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Coordenadoria das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente das Sub-Bacias dos Rios das Velhas e Paraopeb a

MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS

COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE SETE LAGOAS

MAIO DE 2008

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RUA JOSÉ DUARTE DE PAIVA, 271, SANTA LUZIA – CEP. 35.700-059 – SETE LAGOAS/MG
TELEFAX: (31) 3771-8162/3697-5000 - EMAIL: cbrvp@mp.mg.gov
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I – APRESENTAÇÃO

O presente trabalho busca o acompanhamento do COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE


CONDUTA, que celebram, de um lado o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, e do
outro a Administração Pública Municipal de Sete Lagoas, referente à adequação das Áreas de
Proteção Ambiental municipais (Serra de Santa Helena, Ribeirão Paiol e Lagoa Grande) à
legislação pertinente.
No dia 09 de maio de 2008, atendendo a solicitação do Coordenador Geral das Promotorias de
Justiça de defesa dos Rios São Francisco, Jequitinhonha e Pardo de Minas, Dr. Alex
Fernandes Santiago e do Promotor de Justiça, Curador do Meio Ambiente e do Patrimônio Histórico
e Cultural, Habitação e Urbanismo, Dr. Ernane Geraldo de Araújo, foi realizada vistoria técnica
nas áreas das APAs municipais, a fim de verificar o cumprimento das cláusulas contidas no
Termo de Ajustamento de Conduta celebrado em 24 de maio de 2006 entre o Ministério
Público do Estado de Minas Gerais, e o Município de Sete Lagoas.

A visita contou com a presença de:

Fabiano Palhares Silva – Técnico do Ministério Público e signatário deste documento;


Sr. João Damasceno França – Agente de Fiscalização Ambiental do município de Sete Lagoas;
Cabo D´Angelis - 5º Pelotão Especial de Meio Ambiente e Transporte;
Sargento Valdécio da Silva Lima - 5º Pelotão Especial de Meio Ambiente e Transporte.

II – HISTÓRICO

A análise do procedimento instaurado revela que no mês de agosto de 2005 foi levada ao
conhecimento do Ministério Público representação dando conta de agressões ambientais
provenientes de motoqueiros realizando trilhas na APA de Serra Santa Helena no município
de Sete Lagoas.
Laudo do Instituto Estadual de Florestas indicou danos diversos como: erosões do solo em
áreas de terraplanagens, estradas, trilhas e caminhos; supressão de vegetação natural para
abertura de estradas, trilhas e caminhos; supressão de vegetação natural para abertura de
estradas e aceiros em áreas de preservação permanente; queimadas em pastagens e campos
naturais; áreas degradadas com solo exposto através de extração de cascalho e deslizamentos
de terra; depósitos irregulares de lixo e entulho; queima de pneus e outros resíduos; pastoreio

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de animais domésticos em áreas de preservação permanente; além de construções e


loteamentos irregulares.
Foi notado, ainda, necessidade de maior investimento nas APA´s municipais pois estas áreas
vinham sofrendo danos constantes pelo uso inadequado do solo e pela ação de vandalismo e
depredação do patrimônio natural e instalações, provocados pelos transeuntes e usuários
desses locais.
A fim de minimizar os danos supracitados e assegurar a devida integridade das APA´s
municipais, foi firmado o Compromisso de Ajustamento de Conduta no dia 24 de maio de
2006.

IV – DAS CLÁUSULAS

CLÁUSULA PRIMEIRA: O compromissário assume a obrigação de cadastrar junto ao


Instituto Estadual de Florestas até o dia 30/11/2006 todas as unidades de conservação acima
referidas, atendendo todas as exigências do art. 6º da Resolução SEMAD 318, apresentando os
seguintes elementos cadastrais, impressos e em meio digital:

I - diploma legal instituidor da unidade e respectiva publicação oficial;


II - mapa, com localização georreferenciada dos limites da unidade no município e respectivo
memorial descritivo;
III – cópia do processo de consulta pública para criação da unidade, facultativo nos casos de
Estação Ecológica e Reserva Biológica;
IV – relatório dos estudos técnicos, com as informações e documentos seguintes:
1. caracterização física: geologia, geomorfologia, pedologia, recursos hídricos, clima e,
quando cabível, espeleologia;
2. caracterização biológica: cobertura vegetal e flora, mastofauna, avifauna,
herpetofauna, ictiofauna e, quando cabível, bioespeleologia e paleontologia;
3. caracterização socioeconômica da unidade de conservação e entorno: uso e ocupação
do solo, demografia, principais atividades econômicas, principais vetores de pressão,
comunidades tradicionais e usos tradicionais de recursos naturais;
4. relevância da área para a conservação da biodiversidade e justificativa para a sua
inclusão na categoria de manejo;
5. comprovante de dominialidade para as Unidades de Conservação de domínio
público e para as áreas públicas nas demais unidades;
6. medidas iniciais de proteção a áreas implementadas;
7. infra-estrutura existente;
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8. zona de amortecimento ou definição de prazo para sua instituição, exceto no caso de


APA;
9. plano de manejo ou definição de prazo para sua instituição;
10. zoneamento ecológico-econômico para APA municipal, mediante cópia da
publicação oficial do plano diretor do município, quando obrigatório, ou da lei de uso do solo,
com justificativa técnica do enquadramento e mapa georreferenciado de cada zona;
11. sistema de gestão da unidade e, quando couber, composição e mandato do
conselho;
12. identificação e assinatura dos responsáveis técnicos, com a respectiva anotação de
responsabilidade técnica.
V – Laudo de vistoria e parecer técnico, elaborados pelo IEF, sobre a documentação
apresentada, enquadramento, estágio de implantação e qualificação da unidade.

Nenhuma das Unidades de Conservação municipais foram cadastradas junto ao IEF até o
presente momento.
Cabe ressaltar que a APA Serra de Santa Helena possui os elementos cadastrais requeridos nos
incisos I, II e IV do art. 6º da Resolução SEMAD 318. A unidade de conservação Ribeirão do
Paiol atende ao inciso I e II da resolução citada, enquanto a APA Lagoa Grande satisfaz
somente ao inciso I.

CLÁUSULA SEGUNDA: Como forma de otimizar a efetividade protetiva das unidades de


conservação acima referidas o compromissário assume ainda ao cumprimento das seguintes
obrigações:

a) Colocação, em cada unidade de conservação, de dez placas em pontos visíveis e


estratégicos previamente ajustados com o Instituto Estadual de Florestas contendo
pelo menos as seguintes informações:
I. – Categoria e denominação da Unidade de conservação, bem como indicação
do seu ato criador;
II. – Advertência de que a área é especialmente protegida pela Lei de Crimes
Ambientais;
III. – Indicação das principais atividades proibidas no interior da unidade de
conservação;

No ato da vistoria foram identificadas 5 placas contemplando o inciso I e II da obrigação “a”


da cláusula acima (Fotos 1 e 2). Tais dispostas em locais bem visíveis: Na rua Horácio Índio
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do Brasil, que dá acesso ao topo da Serra de Santa Helena; na parte mais alta da serra, próximo
à torre de telefonia celular; na portaria do parque da cascata e em estrada de terra que da
acesso ao bairro alvorada.
Cabe ressaltar que na APA Ribeirão Paiol não foram localizadas placas e na Lagoa Grande
foram encontradas duas placas, essas situadas em área restrita, dentro do curral municipal de
Sete Lagoas, e não contendo as informações constantes na obrigação acima (Fotos 3 e 4).

b) Colocação, em cada unidade de conservação, de dez placas em pontos visíveis e


estratégicos previamente ajustados com o Instituto Estadual de Florestas contendo
mensagens ambientais de caráter educativo;
Foram identificadas 4 placas contendo mensagens ambientais de caráter educativo, em locais
visíveis, tais placas encontram-se conjuntamente posicionadas às placas da obrigação anterior,
ou seja, somente na APA da Serra de Santa Helena (Fotos 5 e 6).

c) Demarcação dos limites das Unidades de Conservação mediante colocação de


marcos de concreto devidamente identificados;
Os marcos de concreto citados foram encontrados somente na APA da Serra de Santa Helena,
contemplando perfeitamente tal tópico da cláusula segunda (Fotos 7, 8 e 9). Na APA Ribeirão
Paiol, apesar de existir localização dos pontos no memorial descritivo, não existe marcação
física no local determinado; a APA Lagoa Grande possui memorial descritivo obtido pelo
método “caminhamento” com irradiação dos pontos intra e extra poligonal, realizado por
teodolito e não sendo utilizado GPS. Sendo assim, não possui pontos georeferenciados, o que
complica a constatação da existência de marcos que demarquem os limites da Unidade de
Conservação referida.

d) Investir, doravante, integralmente em benefícios das Unidades de Conservação, os


recursos financeiros oriundos do repasse relativo ao ICMS Ecológico decorrente da
existência das mesmas (Lei Robin Hood), efetuando prestação de contas anual
comprovando o cumprimento de tal obrigação ao CODEMA e à Câmara Municipal
de Sete Lagoas.
Como não houve cadastramento das Unidades de Conservação junto ao IEF, tal repasse
relativo ao ICMS Ecológico se torna inexistente.

e) Retirar do interior das referidas unidades de conservação todos os entulhos, lixo e


demais resíduos sólidos irregularmente depositados conforme indicado no laudo do
IEF de fls. 09.

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No ato da vistoria não foram encontrados depósitos de entulhos no interior das APA´s, mas
segundo o Senhor Sílvio França Linhares, representante da ONG ADESA, existem
propriedades particulares constituintes da APA Serra de Santa Helena que, esporadicamente,
recebem lixos e entulhos para deposição.

f) Manutenção ininterrupta de vigilância nas unidades de conservação de forma a


impedir atividades incompatíveis com o regimento jurídico das mesmas bem como
ações danosas ao meio ambiente.
Não existe sistema de vigilância nas unidades de conservação visitadas. A fim de impedir
atividades incompatíveis com o regime jurídico das APA´s municipais.
A ONG ADESA realiza projetos, com o apoio do IEF e da prefeitura a fim de assegurar a
conservação da Serra de Santa Helena, atuando diretamente e conscientizando a população
sobre a importância da Unidade de Conservação da Serra de Santa Helena, utilizando
palestras, reuniões, encontros, etc.

g) Colocação de obstáculos físicos que impeçam o tráfego de veículos de qualquer


natureza nas áreas de preservação permanente situadas no interior nas Unidades de
Conservação.
Segundo visitantes da APA da Serra de Santa Helena, foram colocadas cercas em
determinados pontos visando o impedimento do trânsito de motocicletas que realizam trilhas
na área. Tais obstáculos são retirados pelos “trilheiros”, que continuam a realizar suas
atividades predatórias, normalmente, nas áreas de preservação permanente da Unidade de
Conservação. No momento da vistoria foi encontrado um motoqueiro saindo do parque da
cascata, fato que evidencia a afirmação anterior. São encontradas marcas de pneus até na
estrutura de drenagem pluvial do parque da cascata (Fotos 10 e 11).
De acordo com representante da ONG ADESA, há reuniões entre a organização e os
“trilheiros” com objetivo educacional, definindo locais no interior da APA para a não
realização de tal atividade, muitas vezes, na tentativa de poupar determinadas regiões já em
início de processo erosivo. Cabe ressaltar a dificuldade na conscientização dos motoqueiros
devido ao grande número e diversidade de grupos.

V – CONCLUSÃO
Com a realização da vistoria pudemos notar certa falta de comprometimento por parte da
administração municipal de Sete Lagoas em relação ao compromisso firmado com o
Ministério Público do Estado de Minas Gerais em 24 de maio de 2006 que trata das Unidades
de Conservação da cidade, já que nenhuma das cláusulas estabelecidas no documento foi
cumprida como o previsto.

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Cabe ressaltar que o Conselho Consultivo para as Áreas de Proteção Ambiental administradas
pelo sistema de meio ambiente do município de Sete Lagoas, criado pelos Decretos nº
2689/2001 e 2690/2001 (Anexo II), deve ter atuação mais marcante visto a atual situação das
APA´s junto ao compromisso assinado.

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Fabiano Palhares Silva
Técnico do Ministério Público – MAMP 3946
Engenheiro Florestal – CREA 98.851/D

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ANEXO I

REGISTRO FOTOGRÁFICO

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Fotos 1 e 2 – Placas dispostas na APA Serra de Santa Helena não contemplando o inciso III
da primeira obrigação da cláusula segunda.

Fotos 3 e 4 – Placas encontradas na APA Lagoa Grande.

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Fotos 5 e 6 – Placas educativas presentes na APA Serra de Santa Helena.

Fotos 7, 8 e 9 – Marcos de concreto, devidamente georeferenciados, demarcando os limites da


APA Serra de Santa Helena.

Fotos 10 e 11 – Marcas de pneus de motos na estrutura física do parque da cascata.

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ANEXO II

DOCUMENTAÇÃO REFERENTE AO CONSELHO CONSULTIVO DAS APA´S


MUNICIPAIS

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