcialidade decisória dos parlamentares: “é razoável
supor que os deputados e senadores radiodifusores estarão propensos a votar pela aprovação para
não prejudicar futuras análises de seus próprios processos” (ARAÚJO, Bráulio Santos Rabelo de.
A inconstitucionalidade da participação de políticos como sócios ou associados de pessoas jurídicas
prestadoras de radiodifusão. Revista Trimestral de Direito Público, n. 59, Malheiros, 2013. p. 175).
11 BARROSO, Luís Roberto. Constituição, comunicação social e as novas plataformas tecnológicas. Re-
vista Brasileira de Direito Público – RDBP, ano 1, n. 3, out/dez 2003. Belo Horizonte: Fórum. 2003.
12 FARACO, Alexandre Ditzel. Democracia e regulação das redes eletrônicas de comunicação: rádio, televi-
são, Internet – Novos cenários. Revista de Direito de Informática e Telecomunicações, v. 10, p. 61, 2011.
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GIANCARLO BERNARDI POSSAMAI – GUSTAVO RAMOS DA SILVA QUINT – RAFAEL BARRETO DA SILVA
19 “Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão: I – desde a expedição do diploma: a) firmar ou manter
contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uni-
formes.” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 14 out. 2017).
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
20 “Art. 38. [...] § 1º Não poderá exercer a função de diretor ou gerente de concessionária, permissio-
nária ou autorizada de serviço de radiodifusão quem esteja no gozo de imunidade parlamentar ou de
foro especial. [...]” (BRASIL. Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4117.htm>. Acesso em: 14 out. 2017).
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21 “Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão: II – desde a posse: a) ser proprietários, controla-
dores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito
público, ou nela exercer função remunerada;” (BRASIL. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
htm>. Acesso em: 14 out. 2017).
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GIANCARLO BERNARDI POSSAMAI – GUSTAVO RAMOS DA SILVA QUINT – RAFAEL BARRETO DA SILVA
22 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Penal 530, Mato Grosso do Sul. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=7516225>. Acesso em: 20
out. 2017.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
5. CONSIEDERAÇÕES FINAIS
Para o fortalecimento do processo democrático, é possível dizer que
a melhor solução pressupõe justamente de uma interpretação sistêmica da
Constituição, que refute a argumentação da Presidência na ADPF 429, para
estender a proibição também aos cotistas, na medida em que participam da
empresa e sobre ela têm influência.
Embora uma decisão do STF não seja capaz, por si só, de resolver em
definitivo os problemas que decorrem dos vínculos de conexão entre a esfera
política e o interesse privado formados através da distribuição de outorgas
de radiodifusão a parlamentares, visto que muitos deles continuarão adotan-
do estratégias para burlar controles e contornar vedações legais, será um pas-
so importante para garantir o exercício do mandato sem influências externas,
e para evitar que detentores de cargo eletivo continuem se valendo de sua
força política para contratar com o Poder Público.
Além disso, contribuirá para uma imprensa efetivamente livre de des-
mandos políticos, e, em última análise, para o combate à corrupção vem mi-
nando o tecido político, econômico e social do país.
6. REFERÊNCIAS
BARROSO, Luis Roberto. Constituição, comunicação social e as novas plataformas tecnológicas.
Revista Brasileira de Direito Público – RDBP, Ano 1, n. 3, out/dez 2003. Belo Horizonte: Forum.
2003.
BERCOVICI. Gilberto. Concessões, permissões e autorizações de radiodifusão por pessoas
jurídicas que possuem políticos titulares de mandato eletivo como sócios ou associados – in-
constitucionalidade. Revista Trimestral de Direito Público, n. 58, Malheiros, p. 119-120. 2013.
______. Parecer Rádio Arco-Íris. Disponível em: <http://midia.pgr.mpf.mp.br/pfdc/hotsites/mp-
dcom/docs/concessao/atuacao%20judicial/Parecer-Radio-Arco-Iris-final.pdf >. Acesso em: 05
126
GIANCARLO BERNARDI POSSAMAI – GUSTAVO RAMOS DA SILVA QUINT – RAFAEL BARRETO DA SILVA
nov. 2017.
BRASIL. IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Acesso à internet e à televisão e posse de
telefone móvel celular para uso pessoal: 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível em <http://
biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv99054.pdf>. Acesso em 15 jul. de 2017.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AÇÃO PENAL 530 MATO GROSSO DO SUL. Disponível
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 14 out. 2017.
BRASIL. Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
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FARACO, Alexandre Ditzel. Democracia e arthurdas redes eletrônicas de comunicação: rádio,
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FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 37 ed. São Paulo: Saraiva,
2011. p. 116.
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São Paulo: Malheiros, 2010. p. 138.
______. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. São Paulo: Malheiros, 2009, p.
132.
PESSOA, Gabriela; PITOMBO, João Paulo. Políticos repassam concessões de rádio e TV para
parentes. Folha de São Paulo, 27 de julho de 2017. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.
br/poder/2017/07/1904653-politicos-repassam-concessoes-de-radio-e-tv-para-parentes.sht-
ml>. Acesso em 09 dez. 2017.
REPORTERES SEM FRONTEIRAS. Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa 2017. Dispo-
nível em: <https://rsf.org/pt/classificacao_dados>. Acesso em: 5 ago. 2017.
SANTOS, Suzy; CAPPARELLI, Sérgio. Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um
velho conceito. In. BRITTOS, Valério Cruz; BOLANO, Cesar Ricardo Siqueira (org.). Rede Glo-
bo: 40 anos de poder e hegemonia. 1. ed. São Paulo: Paulus, 2005.
SCORMI, Ericson Meister. A noção de serviço público e os sistemas de radiodifusão. Revista de
Direito da Informática e de Telecomunicações – RDIT, Belo Horizonte, v. 6, n. 10, p. 83, jan./
jun. 2011.
127
A CORRUPÇÃO ATRAVÉS DA EVASÃO FISCAL NO
BRASIL: EM BUSCA DE UM NOVO PARADIGMA
Joacir Sevegnani1
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este estudo propõe-se a avaliar o fenômeno da evasão fiscal como uma es-
pécie do gênero corrupção, haja vista que, do ponto de vista financeiro, ambas
produzem desvios de recursos públicos, distinguindo-se apenas das demais
formas sob o aspecto temporal. Enquanto a evasão fiscal operacionaliza-se por
meio de ações ou omissões tendentes a reduzir total ou parcialmente o reco-
lhimento dos tributos, evitando assim que ingressem nos cofres públicos, as
demais formas de corrupção apenas se diferenciam pelo desvio de montantes
que já pertenciam ao Estado.
Embora não seja possível quantificar exatamente os valores resultantes da
evasão fiscal no Brasil, em comparação com as demais espécies de corrupção,
pesquisas demonstram claramente que a ocultação e não recolhimento de tri-
butos excede em muito os desvios perpetrados por meio da retirada posterior
de dinheiro público em favor próprio.
O mecanismo há muito defendido pelas administrações tributárias para
reduzir o problema da evasão fiscal resume-se à criação de instrumentos de
maior controle e, especialmente, à instituição de penalidades rigorosas aos in-
fratores, com base na premissa de que é o temor da sanção que permite deses-
timular o descumprimento das obrigações tributárias. Esta análise não des-
considera a importância das sanções, mas segue noutra direção, procurando
conferir uma maior ênfase às relações que precedem a constituição do crédito
tributário de ofício, mediante a aplicação de multa punitiva, com ênfase na
transparência e na atuação fiscal preventiva.
Neste contexto, apresentam-se, preliminarmente, algumas impressões
a respeito da correlação existente entre a corrupção e a evasão fiscal, para
após indicar instrumentos e políticas que podem contribuir não apenas para
a redução da evasão fiscal, mas, sobretudo, para a criação de um ambiente
de mútuo respeito e colaboração entre os contribuintes e o Estado. Para esse
1 Auditor Fiscal da Receita Estadual do Estado de Santa Catarina; Professor de Direito Tributário e Direi-
to Constitucional no Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI;
Mestre e Doutor em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; Doutor sob a
modalidade de cotutela e dupla titulação pela Universidade de Perugia – UNIPG (Itália).
128
Joacir Sevegnani
2 GARCIA, Emerson. A corrupção: uma visão jurídico-sociológica. Revista dos Tribunais, São Paulo,
v. 820, fev. 2004, p. 440.
3 A Bíblia Sagrada faz inúmeras referências à corrupção, a exemplo da passagem em Isaías, capítulo
1, versículos 21 a 23: “Como se transformou em prostituta a cidade fiel! Antes era cheia de direito, e
nela morava a justiça; agora, está cheia de criminosos! A sua prata se tornou lixo, o seu vinho ficou
aguado. Os seus chefes são bandidos, cúmplices de ladrões: todos eles gostam de suborno, correm
atrás de presentes; não fazem justiça ao órfão, e a causa da viúva nem chega até eles.”
4 Sócrates defendeu em vida a necessidade dos homens agirem para o bem, sem corromperem a pró-
pria consciência. A sua obra maior eternizou-se pelas suas ações sempre coerentes com os valores
éticos que ensinara. Mesmo no seu julgamento e nos dias que antecederam sua execução, manteve-se
fiel aos seus princípios. Percebendo que poderia ser condenado injustamente, não ousou implorar a
benevolência dos seus julgadores ou fazer concessões. Quando amigos suplicaram-lhe que aceitasse
a fuga que haviam preparado, Sócrates nega-se e explica com serenidade: “a única coisa que importa
é viver honestamente, sem cometer injustiças, nem mesmo em retribuição a uma injustiça recebida”
(PLATÃO. Apologia de Sócrates; Xenofonte; Ditos e feitos memoráveis de Sócrates; Apologia de
Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 8-12)
129
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
130
Joacir Sevegnani
9 Lei de Gérson é uma alusão a uma propaganda de cigarros da década de 70, na qual o jogador Gerson,
da Seleção Brasileira de futebol, afirmava que o importante na vida era levar vantagem em tudo.
10 BARBOSA, Lívia. O jeitinho brasileiro. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 22.
11 OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Ética e racionalidade moderna. São Paulo: Loyola, 1993, p. 43-46.
12 “A evasão caracteriza o procedimento contrário à lei, revestido de artifícios e manipulações de fatos,
procurando ocultar o verdadeiro ato ou negócio querido e realizado, penetrando, assim, no campo do
ilícito. A evasão abrange o gênero do qual são espécies tanto a sonegação e a fraude, como a simula-
ção, a dissimulação, o abuso de forma etc., que implicam na obtenção de vantagem fiscal, por meio
de utilização de procedimentos ou caminhos diferentes daqueles abrigados ou permitidos pela lei que
resultam em violação (condutas proibidas ou vedadas) ou na prática de manobras e fraudes.” (TÔR-
RES, Heleno Taveira; Queiroz, Mary Elbe (Coord.). Desconsideração da personalidade jurídica em
matéria tributária. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 85-86).
131
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
132
Joacir Sevegnani
causa ao País são de aproximadamente 69 bilhões de reais por ano. (Custo da corrupção no Brasil
chega a R$ 69 bi por ano. FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Disponível
em: <http://www.fiesp.com.br/noticias>. Acesso em: 13 out. 2017)
16 MONTESQUIEU, Charles de Secondat. O espírito das leis: as formas de governo, a federação, a
divisão dos poderes, presidencialismo versus parlamentarismo. p. 146-147.
17 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 504.
18 “A reiteração das práticas corruptas e a inevitável sedimentação da concepção de que, além de inevi-
133
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
Por isso, em certo sentido, a evasão fiscal e o desleixo dos cidadãos consu-
midores em participar ativamente, mediante a prática de ações que contribuam
para o recolhimento dos tributos, está relacionada à forma como é gerida a
coisa pública. Como exclamava Sáinz de Bujanda, quantas vezes “a fraude não
é senão uma torpe e amarga reação frente a um Estado em que se perdeu a
fé”19. Deste modo, o desrespeito às leis tributárias pode ser reduzido a níveis
mais aceitáveis, quando os gestores públicos conduzem a administração com
respeito às normas e aos valores éticos inerentes ao bem público.
Com aporte nestas considerações, infere-se que a corrupção, incluída a
evasão fiscal, possui direta relação com a estruturação do Estado e a forma
com que seus dirigentes o administram. Um Estado que não se concretiza em
bases justas e voltado ao bem comum, governado muitas vezes para o interes-
se de poucos, cria um distanciamento da comunidade que, não se perceben-
do a ele integrada, apresenta um comportamento apático em relação à coisa
pública. Porém, quando a sociedade brasileira estabelece uma resistência aos
tributos, seja na condição de contribuinte de direito20 ou como contribuinte
de fato21, em vista da corrupção e malversação do dinheiro público, combate
um mal com outro mal, do que resulta um círculo vicioso que degenera ainda
mais os valores que a sustentam.
Por outro lado, a corrupção não se limita apenas aos espaços em que atua
o poder público, ainda que nele se torne mais evidente, como também não é
plausível imaginar-se que no Estado esteja toda a origem deste vício. O Estado
é gerido por representantes escolhidos, direta ou indiretamente, entre os seus
membros, o que faz presumir que cidadãos justos tornam-se administradores
justos, assim como o seu oposto22. Ademais, comumente a corrupção concreti-
za-se por meio de uma relação bipolar, entre corruptor e corrompido, em que
num dos lados atuam agentes dos poderes públicos e, noutro, da coletividade.
Destarte, a corrupção na Administração Pública e a corrupção na sociedade ci-
táveis, são toleráveis, possibilita a ‒institucionalização da corrupção‒, o que tende a atenuar a cons-
ciência coletiva e associar a corrupção às instituições, implementando uma simbiose que dificilmente
será revertida” (GARCIA, Emerson. Repressão à corrupção no Brasil: entre realidade e utopia. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 04).
19 BUJANDA, Fernando Sainz de. Hacienda y derecho: Introducción al Derecho Financeiro de nuestro
tiempo. Madri: Instituto de Estúdios Políticos, 1962, v. I, p. XIX.
20 Contribuinte de direito ou sujeito passivo da obrigação tributária é aquele que tem o dever legal de
recolher o tributo.
21 Contribuinte de fato é a pessoa que suporta o ônus econômico do tributo, total ou parcialmente, por
não poder repassar o seu custo a outra pessoa. Em resumo, é o consumidor final.
22 “A corrupção está associada à fragilidade dos padrões éticos de determinada sociedade, os quais se
refletem sobre a ética do agente público. Sendo este, normalmente, um mero ‘exemplar’ do meio
em que vive e se desenvolve, um contexto social em que a obtenção de vantagens indevidas é vista
como prática comum dentre os cidadãos, em geral, certamente fará com que idêntica concepção seja
mantida pelo agente nas relações que venha a estabelecer com o Poder Público. Um povo que preza
a honestidade provavelmente terá governantes honestos. Um povo que, em seu cotidiano, tolera a
desonestidade e, não raras vezes a enaltece, por certo terá governantes com pensamento similar”
(GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 6. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2011, p. 9).
134
Joacir Sevegnani
23 “As políticas públicas, ademais, são sensivelmente atingidas pela evasão fiscal, que consubstancia
uma das facetas dos atos de corrupção. Com a diminuição da receita tributária, em especial daquela
originária das classes mais abastadas da população, diminui a redistribuição de renda às classes me-
nos favorecidas e aumenta a injustiça social. Esse quadro ainda servirá de elemento limitador à ajuda
internacional, pois é um claro indicador de que os fundos públicos não chegam a beneficiar aqueles
aos quais se destinam” (GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa.
6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 25).
24 Expressão adotada por José Casalta Nabais, na obra “O dever fundamental de pagar impostos: contribu-
to para a compreensão do estado fiscal contemporâneo”, publicado pela Editora Coimbra de Portugal.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
25 BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. 10. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2006, p. 98.
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137
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31 BUJANDA, Fernando Sainz de. Teoria de la educación tributaria. Madrid: Leal, 1967, p. 49-51,
101, 119.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
32 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3. ed. rev. São
Paulo: Globo, 2001, p. 233.
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Joacir Sevegnani
33 “Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo
lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato
gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo
devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.”
34 MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 25. ed. São Paulo: RT, 2000. p. 468.
35 MARTINS, Ives Gandra da Silva et al. O princípio da moralidade no direito tributário. 2. ed. atual.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998, (Pesquisas tributárias. Nova série; n. 2), p. 35-36.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
36 Para aprofundamento do tema, vide a obra: ARONSON, Elliot. O animal Social: introdução ao Estu-
do do Comportamento Humano. Tradução de Noé Gertel. São Paulo: IBRASA, 1979. Título original:
The Social Animal.
37 GIANNETTI, Eduardo. Vícios privados, benefícios públicos?: A ética na riqueza das nações. São
Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 94-96.
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Joacir Sevegnani
38 “Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for
o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada
pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração. Parágrafo único.
Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de qualquer procedimento admi-
nistrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração.”
143
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
144
Joacir Sevegnani
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As proposições apresentadas procuraram demonstrar que é possível re-
duzir o nível de evasão fiscal se, por um lado, forem instituídos mecanismos
que proporcionem uma ampliação efetiva da transparência nas administrações
tributárias, especialmente por meio da participação nas discussões envolvendo
a elaboração e aplicação das normas tributárias e, por outro, se ocorrer a imple-
mentação de um modelo de atuação fiscal essencialmente preventiva.
A participação pode ocorrer, por exemplo, através da criação de câmaras
de discussões, em que podem participar representantes dos governos e dos
contribuintes, o que favoreceria não apenas o nível de consentimento das nor-
mas tributárias editadas, mas também oportunizaria uma melhor compreen-
são do conteúdo que delas emanam. Ademais, a participação atuaria como um
importante instrumento para promover uma simplificação das legislações tri-
butárias. Quando as normas legais são consentidas e compreendidas, opera-se
naturalmente uma redução no desejo de descumpri-las.
145
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
5. REFERÊNCIAS
BARBOSA, Lívia. O jeitinho brasileiro. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de Ivo Storniolo et al. São Paulo: Paulus, 1990.
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. 10. ed. São Pau-
lo: Paz e Terra, 2006.
BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 14 out. 2017.
BUJANDA, Fernando Sainz de. Hacienda y Derecho: Introducción al Derecho Financeiro de nuestro
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Joacir Sevegnani
147
AS PRÁTICAS DE DESONERAÇÃO TRIBUTÁRIA E
O COMBATE À CORRUPÇÃO: AMPLIAÇÃO DO
CONTEÚDO DA CIDADANIA PELO INCREMENTO DE
INSTRUMENTOS DE ACCOUNTABILITY DEMOCRÁTICA
OU RESPONSABILIZAÇÃO POLÍTICA ININTERRUPTA
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No Brasil, vive-se um descortinamento do jogo político que permite que
sejam vislumbradas com mais clareza as dinâmicas de poder e a manipulação
da vontade popular por meio de propagandas partidárias e do financiamento
de campanhas políticas por empresas que buscam vantagens pessoais e ilícitas
às custas do erário. Isso não é novidade, pois onde há financiamento de cam-
panha eleitoral existe, na mesma medida, a expectativa de retribuição por parte
do governo eleito. Manin, Przeworski e Stokes4 salientam que, caso assim não
fosse, os diretores das empresas financiadoras poderiam ser chamados à res-
ponsabilidade por seus próprios acionistas.
A realidade brasileira mostra que a situação é cada vez mais grave, re-
velando-se ainda mais corrompida do que se poderia imaginar, no bojo em
que normas legais são produzidas por encomenda de setores da sociedade,
em claro descompromisso com o conceito de República. Em que pese à diver-
sidade de análises possíveis, este estudo se limitará às questões sobre as quais
dificilmente será possível levantar alguma dúvida acerca de sua incompati-
1 Mestre e Doutor em Direito pela UFSC com estágio de doutoramento na Harvard University. Procu-
rador da Fazenda Nacional aposentado. Professor de Direito Tributário nos cursos de graduação e de
pós-graduação em Direito na UFSC.
2 Doutoranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Direito pela
UFSC. Participante do Núcleo de Pesquisa em Direitos Humanos da Tributação do Centro de Ciên-
cias Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina. Servidora Pública Federal e Professora de
Cursos de Pós-Graduação e de Graduação em Direito nas disciplinas de Direito Tributário e Ciência
Política e Teoria Geral do Estado da Escola Superior de Criciúma – Faculdades ESUCRI
3 Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Participante do Núcleo
de Pesquisa em Direitos Humanos da Tributação do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade
Federal de Santa Catarina. Procurador da Fazenda Nacional e Professor de Direito Tributário da
Universidade do Extremo Sul Catarinense.
4 MANIN, Bernard; PRZEWORSKI, Adam; STOKES, Susan C.. Eleições e representação. Lua Nova,
São Paulo, n. 67, p. 105-138, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
text&pid =S0102-64452006000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 jun. 2017.
148
CARLOS ARAUJO LEONETTI – LUCIANA CARDOSO DE AGUIAR – VINICIUS GARCIA
bilidade com o interesse público e com sua congruência para com interesses
privados alçados à agenda dos partidos políticos que compõem o Governo
brasileiro, como um todo, e o Congresso Nacional, em particular.
Trata-se das políticas de desoneração tributária implementadas pelo Go-
verno Federal brasileiro nas últimas duas décadas que estabelecem anistias
e remissões tributárias em patamares bilionários em favor de contribuintes
inadimplentes contumazes. Dentre eles, não só os responsáveis pelo finan-
ciamento das campanhas políticas do corpo legislativo, mas também eles, os
próprios deputados e senadores, que aprovam, em benefício próprio, perdão
de dívida em prejuízo do erário.
No decorrer deste estudo, buscar-se-á demonstrar a falta de legitimi-
dade desse tipo de política pública, independentemente da maneira como
se observa a democracia e o conteúdo da representação política, assunto que
já foi bastante discutido por cientistas políticos, mas que nas críticas de Carl
Schmitt encontra ares de atualidade, de forma a demonstrar que a atual re-
presentatividade da classe política brasileira ainda padece dos mesmos pro-
blemas que já eram diagnosticados na Alemanha do início do século.
A seguir, faz-se uma descrição da situação política brasileira, com foco
nas políticas fiscais desoneratórias aprovadas nas últimas duas décadas, par-
tindo-se para a descrição do conceito de representação política no intento
de discutir o paradoxo da representação em um contexto democrático, bem
como apresenta-se os argumentos de Carl Schmitt para demonstrar a crise
de representação do parlamento alemão do começo do século e traçar um
paralelo com a situação política brasileira, diagnosticando-se a contempora-
neidade do problema e evidenciando a necessidade de repensar as formas de
representação política moderna.
A par da atuação limitada do Poder Judiciário na matéria, especial-
mente no que se refere às escolhas políticas do demais poderes, indica-se
que as soluções para enfrentamento da questão ligada à ilegitimidade das
políticas de desoneração tributária deverá passar pelo incremento da cida-
dania e da efetiva participação popular na política, com controle cidadão
sobre os Poderes Executivo e Legislativo com vistas ao combate à corrup-
ção, a partir dos instrumentos da accountability democrática ou responsabi-
lização política ininterrupta.
149
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
ciedade e se ele é capaz de fazer uma gestão do dinheiro público com a mes-
ma eficiência que a iniciativa privada.
Financeiramente, um gasto público direto ou uma renúncia de receita
operada por meio de uma desoneração tributária são muito semelhantes, es-
tando a diferença na fé de que um dos dois agentes (Estado ou iniciativa pri-
vada) fará melhor uso daqueles recursos para suprir as necessidades públicas.
As desonerações tributárias, que podem se dar na forma de isenção
tributária (quando prévia à gênese do fato gerador) ou perdão de tributos
(quando posterior), não levam à saída de recursos dos cofres públicos de for-
ma direta, mas acarretam despesas indiretas já que “o Estado deixa de arre-
cadar expressivos valores em virtude dessa espécie de renúncia de receita”5,
razão pela qual torna imperioso o controle do uso desse instrumento.
Tem-se que a utilização dos incentivos fiscais se insere em um contexto
de reposicionamento do Estado perante a ordem econômica, em um processo
de mudança do foco da atividade estatal, tornando-se menos executor das
políticas públicas e mais regulador, incentivador e fiscalizador das ativida-
des privadas. A julgar pelo crescimento das desonerações tributárias criadas
pelo governo brasileiro6,7,8e9, parece ter sido esse o caminho traçado pelo País
nas últimas duas décadas, e a questão que ora se propõe discutir é saber
quem está guiando esta rota.
Com uma compreensão mais apurada das dinâmicas reais do poder
talvez seja possível chegar à percepção de que, não obstante o que está es-
crito no art. 1º da Constituição da República Federativa do Brasil – CRFB,
talvez não seja a sociedade a verdadeira detentora da soberania política,
mas sim os partidos políticos e os seus financiadores de campanha. A cor-
rupção sempre esteve em pauta no país, tendo havido inclusive quem jus-
tificasse a aptidão cultural brasileira para a apropriação do espaço público
por interesses particulares.10 Não se trata, portanto, de um fenômeno novo
5 BOMFIM, Gilson Pacheco. Da possibilidade de controle dos incentivos tributários pelo poder judi-
ciário. Revista Direito Tributário Atual, n. 37, 2017, p. 226-242. Disponível em: <http://ibdt.org.br/
RDTA/37/da-possibilidade-de-controle-dos-incentivos-tributarios-pelo-poder-judiciario/>. Acesso
em: 02 out. 2017.
6 ORAIR, Rodrigo Octávio. Desonerações em alta e elevação da carga tributária: o que explica
este paradoxo? 2014. Disponível em: <http://brasildebate.com.br/wpcontent/uploads/2014/08/
CTB_2014.pdf>. Acesso em: 28 de fev. 2016.
7 MACIEL, Marcelo Sobreiro. Dependência de trajetória nos incentivos fiscais: fragmentação do em-
presariado na reforma tributária. Dissertação (Mestrado em Ciência Política). Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro – IUPERJ. Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câ-
mara de Deputados – CEFOR. Brasília, 2009. Disponível em: <http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/
handle/bdcamara /3642/dependencia_trajetoria_sobreiro.pdf?sequence=2>. Acesso em: 22 mar. 2018.
8 SANTOS, Raissa Ferreira dos. Evolução da carga tributária e dos benefícios tributários federais
de 2000-2012. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Economia). Instituto de Economia
– UFRJ, Rio de Janeiro, 2014.
9 SALVADOR, Evilasio. Os Impactos das Renúncias Tributárias no Financiamento das Políticas So-
ciais no Brasil. Brasília: INESC, 2015.
10 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3. ed. rev. São
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151
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
15 LUKIC, Melina Rocha. Reforma Tributária no Brasil: ideias, interesses e instituições. Curitiba:
Juruá, 2014.
16 LUKIC, Melina Rocha. Reforma Tributária no Brasil: ideias, interesses e instituições. Curitiba:
Juruá, 2014.
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CARLOS ARAUJO LEONETTI – LUCIANA CARDOSO DE AGUIAR – VINICIUS GARCIA
Nesta mesma área fiscal, contudo, tem-se exemplos mais concretos acer-
ca do descompromisso legislativo com o erário, no sentido de políticas fiscais
desoneratórias que passam longe de qualquer justificativa econômica. Trata-
-se dos benefícios fiscais concedidos a cada três anos pelo Governo Federal
nas últimas duas décadas, promovendo descontos de juros e multas dos con-
tribuintes inadimplentes sem qualquer contrapartida além do pagamento da
obrigação tributária principal. Por óbvio, uma política desoneratória como
esta, reiterada sistematicamente a cada três anos, por mais disfarçadas que
sejam os discursos econômicos de estímulo à economia, apenas tem o condão
de estimular a inadimplência tributária e beneficiar contribuintes que se uti-
lizam da sonegação fiscal de maneira contumaz.
No ano 2000 foi promulgada a Lei nº 9.964/00, por meio da qual foi
instituído o Programa de Recuperação Fiscal (REFIS), permitindo ao contri-
buinte inadimplente liquidar os valores correspondentes à multa (de mora
ou de ofício) e aos juros moratórios por meio da utilização de prejuízo fiscal
e de base de cálculo negativa da contribuição social sobre o lucro líquido,
próprios ou de terceiros (art. 2º, §3º, da Lei nº 9.964/00). E mais, todos os
débitos de cada contribuinte seriam consolidados em uma única conta, a ser
quitada em prestações cujo valor seria determinado por um percentual so-
bre a receita bruta da empresa, sem limite de prestações. Frisa-se: não havia
limite mínimo nominal do valor das prestações, sequer em relação ao valor
consolidado da dívida, o que tornou o benefício um parcelamento infinito,
notadamente por não exigir do contribuinte uma perspectiva temporal de
pagamento da dívida.
No ano de 2003 foi promulgada a Lei nº 10.684/03, instituindo-se o pro-
grama denominado Parcelamento Especial (PAES), que concedia anistia total
às multas do contribuinte inadimplente e o permitia rolar a dívida que já
havia sido parcelada na sistemática decorrente do benefício anterior.
No ano de 2006 foi publicada a MP 303/06, por meio da qual foi insti-
tuído o Parcelamento Excepcional (PAEX), que concedia ao contribuinte ina-
dimplente redução de até 80% das multas e 30% dos juros caso efetuasse o
pagamento da obrigação tributária principal.
No ano de 2009 foi publicada a Lei nº 11.941/09, instituindo-se novo
programa de regularização tributária para contribuintes inadimplentes, nes-
te caso em função da crise econômica de 2008, com a concessão de anistia da
integralidade das multas e de até 45% dos juros de mora. Este parcelamento
foi reinstituído em três outras oportunidades nos anos de 2013 e 2014, por
meio das leis nº 12.865/13, 12.996/14 e 13.043/14.
Note-se a regularidade dos benefícios fiscais oferecidos pelo Governo
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
Federal nos anos de 2000, 2003, 2006, 2009, 2013 e 2014, pelos quais se con-
cedia parcelamentos extraordinários por prazos alongados – de até quinze
anos, enquanto o parcelamento ordinário concedido pelo Governo Federal
por meio da Lei nº 10.522/02 é de cinco anos – com anistia dos juros e das
multas. E isso sem preocupação alguma de se demonstrar estudos ou jus-
tificativas técnicas que pudessem amparar o argumento de que tais benefí-
cios serviriam a um estímulo da economia. Por certo, tais medidas apenas
contribuíram para minar ainda mais a aceitação social do tributo e, assim,
reduzir o recolhimento voluntário por parte dos contribuintes que ainda
recolhiam regularmente suas dívidas fiscais.
Se não fosse isso, tem-se ainda que em 2017 houve tentativa de lança-
mento de outro benefício fiscal da mesma ordem dos anteriores. Trata-se da
Medida Provisória nº 766/2017, por meio da qual se instituiu o Programa de
Regularização Tributária do Governo Federal, em que se concedia prazo de
cento e vinte meses para regularização do tributo de maneira parcelada. A
medida, inicialmente prevista pelo Poder Executivo sem nenhum desconto
ao contribuinte, havia sido emendada pela Câmara dos Deputados para in-
cluir anistia da integralidade dos juros e das multas tributárias, entretanto,
não foi analisada dentro do prazo constitucional de cento e vinte dias.17
Interessante destacar que assim como nos outros parcelamentos ins-
tituídos, o Programa de Regularização Tributária, com a emenda inserida
pela Câmara dos Deputados, beneficiaria não só os setores da economia res-
ponsáveis por grande parte dos financiamentos eleitorais, mas os próprios
parlamentares, os quais, juntos, possuem dívida com o Governo Federal no
patamar de três bilhões de reais. O deputado relator da medida provisória,
responsável pela emenda relativa à anistia dos juros e das multas, deve, so-
zinho, a quantia de sessenta e sete milhões de reais, de acordo com dados da
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.18
Tais políticas fiscais pensadas pelo Governo Federal e pelo Congresso
Nacional, mostram-se, então, inegavelmente ilegítimas, a uma porque não
são justificadas do ponto de vista teórico ou técnico, e a duas porque bene-
ficiam diretamente os parlamentares e os setores da economia responsáveis
pelo financiamento das campanhas destes.
154
CARLOS ARAUJO LEONETTI – LUCIANA CARDOSO DE AGUIAR – VINICIUS GARCIA
Sempre será possível discutir a função de uma política pública, e uma polí-
tica pública de baixa qualidade (ou mesmo descompromissada) não precisa ser
necessariamente tachada de ilegítima. Nos casos acima citados, todavia, tem-se
exemplos claros de que não se tratam de políticas públicas mal pensadas, mas
do mau uso da máquina pública de maneira deliberada para alcançar interesses
patrimoniais particulares daqueles responsáveis pela condução do governo.
Essa cooptação dos espaços públicos de decisão por interesses privados
não pode ser vista como mero efeito colateral da forma liberal de democracia
que se vive no mundo ocidental, mas como ruína das bases democráticas em
que se estabeleceu o Estado moderno. Pensar em um modelo de represen-
tação política que minimize ou elimine a crise de representatividade viven-
ciada é medida urgentemente que se impõe, sob pena de vivermos em uma
ditadura em que o ditador sequer se encontra institucionalizado.
Sobre esse tema, tratando porém de ditadura em escala global exercida por
um ditador não institucionalizado, mostra-se pertinente a denúncia feita por Ne-
gri e Hardt, na medida em que demonstram que, na passagem para o mundo
pós-moderno, do imperialismo para o “império”, a noção de limites territoriais
torna-se tênue e permite que os interesses privados, ou o mercado global pro-
priamente dito (nas palavras dos autores), sobreponham-se aos espaços públicos
de discussão e, no geral, sobre a totalidade da política mundial.19
Chomsky, neste ponto salienta a necessidade da luta em favor da demo-
cracia efetiva, mesmo que em desigualdade de forças, contra a transferência
de poder para as mãos do que chama de “tirania privada”, entidade que tem
a função de administrar os mercados por meio do emprego de ameaças (de
fuga de capitais, de transferência de unidades de produção) a fim de frustrar
o desejo popular de usar as formas democráticas em benefício do interesse
público.20 Essa luta por meio das “hordas vigilantes”, segundo o autor, seria
a arma definitiva em favor da cidadania.
Dito isso, na seção seguinte, passa-se a dispor sobre o conceito de re-
presentação política, com foco no paradoxo da representação e na questão da
independência da vontade do representante.
155
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
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CARLOS ARAUJO LEONETTI – LUCIANA CARDOSO DE AGUIAR – VINICIUS GARCIA
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
tado por interesses privados.33 Na verdade, a ideia era criar um Estado gran-
de, em que os interesses individuais perdessem representatividade e fossem
mutuamente neutralizados.34
Manin, Przeworski e Stokes ajudaram a desmistificar o paradoxo entre
democracia e representação a partir da ideia de que os representantes farão
o que os representados esperam que façam simplesmente porque querem ser
reeleitos, desde que se trate de um sistema democrático, com liberdade polí-
tica, imprensa livre e participação popular.35 Trata-se da lógica utilitarista de
Bentham e Mill, que identifica um interesse egoísta na vontade dos represen-
tantes, fazendo-os agir em conformidade com a vontade os representados.36
Entretanto, a questão não é simples, pois envolve, além de saber se os
representantes farão o que os representados gostariam que fosse feito, saber
se seguir a plataforma eleitoral é efetivamente melhor para os eleitores. Em
resumo, Manin, Przeworski e Stokes37 concluem que a democracia exercida
apenas por meio do voto não é suficiente para garantir a efetivação dos inte-
resses dos representados, eis que se trata de instrumento ineficaz no controle
das muitas decisões tomadas pelos governos, sendo necessário, então, pensar
em instrumentos de controle, exercitando-se a transparência governamental
e a participação política da sociedade.
É preciso, ademais, dar atenção às novas interfaces da representação, di-
versificadas e pulverizadas, sem que isso signifique abolição dos mecanismos
de representação tradicionais, mas sim o aprimoramento da sua qualidade
por meio da participação efetiva da sociedade.38 Além da mídia, novas ins-
tâncias de intermediação surgem a cada momento – desvinculadas dos atores
comumente atuantes na política, como partidos políticos e sindicatos -, bem
como novos espaços de participação popular que ganham relevo no contexto
da fiscalização das políticas públicas.39
33 HAMILTON, Alexander; JAY, John; MADISON, James. Os artigos federalistas, 1787-1788. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
34 PITKIN, Hanna Fenichel. Representação: palavras, instituições e idéias. Lua Nova, São Paulo,
n. 67, p. 15-47, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0102-64452006000200 003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 jun. 2017.
35 MANIN, Bernard; PRZEWORSKI, Adam; STOKES, Susan C.. Eleições e representação. Lua Nova,
São Paulo, n. 67, p. 105-138, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
text& pid=S0102-64452006000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 jun. 2017.
36 PITKIN, Hanna Fenichel. Representação: palavras, instituições e idéias. Lua Nova, São Paulo,
n. 67, p. 15-47, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0102-64452006000 200003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 jun. 2017.
37 MANIN, Bernard; PRZEWORSKI, Adam; STOKES, Susan C.. Eleições e representação. Lua Nova,
São Paulo, n. 67, p. 105-138, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
text&pid= S0102-64452006000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 jun. 2017.
38 MIGUEL, Luis Felipe. Resgatar a participação: democracia participativa e representação política no
debate contemporâneo. Lua Nova, São Paulo, n. 100, p. 83-118, Jan. 2017. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452017000100083&lng=en&nrm=i-
so>. Acesso em 20 jun. 2017.
39 LAVALLE, Adrián Gurza; HOUTZAGER, Peter P.; CASTELLO, Graziela. Democracia, pluralização
da representação e sociedade civil. Lua Nova, São Paulo, n. 67, p. 49-103, 2006. Disponível em: <http://
158
CARLOS ARAUJO LEONETTI – LUCIANA CARDOSO DE AGUIAR – VINICIUS GARCIA
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452006000200004&lng=en&nrm=i-
so>. Acesso em: 19 jun. 2017.
40 PITKIN, Hanna. The concept of representation. Berkeley: University of California Press, 1971.
41 PITKIN, Hanna. The concept of representation. Berkeley: University of California Press, 1971.
42 DAHL, Robert A. Sobre a Democracia. Brasília: UNB, 2001.
159
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
160
CARLOS ARAUJO LEONETTI – LUCIANA CARDOSO DE AGUIAR – VINICIUS GARCIA
161
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
neste estudo.
Importante destacar para o avanço do debate que muito mais do que
apenas tecer críticas aos partidos políticos, é preciso perquirir por alterna-
tivas e soluções que imponham ao parlamento a responsabilidade de agir
conforme a vontade da sociedade (ou em favor dela), prevendo-se formas de
controle e de estímulo à participação popular.
51 BOMFIM, Gilson Pacheco. Da possibilidade de controle dos incentivos tributários pelo poder judi-
ciário. Revista Direito Tributário Atual, n. 37, p. 226-242, 2017. Disponível em: <http://ibdt.org.br/
RDTA/37/da-possibilidade-de-controle-dos-incentivos-tributarios-pelo-poder-judiciario/>. Acesso
em: 02 out. 2017. p. 232.
52 BOMFIM, Gilson Pacheco. Da possibilidade de controle dos incentivos tributários pelo poder judi-
ciário. Revista Direito Tributário Atual, n. 37, p. 226-242, 2017. Disponível em: <http://ibdt.org.br/
RDTA/37/da-possibilidade-de-controle-dos-incentivos-tributarios-pelo-poder-judiciario/>. Acesso
em: 02 out. 2017. p. 240.
162
CARLOS ARAUJO LEONETTI – LUCIANA CARDOSO DE AGUIAR – VINICIUS GARCIA
53 BOMFIM, Gilson Pacheco. Da possibilidade de controle dos incentivos tributários pelo poder judi-
ciário. Revista Direito Tributário Atual, n. 37, p. 226-242, 2017. Disponível em: <http://ibdt.org.br/
RDTA/37/da-possibilidade-de-controle-dos-incentivos-tributarios-pelo-poder-judiciario/>. Acesso
em: 02 out. 2017.
54 BOMFIM, Gilson Pacheco. Da possibilidade de controle dos incentivos tributários pelo poder judi-
ciário. Revista Direito Tributário Atual, n. 37, p. 226-242, 2017. Disponível em <http://ibdt.org.br/
RDTA/37/da-possibilidade-de-controle-dos-incentivos-tributarios-pelo-poder-judiciario/>. Acesso
em: 02 out. 2017. p. 237.
55 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. São Paulo: Malheiros,
2008.
56 PILATI, José Isaac. Propriedade e função social na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2013.
163
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
57 WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo jurídico: fundamentos de uma nova cultura no direito. 4.
ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 300.
58 ABRUCIO, Fernando Luiz; LOUREIRO, Maria Rita. Finanças públicas, democracia e accountability.
In: ARVATE, Paulo Roberto; BIDERMAN, Ciro. Economia do Setor Público no Brasil. Rio de Janeiro:
Elsevier/Campus, 2004. Disponível em: <https://admsp20061.wikispaces.com/file/view/Financas+Pu-
blicas+democracia+e+accountability+-+Abrucio+e+Loureiro.pdf>. Acesso em: 01 out. 2017.
59 ABRUCIO, Fernando Luiz; LOUREIRO, Maria Rita. Finanças públicas, democracia e accountability.
In: ARVATE, Paulo Roberto; BIDERMAN, Ciro. Economia do Setor Público no Brasil. Rio de Janeiro:
Elsevier/Campus, 2004. Disponível em: <https://admsp20061.wikispaces.com/file/view/Financas+Pu-
blicas +democracia+e+accountability+-+Abrucio+e+Loureiro.pdf>. Acesso em: 01 out. 2017.
60 ABRUCIO, Fernando Luiz; LOUREIRO, Maria Rita. Finanças públicas, democracia e accounta-
bility. In: ARVATE, Paulo Roberto; BIDERMAN, Ciro. Economia do Setor Público no Brasil. Rio
de Janeiro: Elsevier/Campus, 2004, p. 9. Disponível em <https://admsp20061.wikispaces.com/
file/view/Financas+ Publicas+democracia+e+accountability+-+Abrucio+e+Loureiro.pdf>. Aces-
so em: 01 out. 2017.
61 ABRUCIO, Fernando Luiz; LOUREIRO, Maria Rita. Finanças públicas, democracia e accounta-
bility. In: ARVATE, Paulo Roberto; BIDERMAN, Ciro. Economia do Setor Público no Brasil. Rio
de Janeiro: Elsevier/Campus, 2004, p. 10. Disponível em <https://admsp20061.wikispaces.com/file/
view/Financas +Publicas+democracia+e+accountability+-+Abrucio+e+Loureiro.pdf>. Acesso em:
01 out. 2017.
164
CARLOS ARAUJO LEONETTI – LUCIANA CARDOSO DE AGUIAR – VINICIUS GARCIA
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio das desonerações tributárias o Estado deixa de arrecadar ex-
pressivos recursos, razão pela qual torna imperioso o controle do uso desses
instrumentos. Conforme demonstrado, as políticas fiscais executadas pelo Go-
verno Federal e pelo Congresso Nacional mostraram-se inegavelmente ilegíti-
mas, a uma porque não são justificadas do ponto de vista teórico ou técnico, e
a duas porque beneficiam diretamente os parlamentares e os setores da econo-
mia responsáveis pelo financiamento das campanhas destes.
É possível perceber uma tendência de apropriação do espaço público por
interesses privados irradiando sobre o sistema político brasileiro de maneira
consolidada e institucionalizada. Assim sendo, normas legais são produzidas
por encomenda de setores particulares da sociedade, ou em benefício exclusivo
dos próprios legisladores, em claro descompromisso com o interesse público, o
que configura um estado de corrupção plena.
Os casos mencionados, veiculados mediante a edição de leis, retratam
exemplos claros de que não se trata de políticas públicas mal pensadas, mas do
165
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
166
CARLOS ARAUJO LEONETTI – LUCIANA CARDOSO DE AGUIAR – VINICIUS GARCIA
7. REFERÊNCIAS
ABRUCIO, Fernando Luiz; LOUREIRO, Maria Rita. Finanças públicas, democracia e accountability.
In: ARVATE, Paulo Roberto; BIDERMAN, Ciro. Economia do Setor Público no Brasil. Rio de Ja-
neiro: Elsevier/Campus, 2004. Disponível em: <https://admsp 20061.wikispaces.com/file/view/
Financas+Publicas+democracia+e+accountability+-+Abrucio+e+Loureiro.pdf>. Acesso em: 01
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BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. São Paulo: Malheiros, 2008.
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leis/2002/L10522compilado.htm>. Acesso em 21 jun. 2017.
______. Lei 10.684/03, de 30 de maio de 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
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HOBBES, Thomas; TUCK, Richard. Leviatã: ou matéria, forma e poder de uma república eclesi-
ástica e civil. São Paulo: Martin Claret, 2003.
167
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
168
Vinicius Garcia
WIZIAKI, Júlio; BOGHOSSIAN, Bruno; CARVALHO, Daniel. Para aprovar reforma, governo
cede em novo programa para devedores. Folha de São Paulo, São Paulo, 16 mai. 2017. Disponível
em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/05/1884348-para-aprovar-reforma-governo-
cede-em-novo-programa-para-devedores.shtml>. Acesso em: 22 jun. 2017.
WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo jurídico: fundamentos de uma nova cultura no direito. 4.
ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2015.
169
O COMPLIANCE COMO FERRAMENTA DE COMBATE
À CORRUPÇÃO: UMA VISÃO A PARTIR DA LEI Nº
12.846/13
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo tem por objetivo colocar em contexto o fenômeno da
corrupção, com o mecanismo do Programa de Integridade, espécie de com-
pliance empresarial, trazido pela Lei 12.846/13, a Lei Anticorrupção.
A Lei Anticorrupção descreve as condutas que representam infrações
administrativas ao patrimônio público, prevendo a responsabilização objetiva
das empresas envolvidas na prática de atos contra a administração pública e
fornecendo mecanismos preventivos e repressivos a tais condutas.
Um desses mecanismos é o compliance empresarial, que possui como um
de seus pilares o fenômeno do whistleblowing, tratado pela lei em diversos mo-
mentos, inclusive quando se refere ao Programa de Integridade.
O compliance, que possui natureza preventiva e acautelatória, ao transferir
para a empresa a responsabilidade pela fiscalização das condutas dos colabo-
radores e a adequação dos seus atos às normas legais, é importante mecanismo
estatal de prevenção à corrupção.
Sua importância, como será visto, também reside na possibilidade da mi-
tigação da culpabilidade da empresa, no caso do eventual envolvimento de
algum de seus prepostos em atividades ilícitas.
O método adotado no presente trabalho foi o dedutivo. A técnica utiliza-
da foi a de pesquisa bibliográfica, em fontes primárias, secundárias e terciárias.
170
Talyz William Rech
3 “Art. 333 – Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a
praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.”
4 NASCIMENTO, Melilo Dinis do. O Controle da Corrupção no Brasil e a Lei n. 12.846/2013 – Lei
Anticorrupção. In: NASCIMENTO, Melilo Dinis do (Org.). Lei Anticorrupção empresarial: aspec-
tos críticos à Lei n. 12.846/2013. Belo Horizonte: Fórum, 2014, p. 65.
5 No original: “the abuse of entrusted power for private gain”. Disponível em: <https://www.transpa-
rency.org/what-is-corruption/#define>. Acesso em: 10 jun. 2017.
171
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
6 No original: “Corruption can be classified as grand, petty and political, depending on the amounts
of money lost and the sector where it occurs. Grand corruption consists of acts committed at a high
level of government that distort policies or the central functioning of the state, enabling leaders to
benefit at the expense of the public good. Petty corruption refers to everyday abuse of entrusted
power by low- and mid-level public officials in their interactions with ordinary citizens, who often
are trying to access basic goods or services in places like hospitals, schools, police departments and
other agencies. Political corruption is a manipulation of policies, institutions and rules of procedure
in the allocation of resources and financing by political decision makers, who abuse their position to
sustain their power, status and wealth.” Disponível em: <https://www.transparency.org/what-is-cor-
ruption/#define>. Acesso em 10 jun. 2017.
7 LIVIANU, Roberto. Corrupção e Direito Penal: um diagnóstico da corrupção no Brasil. São Paulo:
Quartier Latin, 2006, p. 167.
172
Talyz William Rech
173
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
174
Talyz William Rech
18 MOTA JÚNIOR, João Francisco da. Whistleblowing: proteção legal ao servidor denunciante. Revis-
ta Jurídica Consulex. Ano XVI, n. 367, maio 2012, p. 54.
19 ROSA, Alexandre Morais da. Guia do processo penal conforme a teoria dos jogos. 4. ed. rev. atual,
e ampl. Florianópolis: Empório do Direito, 2017, p. 568.
175
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
20 CABETTE, Eduardo Luiz Santos; NAHUR, Marcius Tadeu Maciel. Criminal Compliance e Ética
Empresarial: Novos desafios do Direito Penal Econômico. Porto Alegre: Núria Fabris Editora, 2013,
p. 15-17.
21 GODOY, Andre Ricardo. Whistleblowing no Direito Penal Brasileiro: análise dos projetos de lei em
tramitação no Congresso Nacional. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 134, ano 25, p. 263-
289. São Paulo: Editora RT, ago. 2017, p. 270.
22 MORAIS, Flaviane de Magalhães Barros de. A colaboração por meio do acordo de leniência e seus
impactos junto ao Processo Penal brasileiro: um estudo a partir da ‘Operação Lava Jato’. Revista
Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo, v. 24, n. 122, ago. 2016, p. 95.
23 MORAIS, Flaviane de Magalhães Barros de. A colaboração por meio do acordo de leniência e seus
176
Talyz William Rech
Segundo Cabette e Nahur o grande fator motivador que tem levado em-
presas e empresários a adotar os sistemas do criminal compliance tem sido o
“temor à responsabilização criminal, muitas vezes operada de forma pra-
ticamente objetiva, sem que haja uma efetiva indicação específica do agir
criminoso atribuível a determinado ator do cenário empresarial”.24
Para explicar porque o compliance compreende um sistema que pro-
voca uma situação de ganha-ganha para a Administração Pública e para
as empresas que adotam esse programa, precisamos analisar o contexto no
qual ele se desenvolve, e as premissas lógicas que levam à sua adoção.
Inicialmente, é necessário entender que a preocupação estatal com o
fomento aos mecanismos de compliance, nasce de um contexto de sociedade
de risco, em que a atividade empresarial no mercado assume riscos, ine-
rentes à sua própria natureza, de provocar prejuízos à ordem econômica.25
A compreensão da chamada sociedade de risco exige uma nova abor-
dagem das políticas públicas responsáveis por estruturar o sistema econô-
mico nacional.
No marco desta sociedade de riscos de BECK, os perigos trazidos, pela
manipulação de tecnologias que apresentam riscos de contaminação em esca-
la global, as tragédias ambientais, os riscos de manipulação de energia nuclear
trazem perigos que não podem mais ser confinados geograficamente. Será neste
contexto social, caracterizado por uma crescente comunidade global unida pela
tecnologia e assombrada por seus riscos, que os Estados Democráticos deverão
fazer florescer seus sistemas econômicos e regular, através de seus ordenamen-
tos jurídicos nacionais e supranacionais, seu funcionamento e proteção.26
Os avanços da tecnologia e do modo de produção capitalistas expõem,
sem dúvida, a sociedade aos riscos de sua atividade, e cabe ao Estado reali-
zar a proteção e a regulamentação do seu funcionamento.
Nada obstante, cumpre salientar que a fiscalização e a punição das em-
presas infratoras já não são mais suficientes para preservar os bens jurídicos
eleitos pelo ordenamento como dignos de proteção; o Estado não é capaz
de atingir esse objetivo inflando desmesuradamente os poderes de polícia
dos órgãos repressores.
impactos junto ao Processo Penal brasileiro: um estudo a partir da ‘Operação Lava Jato’. Revista
Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo, v.24, n.122, ago. 2016, p. 95-96.
24 CABETTE, Eduardo Luiz Santos; NAHUR, Marcius Tadeu Maciel. Criminal Compliance e Ética
Empresarial: Novos desafios do Direito Penal Econômico. Porto Alegre: Núria Fabris Editora, 2013,
p. 15-17.
25 BECK, Ulrich. La Sociedad del Riesgo. Barcelona, Espanha: Ediciones Paidós Ibérica, 1998.
26 BUSATO, Paulo César; RAINALDET, Tracy Joseph. Crítica ao Uso Dogmático do Compliance
como Eixo de Discussão de uma Culpabilidade de Pessoas Jurídicas. In: DAVID, Décio Franco.
(Org.); GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Compliance e Direito Penal.
São Paulo: Atlas, 2015, p. 237.
177
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
27 O termo whistleblowers teria surgido do whistleblowing, prática utilizada no âmbito privado, muito
comum em grandes empresas, sobretudo nos Estados Unidos, para detecção de irregularidades e
desvios de conduta, inclusive corrupção, propiciando seu efetivo combate. (MOTA JÚNIOR, João
Francisco da. Whistleblowing: proteção legal ao servidor denunciante. Revista Jurídica Consulex,
ano XVI, n. 367, maio 2012, p. 54)
28 GODOY, Andre Ricardo. Whistleblowing no Direito Penal Brasileiro: análise dos projetos de lei em
tramitação no Congresso Nacional. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 134, ano 25. São
Paulo: Editora RT, ago. 2017, p. 280.
178
Talyz William Rech
179
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
34 Ver Projetos de Lei da Câmara dos Deputados nº 1.701/2011 e 3.506/2012 disponíveis, respectiva-
mente em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=510440>
e <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=538356>. Ver tam-
bém o Projeto de Lei do Senado nº 664/2011 disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/
atividade/materias/-/materia/103062>. Acessos em: 12 out. 2017.
35 Na legislação americana: Section 23, “b” do Dodd-Frank Act. Disponível em: <https://www.sec.gov/
about/laws/wallstreetreform-cpa.pdf>. Na legislação canadense, disponível em: <http://www.osc.
gov.on.ca/en/whistleblower.htm>. Na legislação sul-africana: <https://www.whistleblowing.co.za/
legal/the-protected-disclosures-act/>. Acessos em: 12 out. 2017.
36 A esse respeito, pertinente o extrato do trabalho de André Ricardo Godoy, que analisou com pro-
fundidade os projetos de lei tramitando no Congresso Nacional: “Ainda que louvável o objetivo de
fundo, a matéria precisa ser debatida não só nas casas legislativas, mas também no seio social, sob
pena de, a pretexto de combater a criminalidade, importar-se um instrumento que pode gerar efeitos
danosos à sociedade, com a proliferação de uma cultura de denunciação por motivos não tão nobres,
tais como afetar negativamente um concorrente, mediante a divulgação de uma informação que ain-
da não foi minimamente comprovada” (GODOY, André Ricardo. Whistleblowing no Direito Penal
Brasileiro: análise dos projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, v. 134, ano 25. São Paulo: Editora RT, ago. 2017, p. 287).
180
Talyz William Rech
37 FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby; COSTA, Karina Amorim Sampaio. Breves Comentários à Lei de
Responsabilização Administrativa e Civil de Pessoas Jurídicas pela Prática de Atos contra a Administra-
ção Pública, Nacional ou Estrangeira. In: NASCIMENTO, Melilo Dinis do (Org.). Lei Anticorrupção
empresarial: aspectos críticos à Lei n. 12.846/2013. Belo Horizonte: Fórum, 2014, p. 31.
181
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
38 MOREIRA, Egon Bockmann; BAGATIN, Andreia Cristina. Lei Anticorrupção e quatro de seus
principais temas: responsabilidade objetiva, desconsideração societária, acordos de leniência e regu-
lamentos administrativos. Revista de Direito Público da Economia – RDPE, Belo Horizonte, v.12,
n.47, jul./set. 2014, p. 55-56.
39 BUSATO, Paulo César; RAINALDET, Tracy Joseph. Crítica ao Uso Dogmático do Compliance
como Eixo de Discussão de uma Culpabilidade de Pessoas Jurídicas. In: DAVID, Décio Franco.
(Org.); GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Compliance e Direito Penal.
São Paulo: Atlas, 2015, p. 237.
40 BUSATO, Paulo César; RAINALDET, Tracy Joseph. Crítica ao Uso Dogmático do Compliance
como Eixo de Discussão de uma Culpabilidade de Pessoas Jurídicas. In: DAVID, Décio Franco.
(Org.); GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Compliance e Direito Penal.
São Paulo: Atlas, 2015, p. 259.
182
Talyz William Rech
tado, pois permite que ele privatize sua responsabilidade de prevenção da ati-
vidade ilícita, compartilhando-a com o particular através da obrigatoriedade
da autorregulação no âmbito interno das empresas.
Utilizando, por exemplo, a Lei de Lavagem de Capitais, Lei nº 9.613/98,
percebe-se nos artigos 10 e 11 a criação de mecanismos de compliance referidos
anteriormente. Neles, ocorre essa transferência de responsabilidade, ao imple-
mentar regras de conduta que possuem como objetivo a prevenção dos delitos
previstos naquela Lei dentro e fora da empresa.41
Em relação à referida lei, comentam Natália Dib e Sérgio Lima que:
No âmbito subjetivo, há uma imposição ético-legal implícita, podendo
optar a empresa em aplicar, ou não, o instituto do compliance. Assim,
cada empresa que tenha por objetivo a evitação de responsabilização
penal e a diminuição de riscos, buscando preservar sua imagem, repu-
tação e credibilidade, definirá uma série de regras de comportamentos,
a serem exigidos dos colaboradores, inclusive gerentes e diretores da
empresa. Serão os compliance officers os profissionais responsáveis pelo
controle interno da empresa, e eles atuarão em departamento específico
ou através de terceirização, assumindo o dever de vigilância do cumpri-
mento de tais regras.42
41 “Art. 10. As pessoas referidas no art. 9º: I – identificarão seus clientes e manterão cadastro atu-
alizado, nos termos de instruções emanadas das autoridades competentes; II – manterão registro
de toda transação em moeda nacional ou estrangeira, títulos e valores mobiliários, títulos de
crédito, metais, ou qualquer ativo passível de ser convertido em dinheiro, que ultrapassar limite
fixado pela autoridade competente e nos termos de instruções por esta expedidas; III – deverão
atender, no prazo fixado pelo órgão judicial competente, as requisições formuladas pelo Conse-
lho criado pelo art. 14, que se processarão em segredo de justiça. III – deverão adotar políticas,
procedimentos e controles internos, compatíveis com seu porte e volume de operações, que
lhes permitam atender ao disposto neste artigo e no art. 11, na forma disciplinada pelos órgãos
competentes; IV – deverão cadastrar-se e manter seu cadastro atualizado no órgão regulador ou
fiscalizador e, na falta deste, no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), na for-
ma e condições por eles estabelecidas; V – deverão atender às requisições formuladas pelo Coaf
na periodicidade, forma e condições por ele estabelecidas, cabendo-lhe preservar, nos termos
da lei, o sigilo das informações prestadas. [...] Art. 11. As pessoas referidas no art. 9º: I – dis-
pensarão especial atenção às operações que, nos termos de instruções emanadas das autoridades
competentes, possam constituir-se em sérios indícios dos crimes previstos nesta Lei, ou com eles
relacionar-se; II – deverão comunicar, abstendo-se de dar aos clientes ciência de tal ato, no prazo
de vinte e quatro horas, às autoridades competentes: II – deverão comunicar ao Coaf, abstendo-
-se de dar ciência de tal ato a qualquer pessoa, inclusive àquela à qual se refira a informação, no
prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a proposta ou realização: a) todas as transações constantes do
inciso II do art. 10 que ultrapassarem limite fixado, para esse fim, pela mesma autoridade e na
forma e condições por ela estabelecidas; a) todas as transações constantes do inciso II do art. 10
que ultrapassarem limite fixado, para esse fim, pela mesma autoridade e na forma e condições
por ela estabelecidas, devendo ser juntada a identificação a que se refere o inciso I do mesmo
artigo; a) de todas as transações referidas no inciso II do art. 10, acompanhadas da identificação
de que trata o inciso I do mencionado artigo; e b) a proposta ou a realização de transação prevista
no inciso I deste artigo. III – deverão comunicar ao órgão regulador ou fiscalizador da sua ativi-
dade ou, na sua falta, ao Coaf, na periodicidade, forma e condições por eles estabelecidas, a não
ocorrência de propostas, transações ou operações passíveis de serem comunicadas nos termos do
inciso II.” (BRASIL. Lei n. 9.613, de 3 de março de 1998. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/L9613.htm>. Acesso em: 8 abr. 2017).
42 DIB, Natália Brasil; LIMA, Sérgio Fernando Ferreira de. Compliance e Sistema Preventivo de Con-
trole sob a Perspectiva dos Crimes contra o Sistema Financeiro. In: DAVID, Décio Franco. (Org.);
GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Compliance e Direito Penal. São Paulo:
Atlas, 2015, p. 129.
183
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
Por mais que, ao contrário da Lei de Lavagem de Dinheiro, não haja trata-
mento tão detalhado quanto às responsabilidades dos agentes econômicos vin-
culadas às suas condutas, pode-se dizer que as Leis Antitruste e Anticorrupção
também incentivam o compliance ao estipular a responsabilização objetiva da
pessoa jurídica. Nesse sentido,
nota-se que os deveres impostos àquelas pessoas para o cumprimento de
exigências que, nitidamente, objetivam a prevenção de crimes no interior
das corporações, constituem verdadeiro compliance, ainda que a Lei não te-
nha utilizado o termo, preferindo enquadrar conceituai mente tais deveres
com o mandamentos normativo-legais objetivos.43
O risco da atividade empresarial autoriza o Estado, não só a transferir
à pessoa jurídica a responsabilidade de monitorar a adequação dos seus pro-
cedimentos administrativos aos parâmetros normativos e a conduta dos seus
funcionários, como também viabiliza a realização da imputação objetiva das
infrações administrativas previstas na Lei Antitruste e Anticoncorrencial.
Explica Paulo Busato que:
Por conta disso é que se diz, hoje, que o critério do risco é algo que deve
ser inserido na teoria do delito, pois está presente no cotidiano das pes-
soas. Como diferentes são os níveis de risco, também a tolerância em re-
lação a cada um deles não é igual. Assim, por conta da fragmentariedade
do Direito Penal, eleitos os interesses mais fundamentais ao convívio
social, estabelecer-se-ão, conforme as modernas teorias funcionalistas,
os parâmetros de riscos tolerados pela sociedade. Aqueles riscos que ela
estiver disposta a admitir serão limitados, ou mesmo proibidos – proi-
bição que, mormente o caráter coletivo dos interesses atinentes à ordem
econômica, tem sido realizada, crescentemente, na forma dos delitos cul-
posos, de mera atividade e de perigo. Assim é que se tem, na esteira da
moderna teoria da imputação objetiva, a avaliação se determinada con-
duta criou ou incrementou risco proibido, devendo-se avaliar, em suma,
(i) se o resultado danoso decorreu do exercício do risco; (ii) se a ação do
agente não tenha visado diminuir o risco; (iii) se o risco realizou-se no
resultado concreto; e (iv) se o resultado não se encontra fora do alcance
do tipo ou da esfera de proteção da norma.44
Se, por um lado, o Estado percebe um benefício claro decorrente da
transferência às empresas dos custos de manutenção da regularidade às nor-
mativas legais, por outro a empresa também se beneficia da adoção dos pro-
gramas de compliance.
43 BUSATO, Paulo César; RAINALDET, Tracy Joseph. Crítica ao Uso Dogmático do Compliance
como Eixo de Discussão de uma Culpabilidade de Pessoas Jurídicas. In: DAVID, Décio Franco.
(Org.); GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Compliance e Direito Penal. São
Paulo: Atlas, 2015, p. 244.
44 BUSATO, Paulo César; RAINALDET, Tracy Joseph. Crítica ao Uso Dogmático do Compliance
como Eixo de Discussão de uma Culpabilidade de Pessoas Jurídicas. In: DAVID, Décio Franco.
(Org.); GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Compliance e Direito Penal.
São Paulo: Atlas, 2015, p. 137.
184
Talyz William Rech
45 CABRERA, Michelle Gironda. Compliance e Imputação Objetiva: Criação de Risco Proibido. In:
DAVID, Décio Franco. (Org.); GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Com-
pliance e Direito Penal. São Paulo: Atlas, 2015, p. 40.
46 CABRERA, Michelle Gironda. Compliance e Imputação Objetiva: Criação de Risco Proibido. In:
DAVID, Décio Franco. (Org.); GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Com-
pliance e Direito Penal. São Paulo: Atlas, 2015, p. 43.
185
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
47 “Este tipo de modelo se caracteriza, como ya han puesto de relieve algunos autores, por la esti-
mulación de la autorresponsabilidad empresarial. Dicha estimulación se torna fundamental en el
seno de una sociedad de riesgo en la que gran parte de sus riesgos característicos están someti-
dos al control quasi exclusivo de las organizaciones empresariales. En este sentido, el modelo de
autorresponsabilidad penal empresarial facilita el control (descentralizado) del riesgo y la guía
económica, dando respuesta a las necesidades sociales al mismo tiempo que respetanado la autono-
mía empresarial” (GÓMEZ-JARA, Carlos. Responsabilidad penal de todas las personas jurídicas?
Una antecrítica al símil de la ameba acuñado por Alex van Weeze. Política criminal, v. 5, n. 10,
dez. 2010, doc. 1. Disponível em: <http://www.politicacriminal.cl/Vol_05/n_10/Vol5N10D1.pdf>.
Acesso em: 10 jun. 2017, p. 474).
48 TIEDEMANN, Klaus. Corporate Criminal Liability as a Third Track. Brodowski, Dominik; DE LA
PARRA, Manuel Espinoza de los Monteros; TIEDEMANN, Klaus; VOGEL, Vogel. (Org.). Regula-
ting Corporate Criminal Liability. London: Springer, 2014, p. 14.
49 CABRERA, Michelle Gironda. Compliance e Imputação Objetiva: Criação de Risco Proibido. In:
DAVID, Décio Franco. (Org.); GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Com-
pliance e Direito Penal. São Paulo: Atlas, 2015, p. 49.
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Talyz William Rech
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A corrupção consiste em uma série de práticas ilícitas que são de difícil in-
vestigação, uma vez que se revestem de aparência de legalidade. Ela promove,
todos os anos, graves danos ao patrimônio público, refletindo negativamente
no bem-estar da população, ao afetar o montante disponível para investimen-
tos em bens de capital necessários para a infraestrutura do país, e ao reduzir a
qualidade dos serviços públicos prestados.
A Lei Anticorrupção, lei n. 12.846/13, é um dos dispositivos legais mais
importantes à disposição das Autoridades Públicas para promover o efetivo
combate às práticas corruptivas.
Nela, estão previstas condutas que correspondem a infrações administra-
tivas que lesam o patrimônio da Administração Pública, suas sanções e instru-
mentos probatórios úteis voltados a deslindar a existência e a coibir a gênese
dessas práticas.
Dentre os instrumentos trazidos pela lei, estão o Acordo de Leniência, já
utilizado para o combate das infrações contra a ordem econômica, na Lei n.
12.529/11, a Lei Antitruste, bem como o Programa de Integridade, espécie de
compliance empresarial.
O compliance é ferramenta importantíssima para o combate à corrupção,
na medida em que desloca a responsabilidade pela fiscalização das possíveis
187
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
7. REFERÊNCIAS
BECK, Ulrich. La Sociedad del Riesgo. Barcelona, Espanha: Ediciones Paidós Ibérica, 1998.
BRASIL. Decreto-lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 10 out. 2017.
BUSATO, Paulo César; RAINALDET, Tracy Joseph. Crítica ao Uso Dogmático do Compliance
como Eixo de Discussão de uma Culpabilidade de Pessoas Jurídicas. In: DAVID, Décio Franco.
(Org.); GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Compliance e Direito Penal. São
Paulo: Atlas, 2015.
CABETTE, Eduardo Luiz Santos; NAHUR, Marcius Tadeu Maciel. Criminal Compliance e Ética
Empresarial: Novos desafios do Direito Penal Econômico. Porto Alegre: Núria Fabris Editora, 2013.
CABRERA, Michelle Gironda. Compliance e Imputação Objetiva: Criação de Risco Proibido. In:
DAVID, Décio Franco. (Org.); GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Com-
pliance e Direito Penal. São Paulo: Atlas, 2015.
DIB, Natália Brasil; LIMA, Sérgio Fernando Ferreira de. Compliance e Sistema Preventivo de Con-
trole sob a Perspectiva dos Crimes contra o Sistema Financeiro. In: DAVID, Décio Franco. (Org.);
GUARAGNI, Fábio André; BUSATO, Paulo César (Coord). Compliance e Direito Penal. São Paulo:
Atlas, 2015.
MOREIRA, Egon Bockmann; BAGATIN, Andreia Cristina. Lei Anticorrupção e quatro de seus
principais temas: responsabilidade objetiva, desconsideração societária, acordos de leniência e
regulamentos administrativos. Revista de Direito Público da Economia – RDPE, Belo Horizonte, v.12,
n.47, p. 55-84, jul.-set. 2014.
FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby; COSTA, Karina Amorim Sampaio. Breves Comentários à Lei
de Responsabilização Administrativa e Civil de Pessoas Jurídicas pela Prática de Atos contra a
Administração Pública, Nacional ou Estrangeira. In: NASCIMENTO, Melilo Dinis do (Org.). Lei
Anticorrupção empresarial: aspectos críticos à Lei n. 12.846/2013. Belo Horizonte: Fórum, 2014.
MORAIS, Flaviane de Magalhães Barros de. A colaboração por meio do acordo de leniência e seus
impactos junto ao Processo Penal brasileiro: um estudo a partir da ‘Operação Lava Jato’. Revista
Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v.24, n.122, p. 93-113, ago. 2016.
MOTA JÚNIOR, João Francisco da. Whistleblowing: proteção legal ao servidor denunciante. Re-
188
Talyz William Rech
189
REGULAÇÃO E CORRUPÇÃO: O EFEITO DISSUASOR
DE ARQUITETURAS REGULATÓRIAS EFICIENTES1
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo pretende investigar a relação entre a regulação e a cor-
rupção. Pode soar intuitivo, para alguns, que a regulação – justamente por pre-
tender conformar comportamentos e, do ponto de vista do Estado, por reduzir
a margem de liberdade dos agentes administrativos – inibe a prática de atos
de corrupção (aqui entendidos de forma ampla, como comportamentos causa-
dores de prejuízo ao erário ou enriquecimento ilícito).
O problema abordado no artigo coloca em perspectiva essa premissa, in-
dagando se ela é, de fato, uma relação verdadeira. A hipótese trabalhada na
presente investigação nega a validade apriorística da associação “mais regula-
ção, menos corrupção”. Para tanto, parte-se de estudos conduzidos no âmbito
das Ciências Econômicas, que admitem a possibilidade de que o aumento da
atividade regulatória pode provocar o incremento das condições necessárias à
prática de atos de corrupção.
Em vista desse cenário, intenta-se apontar qual seria a abordagem mais
eficiente para reduzir a prática de atos de corrupção no âmbito da atividade
regulatória: o desenho de um framework regulatório eficiente, inteligente. Um
190
PEDRO DE MENEZES NIEBUHR – ARTHUR RODRIGUES DALMARCO – LUIZ EDUARDO ALTENBURG DE ASSIS
5 No modelo desenvolvido ao longo dos últimos trinta anos, a atuação e a intervenção estatal diretas
foram reduzidas sensivelmente. A contrapartida da redução da intervenção estatal consiste no predo-
mínio de funções regulatórias. Postula-se que o Estado deveria não mais atuar como agente econômi-
co, mas sim como árbitro das atividades privadas. Não significa negar a responsabilidade estatal pela
promoção do bem-estar, mas alterar os instrumentos para realização dessas tarefas. JUSTEN FILHO,
Marçal. O direito das agências reguladoras independentes. São Paulo: Dialética, 2002, p. 21.
191
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
6 O conceito de regulação estatal, em Saddy, é o seguinte: “(I) Trata-se de uma interferência pública
intencional; (II) por meio de normas jurídicas, decisões políticas, judiciais e administrativas; (III) que
indique, induza ou imponha, proíba ou permita as escolhas para quem a norma é dirigida; e (IV) que
vise atingir e respeitar os mais diversos interesses públicos relacionados à interferência”. (SADDY,
André. Regulação Estatal, Autorregulação Privada e Códigos de Conduta e Boas Práticas. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2016, p. 33).
7 Defendendo uma noção mais ampla dos meios de regulação, Saddy destaca a ocorrência de decisões
regulatórias anteriores às normas jurídicas (decisões políticas, que definem a orientação governativa
em debates parlamentares) e a função jurisdicional reguladora (exercida pelos Tribunais) (SADDY,
André. Elementos e características essenciais da concepção de regulação estatal. Revista de la escue-
la jacobea de posgrado, n. 11, p. 1-33, 2016).
8 JUSTEN FILHO, Marçal. O direito das agências reguladoras independentes. São Paulo: Dialética,
2002, p. 42.
9 JUSTEN FILHO, Marçal. O direito das agências reguladoras independentes. São Paulo: Dialética,
2002, p. 42.
192
PEDRO DE MENEZES NIEBUHR – ARTHUR RODRIGUES DALMARCO – LUIZ EDUARDO ALTENBURG DE ASSIS
10 MEDAUAR, Odete. Regulação e auto regulação. Revista de direito administrativo, v. 228, 2002, p.
127.
11 BARROSO, Luís Roberto. Agências reguladoras. Constituição e transformações do Estado e legiti-
midade democrática. Revista de direito administrativo, v. 229, 2002, p. 310.
193
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
12 JUSTEN FILHO, Marçal. O direito das agências reguladoras independentes. São Paulo: Dialética,
2002, p. 360-369.
13 MARQUES NETO, Floriano Azevedo. Discricionariedade e Regulação Setorial – O Controle dos
Atos de Concentração por Regulador Setorial. In ARAGÃO, Alexandre Santos (Coord.). O poder
normativo das agências reguladoras. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011p. 542-453).
14 JUSTEN FILHO, Marçal. O direito das agências reguladoras independentes. São Paulo: Dialética,
2002, p. 42.
194
PEDRO DE MENEZES NIEBUHR – ARTHUR RODRIGUES DALMARCO – LUIZ EDUARDO ALTENBURG DE ASSIS
15 JUSTEN FILHO, Marçal. O direito das agências reguladoras independentes. São Paulo: Dialética,
2002, p. 43.
16 Referimo-nos aqui a “falsas dicotomias” na medida em que a imposição de um debate superficial-
mente ideológico, comumente estereotipado, foi e continua sendo nocivo para a produção acadêmica
a respeito do tema. Entendemos que o aprofundamento do tópico deve passar necessariamente por
um processo de sofisticação do debate, que não gire exclusivamente em torno do binômio “liberda-
des individuais” x “interesse público”, ou “regulação” x “desregulação” – até porque, em não raras
oportunidades, conceitos como o de “interesse público” são de tal modo polissêmicos, que se acaba
por perder de vista o problema concreto que ensejou o debate em si.
17 Utilizam-se os termos “horizontal” e “vertical” para designar, respectivamente, as manifestações do
poder estatal que condicionam de modo imperativo (i) larga quantidade de searas de interação social
(como marcos regulatórios de setores econômicos, e (ii) segmentos específicos, em nível micro, à
exaustão (como o setor bancário, subconjunto do sistema financeiro).
18 A Teoria da Escolha Racional é diretamente derivada do conceito de razão instrumental, estando ali-
cerçada sobre o pressuposto de que toda ação humana é uma expressão da racionalidade dos agentes,
em um processo consciente de compatibilização entre fins objetivados e meios escassos para atingir
tais fins.
195
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
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PEDRO DE MENEZES NIEBUHR – ARTHUR RODRIGUES DALMARCO – LUIZ EDUARDO ALTENBURG DE ASSIS
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
24 SVENSSON, Jakob. Eight questions about corruption, Journal of Economic Perspectives, v. 19,
2005, p. 19-42.
198
PEDRO DE MENEZES NIEBUHR – ARTHUR RODRIGUES DALMARCO – LUIZ EDUARDO ALTENBURG DE ASSIS
25 Clarke, basicamente, fez uso de dois instrumentos distintos para refinar as respostas obtidas. A pri-
meira, foi o número de vezes que autoridades inspecionaram as firmas como um indicador do fardo
regulatório – firmas que se recusam a pagar propinas podem adotar a postura de evitar, sempre que
possível, contato com setores públicos que as exigem. O segundo instrumento, utilizado como indi-
cador de robustez do estudo, é a média obtida a partida das respostas de diretores de outras firmas, na
mesma cidade, setor e tamanho do grupo econômico.
26 CLARKE, George R.G. Does Over-Regulation Lead to Corruption? College Station: Texas A&M
International University, 2014, p. 7.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
27 Diferentemente de parcela preponderante da doutrina nacional, o presente estudo não tem a pretensão
de identificar no ordenamento jurídico limitações legais e/ou constitucionais ao exercício da com-
petência regulatória (legalidade, proporcionalidade, subsidiariedade, etc). Tomando-se como pressu-
200
PEDRO DE MENEZES NIEBUHR – ARTHUR RODRIGUES DALMARCO – LUIZ EDUARDO ALTENBURG DE ASSIS
201
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
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PEDRO DE MENEZES NIEBUHR – ARTHUR RODRIGUES DALMARCO – LUIZ EDUARDO ALTENBURG DE ASSIS
4.1. SIMPLIFICAÇÃO
Para que esse processo racional de simplificação seja efetivado em uma
regulação já existente, antes de tudo, é imprescindível que se realize uma
avaliação criteriosa de todo o conjunto de normas, a fim de identificar quais
regulamentos podem ser eliminados, quais podem ser simplificados e quais
exigem maior efetividade.32
Não se descura que qualquer avaliação mais ampla do framework regu-
latório encontrará dificuldades para lidar com a quantidade infindável de
atos normativos, que não raro fazem remissão a outros atos normativos já
revogados ou que se encontram materialmente ultrapassados. Para mitigar
esse problema, pode-se recorrer a um processo de compilação e, a depender
de condições políticas, de consolidação33 dos diversos atos normativos vi-
203
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
integração de todas as leis pertinentes a determinada matéria num único diploma legal, revogando-se
formalmente as leis incorporadas à consolidação, sem modificação do alcance nem interrupção da
força normativa dos dispositivos consolidados”.
34 Dispõe o artigo 16 da Lei Complementar nº 95/1998 que “Os órgãos diretamente subordinados à Pre-
sidência da República e os Ministérios, assim como as entidades da administração indireta, adotarão,
em prazo estabelecido em decreto, as providências necessárias para, observado, no que couber, o
procedimento a que se refere o art. 14, ser efetuada a triagem, o exame e a consolidação dos decretos
de conteúdo normativo e geral e demais atos normativos inferiores em vigor, vinculados às respec-
tivas áreas de competência, remetendo os textos consolidados à Presidência da República, que os
examinará e reunirá em coletâneas, para posterior publicação”.
35 De acordo com o relatório do Banco Mundial, “Consolidações servem ao interesse dos cidadãos,
das autoridades administrativas e dos agentes econômicos, ao prover um arcabouço regulatório mais
acessível e tem a vantagem de fazer com que a lei seja mais compreensível” (2010.p. 28)
204
PEDRO DE MENEZES NIEBUHR – ARTHUR RODRIGUES DALMARCO – LUIZ EDUARDO ALTENBURG DE ASSIS
4.2. RACIONALIZAÇÃO
O resultado esperando com a racionalização é impedir a intervenção
ilógica, abusiva e arbitrária do ente regulador. Para tanto, uma visão prag-
mática sobre a funcionalidade da estrutura regulatória é imprescindível,
de modo que qualquer projeto de reforma (abrangente ou setorial) não
poderia ser sustentado meramente por “palpites” ou impressões pessoais
– por maior que seja a autoridade de seus interlocutores. Na esteira dos
argumentos de Cass Sunstein36, tarda a hora em que reguladores terão que
incorporar decisivamente fundamentos empíricos no processo de avaliação
e mudanças regulatórias.
Não por outra razão, Sunstein utiliza o exemplo anedótico do aclama-
do Moneyball37 para sugerir que a atividade regulatória é semelhante à re-
volução esportiva narrada pelo best-seller: tornou-se imprescindível realizar
uma avaliação rigorosa sobre custos e benefícios, frequentemente baseada
na ciência estatística, ou mesmo na economia comportamental, para produ-
zir boa regulação. Nas palavras do autor:
[...] sem uma análise conclusiva das consequências (da criação de no-
vas regulações) – seus custos e benefícios – nós estaremos em uma
péssima posição para obtermos conhecimento novo [...] Nós precisamos
de um Moneyball Regulatório, não porque ele resolverá todos os nossos
problemas, mas porque ele resolve muitos deles, ao passo em que ajuda
a esclarecer porque as respostas a algumas questões (regulatórias) são
mais difíceis.38
Também, para que seja eficiente, a simplificação normativa deve ser inte-
grada em um processo mais amplo de avaliação e revisão contínua do frame-
work regulatório. Observa-se, nesse sentido, as recomendações da Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico:
Revisões devem estar preferencialmente programadas para avaliar sis-
tematicamente toda a regulação ao longo do tempo, melhorar a con-
sistência e coerência do estoque regulatório, reduzir encargos regula-
tórios desnecessários e garantir que potenciais consequências não in-
tencionais da regulação sejam identificadas. Deve ser dada prioridade
à identificação de regulações ineficazes e com significativos impactos
econômicos sobre os usuários e/ou na gestão de riscos. Deve ser consi-
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
39 OCDE. Recomendação do Conselho sobre Política Regulatória e Governança. Paris, 2012, p. 14.
40 Existe um processo de consulta pública perante a da Subchefia de Análise e Acompanhamento de Po-
líticas Governamentais da Casa Civil da Presidência da República (SAG), relativo a duas propostas
para a criação de Diretrizes Gerais e de um Guia Orientativo de Elaboração de Análise de Impacto
Regulatório – AIR (Consulta Pública nº 01/2017).
41 À míngua de previsão normativa, nada impede que o AIR seja adotado pelos órgãos e entidades da
Administração Pública com fundamento direto na Lei Federal nº 9.784/1999 e no princípio da efici-
ência, previsto no caput do artigo 37 da Constituição Federal.
206
PEDRO DE MENEZES NIEBUHR – ARTHUR RODRIGUES DALMARCO – LUIZ EDUARDO ALTENBURG DE ASSIS
4.3. PROCEDIMENTALIZAÇÃO
A racionalização – que exige do regulador a exposição motivada e justi-
ficada das variáveis consideradas no ato de regulação, a explicação da neces-
sidade da criação da regra, a avaliação dos cenários, a concepção de medidas
de orientação de condutas, o acompanhamento dos resultados e a abertura
42 ROSE-ACKERMAN, Susan. The Political Economy of Corruption. In: Kimberly Ann Elliott, ed.,
Corruption and the Global Economy, Washington: DC: Institute for International Economics, 1997.
43 ROSE-ACKERMAN, Susan; PALIFKA, Bonnie J. Corruption and Government: Causes, Conse-
quences and Reform. Cambridge: Cambridge University Press, 2016, p. 132.
44 A possibilidade de redução da sanção penal para o partícipe que denuncia o esquema criminoso
consta no parágrafo único do artigo 8º da Lei de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/1990); no §2º do
artigo 25 da Lei de Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei nº 7.492/86); no parágrafo
único do artigo 16 da Lei de Crimes Contra a Ordem Tributária (Lei nº 8.137/1990) e no §5º do
artigo 1º da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei º 9.613/1998), entre outras disposições correlatas. A
colaboração premiada, enquanto instituto assim designado, foi positivada nos artigos 3º e seguintes
da Lei nº 12.850/13. Em comentários ao dispositivo, Alexandre Moraes da Rosa anota:
“Ao final, é possível perceber que a ideia de delação, o seu fundamento, é encontrada na dinâmica
de incentivos e ganhos. A delação é dispositivo que oferece um incentivo para sua aplicação, me-
diante concessão de vantagens. É mecanismo baseado na ideia do sujeito racional maximizados
de suas recompensas, ou seja, por si só contém características que fomentam um comportamento
traidor, inescrupuloso, tolerável pelo Estado porque se está falando de trair criminosos e de ser
inescrupuloso com comparsas de relações ilícitas. É um preço que o Estado decide pagar para am-
pliar controle social. A partir do momento em que se autorizou a negociar na seara penal, o Estado
também assume riscos, dentre os quais o de conceder benefícios a partir de informações cuja prova
não será possível. Este parece ser o ponto fulcral, afinal, numa negociação, não se pode ganhar
sempre; há perdas decorrentes.” (2018, p. 337).
45 Previsto inicialmente no artigo 86 da Lei de Defesa da Concorrência (Lei nº12.529/11), foi re-
centemente estendido para toda infração relacionada à corrupção pela Lei Anticorrupção (Lei nº
12.846/13).
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
4.4. TRANSPARÊNCIA
O iter da atividade regulatória deve ser fortemente orientado pela máxima
transparência possível, inclusive como forma de reduzir espaços para a prática
de atos de corrupção. Espera-se que todos procedimentos regulatórios, por en-
volver informações sempre de interesse coletivo ou geral, estejam ininterrupta-
mente disponíveis ao público48, inclusive na rede mundial de computadores49.
Isso envolve a ampla e irrestrita disponibilização de todos atos praticados na
atividade regulatória, como regra, não só nas atividades de normatização, mas
inclusive na fiscalização do setor regulado.
Convém também que a transparência alcance os espaços e momentos
no qual ocorrem os diálogos público-privados, notadamente entre o agente
regulador e o setor regulado. Essa circunstância reforça a importância da re-
46 Na feliz acepção de Celso Antônio Bandeira de Mello (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio.
Curso de Direito Administrativo. 30. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 497).
47 Em matéria de processos administrativos, Massimo Severo Giannini trata das ideias de livre introdução
de interesses e da máxima apreensão de fatos, para concluir que “[…] il procedimento amministrativo,
sotto l’aspecto funzionale, è uno strumento per disciplinare la «compresenza degli interessi»” (GIAN-
NINI, Massimo Severo. Diritto Amministrativo. Vol 2. 3. ed. Milão: Giuffrè Editore, 1993, p. 160).
48 O acesso de qualquer cidadão a informações de interesse coletivo ou geral é direito fundamental, de
acordo com o inciso XXXIII do artigo 5º da Constituição da República. Referido direito é assegura-
do, no plano infraconstitucional, pelos procedimentos estatuídos na Lei de Acesso à Informação (Lei
nº 12.527/11).
49 No âmbito federal, o Decreto nº 8.539/15 institui a obrigatoriedade dos processos administrativos
(no que se inserem os processos administrativos normativos e fiscalizatórios) tramitarem em meio
eletrônico até outubro de 2017.
208
PEDRO DE MENEZES NIEBUHR – ARTHUR RODRIGUES DALMARCO – LUIZ EDUARDO ALTENBURG DE ASSIS
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Demonstrou-se, neste artigo, que a quantidade de regulação não age,
necessariamente, como fator de inibição à adoção de atos de corrupção; pelo
contrário, foram apontados estudos que demonstram haver incremento nas
práticas de corrupção diante de setores excessivamente regulados. Melhor,
portanto, que ampliar de modo excessivo ou desconexo a regulação, seria
criar/consolidar ambientes regulatórios desestimuladores da prática de atos
de corrupção. Isso deve, por pressuposto, levar em conta as circunstâncias
que levam os agentes a se corromperem.
A criação/consolidação de ambientes regulatórios desestimuladores da
prática de atos de corrupção depende, entre outros fatores, da criação de um
framework regulatório eficiente e inteligente, consistente, entre outras variá-
veis, em um ambiente de regulação simplificado, racional, procedimentaliza-
do e transparente.
A simplificação permite a exata compreensão das regras vigentes, além
de reduzir espaços de interpretação da normatização que podem ser mani-
pulados como “dificuldades” pelo agente corrupto para venda de “facilida-
des”. A racionalização impede intervenção ilógica, abusiva e arbitrária do
209
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
6. REFERÊNCIAS
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 30. ed. São Paulo: Ma-
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210
PEDRO DE MENEZES NIEBUHR – ARTHUR RODRIGUES DALMARCO – LUIZ EDUARDO ALTENBURG DE ASSIS
211
A PROFISSIONALIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA E A GOVERNANÇA COMO ESTRATÉGIA DE
PREVENÇÃO À CORRUPÇÃO
Denise Pinheiro1
Michelle de Souza Gomes Hugill2
Patrícia Vendramini3
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A corrupção é um fenômeno complexo, transnacional, que envolve con-
dutas ilícitas e clandestinas praticadas nos setores público e privado. Conforme
reconhece a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção4, ela gera gra-
ves problemas e ameaça a estabilidade social e democrática, demandando uma
abordagem ampla e multidisciplinar.5
Os efeitos da corrupção são um empecilho para o desenvolvimento pleno
de uma nação. Não só distorcem a economia, causando forte impacto no siste-
ma econômico, como também afetam negativamente a sociedade, desfalcando
recursos de políticas públicas, tornando as empresas menos competitivas, o
que estimula uma cultura de passividade e conivência com tais atos ilícitos.
Ademais, há o favorecimento de atitudes fatalistas, utilizadas para desvios de
conduta, tais como sonegação de impostos e informalidade nos negócios, sob
1 Professora da UDESC. Graduada, Mestre e Doutora em Direito pela UFSC. Doutorado sanduíche pela
Université de Strasbourg. Membro do Grupo de Estudos em Direito Público (GRDIP/CCJ/UFSC).
2 Mestranda em Direito (UFSC). Especialista em Gestão Pública (UFSC) e em Direito Público
(FURB). Bacharel em Administração Pública (UFSC) em Direito (UNISUL). Membro do Grupo de
Estudos em Direito Público (GRDIP/CCJ/UFSC). Servidora Pública (TJSC).
3 Possui graduação em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (1996), mestrado
em Engenharia da Produção (2000) pela mesma instituição e doutorado em Administração pela Uni-
versidade Federal da Bahia (2013). Desde 2005, é Professora Efetiva de Administração Pública na
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC – ESAG), tendo sido Chefe deste Departamento
no período de 2009 a 2011. É membro do grupo de pesquisa Callipolis e professora convidada da
Fundação Escola de Governo ENA – Santa Catarina, sendo membro do Núcleo Docente Estruturan-
te desta instituição.
4 Adotada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em 31 de outubro de 2003, cuja vigência inter-
nacional se deu em 14 de dezembro de 2005 e internalizada ao sistema jurídico brasileiro mediante o
Decreto n. 5.687, de 31 de janeiro de 2006.
5 A citada convenção internacional, já em seus considerandos, detalha: “Preocupados com a gravi-
dade dos problemas e com as ameaças decorrentes da corrupção, para a estabilidade e a segurança
das sociedades, ao enfraquecer as instituições e os valores da democracia, da ética e da justiça e
ao comprometer o desenvolvimento sustentável e o Estado de Direito; (…) Convencidos de que a
corrupção deixou de ser um problema local para converter-se em um fenômeno transnacional que
afeta todas as sociedades e economias, faz-se necessária a cooperação internacional para preveni-la
e lutar contra ela; Convencidos, também, de que se requer um enfoque amplo e multidisciplinar
para prevenir e combater eficazmente a corrupção.” (Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5687.htm>)
212
DENISE PINHEIRO – MICHELLE DE SOUZA GOMES HUGILL – PATRÍCIA VENDRAMINI
6 PILAGALLO, O. Corrupção: Entrave ao desenvolvimento do Brasil. 1. ed. ed. Rio de Janeiro: Else-
vier/ETCO, 2013, p. 19.
7 Consoante também alerta Luiz Flavio Gomes (2017), a problemática da corrupção afeta negativa-
mente todos os setores da sociedade: “A corrupção e a cleptoplutocracia constituem um binômio que
incentiva o capitalismo de compadres, dos laços, das amizades, desestimula a concorrência e a ino-
vação, altera os mecanismos do funcionamento do mercado, destrói a competitividade do país, não
cria mão de obra qualificada e dissemina a ignorância por ausência de educação. Afeta igualmente
o nível industrial e produtivo da nação, afasta o investimento quando é combatida, torna o ambiente
econômico instável e inseguro, gera incerteza nos rendimentos esperados, incrementa a lucratividade
rentista, penaliza os mais fracos e impede o crescimento econômico, o que significa um obstáculo
mortífero para o desenvolvimento do país.”
8 PIERRE LANDELL-MILLS, 2013, p. 13-15.
9 Porém, é evidente que o controle da corrupção não deve envolver restrições ao efetivo e legítimo
exercício da liberdade de expressão e de acesso às informações.
10 PILAGALLO, O. Corrupção: Entrave ao desenvolvimento do Brasil. 1. ed. ed. Rio de Janeiro: Else-
vier/ETCO, 2013, p. 34.
11 Claudio Weber Abramo, atualmente, é vice-presidente da Organização da Sociedade Civil Transpa-
213
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
ção, todavia, considerando que os atos são secretos, a alternativa são as medi-
das indiretas, que se valem de índices formulados por institutos de pesquisa e
empresas que avaliam risco de investimentos.12
No Índice de Competividade Global 2017-2018 do Fórum Econômico Mun-
dial – envolvendo 137 países —, o Brasil aparece classificado na 5.ª (quinta)
posição entre os mais corruptos do mundo, ficando atrás apenas da Venezuela,
Paraguai, República Dominicana e Chade. O país recebeu nota 2,1 – em uma es-
cala de 0 a 7, em que esta equivale à maior transparência. A pontuação foi obtida
mediante resposta a questões sobre a prática de desvios de fundos públicos para
empresas ou grupos e de subornos por estas, bem como sobre ética dos políticos13.
Consoante pesquisa feita pela Transparency International, no índice de per-
cepção de corrupção de 2016, o Brasil ocupa a posição 79a de um total de 178 paí-
ses pesquisados, nos quais Dinamarca obteve a melhor posição e Somália a pior.14
Abramo afirma que esse índice da Transparency International é o mais co-
nhecido e explica tratar-se de um indicador que reúne dados de outros indica-
dores, que são obtidos a partir de opiniões de sujeitos atrelados a corporações
transnacionais, conforme o que entendem como nível de corrupção do país.15
Não obstante a importância de tais indicadores, Abramo, que reconhece
que a maior proximidade na aferição da corrupção está nos levantamentos da
sua percepção, alerta para a limitação provocada por um subjetivismo inevitá-
vel do IPCorr (Índice de Percepções de Corrupção da Transparency Internatio-
nal), diferentemente do que ocorre, por exemplo, quando se apura o analfabe-
tismo ou produto interno bruto de um país.16
Ainda, sem deixar de reconhecer e enaltecer os esforços de se “medir” a
corrupção e buscar relações com os demais índices de um país, como saúde,
educação, eficácia das leis, é necessário examiná-los criticamente. Abramo ex-
rência Brasil, após 15 anos como diretor-executivo. Importante destacar que a Transparência Brasil
é associada a Transparency International. Disponível em: <https://www.transparencia.org.br/quem-
somos>. Acesso em: 01 nov. 2017.
12 ABRAMO, Claúdio Weber. Relações entre índices de percepção de corrupção e outros indicadores
em onze países da América Latina. Transparência Brasil. Cadernos Adenauer, v. 10, 2000. Disponí-
vel em: <https://www.transparencia.org.br/docs/onze.pdf>. Acesso em: 6 nov. 2017.
13 Disponível em: <http://reports.weforum.org/global-competitiveness-index-2017-2018/competitive-
ness-rankings/#series=GCI.A.01.01.02>. Acesso em: 6 nov .2017.
14 Disponível em https://www.transparency.org/news/feature/corruption_perceptions_index_2016
15 ABRAMO, Claúdio Weber. Percepções pantanosas – a dificuldade de medir a corrupção. Novos
Estudos, n. 73, nov. 2005, p. 34. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-
t&pid=S0101-33002005000300003>. Acesso em: 4 nov. 2017.
16 O autor explica: “O IPCorr (como outros números comentados aqui) não corresponde a uma grande-
za objetivamente mensurável, como o índice de analfabetismo adulto ou o produto interno bruto de
um país. Quando se pede a uma pessoa para atribuir uma gradação de 0 a 10 para o nível de corrup-
ção de diferentes países, nada garante que a distância entre as notas 1 e 2, por exemplo, seja igual à
distância entre 7 e 8. A rigor, o que se obtém é uma classificação apenas ordinal. Em outras palavras,
que o país A parece mais corrupto do que o país B, mas não que o país A é x% mais corrupto que o
país B” (ABRAMO, Claúdio Weber. Relações entre índices de percepção de corrupção e outros indi-
cadores em onze países da América Latina. Transparência Brasil. Cadernos Adenauer, v. 10, 2000, p.
2. Disponível em: <https://www.transparencia.org.br/docs/onze.pdf>. Acesso em: 6 nov. 2017).
214
DENISE PINHEIRO – MICHELLE DE SOUZA GOMES HUGILL – PATRÍCIA VENDRAMINI
17 Para um maior detalhamento das objeções aos indicadores de percepção da corrupção, ver: ABRA-
MO, Claúdio Weber. Percepções pantanosas – a dificuldade de medir a corrupção. Novos Estu-
dos, n. 73, nov. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0101-33002005000300003>.
18 FADUL, Élvia; SOUZA, Antonio Ricardo de. Políticas de reformas da administração pública brasi-
leira: uma compreensão a partir de seus mapas conceituais. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NA-
CIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 29, 2005, Brasília:
Anpad, 2005. p. 1-12.
215
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
2.1. PATRIMONIALISMO
Desde sua origem, a administração colonial instalada no Brasil assumiu
uma relação totalmente imbricada entre os interesses públicos e privados. Na
administração colonial, o Estado “abrangia o indivíduo em todos os aspectos e
uma miríade de instâncias e jurisdições que iam do rei até o mais modesto ser-
vidor, cujas atribuições se superpunham, se confundiam e se contradiziam”24.
19 VENDRAMINI, Patrícia. Ensino de administração pública e o desenvolvimento de competências:
a contribuição do Curso de Administração Pública da Esag-Udesc. 2013. 258 f. Tese (Doutorado em
Administração) – Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013, p. 39.
20 CHANLAT, Jean-François. Modos de gestão, saúde e segurança no trabalho. In: DAVEL, E.; VAS-
CONCELOS, J. (Org.). Recursos humanos e subjetividade. 3. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes,
2000. p. 119.
21 CHANLAT, Jean-François. Modos de gestão, saúde e segurança no trabalho. In: DAVEL, E.; VAS-
CONCELOS, J. (Org.). Recursos humanos e subjetividade. 3. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes,
2000, p. 119.
22 ASSEN, Marcel van; BERG, Gerben van den; PIETERSMA, Paul. Modelos de gestão: os 60 mode-
los que todo gestor deve conhecer. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010, p. VIII.
23 COSTIN, Cláudia. Administração pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010; DENHARDT, R. B. Te-
orias da administração pública. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012; PINHO, J. A. G. de.
Reforma do Aparelho do Estado: limites do gerencialismo frente ao patrimonialismo. Organização
& Sociedade, Salvador, v. 5, n. 12, p. 59-79, maio/ago. 1998; SECCHI, L. Modelos organizacionais
e reformas da administração pública. RAP, Rio de Janeiro, v. 43, n. 2, p. 347-369, mar./abr. 2009.
24 LUSTOSA DA COSTA, Frederico. Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administração pública;
200 anos de reformas. Revista de Administração Pública, v. 42, n. 5, p. 829-874, out. 2008, p. 831.
216
DENISE PINHEIRO – MICHELLE DE SOUZA GOMES HUGILL – PATRÍCIA VENDRAMINI
217
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
32 HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 147.
33 LUSTOSA DA COSTA, Frederico. Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administração pública;
200 anos de reformas. Revista de Administração Pública, v. 42, n. 5, out. 2008, p. 834.
34 COSTIN, Cláudia. Administração pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. SECCHI, L. Modelos
218
DENISE PINHEIRO – MICHELLE DE SOUZA GOMES HUGILL – PATRÍCIA VENDRAMINI
alta nos países avançados, consideradas então the one best way difundido pelos
estudos de Taylor35. Já Pinho36 entende que o Dasp foi a porta de entrada da
burocracia nos moldes weberianos no país, justamente para frear as práticas
clientelistas do patrimonialismo. No centro da modernização administrativa
do Estado, Lustosa da Costa37 aponta as responsabilidades do Dasp: elaborava
orçamentos, recrutamento, seleção e treinamento de servidores, racionalização
e sistematização de contratos e gestão de estoques estavam entre suas incum-
bências. O autor ainda complementa38:
foi uma ação deliberada e ambiciosa no sentido da burocratização do Esta-
do brasileiro, que buscava introduzir no aparelho administrativo do país
a centralização, a impessoalidade, a hierarquia, o sistema de mérito, a se-
paração entre o público e o privado. Visava constituir uma administração
pública mais racional e eficiente, que pudesse assumir seu papel na con-
dução do processo de desenvolvimento […]
Ao longo dos seus 15 anos à frente do governo federal, Vargas exercia
uma política centralizadora, mas guiada por um ethos modernizante voltada
à estruturação da força de trabalho e das instituições capazes de implementar
as políticas de desenvolvimento que o país precisava. Naquele período, foram
criadas 13 estatais, entre elas a Petrobras, o BNDES e a Eletrobras, ligadas a
setores estratégicos do governo.
Apesar de todo o empenho dedicado à essa organização, Pinho39 revela
que enquanto o alto escalão guiava-se com esse ethos, os escalões inferiores es-
tavam suscetíveis a práticas clientelistas e populistas. Parece que a blindagem
burocrática contra o patrimonialismo não foi suficiente para extinguir sua pre-
sença, pois essa cultura já estava enraizada e internalizada no modus operandi
dos agentes públicos. Inúmeros órgãos foram criados para regulamentar a eco-
nomia e acabavam por disputar espaço e poder com a estrutura administrativa.
A concepção do Estado com uma modelagem burocrática também foi alvo
do governo de J. Kubitscheck, mas por outro ângulo, o da simplificação40. Dava
continuidade ao movimento desenvolvimentista e nacionalista, fortalecimento
219
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
220
DENISE PINHEIRO – MICHELLE DE SOUZA GOMES HUGILL – PATRÍCIA VENDRAMINI
46 FADUL, Élvia; SOUZA, Antonio Ricardo de. Políticas de reformas da administração pública brasi-
leira: uma compreensão a partir de seus mapas conceituais. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NA-
CIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 29, 2005, Brasília:
Anpad, 2005. p. 1-12.
47 REZENDE, 2002 apud FADUL; SILVA, 2008.
48 BRESSER PEREIRA, L. C. Uma reforma gerencial da Administração Pública no Brasil. Revista do
Serviço Público, Brasília, ano 49, n. 1, p.5-43, jan./mar. 1998.
49 BRESSER PEREIRA, L. C. Uma reforma gerencial da Administração Pública no Brasil. Revista do
Serviço Público, Brasília, ano 49, n. 1, p.5-43, jan./mar. 1998.
221
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
222
DENISE PINHEIRO – MICHELLE DE SOUZA GOMES HUGILL – PATRÍCIA VENDRAMINI
53 DENHARDT, R. B. Teorias da administração pública. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
54 DENHARDT, R. B. Teorias da administração pública. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012, p. 23.
55 DENHARDT, R. B. Teorias da administração pública. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012, p. 23.
56 MATIAS-PEREIRA, J. Curso de Administração Pública: foco nas instituições e ações governamen-
tais. São Paulo: Atlas, 2008, p. 60.
57 DENHARDT, R. B. Teorias da administração pública. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012, p. 23.
58 VIEIRA, T. A. ; VENDRAMINI, P. A governança na prática: o caso do conselho comunitário de
segurança do centro de Florianópolis. I Congresso Internacional de Desempenho no Setor Público,
Florianópolis, p. 192-209, set. 2017.
59 PROENÇA JUNIOR, D.; MUNIZ, J.; PONCIONI, P. (2009). Da governança de polícia à governança
policial: controlar para saber; saber para governar. Revista Nacional de Segurança Pública, ano 3,
edição 5, p. 14-50, ago./set. 2017, p. 18.
60 TCU, 2014, p. 5/6.
223
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
224
DENISE PINHEIRO – MICHELLE DE SOUZA GOMES HUGILL – PATRÍCIA VENDRAMINI
69 TCU, 2014.
70 Por exemplo, veja o art.74, §2º, da CRFB: “Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindica-
to é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal
de Contas da União”.
71 MEDEIROS, 2009, p. 262.
72 Destaca-se a Lei n. 8.429/192 (improbidade administrativa), LC n. 101/2000 (Lei de Responsabili-
dade Fiscal), Lei n. 10.257/2001 (Estatuto da Cidade), Lei n. 10.520/2002 (Lei do Pregão), Decreto
n. 5.450/2002 (Pregão eletrônico), Lei n. 131/2009 (Lei da Transparência), LC n. 135/2010 (Lei da
Ficha Limpa), Lei n. 12.257/2011 (Lei de Acesso à Informação).
225
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
226
DENISE PINHEIRO – MICHELLE DE SOUZA GOMES HUGILL – PATRÍCIA VENDRAMINI
3.2. TRANSPARÊNCIA
A transparência dos atos dos gestores públicos é pressuposto para a par-
ticipação ativa da população no exercício do controle social, de modo que cabe
ao governo fornecer os mecanismos para que os cidadãos compreendam os
78 TAVARES, Maria C. Possíveis fatores explicativos do baixo grau de participação social no Brasil: a
experiência da 1ª conferência sobre transparência e controle social. Mestrado em Administração. Ni-
terói: UFF 2013, p. 47. Disponível em: <http://www.repositorio.uff.br/jspui/handle/1/2756>. Acesso
em: 20 nov. 2017.
79 PASCARELLI FILHO, Mario. A nova administração pública: profissionalização, eficiência e gover-
nança. São Paulo: DVS Editora, 2011, p. 67.
80 PASCARELLI FILHO, Mario. A nova administração pública: profissionalização, eficiência e gover-
nança. São Paulo: DVS Editora, 2011, p. 70.
81 TAVARES, Maria C. Possíveis fatores explicativos do baixo grau de participação social no Brasil: a
experiência da 1ª conferência sobre transparência e controle social. Mestrado em Administração. Ni-
terói: UFF 2013, p. 80. Disponível em: <http://www.repositorio.uff.br/jspui/handle/1/2756>. Acesso
em: 20 nov. 2017.
227
COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
mecanismos de gestão.82
O acesso do cidadão à informação simples e compreensível é o ponto de
partida para uma maior transparência. Greco Filho comenta que a transparên-
cia da gestão pública depende de vários fatores, tais como da publicação de
informações, viabilização de canais de comunicação entre a população e o go-
verno; de Conselhos, órgãos coletivos tanto da esfera pública quanto privada
funcionando adequadamente e de uma apresentação de um orçamento público
de maneira mais simplificada, facilitando, assim, sua compreensão pela socie-
dade e fomentando um processo mais transparente.83
Contudo, isso não é o que se verifica no Brasil, uma vez que o orçamento
público tende a ser ininteligível ao cidadão comum, prejudicando considera-
velmente o controle social.84
Quando se volta o olhar para o âmbito municipal, por exemplo, perce-
be-se um nível de informações predominantemente precário e não metodo-
logicamente padronizadas. A dificuldade de comunicação local é agravada
pelos monopólios de mídia, pois
O pouco que existe em termos de comunicação local, como televisões
locais e rádios comunitárias, tem sido objeto de ataques sistemáticos dos
grandes monopólios da mídia. O direito de uma comunidade ter os seus
instrumentos de comunicação é vital e a sua ausência dificulta imen-
samente qualquer iniciativa participativa de mobilização da sociedade
local. O problema envolve tanto a dimensão jurídica, como soluções téc-
nicas e de gestão. Quanto mais rico for o monopólio da informação, mais
pobre será a democracia.85
Portanto, é preciso ter em mente que a transparência não é alcança-
da pela simples divulgação de informações, mas pela sua comunicação de
forma apropriada – linguagem compreensível e meios de divulgação ade-
quados. Assim, a sociedade deve ser capaz de compreender o orçamento
público e sua relação com as ações contempladas e quais os resultados espe-
rados a longo e médio prazos, sob uma ótica ampla das políticas públicas e
como elas se interrelacionam. Além disso, deve-se considerar a diversidade
de público quando se escolhe os meios de divulgação, visando assegurar o
amplo acesso aos cidadãos.86
Do mesmo modo que se apontou anteriormente, a fim de viabilizar os
82 MEDEIROS, 2009.
83 GREGO FILHO, 2015, p. 67.
84 PASCARELLI FILHO, Mario. A nova administração pública: profissionalização, eficiência e gover-
nança. São Paulo: DVS Editora, 2011, p. 44.
85 PASCARELLI FILHO, Mario. A nova administração pública: profissionalização, eficiência e gover-
nança. São Paulo: DVS Editora, 2011, p. 79-82.
86 PASCARELLI FILHO, Mario. A nova administração pública: profissionalização, eficiência e gover-
nança. São Paulo: DVS Editora, 2011, p. 89.
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87 PIRONTI, Rodrigo. Governança, Gestão de Riscos e compliance: uma nova realidade para a Admi-
nistração Pública Brasileira. Direito do Estado. 2017. Disponível em: <http://www.direitodoestado.
com.br/colunistas/rodrigo-pironti/governanca-gestao-de-riscos-e-compliance-uma-nova-realidade-
-para-a-administracao-publica-brasileira>. Acesso em: 30 out. 2017.
88 Em 2016, a Instrução Normativa conjunta MP/CGU dispôs sobre controles internos, gestão de riscos
e governança no âmbito do Poder Executivo Federal.
89 SANTOS, Reinaldo Almeida dos. Compliance como ferramenta de mitigação e prevenção da fraude
organizacional. In: Prevenção e combate à corrupção no Brasil: 6º Concurso de monografias: traba-
lhos premiados / Presidência da República, Controladoria-Geral da União. — Brasília: CGU, 2011.
90 SANTOS, Reinaldo Almeida dos. Compliance como ferramenta de mitigação e prevenção da fraude
organizacional. In: Prevenção e combate à corrupção no Brasil: 6º Concurso de monografias: trabalhos
premiados / Presidência da República, Controladoria-Geral da União. — Brasília: CGU, 2011, p. 164.
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
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3.4. CAPACITAÇÃO
A profissionalização da Administração Pública e o combate à corrupção
dependem, inevitavelmente, de agentes públicos conscientes de seu papel de
protagonistas na prevenção de atos lesivos ao bem público, capacitados para
desenvolver as atividades que lhes são inerentes de forma adequada, com a
garantia de transparência e de participação popular.
Defendemos que o fato de os agentes públicos, por uma exigência cons-
titucional e, portanto, em respeito aos princípios da legalidade, impessoali-
dade e moralidade, serem selecionados mediante concurso público, não é o
suficiente para se acreditar que eles estão aptos para lidar com as diversas e
cotidianas situações que se caracterizam como atos de corrupção praticados
contra a Administração, tampouco garante que conheçam o sistema jurídico
específico relativo ao tema93, seja para não praticarem condutas que possam
ser sancionadas como tais, seja, para, a partir dele, pensarem em instrumen-
tos eficazes para evitar e combater a corrupção. Ademais, é possível deduzir
que o formalismo de um concurso público não tem o alcance de selecionar as
pessoas conhecedoras e imbuídas dos preceitos éticos ligados à gestão da coi-
sa pública, e mais que isso, capazes de reconhecer o papel do serviço público
enquanto instrumento de educação política dos seus usuários, identificadas
e comprometidas com o servir ao público. Ao profissional da esfera pública
devidamente qualificado espera-se a combinação entre capacidade técnica e
no setor público: necessário; mas suficiente? JOTA, 2017. Disponível em: <https://www.jota.info/
opiniao-e-analise/artigos/compliance-no-setor-publico-necessario-mas-suficiente-18042017>. Aces-
so em: 24 fev. 2018.
93 Além disso, há falhas na própria estruturação jurídica pertinente ao estudo da corrupção, mostran-
do-se necessário, de forma permanente, o debate relacionado aos dispositivos legais, suas diversas
interpretações e mesmo as suas eventuais inconstitucionalidades. E isto, por si só, já é representativo
da insuficiência do concurso público para enfrentar a questão.
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94 SECCHI, L.; SOARES, M.; PIRES, V. Concursos públicos e bom governo. Disponível em: <https://
campodepublicas.files.wordpress.com/2013/01/binder1.pdf>. Acesso em 20 fev. 2018.
95 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5687.htm)>.
96 TCU, 2017.
97 TCU, 2017, p. 12.
98 BING, Plinio Paulo. Corrupção – Disfunções de Governo. Repensar o Estado de ontem, hoje e sem-
pre. 1. ed. Porto Alegre: Age, 2016, p. 187.
99 COELHO, Fernando de Souza. Ensino Superior, formação de administradores e setor público: um
estudo sobre o ensino de administração pública – nível de graduação – no Brasil. 2006. 159 f. Tese
(Doutorado em Administração Pública e Governo) – Curso de Doutorado em Administração Pública
e Governo, Departamento de Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio
Vargas, São Paulo, 2006.
232
DENISE PINHEIRO – MICHELLE DE SOUZA GOMES HUGILL – PATRÍCIA VENDRAMINI
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COMBATE PREVENTIVO À CORRUPÇÃO NO BRASIL: PARA ALÉM DO MODELO REPRESSIVO-PUNITIVISTA
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sem a pretensão de encerrar o tema, o propósito desse capítulo foi am-
pliar o debate acerca da importância da profissionalização para o desenvolvi-
mento dos processos administrativos da esfera pública de modo transparente,
gerenciados de tal modo que o cidadão perceba que as organizações estão sen-
do conduzidas dentro dos preceitos éticos, legais e, sobretudo, imbuídas do
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DENISE PINHEIRO – MICHELLE DE SOUZA GOMES HUGILL – PATRÍCIA VENDRAMINI
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