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Análise da Implementação
de Ações Intersetoriais: desafios e
alternativas metodológicas
Rosana Magalhães Célia Leitão Ramos Regina Bodstein Fábio Peres
Luciene Burlandy AngelaV. Coelho. Milena N. Ferreira
Monica de Castro M. Senna Carlos dos Santos Silva. Livia Cardoso Gomes
Tste capítulo tem por objetivo contribuir para a análise dos desafios metodo-
Llógicos da avaliação de ações intersetoriais. Nossa pesquisa, realizada entre
Os anos de 2008 e 2010 na região de Manguinhos, zona norte do município do
Rio de Janeiro, envolveu aanálise de documentos normativos dos programas
Bolsa Família (Brasil, 2010) e Estratégia Saúde da Famíilia (Brasil, 1998), além
de entrevistas em profundidade com coordenadores, gestores e profissionais.
A principal finalidade foi desenvolver uma ferramenta metodológica para a
Desafio da Intersetorialidade
DesdeOnm
o fim dos anos 1970, o debate em torno da promoção da saúde e da redu-
dos:
ão das
desigualdades sociais têm trazido novas perspectivas para o desenho de
225
intervenções na
área (Salazar & Anderson
políticas, programas e
dos governos locais
O8). Oreco
nhecimento do e da responsabilidade
papel Sobre os deter.
e
minantes econômicos,
sociais e ambientais da saude
riaram
forjaram nOvOS
novoe Consensos
urbano, da gestão social odenso Social
importâancia do planejamento e do
em torno da
intersetoriais sustentaveis convergindodesenvol.
em um
vimento de ações
áveis, construída
A perspectiva das cidades saudáveis, const açoendo
espaço
território delimitado.
comobase pressupostos e marcos reflexivos do campo da promocãnndo
aúde
o desenho de novas estratégias de intervencão c
tem contribuído para váriog
Nessa trajetória, questões
mais amplas como a pobreza, a violenct
países. 0u
o perfil associativo local passaram a integrar a agenda da saúde na da
em que repercutem, impactam ou mesmo conformam o perfil sanitárin da
Curto pra20. Ainda que tais parcerias sejam bem-sucedidas, ações inte
e continuidade
226
Análise da
Implementação de Ações Intersetoriais
Assim, como verificar em que medida as
ações
catisfatoriamente implementadas: Como identificar osintersetoriais estão sendo
acão intersetorial?O que contribui principais obstáculos para
para intersetorialidade?
a
O que inviabiliza
cooperação? Como perceber nexos signifncativos entre a
ações intersetoriais e maior
efetividade dos programas no campo da promoção da saúde?
Para responder a tais questoes e
fundamental avançar no desenho de
forramentas metodológicas e estrategias avaliativas. novas
Como analisam
Champagne e colaboradores (2009), François
a
avaliação de
intervenções complexas
impõe abordagens conceituais e metodológicas capazes de promover o diálogo
interdisciplinar. Para Huey-Tsyh Chen
(1990), é importante ampliar a reflexão
sobre a natureza dos
programas buscando articular objetivos,
processos de
implementação e resultados. Com esse deslocamento, torna-se possível avaliar se
ofracasso do programa resulta de falhas na implementação ou de inconsistências
nateoria entendida aqui comoo conjunto de concepções, e princípios proposições
que explicam e orientam cada atividade ou componente da intervenção. Como
ressaltam Leonard Rutman e George Mowbray (1983), programas expressam
convicções sobre como alcançar mudanças. Compreender como tais ideias são
implementadas e quais seus impactos tornam-se as principais tarefas para o
avaliador. Esse esforço deve ser combinado com a percepção de deslocamentos
e efeitos não previstos, favorecendoo uso de estratégias para contornar limites e
obstáculos.
De acordo com Carol Weiss(1998), as teorias que orientam os programas não
revelar ambi-
sao necessariamente corretas ou consensuais, ao contrário, podem
desenho avaliativo do programa,
guidades, contradições e efeitos perversos. No
Além disso, para a autora é preciso
porem, tais questões devem ser privilegiadas.
atividades na dinâmica
em
Aplorar o processo de tradução dos objetivos
entre o
existem discrepäncias
pEracional da intervenção. Frequentemente
e os interesses
incentivos, e
previsto no desenho original do programa
Ao privilegiar a base
implementação das ações.
d o s atores envolvidos na é possível analisar incon-
com o contexto,
do programa relacão
d e sua
desenho da implementaçao.
sistèn ia na formulação dos objetivos e/ou
no
sociais e
culturais que podem
issa elementos cognitivos,
aproximação
estar ser
com os
das ações permite
compreender
desenvolvimento
se como
lODilizados n o e
não previstas
mo os efeitos consequências
alcançados, quais as
Sustentam osamodelos
0
causais adotados.
227
A Abordagem Metodológica
Como dito anteriormente, as ações intersetoriais envolvem
vem com
complexa redes
de parcerias e, em geral, estão marcados pela di
imersas em contextos
pela diversidadeedede
interesses e demandas. Partindo dessas constatações, o principal.
desafio dada
pesquisa foi desenvolver uma ferramenta metodológica capaz do i
tanto a teoria do programa e a teoria de implementação, como tar incorpora
referências adotadas pelos atores envolvidos e os deslocamentos e ada
imbém as
ntos e adaptações
realizadas no curso das atividades. Nessa direção, buscou-se sistematizar as
dos programas e respectivas teorias de implementação
teorias
mediante a leitura de
instrumentos normativos e documentos oficiais.
Para a
pesquisa de campo, realizada entre 200O8 e 2009 e aprovada no Comitë
de Ética da Escola Nacional de Saúde Pública
Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz.
desenvolveram-se roteiros semiestruturados dirigidos a 23
coordenadores dos
programas, gestores locais, membros das equipes e profissionais envolvidos com
o
processo de implementação das ações intersetoriais previstas nos
Bolsa Família e Estratégia Saúde da programas
Família, em Manguinhos. Os roteiros foram
organizados de acordo com os seguintes tópicos temáticos: percepções sobre a
ação intersetorial; processo de
implementação; resistências e mecanismos de
adesão no curso das ações (e não apenas ao final dos programas) e identificaçao
de mudanças de direção (positivas ou negativas). O
OS
objetivo era acompanhar
"programas em ação", ou seja, identificar a rede de atores e de arranjos
institucionais concretos presentes no curso da
Vista, mais do que descrever o implementação. Desse ponto u
ular duas
dimensões que
Assim, a
perspectiva to
interagem
associada aos modelos permanentemente no curso dos pi6 gramas:
uma
ligada aos
lógicos e
componentes estruturais das
sentidos e
significados atribuídos pelos atores no intei ano das ações.
cotud
As Teorias dos
rias dos Programas Bolsa Família e
Estratégia Saúde da
Familia
229
suscitar reações negativas, constrangimentos ou mesmo representar an
230
O
m m z
processo de tomada de decisão, além de sistematizar aprendizados, ada
e inovações no decorrer da implementação das iniciativas. adaptações
Quadro 3 - Dimensão Reflexividade Avaliativa
Na dimensão Contexto da
Ação Intersetorial (Quadro 5), a aproximaçao co
a realidade local permitiu
compreender quando e como os mecanismos utillzau
podem ser associados aos resultados pretendidos, considerando as
do contexto. especificidaue
Quadro 5-
Dimensäo Contexto da Ação Intersetorial
Questoes avaliativas5
Fontes de informação
Exemplo: Quais são os aspectos locais e fatores contextuais Entrevistas semiestruturadas
tendem a favorecer ou difñicultar a ação intersetorial? que
Observação direta
Análise documental (pautas,
atas de
relatórios, comunicados,
reunião etc.)
232
Análise da Implementação de Ações Intersetoriais
A
dimensão Organização das Relações entre os Atores (Quadro 6) buscou
Dapéise atribuições, mecanismos de participação social e contornos
explora
eNpmica decisória, além das estratégias para a promoção de mais adesão e
da dinâmica decisór
atores envolvidos.
entre os
apoio
Fontes de informação
Questóesavaliativas
Organização das
Relações entre os VI X
Atores
233
CIDADES SAUDÁVEIS? ALGUNS OLHARES SOBRE O TEMA
Contexto da
Ação Intersetorial 5.1. Mudanças na ação intersetorial
avaliam a ação
Como os atorescontexto local?
intersetorial no
no Processo de em função do contexto (local ou de
no processo
O que mudou
politico-institucional)
Implementação implementação
principais
intersetorial? Quais as
influências do contexto
local
alternativas de
a adoção de
novas
para
ação?
Quadro 12-Organização e Dinâmica da Relação entre Atores no Processo de Implementacão
que?
Quadro 15 (cont.) - Organização e Dinâmica da Relação entre Atores na Reflexividade
dade Avaliativa
Subdimensöes Pontos de referência Questöes avaliativas
(IX) Organização e 9.1. Relaçöes entre os parceiros ea Em relação aos espaços de diálogo.
Dinâmica da Relação ação intersetorial como as
mudanças afetam a
entre os Atores entre os atores? Quais são os relação
na Reflexividade obstáculos para o principais
Avaliativa desses espaços? funcionamento
Como o fluxo de
ação intersetorial?
informações afeta a
Os incentivos para a
adesão são
adequados? De que forma as
estratégias
adotadas afetaram a relação entre os
atores?
Discussão
Um dos maiores desafios
metodológicos
para a avaliação de intervenções
complexas no campo da promoção da saúde é estender o alcance das lições
apreendidas em um dado contexto local
sem perder seu
Para enfrentar significado
e coerência.
esse dilema, ferramentas
estratégias avaliativas devem buscar
e
reconstruir o processo de
implementação dos programas e intervenções e
descobriro quanto existe de
adaptaçãoe de fidelidade ao desenho originalem
cada realidade (Patton,
2008). Também é importante reconhecer e discriminar
quais são os componentes do programa que tendem a
revelar maior dependencd
do contexto local de
tarefa no é trivial. Além das
implementação (Potvin, Haddad & Frohlich, 2001). ESDa
próprias comunidades
grupos interese
e de
instituiçöes e arenas decisórias aparentemente estáveis
também são recontorndanto,
ou
podem reagir a circunstâncias específicas de
maneira não prevista. No enla
a
avaliação de possíveis discrepâncias em das
relação ao desenho
origra
intervenções seus efeitos nos diferentes cenários
e
concretos de
-
efeitos informação e
como e por os fontes de
que as ações alcançam múltiplas as contornos
matriz
àà matriz avaliativa, considerando Os
v a , construída roteiro
útil para captar validade
a
locais, é
um
pesquisa qualita
duva
com atores
da saúde. No
entanto,
239
OLHARES SOBRE O TEMA
CIDADES SAUDÁVEIS? ALGUNS
Considerações Finais
BRASIL, Ministério da Saude. Saude aa familia: uma estratégia para a reorientação do modelo
assistencial. Brasilia: Ministerio da Saúde, 1998.