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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE- UFRN CENTRO

DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CURSO DE DIREITO


DISCIPLINA: SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA GERAL

DOCENTE: DOUGLAS ARAÚJO


DISCENTE: MATHEUS ANDRADE SILVA – 20230016751

RESENHA SOBRE A OBRA TÓPICOS DA OBRA CRÍTICA AO PROGRAMA


DE GOTHA DE KARL MARX

OBSERVAÇÕES À MARGEM DO PROGRAMA DO PARTIDO OPERÁRIO


ALEMÃO

I.

O autor inicia sua crítica apontando para a falácia contida na afirmação


de que "o trabalho é a fonte de toda a riqueza e de toda a cultura." Argumenta
que essa ideia não é totalmente correta, uma vez que a natureza também é
fonte de valores de uso, que compõem a verdadeira riqueza material. Além
disso, destaca a importância de considerar as condições materiais para o
trabalho, questionando o modo como a sociedade trata a natureza como
propriedade privada.

Na sequência, o autor analisa a conclusão extraída do parágrafo inicial,


que afirma que "ninguém na sociedade pode adquirir riqueza que não seja
produto do trabalho." Ele critica a inclusão da segunda oração, sugerindo que a
conclusão deveria ser derivada da ideia inicial de que o trabalho é a fonte de
riqueza.

Outro ponto de crítica é direcionado à afirmação de que "o trabalho útil


só é possível dentro da sociedade e através dela." O autor questiona essa
afirmação, propondo que também seria possível falar sobre o trabalho inútil ou
prejudicial à comunidade que se torna um ramo industrial dentro da sociedade.

A conclusão do parágrafo, que destaca o direito igual de todos os


membros da sociedade ao fruto íntegro do trabalho, é ironicamente comentada
como uma "formosa conclusão." O autor sugere que, na prática, essa
igualdade proposta é frequentemente desconsiderada, e que a tese
apresentada serve mais como um lema partidário do que como um princípio
efetivo.

A crítica avança para a segunda parte do programa, que afirma que os


meios de trabalho são monopólio da classe capitalista, destacando uma
correção na qual inclui os latifundiários como detentores desses meios.
Questiona a ideia de emancipação do trabalho, sugerindo que a formulação
poderia ser mais precisa ao especificar como os meios de produção deveriam
se tornar patrimônio comum.

A análise continua com uma reflexão sobre a noção de "fruto do


trabalho" e "repartição equitativa." O autor destaca a ambiguidade desses
termos e argumenta que a repartição equitativa não pode ser determinada
apenas pela eqüidade, mas deve considerar as condições econômicas reais.

A crítica chega ao ponto de afirmar que o programa, ao focar


excessivamente na distribuição, comete um equívoco ao considerar essa
questão como o aspecto mais importante. O autor argumenta que a distribuição
dos meios de consumo é uma consequência da distribuição das condições de
produção, que, por sua vez, é determinada pelo modo de produção.

Por fim, a crítica aborda a questão do internacionalismo, apontando para


a visão estreita do movimento operário alemão, que foca em questões
nacionais. O autor destaca a importância da ação internacional das classes
trabalhadoras e critica a falta de menção aos deveres internacionais no
programa.

II.
O trecho em questão faz parte do segundo tópico de uma obra política e
ideológica. Nesse segmento, o autor discute a posição do Partido Operário
Alemão em relação à implantação de um Estado livre e de uma sociedade
socialista. Destacam-se as aspirações do partido em abolir o sistema do
salário, combater a exploração em todas as suas formas e eliminar as
desigualdades sociais e políticas.

O autor inicia sua análise criticando a abordagem do partido em relação


à "lei de bronze do salário" de Lassalle. Ele argumenta que a expressão "lei de
bronze" é uma contra-senha ortodoxa usada para identificar os crentes da
ideologia em questão. A crítica se concentra na necessidade de abolir não
apenas o sistema de trabalho assalariado, mas também a própria lei associada
a ele. Essa lei é vinculada à teoria da população de Malthus, levando a uma
discussão sobre a capacidade do socialismo em eliminar a miséria, conforme
argumentado pelos economistas ao longo de várias décadas.

O autor destaca que, mesmo prescindindo da concepção lassalliana da


lei de bronze, o retrocesso do Partido Operário Alemão é alarmante. Ele aponta
para o progresso anterior do partido ao adotar uma concepção científica de que
o salário não representa o valor do trabalho, mas é uma forma disfarçada do
valor da força de trabalho. Essa perspectiva, segundo o autor, eliminou a
concepção burguesa tradicional do salário e a crítica associada a ela. Além
disso, enfatizou a ideia de que o trabalho assalariado é, essencialmente, uma
forma de escravidão, uma vez que o operário trabalha parte do tempo
gratuitamente para o capitalista.

No entanto, o autor expressa sua indignação ao observar que o partido


retrocede aos dogmas de Lassalle, que, segundo ele, não compreendia
verdadeiramente a natureza do salário. Ele usa uma metáfora poderosa,
comparando esse retrocesso à atitude de um escravo fanático que, em meio a
uma revolta de escravos que descobriram o segredo da escravidão, propõe a
abolição da escravidão com base em argumentos antiquados sobre limites de
manutenção dos escravos.

A crítica culmina na acusação de leviandade criminosa e falta de


escrúpulos na redação do programa de transição do partido. O autor sugere
que a redação do programa não reflete a compreensão difundida entre a
massa do partido, indicando uma desconexão significativa entre a liderança
partidária e as bases.

Por fim, o autor propõe uma emenda à frase final do parágrafo,


argumentando que, em vez da vaga afirmação sobre suprimir todas as
desigualdades sociais e políticas, deveria ser declarado que a abolição das
diferenças de classe resultaria naturalmente na eliminação das desigualdades
sociais e políticas associadas a elas. Essa proposta parece ser uma tentativa
de tornar mais claro o vínculo entre a eliminação das diferenças de classe e o
desaparecimento das desigualdades decorrentes.

III.

O terceiro tópico em questão discute a posição do Partido Operário


Alemão em relação à criação de cooperativas de produção como parte do
processo de solução do problema social. O autor critica a abordagem do
partido, alegando que ela é guiada por ideias utópicas e que representa um
retrocesso em relação ao movimento de classes.

O texto começa desacreditando a proposta das cooperativas de


produção como uma panaceia após a "lei de bronze" de Lassalle. O autor
argumenta que a luta de classes, uma realidade concreta, é substituída por
uma expressão vaga, "o problema social", para cuja solução o partido pretende
preparar o caminho. Ele caracteriza a visão de criar uma "organização
socialista de todo o trabalho" como uma fantasia, especialmente quando
vinculada à ajuda do Estado.

A crítica se aprofunda ao questionar a noção de que o Estado pode


fornecer essa ajuda para a construção de uma nova sociedade. O autor
equipara essa ideia à visão de Lassalle, ironizando a concepção de que, com
empréstimos do Estado, é possível construir uma nova sociedade da mesma
forma que se constrói uma ferrovia. A ironia expressa sua descrença na
eficácia dessa abordagem.
O autor destaca um "resto de pudor" no texto, onde a ajuda do Estado é
colocada sob o controle democrático do "povo trabalhador". No entanto, ele
levanta duas objeções principais a essa abordagem. Em primeiro lugar,
destaca que, na Alemanha, a maioria do "povo trabalhador" é composta por
camponeses, não proletários. Em segundo lugar, questiona o significado de
"democrático" quando se refere ao controle governado pelo povo do povo
trabalhador. Ele sugere que, ao apresentar essas reivindicações ao Estado, o
povo trabalhador demonstra sua consciência de que não está no poder e não
está maduro para governar.

A crítica continua com uma referência histórica à receita prescrita por


Buchez durante o reinado de Luís Felipe, em oposição aos socialistas
franceses. O autor alega que o verdadeiramente escandaloso não é a inclusão
dessa cura milagrosa específica no programa, mas sim o abandono do ponto
de vista do movimento de classes em favor do movimento de seitas. Ele
argumenta que o foco no estabelecimento de condições de produção coletiva
em toda a sociedade, especialmente dentro da própria casa, indica um desejo
dos operários de subverter as condições existentes de produção. No entanto,
ele ressalta que isso não deve ser confundido com a fundação de sociedades
cooperativas com a ajuda do Estado. Ele enfatiza que as verdadeiramente
valiosas são aquelas criadas de forma independente pelos próprios operários,
sem a proteção de governos ou burgueses.

A crítica central desse trecho aponta para a falta de viabilidade prática e


a ingenuidade teórica na proposta do partido de criar cooperativas de produção
com a ajuda do Estado. O autor reforça a importância de manter o foco no
movimento de classes e na ação independente dos trabalhadores, em vez de
depender de soluções utópicas e da intervenção estatal.

IV.

O quarto e último tópico do texto aborda a parte democrática do


programa do Partido Operário Alemão, examinando as reivindicações
relacionadas à base livre do Estado, educação popular, jornada de trabalho,
restrição do trabalho da mulher, proibição do trabalho infantil, inspeção pelo
Estado da indústria, regulamentação do trabalho nas prisões e uma lei eficaz
de responsabilidade civil. O autor critica cada uma dessas reivindicações,
apontando inconsistências, falta de clareza e compromissos desnecessários.

A. "Base livre do Estado": O autor começa questionando a noção de


"Estado livre" conforme expresso no programa. Ele argumenta que a
verdadeira liberdade do Estado reside em torná-lo completamente subordinado
à sociedade, e a liberdade das formas de Estado está na medida em que
limitam a "liberdade do Estado". Ele critica a falta de compreensão do
programa em relação à sociedade capitalista e suas formas de Estado,
chamando o "Estado atual" de uma ficção.

B. "O Partido Operário Alemão exige, como base espiritual e moral do


Estado": O autor desaprova a ideia de "educação popular a cargo do Estado",
argumentando que a escola deve ser retirada de qualquer influência
governamental ou religiosa. Ele sugere que o programa está impregnado da fé
servil da seita lassalliana no Estado, comprometendo a verdadeira essência do
socialismo. Ele questiona a necessidade de reivindicações como "liberdade da
ciência" e "liberdade de consciência", alegando que esses direitos já são
estabelecidos em várias constituições.

2. "Jornada normal de trabalho": O autor critica a vaguidade da


reivindicação sobre a duração da jornada de trabalho, argumentando que ela
deveria ser mais específica e ajustada às condições concretas.

3. "Restrição do trabalho da mulher e proibição do trabalho infantil": O


autor destaca a necessidade de incluir limites de idade na proibição do trabalho
infantil e sugere que a proibição geral do trabalho infantil é impraticável e
reacionária. Ele ressalta a importância de combinar trabalho produtivo e ensino
desde cedo como meio de transformar a sociedade.

4. "Inspeção pelo Estado da indústria nas fábricas, nas oficinas e a


domicílio": O autor argumenta que, no contexto do Estado prussiano-alemão,
as exigências deveriam ser mais rigorosas, como a substituição dos inspetores
apenas por sentença judicial, a capacidade de denunciá-los judicialmente e a
necessidade de inspetores serem médicos.
5. "Regulamentação do trabalho nas prisões": O autor considera essa
reivindicação mesquinha para um programa geral operário e sugere que
deveria ser mais claro sobre a não privação dos detentos do trabalho produtivo.

6. "Uma lei eficaz de responsabilidade civil": O autor pede uma definição


clara do que seria uma lei "eficaz" de responsabilidade civil e destaca que ela
só entra em ação após a violação das leis de segurança e saúde no trabalho.

Em resumo, o autor conclui que o apêndice é caracterizado por uma


redação descuidada, criticando a falta de clareza, compromissos
desnecessários e imprecisões nas reivindicações. Ele encerra o texto
reafirmando que o programa está impregnado de uma visão inadequada do
Estado e da sociedade, distanciando-se da verdadeira essência do socialismo.

CONCLUSÃO

A crítica de Karl Marx ao programa do Partido Operário Alemão é uma


análise minuciosa e perspicaz, revelando uma série de preocupações
fundamentais com relação aos fundamentos teóricos e práticos do socialismo
proposto. O autor destaca várias falhas conceituais e contradições no
programa, apontando para a necessidade de uma abordagem mais consistente
e alinhada com os princípios fundamentais do socialismo.

A análise crítica de Karl Marx revela uma profunda preocupação não


apenas com a formulação teórica do socialismo, mas também com sua
implementação prática. A busca por uma base mais sólida nos princípios
socialistas, a rejeição de retrocessos a dogmas ultrapassados, a crítica à
ingenuidade de propostas utópicas e a necessidade de uma compreensão mais
sólida das dinâmicas sociais são temas recorrentes. Marx destaca a
importância de manter o movimento de classes e a ação independente dos
trabalhadores como fundamentos essenciais para uma transformação social
genuína. Sua crítica não é apenas uma análise de um programa político
específico, mas uma chamada para um socialismo mais autêntico,
fundamentado em uma compreensão precisa das condições materiais e
sociais.

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