Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: O presente artigo pretende dar conhecimento do que tem sido o processo de reabi
litação urbana na Baixa do Porto, porque o fazemos assim, como chegámos aqui, esperando
que da sua leitura se retirem alguns ensinamentos, não só com base nas novas pistas e
metodologias ensaiadas, mas também dos erros de análise ou de execução que se cometam.
Esta nova metodologia inicia-se em 2002, quando se decide introduzir uma ruptura no modelo
de reabilitação urbana que vinha sendo seguido na cidade, com base no Cruarb. Entendeu
-se, então, que era necessário criar uma estrutura jurídica, financeira e orgânica que fosse
capaz de responder, em simultâneo, a várias desafios: escala na intervenção, celeridade nos
procedimentos, investimento privado, gestão rigorosa e transparente.
O artigo encontra-se dividido em duas partes. A primeira apresenta as principais linhas de
análise decorrentes do Estudo Estratégico para o enquadramento de Intervenção de reabilitação
urbana da Baixa do Porto, encomendado pela Câmara Municipal ao Departamento de
Planeamento Territorial da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto1• Para orientação
do leitor, refira-se que o estudo apresenta um conjunto diversificado de resultados ligados
entre si, sendo alguns mais orientados para o âmbito espacial do processo de reabilitação
urbana, outros para a sua dimensão estratégica, outros ainda para questões complementares
de reflexão. A segunda parte decorre do âmbito de enquadramento da criação das SRU (pelo
Decreto-Lei 104/2004) e dá conta do processo de constituição da Porto Vivo SRU, dos seus
objectivos e formas de actuação.
'Economista, Presidente da Comissão Executiva do Porto Vivo, SRU- Sociedade de Reabilitação Urbana da Baixa Portuense, SA. Contacto:
sru.joaquim.branco@cm-porto.pt
1 O texto segue muito de perto o documento produzido pela FEUP, pelo que será composto em grande parte por excertos quase integrais do referido
Estudo Estratégico para garantir uma melhor qualidade da exposição e sem que se introduzam alterações que possam adulterar esse trabalho.
36
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana
objectivos de regeneração física com objectivos degeneração urbana podem apresentar, no seu
sociais e económicos: a sustentabilidade desse interior, espaços com características diversificadas,
processo decorre, também, da capacidade de de nível físico, social, económico e funcional, nos
integração de objectivos diversificados. Como se quais se condensam problemáticas específicas que
sabe, nas áreas urbanas degradadas, ou “em reclamam modos de acção diferenciados. Daí a
desvantagem”, manifestam-se os efeitos acumu- importância que actualmente se concede à defi-
lados (e interactivos) de fenómenos de degradação nição de estratégias de regeneração urbana estrei-
física, de vulnerabilidade social e de fragilidade tamente apoiadas numa delimitação clara de “áreas
económica, que mantêm essas áreas num de acção” associadas a unidades de vizinhança
“equilíbrio em perda” e que dificultam a inversão (“area-based regeneration”).
das tendências instaladas. Precisamente porque a Considera-se determinante para o sucesso do
regeneração urbana é um processo difícil, torna-se
processo de reabilitação urbana da Baixa Portuense
essencial saber enquadrar as soluções tendo como
atender à diversidade territorial desta área, o que
referência o carácter complexo e heterogéneo do
significa saber focar as iniciativas em contextos
problema, e a dimensão diversificada dos desafios.
espaciais bem delimitados que dêem coerência,
Parcerias equilíbrio e sentido de oportunidade às inter-
venções.
Um pressuposto a salientar é o de ordem
organizacional. Tem a ver com os modos de rela- O diagnóstico
cionamento entre os vários agentes (públicos e
privados) que podem intervir no processo de rea- Os Elementos de Diagnóstico descrevem o
bilitação urbana, isto é, com a construção de novas estado de degeneração urbana da área em estudo e
relações e parcerias segundo uma lógica de identificam um conjunto de tendências que, pela
convergência de interesses, de adequação dos intensidade das suas manifestações ou pelas suas
instrumentos às problemáticas em causa, de características, colocam em relevo dimensões
partilha e transferência de soluções, de mobilização básicas das problemáticas em jogo.
de agentes diversificados para a causa da Os Elementos de Diagnóstico que se
reabilitação urbana. O objectivo é minimizar os apresentam referem-se à análise do estado de
“custos de transacção”, e incrementar a eficácia “degeneração urbana” da área central da cidade
do processo e a sua durabilidade. do Porto e recorrem à informação produzida em
O sucesso de um processo de reabilitação estudos recentes e a resultados dos Censos 2001.
urbana passa pela capacidade de articulação e de A primeira referência da análise é a totalidade
coordenação de estratégias diferenciadas (de ordem da ACRRU (Área Crítica de Recuperação e
física, económica, social...) as quais envolvem Reconversão Urbanística), distinguindo-se, depois,
diferentes agentes com “agendas” também um núcleo histórico, a que correspondem as
variadas, pela ligação entre diferentes níveis de freguesias de Miragaia, São Nicolau, Sé e Vitória,
competências (municipais, centrais, sectoriais...),
e um anel central, a que correspondem as freguesias
pela transformação de procedimentos (reduzindo-
de Bonfim, Cedofeita, Massarelos e Santo Ildefonso.
-se, por exemplo, a complexidade dos proce-
Os principais eixos do diagnóstico são os
dimentos administrativos associados às operações
seguintes:
urbanísticas de reabilitação), ou seja, pela capa-
cidade de construção de “redes”, horizontais e – O predomínio da função habitacional dos
verticais, ou de novos cenários institucionais. Por edifícios e o reconhecimento de uma extensão signi-
isso, considera-se que a capacidade de inovação ficativa da não ocupação dos alojamentos;
organizacional deve constituir um desafio a atingir – A existência de alguns espaços de maior
no processo de reabilitação urbana. intensidade de usos não habitacionais e o reco-
nhecimento da existência de indicadores de um
Áreas de intervenção prioritária processo de declínio da base económica do centro
do Porto;
Finalmente, há a salientar a dimensão espa- – Uma estrutura etária da população
cial. Os territórios afectados por processos de residente em envelhecimento, acompanhada do
37
CIDADES Comunidades e Territórios
aumento da importância dos reformados e das referência espacial o concelho do Porto e a própria
famílias mais pequenas; Área Metropolitana do Porto.
– A verificação da existência de importantes Desenvolvem-se, de seguida, alguns dos eixos
contrastes internos nos níveis de qualificação, fundamentais do Diagnóstico:
emprego e desemprego;
– Nos alojamentos, a importância do Ø Uso dos edifícios:
arrendamento e do nível relativamente baixo das Ø predomínio da função habitacional
rendas, e a identificação de problemas severos e
generalizados de conservação e conforto da Predominam as construções com raiz
habitação. tipológica residencial, o que fornece à função
habitacional uma relevância central num programa
Identificam-se, portanto, tendências gerais, de reabilitação urbana. No núcleo histórico, 71%
presentes na ACRRU, mas também elementos dos edifícios são exclusivamente residenciais, valor
relevantes de diferenciação espacial, que podem que se eleva para 82% no denominado anel central.
38
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana
39
CIDADES Comunidades e Territórios
40
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana
41
CIDADES Comunidades e Territórios
visão de conjunto a médio prazo. Por outro lado, lugar apelativo e distinto, capaz de surpreender os
esta estratégia também pressupõe a necessidade visitantes e de lhes proporcionar experiências
de articular lógicas de intervenção física com únicas e diversificadas, ancoradas na sua riqueza
necessidades de regeneração social e económica, patrimonial e arquitectónica, nas tradições e
de forma a obter-se o máximo de benefícios do culturas vivas, na tipicidade da sua paisagem
projecto. De forma a garantir uma melhor urbana e na população hospitaleira.
operacionalidade da intervenção organizou-se este
projecto em seis linhas de intervenção, que devem A cidade é interacção, é convivência
ser coordenadas e integradas: e governabilidade
A cidade é residência, é qualidade de vida.
A cidade é criatividade, é identidade e O centro da cidade, como espaço de
inovação. centralidade, de fluxos e de projectos, tem
A cidade é comércio e serviços, é intercâmbio. de possuir um sistema de infra-estruturas e de
A cidade é turismo, é atractividade. inter-relacionamentos que funcione. Recriar o
A cidade é interacção, é convivência e centro da cidade depende da qualidade e fluidez
governabilidade. das infra-estruturas físicas e dos espaços colectivos,
A cidade é edificação, é recuperação urbana. mas também da capacidade e da inovação
institucional que for impressa ao projecto.
A cidade é residência, é qualidade de vida
A cidade é edificação, é recuperação urbana
O centro da cidade do Porto tem de ser em
primeiro lugar um espaço habitável, que integra A recuperação do edificado, é um objectivo
uma estrutura social heterogénea, que usufrui de económico porque contribui para uma melhor
uma forte centralidade e monumentalidade, que eficiência da cidade-competitiva, evidencia um
promove o desenvolvimento de laços de socia- objectivo social porque evita a exclusão e a
bilidade e apropriação urbana e recria um espaço segregação, traduz um objectivo ecológico porque
de vida diferenciador e integrador. recupera um património e afirma um objectivo
cultural porque recria uma identidade urbana.
A cidade é criatividade, é identidade e inovação
Contextos de dinamização
O centro da cidade do Porto constituir-se-á
de reabilitação urbana
como um espaço atractivo e com grande vitalidade,
onde as actividades culturais e as indústrias Os Contextos de Dinamização da Reabilitação
criativas constituirão um importante factor de Urbana representam espaços prioritários ou
atracção de novos residentes, visitantes e negócios, estratégicos do ponto de vista da reabilitação da
contribuindo para a renovação da economia da Baixa do Porto. São definidos através de um
cidade, para o reforço da sua identidade e para conjunto de critérios que têm em atenção as
conferir a este espaço uma imagem de vitalidade, questões identificadas no diagnóstico, a intensidade
criatividade e diversidade. e a variedade dos problemas presentes na Baixa,
as dinâmicas de transformação em curso ou
A cidade é comércio e serviços, é intercâmbio
potenciadas pelas estratégias definidas na Visão, e
O centro da cidade do Porto é o local do os efeitos da “visibilidade” de intervenções de
intercâmbio, é a grande praça ou o grande mercado reabilitação. É com base nestes critérios que se
da cidade, é o centro do consumo e da vivência procede à delimitação de “áreas urbanas sensí-
urbana, é o lugar de permuta de ideias e de troca veis”, de “áreas de oportunidade” e de “espaços
de produtos e de serviços. de singularidade”, de cuja sobreposição resulta a
definição de vários contextos espaciais para
A cidade é turismo, é atractividade a dinamização da reabilitação urbana.
Para cada ADRU (Área de Dinamização da
O centro da cidade, como espaço que melhor Reabilitação Urbana) e EDRU (Eixo de Dinami-
traduz a identidade e a história do Porto, será um zação da Reabilitação Urbana), elaborou-se:
42
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana
– Uma definição geral da estratégia a desen- intervenções diversas. Não significa, no entanto,
volver, sintetizando as principais mudanças a operar que o restante território da ZIP (Zona de Inter-
em cada território; venção Prioritária) deva ser excluído das preocu-
– Um conjunto de sugestões programáticas, pações com a reabilitação urbana. Este continua a
orientadas para a reversão dos problemas identi- ser um campo importante de iniciativa individual
ficados e para a concretização das oportunidades e de acção dos actuais proprietários e, por parte do
associadas à “visão”; município, das intervenções mais gerais de incen-
– Uma identificação das principais articula- tivo ou de regulação (através do sistema de licen-
ções estratégicas a ter em conta, necessárias para ciamento, da utilização e adaptação dos diversos
a criação de condições mais favoráveis à reabi- mecanismos de apoio, da difusão da informação
litação do edificado e necessárias, também, para a sobre os mercados e sobre “boas práticas” de
continuidade, no tempo, das dinâmicas que se reabilitação).
pretendem desenvolver;
– Um resumo do diagnóstico de cada ADRU. Condições complementares
de intervenção
As propostas apresentadas têm em atenção as
problemáticas associadas a cada um dos espaços. Nas Condições Complementares de Inter-
Resultam, também, no entanto, de algumas preo- venção dedica-se especial atenção a duas questões
cupações comuns, que se sublinham: directamente associadas à reabilitação do parque
– A importância da especificidade de cada edificado: a Mobilização de Agentes e o Uso de In-
espaço, mas também a importância da articulação centivos. Assim, apresenta-se, em primeiro lugar,
entre diferentes territórios do centro do Porto; uma reflexão sobre dificuldades de investimento
– A importância da habitação, numa perspec- no edificado, com base em estudos comparados e
tiva diversificada e inclusiva, que tenha em conta: nos resultados de entrevistas a agentes interessados
■ a criação de condições gerais para a resi- no processo de reabilitação da Baixa. Esta análise
■ dência das famílias e dos diversos grupos permite identificar sugestões operacionais que
■ sociais; devem ser tidas em conta na definição, em concreto,
■ a atenção a grupos específicos que cons- dos modelos de acção de forma a mobilizar diversos
■ tituem uma população mais mobilizável agentes para o processo de reabilitação urbana. Em
■ para a residência nos espaços centrais da segundo lugar, analisa-se o papel de alguns
■ cidade; incentivos, de natureza diferenciada, na promoção
■ a intervenção nos contextos habitacionais da reabilitação urbana.
■ mais problemáticos, articulada com a trans-
43
CIDADES Comunidades e Territórios
respondem a esta preocupação a modificação das “se os problemas são do âmbito da progra-
condições de regulação: dos níveis de renda, dos mação e gestão das intervenções, é necessário
subsídios de renda, da fiscalidade ou o aumento promover e generalizar novas capacidades técnicas
da intervenção pública no apoio à reabilitação ou de intervenção”. Constituem exemplos de instru-
na sua promoção directa. mentos que respondem a esta preocupação o
– Incerteza quanto à rentabilidade futura desenvolvimento de contratos temporários de gestão
“se o problema reside na maior incerteza do parque privado, processos de substituição dos
associada a estes mercados, é necessário actuar proprietários na organização e gestão da reabili-
sobre os principais factores dessa incerteza”. Cons- tação, a criação de agências vocacionadas para a
tituem exemplos de instrumentos que respondem a manutenção dos alojamentos, a difusão de “guias
esta preocupação a construção de formas de de boas práticas”, estratégias dirigidas para a
entendimento estratégico a prazo entre os principais indústria de construção e para a investigação dos
agentes envolvidos, em torno, nomeadamente, da processos de transformação do edificado, etc.
permanência dos mecanismos de apoio ou das – Dificuldade de adequação da oferta à
regras de transformação urbana; a garantia de parte procura potencial
da procura; outras medidas de controlo da vul- “se existem factores que dificultam a cons-
nerabilidade ou fragilidade dos mercados – trução de uma oferta adequada à procura, é
associadas à circulação da informação, à concessão necessário promover intervenções que os possam
de um “prémio de risco”, etc. controlar ou conter”. Constituem exemplos de
– Problemas de mediação entre ofertas e instrumentos que respondem a esta preocupação
procuras intervenções de reorganização da estrutura da
“se o problema reside nas formas de relação propriedade, esquemas de provisão colectiva de
entre oferta e procura e nos custos que lhe é serviços – por exemplo, estacionamento, segurança;
associado, é necessário desenvolver mecanismos adaptação das regras de transformação do edificado.
que actuem sobre essa relação”. Constituem – Aspectos relacionados com a organização
exemplos de instrumentos que respondem a esta das políticas (locais ou nacionais)
preocupação a promoção de agências de “se existem factores institucionais que pro-
intermediação, orientadas para os mercados em que vocam desvantagens específicas para determinados
estes problemas são mais relevantes, a existência tipos de habitação ou de espaço, é necessária uma
de sistemas de garantias dos contratos. reorientação das políticas e do funcionamento das
– Problemas de financiamento da operação instituições”. Constituem exemplos de instrumentos
“se o problema reside no processo de finan- que respondem a esta preocupação acções de
ciamento da reabilitação, é necessário construir harmonização dos diversos instrumentos de polí-
formas alternativas de organização e gestão desse tica habitacional, reorganização dos processos
processo”. Constituem exemplos de instrumentos de desenvolvimento do solo e das suas formas de
que respondem a esta preocupação a modificação controlo, alteração dos procedimentos das
dos planos de financiamento, a transformação nas instituições).
formas de propriedade dos edifícios, o desen-
volvimento de agências – ou fundos – alternativas Resultados das entrevistas realizadas
de financiamento da reabilitação, a actuação ao
nível dos mecanismos de garantia dos empréstimos, Apresenta-se uma leitura, necessariamente
etc. sintética e selectiva, dos resultados de um inquérito
– Comportamento expectante dos proprie- realizado a potenciais investidores, organizada em
tários torno dos seguintes pontos:
“se o problema reside nas estratégias expec- ● o diagnóstico geral da Baixa do Porto, seus
tantes dos proprietários, é necessário penalizar este problemas e oportunidades mais gerais;
tipo de estratégias”. A penalização fiscal deste tipo ● a explicação mais pormenorizada da si-
44
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana
45
CIDADES Comunidades e Territórios
46
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana
47
CIDADES Comunidades e Territórios
48
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana
Baixa. Já em 2006, a SRU reabilitou um prédio plasma o exaustivo diagnóstico físico, social e
emblemático na Rua das Flores, que foi um sucesso funcional dos edifícios, se descreve a estratégia de
em termos de técnicas de reabilitação e em termos intervenção no quarteirão, as obras de reabilitação
de mercado, com preços relativamente baixos e com para cada um dos edifícios e a respectiva estimativa
uma procura que excedeu sete vezes a oferta. orçamental.
A abordagem social do quarteirão inicia-se
Operacionalização no terreno com a realização pormenorizada de vistorias a todas
as fracções, estabelecendo-se as primeiras linhas
Para cada AIP é definido um programa geral de intervenção, ouvindo os inquilinos e os senho-
de intervenção designado de Estudo Urbanístico, rios, que acompanham todo o levantamento nos
construído com base num levantamento mais “fino” termos definidos na lei. Estes trabalhos são
de cada edifício, dos seus proprietários e ocupantes, conduzidos por equipas da própria Porto Vivo, SRU,
das suas funções e da sua morfologia, do enqua- mas realizados por equipas multidisciplinares de
dramento da área no território a nível económico, ateliers que trabalham agregados à Loja da
social, monumental, e das suas carências infra- Reabilitação Urbana, ou, nos casos mais complexos,
-estruturais, desde estacionamento a espaço são executados por gabinetes com quadros muito
público, de tratamento dos resíduos a abasteci- experientes. As soluções vão sendo discutidas com
mentos energéticos. É, então, proposta uma estra- os proprietários, não abdicando a Porto Vivo, SRU
tégia para a área, consonante com o Masterplan,
de deixar de introduzir os factores de mudança que
que é submetida à decisão da Câmara Municipal
no Masterplan se preconizam e de salvaguardar as
do Porto, podendo decidir pela dispensa ou pela
condições de segurança, conforto, salubridade e
elaboração de um plano de pormenor.
estética dos edifícios.
Após esta fase, inicia-se o trabalho mais
Na proposta procura-se maximizar a dotação
envolvente com os proprietários, que de acordo com
de estacionamento, a introdução das infra-estru-
a legislação é a quem cabe, em primeiro lugar,
turas, se possível colectivas, ao nível de energia,
executar a reabilitação dos edifícios. Efectuam-se
as primeiras reuniões, onde se explica o enqua- de águas residuais e pluviais, de recolha de resí-
dramento estratégico e a totalidade dos passos a duos sólidos, de definição de regras e técnicas
dar até à reabilitação integral do quarteirão, onde construtivas específicas para a reabilitação.
se inserem os seus prédios, sendo-lhes claramente A proposta base de documento estratégico é então
transmitida a irreversibilidade e a obrigatoriedade submetida à crítica e à recolha de sugestões de
do processo, bem como o papel de facilitador e de todos os interessados por um período de vinte dias
dinamizador da Porto Vivo, SRU e, ainda, os úteis. Após essa fase e depois de ponderados os
poderes excepcionais de planeamento, licencia- contributos recebidos procede-se à aprovação do
mento, execução, expropriação e de fiscalização de Documento Estratégico, que será, de imediato,
que dispõe. notificado a cada um dos proprietários, os quais
Apesar de possuírem todos estes poderes, as deverão celebrar um contrato de reabilitação com
SRU só os podem exercer após a aprovação do a SRU no prazo de 60 dias. Caso o não façam, a
documento estratégico, que é o documento onde se SRU pode substituir-se ao proprietário na execução
49
CIDADES Comunidades e Territórios
das obras, podendo, sempre que necessário, elevada dimensão e de grande poder de arrasto a
expropriar o prédio. ser trabalhados directamente por promotores/in-
vestidores, reservando-se à SRU o tal papel de
Parcerias facilitador e de dinamizador do processo.
Há quarteirões para os quais se estão a esta-
A Porto Vivo, SRU, dada a sua natureza e belecer parcerias específicas com cooperativas, no
âmbito de intervenção, tem de permanentemente sentido de reter e de atrair população originária
estabelecer uma forte articulação estratégica e em condições económicas e financeiras com-
operativa com a Câmara Municipal do Porto, pelo patíveis, utilizando como alavanca prédios e
que há um grande intercâmbio na apreciação e incentivos financeiros públicos.
licenciamento de projectos, nas intervenções no
espaço público, na definição de políticas e regras Mecanismos de apoio
para as infra-estruturas, bem como há mobilidade
de quadros. Loja da reabilitação urbana
A Porto Vivo, SRU definiu no seu Masterplan
a necessidade de estabelecer várias parcerias. Para Dadas as reconhecidas dificuldades do pro-
a da energia, a SRU decidiu ser um dos associados cesso, a Porto Vivo, SRU entendeu ser necessário
fundadores da Agência da Energia do Porto e disponibilizar ferramentas que facilitassem e mo-
através dela serão definidas as grandes linhas para bilizassem as intervenções dos proprietários e dos
cada quarteirão e para cada projecto será emitida promotores privados. Criou-se a Loja da Reabi-
opinião. Também com a Portgás foi estabelecido litação Urbana (LRU), como front-office da Porto
um protocolo que garante o abastecimento de gás Vivo, SRU, onde se fornece e trabalha a informação
natural a todos os prédios e com um apoio financeiro para quem quer reabilitar, residir, trabalhar, investir
significativo. Para garantir a qualidade dos projec- na Baixa. É o local onde se encontram os agentes,
tos e da sua execução estabeleceu-se um protocolo onde se conhecem os apoios, as oportunidades e as
com o IEP para a sua certificação. Ao nível das condições de agilização de projectos.
comunicações está estabelecido um protocolo em No âmbito da LRU, a Porto Vivo, SRU ce-
que se garante que os quarteirões a intervencionar lebrou um conjunto de protocolos de parceria com
estarão dotados com os mais modernos sistemas. entidades de diferentes sectores, a fim de oferecer
Com os serviços da Câmara Municipal do Porto, serviços que respondessem às necessidades dos
das águas e do ambiente, está em curso a definição agentes. Foi seleccionada uma mediadora imo-
de um conjunto de princípios a seguir pelos diversos biliária para estar presente na LRU, para fazer o
intervenientes: Câmara, SRU, proprietários. encontro entre a procura e a oferta de imóveis na
Para a intervenção no edificado e de acordo Baixa, dando resposta a um mercado em aberto,
com a lei é ao proprietário que cabe executar a bem como um conjunto de bancos que oferecem as
reabilitação e, na sua ausência, entende-se que não melhores condições financeiras do mercado.
deverá ser a SRU a participar directamente, pois
um projecto de mudança deve ser capaz de mobi- Programa Viv’A Baixa
lizar os principais actores da reabilitação, neste
caso, os investidores. Daí que a lei preveja a Foi criado o Programa Viv’A Baixa, com o
possibilidade de a SRU poder seleccionar, por objectivo de diminuir os custos de obra nos imóveis
concurso público, um parceiro privado que ajude da ZIP, assim contribuindo para dinamizar as
os proprietários a reabilitar ou, quando não o operações de reabilitação do edificado. O programa
queiram fazer, substitua a SRU adquirindo os foi montado recorrendo a várias empresas forne-
prédios e realizando as obras por sua conta e risco. cedoras de materiais de construção, negociando-
O grau de adesão dos investidores a este processo -se preços e descontos. O Programa Viv’A Baixa
tem sido o melhor aferidor da credibilidade da passa ainda por informar sobre projectistas/con-
estratégia e da confiança na sua execução. sultores nas áreas da arquitectura, engenharia e
Para além dos parceiros já seleccionados por consultoria jurídica, que garantam padrões de
concurso, hoje, já existem vários quarteirões de qualidade de serviço, cumprimento de normas
50
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana
e honorários reduzidos. Para o efeito a Porto Vivo, 2007, terá uma maior acuidade, será abordado de
SRU seleccionou equipas de jovens arquitectos/ forma muito ligeira. A Porto Vivo, SRU definiu um
/engenheiros/juristas para se instalarem em ateliers plano de financiamento para o período de 2006 a
da LRU, dinamizando a zona (Bairro da Sé) e 2011, para todas as intervenções previstas nas
criando oportunidades de trabalho para jovens. 6 AIP, nas Áreas de Acção Especial, quer ao nível
do edificado (no pressuposto de que não haveria
Incentivos fiscais parceiro privado), quer ao nível de espaço e equipa-
mento público, que apresentou junto do BEI e que
Na reabilitação de imóveis nas áreas de inter- mereceu acolhimento. Está-se também a preparar
venção da SRU a taxa de IVA a aplicar é de 5%. a apresentação de projectos junto do próximo
Esta é uma medida que o governo acedeu a incluir QREN, pois a visão integrada do projecto de reabi-
no orçamento de 2007, pois a Porto Vivo, SRU
litação urbana, permitirá ter grandes condições de
desde a primeira hora sensibilizou os sucessivos
elegibilidade.
governos para a necessidade de criar alguma
competitividade com a construção nova, sob pena
Lei das rendas
de se não vencer a inércia.
A Câmara Municipal do Porto também adop-
Já em 2006, foi finalmente concluído um novo
tou uma política fiscal favorável à reabilitação ur-
diploma para o arrendamento de prédios urbanos,
bana ao reduzir em 30% a taxa de IMI para prédios
reabilitados e um agravamento de 30% para os que veio resolver alguns dos principais bloqueios
degradados. Na área de intervenção da SRU a a um salutar e concorrencial mercado, capaz de
Câmara isenta de taxas de ocupação de via pública gerar novas dinâmicas de reabilitação, apesar
e de publicidade as obras de reabilitação, bem de (o futuro o dirá) se prever que ainda não
como, na quase totalidade das situações, não há contenha todos os factores de atractividade e
lugar a taxas de compensação. O IMT pago em mudança célere que era necessário introduzir.
prédios adquiridos para reabilitação poderá ser
recuperado se a mesma se efectuar no período de Gestão de área urbana
dois anos. Caso o prédio seja adquirido no centro
histórico está isento por força da classificação de A implementação das políticas “imateriais”
património da humanidade. de reabilitação urbana vão ser objecto de acções
mais concretas e vigorosas ao longo de 2007, vitais
Sim-Porto para a consolidação e sucesso de todo o processo,
designadamente ao nível do comércio, com base
A Porto Vivo, SRU elaborou um regulamento em planos de urbanismo comercial para as AIP, ao
municipal que visa apreciar os projectos de rea- nível do turismo, se possível, com a criação de um
bilitação com base em critérios específicos, Welcome Center de âmbito regional, ao nível da
genericamente, assentes na melhoria das condições instalação de empresas, dinamizando o parque
de habitabilidade. Além disso, esse método de da inovação, ao nível social, criando rapidamente
multicritérios concede direitos de construção nova, melhores condições de habitabilidade nos
transaccionáveis no mercado, que acrescem ao quarteirões críticos e condições de atracção de
índice de edificabilidade fixado em PDM, ganhos investimento. A dinamização de todo este processo
em função do número de m2 efectuados em prédios passará pela criação e lançamento da figura do
reabilitados nas unidades de intervenção da SRU. Gestor da Área Urbana, que articulará a população,
os empresários e as instituições em torno das
Financiamento
principais estratégias e respectivas acções
transversais a uma reabilitação urbana susten-
Este aspecto justifica só por si um ponto
tada.
autónomo, mas dado que só a partir de meados de
51
CIDADES Comunidades e Territórios
52