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trabalhos de muitos cientistas, físicos e


químicos, do passado, hoje a “Era da In-
João Lucas C. Carmona formação” conta com a portabilidade,
Universidade Federal da Integração 1. Introdução

A
que só foi possível pelo desenvolvimen-
Latino-Americana, Foz do Iguaçu, PR, “Era da Informação”, tam- to de pilhas e baterias cada vez mais efi-
Brasil. bém conhecida como “Era cientes e duradouras, que possibilitam
Digital”, transformou expo- o uso de eletrônicos que não estejam li-
Moacir G. Oliveira Junior nencialmente o modo de vida da gados diretamente a alguma fonte de
Universidade Federal da Integração humanidade, principalmente a partir energia. Está claro que a eletroquímica,
Latino-Americana, Foz do Iguaçu, PR, do século XXI. O anseio pelo conhe- também chamada de reações químicas
Brasil. cimento - “o novo” de oxirredução, não
- é o grande estí- A “Era da Informação” conta com se limita à criação de
Rodrigo S. Lapa mulo para o de- pilhas e baterias. Ho-
a portabilidade, que só foi
Universidade Federal da Integração senvolvimento de possível pelo desenvolvimento de je, os principais pro-
Latino-Americana, Foz do Iguaçu, PR, novas tecnologias cessos eletroquími-
pilhas e baterias cada vez mais
Brasil. que mudam nosso cos estão presentes
eficientes e duradouras
comportamento de em quase todo setor
José Ricardo C. Salgado* maneira tão radical. industrial. Como
Universidade Federal da Integração Na atualidade, estar “conectado” tornou- descobriram? Quem descobriu? Quan-
Latino-Americana, Foz do Iguaçu, PR, -se uma necessidade, de tal maneira que do? O que os motivou? É bem complica-
Brasil. tanto os governos quanto a indústria es- do responder a essas perguntas de ma-
timulam cada vez mais pessoas a acessar neira direta, pois o avanço da eletroquí-
RESUMO a internet. Com tanta necessidade de se
A “Era da Informação”, também conhecida como “Era
mica dependeu da contribuição de vá-
Digital”, transformou exponencialmente o modo de
estar conectado, a indústria tecnológica rios cientistas, em diversos períodos.
vida da humanidade. O anseio pelo conhecimento - precisou inovar, tanto que hoje existem Nesse contexto, um breve relato científi-
“o novo” - é o grande estímulo para o desenvolvi- diversas formas de estar conectado, mas co dos principais cientistas é feito neste
-mento de novas tecnologias que mudam nosso é quase certo que se não fosse pela evolu-
comportamento de maneira tão radical. Graças aos
artigo, a fim de apresentar a evolução
trabalhos de muitos cientistas do passado, hoje a
ção da eletroquímica a “Era da Informa- da eletroquímica, como mostram as
“Era da informação” conta com a portabilidade, que ção” estaria desinformada. Graças aos Figs. 1 e 2.
só foi possível pelo desenvolvimento constante de
pilhas e baterias cada vez mais eficientes,
possibilitando o uso de eletrônicos não diretamente
ligados a uma fonte de energia. Hoje, os principais
processos eletroquímicos estão presentes em quase
todo setor industrial. Como descobriram? Quem
descobriu? Quando? O que os motivou? É bem
complicado responder a essas perguntas de maneira
direta, pois o avanço da eletroquímica dependeu da
contribuição de vários cientistas. Nesse contexto, é
feito um breve relato dos principais cientistas, a fim
de apresentar a evolução da eletroquímica.

Palavras-chave: cientistas; eletroquímica;


energia; reações de óxido-redução

*
Autor de correspondência. E-mail: jose.
salgado@unila.edu.br. Figura 1 - Resumo dos principais cientistas, 1780-1836.

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“eletricidade intrínseca”, que mesmo
depois da morte destes poderia ser ma-
nifestada quando do contato do sistema
nervoso com materiais condutores. Gal-
vani chamou essa eletricidade intrínse-
ca de eletricidade animal [5]. Com as
invenções de Luigi Galvani, a célula gal-
vânica, o galvanômetro e o processo de
galvanização perpetuam o nome de
Galvani até os dias atuais, em sua ho-
menagem.

1.2. Alessandro Volta - 1799


Intrigado com
os resultados obti-
dos pelos experi-
Figura 2 - Resumo dos principais cientistas, 1859-1905. mentos de Galva-
ni, o também físi-
1.1. Luigi Galvani - 1780 ga, seria chamado de positivo. Se o cor- co e médico italia-
Luigi Galvani po perdesse carga, seria chamado de no Alessandro
(1737-1798), negativo. Assim, afirmou que essa ma- Volta (1745-1827),
Fig. 3, foi um mé- téria elétrica nunca se perde, ou seja, Fig. 4, repetiu
dico, investigador nunca é destruída, apenas transferida seus experimen-
e anatomista ita- de um corpo a outro, o que chamamos tos e obteve os
liano cujos estu- hoje de conservação da carga [4]. Nos mesmos resulta-
dos e experimen- experimentos, em um dia de tempesta- dos [6]. Surgia as-
tos contribuíram de, Galvani colocou a rã do lado de fora sim uma disputa
de sua casa e conectou os nervos do Figura 4 - Alessan- entre os dois pes-
ricamente para
animal por um gancho de bronze a fios dro Volta. quisadores sobre
que a eletroquí-
mica alcançasse a de ferro que foram esticados e aponta- a “eletricidade animal”. Contudo, Volta
relevância que dos para o céu. Novamente, houve con- não estava totalmente convencido da
possui atualmente trações nos membros. Desejando ir existência dessa “eletricidade animal”.
e culminaram em mais a fundo na pesquisa, ele repetiu Volta acreditava que o simples contato
Figura 3 - Luigi Gal- esse experimento, mas em um dia sem dos diferentes metais com os nervos da
descobertas im-
vani. tempestades, amarrando o fio na grade rã já era suficiente para ocasionar as
portantíssimas
para a tecnologia contemporânea [1,2]. de ferro de sua sacada. Esperou por ho- contrações. Assim, a rã serviria apenas
Seus experimentos com rãs dissecadas ras e também aconteceram as contra- como um detector de diferença de po-
deram o “pontapé inicial” nas pesquisas ções, sem que ele entendesse como tencial elétrico [3]. Impulsionado por
com correntes elétricas e que depois de ocorria esse efeito. Contudo, quando ele essa teoria da eletricidade produzida
muita inovação e evolução resultariam aproximava o gancho de bronze conec- por dois metais diferentes, Volta conse-
nas pilhas e baterias que temos hoje [3]. tado à medula à gra- guiu produzir a pri-
O experimento de Galvani consistia na de, podia notar que meira fonte de
estudos e experimentos
parte inferior de uma rã, com a medula as pernas se mexiam corrente elétrica
contribuíram ricamente para que
espinhal e os nervos expostos, na qual [1]. Galvani resolveu constante, sem a ne-
a eletroquímica alcançasse a
tentaria de diversas maneiras causar então testar em um cessidade de ser re-
relevância que possui
contrações, utilizando eletricidade. Em ambiente sem inter- carregada, como era
atualmente e culminaram em
um primeiro momento, Galvani conec- ferência externa. Re- o caso da garrafa de
descobertas importantíssimas
tou essa parte da rã a um gerador artifi- petiu-o então dentro Leyden [7]. O experi-
para a tecnologia
cial de eletricidade (garrafa de Leyden - de sua casa, substi- mento consistia em
contemporânea
1746) e percebeu que este era eficaz em tuindo a grade da sa- discos de dois metais
causar contrações [3]. Após esse teste, cada por uma mesa condutores diferen-
Galvani decidiu experimentar a “eletri- de ferro, e os resultados foram os mes- tes (prata e zinco, prata e estanho ou co-
cidade natural da atmosfera”, que ha- mos. Galvani percebeu então que as bre e estanho) empilhados alternada-
via sido descoberta por Benjamin contrações não necessitavam de eletri- mente, separados por um disco de ma-
Franklin (1706-1790). cidade, mas que aconteciam quando as terial absorvente (papelão, por exem-
Nesse contexto, Franklin propôs extremidades do sistema nervoso da rã plo) embebido em alguma solução
que a atmosfera possuiria uma eletrici- eram conectadas por algum material ácida ou salina [7]. Devido ao “empilha-
dade natural, e que essa matéria elétri- condutor. Para confirmar, o italiano tes- mento” dos discos, esse gerador de ele-
ca poderia fluir por entre diferentes tou novamente as contrações, utilizan- tricidade foi chamado de pilha voltaica
corpos. Quando um corpo entrasse em do agora uma ferramenta formada por [8]. Nas pilhas voltaicas eram conecta-
contato com esse “fluido elétrico”, ele uma parte de cobre e outra de zinco. A dos fios metálicos, capazes de conduzir
poderia eletrizar-se, adquirindo carga. hipótese foi confirmada [1]. De seus ex- a eletricidade produzida, que foi deno-
Se o corpo recebesse um excesso de car- perimentos com as rãs, Galvani con- minada “corrente galvânica”. Volta
cluiu que os animais possuíam uma acreditava que a eletricidade se dava

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pelo contato entre os dois metais con- Fig. 6, resolveu re- Fraunhofer (1787-1826), e com ele con-
dutores diferentes, sem entender a im- peti-lo, mas dispôs seguiu observar as linhas escuras do
portância da solução eletrolítica, que só os eletrodos de espectro luminoso [22,23]. Passou seus
seria estudada por Michael Faraday em uma maneira que últimos anos realizando experiências
1834 [7]. A pilha de Volta contribuiu pa- pudesse recolher com eletricidade, que culminaram no
ra os estudos e experimentos de diver- os gases formados desenvolvimento do primeiro motor
sos cientistas, que até então estavam li- separadamente. elétrico, embora os créditos pela cria-
mitados pelo uso das ferramentas usu- Foi um sucesso ção do motor tenham ficado todos com
ais [8]. [11,12]. Por causa seu conterrâneo Michael Faraday [19].
de suas experiên-
1.3. William Nicholson - 1800 cias com células 1.6. Jacob Berzelius - 1810
Munido da eletrolíticas, Ritter Jöns Jacob
nova invenção foi capaz de criar, Berzelius (1779-
criada por Ales- Figura 6 - Johann em 1802, uma pi- -1848), Fig. 8, nas-
sandro Volta, o in- Wilhelm Ritter. lha seca, com um cido na Suécia,
glês William Ni- princípio seme- trabalhou como
cholson (1753- lhante ao da pilha de Volta, com a dife- professor e se tor-
-1815), Fig. 5, e o rença de que sua pilha funcionava por nou membro da
médico Anthony mais tempo. Conforme diz McRae, Rit- Royal Swedish
Carlisle (1768- ter foi progredindo em suas experiênci- Academy of Scien-
-1840) consegui- as até conseguir desenvolver uma ces, em 1808. Con-
ram separar a bateria capaz de armazenar cargas elé- siderado um dos
água nos seus tricas [13]. Ritter percebeu que havia fundadores da
dois elementos calor nas correntes elétricas, dando iní- química moder-
Figura 5 - William constituintes, hi- cio aos estudos da termoeletricidade. Figura 8 - Jöns na, conhecido
Nicholson. drogênio e oxigê- Além disso, um dos seus feitos mais no- Jacob Berzelius. especialmente
nio, fenômeno que foi chamado de ele- tórios aconteceu enquanto trabalhava por determinar pesos atômicos e desen-
trólise [9]. Os dois cientistas construí- com papeis ensopados com cloreto de volver símbolos químicos modernos,
ram uma pilha de Volta, formada por prata. Já havendo observado que o clo- dentre outros, na eletroquímica contri-
17 pares de moedas de zinco e prata, reto de prata fazia com que o papel es- buiu diretamente com sua teoria eletro-
em um circuito fechado por fios de la- curecesse na presença de luz, Ritter química. Berzelius insistiu que qual-
tão. Quando aplicada uma gota de água expôs um pedaço desse papel ao sol. O quer nova teoria fosse verificável pelo
na placa superior, puderam observar a resultado foi um escurecimento mais atual conhecimento químico [17]. O
formação de um gás sobre o fio conec- forte. Então, ele entendeu que tal fenô- dualismo eletroquímico tornou-se o
tado à prata e a oxidação do fio conecta- meno se dava pela incidência de raios destaque de sua carreira; um pouco
do ao zinco. Nicholson supôs que o gás que se encontravam acima do espectro após Davy, Berzelius demonstrou a ca-
formado era hidrogênio e que o agente conhecido. Tais raios foram futura- pacidade da pilha voltaica de decompor
oxidante fosse o oxigênio. Para confir- mente chamados de ultravioleta. produtos químicos em pares de consti-
mar, os dois cientistas repetiram o ex- tuintes eletricamente opostos. Com isso,
perimento, mas trocaram os fios de la- 1.5. William Hyde Wollaston - 1806 pôde revisar e generalizar a relação
tão por fios de platina. Como a platina William Wol- química entre ácidos e bases, antes es-
não oxida com oxigênio, o resultado foi laston (1766-1828), tudada por Lavoisier. Isso trouxe para a
a liberação de gases em ambos os fios. Fig. 7, um cientista química uma mudança radical no con-
Tal observação atestou a suposição de químico e físico in- ceito sobre as bases, que antes eram vis-
os gases serem hidrogênio e oxigênio. glês, em seus estu- tas somente como substâncias passivas
Com a pilha de Volta foi possível a rea- dos, aprimorou a [18].
ção de decomposição da água [9]. Ba- pilha voltaica, ao
seando-se nas descobertas dos cientis- considerar a im- 1.7. Humphry Hyde Davy - 1815
tas conterrâneos, o britânico Sir Robert portância do ele- Instigado e
Grove montou em 1839 a primeira cé- trodo de zinco com certas dúvi-
lula combustível, que era capaz de [19,20]. Wollaston das a respeito das
transformar a energia proveniente das também desenvol- teorias de Volta, o
reações químicas de reagentes consu- veu um método fí- químico inglês
midos externamente em energia elétri- Figura 7 - William sico-químico para Humphry Davy
ca [10]. Grove imaginou o processo in- Hyde Wollaston. o isolamento da (1778-1829),
verso da reação da eletrólise, ou seja, platina. Por causa desse processo, ele Fig. 9, decidiu es-
reagiu gás hidrogênio e gás oxigênio e conseguiu descobrir dois novos ele- tudar as pilhas
observou a formação de água e energia mentos, o paládio e o ródio, e contri- voltaicas para ob-
elétrica. buiu no descobrimento de outros ele- ter suas próprias
mentos do grupo da platina [21]. Basea- conclusões. De su-
1.4. Johann Wilhelm Ritter – 1800 do em alguns estudos iniciados por as observações,
Fascinado com o experimento de Newton sobre a natureza da luz solar, Davy contestou a
Nicholson e Carlisle, 1800, o físico e quí- Wollaston desenvolveu o primeiro Figura 9 - Humphry afirmação de
mico alemão Johann Ritter (1776-1810), espectrômetro, junto com Joseph von Hyde Davy. Alessandro Volta

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de que a eletricidade era gerada pelo um campo magnético. Esse fenômeno utilizando uma placa de zinco e uma
contato entre metais diferentes, afir- ficou posteriormente conhecido como placa de cobre. Tendo em mãos um re-
mando que a corrente elétrica era gera- lei de indução de Faraday e explicou os cipiente de barro e um de vidro, preen-
da por reações químicas que ocorriam princípios básicos do funcionamento cheu o de barro com uma solução de
ali [14,15]. Entusiasmado também com de um transformador e de um gerador sulfato de zinco e preencheu o de vidro
a descoberta feita através da eletrólise elétrico. Essas descobertas foram essen- com uma solução de sulfato de cobre.
da água realizada por Nicholson e Car- ciais para o avanço tecnológico baseado Em seguida, imergiu cada placa na so-
lisle, Davy passou a estudar também os na eletricidade. Se o funcionamento for lução contendo seus respectivos sais e
fenômenos eletroquímicos. Pelos prin- ao contrário, torna-se um motor elétri- conectou-as através de fios. Além disso,
cípios da eletrólise, Davy decompôs, em co, motivo pelo qual os créditos são atri- fez uso de uma ponte salina, que tornou
1807, a soda e a “potassa” (substâncias buídos a Faraday [26]. Na eletroquími- o experimento um circuito fechado
altamente alcalinas), que levaram à ca, suas pesquisas são igualmente im- [28]. Daniell observou que a pilha pos-
descoberta do sódio e do potássio (ele- portantes. Foi Faraday quem criou e de- suía maior tempo de manutenção de
mentos que até então não tinham sido finiu alguns termos muito presentes na carga e deduziu que essa eficiência se
isolados, devido a sua alta reatividade). química: íon (átomo com carga elétri- dava pela utilização de dois eletrólitos
No ano seguinte, ainda usando métodos ca), ânion (íon com carga negativa), cá- separados em vez de um, como na pilha
eletroquímicos, Davy conseguiu obter tion (íon com carga positiva), eletrólito de Volta [28]. A pilha criada por ele aca-
outros elementos como estrôncio, bário, e eletrodo, entre outros [4]. Renomeou bou sendo batizada de “pilha de Da-
boro, cálcio e magnésio [8]. Davy utili- também os polos opostos dos sistemas niell”, nome pelo qual ainda é conheci-
zou também da eletroquímica para ten- eletrolíticos: o polo negativo passou a da, e representa um dos esquemas mais
tar descobrir se o enxofre, o nitrogênio ser chamado de ânodo e o polo positivo simples e didáticos do funcionamento
e o carbono eram substâncias simples de cátodo. Definiu também o conceito de uma pilha.
ou compostas. Dessa forma, concluiu de afinidade química entre dois ele-
que todas eram substâncias simples mentos: qual tenderia mais a deslocar- 1.10 Robert Bunsen - 1859
[16]. Em 1815, Humphry Davy inventou -se ao polo positivo e qual tenderia ao Robert Wi-
a que ficaria conhecida como “lâmpada polo negativo, em uma decomposição lhelm Bunsen
de Davy”. Essa lâmpada era nada mais [8]. Faraday formulou também duas (1811-1899),
nada menos que uma lamparina prote- leis sobre a eletroquímica, conhecidas Fig. 12, foi um quí-
gida por uma rede metálica (geral- como leis de Faraday. A primeira diz mico alemão que
mente de cobre), cujo calor emitido era que a massa da substância eletrolisada se dedicou princi-
menor que o das lamparinas comuns. depende diretamente da carga elétrica palmente ao tra-
Por causa disso, essa lâmpada garantiu presente na solução, e a segunda diz balho experimen-
a segurança de muitos trabalhadores, que a massa depende diretamente do tal e analítico [29-
especialmente dos operários das minas, equivalente-grama (massa de uma sub- -31]. Em relação à
pois essa redução na emissão de calor stância que reage com um mol de elé- eletroquímica, em
prevenia a explosão do gás metano pre- trons) do elemento [27]. Nesse contexto, 1841, Bunsen de-
sente nesses ambientes, reduzindo mui- resumiu que as reações eletroquímicas senvolveu uma
to o número de mortes [17]. dependem diretamente da corrente elé- Figura 12 - Robert bateria de carbo-
trica que atravessa o sistema [27]. Por Wilhelm Bunsen. no-zinco que rece-
1.8. Michael Faraday - 1833 seus feitos, Faraday é conhecido como beu seu nome. Tempos depois, desen-
Iniciado na o “pai da eletrotécnica” e será lembrado volveu o fotômetro de graxa para medir
carreira científica eternamente no Sistema Internacional a luz produzida por sua bateria. Bunsen
como assistente de Unidades, onde a unidade de capaci- foi o primeiro a obter o magnésio em
de Davy, o britâni- tância é chamada de Faraday em sua estado metálico, e assim pôde estudar
co Michael Fara- homenagem. suas propriedades [29]. Dentre suas
day (1791-1867), muitas invenções e descobertas, Bun-
Fig. 10, dado seu 1.9. John Frederic Daniell - 1836 sen é mais conhecido pela invenção do
caráter marcada- John Daniell bico de Bunsen, instrumento usado pa-
mente multidisci- (1790-1845), ra aquecimento de substâncias não in-
plinar, revolucio- Fig. 11, intrigado flamáveis, trabalhando com o controle
naria as pesquisas pela pouca capa- da combustão pela entrada de ar e per-
sobre eletromag- cidade de manu- mitindo que a quantidade de calor pro-
Figura 10 - Michael netismo e tam- tenção da corren- duzida na chama seja controlada [29].
Faraday. bém sobre a ele- te elétrica das pi-
troquímica lhas existentes 1.11. Josiah Latimer Clark - 1873
[21,24,25]. A primeira descoberta de Fa- até então, apro- O britânico Josiah Latimer Clark
raday sobre eletromagnetismo foi reali- fundou-se no as- (1822-1898), Fig. 13, teve seu primeiro
zada em 1821, quando publicou seu sunto. Em 1836, contato com a química ainda na escola,
trabalho sobre rotação eletromagnética inventou a pri- e seu primeiro emprego também foi
(o princípio do funcionamento de um meira pilha capaz nessa área. Na eletroquímica, sua prin-
motor elétrico), e em 1831 descobriu o Figura 11 - John de manter a cor- cipal contribuição foi a pilha padrão de
fenômeno da indução eletromagnética, Daniell. rente elétrica por Clark, em 1873, também chamada de
ou seja, a produção de eletricidade em um tempo consi- célula. Essa célula pode ser vista como
um fio (circuito fechado) aproximado a derável [28]. Daniell construiu sua pilha uma melhoria da pilha de Daniell, com

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o intuito de pro- res provenientes do processo, criou a constantes de afinidade de ácidos e ba-
duzir uma tensão Eq. (1), que chamou de equação funda- ses e das velocidades de reação, a qual
altamente estável. mental, a qual representa a energia in- levou à descoberta da lei de diluição
Era composta de terna do sistema relacionada à entropia que recebeu seu nome. Seus experi-
eletrodos de amál- e ao volume [33]. mentos continuaram e, em 1900, Wi-
gama de mercúrio lhelm Ostwald desenvolveu um proces-
e zinco em uma dE ¼ TdS PdV: (1) so para a produção de ácido nítrico a
solução saturada partir da amônia que nomeou “Ost-
de sulfato de zin- Gibbs publicou em 1876 a primeira par- wald-Brauer” e foi muito utilizado pela
co. Houve alguns te de uma monografia sobre equilíbrio Alemanha para a produção de explosi-
problemas técni- de substâncias heterogêneas “On the vos. Porém, esse método utiliza platina
cos em seu proje- Equilibrium of Heterogeneous Substan- como catalisador, o que fez com que
to inicial, mas que ces”, concluída em 1878. Portanto, foi fosse posteriormente aprimorado, devi-
Figura 13 - Josiah com sua reprodu- Rudolf Clausius quem definiu os concei- do ao alto custo.34 Ostwald viveu uma
Latimer Clark. ção foram sana- tos de variáveis extensivas, como a en- carreira ativa na ciência em diversos
dos, criando-se então a primeira célula tropia e a energia interna, caracterizan- setores. No ano de 1909, recebeu o Prê-
padrão comercialmente bem-sucedida do os estados de equilíbrio de um siste- mio Nobel de Química pelo seu traba-
[32]. ma. Entre 1882 e 1889, Gibbs fez publi- lho em catálise, equilíbrio químico e ve-
cações sobre a teoria eletromagnética locidade de reação [35].
1.12. Josiah Willard Gibbs - 1875 da luz. Relacionou também as variáveis
Na história da intensivas que caracterizam um siste- 1.14. Svante August Arrhenius - 1887
eletroquímica, Jo- ma, utilizando uma equação diferencial O físico-quí-
siah Willard para representá-las, e as fórmulas que mico sueco Svan-
Gibbs (1839- determinam o valor da afinidade quí- te August Arrhe-
-1903), Fig. 14, mica nas reações isobáricas e isotérmi- nius (1859-1927),
destacou-se atu- cas [33]. Gibbs não foi importante só pa- Fig. 16, foi outro
ando na área da ra a área da termodinâmica eletroquí- importante nome
termodinâmica. mica, mas teve diversas participações para a eletroquí-
Conforme adqui- em outras áreas da ciência, como física, mica. Em 1876, ao
ria conhecimen- mecânica e elétrica [33]. observar as mu-
tos, nos Estados danças de pro-
Unidos e na Euro- 1.13. Wilhelm Ostwald - 1887 priedades das so-
pa, foi deixando Outro impor- luções de eletróli-
Figura 14 - Josiah
de lado sua for- tante personagem tos, substâncias
Willard Gibbs. Figura 16 - Svante solúveis pela ação
mação em enge- da eletroquímica
nharia e entrando para a história com foi Wilhelm Ost- August Arrhenius. da eletricidade,
sua carreira subsequente. Após 1870, wald (1853-1932), Svante Arrhenius estabeleceu a teoria
ele voltou sua atenção a termodinâmi- Fig. 15, que come- da dissociação eletrolítica, apresentada
ca, quando já havia diversos estudos çou sua carreira à comunidade científica em 1884 como
dentro desse ramo, como os de Rudolf na Universidade sua defesa de tese de doutorado, sem
Clausius (1822-1888), William Thomson de Dorpart, como receber o devido prestígio [36]. Após o
(1824-1907), Carnot (1796-1832) e ou- estudante de quí- doutorado, Arrhenius trabalhou exclu-
tros [33]. Uma das grandes contribui- mica. Em 1881, foi sivamente na pesquisa sobre eletrólitos,
ções de Gibbs foi uma teoria para pre- nomeado profes- tornando-se em 1887 o criador da teo-
ver se uma reação química é espontâ- sor de química no ria da ionização dos eletrólitos. Confor-
nea com base em sua energia livre e no Figura 15 - Wilhelm Polytechnicum me foi aprimorando sua teoria, recebeu
conceito de potencial. Nesse sentido, a Ostwald. em Riga e, por vol- o apoio de diversos cientistas renoma-
energia livre de Gibbs é igual ao núme- ta de 1887, aceitou dos daquela época. Concluiu, então,
ro de elétrons envolvidos na reação ve- um convite para ser professor de físico- que os eletrólitos em solução se disso-
zes a constante de Faraday e o potencial -química na Universidade de Leipzig. ciam em partículas carregadas eletrica-
de célula. Caso o valor de potencial seja Dentre seus alunos que mais se destaca- mente e também que a soma das cargas
positivo, isto é, uma pilha galvânica, o ram estão Arrhenius (1859-1927), Van't negativas e positivas era igual, fazendo
valor da energia livre de Gibbs será ne- Hoff (1852-1911), Nernst (1864-1941), com que a solução fosse eletricamente
gativo, reação espontânea. Aos 34 anos Tammann (1861-1938) e Wislicenus neutra [11]. Por fim, em 1903, Arrhe-
de idade, Josiah Gibbs publicou seu pri- (1835-1902), sendo alguns deles tam- nius ganhou o Prêmio Nobel de Quími-
meiro artigo, “Graphical Methods in the bém ganhadores do Prêmio Nobel (No- ca por sua teoria da dissociação eletrolí-
Thermodynamics of Fluids”, onde dei- bel Prize, 2017). Wilhelm Ostwald fun- tica [36].
xou claro o tamanho de sua genialidade dou o Journal of Physical Chemistry em
para com a físico-química e termodinâ- 1887. Seu primeiro trabalho experi- 1.15. Walther Hermann Nernst - 1889
mica dos fluidos. Unindo as três equa- mental foi na eletroquímica e na dinâ- Nascido em 1864, Walther Her-
ções relacionadas à termodinâmica mica química, com uma investigação mann Nernst (1864-1941), Fig. 17, foi
existentes até então e mantendo apenas sobre a lei da ação de massa da água um personagem muito importante para
as variáveis de estado do sistema, elimi- em relação aos problemas de afinidade a eletroquímica termodinâmica. Em
nando calor e trabalho, que são os fato- química, que se baseava no estudo das 1887, graduou-se em Wurzburg, com

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sua tese de doutora- ções eletrolíticas, de perceber diferenças entre eles, ob-
mento sobre forças chamada de equa- edecendo a uma relação logarítmica se-
eletromotrizes pro- ção de Debye-Hüc- gundo a Eq. (2), que envolve potencial
duzidas por magne- kel. Debye também (E), densidade de corrente (I) e constan-
tismo em chapas possui diversos tra- tes (a e b).
metálicas aqueci- balhos na área da
das. Posteriormente, físico-química, com E ¼ a þ blnI: (2)
Nernst começou su- o aperfeiçoamento
as pesquisas mais das teorias de ou- Mesmo não sendo o primeiro a obser-
importantes na Uni- tros cientistas, e de- var a relação logarítmica, Tafel foi o pri-
versidade de Leip- senvolveu uma teo- meiro a sistematizá-la. Mas, ao tentar
zig [35,37]. Inspira- ria para explicar o apresentar seus trabalhos em 1902 à
do na teoria de dis- efeito Compton (re- German Electrochemical, foi desprezado
Figura 17 - Wal- sociação de Arrhe- Figura 18 - Peter ferente à difração [38]. Futuramente, ficou estabelecida a
ther Hermann nius, Nernst iniciou Joseph Debye. do raio X) [11]. equação de Tafel, que era usada quan-
Nernst. então seus estudos do uma reação eletroquímica ocorre
na eletroquímica. Em 1889, esclareceu 1.17 Julius Tafel - 1905 em duas meias reações em eletrodos se-
a teoria das células galvânicas, relacio- Antes de se parados [38].
nando os íons com a pressão osmótica tornar um dos
dos íons dissolvidos, e definiu as condi- mais importantes 2. Considerações finais
ções em que sólidos se precipitam a nomes da cinética Neste artigo foi apresentado um
partir de soluções saturadas. Em 1906, eletroquímica, Ju- breve relato histórico-científico dos
desenvolveu a terceira lei da termodi- lius Tafel (1862- principais cientistas, seus experimentos
nâmica, pelo seu teorema de calor. Em -1918), Fig. 19, e descrições sobre eletrodos, eletrólitos
1918, seus estudos em fotoquímica cria- nascido na Suíça e a evolução da eletroquímica. Desse
ram a teoria da reação da corrente do em 1862, estudou modo, pode-se conhecer os passos e
átomo [35,37]. Na eletroquímica, Nernst em Munique e se aperfeiçoamentos até chegar às pilhas e
contribuiu com a teoria das soluções, a tornou assistente baterias utilizadas hoje em diversas tec-
termodinâmica, a química do estado só- de Emil Fischer nologias.
lido e a fotoquímica. Ganhou também (1852-1919). Tafel
prêmios por sua contribuição à ciência, Figura 19 - Julius concluiu seu dou- Agradecimentos
inclusive em 1920 recebeu o Prêmio Tafel. torado em 1884, Os discentes Moacir Garcia de Olivei-
Nobel de Química pelo seu trabalho em na área de química orgânica, seguindo ra Junior e Joao Lucas Codognotto Car-
termodinâmica [35]. Fischer e ajudando-o a conquistar o mona agradecem as bolsas de extensão
Prêmio Nobel de 1902 [38,39]. Tafel pelo projeto intitulado “Universidade e
1.16. Petrus Josephus Wilhelmus partiu para Leipzig para explorar ele- Sociedade — O que a universidade pú-
Debye - 1884 troquímica com Wilhelm Ostwald por blica pode oferecer aos estudantes —
Peter Debye (1884-1996), que nas- um breve período, mas suficiente para Eletroquímica ao alcance de toda a soci-
ceu na Holanda, Fig. 18, foi um grande obter uma boa base sobre eletroquími- edade” pelo Programa Institucional de
contribuinte para eletroquímica iônica. ca e fundamental para desenvolver sua Apoio à Inclusão Social, Pesquisa e Ex-
Debye, junto a seu assistente Erich Hüc- equação de Tafel [38]. Em seus experi- tensão Universitária - PIBIS, com o
kel, melhorou a teoria de Arrhenius so- mentos, Tafel usava eletrodos com cata- apoio da Fundação Araucária. Edital
bre a condutividade elétrica em solu- lisadores. Ao testar diversos metais, pô- Conjunto PRPPG/PROEX/PRAE 01/2016.

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