KARL MARX. Crítica do Programa de Gotha. São Paulo: Boitempo, 2012.
p.22-40.
DO CAPITALISMO AO COMUNISMO
Crítica do Programa de Gotha foi escrito em 1875 pelo pensador Karl
Marx, possuindo apenas quatro capítulos, o seu título deixa claro que é uma crítica do sociólogo alemão as ideias base do programa de unificação dos dois partidos operários alemães na cidade de Gotha: a Associação Geral dos Trabalhadores Alemães fundada em 1863 por Ferdinand Lassalle que morreu em 1864 e o Partido Social-Democrata dos Trabalhadores fundada em 1869 por dirigentes socialistas amigos de Marx. Esse projeto de união privilegiava as ideias de Lassalle e, por isso, se encontra dentro do texto muitas críticas ao fundador da ADAV. Apesar das críticas e de uma escrita forte de ataque as ideias de Lassalle, Marx apoiava a união dos partidos. No final do texto, já na parte IV é possível entender os objetivos e a preocupação de Marx e das suas críticas, isso tem a ver com o guia do programa com a construção de um tipo de socialismo aliado ao Estado, para o sociólogo criador do Materialismo Histórico, o Programa de Gotha estava se aliando a um tipo de reformismo burguês que era dificultador dos valores revolucionários para a classe proletária de sua época. Na sua polêmica inicial, Marx começa seu texto afirmando que o trabalho não é o único gerador de riqueza, pois para o comunista a natureza é geradora de riqueza também. Aqui, é importante parar para refletir as palavras iniciais do seu texto, e logo no terceiro parágrafo da obra temos sua afirmação contraintuitiva e problematizadora: [...] o trabalho não é a fonte de toda a riqueza. A natureza é a fonte dos valores de uso, tanto quanto é o trabalho, que é apenas a exteriorização de uma força natural, da força de trabalho humana [...]. (MARX, 2012, p.22). Ou seja, Marx como filósofo caro aos conceitos inicia sua crítica ao Programa de Gotha falando sobre a importância dos documentos comunistas em demostrar a distinção entre os valores de uso e de troca para seus trabalhadores, fazendo a crítica a ideologia burguesa. Quando afirmamos que apenas o trabalho gera riqueza, estamos excluímos pessoas na sociedade que “não trabalham” como mulheres e crianças, estamos classificando o que é “trabalho útil e não-útil”, e quando temos apenas a perspectiva do marcador trabalho como geradora de riqueza começamos a problematizar também que o trabalho individual ou isolado tem valor de uso, ao mesmo tempo que o trabalho social desenvolve cultura e riqueza para os não-trabalhadores e pobreza e desigualdades para os trabalhadores. E assim, Marx conclui inicialmente: [...] Essa é a lei de toda a história até o presente. Portanto, em vez de lançar frases feitas sobre “o trabalho” e “a sociedade”, dever-se-ia demonstrar com precisão de que modo, na atual sociedade capitalista, são finalmente criadas as condições materiais etc. que habilitam e obrigam os trabalhadores a romper essa maldição histórica. (MARX, 2012, p.24).
O longo do capítulo e depois dessa afirmação é possível concluir duas
premissas iniciais que foram desenvolvidas: 1) o valor de uso como pensamento inicial para a sociedade emancipada e 2) o fim do Estado como produtor das desigualdades das classes é apenas possível com a transição da ditadura do proletariado. Portanto, é a primeira vez que Karl Marx (2012) se aproveita dessa crítica para problematizar de forma pedagógica como é possível a transição de uma sociedade burguesa para uma sociedade comunista. Ele é sintético na base do capítulo I quando afirma claramente seu objeto de análise: [...] Nosso objeto aqui é uma sociedade comunista, não como ela se desenvolveu a partir de suas próprias bases, mas, ao contrário, como ela acaba de sair da sociedade capitalista, portanto trazendo de nascença as marcas econômicas, morais e espirituais herdadas da velha sociedade de cujo ventre ela saiu [...] (MARX, 2012, p.27).
Por conseguinte, é perceptível uma sequência de temáticas que o texto
desenvolve ao longo dos três capítulos e que procura dar conta da transição da sociedade capitalista para a comunista: 1) superar a escravizante subordinação do indivíduo a divisão do trabalho; 2) superar a dicotomia e o antagonismo entre o trabalho intelectual e o trabalho manual; 3) transformar a categoria trabalho para além de um meio de vida e dos valores de troca para tornar-se a primeira necessidade da existência com o fortalecimento do valor de uso das coisas; 4) cada indivíduo oferecer o trabalho de acordo com sua capacidade e diferenças para se criar a produção abundante e 5) superar o direito burguês e a ideia de propriedade privada criando as condições ao pleno desenvolvimento dos indivíduos a partir da ditadura do proletariado. (MARX, 2012, p.28). Marx (2012) trata nessa obra e sintetiza pensamentos importantes para imbricar o capitalismo ao comunismo e logo no primeiro capítulo desenvolve de forma rápida conceitos como valor de uso, natureza e trabalho, ele também desenvolve ao longo dos demais textos da sua obra e fala do papel importante dos trabalhadores no conjunto da vida social e no pensamento do comunismo internacional e nacional, ou seja, as condições da luta de classes e suas alianças nacionais e internacionais; a construção da sociedade comunista e a emancipação da classe trabalhadora e sua tensão com o Estado. Ou seja, Marx chama a atenção de informar a classe trabalhadora do seu papel revolucionário na formação de uma nova sociedade que tenha a seguinte bandeira: “de cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades.” (MARX, 2012, p.28). Objetivamente: como Marx pensa na sua obra essa sociedade comunista? Ele responde brilhantemente a Lassalle que está construindo uma esquerda reformista sem ideias revolucionários: [...] No interior da sociedade cooperativa, fundada na propriedade comum dos meios de produção, os produtores não trocam seus produtos; do mesmo modo, o trabalho transformado em produtos não aparece aqui como valor desses produtos, como uma qualidade material que eles possuem, pois agora, em oposição à sociedade capitalista, os trabalhos individuais existem não mais como um desvio, mas imediatamente como parte integrante do trabalho total. [...] (MARX, 2012, p.26).
Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições