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A Sabedoria Judaica Da Pirkei Avot (Ética Dos Pais): Seleção De Trechos E


Respectivos Comentários

Technical Report · October 2022

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Elias Silva
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
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A Sabedoria Judaica Da Pirkei Avot (Ética Dos Pais):
Seleção De Trechos E Respectivos Comentários

Elias Silva (Professor Universitário Aposentado)


(Viçosa, MG, outubro/2022)

Considerações Iniciais:

Na condição de judeu, quando necessito, busco


inspiração e subsídios em minha religião, que
está repleta de sabedoria e conhecimentos
aplicáveis a todas as situações da vida. Neste
sentido, uma da obras mais importantes do
Judaísmo - e que mais utilizo - é a chamada
Pirkei Avot (Ética dos Pais), que é um tratado
extraído da Torah Oral. Na prática, compila
provérbios e menciona comportamentos
adequados em termos morais e éticos, com o objetivo de otimizar as
relações interpessoais e bem servir a D´us.

Esclareço que os dois referenciais básicos da fé judaica são: a


Torah Escrita (As Leis de Moisés, O Pentateuco) e a Torah Oral
(Talmud). Ao se considerar mais 19 livros sagrados ao Pentateuco, tem
o que se denomina de Tanach, a que os cristãos dão o nome de Velho
Testamento.

Entendida essa parte, explico que o meu objetivo com este


documento é transcrever alguns trechos da Pirkei Avot, acrescidos de
um breve comentário de minha autoria, para induzir melhor
compreensão. Para aqueles interessados em ver na íntegra a Pirkei
Avot, recomendo acessar a internet, onde se pode, inclusive, encontrá-
la no idioma português.

Os Trechos Selecionados e os Respectivos Comentários:

São os seguintes os trechos - na forma de tópicos - que


selecionei, seguidos pelos comentários pertinentes:

- “Transforme sua casa num local de reunião para os Sábios; sente-se


no pó aos pés deles; e beba sofregamente suas palavras.” Comentário:
Deixe entrar em sua casa apenas as pessoas que te farão crescer
espiritualmente. Ouça-as e sinta o sabor dos seus ensinamentos. Enfim,
dê mais valor à sabedoria do que ao saber, que também tem a sua
importância.

- “Acate um mestre como seu superior; adquira um amigo para si, e


julgue cada pessoa magnanimamente.” Comentário: Tenha em alguém
o seu “pilar” moral e ético. Identifique o verdadeiro amigo, para
confiar a ele as suas preocupações e buscar as devidas orientações. Não
julgue precipitadamente uma pessoa, até que você tenha passado por
aquela situação.

- “Mantenha distância do próximo que é perverso; não faça amizade


com uma pessoa malvada; e não abandone a fé na retribuição.”
Comentário: Perceba e se afaste das pessoas que têm má índole
(tratam mal aos outros, fazem fofoca e não têm boa fama). Retribua
qualquer gesto amigável, sabendo que “voltará” também para você
(surpreenda às pessoas, por exemplo, com um elogio sincero; dê
atenção ao que falam, passando-lhes a percepção que você as
valoriza.....). Sempre há a ida, mas também a volta!

- “Quando atuar como juiz não aja como advogado; quando os


litigantes estiverem à sua frente, considere-os ambos culpados; mas
quando se despedirem de você, considere-os ambos inocentes, desde
que tenham aceitado a sentença.” Comentário: Para todo fato há pelo
menos duas versões! Seja cauteloso ao julgar aos outros, pois todos
tentarão se defender, buscando argumentos, verdadeiros ou não.
Depois de julgar, descanse a sua cabeça, em vista da missão cumprida,
já que você só tem controle de seus atos (melhor seria que os
envolvidos aceitassem o veredito, mas isto está fora do seu controle).

- “Ame o trabalho; despreze os altos cargos; e não busque


envolvimento com o governo.” Comentário: Não deixe a preguiça te
alcançar. Os altos cargos normalmente só levam à insônia. Os governos
se sucedem e só estão preocupados em se manterem no poder. Seja
político, fazendo política e não politicagem.

- “Faça de seu estudo de Torah uma prática estabelecida; fale pouco e


faça muito; e receba a todos com uma face amigável.” Comentário:
Conheça a palavra de D´us, por meio da leitura e reflexão da Torah;
fale menos e ouça mais (só tens uma boca, em contraposição a dois
ouvidos). Muitos têm apenas orelhas, mas será que possuem ouvidos?
Seja trabalhador e agradável para com o seu semelhante. Afinal, quem
não gosta de ser bem recebido e tratado?
- “Todos os dias de minha vida fui criado entre os Sábios e nada
encontrei que fosse melhor que o silêncio; não é o estudo, mas a ação,
que é o mais importante; e aquele que fala demais incorre em pecado.”
Comentário: De novo a recomendação para falar pouco e agir com
esmero (ser trabalhador).

- “Cuidado com os governantes, pois estes fingem ser amigos de


alguém somente para seu próprio benefício; eles agem amigavelmente
quando isso lhes convém, mas não apoiam a pessoa numa hora de
necessidade.” Comentário: De novo a menção ao fato dos governos
(entenda-se os governantes) se sucederem e estarem voltados à se
perpetuarem no comando. Quem não sabe que os políticos só se
lembram de nós quando ocorrem as eleições?

- “O tempo passa, o trabalho é abundante, os operários são


preguiçosos, o salário é alto, e o Chefe da casa é exigente.”
Comentário: A vida (o tempo) passa, queira você ou não. Não deixe
para amanhã o que pode ser feito hoje (não seja preguiçoso)! O
”salário” (a recompensa são as bençãos de D´us, que é o nosso
“Chefe”). ELE é meritocrático (exigente; se você fez, será
recompensado; se não fez, “dançou”, como dizem os jovens). Fique
esperto!

- “Considere três coisas e não será presa do pecado: Saiba de onde veio
e até onde vai, e perante Quem dará justificativas e acertará contas.
‘De onde veio?’ – de uma gota pútrida; ‘para onde vai?’ – a um lugar
com pó, vermes e larvas; ‘e diante de Quem você dará justificativas e
acertará contas?’ – perante o Rei que reina sobre os reis, o Santíssimo,
bendito seja.” Comentário: Entenda que és perecível e não fique se
“achando”, pois tudo começa e “acaba” (aqui nesta existência) de
forma não glamourosa. Repare: não existe caixão que tenha gaveta
(ninguém daqui leva nada, nem mesmo o corpo, que fica para retornar
ao pó) e tão pouco os cemitérios têm cofre!

- “Reze pelo bem-estar do governo, porque se as pessoas não o


temessem, engoliriam umas às outras.” Comentário: Ainda que os
governantes só pensem em si, representam autoridades e, portanto,
precisam ser respeitados. O governo aqui precisa ser entendido como a
Lei (as regras da sociedade), a qual deve ser respeitada (obedecida), a
fim de não permitir o caos social (“um querendo matar o outro”, dado
o mau exercício do ego e do livre arbítrio que ELE nos deu).
- “Seja submisso a um superior, agradável aos jovens, e receba cada
pessoa calorosamente.” Comentário: Respeite a hierarquia! Se o
“soldado” tem um problema, deve levá-lo primeiramente ao cabo, que
é seu superior imediato, e não ao sargento! Seja gentil com todos, mas
especialmente com os mais novos, pois estão em processo de
amadurecimento e, por conseguinte, necessitam de bons exemplos
para se tornarem pessoas dignas.

- “Não está em seu poder explicar nem a tranquilidade do perverso


nem o sofrimento do justo.” Comentário: Não podemos entender os
desígnios de D´us, ou seja, não há como explicar pela racionalidade que
um perverso consiga sucesso e o justo (a pessoa de bem) não. Não
“grile” com isto! É muita coisa para nós, meros mortais. Deixe com o
“homem” lá de cima. ELE sabe o que faz, tenha certeza!!

- “Seja aquele que primeiro cumprimenta a todos; é melhor ser uma


cauda de leão a ser uma cabeça de raposa.” Comentário: Seja o
primeiro a “mostrar os dentes” e abrir o diálogo. Enfim, seja proativo.
A “cauda” está atrás e a “cabeça” sempre à frente do corpo. A
primeira não aparece tanto, mas é a do “rei da selva” (o leão, o mais
forte), enquanto a outra, ainda que esteja à frente do corpo, é frágil,
pois pertence a alguém mais fraco, no caso à raposa. Em outros
termos: seja o mais “forte”, ao demonstrar iniciativa.

- “‘Não se alegre com a queda de seu inimigo, e quando ele tropeçar


não deixe que seu coração se rejubile; a fim de que D´us não presencie
e se desagrade, e Ele desvie a sua ira para você.” Comentário: Queira
para os outros o que deseja para ti! Se assim fizeres, será abençoado
por ELE!

- “Sete traços caracterizam uma pessoa inculta e sete uma instruída.


Aquela que é culta não começa a falar antes de outra que lhe seja
superior em sabedoria ou em idade; não interrompe as palavras do
próximo; não responde impetuosamente; faz perguntas relevantes ao
assunto e responde com precisão; discute primeiro os assuntos mais
importantes e os de somenos por último; se não está informado sobre
algum assunto, diz: ‘Nunca ouvi falar sobre isso’; e reconhece a
verdade. Os traços contrários a esses caracterizam uma pessoa
inculta.” Comentário: Seja prudente com a fala, pois o que dela sai não
volta para dentro, tornando-se difícil consertar. Escute mais e fale de
menos! Não se julgue o sabichão e seja humilde ao reconhecer suas
limitações!
- “Há quatro tipos de caráter entre as pessoas: a) Aquela que diz:
‘Minha propriedade é minha e a sua é sua,’ é um caráter do tipo
médio, mas alguns dizem que isto é uma característica de Sodoma; b)
‘A minha é sua e a sua é minha,’ é de uma pessoa inculta; c) ‘A minha
é sua e a sua é sua,’ é de uma pessoa devota e escrupulosa; d) ‘A sua é
minha e a minha é minha,’ é o perverso.” Comentário: Sejas consciente
e cuide do que tens; afinal, você batalhou para isto, sendo teu por
mérito. Tenha consciência do que os outros têm; afinal, batalharam
para tal, e precisam ser respeitados por isto. Não sejas tolo e ingênuo
ao imaginar que tens o que não lhe pertence, pelo fato de ser
patrimônio alheio, ou que os outros têm aquilo que é teu de modo
legítimo. Não sejas ingênuo ao abrir mão de seu patrimônio sem
justificativa. Não se aproprie de modo ilegítimo do patrimônio alheio.

- “Há quatro tipos de temperamento: a) aquele que se enfurece e se


acalma facilmente, sua parte positiva ultrapassa a negativa; b) aquele
que é difícil de enfurecer-se e de acalmar-se, sua parte negativa é
superada pela positiva; c) aquele que é difícil de enfurecer-se e fácil de
acalmar-se é piedoso; d) aquele que se enfurece facilmente e é difícil de
apaziguar é perverso.” Comentário: Procure ser calmo e cauteloso com
tudo na vida! A raiva é a maior amiga do infarto! Em situações
difíceis, conte até dez e, se precisar, conte outra vez.

- “Há quatro tipos entre aqueles que vão à casa de estudos: a) aquele
que vai, mas não estuda, tem a recompensa por ir; b) aquele que
estuda [em casa] mas não frequenta [a casa de estudos], tem uma
recompensa pelo ato de estudar; c) aquele que vai e estuda é piedoso;
d) aquele que não vai e não estuda é perverso.” Comentário: É preciso
se esforçar e não apenas fazer número! Enfim, é necessário estar de
corpo, mas também de alma!

- “Há quatro tipos de estudantes: a) aquele que entende rapidamente e


esquece rapidamente, suas vantagens são superadas pelas perdas; b)
aquele que entende lentamente e demora para esquecer, suas
vantagens ultrapassam as perdas; c) aquele que aprende rápido e
demora para esquecer, é parte de um bom lote; d) aquele que tarda
para entender e esquece facilmente, faz parte de um mau lote.”
Comentário: A aula é a mesma para todos, mas devemos ter me mente
que a absorção e a retenção do conhecimento se individualizam na
cabeça dos alunos. Enfim, o professor precisa ter paciência e não
tentar nivelar a turma por cima ou por baixo, já que nem todos
poderiam acompanhar (se por cima) e outros iriam se desinteressar
pelo aprendizado (por baixo). Como diz a sabedoria judaica: escolha o
caminho do meio! Deste modo, você atenderá a todos!

- “Há quatro tipos entre os estudantes que se sentam perante os sábios:


uma esponja, um funil, um coador e uma peneira: a esponja absorve
tudo; o funil, que recebe de um lado e devolve do outro; um coador,
que deixa fluir o vinho e retém o sedimento; e uma peneira, que que
deixa passar o pó da farinha e segura a farinha refinada.” Comentário:
O mesmo que para o parágrafo anterior, ou seja, buscar o caminho do
meio. Existem pessoas e pessoas!

Consideração Final:

Como se pôde verificar, entre os vários temas abordados nos


trechos selecionados, encontra-se recorrentemente o da educação, aqui
entendida como algo transcendental, pois faz menção – quase sempre -
ao ato de estudar a Torah, que se subentende a Escrita. A educação é o
“alicerce” da pessoa! Não é a toa que nós, os judeus, somos chamados o
“povo do Livro”!
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