Você está na página 1de 18

Cidades- Comunidades e Territórios

Dez. 2006, n.0 12/13, pp. 35-52

Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana


Uma Nova Oportunidade para o Centro Histórico e a Baixa do Porto

Joaquim Fernandes Branco*

Resumo: O presente artigo pretende dar conhecimento do que tem sido o processo de reabi­
litação urbana na Baixa do Porto, porque o fazemos assim, como chegámos aqui, esperando
que da sua leitura se retirem alguns ensinamentos, não só com base nas novas pistas e
metodologias ensaiadas, mas também dos erros de análise ou de execução que se cometam.
Esta nova metodologia inicia-se em 2002, quando se decide introduzir uma ruptura no modelo
de reabilitação urbana que vinha sendo seguido na cidade, com base no Cruarb. Entendeu­
-se, então, que era necessário criar uma estrutura jurídica, financeira e orgânica que fosse
capaz de responder, em simultâneo, a várias desafios: escala na intervenção, celeridade nos
procedimentos, investimento privado, gestão rigorosa e transparente.
O artigo encontra-se dividido em duas partes. A primeira apresenta as principais linhas de
análise decorrentes do Estudo Estratégico para o enquadramento de Intervenção de reabilitação
urbana da Baixa do Porto, encomendado pela Câmara Municipal ao Departamento de
Planeamento Territorial da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto1• Para orientação
do leitor, refira-se que o estudo apresenta um conjunto diversificado de resultados ligados
entre si, sendo alguns mais orientados para o âmbito espacial do processo de reabilitação
urbana, outros para a sua dimensão estratégica, outros ainda para questões complementares
de reflexão. A segunda parte decorre do âmbito de enquadramento da criação das SRU (pelo
Decreto-Lei 104/2004) e dá conta do processo de constituição da Porto Vivo SRU, dos seus
objectivos e formas de actuação.

Palavras-chave: Reabilitação e Requalificação Urbana.

Estudo estratégico oportunidade" que se colocam à cidade e, em

para o enquadramento particular, à sua zona urbana central, os quais criam


condições para a transformação das actuais
de intervenções de reabilitação
tendências de "degeneração urbana".
urbana na Baixa do Porto

E s t a posição exige que o processo de


Enquadramento
reabilitação urbana, ou de "regeneração", da Baixa
Portuense reconheça a diversidade de factores -
Considera-se que as acções de reabilitação
de ordem económica, funcional, institucional, social
do parque edificado, para que possam ser dura­
e espacial - que contribuem para o seu sucesso.
douras, devem atender à natureza e à dimensão dos
É no reconhecimento dessa diversidade que se deve
problemas que contribuem para a "degeneração"
apoiar a relação entre as estratégias ("o que fazer")
da área central da cidade do Porto, provocando a
e as suas formas de desenvolvimento operacional
sua progressiva ruptura face a padrões correntes
("como fazer"), pelo que constitui a questão-chave
de qualidade urbana, e devem, também, saber
que informa este estudo.
enquadrar os desafios ou os "con textos de

'Economista, Presidente da Comissão Executiva do Porto Vivo, SRU- Sociedade de Reabilitação Urbana da Baixa Portuense, SA. Contacto:
sru.joaquim.branco@cm-porto.pt
1 O texto segue muito de perto o documento produzido pela FEUP, pelo que será composto em grande parte por excertos quase integrais do referido
Estudo Estratégico para garantir uma melhor qualidade da exposição e sem que se introduzam alterações que possam adulterar esse trabalho.

Cidades • Comunidades e Territórios, n.


0
12/13, 2006, pp. 33- 50 35
CIDADES Comunidades e Territórios

A importância atribuída a esta questão Pressupostos gerais


manifesta-se em opções específicas não só ao nível
da definição das estratégias mas, também, no Problema ou Oportunidade
quadro da sua operacionalização. O estudo utiliza de forma indiferenciada os
termos “reabilitação urbana” e “regeneração
Objectivos urbana”. Esta relativa imprecisão terminológica é
indicativa da ambiguidade que rodeia a própria
O Estudo Estratégico apresenta como definição do que está em causa, dada a dificuldade
objectivos centrais: de estabilizar um conceito geral de degradação ou
de “degeneração” urbana. Está-se perante um
Ø Enquadrar o processo de reabilitação urbana estado de “privação” ou de ruptura, face a padrões
Ø da Baixa do Porto correntes de qualidade urbana? Ou está em causa
uma situação de agravamento de “desvantagens”
que compromete o acesso a dinâmicas sustentadas
Trata-se de contextualizar as condições de
de desenvolvimento urbano?
intervenção por referência ao conjunto de proble-
Estas questões mostram a conotação do
mas que atravessam a área, definindo prioridades conceito com um quadro de referência que ora dá
estratégicas para inverter os processos de peso aos problemas, ora dá importância a contextos
degradação do edificado, e de fragilidade social, de oportunidade. A integração desta duplicidade
funcional e económica. Trata-se, também, de constitui precisamente o pressuposto central que
identificar as apostas estratégicas para desenvolver informa o estudo.
dinâmicas de transformação e criar as oportuni-
dades para influenciar de forma duradoura o Visão
processo de reabilitação. Com este objectivo pre-
tende-se, por isso, atender aos problemas e às Nestas condições, considera-se fundamental
oportunidades que devem informar o processo de “construir” o processo de reabilitação da Baixa
reabilitação urbana da Baixa do Porto. Portuense não apenas em torno de dimensões
problemáticas e da sua visibilidade actual, mas
Ø Desenvolver formas operacionais de intervenção também a partir de uma Visão que enquadre, a
longo prazo, as grandes apostas para a cidade do
Porto e as forças estratégicas, ou os factores de
Trata-se, em primeiro lugar, de definir zonas
sucesso, para o desenvolvimento da Baixa.
estratégicas de intervenção para enquadrar o
Esta Visão apresenta-se, assim, como um
“âmbito espacial” do processo de reabilitação elemento crucial para dar coerência às iniciativas
urbana e, também, para evitar a proliferação não de reabilitação urbana de curto e médio prazo,
articulada de “unidades de intervenção” de escala permitindo reforçar a sua integração temporal e,
reduzida (quarteirão, arruamento...). Trata-se logo, a sua capacidade de sustentação; para orientar
igualmente de desenvolver programas de acção em os investidores privados e incrementar parcerias
áreas estratégicas – os espaços de dinamização da entre os diversos agentes da reabilitação; para
reabilitação urbana – de modo a adequar as inter- conjugar as acções de reabilitação do edificado com
venções de reabilitação urbana a contextos territo- iniciativas localizadas de investimento municipal;
riais específicos, a articular essas intervenções para definir estratégias de acesso a programas
segundo uma lógica de conjunto, e de modo, ainda, nacionais ou a fontes de financiamento (como as
a atender a diversos modelos e agentes de associadas aos Quadros Comunitários de Apoio); e
intervenção. Com este objectivo pretende-se fazer para, finalmente, promover a coordenação entre
níveis diferenciados de política urbana.
incidir as acções de reabilitação urbana em espaços
onde os problemas se manifestam com intensidade,
Reabilitação urbana sustentável
ou se combinam com dinâmicas emergentes e
oportunidades de intervenção que importa Considera-se, também, importante que o
desenvolver. processo de reabilitação urbana saiba combinar

36
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana

objectivos de regeneração física com objectivos degeneração urbana podem apresentar, no seu
sociais e económicos: a sustentabilidade desse interior, espaços com características diversificadas,
processo decorre, também, da capacidade de de nível físico, social, económico e funcional, nos
integração de objectivos diversificados. Como se quais se condensam problemáticas específicas que
sabe, nas áreas urbanas degradadas, ou “em reclamam modos de acção diferenciados. Daí a
desvantagem”, manifestam-se os efeitos acumu- importância que actualmente se concede à defi-
lados (e interactivos) de fenómenos de degradação nição de estratégias de regeneração urbana estrei-
física, de vulnerabilidade social e de fragilidade tamente apoiadas numa delimitação clara de “áreas
económica, que mantêm essas áreas num de acção” associadas a unidades de vizinhança
“equilíbrio em perda” e que dificultam a inversão (“area-based regeneration”).
das tendências instaladas. Precisamente porque a Considera-se determinante para o sucesso do
regeneração urbana é um processo difícil, torna-se
processo de reabilitação urbana da Baixa Portuense
essencial saber enquadrar as soluções tendo como
atender à diversidade territorial desta área, o que
referência o carácter complexo e heterogéneo do
significa saber focar as iniciativas em contextos
problema, e a dimensão diversificada dos desafios.
espaciais bem delimitados que dêem coerência,
Parcerias equilíbrio e sentido de oportunidade às inter-
venções.
Um pressuposto a salientar é o de ordem
organizacional. Tem a ver com os modos de rela- O diagnóstico
cionamento entre os vários agentes (públicos e
privados) que podem intervir no processo de rea- Os Elementos de Diagnóstico descrevem o
bilitação urbana, isto é, com a construção de novas estado de degeneração urbana da área em estudo e
relações e parcerias segundo uma lógica de identificam um conjunto de tendências que, pela
convergência de interesses, de adequação dos intensidade das suas manifestações ou pelas suas
instrumentos às problemáticas em causa, de características, colocam em relevo dimensões
partilha e transferência de soluções, de mobilização básicas das problemáticas em jogo.
de agentes diversificados para a causa da Os Elementos de Diagnóstico que se
reabilitação urbana. O objectivo é minimizar os apresentam referem-se à análise do estado de
“custos de transacção”, e incrementar a eficácia “degeneração urbana” da área central da cidade
do processo e a sua durabilidade. do Porto e recorrem à informação produzida em
O sucesso de um processo de reabilitação estudos recentes e a resultados dos Censos 2001.
urbana passa pela capacidade de articulação e de A primeira referência da análise é a totalidade
coordenação de estratégias diferenciadas (de ordem da ACRRU (Área Crítica de Recuperação e
física, económica, social...) as quais envolvem Reconversão Urbanística), distinguindo-se, depois,
diferentes agentes com “agendas” também um núcleo histórico, a que correspondem as
variadas, pela ligação entre diferentes níveis de freguesias de Miragaia, São Nicolau, Sé e Vitória,
competências (municipais, centrais, sectoriais...),
e um anel central, a que correspondem as freguesias
pela transformação de procedimentos (reduzindo-
de Bonfim, Cedofeita, Massarelos e Santo Ildefonso.
-se, por exemplo, a complexidade dos proce-
Os principais eixos do diagnóstico são os
dimentos administrativos associados às operações
seguintes:
urbanísticas de reabilitação), ou seja, pela capa-
cidade de construção de “redes”, horizontais e – O predomínio da função habitacional dos
verticais, ou de novos cenários institucionais. Por edifícios e o reconhecimento de uma extensão signi-
isso, considera-se que a capacidade de inovação ficativa da não ocupação dos alojamentos;
organizacional deve constituir um desafio a atingir – A existência de alguns espaços de maior
no processo de reabilitação urbana. intensidade de usos não habitacionais e o reco-
nhecimento da existência de indicadores de um
Áreas de intervenção prioritária processo de declínio da base económica do centro
do Porto;
Finalmente, há a salientar a dimensão espa- – Uma estrutura etária da população
cial. Os territórios afectados por processos de residente em envelhecimento, acompanhada do

37
CIDADES Comunidades e Territórios

aumento da importância dos reformados e das referência espacial o concelho do Porto e a própria
famílias mais pequenas; Área Metropolitana do Porto.
– A verificação da existência de importantes Desenvolvem-se, de seguida, alguns dos eixos
contrastes internos nos níveis de qualificação, fundamentais do Diagnóstico:
emprego e desemprego;
– Nos alojamentos, a importância do Ø Uso dos edifícios:
arrendamento e do nível relativamente baixo das Ø predomínio da função habitacional
rendas, e a identificação de problemas severos e
generalizados de conservação e conforto da Predominam as construções com raiz
habitação. tipológica residencial, o que fornece à função
habitacional uma relevância central num programa
Identificam-se, portanto, tendências gerais, de reabilitação urbana. No núcleo histórico, 71%
presentes na ACRRU, mas também elementos dos edifícios são exclusivamente residenciais, valor
relevantes de diferenciação espacial, que podem que se eleva para 82% no denominado anel central.

Ø Processo de extensão significativa


começar por ser descritos com base na distinção
Ø da não ocupação dos alojamentos
entre um núcleo histórico e um anel central.
No núcleo histórico, com base nos indicadores
analisados, reside uma população com uma Na ACRRU, o número de alojamentos
estrutura etária envelhecida (base e no topo), pouco familiares clássicos aumenta quase 3%, entre 1991
instruída, com fracos níveis de qualificação e 2001, diminuindo mesmo no núcleo histórico. No
profissional e com indicadores de desemprego altos. concelho do Porto, registava-se, no mesmo período,
A população residente diminuiu muito nas últimas uma variação de quase 11%; na Área Metropolitana
décadas mas a densidade populacional continua do Porto, registava-se uma variação de quase 31%.
elevada. As famílias habitam em alojamentos na No núcleo histórico e no anel central, existiam
maioria das vezes arrendados, muitas vezes em 2001 quase dez mil alojamentos vagos, o que
superlotados e sem as infra-estruturas mínimas correspondia a aproximadamente um quinto dos
de conforto. O parque edificado mostra sinais de alojamentos existentes nessa área e a metade do
degradação física muito intensos, demonstrando a número de alojamentos vagos no concelho do Porto.
pertinência de um programa de conservação e de Entre 1991 e 2001, o número de alojamentos
reabilitação do património. O abandono do núcleo vagos aumentou consideravelmente: no núcleo
histórico manifesta-se no número de alojamentos histórico, passou de 836 para 1950 (133% de
vagos existentes e nos processos de desocupação e variação), representando mais de um quarto dos
degradação registados na última década. No anel alojamentos existentes; no anel central, passou de
central a população residente tem uma estrutura 4271 para 7440 (74% de variação). Em ambos os
etária sobretudo envelhecida no topo, mas casos, este é mais profundo que o verificado no
globalmente apresenta níveis de instrução e de concelho do Porto.
qualificação profissional mais favoráveis do que o
núcleo histórico. Na década de noventa a perda Ø Existência de espaços de maior intensidade
demográfica e a desocupação funcional são muito Ø de usos não habitacionais
expressivas na paisagem urbana. Os níveis de
degradação e de abandono dos imóveis também são O número de imóveis em que grande parte
preocupantes e os indicadores de conforto da área útil está afecta a outros fins que não os da
habitacional nem sempre atingem os mínimos habitação é comparativamente mais elevado na área
desejáveis. Metade do parque habitacional está em estudo: localizam-se na ACRRU aproximada-
arrendado e outra metade é ocupado pelo próprio mente 31% dos edifícios do concelho do Porto, mas
proprietário. aproximadamente 68% dos edifícios principal-
Se esta leitura constitui uma base importante mente não residenciais do concelho, o que pode
para a compreensão da problemática, há que ter ser entendido como indicador da importância das
em conta, também, que a percepção completa de funções económicas (terciárias) aqui desem-
causalidades e de interacções deve ter como penhadas.

38
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana

Ø Indicadores de um processo de declínio de 19%. A população com mais de 75 anos


Ø da base económica do centro do Porto representa cerca de 11% da população residente,
enquanto o valor de referência no concelho do Porto
O centro do Porto constitui um espaço é de 8%.
relevante do emprego e dos serviços, com uma
dotação significativa de equipamentos, oferta Ø O aumento da importância das famílias
comercial e serviços de proximidade que deve ser Ø mais pequenas
entendida como uma sua potencialidade.
No contexto da Área Metropolitana, o con- Outro factor de análise importante prende-se
celho do Porto tem a maior densidade de emprego com as formas de relacionamento mais estreitas do
(que é 7 vezes superior à da média da AMP). Em ponto de vista social dos residentes, isto é, a forma
termos dinâmicos, porém, o Porto aparece como o como a população se estrutura em agregados
concelho que regista a maior quebra da população familiares. Genericamente, em 2001, cerca de 60%
activa, a maior quebra do emprego total e a maior das famílias são constituídas por um ou por dois
quebra do pessoal ao serviço das sociedades, num indivíduos, o que corresponde a um aumento da
contexto em que todos estes indicadores crescem importância deste tipo de famílias.
na Área Metropolitana. É também no Porto que se
verificam as maiores taxas de desemprego Ø A importância dos reformados
masculino, feminino e jovem.
A percentagem de população reformada,
Ø Um espaço de relativa elevada densidade aposentada ou na reserva é mais alta nas áreas
Ø populacional, mas em perda demográfica centrais do que no resto do concelho. O peso deste
grupo de população é sobretudo elevado no núcleo
Em 2001, cerca de um terço da população histórico, reflectindo também a estrutura etária
residente no concelho do Porto residia nesta área envelhecida.
central (no núcleo histórico e no anel central,
residiam aproximadamente 84 mil habitantes). Ø Importantes contrastes nos níveis
Na década de noventa, o núcleo histórico Ø de qualificação, emprego e desemprego.
perdeu sete mil habitantes (mais de um terço da
No núcleo histórico a população residente
sua população), enquanto que o anel central perdia
empregada apresenta uma estrutura profissional
quase vinte mil (mais de um quinto da sua popu- claramente mais desqualificada que a estrutura do
lação). Isto significa que metade das perdas anel central ou do perfil concelhio médio.
demográficas do concelho do Porto se concentra Os grupos mais qualificados (grupos pro-
no anel central. fissionais 1 – quadros superiores da administração
As perdas demográficas registadas são, em pública, dirigentes e quadros superiores de
termos percentuais, mais profundas na década de empresas, e 2 – especialistas das profissões
noventa, quando comparadas com as verificadas intelectuais e científicas) têm uma fraca repre-
nos anos oitenta. sentatividade no núcleo histórico (representam aí
11% do total da população empregada, valores que
Ø Uma estrutura etária significativamente sobem para 29%, no total do concelho, e 31%, no
Ø envelhecida anel central). Pelo contrário, os grupos menos
qualificados estão sobrerepresentados no núcleo
Na década de noventa, verificou-se uma histórico. A taxa de desemprego no núcleo histórico
diminuição da população mais jovem e um aumento é claramente superior à registada no anel central e
da população mais envelhecida. Assim, o no concelho do Porto. Verificam-se, também,
envelhecimento da população reflectiu-se no topo diferenciações importantes no que diz respeito à
e na base da pirâmide etária. Em 2001, a população incidência do desemprego, num contexto geral em
com mais de 65 anos representa 24% do total no que, recorde-se, o concelho do Porto apresenta taxas
núcleo histórico e 23% no anel central, enquanto de desemprego superiores às da média metropo-
que no total do concelho o valor correspondente é litana.

39
CIDADES Comunidades e Territórios

Ø A importância do arrendamento e do nível espacial da Área Crítica de Reabilitação e


Ø das rendas e a presença de algumas dinâmicas Reconversão Urbanística (ACRRU) da cidade do
Ø de transformação neste domínio Porto, e da consequente necessidade de balizar o
contexto espacial do fenómeno de degeneração
As famílias no núcleo histórico residem urbana do centro do Porto. Para o efeito, recorre-se
maioritariamente em alojamentos arrendados (cerca à análise sistemática dos diferentes “territórios”
de 80% das famílias residem em alojamentos contidos na área da ACRRU, identificando-se, a
arrendados ou subarrendados). É, também, neste partir de indicadores diversificados, os vários
conjunto de freguesias que se verifica a presença espaços de diferenciação e de semelhança, bem
de uma maior incidência dos casos de sub-
como a sua relação com variáveis críticas.
arrendamento, em especial na freguesia da Vitória.
Pretende-se que esta zona constitua o contexto
Em contrapartida, no anel central verifica-se um
para a posterior definição de “Áreas de Dina-
equilíbrio entre o arrendamento e a ocupação pelos
proprietários. mização da Reabilitação Urbana” nas quais se
O contexto dominante no arrendamento é devem concretizar todo um conjunto de opções
marcado por níveis de renda baixos: no núcleo estratégicas e condições específicas de acção.
histórico, aproximadamente metade dos alojamen- A definição da ZIP parte da delimitação
tos arrendados têm rendas inferiores a 35 Euros, e espacial da ACRRU – Área Crítica de Recuperação
quase três quartos dos alojamentos têm rendas e Reconversão Urbanística para o concelho
inferiores a 100 Euros. do Porto, nos termos do Dec. Regulamentar
nº 11/2000. É fundamentada com base na análise
Ø Problemas de conservação e de conforto quer de um conjunto de indicadores estatísticos e
Ø dos alojamentos existentes critérios de agrupamento, e seu tratamento
cartográfico, quer das condições de qualificação
O estado de degradação física dos imóveis é da área em estudo em função de atributos vários
generalizado e preocupante. Segundo os Censos de relacionados com os residentes e o tecido edificado.
2001, cerca de 85% dos imóveis no núcleo histórico Apresentam-se, a seguir, os resultados desta
necessitam de intervenções de conservação nas análise estruturados segundo dois níveis:
coberturas, 80% nas estruturas e 84% nas paredes
Em primeiro lugar, salientam-se as carac-
e caixilharias exteriores. No anel central, os níveis
terísticas de diferenciação espacial presentes no
de degradação física dos imóveis também são muito
elevados: cerca de 73% dos imóveis precisam de interior da área da ACRRU e definem-se lógicas
intervenções de conservação nas coberturas, 70% de agrupamento baseadas em critérios de
nas estruturas e 75% nas paredes e caixilharias semelhança. A leitura destes resultados permite
exteriores. Em ambos os casos, a degradação física isolar áreas contrastantes e proporciona as bases
dos imóveis é mais intensa que a registada, em para a delimitação criteriosa da Zona de
média, no concelho do Porto. Intervenção Prioritária.
Mais de metade dos edifícios da ACRRU Em segundo lugar, elabora-se uma proposta
(quase 10 000 edifícios) podem ser classificados, de delimitação espacial da Zona de Intervenção
de acordo com os critérios do INE, como estando Prioritária, a qual é formulada numa perspectiva
em mau estado de conservação. No núcleo histórico, de integração de condições problemáticas ou de
existem cerca 2600 imóveis a necessitar de espaços em risco de “degeneração urbana”, com
intervenções de conservação nas coberturas. contextos de oportunidade. Dedica-se, por isso,
Destes, 1300 necessitam de reparações conside- particular atenção à análise das condições de
radas grandes ou muito grandes. No anel central, ajustamento da ZIP a critérios e indicadores
cerca 11 mil imóveis necessitam de intervenções
relevantes.
de conservação, das quais 4695 correspondem a
Do ponto de vista dos objectivos fundamentais
grandes ou muito grandes reparações.
associados à definição da ZIP, esta proposta
A zona de intervenção prioritária permite:
– Adequar a natureza de “área crítica de
A importância da delimitação de uma Zona reconversão e de recuperação urbanística” a
de Intervenção Prioritária decorre da extensão contextos efectivos de “degeneração urbana”;

40
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana

– Ter em conta a existência potencial de significativas existentes no interior da área da


“Áreas de Dinamização da Reabilitação Urbana” ACRRU.
com diferentes perfis, adequadas à diversidade de
situações problemáticas presentes na Baixa do A utilização da técnica de análise factorial
Porto; isolou seis componentes (factores) principais, que
– Manter a contiguidade de “áreas histó- explicam cerca de 77% da informação fornecida
ricas” e enquadrar as “áreas de frente urbana pelos 23 indicadores, a saber:
contínua consolidada”; Factor 1 – Envelhecimento e actividade dos
– Conduzir estratégias integradas de residentes (19% de variância explicada).
intervenção, combinando por exemplo soluções Factor 2 – Idade do edificado e condição
mais “curativas” com lógicas assentes na inovação social dos residentes (16% de variância explicada).
e na mudança do perfil de actividades do centro do Factor 3 – Qualidade dos alojamentos (11%
Porto. de variância explicada).
Factor 4 – Ocupação dos alojamentos (10%
Padrões de diferenciação de variância explicada).
e de homogeneidade: os diferentes Factor 5 – Idade e dimensão das famílias
territórios contidos na área da ACRRU (6% de variância explicada).
Factor 6 – Função dos edifícios (6% de
Como foi referido, procedeu-se à análise de variância explicada).
um conjunto de indicadores estatísticos e critérios
de agrupamento, e ao seu tratamento cartográfico, A principal utilidade da aplicação desta
os quais constituem elementos de suporte para a técnica reside na definição de padrões de
definição da ZIP. Procura-se complementar diferenciação espacial para a área da ACRRU. Por
elementos de diagnóstico anteriores, identificar seu lado, a análise de “clusters”, realizada para os
características de diferenciação espacial, relacionar dois conjuntos de variáveis referidos anteriormente,
tipologias de problemas, e delimitar situações permitiu definir lógicas de agrupamento baseadas
contrastantes. Para o efeito, desenvolveu-se uma em critérios de semelhança, e, a partir destas, os
metodologia centrada em técnicas estatísticas de padrões de homogeneidade espacial para a área da
análise factorial e de “clusters”, ou classes. ACRRU.
Em geral, deve sublinhar-se que:
A visão
● Foram considerados 23 indicadores

estatísticos, que caracterizam a ACRRU à escala


A Visão e Forças de Estratégia constitui a
da subsecção estatística (quarteirão), segundo
referência central para orientar a reabilitação
quatro dimensões: edifícios, alojamentos, famílias
urbana no centro do Porto. Contém indicações sobre
e residentes;
os factores de qualificação, de atractividade e de
● A análise destes indicadores, do ponto de
relacionamento da zona central da cidade, e define
vista da sua interdependência, permitiu sintetizar
a informação em subconjuntos de variáveis (factores as linhas de intervenção estratégicas a desenvolver.
principais); recorreu-se para isso à técnica de Representa um cenário prospectivo, sustentado na
análise de componentes principais; realidade, que procura dar consistência e força
● O tratamento cartográfico dos factores
estratégica aos recursos existentes e salientar os
principais permitiu registar as diferenças espaciais problemas que têm de ser resolvidos. Desen-
mais significativas existentes na área da ACRRU, volvendo uma perspectiva a longo prazo do centro
ao nível do quarteirão; do Porto, procura, também, dar coerência às
● Definiram-se agrupamentos de variáveis
iniciativas de reabilitação urbana de curto e médio
baseados em classes homogéneas, a partir dos prazo, e garantir a sua capacidade de sustentação.
factores principais e do conjunto original de O projecto de regeneração urbana do centro
23 indicadores; do Porto integra-se num modelo de cidade que se
● O tratamento cartográfico destas classes quer construir. As iniciativas que vão ser tomadas
permitiu identificar as zonas homogéneas mais a curto prazo vão estar correlacionadas com uma

41
CIDADES Comunidades e Territórios

visão de conjunto a médio prazo. Por outro lado, lugar apelativo e distinto, capaz de surpreender os
esta estratégia também pressupõe a necessidade visitantes e de lhes proporcionar experiências
de articular lógicas de intervenção física com únicas e diversificadas, ancoradas na sua riqueza
necessidades de regeneração social e económica, patrimonial e arquitectónica, nas tradições e
de forma a obter-se o máximo de benefícios do culturas vivas, na tipicidade da sua paisagem
projecto. De forma a garantir uma melhor urbana e na população hospitaleira.
operacionalidade da intervenção organizou-se este
projecto em seis linhas de intervenção, que devem A cidade é interacção, é convivência
ser coordenadas e integradas: e governabilidade
A cidade é residência, é qualidade de vida.
A cidade é criatividade, é identidade e O centro da cidade, como espaço de
inovação. centralidade, de fluxos e de projectos, tem
A cidade é comércio e serviços, é intercâmbio. de possuir um sistema de infra-estruturas e de
A cidade é turismo, é atractividade. inter-relacionamentos que funcione. Recriar o
A cidade é interacção, é convivência e centro da cidade depende da qualidade e fluidez
governabilidade. das infra-estruturas físicas e dos espaços colectivos,
A cidade é edificação, é recuperação urbana. mas também da capacidade e da inovação
institucional que for impressa ao projecto.
A cidade é residência, é qualidade de vida
A cidade é edificação, é recuperação urbana
O centro da cidade do Porto tem de ser em
primeiro lugar um espaço habitável, que integra A recuperação do edificado, é um objectivo
uma estrutura social heterogénea, que usufrui de económico porque contribui para uma melhor
uma forte centralidade e monumentalidade, que eficiência da cidade-competitiva, evidencia um
promove o desenvolvimento de laços de socia- objectivo social porque evita a exclusão e a
bilidade e apropriação urbana e recria um espaço segregação, traduz um objectivo ecológico porque
de vida diferenciador e integrador. recupera um património e afirma um objectivo
cultural porque recria uma identidade urbana.
A cidade é criatividade, é identidade e inovação
Contextos de dinamização
O centro da cidade do Porto constituir-se-á
de reabilitação urbana
como um espaço atractivo e com grande vitalidade,
onde as actividades culturais e as indústrias Os Contextos de Dinamização da Reabilitação
criativas constituirão um importante factor de Urbana representam espaços prioritários ou
atracção de novos residentes, visitantes e negócios, estratégicos do ponto de vista da reabilitação da
contribuindo para a renovação da economia da Baixa do Porto. São definidos através de um
cidade, para o reforço da sua identidade e para conjunto de critérios que têm em atenção as
conferir a este espaço uma imagem de vitalidade, questões identificadas no diagnóstico, a intensidade
criatividade e diversidade. e a variedade dos problemas presentes na Baixa,
as dinâmicas de transformação em curso ou
A cidade é comércio e serviços, é intercâmbio
potenciadas pelas estratégias definidas na Visão, e
O centro da cidade do Porto é o local do os efeitos da “visibilidade” de intervenções de
intercâmbio, é a grande praça ou o grande mercado reabilitação. É com base nestes critérios que se
da cidade, é o centro do consumo e da vivência procede à delimitação de “áreas urbanas sensí-
urbana, é o lugar de permuta de ideias e de troca veis”, de “áreas de oportunidade” e de “espaços
de produtos e de serviços. de singularidade”, de cuja sobreposição resulta a
definição de vários contextos espaciais para
A cidade é turismo, é atractividade a dinamização da reabilitação urbana.
Para cada ADRU (Área de Dinamização da
O centro da cidade, como espaço que melhor Reabilitação Urbana) e EDRU (Eixo de Dinami-
traduz a identidade e a história do Porto, será um zação da Reabilitação Urbana), elaborou-se:

42
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana

– Uma definição geral da estratégia a desen- intervenções diversas. Não significa, no entanto,
volver, sintetizando as principais mudanças a operar que o restante território da ZIP (Zona de Inter-
em cada território; venção Prioritária) deva ser excluído das preocu-
– Um conjunto de sugestões programáticas, pações com a reabilitação urbana. Este continua a
orientadas para a reversão dos problemas identi- ser um campo importante de iniciativa individual
ficados e para a concretização das oportunidades e de acção dos actuais proprietários e, por parte do
associadas à “visão”; município, das intervenções mais gerais de incen-
– Uma identificação das principais articula- tivo ou de regulação (através do sistema de licen-
ções estratégicas a ter em conta, necessárias para ciamento, da utilização e adaptação dos diversos
a criação de condições mais favoráveis à reabi- mecanismos de apoio, da difusão da informação
litação do edificado e necessárias, também, para a sobre os mercados e sobre “boas práticas” de
continuidade, no tempo, das dinâmicas que se reabilitação).
pretendem desenvolver;
– Um resumo do diagnóstico de cada ADRU. Condições complementares
de intervenção
As propostas apresentadas têm em atenção as
problemáticas associadas a cada um dos espaços. Nas Condições Complementares de Inter-
Resultam, também, no entanto, de algumas preo- venção dedica-se especial atenção a duas questões
cupações comuns, que se sublinham: directamente associadas à reabilitação do parque
– A importância da especificidade de cada edificado: a Mobilização de Agentes e o Uso de In-
espaço, mas também a importância da articulação centivos. Assim, apresenta-se, em primeiro lugar,
entre diferentes territórios do centro do Porto; uma reflexão sobre dificuldades de investimento
– A importância da habitação, numa perspec- no edificado, com base em estudos comparados e
tiva diversificada e inclusiva, que tenha em conta: nos resultados de entrevistas a agentes interessados
■ a criação de condições gerais para a resi- no processo de reabilitação da Baixa. Esta análise
■ dência das famílias e dos diversos grupos permite identificar sugestões operacionais que
■ sociais; devem ser tidas em conta na definição, em concreto,
■ a atenção a grupos específicos que cons- dos modelos de acção de forma a mobilizar diversos
■ tituem uma população mais mobilizável agentes para o processo de reabilitação urbana. Em
■ para a residência nos espaços centrais da segundo lugar, analisa-se o papel de alguns
■ cidade; incentivos, de natureza diferenciada, na promoção
■ a intervenção nos contextos habitacionais da reabilitação urbana.
■ mais problemáticos, articulada com a trans-

■ formação das condições de vida dos actuais Mobilização de agentes


■ residentes;

■ A importância da introdução de factores de Dificuldades de investimento: das possíveis


■ inovação, entendendo-a num sentido alar- explicações aos possíveis instrumentos de
■ gado, que engloba as diversas actividades intervenção
■ e as instituições; As hipóteses apresentadas são úteis para
■ A abertura a diversos modelos, “escalas” e discutir as razões do não investimento no edificado,
■ agentes de intervenção; em determinados espaços, mas também para
■ A preocupação com a identificação de discutir modelos de intervenção a desenvolver.
■ articulações estratégicas entre as inter- A cada uma das hipóteses de explicação é possível
■ venções e os agentes da reabilitação do fazer corresponder sugestões de formas prioritárias
■ edificado e as intervenções e os agentes de actuação:
■ envolvidos noutros domínios de actuação. – Insuficiência de rendimentos gerados
“se o problema reside na rentabilidade eco-
A opção pela escolha das ADRU e EDRU pre- nómica do investimento, é necessário actuar so-
tende, como foi dito, orientar a atenção dos diversos bre as condições que definem essa rentabilida-
agentes, encontrar espaços de convergência de de”. Constituem exemplos de instrumentos que

43
CIDADES Comunidades e Territórios

respondem a esta preocupação a modificação das “se os problemas são do âmbito da progra-
condições de regulação: dos níveis de renda, dos mação e gestão das intervenções, é necessário
subsídios de renda, da fiscalidade ou o aumento promover e generalizar novas capacidades técnicas
da intervenção pública no apoio à reabilitação ou de intervenção”. Constituem exemplos de instru-
na sua promoção directa. mentos que respondem a esta preocupação o
– Incerteza quanto à rentabilidade futura desenvolvimento de contratos temporários de gestão
“se o problema reside na maior incerteza do parque privado, processos de substituição dos
associada a estes mercados, é necessário actuar proprietários na organização e gestão da reabili-
sobre os principais factores dessa incerteza”. Cons- tação, a criação de agências vocacionadas para a
tituem exemplos de instrumentos que respondem a manutenção dos alojamentos, a difusão de “guias
esta preocupação a construção de formas de de boas práticas”, estratégias dirigidas para a
entendimento estratégico a prazo entre os principais indústria de construção e para a investigação dos
agentes envolvidos, em torno, nomeadamente, da processos de transformação do edificado, etc.
permanência dos mecanismos de apoio ou das – Dificuldade de adequação da oferta à
regras de transformação urbana; a garantia de parte procura potencial
da procura; outras medidas de controlo da vul- “se existem factores que dificultam a cons-
nerabilidade ou fragilidade dos mercados – trução de uma oferta adequada à procura, é
associadas à circulação da informação, à concessão necessário promover intervenções que os possam
de um “prémio de risco”, etc. controlar ou conter”. Constituem exemplos de
– Problemas de mediação entre ofertas e instrumentos que respondem a esta preocupação
procuras intervenções de reorganização da estrutura da
“se o problema reside nas formas de relação propriedade, esquemas de provisão colectiva de
entre oferta e procura e nos custos que lhe é serviços – por exemplo, estacionamento, segurança;
associado, é necessário desenvolver mecanismos adaptação das regras de transformação do edificado.
que actuem sobre essa relação”. Constituem – Aspectos relacionados com a organização
exemplos de instrumentos que respondem a esta das políticas (locais ou nacionais)
preocupação a promoção de agências de “se existem factores institucionais que pro-
intermediação, orientadas para os mercados em que vocam desvantagens específicas para determinados
estes problemas são mais relevantes, a existência tipos de habitação ou de espaço, é necessária uma
de sistemas de garantias dos contratos. reorientação das políticas e do funcionamento das
– Problemas de financiamento da operação instituições”. Constituem exemplos de instrumentos
“se o problema reside no processo de finan- que respondem a esta preocupação acções de
ciamento da reabilitação, é necessário construir harmonização dos diversos instrumentos de polí-
formas alternativas de organização e gestão desse tica habitacional, reorganização dos processos
processo”. Constituem exemplos de instrumentos de desenvolvimento do solo e das suas formas de
que respondem a esta preocupação a modificação controlo, alteração dos procedimentos das
dos planos de financiamento, a transformação nas instituições).
formas de propriedade dos edifícios, o desen-
volvimento de agências – ou fundos – alternativas Resultados das entrevistas realizadas
de financiamento da reabilitação, a actuação ao
nível dos mecanismos de garantia dos empréstimos, Apresenta-se uma leitura, necessariamente
etc. sintética e selectiva, dos resultados de um inquérito
– Comportamento expectante dos proprie- realizado a potenciais investidores, organizada em
tários torno dos seguintes pontos:
“se o problema reside nas estratégias expec- ● o diagnóstico geral da Baixa do Porto, seus

tantes dos proprietários, é necessário penalizar este problemas e oportunidades mais gerais;
tipo de estratégias”. A penalização fiscal deste tipo ● a explicação mais pormenorizada da si-

de estratégias constitui um exemplo de intervenções tuação e sugestões de actuação apresentadas;


que correspondem a esta preocupação. ● as referências aos agentes e modelos de

– Dificuldades de gestão das intervenções intervenção a privilegiar.

44
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana

■ Diagnóstico geral da Baixa do Porto cados e às questões do financiamento das inter-


venções. Para além das referências à “estagnação”
– A percepção de um contexto difícil ou de dos mercados, foram muitas vezes reconhecidas a
uma conjuntura “delicada” (foram várias as refe- grande heterogeneidade dos preços e as dificul-
rências a “estagnação”, “abandono”). Por um lado, dades na obtenção de informação sobre transacções,
reconhece-se que o aprofundamento, ao longo do efectivas ou potenciais.
tempo, dos problemas existentes pode constituir um – A relevância conferida à difusão dos ins-
factor inibidor do investimento na reabilitação. Por trumentos de apoio existentes e à sua adequação
outro lado, reconhecem-se algumas possíveis ao contexto da Baixa. Algumas sugestões apre-
oportunidades: existe, neste momento, capacidade sentadas, neste domínio, dizem respeito: à
construtiva “abundante”; ao mesmo tempo, as mu- promoção de estratégias activas de difusão da
danças em curso nos mercados imobiliários pa- informação sobre os mecanismos de apoio exis-
recem apontar para a necessidade de reorientação tentes; à existência de esquemas de atendimento e
do investimento e de redefinição dos produtos. aconselhamento, capazes de articular os diversos
– Uma imagem do centro do Porto que re- circuitos do apoio à reabilitação.
conhece a relevância da habitação, e que salienta – A relevância conferida à gestão dos espaços
também a importância da mistura de actividades. e das actividades. Para alguns agentes entrevis-
– O reconhecimento de questões proble- tados, a promoção da atractividade da Baixa do
máticas relacionadas com a habitação e seu con- Porto (por exemplo, nas “fileiras” relacionadas com
texto urbano: estacionamento, segurança, qualidade a cultura, o conhecimento ou o turismo) não depen-
ambiental. A sua resolução é considerada uma con- de apenas das intervenções no edificado ou da
dição da atractividade da Baixa como espaço de criação de novos espaços para essas actividades.
residência.
■ Referências aos agentes e modelos de intervenção
■ Explicação da situação e sugestões apresentadas
A variedade de pontos de vista reflecte-se no
– A relevância conferida às questões insti- modo como os agentes encaram a questão da
tucionais. Referiu-se a necessidade de introdução “escala” da intervenção, as relações com os actuais
de melhorias significativas neste domínio. Foi sa- proprietários, as funções dos edifícios a privilegiar
lientada: a importância do sistema de licenciamento ou, ainda, alguns aspectos da economia e da técnica
e, em particular, dos prazos para obtenção de das intervenções.
licenças (que constituem um elemento importante Alguns agentes consideram o quarteirão um
para o cálculo da rentabilidade das intervenções); contexto interessante para a actuação. Valorizam
foi salientada, também, a importância da articu- nele a escala (mencionando, por exemplo, valores
lação entre as diversas entidades envolvidas no em torno dos 50 a 100 alojamentos como indicação
processo de licenciamento. Neste sentido, algumas da dimensão a privilegiar) e a possibilidade de
sugestões foram apresentadas: a incorporação das resolver alguns problemas associados à Baixa do
diversas entidades desde o início do processo (in- Porto (em particular, o estacionamento, mobilizando
cluindo os momentos de planeamento estratégico); para isso o interior dos quarteirões ou dedicando-
a clarificação e publicitação dos critérios de -lhe o espaço de um edifício ou conjunto de
aprovação dos projectos, incluindo os que se re- edifícios).
lacionam com a definição e salvaguarda do valor Outros agentes trabalham, sobretudo, em
patrimonial do edificado. contextos de menor dimensão. Valorizam menos a
– A relevância conferida a algumas dispo- escala e consideram interessantes modelos
sições da regulamentação da construção. Referiu- baseados na negociação entre proprietários e cons-
-se, por um lado, a importância da adequação das trutores (por exemplo, os casos em que a reabili-
diversas disposições regulamentares às caracte- tação é paga com o acesso, pelo construtor, a
rísticas específicas da Baixa do Porto e, por outro algumas fracções do edifício).
lado, a importância da garantia da qualidade dessa Entre um e outro caso, foram mencionadas
adequação. outras possíveis soluções organizativas. É o caso
– A relevância conferida à incerteza nos mer- de esquemas de associação e perequação entre

45
CIDADES Comunidades e Territórios

proprietários. A sua viabilidade depende da de investimento, mas de capacidade de desenvol-


identidade dos proprietários existentes e requer a vimento de iniciativas de âmbito mais localizado.
construção de capacidades organizativas várias. A dimensão crítica do estado de degradação do
É, também, o caso de esquemas baseados na edificado, e a sua densidade de ocupação, cruzam-
intervenção de cooperativas ou de associações -se com a necessidade de envolver uma estrutura
(e na procura de novos agentes do investimento ou localizada e diversificada de agentes e de atender
da gestão do edificado da Baixa). a intervenções de reabilitação muito desiguais
(conservação, alteração, reconstrução...). Pode
■ Incentivos à reabilitação urbana dizer-se, ainda, que a importância desta questão
também decorre da anterior: a geração de novas
A promoção dos processos de reabilitação oportunidades para o investimento imobiliário em
urbana tem-se apoiado no uso de incentivos de outras áreas da cidade (Boavista, Antas...) induz,
natureza diversificada, que procuram estimular e ela própria, a necessidade de saber “construir” a
orientar as decisões dos vários agentes ou inves- reabilitação da Baixa a partir da mobilização do
tidores para a estratégia de reabilitação definida.
sistema de agentes locais.
A questão da relação entre incentivos e reabi-
litação urbana na Baixa Portuense torna-se impor-
tante por duas razões fundamentais. Desde logo,
A prática da Porto Vivo, SRU
porque a utilização de benefícios representa um
Constituição da Porto Vivo, SRU
processo através do qual se pretende captar, ou
atrair, o investimento imobiliário para iniciativas
Em Novembro de 2004 foi constituída a Porto
de reabilitação do edificado, em zonas específicas.
Está em causa, portanto, uma estratégia de Vivo, SRU tendo como accionistas o Estado, através
reorientação espacial do investimento imobiliário. do INH, detentor de 60% do capital e a Câmara
Municipal do Porto de 40%, justificando-se tal
No caso do Porto este aspecto torna-se espe- repartição pelo dimensão e complexidade do
cialmente crítico: problema de degeneração existente no centro
● por um lado, porque se observam, no
histórico e na Baixa do Porto. A este problema não
conjunto do território da cidade do Porto, tendências são alheias as erradas políticas tomadas ao longo
importantes de configuração de novas dinâmicas de décadas pela Administração Central, as quais
imobiliárias, apoiadas em estratégias de investi- terão mesmo sido as principais responsáveis por
mento no espaço público, em torno de áreas especí- essa situação, ao “congelar” as rendas a partir de
ficas (o eixo da Boavista, a zona afecta ao Plano de 1948 para a cidade do Porto, ao centralizar o poder
Pormenor das Antas) que, por isso, se apresentam de decisão em Lisboa, para aí atraindo e
como “espaços” de competição efectiva face à zona concentrando as principais empresas e sectores de
central da cidade; actividade económica, ao adiar, até há poucos anos,
● por outro lado, porque há que ter presente a instalação da rede de Metro no Porto, ao permitir
a contínua capacidade atractiva exercida pelos a deslocalização de grandes investimentos em
concelhos envolventes da cidade, cujos reflexos na equipamentos públicos, designadamente várias
diferenciação centro-periferia do investimento Faculdades, para a periferia, ao viabilizar grandes
imobiliário e no declínio populacional da cidade superfícies comerciais nos limítrofes da cidade.
central são por demais conhecidos.
A segunda razão para atender à relação entre Âmbito geográfico
incentivos e reabilitação urbana na Baixa Portuense
centra-se na necessidade de mobilizar outros Dada a complexidade e diversidade do
sistemas de agentes – como sejam os proprietários problema da ACRRU, foi definida, através de uma
actuais (residentes ou não) e os inquilinos – para o análise multicritérios, como se referiu, uma Zona
processo de reabilitação, associados a intervenções de Intervenção Prioritária (ZIP), onde a Porto Vivo,
de pequena escala. Ou seja, o problema já não é de SRU centraliza os seus esforços.
competitividade espacial ao nível de captação

46
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana

Figura I – Zona de Intervenção Prioritária e área crítica de recuperação e reconversão urbanística

A ZIP conta com 500ha, o que representa – RE-HABITAÇÃO, nomeadamente através


cerca de 50% da área da ACRRU e integra as de uma nova política de habitação, criando condi-
quatro freguesias do Centro Histórico, bem como ções preferenciais no apoio aos proprietários e aos
uma parte substancial das freguesias que moradores, de modo a promover a instalação de
representam os territórios da expansão urbana dos famílias no centro da cidade;
séculos XVIII e XIX. – DESENVOLVIMENTO E PROMOÇÃO
DO NEGÓCIO NA BAIXA DO PORTO, apostando-
Planeamento estratégico -se na criação de novas empresas, na promoção da
investigação, da criatividade, do conhecimento
Ao longo de 2005, desenvolveram-se os e da inovação, sempre numa lógica sustentada e
trabalhos que conduziram à realização de um Plano sustentável;
Estratégico da Reabilitação Urbana da Baixa – REVITALIZAÇÃO DO COMÉRCIO,
Portuense, designado de Masterplan, que enquadra criando uma estratégia que se apoie na sua iden-
todo o processo e no qual estão vertidas as políticas tidade, no que de único ele tem face às demais
de uma reabilitação que se pretende sustentável, e polaridades comerciais existentes, aumentando a
a sua aplicação territorializada, a par das definições sua competitividade e sustentabilidade;
das prioridades e das parcerias a encetar. O Master- – DINAMIZAÇÃO DO TURISMO, CULTU-
plan tem como objectivo último conceptualizar e RA E LAZER, com base nas características am-
implementar um Contrato de Cidade, que oriente bientais e de edificado da cidade, complementadas
quem gere e intervém, vincule as entidades tutela- com a rede cultural e de lazer;
res e comunique uma estratégia aos investidores, – QUALIFICAÇÃO DO DOMÍNIO PÚBLI-
cidadãos e agentes. CO, actuando a três níveis: a qualificação das infra-
A cidade, e designadamente o seu centro, -estruturas de apoio aos diferentes sectores, a
assume-se como um sistema de múltiplas dinâmi- reabilitação dos espaços públicos existentes e
cas, simultaneamente distintas e complementares a criação de novos e a reorganização da mobilidade,
entre si. É o conjugar dessas diversas premissas privilegiando o peão e o transporte colectivo
que podem promover a mudança da realidade face relativamente ao privado, apoiando-se nas redes
ao diagnóstico realizado. Assim, no Masterplan de eléctrico e do metro.
estabeleceram-se cinco vectores de actuação para Para além dos cinco vectores de actuação,
a Zona de Intervenção Prioritária: entendeu-se ainda eleger um conjunto de medidas

47
CIDADES Comunidades e Territórios

de excepção de abrangência transversal e recursos e vontades, escolheram-se dois eixos


plurisectorial, que podem ser determinantes para estratégicos que induzam fortes dinâmicas de
o sucesso da operação. São as designadas ACÇÕES reabilitação, assentes, se possível, simultaneamente
ESTRATÉGICAS (âncoras) que visam os seguintes em todos os vectores: um eixo norte/sul conformado
territórios e domínios: com o desenvolvimento da cidade ao longo dos
● Criação de um Parque da Inovação no eixo tempos e um eixo leste/oeste onde se cruzam as
● Campo 24 de Agosto/12 Casas; dinâmicas económicas e sociais.
● Reconstrução da Avenida da Ponte, uma Essas prioridades territoriais foram definidas
● ruptura física e funcional no interior do em 6 Áreas de Intervenção Prioritária (AIP), a
● Centro Histórico classificado; desenvolver no período de 2006 a 2011: Infante;
● Reabilitação da Frente Ribeirinha, um Sé/Vitória; Aliados; República; Carlos Alberto;
● potencial eixo de lazer e recreio; Poveiros / S. Lázaro. Estas 6 AIP envolvem cerca
● Recuperação do Mercado do Bolhão, um de 2000 edifícios que correspondem aproxima-
● equipamento económico, cultural e de damente a 1 300 000 m2 de área bruta construída.
● diversão;

Figura II – Área de intervenção prioritárias, quarteirões piloto e áreas de acção especial

● Instalação da Rede de Eléctrico, um modo Também foram escolhidos cinco quarteirões,


● de transporte amigo do ambiente e de eleva- apelidados de quarteirões-piloto, para se iniciar a
● do valor cultural e turístico. intervenção da Porto Vivo, SRU, possibilitando
testar a nova legislação e metodologias de actuação.
Programa Operacional 2006 a 2011 Os cinco quarteirões foram escolhidos pela sua
Para operacionalizar territorialmente a diversidade de contextos, representando cada um
estratégia, num período que possa mobilizar deles uma realidade diferente do que se passa na

48
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana

Baixa. Já em 2006, a SRU reabilitou um prédio plasma o exaustivo diagnóstico físico, social e
emblemático na Rua das Flores, que foi um sucesso funcional dos edifícios, se descreve a estratégia de
em termos de técnicas de reabilitação e em termos intervenção no quarteirão, as obras de reabilitação
de mercado, com preços relativamente baixos e com para cada um dos edifícios e a respectiva estimativa
uma procura que excedeu sete vezes a oferta. orçamental.
A abordagem social do quarteirão inicia-se
Operacionalização no terreno com a realização pormenorizada de vistorias a todas
as fracções, estabelecendo-se as primeiras linhas
Para cada AIP é definido um programa geral de intervenção, ouvindo os inquilinos e os senho-
de intervenção designado de Estudo Urbanístico, rios, que acompanham todo o levantamento nos
construído com base num levantamento mais “fino” termos definidos na lei. Estes trabalhos são
de cada edifício, dos seus proprietários e ocupantes, conduzidos por equipas da própria Porto Vivo, SRU,
das suas funções e da sua morfologia, do enqua- mas realizados por equipas multidisciplinares de
dramento da área no território a nível económico, ateliers que trabalham agregados à Loja da
social, monumental, e das suas carências infra- Reabilitação Urbana, ou, nos casos mais complexos,
-estruturais, desde estacionamento a espaço são executados por gabinetes com quadros muito
público, de tratamento dos resíduos a abasteci- experientes. As soluções vão sendo discutidas com
mentos energéticos. É, então, proposta uma estra- os proprietários, não abdicando a Porto Vivo, SRU
tégia para a área, consonante com o Masterplan,
de deixar de introduzir os factores de mudança que
que é submetida à decisão da Câmara Municipal
no Masterplan se preconizam e de salvaguardar as
do Porto, podendo decidir pela dispensa ou pela
condições de segurança, conforto, salubridade e
elaboração de um plano de pormenor.
estética dos edifícios.
Após esta fase, inicia-se o trabalho mais
Na proposta procura-se maximizar a dotação
envolvente com os proprietários, que de acordo com
de estacionamento, a introdução das infra-estru-
a legislação é a quem cabe, em primeiro lugar,
turas, se possível colectivas, ao nível de energia,
executar a reabilitação dos edifícios. Efectuam-se
as primeiras reuniões, onde se explica o enqua- de águas residuais e pluviais, de recolha de resí-
dramento estratégico e a totalidade dos passos a duos sólidos, de definição de regras e técnicas
dar até à reabilitação integral do quarteirão, onde construtivas específicas para a reabilitação.
se inserem os seus prédios, sendo-lhes claramente A proposta base de documento estratégico é então
transmitida a irreversibilidade e a obrigatoriedade submetida à crítica e à recolha de sugestões de
do processo, bem como o papel de facilitador e de todos os interessados por um período de vinte dias
dinamizador da Porto Vivo, SRU e, ainda, os úteis. Após essa fase e depois de ponderados os
poderes excepcionais de planeamento, licencia- contributos recebidos procede-se à aprovação do
mento, execução, expropriação e de fiscalização de Documento Estratégico, que será, de imediato,
que dispõe. notificado a cada um dos proprietários, os quais
Apesar de possuírem todos estes poderes, as deverão celebrar um contrato de reabilitação com
SRU só os podem exercer após a aprovação do a SRU no prazo de 60 dias. Caso o não façam, a
documento estratégico, que é o documento onde se SRU pode substituir-se ao proprietário na execução

49
CIDADES Comunidades e Territórios

das obras, podendo, sempre que necessário, elevada dimensão e de grande poder de arrasto a
expropriar o prédio. ser trabalhados directamente por promotores/in-
vestidores, reservando-se à SRU o tal papel de
Parcerias facilitador e de dinamizador do processo.
Há quarteirões para os quais se estão a esta-
A Porto Vivo, SRU, dada a sua natureza e belecer parcerias específicas com cooperativas, no
âmbito de intervenção, tem de permanentemente sentido de reter e de atrair população originária
estabelecer uma forte articulação estratégica e em condições económicas e financeiras com-
operativa com a Câmara Municipal do Porto, pelo patíveis, utilizando como alavanca prédios e
que há um grande intercâmbio na apreciação e incentivos financeiros públicos.
licenciamento de projectos, nas intervenções no
espaço público, na definição de políticas e regras Mecanismos de apoio
para as infra-estruturas, bem como há mobilidade
de quadros. Loja da reabilitação urbana
A Porto Vivo, SRU definiu no seu Masterplan
a necessidade de estabelecer várias parcerias. Para Dadas as reconhecidas dificuldades do pro-
a da energia, a SRU decidiu ser um dos associados cesso, a Porto Vivo, SRU entendeu ser necessário
fundadores da Agência da Energia do Porto e disponibilizar ferramentas que facilitassem e mo-
através dela serão definidas as grandes linhas para bilizassem as intervenções dos proprietários e dos
cada quarteirão e para cada projecto será emitida promotores privados. Criou-se a Loja da Reabi-
opinião. Também com a Portgás foi estabelecido litação Urbana (LRU), como front-office da Porto
um protocolo que garante o abastecimento de gás Vivo, SRU, onde se fornece e trabalha a informação
natural a todos os prédios e com um apoio financeiro para quem quer reabilitar, residir, trabalhar, investir
significativo. Para garantir a qualidade dos projec- na Baixa. É o local onde se encontram os agentes,
tos e da sua execução estabeleceu-se um protocolo onde se conhecem os apoios, as oportunidades e as
com o IEP para a sua certificação. Ao nível das condições de agilização de projectos.
comunicações está estabelecido um protocolo em No âmbito da LRU, a Porto Vivo, SRU ce-
que se garante que os quarteirões a intervencionar lebrou um conjunto de protocolos de parceria com
estarão dotados com os mais modernos sistemas. entidades de diferentes sectores, a fim de oferecer
Com os serviços da Câmara Municipal do Porto, serviços que respondessem às necessidades dos
das águas e do ambiente, está em curso a definição agentes. Foi seleccionada uma mediadora imo-
de um conjunto de princípios a seguir pelos diversos biliária para estar presente na LRU, para fazer o
intervenientes: Câmara, SRU, proprietários. encontro entre a procura e a oferta de imóveis na
Para a intervenção no edificado e de acordo Baixa, dando resposta a um mercado em aberto,
com a lei é ao proprietário que cabe executar a bem como um conjunto de bancos que oferecem as
reabilitação e, na sua ausência, entende-se que não melhores condições financeiras do mercado.
deverá ser a SRU a participar directamente, pois
um projecto de mudança deve ser capaz de mobi- Programa Viv’A Baixa
lizar os principais actores da reabilitação, neste
caso, os investidores. Daí que a lei preveja a Foi criado o Programa Viv’A Baixa, com o
possibilidade de a SRU poder seleccionar, por objectivo de diminuir os custos de obra nos imóveis
concurso público, um parceiro privado que ajude da ZIP, assim contribuindo para dinamizar as
os proprietários a reabilitar ou, quando não o operações de reabilitação do edificado. O programa
queiram fazer, substitua a SRU adquirindo os foi montado recorrendo a várias empresas forne-
prédios e realizando as obras por sua conta e risco. cedoras de materiais de construção, negociando-
O grau de adesão dos investidores a este processo -se preços e descontos. O Programa Viv’A Baixa
tem sido o melhor aferidor da credibilidade da passa ainda por informar sobre projectistas/con-
estratégia e da confiança na sua execução. sultores nas áreas da arquitectura, engenharia e
Para além dos parceiros já seleccionados por consultoria jurídica, que garantam padrões de
concurso, hoje, já existem vários quarteirões de qualidade de serviço, cumprimento de normas

50
Uma Nova Metodologia para a Reabilitação Urbana

e honorários reduzidos. Para o efeito a Porto Vivo, 2007, terá uma maior acuidade, será abordado de
SRU seleccionou equipas de jovens arquitectos/ forma muito ligeira. A Porto Vivo, SRU definiu um
/engenheiros/juristas para se instalarem em ateliers plano de financiamento para o período de 2006 a
da LRU, dinamizando a zona (Bairro da Sé) e 2011, para todas as intervenções previstas nas
criando oportunidades de trabalho para jovens. 6 AIP, nas Áreas de Acção Especial, quer ao nível
do edificado (no pressuposto de que não haveria
Incentivos fiscais parceiro privado), quer ao nível de espaço e equipa-
mento público, que apresentou junto do BEI e que
Na reabilitação de imóveis nas áreas de inter- mereceu acolhimento. Está-se também a preparar
venção da SRU a taxa de IVA a aplicar é de 5%. a apresentação de projectos junto do próximo
Esta é uma medida que o governo acedeu a incluir QREN, pois a visão integrada do projecto de reabi-
no orçamento de 2007, pois a Porto Vivo, SRU
litação urbana, permitirá ter grandes condições de
desde a primeira hora sensibilizou os sucessivos
elegibilidade.
governos para a necessidade de criar alguma
competitividade com a construção nova, sob pena
Lei das rendas
de se não vencer a inércia.
A Câmara Municipal do Porto também adop-
Já em 2006, foi finalmente concluído um novo
tou uma política fiscal favorável à reabilitação ur-
diploma para o arrendamento de prédios urbanos,
bana ao reduzir em 30% a taxa de IMI para prédios
reabilitados e um agravamento de 30% para os que veio resolver alguns dos principais bloqueios
degradados. Na área de intervenção da SRU a a um salutar e concorrencial mercado, capaz de
Câmara isenta de taxas de ocupação de via pública gerar novas dinâmicas de reabilitação, apesar
e de publicidade as obras de reabilitação, bem de (o futuro o dirá) se prever que ainda não
como, na quase totalidade das situações, não há contenha todos os factores de atractividade e
lugar a taxas de compensação. O IMT pago em mudança célere que era necessário introduzir.
prédios adquiridos para reabilitação poderá ser
recuperado se a mesma se efectuar no período de Gestão de área urbana
dois anos. Caso o prédio seja adquirido no centro
histórico está isento por força da classificação de A implementação das políticas “imateriais”
património da humanidade. de reabilitação urbana vão ser objecto de acções
mais concretas e vigorosas ao longo de 2007, vitais
Sim-Porto para a consolidação e sucesso de todo o processo,
designadamente ao nível do comércio, com base
A Porto Vivo, SRU elaborou um regulamento em planos de urbanismo comercial para as AIP, ao
municipal que visa apreciar os projectos de rea- nível do turismo, se possível, com a criação de um
bilitação com base em critérios específicos, Welcome Center de âmbito regional, ao nível da
genericamente, assentes na melhoria das condições instalação de empresas, dinamizando o parque
de habitabilidade. Além disso, esse método de da inovação, ao nível social, criando rapidamente
multicritérios concede direitos de construção nova, melhores condições de habitabilidade nos
transaccionáveis no mercado, que acrescem ao quarteirões críticos e condições de atracção de
índice de edificabilidade fixado em PDM, ganhos investimento. A dinamização de todo este processo
em função do número de m2 efectuados em prédios passará pela criação e lançamento da figura do
reabilitados nas unidades de intervenção da SRU. Gestor da Área Urbana, que articulará a população,
os empresários e as instituições em torno das
Financiamento
principais estratégias e respectivas acções
transversais a uma reabilitação urbana susten-
Este aspecto justifica só por si um ponto
tada.
autónomo, mas dado que só a partir de meados de

51
CIDADES Comunidades e Territórios

Bibliografia HWCA, Gestluz e equipa Porto Vivo, SRU (2005), Revi-


talização Urbana e Social da Baixa do Porto” – Mas-
EVANS, Stephen (2003), Porto Sustainable City, Cranfield terplan.
University, MRes and MSc GROUP Project.
VÁSQUEZ; Isabel Breda, Paula Conceição, Teresa Sá
GESTLUZ CONSULTORES (2005) Promoção do negócio na Marques, Pedro Móia Matos e Frederico Moura e Sá (2004),
Baixa do Porto, Revitalização do Comércio e Dinamização do Estudo Estratégico para o enquadramento de intervenções de
Turismo. reabilitação urbana na baixa do Porto, Universidade do Porto
– FEUP – Laboratório de Planeamento do Território e
Ambiente.

52

Você também pode gostar