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Conversão

Eletromecânica de
Energia
Profª. Julia Grasiela Busarello Wolff

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Profª. Julia Grasiela Busarello Wolff

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

W855c
Wolff, Julia Grasiela Busarello
Conversão eletromecânica de energia. / Julia Grasiela Busarello
Wolff. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
186 p.; il.
ISBN 978-65-5663-568-2
ISBN Digital 978-65-5663-567-5
1. Energia elétrica. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da
Vinci.
CDD 621.31

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico! Bem-vindo à disciplina de Conversão Eletromecâ-
nica de Energia! Nesta disciplina, nós estudaremos os aspectos relacionados
aos conceitos eletromagnéticos e dispositivos geradores, motores e transfor-
madores, utilizados em conversão eletromecânica de energia. A conversão
de energia é feita, em sua grande parte, pelas máquinas rotativas eletromag-
néticas. Utiliza-se o campo magnético como agente intermediário para rea-
lizar essa conversão. A conversão é realizada, transformando-se energia elé-
trica em energia mecânica, ou, ainda, energia mecânica em energia elétrica.

Na maioria dos cursos de graduação em engenharia, algumas disciplinas


de máquinas elétricas e dispositivos eletromecânicos são obrigatórias na grade
curricular. Por esse motivo, apresentamos este livro didático, que se destina a mos-
trar, de forma clara, objetiva e resumida, esses conteúdos, porém, ele não substitui
os livros textos clássicos recomendados para esta disciplina. Você pode consultar
os títulos e autores dos livros clássicos nas referências deste livro didático.

Servirá como uma revisão para os alunos que já tiveram um curso


em máquinas elétricas ou como um livro básico para estudos iniciais nesse
assunto. Em cada unidade, será apresentado um breve sumário dos tópicos,
acompanhado dos objetivos fundamentais. Em cada tópico, serão apresenta-
dos exemplos resolvidos para auxiliá-los nas autoatividades.

A quantidade de assuntos abordados é razoavelmente grande. Co-


meçando com um estudo de circuitos magnéticos simples, o livro didático
finaliza com um estudo de circuitos com ímãs permanentes. Espera-se que,
com essa abordagem, consigamos entretê-lo, a elencar esta disciplina como
uma das fundamentais do seu curso, pois fornecerá as bases de cálculo para
a sua futura jornada nas indústrias de motores e de transformadores. Aca-
dêmico, esperamos auxiliar nessa caminhada e dar uma maior visão e um
ótimo sentimento acerca das dimensões dos problemas.

Sugerimos a leitura, o estudo do livro didático e a realização dos exer-


cícios disponibilizados nas autoatividades, além das consultas sugeridas a cada
etapa. O assunto é abrangente e remete a um conteúdo repleto de detalhamen-
tos e de diferenciações que devem ser interiorizados. Todo passo requer a con-
sulta às obras consideradas básicas e nenhuma delas esgota os temas abordados.

Sugerimos consultar as referências, os vídeos no YouTube e as Leitu-


ras Complementares, que levarão a um maior domínio do assunto.

Desejamos, a você, muito sucesso na vida profissional!

Profª. Julia Grasiela Busarello Wolff


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS........... 1

TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA..................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 CIRCUITOS MAGNÉTICOS............................................................................................................. 8
3 ANALOGIAS ENTRE UM CIRCUITO ELÉTRICO E UM CIRCUITO MAGNÉTICO............... 11
4 CIRCUITOS MAGNÉTICOS EM SÉRIE E EM PARALELO..................................................... 15
5 TIPOS DE CIRCUITOS MAGNÉTICOS....................................................................................... 16
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 17
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 18

TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS.............................. 19


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 19
2 APLICAÇÕES NUMÉRICAS DE CIRCUITOS MAGNÉTICOS.............................................. 19
3 ESPRAIAMENTO, FRANGEAMENTO, ESPALHAMENTO OU EFEITO DE BORDAS............. 30
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 36
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 37

TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS......................................... 39


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 39
2 MATERIAIS DIAMAGNÉTICOS................................................................................................... 39
3 MATERIAIS PARAMAGNÉTICOS................................................................................................ 40
4 MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS............................................................................................. 40
5 DOMÍNIOS MAGNÉTICOS............................................................................................................ 45
6 HISTERESE.......................................................................................................................................... 46
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 55
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 60
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 62

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 64

UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS,


SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS................................................ 67

TÓPICO 1 — PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS.............. 69


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 69
2 PERDAS NO COBRE......................................................................................................................... 70
3 PERDAS NO FERRO.......................................................................................................................... 71
4 PERDAS MECÂNICAS..................................................................................................................... 73
5 PERDAS ELÉTRICAS NOS CONTATOS...................................................................................... 74
6 PERDAS SUPLEMENTARES........................................................................................................... 75
7 PERDAS VARIÁVEIS E PERDAS CONSTANTES...................................................................... 76
7.1 PERDAS VARIÁVEIS.................................................................................................................... 76
7.2 PERDAS CONSTANTES............................................................................................................... 77
8 ENSAIO A VAZIO – PERDAS ROTACIONAIS A VAZIO........................................................ 78
9 RENDIMENTO................................................................................................................................... 79
9.1 RENDIMENTO CONVENCIONAL........................................................................................... 80
10 LAMINAÇÃO.................................................................................................................................... 81
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 84
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 86

TÓPICO 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES........................................................... 89


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 89
2 CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES................................................................................. 89
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 98
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 99

TÓPICO 3 — SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS..................................................... 103


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 103
2 SISTEMA POR UNIDADE (P.U.).................................................................................................. 105
3 POTÊNCIAS ATIVA, REATIVA E APARENTE.......................................................................... 112
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 115
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 120
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 121

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 126

UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E


ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS............................... 127

TÓPICO 1 — BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES


ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS.............................................................. 129
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 129
2 FORÇA MAGNETOMOTRIZ E FLUXO CONCATENADO................................................... 131
2.1 TENSÃO DE AUTOINDUÇÃO................................................................................................. 131
3 INDUTÂNCIAS DE FORMAS PADRONIZADAS DE INDUTORES.................................. 135
3.1 INDUTÂNCIA INTERNA.......................................................................................................... 140
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 143
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 144

TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS........................................... 147


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 147
2 INDUTÂNCIA MÚTUA.................................................................................................................. 147
2.1 CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS DE FORMA ADITIVA....................... 149
2.2 CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS DE FORMA SUBTRATIVA............... 151
3 ENERGIA EM UM CIRCUITO ACOPLADO............................................................................. 154
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 162
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 163

TÓPICO 3 — TRANSDUTORES, ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS E


ELETROÍMÃS............................................................................................................. 167
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 167
2 ATUADORES E TRANSDUTORES.............................................................................................. 167
3 ELETROÍMÃS................................................................................................................................... 168
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 173
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 180
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 181

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 185
UNIDADE 1 —

CIRCUITOS MAGNÉTICOS E
MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender os princípios básicos que envolvem a transformação de


energia em circuitos magnéticos; os circuitos magnéticos; o comporta-
mento dos materiais ferromagnéticos; a histerese nos materiais ferro-
magnéticos; a lei de Faraday; como se produz uma força induzida em
um fio condutor; como se produz uma tensão induzida em um fio con-
dutor e o funcionamento de uma máquina linear simples;

• entender os fundamentos da conversão eletromecânica de energia e da


dinâmica dos dispositivos eletromecânicos;

• conhecer e compreender o funcionamento de alguns elementos de má-


quina eletromecânicos;

• aprender como produzir um campo magnético.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA

TÓPICO 2 – CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS

TÓPICO 3 – MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA

1 INTRODUÇÃO
A compreensão do eletromagnetismo é essencial para o estudo da en-
genharia elétrica, pois, através dele, o engenheiro eletricista opera uma grande
parte dos dispositivos, máquinas e equipamentos presentes nas indústrias e nas
residências.

Todos os motores e geradores elétricos que abrangem unidades com po-


tências de frações de cavalo vapor, como os encontrados em aplicações domés-
ticas, até os maiores, de 25.000 hp (horse power), empregados em algumas indús-
trias, dependem do campo eletromagnético como elemento de acoplamento. É o
campo eletromagnético que permite a transformação de energia de um sistema
elétrico para um sistema mecânico, e vice-versa. Da mesma forma, os transforma-
dores proporcionam o meio de se converter energia de um sistema elétrico em
outro, por meio de um campo magnético. São encontrados em diversas aplica-
ções, como nos receptores de rádio e de televisão e nos circuitos de distribuição
de energia elétrica. Outros dispositivos importantes, utilizados nas casas e nos
pátios fabris, são os disjuntores, as chaves automáticas, os relés e os amplificado-
res magnéticos. Esses componentes necessitam da presença de um campo mag-
nético confinado para a operação adequada.

Esta unidade fornecerá, ao leitor, o conhecimento básico, de forma que


ele possa identificar um campo magnético e as características, compreender o
funcionamento desse campo nos equipamentos e manipular, matematicamente,
as grandezas de interesse nos projetos.

As bases da engenharia são fundamentadas nas equações de Maxwell e


em outras leis, deduzidas, experimentalmente, por Faraday, Ampère, Lenz, Hel-
mholtz, Hertz e outros.

Na área de eletromagnetismo, a lei de Ampère é a que mais nos interessa e,


na realidade, ela serve como ponto de partida para o nosso estudo. Iniciaremos com
o conceito de circuitos magnéticos, pois auxilia na simplificação dos cálculos envol-
vidos na análise de dispositivos magnéticos que serão vistos nas outras unidades.

Uma vez conhecida a equação de Ampère, além do cálculo dos diversos tipos
de circuitos magnéticos, podemos dar sequência aos estudos e aprender as proprieda-
des magnéticas de determinados materiais, úteis nas engenharias elétrica e mecânica.

3
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

Os dispositivos de conversão eletromecânica são baseados em campo mag-


nético, campo elétrico, ou, ainda, em ambos, caracterizando o que chamamos de
campo eletromagnético, porém, na prática, a capacidade de um dispositivo mag-
nético de armazenar energia é 10.000 vezes maior do que a capacidade de armaze-
namento de um dispositivo de campo elétrico, com mesmo volume (USP, 2020).

Um conversor eletromecânico de energia transforma a energia elétrica em


energia mecânica, e vice-versa. Esses dispositivos são chamados de dispositivos
de força. Os dispositivos de força são os geradores e os motores elétricos. Os con-
versores eletromecânicos de energia também podem incluir os da categoria dos
dispositivos de posição, ou seja, os transdutores eletromecânicos. Alguns exem-
plos de transdutores de posição são:

• os microfones;
• os autofalantes;
• os materiais piezoelétricos;
• os relés eletromagnéticos;
• os instrumentos de medição analógicos etc. (NASAR, 1984).

A figura a seguir mostrará o princípio de conversão eletromecânica de energia.

FIGURA 1 – TRANSFORMAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA EM ENERGIA MECÂNICA E VICE-VERSA

FONTE: USP (2020, s.p.)

Quando um dispositivo é utilizado para converter energia mecânica em


energia elétrica, é chamado de gerador. Segue um gerador elétrico.

FIGURA 2 – GERADOR ELÉTRICO

FONTE: Mecalux (2020, s.p.)

4
TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA

DICAS

Assista ao vídeo do Prof. Luís César Emanuelli, a respeito dos geradores síncro-
nos, no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=eyRbYm-ofFY.

Segue um alternador de energia. Os alternadores transformam energia


mecânica em energia elétrica e produzem corrente alternada induzida, por meio
de um campo magnético. São utilizados em carros, em termelétricas, em aplica-
ções marítimas, em usinas hidrelétricas etc.

FIGURA 3 – ALTERNADOR DE ENERGIA

FONTE: Mecalux (2020, s.p.)

Um dínamo é um dispositivo que gera corrente contínua, converten-


do energia mecânica em energia elétrica, através de uma indução eletromagnéti-
ca. É constituído por um ímã e uma bobina. Observe um dínamo simples:

FIGURA 4 – DÍNAMO SIMPLES

FONTE: Alibaba (2020, s.p.)

Quando um dispositivo converte energia elétrica em energia mecânica, é


chamado de motor. Os motores elétricos acionam refrigeradores, freezers, aspira-
dores de ar, processadores de alimentos, aparelhos de ar-condicionado, ventilado-
res e muitos outros eletrodomésticos similares. Nas indústrias, os motores produ-

5
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

zem a força motriz para mover, praticamente, todas as máquinas. Naturalmente,


para fornecer a energia utilizada por todos esses motores, há a necessidade de ge-
radores (CHAPMAN, 2013). Atente-se a alguns motores elétricos da marca WEG:

FIGURA 5 – MOTORES ELÉTRICOS

FONTE: Leonardo Energy (2020, s.p.)

DICAS

Leia mais a respeito dos motores elétricos em https://bit.ly/3iNP5tm.

Como qualquer máquina elétrica é capaz de realizar a conversão de ener-


gia em ambos os sentidos, então, qualquer máquina pode ser usada como gera-
dor ou como motor. Na prática, quase todos os motores realizam a conversão de
energia de uma forma para a outra, pela ação de um campo magnético.

O transformador é um dispositivo elétrico que converte energia elétrica de


corrente alternada, de um nível de tensão, em energia elétrica de corrente alternada,
em outro nível de tensão. Eles são estudados com os geradores e os motores, pois fun-
cionam com base nos mesmos princípios, ou seja, dependem da ação de um campo
magnético para que ocorram mudanças no nível de tensão. Segue um transformador:

FIGURA 6 – TRANSFORMADOR

FONTE: The Cmyk Digest (2020, s.p.)


6
TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA

No dia a dia, esses tipos de dispositivos elétricos estão presentes nas casas
e nas indústrias. Sem a compreensão e o domínio dos fenômenos magnéticos, não
existiriam os motores, os geradores, os transformadores, os indutores, os medido-
res eletromecânicos e os componentes magnéticos, utilizados na eletrônica. Por esse
motivo, iniciaremos o estudo da conversão eletromecânica de energia por meio do
conhecimento dos circuitos magnéticos. A figura a seguir mostrará alguns dispo-
sitivos elétricos que foram criados com o advento do uso dos circuitos magnéticos.

FIGURA 7 – DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS

FONTE: A autora

NTE
INTERESSA

Caro acadêmico, você sabia que, através dos resultados obtidos por Ampère,
em 1820, nas suas experiências sobre as forças que existem entre dois condutores nos quais
flui corrente e, através de grandezas, como a densidade de fluxo magnético, a intensidade
do campo magnético, a permeabilidade e o fluxo magnético, a lei de Ampère foi descrita?
(DEL TORO, 1994). Isso representou um salto para o eletromagnetismo e para as equações
de Maxwell, pois, foi Maxwell quem uniu as equações de Faraday e de Ampère e as comple-
mentou com as equações constitutivas. Você já deve ter lido algo a respeito das equações
constitutivas nas disciplinas de Eletromagnetismo e Práticas de Eletromagnetismo, certo?!

Agora, após essa contextualização introdutória, iniciaremos o estudo dos


circuitos magnéticos.

7
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

2 CIRCUITOS MAGNÉTICOS
Iniciaremos o nosso estudo, relembrando as equações de Maxwell e as
relações constitutivas, descritas a seguir.

TABELA 1 – EQUAÇÕES DE MAXWELL

Equações de Maxwell na Equações de Maxwell na


Nome da lei
forma diferencial forma integral

Lei de Ampère

Lei de Faraday

Lei de Gauss

Demonstração
da não existência
de monopolos
eletromagnéticos
FONTE: Adaptada de Aleksander e Sadiku (2017, p. 34)

E
IMPORTANT

Em projetos de núcleos magnéticos para máquinas e dispositivos elétricos, os cálcu-


los exatos, utilizando as equações de Maxwell, são muito complexos, por esse motivo, utilizamos
diversas equações que consistem em uma aproximação das equações de Maxwell. Dessa forma,
descomplicamos a álgebra envolvida e os resultados obtidos são considerados satisfatórios.

As máquinas elétricas são constituídas por circuitos elétricos e magnéticos


acoplados entre si, que são modelados pelas equações de Maxwell. Um circuito
magnético é um caminho para o fluxo magnético, como que, por um circuito elétri-
co, a corrente elétrica flui por um determinado caminho ou sentido. Nas máquinas
elétricas, os condutores percorridos por correntes interagem com os campos mag-
néticos, que são originados por correntes elétricas em condutores ou, ainda, por
ímãs permanentes, resultando na conversão eletromecânica de energia.

Os campos magnéticos podem ser criados por várias fontes, que são:

8
TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA

• Um fio condutor de corrente produz um campo magnético ao seu redor.


• Um campo magnético variável no tempo induz uma tensão em uma bobina se
esse campo passar através dessa bobina.
• Um fio condutor de corrente, na presença de um campo magnético, produz
uma força induzida no fio.
• Um fio, movendo-se na presença de um campo magnético, provoca uma ten-
são induzida nele (ALEKSANDER; SADIKU, 2003).

A criação de um campo elétrico é dada por meio da lei de Ampère:

(1)

é a intensidade de campo magnético, dado em ampères-espiras por


metro [Ae/m], produzido pela corrente elétrica i, dada em ampères [A], e éo
elemento diferencial de comprimento, ao longo do caminho fechado de integra-
ção, dado em metros [m], como mostra a Equação (1). Para melhor compreender
a lei de Ampère utilizaremos um esboço de um circuito magnético simples.

FIGURA 8 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES E CONSTITUINTES

FONTE: Chapman (2013, p. 9)

Note que N representa o número das espiras enroladas na perna esquer-


da do circuito (núcleo); ϕ é o fluxo magnético que circula pelo caminho fechado
do núcleo; ℓn representa o comprimento, em metros (no S.I.), do caminho médio
do núcleo fechado; A é a área da seção reta do núcleo com geometria retangular;
e i é a corrente elétrica.

Se o núcleo for composto de ferro ou de outros metais similares, denomi-


nados de ferromagnéticos, então, todo o campo magnético produzido pela cor-
rente permanece dentro do núcleo, de modo que, na lei de Ampère, o caminho de
integração é dado pelo comprimento do caminho médio no núcleo ℓn . A corrente
líquida i , que passa dentro do caminho de integração, é, então, Ni, porque a bo-

9
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

bina cruza o caminho de integração N vezes quando está conduzindo a corrente


i. Com isso, a lei de Ampère pode ser escrita em termos de módulo ou de magni-
tude das grandezas, conforme mostra a Equação (2):

(2)

Então, o módulo, a magnitude ou a intensidade do capo magnético H do


núcleo, criado devido à corrente elétrica aplicada, é dado pela Equação (3):

(3)

“O módulo do campo magnético H é uma medida do esforço que uma


corrente está fazendo para estabelecer um campo magnético” (FITZGERALD;
KINGSLEY, 2014, p. 10). A intensidade do fluxo de campo magnético ϕ produzi-
do no núcleo depende, também, do material do núcleo. A relação entre H e B, em
um material, é dada pela Equação (4):

(4)

a densidade de fluxo magnético, dada em weber por metro quadrado


[Wb/m2] ou tesla [T]; é a intensidade de campo magnético, dada em ampère-
espira por metro [Ae/m]; e μ é a permeabilidade magnética do material que
compõe o núcleo, dada em henry por metro [H/m].

A permeabilidade do vácuo é denominada de μ0, e o valor é dado pela


Equação (5):

A permeabilidade de qualquer outro material, quando comparada com a


permeabilidade do vácuo, é chamada de permeabilidade relativa. É simbolizada
por μr, e dada pela expressão matemática mostrada na Equação (6):

O módulo da densidade de fluxo em um núcleo magnético é dado pela


Equação (7):

(7)

O fluxo total, em uma dada área do núcleo fechado, é dado pela expressão
mostrada na Equação (8):

(8)

10
TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA

dA é chamado de unidade diferencial de área.

Se o vetor de densidade de fluxo for perpendicular a um plano de área A, e se a


densidade de fluxo B for constante através da área, a Equação (8) se reduz à Equação (9):

ϕ = BA. (9)

Assim, o fluxo total do núcleo magnético é dado pela Equação (10):

(10)

A é a área da seção reta do núcleo e depende da geometria do núcleo, ou


seja, se for um quadrado, a área é lado vezes lado: A = ℓ x ℓ, porém, se o núcleo for
circular, a área A é A = π x r2.

3 ANALOGIAS ENTRE UM CIRCUITO ELÉTRICO E UM


CIRCUITO MAGNÉTICO
Conforme veremos, os circuitos elétricos e magnéticos são análogos e as
grandezas podem ser comparadas. Portanto, a corrente, em uma bobina de fio
enrolado em um núcleo, produz um fluxo magnético. Isso pode ser equiparado a
uma tensão que, em um circuito elétrico, produz o fluxo de corrente.

É possível definir um “circuito magnético”, cujo comportamento é regido


por equações análogas às de um circuito elétrico. Frequentemente, no projeto de
máquinas elétricas e transformadores, utiliza-se o modelo de circuito magnético
que descreve o comportamento magnético para simplificar o processo de projeto
que, de outro modo, seria bem complexo.

Em um circuito elétrico simples, uma fonte de tensão V alimenta uma


corrente I, ao longo do circuito, através de uma resistência R.

A relação entre essas grandezas é dada pela lei de Ohm: V = Ri, já estu-
dada nas disciplinas de Circuitos Elétricos I, Circuitos Elétricos II, Práticas de
Circuitos Elétricos, Práticas de Eletricidade e Eletrotécnica e, também, em outra.

No circuito elétrico, o fluxo de corrente é acionado por uma tensão ou for-


ça eletromotriz. Analogamente, a grandeza correspondente, no circuito magné-
tico, é denominada de força magnetomotriz (f.m.m), simbolizada por . A força
magnetomotriz do circuito magnético é igual ao fluxo efetivo de corrente aplica-
do ao núcleo, ou, pela Equação (11):

(11)

Sua unidade no S.I. é o ampère-espiras [Ae].

11
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

Como uma fonte de tensão no circuito elétrico, a força magnetomotriz, no


circuito magnético, também tem uma polaridade associada. O terminal positivo
da fonte de f.m.m. é o terminal do qual o fluxo sai, e o terminal negativo da fonte
de f.m.m. é o terminal no qual o fluxo volta a entrar. A polaridade da força mag-
netomotriz de uma bobina pode ser determinada, modificando-se a regra da mão
direita: se os dedos da mão direita se curvam no sentido do fluxo de corrente em
uma bobina, então, o polegar aponta no sentido de f.m.m. positiva. Observe:

FIGURA 9 – REGRA DA MÃO DIREITA

FONTE: UOL Educação (2020, s.p.)

FIGURA 10 – POLARIDADE DA FONTE DE F.M.M.

FONTE: Chapman (2013, p. 121)

Em um circuito magnético, a força magnetomotriz aplicada faz com que


um fluxo φ seja produzido. Com isso, a relação entre força magnetomotriz e fluxo
é dada pela Equação (12):

(12)

12
TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA

é a força magnetomotriz do circuito, ϕ é o fluxo do circuito e é a relu-


tância do circuito, em [Ae/Wb].

A relutância de um circuito magnético é o equivalente à resistência elétri-


ca em um circuito elétrico, e a permeância representa o inverso da relutância.
Em um circuito elétrico, o inverso da resistência é a condutância (G). A expressão
matemática para a permeância é mostrada na Equação (13):

(13)

Com isso, a relação entre a força magnetomotriz e o fluxo pode ser expres-
sa, como mostra a Equação (14):

(14)

Em determinados materiais, é mais fácil trabalhar com a permeância do


que com a relutância, e isso justifica a importância. O fluxo pode ser expresso
através das Equações (15-17):

(15)

Contudo, da Equação (10), podemos escrever o fluxo magnético de outra forma:

Com isso, o produto Ni pode ser substituído por , resultando na


Equação (16):

(16)

Portanto, a relutância magnética no núcleo pode ser calculada por meio


da Equação (18):

(18)

Para resumir, as equações utilizadas no projeto de circuitos magnéticos serão


descritas a seguir. A referida tabela mostrará as similaridades entre as grandezas de
um circuito elétrico resistivo de corrente contínua e um circuito magnético.

13
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

TABELA 2 – ANALOGIA ENTRE CIRCUITOS ELÉTRICOS E MAGNÉTICOS

Circuito elétrico Circuito magnético

Lei de Ohm: i = V/R Fluxo magnético: ϕ = /

Resistência elétrica: R = ℓ/(σA) Relutância magnética: = ℓ/(µA)

Corrente elétrica: i Fluxo magnético: ϕ

Tensão elétrica: V Força magnetomotriz (f.m.m.):

Condutividade elétrica: σ Permeabilidade magnética: µ

Condutância: G Permeância:
FONTE: Nasar (1984, p. 4)

Para contextualizar o que foi mostrado, veja uma ilustração da analogia


entre os circuitos elétricos e magnéticos de duas e três pernas.

FIGURA 11 – ANALOGIA ENTRE OS CIRCUITOS ELÉTRICO E MAGNÉTICO

FONTE: UFMG (2019, p. 4)

Visualize, a seguir, as grandezas elétricas e magnéticas e as respectivas


unidades no sistema internacional (S.I.). Lembre-se de que sempre denotamos as
unidades entre colchetes [ ], para não confundir, certo?!

DICAS

Assista ao vídeo do Prof. Luís César Emanuelli, acerca do tema, em https://


www.youtube.com/watch?v=MAUfye9nOEw.

14
TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA

TABELA 3 – UNIDADES DAS GRANDEZAS ELÉTRICAS E MAGNÉTICAS

Grandeza elétrica Unidade Grandeza magnética Unidade

Resistência elétrica: R [Ω] Relutância magnética: [Ae/Wb]

Corrente elétrica: i [A] Fluxo magnético: ϕ [Wb]


Força magnetomotriz
Tensão elétrica: V [V] [Ae]
(f.m.m.):

Condutividade Permeabilidade
[S/m] [H/m]
elétrica: σ magnética: µ

Condutância: G [S] Permeância: [Wb/Ae]


Campo magnético: E [V/m] Campo magnético: H [H/m]

Densidade de campo Densidade de campo


[C/m] [T]
elétrico: D magnético: B

FONTE: A autora

4 CIRCUITOS MAGNÉTICOS EM SÉRIE E EM PARALELO


As relutâncias em um circuito magnético obedecem às mesmas regras do
que as resistências em um circuito elétrico. Portanto, a relutância equivalente de
um circuito magnético em série é a soma das relutâncias individuais, conforme
mostra a Equação (19):

(19)

Já a relutância equivalente de um circuito magnético em paralelo é dada


pela Equação (20):

(20)

As permeâncias em série e em paralelo obedecem às mesmas regras do


que as condutâncias elétricas, ou seja, a Equação (21) corresponde à permeância
equivalente em série, e a Equação (22) representa a equação para o cálculo da
permeância equivalente em paralelo:

(21)

(22)

15
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

Quando são usados os conceitos de circuito magnético em um núcleo, os


cálculos de fluxo são sempre aproximados. Em alguns casos, tem uma exatidão
de, aproximadamente, 5% em relação ao valor real.

5 TIPOS DE CIRCUITOS MAGNÉTICOS


Os circuitos magnéticos são classificados como lineares e não lineares.
Os circuitos magnéticos lineares são aqueles nos quais a permeabilidade relativa
µr é baixa. Podem ser obtidos quando o núcleo é de ar, ou constituído por um
material não ferromagnético.

Há vários tipos de circuitos magnéticos, como o demonstrado a seguir:

FIGURA 12 – TIPOS DE NÚCLEOS MAGNÉTICOS

FONTE: <https://bit.ly/3iTsyeG>. Acesso em: 24 abr. 2021.

No próximo tópico, nós calcularemos e demonstraremos como resolver


alguns problemas, envolvendo circuitos magnéticos.

16
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Um circuito magnético é aquele em que existe um caminho para o fluxo mag-


nético, de forma análoga ao circuito elétrico, que proporciona um caminho
para a corrente elétrica.

• Os circuitos magnéticos, assim como os circuitos elétricos, podem ter uma


infinidade de configurações diferentes.

• A lei de Ampère relaciona a intensidade de campo magnético H e a corrente


elétrica i.

• Em situações com elevada simetria, a lei de Ampère permite calcular o módu-


lo da intensidade de campo magnético H.

• Problemas mais complexos não serão discutidos aqui, pois outras ferramen-
tas matemáticas são necessárias. Simplificação para os problemas típicos da
disciplina: 𝐻 = (𝑁.𝑖)/𝑙. 𝑖 é a corrente elétrica, 𝑁 é o número de espiras e 𝑙 é o
comprimento do circuito magnético.

• A permeabilidade magnética, cujo símbolo é µ (mi), é uma constante de pro-


porcionalidade, dependente do material e da preparação, que relaciona a in-
dução magnética do material em um determinado ponto, em função do cam-
po magnético existente no ponto. A unidade é [H/m] (henry por metro).

• É calculada pela razão entre a densidade de fluxo magnético, B, em uma subs-


tância, e a intensidade do campo magnético exterior, H, isto é, é dada pela
seguinte expressão matemática: µ = B/H.

• Em circuitos magnéticos, a relutância magnética é a grandeza física análoga


à resistência em circuitos elétricos.

• A relutância do circuito não uniforme é calculada, adicionando a relutân-


cia da seção uniforme do circuito magnético.

• O cálculo do campo magnético não uniforme é mais complexo em compara-


ção com o campo magnético uniforme.

• A permeância é o inverso da relutância.

17
AUTOATIVIDADE

1 Disserte, com as suas palavras, o que é a conversão eletromecânica de energia.

2 O que é um circuito magnético e quais são os tipos?

3 O que é a lei de Ampère?

4 O que é intensidade de campo magnético (H)? O que é densidade de fluxo


magnético (B)? Como essas grandezas se relacionam entre si?

5 Como o conceito de circuito magnético pode auxiliar no projeto de núcleos


de transformadores e máquinas?

6 Explique, com as suas palavras, o que é relutância magnética, e apresente a


sua expressão matemática para cálculo.

18
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES


NUMÉRICAS

1 INTRODUÇÃO

Os circuitos magnéticos são utilizados em dispositivos eletromecânicos


e em máquinas elétricas. Esses dispositivos utilizam materiais ferromagnéticos,
que estudaremos no Tópico 3 desta unidade, para concentrar e guiar os campos
eletromagnéticos nas peças e nos núcleos.

O comportamento dos campos eletromagnéticos é descrito pelas equa-


ções de Maxwell, vistas no Tópico 1. Elas são complementadas pelas relações
constitutivas. No caso das máquinas elétricas, em sua maioria, podemos utilizar
a aproximação quase estática das equações de Maxwell. Essa aproximação diz
que as frequências e as dimensões das peças são tais que os termos de corrente de
deslocamento podem ser desprezados no cálculo dos campos nas peças.

O Tópico 1 foi mais teórico, nele apresentamos os conceitos fundamentais


dos circuitos magnéticos. Neste tópico, nós iremos abordar os problemas envol-
vendo os núcleos de máquinas elétricas.

2 APLICAÇÕES NUMÉRICAS DE CIRCUITOS MAGNÉTICOS


Os circuitos magnéticos são empregados com o objetivo de concentrar o
efeito magnético em uma dada região do espaço. O termo circuito magnético vem
de uma analogia com o circuito elétrico, pois ambos podem ser tratados de forma
semelhante. Assim como o circuito elétrico possui um caminho fechado para a
corrente elétrica, o circuito magnético possui um caminho magneticamente fe-
chado. As linhas de força são, naturalmente, linhas fechadas.

O circuito magnético direciona o fluxo magnético para onde for desejado,


sendo dotado de materiais com certas propriedades magnéticas e dimensões, a
partir de uma variedade de seções e diferentes comprimentos.

As características magnetizantes dos materiais são de natureza não linear,


o que deve ser levado em conta nos projetos de dispositivos eletromagnéticos. A
título de exemplos, podemos citar a determinação da corrente elétrica requerida,
em um enrolamento, para produzir uma dada densidade de fluxo no entreferro

19
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

de um pequeno atuador, de um relé ou de um eletromagneto. Com base nisso,


resolveremos alguns exercícios para que você compreenda como são realizados
os cálculos de circuitos magnéticos (núcleos) na prática.

1º Exemplo: Um núcleo ferromagnético será mostrado a seguir. Três dos


seus lados têm larguras uniformes, ao passo que a largura do quarto lado é me-
nor. A profundidade do núcleo (para dentro da página) é de 10 [cm], e as outras
dimensões são mostradas na figura. Uma bobina de 200 espiras está enrolada no
lado esquerdo do núcleo. Assumindo uma permeabilidade relativa µr de 2500,
quanto fluxo será produzido por uma corrente de 1 [A]?

FIGURA 13 – CIRCUITO MAGNÉTICO

FONTE: Chapman (2013, p. 16)

Solução: Três lados do núcleo têm as mesmas áreas de seção reta, ao passo
que o quarto lado tem uma área diferente. Assim, o núcleo pode ser dividido
em duas regiões: (1) um lado menos espesso e (2) três outros lados tomados em
conjunto. O respectivo circuito magnético desse núcleo será mostrado a seguir.

20
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS

FIGURA 14 – CIRCUITO EQUIVALENTE

FONTE: Chapman (2013, p. 18)

O comprimento do caminho médio da região 1 é 45 [cm] e a área da seção


reta é 10 [cm] x 10 [cm] = 100 [cm2.] Portanto, a relutância da primeira região é:

O comprimento do caminho médio da região 2 é 130 [cm], e a área da


seção reta é 15 x 10 [cm] = 150 [cm2]. Assim, a relutância da segunda região é:

A força magnetomotriz total é dada por:

O fluxo total no núcleo é dado por:

Agora, realizaremos uma atividade prática, ok?! Pegue o seu computador,


ou notebook, ou, ainda, utilize o computador do seu polo. Simularemos o exercício
mostrado no Exemplo 1, vamos lá?!

21
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

• ATIVIDADE PRÁTICA – SIMULAÇÃO DE CIRCUITO MAGNÉTICO


SIMPLES NO OCTAVE

Caro acadêmico! Você pode baixar gratuitamente o software OCTAVE ou,


se preferir, pode utilizá-lo on-line.

Agora, resolveremos o mesmo problema, utilizando um algoritmo no software


OCTAVE, ok?!

% M-file: ex1_1.m
% M-file para o cálculo de fluxo do primeiro exemplo
l1 = 0.45; % Comprimento da região 1
l2 = 1.3; % Comprimento da região 2
a1 = 0.01; % Área da região 1
a2 = 0.015; % Área da região 2
ur = 2500; % Permeabilidade relativa
u0 = 4*pi*1E-7; % Permeabilidade do vácuo
n = 200; % Número de espiras no núcleo
i = 1; % Corrente em ampères

% Cálculo da primeira relutância


r1 = l1 / (ur * u0 * a1);
disp ([‘r1 = ‘ num2str(r1)]);

% Cálculo da segunda relutância


r2 = l2 / (ur * u0 * a2);
disp (['r2 = ' num2str(r2)]);

% Cálculo da relutância total


rtot = r1 + r2;

% Cálculo da FMM (mmf)


mmf = n * i;

% Finalmente, obtenha o fluxo (flux) no núcleo


flux = mmf / rtot;

% Mostre o resultado
disp (['Fluxo = ' num2str(flux)]);

Quando esse programa é executado, os resultados são:


>> ex1_1
r1 = 14323.9449
r2 = 27586.8568
Fluxo = 0.004772

22
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS

Podemos concluir que ambas as resoluções fornecem a mesma resposta,


ou seja, você sempre pode lançar mão do uso de softwares para conferir os resul-
tados dos cálculos.

2º Exemplo: Um núcleo ferromagnético com uma permeabilidade relativa


de 1500 será mostrado a seguir. As dimensões são as mostradas no diagrama e a
profundidade do núcleo é de 5 [cm]. Os entreferros nos lados esquerdo e direito do
núcleo são 0,050 [cm] e 0,070 [cm], respectivamente. Devido ao efeito de espraiamen-
to, a área efetiva dos entreferros é 5% maior do que o tamanho físico. Se, na bobina,
existirem 300 espiras enroladas em torno da perna central do núcleo, e se a corrente
na bobina for 1,0 [A], quais serão os valores de fluxo para as pernas esquerda, central
e direita do núcleo? Qual será a densidade de fluxo em cada entreferro?

FIGURA 15 – CIRCUITO MAGNÉTICO DE TRÊS PERNAS

FONTE: Chapman (2013, p. 57)

Solução: Esse núcleo pode ser dividido em cinco regiões. Vamos fazer
ser a relutância da parte esquerda do núcleo; , a relutância do entreferro
esquerdo; , a relutância da parte direita do núcleo; , a relutância do en-
treferro direito; e , por fim, a relutância da perna central do núcleo. Então, a
relutância total do núcleo é dada por:

23
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

A relutância total é dada por:

O fluxo total no núcleo é igual ao fluxo na perna central:

Os fluxos nas pernas esquerda e direita podem ser encontrados pela


"regra do divisor de fluxo", que é análoga à regra divisória atual, então:

A densidade de fluxo no gap de ar pode ser determinada pela equação:

24
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS

3º Exemplo: Um núcleo de duas pernas será mostrado a seguir. O enrola-


mento da perna esquerda do núcleo (N1) tem 600 espiras e o enrolamento da perna
direita do núcleo (N2) tem 200 espiras. As bobinas são enroladas nos sentidos mos-
trados na figura. Se as dimensões forem as mostradas, quais serão os fluxos produ-
zidos pelas correntes i1 = 0,5 [A] e i2 = 1,00 [A]? Assuma que µr = 1200 é constante.

FIGURA 16 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES COM DOIS ENROLAMENTOS

FONTE: Chapman (2013, p. 57)

Solução: As duas bobinas, nesse núcleo, são de modo, e as forças mag-


netomotrizes são aditivas, de modo que a força magnetomotriz total é dada por:

A relutância total no núcleo é:

25
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

O fluxo magnético no núcleo é:

4º Exemplo: Seguem, de forma simplificada, o rotor e o estator de um motor


de corrente contínua. O comprimento do caminho médio do estator é de 50 [cm], e
a área da seção reta é de 12 [cm2]. O comprimento do caminho médio do rotor é de 5
[cm], e se pode assumir que a área da seção reta é, também, de 12 [cm2]. Cada entre-
ferro entre o rotor e o estator tem 0,05 [cm] de largura, e a área da seção reta de cada
entreferro (incluindo o espraiamento) é de 14 [cm2]. O ferro do núcleo tem permea-
bilidade relativa de 2000 e há 200 espiras de fio sobre o núcleo. Se a corrente no fio
for ajustada para 1 [A], qual será a densidade de fluxo resultante nos entreferros?

FIGURA 17 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES SIMULANDO UM ROTOR E UM ESTATOR DE UM


MOTOR

FONTE: Chapman (2013, p. 20)

Solução: Para determinar a densidade de fluxo no entreferro, é necessário


calcular, primeiramente, a força magnetomotriz aplicada ao núcleo, além da relu-
tância total do caminho de fluxo. Com essas informações, pode-se encontrar o fluxo
total no núcleo. Finalmente, conhecendo a área da seção reta dos entreferros, pode-
-se calcular a densidade de fluxo. Portanto, a relutância do estator é calculada por:

26
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS

A relutância do rotor é dada por:

A relutância dos entreferros é calculada pela expressão a seguir:

O respectivo circuito magnético do diagrama simplificado do rotor e do


estator de um motor de corrente contínua será mostrado a seguir.

FIGURA 18 – CIRCUITO ELÉTRICO EQUIVALENTE

FONTE: Chapman (2013, p. 20)

A relutância total do caminho de fluxo é, portanto:

27
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

A força magnetomotriz líquida aplicada no núcleo é:

Portanto, o fluxo total no núcleo é:

Por fim, a densidade de fluxo magnético no entreferro do motor é:

5ª Exemplo: A estrutura magnética de uma máquina síncrona será mostra-


da, esquematicamente, a seguir. Assumindo que os ferros do rotor e do estator têm
permeabilidade infinita (μ → ∞), encontre o fluxo φ do entreferro e a densidade
de fluxo Bg. Nesse exemplo, I = 10 [A], N = 1000 espiras, g = 1 [cm] e Ag = 200 [cm2].

FIGURA 19 – MÁQUINA SÍNCRONA SIMPLES

FONTE: Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 21)

28
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS

Solução: Observe que há dois entreferros em série, de comprimento


total 2g, e que, por simetria, a densidade de fluxo, em cada um, é igual. Como
assumimos que a permeabilidade do ferro é infinita, a relutância é desprezível e
a equação para o fluxo magnético (com g substituído pelo comprimento total de
entreferro 2g) pode ser usada para encontrá-lo:

6º Exemplo: O circuito magnético mostrado a seguir terá as dimensões Ac


= Ag = 9 [cm2], g = 0,050 [cm], lc = 30 [cm] e N = 500 espiras. Suponha o valor μr =
70.000 para o material do núcleo. Com isso, determine:

a) as relutâncias Rc e Rg.

Dada a condição de que o circuito magnético esteja operando com Bc = 1,0


[T], encontre:

b) o fluxo φ e;
c) a corrente i.

FIGURA 20 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES COM ENTREFERRO (GAP) DE AR

FONTE: Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 5)

Solução: (a) As relutâncias do núcleo e do entreferro são:

29
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

b)

c)

3 ESPRAIAMENTO, FRANGEAMENTO, ESPALHAMENTO OU


EFEITO DE BORDAS
Ao cruzar o entreferro, o fluxo magnético sofre um fenômeno chamado de
espraiamento (frangeamento, espalhamento, efeito de bordas), conforme poderá
ser visto a seguir. Isso faz com que a área efetiva por onde passa o fluxo se torne
maior do que a área Ag geométrica do entreferro.

FIGURA 21 – EFEITO DE ESPRAIAMENTO DE UM CAMPO MAGNÉTICO NO ENTREFERRO

FONTE: Nasar (1984, p. 6)

Seja uma área de secção reta S = a x b retangular e o entreferro de


comprimento Ag, de uma forma prática, podemos calcular a área aparente ou
efetiva do entreferro Sg através da relação:

(23)

Observe, aqui, que quando o entreferro for muito reduzido, o efeito do


espraiamento pode ser desprezado.

Os materiais magnéticos têm permeabilidades que não são constantes,


mas que variam, de acordo com o nível do fluxo. Enquanto essa permeabilidade
permanecer suficientemente elevada, a variação não afeta, de forma significativa,
o desempenho do circuito magnético.
30
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS

Nos sistemas reais, as linhas de campo magnético “se espraiam” um pou-


co para fora quando cruzam o entreferro. Se esse efeito de espraiamento não for
excessivo, o conceito de circuito magnético continuará aplicável. O efeito desses
campos de espraiamento é aumentar a área efetiva Ag da seção reta do entreferro.
Diversos métodos empíricos foram desenvolvidos para levar em conta esse efei-
to. Em entreferros delgados, uma correção para esses campos de espraiamento
pode ser feita, acrescentando-se o comprimento do entreferro a cada uma das
duas dimensões, alterando a área da seção reta. Se o efeito dos campos de espraia-
mento é ignorado, assume-se a seguinte simplificação:

Ag = Ac. (24)

7º Exemplo: O circuito magnético a seguir será constituído por uma bobi-


na de N espiras enroladas em um núcleo magnético, de permeabilidade infinita,
com dois entreferros paralelos de comprimentos g1 e g2, e áreas A1 e A2, respec-
tivamente. Encontre:

a) a indutância do enrolamento;
b) a densidade de fluxo B1 no entreferro 1 quando o enrolamento está conduzindo
uma corrente i. Despreze os efeitos de espraiamento no entreferro.

FIGURA 22 – (A) CIRCUITO MAGNÉTICO; (B) CIRCUITO EQUIVALENTE

FONTE: Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 13)

Solução: O circuito mostra que a relutância total é igual à combinação, em


paralelo, das relutâncias dos dois entreferros. Com isso, temos que:

31
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

As relutâncias nos entreferros 1 e 2 são dadas pelas expressões:

A indutância do núcleo é dada por:

b) Do circuito equivalente, temos que:

E, assim:

8º Exemplo: Para o dispositivo a seguir, haverá uma corrente I = 5 A através


de N = 100 espiras, fazendo circular um fluxo magnético por um retângulo, cujos
comprimentos médios da base e da altura são, respectivamente, 10 cm e 8 cm,
além de secção reta 2 cm2, feita de um material de permeabilidade relativa µr =
1000. Com base nisso, determine:

a) a relutância do circuito magnético;


b) a permeância do circuito magnético;
c) a intensidade de campo magnético no núcleo;
d) a densidade de fluxo magnético no núcleo;
e) o fluxo magnético no núcleo.

FIGURA 23 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES SEM ENTREFERRO (GAP)

FONTE: UNESP (2021, s.p.)

32
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS

Solução:

9º Exemplo: Calcule o valor do fluxo magnético em cada braço da estrutura


magnética a seguir. Dados: N = 500 espiras, I = 1,0 [A], material 1 com µr1 = 200 e,
o material 2, com µr2 = 100.

FIGURA 24 – ESTRUTURA FERROMAGNÉTICA

FONTE: UNESP (2021, s.p.)

Solução: Desenhamos um circuito elétrico equivalente, conforme mostra-


do a seguir:

FIGURA 25 – CIRCUITO EQUIVALENTE

FONTE: UNESP (2021, s.p.)


33
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

Para o lado do material 1, temos que:

Para o lado do material 2:

Para o lado do material 2, temos que:

34
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS

DICAS

Caro acadêmico, se você ainda tiver dúvidas acerca da solução de circuitos


magnéticos, sugerimos o vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=ZkDeHJxX0kM.

Acadêmico, com a breve descrição introduzida nesta unidade, apresenta-


mos os fundamentos básicos para simplificar um problema de campo magnético
quase estático, de geometria simples, em um modelo de núcleo de circuito mag-
nético utilizado em máquinas. O objetivo foi abordar a terminologia e alguns dos
conceitos usados pelos engenheiros para resolver problemas práticos de projeto
em indústrias. Queremos deixar claro para você, leitor, que esse tipo de solução
de problemas depende muito do raciocínio e da intuição próprios do engenheiro
e da equipe de pesquisa que estão desenvolvendo os núcleos.

Em alguns exercícios, supomos que a permeabilidade das partes de “fer-


ro” do circuito magnético seja uma quantidade conhecida constante, embora,
muitas vezes, isso não seja verdade, e que o campo magnético esteja confinado
unicamente no núcleo e nos entreferros. Embora se trate de uma boa suposição
para muitas situações, também é verdadeiro que as correntes dos enrolamentos
produzem campos magnéticos fora do núcleo.

Queremos enfatizar, ainda, que quando dois ou mais enrolamentos são


colocados em um campo magnético, como ocorre no caso de transformadores e
de máquinas rotativas, esses campos externos ao núcleo, conhecidos como cam-
pos de dispersão, não podem ser ignorados, e afetam, de forma significativa, o
desempenho do dispositivo.

TUROS
ESTUDOS FU

Você pode estudar mais a respeito desse tema em https://bit.ly/3xw6NWj.

35
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• No fluxo de dispersão, parte das linhas de campo produzidas pela bobina não
circula no interior do núcleo.

• A permeabilidade do núcleo é supostamente grande, mas deve-se lembrar de


que ela não é infinita.

• A lei básica que determina a relação entre a corrente elétrica e o campo mag-
nético é a lei de Ampère.

• A intensidade de campo magnético produz uma indução magnética em toda


região onde ela existe.

• Uma corrente elétrica sempre produz um campo magnético. Assim, é lógico


supor que um campo magnético pode produzir uma corrente elétrica.

36
AUTOATIVIDADE

1 A figura mostrará um núcleo ferromagnético. A profundidade (para den-


tro da página) do núcleo é de 5 cm. As demais dimensões do núcleo serão
mostradas a seguir. Encontre o valor da corrente que produzirá um fluxo de
0,005 [Wb]. Com essa corrente, qual é a densidade do fluxo no lado superior
do núcleo? Qual é a densidade do fluxo no lado direito do núcleo? Assuma
que a permeabilidade relativa do núcleo é de 800.

CIRCUITO MAGNÉTICO PARA RESOLUÇÃO DA AUTOATIVIDADE NÚMERO 3

FONTE: Chapman (2013, p. 56)

2 Observe um núcleo ferromagnético cujo comprimento de caminho médio é


de 40 cm. Há um entreferro delgado de 0,05 cm no núcleo, o qual é inteiriço
no restante. A área da seção reta do núcleo é de 12 cm2, a permeabilidade
relativa do núcleo é de 4000 e a bobina enrolada no núcleo tem 400 espiras.
Assuma que o espraiamento no entreferro aumente a área efetiva da seção
reta em 5%. Dada essa informação, encontre:

a) a relutância total do caminho de fluxo (ferro mais entreferro);


b) a corrente necessária para produzir uma densidade de fluxo de 0,5 T no
entreferro.

37
CIRCUITO MAGNÉTICO PARA RESOLUÇÃO DA AUTOATIVIDADE NÚMERO 4

FONTE: Chapman (2013, p. 18)

3 Para a estrutura magnética da Figura 15, com as dimensões dadas no 5º


Exemplo, observa-se que a densidade de fluxo do entreferro é de Bg = 0,9 T.
Encontre o fluxo de entreferro φ e, para uma bobina de N = 500 espiras, a
corrente necessária para produzir esse valor de fluxo no entreferro.

4 Encontre o fluxo φ e a corrente para o 6º Exemplo se:

a) o número de espiras for dobrado para N = 1000 espiras, mantendo-se as


mesmas dimensões;
b) se o número de espiras for N = 500 e o entreferro for reduzido a 0,040 cm.

5 O que é o fluxo de dispersão?

6 O que é espraiamento ou frangeamento?

38
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

1 INTRODUÇÃO
Os circuitos magnéticos não lineares são todos os circuitos magnéticos
que utilizam materiais ferromagnéticos, dotados de permeabilidade magnética
alta, como o ferro fundido, o aço silício, o aço fundido, a ferrita etc. Muitos dos
circuitos magnéticos de aplicação prática, os quais você encontrará nas indús-
trias, são circuitos não lineares. Com isso, a permeabilidade (µ) dos materiais fer-
romagnéticos se torna variável em função da indução ou da densidade de fluxo
magnético no núcleo.

Neste tópico, nós estudaremos os diferentes tipos de materiais magnéti-


cos utilizados na fabricação de núcleos e de dispositivos constituintes de máqui-
nas elétricas. Há três tipos de materiais magnéticos, que são:

• diamagnéticos;
• paramagnéticos;
• ferromagnéticos.

2 MATERIAIS DIAMAGNÉTICOS
Os materiais diamagnéticos podem ser definidos como materiais que, na
presença de um campo magnético, têm os ímãs elementares orientados no sentido
contrário ao sentido do campo aplicado. Esse tipo de material também perde o
poder magnético sem a presença do campo magnético. São exemplos de materiais
diamagnéticos: o bismuto, o cobre e a prata. Os materiais diamagnéticos possuem
a permeabilidade relativa um pouco abaixo de 1. Como exemplo, podemos citar o
cobre, que tem μr = 0,999991. Observe alguns materiais diamagnéticos:

FIGURA 26 – MATERIAIS DIAMAGNÉTICOS

FONTE: <https://bit.ly/3cTZi3D>. Acesso em: 24 abr. 2021.

39
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

3 MATERIAIS PARAMAGNÉTICOS
Os materiais paramagnéticos podem ser definidos como materiais que
possuem elétrons desemparelhados e que, na presença de um campo magnético,
alinham-se, fazendo surgir um ímã, que consegue aumentar levemente o valor
do campo magnético. Eles são fracamente atraídos pelos ímãs e perdem o poder
magnético sem a presença do campo magnético externo. Os materiais paramag-
néticos possuem a permeabilidade relativa um pouco superior a 1. Um exemplo é
o alumínio, que possui μr = 1,000021. São exemplos de materiais paramagnéticos
o alumínio, o magnésio e o sulfato de cobre.

FIGURA 27 – MATERIAIS PARAMAGNÉTICOS

FONTE: <https://bit.ly/3cTZi3D>. Acesso em: 24 abr. 2021.

4 MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS
Os materiais ferromagnéticos podem ser definidos como materiais que se
imantam fortemente se colocados na presença de um campo magnético, ou seja,
após aplicar o campo magnético, por um tempo, sobre o material, e retirá-lo, o
material continua produzindo um campo magnético por um período. Além disso,
eles alteram fortemente o valor do campo magnético aplicado. São exemplos de
materiais ferromagnéticos o ferro, o cobalto e o níquel.

FIGURA 28 – MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

FONTE: <https://bit.ly/3cTZi3D>. Acesso em: 24 abr. 2021.

40
TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

As propriedades observadas nos materiais magnéticos são explicadas


pela existência dos polos norte e sul no material. Polos iguais se repelem e polos
distintos se atraem. A essa configuração de dois polos, denomina-se de dipolo
magnético. O dipolo magnético é a grandeza que determina quão forte é o ímã, e
a orientação espacial pode ser representada por uma flecha, que aponta do polo
sul para o polo norte (UNESP, 2021).

As propriedades magnéticas dos materiais têm origem nos átomos, pois


quase todos os átomos são dipolos magnéticos naturais e podem ser considerados
como pequenos ímãs, com os polos norte e sul. Isso decorre de um somatório de
dipolos magnéticos naturais do spin do átomo, com o movimento orbital dos elé-
trons ao redor do núcleo, pois esse movimento cria um dipolo magnético próprio.

Para cada material, a interação entre os átomos constituintes determina


como os dipolos magnéticos dos átomos devem estar alinhados. Sabe-se que dois
dipolos próximos e de igual intensidade anulam os efeitos se estiverem alinhados
antiparalelamente; somam os efeitos se estiverem alinhados paralelamente. Aten-
te-se aos alinhamentos antiparalelo e paralelo, respectivamente, a seguir:

E
IMPORTANT

Os materiais ferromagnéticos, normalmente, compostos de ferro e de ligas de


ferro com cobalto, tungstênio, níquel, alumínio e outros metais, são, de longe, os materiais
magnéticos mais comuns. Ainda que esses materiais sejam caracterizados por uma ampla faixa
de propriedades, os fenômenos básicos responsáveis pelas propriedades são comuns a todos.

FIGURA 29 – ALINHAMENTO DOS DIPOLOS MAGNÉTICOS

FONTE: UNESP (2021, s.p.)

Veja a diferença do alinhamento dos dipolos magnéticos entre os três tipos


de materiais:

41
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

FIGURA 30 – ALINHAMENTO DOS DIPOLOS MAGNÉTICOS

FONTE: <https://bit.ly/3cTZi3D>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Anteriormente, definimos a permeabilidade magnética pela Equação (4):

A permeabilidade dos materiais magnéticos é muito elevada. Ela pode ser


de até 6000 vezes a permeabilidade do vácuo. No Tópico 1, assumimos que a per-
meabilidade era constante, independentemente da força magnetomotriz (f.m.m.)
aplicada ao material. Embora a permeabilidade seja constante no vácuo, isso não
acontece com alguns materiais, como o ferro, e outros que são magnéticos.

Para explanar o comportamento da permeabilidade magnética em um mate-


rial ferromagnético, aplique uma corrente contínua ao núcleo mostrado na figura a
seguir, começando com 0 A e, lentamente, subindo, até a máxima corrente permitida.

FIGURA 31 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES PARA AVALIAÇÃO DA PERMEABILIDADE EM UM


MATERIAL FERROMAGNÉTICO

FONTE: Chapman (2013, p. 9)

42
TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

Quando se faz um gráfico do fluxo produzido no núcleo versus a força


magnetomotriz que o produz, o resultado é o seguinte:

GRÁFICO 1 – CURVA DE MAGNETIZAÇÃO DE UM MATERIAL FERROMAGNÉTICO

FONTE: Chapman (2013, p. 22)

Esse tipo de gráfico é chamado de curva de saturação ou curva de magnetiza-


ção. Inicialmente, um pequeno incremento na força magnetomotriz produz um grande
incremento no fluxo resultante. Após um determinado ponto, contudo, novos incre-
mentos na força magnetomotriz produzem incrementos relativamente menores no
fluxo. No fim, um aumento na força magnetomotriz produz quase nenhuma alteração.

A região, no gráfico, onde a curva fica plana, é denominada de região de


saturação, e se diz que o núcleo está saturado. Por outro lado, a região onde o fluxo
varia rapidamente é denominada de região insaturada ou não saturada da curva, e se
diz que o núcleo está não saturado. A região de transição entre a região não saturada
e a região saturada é denominada, algumas vezes, de joelho da curva. Na região não
saturada, observe que o fluxo produzido no núcleo se relaciona linearmente com a
força magnetomotriz aplicada e, na região de saturação, o fluxo se aproxima de um
valor constante que independe da força magnetomotriz (DEL TORO, 1994).

Um outro gráfico estreitamente relacionado será elencado a seguir. Apre-


sentaremos um gráfico da densidade de fluxo magnético B versus intensidade de
campo magnético H.

43
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

GRÁFICO 2 – CURVA DE MAGNETIZAÇÃO

FONTE: Chapman (2013, p. 22)

A Equação (25) mostra que, em qualquer núcleo, a intensidade de campo


magnético é diretamente proporcional à força magnetomotriz:

(25)

Já a Equação (26) diz que a densidade de fluxo magnético é diretamente


proporcional ao fluxo:

(26)

Portanto, a relação entre B e H tem a mesma forma do que a relação entre


fluxo e força magnetomotriz.

A inclinação da curva de densidade de fluxo versus a intensidade de cam-


po magnético, para qualquer valor dado de H Gráfico 2, é, por definição, a perme-
abilidade do núcleo para essa intensidade de campo magnético. A curva mostra
que a permeabilidade é elevada e relativamente constante na região não saturada
e, em seguida, decresce, gradualmente, até um valor bem baixo, à medida que o
núcleo se torna fortemente saturado.

E
IMPORTANT

A lei de Faraday, também conhecida como lei da indução eletromagnética,


afirma que a variação no fluxo de campo magnético, através de materiais condutores, in-
duz o surgimento de uma corrente elétrica.

44
TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

5 DOMÍNIOS MAGNÉTICOS
Os materiais ferromagnéticos são compostos por um grande número de
domínios magnéticos. Estes podem ser visualizados microscopicamente e são re-
giões nas quais os momentos magnéticos de todos os átomos estão em paralelo,
dando origem a um momento magnético líquido naquele domínio. Observe:

FIGURA 32 – DOMÍNIOS MAGNÉTICOS DESALINHADOS (À ESQUERDA) E ALINHADOS


(À DIREITA) NO MATERIAL

FONTE: Chrischon (2021, s.p.)

Em uma amostra não magnetizada do material, os momentos magnéticos


dos domínios estão orientados aleatoriamente, e o fluxo magnético líquido resultante
do material é zero. Quando uma força magnetizante externa é aplicada ao material,
os momentos dos domínios magnéticos tendem a se alinhar com o campo magnético
aplicado. Como resultado, os momentos magnéticos dos domínios se somam ao cam-
po aplicado, produzindo um valor muito mais elevado de densidade de fluxo do que
aquele que existiria devido, apenas, à força magnetizante. Assim, a permeabilidade
efetiva μ, igual à razão entre a densidade de fluxo magnético total e a intensidade do
campo magnético aplicado, é elevada, em comparação com a permeabilidade do vá-
cuo μ0. À medida que a força magnetizante aumenta, esse comportamento continua
até que todos os momentos magnéticos estejam alinhados com o campo aplicado.
Nesse ponto, eles não podem mais contribuir para o aumento da densidade do fluxo
magnético, e se diz que o material está completamente saturado.

Na ausência de uma força magnetizante externamente aplicada, os momentos


magnéticos tendem a se alinhar naturalmente, segundo certas direções associadas à
estrutura cristalina dos domínios, conhecidas como eixos de mais fácil magnetização.
Assim, se a força magnetizante aplicada for reduzida, os momentos magnéticos dos
domínios se relaxam, indo para as direções de mais fácil magnetização, próximas da
direção do campo aplicado. Como resultado, quando o campo aplicado é reduzido até
zero, os momentos dos dipolos magnéticos, embora tendendo a relaxar e a assumir
as orientações iniciais, não são mais totalmente aleatórios nas orientações. Eles, agora,
retêm uma componente de magnetização líquida na direção do campo aplicado.

Esse efeito é responsável pelo fenômeno conhecido como histerese mag-


nética. Assim, observe um exposto de histerese, muito importante no eletromag-
netismo e na conversão eletromecânica de energia.
45
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

FIGURA 33 – CURVA DE HISTERESE MAGNÉTICA

FONTE: CONCURSANDO ELÉTRICA (2021, s.p.)

NTE
INTERESSA

O termo histerese é de origem grega e significa “atraso”.

6 HISTERESE
Devido ao efeito de histerese, a relação entre B e H, em um material fer-
romagnético, é não linear e plurívoca. Se cada valor de z corresponde a mais de
um valor de w, dizemos que w é uma função plurívoca de z (RECH; BELTRAME,
2018). Exemplo: w = z ½: função plurívoca (z = ‐ 15 ‐ 8j, w = 1 ‐ 4j ou w = ‐ 1 + 4j).

As características do material não podem ser descritas de forma analítica. Mui-


tas vezes, são apresentadas em forma de gráficos constituídos por conjuntos de curvas
determinadas empiricamente, a partir de amostras de ensaios com os materiais, se-
guindo os métodos prescritos pela American Society for Testing and Materials (ASTM).

A ASTM compila dados numéricos de uma ampla variedade de materiais


magnéticos disponibilizados pelos fabricantes destes. Um problema com o uso de
tais dados vem da diversidade dos sistemas de unidades usados. Por exemplo, a
magnetização pode ser dada em oersteds ou em ampères-espiras por metro, e a
densidade de fluxo magnético em gauss, quilogauss ou teslas.

46
TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

DICAS

Em https://webstore.ansi.org/sdo/astm, você poderá ler mais a respeito da


ASTM, além dos padrões técnicos publicados, cobrindo os procedimentos de teste e classi-
ficação de materiais de todos os tipos.

A curva mais comum usada para descrever um material magnético é a curva


B-H, ou laço de histerese. O primeiro e segundo quadrantes (correspondendo a B ≥
0) de um conjunto de laços de histerese estão mostrados no Gráfico 3 para o aço M-5,
um típico aço elétrico de grão orientado, usado em equipamentos elétricos. Esses laços
mostram a relação entre a densidade de fluxo magnético B e a força magnetizante H.

Cada curva é obtida, variando-se, ciclicamente, a força magnetizante apli-


cada entre valores iguais positivos e negativos de valor constante. A histerese faz
essas curvas serem plurívocas. Depois de diversos ciclos, as curvas B-H formam
laços fechados. As setas indicam as trajetórias seguidas por B quando H cresce e
decresce. Observe que, com um valor crescente de H, as curvas começam a ficar
horizontais à medida que o material tende à saturação. Para uma densidade de
fluxo em torno de 1,7 T, pode-se ver que o material está muito saturado.

Observe que, quando H decresce, desde o valor máximo até zero, a den-
sidade de fluxo diminui, mas não até zero. Isso gera o relaxamento das orienta-
ções dos momentos magnéticos dos domínios, como descrito. O resultado é que,
quando H é zero, uma magnetização remanescente está presente.

Para muitas aplicações em engenharia, é suficiente descrever o material


através de uma curva simples, obtida pela plotagem dos lugares de valores má-
ximos de B e H nas extremidades dos laços de histerese. Essa curva é conhecida
como curva de magnetização CC ou normal. Uma curva de magnetização CC,
para o aço elétrico de grão orientado do tipo M-5, será mostrada no Gráfico 3.

A curva de magnetização de corrente contínua despreza a natureza histe-


rética do material, mas exibe, claramente, as características não lineares.

47
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

GRÁFICO 3 – CURVA DE MAGNETIZAÇÃO CC PARA O AÇO ELÉTRICO DE GRÃO ORIENTADO


M-5 DE 0,012 POLEGADAS DE ESPESSURA (ARMCO INC.)

FONTE: Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 21)

DICAS

Confira um vídeo de magnetização e histerese em https://bit.ly/3zFMxDv.

1º Exemplo: Um núcleo com três pernas será mostrado a seguir. A


profundidade é de 5 cm e há 400 espiras na perna central. As demais dimensões
serão visualizadas na figura.

48
TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

FIGURA 34 – CIRCUITO MAGNÉTICO DE TRÊS PERNAS

FONTE: Chapman (2013, p. 60)

O núcleo é composto de um aço, cuja curva de magnetização será mostrada


no Gráfico 4.

GRÁFICO 4 – INTENSIDADE DE CAMPO MAGNÉTICO VERSUS DENSIDADE DE FLUXO (H X B)

FONTE: Chapman (2013, p. 60)

49
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

Com base nisso, responda às seguintes perguntas a respeito do núcleo:

a) Que corrente é necessária para produzir uma densidade de fluxo de 0,5 T na


perna central do núcleo?
b) Que corrente é necessária para produzir uma densidade de fluxo de 1,0 T na
perna central do núcleo? Essa corrente é o dobro da corrente da parte (a)?
c) Quais são as relutâncias das pernas central e direita do núcleo para as condi-
ções da parte (a)?
d) Quais são as relutâncias das pernas central e direita do núcleo para as condi-
ções da parte (b)?
e) A que conclusões você pode chegar a respeito das relutâncias dos núcleos mag-
néticos reais?

Solução: (a) Uma densidade de fluxo de 0,5 T, no núcleo central, corres-


ponde a um fluxo total de:

Então, por simetria, o fluxo, em cada uma das duas pernas externas, deve ser:

A densidade do fluxo nas outras pernas deve ser:

A intensidade de magnetização H necessária para produzir uma densida-


de de fluxo de 0,25 T pode ser encontrada no Gráfico 4. É 50 A.e/m.

Da mesma forma, a intensidade de magnetização H necessária para pro-


duzir uma densidade de fluxo de 0,50 T é 75 A.t/m. O comprimento médio da
perna central é de 21 cm, e o comprimento médio de cada perna externa é de 63
cm, então, o total de f.m.m. necessário é de:

A corrente elétrica requerida é dada por:

b) Uma densidade de fluxo de 1,0 T, no núcleo central, corresponde a um fluxo total de:

50
TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

Por simetria, o fluxo, em cada uma das duas pernas externas, deve ser:

A densidade do fluxo nas outras pernas deve ser:

A intensidade de magnetização H necessária para produzir uma densida-


de de fluxo de 0,50 T pode ser encontrada no Gráfico 4. É 75 [A·e/m].

Da mesma forma, a intensidade de magnetização H necessária para pro-


duzir uma densidade de fluxo de 1,00 [T] é cerca de 160 [A·e/m]. Portanto, a
f.m.m. total necessária é de:

A corrente requerida é:

Esta corrente não é duas vezes a corrente do item (a).

c) A relutância da perna central do núcleo, nas condições da parte (a), é:

A relutância da perna direita do núcleo, nas condições da parte (a), é de:

d) A relutância da perna central do núcleo, nas condições da parte (b), é de:

A relutância da perna direita do núcleo nas condições da parte (b) é de:

e) As relutâncias em núcleos magnéticos reais não são constantes.

51
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

2º Exemplo: Seguem um núcleo magnético de duas pernas e um entreferro:

FIGURA 35 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES

FONTE: Chapman (2013, p. 61)

A profundidade do núcleo é de 5 cm, o comprimento do entreferro do


núcleo é de 0,05 cm e o número de espiras no núcleo é de 1.000. A curva de mag-
netização do material do núcleo será analisada no Gráfico 5.

GRÁFICO 5 – CURVA DE MAGNETIZAÇÃO

FONTE: Hayt e William (1978, p. 22)


52
TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

Assume um incremento de 5% na área efetiva do entreferro para compen-


sar o espraiamento. Quanta corrente é necessária para produzir uma densidade
de fluxo no entreferro de 0,5 T? Quais são as densidades de fluxo dos quatro lados
no núcleo com essa corrente? Qual é o fluxo total presente no entreferro?

Solução: Uma densidade de fluxo de entreferro de 0,5 T requer um fluxo total de:

Esse fluxo requer uma densidade de fluxo na perna direita de:

A densidade de fluxo, nas outras três pernas do núcleo, é dada por:

A intensidade de magnetização necessária para produzir uma densidade


de fluxo de 0,5 T no entreferro poderá ser encontrada na equação a seguir:

Então:

A intensidade de magnetização necessária para produzir uma densidade


de fluxo de 0,524 T, na perna direita do núcleo, poderá ser encontrada no Gráfico 5:

A intensidade de magnetização necessária para produzir uma densidade


de fluxo de 0,262 T, nas pernas superior, esquerda e inferior do núcleo, pode ser
encontrada no Gráfico 5:

A força magnetomotriz total para produzir um fluxo é de:

53
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

A corrente elétrica solicitada é de:

As densidades de fluxo nos quatro lados do núcleo e o fluxo total presente


no entreferro foram calculados.

54
TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

LEITURA COMPLEMENTAR

BANCADA PARA ENSAIOS DE MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS EM


CHAPA ÚNICA SOB CAMPOS ROTACIONAIS

Pedro Armando da Silva Júnior

Nas últimas décadas, tem-se notado um crescimento vertiginoso da área


tecnológica. Novos materiais, processos produtivos e produtos disputam um mer-
cado consumidor cada vez mais competitivo. Nesse aspecto, produtos de melhor
qualidade, a baixo custo de produção, são fontes de investimento em pesquisa e
em desenvolvimento tecnológico. No setor elétrico, além dos aspectos levantados
anteriormente, dá-se especial atenção ao estudo do rendimento dos produtos e à
utilização adequada dos materiais. A eficiência energética é um tema de destaque
na atualidade, seguindo uma tendência de se tornar cada vez mais importante na
medida em que os recursos não renováveis se extinguem ou as explorações são
normatizadas com regras cada vez mais restritivas. Os produtos e os equipamen-
tos elétricos empregam uma grande parcela de materiais ferromagnéticos. Uma
característica desejável desse material é que não tivesse saturação do número de
linhas de fluxo possíveis que atravessam seções transversais do circuito magné-
tico, além de que a alternância desse fluxo não causasse perdas energéticas. Isso
tem motivado várias pesquisas na área de ciência dos materiais. Todavia, para a
aplicabilidade dos materiais em equipamentos elétricos, são necessários modelos
que representem, de maneira mais precisa, o comportamento das várias grande-
zas eletromagnéticas em questão. Há, na comunidade científica, vários trabalhos
publicados que buscam representar, de maneira adequada, a curva de magneti-
zação e o efeito de histerese do material na presença das mais variadas formas
de indução. O processo de modelagem tem, como objetivos finais, a obtenção e o
desenvolvimento de modelos e de ferramentas de cálculos numéricos e/ou pro-
cedimentos de obtenção dos parâmetros utilizados nos programas de simulação
destinados à análise, concepção e projeto de dispositivos eletromagnéticos.

Os materiais ferromagnéticos têm sido caracterizados pela relação entre as


grandezas indução e campo magnético e, por simplicidade, considera-se que são
paralelas entre si, recaindo-se em um modelo de histerese escalar. Nesses casos, as
perdas energéticas são obtidas em uma caracterização sob magnetização em uma
só direção. Contudo, em certas regiões de máquinas rotativas e nas juntas em “T”,
de núcleos de transformadores trifásicos, a indução magnética não é paralela ao
campo, aumentando as perdas energéticas nesses pontos. Para essas aplicações,
nas quais a indução magnética é rotacional, os modelos escalares são imprecisos.
Alguns pesquisadores já trabalham com a modelagem vetorial da histerese. Têm-se
encontrado resultados interessantes, mas, na sua maioria, esbarram na falta de uma
modelagem de perdas, segundo uma lei válida para o caso geral. Acredita-se que
o primeiro passo para o desenvolvimento de uma modelagem geral e eficiente seja
a obtenção de parâmetros confiáveis, provenientes da experimentação destinada a
esse fim. Outro aspecto, ainda em consolidação, diz respeito ao método experimen-
55
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

tal de avaliação do material para obtenção da caracterização. Sensores de campo,


de indução eletromagnética e forma do quadro de indução e amostra tem sido pro-
postos, além de técnicas de alimentação elétrica do dispositivo utilizado no teste.
Acredita-se que, em relação a esse último tópico, existem, na literatura, poucas con-
tribuições e equipamentos eficientes para que sejam alcançados bons resultados.

O AÇO PARA APLICAÇÕES ELÉTRICAS

O aço, desde aquele simplesmente laminado até as ligas de ferrosilício (FeSi),


é a matéria-prima fundamental para a indústria de equipamentos elétricos. Esse ma-
terial, sendo um meio ferromagnético, tem a particularidade de concentrar um campo
magnético aplicado no exterior de uma amostra. Resultados de pesquisas, envolvendo
ligas de ferrosilício, foram divulgados, inicialmente, por R. A. Hadfield, em 1882. As se-
guintes melhorias obtidas em comparação com o ferro anteriormente utilizado foram:
a) aumento da permeabilidade magnética; b) diminuição das perdas por histerese, c)
diminuição das perdas por correntes de Foucault; e d) menor deterioração com o tem-
po. Por outro lado, sabe-se que a inclusão de silício ao aço, geralmente, tende a diminuir
o valor da indução de saturação. As lâminas de ferrosilício para aplicações elétricas co-
meçaram a ser utilizadas a partir de 1905, nos Estados Unidos, e de 1906, na Inglaterra.
Atualmente, ligas, contendo de 1,5 a 3,5% de silício, são empregadas na construção de
motores e de geradores, enquanto motores de alto rendimento e transformadores de
potência utilizam de 3 a 5% de silício. O aço para aplicações elétricas é obtido a partir
de barras ou chapas, originalmente, produzidas por siderurgia. As chapas são muito
mais empregadas na indústria e são obtidas através da laminação de blocos de aço
de espessura variável. Como o aço laminado não apresenta, precisamente, as mesmas
características magnéticas em todas as direções do plano da chapa, as perdas magné-
ticas também variam, em função da direção do fluxo, o que torna o termo “sentido de
laminação” importante na caracterização do material, isto é, o processo de laminação
provoca um grau de anisotropia magnética que depende do material e do processo em
si. As ligas de FeSi podem sofrer diversos processos diferentes durante a fabricação,
mas, de maneira geral, pode-se classificá-las em dois grupos:

(1) materiais isotrópicos, os que apresentam as mesmas características


magnéticas para qualquer direção no plano da lâmina;

(2) materiais anisotrópicos, aqueles que apresentam propriedades distin-


tas para diferentes direções no plano da lâmina.

Os principais aços planos para fins elétricos podem ser divididos em duas
famílias: os de grãos orientados (GO) e os de grãos não orientados (GNO). Os
aços de grãos orientados são anisotrópicos, sendo empregados em transforma-
dores de potência, pois estes possuem uma grande parcela do fluxo magnético
alinhada com a direção longitudinal da chapa. Os aços de grãos não orientados
são, idealmente, isotrópicos, sendo utilizados em máquinas rotativas, as quais
requerem um alto grau de isotropia no plano da chapa, e em pequenos trans-
formadores. Os aços, ainda, podem ser classificados, de acordo com outras ca-
racterísticas: densidade de silício e carbono, etapa de fabricação (semi e total-

56
TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

mente processados) etc. Para que seja um meio eficiente de condução do fluxo
magnético, o aço deve possuir alta permeabilidade e baixas perdas magnéticas,
o que torna, essas grandezas, parâmetros de seleção do aço. Com relação às per-
das magnéticas, cabe ressaltar a importância para a determinação do rendimento
de uma máquina elétrica e, consequentemente, no sucesso do projeto final. As
perdas estão diretamente ligadas à relação do peso da máquina versus potência
elétrica consumida. O projetista busca constantemente, desenvolver máquinas de
alto rendimento com pouco volume, aliadas com os anseios dos consumidores
por produtos de baixo custo e de alta eficiência energética. Sob esses aspectos, as
pesquisas atuais, envolvendo aços, no campo de desenvolvimento de novos ma-
teriais ou na determinação de perdas e de modelos matemáticos, constituem-se
em uma grande contribuição à indústria e à sociedade em geral.

AS PERDAS MAGNÉTICAS EM CAMPOS ALTERNADOS

A determinação das perdas nos materiais magnéticos laminados em chapas é


um tema que tem despertado interesse da comunidade científica, principalmente, por
não existir, ainda, um modelo definitivo para a previsão. Nos métodos experimentais,
as perdas médias por ciclo são obtidas do laço B(H). A energia dissipada por ciclo e por
unidade de volume é determinada através do cálculo da área interna do laço.

Essa mesma energia, em Joules por quilograma, para um período da for-


ma de onda da indução, é expressa pela Equação 2.1, sendo que B é a indução
magnética; H, o campo magnético; B1 e B2 definem o período da indução; e, mv,
a massa específica do material. Nesse caso, tem-se um modelo escalar, já que as
grandezas vetoriais indução e campo magnético são paralelas entre si.

A metodologia mais utilizada, atualmente, para estimar e analisar as per-


das, é baseada em um princípio de separação, isto é, considera-se que as perdas
totais, nas lâminas, sejam a soma de três termos: perdas por histerese, perdas
devido às correntes de Foucault e perdas excedentes. A magnetização do mate-
rial se deve ao processo de alinhamento dos spins dos elétrons, que constituem
o material, com o campo magnético aplicado externamente. Spins orientados em
57
UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS

uma mesma direção no cristal formam domínios que são delimitados por paredes
entre essas regiões. No processo de magnetização, as paredes de domínio se mo-
vem, gerando as perdas por histerese. A magnetização do material acontece pela
movimentação e pela rotação dos domínios magnéticos. Assim, a existência das
paredes dos domínios magnéticos, associadas, também, aos defeitos da microes-
trutura metalúrgica do material, dá origem às perdas por histerese. Essa parcela
de perdas não depende da frequência, devendo ser medida com a frequência da
forma de onda da excitação mais próxima possível de zero, para que as compo-
nentes das perdas dinâmicas, no material, possam ser desprezadas. As perdas
dinâmicas são compostas pelas perdas, devido às correntes de Foucault, e pelas
perdas excedentes. Elas dependem da frequência de operação. As perdas, devi-
do às correntes de Foucault, são originadas das correntes induzidas no material.
Essas correntes circulam em forma de anéis fechados, induzidas pela variação do
fluxo magnético no tempo, sendo perpendiculares ao plano do fluxo. Para evitar
a formação de grandes anéis de corrente, o material ferromagnético é laminado.
Quanto menor a espessura da lâmina, maior a dificuldade para a formação dos
anéis de corrente e, consequentemente, menores são as perdas por correntes de
Foucault. Todavia, se a composição química do material for alterada para atenuar
esse tipo de perda, as perdas por histerese também sofrerão alterações. As per-
das excedentes, como o próprio nome indica, são originadas, supostamente, pelo
excesso de correntes induzidas. A justificativa para a existência das perdas exce-
dentes se baseia no fato de que o cálculo clássico das perdas por correntes de Fou-
cault não considera a divisão do material em domínios magnéticos elementares,
e esses domínios modificam a distribuição das correntes induzidas, aumentando
as perdas. Várias teorias foram construídas para avaliar essas perdas, chamadas
de excedentes. A mais aceita, atualmente, foi proposta por Bertotti, baseada em
uma análise estatística da organização dos domínios e das paredes magnéticas. O
modelo de Bertotti permite mostrar que essas perdas, em J/kg, são proporcionais
à raiz quadrada da frequência. Para separar os tipos de perdas magnéticas na
prática, são efetuados dois ensaios: um para determinação das perdas devidas à
histerese e, o outro, para a determinação das perdas totais. As perdas por histe-
rese são obtidas na mais baixa frequência possível. Tipicamente, as perdas totais
são avaliadas em ensaios a 50 ou 60 Hz. A partir das perdas totais, subtraem-se
as perdas devidas a 8 histerese, resultando, dessa operação, o valor das perdas
dinâmicas (soma das perdas devidas às correntes de Foucault e das perdas exce-
dentes). A separação das perdas dinâmicas, nas duas parcelas constituintes, não
pode ser realizada de maneira experimental. Teoricamente, a representação ma-
temática das perdas totais no ferro, em regime senoidal, foi proposta por Fiorillo,
Novikov, Amar e Protat, e é, aqui, dada pela Equação 2.2:

Na equação, as perdas por histerese (WH) são descritas, conforme o mo-


delo de Steinmetz (kh e α são parâmetros do modelo), e as dinâmicas (WF e WE)
são associadas aos coeficientes kf e ke, os quais dependem do tipo de composição
das lâminas de aço e são definidos para a frequência em que é feito o ensaio (f1).

58
TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS

A evolução da relação das perdas magnéticas para os três tipos de perdas,


em função da frequência (com indução magnética constante), pode ser observa-
da, qualitativamente, a seguir:

Atente-se aos laços B(H) que seguem, sendo que as perdas por histerese,
por correntes de Foucault e excedentes são consideradas sucessivamente. Pode-se
observar que o laço B(H) se torna cada vez maior com a inclusão das diferentes
componentes das perdas para um mesmo valor de indução máxima.

FONTE: SILVA JÚNIOR, P. A. da. Bancada para ensaios de materiais ferromagnéticos em chapa
única sob campos rotacionais. Florianópolis: UFSC, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3gS55rt.
Acesso em: 18 dez. 2020.

59
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O magnetismo é uma propriedade dos átomos que tem origem na estrutura atômica.

• Os materiais podem ser classificados, de acordo com as propriedades magné-


ticas, em três tipos: ferromagnéticos, diamagnéticos e paramagnéticos.

• Os materiais ferromagnéticos são muito utilizados quando se deseja obter


campos magnéticos de altas intensidades.

• Os materiais ferromagnéticos são aqueles que compreendem um pequeno


grupo de substâncias encontradas na natureza, que, ao serem colocadas na
presença de um campo magnético, imantam-se fortemente, e o campo mag-
nético delas é, muitas vezes, maior do que o campo que é aplicado.

• Os materiais ferromagnéticos são amplamente utilizados, em engenharia elé-


trica, nos motores e nos transformadores, principalmente. São exemplos de
materiais ferromagnéticos: o ferro, o níquel, o cobalto e as ligas que são for-
madas por esses elementos químicos.

• Os materiais diamagnéticos são fracamente atraídos por ímãs.

• São materiais diamagnéticos: o bismuto, o cobre, a prata, o chumbo etc.

• Os materiais paramagnéticos são aqueles que têm os momentos angulares


alinhados ao serem colocados nas proximidades de um campo magnético.

• São materiais paramagnéticos: o alumínio, o magnésio e o sulfato de cobre,


por exemplo.

• A forma como o núcleo magnético responde à variação do campo indutor


depende do tipo de material utilizado, e é representada, graficamente, através
da “Curva de Magnetização”.

60
• No fenômeno de saturação do material magnético, a permeabilidade magné-
tica não é constante.

• O fenômeno de histerese magnética ocorre quando há uma tendência dos


materiais ferromagnéticos de conservar a magnetização adquirida por eles
mediante a aplicação de um campo magnético externo.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

61
AUTOATIVIDADE

1 O que são materiais paramagnéticos? Cite um exemplo.

2 Qual é a importância dos materiais ferromagnéticos para os circuitos mag-


néticos e núcleos de dispositivos eletromagnéticos?

3 O que são materiais diamagnéticos? Cite um exemplo.

4 O que são materiais ferromagnéticos? Cite um exemplo.

5 Um núcleo de transformador, com comprimento efetivo de caminho médio de 6


polegadas, tem uma bobina de 200 espiras enrolada em torno de uma perna. A
área da seção reta é de 0,25 pol2 (polegadas quadradas), e a curva de magnetiza-
ção será mostrada no gráfico a seguir. Se uma corrente de 0,3 A estiver circulando
na bobina, qual será o fluxo total no núcleo? Qual será a densidade de fluxo?

6 O que é material ferromagnético e por que a permeabilidade dos materiais


ferromagnéticos é tão elevada?

7 Como a permeabilidade relativa de um material ferromagnético varia com


a força magnetomotriz?

62
8 O que é histerese magnética?

9 Explique, com as suas palavras, a lei de Faraday.

10 O que são os domínios magnéticos? Explique com detalhes.

11 O que é a curva de magnetização de um material?

63
REFERÊNCIAS
ALEKSANDER, C.; SADIKU, M. Fundamentos de circuitos elétricos. Porto Ale-
gre: Bookman, 2003.

ALIBABA. Gerador dínamo 15 kVA. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3qgG-


dOM. Acesso em: 18 maio 2020.

CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

CHRISCHON, D. Nanotubos magnéticos sintetizados por eletrodeposição em alumina


anódica porosa. 2021. Disponível em: https://bit.ly/2TRUZiu. Acesso em: 18 maio 2021.

CONCURSANDO ELÉTRICA. Curva ou laço de histerese. 2021. Disponível em:


https://bit.ly/3iXNrWf. Acesso em: 18 maio 2021.

DEL TORO, V. Fundamentos de máquinas elétricas. Rio de Janeiro: LTC, 1994.

FITZGERALD, A.; KINGSLEY, JR. C. Máquinas elétricas. 7. ed. São Paulo: Artmed, 2014.

HAYT JR.; WILLIAM, H. Eletromagnetismo. Rio de Janeiro: Livros técnicos e


científicos, 1978.

JORDÃO, R. G. Máquinas síncronas. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1980.

LEONARDO ENERGY. A história do motor elétrico. 2020. Disponível em: https://


bit.ly/3cZ2efs. Acesso em: 18 maio 2020.

MECALUX. Gerador (WEG GTA 161 AI SR). 2020. Disponível em: https://bit.
ly/3zMrQpM. Acesso em: 18 maio 2020.

MUSEU WEG. (2020). A história do motor elétrico. Disponível em: https://bit.


ly/3iNP5tm. Acesso em: 18 maio 2020.

NASAR, S. A. Máquinas elétricas. São Paulo: MAKRON Books do Brasil Editora


Ltda., 1984.

RECH, C.; BELTRAME, R. C. Sinais e sistemas. 2020. Disponível em: https://bit.


ly/3zGwLsb. Acesso em: 18 maio 2020.

SADIKU, M. N. O. Fundamentos de eletromagnetismo. 3. ed. São Paulo: Bookman, 2017.

SILVA JR, P. A. da. Bancada para ensaios de materiais ferromagnéticos em chapa


única sob campos rotacionais. Florianópolis: UFSC, 2007.

64
THE CMYK DIGEST. Global transformadores de média tensão análise de cres-
cimento de mercado, previsões com análise de impacto de COVID-19 até 2026:
Arteche, RITZ, Hill Tech, Indian transformers, GE Grid Solutions, TBEA. 2020.
Disponível em: https://bit.ly/3cUTEy3. Acesso em: 18 maio 2020.

UFMG. Parte III: Circuitos magnéticos. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3iT-


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UNESP. Apostila de eletromagnetismo. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3xI-


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18 maio 2021.

USP. SEL 329 – Conversão eletromecânica de energia – Aula 10. 2020. Disponível
em: https://bit.ly/3zIbYo3. Acesso em: 18 maio 2020.

65
66
UNIDADE 2 —

CIRCUITOS COM ÍMÃS


PERMANENTES, PERDAS
MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E
CÁLCULO DE POTÊNCIAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o conceito de perdas em núcleos magnéticos;

• saber quais são os tipos de perdas que ocorrem nos núcleos magnéticos
de máquinas elétricas;

• resolver os exercícios de núcleos com perdas; os exercícios com gran-


dezas expressas em p.u.; os problemas, envolvendo as potências ativa,
reativa e aparente; os exercícios de circuitos com ímãs permanentes;

• conhecer o sistema por unidade (p.u.);

• identificar as potências ativa, reativa e aparente;

• aprender os conceitos e as características dos ímãs permanentes.

67
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE


POTÊNCIAS

TÓPICO 2 – CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES

TÓPICO 3 – SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

68
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E


CÁLCULO DE POTÊNCIAS

1 INTRODUÇÃO
Parte da energia disponível para a conversão eletromecânica de energia
é transformada em calor. Como essa transformação é irreversível, dá origem às
perdas. O estudo das perdas, na conversão eletromecânica de energia, é de suma
importância, pois, através desse estudo, podemos calcular o rendimento de um
motor e o custo da conversão de energia.

Outra justificativa para o estudo das perdas é o aquecimento das máqui-


nas elétricas. O aquecimento das máquinas, em um grande número dos casos, de-
fine a potência máxima que delas se pode exigir durante um período pré-fixado.
As elevações de temperatura nas máquinas não devem ultrapassar determinados
limites, estabelecidos em função dos materiais isolantes utilizados, a fim de que
se possa garantir uma maior vida útil.

A perda total é expressa em ordem de potência e é o somatório de todas as


perdas em máquinas, que são perdas Joule, perdas Foucault, por correntes parasitas,
perdas por histerese e perdas mecânicas. Estudaremos cada uma delas separadamente.

• Perdas Joule no cobre dos circuitos elétricos do indutor e do induzido: nesse gru-
po, também incluímos as perdas que se originam da passagem de corrente através
de contatos deslizantes entre escovas comutadoras e entre escovas e anéis coletores.
• Perdas por corretes Foucault ou correntes parasitas e perdas histeréticas ou
por histerese no ferro dos circuitos magnéticos: são perdas ocasionadas por
variações de indução nas diferentes partes desses circuitos.
• Perdas mecânicas: são provenientes de atritos em mancais e em contatos des-
lizantes, entre escovas e comutadores, e entre escovas e coletores. Também
são incluídas as perdas por ventilação natural ou forçada.
• Perdas dielétricas: são aquelas que se desenvolvem no material isolante.
• Perdas suplementares: a potência ativa no entreferro apresenta duas parce-
las, ou seja, uma é referente às perdas Joule no rotor (Pj2), proporcionais ao
escorregamento, e a outra é referente à potência entregue na ponta do eixo
(Peixo), proporcional ao complemento do escorregamento.

Entretanto, salvo casos muito especiais de equipamentos para tensões


mais elevadas, as perdas dielétricas podem ser ignoradas, pois os valores são
muito menores se comparados com os demais tipos de perdas.

69
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

2 PERDAS NO COBRE
As perdas no cobre são calculadas pela expressão: P = R.I2 . Os valores da
resistência para o cálculo das perdas no cobre podem ser calculados ou medidos
em corrente contínua. Para correntes alternadas, os valores são menores do que
os reais, por esse motivo, as perdas calculadas são inferiores às que, realmente,
ocorrem no núcleo da máquina elétrica. O excesso das perdas reais assim calcula-
das é incorporado nas chamadas perdas suplementares.

A perda, no cobre, de um enrolamento, é especificada para uma tempera-


tura fixa de 75 ºC. Isso ocorre devido à variação da resistividade (ρ) dos materiais
condutores, com a temperatura.

Observe a variação dos valores de resistividade versus temperatura:

TABELA 1 – RESISTIVIDADE X TEMPERATURA

Material Resistividade elétrica (ρ)


Prata 1,64 x 10-8
Cobre 1,72 x 10-8
Alumínio 2,8 x 10-8
Ouro 2,45 x 10-8
Carbono 4 x 10-5
Germânio 47 x 10-2
Silício 6,4 x 102
Papel 1010
Mica 5 x 1011
Vidro 1012
Teflon 3 x 1012
FONTE: Adaptada de Aleksander e Sadiku (2013, p. 40)

Podemos concluir que bons condutores, como prata, cobre, alumínio e ouro,
possuem baixa resistividade, enquanto isolantes, por exemplo, papel, mica, vidro
e teflon, têm alta resistividade. Os materiais semicondutores, representados, aqui,
pelo germânio e pelo silício, apresentam valores de resistividades intermediários.

Para o cobre, cujo coeficiente de temperatura a 0 ºC é α = 0,00427 ºC-1, po-


de-se deduzir a Equação (27):

(27)

Essa equação relaciona a resistência R’ de um enrolamento à temperatura


T’ com a resistência R do mesmo enrolamento à temperatura T. O número 234,5 é
o inverso do coeficiente de temperatura (α0).

70
TÓPICO 1 — PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

Para efeito de cálculo do rendimento das máquinas, é comum convencio-


nar que as perdas no cobre se resumem, tão somente, àquelas que ocorrem nos
enrolamentos do indutor e do induzido, delas, excluindo-se as perdas nos reos-
tatos de campo e nas excitatrizes. Essas últimas passam a ser consideradas como
perdas da instalação completa.

3 PERDAS NO FERRO
As perdas no ferro provêm de variações de indução nas massas ferromag-
néticas das máquinas. Compreendem as perdas Foucault e as perdas por histe-
rese. Demonstra-se que os núcleos laminados, submetidos a induções variáveis,
e segundo direções paralelas às faces das chapas laminadas, tornam-se sedes de
perdas Foucault, que podem ser expressas pela Equação (28):

(28)

Por sua vez, as perdas histeréticas são expressas pela Equação (29):

(29)

• Kƒ e Khsão os coeficientes que dependem das propriedades dos materiais;


• V é o volume total de núcleos ou de peças de material ferromagnético;
• ƒ é a frequência das variações das induções;
• Bm é p valor máximo das induções variáveis;
• x é um expoente que depende das propriedades dos materiais e do próprio
valor de Bm. Varia entre 1,5 e 2,5. Para materiais ferromagnéticos de uso cor-
rente, submetidos a induções máximas compreendidas entre 0,15 e 1,2 [Wb/
m2], recomenda-se x = 1,6;
• e é a espessura das chapas laminadas.

A Equação (28) pode ser deduzida para induções senoidalmente variáveis


no tempo. A Equação (29) é empírica e é chamada de equação de Steinmetz. Essa
equação é válida somente quando os ciclos de histerese são simétricos em relação
à origem dos eixos de coordenadas e as forças magnetomotrizes variam monoto-
nicamente entre os valores extremos.

Em certos casos, admite-se x da ordem de 2. Nessas condições, as perdas


no ferro podem ser traduzidas, aproximadamente, pela Equação (30):

(30)

mostrando-se proporcionais aos quadrados das induções máximas.

As três últimas expressões são muito úteis para a análise do comporta-


mento das perdas no ferro das máquinas. Contudo, para o cálculo numérico des-
sas perdas, estas têm aplicação restrita, sendo adotadas por poucos autores. Para

71
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

essas finalidades quantitativas, elas vêm afetadas de coeficientes empíricos, cujos


valores diferem de uma para outra região do circuito magnético das máquinas
(dentes, sapatas polares, núcleos do induzido etc.). A necessidade de adoção de
diferentes coeficientes para diferentes partes da máquina decorre das diferentes
formas como as induções variam em cada uma das partes.

A seguir, atente-se aos dentes, às sapatas polares e ao núcleo do induzido


em um corte de máquina cc.

FIGURA 1 – CORTE DE UM MOTOR DE CORRENTE CONTÍNUA

FONTE: <https://bit.ly/3vtgfbB>. Acesso em: 29 abr. 2021.

Um dos processos mais empregados para o cálculo das perdas no ferro con-
siste na utilização de curvas fornecidas pelos fabricantes das chapas. Para cada uma
das frequências industriais mais comuns, podemos obter a perda total por unidade
de volume de uma região da máquina, sendo que a indução varia, segundo uma
única e determinada lei, basta multiplicar a perda específica, obtida nas curvas,
pelo volume dessa região e pelo correspondente coeficiente empírico, para que se
obtenham as perdas no ferro da região. A necessidade do coeficiente decorre do
fato de as curvas obtidas pelos fabricantes serem determinadas sob condições dife-
rentes daquelas que vigoram nas diferentes partes da máquina em funcionamento.

Dependendo do tipo de máquina, as perdas ocorrem com maior intensi-


dade, ora no ferro do indutor, ora no ferro do induzido. As equações mostram que
as perdas são maiores onde se têm as maiores frequências e induções máximas.

Para ilustrar a última frase, tenha em mente o seguinte exemplo: as perdas no


ferro do estator do motor de indução em trabalho normal deverão ser maiores do que
as perdas correspondentes no rotor, e, nessa condição de trabalho, o escorregamento
“s” é pequeno, da ordem de 0,05, e as frequências estatórica e rotórica são, respectiva-
mente, “f” e “sf”. As perdas no ferro do induzido de máquinas síncronas deverão ser
bem maiores do que as perdas no ferro do indutor, porque, nessa parte da máquina,
as induções são invariáveis, a menos que ocorram transitórios eletromagnéticos.
72
TÓPICO 1 — PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

E
IMPORTANT

Um transitório é um termo que tem sido usado pelos engenheiros na análise das
variações do sistema de energia para denotar um evento que é momentâneo e indesejável.
Então, os transitórios eletromagnéticos são manifestações ou respostas elétricas locais ou ao
seu redor, provindas de alterações súbitas nas condições operacionais de um sistema de energia
elétrica e, consequentemente, podem ser danificadas as máquinas industriais ou residenciais.

Mesmo em regime permanente, constatam-se variações de indução no


ferro do indutor das máquinas síncronas, com as superfícies das sapatas polares.
Isso provém do movimento relativo dessas sapatas com os dentes e as ranhuras
do induzido, dos quais resultam pulsações das induções com aquelas superfícies.
As frequências dessas pulsações são elevadas, sendo dadas pelo produto do nú-
mero de dentes do induzido pela velocidade do rotor, em rotações por segundo.
Tais pulsações geram perdas apreciáveis nas sapatas, principalmente, nos bicos
polares, nos quais as induções máximas são mais pronunciadas.

As perdas no ferro são aquelas que se observam em um ensaio a vazio, sob


frequência nominal e f.e.m. induzida igual àquela que existe na máquina quan-
do opera normalmente, à plena carga, sob tensão terminal e frequência nominal.
As perdas no ferro, obtidas nesse ensaio a vazio, diferem, ainda que pouco, das
verdadeiras perdas no ferro da máquina em plena carga. Essa diferença é consi-
derada como parte das perdas suplementares.

As perdas no ferro ou, mais explicitamente, as perdas no ferro a vazio,


podem ser definidas pelas diferenças entre as potências necessárias para manter
a máquina sob rotação nominal:

(a) excitada, de modo a manter a tensão V entre os terminais a vazio, igual à força
f.e.m. Normalmente, induzida em plena carga;
(b) sem qualquer excitação, e a vazio.

4 PERDAS MECÂNICAS
As perdas mecânicas se desenvolvem por atrito em mancais e entre es-
covas e partes girantes, que são os comutadores e os anéis coletores. Resultam,
também, da ventilação, natural ou forçada, provocada pelas partes girantes. O
cálculo prévio e preciso dessas perdas não é simples de realizar.

As perdas por atrito, nos mancais, dependem de vários fatores, desde o


tipo até o estado de lubrificação. Fato semelhante ocorre com as perdas mecâni-
cas por atrito de escovas deslizantes sobre partes girantes: dependem do tipo das

73
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

escovas, da área da superfície de contato com o comutador ou os anéis girantes,


das pressões nessas superfícies e da velocidade periférica do comutador ou dos
anéis. Quanto à ventilação, as incertezas não são menores.

De modo geral, as perdas são:

• por atrito em mancais, e podem ser expressas por um produto do tipo: K. F.


v, sendo que K é um coeficiente de atrito, F é a força exercida sobre os mancais
e v é a velocidade periférica, proporcional à rotação;
• por atrito entre as escovas e o comutador, e podem ser expressas por um
produto do tipo KPAv, sendo que K é um coeficiente de atrito, P é a pressão
nos pontos de superfícies de contato entre escovas e comutadores ou anéis
coletores, A é a área das superfícies de contato e v é a velocidade periférica do
comutador ou dos anéis coletores;
• por ventilação, e podem ser expressas por um produto do tipo KNx, sendo que
K é um coeficiente constante, N é a rotação da máquina e x é um expoente que
cresce com N. nos casos mais comuns, da ordem de 2 a 3.

Para o cálculo do rendimento, as perdas mecânicas não são calculadas de


forma separada em comparação às perdas no ferro, mas em conjunto, por inter-
médio do ensaio a vazio.

5 PERDAS ELÉTRICAS NOS CONTATOS


Impondo-se a corrente elétrica através de contato escova-comutador, no-
tamos que ocorrem quedas de tensão nesse contato. Essas quedas de tensão se
comportam de modo diferente de uma simples queda ôhmica. Elas são, aproxi-
madamente, independentes das intensidades da corrente, através das superfícies
de contato escova-comutador ou anéis coletores. Conclui-se, ainda, que elas de-
pendem, em grande parte, do tipo de material de que é constituída a escova, além
da pressão exercida pela escova sobre o comutador. Diante de intensidades de
corrente amplamente variáveis acima de um mínimo relativamente baixo, e para
as pressões normalmente recomendadas, verifica-se que as quedas de tensão com
tatos de escova-comutador mantêm-se da ordem de:

• 0,8 a 1,1 [V] para escovas de carvão;


• 0,7 a 0,8 [V] para escovas eletrografíticas;
• 0,15 a 0,20 [V] para escovas de cobre grafitado.

Se desejarmos associar uma resistência Rc à região do contato escova-


comutador, essa resistência deverá ser variável, diminuindo, rapidamente, com
aumentos de corrente, a fim de permitir constância aproximada do produto
Rc.I =ΔV. As razões desse comportamento peculiar podem ser explicadas pela
existência de uma película de óxido de cobre e de carvão, extremamente delgada,
que, normalmente, recobre a superfície metálica dos comutadores.

74
TÓPICO 1 — PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

Conhecendo-se a queda de tensão ΔV entre escova e comutador, podemos


calcular as perdas correspondentes: valem ΔV. I [W], sendo, I, a corrente através do
contato. Tal como considerada, a queda ΔV se refere a uma escova ou ao conjunto de
escovas interligadas (escovas de mesma polaridade), que constitui um dos terminais
da máquina de corrente contínua. Como existem dois terminais, a perda total será de
2 ΔV. I [W]. Para escovas comuns, recomenda-se assumir ΔV = 1 [V], sendo

perda elétrica nos contatos = 2.I. [W]

6 PERDAS SUPLEMENTARES
As perdas no cobre são inferiores às perdas que se desenvolvem no cobre
das máquinas em carga. Uma das causas da diferença está no efeito pelicular pre-
sente em condutores submetidos a correntes alternadas. O alojamento de conduto-
res em ranhuras (condutores parciais ou totalmente envolvidos por ferro) contribui
para intensificar tal efeito. Em suma, para o cálculo das perdas, as resistências das
máquinas de corrente alternada devem ser adotadas com valores efetivos.

Outra causa de divergência entre as perdas reais no cobre e as perdas nele


convencionadas é gerada de correntes parasitas que circulam nas massas de cobre
dos enrolamentos: essas correntes provêm de variações do campo magnético nas re-
giões ocupadas pelos enrolamentos. Tais correntes têm a mesma natureza das cor-
rentes Foucault, responsáveis por parte das perdas no ferro das máquinas elétricas.

Mais uma causa de divergência entre as perdas reais no cobre e aquelas ci-
tadas anteriormente são as correntes de circulação em elementos de enrolamento
de máquinas cc, no ato da comutação.

Os efeitos secundários, não considerados nas perdas do cobre, são incor-


porados no que se chamam de perdas suplementares.

As perdas no ferro, ou, como convencionadas nesta unidade, perdas no ferro


a vazio, são menores do que as perdas que, realmente, desenvolvem-se nos núcleos
ferromagnéticos e em outros materiais metálicos estruturais das máquinas em carga.
A principal razão da diversidade vem dos efeitos da reação do induzido, que modi-
ficam as distribuições de indução ao redor do entreferro das máquinas. Além desses
efeitos sobre o campo no entreferro, as correntes de carga produzem fluxos dispersos
que podem alcançar, inclusive, peças estruturais, como parafusos, suportes e, no caso
dos transformadores, tampas e tanques, produzindo perdas adicionais.

As perdas adicionais, ausentes das perdas a vazio, constituem outro gru-


po das perdas suplementares. O cálculo das perdas suplementares com apro-
ximação satisfatória é praticamente irrealizável. Vem daí a conveniência em se
dividirem as perdas nas máquinas em dois grupos:

75
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

• Perdas no cobre, perdas no ferro e perdas mecânicas: esse grupo deve ser
denominado de perdas principais, e os valores podem ser obtidos por via
experimental, com relativa facilidade.
• Perdas suplementares no cobre e no ferro (em componentes estruturais): con-
forme descritas, são de difícil determinação, seja por cálculo, seja por proces-
so experimental. Para efeito de cálculo de rendimento de máquinas rotativas,
é costume admiti-las iguais a 1% das potências úteis.

Convém assinalar que a consideração das perdas suplementares, “em se-


parado” das perdas no cobre e no ferro, não passa de um artificio conveniente
para padronizar e simplificar métodos utilizados para determinação e fixação dos
valores de rendimentos das máquinas elétricas.

7 PERDAS VARIÁVEIS E PERDAS CONSTANTES


Na maioria das vezes, as máquinas elétricas operam sob condições de
tensão entre terminais e rotações (frequência) constantes, ou, aproximadamente,
constantes, embora, sob variáveis condições de carga, ou seja, de corrente nos
enrolamentos. Nesses casos, as perdas podem ser reunidas em dois grupos:

• Grupos das perdas vaiáveis: ou grupo das perdas que variam com a corrente
de carga ou com a potência desenvolvida pela máquina.
• Grupo das perdas constantes: ou grupo das perdas independentes de varia-
ções na corrente de carga ou na potência.

Essa classificação é de grande interesse no estudo das máquinas elétricas,


no que diz respeito à pesquisa das condições de trabalho em que podem operar
com maior rendimento.

7.1 PERDAS VARIÁVEIS


Nesse grupo de perdas variáveis, encontramos dois tipos de perdas:

• Perdas que variam com o quadrado das correntes de carga.


• Perdas que variam de modo aproximadamente linear com a carga.

As perdas que variam com o quadrado das correntes de carga são perdas
Joule (R.I2), como ocorrem nos enrolamentos induzidos e eventuais enrolamentos
a eles ligados em série (enrolamentos de campo série, interpolos e enrolamentos
compensadores). Para efeito de análise, essas perdas podem ser representadas
por uma parcela cI2 da totalidade das perdas em uma determinada máquina.

Já as perdas que variam de modo aproximadamente linear com a carga


são encontradas nos contatos entre as escovas e os comutadores e entre as escovas
e os anéis coletores. Podem ser representas por uma parcela bI das perdas totais.

76
TÓPICO 1 — PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

E
IMPORTANT

As perdas suplementares são perdas que variam com a carga. Entretanto, dei-
xamos de considerá-las nessa classificação à vista dos pequenos valores relativos e das
incertezas quanto ao comportamento diante de variações de carga.

7.2 PERDAS CONSTANTES


Nesse grupo de perdas, podemos incluir:

• Perdas mecânicas.
• Perdas no ferro.
• Perdas Joule em enrolamentos de excitação independente e de excitação em
derivação.

Essas perdas podem ser representadas por uma parcela em comparação


ao todo. Resta demonstrar que elas são, realmente, independentes da carga em
máquinas que operam sob tensão V e rotação n constantes.

As perdas mecânicas se aproveitam da propriedade por força da hipótese


da constância da rotação. Pode-se dizer que, variando a carga, variam-se os conju-
gados e, portanto, variam os esforços sobre os mancais, com consequente influência
sobre as perdas mecânicas. Tal influência existe, porém, pode ser desprezada. Para
justificar a constância aproximada das perdas no ferro, vamos nos lembrar de que:

(a) essas perdas são muito proporcionais aos quadrados das induções máximas
Bm, ou seja: pƒaB2m.
(b) a menos que existam distorções na forma de onda do campo, provocadas pela
reação do induzido, as induções máximas são proporcionais aos fluxos por
polo φ,sendo pƒaϕ2.
(c) tanto em máquinas cc, para as quais E = Kenϕ, como em máquinas ca, para as
quais E = 4,44.ƒ.N.ϕ.ke, sob rotação constante, as f.em.’s induzidas são propor-
cionais aos fluxos por polo, sendo pƒaE2.

Considerando que as quedas internas nas máquinas elétricas são relativa-


mente pequenas, podemos afirmar que a constância de V gera a constância de E
e, à vista das considerações anteriores, também, a constância das perdas no ferro.

Variando-se a tensão V nos terminais de uma máquina elétrica, pela variação


de excitação em um gerador ou pela variação da tensão de fonte que alimenta um mo-
tor ou um transformador, estamos impondo variações para as perdas no ferro. Para a
frequência constante, essas perdas variam com o quadrado das tensões nos terminais.

77
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

E
IMPORTANT

“As perdas de origem elétrica são divididas, basicamente, em dois grupos, os quais
aludem ao local onde as perdas acontecem dentro do dispositivo: nos condutores e no nú-
cleo magnético. As perdas nos condutores são mais comumente referidas como perdas no
cobre, uma vez que, desse material, constituem-se os enrolamentos de excitação da grande
maioria dos equipamentos elétricos comerciais e industriais. Similarmente, as perdas no nú-
cleo, em geral, são referidas, simplesmente, como perdas no ferro” (PIRES, 2008, p. 24).

8 ENSAIO A VAZIO – PERDAS ROTACIONAIS A VAZIO


Pôr a máquina rotativa a girar a vazio significa fazê-la operar com potên-
cia útil nula. Impondo-se, por meios mecânicos, rotação n à máquina, diante de
qualquer excitação (fluxo nulo no circuito magnético), podemos afirmar que a
potência requerida para a acionar representa, tão somente, as perdas mecânicas
correspondentes àquela rotação n. Se, em seguida, e mantendo-a sob a rotação n,
excitamo-la com enrolamento induzido em circuito aberto, sendo criados fluxos
e provocada a geração de forças eletromotrizes (f.e.m.’s) induzidas. O fato de
aquele enrolamento estar em circuito aberto impede a circulação de correntes, e
a máquina continua na situação “a vazio”, sem perdas no enrolamento induzido.
Entretanto, para mantê-la sob a rotação n, é necessário, agora, algo a mais do que
a potência correspondente às perdas mecânicas: esse algo a mais corresponde
às perdas no ferro a vazio, devidas aos efeitos da histerese e das correntes de
Foucault. Essas novas perdas, com as perdas mecânicas, representam o que se
entende por perdas rotacionais a vazio.

Impondo-se valores convenientes para a rotação n e para a excitação para


o fluxo por polo ϕ, a potência requerida para acionar a máquina a vazio pode
ser, com pequena diferença, a medida direta das perdas rotacionais (mecânica e
no ferro) que ocorrem na máquina em trabalho normal, ou seja, em carga. Essa
pequena diferença é considerada como parte das perdas suplementares.

Para reproduzir, na máquina em vazio, e, em particular, em um ensaio a


vazio, as perdas rotacionais que nela ocorrem em um trabalho normal, devemos
reproduzir, nesse ensaio a vazio, as mesmas condições de frequência e de indu-
ções observadas no trabalho normal.

Obviamente, não é possível obter a mesma distribuição de induções, ora


na máquina em carga com reação do induzido, ora na máquina a vazio sem a rea-
ção do induzido. Contudo, podemos impor a vazio, praticamente, o mesmo fluxo
que nela existe, ao operar com carga normal. Isso pode ser feito, estabelecendo,
no ensaio a vazio e sob frequência nominal, uma f.e.m. induzida igual àquela que
existe com a carga normal.

78
TÓPICO 1 — PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

O ensaio a vazio realizado com máquina mecanicamente acionada, ou


seja, operando como gerador a vazio, apresenta uma vantagem: a potência me-
cânica requerida para acioná-la nos fornece, diretamente, as perdas rotacionais
procuradas. Entretanto, essa modalidade de ensaio a vazio acusa um duplo in-
conveniente: exige motor auxiliar para acionar o gerador e a medida da potência
mecânica que esse motor fornece ao gerador. Para que essa potência possa ser
bem determinada, torna-se praticamente indispensável que o método utilizado
funcione como eletrodinamômetro, possuindo carcaça basculante. Pode-se, tam-
bém, utilizar métodos mais sofisticados, que se servem de dispositivos que ope-
ram com base na piezoeletricidade e na magnetoestrição.

Diante desses inconvenientes, é de praxe se realizarem ensaios a vazio com


a máquina eletricamente acionada, ou seja, funcionando como um motor a vazio.

Nesses casos, e uma vez ajustados a frequência e o fluxo por polo, a po-
tência elétrica absorvida representa as perdas rotacionais procuradas, a menos de
pequenas perdas Joule, provenientes dessa condição de funcionamento a vazio.

9 RENDIMENTO
A definição de rendimento é dada pela Equação (31):

(31)

Depende das características construtivas da máquina, mas, também, das


condições de trabalho que são impostas (potências, tensões, fatores de potência
etc.). Daí a necessidade de se especificarem as condições de trabalho, quando
se estipula que o rendimento de certa máquina assume um determinado valor.
Salvo expressa a observação em contrário, o rendimento declarado para determi-
nada máquina elétrica deve corresponder, sempre, àquele que vigora para essa
máquina, trabalhando a plena carga, com corrente e potência nominais, sob ten-
são e rotação nominais. Nos casos de máquinas síncronas e de transformadores,
o fator de potência deve ser especificado.

Considerando-se que, em regime permanente, temos que a potência absorvida


é igual ao somatório da potência útil e das perdas, conforme mostra a Equação (32):

(32)

Então, o rendimento também pode ser expresso como mostra a Equação (33):

(33)

79
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

As Equações (31) e (33) sugerem duas maneiras diferentes para determi-


narmos o rendimento.

O primeiro método, que é o método direto, apresenta alguns inconvenien-


tes, como exigir que se coloque a máquina à plena carga, medidas de potências me-
cânicas; e transferir, aos valores calculados para o rendimento, de modo integral,
os erros cometidos nas medidas das potências de entrada e de saída. No que diz
respeito à necessidade de colocar a máquina em plena carga, além dos consumos
de energia para os ensaios de máquinas de grande potência, pode ocorrer a impos-
sibilidade de alimentação dos ensaios por insuficiência de potência instalada.

O segundo método, ou seja, o método indireto, além de dispensar as medidas


mecânicas, exige potências instaladas da ordem de apenas 10% das potências das
máquinas a serem ensaiadas, pois as potências a serem medidas são, tão somente,
aquelas correspondentes às perdas das máquinas, ora a vazio, ora em ensaios de cur-
to circuito, sob correntes nominais. Como essas perdas são bem menores do que as
potências nominais das máquinas, os erros cometidos nas medições não incidem,
com a mesma ordem de grandeza, sobre os valores calculados para o rendimento.

O rendimento também depende do custo da conversão eletromecânica de


energia, pois, quanto maior o rendimento, menores as perdas e menos dispen-
diosa a conversão. Entretanto, esse fator não gera a afirmação de que a conversão
mais econômica é, obrigatoriamente, com o conversor de maior rendimento.

De modo geral, a melhoria do rendimento de um conversor, pela modifica-


ção do projeto, ocasiona construção mais onerosa (melhores materiais, maiores quan-
tidades de materiais, projetos mais elaborados etc.), e, consequentemente, aumento
do preço de compra do conversor, que deve ser computado como custo inicial da
conversão. O custo final depende do custo inicial, do rendimento da máquina, dos
preços de energia a ser convertida, dos custos de instalação e de manutenção etc.

9.1 RENDIMENTO CONVENCIONAL


O rendimento depende das características construtivas da máquina e das
condições de trabalho que são impostas. Contudo, os valores numéricos estipula-
dos para os rendimentos das máquinas dependem dos métodos adotados para a
fixação e das maneiras como se determinam as respectivas perdas.

É verdade que a adoção de diferentes métodos, desde que suficientemen-


te coerentes, não nos deve conduzir a valores apreciavelmente discrepantes para
o rendimento do mesmo dispositivo, para as mesmas condições de trabalho. Com
o objetivo de reduzir perdas, e para simplificar os métodos para a determinação
do rendimento, é costume ser adotada uma padronização para os métodos.

O rendimento convencional é o rendimento obtido por um dos métodos


padronizados. Para o caso de transformadores, é determinado por método indi-
reto, através das medidas das perdas correspondentes à condição de plena carga.
80
TÓPICO 1 — PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

Tais perdas são determinadas, parceladamente, em dois ensaios. Em um ensaio a


vazio, sob frequência nominal e tensão aplicada igual à f,.e.m. induzida à plena
carga, obtêm-se as perdas no ferro. Em um ensaio de curto-circuito sob frequên-
cia nominal e tensão aplicada reduzida ao valor suficiente para impor a corrente
nominal no Trafo, obtêm-se as perdas no cobre, inclusive, as perdas suplemen-
tares em carga. Essas perdas devem ser corrigidas, a fim de se obterem valores
correspondentes à temperatura de 75 ºC.

10 LAMINAÇÃO
A espessura das lâminas do núcleo do transformador ou das máquinas
elétricas deve ser reduzida ao máximo, para que sejam reduzidas as perdas, já
que são inversamente proporcionais à espessura.

Numa determinada camada de isolação, o fator de empilhamento, em inglês,


space factor, decresce com a redução da espessura das lâminas. A tendência dos fabri-
cantes é a de utilizar chapas com baixas espessuras, e com a melhora das tecnologias
de produção de aço-silício, as chapas vão ficando mais planas, sem ondulações, com
a redução da camada de verniz de isolação. Atualmente, são empregadas chapas com
espessuras a partir de 0,18 [mm] até 0,50 [mm], laminadas a frio ou a quente, com ou
sem tratamento por irradiação a laser. O tratamento por irradiação a laser diminui o
tamanho dos cristais, com redução de perdas, em torno de 20%. A laminação a frio
melhora as propriedades magnéticas para indução na direção de laminação e piora
em outras direções, particularmente, na direção transversal de laminação. O aço la-
minado a frio apresenta elevada anisotropia, em relação ao aço laminado a quente.

Seguem os valores das perdas específicas para aços laminados a quente e a frio.

TABELA 2 – PERDAS ESPECÍFICAS MÁXIMAS DE AÇO PARA NÚCLEOS LAMINADOS A FRIO E


LAMINADOS A QUENTE

FONTE: A autora

Agora, trabalharemos com alguns exemplos para a fixação dos conteúdos


ministrados e a aprendizagem dos cálculos, certo?!

12º Exemplo: O núcleo magnético a seguir será feito com chapas de aço
elétrico de grão orientado M-5. O enrolamento é excitado com uma tensão de 60
Hz, produzindo, no aço, uma densidade de fluxo de B = 1,5.sen(ωt) [T], em que
ω = 2.π.60 ≈ 377 [rad/s]. O aço ocupa 0,94 da área da seção reta. A densidade de
massa do aço é de 7,65 g/cm3. Encontre:

81
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

(a) a tensão aplicada;


(b) a corrente de pico;
(c) a corrente eficaz de excitação;
(d) as perdas no núcleo.

FIGURA 2 – CIRCUITO DE AÇO LAMINADO COM UM ENROLAMENTO NA PERNA ESQUERDA

FONTE: Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 28)

Solução: (a) A tensão é dada por:

(b) Observe a intensidade de campo magnético correspondente a Bmáx = 1,5 [T],


que é Hmáx = 36 [Ae/m].

GRÁFICO 1 – CURVA DE MAGNETIZAÇÃO CC PARA O AÇO ELÉTRICO DE GRÃO ORIENTADO


M-5 DE 0,012 POLEGADAS DE ESPESSURA (ARMCO INC.)

FONTE: Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 29)


82
TÓPICO 1 — PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

Observe que, como esperado, a permeabilidade relativa de 33 k para um fluxo de


1,5 T é inferior ao valor de µr = 72300, e correspondente ao valor de 1,0 T, mesmo assim,
significativamente maior do que o valor de 2900, correspondente a um fluo de 1,8 T:

A corrente de pico é de:

(c) A corrente eficaz é obtida do valor de Sa da Figura m para Bmáx = 1,5 [T]:

O volume do núcleo e a massa são:

Os volt-ampères são:

A corrente total é de:

(d) A densidade de perdas no núcleo é obtida:

As perdas totais no núcleo são de:

83
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A conversão de energia elétrica é acompanhada de perdas, que dependem da


construção da máquina e do regime de trabalho.

• As perdas em máquinas elétricas são provenientes de diversas causas, como


aquecimento, rotação, enrolamentos, tipo de material utilizado no núcleo da
máquina (cobre e ferro), através do atrito dos mancais e da ventilação.

• Há vários tipos de perdas em núcleos magnéticos de máquinas elétricas: per-


das no cobre, perdas no ferro, perdas mecânicas, perdas suplementares etc.

• As perdas por efeito Joule no cobre ocorrem em forma de calor, devido à re-
sistência ôhmica dos enrolamentos. Essas perdas são conhecidas como perdas
no cobre e ocorrem pelo efeito da histerese magnética e das correntes parasi-
tas (ou correntes de Foucault).

• As perdas no cobre são proporcionais ao quadrado das correntes elétricas.

• As perdas no ferro ocorrem devido às correntes parasitas formadas no núcleo


magnético. Essas perdas são determinadas pelo fluxo estabelecido no circuito
magnético. Dependem das características construtivas.

• As perdas mecânicas ocorrem nos enrolamentos e nas escovas. A perda por


atrito ocorre no rotor do motor de indução. Essas perdas são zero no início e,
com o aumento da velocidade, aumentam. No motor de indução trifásico, a
velocidade, geralmente, permanece constante. Portanto, essas perdas quase
permanecem constantes.

• As perdas suplementares se originam na distribuição não uniforme de cor-


rente no cobre e nas perdas adicionais no núcleo, produzidas no ferro, pela
distorção do fluxo magnético, devido à corrente de carga.

• As perdas suplementares são difíceis de determinar com exatidão.

• Em máquinas de corrente contínua, assume-se que elas representam 1,0% da saída.

• Em máquinas síncronas e de indução, podem ser obtidas por ensaios


padronizados por normas técnicas.

84
• Nas máquinas de indução, podemos dividir as perdas adicionais em perdas
suplementares a vazio e perdas suplementares em carga.

• O rendimento em máquinas elétricas é dado pelo quociente entre a potência útil e a


potência total. A potência não útil para o sistema é chamada de potência dissipada.

85
AUTOATIVIDADE

1 A descoberta da eletricidade foi um grande marco para o desenvolvimento


da humanidade, do ponto de vista tecnológico, e trouxe várias modificações
na rotina diária das pessoas: lâmpadas, rádios, televisores, eletrodomésti-
cos etc. E dentre os equipamentos elétricos, encontram-se os mais diversos
tipos de máquinas elétricas, desde transformadores e motores de indução
de vários megawatts até os pequenos motores utilizados em brinquedos
movidos à bateria. Com base no exposto, responda o que são perdas mag-
néticas em núcleos ferromagnéticos?

2 Vários fatores são responsáveis pela dissipação de energia no ferro, como por
exemplo, a energia de alinhamento dos domínios magnéticos, a energia gerada
por efeito Joule nas lâminas provocada pelas correntes induzidas, a falha ou baixa
isolação entre lâminas aumentando correntes induzidas no núcleo e as rebarbas.
Com base nesse contexto, quais são os tipos de perdas que ocorrem nos
núcleos ferromagnéticos?

3 Existem vários tipos de perdas nos transformadores como perdas no ferro,


perdas no cobre, perdas por histerese, perdas por correntes parasitas, perda
de dispersão e perdas dielétricas. Com base nesse assunto, responda o que
são as perdas por histerese?

4 As correntes de Foucault são também conhecidas por correntes parasitas,


ou ainda, por correntes eddy. Elas são correntes elétricas induzidas dentro
de um material condutor, sujeito a um campo magnético variável devido à
lei de indução de Faraday. Com base no exposto, o que são as perdas por
correntes parasitas ou correntes de Foucault?

5 As perdas magnéticas do núcleo das máquinas, também chamadas de perdas em


vazio ou perdas de magnetização compreendem as perdas no ferro e perdas no co-
bre (enrolamentos) devido à corrente de magnetização e são dissipadas na forma
de calor. Com base nesse contexto, responda como se calculam as perdas Joule?

6 A resistência de um dos enrolamentos de determinada máquina elétrica,


medida com corrente contínua e em temperatura ambiente de 22ºC, apre-
senta-se com valor de 0,105 [Ω]. Quando a máquina está em funcionamento,
a resistência do mesmo enrolamento é obtida pelo mesmo processo, em
medidas sucessivas, até se estabilizar o valor de 0,131 [Ω]. Determine a tem-
peratura média final do enrolamento, ou seja, a temperatura de regime.

7 As perdas no ferro de um gerador de corrente contínua, de excitação in-


dependente, sob rotação e excitação normais, são de 10,5 [kW]. Mantida a
mesma excitação, as perdas no ferro caem para 4 [kW] quando a rotação é
reduzida a 50% do valor normal. Determine os valores das perdas por his-
terese e perdas Foucault, em separado, para as duas condições de trabalho.
86
8 Calcule a potência mecânica por atrito nos contatos escova-comutador de
máquina cc com 8 porta-escovas, 6 escovas por porta-escova, cada escova
com 1,9 x 3,1 [cm] = 5,89 x 10-4 [m2]. A velocidade periférica do comutador é
de 20 [m/s], e a pressão das escovas sobre o comutador é de 100 [g/cm2], ou
seja, 9,807 [N/m2]. O coeficiente de atrito entre escova e comutador é de 0,2.

9 Um transformador trifásico de 100 kVA, 60 Hz, submetido a ensaios em


vazio e de curto-circuito, absorve as seguintes potências:

(a) no ensaio a vazio, sob tensão e frequências nominais: po = 0,476 [kW];


(b) no ensaio de curto-circuito, sob corrente e frequências nominais: pcc = 1,53 [kW].

Calcule os rendimentos para as condições de plena carga e de 50% da plena


carga, sob o mesmo fator de potência de 0,8 indutivo.

10 A resistência do enrolamento de campo de um motor cc, de excitação em de-


rivação, para linha de 200 V, correspondente à temperatura de 75 ºC, é de 150
Ω. A resistência do enrolamento induzido, excluídos os contatos escova-comu-
tador, é de 0,100 Ω para a mesma temperatura. Quando operando em vazio e
alimentado por linha de 200 V, o induzido absorve 4 A. Calcule a potência útil
e o rendimento desse motor, quando em carga, com 100 A na armadura.

87
88
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES

1 INTRODUÇÃO

Os dispositivos eletromecânicos que operam com campos magnéticos usam,


frequentemente, materiais ferromagnéticos para guiar e concentrar esses campos.
Como a permeabilidade magnética dos materiais ferromagnéticos pode ser elevada
(até dezenas de milhares de vezes em relação a do meio ambiente), a maior parte do
fluxo magnético está confinada a caminhos muito bem definidos e determinados
pela geometria do material magnético. Além disso, muitas vezes, as frequências de
interesse costumam ser baixas o bastante para permitir que os campos magnéticos
sejam considerados quase estáticos. Assim, podem ser determinados, simplesmen-
te, a partir do valor conhecido da f.m.m. líquida que atua na estrutura magnética.

Nas estruturas, como resultado, a solução dos campos magnéticos pode ser
obtida de forma imediata, usando-se as técnicas de análise dos circuitos magnéticos.
Essas técnicas podem ser utilizadas para converter a solução complexa de um campo
magnético tridimensional no que é essencialmente um problema unidimensional.

Como em todas as soluções da engenharia, experiência e bom senso são neces-


sários, mas a técnica fornece resultados úteis em diversas situações de interesse prático.

Certos materiais magnéticos, em geral, conhecidos como duros ou perma-


nentes, os ímãs, são caracterizados por valores elevados de coercividade e de magne-
tização remanescente. Esses materiais produzem um fluxo magnético significativo,
mesmo em circuitos magnéticos com entreferros de ar. Por meio de um projeto ade-
quado, podem ser feitos para operar, de forma estável, em situações em que os su-
jeitam a uma faixa ampla de variação de temperatura e de valores de f.m.m. Os ímãs
permanentes encontram aplicação em diversos dispositivos de pequeno porte, como
alto-falantes, motores CA e CC, microfones e instrumentos analógicos de medida.

2 CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES


Há dois tipos de ímãs: o ímã natural, que é encontrado na natureza, e o ímã ar-
tificial, que é aquele que resulta de fabricação, mediante a utilização de materiais que
possuem propriedades magnéticas, em um processo denominado de imantação.

O ímã natural mais comum é a magnetita, que é uma pedra vulcânica


composta por óxido de ferro. Observe os vários tipos de magnetita:

89
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

FIGURA 3 – ÍMÃS NATURAIS

FONTE: USP (2021, s.p.)

Os ímãs artificiais mais utilizados são aqueles constituídos de bário,


carbonato de estrôncio e óxido de ferro. O ímã de neodímio é o ímã mais poderoso
que existe no mundo. Seguem alguns ímãs artificiais:

FIGURA 4 – ÍMÃS ARTIFICIAIS DE NEODÍMIO

FONTE: KOIMÃS (2021, s.p.)

O ímã artificial, por sua vez, pode ser:

• Permanente: consegue manter o magnetismo mediante o uso de materiais


ferromagnéticos. O magnetismo pode ser perdido apenas de forma temporá-
ria, em decorrência de forte temperatura ou descarga elétrica.
• Temporal: o magnetismo adquirido através de materiais paramagnéticos é
provisório.
• Eletroímã: é um aparelho capaz de gerar magnetismo mediante a presença,
geralmente, de ferro.

A Figura 5 (a) mostrará o segundo quadrante de um laço de histerese


para o Alnico 5, um material magnético permanente (ímã) comum, ao passo que
a Figura 5 (b) lançará o segundo quadrante de um laço de histerese para o aço do
tipo M-5.9. Observe que as curvas têm naturezas semelhantes. No entanto, o laço
de histerese do Alnico 5 é caracterizado por um alto valor de magnetização rema-
nescente ou residual Br (aproximadamente, 1,22 T), assim como um valor elevado
de coercividade, Hc (aproximadamente, −49 kA/m).

A magnetização remanescente Br corresponde à densidade de fluxo que per-


maneceria atuando em uma seção do material se a f.m.m. aplicada (e, portanto,
a intensidade de campo magnético H) fosse reduzida a zero. No entanto, embora
o aço elétrico de grão orientado M-5 tenha, também, um valor elevado de mag-
netização remanescente (aproximadamente, 1,4 T), há um valor muito menor de
coercividade (aproximadamente, −6 A/m, menor por um fator superior a 7500). A

90
TÓPICO 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES

coercividade Hc corresponde à intensidade de campo magnético (proporcional à


f.m.m.) requerida para reduzir a densidade de fluxo do material a zero. Como ve-
remos, quanto menor for a coercividade de um determinado material magnético,
mais fácil será desmagnetizá-lo.

O significado da magnetização remanescente é que ela pode produzir um


fluxo magnético em um circuito magnético na ausência de uma excitação externa,
como correntes nos enrolamentos. Esse é um fenômeno conhecido de qualquer
um que já afixou bilhetes em um refrigerador, usando ímãs, muito usados em
dispositivos, como alto-falantes e motores de ímãs permanentes.

FIGURA 5 – (A) SEGUNDO QUADRANTE DE UM LAÇO DE HISTERESE PARA O ALNICO 5; (B)


SEGUNDO QUADRANTE DE UM LAÇO DE HISTERESE DO AÇO ELÉTRICO DE GRÃO ORIENTADO
M-5; (C) LAÇO DE HISTERESE AMPLIADO DO M-5 PARA VALORES PEQUENOS DE B (ARMCO INC.)

FONTE: Fitzgerald, Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 30)


91
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

A partir do exposto, poderia parecer que o Alnico 5 e o aço elétrico de


grão orientado M-5 seriam úteis na produção de fluxo em circuitos magnéticos
desprovidos de excitação, já que ambos têm valores altos de magnetização remanes-
cente. Esse não é o caso, como se pode ilustrar por meio de um exemplo.

13º Exemplo: Como mostrado a seguir, um circuito magnético é constituído


por um núcleo de alta permeabilidade (μ → ∞), um entreferro de comprimento g = 0,2
cm, e uma seção de material magnético de comprimento lm = 1,0 cm. A área da seção
reta do núcleo e do entreferro é igual a Am = Ag = 4 cm2. Calcule a densidade de fluxo
Bg no entreferro, quando o material magnético é (a) Alnico 5 e (b) aço elétrico M-5.

FIGURA 6 – CIRCUITO COM ÍMÃ PERMANENTE

FONTE: Fitzgerald, Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 31)

Solução: lembrando que: .

(a) Como se assume que a permeabilidade do núcleo é infinita, então, a intensidade


H no núcleo é desprezível (senão, uma H infinita produziria uma B infinita). Ve-
rificando que a f.m.m. que atua no circuito magnético é zero, podemos calcular:

Ainda:

Hg e Hm são as intensidades de campo magnético no entreferro e no mate-


rial magnético, respectivamente.

Como o fluxo deve ser contínuo ao longo do circuito magnético, temos que:

92
TÓPICO 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES

Ou:

Bg e Bm são as densidades de fluxo magnético no entreferro e no material


magnético.

Essas equações podem ser resolvidas, fornecendo uma relação linear de


Bm em termos de Hm:

Para obter Bm , verificamos que, para o Alnico5, Bm e Hm estão relacionados,


também, pela curva da Figura 5(a). Assim, essa relação linear, também conhecida
como reta de carga, pode ser plotada, como na Figura 5 (a), e, a solução, obtida
graficamente, resultando em:

(b) A solução para o aço elétrico M-5 é feita exatamente na parte (a). A reta de carga
é a mesma da parte (a), porque ela é determinada apenas pela permeabilidade
do entreferro e pelas geometrias do ímã e do entreferro. Com isso, temos que:

que é muito inferior ao valor obtido com o Alnico 5, sendo, praticamente,


desprezível.

14º Exemplo: O circuito magnético da Figura 6 anterior é modificado, de


modo que a área do entreferro seja reduzida a Ag = 2,0 cm2, como mostrado a se-
guir. Encontre o volume mínimo de ímã necessário para produzir uma densidade
de fluxo de 0,8 T no entreferro.

93
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

FIGURA 7 – CIRCUITO COM ÍMÃ PERMANENTE

FONTE: Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 30)

Solução: Você já deve ter notado que uma curva de magnetização B-H
constante é uma hipérbole. Um conjunto de tais hipérboles para valores diferentes
do produto B-H está plotado na Figura 5 do exemplo anterior. A partir dessas
curvas, vemos que o produto energético máximo para o Alnico 5 é 40 kJ/m3, e
que isso ocorre no ponto B = 1,0 [T] e H = - 40 [kA/m]. O menor volume de ímã é
obtido com o ímã operando nesse ponto.

Portanto, o volume mínimo de ímã é igual a 1,6 [cm2] x 3,18 [cm] = 5,09 [cm3].

15º Exemplo: Calcule o raio R do comprimento médio da estrutura anali-


sada a seguir, formada por um ímã permanente, cuja curva de desmagnetização
é dada no Gráfico 2, para que seja estabelecido um fluxo de 0,236×10-4 [Wb] no
entreferro. Despreze o espraiamento do campo no entreferro.

94
TÓPICO 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES

FIGURA 8 – TOROIDE CIRCULAR

FONTE: A autora

GRÁFICO 2 – CURVA DE MAGNETIZAÇÃO

FONTE: UNESP (2021, s.p.)

Solução: Pelo circuito magnético, sem f.m.m., temos que:

Para a determinação de Hi, utilizaremos o Gráfico n:

Pela equação do circuito magnético:

95
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

16º Exemplo (UNESP, 2021): A estrutura da figura a seguir será construída


de forma tal que o campo magnético terá um comportamento praticamente
radial no entreferro. Calcule o comprimento d que deve ter um ímã permanente
construído com Alnico aglutinado comercial, de forma que a indução magnética
B, no entreferro, seja de 0,2 T. Dados: entreferro lg = 1 mm, raio médio R = 2 cm.
Despreze a relutância do ferro e o espraiamento das linhas de campo magnético.

FIGURA 9 – CIRCUITO MAGNÉTICO COM ÍMÃ PERMANENTE E ENTREFERRO

FONTE: A autora

Solução: Como o fluxo magnético é o mesmo em toda a estrutura, fazemos:

O percurso pelo circuito magnético permite estabelecer que:

Pela geometria do entreferro:

Como 1 [T] = 10000 gauss [G]:

Pela curva de desmagnetização do Alnico, no sistema CGS:

Como 1 [A/m] corresponde a 4π x 10-3 Oe(oersted):

96
TÓPICO 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES

Pela análise do circuito magnético, o comprimento do ímã será:

Agora, leia o resumo proposto e faça as questões de autoatividade!

97
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os ímãs naturais são encontrados na natureza, sendo, a magnetita, um exemplo.

• A magnetita é uma pedra vulcânica composta por óxido de ferro.

• Os ímãs permanentes mantêm as propriedades magnéticas por um longo pe-


ríodo de tempo, enquanto os ímãs temporários perdem o magnetismo mais
rapidamente.

• Os circuitos com ímãs permanentes são muito importantes na conversão ele-


tromecânica de energia e na análise de motores, transformadores e outras
máquinas elétricas.

• As aplicações dos ímãs permanentes se dão nas mais variadas áreas, como
em discos rígidos de computadores e de notebooks, em caixas eletrônicos, em
cartões de crédito, em alto-falantes e em microfones.

• Um eletroímã é aquele criado usando eletricidade. A força pode ser alterada


com base na corrente elétrica, permitida a movimentação.

• O fato de ter um núcleo (barra de ferro) no interior da bobina gera um campo


magnético muito intenso, e devido a essa propriedade, os eletroímãs têm mui-
tas aplicações, dentre elas, podemos destacar: nos motores, nas campainhas,
nos telefones, na indústria de construção naval e no guindaste eletromagnético.

98
AUTOATIVIDADE

1 Os ímãs são pedaços de minérios de ferro (magnetita) capazes de atrair


alguns tipos de objetos. Esses pedaços de magnetita são chamados de ímãs.
Com base nesse assunto, responda o que são ímãs permanentes?

2 Um ímã permanente é um material que pode proporcionar um fluxo magnético


quando magnetizado com um campo aplicado e sua capacidade de magnetismo é
caracterizada por dois parâmetros, que são, a remanência e a coercitividade. Com
base nesse contexto, responda quais são as aplicações dos ímãs permanentes?

3 Os ímãs permanentes podem ser fabricados com materiais ferromagné-


ticos denominados ferros duros. Os ferros duros são aqueles que, depois
de magnetizados, mantêm as suas propriedades magnéticas até que sejam
desmagnetizados. Com base nesse assunto, responda quais são os tipos de
ímãs permanentes existentes comercialmente?

4 A palavra histerese deriva de um termo grego que significa retardo. Histe-


rese é a propriedade de um material em manter suas propriedades mesmo
sem haver continuidade dos estímulos que as provocaram. Com base nesse
contexto, explique o que é o produto B-H.

5 “A história dos eletroímãs tem início no século XIX, quando o físico dina-
marquês Hans Christian Orsted descobriu que os campos magnéticos po-
diam ser gerados através da passagem de corrente. Entretanto, o primeiro
eletroímã só foi inventado em 1824, pelo cientista inglês William Sturgeon,
que desenvolveu um eletroímã em formato de ferradura, com fio de cobre
não isolado. A fim de isolar o ferro do eletroímã do fio enrolado ao seu re-
dor, Sturgeon decidiu envernizar o seu eletroímã”.
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3xubLmj. Acesso em: 13 maio 2021.

Com base nesse assunto, responda qual a diferença entre um eletroímã e um


imã permanente?

6 O circuito magnético da Figura 6 é modificado, de modo que a área do


entreferro seja reduzida a Ag = 1,8 cm2. Encontre o volume mínimo de ímã
necessário para produzir uma densidade de fluxo de 0,6 T no entreferro.
(Sugestão: Vide 14º Exemplo).

7 O circuito magnético paralelo de aço fundido da figura a seguir tem bobina


de 500 espiras no braço central, onde a área da secção reta é duas vezes maior
do que nas laterais. As dimensões são: ℓe = 1 [mm], S2 = S3 = 150 [mm2] , ℓ2 = 110
[mm] e ℓ3 = 109 [mm]. Calcule a corrente da bobina necessária para gerar um
fluxo no entreferro de 125 [µWb]. Suponha que Se é 17% maior do que S3.

99
CIRCUITO MAGNÉTICO EM PARALELO COM BOBINA NO BRAÇO CENTRAL

FONTE: Edminister (1981, p. 181)

8 O núcleo do circuito paralelo de ferro fundido da figura a seguir tem uma


bobina com 500 espiras e uma seção reta uniforme de 1,5 cm2. Os comprimentos
médios são: ℓ1 = ℓ3 = 10 [cm], ℓ2 = 4 [cm]. Calcule a corrente da bobina necessária
para produzir uma densidade de fluxo de 0,25 [T] no braço 3.

CIRCUITO MAGNÉTICO EM PARALELO COM UMA BOBINA

FONTE: Edminister (1981, p. 181)

9 Duas bobinas idênticas de 500 espiras possuem correntes iguais e estão enrola-
das, como mostrará a figura a seguir. O núcleo de aço fundido tem um fluxo, no
braço 3, de 120 [µWb]. Calcule a corrente dos enrolamentos e o fluxo no braço 1.

CIRCUITO MAGNÉTICO EM PARALELO COM DUAS BOBINAS

FONTE: Edminister (1981, p. 181)

100
10 (UNESP, 2021) Calcule o fluxo magnético no entreferro do ímã permanente de
secção transversal 30 cm2, conforme o esquema da figura a seguir. A curva de
desmagnetização desse ímã será dada no gráfico a seguir, podendo ser conside-
rada como um quadrante de círculo.

CIRCUITO COM ÍMÃ PERMANENTE E ENTREFERRO

FONTE: UNESP (2021, s.p.)

GRÁFICO – CURVA DE DESMAGNETIZAÇÃO

FONTE: UNESP (2021, s.p.)

11 Duas bobinas idênticas se acham enroladas, como mostrará a figura


a seguir. O núcleo de aço-silício tem seção reta uniforme de 6 cm2. Os
comprimentos médios são de ℓ1 = ℓ3 = 14 [cm] e ℓ2 = 4 [cm].Calcule as f.m.m.
que atuam nas bobinas, supondo que o fluxo no braço 1 seja de 0,7 [mWb].

CIRCUITO MAGNÉTICO COM DUAS BOBINAS

FONTE: Edminister (1981, p. 181)

101
102
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

1 INTRODUÇÃO
O sistema de cálculo, denominado de sistema p.u., ou sistema por unidades,
pode ser utilizado em qualquer ramo das ciências e das engenharias. Na Engenharia
Elétrica, utilizamos o sistema p.u. para representar os cálculos e as máquinas elétri-
cas, como geradores, transformadores e motores e, também, para auxiliar no cálculo
dos sistemas de energia elétrica. As vantagens da utilização do sistema em p.u. são:

• simplificar a modelagem matemática;


• simplificar a resolução de problemas de grandes sistemas ou plantas industriais;
• auxiliar na comparação de resultados, devido ao significado relativo propiciado;
• auxiliar no cálculo de correntes de curto-circuito.

Os valores em p.u. são, frequentemente, encontrados em especificações e


em dados de placas de equipamentos elétricos, como geradores, transformado-
res, motores etc., em gráficos e, também, são utilizados em programas computa-
cionais para cálculos e simulações de sistemas elétricos de potência.

Chapman (2013, p. 73) afirma que:


O projeto e o estudo das máquinas e sistemas de potência elétricos
estão entre as áreas mais antigas da engenharia elétrica. O estudo se
iniciou no período final do século XIX. Naquela época, as unidades
elétricas estavam sendo padronizadas internacionalmente, e essas
unidades foram universalmente adotadas pelos engenheiros. Volts,
ampères, ohms, watts e unidades similares, que são parte do sistema
métrico de unidades, são utilizados, há muito tempo, para descrever
as grandezas elétricas nas máquinas.

Em alguns países, como EUA e UK, no estudo de máquinas, as grandezas


mecânicas são medidas desde séculos passados, com o sistema inglês de unida-
des, que utiliza as seguintes unidades: polegadas, pés, libras etc. Segue um com-
parativo entre os sistemas de Unidade Inglesa e o SI.

103
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

TABELA 3 – COMPARAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE UNIDADES

FONTE: USP (2021, s.p.)

Observe uma comparação entre o Sistema Internacional (SI), o Sistema


Gaussiano (CGS) e o sistema de unidades inglesas.

TABELA 4 – COMPARAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE UNIDADES SI, CGS E INGLÊS

FONTE: USP (2021, s.p.)

Em 1954, um sistema abrangente de unidades, baseado no sistema métri-


co, chamado de Sistema Internacional (SI), foi adotado como padrão internacional
(CHAPMAN, 2013). Esse sistema de unidades foi adotado em quase todo o mun-
do, menos nos Estados Unidos. As sociedades profissionais, como o Institute of
Electrical and Electronics Engineers (IEEE), já padronizaram unidades do sistema
métrico para serem usadas em todos os tipos de atividade.

104
TÓPICO 3 — SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

2 SISTEMA POR UNIDADE (P.U.)


O sistema por unidade, também conhecido como sistema p.u., é definido por
em. O objetivo é desse sistema é expressar as grandezas elétricas de forma padronizada
e uniformizada. Também apresenta melhor sensibilidade entre as grandezas.

O sistema "por unidade", ou, como é conhecido, o sistema p.u., consiste


na definição de valores de base para as grandezas tensão, corrente, potência etc.,
seguidas da substituição dos valores das variáveis e constantes, expressas no
Sistema Internacional de Unidades, pelas relações com os valores de base pré-
definidos. Para uma grandeza G, o valor em p.u., em uma base Gb, obtém-se,
então, através da Equação (34):

(34)

17º Exemplo: Em uma base de corrente Ib = 100 A, a corrente I = 50 A terá


o valor de:

Os cálculos serão realizados no sistema p.u., e os resultados finais, nova-


mente, convertidos para o S.I., através de G=Gpu.Gb, ou seja, multiplicando o
valor em p.u. pelo valor da base.

• Bases

Dadas as relações existentes entre as unidades, só podem ser definidas


duas bases independentes, a partir das quais se calculam todas as outras. Em um
sistema de energia, definem-se, vulgarmente, como bases independentes, a po-
tência aparente total Sb para o sistema e a tensão composta Vb em um barramen-
to determinado. A partir desses valores, definem-se, trivialmente, as bases de po-
tência por fase (Sb/3) e de tensão simples (Vb/3), além das bases para as potências
ativa e reativa, numericamente iguais à base de potência aparente. Por sua vez, as
bases de impedância e de corrente se calculam através das Equações (35) e (36):

(35)

(36)

Em uma rede com vários níveis de tensão, cujas zonas são definidas pelos
transformadores existentes, há uma base de tensão para cada zona, sendo convenien-
te que as relações entre as bases de zonas adjacentes sejam iguais às relações de trans-

105
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

formação dos transformadores que as ligam (nessa hipótese, os transformadores têm,


em p.u., uma relação de transformação 1:1, o que é extremamente cômodo). As bases
de impedância e de corrente são, também, diferentes em cada zona, como é óbvio.

Em uma rede grande e complexa, o passo a passo para a definição das


bases é dado por:

• Definir a base de potência total Sb para todo o sistema.


• Identificar as diferentes zonas de tensão.
• Definir a base de tensão composta Vb1 para uma das zonas de tensão (desig-
nada, arbitrariamente, por zona 1).
• Em cada zona k, ainda sem base definida, que esteja ligada a uma zona com
base Vbi, através de um transformador com razão de transformação Vi/Vk,
definir, como base, a tensão Vbk = (Vk/Vi).Vbi.
• Calcular as bases de impedância e de corrente para cada zona, a partir das
bases de potência e de tensão.

Definidas as bases, todos os dados fornecidos no S.I. devem ser converti-


dos para p.u. No que diz respeito às características das máquinas (transformado-
res, geradores etc.), os dados são fornecidos, geralmente, em valores percentuais,
referidos aos valores nominais de potência e de tensão da máquina. A compatibi-
lização desses valores, com as bases definidas para a rede em estudo, requer uma
mudança de base, cuja mecânica é descrita no ponto seguinte.

• Mudança de base

A alteração das bases definidas para um elemento do sistema ou para


uma rede ocasiona, obviamente, a modificação dos valores em p.u. para as diver-
sas grandezas, com especial ênfase para as impedâncias.

Supondo que se pretende passar das bases, em relação às quais uma certa
impedância tem um valor, para as bases 0puZ{1bV,S, o novo valor da impedância
(em p.u.)}, passará a ser:

Uma aplicação imediata da expressão anterior é a transformação dos va-


lores das características das máquinas eléctricas, habitualmente, dados, em per-
centagem dos valores nominais da máquina, para valores em p.u., nas bases do
sistema. Os dois exemplos seguintes ilustram essa aplicação.

18º Exemplo: A reatância transitória de um alternador de 50 MVA, 10 kV


é x'=12%. As bases da rede são, na zona do alternador, Sb=100 MVA e Vb=11 kV.
Usando a expressão de mudança de base, o valor da reatância em p.u., nas bases
da rede, é dado por:

106
TÓPICO 3 — SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

No caso de existirem vários transformadores entre duas determinadas zo-


nas, escolha um qualquer deles.

19º Exemplo: A reatância de fugas (ou tensão de curto-circuito, Vcc) de


um transformador de 30 MVA, 60/16 kV, é de xf = 8%. A base de potência da rede
é Sb = 50 MVA, e as bases de tensão nas zonas do primário e do secundário são,
respectivamente, Vbp = 56,25 kV e Vbs = 15 kV. Usando a expressão de mudança
de base, o valor da reatância em p.u., nas bases da rede, é dado por:

Aluno: repare que igual valor se obteria se se usassem 60 e 56,25 kV em


vez de 16 e 15 kV. Sugerimos que você faça esse exercício.

• Expressões

A utilização do sistema p.u. traz vantagens significativas para a efetuação


de cálculos em redes com vários níveis de tensão, ao permitir ignorar a presença da
maior parte (ou da totalidade) dos transformadores, por estes ficarem com razão de
transformação, em pu, de 1:1. Adicionalmente, não se distinguem, em p.u., tensões
simples e compostas, nem potências por fase e potências totais. Os cálculos são
realizados usando, habitualmente, as leis de Kirchhoff e as expressões indicadas a
seguir, válidas para grandezas em p.u., dadas em valores complexos:

A facilidade de representação do sistema de energia eléctrica, decorrente


da utilização do sistema p.u., leva à generalização em todos os modelos de análi-
se do SEE (e não apenas nos de trânsito de potências), pelo que, salvo indicação
em contrário, supõe-se, sempre, nesse âmbito, que as grandezas indicadas e as
expressões utilizadas são "por unidade".

Embora os sistemas elétricos de potência em corrente alternada sejam tri-


fásicos, é comum representá-los, utilizando apenas uma das fases e o neutro (ou
terra). Dessa forma, todos os componentes de um sistema elétrico são agrupados
em um diagrama unifilar e representados através de símbolos padronizados. Os
símbolos utilizados nos diagramas unifilares serão mostrados a seguir:

107
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

TABELA 5 – SÍMBOLOS ELÉTRICOS

FONTE: Stevenson (1986, p. 184)

Observe um exemplo de diagrama unifilar para um sistema elétrico simples:

FIGURA 10 – REPRESENTAÇÃO DE UM DIAGRAMA UNIFILAR

FONTE: Stevenson (1986, p. 185)

Da figura anterior, podemos observar que o diagrama unifilar tem:

• três geradores, dois aterrados através de reator e um através de resistência;


• dois transformadores, sendo T1 Y-Y aterrado e T2 Y-Δ com Y aterrado;
• uma linha de transmissão de alta tensão, por exemplo, 230 KV;
• duas cargas conectadas aos barramentos de baixa tensão, por exemplo, 13,8 KV;
• nove disjuntores de potência.

Para efeito de cálculos e de análise em sistemas elétricos de potência, é


conveniente apresentar o diagrama unifilar com os componentes essenciais do
sistema e as respectivas impedâncias ou reatâncias. Para o sistema elétrico repre-
sentado na figura anterior, há o seguinte diagrama unifilar dos componentes e
das impedâncias, ou, simplesmente, o diagrama de impedância, conforme mos-
trará o exposto a seguir:

108
TÓPICO 3 — SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

FIGURA 11 – DIAGRAMA DE IMPEDÂNCIAS

FONTE: Stevenson (1986, p. 186)

Em estudos de curto-circuito, por exemplo, costuma-se desprezar as resis-


tências dos componentes do sistema de potência, o que gera um diagrama unifi-
lar de reatâncias. Além disso, caso o valor das admitâncias ou susceptâncias em
derivação (shunt) de linhas de transmissão ou trafos seja relativamente pequeno,
podem ser desprezadas também.

Para o diagrama unifilar da Figura 10 ou da Figura 11, há o seguinte dia-


grama unifilar de reatância (desprezando todas as resistências e admitâncias
shunt), conforme mostrará a figura a seguir.

FIGURA 12 – DIAGRAMA DE REATÂNCIAS

FONTE: Stevenson (1986, p. 186)

20º Exemplo: Com o intuito de ilustrar a aplicação do sistema p.u., apre-


sentaremos, a seguir, um exemplo completo de pequena dimensão.

FIGURA 13 – DIAGRAMA UNIFILAR

FONTE: Stevenson (1986, p. 190)

Os dados dos equipamentos serão dados a seguir:

109
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

TABELA 6 – DADOS DO DIAGRAMA UNIFILAR

FONTE: Stevenson (1986, p. 190)

Solução: A rede da figura representa um sistema simplificado, no qual se


pretende calcular as tensões nos diversos barramentos, as correntes nas linhas e as
perdas, resultantes da alimentação das cargas indicadas. Supõe-se que a alimentação
da carga C1 seja realizada a 380 V. Definimos, como base de potência, Sb =1000 kVA.
Existem, na rede, três zonas de tensão, definidas pelos transformadores. Fixando-se:

As impedâncias e as correntes de base, nas três zonas, são dadas por:

Podemos, agora, calcular os valores, por unidade, das impedâncias das linhas:

Usando a fórmula de mudança de base, obtemos os valores, em p.u., das


reatâncias das fugas dos transformadores:

Agora, é possível estabelecer o esquema em p.u., no qual os transformado-


res têm razão de transformação unitária, o que permite resolver o circuito como
se tivesse só um nível de tensão.

Fixando a origem das fases no barramento da carga C1, com V1 = 380/400


= 0,95 p.u. V, há (argumentos em graus):

110
TÓPICO 3 — SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

A partir desses valores, é possível calcular, sucessivamente, as tensões e as


correntes até o barramento de AT, e passá-los para o SI:

E
IMPORTANT

A reatância X utilizada depende do instante a ser usado para o cálculo da corrente de


curto. X = X” d = Reatância Subtransitória X = X’ d = Reatância Transitória X = X d = Reatância Síncrona.

Podemos concluir que as vantagens do uso do sistema p.u., na análise e no


cálculo de equipamentos elétricos, são:

• traz uma familiaridade com os valores em p.u. para diferentes tipos de equi-
pamentos, com diferentes tensões e potências nominais, podendo-se, inclusi-
ve, usar, em estudos, valores típicos disponíveis em tabelas (em termos ôhmi-
cos, os valores podem diferir);
• nos computadores, os valores são da mesma ordem de grandeza, gerando
maior precisão;
111
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

• proporciona direta interpretação de resultados em pontos diversos do siste-


ma, como consumos de potência, elevações ou diminuições de tensões, cor-
rentes etc., visto que os valores já são relativos.

No próximo exemplo, acadêmico, você aprenderá a desenhar um diagra-


ma de reatâncias com os valores calculados em p.u.

21º Exemplo: Um gerador trifásico de 300 MVA, 20KV, tem uma reatân-
cia subtransitória de 20%. O gerador alimenta dois motores síncronos através de
uma linha de transmissão de 64 km, tendo transformadores em ambas as extre-
midades, como mostrará o diagrama unifilar a seguir. Os motores, todos de 13,2
kV, representados por dois motores equivalentes. As entradas nominais para os
motores são 200 MVA para M1 e 100 MVA para M2 para ambos os motores x’’ =
20%. O trafo trifásico T1, 350 MVA, 230/20 kV, apresenta reatância de 10%. O trafo
T2 (composto de três trafos monofásicos, cada um de 100 MVA, 127/13,2 kV) apre-
senta potência nominal de 300 MVA, tensões nominais de 220/13,2 kV e reatância
de 10%. A linha de transmissão alcança reatância de 0,5 Ohm/km. Obtenha o dia-
grama de reatâncias com todas as reatâncias assinaladas em p.u., considerando os
valores nominais do gerador como base desse circuito.

FIGURA 14 – DIAGRAMA UNIFILAR

FONTE: Stevenson (1986, p. 197)

Solução: O diagrama de reatâncias correspondente será desenhado a seguir:

3 POTÊNCIAS ATIVA, REATIVA E APARENTE


A potência elétrica pode ser definida como a medida do trabalho realizado
por uma unidade de tempo. Há três tipos de potência:

112
TÓPICO 3 — SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

• Ativa.
• Reativa.
• Aparente.

O triângulo de potências será mostrado a seguir.

FIGURA 15 – TRIÂNGULO DE POTÊNCIAS

FONTE: Chapman (2013, p. 52)

Agora, mostraremos um exemplo de como se resolve um exercício com


triângulo de potências.

22º Exemplo: Segue uma fonte de tensão c.a., que fornece potência a uma car-
ga de impedância Z = 20 ∠ 30°. Calcule a corrente I que circula na carga, o fator de po-
tência da carga e as potências ativa, reativa, aparente e complexa que são fornecidas.

FIGURA 16 – CIRCUITO ELÉTRICO COM CARGA

FONTE: Chapman (2013, p. 535)

Solução: O fator de potência da carga é dado por: ƒ. p. = cos(θ) ƒ. p. =


cos(-30º) ƒ. p. = 0,8666 (adiantado).

Observe que essa carga é capacitiva, de modo que o ângulo de impedân-


cia θ é negativo e a corrente está adiantada em relação à tensão.

A potência ativa fornecida à carga é:

A potência reativa fornecida à carga é dada por:

113
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

A potência aparente fornecida à carga é:

A potência complexa fornecida à carga é:

Ainda, na forma retangular: S = 623,5 - j360 [VA].

114
TÓPICO 3 — SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

LEITURA COMPLEMENTAR

ESTUDO DAS PERDAS MAGNÉTICAS INTERLAMINARES EM


MÁQUINAS ELÉTRICAS

Evandro Jacob Meurer

A descoberta da eletricidade foi um grande marco para o desenvolvimento


da humanidade do ponto de vista tecnológico, e trouxe várias modificações na ro-
tina diária das pessoas: lâmpadas, rádios, televisores, eletrodomésticos, assim por
diante. Dentre os equipamentos elétricos, encontram-se os mais diversos tipos de
máquinas elétricas, desde transformadores e motores de indução de vários MW até
os pequenos motores utilizados em brinquedos movidos à bateria. Nessa quantidade
enorme de aplicações, pode-se imaginar a quantidade de energia elétrica consumida
pelas máquinas elétricas, as quais se encontram, principalmente, no setor industrial.
Segundo relatórios do Ministério de Minas e Energia, em 2002, o setor industrial con-
sumiu, aproximadamente, 43% da eletricidade produzida no Brasil, ou seja, 148 594
GWh dos 344 644 GWh produzidos. Enquanto isso, o setor residencial consumiu ape-
nas 21% da eletricidade produzida, ou seja, 72 740 GWh. Desde o desenvolvimento
comercial dos motores e dos transformadores no início do século XX, várias teorias e
modelos foram desenvolvidos, a fim de explicar os fenômenos ali encontrados, dos
pontos de vista dos materiais empregados e dos fenômenos eletromagnéticos. Por
volta da década de 50 do século passado, a comunidade científica não demonstrava
tanto interesse pela modelagem dos materiais magnéticos como passou a apresentar
a partir da década de 80. Além das crises energéticas que começaram nos anos 70,
quando aumentou a preocupação com o rendimento das máquinas elétricas, um dos
fatores que contribuiu para uma retomada do estudo dos materiais magnéticos foi o
desenvolvimento da eletrônica de potência. A alimentação de máquinas elétricas por
formas de onda não senoidais, como a PWM (Pulse Width Modulation), e o apareci-
mento de harmônicos, geraram uma necessidade de melhoria e aperfeiçoamento dos
conceitos, teorias e modelos existentes. Recentemente, o Brasil passou por uma gran-
de crise energética, e, novamente, o interesse em melhorar o rendimento das máqui-
nas ganhou espaço para discussão. A preocupação em conservação de energia, leis
governamentais e de comércio, e a concorrência entre empresas, as quais procuram
melhorar o rendimento dos aparelhos e diminuir os custos, estão proporcionando
uma aproximação maior entre o setor industrial e o setor de pesquisa na área. [...]

As perdas magnéticas do núcleo das máquinas, também chamadas de per-


das em vazio ou perdas de magnetização, compreendem as perdas no ferro e as
perdas no cobre (enrolamentos), devido à corrente de magnetização, e são dissi-
padas na forma de calor. Vários fatores são responsáveis pela dissipação de ener-
gia no ferro, como a energia de alinhamento dos domínios magnéticos; a energia
gerada por efeito Joule nas lâminas, provocada pelas correntes induzidas; a falha
ou a baixa isolação entre lâminas, aumentando correntes induzidas no núcleo; e
as rebarbas. As rebarbas podem proporcionar caminhos alternativos, facilitan-

115
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

do a formação de correntes induzidas. Fatores construtivos podem aumentar ou


diminuir a eficiência magnética do núcleo. Convém antecipar que alguns desses
fatores se constituem em detalhes difíceis de serem controlados e/ou separados
da interação. Os fatores que serão abordados neste trabalho são aqueles que ge-
ram perdas de energia, classificadas como perdas interlaminares, ou que estejam
envolvidos diretamente na abordagem destas. Assim, busca-se, nesta pesquisa,
entender as razões e os fenômenos causadores dessa classe de perda nos núcleos.
Como resultado do estudo, pretende-se fornecer subsídios para a continuação de
pesquisas no assunto e, se possível, que esses resultados sejam aplicados na me-
lhoria da construção de núcleos laminados de máquinas elétricas. [...]

Serão abordados os seguintes fatores relacionados com as perdas interla-


minares: a) as perdas interlaminares em si, causadas pelo acréscimo de correntes
induzidas, b) o efeito da pressão mecânica no pacote das lâminas, c) as rebarbas,
d) os parafusos de fixação das lâminas no pacote, e) caminhos alternativos para
correntes induzidas com desvio do fluxo magnético, f) modelagem matemática e
comparação experimental dos fenômenos dos caminhos alternativos das corren-
tes induzidas com desvio do fluxo magnético.

1.2 AS EQUAÇÕES DE MAXWELL

As equações de Maxwell descrevem, matematicamente, os fenômenos en-


volvidos, embora, como diz J. P. A. Bastos, no livro Eletromagnetismo e Cálculo de
Campos, em outras palavras, a abrangência das equações de Maxwell é muito gran-
de e é interessante ressaltar que, conhecendo somente quatro equações e algumas
relações complementares, temos, em mãos, uma ferramenta poderosa que possibi-
lita a solução de inúmeros problemas. Cabe, também, salientar que os fenômenos
físicos descritos pelas equações de Maxwell são, intrinsecamente, simples, ou seja,
as leis são de fácil compreensão. No entanto, as situações físicas, envolvendo geo-
metrias complexas e características de materiais, podem gerar problemas reais de
difícil solução. Isso justifica a necessidade de programas numéricos de cálculo de
campo, como aqueles baseados no método por elementos finitos para abordagem
dos dispositivos eletromagnéticos. As equações de Maxwell, sob a forma local (1.1)
a (1.4), associadas com as relações constitutivas (1.5) e (1.6), reúnem, em si, todas as
grandezas eletromagnéticas definidas no tempo e no espaço de um sistema.

116
TÓPICO 3 — SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

H JJG é o vetor campo magnético, J JG é o vetor densidade de corrente, D


JG é o vetor indução elétrica, E JG é o vetor campo elétrico, B JG é o vetor indução
magnética, ρ é a densidade volumétrica de carga, µ é a permeabilidade magnética
do material e σ é a condutividade elétrica do material.

1.3 AS PERDAS MAGNÉTICAS NO FERRO

O campo magnético variável no tempo, ao atravessar um meio magnéti-


co, possui perdas associadas à histerese e às correntes induzidas (se o material
for condutor). As máquinas elétricas compostas por núcleos magnéticos, como
os motores, geradores e transformadores, possuem perdas energéticas, as quais
diminuem o rendimento. Há um somatório de perdas nessas máquinas, como as
por ventilação, por atrito, por ruído, nos enrolamentos, e assim por diante. Neste
trabalho, abordam-se as perdas magnéticas no ferro sob o enfoque da engenharia
elétrica. Um dos modelos das perdas magnéticas no material magnético é a sepa-
ração em três componentes, perdas por histerese, perdas por correntes induzidas
ou correntes de Foucault, e perdas anômalas ou por excesso.

A fim de atenuar as correntes induzidas no núcleo, o aço, para fins elé-


tricos, é utilizado de forma laminada nas estruturas submetidas a campos regu-
larmente variáveis no tempo. As perdas magnéticas em lâminas de aço ao silício
podem ser medidas de várias formas, sendo, algumas delas, padronizadas por
normas. Dentre os aparelhos utilizados na caracterização, tem-se o quadro de
Epstein, além do Single Strip Tester (SST) e dos métodos, utilizando transforma-
dores de núcleo toroidal. No quadro de Epstein, as lâminas são inseridas para
formar um circuito magnético fechado de quatro braços, no formato de um qua-
drado, sendo exigido, um mínimo, de 12 lâminas (três por braço). O SST consiste
em um equipamento no qual é introduzida apenas uma lâmina de material. O
circuito magnético é fechado por um núcleo interno ao aparelho. No teste de dis-
positivos com núcleos na forma de toroides, as amostras previamente preparadas
são envolvidas por enrolamentos homogêneos em toda a circunferência. O teste
padronizado com o quadro de Epstein é o mais empregado. Mais detalhes dos
equipamentos utilizados para as medições empregadas neste trabalho são descri-
tos no anexo A. A indução média no material magnético é obtida através de (1.7),
e o campo magnético no material é calculado por meio de (1.8). Essas equações
dependem do aspecto físico do núcleo a ser ensaiado, isto é, da seção magnética
efetiva S e do caminho magnético médio lm, além do número de espiras dos en-
rolamentos primário e secundário (respectivamente, NP e NS).

117
UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

Com os valores de Indução em Tesla [T] e Campo Magnético em ampères/


metro [A/m], é possível calcular o valor das perdas totais magnéticas do dispositivo
através da equação (1.9), sendo que mv é a densidade específica do material em kg/
m3. Para fins industriais, utiliza-se, frequentemente, a unidade de perda em W/kg,
bastando, então, multiplicar esse valor pela frequência de teste (equação (1.10)):

1.3.1 Perdas por Histerese

A perda por histerese está relacionada com a energia necessária para deslocar
as paredes dos domínios magnéticos. Em frequências em que o efeito pelicular de
distribuição da indução em lâminas é desprezível (para lâminas de 0,5mm de espes-
sura e até, aproximadamente, 400 Hz), ou seja, quando o fluxo magnético no interior
do material é homogêneo, as perdas por histerese não dependem da frequência de
excitação. Podem ser medidas em uma frequência próxima a zero, em um regime
quase estático, em torno de 1Hz ou menos. Essa técnica parece ser a mais indicada,
já que se está medindo o valor das perdas em uma frequência tão baixa que as com-
ponentes dinâmicas podem ser desprezadas. A grande dificuldade desse método é
o controle da forma senoidal na baixa frequência, exigindo equipamentos especiais.
Sob o aspecto metalúrgico, as perdas por histerese são função do volume, tamanho,
distribuição das impurezas, orientação dos cristais, níveis de estresse do material e de
outras características microestruturais. Steinmetz propôs um modelo (equação (1.11))
até hoje utilizado, e os parâmetros são obtidos por meio de ensaios. A Fig. 1.1 apre-
sentará uma medida realizada em um material e a aplicação do modelo de Steinmetz.
Perceberemos que o modelo é satisfatório em uma faixa de indução. Nessa amostra,
para valores acima de 1,3 T, o modelo não acompanha a evolução das perdas magné-
ticas medidas. Para a representação da perda magnética na região de não saturação,
o modelo de Steinmetz proporciona resultados muito próximos.

Geralmente, o gráfico BH (ou lócus B(H)) de um material é erroneamente


denominado de gráfico de histerese do material. A Fig. 1.2 apresentará duas for-
mas de onda no lócus B(H) em duas frequências distintas. Pode-se chamar gráfico
de histerese a forma obtida à frequência de 1Hz para o aço ao silício, pois cor-
responde, aproximadamente, à perda por histerese, não apresentando os efeitos
significativos das perdas dinâmicas. Já a curva BH a 50 Hz representa, além das
perdas por histerese, as perdas dinâmicas.

118
TÓPICO 3 — SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS

FONTE: MEURER, E. J. Estudo das perdas magnéticas interlaminares em máquinas elétricas.


Florianópolis: UFSC, 2005. Disponível em: https://bit.ly/3zyTUNd. Acesso em: 24 jan. 2021.

119
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O sistema por unidade é, também, conhecido como sistema p.u., importante


no estudo de máquinas elétricas e circuitos de potência, pois simplifica os cál-
culos, e todos os valores em p.u. estão referidos ao mesmo percentual.

• Quando os cálculos são feitos em p.u., não há a necessidade de referir todas as im-
pedâncias a um mesmo nível de tensão, pois uma determinada impedância sem-
pre tem o mesmo valor, não importando o nível de tensão no qual ela se encontra.

• Os fabricantes de máquinas elétricas, como geradores, motores e transforma-


dores, fornecem, nas placas desses equipamentos, os valores das impedâncias
em valores percentuais dos valores nominais dos equipamentos.

• Os valores das diversas grandezas em p.u. dos equipamentos variam em uma


estreita faixa de valores, enquanto os valores reais variam em uma faixa bem
maior de valores. Por esse motivo, utilizamos o sistema p.u.

• Há três tipos de potência: ativa, reativa e aparente.

• O triângulo de potências é muito utilizado na engenharia elétrica porque


apresenta, de forma sucinta, as três potências, S, P e Q, e o ângulo de φ.

• O fator de potência é definido como f.p. = cos(φ).

• A potência complexa é dada por S = V.I*.

CHAMADA

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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

120
AUTOATIVIDADE

1 Em engenharia elétrica, na área de sistemas de potência e na área de má-


quinas elétricas, o sistema por unidade usa a expressão das quantidades
das grandezas do sistema como frações de uma dada quantidade, definida
como quantidade base da grandeza em questão. Com base nesse contexto,
explique, as com suas palavras, o que é o sistema p.u.

2 A potência elétrica é definida como a velocidade em que o trabalho é realizado.


Ou seja, é a medida do trabalho realizado por unidade de tempo. A unidade de
potência no Sistema Internacional de Medidas é o WATT (W), em homenagem
ao matemático e engenheiro James Watts. Com base nesse contexto, explique o
que são e quais são as diferenças entre as potências ativa, reativa e aparente.

3 O fator de potência é a razão entre a potência ativa e a potência aparente. Ele


indica a eficiência do uso da energia. Um alto fator de potência indica uma
eficiência alta e inversamente, um fator de potência baixo indica baixa efici-
ência energética. Com base nesse contexto, desenhe o triângulo de potências
e indique o local das potências ativa, reativa, aparente e o fator de potência.

4 Há uma fonte de tensão c.a., que fornece potência a uma carga de impedância
Z = 10 ∠ 20° [Ω]. Calcule a corrente I que circula na carga, o fator de potência
da carga e as potências ativa, reativa, aparente e complexa que são fornecidas.

5 Assuma que a tensão aplicada à carga é de V = 208 ∠ -30° [V] e que a corren-
te que circula na carga é de I = 2 ∠ 20° [A]. Com base nesses dados, calcule:

a) a potência complexa S consumida por essa carga.


b) essa carga é indutiva ou capacitiva?
c) o fator de potência dessa carga.

6 A figura a seguir mostrará um sistema de potência CA monofásico simples


com três cargas. A fonte de tensão é de V = 240 ∠ 0° [V] e as impedâncias das
três cargas são de Z1 = 10 ∠ 30° [Ω], Z2 = 10 ∠ 45°[Ω] e Z3 = 10 ∠ - 90°[Ω].

SISTEMA DE POTÊNCIA EM PARALELO

FONTE: Chapman (2013, p. 63)

121
Responda às seguintes questões acerca desse sistema de potência:

a) Assuma que a chave mostrada na figura está, inicialmente, aberta. Calcule


a corrente I, o fator de potência e as potências ativa, reativa e aparente que
são fornecidas pela fonte.
b) Quantas potências ativa, reativa e aparente são consumidas por cada carga
com a chave aberta?
c) Agora, suponha que a chave mostrada na figura seja fechada. Calcule a
corrente I, o fator de potência e as potências ativa, reativa e aparente que
são fornecidas pela fonte.
d) Quantas potências ativa, reativa e aparente são consumidas por cada carga
com a chave fechada?
e) O que aconteceu com a corrente que fluía da fonte quando a chave foi fe-
chada? Explique o porquê.

7 Um transformador trifásico de 30 MVA, 69/18 kV, apresenta reatância de


9%. Determine:

a) Qual é o valor da reatância, em ohms, referida ao lado de 69 kV?


b) Qual é o valor da reatância, em p.u., nas bases de 100 MVA e de 20 kV no
secundário?

8 Um alternador trifásico tem tensão de linha igual a 2200 V e contempla as


seguintes cargas, em paralelo:

- carga 1: 210 kVA, f.p. = 0,85 (em atraso);


- carga 2: 180 kVA, f.p. = 0,95 (em avanço).

Apresente o circuito monofásico correspondente, com todos os valores ex-


pressos em p.u., nas bases de 150 kVA e de 1000 V.

9 Em um sistema monofásico, adotaram-se os seguintes valores de base: Vb


= 5 kV e Sb = 100 kVA. Determine:

a) corrente de base;
b) impedância de base;
c) admitância de base;
d) valor em p.u. de uma tensão V = 1000 [V];
e) valor em p.u. de uma potência P = 15 [kW];
f) valor em p.u. de uma potência S = 45 [kVA];
g) valor em p.u. de uma corrente I = 85 [A];
h) valor em p.u. de uma impedância Z = 200 [Ω];
i) valor em p.u. de uma admitância Y = 8 x 10-2 [S].

10 Adotando, como bases, S= 500 VA e 100 V, pede-se para representar, em


p.u., o circuito monofásico mostrado na figura a seguir:

122
CIRCUITO ELÉTRICO DE CORRENTE ALTERNADA

FONTE: Almeida e Freitas (1995, p. 129)

11 Adotando-se, para o circuito da figura a seguir, as bases de 25 MVA e de 80


kV na linha de transmissão, apresente o respectivo diagrama de reatâncias
em p.u., por fase, sendo dados:

DIAGRAMA UNIFILAR E DADOS

FONTE: Almeida e Freitas (1995, p. 130)

12 Dado o sistema da figura a seguir, apresente o respectivo diagrama de re-


atâncias em p.u., por fase, considerando, como bases, 25 MVA e 110 kV na
linha de transmissão.

DIAGRAMA UNIFILAR

FONTE: Almeida e Freitas (1995, p. 130)

123
13 Dois geradores são ligados, em paralelo, à mesma barra, e têm reatâncias
subtransitórias de x" = 10%. O gerador 1 é de 2500 kVA e 2,4 kV e, o gerador
2, é de 5000 kVA e 2,4 kV. Qual deve ser a reatância por unidade de um único
gerador equivalente aos dois em paralelo, na base de 15000 kVA e 2,4 kV?

14 Em regime permanente, se os motores M1 e M2, do 21º Exemplo, tiverem


entradas de 120 e de 60 MVA, respectivamente, com tensão de 13,2 kV, e
ambos operarem com fator de potência unitário, determine:

a) a tensão fasorial fase-terra, em p.u., em um dos terminais do gerador;


b) a tensão eficaz de linha nos terminais do gerador (em p.u. e em volts).

Observação: em regime permanente, a reatância subtransitória do gerador não é


considerada nos cálculos; considere os mesmos valores de base do 21º Exemplo.

15 Determine a corrente de curto-circuito trifásico em Ampères e em p.u. no


ponto F da figura a seguir (lado de alta tensão do trafo), desprezando-se a
corrente de carga antes da falta, e se admitindo tensão nominal no instante
em que ocorre o defeito. Considere a potência-base como 10 MVA e que
todas as reatâncias já estão nas referidas bases.

16 Um transformador trifásico de distribuição de 50 KVA, 2400:240 V, 60 Hz,


tem uma impedância de dispersão de 0,72 + j 0,92 Ω no enrolamento da alta
tensão e uma impedância de 0,0070 + j 0,0090 Ω no enrolamento de baixa
tensão. Com base nesse contexto, faça o que se pede:

a) Calcule a impedância equivalente (em ohms) do transformador, referida


ao lado da alta tensão.
b) Calcule a impedância equivalente (em ohms) do transformador, referida
ao lado da baixa tensão.
c) Calcule a impedância equivalente do transformador, em p.u., usando,
como base, os valores de potência e de tensão do lado de alta tensão.
d) Calcule a impedância equivalente do transformador em p.u., usando, como
base, os valores de potência e de tensão do lado de baixa tensão.

17 Um motor trifásico tem os seguintes dados de placa: potência 30 MVA,


tensão 13,8 kV, 60 Hz e reatância subtransitória de 10%. Com base nesse
contexto, faça o que se pede:

124
a) Calcule a impedância de base, considerando os valores nominais do motor.
b) Calcule a reatância subtransitória do motor em ohms.
c) Calcule a reatância subtransitória do motor em p.u., considerando os valo-
res de base iguais a 100 MVA, 15 KV.

125
REFERÊNCIAS
ALEKSANDER, C.; SADIKU, M. O. Fundamentos de circuitos elétricos. Porto
Alegre: Bookman, 2013.

ALMEIDA, W. G. de; FREITAS, F. D. Circuitos polifásicos: teoria e ensaios. Bra-


sília: Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos, 1995.

CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre:


AMGH, 2013.

DEL TORO, V. Fundamentos de máquinas elétricas. Rio de Janeiro: LTC, 1994.

EDMINISTER, J. A. Eletromagnetismo. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1981.

FITZGERALD, A.; KINGSLEY, JR. C. Máquinas elétricas. 7. ed. São Paulo: Artmed, 2014.

GOMES, S. R. Máquinas elétricas I. 2016. Disponível em: https://bit.ly/3vtgfbB.


Acesso em: 29 jan. 2021.

JORDÃO, R. G. Máquinas síncronas. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1980.

KOIMÃS. Qual a diferença entre os tipos de ímãs? 2021. Disponível em: https://
bit.ly/3vyDelD. Acesso em: 11 jan. 2021.

MEURER, E. J. Estudo das perdas magnéticas interlaminares em máquinas elé-


tricas. Florianópolis: UFSC, 2005. Disponível em: https://bit.ly/3zyTUNd. Acesso
em: 11 jan. 2021.

PIRES, W. de L. Estudo do comportamento das perdas no ferro em motores de


indução alimentados por conversores de frequência. Florianópolis: UFSC, 2008.

STEVENSON, W. D. Elementos de análise de sistemas de potência. 2. ed. São


Paulo: Editora MacGraw-Hill do Brasil, 1986.

UNESP. Circuitos magnéticos com ímãs permanentes. Apostila de Eletromagne-


tismo I, 2011. Escrito por: Naasson Pereira de Alcantara Junior e Claudio Vara de
Aquino. Disponível em: https://bit.ly/3zyQfyI. Acesso em: 13 maio 2021.

USP. Magnetita. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3gxEUHX. Acesso em: 11 jan. 2021.

126
UNIDADE 3 —

ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES),


TRANSDUTORES E ATUADORES
ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• caracterizar bobinas, indutores e solenoides;

• diferenciar transdutores, eletroímãs e atuadores eletromagnéticos;

• calcular a indutância em circuitos magneticamente acoplados;

• calcular indutâncias em diversas geometrias de indutores.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES


ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

TÓPICO 2 – CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS

TÓPICO 3 – TRANSDUTORES, ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS E


ELETROÍMÃS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

127
128
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E


ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

1 INTRODUÇÃO

A indutância é a capacidade que um condutor possui de induzir tensão


em si mesmo quando a corrente que flui por ele varia. Ela é representada pela
letra L, e a unidade é o henry [H].

A indutância é a função da geometria do circuito. Um circuito, ou parte de


um circuito, que tem uma indutância, é denominado de indutor. O indutor é um
componente passivo nos circuitos elétricos. Para aumentar o efeito indutivo, um
indutor usado na prática é, normalmente, construído no formato de bobinas cilín-
dricas com várias espiras (voltas) de fio condutor. Observe indutores comerciais:

FIGURA 1 – INDUTORES

FONTE: Adaptada de Magmattec (2021)

Os indutores são aplicados nas mais diversas áreas, como em circuitos


integrados e ressonantes, em receptores e transmissores de rádios, nas fontes cha-
veadas, em filtros de radiofrequência, em transformadores etc.

Os transformadores são dispositivos de quatro terminais, contendo duas


ou mais bobinas magneticamente acopladas, utilizados para elevar ou reduzir
os níveis de tensão, corrente ou impedância de um circuito elétrico. Os transfor-
129
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

madores apresentam aplicações em isolação elétrica e em casamento de impe-


dâncias, dentre outras aplicações. Em sistemas de distribuição de potência, são
utilizados transformadores trifásicos.

O transformador linear é conhecido como fracamente acoplado. O trans-


formador ideal não possui perdas e, portanto, não existe na prática, somente é
definido e estudado com fins didáticos, ou seja, para, posteriormente, aplicarmos
os conceitos em transformadores reais.

Os transformadores podem ser classificados de várias formas: em mono-


fásicos, trifásicos e monofásicos. Quanto à finalidade, podem ser divididos em
transformadores de distribuição, de potência, de corrente, de força, elevadores e
abaixadores de tensão.

Os indutores podem ter núcleos de ar ou núcleos laminados. As característi-


cas construtivas dos indutores diferenciam em cada modelo. Os indutores com nú-
cleo de ar possuem valores baixos de indutância e não apresentam perdas por causa
do núcleo. São muito utilizados no projeto de circuitos de altas frequências. Já os
indutores de núcleo laminado possuem um núcleo feito de camadas com lâminas
finas de aço-silício, envolvidas por uma aplicação de verniz. São usados em baixas
frequências como em transformadores. Têm redução considerável nas perdas.

Há, ainda, indutores que utilizam núcleos com materiais ferromagnéticos.


Têm, como objetivo, atingir valores mais elevados de indutância para determinadas
aplicações. Os materiais ferromagnéticos são capazes de aumentar e de concentrar o
campo magnético, conforme estudamos nas unidades anteriores. Por outro lado, esse
tipo de núcleo apresenta perdas de diversos tipos e de ordens mais elevadas. Os indu-
tores confeccionados com núcleo de ferrite apresentam um alto desempenho ao tra-
balhar em circuitos de altas frequências e baixos valores de perdas. O indutor toroidal
é construído de ferrite, porém, tem formato circular, com um furo no meio, tipo uma
rosca. Por esse motivo, o campo magnético possui um caminho fechado para circular,
que diminui, consideravelmente, as perdas, e aumenta o valor de indutância.

DICAS

Os transformadores também são chamados, popularmente, de “trafos”. Assis-


ta ao vídeo a seguir a respeito dos trafos toroidais: https://bit.ly/2SFrK2b.

130
TÓPICO 1 — BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

2 FORÇA MAGNETOMOTRIZ E FLUXO CONCATENADO


Quando um condutor é movido através de um campo magnético (cortan-
do as linhas de campo), uma força eletromotriz (f.e.m.) é produzida no condutor.
Se o condutor forma um circuito, a força eletromotriz produz uma corrente no
circuito. A força eletromotriz é induzida no condutor como resultado do movi-
mento através do campo magnético. O movimento relativo do fluxo magnético
e das espiras cria uma força eletromotriz e uma corrente é induzida na bobina.
Atente-se a um campo magnético atravessando um condutor:

FIGURA 2 – AUTOINDUÇÃO EM BOBINA

FONTE: Edminister (1981, p. 160)

2.1 TENSÃO DE AUTOINDUÇÃO


A autoindução é o fenômeno no qual o campo eletromagnético, gerado pela
corrente em um circuito, induz uma tensão no próprio circuito. O componente ele-
trônico responsável por criar uma autoindução de valor significativo em um circuito
é o indutor. O indutor, como já vimos, é uma bobina feita com o propósito de causar
autoindução, envolta por um fio de cobre, com N voltas, que chamamos de espiras.

A figura a seguir mostrará uma tensão que aparece nos terminais de uma
bobina com N espiras, com um fluxo variável no tempo e comum a todas as espiras.

FIGURA 3 – BOBINA COM TENSÃO GERADA NOS TERMINAIS

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 188)


131
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Toda corrente elétrica gera um campo magnético, logo, uma corrente, ao


percorrer um circuito, dá origem a um campo magnético que atua no próprio cir-
cuito. Se a corrente for variável, o campo magnético, consequentemente, também
é, ou seja, um circuito percorrido por uma corrente variável induz, em si próprio,
uma força eletromotriz induzida, originada pela variação do próprio campo mag-
nético, sendo que a f.e.m. associada é denominada de força eletromotriz autoindu-
zida, a qual segue a Lei de Faraday, assim como qualquer outra f.e.m. induzida.

A tensão induzida pela lei de Faraday é dada pela Equação (40):

(40)

A autoindutância da bobina é definida pela Equação (41):

(41)

A lei de Faraday pode ser reescrita na forma da Equação (42):

(42)

A presença de materiais ferromagnéticos deve ser levada em conta no


cálculo de autoindutâncias. Supondo condições de espaço livre, o fluxo e, con-
sequentemente, as autoindutâncias, diferem muito dos valores obtidos quando a
região contém materiais ferromagnéticos.

Um indutor é composto por dois condutores separados pelo espaço livre,


sendo que a configuração do conjunto é tal que o fluxo magnético de um enlaça
o outro. Se a corrente I, nos condutores, for contínua, ou, no máximo, de baixa
frequência, o fluxo total, enlaçando os condutores, será dado pela Equação (43):

(43)

Por definição, a indutância do indutor é dada pela Equação (44):

(44)

Ressaltamos que L corresponde sempre ao produto de µ0 por fator geomé-


trico com dimensão de comprimento.

Exemplo: Calcule a indutância por unidade de comprimento de um con-


dutor coaxial tal como o mostrado na figura a seguir:

132
TÓPICO 1 — BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

FIGURA 4 – CONDUTOR COAXIAL

FONTE: Sadiku (2013, p. 287)

Solução: Dentre os condutores, temos que o campo magnético é dado


pela Equação (45):

(45)

A densidade de fluxo entre os condutores é dada pela Equação (46):

(46)

As correntes nos dois condutores são enlaçadas pelo fluxo através da su-
perfície φ = constante. Para um comprimento ℓ, temos que:

(47)

A indutância por metro, para essa estrutura, é dada por:

(48)

As expressões matemáticas que tratam do armazenamento de energia no


campo magnético, a partir da análise de circuitos e da teoria de campo, fornecem
outra expressão de definição para a indutância magnética L:

(49)

(50)

133
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Essas duas expressões fornecem a indutância magnética a seguir:

(51)

Exemplo: Pode-se usar ambas as formas de abordagem para o condutor


coaxial do exemplo anterior. Utilizando os campos B e H anteriormente, calcule
a indutância por metro:

Solução:

(52)

(53)

Exemplo: Calcule a autoindutância por unidade de comprimento de um


solenoide infinitamente longo:

Solução: Para um solenoide infinitamente longo, o fluxo magnético no


interior do solenoide, por unidade de comprimento, é dado pela Equação (54):

(54)

representa o número de espiras por unidade de comprimento. Se S é a


área da seção reta do solenoide, o fluxo total, através dessa área, é dado pela Equação (55):

(55)

Já que esse fluxo é somente para um comprimento unitário do solenoide,


o fluxo concatenado por unidade de comprimento é dado pela Equação (56):

(56)

Portanto, a indutância por unidade de comprimento é dada pela Equação (57):

(57)

Exemplo: Um solenoide muito longo, com seção reta de 2 x 2 cm, tem um


núcleo de ferro com permeabilidade relativa de μr = 1.000 e 4.000 espiras/metro.
Se o solenoide for por uma corrente de 500 mA, om base nesses dados, determine:

(a) a autoindutância por metro;


(b) a energia armazenada, por metro, nesse campo.

134
TÓPICO 1 — BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Solução: (a)

(b)

3 INDUTÂNCIAS DE FORMAS PADRONIZADAS DE INDUTORES


A seguir, mostraremos algumas geometrias de indutores típicos, além dos
condutores coaxiais, que são amplamente utilizados em cabos. Não deduziremos
todas as expressões matemáticas apresentadas aqui, entretanto, pode-se utilizar
as equações fornecidas anteriormente para obter a expressão para a indutância de
cada uma, exceto para as que apresentam núcleo de ar. Para essas últimas, torna-
-se necessário usar métodos que forneçam expressões empíricas.

NTE
INTERESSA

Um toroide é uma superfície de revolução com um buraco no meio, como


um donut, formando um corpo sólido. O eixo de revolução passa pelo buraco e, portanto,
não cruza a superfície.

Os núcleos toroidais oferecem uma boa possibilidade de escolha para o


projeto de indutores e de transformadores. Os tipos com núcleos de ferrite e de
pó de ferro são indicados para aplicações de médias e de altas frequências, que
vão desde a filtragem e o bloqueio de transientes até os transformadores de fontes
chaveadas (BRAGA, 2021). Segue um toroide de seção reta quadrada “a”.

135
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

FIGURA 5 – TOROIDE DE SEÇÃO RETA QUADRADA

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 232)

Exemplo: Um toroide de núcleo de ar com 800 espiras, raio interno de 2


cm, raio externo de 4 cm e altura de 3 cm. (a) Calcule L, utilizando a fórmula da
Equação (58) para toroides de seção reta quadrada.

Solução:

(58)

(b) Calcule a fórmula aproximada da Equação (59) para um toroide genérico que
supõe H uniforme em um raio médio:

Solução:
(59)

As fórmulas 58 e 59 fornecem os mesmos resultados casos os raios envol-


vidos sejam grandes se comparados à seção reta.

O toroide é formado a partir de um solenoide curvado em forma de um cír-


culo fechado. Pode ser descrito como um solenoide cilíndrico que pode ser utiliza-
do desde a composição de pequenos indutores até a formação de transformadores
pesados utilizados para altíssimas potências. Os toroides comuns podem ser obti-
dos em tamanhos que variam de 2 mm a 15 mm, sendo, os tamanhos mais comuns,
para aplicações gerais, os que variam de 6 a 50 mm de diâmetro (BRAGA, 2021). Há
vários tipos de toroides. Observe um toroide de seção reta circular “S”:

136
TÓPICO 1 — BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

FIGURA 6 – TOROIDE DE SEÇÃO RETA CIRCULAR S

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 232)

Exemplo: Suponha um toroide com núcleo de ar com seção reta circular


de raio 6 mm. Calcule a indutância, supondo existirem 2000 espiras e o raio mé-
dio ser de r = 10 mm, usando a Equação (60).

Solução: Lembre-se de que a área de seção reta de um toroide é calculada


por: S = πr2.

Demonstraremos dois condutores paralelos de raio a.

FIGURA 7 – CONDUTORES PARALELOS DE RAIO “A”

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 234)

Exemplo: Calcule a indutância por unidade de comprimento dos condu-


tores cilíndricos paralelos mostrados a seguir, sendo que d = 10 pés e a = 0,800
pol., usando a Equação (61):

Solução:

(61)

137
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Observe um condutor cilíndrico paralelo a um plano de terra:

FIGURA 8 – CONDUTOR CILÍNDRICO PARALELO A UM PLANO DE TERRA

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 234)

Exemplo: Calcule a indutância por metro, de um condutor cilíndrico para-


lelo a um plano de terra, que contém a = 0,09 m e d = 2,4 m, usando a Equação (62).

Solução:

(62)

Quando um fio é enrolado sob a forma de uma bobina, é obtido um sole-


noide. Brasil Escola (2021, s.p.) define solenoides como:
Fontes de campo magnético formadas por enrolamentos de fios con-
dutores, espaçados uniformemente, concêntricos e no formato de
um cilindro de raio constante. Quando percorridos por uma corrente
elétrica, passam a funcionar como eletroímãs, produzindo um cam-
po magnético constante no interior.

Segue um solenoide longo, muito utilizando em linhas de transmissão.

FIGURA 9 – SOLENOIDE LONGO, DE SECÇÃO RETA PEQUENA DE ÁREA S

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 235)

138
TÓPICO 1 — BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Exemplo: Um solenoide longo, de seção reta pequena, conforme mostrado


a seguir, tem núcleo de ar, 100 espiras, comprimento de 0,80 m e raio de 0,01 m.
Calcule a indutância L, usando a Equação (63):

Solução:

(63)

Veja uma bobina de núcleo de ar com uma única camada a envolvendo.

FIGURA 10 – BOBINA DE NÚCLEO DE AR COM CAMADA ÚNICA

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 235)

Exemplo: Um solenoide com núcleo de ar, com 750 espiras, e comprimento


de 0,55 m, tem uma camada simples de condutores de raio de 0,03 m. Calcule a
indutância L, usando a Equação (64).

Solução: Para esse caso, utilizaremos a fórmula empírica, que é:

(64)

ou ainda, L = 3850,763568 [µH]

Visualize uma bobina de núcleo de ar com diversas camadas de envoltório.

FIGURA 11 – BOBINA DE NÚCLEO DE AR COM DIVERSAS CAMADAS

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 235)

139
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Exemplo: Calcule a indutância da espira configurada a seguir, com N =


200, r1 = 8 mm, r2 = 15 mm e ℓ = 25 mm, usando a Equação (65).

Solução:

(65)

Há várias outras configurações de indutores, conforme o exposto a seguir:

FIGURA 12– FORMAS PADRONIZADAS DE INDUTORES

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 309)

3.1 INDUTÂNCIA INTERNA


O fluxo magnético ocorre no interior da seção reta de um condutor e exterior-
mente. Esse fluxo interno fornece uma indutância interna, quase sempre pequena,
comparada à indutância externa. Geralmente, é desprezada. A figura a seguir mos-
trará um condutor de seção reta circular, com uma corrente I uniforme, distribuída
pela área. Essa suposição somente é válida para baixas frequências, pois, em altas, o
efeito pelicular faz com que a corrente se concentre pela superfície externa.

140
TÓPICO 1 — BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

FIGURA 13 – CONDUTOR DE SEÇÃO RETA CIRCULAR

FONTE: Edminister (1981, p. 163)

Dentro do condutor de raio a, aplica-se a lei de Ampère, e se obtém:

(66)

(67)

Devemos imaginar a porção do condutor como uma pequena seção de um


toroide infinito, como mostrará o exposto a seguir:

FIGURA 14 – SEÇÃO DE UM TOROIDE INFINITO

FONTE: Edminister (1981, p. 163)

Os filamentos de corrente se tornam círculos de raios infinitos. As linhas


de fluxo dφ na fita ℓdr enlaçam apenas os filamentos, cujas distâncias ao eixo do
condutor forem inferiores a r.

O fluxo total enlaçado será dado pela Equação (68):

(68)

141
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

A indutância por unidade de comprimento será dada pela Equação (69):

(69)

Esse resultado independe do raio do condutor. A indutância total é a


soma das indutâncias interna e externa. Se a indutância externa for da ordem de
, não se poderá ignorar a indutância interna.

142
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Um transformador é um dispositivo que aumenta ou reduz as tensões em


sistemas elétricos de distribuição de energia elétrica.

• Os transformadores são importantes em isolação elétrica e em casamento de


impedâncias, dentre outras aplicações.

• Os tipos de núcleos de indutores são de ar, laminados, ferromagnéticos, ferrites etc.

• A indutância é uma propriedade intrínseca dos indutores.

• A autoindutância é o fenômeno em que ocorre uma variação na intensidade da cor-


rente elétrica, e se percebe que o campo magnético, dentro dessa bobina, também
sofre uma variação. Como resultado dessa interação, surge uma força eletromotriz
induzida na bobina. Essa força também depende da variação da corrente elétrica.

• Os indutores são utilizados em circuitos elétricos, filtros de sinais, em circuitos


eletrônicos e digitais, para armazenar energia através de um campo magnético,
para impedir variações de corrente elétrica, em núcleos de transformadores etc.

• Há várias geometrias de indutores, que são: o coaxial, o toroidal, a bobina de


núcleo de ar com camada única, a bobina de núcleo de ar com diversas camadas,
o solenoide longo, os fios paralelos, o cilindro oco, a lâmina, a espira circular etc.

143
AUTOATIVIDADE

1 Indutores são dispositivos eletrônicos capazes de armazenar energia em


forma de campo magnético. Esse campo magnético é gerado pela corren-
te elétrica que passa pelo indutor. A capacidade de armazenar energia em
forma de campo magnético é medida pela grandeza Henry (H). Com base
nesse contexto, responda: o que é indutância.

2 O fenômeno físico por trás do funcionamento dos transformadores é chama-


do de indução eletromagnética e é descrito pela lei de Faraday-Lenz. Essa lei
informa que, ao produzirmos uma variação do fluxo magnético por alguma
região do espaço, um campo magnético deverá surgir de modo a opor-se a
essa variação. Com base nesse contexto, explique o que são transformadores:

3 Calcule a indutância por unidade de comprimento do cabo coaxial da Figu-


ra 67, se a = 1 mm e b = 3 mm. Suponha e omita a indutância interna.

4 Calcule a indutância por unidade de comprimento dos condutores cilíndri-


cos paralelo mostrados na Figura 72, sendo d = 25 pés e a = 0,893 pol. Dado
que 1 pol. = 0,0254 m e 1 pé = 0,3048 m.

5 Um condutor circular, com raio idêntico ao do Exercício 5 destas autoati-


vidades, está a 12,5 pés afastado de um plano condutor infinito. Com base
nisso, calcule a indutância por metro.

6 Um solenoide com núcleo de ar, com 300 espiras e comprimento de 0,5 m,


tem uma camada simples de condutores de raio 0,02 m. Calcule a indutância.

7 Calcule a indutância da espira mostrada na Figura 73, sendo N = 300, r1 = 9


mm, r2 = 25 mm e ℓ = 20 [mm].

8 Suponha que o toroide com núcleo de ar mostrado na Figura 69 apresenta


uma seção reta circular de raio 4 mm. Calcule a indutância, supondo existi-
rem 2500 espiras e o raio médio ser de r = 20 mm.

9 A Figura 4 mostra um toroide de núcleo de ar com 700 espiras, com raio in-
terno de 1 cm, raio externo de 2 cm e altura 1,5 cm. Com base nisso, calcule:

a) a fórmula para toroides de seção reta quadrada;


b) a fórmula aproximada para um toroide genérico que supõe H uniforme em
um raio médio.

144
10 Calcule a indutância por unidade de comprimento de um condutor coaxial
com raio interno a = 2 mm e um condutor externo b = 9 mm. Suponha que
a permeabilidade relativa é igual à unidade.

11 Calcule a indutância por unidade de comprimento de dois condutores ci-


líndricos paralelos, sendo que os raios dos condutores são de 1 mm e a
separação centro a centro é de 12 mm.

12 Dois condutores idênticos, cilíndricos, paralelos, separados por 1 m, têm


uma indutância por unidade de comprimento de 2,12 [µH/m]. Quais são
os valores dos raios de cada condutor?

13 Um solenoide com núcleo de ar, com 2500 espiras de espaçamento unifor-


me, tem um comprimento de 1,5 m e raio de 2 x 10-2 m. Calcule a indutância.

145
146
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

CIRCUITOS MAGNETICAMENTE
ACOPLADOS

1 INTRODUÇÃO

A lei de Faraday menciona que, ao colocar um circuito (uma bobina) sob


o efeito de um campo magnético variável, uma corrente elétrica é induzida neste.
Essa corrente é proporcional ao número de linhas do fluxo que atravessa a bobina
envolvida do circuito.

Nesta unidade, estudaremos os conceitos de indutância mútua que ser-


virão de base para o estudo dos transformadores na disciplina de Máquinas Elé-
tricas e Transformadores I. Embora o transformador não seja, propriamente, um
dispositivo de conversão de energia, é um componente primordial nos sistemas
aéreos de potência e nas indústrias em geral. Graças aos transformadores, há a
transmissão de energia em corrente alternada, mais econômica do que se fosse
realizada em corrente contínua. Ainda, permite a utilização da energia elétrica
na tensão mais apropriada, mas, para isso, precisamos estudar, inicialmente, os
circuitos magneticamente acoplados. Vamos lá?!

2 INDUTÂNCIA MÚTUA
Quando dois indutores ou bobinas estão próximos, o fluxo magnético
causado pela corrente de uma bobina atravessa a outra bobina, consequentemente,
induzindo uma tensão nessa última bobina. Isso é conhecido como indutância
mútua. A figura a seguir mostrará esse fenômeno.

FIGURA 15 – INDUTÂNCIA MÚTUA EM CIRCUITO MAGNÉTICO

FONTE: UTFPR (2021, s.p.)

147
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Consideremos, primeiramente, um único indutor, uma bobina com


N espiras. Quando a corrente i flui através da bobina, é produzido um fluxo
magnético f em torno dela. Observe:

FIGURA 16 – FLUXO MAGNÉTICO PRODUZIDO POR UMA BOBINA COM N ESPIRAS

FONTE: Hayt Jr. e Buck (2012, p. 186)

De acordo com a lei de Faraday, a tensão v induzida na bobina é propor-


cional ao número de espiras N e à velocidade de variação do fluxo magnético f,
como mostra a Equação (70):

(70)

Contudo, o fluxo ϕ é produzido pela corrente i, logo, qualquer variação em ϕ é


causada pela variação na corrente. Com isso, a Equação (71) pode ser reescrita como:

(71)

Ou

(72)

É a relação de tensão-corrente do indutor. A indutância L do indutor pode


ser dada por:

(73)

Essa expressão define a indutância própria, pois relaciona a tensão induzida


na bobina, devido a uma corrente, variando no tempo e na mesma bobina.

148
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS

2.1 CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS DE


FORMA ADITIVA
Agora, consideraremos duas bobinas com indutâncias próprias L1 e L2
próximas uma da outra:

FIGURA 17 – INDUTÂNCIA MÚTUA M21 DA BOBINA 2 EM RELAÇÃO À BOBINA 1

FONTE: Hayt Jr. e Buck (2012, p. 187)

A bobina 1 possui N1 espiras e a bobina 2 possui N2 espiras. Para simpli-


ficar, consideraremos que não flui corrente pela segunda bobina. O fluxo magné-
tico φ, emanado da bobina 1, possui duas componentes:

• Uma componente ϕ11 passa apenas pela bobina 1.


• Uma componente ϕ12 passa por ambas as bobinas.

Com isso, podemos escrever a Equação (74):

ϕ1 = ϕ11 + ϕ12

Apesar das duas bobinas estarem fisicamente separadas, estão magneticamente


acopladas. Como todo o fluxo corta a bobina 1, a tensão induzida nela é:

Apenas o fluxo ϕ12 corta a bobina 2, portanto, a tensão induzida na bobina 2 é:

Os fluxos são causados pela corrente i1, fluindo na bobina 1. A Equação


para v1 pode ser escrita como:

149
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

corresponde à indutância própria da bobina 1. Similarmente, a


Equação, para v2, é dada por:

M21 é chamada de indutância mútua da bobina 2 em relação à bobina 1. O


subscrito 21 indica que a indutância M21 relaciona a tensão induzida na bobina 2
com a corrente na bobina 1. Portanto, a tensão mútua de circuito aberto ou tensão
induzida na bobina 2 é:

Suponha que a corrente i2 flua na bobina 2, enquanto a bobina 1 não pos-


sui corrente. Acompanhe:

FIGURA 18 – INDUTÂNCIA MÚTUA M12 DA BOBINA 1 EM RELAÇÃO À BOBINA 2

FONTE: Hayt Jr. e Buck (2012, p. 189)

O fluxo magnético ϕ2 emanado na bobina 2 contém o fluxo ϕ22, que corta


apenas a bobina 2, e o fluxo ϕ21, que corta as duas bobinas. Com isso, podemos
escrever a equação a seguir:

ϕ2 = ϕ21 + ϕ22

Todo o fluxo ϕ2 corta a bobina 2, então, a tensão induzida na bobina 2 é dada por:

é a indutância própria da bobina 2. Como apenas o fluxo ϕ21 liga a


bobina 1, a tensão induzida na bobina 1 é:

150
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS

Sendo:

Essa é a indutância mútua da bobina 1 em relação à bobina 2. Portanto, a


tensão mútua do circuito aberto da bobina 1 é:

Importante ressaltar que M12 e M12 são iguais, ok?! Portanto:

M12 = M21 = M.

M é a indutância mútua entre as duas bobinas.

NOTA

A indutância mútua é a capacidade do indutor de induzir uma tensão em um


indutor vizinho, medida em henrys [H].

2.2 CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS DE


FORMA SUBTRATIVA
A indutância mútua é aditiva quando ambas as direções de I1 e de I2
entram ou saem dos pontos de referência. Caso contrário, a indutância mútua é
subtrativa. Agora, vamos a um exemplo ilustrativo desses conceitos.

Exemplo: Considere o circuito da Figura 19 e assuma que L1 = 400 mH, L2


= 230 mH e M =10 mH. Determine a expressão em estado contínuo para:

(a) v1 se i1 = 0 e i2 = 2 cos 40t A;


(b) v2 se i1 = 5 cos (40t + 15⁰) A e i2=0;
(c) Refaça os itens (a) e (b), considerando, agora, M = 310 mH.

Solução:

151
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Exemplo: Calcule as correntes fasoriais I1 e I2 no circuito da figura a seguir:

FIGURA 19 – CIRCUITO DE INDUTÂNCIA MÚTUA

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 480)

Solução: Para a bobina 1, a lei de Kirchhoff das tensões (LKT) gera:

-12 + (-j4 + j5) I1 - j3I2 = 0

Ou

jI1 - j3I2 = 12

Para a bobina 2, a LKT cita:

-j3I1 + (12 + j6)I2 = 0

Exemplo: Calcule as correntes de malhas do circuito da figura a seguir:

152
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS

FIGURA 20 – CIRCUITO COM BOBINAS PARA ANÁLISE DE CORRENTES DE MALHAS

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 482)

Solução: A chave para analisar um circuito com acoplamento magnético é


conhecer a polaridade da tensão mútua. Precisamos aplicar a regra do ponto. Na
Figura 19, suponha que a bobina 1 seja aquela cuja reatância seja de 6 Ω e, a bobi-
na 2, aquela cuja reatância tem 8 Ω. Para descobrir a polaridade da tensão mútua
na bobina 1, devido à corrente I2, observamos que I2 sai do terminal marcado
com um ponto da bobina 2. Já que estamos aplicando a LKT no sentido horário,
isso gera tensão mútua negativa, isto é, – j2I2.

Ainda, podemos descobrir a tensão mútua, redesenhando a parte relevan-


te do circuito, conforme nos mostra o exposto a seguir:

FIGURA 21 – CIRCUITO EQUIVALENTE

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 482)

Na referida figura, fica claro que a tensão mútua é dada por:

V1 = -j2I2

Portanto, para a malha 1, da Figura 83, a LKT fornece:

-100 + I1 (4 - j3 + j6) - j6I2 - j2I2 = 0

Ou

100 - (4 + j3)I1 - j8I2

153
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Para encontrarmos a tensão mútua na bobina 2, em razão da corrente I1,


consideramos a parte relevante do circuito e aplicamos a convenção do ponto,
que nos fornece a tensão mútua, como: V2 = -j2I1. A corrente I2 enxerga as duas
bobinas acopladas em série na Figura 83, já que ela deixa os terminais pontuados
em ambas as bobinas, portanto, para a malha 2, da Figura 83, a LKT fornece:

0 = -2jI1 - j6I1 + (j6 + j8 + j2 x 2 + 5)I2

Ou

0 = -j8I1 + (5 + j18)I2

Na forma matricial, obtemos:

Os determinantes são:

Portanto, as intensidades das correntes de malha são:

Agora, estudaremos a energia magnética armazenada em indutores ou


em um circuito acoplado.

3 ENERGIA EM UM CIRCUITO ACOPLADO


Na disciplina de Circuitos Elétricos I, aprendemos que a energia armaze-
nada em um indutor é dada por:

Nesta disciplina, o nosso objetivo é determinar a energia armazenada em


bobinas magneticamente acopladas. Para tanto, analise o circuito a seguir:

154
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS

FIGURA 22 – CIRCUITO ACOPLADO PARA DETERMINAÇÃO DA ENERGIA ARMAZENADA

FONTE: Hayt Jr. e Buck (2012, p. 225)

Suponhamos que as correntes i1 e i2 sejam, inicialmente, zero, de modo


que a energia armazenada nas bobinas seja zero. Se aumentarmos i1 de zero até
I1, mantendo i2 = 0, a potência na bobina 1 será:

A energia armazenada no circuito será dada por:

Se, agora, mantivermos i1 = I1 e aumentarmos i2, de zero até I2, a tensão


mútua induzida na bobina 1 será de M12.di2/dt, enquanto a tensão mútua induzida
na bobina 2 será zero, já que i1 não muda. A potência nas bobinas é:

A energia armazenada no circuito é:

A energia total armazenada nas bobinas, quando i1 e i2 atingem valores


constantes, é dada por:

Se invertermos a ordem a partir da qual as correntes atingem os valores


finais, ou seja, aumentarmos, primeiramente, i2 de zero até I2 e, posteriormente,
i1 de zero a I1, a energia total armazenada nas bobinas será:

155
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Como a energia total armazenada deve ser a mesma, independentemente


de como atingimos as condições finais, comparar as equações anteriores nos leva
a concluir que:

Essa equação foi deduzida, tomando, como base, a hipótese de que am-
bas as correntes nas bobinas entram pelos terminais marcados com pontos. Se
uma corrente entrar por um terminal marcado com um ponto, enquanto a outra
corrente deixar o outro terminal marcado com um ponto, a tensão mútua será
negativa, de modo que a energia mútua MI1I2 também será negativa. Nesse caso:

Da mesma forma, como I1 e I2 são valores arbitrários, podem ser substi-


tuídos por i1 e i2, que fornecem a energia instantânea armazenada no circuito,
como a expressão geral:

O sinal positivo é selecionado para o termo mútuo se ambas as correntes


entrarem ou deixarem os terminais marcados com pontos das bobinas, caso con-
trário, é selecionado o sinal negativo. Agora, estabeleceremos um limite superior
para a indutância mútua M. A energia armazenada no circuito não pode ser ne-
gativa, pois o circuito é passivo. Isso significa que o valor:

deve ser maior ou igual a zero:

Para completar o quadrado, adicionamos e subtraímos o termo:

156
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS

no lado direito da equação anterior, e obtemos:

O termo quadrático jamais é negativo, é, no mínimo, zero. Portanto, o


segundo termo, do lado direito da equação anterior, deve ser maior que zero, então:

Ou

Logo, a indutância mútua não pode ser maior do que a média geométrica das
autoindutâncias das bobinas. O grau com que a indutância mútua M se aproxima
do limite superior é especificado pelo coeficiente de acoplamento k, dado por:

Ou

Sendo 0 ≤ k ≤ 1 ou, de forma equivalente, 0 ≤M ≤1L1.L2. O coeficiente de


acoplamento é a fração do fluxo total que emana de uma bobina que atravessa a
outra. Por exemplo, na Figura 86(a), temos:

Para a figura 22(b):

157
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

FIGURA 23 – ENROLAMENTOS: (A) LIVREMENTE ACOPLADOS; E (B) FIRMEMENTE ACOPLADOS

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 490)

Se todo fluxo produzido por uma bobina atravessa a outra, então, k = 1,


o que gera um acoplamento 100% ou se diz que as bobinas estão perfeitamente
acopladas. Para k < 0,5, menciona-se que as bobinas estão livremente acopladas e,
para k > 0,5, que estão firmemente acopladas.

O coeficiente de acoplamento k é uma medida do acoplamento magnético


entre as duas bobinas: 0 < k < 1. Esperamos que k dependa da proximidade entre
as duas bobinas, os núcleos, as orientações e os enrolamentos.

A Figura 23 mostra enrolamentos livres e firmemente acoplados. Os


transformadores de núcleo de ar, usados em circuitos de rádio de frequência, são
livremente acoplados, enquanto os transformadores de núcleo de ferro, usados
em sistemas de energia elétrica, são firmemente acoplados.

Exemplo: Considere o circuito da figura a seguir. Determine o coeficiente


de acoplamento e calcule a energia armazenada nos indutores acoplados no ins-
tante t = 1 [s], se v = 60.cos (4t + 30º) [V].

FIGURA 24 – CIRCUITO MAGNETICAMENTE ACOPLADO PARA DETERMINAÇÃO DA ENERGIA


ARMAZENADA

FONTE: Edminister (1981, p. 201)

158
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS

Solução: O coeficiente de acoplamento é dado por:

Substituindo pelos valores numéricos, temos que:

Indicando que os indutores estão firmemente acoplados.

Para determinar a energia armazenada, precisamos calcular a corrente.


Para determinar a corrente, é necessário obter o equivalente no domínio da
frequência do circuito, portanto:

Analisando a expressão anterior, podemos concluir que a frequência an-


gular é de w = 4 [rad/ s]. Transformando os valores dos indutores e do capacitor
do domínio do tempo para o domínio da frequência:

O circuito equivalente no domínio da frequência será mostrado na Figura 25.

FIGURA 25 – CIRCUITO EQUIVALENTE NO DOMÍNIO DA FREQUÊNCIA (EQUIVALENTE AO


CIRCUITO DA FIGURA 23)

FONTE: Edminister (981, p. 202)

Agora, aplicamos a análise de malhas. Para a malha 1:

Para a malha 2:

159
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Ou

Substituindo, temos que:

Transformando para o domínio do tempo, ocorre:

No instante t = 1 [s] e para 4.t = 4(1) = 229,2º. Então:

A energia total armazenada nos indutores acoplados é:

Substituindo pelos valores, temos que:

Exemplo: No circuito da Figura 25, calcule a impedância de entrada e a


corrente I1. Considere Z1 = (60 – j100) Ω, Z2 = (30 – j40) Ω e ZL = (80 – j60) Ω.

FIGURA 26 – CIRCUITO PARA CÁLCULO DA IMPEDÂNCIA DE ENTRADA E DA CORRENTE

FONTE: A autora

160
TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS

Solução: Calcularemos a impedância de entrada do circuito da Figura


25 através de:

Na forma retangular, a impedância de entrada é:

Já na forma polar:

A corrente elétrica I1 é encontrada, utilizando a lei de Ohm:

Substituindo pelos valores numéricos, obtemos:

E
IMPORTANT

A potência nos terminais do enrolamento do circuito magnético é a medida


da taxa do fluxo de energia que entra no circuito.

DICAS

Assista às videoaulas acerca do tema em https://bit.ly/3xvuIW6.

161
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os circuitos magneticamente acoplados possuem duas bobinas, nas quais a


variação temporal do fluxo da primeira bobina induz uma tensão na segunda
bobina.

• As bobinas não precisam estar no mesmo circuito.

• A lei de Ampère estabelece que o fluxo de corrente elétrica gera um campo


magnético.

• Se esse campo for acoplado a um circuito elétrico e variar com o tempo (enlace
de fluxo), a lei de Faraday estabelece que será gerada uma tensão no circuito.

• Embora esse fenômeno ocorra, em grande parte, nos circuitos, como nos
transformadores, o efeito é amplificado nas bobinas.

• Duas bobinas estão magneticamente acopladas quando a amplitude do fluxo


emanado de uma bobina passa para a outra.

• A indutância mútua entre duas bobinas é dada por .

• k é o coeficiente de acoplamento e o valor varia entre 0 e 1.

• A energia total armazenada em dois indutores magneticamente acoplados


é dada por:

162
AUTOATIVIDADE

1 Um transformador consiste de duas ou mais bobinas acopladas através de


um campo magnético mútuo. Com base nisso, explique, com as suas pala-
vras, o que são circuitos magneticamente acoplados.

2 Para o circuito da figura a seguir e L1 = 0,5∙L2 = 1 mH e 𝑀 = 0,85√𝐿1 ∙ 𝐿2,


calcule v2(t) para (a) i2 = 0 e i1 = 5e–t mA; (b) i2 = 0 e i1 = 5 cos 10t mA; (c) i2
= 5 cos 70t mA e 𝑖1 = 0,5 ∙ 𝑖2:

CIRCUITO ACOPLADO MAGNETICAMENTE

FONTE: UTFPR (2021, s.p.)

3 No circuito da figura a seguir, considere i1 = 5 sen (100t – 80◦) mA, L1 = 1 H


e L2 = 2 H. Se v2 = 250 sen (100t – 80◦) mV, calcule M:

CIRCUITO MAGNETICAMENTE ACOPLADO

FONTE: UTFPR (2021, s.p.)

4 Para o circuito da figura a seguir, faça o que se pede:

a) Desenhe-o na sua representação fasorial.


b) Escreva o conjunto de equações de malha.
c) Calcule i2(t) se v1(t) = 8 sem 720 t V.

163
CIRCUITO MAGNETICAMENTE ACOPLADO PARA A AUTOATIVIDADE Nº 4

FONTE: UTFPR (2021, s.p.)

5 Encontre V1( jω) e V2( jω) em termos de I1( jω) e I2( jω) para os circuitos da
figura a seguir:

CIRCUITOS CONTENDO BOBINAS ACOPLADAS MAGNETICAMENTE

FONTE: UTFPR (2021, s.p.)

6 Qual desses transformadores pode ser usado como dispositivo isolador?

a) ( ) Ideal.
b) ( ) Autotransformador.
c) ( ) Linear.
d) ( ) Trifásico.

7 Para o casamento de uma fonte de impedância interna de 500 Ω, com uma


carga de 15 Ω, é necessário:

a) ( ) Um transformador linear abaixador.


b) ( ) Um transformador ideal abaixador.
c) ( ) Um transformador linear elevador.
d) ( ) Um transformador ideal elevador.

8 Qual é o coeficiente de acoplamento de duas bobinas com L1 = 2 H, L2 = 8


H e M = 3 H?

164
9 O transformador é utilizado para aumentar ou diminuir:

a) ( ) Tensões cc.
b) ( ) Tensões ca.
c) ( ) Tensões cc e ca.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.

10 Para as três bobinas acopladas da figura a seguir, calcule a indutância total.

CIRCUITO MAGNÉTICO COM TRÊS INDUTORES

FONTE: Aleksander e Sadiku (2013, p. 516)

11 Para o circuito da figura a seguir, determine o coeficiente de acoplamento


e a energia armazenada nos indutores acoplados em t = 1,5 s.

CIRCUITO MAGNETICAMENTE ACOPLADO

FONTE: Aleksander e Sadiku (2003, p. 505)

12 Duas bobinas conectadas, de forma série aditiva, possuem uma indutância


total de 250 mH. Quando conectadas em uma configuração série subtra-
tiva, possuem uma indutância total de 150 mH. Se a indutância de uma
bobina L1 é três vezes a da outra, determine L1, L2 e M. Qual é o coeficiente
de acoplamento?

13 Para o circuito da figura a seguir, determine uma expressão para:

a) IL/Vs;
b) V1/Vs:

165
CIRCUITO MAGNETICAMENTE ACOPLADO PARA A AUTOATIVIDADE Nº 13

FONTE: UTFPR (2021, s.p.)

14 Determine V1 e V2 em termos de I1 e I2, no circuito da figura a seguir:

CIRCUITO ACOPLADO MAGNETICAMENTE PARA O PROBLEMA 14

FONTE: Aleksander e Sadiku (2003, p. 516)

15 Obtenha Vo no circuito da figura a seguir:

CIRCUITO ACOPLADO PARA A AUTOATIVIDADE Nº 15

FONTE: Aleksander e Sadiku (2003, p. 534)

166
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

TRANSDUTORES, ATUADORES
ELETROMAGNÉTICOS E ELETROÍMÃS

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, nós estudaremos os atuadores e os transdutores que são ampla-


mente usados em instrumentação e em processos industriais. Deve ficar clara a dife-
rença entre transdutores e sensores para prosseguirmos com o nosso estudo. Um trans-
dutor é um dispositivo que converte um tipo de energia qualquer em outro tipo de
energia qualquer. Os tipos de energia com os quais os transdutores trabalham são ener-
gia elétrica, mecânica, eletromagnética (incluindo luz), química, acústica ou térmica.

O sensor é o elemento sensitivo do sistema, por exemplo, um transdutor de


pressão não inclui apenas um sensor de pressão, mas a rede de compensação re-
querida para agrupar o sensor e compatibilizá-lo com outros tipos de transdutores.

Aqui, estudaremos outra classe de atuadores, que são os atuadores eletromag-


néticos. Eles são importantes para compreendermos como funcionam os eletroímãs e as
peças industriais que utilizam a força para atrair outras peças ou materiais. Vamos lá?!

2 ATUADORES E TRANSDUTORES
Os atuadores eletromagnéticos são compostos por uma bobina enrolada
em um núcleo de material ferromagnético. Esse núcleo pode ser composto por
várias lâminas, reduzindo as perdas por correntes parasitas ou correntes de
Foucault ou, ainda, correntes eddy. Convertem energia elétrica, hidráulica ou
pneumática em energia mecânica. Através dos sistemas de transmissão, a energia
mecânica gerada pelos atuadores é enviada aos links do manipulador para que se
movimentem. Eles podem ser divididos em: atuadores hidráulicos e pneumáticos
(cilindros ou motores) e atuadores eletromagnéticos (motores).

DICAS

Sugerimos um aprofundamento desse tema, fazendo a leitura do texto dispo-


nível em https://bit.ly/3iKg4pH.

167
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Os transdutores eletromagnéticos são dispositivos utilizados na conver-


são de energia de uma natureza para a outra. Na prática, transdutor é um dispo-
sitivo que utiliza uma natureza de energia, que pode ser elétrica, mecânica, óti-
ca, térmica etc. Os tipos mais comuns de transdutores são o transdutor resistivo,
o transdutor tipo capacitância e o transdutor indutivo.

DICAS

Sugerimos um aprofundamento desse tema em https://bit.ly/2S5jAQB.

3 ELETROÍMÃS
Eletroímãs são dispositivos formados por um núcleo de ferro envolto por um
solenoide (bobina). Quando uma corrente elétrica passa pelas espiras da bobina, cria-
-se um campo magnético, que faz com que os ímãs elementares do núcleo de ferro se
orientem, ficando imantados e, consequentemente, com a propriedade de atrair ou-
tros materiais ferromagnéticos. O intenso campo magnético do eletroímã faz dele um
dispositivo muito usado em motores, campainhas, telefones, indústrias de constru-
ção naval, guindaste eletromagnético, MagLev, freio eletromagnético, motores, sole-
noides, cabeçotes de leitura/gravação para discos rígidos e toca-fitas, alto-falantes etc.

Seguem alguns exemplos de eletroímãs que podem ser construídos em


geometrias retangulares e circulares.

FIGURA 27 – ELETROÍMÃS CIRCULARES E RETANGULARES

FONTE: Italindústria (2021, s.p.)

168
TÓPICO 3 — TRANSDUTORES, ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS E ELETROÍMÃS

DICAS

Leia o texto disponível em: https://bit.ly/3gyDoFt. Nele, há várias aplicações


dos eletroímãs com ilustrações e explicação breve do funcionamento desses dispositivos.

O uso de eletroímãs oferece várias vantagens, descritas a seguir:

• se quisermos inverter os polos, basta invertermos o sentido da corrente;


• é somente a imantação por corrente elétrica que nos fornece ímãs muito possantes;
• podemos usar uma barra de ferro doce (ferro puro), que tem a propriedade
de só se imantar enquanto estiver passando a corrente, e se neutraliza logo
que a corrente é desligada. Assim, temos um ímã que só funciona quando
queremos. Por outro lado, o aço permanece imantado mesmo quando cessa a
causa da imantação.

Observe um eletroímã em formato de U:

FIGURA 28 – ELETROÍMÃ EM FORMATO DE U

FONTE: Portal São Francisco (2021, s.p.)

DICAS

Acadêmico, assista ao vídeo de como funcionam os eletroímãs em ht-


tps://bit.ly/35wtIFa.

Na engenharia elétrica, temos interesse prático em determinar a força que um


campo magnético exerce sobre uma peça de material magnético sob a ação do campo.

169
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

Esse conceito é utilizado em sistemas eletromecânicos, como em eletroí-


mãs, em reles, em máquinas rotativas etc. Se considerarmos um eletroímã fabri-
cado de ferro com permeabilidade relativa constante, a bobina é composta por
N espiras e é percorrida por uma corrente I. Se desprezarmos o espalhamento, a
indução magnética B, no entreferro de ar, é a mesma da do interior do ferro, ou
seja, Bg = Bf. Para encontrarmos a força entre as duas peças de ferro, calculamos
a alteração de energia total que resultaria se as duas peças fossem separadas por
um deslocamento diferencial dl.

O trabalho necessário para efetivar o deslocamento é igual à variação da energia


armazenada no entreferro de ar, assumindo que a corrente elétrica é constante, ou seja:

S é a área da seção reta do entreferro e o fator 2 aparece para contabilizar


a contribuição dos dois entreferros de ar.

O sinal negativo indica que a força age no sentido de reduzir o entreferro,


ou seja, a força é atrativa entre as peças. Com isso, podemos escrever:

Note que a força é exercida sobre a peça inferior e não sobre a peça
superior na qual está enrolada a bobina percorrida pela corrente que dá origem
ao campo. A figura 101 mostrará um eletroímã, a partir da qual você, aluno,
poderá imaginar como essas peças são. Esse eletroímã tem formato de U. A força
de atração, através de um único entreferro, pode ser obtida por:

Essa equação pode ser usada para calcular as forças em muitos tipos dos
dispositivos eletromagnéticos.

A pressão de tração, dada em N/m2, em uma superfície imantada, é dada por:

Que é igual à densidade de energia W no entreferro de ar. Agora, faremos


um exemplo numérico para ilustrar esses conceitos.

Exemplo: Um eletroímã na forma de U, mostrado a seguir, é projetado para


levantar uma massa de 400 kg (o que inclui a massa do protetor). O núcleo em U, de
ferro com μr = 3000, tem uma seção reta de 40 cm2, um comprimento médio de 50 cm
e cada entreferro de ar tem 0,1 mm de comprimento. Desprezando a relutância do pro-
tetor, calcule o número de espiras na bobina quando a corrente de excitação for de 1 A.

170
TÓPICO 3 — TRANSDUTORES, ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS E ELETROÍMÃS

FIGURA 29 – ELETROÍMÃ EM FORMATO DE U

FONTE: Sadiku (2012, p. 320)

Solução: A força de tração, através dos dois entreferros, deve equilibrar o


peso, portanto:

ou

Daí:

171
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

DICAS

Acadêmico, você pode utilizar um programa para a simulação básica de pro-


blemas de conversão e de eletromagnetismo em https://bit.ly/2U2SZEf. Outro software
livre, porém, mais complexo para alunos de graduação, é o f.e.m.m., que pode ser baixado
em https://bit.ly/3wzvpxf. Sugerimos que você leia o manual e tente utilizá-lo.

172
TÓPICO 3 — TRANSDUTORES, ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS E ELETROÍMÃS

LEITURA COMPLEMENTAR

SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS DA PRODUÇÃO DE ÍMÃS


PERMANENTES E RESERVAS DE TERRAS RARAS: BRASIL × MUNDO

Franciele Weschenfelder
Philippe Pauletti
Sérgio Deitos Bittencourt
Leandro Pelegrini
Diogo Kaoru Ito
Lirio Schaeffer

INTRODUÇÃO

As tecnologias de geração de eletricidade, utilizando como base fontes


renováveis, têm criado espaço no contexto atual da economia e na nova realidade
de conscientização ambiental vivida. Um dos principais impasses para a popu-
larização desse tipo de geração (eólica, solar etc.) é o alto custo para implantação
desses sistemas, fazendo com que os mesmos fiquem nas mãos de grandes em-
presas. Assim, infelizmente, não chegam à realidade da população, que poderia
ter sistemas menores, que produziriam a sua autossuficiência podendo, também,
comercializar o excedente de energia gerado. Esse conceito de geração distribuída
resolveria problemas como o alto custo das linhas de transmissão e a dependên-
cia do setor elétrico de algumas poucas usinas geradoras. Uma das formas de re-
solver os problemas com o alto custo de implantação desses sistemas inovadores
é investir em pesquisa nos seus diversos componentes, para que cada vez mais a
eficiência seja aumentada e os custos reduzidos. Uma linha de pesquisa impor-
tante referente à energia eólica está relacionada aos materiais magnéticos (ímãs
permanentes) utilizados nos geradores eólicos. Um aerogerador síncrono com
ímãs permanentes tem o mesmo funcionamento de um gerador síncrono, diferin-
do apenas pelo fato de o campo do rotor ser produzido por ímãs permanentes ao
invés de correntes que circulam por enrolamentos. Torna-se desnecessária uma
fonte de excitação para produzir correntes rotóricas, reduzindo custos. Também,
com esta técnica não há perdas joule (I2.R) no campo, aumentando a eficiência.
Devido a estas vantagens, os geradores com ímãs permanentes são usados em pe-
quenas turbinas eólicas. Considerando as vantagens do uso de geradores síncro-
nos com ímãs permanentes, o estudo para aprimoramento da qualidade do ímã
é um tópico relevante. Um ímã permanente é um dispositivo utilizado para criar
um campo magnético estável em certa região do espaço. Para motores elétricos
de alto rendimento é de grande interesse que os ímãs permanentes apresentem
um elevado campo coercitivo ou coercividade (Hc) e elevada indução remanente
ou remanência (Br). Um elevado Hc impede que o ímã seja facilmente desmag-
netizado e um alto valor de Br resulta em um fluxo magnético elevado. A Figura
1 mostra dois ciclos de histerese, sendo que o ciclo com largura maior representa
um ímã permanente (material magnético duro), e o estreito representa um ma-

173
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

terial magnético macio. A largura representa os valores do campo Bo necessário


para desmagnetizar o material, ou seja, um material magnético duro necessita
mais campo Bo para ser desmagnetizado que um material magnético macio.

Figura 1. Ciclo de histerese para materiais magnéticos duros e macios

1.1 ESTADO DA ARTE

A produção de ímãs permanentes no Brasil ainda está em escala de estu-


dos, necessitando de uma estratégia para implementação de cadeia produtiva.
Uma alternativa seria o desenvolvimento de uma competência nacional dividida
em três níveis. O primeiro seria a busca de domínio, que compreenderia a pro-
dução em escala laboratorial para o desenvolvimento tecnológico dos processos,
planejamento de unidades produtivas e formação de especialistas. O segundo
nível, operação piloto, abrangeria a produção em escala piloto para exercer o de-
senvolvimento tecnológico para futura produção em altos níveis de qualidade e
produtividade. E, por fim, o terceiro nível corresponderia à produção competi-
tiva, plantas industriais para produção em larga escala e com competitividade
internacional. A estratégia não deve se limitar ao desenvolvimento e a produção
desses bens minerais no país. Os países desenvolvidos desprovidos desses re-
cursos minerais os importam nos estados bruto ou beneficiado e, após processa-
mento, fazem uso deles em produtos de alta tecnologia. A estratégia preconizada
vai muito além, com a necessidade de programas específicos coordenados entre
governo e setor privado para o desenvolvimento de processos e produtos em
cadeias produtivas de alto valor agregado, eventualmente atuando em determi-
nados nichos, em um ambiente de intensa competitividade internacional. É neste
contexto que os importantes recursos identificados de terras-raras no Brasil, com
teores e reservas elevados, deverão merecer uma atenção muito especial e a im-
plantação de um amplo programa de P, D&I. As terras-raras são cada vez mais
aplicadas nas indústrias de alta tecnologia, como na ‘energia verde’ (turbinas eó-

174
TÓPICO 3 — TRANSDUTORES, ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS E ELETROÍMÃS

licas e células fotovoltaicas), nos carros híbridos elétricos, nos ímãs permanentes
de alto rendimento e na comunicação à distância. É necessário que sejam também
destacadas ações na sua cadeia produtiva para que o Brasil continue exercendo
controle em todas as fases dessa indústria tão importante. A Figura 2 mostra um
esquema do desenvolvimento de competências em toda a cadeia produtiva.

Figura 2. Esquema do desenvolvimento de competência em cadeia produtiva.

Os Elementos de Terras-Raras (ETR) estão contidos, principalmente, nos


minerais dos grupos da bastnaesita (Ce, La) CO3 F, monazita (Ce, La)PO4, argilas
iônicas portadoras de Terras-Raras e xenotímio (YPO4). As maiores reservas de
bastnaesita estão na China e nos EUA. No Brasil, Austrália, Índia, África do Sul,
Tailândia e Sri Lanka, os ETR ocorrem na monazita e em areias com outros mi-
nerais pesados (ilmenita, zirconita e rutilo). No Brasil também se destaca a ocor-
rência de importantes depósitos de ETR em carbonatitos, como em Catalão (GO),
Araxá (MG), Mato Preto (PR), Anitápolis (SC) e outros. A China possui 36,5% das
reservas mundiais de Terras-Raras, seguida pela Comunidade dos Estados Inde-
pendentes (CEI) e dos EUA. Mais detalhes das reservas mundiais estão expostos
na Figura 3, em que se pode observar que as reservas brasileiras, mesmo grandes,
são quase insignificantes quando comparadas às reservas mundiais.

Figura 3. Distribuição de reservas de Terras-Raras no mundo.

175
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

A China continua na liderança da produção mundial, com mais de 97%.


A grande produção permite à China manter preços baixos para as ETR e seus
produtos, ao mesmo tempo que desestimula a produção e a pesquisa das mesmas
pelos demais países. As reservas brasileiras de Terras-Raras representam menos
de 1% do total mundial, somando 40 mil toneladas (medidas e indicadas) de Ter-
ras-Raras contidas. Prevê-se, para o período 2010-2015, que a demanda por Ele-
mentos de Terras-Raras (ETR) continuará alta. Os aumentos mais significativos
previstos na demanda são atribuídos à expansão da fabricação de carros elétricos
híbridos, seguida por catalisadores para o refino do petróleo, fabricação e poli-
mento de vidros. Nos últimos anos, a China está restringindo as exportações de
Terras-Raras, dando preferência às fábricas que usem a matéria prima no próprio
país e exportando produtos, como motores elétricos de alto desempenho. De-
vido principalmente a este fato justificam-se os atuais estudos para a produção
nacional de ímãs permanentes de Terras-Raras, visto que o país possui a matéria
prima, mas não possui a tecnologia, em escala industrial, de produção.

No mundo, a técnica de fabricação mais utilizada para obtenção de ímãs


é o processamento de materiais particulados, pelo processo da metalurgia do pó.
Como a fase magnética é obrigatoriamente anisotrópica, magnetização espon-
tânea do material em numa única direção cristalina, se o material for moído a
ponto de que cada partícula contenha um só cristal e estas forem depositadas re-
lativamente soltas em uma cavidade, quando submetidas a um campo magnético
intenso as elas sofrerão uma rotação, de maneira que tenham suas direções cris-
talinas de magnetização espontânea alinhadas na direção do campo externo apli-
cado. Esta técnica de orientação do material permite obter um altíssimo grau de
paralelismo das direções cristalinas das partículas, maximizando a remanência.

2 VANTAGENS DE GERADORES COM ÍMÃS PERMANENTES

Atualmente, o uso de ímãs permanentes com alto produto energético, em


substituição aos enrolamentos de campo em máquinas elétricas, tem aumentado
consideravelmente. Esta tendência deve-se à necessidade de sistemas de campo ba-
ratos e confiáveis produzidos a partir de ferritas que, dependendo da aplicação, são
adequados. Entretanto, um desenvolvimento mais importante, ocorreu a partir da
utilização de novos materiais magnéticos, como os ímãs permanentes de Terras-Ra-
ras (super ímãs), que possuem um produto energético muito superior às ferritas.
Nos geradores com imãs permanentes não existem os enrolamentos de campo, que
são substituídos por ímãs permanentes de alto produto energético. Não possuem
igualmente escovas ou fonte de tensão contínua, reduzindo manutenções e aumen-
tando o rendimento e com melhor relação torque/volume. Na maioria das vezes, os
ímãs são fixados tangencialmente na superfície dos polos do rotor ou axialmente
internamente no rotor. A utilização dos super ímãs em novas configurações resul-
tou em um alto rendimento dessas máquinas elétricas bem como em outras ca-
racterísticas que são difíceis de comparar com máquinas sem ímãs permanentes.
A utilização dos super ímãs diminui sensivelmente os riscos de desmagnetização,
uma vez que esses ímãs possuem elevada coercitividade, além de possibilitar o de-
senvolvimento de máquinas com uma elevada relação torque/volume.

176
TÓPICO 3 — TRANSDUTORES, ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS E ELETROÍMÃS

3 ASPECTOS A SEREM ANALISADOS NA ESCOLHA DO ÍMÃ

Os ímãs permanentes são essenciais por armazenar energia e por colocar


esta energia à disposição através de um campo magnético estático. A escolha de
um dado material para uma certa aplicação depende de vários fatores. Existe um
balanço entre as propriedades magnéticas e os custos, de forma que nem sempre
para uma dada aplicação o ímã permanente a ser utilizado será um material com
propriedades excepcionais, se houver similar com custo reduzido. É feita uma im-
portante distinção entre as propriedades magnéticas intrínsecas e extrínsecas dos
ímãs permanentes. Propriedades intrínsecas são as propriedades da fase magnéti-
ca principal de um ímã que são independentes da microestrutura da amostra. As
propriedades intrínsecas são a ordem ferro ou ferrimagnética, a magnetização de
saturação Ms, a temperatura de Curie Tc e a anisotropia magnética. Por outro lado,
propriedades extrínsecas são aquelas criticamente dependentes da microestrutura
da amostra e da orientação dos grãos, e incluem a indução remanente Br e o cam-
po coercivo Hc. Para escolha do ímã, devem ser feitas avaliações de fatores como:
temperatura de operação, efeitos de desmagnetização, intensidade do campo de
indução, características ambientais, espaço disponível para os vários movimentos
possíveis etc. A Figura 4 mostra exemplos de aplicações dos ímãs permanentes.

Figura 4. Aplicação dos ímãs permanentes: a) geradores eólicos, b) mancais magnéticos para
compressores e c) aparelhos de ressonância magnética.

4 TIPOS DE ÍMÃS

Atualmente, os principais ímãs comercializados são os cerâmicos (ferri-


tas), as ligas alumínio-níquel-cobalto e as Terras-Raras, como samário-cobalto e
neodímioferro-boro. Com relação aos ímãs comercializados, os sinterizados de
ferritas possuem a maior parcela no mercado. Os ímãs de Al-Ni-Co compreen-
dem 9,23% da produção mundial e podem ser obtidos por sinterização ou fun-
dição. O grupo mais recente são os ímãs de Terras- -Raras como o Sm-Co e o
Nd-Fe-B, também sinterizados, que compõem 23,76% do mercado e são os mais
poderosos ímãs atualmente produzidos.

4.1 AlNiCo: Este ímã permanente (Figura 5) apresenta uma alta densida-
de de fluxo magnético remanente, coeficientes baixos de temperatura (0,02%/C
para Br) e uma temperatura de serviço de até 520 °C. Mas, em geral, pode se con-
siderar que sua força coercitiva é baixa, e sua curva de desmagnetização é não li-
near. Como consequência, é fácil de magnetizar, mas também de desmagnetizar.
177
UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS

4.2 Ferrite: São fabricados principalmente de ferritas de estrôncio ou de bário


e óxido de ferro, exemplos deste ímã podem ser visualizados na Figura 6. Podem ser
produzidos como ímãs isotrópicos e anisotrópicos. Os anisotrópicos são expostos a
um campo eletromagnético durante o processo de fabricação para alcançar maior
energia e a melhores propriedades magnéticas. O material em pó é compactado
e logo exposto em altas temperaturas (sinterizado), o que lhes permite apresentar
maior resistência mecânica. Apresentam alta resistência à corrosão, a faixa de máxi-
mo produto energético é de 8,35 kJ/m3 a 34,4 kJ/m3, a densidade de fluxo remanente
está entre 0,23 T a 0,43 T e coercitividade, entre 150 kA/m e 288 kA/m.

4.3 SmCo: A composição típica consiste em samário, cobalto, cobre, zircô-


nio e outros elementos; faz parte da primeira geração de ímãs de Terras-Raras. Os
ímãs de SmCo podem ser referidos como SmCo5 ou Sm2 Co17 dependendo da
composição química que afeta, principalmente, os coeficientes de temperatura dos
parâmetros magnéticos e a máxima temperatura de trabalho (Figura 7). O máximo
produto energético pode variar entre 110 kJ/m3 e 240 kJ/m3, a densidade de fluxo re-
manente está entre 0,8 T e 1,15 T, e a coercitividade fica entre 620 kA/m a 835 kA/m.

4.4 NdFeB: São conhecidos como a segunda geração de ímãs de Terras-Raras


(Figura 8). São ímãs com o maior produto energético disponíveis na atualidade e com
excelentes propriedades magnéticas. Apresentam uma resistência à desmagnetiza-
ção muito alta, uma boa resistência mecânica e suas duas vantagens mais evidentes
são a suscetibilidade à oxidação e as relativamente baixas temperaturas de emprego
(até 120°C). É possível incorporar revestimentos adequados: níquel, zinco, epóxi e
ouro. O máximo produto energético excede 400 kJ/m3. Na densidade de fluxo rema-
nente, a faixa é de 1,1 T a 1,5 T e de 0,8 MA/m a 1,14 MA/m para coercitividade.

178
TÓPICO 3 — TRANSDUTORES, ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS E ELETROÍMÃS

FONTE: <https://bit.ly/3zsZ4u5>. Acesso em: 11 dez. 2020.

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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os atuadores eletromagnéticos são componentes que convertem energia elé-


trica, hidráulica ou pneumática em energia mecânica. Esses dispositivos são
muito utilizados em indústrias e em usinas de energia.

• Os atuadores eletromagnéticos são os mais utilizados em robôs, principal-


mente, os motores cc e os motores de passo.

• Os transdutores eletromagnéticos são componentes que convertem energia


elétrica, hidráulica ou pneumática em energia mecânica.

• Os eletroímãs são dispositivos formados por um núcleo de ferro envolto por


uma bobina.

• O estudo de todos esses dispositivos é útil em várias áreas da engenharia.

CHAMADA

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180
AUTOATIVIDADE

1 O transdutor é um dispositivo utilizado em conversão de energia de uma na-


tureza para outra. Na prática, transdutor é um dispositivo que utiliza uma na-
tureza de energia, que pode ser elétrica, mecânica, ótica, térmica, entre outros.
Com base nesse contexto, explique com suas palavras o que são transduto-
res e quais são os tipos?

2 Nos últimos anos, uma das maiores preocupações na indústria tem sido
o aumento da eficiência de seus equipamentos. Em termos de máquinas
rotativas, a eficiência está diretamente relacionada com a sua velocidade
de operação. Um dos métodos existentes para o aumento da velocidade de
operação consiste na redução do peso, resultando rotores mais flexíveis.
Com base no exposto, o que são atuadores eletromagnéticos?

3 Uma grande vantagem de um eletroímã para um ímã permanente é a capa-


cidade de controlar a intensidade do campo gerado através da corrente que
está sendo passada. Com base no exposto, responda o que são eletroímãs?

4 Eletroímãs são construídos pela junção de um solenoide com um material


ferromagnético, tipo de material que é facilmente imantado. Um eletroí-
mã é uma espécie de ímã que possui um campo magnético resultante da
passagem de uma corrente elétrica por um solenoide. Com base no exposto,
quais são as aplicações dos eletroímãs?

5 Uma seção de um eletroímã com uma placa sobre ele, suportando uma car-
ga, será mostrada na figura. O eletroímã tem uma área de contato de 200
cm2 por polo, com o polo do meio tendo um enrolamento de 100 espiras e
I = 3 A. Calcule a máxima massa que pode ser levantada. Suponha que as
relutâncias do eletroímã e da placa sejam desprezíveis.

ELETROÍMÃ

FONTE: Sadiku (2012, p. 325)

181
6 Determine a força através do entreferro de ar do circuito magnético do cir-
cuito da figura, sendo B = 1,5 [Wb/m2], µ = 50µ0, e todos os trechos do núcleo
têm a mesma área de seção reta de 10 cm3.

CIRCUITO MAGNÉTICO

FONTE: Sadiku (2012, p. 319)

7 A figura a seguir mostrará a seção reta de um sistema eletromecânico no qual uma


peça móvel se desloca livremente através de uma luva não magnética. Assumindo
que todas as pernas do núcleo tenham a mesma seção reta S, demonstre que:

SISTEMA ELETROMECÂNICO

FONTE: Sadiku (2012, p. 331)

8 A figura a seguir representará um eletroímã e um pêndulo, cuja massa pre-


sa à extremidade é um pequeno ímã.

182
ELETROÍMÃ COM PÊNDULO

FONTE: Googlesites (2021, s.p.)

Ao fechar a chave C, é CORRETO afirmar que:

a) ( ) O ímã do pêndulo será repelido pelo eletroímã.


b) ( ) O ímã do pêndulo será atraído pelo eletroímã.
c) ( ) O ímã do pêndulo girará 180° em torno do fio que o suporta.
d) ( ) O polo sul do eletroímã estará à esquerda.

9 Um eletromagneto em forma de U, segundo a figura a seguir, sustenta uma


barra de ferro. O comprimento médio do eletromagneto adicionado ao da
barra perfaz 1 m e o contato ferro-ferro entre eles é estabelecido por lâminas
de cobre de 1 mm de espessura. A área de contato é a de um círculo com 0,1
m2. Se a permeabilidade relativa do material utilizado é de 1800 e o número
de ampères-espiras é de 1 kA, qual é o peso da barra sustentada?

ELETROMAGNETO EM FORMATO DE U

FONTE: UNESP (2021, s.p.)

10 Determine o número de ampères-espiras necessários para gerar uma força


magnetomotriz de modo a manter um entreferro, de 1 mm, na estrutura
ferromagnética da Figura a seguir, contra a ação de uma mola cuja cons-
tante elástica seja k = 5 × 102 N/m. Nessa situação, sabe-se que a distensão
da mola é de 2 cm. Despreze o espraiamento e a relutância do ferro.

183
ESTRUTURA FERROMAGNÉTICA

FONTE: UNESP (2021, s.p.)

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REFERÊNCIAS
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Alegre: Bookman, 2013.

BRAGA, N. C. Como funcionam os toroides. 2021. Disponível em: https://bit.


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EDMINISTER, J. A. Eletromagnetismo. São Paulo: Mc-Graw-Hill Inc., 1981.

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HAYT JR., W. H.; BUCK, J. A. Eletromagnetismo. 8. ed. São Paulo: AMGH, 2012.

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MAGMATTEC. Indutores. 2021. Disponível em: https://www.magmattec.com.


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PILOTTO, R. Modelagem e otimização de atuadores magnéticos no controle de


vibrações. Campinas: UNICAMP, 2015.

PORTAL SÃO FRANCISCO. Eletroímã. 2021. Disponível em: https://bit.


ly/3zyjD8d. Acesso em: 4 maio 2021.

SADIKU, M. O. Elementos de eletromagnetismo. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.

SADIKU, M. O.; Alexander, C. K. Fundamentos de circuitos elétricos. São Paulo:


McGtaw-Hill do Brasil, 2013.

UNESP. Força de origem magnética no entreferro. 2021. Disponível em: https://


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UTFPR. Lista de exercícios 5 – Circuitos acoplados magneticamente. 2021.


Disponível em: https://bit.ly/35th8Gy. Acesso em: 6 maio 2021.

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WESCHENFELDER, F.; PAULETTI, P.; BITTENCOURT, S.; PELEGRINI, L.;
KAORU ITO, D.; SCHAEFFER, L. Situação atual e perspectivas da produção
de ímãs permanentes e reservas de terras raras: Brasil × mundo. Tecnol. Metal.
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ly/3zsZ4u5. Acesso em: 6 maio 2021.

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