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Hidráulica e

Hidrometria

Prof.ª Livia Malacarne Pinheiro Rosalem


Prof. Erick Santana Amancio

Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Livia Malacarne Pinheiro Rosalem
Prof. Erick Santana Amancio

Copyright © UNIASSELVI 2022

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.


Núcleo de Educação a Distância. ROSALEM, Livia Malacarne Pinheiro.

Hidráulica e Hidrometria. Livia Malacarne Pinheiro Rosalem; Erick Santana


Amancio. Indaial - SC: Arqué, 2022.

215p.

ISBN 978-65-5466-223-9
ISBN Digital 978-65-5466-224-6

“Graduação - EaD”.
1. Hidráulica 2. Hidrometria 3. Engenharia

CDD 622.2
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Entende-se por Hidráulica o estudo do comportamento da água e de outros
fluidos, quer seja esse comportamento de movimento ou de repouso. A Hidráulica pode
ser dividida em Geral, dita também Teórica, Aplicada ou Hidrotécnica. Contudo, busca-
se sempre conciliar os princípios teóricos com a aplicação, o que faz com que haja
o intenso desenvolvimento em ambas as áreas da Hidráulica (AZEVEDO NETTO, 2015;
SCHULZ, 2003).

Muito do avanço alcançado no conhecimento da Hidráulica se deu, e ainda


se dá, com a prática experimental. Assim, diante dos problemas práticos que lhes são
apresentados, os engenheiros ambientais e sanitaristas voltam-se para o uso das
fórmulas e equações da Hidráulica, muitas vezes, empíricas. Leonardo da Vinci já dizia
com sua brilhante mente que: “Em se tratando de água coloque a experiência antes da
teoria”, apontando para a forte base experimental pertinente, a Hidráulica.

Assim, caro acadêmico, temos como objetivo, com esse material, compartilhar
com você o conhecimento básico da Hidráulica, a fim de que você desenvolva uma sólida
base de conhecimentos teóricos e práticos de maneira a habilitá-lo para os desafios que
surgirão em sua carreira profissional.

Na Unidade 1, abordaremos, primeiramente, os conceitos teóricos mais básicos


sobre Hidráulica, as unidades usuais e os principais símbolos adotados. Posteriormente,
serão apresentados os importantes conceitos relacionados às propriedades dos fluidos,
tais como sua massa específica, compressibilidade, elasticidade dentre outras. Por fim,
serão apresentados os tipos de regime de escoamento e a classificação que, geralmente,
se adota para distinguir os tipos de movimentação dos fluidos.

Na Unidade 2 serão abordados os princípios gerais que regem o escoamento


dos fluidos. Nisso, incluem-se o estudo dos conceitos sobre linha de energia e linha
piezométrica, sobre o número de Reynolds, das principais equações (equação da
continuidade, equação de Bernoulli, equação Universal de perda de carga e a equação
de Hazen-Williams) e das principais leis (lei de distribuição universal de velocidade, leis
de resistência no escoamento turbulento). Esses conhecimentos são importantes para
a aplicação correta das fórmulas, tanto as empíricas quanto as teóricas, nos cálculos do
escoamento em tubulações, que é o foco da unidade seguinte.

Na última unidade dessa disciplina serão abordados os métodos e


equacionamentos aplicados aos cálculos do escoamento em tubulações sobre pressão.
Primeiramente, serão introduzidos os conceitos e equacionamentos para o cálculo da
perda de carga, tanto distribuídas quanto localizadas nos escoamentos. Em seguida,
serão apresentados conteúdos com foco em sistemas de tubulações, isto é, sobre a
perda de carga unitária e declividade da linha de pressões, sobre os métodos de vazão
em marcha e de condutos equivalentes que auxiliam na resolução dos problemas
com escoamento e sobre sistemas de abastecimento ramificados (diversos pontos de
redistribuição da vazão). Posteriormente, serão tratadas as questões relacionadas ao
planejamento, dimensionamento hidráulico e implantação de adutoras. As adutoras
incluem diferentes unidades de operação em um sistema de abastecimento, que
serão abordadas separadamente, isto é, serão apresentados os critérios, condições e
características das Estações Elevatórias, dos Reservatórios e das Redes de Distribuição.
Por fim, como último assunto da disciplina, será abordado o fenômeno de transiente
hidráulico, também chamado de golpe de aríete, incluindo os conceitos, fórmulas mais
aplicadas e os dispositivos usados para proteger as tubulações dos efeitos prejudiciais
do golpe de aríete sobre as estruturas e tubulações em um sistema de abastecimento.

Esperamos que este material traga a você um tempo de estudo proveitoso e de


muito aprendizado.

Bons estudos!

Lívia M. P. Rosalem
PhD Engenharia Hidráulica e Saneamento (EESC/USP)
GIO
Olá, eu sou a Gio!

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Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - PRINCÍPIOS CONCEITUAIS BÁSICOS................................................1

TÓPICO 1 - CONCEITOS BÁSICOS........................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2 PRINCÍPIOS CONCEITUAIS BÁSICOS.................................................................. 3
2.1 CONCEITO DE HIDRÁULICA - SUBDIVISÕES ............................................................... 4
2.1.1 O surgimento e desenvolvimento da Hidráulica ..................................................5
2.2 SÍMBOLOS E UNIDADES USUAIS ................................................................................... 8
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................... 14
AUTOATIVIDADE.................................................................................................... 15

TÓPICO 2 - PROPRIEDADES DOS FLUIDOS..........................................................17


1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................17
2 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS.......................................................................... 18
2.1 MASSA ESPECÍFICA, DENSIDADE E PESO ESPECÍFICO ...........................................19
2.2 COMPRESSIBILIDADE E ELASTICIDADE.......................................................................21
2.3 LÍQUIDOS PERFEITOS....................................................................................................... 24
2.4 ATRITO INTERNO E EXTERNO......................................................................................... 24
RESUMO DO TÓPICO 2...........................................................................................35
AUTOATIVIDADE....................................................................................................36

TÓPICO 3 - TIPOS E REGIMES DE ESCOAMENTOS..............................................39


1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................39
2 TIPOS E REGIMES DE ESCOAMENTOS............................................................. 40
2.1 REGIMES DE ESCOAMENTO .............................................................................................41
2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS............................................................................. 43
2.2.1 Classificações adicionais.........................................................................................48
2.2.2 Fundamentos da visualização do escoamento de fluidos............................. 50
2.2.3 Representação gráfica dos escoamentos.......................................................... 52
2.2.4 Sistema e volume de controle.............................................................................. 53
RESUMO DO TÓPICO 3...........................................................................................55
AUTOATIVIDADE....................................................................................................56
LEITURA COMPLEMENTAR...................................................................................58

REFERÊNCIAS........................................................................................................64

UNIDADE 2 — PRINCÍPIOS GERAIS DO ESCOAMENTO DOS FLUÍDOS................65

TÓPICO 1 — PRINCIPAIS EQUAÇÕES E LINHA DE CARGA................................... 67


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 67
2 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE............................................................................71
3 LINHA DE ENERGIA E LINHA PIEZOMÉTRICA................................................... 76
4 EQUAÇÃO DE BERNOULLI.................................................................................. 79
5 EQUAÇÃO DE DARCY-WEISBACH..................................................................... 84
RESUMO DO TÓPICO 1...........................................................................................87
AUTOATIVIDADE....................................................................................................88
TÓPICO 2 - ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES................................... 91
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 91
2 TENSÃO TANGENCIAL .......................................................................................92
3 COMPRIMENTO DE MISTURA DE PRANDTL – DISTRIBUIÇÕES
DE VELOCIDADE ....................................................................................................94
4 LEI DE DISTRIBUIÇÃO UNIVERSAL DE VELOCIDADE......................................95
5 EXPERIÊNCIA DE NIKURADSE ..........................................................................98
6 LEIS DE RESISTÊNCIA NO ESCOAMENTO TURBULENTO..............................100
RESUMO DO TÓPICO 2.........................................................................................104
AUTOATIVIDADE..................................................................................................105

TÓPICO 3 - ESCOAMENTO EM CONDUTOS FORÇADOS.................................... 107


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 107
2 CONCEITO GENERALIZADO DO NÚMERO DE REYNOLDS .............................108
2.1 ESCOAMENTO EM CONDUTOS FORÇADOS .................................................................111
3 FÓRMULA DE HAZEN-WILLIAMS .....................................................................119
4 COMPARAÇÃO ENTRE A FÓRMULA DE HAZEN-WILLIAMS
E A FÓRMULA UNIVERSAL.................................................................................. 121
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................. 123
RESUMO DO TÓPICO 3.........................................................................................128
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 129

REFERÊNCIAS.......................................................................................................131

UNIDADE 3 — CÁLCULO DO ESCOAMENTO EM TUBULAÇÕES


SOBRE PRESSÃO................................................................................................. 133

TÓPICO 1 — PERDAS DE CARGA E OS SISTEMAS


HIDRÁULICOS DE TUBULAÇÕES........................................................................ 135
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 135
2 PERDAS DE CARGAS LOCALIZADAS E DISTRIBUÍDAS.................................. 136
3 VALORES DO COEFICIENTE K PARA ALGUMAS SINGULARIDADES .............145
4 MÉTODO DOS COMPRIMENTOS EQUIVALENTES............................................151
5 DISTRIBUIÇÃO DE VAZÃO EM MARCHA.......................................................... 152
6 CONDUTOS EQUIVALENTES............................................................................ 153
6.1 CONDUTO EQUIVALENTE A OUTRO............................................................................. 153
6.2 CONDUTO EQUIVALENTE A UM SISTEMA.................................................................. 154
7 SISTEMAS RAMIFICADOS................................................................................ 155
7.1 TOMADA DE ÁGUA ENTRE DOIS RESERVATÓRIOS................................................... 156
7.2 TRÊS RESERVATÓRIOS INTERLIGADOS.......................................................................157
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................... 159
AUTOATIVIDADE..................................................................................................160

TÓPICO 2 - ADUTORAS E ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS........................................ 163


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 163
2 CLASSIFICAÇÃO, TRAÇADO E DIMENSIONAMENTO
HIDRÁULICO PARA ADUTORAS.......................................................................... 163
2.1 CLASSIFICAÇÃO................................................................................................................ 164
2.2 TRAÇADO............................................................................................................................167
2.3 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO.............................................................................. 168
3 DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO PARA ADUTORAS........................................... 170
3.1 BLOCOS DE ANCORAGEM...............................................................................................170
3.2 PROTEÇÃO CONTRA CORROSÃO...................................................................................171
4 COMPONENTES E PROJETO DE ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS DE ÁGUA.......... 173
4.1 BOMBAS...............................................................................................................................173
4.1.1 Conceitos pertinentes..............................................................................................175
4.2 seleção de conjuntos elevatórios.................................................................................178
4.3 PROJETO DE ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS.....................................................................179
RESUMO DO TÓPICO 2.........................................................................................180
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 181

TÓPICO 3 - RESERVATÓRIOS E REDE DE DISTRIBUIÇÃO.................................183


1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................183
2 CLASSIFICAÇÃO E CAPACIDADE DOS RESERVATÓRIOS..............................183
2.1 CLASSIFICAÇÃO................................................................................................................ 184
2.2 CAPACIDADE..................................................................................................................... 186
2.2.1 Determinação do volume útil............................................................................... 186
2.2.2 Determinação do volume para combate a incêndios................................... 189
2.2.3 Determinação do volume para emergência.................................................... 189
2.2.4 Tubulação e órgãos acessórios........................................................................... 190
3 TIPOS DE REDE E VAZÃO DE DIMENSIONAMENTO........................................190
3.1 TIPOS DE REDES................................................................................................................ 191
3.2 RECOMENDAÇÕES PARA O TRAÇADO DA REDE......................................................192
3.3 VAZÃO PARA DIMENSIONAMENTO...............................................................................192
3.4 CONDIÇÕES HIDRÁULICAS NO DIMENSIONAMENTO DE REDES..........................193
3.4.1 Pressões mínimas e máximas.............................................................................. 194
3.4.2 Velocidades e diâmetro mínimo......................................................................... 194
3.4.3 Materiais para redes.............................................................................................. 195
3.4.4 Dispositivos e equipamentos acessórios......................................................... 196
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................... 198
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 199

TÓPICO 4 - GOLPE DE ARÍETE/TRANSIENTE HIDRÁULICO.............................201


1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................201
2 CONCEITO E MECANISMO DO FENÔMENO......................................................201
3 CELERIDADE E PERÍODO DE CANALIZAÇÃO................................................. 203
4 OUTRAS FÓRMULAS E TEORIAS..................................................................... 205
5 CONDIÇÕES DE EQUIVALÊNCIA E DISPOSITIVOS USUAIS........................... 206
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................ 208
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................ 209
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 213

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 215
UNIDADE 1 -

PRINCÍPIOS CONCEITUAIS
BÁSICOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender a importância e as aplicações do conhecimento da Hidráulica;

• reconhecer as unidades e principais símbolos utilizados;

• entender as propriedades dos fluidos e suas implicações;

• reconhecer os tipos e regimes de escoamentos dos fluidos.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 - CONCEITOS BÁSICOS


TÓPICO 2 - PROPRIEDADES DOS FLUIDOS
TÓPICO 3 - TIPOS E REGIMES DE ESCOAMENTOS

CHAMADA
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1
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UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
CONCEITOS BÁSICOS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico abordaremos o conceito e um pouco sobre
a história da evolução do conhecimento na Hidráulica. Devido à necessidade de
abastecimento de águas nas cidades, do esgotamento sanitário e também da irrigação
de suas plantações, algumas das grandes cidades antigas desenvolveram sistemas
para isso que remontam a mais de 3000 a.C.

Será discutido, de maneira breve, sobre as áreas em que o estudo da Hidráulica,


geralmente, se subdivide e diante dessas subdivisões, diferentes áreas de atuação
se desenvolveram. Conhecer essas subdivisões é, portanto, necessário para saber as
áreas em que o conhecimento se desenvolveu e conhecer os instrumentos e estruturas
utilizados para a atividade profissional nas áreas da Hidráulica aplicada à solução prática
dos problemas.

Além disso, você também aprenderá sobre o sistema de unidades utilizado na


área e sobre os principais símbolos. Isto é muito importante ser bem compreendido
logo no início dos estudos dessa disciplina, uma vez que muitos erros nos cálculos e
aplicações das fórmulas ocorrem por não se utilizar adequadamente as variáveis das
equações nas unidades métricas corretas. Utilizar um sistema de unidades padrão
permite organizar e difundir o trabalho científico e técnico da área, sendo, portanto,
imprescindível conhecer e aplicar o sistema de unidades e os símbolos adequados
(AZEVEDO NETTO, 2015; SHULZ, 2003).

2 PRINCÍPIOS CONCEITUAIS BÁSICOS


Quando falamos em princípios básicos, nos referimos aos conhecimentos
elementares para formar no estudante o fundamento sobre o qual os demais
conhecimentos da disciplina em questão serão adicionados. Pensando na disciplina de
Hidráulica e Hidrometria, é necessário ao estudante conhecer a origem desse ramo do
conhecimento, bem como entender o sistema de unidades e símbolos que compõem as
ferramentas para expressão que permitem organizar e padronizar o trabalho científico
e técnico.

3
2.1 CONCEITO DE HIDRÁULICA - SUBDIVISÕES
A palavra hidráulica tem sua origem do grego, com o significado de “condução
de água” (hydor = água e aulos = tubo, condução), mas, atualmente, o termo hidráulica é
utilizado para se referir, de uma maneira mais abrangente, ao estudo do comportamento
da água e outros fluidos em repouso ou em movimento (AZEVEDO NETTO, 2015).

Comumente, a Hidráulica é dividida em Hidráulica Geral, também chamada de


Teórica, e em Hidráulica Aplicada, também chamada de Hidrotécnica. A Hidráulica Geral
é subdividida em Hidrostática, Hidrocinemática e Hidrodinâmica. A Hidrostática é o
ramo da Hidráulica com foco no estudo dos fluidos em repouso ou equilíbrio, enquanto
a Hidrocinemática refere-se às situações de movimento dos fluidos com foco no
estudo das velocidades e trajetórias. Alguns classificam a Hidrocinemática como uma
ramificação da Hidrodinâmica, que também tem como foco o estudo do escoamento
dos fluidos, mas que considera também as forças envolvidas nesse escoamento.

ATENÇÃO
Cuidado para não confundir Hidrocinemática com Hidrodinâmica! Atenção
para o fato de a Hidrodinâmica considerar as forças envolvidas no escoamento
do fluido.

Ao considerar as forças atuantes no processo de escoamento do fluido, a


representação dos processos hidrodinâmicos através de equacionamentos torna-se, por
vezes, bem complexa. Atualmente, com a rápida evolução do potencial computacional
disponível para a resolução de tais equacionamentos, houve grande avanço no
entendimento dos processos, na resolução e também na modelagem.

Cabe mencionar que como a Hidráulica sempre envolveu investigações e


análises matemáticas, frequentemente ocorreram estudos teóricos que se distanciavam
dos resultados experimentais. Com isso, muitas fórmulas que surgiram de base teórica
necessitaram de coeficientes obtidos experimentalmente para correção. Foram tantas
essas fórmulas que a Hidráulica acabou sendo apelidada de “ciência dos coeficientes”
(AZEVEDO NETTO, 2015; SCHULZ, 2003).

A Hidráulica Aplicada é a área do estudo que tem como foco a aplicação


prática de conhecimentos e a observação de fenômenos relacionados à movimentação
de fluidos, usualmente, a água (AZEVEDO NETTO, 2015). Essa área da Hidráulica se
subdivide em vários ramos de estudo relacionados a diferentes áreas de aplicação
dos conhecimentos, sendo as principais: urbana, rural, fluvial e marítima. A Figura 1
apresenta um diagrama com as principais divisões e algumas subdivisões.

4
Figura 1 - Diagrama das áreas e subáreas de estudo da hidráulica

Fonte: Adaptada de Netto (2015) e Schulz (2003)

INTERESSANTE
Já ouviu sobre as muitas construções de diques e de outras obras Hidráulicas
que os holandeses constroem há anos para lidar com o nível baixo de suas
terras? Acesse em: http://glo.bo/3rx4eSO.

2.1.1 O surgimento e desenvolvimento da Hidráulica


As primeiras obras de Hidráulica que se tem conhecimento remontam à
Antiguidade na região conhecida como Mesopotâmia. Nessa região foram construídos
canais de irrigação entre os rios Tigre e Eufrates e, na cidade de Nipur, na Babilônia,
já havia coletores de esgoto desde 3750 a.C. e em 2500 a.C. havia importantes obras
de regularização do Rio Nilo, no Egito, e também de irrigação. Somente em 691 a.C. é
que se tem notícia do primeiro sistema público de abastecimento de água, o aqueduto
de Jerwan, na Assíria. Talvez o exemplo mais impressionante do ponto de vista
técnico de Engenharia, na Antiguidade, seja a série de tubulações de chumbo e argila
pressurizadas, construídas na cidade de Pergamon, atual Turquia, entre 283 e 133 a.C.
(AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

5
Em 250 a.C., Arquimedes enunciou alguns princípios da Hidrostática, entre
eles o enunciado que depois ficou conhecido como “Princípio de Arquimedes”, a saber:
“Todo corpo submerso num líquido em equilíbrio, sofre ação de uma força denominada
Empuxo, cuja intensidade é igual ao peso do volume de líquido deslocado, sendo tal
empuxo vertical, agindo de baixo para cima e cuja linha de ação passa pelo centro de
gravidade do líquido deslocado”. Essa é reconhecida como a contribuição para a teoria
da mecânica dos fluidos mais antiga (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; MUNSON, 2004).

Depois, na Idade Média, o uso de maquinário hidráulico expandiu-se muito


lentamente, mas com persistência, bombas e pistão foram desenvolvidos para remover
água das minas e moinhos foram aperfeiçoados para moer grãos e executar outras
tarefas. Essa era a primeira vez que a humanidade não tinha que usar a força humana
ou a de animais para realizar tarefas significativas (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; MUNSON,
2004).

O avanço e o desenvolvimento contínuo dos sistemas e máquinas de fluido


voltou a evoluir na época do Renascimento. Nessa época, entre os séculos XV e XVII,
pessoas como Leonardo da Vinci, Galileo e Torriceli apresentaram grandes contribuições
para os fundamentos da Hidráulica, como o Estudo do Escoamento de Água em Canais
por Gravidade, o Estudo da Queda dos Corpos, o Estudo do Escoamento de Água em
Orifícios, respectivamente.

Benedetto Castelli (1577-1644), monge italiano, foi o primeiro a publicar um


enunciado sobre o princípio da continuidade para fluidos, além de equações de
movimento de sólidos. Além dele, Issac Newton (1643-1727), também investigou o
emprego das suas leis para os fluidos, bem como estudou a inércia, a resistência e a
viscosidade. O avanço do estudo de Newton foi alcançado por Daniel Bernoulli (1700-
1782) e seu associado Leonard Euler (1707-1783), por meio da definição das equações
de energia e momento para fluidos (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; AZEVEDO NETTO, 2015).

No período do Iluminismo (século XVII - XIX), formaram-se duas escolas


de pensadores em Hidráulica: Experimentadores e os Físicos/Matemáticos. Os
Experimentadores voltaram seus esforços para a solução de problemas práticos
relacionados à condução de água. Dentre eles destacam-se Hazen-Willians, Flamant,
Manning, Darcy entre outros, que desenvolveram importantes fórmulas para solução de
problemas hidrodinâmicos a partir de observações experimentais.

Assim, dentre os pensadores Físicos/Matemáticos destacaram-se,


principalmente, Euler, Kelvin e Lagrange, por suas vastas contribuições para a Teoria da
Mecânica dos Fluidos. Deve-se a Euler as primeiras equações gerais para o movimento
dos fluidos. Entretanto, nessa época, o conhecimento na Hidráulica era separado
em dois campos distintos, a Hidrodinâmica Teórica (estudo dos fluidos perfeitos) e a
Hidráulica Empírica (estudo de cada problema separadamente) (ÇENGEL; CIMBALA,
2007; AZEVEDO NETTO, 2015).

6
A fusão dessas duas escolas se deu no final do século XIX, formando a atual
Mecânica dos Fluidos. Nessa época foram desenvolvidos importantes avanços sobre
a viscosidade nos estudos de Hidrodinâmica (Navier e Stokes), sobre os métodos de
experimentação em Hidráulica (Reynolds) e o desenvolvimento da Análise Dimensional
(Lord Rayleigh). A junção desses dois ramos de estudo deve-se muito também ao
desenvolvimento, à época, da Engenharia Aeronáutica e, com isso, do avanço no estudo
dos fluidos gasosos.

O trabalho de James Francis e de Lester Pelton, com turbinas e pela criação do


medidor de Venturi, por Clemens Herschel, fez com que os americanos se igualassem
aos europeus quanto à notoriedade e capacidade. Vale ressaltar que também foi no
século XIX que começaram a ser construídas as hidrelétricas (ÇENGEL; CIMBALA, 2007;
AZEVEDO NETTO, 2015).

No século XX, os esforços voltaram-se para o emprego de métodos racionais e o


abandono do empirismo. Como principais nomes podem ser citados Blasius, Nikuradse,
Parshall, Prandtl, Buckinghan entre outros. O século XXI é marcado pela popularização
do emprego de métodos numéricos para a resolução dos problemas da Engenharia
Hidráulica. Essa popularização fez com que surgissem novas possibilidades de
resolução computacional dos problemas, contribuindo, assim, para o desenvolvimento
de vários softwares e ferramentas para cálculo e modelagem dos processos hidráulicos,
tanto por empresas do setor privado quanto por cientistas de universidades e centros
de pesquisa. Essas ferramentas hoje auxiliam na simulação de modelos que permitem
prever e analisar fenômenos dinâmicos que eram antigamente inviáveis. A Tabela 1
apresenta alguns dos principais eventos históricos que marcaram a história de evolução
da Hidráulica.

Tabela 1 – Eventos históricos

7
Fonte: Azevedo Netto (2015, p. 19)

Com relação aos marcos históricos da evolução da Hidráulica no Brasil,


podemos mencionar o primeiro sistema de abastecimento de água desenvolvido em
1723, na capital do Rio de Janeiro e também a pioneira no país a implantar uma rede de
esgotamento sanitário em 1864 (AZEVEDO NETTO, 2015).

2.2 SÍMBOLOS E UNIDADES USUAIS


O desenvolvimento das ciências mostrou a necessidade de padronizações mais
técnicas, menos sujeitas às variações pessoais, físicas (temperatura, umidade) ou de
qualquer natureza. O progresso na descrição dos processos naturais levou à criação de
conceitos que se firmaram como “conceitos primitivos”. Esses conceitos são utilizados
como unidades básicas, a partir das quais as outras unidades são paulatinamente
construídas. Um exemplo é a massa, definida no contexto da gravitação universal, mas
cuja unidade básica (o quilograma) é adotada na construção de uma imensa gama de
grandezas derivadas, como a viscosidade dinâmica, a energia etc.

Os “sistemas de unidades” organizam as dimensões em torno daquelas


consideradas “primitivas” ou básicas, fornecendo uma base comum para as discussões
quantitativas nas ciências. As quatro grandezas básicas são: comprimento [L], tempo
[T], temperatura [θ] e massa [M] (neste último caso, também pode ser utilizada a força
[F]), porém, esse é um procedimento pouco usual). As demais grandezas físicas são
expressas em termos dessas quatro grandezas básicas e, por essa razão, as outras
grandezas são, por vezes, denominadas “grandezas derivadas” (SCHULZ, 2003).

Sempre que é estabelecida uma igualdade entre dois membros de uma equação,
essa igualdade evidentemente implica que as quantidades são iguais e também que
a qualidade das grandezas avaliadas é a mesma. Assim, podemos dizer que partindo
do fato de que exprimimos todas as grandezas físicas por nós definidas sem termos
de quantidades e qualidades, ou seja, valores numéricos e unidades de trabalho,

8
forçosamente as relações que produzirmos entre essas grandezas, se fundamentadas
nos princípios físicos válidos, conduzirão a igualdades em termos de quantidades e de
qualidades (valores e unidades).

Assim, as unidades de medida são homogeneizadas para a melhor comunicação


entre diferentes culturas. A partir de iniciativas para fomentar essa homogeneização, foi
criado o Bureau Internacional de Pesos e Medidas, que, em 1960, definiu para o Sistema
Internacional de Medidas (SI) as seguintes grandes básicas (SCHULZ, 2003):

• comprimento;
• massa;
• tempo;
• intensidade de corrente elétrica;
• temperatura termodinâmica;
• intensidade luminosa;
• quantidade de matéria.

Igualmente foram definidas as seguintes unidades básicas (consideradas


independentes):

• metro (m);
• quilograma (kg);
• segundo (s);
• ampère (A);
• kelvin (K);
• candela (cd);
• mol (mol).

Tradicionalmente, a Hidráulica usava o denominado sistema MKS (metro,


quilograma, segundo) ou CGS (centímetro, grama, segundo) ou Sistema Gravitacional
(metro, quilograma-força, segundo). Com o tempo observou-se que o uso do sistema
gravitacional ocasionava uma certa confusão devido às noções de peso e massa. A
massa de um corpo refere-se a sua inércia, enquanto o peso refere-se à força, que
sobre esse corpo, exerce a aceleração da gravidade (g) (SCHULZ, 2003; AZEVEDO
NETTO, 2015).

Assim, se pensarmos no caso de um litro de água, em determinada temperatura,


tem “pesos” diferentes se medido ao nível do mar ou em uma grande altitude (por
exemplo, a 2000 m acima do nível do mar). Essa massa de água seria mais “pesada”
ao nível do mar, em que a aceleração da gravidade é maior. É importante lembrar que a
aceleração da gravidade varia, não somente com a altitude, mas também com a latitude
(AZEVEDO NETTO, 2015; MUNSON, 2004).

9
Quando analisamos a relação que existe entre a massa (M) e a força (F) de um
corpo, esta pode ser expressa pela equação da 2ª lei de Newton:

F=kxMxa

Onde:
k é uma constante
a é a aceleração a que o corpo está submetido

Atualmente, há dois sistemas de unidades mais usuais em que a constante


k é igualada a 1 (um): O SI (Sistema Internacional), conhecido também como Sistema
Absoluto e o Gravitacional. No SI o k é igualado a 1 pela definição da unidade de força. A
unidade de força é aquela que ao agir sobre um corpo com a massa de um quilograma,
ocasiona uma aceleração de um metro por segundo e se denomina “newton”. Essa
unidade de massa à qual se refere esse sistema corresponde a um bloco de platina
denominado quilograma-protótipo, guardado em Sevres na França (SCHULZ, 2003;
AZEVEDO NETTO, 2015).

Já para o Sistema Gravitacional, o k é igualado a 1 pela definição da unidade de


massa. Isto quer dizer que, nesse sistema, a unidade de força é medida por unidade de
comprimento por segundo, ou seja:

Com isso, observa-se que essa definição do sistema gravitacional falha ao


considerar que a massa possa variar em função da aceleração da gravidade, o que não
corresponde à realidade física da grandeza massa. É por isso que o peso de um corpo
pode se reduzir a zero ao sair da gravidade terrestre, mas a sua massa permanecerá a
mesma (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL; CIMBALA, 2008).

Apesar desse equívoco, em problemas pouco sensíveis à variação da grandeza


massa, as aproximações são boas o suficiente e fazem com que o sistema possa ainda
ser usado. Atualmente, esse sistema ainda é usado, por vezes, na Hidráulica, por hábito
dos usuários e pelas facilidades advindas, principalmente, devido à aproximação aceita
de:

Ela gera a unidade prática de pressão conhecida como metro de coluna d’água
(m. c. a.), tão difundida entre os técnicos (AZEVEDO NETTO, 2015).

10
Hoje, está em vigor no Brasil e na maioria dos países do mundo, o sistema
absoluto, ou SI, do tipo MLT (massa, comprimento, tempo) e não FLT (força, comprimento,
tempo). As unidades básicas desse sistema são o quilograma, o metro e o segundo.
As unidades derivadas do SI são obtidas por tratamento algébrico ou dimensional, a
partir das grandezas físicas básicas mencionadas (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL;
CIMBALA, 2008).

Na Tabela 2 são apresentadas as grandezas derivadas mais frequentes e as


unidades correspondentes, normalmente, usadas nos cálculos da Hidráulica.

Tabela 2 – Grandezas “derivadas” do SI

Fonte: Azevedo Netto (2015, p. 21)

Apesar dos esforços para a unificação de um sistema de unidades, alguns países


ainda utilizam outro sistema que não o SI. Esse é o caso dos Estados Unidos, em que
dois sistemas de unidades ainda estão em uso: o sistema inglês, também conhecido
como United States Customary System (USCS) e o SI. Diferentemente do SI, que é um
sistema lógico e simples com base em relação decimal entre as diversas unidades, o
sistema inglês não tem uma base numérica sistemática aparente e as unidades são,
por vezes, relacionadas umas com as outras arbitrariamente (AZEVEDO NETTO, 2015;
ÇENGEL; CIMBALA, 2008).

É importante comentar sobre a remoção do símbolo de grau da unidade de


temperatura absoluta, que ocorreu com base no programa de notação em 1967.
Além dessa alteração, todos os nomes das unidades deveriam ser escritos em letras
minúsculas, independentemente de serem derivados de nomes próprios. Apesar disso,
a abreviação da unidade deveria ser escrita com letra maiúscula, se o nome da unidade

11
for derivado de algum nome próprio. Um exemplo é a unidade de força que deriva do
físico Sir Isaac Newton, que deve ser escrita por extenso “newton” e abreviada por “N”.
Outra padronização relevante é sobre as abreviaturas das unidades, em que não se deve
utilizar ponto, a menos que fosse no final de sentença (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL;
CIMBALA, 2008).

Enquanto no SI as unidades de massa, comprimento e tempo são quilograma


(kg), metro (m) e segundo (s), respectivamente, no sistema inglês são adotados a
libra-massa (lbm), o pé (ft) e segundo (s). A abreviatura lb corresponde à libra, que é a
unidade antiga de peso romana. Outra diferença significativa é que a grandeza força
é considerada no sistema inglês como um grandeza primária, enquanto no sistema
SI é uma grandeza secundária (que decorre da grandeza primária massa, conforme a
segunda lei de Newton - força é igual à massa vezes a aceleração).

No sistema SI, a unidade de força é o newton (N), que é definido como a força
necessária para acelerar uma massa de 1kg a uma taxa de 1m/s². Já no sistema inglês,
a força é expressa em lbf, que é, aproximadamente, 454g. Além disso, outra unidade de
força em uso comum em muitos países europeus é o quilograma-força (kgf), que é o
peso de 1kg ao nível do mar (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL; CIMBALA, 2008).

A relação entre as unidades desses sistemas são:

Ainda hoje, muita confusão se faz entre os conceitos de massa e peso. O


que se deve ter bem claro é que a massa de um corpo permanece sempre a mesma,
independentemente de sua localização no universo. Já o peso, no entanto, se altera
com a variação da aceleração da gravidade. Um corpo pesa menos no topo de uma
montanha do que ao nível do mar. Ao nível do mar, 1kg de massa pesa 9,807 N. Uma
massa de 1lbm, entretanto, pesa 1lbf, o que, geralmente, induz muitas pessoas ao erro
de concluir que libra-massa e libra-força podem ser usadas como sinônimos de libra (lb)
(ÇENGEL; CIMBALA, 2008).

Assim, o motivo principal da confusão entre massa e peso é que a massa,


geralmente, é medida indiretamente através da medição da força que ela exerce. A
maneira que seria correta para medir diretamente a massa seria comparando-a com
um valor de massa conhecido, o que é, na verdade, muito trabalhoso e, por isso, mais
usado apenas para aferição e medição de metais preciosos (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

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ESTUDOS FUTUROS
Não se preocupe que no próximo tópico você aprofundará seu conhecimento
sobre as diferenças conceituais de peso, massa e densidade.

Exemplo 1: Um tanque contém água e está apoiado no chão de um elevador.


Sabendo que a massa do conjunto formado pela água e pelo tanque é igual a 40kg,
determine a força que o tanque exerce sobre o elevador quando este se movimenta
para cima com uma aceleração de 8 ft/s².

Solução: A figura a seguir exemplifica o problema em questão, mostrando um


diagrama de um corpo livre para o conjunto tanque sob o elevador. W corresponde à
força peso do tanque mais a água e a expressão conforme a 2ª lei de Newton seria:

Aplicando essa equação ao problema em questão:

Ff - W = ma

Como W é igual mg:

Ff = m (g + a)

Assim, como nos é dada a massa em kg, precisamos transformar a unidade


da aceleração fornecida para tornar-se condizente no sistema SI. Assim, substituindo
direto na equação:

DICA
Exercite o aprendizado sobre as diferentes unidades do sistema SI, fazendo
alguns exercícios on-line. Disponível em: https://bit.ly/3rDKbCt.

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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Líquidos e gases são fluidos porque não possuem forma e escoam quando lhes é
aplicada uma força de cisalhamento.

• Atualmente, o termo Hidráulica é usado para se referir ao estudo do comportamento


da água e outros fluidos, estejam esses em repouso ou em movimento (ÇENGEL;
CIMBALA, 2008; AZEVEDO NETTO, 2015).

• A história da Hidráulica mostra que o conhecimento foi sendo desenvolvido


conforme as necessidades que se apresentavam com a formação e o crescimento
das cidades e que hoje está tão evoluído que permite a simulação de modelos
para a predição e análise de fenômenos dinâmicos que eram, até então, inviáveis
(AZEVEDO NETTO, 2015).

• Em busca de padronização, foi criado o Sistema Absoluto ou Sistema Internacional


de Unidades, que é o sistema de unidades utilizado para os cálculos na Hidráulica
(AZEVEDO NETTO, 2015).

14
AUTOATIVIDADE
1 Devido à relação de extrema dependência do ser humano com a água, a história da
Hidráulica é ligada à história de desenvolvimento e evolução de cidades e civilizações.
É por isso também que muito da evolução do conhecimento da Hidráulica se dá,
principalmente, acerca do escoamento de água (abastecimento ou esgotamento).
Entretanto, a Hidráulica envolve o escoamento de fluidos, isto é, não apenas líquidos,
mas também de gases. Acerca dos pontos importantes da história da Hidráulica que
foram apresentados neste tópico, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

( ) Um dos primeiros registros de obras Hidráulicas são datados da Antiguidade, no


Oriente, na região da antiga Mesopotâmia e do Egito.
( ) Em 250 a.C., Arquimedes enunciou alguns princípios da Hidrocinética, sendo seu
enunciado mais famoso conhecido como “Princípio de Arquimedes”.
( ) Ao final do século XIX houve a fusão das duas áreas de estudo da Hidráulica: a
Hidráulica Teórica e a Hidráulica Empírica, o que trouxe grande avanço para o
conhecimento na área.
( ) Atualmente, o conhecimento na Hidráulica é avançado, de modo que permite a
simulação de modelos de previsão e análise de fenômenos dinâmicos, que até
então eram impraticáveis.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - F - F - V.
b) ( ) V - F - V - V.
c) ( ) F - V - F - V.
d) ( ) F - F - V - F.

2 Antigamente, a evolução do conhecimento da Hidráulica se dividia em duas áreas


distintas, uma área mais teórica e uma mais voltada ao experimentalismo. Devido
às diferentes escolas de pensamento, as áreas de conhecimento se distanciavam
muito, de modo que havia pouco intercâmbio de conhecimento entre essas áreas.
Com o passar do tempo esse distanciamento foi diminuindo e, hoje, a área mais
teórica do conhecimento se apropria muito dos conhecimentos obtidos a partir
do experimentalismo, sendo as subdivisões hoje utilizadas apenas para fins de
especialização. Assim, a Hidráulica hoje se subdivide em diferentes áreas de enfoque
de estudo e de aplicação de conhecimentos. Com base no exposto, analise as
sentenças a seguir:

I- As áreas de conhecimento da Hidráulica, geralmente, se subdividem em Hidráulica


Teórica e Hidráulica Moderna.

15
II- A Hidráulica Teórica tem foco no entendimento e descrição dos processos Hidráu-
licos, através das suas subdivisões: Hidrodinâmica, Hidrocinética e Hidrostática.
III- A Hidráulica Aplicada emprega os conhecimentos teóricos na resolução dos
problemas práticos de Hidráulica, tais como: elaboração de um sistema de drenagem,
construção de uma rede de distribuição de água e de coleta de esgoto, construção
e manutenção de diques, barragens e galerias pluviais e outras aplicações.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Assinale a alternativa correta que completa as afirmações a seguir:

I- A Hidrocinética é o ramo da Hidráulica com foco no estudo dos fluidos em repouso


ou equilíbrio.
II- A Hidrostática é o ramo da Hidráulica que estuda as situações de movimento dos
fluidos com foco no estudo das velocidades e trajetórias.
III- A Hidrodinâmica é o ramo da Hidráulica que estuda o escoamento dos fluidos,
considerando as forças envolvidas nesse escoamento.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

4 Sabendo-se que uma pessoa consome, aproximadamente, 800 m³ de água por ano
e que o planeta dispõe de, no máximo, 9000 km³ de água para o consumo por ano,
pode-se afirmar que a capacidade máxima de habitantes que o planeta suporta,
considerando-se apenas a disponibilidade de água para consumo, é de quanto?

5 O primeiro a propor explicações para o movimento de queda de objetos foi Aristóteles.


Entretanto, após muitos experimentos, Galileu Galilei observou que qualquer objeto
cai com a mesma aceleração. A essa aceleração Galileu deu o nome de aceleração
da gravidade. No entanto, foi Isaac Newton que explicou a aceleração da gravidade.
Newton reconheceu que se um objeto cai com aceleração, é porque a Terra estaria
exercendo uma força sobre ele, denominada de força peso, de direção voltada para
o centro da Terra. Apesar de tantos anos já terem se passado, ainda hoje ocorre
confusão de conceitos quando pessoas falam de peso, pois, na maioria dos casos,
estão se referindo ao conceito de massa. Considerando isso, explique com suas
palavras o conceito de peso e de massa e o porquê da confusão entre os conceitos.

16
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
PROPRIEDADES DOS FLUIDOS

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico abordaremos sobre as principais propriedades dos
fluidos. Os conceitos aqui apresentados são importantes para o entendimento futuro das
leis e processos relacionados ao estudo do escoamento dos fluidos, especificamente,
da água, nosso principal objeto de estudo na Hidráulica.

Primeiramente, serão apresentados os conceitos de massa específica,


densidade e peso específico, os conceitos mais usados para caracterizar e diferenciar
as substâncias/fluidos. Para a definição desses e de outros conceitos apresentados
na Unidade 1, será considerado, salvo menção contrária, que os fluidos são um meio
contínuo e homogêneo, de forma que as propriedades médias definidas coincidam com
as propriedades reais locais no fluido em estudo (BRUNETTI, 2008). Ou seja, vamos
admitir essa simplificação de que as propriedades do fluido são iguais em todos os
pontos e que, por isso, um valor médio para uma dada propriedade pode ser usado
como valor representativo sem maiores problemas. Essa hipótese facilita os cálculos e
permite introduzir definições simples para todas as propriedades dos fluidos (SCHULZ,
2003; BRUNETTI, 2008).

Assumindo-se, portanto, essa hipótese de “continuidade” para os fluidos


em estudo, são apresentados posteriormente os conceitos de compressibilidade e
elasticidade. Esses conceitos dizem respeito às respostas que os fluidos dão às forças
aplicadas sobre eles. Tais conceitos também diferenciam os fluidos, sendo que essas
características são muito importantes nas considerações iniciais para o estudo ou
trabalho de Hidráulica, principalmente, quando o foco é na Hidrodinâmica.

Por fim, serão apresentados os conceitos de líquido perfeito ou ideal e de


atrito interno e externo dos fluidos. O atrito interno do fluido, também denominado de
viscosidade, é um conceito importante que explica o comportamento de diferentes
fluidos, causando a diferenciação em fluidos newtonianos e não newtonianos.

Esses conceitos serão todos apresentados nesse Tópico 2 e esperamos que


sejam bem assimilados por você, pois lhe serão muito úteis para o entendimento do
conteúdo do Tópico 3 e das unidades seguintes dessa disciplina.

17
2 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS
Sem exceções, todos os seres do planeta vivem imersos em uma camada de
fluido, (e.g.) água ou ar. Um fluido é geralmente definido como uma substância que
se deforma continuamente sob ação de uma força tangencial (SCHULZ, 2003), mais
especificamente, “fluidos são substâncias ou corpos cujas moléculas têm a propriedade
de se mover umas em relação às outras sob a ação de uma força de mínima grandeza”
(AZEVEDO NETTO, 2015). Segundo Brunetti (2008), o fluido é uma substância que,
submetida a uma força tangencial constante, não atinge uma nova configuração de
equilíbrio estático.

A partir dessas definições, nós percebemos que a definição de fluido é ligada


à reação que apresenta às forças aplicadas. Isso pode fazer com que pareça estranho
falar em Hidrostática como um ramo de estudo dos fluidos, entretanto, devemos nos
lembrar de que pode ocorrer deslocamento de grandezas físicas também em um meio
em repouso. Por exemplo, em um meio fluido em repouso, a propagação de constituintes
químicos pode ocorrer em razão apenas do movimento molecular. Dessa forma, é
necessário entendermos, ao menos um pouco, acerca das implicações da atuação da
pressão sobre um meio fluido no âmbito da Hidrostática.

Geralmente, quando pensamos sobre o que é pressão, já nos vem à mente o


efeito que surge ao se comprimir algo. Podemos imaginar a compressão de uma mão
contra outra por exemplo e, de fato, é esse efeito de um esforço sobre uma dada
superfície que se denomina “pressão”. Quando se discute esse tema no âmbito do
estudo dos fluidos, a pressão surge como o efeito dos choques das moléculas que
compõem os fluidos sobre as paredes que os confinam e dos desvios de orientação
decorrentes. Qualquer desvio de orientação provocado pelas paredes implica uma força
aplicada sobre a molécula que se “chocou” contra uma parede. Pelo princípio da ação e
reação, há uma força semelhante aplicada sobre a parede e quando estamos tratando
sobre pressão, a componente de força que nos interessa é a perpendicular à superfície,
sendo a pressão considerada positiva quando o esforço é aplicado “contra” a superfície.
Sendo mais preciso, se estivermos considerando uma superfície fechada, a pressão é
definida positiva quando o esforço atuar de fora para dentro (SCHULZ, 2003).

Com relação à velocidade, fluidos em repouso apresentam todos os pontos em


seu interior com velocidade nula, sendo que a Hidrostática se concentra no estudo e
descrição das propriedades dos fluidos nessa condição. Mesmo que seja difícil encontrar
um corpo fluido que não apresente qualquer forma de movimento em seu interior, esta é
uma aproximação válida para muitas situações práticas. Como exemplos desse tipo de
situação em que os princípios da Hidrostática são empregados, podemos mencionar os
esforços sobre estruturas de barragens, caixas d’água, tanques de armazenamento de
combustíveis e comportas.

18
Quando comparados aos líquidos, os gases apresentam maior compressividade
e menor densidade, o que ocasiona respostas de magnitudes diferentes. O estudo do
escoamento dos gases na Hidráulica é praticamente apenas nos casos de enchimento e
esvaziamento de tubulações e reservatórios fechados e também quando é necessária a
passagem de ar através de dispositivos hidráulicos, tais como ventosas ou respiradores,
ou também em casos de golpe de aríete (fenômeno de transitório hidráulico em
tubulações) (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Resumindo, a forma como um fluido responde, na prática, a várias situações,


dependerá basicamente das suas propriedades físico-químicas, ou seja, da sua
estrutura molecular e energia interna. No caso da água, por exemplo, a proximidade das
suas moléculas entre si será função da atração que umas exercem sobre as outras e
isso varia com a energia interna, que é afetada diretamente pela temperatura e pressão
(AZEVEDO NETTO, 2015).

2.1 MASSA ESPECÍFICA, DENSIDADE E PESO ESPECÍFICO


A massa total (m) de um sistema composto de muitas moléculas é o produto
entre o número de moléculas (n) e a sua massa molecular (M). Já a massa específica
(ρ) de uma substância é definida como a relação entre a massa da substância (m) e o
volume ocupado pela mesma (V) (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

A massa específica (kg/m³), também denominada densidade absoluta, é


determinada, então, pela massa de um fluido em uma unidade de volume. O inverso
da densidade (ou massa específica), é o volume específico (V), que é definido como o
volume por unidade de massa (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Isto é:

Exemplo 1: Qual seria a massa específica, de um bloco de ferro, sabendo que


sua massa é igual a 10.200 kg?
Solução: Primeiramente, é necessário calcular o volume desse sólido

V=3x3x2
V = 18m3

Sabendo o volume total, podemos calcular a massa específica:

19
Exemplo 2: A massa específica da gasolina é ρ = 0, 66 g/cm³. Em um tanque
com capacidade para 5.000 litros, qual a massa da gasolina?
Solução:

A densidade da maioria dos gases é proporcional à pressão e inversamente


proporcional à temperatura (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Líquidos e sólidos, por sua vez,
são substâncias essencialmente incompressíveis, ou seja, são praticamente insensíveis
à variação da pressão exercida sobre eles, sendo a variação de sua densidade com a
pressão, usualmente, desprezível. A 20°C, por exemplo, a densidade da água muda
de 998 kg/m³ a 1 atm para 1003 kg/m³ a 100 atm, uma mudança de apenas 0,5%,
entretanto, a densidade desses depende mais da temperatura. Por exemplo, quando
a temperatura da água muda de 20 °C para 75 °C ocorre uma mudança da densidade
em 2,3%, que ainda pode ser desprezada em muitas análises de engenharia (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007).

O peso específico de um fluido é designado por γ, que representa o peso da


substância contida numa unidade de volume. O peso específico está relacionado com a
massa específica através da relação (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; AZEVEDO NETTO, 2015).
Como segue:

Em que g é a aceleração da gravidade local. Note que o peso específico é


utilizado para caracterizar o peso do sistema fluido, enquanto a massa específica se
refere à massa desse sistema. A unidade do peso específico no SI é N/m³. Assim, se o
valor da aceleração da gravidade é o padrão (g = 9,807 m/s2) e a massa específica da
água a 15,6 °C é 999 kg/m³, o seu peso específico seria de 9,8 kN/m³ (ÇENGEL; CIMBALA,
2007).

A água alcança a sua densidade absoluta máxima a uma temperatura de 3,98


°C. Já o peso específico da água nessa temperatura também será igual à unidade, em
locais onde a aceleração da gravidade seja de 9,80 m/s² e à pressão de 1atm (ou 760
mmHg, 10,33 m.c.a, ou 0,1MPa). Em termos práticos, pode-se dizer que a densidade da
água é igual à unidade e que sua massa específica é igual a 1kg/l e seu peso específico
é 9,8 N/l (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; AZEVEDO NETTO, 2015).

20
DICA
Para assimilar melhor a diferença entre peso, massa e densidade, acesso o
vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=upguBOEhq4c.

Exemplo 3: Calcular o peso específico de um cano metálico de 10 kg e volume


0,006 m³.

2.2 COMPRESSIBILIDADE E ELASTICIDADE


Uma importante questão a responder quando consideramos o comportamento
de um fluido em particular é: Quão fácil é variar o volume de uma certa massa de fluido
pelo aumento da pressão? Isto é, quão incompressível é o fluido? Considerando a lei de
conservação de massa, o aumento da pressão ocasiona aumento na massa específica,
ou seja, uma diminuição de volume (AZEVEDO NETTO, 2015). Assim:

dV = - a x V x dp

Em que: a é o coeficiente de compressibilidade


V é o volume inicial
dp é a variação de pressão

O sinal negativo é incluído na definição para indicar que um aumento de pressão


resultará numa diminuição do volume considerado.

O inverso de a é ε, denominado módulo de elasticidade de volume ou


coeficiente de compressibilidade (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; AZEVEDO NETTO, 2015).
A dimensão do módulo de elasticidade volumétrica é FL-2. Assim, no sistema SI, sua
unidade é a mesma da pressão, ou seja, N/m³ (Pa).

Em 1850, Berthelot descobriu que os fluidos também apresentam a propriedade


de aumentar seu volume quando se lhes diminui a pressão, o que para os gases já era
uma propriedade bem conhecida. Posteriormente, foi provado que o aumento do volume
devido à diminuição da pressão (descompressão), tem o mesmo valor absoluto que a

21
diminuição do volume se ocorresse um aumento da pressão (uma compressão) de igual
valor absoluto. Isto é, os módulos de elasticidade são iguais ocorrendo à descompressão
ou a compressão do fluido (AZEVEDO NETTO, 2015; SCHULZ, 2003).

É sabido, a partir de resultados experimentais, que o volume (ou densidade)


de um fluido é alterado quando ocorre variação de sua temperatura ou pressão. Os
fluidos, geralmente, expandem-se (aumentam de volume) quando são aquecidos
ou despressurizados e contraem-se (reduzem de volume) quando resfriados ou
pressurizados. Um valor grande de ε indica que é preciso uma grande mudança de
pressão para causar uma pequena variação relativa no volume. Portanto, o fluido com
ε grande é considerado praticamente incompressível. Fluidos ditos incompressíveis
possuem ε da ordem de giga-pascal (GPa), isto é, uma grande variação de pressão para
que haja uma pequena variação de volume (AZEVEDO NETTO, 2015; SCHULZ, 2003).

Por isso, ao se trabalhar com escoamento de fluidos em tubulações sob


pressão, é muito importante conhecer as propriedades do fluido em questão. Ocorrendo
alterações nas propriedades do fluido, na pressão ou na temperatura, o escoamento
é afetado. Um exemplo disso é quando ocorre o fenômeno dito "martelo hidráulico”
(ou golpe de aríete), que recebe esse nome devido ao som produzido ser semelhante
ao som de quando a tubulação é martelada. Esse fenômeno ocorre quando o líquido
escoando em uma rede de condutos encontra uma restrição repentina ao escoamento
e é comprimido localmente.

Assim, essa compressão rápida e local ocasiona uma pequena variação na


densidade do fluido local. Como resultado dessa compressão, ondas acústicas são
geradas e se propagam pela tubulação. Essas ondas golpeiam as áreas de contato
da tubulação, principalmente, as superfícies curvas e os pontos com dispositivos
hidráulicos. À medida que se propagam e refletem ao longo da tubulação, essas ondas
fazem com que a tubulação vibre e produza o som familiar (AZEVEDO NETTO, 2015;
PORTO, 2006).

ESTUDOS FUTUROS
Mais informações sobre o fenômeno do Golpe de Aríete serão aprendidas
adiante, na Unidade 3.

Outro fenômeno que pode ocorrer é o chamado Cavitação, um fenômeno


que ocorre quando há diminuição brusca da pressão sobre um fluido em escoamento
de maneira tal que esta pressão passa a ser menor que a pressão de vapor na dada
temperatura do fluido. Com essa súbita diminuição da pressão, o fluido entra em ebulição,
aumentando a quantidade de vapor local. Em consequência disso, acontece depois o

22
aumento da pressão, acima da pressão de vapor e as bolhas que se formaram na etapa
de ebulição se colapsam causando microjatos no derredor. A força desses microjatos
desgastam superfícies, causam vibrações na tubulação, reduzem o rendimento de
bombas e turbinas, dentre outros efeitos indesejáveis (PORTO, 2006; SCHULZ, 2003;
AZEVEDO NETTO, 2015; HIBBLER, 2016).

INTERESSANTE
Quer aprender mais sobre cavitação? Nesse vídeo você pode saber mais
sobre isso. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f-1P0CDJ1SY.

Assim, se um fluido é dito incompressível, o seu volume não varia com a alteração
da pressão, portanto, se o fluido for incompressível, a sua massa específica não variará
com a pressão. Mas, na prática, não existem fluidos nessas condições. Os líquidos,
porém, têm um comportamento muito próximo a esse e, por isso, são normalmente
considerados como tais. Entretanto, é importante ser cauteloso e compreender que
nenhum fluido deve ser julgado de antemão. Podendo ser admitido que o fluido seja
incompressível ou que, ao longo do escoamento, a variação da massa específica ρ pode
ser considerada desprezível e o estudo do fluido será efetuado pelas leis estabelecidas
para fluidos incompressíveis (BRUNETTI, 2008; SCHULZ, 2003).

Há um outro coeficiente usado no estudo dos fluidos, denominado coeficiente


de expansão volumétrica (β). Como já mencionado antes, a densidade de um fluido é,
geralmente, mais sensível às variações de temperatura do que de pressão. A variação
da densidade com a temperatura é um fato importante por ser responsável por diversos
fenômenos naturais relevantes, tais como os ventos e as correntes nos oceanos. Para
se quantificar e representar esses efeitos, é utilizado o coeficiente β, que corresponde
à variação da densidade de um fluido com a temperatura, considerando a pressão
constante (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; AZEVEDO NETTO, 2015).

Em que: ∆V corresponde à variação volumétrica


∆T corresponde à variação de temperatura sob pressão constante
v corresponde ao volume inicial

23
2.3 LÍQUIDOS PERFEITOS
Um fluido em repouso apresenta isotropia, isto é, em torno de um ponto os
esforços são iguais em todas as direções (AZEVEDO NETTO, 2015). Quando em
movimento, devido à viscosidade, o fluido apresenta anisotropia na distribuição dos
esforços. Como um exemplo disso, você pode pensar em um copo com óleo que, quando
derramado sobre uma mesa, irá se espalhar de maneira desuniforme.

Um líquido ou fluido perfeito é definido como aquele para o qual a densidade


é uma constante e existe o estado isotrópico de tensões em condições de movimento
(AZEVEDO NETTO, 2015). Esse conceito é, na verdade, apenas teórico, uma vez que não
é possível encontrar tal fluido na prática. Entretanto, para um grande número de casos
é comum considerar a água, como tal, para efeito de cálculo (AZEVEDO NETTO, 2015).
Essa aproximação é possível com a água e o ar por esses apresentarem viscosidades
muito baixas. A viscosidade (ou atrito interno) é outro parâmetro que pode ser utilizado
para a definição de fluido perfeito, que seria aquele que apresenta viscosidade zero, não
oferecendo resistência à tensão de cisalhamento.

2.4 ATRITO INTERNO E EXTERNO


A viscosidade ou atrito interno é uma propriedade de um fluido que reflete a
resistência ao movimento. Pode-se ainda definir a viscosidade como a capacidade do
fluido em converter energia cinética em calor ou a capacidade do fluido em resistir ao
cisalhamento (esforço cortante) (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; AZEVEDO NETTO, 2015).

A viscosidade está diretamente relacionada com a coesão entre as partículas do


fluido. Alguns líquidos apresentam essa propriedade com maior intensidade que outros
devido a sua formulação físico-química. Assim, certos óleos e certos lodos pesados
escoam mais lentamente que a água ou o álcool (AZEVEDO NETTO, 2015).

Essa resistência ao movimento ocorre somente quando uma força tangencial


ou de cisalhamento é aplicada ao fluido. A tensão de cisalhamento é a tensão gerada
quando são aplicadas forças em sentidos iguais ou opostos, mas em direções
semelhantes e com intensidades diferentes. Essa tensão gera deformação, que ocorre
em diferentes taxas para diferentes tipos de fluidos. Considerando de forma simplificada
os esforços internos que se opõem à velocidade de deformação, podemos representar
o escoamento de um fluido viscoso entre duas lâminas como representado na Figura
2. No interior de um líquido, as partículas contidas entre duas lâminas paralelas de área
A, movem-se à distância ∆n, com velocidades diferentes v e v + ∆v. Nesse exemplo, a
segunda lâmina tenderá a acelerar a primeira e a primeira a retardar a segunda (AZEVEDO
NETTO, 2015; SCHULZ, 2003).

24
Figura 2 – Representação para o estudo da viscosidade

Fonte: Azevedo Netto (2015, p. 26)

A parte do fluido que fica em contato com as lâminas prende-se à superfície e


move-se com a mesma velocidade delas. Isso ocorre apenas para uma camada muito
fina do fluido, que fica muito próxima às superfícies de arraste (nesse caso, as lâminas)
(SCHULZ, 2003; PORTO, 2006). A tensão de cisalhamento (τ) que age sobre esta camada
fluida é dada por:

Onde A é a área de contato entre a placa e o fluido e F a força tangencial (ou de


cisalhamento) aplicada. A força tangencial F decorrente dessa diferença de velocidade
entre essas placas será proporcional ao gradiente de velocidade (igual à velocidade de
deformação angular) (AZEVEDO NETTO, 2015).

Foi Isaac Newton que propôs, no final do século XVII, que a tensão de
cisalhamento do fluido é diretamente proporcional a essa taxa de deformação por
cisalhamento ou gradiente de velocidade. Essa formulação ficou conhecida como Lei
de Newton da viscosidade ou “equação da viscosidade de Newton” (AZEVEDO NETTO,
2015; HIBBLER, 2016), como segue:

Em que µ corresponde ao coeficiente de viscosidade dinâmica ou viscosidade,


que possui dimensional ML-1T-1 no SI e FL-2T no sistema MKS. No sistema SI, a unidade
de µ denomina-se “pouiseuille”, abreviatura “Pl” (AZEVEDO NETTO, 2015). Para fluidos
newtonianos, a taxa de deformação (gradiente de velocidade) é proporcional à tensão de
cisalhamento aplicada. Para esse caso, a viscosidade é a constante de proporcionalidade
entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação (Figura 3) (ÇENGEL; CIMBALA,
2007).

25
Figura 3 – Taxa de deformação de um fluido newtoniano

Fonte: Adaptada de Çengel e Cimbala (2007)

A viscosidade é um parâmetro bastante sensível às variações de temperatura


e pouco sensível às de pressão. Para o caso da água a 20 °C e 1 atm de pressão, o
coeficiente de viscosidade é igual a 10-3 N x s/m², que é o mesmo que 1 centipoise
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003).

Como é difícil obter a viscosidade dinâmica (também chamada de absoluta) de


um fluido, geralmente, determina-se a viscosidade de um fluido a uma dada temperatura
em relação a outro fluido. Devido à viscosidade da água igualar-se à unidade, a água é
usada como padrão de comparação de viscosidade com outros fluidos, surgindo assim
o termo viscosidade relativa (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; AZEVEDO NETTO, 2015).

Existem várias maneiras de determinar a viscosidade de líquidos. Na maioria


dos métodos empregados, as velocidades de escoamento são determinadas por tubos
capilares ou também através da determinação da velocidade de deslocamento de uma
pequena esfera sólida enquanto percorre o líquido, apoiando-se nas leis de Poiseuille e
de Stokes (HIBBELER, 2016). Entretanto, esses métodos devem ser usados apenas para
determinação da viscosidade de líquidos de escoamento predominantemente laminar,
ou seja, de consideráveis viscosidades.

Um exemplo de método com uso de tubo é o proposto por W. Ostwald, que em


um tubo circular, chamado de viscosímetro de Ostwald, é colocado o fluido que escoa,
sendo a viscosidade determinada pelo tempo que o líquido leva para passar, ao longo
do tubo circular de diâmetro pequeno, em comparação com o tempo que outro líquido
com viscosidade conhecida leva para percorrer também esse tubo (HIBBELER, 2016).

26
Nesse método pelo viscosímetro de Ostwald, a equação de Poiseuille é utilizada,
sendo:

Em que µ é o coeficiente de viscosidade, r e l correspondem ao raio e o


comprimento do tubo capilar, respectivamente, ρ é a densidade do líquido, to tempo
gasto para o líquido passar pelo tubo, β é a aceleração da gravidade, h é a diferença de
altura nos reservatórios onde o líquido sai e aonde chega; e V é o volume do reservatório
superior. Como nos experimentos com o viscosímetro de Ostwald os termos r, g, h, V e l
são os mesmos para ambos os líquidos, a relação entre a viscosidade dos dois líquidos
pode ser determinada por:

Assim, usando um líquido de viscosidade conhecido, como a água, por exemplo,


é possível determinar a viscosidade do outro líquido. Dividindo-se o valor da viscosidade
dinâmica, µ, pela massa específica do fluido, ρ, obtém-se a viscosidade cinemática, Vcn:

A unidade da viscosidade cinemática no sistema SI é em m²/s e no sistema


dimensional L2T-1. No sistema MKS tem mesma dimensional, exprimindo-se em cm²/s,
que é denominado “stoke” (abreviação “St”). O termo “cinemática” é usado para descrever
esta propriedade porque a grandeza da força não está envolvida nas dimensões.

Exemplo 4: O perfil de escoamento de um fluido em uma superfície sólida é


dado por u(y)= 2y +3y². Onde v(y) é o perfil de velocidade em m/s e y é o afastamento
em metros (m). O fluido apresenta viscosidade 1,8 *10-3 Pa s. Calcule a tensão de
cisalhamento a 10 cm da superfície:

A experiência tem mostrado que muitos fluidos comuns obedecem à lei de


Newton da viscosidade e qualquer fluido que faça isso é chamado de fluido newtoniano.
Para esses, quanto maior a viscosidade, maior a resistência do fluido ao escoamento
(HIBBELER, 2016).

Os fluidos cujas camadas muito finas apresentam um comportamento não


linear entre a tensão de cisalhamento aplicada e a taxa de deformação por cisalhamento
são classificados como fluidos não newtonianos (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Existem

27
basicamente dois tipos, que se comportam como mostrado na Figura 4. Para cada
um desses fluidos, a inclinação da curva entre a taxa de deformação e a tensão de
cisalhamento determina a viscosidade para esse fluido. Os fluidos que possuem um
aumento da viscosidade (inclinação) com um aumento da tensão de cisalhamento são
conhecidos como fluidos dilatantes e dentre esses podemos citar a água com altas
concentrações de açúcar e a areia movediça (HIBBELER, 2016; ÇENGEL; CIMBALA,
2007).

Entretanto, é muito maior o número de fluidos que apresentam o comportamento


oposto e são chamados de fluidos pseudoplásticos. Tais fluidos fluem lentamente
quando lhes é aplicada baixa tensão de cisalhamento (grande inclinação), porém, fluem
rapidamente sob uma tensão de cisalhamento mais alta (inclinação menor). Como
exemplos de fluidos pseudoplásticos, podemos citar o sangue, a gelatina e o leite
(HIBBELER, 2016; ÇENGEL; CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003).

ESTUDOS FUTUROS
Veja que interessante o comportamento de um fluido não newtoniano. Se
quiser, pode fazer essa experiência em casa. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=ZCGwatTa8r8.

Figura 4 – Curvas dos tipos de fluidos de acordo com o comportamento da tensão de cisalhamento

Fonte: Adaptada de Çengel e Cimbala (2007)

28
Como se pode observar pela Tabela 3, a viscosidade varia consideravelmente com
a temperatura e, portanto, essa é uma variável importante a ser levada em consideração
nos cálculos. De modo geral, a viscosidade diminui para os líquidos e aumenta para os
gases, quando ocorre o aumento da temperatura (Figura 5). Isso acontece porque a
viscosidade nos líquidos é ocasionada pelas forças coesivas entre suas moléculas, que
possuem mais energia disponível quando em temperatura mais elevada.

Essa maior disponibilidade de energia faz com que as moléculas do líquido


possam se mover mais livremente e, com isso, podem se opor mais às forças
coesivas intermoleculares que impedem o escoamento. Já nos gases, a viscosidade é
resultado mais das colisões moleculares, sendo as forças coesivas entre as moléculas
desprezíveis. Com o aumento da temperatura, as moléculas se movem aleatoriamente
e com maiores velocidades, resultando em mais colisões por unidade de volume por
tempo, aumentando a resistência ao escoamento (HIBBELER, 2016; ÇENGEL; CIMBALA,
2007).

Tabela 3 – Variação da viscosidade dinâmica e cinemática da água com a temperatura

Fonte: Azevedo Netto (2015, p. 27)

A viscosidade dos gases pode ser determinada pela fórmula de Sutherland, que
expressa a viscosidade em relação à temperatura como:

29
Figura 5 – Exemplo da resposta da viscosidade de líquidos e gases à variação da temperatura

Fonte: Çengel e Cimbala (2007)

Em que T é a temperatura absoluta e a e b são constantes determinadas através


de experimentos (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; MUNSON, 2004).

Para o ar sob condições atmosféricas normais, as constantes a e b correspondem


a 2,414 x 10-5 N. s/m² e 247,8 K, respectivamente. Existe também a fórmula para
determinar a viscosidade de um dado líquido a partir da temperatura:

Onde a, b e c são constantes, também determinadas experimentalmente e, T a


temperatura (K). Para temperaturas entre 0 °C e 370 °C, os valores de a= 2,414 x 10-5 N.
s/m², b= 247,8 K e c=140 K podem ser aplicados para determinação da viscosidade da
água (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; MUNSON, 2004).

Ao olhar com mais detalhe para o escoamento de um fluido viscoso, quando o


líquido escoa ao longo de uma superfície sólida, junto a ela existe sempre uma camada
fluida aderente que não se movimenta. Chama-se de atrito externo a resistência, ao
deslizamento de fluidos ao longo de superfícies sólidas. Entende-se que o atrito externo
é então uma consequência da ação de freio exercida por essa camada estacionária
sobre as demais partículas em movimento (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL; CIMBALA,
2007).
Um exemplo disso pode ser sempre constatado no escoamento de um líquido
em um tubo. Ocorrendo o escoamento, uma película fluida se forma nas paredes do tubo,
que não participa do escoamento. Assim, junto à parede do tubo a velocidade é nula,

30
sendo a máxima na parte central do tubo. Por isso, devido aos atritos e, principalmente,
da viscosidade, o escoamento em uma tubulação ou canalização só ocorre com certa
perda de energia. Essa perda de energia é dita também “perda de carga” (AZEVEDO
NETTO, 2015).

Outros fenômenos que afetam o escoamento dos líquidos que devem ser
comentados aqui são os fenômenos de origem molecular: adesão e tensão superficial,
além do já mencionado fenômeno de coesão.

O fenômeno da coesão ocorre devido à atração entre as moléculas de uma massa


líquida. Um líquido mantém a sua forma porque as suas moléculas são atraídas umas
às outras pela coesão (HIBBELER, 2016). Como o fenômeno da coesão tende a resistir
a qualquer aumento na área superficial de um líquido, ela realmente tenta minimizar o
tamanho da superfície. É por isso que a coesão explica a formação e a forma das gotas
(AZEVEDO NETTO, 2015).

Quanto ao fenômeno da adesão, esse ocorre quando um fluido está em contato


com um sólido. A partir desse contato, a atração exercida pelas moléculas do sólido
pode ser maior do que a atração que existe entre as moléculas do líquido (coesão)
(AZEVEDO NETTO, 2015). Assim, entende-se que adesão corresponde ao fenômeno
de atração entre moléculas de massas líquidas e moléculas de massas sólidas. Como
exemplo pode ser citado o caso do molhamento do vidro pela água. Ocorrendo a adesão,
se observa a formação de um ângulo de contato entre a superfície líquida e a superfície
sólida, na interface sólido-líquido-gás, denominado ângulo de contato. O valor do ângulo
de contato é resultado dos efeitos dos processos de adesão e coesão, sendo que,
dependendo de qual desses fenômenos for o mais influente no caso, isso determinará
se o ângulo de contato entre o líquido e o sólido será agudo (adesão > coesão) ou obtuso
(coesão > adesão) (AZEVEDO NETTO, 2015; HIBBELER, 2016).

Outro fenômeno que merece ser destacado é o da tensão superficial .


Na superfície de um líquido em contato com o ar, há a formação de uma verdadeira
película elástica. Isso ocorre porque a atração entre as moléculas do líquido é maior
que a atração exercida pelo ar e porque as moléculas superficiais são atraídas para o
interior do líquido e tendem a tornar a área da superfície, o mínimo (AZEVEDO NETTO,
2015). Portanto, nesse fenômeno, o fato de as forças de coesão entre as moléculas
líquidas serem maiores do que a força de adesão com as moléculas de gás, resulta na
formação da película elástica superficial. Essa película é resultado da força de tração
existente, que se manifesta como uma força contrátil tangente à superfície (HIBBELER,
2016; MUNSON, 2004). Chamamos essa força de tração por unidade de comprimento
em qualquer direção ao longo da superfície de tensão superficial (N/m ou lb/pés). Seu
valor depende, principalmente, da temperatura, pois quanto mais alta a temperatura,
maior é a agitação térmica e, portanto, menor a tensão superficial (HIBBELER, 2016).

31
Quebrar a tensão superficial exige o trabalho de separar as moléculas, sendo a
energia produzida por esse trabalho chamada de energia de superfície livre (AZEVEDO
NETTO, 2015). Nesse caso, o que ocorre é o “excesso de energia” como resultado da
ligação, agora incompleta nas duas superfícies. A energia de superfície também pode
ser melhor entendida como o excedente de energia na superfície de um material,
quando comparado ao seu volume. Logo, ao cortar um corpo sólido em pedaços,
suas ligações são interrompidas. Com isso, ocorre o aumento da área de superfície e,
consequentemente, o aumento da energia de superfície (HIBBELER, 2016; MUNSON,
2004).

Usualmente, o método mais empregado para medir a energia da superfície é


o experimento de ângulo de contato. O ângulo de contato da superfície é medido para
vários líquidos e com base nos resultados e conhecendo a tensão superficial dos líquidos,
a energia superficial é estimada. Na prática, existem medidores automáticos de ângulo
de contato que permitem que essa análise seja feita de forma rápida e padronizada.
Esse método tornou-se padrão para estimativas da energia de superfície por causa da
sua simplicidade e fácil aplicação para diversas superfícies (SCHULZ, 2003).

Semelhante à viscosidade, a tensão superficial varia com a temperatura e


também com o material eventualmente dissolvido na água. Por exemplo, os sais
minerais quando dissolvidos normalmente, aumentam a tensão superficial, enquanto
compostos orgânicos, como o sabão e o álcool, além dos ácidos em geral, diminuem a
tensão superficial (AZEVEDO NETTO, 2015).

Um dos fenômenos associados com a tensão superficial é a subida (ou queda)


de um líquido num tubo capilar (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Se um tubo com diâmetro
pequeno e aberto é inserido na água, o nível da água no tubo ficará acima do nível do
reservatório (Figura 6). Esse é o caso de uma interface sólido-líquido-gás, em que a
atração entre as moléculas da parede do tubo e as do líquido (adesão) é forte o suficiente
para sobrepujar a atração mútua das moléculas do fluido (coesão). Nessa condição, o
fluido ascende no capilar e dizemos que o líquido molha a superfície sólida (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007; MUNSON, 2004).

INTERESSANTE
Sabia que os fenômenos da capilaridade podem ser usados para
irrigação? Acesse o vídeo disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=GXOxrURQ-E8.

32
Figura 6 – Efeito da ação capilar em tubos com diâmetro pequeno

a) elevação da coluna para um líquido que molha o tubo;


b) diagrama de corpo livre para o cálculo da altura da coluna;
c) depressão da coluna para um líquido que não molha a parede do tubo.

Fonte: Munson (2004, p. 34)

A altura da coluna de líquido h é função dos valores da tensão superficial, σ, do


raio do tubo, R, do peso específico do líquido, γ e do ângulo de contato entre o fluido e
o material do tubo, θ. Analisando a Figura 5b, conclui-se que a força vertical provocada
pela tensão superficial é igual a 2πRσcosθ, que o peso da coluna é γπR2h e que estas
forças precisam estar equilibradas (MUNSON, 2004; HIBBELER, 2016). Assim:

γπR2h = 2πRσcosθ

Então, a altura da coluna é dada por:

O ângulo de contato é função da combinação da superfície líquido-material. Por


exemplo, encontramos que θ ≈ 0º para água em contato com vidro limpo. Essa última
equação mostra que a altura da coluna é inversamente proporcional ao raio do tubo.
Assim, a ascensão do líquido no tubo, pela ação capilaridade fica mais evidente quanto
menor for o diâmetro do tubo (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; MUNSON, 2004; AZEVEDO
NETTO, 2015).

Se a adesão da molécula à superfície sólida é fraca, isto é, quando a adesão


é menor que a coesão entre as moléculas, o líquido não molhará a superfície. Nesta
situação, o nível do líquido dentro do tubo imerso na água será mais baixo que o nível
exterior da água (Figura 7) (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; MUNSON, 2004). O mercúrio em
contato com um tubo de vidro é um bom exemplo de líquido que não molha a superfície
(θ ≈ 130º para mercúrio em contato com vidro limpo).

33
Outra denominação dada para os líquidos a partir da forma do ângulo de contato
é líquidos umectantes, quando o menisco ou superfície do líquido em um recipiente
estreito apresenta formato côncavo ou não umectante, quando o menisco forma uma
superfície convexa (HIBBELER, 2016; MUNSON, 2004).

Figura 7 – Forma do menisco para líquidos ditos umectantes e não umectantes

Fonte: Hibbeler (2016, p. 25)

A tensão superficial é um fenômeno muito importante em vários problemas de


Hidráulica, tais como no escoamento de líquidos através do solo (e de outros meios
porosos) e através de biofilmes e na formação de gotas, por exemplo. Felizmente, os
fenômenos superficiais, caracterizados pela tensão superficial, não são significativos
em muitos problemas da mecânica dos fluidos. Para esses casos, a inércia, as forças
viscosas e as gravitacionais são muito mais importantes do que as forças promovidas
pela tensão superficial (MUNSON et al., 2004).

34
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• O módulo de elasticidade de um fluido é uma medida de sua resistência à compressão.


Como essa propriedade é muito alta para os líquidos, geralmente, consideramos os
líquidos como incompressíveis.

• Para um fluido newtoniano, como a água, a tensão de cisalhamento é diretamente


proporcional ao gradiente de velocidade e a resistência ao cisalhamento é maior,
quanto maior for a viscosidade do fluido.

• A viscosidade varia pouco com a pressão e mais com a temperatura, sendo


inversamente proporcional à temperatura para os líquidos (diminui) e diretamente
proporcional para os gases (aumenta).

• A tensão superficial em um líquido é causada pela coesão molecular, sendo medida


como uma força por comprimento unitário que atua sobre a superfície de um líquido.
Ela se torna menor à medida que a temperatura aumenta.

35
AUTOATIVIDADE
1 Os fluidos, líquidos e gases, são caracterizados por não apresentarem forma definida
e por deformarem quando lhes é aplicada uma força. Apesar de apresentarem várias
propriedades semelhantes, existem diferenças importantes entre líquidos e gases.
Um dos motivos para isso é a diferença no arranjo e na movimentação de suas
partículas, que têm efeitos sobre diversas propriedades e sobre a sensibilidade e,
com isso, sobre a resposta às variações de pressão e temperatura. Sobre os conceitos
relacionados aos fluidos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Fluidos em repouso apresentam todos os pontos em seu interior com velocidade


nula.
b) ( ) A massa da maioria dos gases é proporcional à pressão e inversamente
proporcional à temperatura.
c) ( ) Os fluidos, geralmente, expandem-se quando são resfriados ou despressurizados
e contraem-se quando resfriados ou pressurizados.
d) ( ) A experiência tem mostrado que muitos fluidos comuns obedecem à lei de Pascal
da viscosidade e qualquer fluido que faça isso é chamado de fluido de Pascal.

2 Além das forças externas, tais como de cisalhamento e de compressão, forças no


nível molecular também podem ser significativas quando se trata de fluidos. Na
questão do escoamento de fluidos, os fenômenos de nível molecular tornam-se
importantes e explicam muitas das propriedades que diferenciam os fluidos, tais
como viscosidade e compressibilidade, por exemplo. Como principais fenômenos de
nível molecular podem ser citados os fenômenos de coesão, adesão e de tensão
superficial. Com base nos conhecimentos adquiridos sobre tais fenômenos de ordem
molecular, analise as sentenças a seguir:

I- Um dos fenômenos associados com a tensão superficial é a subida (ou queda) de


um líquido num tubo capilar.
II- Quanto ao fenômeno da adesão, esse ocorre quando um fluido está em contato
com um sólido, podendo a atração exercida pelas moléculas do sólido ser maior do
que a que existe entre as moléculas do líquido.
III- O fenômeno da coesão ocorre devido à atração entre as moléculas de uma massa
líquida.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a sentença I está correta.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

36
3 A viscosidade é uma propriedade dos fluidos que se refere à resistência destes ao
movimento. Também chamada de atrito interno, a viscosidade faz com que os fluidos
convertam energia cinética em calor, permitindo que o fluido desenvolva resistência
quando lhe é aplicado um esforço cisalhante. A deformação que ocorre nos fluidos
vai depender da sua viscosidade, sendo em diferentes taxas para diferentes tipos
de fluidos. Considerando os conhecimentos acerca da viscosidade dos fluidos,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A viscosidade diminui para os líquidos e aumenta para os gases quando ocorre o


aumento da temperatura.
( ) No final do século XVII, Isaac Newton propôs que a tensão de cisalhamento do
fluido é inversamente proporcional a essa taxa de deformação por cisalhamento ou
gradiente de velocidade. Isso é conhecido como Lei de Newton da viscosidade.
( ) A unidade da viscosidade cinemática no sistema SI é em m²/s e no sistema
dimensional L2T-1

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 De acordo com Miranda (2018), um tubo capilar com 0,88 mm de diâmetro interno é
mergulhado numa cuba com glicerina e a glicerina sobe 23,3 mm no tubo. Qual é a
sua tensão superficial? Dados: massa específica = 1260kg/m³ e ângulo = 0°.

5 De acordo com Miranda (2018), um reservatório cilíndrico possui diâmetro de base


igual a 2 m e altura igual a 4 m, sabendo que ele está totalmente preenchido com
gasolina (massa específica = 720 kg/m³), determine a massa de gasolina presente no
reservatório.

37
38
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
TIPOS E REGIMES DE ESCOAMENTOS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, agora abordaremos os conteúdos finais da Unidade 1. Nesse
tópico são apresentados os tipos e os regimes de escoamento.

Como existe uma grande variedade de problemas práticos no escoamento


de fluidos, é muito conveniente classificar os escoamentos para estudá-los em grupo
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Atualmente, existem diferentes classificações para os
escoamentos, conforme o regime e conforme o tipo de movimento do fluido. Aqui será
apresentada uma divisão entre regime de acordo com a viscosidade dos fluidos e as
demais classificações dos escoamentos de acordo com o movimento do fluido em
escoamento.

Assim, primeiramente são discutidos os regimes em que são classificados os


escoamentos de acordo com a viscosidade: em regime laminar ou turbulento. Como
visto anteriormente, a viscosidade é causada pelas forças coesivas entre as moléculas
do fluido. A viscosidade resultante dessas forças irá afetar a resistência do fluido ao
movimento e, portanto, na forma de escoamento desse fluido quando forças cisalhantes
forem aplicadas (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; AZEVEDO NETTO, 2015).

Depois dessa discussão serão apresentados alguns dos tipos de movimento dos
escoamentos. Algumas das subdivisões dos movimentos são de acordo com grandezas
físicas que afetam esses escoamentos, tais como: tempo, velocidade, força (isto é,
pressão) entre outras.

Por fim, é apresentado brevemente o conceito de sistema e de volume de controle,


que são importantes, pois se fazem necessários para o estudo dos escoamentos. Isso
porque o estudo dos escoamentos envolve o balanço de massas, ou seja, entradas e
saídas de um sistema ou de um volume de controle (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; AZEVEDO
NETTO, 2015; HIBBELER, 2016).

Entender os conceitos apresentados nesse tópico, os ajudará a entender os


princípios gerais do escoamento que serão estudados na próxima unidade dessa
disciplina. Esperamos que os conceitos possam ser bem assimilados durante o estudo.

39
2 TIPOS E REGIMES DE ESCOAMENTOS
Na maior parte dos casos, os fluidos não permanecem estáticos, mas escoam.
Especificamente, a Cinemática é o estudo da geometria do escoamento, que tem por
foco a descrição da posição, da velocidade e da aceleração das partículas de um sistema
de fluido. Um sistema consiste em uma quantidade específica do fluido que está contido
em uma região do espaço, separado do fluido que está fora dessa região, nos arredores
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007; HIBBELER, 2016, SCHULZ, 2003).

É muito importante conhecer a cinemática de um escoamento de fluido porque


quando o padrão de escoamento é estabelecido, a pressão ou as forças que atuam
sobre uma estrutura ou máquina submersa no fluido podem então ser determinadas.
Para definir completamente o padrão de escoamento, é preciso especificar a velocidade
e a aceleração de cada partícula do fluido em cada ponto dentro do sistema e em
cada instante do tempo. Isso pode ser feito de duas maneiras: através da descrição
Lagrangeana (método do sistema) ou da descrição Euleriana (método do volume de
controle) (HIBBELER, 2016; SCHULZ, 2003).

Na descrição Lagrangeana, o “controle” é feito no nível de partículas. O


escoamento dentro de um sistema de fluido pode ser definido “etiquetando-se” cada
partícula do fluido e depois especificando sua velocidade e aceleração em função do
tempo, à medida que a partícula se move de uma posição para a seguinte. O movimento
é medido na partícula e é calculado como a taxa de variação da posição da partícula
no tempo. Nesse caso, a velocidade não é uma função da posição da partícula, mas
a própria posição é conhecida como uma função temporal (ÇENGEL; CIMBALA, 2007;
HIBBELER, 2016).

Pelo método do volume de controle, na descrição Euleriana, a velocidade das


partículas do fluido, dentro de um sistema, também pode ser descrita considerando-se
um ponto fixo, em que as partículas que passam por esse ponto ou volume, pode ser
medido. Esse volume de espaço através do qual as partículas escoam é chamado de
volume de controle (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; HIBBELER, 2016; BRUNETTI, 2008).

Na Hidráulica, geralmente, é mais fácil usar uma descrição Euleriana do que


Lagrangeana para definir o escoamento. Uma descrição Euleriana é localizada, pois
especifica um ponto e mede o movimento das partículas que passam por esse ponto.
Isso torna mais fácil a descrição do escoamento, pois as partículas que compõem o
fluido podem apresentar comportamento muito errático e o sistema de fluido pode
não manter uma forma constante (HIBBELER, 2016; ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Além
disso, há, ainda, duas maneiras de descrever o movimento das partículas de fluido e há,
também, diversas formas de classificar o escoamento desse sistema (HIBBELER, 2016,
AZEVEDO NETTO, 2015).

40
2.1 REGIMES DE ESCOAMENTO
Quando duas camadas de fluido estão se movimentando, uma em relação à
outra, ocorre o aumento de uma força de atrito entre essas camadas. A camada fluída
que se move mais lentamente tentará reduzir a velocidade da camada mais rápida
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007; HIBBELER, 2016). Essa resistência ao movimento ocasionada
pela aderência interna do fluido é denominada viscosidade. Todos os fluidos apresentam
viscosidade, então, todo o escoamento é afetado pelos efeitos viscosos em algum grau.
Entretanto, os escoamentos em que esses efeitos são significativos, são denominados
escoamentos viscosos. Devido a essa importância, então, uma maneira de classificação
do regime de escoamento é em relação a esses efeitos viscosos (SCHULZ, 2003).

Enquanto alguns escoamentos são suaves e ordenados, outros são caóticos.


Quando o regime de escoamento é ordenado e as partículas do fluido escoam de
maneira suave como se fossem agrupadas em “lâminas”, o regime é dito laminar. Um
exemplo de fluido que escoa desse modo é o óleo, que quando escoa muito lentamente
por uma tubulação, as linhas da trajetória que as partículas seguem são uniformes e
sem perturbação. Ou seja, a lâmina ou as camadas finas do fluido são “organizadas”
e, portanto, uma camada cilíndrica desliza suavemente em relação a uma camada
adjacente. Esse comportamento é característico do regime laminar (HIBBELER, 2016;
AZEVEDO NETTO, 2015).

Ocorrendo aumento da velocidade ou diminuição da viscosidade, as partículas


do fluido podem, então, seguir linhas de trajetória erráticas, causando uma alta taxa de
mistura do fluido. Esse tipo de escoamento é dito como regime turbulento (SCHULZ,
2003; PORTO, 2006). O escoamento de fluidos de baixa viscosidade, como o ar em
altas velocidades é, geralmente, turbulento (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Já quando o
escoamento não é estável e ocorrem oscilações entre regime laminar e regime turbulento,
este é denominado de regime transitório (SCHULZ, 2003; AZEVEDO NETTO, 2015) e a
Figura 8 mostra um exemplo dessa diferença entre tipos de regime de escoamento.

A identificação do tipo de regime de escoamento é importante, pois o tipo


de regime tem efeito sobre a distribuição de pressão e de velocidades no meio de
condução do fluido. Isso afeta muito, dentre outras coisas, na potência requerida para
bombeamento desse fluido.

INTERESSANTE
Veja como é o comportamento das partículas nos diferentes tipos de
escoamento, como é mostrado na Figura 8 e no vídeo disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=MjujI72PX-k.

41
Figura 8 – Tipos de regime de escoamento

Fonte: Adaptado de Schulz (2003)

Um experimento onde pode ser vista essa diferença nos regimes de


escoamento, utilizando um único aparato, é do tipo como o apresentado na Figura 9.
Nesse experimento, um tubo de vidro é usado (item 3) para ligar um reservatório (item
1) a uma válvula (item 5) que permite o controle da vazão de saída do sistema, ou seja,
da velocidade de descarga do fluido. No eixo central do tubo de vidro é adicionado
um corante líquido possibilitando acompanhar visualmente o comportamento do
escoamento. Ao abrir um pouco a válvula, forma-se uma linha reta e contínua com o
corante no eixo central do tubo. Abrindo-se mais a válvula aparecem ondulações nessa
linha colorida até que desaparece, sendo totalmente diluído na água do tubo (BRUNETTI,
2008; HIBBELER, 2016).

Assim, nota-se que com uma taxa de descarga pequena (no primeiro caso) e,
portanto, com menores velocidades no escoamento, as partículas no fluido escoam
sem muita movimentação transversal e mantêm as lâminas concêntricas típicas do
escoamento laminar. Aplicando-se uma taxa maior de descarga (como no segundo
caso), ocorre o aumento da velocidade de escoamento e, com isso, maior turbulência,
isto é, o escoamento apresenta maior movimentação transversal das partículas do fluido,
fazendo com que haja maior troca de massa entre as lâminas concêntricas (BRUNETTI,
2008; HIBBELER, 2016).

Figura 9 – Experimento para observação do escoamento em regime laminar e em turbulento

Fonte: Adaptado de Brunetti (2008, p. 68)

42
Esse experimento foi realizado por Reynolds (1883) para demonstrar a existência
desses dois tipos de regime. Reynolds verificou que o fato de o movimento ser turbulento
ou laminar dependeria de um fator adimensional e acabou recebendo seu nome. Esse
fator, ou número adimensional de Reynolds, será estudado mais detalhadamente na
Unidade 2 dessa disciplina.

ESTUDOS FUTUROS
Esse assunto sobre o Número de Reynolds será abordado com mais
detalhes na Unidade 2.

2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS


Na Hidráulica, os movimentos ou escoamentos são conceituados em função
das suas características de diferentes maneiras, tais como: rotacional, irrotacional,
permanente, variável, uniforme, variado, livre, forçado, fluvial, torrencial etc. (PORTO,
2006).

O escoamento também pode ser classificado de acordo com quantas


coordenadas espaciais são necessárias para caracterizar a distribuição de velocidade.
A representação mais adequada de um escoamento real de fluidos envolve geometria
tridimensional, ou seja, os vetores de velocidade podem ser representados em todas as
três dimensões. Por vezes, no entanto, o escoamento apresenta variação de velocidade
predominante em certa direção, sendo que a variação dela em outras direções pode, em
muitos casos, ser ignorada considerando-se como um erro desprezível.

Caso todas as três coordenadas forem necessárias, então, o escoamento pode


ser dito como tridimensional. Representar e modelar escoamentos tridimensionais é
muito complexo e nos problemas de engenharia é comum simplificar a análise, admitindo-
se que o escoamento seja bidimensional, unidimensional ou até adimensional
(HIBBELER, 2016; ÇENGEL; CIMBALA, 2007; PORTO, 2006).

Para o caso em que uma simplificação para escoamento do tipo adimensional


seja necessária, é preciso considerar o escoamento como inalterável e o fluido como
ideal (fluido perfeito), para o qual a viscosidade é zero e o fluido é incompressível. Para
esse caso, então, seu perfil de velocidade seria constante em toda a parte e, portanto,
independente do ponto (localização coordenada) a ser considerado (HIBBELER, 2016;
PORTO, 2006; SCHULZ, 2003).

43
Considere o exemplo a seguir:

Considere o escoamento em regime permanente de um fluido através


de um cano circular acoplado a um grande reservatório. A velocidade do fluido
em qualquer local da superfície do cano é nula devido à condição de não
escorregamento e o escoamento é bidimensional na região de entrada do cano,
visto que a velocidade muda em ambas as direções r e z. O perfil da velocidade
desenvolve-se completamente e permanece sem mudança depois de uma certa
distância da entrada (cerca de 10 vezes o diâmetro do cano em escoamento
turbulento e menos em escoamento laminar [...]), e o escoamento nessa região é
dito estar totalmente desenvolvido. O escoamento totalmente desenvolvido num
cano circular é unidimensional, uma vez que a velocidade varia na direção radial
r, mas não nas direções angular θ ou axial z [...]. Isto é, o perfil da velocidade é o
mesmo em qualquer ponto ao longo do eixo z e é simétrico em torno do eixo do
cano.

[...] Desenvolvimento do perfil da velocidade num cano circular.


=V(r, z) e, portanto, o escoamento é bidimensional na região de entrada
e torna-se unidimensional a jusante quando o perfil da velocidade se desenvolve
completamente e permanece sem mudança na direção do escoamento, V=V(r).

Observe que a dimensionalidade do escoamento também depende da


escolha do sistema de coordenadas e de sua orientação. O escoamento no cano em
discussão, por exemplo, é unidimensional em relação às coordenadas cilíndricas,
mas bidimensional em coordenadas cartesianas – o que mostra a importância
da escolha do sistema de coordenadas mais apropriado. Observe também que,
mesmo neste escoamento simples, a velocidade não pode ser uniforme ao
longo da seção transversal do cano devido à condição de não escorregamento.
Entretanto, numa estrada bem arredondada, o perfil da velocidade pode ser
considerado quase uniforme no cano, visto que a velocidade é aproximadamente
constante em todos os raios, exceto muito próximo da parede do cano (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007, p. 20).

Fonte: ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e


aplicações. 2007. 562p.

44
No escoamento do tipo tridimensional, a velocidade variará em função das três
coordenadas cartesianas (nos eixos x, y e z) (Figura 10). Ocorrendo a necessidade de
uma análise em três dimensões, as equações tornam-se muito mais complexas, por
isso, é conveniente, quando possível, descrever o escoamento na forma unidimensional,
tendo-se que assumir previamente que o escoamento apresente velocidade igual em
todos os pontos e, portanto, que as propriedades não se alteram entre um ponto e outro.
Isso é usualmente aplicado para os cálculos relacionados ao escoamento de fluidos
(BRUNETTI, 2008) e um exemplo disso são os cálculos que envolvem vazão.

Assim, assumindo-se a simplificação de um escoamento unidimensional,


a velocidade média na seção poderia representar suficientemente bem a velocidade
real, reproduzindo a mesma vazão na seção em questão. Assim, a fórmula simples para
cálculo da vazão em um intervalo de tempo t, Q - vA, sendo v a velocidade e A a seção de
área que o fluido atravessa num tempo t, pode ser mais amplamente aplicada (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003; HIBBELER, 2016).

IMPORTANTE
Essa simplificação de escoamentos tri ou bidimensionais para
unidimensionais é uma simplificação muito usual e que você fará uso para
muitos dos cálculos nessa disciplina.

Figura 10 – Escoamento do tipo tridimensional

Fonte: Brunetti (2008, p. 71)

Outra forma de classificação seria com base na velocidade, ou seja, quando a


velocidade não muda de uma posição para a seguinte, o escoamento é dito uniforme
(HIBBELER, 2016; BRUNETTI, 2008).

45
A terminologia da área também apresenta uma classificação dos escoamentos
de acordo com seu comportamento temporal. De forma imediata, um escoamento no
qual nenhuma variável se altera ao longo do tempo, em nenhum ponto no interior do
fluido, é denominado “escoamento permanente” ou escoamento em “regime perma-
nente”. Note-se que as propriedades do fluido podem variar de ponto a ponto, desde
que não ocorram variações com o tempo. Um exemplo prático é o de um escoamento
através de uma tubulação, desde que o nível dele seja mantido constante (Figura 11).
Nesse tanque, a quantidade de água que entra em (1) e que sai em (2) (HIBBELER, 2016;
BRUNETTI, 2008; PORTO, 2006).

Figura 11 – Tanque com entrada e saída de água constante

Fonte: Brunetti (2008, p. 67)

Qualquer outra situação em que uma variável em pelo menos um ponto no interior
do fluido se altere ao longo do tempo é denominada “escoamento não permanente”
ou escoamento em regime “não permanente” ou “escoamento variado” (PORTO, 2006;
SCHULZ, 2003; AZEVEDO NETTO, 2015). Olhando para a Figura 12, se não houver mais
o abastecimento de água no ponto (1), o regime passará a ser dito variado. Para esses
casos, só que em reservatório de grandes dimensões – aqueles em que se extrai,
mas devido a sua dimensão muito extensa o nível não varia significativamente com o
tempo – o regime acaba sendo considerado como aproximadamente permanente. Essa
diferença ocasionada pela dimensão do reservatório é exemplificada na figura a seguir
(HIBBELER, 2016; BRUNETTI, 2008).

Figura 12 – Exemplos de escoamento em regimes permanente e não permanente (variado) em


reservatórios

Fonte: Brunetti (2008, p. 68)

46
Os termos em regime permanente e uniforme são muito usados na Hidráulica e,
portanto, é necessário compreender corretamente seus significados. Para distingui-los
melhor, podemos dizer que o termo regime permanente implica “não haver mudança com
o passar do tempo”. O termo uniforme implica “não haver mudança com a localização”
em uma região específica (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; BRUNETTI, 2008; PORTO, 2006).

O escoamento não permanente apresenta, ainda, subclassificações (SCHULZ,


2003; ÇENGEL; CIMBALA, 2007):

Escoamento aleatório: vinculado às flutuações de velocidade e pressão. A


velocidade varia de forma imprevisível. Escoamento característico do regime não
uniforme.

Escoamento periódico: vinculado à evolução da velocidade e da pressão.


A velocidade varia de forma periódica no tempo (por exemplo, a velocidade dos rios
próximos aos oceanos, onde a maré varia periodicamente).

Escoamento transiente: escoamento que tende assintoticamente ao regime


permanente. Um exemplo que pode ser citado é quando se dá partida no motor de um
foguete, pois o escoamento é acelerado apenas até que o motor opere regularmente.

Nos desafios do dia a dia, caberá ao engenheiro determinar se será suficiente


considerar apenas as características do escoamento em regime permanente através
da média temporal para um problema em questão ou se deverá fazer um estudo
mais aprofundado das características não permanentes do escoamento. Ou seja,
o engenheiro deverá ser capaz de averiguar, para o caso em estudo, e considerar de
maneira simplificada que o escoamento é permanente, que é possível ou se a não
estabilidade do escoamento é significativa para a representação do escoamento. Por
exemplo, se o interesse para o problema em questão forem as vibrações induzidas pelo
escoamento ou as flutuações não permanentes da pressão ou ondas sonoras emitidas
por turbilhões, a descrição via média temporal das características do escoamento será
insuficiente para representar as condições desse escoamento (ÇENGEL; CIMBALA,
2007; SCHULZ, 2003).

Na prática é muito mais comum lidar com escoamentos em regime turbulento


(ou variado) do que em regime laminar. Considera-se em muitos casos, no entanto,
como um regime permanente, adotando-se como dito anteriormente, a média
temporal. Isso inclusive acontece muito nas medições pela maioria dos aparelhos. Por
apresentaram uma certa inércia na medição, indica um valor permanente em cada
ponto que corresponde a essa média mencionada (Figura 13). Apenas aparelhos muito
sensíveis conseguem indicar as flutuações dos valores das propriedades em cada ponto
de medição (BRUNETTI, 2008; ÇENGEL; CIMBALA, 2007; MUNSON, 2004).

47
Figura 13 – Variação da velocidade do escoamento de um fluido em relação ao tempo

Fonte: Brunetti (2008, p. 69)

2.2.1 Classificações adicionais


Um equívoco recorrente é o uso dos termos “regime não permanente” e
“regime transiente” como intercambiáveis. Entretanto, como apontado anteriormente,
o termo regime transiente” é usado tipicamente para escoamentos que ainda estão
se desenvolvendo, enquanto o termo “regime não permanente” se aplica a qualquer
escoamento que não seja permanente (SCHULZ, 2003; BRUNETTI, 2008; ÇENGEL;
CIMBALA, 2007).

Existem ainda as classificações adicionais, como segue:

a) Escoamentos estabelecidos e não estabelecidos: considerando o


exemplo de um escoamento em um tubo, na região de entrada desse tubo há evolução
do perfil transversal de velocidades ao longo do tubo (AZEVEDO NETTO, 2015). Após
ultrapassar um espaço denominado “comprimento de entrada”, o perfil mantém-se
inalterado a partir daí, sendo esta situação de constância conhecida como escoamento
estabelecido. Qualquer situação na qual um fluido escoa junto a uma superfície sólida, a
região na qual há variação do perfil de velocidades ao longo do escoamento corresponde
à região de escoamento não desenvolvido. Por outro lado, a região posterior, onde o perfil
de velocidade se mantém inalterado entre as diferentes seções corresponde à região de
escoamento desenvolvido (BRUNETTI, 2008; ÇENGEL; CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003).

b) Escoamentos compressíveis e incompressíveis: escoamento em


que não se produz alterações significativas em sua massa específica, mesmo que
o fluido seja compressível. Isso é comum ocorrer nos escoamentos de ar. Apesar
do ar ser compressível, um escoamento de ar pode ocorrer mantendo constante a
massa específica dele. Escoamentos nos quais há variação de massa específica são
denominados compressíveis (SCHULZ, 2003; PORTO, 2006).

48
c) Escoamento rotacional e irrotacional: embora haja uma definição
matemática que exprime exatamente a rotacionalidade, aqui a definição se baseia
na noção intuitiva de que o escoamento rotacional é aquele no qual suas partículas
experimentam rotação, isto é, deslocamentos angulares em torno de seu eixo. No
escoamento irrotacional isso não ocorre (SCHULZ, 2003; PORTO, 2006).

d) Escoamento em superfície livre ou escoamento livre: escoamento em


que, qualquer que seja a seção transversal, o líquido está sempre em contato com a
atmosfera. Esta é a situação do escoamento em rios, córregos ou canais (AZEVEDO
NETTO, 2015; PORTO, 2006). Como características deste tipo de escoamento, pode-se
dizer que ele se dá, necessariamente, pela ação da gravidade e que, qualquer perturbação
em trechos localizados pode dar lugar a modificações na seção transversal da corrente
em outros trechos. Nesse tipo de escoamento, qualquer movimento do fluido se deve a
meios naturais tal como o efeito de flutuação, que se dá pela ascensão do fluido mais
quente e descida do fluido mais frio (BRUNETTI, 2008; ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

e) Escoamento em pressão ou forçado: ocorre no interior das tubulações,


ocupando integralmente sua área geométrica, sem contato com o meio externo
(PORTO, 2006). A pressão exercida pelo líquido sobre a parede da tubulação é diferente
da atmosférica e qualquer perturbação do regime, em uma seção, poderá dar lugar
a alterações de velocidade e pressão nos diversos pontos do escoamento, mas sem
modificações na seção transversal. Tal escoamento pode ocorrer pela ação da gravidade
ou através de bombeamento (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO, 2015).

f) Escoamento turbulento livre: este tipo de escoamento pode ser subdividido


em regime fluvial, quando a velocidade média, em uma seção, é menor que um certo
valor crítico; e regime torrencial, quando a velocidade média, em uma seção, é maior que
um certo valor crítico (SCHULZ, 2003; PORTO, 2006).

Alguns equipamentos de operação contínua (por exemplo, turbinas, bombas,


condensadores, trocadores de calor, caldeiras ou sistemas de refrigeração) são ditos,
por aproximação, de regime permanente, pois operam por longos períodos sob as
mesmas condições. Já alguns equipamentos cíclicos, como motores alternados ou
compressores, não satisfazem essa condição (BRUNETTI, 2008; ÇENGEL; CIMBALA,
2007). Entretanto, as propriedades dos fluidos variam de maneira periódica, podendo o
escoamento nesses equipamentos ser analisado como se fosse em regime permanente,
usando para tanto os valores médios no tempo para essas propriedades (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007).

Durante o escoamento dito em regime permanente, as propriedades do fluido


podem mudar de local para local, porém, quando analisado qualquer ponto fixo, as
propriedades se mantêm constantes. Assim, o volume, a massa, a energia total de um
dispositivo de escoamento permanecem em regime permanente ou em parte desse
escoamento e as propriedades permanecem constantes em uma operação estacionária
(AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

49
Os escoamentos em regime não uniforme (ou ditos turbulentos) são
intrinsecamente não permanentes (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Em casos práticos, o
componente velocidade pode variar aleatoriamente em torno de um valor médio de
velocidade. Nos escoamentos ditos turbulentos, a definição do escoamento como
permanente ou não permanente, pode se dar com relação ao comportamento dessa
grandeza – velocidade média. Havendo constância dessa grandeza ao longo do tempo,
o escoamento será definido como permanente, caso contrário, será definido como não
permanente. Outra terminologia usada especificamente para escoamentos turbulentos
são os termos “estacionário” e “não estacionário” para representar as tendências das
grandezas médias, justamente procurando evitar confusões com a definição mais
rigorosa de permanência e não permanência (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; PORTO, 2006;
SCHULZ, 2003).

2.2.2 Fundamentos da visualização do escoamento de fluidos


Diversos métodos foram criados para visualizar o comportamento de um
escoamento. A visualização do escoamento não é apenas útil em procedimentos
experimentais, mas também em soluções numéricas para a resolução de problemas.
Existem vários tipos (ou padrões) de escoamento que podem ser visualizados fisicamente
(ou experimentalmente) ou através de modelagem computacional. Para a visualização,
os métodos usados incluem o uso de linhas de corrente ou tubos de corrente e para o
trabalho experimental, linhas de trajetória e linhas de emissão, além dos métodos óticos
que são também frequentemente utilizados (HIBBELER, 2016; MUNSON, 2004; ÇENGEL;
CIMBALA, 2007), como vemos a seguir:

Trajetória: lugar geométrico ocupado por uma partícula ao longo do tempo


(SCHULZ, 2003). Essa linha define o “caminho” pelo qual a partícula passa por um
período de tempo. Para conseguir a trajetória experimentalmente, uma única partícula
com flutuação neutra pode ser solta dentro da corrente de escoamento e uma fotografia
de longa exposição é tirada (HIBBELER, 2016). Essa fotografia de longa exposição
nada mais é do que uma sequência de fotografias de um mesmo elemento (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007; BRUNETTI, 2008). A Figura 14 exemplifica a trajetória de uma partícula,
sendo esse caminho o objeto de estudo.

Figura 14 – Linha de trajetória exemplificando o caminho seguido por uma partícula em um escoamento em
estudo

Fonte: Brunetti (2008, p. 70)

50
Linha de emissão: é definida a partir de uma origem, um ponto fixo no
interior do escoamento. A linha de emissão é o lugar geométrico ocupado por todas
as partículas diferentes que passaram pelo ponto de origem. Note-se que a trajetória
é o lugar geométrico ocupado ao longo do tempo por uma única partícula, enquanto
a linha de emissão considera todas as partículas que passaram por um ponto. Como
o escoamento pode variar ao longo do tempo, os dois registros podem ser diferentes
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003).

Linha de corrente: é uma curva que é traçada de tal maneira que indique a
direção da velocidade das partículas em um fluido em movimento em determinado
instante de tempo. Especificamente, a velocidade de qualquer partícula é sempre
tangente à linha de corrente ao longo da qual ela está trafegando nesse instante
(HIBBELER, 2016; SCHULZ, 2003). Assim, a linha de corrente pode ser entendida como
a linha tangente aos vetores da velocidade das diferentes partículas em um mesmo
instante (BRUNETTI, 2008). É importante lembrar que as linhas de corrente são usadas
para representar o campo de escoamento durante cada instante de tempo. Assim, na
equação de uma linha de corrente, o tempo não é uma variável, já que se refere a um
certo instante de tempo. Para traçar essas linhas usa-se, por exemplo, de pequena
serragens em diversos pontos e tirando em seguida uma fotografia instantânea (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003; BRUNETTI, 2008; HIBBELER, 2016). A serragem servirá
para indicar o curto espaço percorrido, que representará o vetor velocidade, como
ilustrado na Figura 15.

Figura 15 – Exemplo da determinação da linha de corrente a partir dos vetores de velocidade

Fonte: Brunetti (2008, p. 70)

Tubo de corrente: é a representação do escoamento pelo agrupamento das


linhas de corrente, formando algo como um “tubo circular" que cerca uma seção de
escoamento (Figura 16). A esse agrupamento circunferencial dá-se o nome de tubo de
corrente. Nesse caso, o fluido escoa pelo tubo de corrente como se estivesse contido em
um conduto curvo (HIBBELER, 2016; AZEVEDO NETTO, 2015). Sendo o vetor velocidade
tangente às linhas de corrente que compõem a parede do tubo, o escoamento não
atravessa as suas paredes. O tubo de corrente pode ser entendido como composto
por uma superfície fechada flexível, cuja posição e seção transversal variam no tempo
(SCHULZ, 2003; HIBBELER, 2016).

51
Figura 16 – Representação de tubo de corrente

Fonte: Brunetti (2008, p. 70)

Assim, uma partícula trafegará nesse tubo mais lentamente, quanto maior for
a distância entre as linhas de corrente, ou seja, se o tubo de corrente for mais largo.
Assim, terá o escoamento mais acelerado, caso essas linhas estejam mais próximas (ou
o tubo de corrente for estreito). As principais propriedades dos tubos de corrente é que
estes são fixos quando o regime é permanente e que são “impermeáveis” à passagem
de massa, ou seja, não ocorre a passagem ou o fluxo de partículas do fluido através do
tubo de corrente. Isso porque, como o regime é permanente, não deve ocorrer a variação
da condição do fluido ou de suas propriedades e também porque, para que partículas
do fluido cruzassem o tubo, o vetor da velocidade teria que ser oblíquo em relação ao
tubo de corrente. Isso não é possível de acontecer devido à própria definição das linhas
de correntes, em que estas seriam formadas pelas retas tangentes dos vetores de
velocidade das partículas (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003; BRUNETTI, 2008).

2.2.3 Representação gráfica dos escoamentos


Independentemente de como os resultados são obtidos, geralmente, é
necessário apresentar os resultados de forma gráfica, a fim de tornar mais evidente
ou clara as informações obtidas sobre o escoamento em questão. Dentre os tipos de
representação gráfica utilizados, três merecem destaque por serem os mais úteis na
área do escoamento de fluidos: os gráficos de perfil, os vetoriais e os de contorno.

Gráficos de perfil: esses são os gráficos mais fáceis de entender. Eles


representam a variação de uma propriedade escalar ao longo de alguma direção
escolhida no campo do escoamento. Um exemplo muito comum é o gráfico do perfil de
velocidades de um escoamento.

Gráficos vetoriais: esses gráficos são usados para representar o padrão de


escoamento com a indicação, não apenas da direção, mas também do módulo da
propriedade instantânea vetorial. Ou seja, o gráfico vetorial consiste em uma matriz de

52
setas que indicam tanto o módulo quanto a direção de uma propriedade em determinado
instante de tempo. Por exemplo, embora as linhas de corrente sejam as que indiquem
a direção do campo de velocidade instantânea de um escoamento, elas não indicam o
módulo da velocidade.

Gráficos de contorno: é a representação gráfica na forma de curvas de valor


constante de uma propriedade escalar (ou módulo de uma propriedade vetorial) para
um determinado instante de tempo. Também chamado de gráfico de isocurvas, estes
gráficos revelam mais facilmente regiões com valores altos ou baixos da propriedade de
escoamento que está sendo estudada. Esses gráficos podem ser representados apenas
com as linhas (gráficos de linha de contorno) ou os contornos podem ser preenchidos
com cores ou tons de cinza (gráficos de contorno preenchido).

2.2.4 Sistema e volume de controle


Como mencionado no início desse Tópico 3, os fluidos não permanecem
estáticos, mas escoam. Ocorrendo escoamento, isto é, a movimentação de massa
para a quantificação, é necessário analisar entradas e saídas de fluido. Para tanto, é
necessário estipular ou determinar como será considerado o controle dessa massa,
isto é, se será utilizado o conceito de sistema ou de volume de controle para o caso.
Por isso, é importante entender esses dois conceitos e suas diferenças para fazer a
correta seleção para representação de como se dá o controle de massa no escoamento
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003; HIBBELER, 2016).

Um sistema é definido como uma região escolhida no espaço, cuja massa ou


região fora dele é denominada vizinhança. A superfície real ou imaginária que faz a
separação do sistema de sua vizinhança é chamada de fronteira, que pode ser fixa ou
móvel (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003).

Os sistemas podem ser fechados, também conhecidos como massa de controle,


ou podem ser abertos, também chamados de volume de controle. Em um sistema
fechado, nenhuma quantia de massa pode cruzar sua fronteira, porém, a energia, em
diferentes formas, pode cruzar esse sistema. Nos casos em que nem a energia pode
cruzar a fronteira, o sistema é dito isolado (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003;
HIBBELER, 2016).

O uso desse tipo de representação é do mesmo tipo que foi mencionado na


introdução deste Tópico 3. Chamada de descrição Lagrangeana, o “controle” é feito no
nível de partículas. O escoamento é considerado contido dentro de um sistema de fluido
e, pode ser definido “etiquetando-se” cada partícula do fluido e depois especificando
sua velocidade e aceleração em função do tempo, à medida que a partícula se move de
uma posição para a seguinte. Como já dito, o movimento é medido no nível de partícula
e é calculado como a taxa de variação da posição da partícula no tempo (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003; HIBBELER, 2016).
53
Um volume de controle é uma região selecionada, compreendendo, geralmente,
a um dispositivo que inclui o escoamento de massa, por exemplo, um reservatório, uma
tubulação dentre outros. Através desse volume de espaço, chamado de volume de
controle, as partículas escoam e, por considerar apenas uma certa região como volume
de controle, o estudo das propriedades do escoamento é simplificado.

Essa representação por volume de controle é denominada também de


descrição Euleriana, como mencionado na introdução. Nesse caso, a velocidade das
partículas de um dado fluido dentro de um sistema do tipo volume de controle é descrita
considerando-se um ponto fixo, medindo-se o volume de partículas que passam por esse
ponto (PORTO, 2006). Para esse caso, tanto massa quanto energia podem atravessar a
fronteira do volume de controle. Um grande número de representações, que envolvem
balanços de entrada e saída de um sistema, são modelados como volumes de controle
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007; MUNSON, 2004; HIBBELER, 2016).

O volume de controle, ou sistema aberto, como também é chamado, pode ser


fixo em tamanho e forma ou pode incluir uma fronteira móvel, mas esse não é geralmente
o caso. Um volume de controle pode, além de incluir a possibilidade de interação de
massa, envolver trocas de calor e trabalho, de maneira semelhante ao que acontece em
um sistema fechado (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Qualquer volume pode ser considerado um volume de controle, sendo a escolha


do tamanho e do formato de acordo com a proposta de análise que se pretende realizar.
Comparativamente, podemos dizer que a escolha do volume de controle na Hidráulica
é parecida com a escolha de um diagrama de corpo livre que se faz na mecânica dos
sólidos. Essencialmente, a escolha do volume de controle nunca está errada, entretanto,
alguns deles podem não ser mais apropriados do que outros, dependendo da situação
(MUNSON, 2004; HIBBELER, 2016; PORTO, 2006).

54
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Existem duas maneiras para se descrever o movimento de partículas de um fluido


em escoamento: uma descrição Lagrangeana, chamada também de técnica de
sistema, ou uma descrição Euleriana, ou técnica de volume de controle.

• A descrição do escoamento de fluidos pode ser realizada de diferentes maneiras.


Pode ser feita através da classificação de acordo com o resultado obtido pela
aplicação de uma força, de acordo com a dimensão de representação espacial ou
de acordo com os padrões de escoamento temporal ou espacial.

• A descrição do escoamento de fluidos pode ser feita visualmente também, sendo os


principais tipos de representação visual do escoamento as representações do tipo
linhas de trajetória, linhas de emissão, linhas de controle e tubos de corrente.

• Um sistema é definido como uma região escolhida no espaço, cuja massa ou


região fora dele é denominada vizinhança. E um volume de controle é uma região
do espaço selecionada, compreendendo, geralmente, um dispositivo que inclui o
escoamento de massa.

55
AUTOATIVIDADE
1 A Hidrocinética é a área da Hidráulica que tem por foco o estudo da geometria do
escoamento dos fluidos. Isso é importante quando trabalhamos com escoamento
de fluidos porque ao determinar as características do escoamento, as condições
de pressão ou as forças que afetam esse escoamento, podem ser determinadas
também. Além das diferentes formas de se descrever o movimento das partículas
de um fluido, existem diferentes formas para classificar os padrões de escoamento
do fluido em um sistema ou um volume de controle. Com isso em mente, assinale a
alternativa CORRETA acerca da descrição e dos tipos e classificações de regime de
escoamento de fluidos:

a) ( ) Na Hidráulica, para definir o escoamento, geralmente, é mais fácil usar uma


descrição Lagrangeana do que Euleriana.
b) ( ) Quando duas camadas de fluido estão se movendo, uma em relação à outra,
ocorre o aumento de uma força de atrito entre essas camadas. A camada fluída
que se move mais rapidamente acabará aumentando a velocidade da camada
mais lenta.
c) ( ) Todos os fluidos apresentam viscosidade, de maneira que todo o escoamento é
afetado pelos efeitos viscosos em algum grau.
d) ( ) Ocorrendo aumento da velocidade ou diminuição da viscosidade, as partículas
do fluido, podem, então, seguir linhas de trajetória erráticas, causando uma alta
taxa de mistura do fluido. Esse tipo de escoamento é dito de regime permanente.

2 A identificação do tipo de regime de escoamento é importante, pois o tipo de regime


tem efeito sobre a distribuição de pressão e de velocidades no meio de condução
do fluido. A classificação dos movimentos dos fluidos de acordo com os padrões
espaciais de movimentação das partículas é dividida em três principais padrões de
movimento: laminar, turbulento e transitório (ou de transição). Acerca dos tipos de
movimento dos fluidos, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Laminar.
II- Turbulento.
III- Transitório.

( ) As camadas finas do fluido são “organizadas” e, portanto, uma camada cilíndrica


desliza suavemente em relação a uma camada adjacente.
( ) As partículas do fluido seguem linhas de trajetória erráticas, causando uma alta
taxa de mistura do fluido.
( ) O escoamento não é estável e ocorrem oscilações entre um regime mais uniforme
e um regime mais caótico.

56
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I - III - II.
b) ( ) II - I - III.
c) ( ) I - II - III.
d) ( ) III - II - I.

3 Na Hidráulica, os movimentos ou escoamentos podem ser melhor compreendidos


através de recursos de visualização do escoamento. E os resultados da análise de
um escoamento em estudo podem ser apresentados graficamente de diferentes
maneiras, sendo os três tipos de gráfico comumente utilizados, os gráficos de
perfil, os vetoriais e de contorno. De acordo com os recursos de visualização e de
representação gráfica mais usados na Hidráulica, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) Os gráficos de contorno podem ser ainda divididos em gráficos de linha de contorno


e gráficos de contorno preenchido.
( ) São tipos de representações visuais do escoamento as linhas de emissão, linhas de
corrente, trajetória e tubos de corrente.
( ) Considerando a quantidade de informação que os tipos mais usados de
representação gráfica transmitem ao leitor, o de maior para o de menor quantidade
seria gráfico de contorno > gráfico vetorial > gráfico de perfil.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) V - V - V.

4 No escoamento laminar de um fluido em condutos circulares, o diagrama de


velocidades é representado pela equação , onde Vmax é a velocidade no
eixo do conduto, R é o raio do conduto e r é um raio genérico para o qual a velocidade
v é genérica. Verificar que , onde Vm é a velocidade média na seção?

5 Assumindo o diagrama de velocidades indicado na figura, em que a parábola tem


seu vértice a 10 cm do fundo, calcular o gradiente de velocidade e a tensão de
cisalhamento para y = 0; 5; 10 cm. Adotar μ = 400 centipoises.

57
LEITURA
COMPLEMENTAR
EXATIDÃO, PRECISÃO E ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS

Yunus A. Çengel e John M. Cimbala

Nos cálculos de engenharia, as informações fornecidas não são conhecidas


com mais do que certo número de algarismos significativos, geralmente três algarismos.
Consequentemente, os resultados obtidos não podem ter precisão maior do que o do
número de algarismos significativos dos dados. Relatar resultados com mais algarismos
significativos implica precisão maior do que existe e deve ser evitado.

Independentemente do sistema de unidades usado, os engenheiros devem


estar cientes de três princípios que governam o uso apropriado dos números: exatidão
(acurácia), precisão e algarismos significativos. Para as medidas de engenharia, eles são
definidos como se segue:

Erro de exatidão (inexatidão) é o valor de uma leitura menos o valor verdadeiro.


Em geral, a exatidão de um conjunto de medidas refere-se à proximidade da leitura média
em relação ao valor verdadeiro. Exatidão geralmente é associada a erros repetitivos e
fixos.

Erro de precisão é o valor de uma leitura menos a média das leituras. Em geral,
a precisão de um conjunto de medidas refere-se à fineza da resolução e à capacidade
de repetição do instrumento de medida. Geralmente, a precisão é associada a erros não
repetitivos e aleatórios.

Algarismos significativos são os dígitos relevantes e expressivos.

Uma medida ou cálculo podem ser muito precisos sem serem muito exatos, e
vice-versa. Por exemplo, suponha que o valor real da velocidade do vento seja 25,00
m/s. Dois anemômetros A e B fazem cinco leituras, cada um, da velocidade do vento:
• anemômetro A: 25,50; 25,69; 25,52; 25,58 e 25,61 m/s. Média de todas as leituras =
25,58 m/s.
• anemômetro B: 26,3; 24,5; 23,9; 26,8 e 23,6 m/s. Média de todas as leituras = 25,02
m/s.

58
Claramente, o anemômetro A é mais preciso, visto que nenhuma das leituras
difere por mais de 0,11m/s da média. Entretanto, a média 25,58 m/s é 0,58 m/s maior
do que a velocidade verdadeira do vento, indicando erro de desvio significativo, também
chamado de erro constante ou erro sistemático. Por outro lado, o anemômetro B não é
muito preciso, visto que as suas leituras variam bastante em torno da média, mas sua
média total está muito mais próxima do valor verdadeiro. Logo, o anemômetro B é mais
exato do que o anemômetro A, pelo menos para este conjunto de leituras, ainda que seja
menos preciso. A diferença entre exatidão e precisão pode ser ilustrada eficazmente
por uma analogia do disparo de um revólver num alvo, como mostrado na figura 1-40.
O atirador A é muito preciso, mas não muito exato, enquanto o atirador B tem melhor
exatidão total, mas menos precisão.

Muitos engenheiros não prestam a devida atenção ao número de algarismos


significativos em seus cálculos. O algarismo menos significativo num número indica
a precisão da medida ou cálculo. Por exemplo, um resultado escrito como 1,23 (três
algarismos significativos) indica que o resultado é preciso até o algarismo da segunda
casa decimal, isto é, o número está entre 1,22 e 1,24. Expressar o número com mais
dígitos seria incorreto. O número de algarismos significativos é mais facilmente avaliado
quando o número é escrito em notação exponencial e a quantidade de algarismos
significativos pode então ser facilmente contada, inclusive os zeros. Alguns exemplos
são mostrados a seguir.

TABELA 1-3 - ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS

NOTAÇÃO NÚMERO DE ALGARISMOS


NÚMERO
EXPONENCIAL SIGNIFICATIVOS
12,3 1,2 X 101 3
123.000 1,23 X 10 5
3
0,00123 1,23 X 10 -3
3
40.300 4,03 X 104 3
40.300 4,0300 X 104 5
0,005600 5,600 X 10 -3
4
0,0056 5,6 X 10 -3
2
0,006 6 X 10 -3
1
Fonte: ÇENGEL; CIMBALA (2007)

Ao executar cálculos ou manipulações de diversos parâmetros, o resultado final


é, geralmente, apenas tão preciso quanto o parâmetro menos preciso do problema. Por
exemplo, suponha que A e B sejam multiplicados para obter C. Se A = 2,3601 (cinco
algarismos significativos), e B = 0,34 (dois algarismos significativos), então C = 0,80
(apenas dois algarismos são significativos no resultado final). Observe que a maioria dos

59
estudantes é tentada a escrever C = 0,802434, com seis algarismos significativos, uma
vez que este é o resultado exibido na calculadora depois de multiplicar os dois números.

Vamos analisar estes exemplos simples cuidadosamente. Suponha que o valor


exato de B é 0,33501, que é lido pelo instrumentos como 0,34. Suponha também que
A é exatamente 2,3601, como medido por um instrumento mais exato e preciso. Neste
caso, C = A x B = 0,79066, com cinco algarismos significativos. Note que nossa primeira
resposta, C = 0,80 difere por um algarismo na segunda casa decimal. Da mesma
maneira, se B for 0,34499 e o instrumento o ler como 0,34, o produto de A por B seria
0,81421 com cinco algarismos significativos. Nossa resposta original de 0,80 novamente
difere por um, na segunda casa decimal. O ponto principal aqui é que 0,80 (com dois
algarismos significativos) é o melhor que se pode esperar deste produto, uma vez que
um dos valores tinha apenas dois algarismos significativos. Outra maneira de ver o fato
é dizer que após os dois primeiros algarismos da resposta, os algarismos restantes são
inexpressivos ou sem significado. Por exemplo, se alguém reporta que a calculadora
exibe 2,3601 vezes 0,34 igual a 0,802434, os últimos quatro algarismos não têm
significado. Como mostrado, o resultado final deve ficar entre 0,79 e 0,81 – quaisquer
algarismos, além dos dois significativos, não são apenas sem significado, mas também
enganosos, porque indicam ao leitor maior precisão do que realmente existe.

Como outro exemplo, considere um recipiente de 3,75 l cheio de gasolina,


cuja densidade é 0,845 kg/l e determine sua massa. Provavelmente, a primeira ideia
que vem a sua mente é multiplicar o volume pela densidade para obter 3,16875 kg de
massa, o que implica falsamente que a massa assim determinada tem precisão de seis
algarismos significativos. Porém, na verdade a massa não pode ter precisão maior do
que três algarismos significativos porque tanto o volume como a densidade têm precisão
de apenas três algarismos significativos. Portanto, o resultado deve ser arredondado
para três algarismos significativos e o valor da massa deve ser registrado como 3,17kg
em vez do valor que a calculadora mostra (figura 1-41). O resultado 3,16874 kg seria
correto somente se o volume e a massa fossem dados como 3,75000 l e 0,845000
kg/l, respectivamente. O valor 3,75 l implica que estamos razoavelmente confiantes de
que o volume seja preciso dentro ≠0,01l e não possa ser nem 3,74 ou 3,76 l. Entretanto,
o volume pode ser 3,746; 3,750; 3,753 etc., uma vez que todos são arredondados para
3,75 l.

60
Você também deve estar consciente de que algumas vezes preferimos
introduzir pequenos erros a fim de evitar o incômodo de pesquisar dados mais exatos.
Por exemplo, ao lidarmos com água, frequentemente usamos o valor 1000 kg/m³ para
densidade, que é o valor da densidade da água pura a 0 °C. O uso de tal valor a 75 °C
resultará num erro de 2,5% uma vez que a densidade nessa temperatura é 975 kg/m³.
Os minerais e impurezas na água introduzem um erro adicional. Sendo esse o caso,
não tenha escrúpulos em arredondar os resultados finais com um número razoável de
algarismos significativos. Além disso, ter um pequeno grau de incerteza nos resultados
da análise de engenharia usualmente é a regra, não a exceção.

Ao escrever resultados intermediários num cálculo, é recomendável manter


alguns dígitos “extras” para evitar erros de arredondamento, contudo, o resultado
final deve ser escrito com o número de algarismos significativos em consideração. O
leitor também deve ter em mente que um certo número de algarismos significativos
de precisão no resultado não implica necessariamente o mesmo número de dígitos
de exatidão geral. Erro de desvio em uma das leituras pode, por exemplo, reduzir
significativamente a exatidão geral do resultado, talvez até torando sem sentido o último
algarismo significativo e reduzindo de uma quantidade total de algarismos confiáveis.
Valores determinados experimentalmente estão sujeitos a erros de medição e tais erros
são refletidos nos resultados obtidos. Por exemplo, se a densidade de uma substância
tiver incerteza de 2%, então a massa determinada usando esse valor de densidade
também terá incerteza de 2%.

61
Finalmente, quando a quantidade de algarismos significativos for desconhecida,
o padrão aceito na engenharia é de três algarismos significativos. Portanto, se o
comprimento de um cano for dado como 40 m, assumiremos que o valor seja 40,0 m a
fim de justificar o uso de três algarismos significativos finais.

EXEMPLO 1-6 - Algarismos Significativos e Vazão de Volume


Jennifer está realizando uma experiência que usa água fria de uma mangueira de
regar jardim. Para estimar a vazão do volume de água através da mangueira, cronometra
o tempo gasto para encher um recipiente (figura 1-42). O volume de água coletado é V =
1,1 gal durante o período de tempo Δt = 45,62s, medido com cronômetro. Calcule a vazão
de volume através da mangueira em unidades de metros cúbicos por minuto.

Solução: A vazão de volume deve ser determinada por meio de medições de


volume e do intervalo de tempo decorrido.

Hipóteses: 1 – Jennifer registrou suas medições adequadamente, de modo que


a medição de volume é precisa até dois algarismos significativos, enquanto o período de
tempo é preciso até quatro algarismos significativos; 2 – Não há perda de água devido a
derrame para fora do recipiente.

Análise: Vazão de volume V é o volume deslocado por unidade de tempo e é


expressa por:
Vazão de volume:

62
Substituindo-se pelos valores medidos, a vazão de volume é:

Discussão: O resultado final é fornecido com dois algarismos significativos uma


vez que não podemos ter confiança em precisão maior do que esta. Se este resultado
fosse de um passo intermediário em cálculos subsequentes, seriam considerados
alguns algarismos extras para evitar o acúmulo de erro de arredondamento. Em tais
casos, a vazão de volume seria escrita V = 5,4759 x 10-³ m³/min. Não podemos dizer
nada sobre a exatidão do nosso resultado com base nas informações dadas, visto que
não dispomos de informações sobre erros sistemáticos nas medições, tanto de volume
como de tempo.

Tenha em mente também que boa precisão não garante boa exatidão. Por
exemplo, se as pilhas do cronômetro estiverem fracas, sua exatidão poderá ser bem
baixa, apesar do mostrador ainda exibir precisão de quatro algarismos significativos.

Na prática comum, precisão é frequentemente associada com resolução, que é


uma medida do detalhe da medição que o instrumento exibe. Por exemplo, dizemos que
um voltímetro digital de cinco algarismos no mostrador é mais preciso que um de apenas
três. Entretanto, a quantidade de algarismos exibidos não tem relação com a exatidão
geral da medida. Um instrumento pode ser muito preciso sem ser muito exato quando
há erros de desvio significativos. Da mesma maneira, um instrumento que exibe poucos
algarismos pode ser mais exato do que outro que exiba muitos algarismos (figura 1-43).

FIGURA 1-43 - INTERVALO DE TEMPO

Fonte: ÇENGEL; CIMBALA (2007. p 562)

63
REFERÊNCIAS
AZEVEDO NETTO, J. M. de. Manual de Hidráulica. 9. ed. São Paulo: Blucher, 2015.
632p.

BRUNETTI, F. Mecânica dos fluidos. 2. ed. rev. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2008. 446p.

ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações.


2007. 562p.

HIBBELER, R. C. Mecânica dos fluidos. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016.
834p.

JUSTINO, E. Mecânica dos fluidos (Notas de aula). Curso de Engenharia Civil e de


Minas, Universidade Federal de Goiás, 2012. Disponível em: https://engineeringfuture.
files.wordpress.com/2012/12/mecc3a2nica-dos-fluidos-capitulo-01.pdf. Acesso em: 6
ago. 2022.

MIRANDA, J. H. Física do Ambiente Agrícola (Disciplina LEB0200). Escola


Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP). Departamento de Engenharia
de Biossistemas, 2018. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/course/view.
php?id=60687. Acesso em: 12 ago. 2022.

MUNSON, B. R. Fundamentos da mecânica dos fluidos. 4. ed. São Paulo: Edgard


Blucher, 2004. 584p.

PORTO, R. de M. Hidráulica básica. 4. ed. São Carlos: EESC-USP, 2006. 540p.

SCHULZ, H. E. O essencial em fenômenos de transporte. São Carlos: EESC-USP,


2003. 398p.

TSUTIYA, M. T. Abastecimento de água. 3. ed. São Paulo: Departamento de


Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
2006. 643p.

64
UNIDADE 2 —

PRINCÍPIOS GERAIS DO
ESCOAMENTO DOS FLUÍDOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender as forças que atuam sobre o fluído;

• reconhecer as principais equações aplicáveis para escoamentos dos fluídos;

• conhecer os efeitos de resistência sobre o escoamento dos fluídos representados


pelo número de Reynolds;

• conhecer alguns valores do coeficiente de rugosidade de materiais mais comuns;

• compreender as vantagens e restrições para cada uma das principais fórmulas de


determinação de escoamento em tubulações;

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 - PRINCIPAIS EQUAÇÕES E LINHA DE CARGA

TÓPICO 2 - ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

TÓPICO 3 - ESCOAMENTO EM CONDUTOS FORÇADOS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

65
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

Acesse o
QR Code abaixo:

66
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
PRINCIPAIS EQUAÇÕES
E LINHA DE CARGA

1 INTRODUÇÃO
Para haver deslocamento, é necessário que haja diferença potencial de energia.
Por exemplo, se quisermos que uma pedra desça uma ladeira, primeiramente, teremos
que posicioná-la no ponto mais alto e depois abandoná-la em uma superfície em que
a ação de atrito seja menor que a força resultante da aceleração gravitacional que atua
naquele corpo. O que abordaremos nesta unidade não será diferente, sendo que as
diferenças de cotas e as características de rugosidade dos condutos serão cruciais para
que haja deslocamento de uma massa de água.

Nesse contexto, discutiremos o movimento dos fluidos. A esse movimento


atribuímos o nome de escoamento, que é a vazão de um fluido sofrendo a ação da
gravidade ou pressões externas. Os escoamentos são explicados por parâmetros físicos
e comportamento do fluido ao longo do tempo em uma determinada área, dessa maneira,
separaremos os escoamentos em regimes, o que facilitará o entendimento. Anteriormente
a isso, será necessário conceituarmos um parâmetro que é de suma importância no
dimensionamento de instalações hidráulicas, sendo assim, compreenderemos o que é
vazão e como podemos determiná-la.

Para que a discussão fique mais fluída, será necessário definir o que é vazão.
Pode-se dizer que vazão é a quantidade de matéria que passa entre dois pontos de
corrente em um intervalo de tempo, ou seja, uma grandeza F, vetorial ou escalar, que
faz associação a alguma partícula de volume , que com determinada velocidade
passa por uma seção de escoamento de área S. Essa grandeza F, em associação ao
fluido, pode ser a massa (vazão mássica), o peso (vazão em peso) e o volume (vazão
volumétrica).

• Vazão em massa: é o escoamento da massa de um fluido que passa através de


uma determinada secção transversal em um intervalo de tempo Qm = ρxvxA. Vazão em
massa pode ser expressa em termos de unidade como Qm = Kg.s-1.
• Vazão em peso: é o escoamento do peso de um fluido que passa através de uma
determinada secção transversal em um intervalo de tempo QG = γxvxA. Vazão em peso
pode ser expressa em termos de unidade como QG = N.s-1 ou QG = Kgf.s-1 etc.
• Vazão volumétrica: é o escoamento do volume de um fluido que passa através de
uma determinada secção transversal em um intervalo de tempo Q = vxA. Em termos
de unidade, e adotando a vazão em volume como referência nesta unidade, temos
que vazão pode ser expressa em m3/s ou medidas equivalentes, como L/h, L/s etc.,
a escolha depende do cálculo a ser realizado.
67
A Hidráulica se trata de uma disciplina muito prática, então alguns dados podem
ser medidos em campo, sendo que um deles é a vazão. No entanto, sugerimos o seguinte
pensamento: imagine o rio mais próximo de sua casa. Considere que você marcou um
ponto na montante e outro na jusante desse corpo hídrico. Por algum motivo, você
deseja saber o quanto de água passa entre esses dois pontos marcados. Qual seria a
estratégia mais eficiente para determinar esse valor? Nesse caso, podemos coletar uma
quantidade de água e marcar o quanto de água seria interessante para um rio pequeno,
no entanto, isso é impensável quando imaginamos um rio maior, como o Rio Amazonas.
Será que existe uma forma mais eficiente de medir a vazão de um corpo hídrico?

DICA
Quando falamos de montante e jusante, estamos falando de direção de
deslocamento da água. A água sai de um ponto de maior energia (montante)
e vai para outro ponto onde tem menor energia (jusante). Para facilitar o
entendimento, veja o vídeo sugerido e compreenda melhor esse conceito:
https://youtu.be/YKxx9rDXTwI.

Uma dica para qualquer Engenheiro é: antes de ir ao campo, precisamos entender


bem o fenômeno para reduzir a quantidade de variáveis que precisaremos medir. Sendo
assim, a partir da definição inicial de vazão, pode-se afirmar que a vazão volumétrica
é a variação de volume de água em um intervalo de tempo. Descreveremos esse
comportamento na equação 2.1, conhecida também como equação da continuidade,
que será discutida mais adiante.

(2.1)

Como não podemos medir o volume de um rio de maneira prática, precisamos


substituir a incógnita ∆V. O volume é uma relação entre área e altura. Como o rio está na
horizontal, podemos entender que, nesse caso, a altura será a diferença entre os pontos
de montante e jusante, que chamaremos de ∆s. Dessa forma, a equação 2.1 poderia ser
transformada na equação 2.2:

(2.2)

Com a equação 2.2 é possível determinar a vazão de um rio, pois é possível medir
a área a partir da topografia e a velocidade com um equipamento chamado de molinete,
que é um instrumento composto por uma hélice, um contador de giros que converte a
velocidade angular em velocidade linear. O equipamento deve ser posicionado no leito
do rio no sentido contrário ao da corrente.

68
Existe uma maneira bem prática para medir vazão e você pode fazer esse
experimento na sua própria casa. Basta você abrir a torneira e medir o tempo que
leva até o enchimento de um balde com volume conhecido, ou ele pode ser pesado
posteriormente e então aplicar a equação.

Os problemas relacionados à Hidráulica são todos resolvidos utilizando


conceitos da Física Clássica. Um dos nossos objetivos deste tópico será compreender
as forças que atuam sobre um fluido e quais são suas implicações em seu movimento.
Para tanto, é necessário entender o fluido como algo contínuo, ou seja, não há variação
de massa em seu percurso, a não ser que haja retirada ou inserção de matéria em seu
trajeto. É importante também lembrar que a Lei de Lavoisier se aplica nesta disciplina,
então nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Sendo assim, o que era energia
potencial será convertido em energia cinética, energia de pressão e energia de calor
(devido ao atrito externo entre o fluido e as bordas de um conduto, canal ou rio). Agora
que sabemos o conceito de vazão, entenderemos um pouco mais como funciona o
movimento da água em condutos e como eles podem ser classificados.

Para entendermos o que acontece quando um fluido se movimenta ou se desloca


por um conduto, é necessário definir alguns termos. Existem dois tipos de condutos:
os forçados, que são aqueles com secção predominantemente circular (tubulações
de sucção, recalque, tubulações prediais ou para irrigação), em que o escoamento
ocorre sob uma pressão diferente da atmosférica; ou condutos livres, no qual a pressão
atmosférica atua diretamente na superfície (rios, lagos, canais etc.), sendo que eles
possuem secção transversal com diferentes formas.

Podemos classificar os fluidos de acordo com o movimento: permanente e


não permanente, uniforme e não uniforme, acelerado e retardado. Com o movimento
permanente, a vazão é constante em um ponto da corrente, em que força, velocidade e
pressão são em função exclusiva do ponto e independem do tempo. Já no escoamento
não permanente, a velocidade e a pressão variam de um ponto para outro, de instante
em instante, em função do tempo.

Na classificação com relação ao espaço, o escoamento pode ser uniforme ou


variado. No escoamento com movimento uniforme, a velocidade média permanece
constante (secções transversais da corrente são iguais), ou seja, numa mesma trajetória,
todos os pontos têm a mesma velocidade, as trajetórias são retilíneas. Do contrário,
no escoamento com movimento variado (acelerado ou retardado), os pontos dentro de
uma mesma trajetória não apresentam velocidade constante.

Em um estudo sobre trajetória dos fluidos, Osbourne Reynolds, em 1883,


classificou os escoamentos em laminar ou turbulento de acordo com sua trajetória. Em
uma explicação bem genérica, ele injetou corante no meio de uma massa líquida, e,
quando submetida a baixas velocidades, caso o fluxo do corante não se misturasse com
a massa fluida e apresentasse um movimento definido, o escoamento era classificado

69
como laminar. À medida que a velocidade era aumentada e o fluxo do corante apresentava
trajetória irregular, com movimento indefinido, o escoamento era classificado como
turbulento. Nesse sentido, podemos destacar também o escoamento transicional, uma
combinação entre os processos laminar e turbulento. O escoamento transicional é muito
instável, ocorre com números de Reynolds > 2300 < 4000. Na prática, o escoamento
turbulento é o que mais ocorre, exceto quando as velocidades são muito baixas e em
fluidos muito viscosos.

A diferença primordial entre os regimes de escoamento laminar e


turbulento é que a perda de carga ao longo de um conduto com regime de
escoamento turbulento será maior do que no laminar. No regime de escoamento
laminar, a perda de carga variará de acordo com a velocidade média de
escoamento; no turbulento, a perda de carga varia de acordo com o quadrado
da velocidade. Resumindo de uma maneira bem prática, no regime laminar, as
trajetórias do fluido em movimento são bem definidas, em lâminas, mantendo
sua identidade no meio, e não se cruzam; no regime turbulento, o movimento do
fluido é desordenado, com movimento aleatório.

Logicamente, Osbourne foi bem criterioso ao classificar os escoamentos quanto


a sua trajetória e definiu limites para determinar os tipos de escoamentos, tratando-se
de um adimensional chamado de número de Reynolds, que será explicado de maneira
mais detalhada posteriormente.

ESTUDOS FUTUROS
No Tópico 3 desta Unidade vamos estudar o conceito de escoamento uniforme
em condutos forçados, e é de suma importância entendermos o que são
linhas de correntes e tubos de correntes, que estão diretamente relacionados
com a determinação da velocidade dentro dos condutos forçados.

Para entendermos o conceito de linhas de correntes, faz-se necessário definir


primeiramente o que é uma trajetória. Trajetória é o lugar geométrico dos pontos
ocupados por uma partícula em instantes sucessivos. Então, pegaremos como exemplo
um corpo flutuante e vamos marcar o tempo acompanhando o trajeto feito por este
corpo flutuante até ele chegar no seu destino. A linha de corrente é a linha tangente aos
vetores da velocidade de diferentes partículas no mesmo instante. Cada partícula terá
uma velocidade associada a ela.

Vamos entender o conceito de linhas de corrente, imaginado um fluido escoando


por uma tubulação qualquer. Se de alguma maneira conseguirmos definir a velocidade
com que este fluido está escoando e traçarmos algumas linhas imaginárias de maneira

70
tangencial em cada ponto ao vetor velocidade, conseguiremos identificar as chamadas
linhas de corrente. Se traçarmos essas linhas em cada instante no tempo podemos
entender a evolução do escoamento.

E o que seriam os tubos de corrente? Os tubos de correntes também serão


figuras imaginárias que são formadas por linhas de corrente, tendo como característica
principal o fato de não poderem ser atravessados por partículas de fluidos, ou seja,
possuem paredes impermeáveis.

Dentro da mecânica dos fluidos, muitas vezes o que estamos analisando é um


sistema como um todo, não importa o que acontece com a partícula, mas sim o que
acontece no geral. Tomamos como exemplo uma instalação predial, com um reservatório
alimentando outro reservatório, nós não estudamos o que acontece com cada partícula,
o que importa é como o sistema funcionará. Nesse momento é que se apresenta o
conceito de volume de controle, que é aquele volume que estamos analisando dentro
de um determinado sistema. Desse modo, entendemos a importância do conceito de
linhas de corrente, sendo que o que importa é analisar o sistema em um determinado
instante e não acompanhar o comportamento de partículas separadamente.

Agora que já conhecemos os diferentes tipos de escoamentos que podem


ocorrer em condutos, mais adiante focaremos no transporte de água através de
condutos forçados. Nesse sentido, é importante salientar que esse transporte está regido
basicamente por dois modelos de equações fundamentais: equação da continuidade e
equação de energia.

2 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE
Em quais sentidos e direções que um fluido se movimenta? Para compreender
como se dá esse movimento, vamos imaginar que seja observado um cubo de fluido
localizado em tubo de corrente. Chamaremos esse cubo de cubo elementar e ele terá
dimensões infinitesimais dx, dy e dz, suas arestas serão paralelas aos eixos cartesianos,
conforme pode-se observar na Figura 1.

71
Figura 1 – Cubo elementar

Fonte: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p. 61)

Para o cálculo da massa contida em um fluido (equação 2.2), podemos utilizar a


equação de massa específica da Unidade 1, no entanto, tendo em mente que o volume
deste cubo será obtido pelo produto de suas arestas:

(2.3)

Azevedo Netto e Fernandez (2015) elucidam as forças externas que atuam


sobre essa massa de fluido representada pelo cubo elementar, são elas:

a) As forças que dependem do volume considerado, a força peso seria um exemplo, que
será expressa pelas acelerações ax, ay e az.
b) As forças relacionadas à superfície de cada uma das faces do cubo elementar
resultantes da pressão exercida pelo fluido externo.

DICA
Você já deve ter se perguntado o motivo pelo qual barcos não afundam ou
cubos de gelo ficam boiando quando estão na superfície da água. O Princípio
de Arquimedes explica exatamente como um fluído exerce pressão sobre um
corpo submerso. Veja este vídeo sugerido e fique por dentro: https://youtu.
be/57qs91GBscU

Agora, voltando para a Figura 1, podemos observar a face ABCD, nela age a
pressão “p” e em sua face oposta agirá uma pressão “p” somada a sua diferencial,
resultante do deslocamento dx, ou seja, é a variação de x na direção x (AZEVEDO NETTO;
FERNANDEZ, 2015):

72
Ainda observando cubo elementar, as ações normais a 0x (representado pelas
semirretas do eixo cartesiano no eixo z e eixo y e perpendicular ao eixo x) e de superfície
dx dz terão uma resultante de um vetor no sentido oposto à pressão exercida face ABCD,
que pode ser escrita da forma a seguir:

Lembre-se que o cubo se encontra em movimento e é dotado de uma massa


“m”, sendo “a” sua aceleração e “F” a força resultante desse movimento, ou seja, vamos
fazer uso da Segunda Lei de Newton:

Com relação ao eixo 0x, F é resultante das forças de pressão, a aceleração será
a variação velocidade no tempo e a massa é descrita na equação 2.2, então:

Como:

Ou seja:

Por fim:
(2.4)

Dessa forma, estamos descobrindo forças atuantes em apenas um plano 0x e


estudando como elas afetam a velocidade e a pressão desse fluido. Salienta-se que,
apesar de estarmos estudando a velocidade no eixo x, os demais eixos e o tempo também
são incógnitos. Dessa forma, teremos que , ou seja, necessitaremos de
mais uma derivada material:

Se aplicarmos isso para todas as faces, obteremos as equações gerais de


movimento de um fluido, ou as três equações de Euller, que estão descritas na Equação
2.5., dessa forma, temos no total cinco incógnitas e três equações, o que torna esse
sistema impossível de ser resolvido se forem envolvidas pelo menos duas equações
para torná-lo possível.

73

(2.5)

Em busca de uma simplificação que caracterize o movimento do fluido,


consideramos novamente o cubo elementar descrito na Figura 1. Partiremos da
hipótese que a massa do fluido desse cubo elementar varia com o tempo, dessa forma,
retornando para equação (2.2), teremos:

Após um determinado tempo, dt passará pela face ABCD a quantidade de fluido


em massa. Nesse sentido, desenvolveremos uma equação que seja conveniente para
análise do problema:

Saindo da face oposta, tem-se a massa observada que passou na face ABCD e
uma parte resultante desse deslocamento:

Podemos realizar a diferença entre as expressões supracitadas, porém,


considerando os demais eixos, dessa forma, obteremos:

Respeitando a Lei de Lavoisier, pode-se dizer que a massa total do cubo


elementar equivale ao somatório da variação das massas nos planos 0x, 0y e 0z. Sendo
assim, como:

Então:

74
Ou seja:

A compressibilidade dos fluidos baseia-se na capacidade deste fluido sofrer


redução no seu volume quando este é submetido a pressões em todas as partes. Nesse
sentido, salientamos que para líquidos perfeitos, a variação do volume, caso não haja
variação de calor, será nula, sendo que se não há variação de volume e tampouco
variação de massa, então a massa específica é constante. Dessa forma, podemos dizer
que a variação da massa específica no tempo é zero:

Podemos simplificar a equação da seguinte forma:

Ou seja, temos agora quatro equações e quatro incógnitas, visto que a densidade
agora é uma constante, tornando o nosso sistema possível e dependente do arranjo do
problema para que ele seja determinado.

Considerando a equação da massa, diante do que foi apresentado, podemos


sair do exemplo do cubo elementar e ir para a análise da massa da quantidade de água
que passa em uma seção A1 em direção a uma seção de área A2, que passará pelas
respectivas seções com uma velocidade de v1 e v2. Seja ρ1 a massa específica de líquido
na seção de área A1 e ρ2 a massa específica de líquido que passa na área A2, podemos
encontrar a massa de água por essas equações:

Como não há variação de massa, pois não há entrada nem saída de líquido,
respeitaremos a Lei de Lavoisier:

Como se trata do mesmo líquido, podemos partir do princípio de que as massas


específicas nas duas seções são iguais, ou seja, podemos chamá-la de ,
sendo assim:

75
No subtópico 2 desta unidade, definimos que a vazão pode ser calculada pela
expressão: Q = v . A, ou seja, se trata do produto da velocidade do fluido pela área.
Sendo assim, podemos chegar à conclusão de uma das mais importantes equações da
hidráulica (2.6):

Q1 = Q2 (2.6)

Sendo essa a descrição da Equação da Continuidade, que nos diz que a vazão é
constante, desde que não haja contribuição e retirada entre os dois trechos analisados.
Como elas são iguais, podemos estabelecer uma relação com a área e com a velocidade
entre duas seções de escoamento de líquidos.

Uma maneira mais prática para demonstrar a Equação da Continuidade é


entendendo que a velocidade com que o fluido escoa em determinada tubulação é
inversamente proporcional a sua área da secção transversal, ou seja, diminuindo a área,
a velocidade vai aumentar de maneira proporcional. Por exemplo, se diminuirmos a área
da saída de água de uma torneira, estamos aumentando a velocidade com que essa
água sai e, por consequência, aumentamos o alcance da água.

Observe que a partir desse ponto discutiremos apenas sobre um tipo de fluido,
o líquido, ou melhor, o líquido perfeito. Para as demais situações e os demais fluidos
compressíveis, devemos utilizar a Equação de Euller e o comportamento do elemento
estudado ao escoar em alguma superfície para equacionar o seu movimento.

3 LINHA DE ENERGIA E LINHA PIEZOMÉTRICA


Fox, McDonald e Pritchard (2016) desenvolveram um estudo da física que envolve
a definição, o deslocamento e o armazenamento de um fluido. Os autores revelaram que
é possível estudar o fluido como uma partícula e partir das equações básicas da Física
Clássica, como a segunda Lei de Newton, por exemplo, que torna exequível o cálculo
das variações de quantidade de movimento de um fluido. No entanto, é interessante
quando estamos estudando dispersão entender que elementos poluidores se dispersão
em um fluido, determinar movimentos de partículas sólidas e estudar onde elas se
depositarão (essa abordagem é muito relevante quando almejamos identificar possíveis
poços de petróleo no oceano, por exemplo). No entanto, nossa abordagem pode ser
mais abrangente, e os autores recomendam avaliar o fluido a partir de uma massa que se
desloca, que chamaremos de volume de controle, que passa por uma região de controle,
o que torna a abordagem muito mais prática, onde é possível suprimir as derivadas e
integrais das equações, ou seja, trataremos os deslocamento do fluido como um corpo
sólido, o que nos trará resultados próximos das situações que observamos na maioria
de nossos problemas, como o dimensionamento de uma adutora e a determinação de
uma seção máxima de um canal.

76
Estando o fluido sujeito às mesmas regras de um corpo sólido, podemos aplicar
equacionamentos para entender como varia a energia durante o movimento de uma
massa de fluido, em que as regras de balanço de energia são atendidas. Em grande
parte do deslocamento dos líquidos, o fluido que está em foco em nossos estudos
será devido à energia potencial. Normalmente, o fluido estará confinado em uma caixa
d’água e, a partir de sua liberação, haverá deslocamento. O fluido estará normalmente
confinado em um conduto circular, ou melhor, tubulações, e ele se deslocará até outro
ponto. Durante esse deslocamento, parte da energia potencial se converterá em energia
cinética e parte se converterá em energia de pressão (que será interpretada em termos
de inércia e estará relacionada com a sua massa, como veremos mais adiante).

Para interpretar e acompanhar as transformações de energia, utilizaremos uma


forma gráfica denominada de linha de energia, que representa as energias envolvidas no
deslocamento de uma massa fluida, bem como abordaremos a ideia da linha de energia
de pressão ou linha piezométrica, que estará relacionada à inércia do fluido, ou seja,
quando o intento for verificar para onde o fluido se desloca, basta observar a energia
piezométrica entre dois pontos, o fluido sempre se deslocará do ponto maior (montante)
para outro de menor energia de pressão (jusante). Para tornar mais compreensível o que
está sendo abordado, observe a Figura 2.

Figura 2 – Detalhe de uma tubulação que conduz um líquido e o traçado das linhas de energia

Fonte: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p. 196)

Na Figura 2, pode-se observar a linha energética, que sempre será maior que a
linha piezométrica, salvo quando o fluido está em repouso, quando não há movimento
e, portanto, não há energia cinética. Observe que o ponto de montante é o ponto 1, por
possuir maior energia piezométrica (energia de pressão) e está indo para o ponto 2, que
é o ponto de jusante.

77
Ainda analisando a Figura 2, veja que a energia cinética não se altera, não
necessariamente há perda de energia em fluido, porém, há sempre perda de energia de
pressão. Devido ao atrito com as bordas do conduto, chamaremos essa perda de perda
de carga, simbolizado por ∆H, a letra delta é referente à variação e H vem do inglês head
que significa carga.

Observe que temos outros elementos, como a cota do ponto, que está
relacionada com um plano de referência para sabermos a altura desse ponto até o
local de análise. Nesse caso, não há diferença de cotas, mas caso haja diferença entre
elas, fará com a energia potencial seja diferente de zero e ela ajustará tanto a energia
de pressão quanto a energia cinética. Lembra que em Física estudamos um corpo em
queda livre? O que acontece com a velocidade quando um corpo é abandonado de uma
certa altura, ela aumenta ou diminui?

Uma maneira mais fácil e prática para entender como funciona o traçado das
linhas de energia é analisando possíveis traçados de condutos com escoamento por
gravidade, ou perfis de adutoras que podem estar abaixo, podendo coincidir ou estar
acima das linhas piezométricas e absoluta ou do plano de carga estático. Dessa forma,
teremos cinco perfis distintos de acordo com a Figura 3 a seguir.

Figura 3 – Possíveis traçados de condutos com escoamentos por gravidade

Fonte: https://docs.ufpr.br/~rtkishi.dhs/TH028/TH028_06_Adutoras.pdf. Acesso em: 4 out. 2022.

a) A tubulação está abaixo da linha piezométrica efetiva no perfil (1), neste caso, a carga
de pressão em todo o perfil é maior do que a pressão atmosférica, tratando-se de um
escoamento forçado.
b) Já no perfil (2), ele coincide com a linha piezométrica, a pressão na superfície é igual
à atmosférica, tratando-se então de escoamento livre.
c) O conduto no perfil (3) passa cortando a linha piezométrica efetiva, neste caso, pode
ocorrer pressões inferiores à pressão atmosférica, e a tubulação que passa acima
dessa linha corre o risco de entrada de ar e contaminação da água.

78
d) No caso do perfil (4), o escoamento só ocorrerá caso a tubulação esteja toda
preenchida com fluido, pois o conduto está cortando a linha piezométrica efetiva e o
plano de carga efetivo.
e) Finalmente, no perfil (5), não ocorrerá escoamento por gravidade porque o conduto
está cortando a linha piezométrica absoluta, neste caso, seria necessário o uso de
um sistema de bombeamento.

Para que seja possível entender a relação do ajuste da energia ao longo do


deslocamento de uma massa de líquido, é necessário estudar o Princípio e a Equação
de Bernoulli, que veremos no subtópico a seguir.

4 EQUAÇÃO DE BERNOULLI
São raras as pessoas que nunca colocaram o dedo em uma borracha ou
mangueira de água objetivando aumentar a “força” do jato e alcançar locais mais
distantes ou retirar uma sujeira em determinado ponto. Sugerimos que você faça
isso novamente e reflita: será que essa ação altera a energia de pressão ou a energia
cinética do fluido? Para que isso seja discutido nos termos corretos, apresentaremos o
Princípio de Bernoulli. Em um breve histórico, Daniel Bernoulli nasceu na Suíça, em 1700,
e foi pioneiro em trabalhos envolvendo probabilidade e estatística, além dos estudos
envolvendo a mecânica dos fluidos. Bernoulli foi o primeiro a estudar e entender a
pressão atmosférica em termos moleculares.

Para abordar esse assunto, consideramos a Equação da Continuidade, já vista


nesta unidade. Voltando para equação 2.6, podemos desmembrá-la e buscar entender
uma relação de proporção importante da lei da continuidade, analisando o deslocamento
de um fluido em um tubo horizontal, que se desloca da esquerda (montante) para a
direita (jusante). Observe que o diâmetro do tubo 1 é diferente do diâmetro do tubo 2,
conforme podemos observar na Figura 4. É importante salientar que as definições a
seguir serão realizadas supondo que haja perda de carga ao longo do conduto, ou seja,
o atrito com tubo não será considerado.

79
Figura 4 – Exemplo de escoamento em conduto horizontal que possui diâmetros D1 e D2

FONTE: https://bit.ly/3s79I7e. Acesso em: 28 set. 2022.

Na figura apresentada, o fluido desloca-se da esquerda para direita, P1 e P2


simbolizam a energia de pressão nos tubos.

Se:

Como:

Ou seja:

Essa observação também é válida caso queiramos estudar a velocidade no


ponto 2, ou seja:

Observe que no desenvolvimento apresentado há uma relação de proporção de


áreas, sendo que elas se relacionam com a velocidade. Caso tenhamos conhecimento
da velocidade v2, podemos calcular a velocidade v1, pois os diâmetros D1 e D2 são
informados. Como o diâmetro D1 é maior que D2, a razão entre ambos será maior que 1,
sendo assim, a velocidade v1 será maior que a velocidade v2. Como a energia cinética
se dá em termos de velocidade, então onde há maior velocidade teremos maior energia
cinética.

Considerando ainda a Figura 4, vemos que a pressão P1 é maior que a P2, mas isso
seria por qual motivo? Para explicar esse fato, devemos analisar a variação de energia em
um fluido a partir do conhecimento adquirido na disciplina de Física e estudar a variação

80
da energia mecânica em um fluido. A variação da energia mecânica é igual à variação
do trabalho necessário para o deslocamento de um fluido. Como o fluido se desloca da
esquerda para direita, dizemos que o deslocamento se deve à inércia da massa de fluido
no tubo de diâmetro maior que se direciona para o tubo de diâmetro menor, que resiste
ao movimento, também devido a sua massa. Essa força é representada em termos de
pressão. Podemos equacionar esse problema da seguinte forma:

, onde:
, como:
, logo:
, relembrando que:
, sendo assim:

Em que ∆W é a diferença entre o trabalho provocado pela massa de água no


conduto de diâmetro D1 e resistido no tubo de diâmetro D2; s1 e s2 são os deslocamentos
de uma mesma massa de líquido “m” em cada um dos trechos.

Diante do que está exposto, podemos observar que existe uma relação entre
pressão e velocidade em um conduto. Supondo que não há perda de energia, ao alterar
a área de escoamento, afetaremos a velocidade, aumentando a energia cinética,
conforme vimos na equação da continuidade, porém, caso a área seja menor, a pressão
no ponto observado será menor, observe que a equação da energia de pressão também
está em termos de área. Sendo esse o princípio de Bernoulli, em um conduto, há um
equilíbrio de energia em que parte da energia de pressão se converte em energia
cinética e vice-versa.

Então, a pergunta elaborada inicialmente encontra-se respondida, diminuição da


área provoca aumento da energia cinética e redução da energia de pressão. No entanto,
é válido imaginar o contrário, se por algum motivo a energia de pressão aumentasse
com a diminuição da área junto à velocidade, isso seria um exemplo de uma bomba,
pois estaríamos gerando energia, como bem sabemos, isso seria impossível, ou seja,
seria um absurdo.

DICA
Os pesquisadores Lev Vertchenko, Adriana G. Dickman e José Faleiro Ferreira
descreveram em um artigo a aplicação do teorema de Bernoulli, apresentando
uma análise de transferência de fluido entre dois reservatórios e discutindo
possíveis inconsistências na solução do problema dos reservatórios.
O artigo pode ser acessado pelo link: https://www.scielo.br/j/rbef/a/
gfzPZTC7hpRhJPDDdgSswYd/?format=pdf&lang=pt

81
Agora que estamos cientes do Princípio de Bernoulli, podendo estudar um
escoamento um pouco mais complexo, avaliaremos o deslocamento de um fluido em
um conduto que há alteração cota em relação à linha de referência, observe a Figura
5 (S1 e S2 simbolizam o deslocamento de uma mesma massa – quantidade – de água):

Figura 5 – Exemplo de escoamento em um conduto de diâmetros D1 e D2, deslocando-se da esquerda para


direita

Fonte: https://bit.ly/3CPhRC8. Acesso em: 28 set. 2022

O Princípio de Bernoulli aqui será respeitado, porém deveremos acrescentar a


energia potencial à equação do equilíbrio da energia mecânica, ou seja:

, como:

, como o volume de um cilindro pode ser calculado por:

V = A . h, então:

, lembre-se que o volume não varia, pois estamos trabalhando com


um fluido perfeito que não se comprime, ou seja, um fluido incompressível, sendo assim:
V1 = V2 = V, logo:

, voltando para a energia mecânica e


lembrando que podemos descrever a massa do fluido em termos de massa específica,
ou seja, , então:

, agora igualando novamente os dois


lados da equação:

, por um artifício prático, dividiremos tanto o lado direito


quanto o lado esquerdo da igualdade por “g”, que simboliza a gravidade:

82
. Lembre-se que o
peso específico é definido por , simplificando a equação teremos:

. Agora, ajustando os
elementos subscritos por um no lado esquerdo e por dois no lado direito, termos, por
fim, a Equação de Bernoulli, que será a 2.7:

(2.7)

Em que cada um dos fatores representa a energia e a unidade de cada uma


delas. No SI, será metro de coluna d’água, “mca” ou simplesmente “m”. Vale lembrar
que , e, por fim, .

No subtópico anterior abordamos a variação da linha de energia, observe os


termos descritos na Figura 3, no qual há uma variação da linha energética e isso se deve
à perda de carga, ou seja, perda de energia. Qualquer movimento realizado por um corpo
sólido está sujeito a colisões com qualquer sólido que esteja em contato. Na hidráulica,
o princípio de Bernoulli sempre será respeitado, pois espera-se que a quantidade de
energia seja equivalente quando observamos dois pontos distintos no deslocamento de
um fluido. Caso isso não aconteça, essa diferença de energia será chamada de perda
de carga quando ela for menor e, caso seja maior, esse acréscimo seria devido a uma
estação elevatória ou uma bomba que estaria entre os dois pontos observados. Por
ora, vamos nos ater ao movimento dos fluidos e à perda de carga. Na próxima unidade,
abordaremos as estações elevatórias.

Até aqui você já conseguiu entender a importância do estudo da pressão no


movimento dos fluidos, e para tanto, foram desenvolvidas técnicas e instrumentos
para medição de pressão em massa fluida. Esses métodos para medição de pressões
a partir do deslocamento produzido em uma coluna por um ou mais fluidos chamamos
de Manometria. Fazendo uso dos equipamentos adequados, é possível medir a pressão
absoluta, que tem como referência o zero absoluto e é medida com o barômetro; ou
mede-se a pressão manométrica, que tem como referência a pressão atmosférica e
pode ser medida utilizando alguns equipamentos, como piezômetros, manômetros em
U, manômetros diferenciais e manômetros inclinados.

O piezômetro é o equipamento mais simples dos manômetros, composto por


um tubo transparente de plástico ou vidro, inserido diretamente no ponto onde se quer
obter o valor da pressão. A altura da água no tubo indicará exatamente a pressão, e o
fluido indicador é o próprio fluido da tubulação em que a pressão está sendo medida.
Existem algumas limitações ao utilizar a coluna piezométrica ou piezômetro: não é
adequado para medir pressões elevadas ou líquidos de baixo peso específico; não é
adequado para medição em gases, pois eles escapam pela abertura sem determinar a
pressão; e não realiza a medição de pressões negativas, pois existe o risco de entrada
de ar na tubulação do reservatório e não formaria a coluna h.

83
O manômetro em U serve para determinar pressões mais elevadas. É utilizado
um fluido de massa específica maior, geralmente o mercúrio, que não se mistura com o
fluido da tubulação em que será medida a pressão. A pressão na tubulação provocará o
deslocamento do fluido, e essa diferença de altura é que determina a pressão. Um lado
do manômetro conecta-se onde se quer saber a pressão, e o outro lado fica em contato
com a pressão atmosférica. Para equacionar a pressão utilizando essa carga hidráulica,
utilizamos o Teorema de Stevin ou a Lei Fundamental da Hidrostática.

O manômetro em U, quando utilizado para medir a diferença de pressão entre


dois pontos, passa a ser chamado de manômetro diferencial. Ele apresenta um tubo em
forma de “U”, sendo que esse tubo é preenchido com algum fluido manométrico até sua
metade. Os dois lados do manômetro estão conectados com os pontos onde se deseja
medir a diferença de pressão, que é justamente a diferença de altura em função do
movimento do fluido. Inclusive, esse tipo de manômetro é utilizado como padrão para
calibração de outros aparelhos.

Para refrescarmos um pouco a memória, o Teorema de Stevin vai determinar a


variação de pressão hidrostática que ocorre nos fluidos e pode ser descrito da seguinte
maneira: a diferença entre as pressões de dois pontos de um fluido em equilíbrio
(repouso) depende da massa volúmica do fluido e é proporcional ao desnível Δh entre
os referidos pontos. Nesse contexto, conclui-se que: a pressão em um líquido aumenta
com a profundidade, e a pressão de um líquido é a mesma em todos os pontos que
estiverem na mesma profundidade.

Agora que compreendemos os princípios para os cálculos da perda de carga,


no próximo subtópico abordaremos uma das equações mais utilizadas e aceitas para
tal equacionamento, a equação de Darcy-Weisbach, que tem origem empírica e leva
em consideração a viscosidade, o fator de atrito e o comprimento percorrido pelo fluido,
podendo ser utilizada tanto para cálculo das perdas de carga em regime laminar quanto
turbulento.

5 EQUAÇÃO DE DARCY-WEISBACH
A história da fórmula universal da perda de carga ou equação de Darcy-Weisbach
começou a ser construída no século XVIII. Embora tenha o nome de dois importantes
engenheiros da época, houve contribuição de muitos outros com o passar dos anos.
Para entendermos as principais variáveis presentes no equacionamento da perda de
carga utilizando Darcy-Weisbach, é importante conceituarmos a perda de carga. Neste
tópico, abordaremos tais conceitos de maneira genérica, mas, no Tópico 3, teremos
informações mais detalhadas.

84
Caso um tipo de líquido se desloque em um conduto, esse fluido será dotado de
uma viscosidade, ou seja, teremos um atrito interno e a área interna do tubo será rugosa,
ocorrendo neste caso um atrito externo, entre o líquido e a superfície por onde ele
escoa. Na Figura 2, observamos que a linha energética decai linearmente, Azedo Netto
e Fernandez (2015) nos alertam que a relação entre a perda de carga e o comprimento
do conduto será linear, desde que não haja alteração nas características do conduto.
Chamaremos essa relação de J, em que:

L é o comprimento do duto, J é a declividade piezométrica ou perda de carga


unitária e ∆H é a perda de carga.

Refletimos brevemente na unidade anterior os experimentos realizados por


Reynolds e como ele caracterizava o escoamento para além de observar a seção de
escoamento, vazão e velocidade.

Segundo Camargo (2001), essa corrida para determinação de leis que regessem
a perda de carga em condutos foi realizada com afinco e diversas equações foram
desenvolvidas, algumas delas com aplicações até hoje, como a equação de Manning,
Hazen-Williams e Darcy-Weisbach. Esta equação (2.8) é descrita nos seguintes termos:

(2.8)

Na qual hf é a perda de carga ao longo do conduto, dada em metros de coluna


d’água (mca) ou simplesmente m; f é o fator de atrito de Darcy-Weisbach, é um valor
adimensional; L é o comprimento do conduto onde há o escoamento, dado em metro
(m); v é a velocidade da água no conduto, dada em metros por segundo (m/s); D é o
diâmetro do conduto, também dado em metros (m); por fim, g é a gravidade do local (m/
s²).

A equação de Darcy-Weisbach, também chamada de fórmula universal da


perda de carga, que é complementada pelo diagrama ou ábaco de Moody (Figura 14a),
é hoje o método mais aceitável para o cálculo de perdas de energia que é resultado
do movimento dos fluidos em condutos fechados ou tubulações. A utilização dessa
equação em conjunto com a equação da continuidade e de perdas de carga faz com
que os sistemas de tubulações sejam analisados para qualquer fluido de interesse. A
equação vai nos dizer em termos práticos o diâmetro ideal em uma tubulação de água,
a capacidade de um oleoduto ou a queda de pressão que ocorre em um duto de ar
(BROWN, 2002).

85
DICA
O pesquisador Glenn O. Brown escreveu um artigo contando um pouco
da história da equação de Darcy-Weisbach e a resistência do fluido ao
escoamento. Você pode ler o artigo “The History of the Darcy-Weisbach
Equation for Pipe Flow Resistance” na íntegra pelo endereço: http://www.
fabianbombardelli.com/ECI141/HistoryoftheDarcyWeisbachEq.pdf

86
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• A vazão é a quantidade de fluido que passa por uma determinada secção transversal
de um conduto forçado ou livre por unidade de tempo, ou seja, quantidade de fluido
que pode ser escoado por uma tubulação em um período de tempo, podendo ser
classificada em vazão em massa, vazão em peso ou vazão em volume.

• A quantidade de massa também se aplica a fluidos, então a quantidade de vazão


entre dois pontos na mesma linha de corrente, caso não haja entrada e nem saída
de água, não se altera (lei da continuidade).

• Quando um fluido escoa em um conduto, estará sujeito às leis da Física ou forças


atuantes (gravidade e pressão), respeitando a equação de equilíbrio de energia
mecânica, sendo essa o princípio de Bernoulli.

• Podemos medir diferenças de pressão do fluido em escoamento e existem


equipamentos adequados para aferição dessa leitura. Essa leitura pode ser da
pressão absoluta (barômetro) ou da pressão manométrica (manômetros).

• Uma das fórmulas para cálculo da perda de carga é a equação de Darcy-Weisbach,


que relaciona a principal perda de carga devido ao atrito do fluido ao longo de um
comprimento de tubo em uma determinada velocidade. Ressaltamos a importância
do uso da equação e suas aplicações e implicações práticas.

87
AUTOATIVIDADE
1 Qual a vazão que escoa por um conduto de 10 mm de diâmetro a uma velocidade de
2,6 m/s?

a) ( ) 0,112 m3/s.
b) ( ) 1,35 m3/s.
c) ( ) 0,020 m3/s.
d) ( ) 0,0020 m3/s.

2 Neste tópico, definimos que na Equação da Continuidade a velocidade com que o


fluido escoa em determinada tubulação é inversamente proporcional a sua área da
secção transversal, ou seja, diminuindo a área, a velocidade vai aumentar de maneira
proporcional, e a quantidade de fluido que escoa em uma tubulação é a mesma na
entrada e na saída. Diante do exposto, qual a definição mais adequada para a Equação
da Continuidade?

a) ( ) Conservação da energia.
b) ( ) Conservação da velocidade.
c) ( ) Conservação da massa.
d) ( ) Conservação da quantidade de movimento.

3 Vazão é uma determinada quantidade de fluido que passa pela área de uma secção
transversal em um dado tempo. Imagine você jogando água nas plantas com uma
mangueira, quando você abre a torneira, é possível verificar qual a vazão que está
passando por ali. Calcule a vazão de água em litros por segundo que passa por
mangueira que possui um diâmetro de 25 mm e escoa em uma velocidade igual a 3
m/s. Considerando esse resultado, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) 1,4 L/s.
b) ( ) 0,5 L/s.
c) ( ) 6 L/s.
d) ( ) 1,7 L/s.

4 Em um sistema de distribuição de água, dois tubos de mesmo comprimento e material


estão conectados em paralelo. Os diâmetros internos dos dois tubos são D1 = 15 cm
e D2 = 50 cm. Levando em consideração que se trata de um conduto forçado com
regime de escoamento permanente, qual será a razão Q2/Q1, sendo Q1 a vazão no
tubo 1 e Q2 a vazão no tubo 2?

88
Observações:
• Use para o cálculo da perda de carga distribuída a Fórmula de Darcy-Weisbach,
também conhecida como Fórmula Universal.
• Tubos em paralelo possuem a mesma perda de carga.
• Considere o Fator de Atrito f igual para ambos os tubos.

5 Em um regime de escoamento permanente, no qual as propriedades do fluido são


constantes em cada ponto com o passar do tempo, em que não há perda de carga e
existe variação da velocidade entre as trajetórias, mas não dentro da mesma trajetória,
todos os pontos possuem a mesma velocidade. Nesse sentido, a água escoa de um ponto
A para um ponto B. Considerando que a pressão no ponto A vale 200 kPa, ou melhor 20
mca, e que o ponto B está 5 m do ponto acima do ponto A, calcule a pressão no ponto B.
Salienta-se que o diâmetro é constante entre os pontos A e B.

89
90
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Nas definições de escoamento realizadas não foram consideradas situações em
que o fluido, durante o escoamento de regime turbulento, colide com as paredes de uma
superfície. Como caracterizaríamos esse evento e quanto ele seria preponderante para
determinação do escoamento? Para que isso seja discutido, será necessário introduzir
o conceito de camada-limite.

Primeiramente, temos que distinguir o que seria escoamento interno e


escoamento externo. O escoamento interno ocorre confinado em um conduto, podemos
citar como exemplo a redes de abastecimento de água de um município ou a canalização
de sua residência. Já o escoamento externo ocorrerá quando o foco do estudo for um
objeto que esteja imerso em um fluido, como o descrito na Figura 6. O que observamos
é que existe uma camada fina, justamente anexa ao contorno do objeto, chamada de
camada-limite, sendo que qualquer efeito viscoso que possa existir é confinado a esta
camada.

Figura 6 – Detalhes de um escoamento viscoso em torno de um aerofólio

Fonte: Fox, McDonald e Pritchard (2016, p. 521)

Um estudioso de aerodinâmica alemão, Ludwing Pradtl, em 1904, descreveu o


conceito de camada-limite. O que ele observou foi que um fluido, ao entrar em contato com
uma placa plana, teve velocidade na superfície da placa igual à velocidade dessa placa,
ou seja, a velocidade será igual a zero. Observa-se então um gradiente de velocidade,

91
em que a velocidade torna-se maior até momento em que é alcançada a velocidade
média do fluido antes de sofrer influência pela superfície, conforme podemos observar
na Figura 7, em que a espessura da camada-limite foi exageradamente ampliada para
facilitar a visualização.

Figura 7 – Camada-limite sobre uma placa plana

Fonte: Fox, McDonald e Pritchard (2016, p. 523)

A camada-limite pode ser laminar ou turbulenta, e isso dependerá do número


de Reynolds. Neste tópico, discutiremos os efeitos de uma superfície em um fluido e
como essa interferência pode caracterizar o escoamento. Para iniciar essa discussão,
será apresentado um conceito mais aprofundado sobre viscosidade.

2 TENSÃO TANGENCIAL
Até aqui já sabemos que a viscosidade é uma das propriedades do fluido.
Neste subtópico, mostramos que teoricamente o fluido escoa devido à ação de uma
força tangencial ou cisalhante, que age em uma placa que está posicionada sobre um
fluido, conforme podemos observar na Figura 8 (B), sendo que a resistência a esse
deslizamento do fluido chamaremos de viscosidade.

Figura 8 – (A) Elemento fluido em um tempo T, (B) deformação do elemento fluido em um tempo T + ∆T e
(C) deformação do elemento fluido no tempo T + 2∆T.

Fonte: Fox, McDonald e Pritchard (2016, p. 53)

92
Para fluidos em repouso não haverá tensão tangencial, porém, quando eles se
colocam em movimento, essas tensões passam a atuar no fluido, como podemos ver na
Figura 8 (A e B) (FOX, MCDONALD PRITCHARD, 2016).

Ao estudar a Mecânica dos Sólidos, a formulação das tensões tangenciais ou


cisalhantes em um corpo são desenvolvidas e, assim como a pressão, há uma relação
entre força e área. Nesse caso, uma força infinitesimal Fx atua em uma placa de área
infinitesimal Ay, que, por sua vez, encontra-se sobre um elemento fluido que devido a
essa tensão se desloca a uma velocidade δu. Então, não é incorreto afirmar que a tensão
de cisalhamento que atua sobre esse elemento fluido será:

Observe que após o deslocamento do fluido, ele sofre uma deformação, esse
fenômeno acontece porque os fluidos são viscosos. Essa deformação será representada
por uma abertura angular muito pequena que chamaremos de δα, que varia no tempo.
Dessa forma, podemos denotar que a taxa de deformação, que chamaremos de δγ,
poderá ser calculada por:

Com o objetivo de tornar o equacionamento mais prático, podemos calcular


a deformação em termos de velocidade, para tanto, relacionaremos a variação de
velocidade com a variação de velocidade no tempo, ou seja:

Para ângulos muito pequenos, não é errado afirmar que δu . δt = δy . δα, ou seja:

Aplicando o limite nos dois lados da igualdade, para um tempo que tende a zero
e y também tendendo a zero, visto que os deslocamentos são muito pequenos, temos:

Diante do que foi exposto, podemos dizer que quando aplicamos uma tensão
cisalhante tangencial (cisalhamento) em um elemento fluido, será provocada uma
deformação, que chamaremos a partir de então de taxa de cisalhamento, dada por
(FOX; MCDONALD PRITCHARD, 2016).

Na Unidade 1, ao apresentar o conceito de viscosidade interna, foi discutido


o conceito de fluido newtoniano, a seguir mostraremos que aquilo que o define é a
proporção entre a taxa de cisalhamento e a tensão tangencial, ou seja, se estivermos
abordando líquidos como água, ar e gasolina, sob condições normais de temperatura
e pressão, poderemos dizer a tensão tangencial é diretamente proporcional à taxa de
cisalhamento.

93
Sugerimos que você faça um experimento quando possível. Em copo de 400
ml, coloque, aproximadamente, 100 ml de um óleo lubrificante de motor. Você notará
que, ao provocar movimentos circulares no corpo, será formado uma espécie de vórtice,
observe atentamente o movimento do fluido. Em um outro copo de 400 ml, coloque
100 ml água. Você observará que também se formará um vórtice. A partir dessas
observações, qual fluido apresentou mais resistência ao escoamento? Você notará que
foi o óleo para motor, sendo que isso será graças a sua viscosidade. Essa viscosidade
será constante e em função do tipo de fluido. Dessa forma, podemos afirmar que a
tensão tangencial atua em um elemento fluido e será diretamente proporcional a
uma taxa de deformação e uma constante de proporção, que depende do fluido, que
chamaremos de viscosidade absoluta ou viscosidade dinâmica (µ). Nesse sentido,
utilizando as coordenadas descritas na Figura 8 para o escoamento unidimensional, a
tensão cisalhante pode ser descrita pela equação 2.9:

(2.9)

3 COMPRIMENTO DE MISTURA DE PRANDTL –


DISTRIBUIÇÕES DE VELOCIDADE
No primeiro tópico desta unidade, foi apresentado o conceito de camada-limite.
A Figura 8 (A e B) descreve a camada-limite sobre um escoamento laminar e outro
turbulento. Considerando o escoamento turbulento, sabemos que a velocidade na placa
é nula, mas o que acontece com a velocidade entre a camada-limite e a superfície?

Souza et al. (2011) apresentam uma curva U(y), descrita na Figura 9 (B), em
que ocorre um escoamento turbulento unidirecional na direção x, cuja velocidade
equivale a u(y). Apesar da velocidade no eixo y ser nula, há uma flutuação v’ que move
a partícula, de forma cíclica, do ponto 1 para ponto 2, conforme observa-se na Figura
9 (A). Os mesmos autores relatam que Prandlt, em 1925, desenvolveu uma hipótese de
comprimento de mistura e propôs um modelo algébrico para descrever como se dá essa
relação, que ocorre em uma escala macroscópica.

94
FIGURA 9 – (A) Troca de parcelas de fluido devido à turbulência e (B) escoamento na camada-limite
ilustrando a hipótese do comprimento da mistura

Fonte: Souza et al. (2011, p. 31)

Se a taxa de cisalhamento ( ) for uma relação positiva, observando a Figura


7 (B), podemos ver que sempre que a partícula ocupar a posição y + lm, a velocidade
v' é menor que zero e u' é maior que zero, o que estamos observando aqui é uma
transferência de quantidade de movimento para as partículas que passam pela região
y. Esse comprimento lm Prandtl chamou de comprimento de mistura, ou seja, nesse
espaço ocorrem flutuações na mesma ordem de magnitude que as ocorridas em um
escoamento turbulento real.

O que se pode discutir aqui é que, quando está muito próximo da camada-limite,
as ações viscosas são preponderantes para determinação do movimento das partículas
de fluido, porém, o que acontece se nos distanciarmos dessa superfície? Discutiremos
isso no subtópico a seguir.

4 LEI DE DISTRIBUIÇÃO UNIVERSAL DE VELOCIDADE


A Figura 8 apresentou o escoamento em três momentos diferentes. O vetor U
representa a velocidade média do fluido. Observe que antes de entrar em contato com a
superfície ela não é alterada, sendo essa velocidade constante, pode-se afirmar, então,
que não há ação das forças viscosas alterando a velocidade desse fluido.

Quando o fluido passa pela região da placa em regime laminar, observa-se que
muito próximo da placa a velocidade pode ser considerada nula e, quanto mais distante
o escoamento for da placa, maior será a velocidade, até o momento que ela se iguala à
velocidade média U. Mais adiante tem-se o escoamento turbulento, o comprimento da
camada-limite é maior, porém o comportamento é análogo ao observado no escoamento
de regime laminar, e a curva que representa o perfil de velocidade assemelha-se a uma
curva logarítmica.
95
A Figura 10 descreve o escoamento turbulento e subdivide-o em zonas. É
possível observar a subcamada viscosa que possui um comportamento linear. Como
veremos a seguir, há uma zona de transição, em que o comportamento não é trivial, e
há um comportamento de uma curva logarítmica após esse ponto.

Figura 10 – Subcamadas de um escoamento turbulento sobre uma superfície

FONTE: Shames (1973 apud SOUZA et al., 2011, p. 33)

A partir de uma série de experimentos e manipulações de algumas equações


que definem a física de um escoamento turbulento, verificou-se que a equação 2.10
descreve o comportamento do escoamento da velocidade na camada turbulenta:

(2.10)

Em que u é a velocidade do fluido; u* é a velocidade de atrito expressa por u*


e τ0 é a tensão de cisalhamento na superfície; y+ representa a distância da camada-
limite em termos adimensionais, em que y+ = .
y e vcn é a viscosidade cinemática,
que é uma relação ; C representa uma constante de integração. Os valores da
constante C e k estão em função do número de Reynolds, porém, de forma geral, pode-
se adotar e C = 5.

As ações viscosas respeitam a desigualdade a seguir, sendo possível determinar


o comprimento da camada-limite (equação 2.11):

(2.11)

A Figura 11 descreverá todo o comportamento do fluido desde a subcamada


viscosa até a camada logarítmica, sendo essas então as equações que definem um
escoamento turbulento da placa à camada-limite.

96
Figura 11 – Perfil de velocidade junto à superfície sólida

FONTE: Souza et al. (2011, p. 34)

Fox, McDonald e Pritchard (2016) demonstram que o comportamento da


camada-limite obedece à integral descrita pela equação 2.12 e Figura 12:

(2.12)

Figura 12 – Definições de espessura da camada-limite. (A) Espessura de deslocamento, δ*; (B) espessura de
perturbação, δ; (C) espessura de quantidade de movimento, δ

Fonte: Fox, Mcdonald e Pritchard (2016, p. 525)

O que podemos observar na Figura 12 (B), que poderia simbolizar linhas de


corrente em um canal, é que existe uma espessura de perturbação, sendo que muito
próximo à velocidade do fluido seria a média. Para todos os exemplos que serão
trabalhados nesta disciplina, pode-se desconsiderar essa altura δ, como na Figura
12 (A e B). Fox, McDonald e Pritchard (2016) assumem hipóteses simplificadoras que
utilizaremos em nossas análises de engenharia:

97
a) u → U em, y = δ a velocidade do fluido tende à velocidade média quando a profundidade
de análise é próxima ao comprimento da camada-limite;
b) → em y = δ, quando a taxa de cisalhamento tende a zero indica que estamos
no comprimento da camada-limite, ou seja, não há ação da viscosidade reduzida à
velocidade do fluido;
c) u << U quando y << δ, dentro da camada-limite as velocidades são menores que a
velocidade média;
d) experimentos demonstram que a camada-limite é muito fina quando comparada ao
comprimento desenvolvido ao longo de sua superfície. Pode-se afirmar então que a
variação de pressão também pode ser considerada desprezível.

Quando o escoamento não sofre influência da camada-limite, pode-se dizer


que ele também não sofre influência das forças viscosas, o que torna a utilização das
equações de continuidade, Bernoulli, Darcy-Weisbach, dentre outras, que veremos
adiante, um pouco mais práticas.

5 EXPERIÊNCIA DE NIKURADSE
Na Figura 12 é possível observar que em um escoamento turbulento existem
três horizontes de escoamento. O fluido pode escoar na subcamada viscosa, camada de
transição e camada logarítmica. Como vimos, a relação entre rugosidade e viscosidade
torna-se cada vez menos intensa quando se distancia da superfície rugosa. O aluno
orientado por Ludwing Pradtl, o físico e engenheiro alemão Johnann Nikuradse, discutiu
como a rugosidade e a viscosidade podem interferir no escoamento, passando a discutir
o fator de atrito f da equação 2.7.

O experimento realizado por Nikuradse consistiu em um equipamento no qual


foi possível verificar como a rugosidade interferia na perda de pressão (perda de energia)
e como esses valores se relacionavam com regime do escoamento do fluido. Nikuradse
realizou um trabalho meticuloso, em que utilizou diversos condutos onde havia areia
colada em granulosidade uniforme, sendo possível observar como, em uma determinada
vazão e rugosidade, a pressão no conduto seria afetada, ou seja, como o fator de atrito
no tubo interferia na perda de carga. A partir desse experimento gerou-se um ábaco,
aqui denominado de Harpa de Nikuradse, em que seria possível relacionar a rugosidade
relativa e o número de Reynolds e assim obter o fator de atrito. A Figura 13 revela que há
cinco horizontes, que serão descritos a seguir, mostrando a variação do fator de atrito
que está em função do número de Reynolds e da rugosidade do conduto. Chamaremos
esse ábaco de Harpa de Nikuradse.

98
Figura 13 – Variação do fator de atrito em função do número de Reynolds e da rugosidade do conduto

Fonte: Nikuradse (1933 apud PORTO, 2006, p. 37)

Para compreender os pontos em destaque da Figura 13, considere as


observações a seguir:

I. Aqui o Re < 2.000, ou seja, essa região é caracterizada por um escoamento laminar,
dessa forma, a perda de carga é dominada por ações microscópicas a partir do
escoamento do fluido e da tensão de cisalhamento pelo movimento das partículas
de fluido. O fator de atrito, neste caso, é função apenas do número de Reynolds
para todos os valores de rugosidade testados, sendo assim, na região I, o fator de
atrito pode ser calculado pela equação 2.13.

(2.13)

II. Nessa região, entre as retas I e II, ocorre um escoamento de regime transicional,
ou seja, 2.000 < Re < 4.000. Nesse sentido, não há equações que definam um
escoamento que está entre o laminar e o turbulento.
III. Aqui no escoamento, a rugosidade impactará apenas a subcamada viscosa do fluido.
Podemos caracterizar esse tipo de escoamento turbulento como hidraulicamente
liso, dessa forma, o fator de atrito é regido apenas pelo número de Reynolds, e
as curvas relativas a diferentes viscosidades são colineares. Essa região limita-se
entre uma reta, dessa forma, observou-se que quanto maior for a turbulência, mais
delgada será a subcamada, sendo que o escoamento pertencerá à região IV.
IV. Teremos uma outra região delimitada pelas linhas III e a tracejada da região V. Nesse
momento, o fator de atrito depende tanto dos valores de rugosidade relativa quanto
da turbulência, representada pelo número de Reynolds.

99
V. Essa região está acima da linha tracejada, onde há um escoamento que é
denominado como hidraulicamente rugoso. Nesse momento, o fator de atrito é a
função exclusiva da rugosidade relativa.

A rugosidade relativa é a razão da rugosidade do tubo (ε) pelo seu diâmetro,


ou seja, é um valor adimensional ( ). Uma outra observação relevante seria que a
equação universal de velocidade se aplica nesses casos para definir a velocidade do
fluido na camada logarítmica, em que a constante de integração C e o coeficiente de k
apresentados na equação 2.10 estarão em função do número de Reynolds.

6 LEIS DE RESISTÊNCIA NO ESCOAMENTO TURBULENTO


A partir da Harpa de Nikuradse, muitas outras análises foram realizadas a fim de
determinar um coeficiente de atrito para qualquer que seja o tipo de escoamento. Com
o uso de ferramentas computacionais, calculadoras que permitiam equacionamentos
mais robustos, modelos matemáticos, dentre outras ferramentas, foi possível obter
equações que melhor definiam o fator de atrito f.

Em 1939, Cyril Colebrook combinou dados de escoamento de transição


e turbulento, tanto para condutos lisos quanto rugosos, culminando na equação
2.13, denominada aqui como equação de Colebrook-White, que é indicada para um
horizonte .

(2.13)

A partir da equação de Colebrook-White, foram desenvolvidas outras soluções.


Hunter Rouse, em 1942, elaboraram um gráfico em que o coeficiente f era determinado a
partir do número de Reynolds e a rugosidade relativa do conduto. Em 1944, Lewis Moody
elaborou um diagrama que é muito utilizado atualmente para iniciar os estudos de perda
de carga em condutos sob pressão acima da atmosférica, como podemos analisar na
Figura 14. Observe que a equação 2.12 apresenta uma complexidade e será resolvida
de maneira eficiente por métodos iterativos, por isso, para encontrar o valor do fator de
atrito, Azedo Netto e Fernandez (2015) sugerem a utilização do diagrama de Rouse ou
de Moody, caso o usuário não possa dispor de uma calculadora.

100
Figura 14 – Diagrama de Moody

FONTE: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p. 158)

Estimar o coeficiente f por meio de fórmulas apresenta alguns inconvenientes,


por exemplo: algumas fórmulas servem para condutos rugosos, já outras servem para
condutos lisos; envolvendo vários cálculos matemáticos demorados. Os ábacos ou
diagramas de Moody, Rouse e Stanton, de maneira genérica, servem tanto para regime
de escoamento laminar e turbulento quanto para condutos lisos e rugosos.

Observe que há semelhanças entre o Diagrama Rouse e de Moody com a


Harpa de Nikuradise. Há uma um comportamento linear para escoamento laminar, um
horizonte para escoamento transitórios e um escoamento para tubos rugosos, que é
análogo à região V para escoamentos hidraulicamente rugosos.

A solução explícita para o coeficiente de atrito de Swamee-Jain permite o


cálculo de forma direta a partir da equação 2.14.

(2.14)

Em que é a rugosidade no conduto, D é o diâmetro (a relação é a rugosidade


relativa) e Re é o número de Reynolds. Esses valores são válidos se estiverem dentro dos
seguintes intervalos: , ou seja, ela trabalha apenas em
uma faixa que é descrita pelo diagrama de Moody.

101
Com o passar do tempo e com o avançar da aplicação de soluções matemáticas
para fluidos, foram surgindo mais equações. Uma delas foi desenvolvida, em 1983, por
S. Haaland, que encontrou uma equação (2.15) explícita com resultados dentro de 2%
daqueles obtidos pela equação de Colebrook-White, sendo essas equações práticas para
que sejam encontrados valores iniciais para estimativas mais precisas do coeficiente de
atrito a partir do uso de métodos iterativos.

(2.15)

Em 1993, Swamee desenvolveu uma fórmula explícita que concorda bem com
o ábaco de Moody. A equação 2.16 é válida para escoamentos laminares, turbulento liso,
de transição e turbulento rugoso.

(2.16)

A equação 2.16 nos traz os valores de rugosidade a diversos tipos de materiais


para tubulação a serem utilizados na equação universal para águas com temperatura
aproximada de 20 ºC, pouco incrustantes, pouco corrosivas e com velocidade próxima
de 1,5 m/s.

Mais adiante veremos um outro conjunto de equações que também nos ajudarão
a definir a perda de carga ao longo de um conduto, as chamaremos de Fórmulas Empírica.

Tabela 1 – Valores de rugosidade f para tubulações de materiais diversos para serem utilizados em todas as
equações deste item

Tubulações compostas por tubos de

102
muito

Fonte: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p. 147)

No decorrer dos anos, a indústria de materiais evoluiu bastante, principalmente


com relação à técnica de fabricação dos tubos. O processo de revestimento ficou mais
sofisticado, a homogeneidade da superfície interna dos tubos facilitou o escoamento e
diminuíram-se as juntas nos tubos, pois são produzidos tubos mais longos. Além disso,
as características das águas transportadas foram mais bem definidas. Dessa forma,
alguns inconvenientes para o cálculo do fator de atrito citado foram removidos quando
consideramos a fórmula de Darcy-Weisbach (AZEVEDO NETTO; FERNANDEZ, 2015).

103
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• A rugosidade e a sua importância para o escoamento de um fluido, sendo que ela


representa um dos estados da superfície e depende da operação ou processo de
fabricação. Existem tabelas que podemos consultar os valores de rugosidade de
acordo com a natureza do material do tubo.

• Como se dá o escoamento de fluido em um regime turbulento e como se dá a


formação da camada-limite. Abaixo da camada-limite existe uma região onde
as forças viscosas são preponderantes e o fluido possui um comportamento
característico em que as forças viscosas são preponderantes.

• A partir do experimento de Nikuradse foi possível determinar o coeficiente de atrito


de um tubo, para que fosse possível estudar a perda de energia ao longo do conduto
e como os valores do coeficiente se relacionavam com o regime do escoamento do
fluido.

• Diante do experimento de Nikuradse, da aplicação de modelos matemáticos mais


robustos, calculadoras mais eficientes, foi possível desenvolver outras equações,
buscando resolver de modo mais eficiente o coeficiente de rugosidade de um
conduto.

• A importância do estudo de Osbourne Reynoalds, que a partir de experimentos


envolvendo o movimento dos fluidos pôde classificar os escoamentos a partir do
número de Reynoalds.

104
AUTOATIVIDADE
1 O diagrama ou ábaco de Moody é a representação gráfica do fator de atrito levando
em consideração o número de Reynolds e a rugosidade relativa, sendo muito utilizado
para o equacionamento da perda de carga em instalações prediais ou tubulações
no geral. O experimento de Nikuradse gerou muitas constatações. Sobre essas
constatações, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Zona de transição é uma região onde o coeficiente de atrito varia com o número
de Reynolds.
b) ( ) Para o regime laminar, o fator de atrito em função do número de Reynolds é
descrito por uma hipérbole que, no gráfico logarítmico, transforma-se em uma
linha reta.
c) ( ) Para o regime turbulento, existe uma região, chamada de zona de tubo rugoso,
em que o fator de atrito é independente do número de Reynolds.
d) ( ) Quanto menor for o número de Reynolds, mais delgada será a subcamada laminar
e menores serão as flutuações de velocidade ocorrendo maior penetração da
turbulência.
e) ( ) Quando o escoamento nos tubos é laminar, com números de Reynolds abaixo de
2.300, há uma relação simples entre o fator de atrito e o número de Reynolds,
que é completamente independente da rugosidade dos tubos.

2 Regime de escoamento está relacionado a como o fluido se comporta quando


submetido a algum movimento. Considerando as forças de origem viscosa e as forças
de inércia que ocorrem internamente a um fluido incompressível em movimento, bem
como as características dos escoamentos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A turbulência do movimento está ligada à predominância das forças viscosas.


b) ( ) A predominância das forças viscosas está relacionada à tendência de
escoamentos laminares.
c) ( ) Independente do regime de escoamento (laminar ou turbulento) é inexistente
a formação de uma camada de fluido junto à parede do conduto com baixa
velocidade.
d) ( ) As forças atuantes sobre corpos submersos em escoamentos de líquidos de alta
viscosidade são sempre desprezíveis, graças à tendência de maior turbulência
prevista.

3 Por um tubo gotejador de 0,6 mm escoa uma vazão de 2 L/h com a água em uma
temperatura de 20 °C e perda de carga de 10 mca. Utilizando os dados a seguir para
os cálculos e fazendo o uso da equação de Darcy-Weibach, calcule a velocidade
do escoamento, o número de Reynolds e determine o regime de escoamento para
chegar ao comprimento do tubo.

105
4 A fórmula de Swamee-Jain foi criada para substituir o ábaco ou diagrama de Moody,
e que é dependente apenas do número de Reynolds (Re), da rugosidade absoluta do
material (ε) e do diâmetro do conduto (D). A partir da equação de Swamee, defina f.
Utilize os dados descritos para efetuar os cálculos.

Dados:
Re = 504952.
ε = 0,1 mm (0,0001 m).
D = 25 mm (0,025 m).

106
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
ESCOAMENTO EM CONDUTOS FORÇADOS

1 INTRODUÇÃO
Quando um líquido está em movimento haverá energia cinética. Se houver
diferença de cotas entre o ponto de jusante e montante, haverá energia geométrica
(potencial), e se há matéria líquida, há pressão. Vimos nos tópicos anteriores que a
variação do trabalho resulta na variação da energia mecânica e que parte dessa energia
é dissipada em forma de calor devido ao movimento que pode ser tanto no regime
laminar ou turbulento. Caso seja laminar, a energia se dissipa microscopicamente
e estará relacionada à viscosidade, massa específica do líquido e diâmetro do tubo,
ou seja, relaciona-se com o número de Reynolds, porém, quando o escoamento for
turbulento, a rugosidade da superfície por onde o fluido escoa serão relevantes na
determinação da energia dissipada, ou melhor: a perda de carga e o fenômeno são
observados macroscopicamente.

Figura 15 – Escoamento em conduto livre

FONTE: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p. 111)

Para caracterizar o escoamento é importante observar variação da linha


energética durante o escoamento do fluido. A partir da Figura 15, observa-se que a seção
B-B está sujeita a uma pressão denominada como Pa, ou seja, pressão atmosférica. A
pressão mínima de escoamento nessa seção é equivalente à atmosférica, caracterizando
um escoamento que se dá em uma superfície livre. Esses escoamentos ocorrerão em
canais, rios, galerias pluviais, sarjetas e em condutos que podem até estar preenchidos
de líquido, porém a pressão mínima em algum ponto de escoamento será equivalente à
atmosférica, sendo esse fator único e necessário para a classificação desse escoamento.

107
Figura 16 – Escoamento em conduto forçado

Fonte: Azevedo Netto; Fernandez (2015, p. 111)

Quando se observa que as pressões mínimas em uma seção de escoamento


são superiores à atmosférica, isso mostra que o fluido está confinado, ou seja, o seu
escoamento se dá em uma seção fechada, se caracterizando como conduto forçado.
Conforme pode-se observar na Figura 16, há o escoamento da água de um reservatório
para o outro, e a pressão no conduto é superior à atmosférica. Isso pode ser comprovado
caso coloquemos um piezômetro (medidor de pressão) na seção A-A, sendo possível
verificar a subida de uma coluna de líquido, que representa o quão maior é a pressão
daquele ponto em relação à atmosférica.

A seguir, caracterizamos o escoamento em condutos forçados, para que seja


possível discutir o conceito do número Reynolds e, por fim, conceituar equações de
perda de carga.

2 CONCEITO GENERALIZADO DO NÚMERO DE REYNOLDS


Objetivando verificar o escoamento líquido em algumas condições impostas,
Osborne Reynolds, em 1883, montou um experimento em que o esquema é apresentado
na Figura 20. Na Figura 17 podemos ver em (A) que a tubulação de vidro está inserida
em um tanque transparente (B), havendo um controle de vazão (C), no qual é possível
ajustar a quantidade de água que sairá dessa tubulação. Interligado ao tubo de vidro, há
um tubo fino que é conectado a um reservatório que contém um corante ou traçador,
sendo que sua função é gerar um filete. A entrada do tubo de vidro é um pouco mais
larga que o tubo, nesse sentido, pensou-se em diminuir a perda de carga localizada
naquele local com o objetivo de evitar turbulências parasitas.

108
Figura 17 – Experimento de Reynolds: vista frontal do experimento e corte do reservatório para detalhar o
esquema montado

FONTE: Azevedo Netto; Fernandez (2015, p. 113)

Abrindo-se gradualmente a válvula (C), observa-se um filamento retilíneo


bem definido sendo formado, esse regime de escoamento foi chamado de laminar
ou lamelar. Continuando com o experimento, com a abertura cada vez maior da
válvula, observou-se alterações nesse filamento que apresentavam comportamentos
irregulares, devido ao movimento desordenado das partículas, denominou-se esse
regime como turbulento. Observado esses fenômenos, se fez o contrário, as válvulas
foram gradualmente fechadas e o escoamento que antes era turbulento lentamente foi
se tornando novamente laminar.

Dessa forma, imaginou-se que a velocidade seria o único fator a modificar o


regime de escoamento, denominando velocidade crítica aquela que simboliza o ponto
de inflexão entre o regime turbulento e o laminar. No entanto, ajustando o diâmetro
e realizando o experimento em diversas temperaturas, observou-se a importância da
viscosidade e da seção por onde esse fluido escoa. Para um tubo de seção circular,
encontrou-se a equação 2.17, em que ρ é a densidade, v é a velocidade, D é o diâmetro
do conduto, µ é a viscosidade dinâmica, vcn é a viscosidade cinemática e, por fim, o Re é
o número de Reynolds que será um valor adimensional. Para utilização da equação 2.17
basta que todas as incógnitas estejam na mesma unidade e, desde que não haja ajuste
delas, o valor de Reynolds será sempre o mesmo.

(2.17)

Salienta-se que o produto entre densidade e velocidade (ρ.v) representa a


inércia, e o quociente entre diâmetro e viscosidade (µ/D) representa as forças de
viscosidade, então não é incorreto interpretar que o número de Reynolds é a razão entre
as forças de inércia e as forças de viscosidade.

109
Salienta-se que o produto entre densidade e velocidade (ρ.v) representa a
inércia, e o quociente entre diâmetro e viscosidade (µ/D) representa as forças de
viscosidade, então não é incorreto interpretar que o número de Reynolds é a razão entre
as forças de inércia e as forças de viscosidade.

DICA
Que tal verificar em um vídeo como se dá o experimento de Reynolds? Clique
no link a seguir e veja um pequeno vídeo para entender como esse físico
e engenheiro hidráulico irlandês idealizou o experimento: https://youtu.be/
bARZPr-wxwE

Nesse experimento foram observados intervalos de número de Reynolds onde


se verificava um determinado regime de escoamento. Observou-se que quando o Re
fosse superior a 4.000 o regime se apresentou turbulento, quando fosse inferior a 2.000
o regime era laminar, porém, entre esse intervalo, observou-se uma zona de transição,
na qual o escoamento não se encontrava completamente em nenhum dos dois regimes.
Uma observação interessante foi que, em condições de laboratório, escoamentos
laminares foram encontrados com Reynolds superiores a 40.000, porém, com pequenas
perturbações, o escoamento passou a ser turbulento (AZEVEDO NETTO, FERNANDEZ,
2015). Como o escoamento que ocorre fora do laboratório sempre estará sujeito a
perturbações, por menores que sejam, essas observações não foram consideradas para
o estabelecimento do horizonte do regime escoamento.

É importante ressaltar que o número de Reynolds não atuará apenas em


superfícies cilíndricas. Caso o conduto não tenha seções circulares, pode-se utilizar a
equação 2.18 para encontrar o número de Reynolds. Em que RH é o raio hidráulico que,
por sua vez, é a razão entre a área e o perímetro ocupado pelo líquido, que é denominada
de área molhada (Am), e o perímetro molhado (Pm), ou seja, .

(2.18)

Quando se tratar de condutos livres, a relação se dará pela profundidade linear


(H) desse conduto, como podemos observar na equação 2.19. Observa-se que para essa
situação o valor crítico de Re será aproximadamente 500 (AZEVEDO NETTO; FERNANDEZ,
2015).

(2.19)

110
2.1 ESCOAMENTO EM CONDUTOS FORÇADOS
Azevedo Netto e Fernandez (2015) falam que as canalizações foram pensadas
para conduzir líquido tanto como condutos livres quanto como condutos forçados. Os
mesmos autores ainda afirmam que esses tubos que conduzem água até a pressão
atmosférica são executados em declividades preestabelecidas e nivelamento muito
cuidadoso, pois, caso contrário, as pressões podem ser superiores à pressão atmosférica
e o tubo pode apresentar pressões superiores às previstas, podendo provocar perdas de
água por vazamentos, visto que as juntas que unem os tubos não preveem tais pressões
internas.

Já no escoamento, quando se dá em condutos forçados, o material e as juntas


devem suportar a pressão de dimensionamento. Para cada tipo de uso será possível
observar determinadas pressões de escoamento, por exemplo, as conexões entre
condutos das adutoras e tubulações em instalações hidráulicas residenciais se darão
de maneira totalmente diferente devido às pressões, visto que as pressões de água em
algumas adutoras tendem a ser maiores que a pressão de abastecimento de água de
uma residência.

Uma pergunta importante seria: quem governa o escoamento em um conduto


forçado? Essa questão é respondida pela equação de equilíbrio de energia ou Bernoulli,
descrita na equação 2.6, ou seja, quando avaliamos dois pontos em um escoamento de
um fluido, se não consideramos o atrito do fluido com a superfície do tubo, a energia
será igual nos dois pontos, ou seja, será constante.

Percebe-se que diversos fatores podem ajustar a energia de pressão, geométrica


ou cinética, conforme o Princípio de Bernoulli, no Tópico 1 desta unidade. Por exemplo,
se ajustarmos o diâmetro de um conduto sem ajustar a cota entre dois pontos, será
observado que onde houver diminuição da energia de pressão, haverá o aumento da
energia cinética. Se ajustarmos a altura de escoamento, parte da energia contribuirá
para a energia de pressão e a outra parte da energia é perdida durante o escoamento
do fluido.

Fox, Mcdonald e Pritchard (2016) destacam que a equação de Bernoulli não


pode ser aplicada ou estuda em termos de variação de velocidade para analisar a perda
de carga, tão pouco utilizar uma velocidade média em um ponto ao longo do tubo.
Esses autores mostraram que é possível encontrar uma equação (2.20) que calcula a
variação de pressão de escoamentos laminares a partir da viscosidade dinâmica (µ),
comprimento do conduto (L), vazão (Q) e diâmetro do tubo (D):

(2.20)

Como discutimos no Tópico 2 desta unidade, escoamentos se darão na maioria


dos casos em regime turbulento, porém não é tão trivial a solução para variação de
pressão nesse conduto. Diversos físicos, matemáticos e engenheiros hidráulicos
111
buscaram desvendar a relação do escoamento turbulento e o atrito em superfícies,
sendo que isso vai depender da rugosidade relativa do tubo, a razão entre a rugosidade
do tubo (ε) e o diâmetro, resultando em um valor adimensional dado por ε/D, e da
turbulência, que será determinada pelo número de Reynolds.

Veremos que as perdas de carga em escoamentos turbulentos podem ocorrer


por duas formas de perda de pressão: ao longo do conduto, podendo ser chamadas
de perdas maiores; ou perdas singulares, denominadas de perdas menores (FOX;
MCDONALD; PRITCHARD, 2016). As perdas ao longo do conduto são observadas quando
o fluido escoa entre dois pontos diferentes, sendo caracterizada por ser linear, sendo
possível obter uma relação angular que pode ser chamada de perda de carga unitária (
). As perdas de carga que ocorrem devido à colisão do líquido com algum obstáculo,
ou melhor, com uma conexão da tubulação, seja uma redução, joelhos, curvas, registros
de pressão ou de gaveta, entrada e saída da tubulação, ou seja, para cada uma dessas
variações, o escoamento turbulento se adaptará ao novo tubo, condições de pressão
ou fará um desvio, perdendo energia de pressão. Na Unidade 3, veremos com mais
detalhes esse tipo de característica.

A partir dessa discussão breve sobre perda de carga, é possível descrever como
a pressão varia em conduto. Na Figura 18 pode-se observar que a linha de pressão está
em termos de carga efetiva, ou seja, não se considera a pressão atmosférica, a equação
de Bernoulli é observada sob a mesma ótica. Nesta figura, podemos observar o plano
de carga efetivo, que é a quantidade de energia para o escoamento. O plano de carga
absoluto leva em consideração a pressão atmosférica. A linha piezométrica efetiva leva
em conta a perda de energia de pressão que dissipa metro a metro, linearmente, estando
relacionada à perda de carga ao longo do conduto. Já a linha de carga total efetiva soma
a energia piezométrica às energias cinéticas e geométricas (Z).

No entanto, caso haja diminuição de diâmetro e ao longo do conduto, como se


dará a variação dessa linha de energia?

Podemos estudar a suposição apresentada a partir da Figura 18, em que é


possível observar uma série de situações que foram enumeradas de I a VII:

I- Existe uma perda de carga singular denominada de entrada na tubulação, ou seja,


há uma perda de energia assim que o escoamento sai do reservatório e entra no
conduto.
II- A perda de carga é linear e a perda de carga unitária será calculada em função das
características do tubo e do escoamento.
III- Há uma perda de carga devido a uma conexão, chamada de redução, que acaba
estrangulando a seção do tubo e parte da água colide nessa singularidade.
IV- Existe outra perda ao longo do conduto, com as mesmas justificativas do inciso III.
V- Aqui há outra redução, porém para adaptar o conduto de diâmetro maior. Na
conexão com o conduto maior, ocorrerão pequenas turbulências, pois o fluido se
readaptará à expansão de diâmetro da seção.

112
VI- Novamente ocorre a perda de carga distribuída.
VII- Ao término desse percurso, ocorre uma perda devido à saída da água no conduto.

Figura 18 – Traçado das linhas de carga e da linha piezométrica

FONTE: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p. 196)

Observe que em hipótese nenhuma linha energética total efetiva apresenta-


se maior em uma seção mais a jusante, ou seja, não há ganho de energia durante o
percurso, isso aconteceria caso houvesse uma máquina que fornecesse energia
(estação elevatória) ou houvesse variação da energia geométrica, ou seja, no caso de
um declive na direção do escoamento.

Na próxima unidade será necessário calcular a perda de carga entre dois


pontos para verificar se há pressão suficiente para realizar o abastecimento de um
ponto de consumo. Para que seja possível entender a física por trás desse fenômeno,
vamos conceituar detalhadamente perdas de carga e discutir todas as variáveis que se
relacionam com a variação da pressão em um conduto forçado.

Antigamente acreditava-se que a perda de carga ocorria por conta do atrito


da massa fluida com as paredes das tubulações, mas esse conceito foi corrigido
com a descoberta da camada-limite, discutida anteriormente, que é uma camada de
velocidade zero que ocorre junto às paredes, independente do escoamento.

No caso do regime de escoamento laminar, a perda de carga se dá única e


exclusivamente à resistência oferecida pela camada com velocidade menor àquela
com velocidade menor. Já no regime de escoamento turbulento, a resistência é devido
ao efeito combinado pelo fenômeno descrito e ainda na perda de energia quando as
partículas se chocam devido ao movimento desordenado do escoamento.

Nesse contexto, podemos relacionar a perda de carga ao movimento turbulento


no conduto, se compararmos uma tubulação retilínea com uma tubulação semelhante,
porém, com várias peças especiais ou acessórios, na tubulação retilínea, a perda de
carga será menor.

113
Como na prática tanto em instalações prediais, industriais ou na irrigação não
trabalhamos apenas com tubulações retilíneas, as tubulações incluem peças especiais
ou acessórios. Dessa forma, podemos classificar a perda de carga de duas maneiras:
perda de carga distribuída, que é a perda ocasionada pelo próprio movimento do fluido
ao longo do conduto; e perda de carga localizada ou acidentais, que é provocada por
essas peças especiais e demais particularidades de uma instalação. A perda de carga
localizada é importante no caso de tubulações curtas, sendo que quando se apresentam
longos trechos de tubulação podem ser consideradas desprezíveis.

Dada a importância do estudo das perdas de carga e o comportamento dos


fluidos em escoamento, Darcy e outros pesquisadores desenvolveram diversos estudos
e chegaram a algumas conclusões que serão citadas a seguir (AZEVEDO NETTO;
FERNANDEZ, 2015).

Em tubulações de secção circular, a resistência do fluido ao escoamento é:

a) diretamente proporcional ao comprimento da tubulação (πDL);


b) inversamente proporcional a uma potência do diâmetro ( );
c) função de uma potência da velocidade média (Vm);
d) variável com a natureza das paredes dos tubos (rugosidade), no caso do regime
turbulento (K’);
e) independente da posição do tubo;
f) independente da pressão interna sob a qual o líquido escoa;
g) função de uma potência da relação entre a viscosidade e a densidade do fluido .

A partir do século XVIII foram surgindo diversas maneiras para equacionamento


da perda de carga em tubulações, mas a maioria específica para uma dada situação,
sendo que até então esse número de fórmulas ficou bem reduzido. Discutiremos um
pouco sobre elas a partir do próximo subtópico.

A natureza das paredes das tubulações também deve ser considerada no


cálculo da perda de carga, pois o processo de fabricação dos tubos; o comprimento e as
juntas das tubulações; o material utilizado na fabricação; se existe revestimento ou não;
e o estado de conservação das paredes dos tubos podem influenciar na capacidade da
tubulação em transportar o fluido.

Até aqui já discutimos a natureza da perda de carga e como ela é influenciada


pelo regime de escoamento, mas toda vez que houver variação da forma, da secção
transversal ou da direção do escoamento existirá a perda de carga localizada. Nesse
sentido, ficará a critério do projetista considerá-las ou não a nível de cálculo. Existem
duas formas de contabilizar essas perdas de carga localizadas, através do método direto,
ou seja, a perda de carga de uma peça em especial pode ser estimada pela equação
2.21 (Expressão de Borda-Berlanger); ou por método indireto, através de comprimentos
equivalentes de diâmetros equivalentes.

114
(2.21)

Em que: Δh é a perda de carga localizada em metros; K é um coeficiente que


depende da peça e é adimensional; V é a velocidade média do escoamento em m/s.

Caso haja mais de uma peça especial (joelho, cotovelo, luvas etc.), a perda de
carga localizada será o somatório das perdas de carga de todos os acessórios.

Tabela 2 – Valor do coeficiente K para cálculo das perdas de carga localizada em função do tipo de peça,
para velocidades usuais em tubulações de água: entre 0,5 e 2,5 m/s

Tipo da peça K
Ampliação gradual: A2/A1 < 1,6 e 2D1 < L < 2D2 0,10 a 0,30
Bocais 0,5 < D2/D1 < 0,8 2,75 a 5,00
Crivo 3,00 a 6,00
Curva de 90° longa 0,15 a 0,40
Curva de 90° raio curto (cotovelo) 0,90 a 1,20
Curva de 45° longa 0,13 a 0,28
Curva de 45° curta 0,30 a 0,50
Curva de 22,5 0,10 a 0,20
Junção a 45°, tipo barrilete 0,35 a 0,50
Medidor Venturi 2,50
Redução gradual: A2/A1 < 1,6 e 2D1 < L < 2D2 0,15 a 1,25
Tê, passagem direta DN1 (saída lateral fechada) 0,50 a 0,70
Tê, passagem + saída lateral < 20% Q1, D2 < D1 1,30 a 1,60
Tê, bifurcação simétrica 1,50 a 2,00
Válvula de pé 100% aberta 4,00 a 5,00
Válvula de retenção portinhola ou disco, sem mola 2,50 a 12,00
Fonte: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p.120)

Para o método dos comprimentos equivalentes, atribui-se um comprimento de


uma tubulação retilínea, de mesmo diâmetro, em que a perda de carga será equivalente à
perda de carga localizada ou do acessório. Ou seja, cada peça especial vai corresponder a
um comprimento fictício e adicional à perda de carga distribuída. Mas qual comprimento
de uma tubulação provocaria uma perda de carga equivalente? Basta igualarmos a
equação da perda de carga localizada com a de perda de carga distribuída, sendo que
para a equação de perda de carga distribuída utilizaremos a equação universal de perda
de carga ou equação de Darcy-Weisbach, que será discutida no próximo subtópico.
Sendo assim, temos:

Perda de carga distribuída:

Perda de carga localizada:

115
Como hf = ∆h, temos: e simplificando teremos a
equação 2.22:

(2.22)

Em que L é o comprimento equivalente em metros; K é em função do tipo da


peça e é tabelado; f fica em função do número de Reynolds; e D é o diâmetro.

Tabela 3 – Comprimentos equivalentes a perdas localizadas

Diâmetros comerciais (mm)


Tipo de peça
50 60 75 100 110 150 200 250 300 350
Curva 90° raio longo 2,0 2,4 2,8 3,6 4,0 4,5 5,0 6,0 7,0 8,0
Curva 90° raio médio 3,2 3,4 3,7 4,1 4,3 5,2 5,5 6,7 7,9 9,5
Curva 90° raio curto 4,4 4,6 4,7 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0
Curva 45° 1,3 1,5 1,7 1,9 2,0 2,3 3,0 3,8 4,6 5,3
Entr. Normal 0,8 1,0 1,2 2,0 2,5 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
Entr. Borda 1,5 1,9 2,2 3,2 4,0 5,0 6,0 7,5 9,0 11,0
Tê saída lateral 7,5 7,8 8,0 10,0 11,0 12,0 14,0 18,0 21,0 25,0
Tê passagem direta 7,3 7,6 7,8 8,2 8,4 10,0 13,0 16,0 19,0 22,0
Vál. Pé com crivo 14,0 17,0 20,0 23,0 30,0 39,0 52,0 65,0 78,0 90,0
Vál. Retenção tipo 4,2 5,2 6,2 6,5 10,4 12,5 16,0 20,0 24,0 28,0
leve
Vál. Retenção tipo 6,4 8,1 9,7 12,9 16,1 19,3 25,0 32,0 38,0 45,0
pesado
Fonte: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p. 124)

Neste método dos comprimentos equivalentes, o comprimento encontrado


pela fórmula deve ser adicionado ao cálculo da perda de carga distribuída.

Como método indireto de obtenção das peras de carga localizadas podemos


citar também o método dos diâmetros equivalentes. Esse método é bem parecido com
o anterior, em que o comprimento vai depender do diâmetro e de uma relação K/f, mas
em regimes turbulentos, essa relação depende só da rugosidade do material, então
podemos considerar k e f constantes. Dessa forma, o comprimento fictício adicional no
cálculo das perdas de carga distribuídas será expresso em diâmetro.

Temos que , pois são constantes.

116
Então: L= n X D (2.23)

Em que L é o comprimento equivalente em metros, n é a constante da relação


K/f, sendo adimensional, e D é o diâmetro.

Tabela 4 – Equivalência de diâmetros das principais peças especiais

Tipo da peça Número de diâmetros


Ampliação gradual: A2/A1 < 1,6 e 2D1 < L < 2D2 12
Ampliação brusca (90°) 20
Curva de 90° longa 30
Curva de 90° raio curto (cotovelo) 45
Curva de 45° longa 15
Curva de 45° curta 20
Curva 22,5 15
Junção a 45°, tipo barrilete 30
Medidor Venturi 18
Redução gradual: A2/A1 < 1,6 e 2D1 < L < 2D2 6
Tê, passagem direta DN1 (saída lateral fechada) 20
Tê, passagem + saída lateral < 20% Q1, D2 < D1 50
Tê, bifurcação simétrica 65
Válvula de pé 100% aberta 100
Válvula de retenção portinhola ou disco, sem mola 100
Crivo 150
Fonte: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p. 125)

Para dimensionamento de projeto, o projetista deve conhecer todas as peças


especiais que serão utilizadas, geralmente a vazão (Q) é conhecida, o diâmetro (D) será
uma variável calculada em função da vazão, das perdas de carga e comprimento da
tubulação (L). Um erro de cálculo na determinação do diâmetro da tubulação pode
acarretar custos elevados se ele for superestimado, pois quanto maior o diâmetro maior
o valor agregado. Caso tenha sido subestimado, acarretará maior perda de carga com
maior consumo de energia, e em algumas situações pode ocorrer estouro da tubulação
caso ultrapasse a pressão máxima de serviço permitida.

Até o momento, aplicamos os fundamentos de mecânica dos fluidos no


escoamento em condutos, discutimos sobre os tipos de escoamento e classificamos
as perdas de carga que podem ocorrer ao longo das tubulações em instalações.
Agora vamos entender como aplicar todo esse conhecimento adquirido na prática,

117
equacionando as variáveis demonstradas anteriormente. Antes disso, vamos dar uma
lembrada no conceito de condutos em série e em paralelo? Afinal, precisamos saber em
quais situações podemos aplicar as fórmulas que serão apresentadas.

Já discutimos anteriormente o conceito de condutos, tanto os livres quanto


os forçados. Quando temos dois ou mais condutos forçados trabalhando em conjunto,
dizemos que são condutos equivalentes, ou seja, eles são capazes de fornecer a
mesma vazão para uma mesma perda de carga total, ou seja, Q1 = Q2 e hf1, podendo ser
classificados em condutos em série ou mistos, e em condutos em paralelo.

Os condutos em série ou mistos são condutos apresentados por trechos de


tubulação com mais de um diâmetro. Eles possuem características distintas (diâmetros
diferentes), mas conduzem uma vazão constante e a perda de carga total será a soma
das perdas de carga parciais.

L = L1 + L2 + L3... + Li
Hf = hf + hf2 + hf3... + hfi
Q = Q1 + Q2 + Q3... + Qi

Reescrevendo a equação de maneira generalizada, obtemos a equação 2.24:

(2.24)

Em que as incógnitas “m” e “n” são expoentes utilizados para o cálculo da perda
de carga no conduto.

Tabela 5 – Valores de “m”, “n” e “2m+n” para cálculo de perda de carga de acordo com as equações

Fonte: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p. 145)

Nos condutos em paralelo, a vazão total vai ser distribuída de maneira


proporcional ao diâmetro dos ramais, mas desde que os tubos sejam iguais.

hf = hf = hf2 = hf3 = ... = hfi


Q = Q1 + Q2 + Q3 ... Qi

Reescrevendo a equação de maneira generalizada, obtemos a equação 2.25:

(2.25)

118
Algumas situações práticas exigirão que o projetista faça uso desse recurso
dos condutos equivalentes para atender às limitações de perda de carga ou atender
também aos diâmetros comerciais disponíveis no mercado.

3 FÓRMULA DE HAZEN-WILLIAMS
No tópico anterior desta unidade, discutiu-se bastante sobre o coeficiente de
atrito f e sua relação com a rugosidade da superfície de escoamento e a viscosidade
do líquido. O uso da equação de Hazen-Williams ou equação Universal apresenta o
inconveniente de observar a situação apropriada e o horizonte de escoamento, sendo
necessário visitar a harpa de Nikuradse, o diagrama de Moody ou o diagrama de Rouse.
Observou-se que em um escoamento turbulento seria possível determinar uma equação
(2.26) que se comporta da seguinte maneira:

(2.26)

Em que J é a perda de carga unitária, ou seja, a perda de carga por unidade de


comprimento do tubo; β é um coeficiente que ajustará a unidade do sistema utilizado
e representará o coeficiente de perda de carga; Q é a vazão; D é o diâmetro. Observou-
se que seria possível determinar as situações mais corriqueiras e estabelecer um
comportamento médio e representativo da relação entre a rugosidade dos condutos
circulares e do escoamento turbulento por meio de experimentos, sendo então
desenvolvidas as equações empíricas. A aceitação dessas equações é inequívoca, visto
que a própria norma brasileira se utiliza delas para instruir o dimensionamento de redes
de abastecimento de água e instalações hidráulicas prediais.

Uma fórmula empírica consagrada é fórmula de Hazen-Williams, devido a


seus bons resultados, pela simplicidade de seu equacionamento e do uso das tabelas,
que catalogam o coeficiente de rugosidade para diversos condutos, seu uso tende
a permanecer muito tempo entre os engenheiros, apesar de haver estudiosos que
critiquem tamanha simplicidade e optem por métodos mais científicos (AZEVEDO
NETTO; FERNANDEZ, 2015).

A fórmula de Hazen-Williams data de 1903, em que dois pesquisadores, o


engenheiro civil e sanitarista Allen Hazen e o professor de hidráulica Gardner Williams,
juntamente a outros estudiosos que realizaram o exame estatístico, propuseram uma
fórmula prática para identificar a perda da carga unitária descrita na equação 2.26, que
após ser ajustada para as unidades no sistema internacional de unidade foi formulada
para a equação 2.27.

(2.27)

119
Em que Q é a vazão dada em metros cúbicos por segundo (m³/s); C é o coeficiente
de Hazen-Williams, um número adimensional que representa a rugosidade do tubo; D é
o diâmetro do tubo dado em metros (m).

A equação 2.25 descreve a fórmula de Hazen-Williams em termos de vazão,


sendo que utilizando a equação da continuidade para condutos de seção circular pode-
se determinar essa fórmula em termos de velocidade.

(2.28)
(2.29)

Por ser uma equação empírica, deve-se assumir algumas premissas, pois elas
precisam ser atendidas para que os resultados estejam dentro do intervalo de confiança
determinados pelos estatísticos. As recomendações para uso da fórmula de Hazen-
Williams são:

a) é aplicável para um escoamento turbulento de transição;


b) a água deve estar em uma temperatura próxima de 20 °C, para que não se considere
o efeito viscoso;
c) em geral é aplicável para condutos acima dos 100 mm ou 4”;
d) aplicação em redes de distribuição de água, adutoras e sistemas de recalque.

Tabela 6 – Valor do coeficiente C sugerido para fórmula de Hazen-Williams para águas ~20 °C, pouco incrus-
tantes, pouco corrosivas para tubulações de PVC e ferro fundido

Fonte: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p. 147)

Como engenheiro ou projetista, é necessário atentar-se aos valores de C


indicados nos catálogos dos fabricantes. É importante lembrar que os testes foram
realizados em condições ótimas e em laboratório. Na prática, vários fatores podem
influenciar caso opte por utilizar os valores de C acima dos sugeridos, como: montagem

120
inadequada, irregularidades no terreno, qualidade da água. A sugestão é que mesmo
que no catálogo indique a utilização de um fator C maior do que o sugerido na tabela
apresentada, o projetista utilize os valores tabelados.

Algumas outras fórmulas foram desenvolvidas para atender a questões


específicas, como diâmetros muito pequenos ou tubulações por onde passa água quente.
Nesse sentido, a nível de conhecimento, vamos citar algumas delas. Primeiramente, a
fórmula de Flamant foi testada em tubulações de parede lisa, e após muitos estudos
comprovou-se que ela também se ajustava às tubulações de plásticos de pequenos
diâmetros, uma alternativa para cálculo de perda de carga em instalações prediais de
água fria descritas nas equações 2.30 e 2.31.

Para tubos de PVC: (2.30)

Para tubos em aço galvanizado: (2.31)

J = perda de carga unitária, em m/m.


Q = vazão em m3/s.
D = diâmetro da tubulação, em m.

Existe também a fórmula de Fair-Whipple-Hisiao (recomendada pela ABNT) para


projetos e instalações hidráulicas prediais quando o material da tubulação é em aço
galvanizado, ferro fundido, cobre ou plástico para instalações de água fria, e cobre ou
latão para instalações de água quente.

• Água fria
Aço galvanizado e ferro fundido: (2.32)
Cobre ou plástico: (2.33)

• Água quente
Cobre ou latão: (2.34)

4 COMPARAÇÃO ENTRE A FÓRMULA DE HAZEN-WILLIAMS


E A FÓRMULA UNIVERSAL
Voltando para equação 2.22 e 2.7 (Fórmula de Darcy-Weisbach ou fórmula
Universal) veja que se substituirmos a velocidade da equação 2.7 por essa relação:
, que representa a velocidade para tubos de seção circular, e dividir os
dois lados da igualdade pelo comprimento do tubo, podemos ajustar fórmula universal
para equação 2.35:

(2.35)

121
Em que K é o coeficiente que ajusta a equação para SI e agrega o fator de
atrito do conduto. Veja que há semelhanças entre as equações 2.26 e 2.27. Observe que,
para fórmula de Hazen-Williams, o coeficiente de Q é próximo de 2 e o coeficiente do
diâmetro D é próximo a 5.

Uma diferença entre as duas equações é a utilização do fator de atrito. Na


equação de Hazen-Williams usa-se o coeficiente C que foi obtido para diversos tubos,
no entanto, considerar esse valor como médio e invariável pode levar a conclusões
bastante equivocadas em longo prazo, visto que a tubulação ao ser instalada não
apresentará incrustações iniciais, porém elas tendem a diminuir o coeficiente de atrito
ao longo do tempo. Esse coeficiente pode ser descrito em função do tempo, conforme
explicitado na Tabela 5. Assim como o valor de C, o valor de f, que estará em função da
rugosidade (ε), muda ao longo do tempo, conforme podemos observar na Tabela 1, ou
seja, esse é outro fator de similaridade entre as fórmulas comparadas.

O que vai mudar bastante é a forma de obtenção desse valor. A equação de


Hazen-Williams acaba sendo um pouco mais prática, pois ela se encontra em um
horizonte possível de uso, não sendo necessário verificar a relação entre a viscosidade
e a rugosidade do tubo. Mas se o escoamento for laminar? A fórmula de Hazen-
Williams estuda escoamentos turbulentos, que é a maioria daqueles que trataremos em
hidráulica, seja em uma adutora ou seja em um abastecimento predial.

A fórmula de Hazen-Williams é tão prática que, em 1930, após muitas


experiências, Fair, Whipple e Hsiao determinaram uma fórmula do tipo Hazen-Williams
para tubulações com diâmetros entre 12 e 50 mm, ou seja, voltada para instalações
hidráulicas prediais, inclusive a norma da ABNT NBR 5626 de 2020 recomenda o uso da
fórmula de Fair-Whipple-Hsiao para tubos de PVC e cobre para água fria.

No entanto, não é incorreto ou imprudente optar pela fórmula Universal. O


usuário deve testar os valores e observar a flutuação dos valores de perda de carga
quando houver dúvidas de qual tubulação utilizar. A fórmula universal apresentará
melhor um fluido em condições específicas de temperatura, visto que há o cálculo do
número de Reynolds e a viscosidade dinâmica está em função da temperatura.

122
LEITURA
COMPLEMENTAR
ESTUDO DA EQUAÇÃO DE NAVIER-STOKES UTILIZADA NA EQUAÇÃO DA
ENERGIA CINÉTICA TURBULENTA DA CLC

Lauane Gonçalves Cordeiro da Silva


Carla Judite Kipper

Resumo

No projeto de pesquisa, a derivação de um modelo teórico para o decaimento da


turbulência em uma camada limite planetária convectiva (CLC) é ponderado. Considera-
se a característica e a estrutura do decaimento da CLC para o período de transição dia-
noite, durante a mudança do regime turbulento que ocorre entre a CLC e a camada limite
estável. O modelo baseia-se em uma equação dinâmica homogênea e não isotrópica
para o espectro densidade de energia cinética turbulenta (TKE), em que os termos de
transferência devido ao empuxo, atrito e inércia, são retidos. Neste modelo teórico,
do espectro de energia encontrado e sua evolução temporal, busca-se relacionar as
variáveis atmosféricas com os parâmetros meteorológicos. Como parâmetros, têm-
se a pressão atmosférica, a temperatura, a umidade relativa do ar, a precipitação, a
radiação solar, a direção e a velocidade do vento, que são obtidos pelas estações de
dados automáticas e convencionais da cidade de Bagé, região da campanha do Rio
Grande do Sul. Estes dados encontram-se no site do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET). No estudo preliminar da equação TKE, deve-se modelar o movimento dos
fluidos incompressíveis, newtonianos no escoamento turbulento transitório através da
equação de Navier-Stokes. Este trabalho se propôs a tornar a dedução apresentada
uma alternativa para o estudo de mecânica dos fluidos. Na metodologia, foi realizada
uma pesquisa bibliográfica para a fundamentação teórica do trabalho de pesquisa,
visando uma pesquisa descritiva. Como o projeto está em andamento, considera-se que
apenas uma etapa foi superada e que o desenvolvimento das equações, que modelam a
equação dinâmica para a TKE na CLC, precisa ser alcançado.

Palavras-chave: Equação de Navier-Stokes. Camada Limite Planetária. Espectro de


Energia.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é um estudo preliminar, através de uma bolsa de Iniciação à


Pesquisa, das equações que descrevem o movimento dos fluidos (MUNSON, 2004),
levando-se em conta as suposições físicas e definições matemáticas, usadas para

123
descrever o sistema, fluido, de maneira mais simples e de fácil entendimento para
os estudantes. A equação dinâmica para a densidade espectral de energia cinética
turbulenta (TKE) na Camada Limite Convectiva (CLC) (KIPPER, 2011), que modela o
movimento do ar na atmosfera, é obtida de forma clássica através da equação de Navier-
Stokes. Esta equação expressa a conservação de momento introduzida pela segunda
Lei de Newton. A equação de Navier-Stokes descreve a velocidade de um fluido, em um
ponto no tempo (POTTER, 2004). Ela iguala a aceleração de uma partícula do fluido com
a força resultante exercida na partícula, devido ao gradiente de pressão, a viscosidade
do fluido e a gravidade, por unidade de volume (BRUNETTI, 2008). No estudo inicial
de mecânica dos fluídos, nos livros de engenharia, nos deparamos com a dificuldade
encontrada na dedução e obtenção da equação de Navier-Stokes. Este trabalho visa
facilitar o entendimento dos conceitos utilizados para a obtenção desta equação. Este
projeto de estudo ainda está em andamento e pretende avaliar as variáveis atmosféricas
na região da campanha do Rio Grande do Sul estudando o fenômeno de decaimento da
turbulência na CLC, baseando-se na equação dinâmica TKE (GOULART et al., 2003).

2 METODOLOGIA

Na metodologia foi realizada uma pesquisa bibliográfica para a fundamentação


teórica do trabalho de pesquisa, visando a uma pesquisa descritiva. Essa investigação
se deu em várias literaturas de mecânica dos fluidos, em que selecionamos os livros:
Fundamentos da Mecânica dos Fluidos (MUNSON, 2004) e Mecânica dos Fluidos
(POTTER, 2004). Como método utilizado para o estudo, destacamos a detecção da
publicação que seria utilizada para a obtenção da equação de Navier-Stokes (N-S),
objetivando o domínio sobre o tema.

Para descrever o escoamento de fluidos, utiliza-se a equação N-S, a qual


nos permite explicitar os campos de velocidade, determinando no escoamento a sua
distribuição de velocidade em cada ponto e em cada instante de tempo, e determinar a
pressão em uma partícula de fluido durante o escoamento. Através da Segunda Lei de
Newton, com a resultante de forças de pressão, forças de atrito e da força gravitacional,
consegue-se deduzir a equação N-S para um escoamento transitório e laminar, ou seja,
aquele escoamento em que as condições do fluido em alguns pontos ou regiões de
pontos variam com o passar do tempo (BRUNETTI, 2008) e laminar, pois as partículas
movem-se ao longo de trajetórias bem definidas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O momento de uma partícula é uma grandeza vetorial calculada pelo produto da


massa pela sua velocidade. A fim de encontrar a equação da conservação do momento,
podemos reescrever a Lei de Newton para o movimento em termos do momento. Para
isso, escrevemos a aceleração como a taxa de variação da velocidade no tempo e
consideramos a massa constante, de modo , em que m . V
é o momento p e FR é a resultante das forças que agem sobre a partícula do fluido. As
forças que atuam sobre essa partícula são as forças de pressão, as forças de atrito e

124
a força gravitacional. A partícula do fluido poderá ser entendida como um elemento de
fluido infinitesimal. A equação de N-S expressa a conservação de momento para um
movimento de pequena escala, que ocorre em um fluido incompressível e irrotacional. O
momento e a velocidade são grandezas vetoriais e descritas no espaço de coordenadas
cartesiano tridimensional.

FORÇA DO GRADIENTE DE PRESSÃO: define-se a pressão P por uma força F


que comprime uma superfície, que está distribuída sobre uma área A, isto é, a pressão
é exercida pela força sobre essa superfície. Pressão é uma grandeza escalar e a sua
unidade no Sistema Internacional de Unidades é o Pascal. Seja a pressão exercida na
direção x e escrita como uma função f(x) em torno do ponto x=a, no centro do elemento
de volume dv. Para descrever a pressão atuando em uma partícula de fluido em repouso,
utiliza-se Expansão em Série de Taylor para funções analíticas, ou seja, representar
a função por séries de potências, a fim de que a função tenha derivada em todos os
pontos. Devido a dx ser extremamente pequeno, elevado a segunda potência ou mais,
faz com que ele se torne desprezível, de modo que a função terá apenas os termos de
primeira ordem da série, na forma . Sendo os pontos
e a = x, substituindo os termos da equação de f (x) = P (x), temos
. Para variação da coordenada x, utiliza-se o gradiente, que é uma derivada
parcial da coordenada cartesiana tridimensional, dada por ∇P = , que apli-
cada a função, será , que ficará ∇P = ,
dado por . Dessa forma, calcula-se a força atuando no volume de controle
como o produto da pressão pela área da face perpendicular ao gradiente. Para a pressão
na coordenada unidimensional x, temos . Assim, a função da força,
nas coordenadas x, y e z, pode ser expressa com o gradiente da pressão F = ∇Pdv de
modo que .

FORÇA DE ATRITO: a força de atrito é a resistência ao movimento causada pela


viscosidade. Essa resistência origina uma tensão de cisalhamento. Para entender o
conceito, precisa-se perceber que a viscosidade é a “aderência” interna de um fluido e a
taxa de deformação de um fluido é diretamente ligada à viscosidade do fluido. Conside-
re um escoamento no qual as partículas do fluido se movem, em que u é o componente
velocidade ao longo da coordenada x. O gradiente de velocidade representa o estudo da
variação da velocidade no meio fluido em relação à direção mais rápida desta variação.
Os fluidos que se comportam dessa maneira são chamados de fluidos newtonianos. A
quantidade é o gradiente de velocidade na direção x e pode ser interpretado como
taxa de deformação, na forma , sendo u = u(y). Portanto, o atrito entre as
camadas do fluido depende linearmente do cisalhamento de velocidade, dado por
, sendo A a área, V a velocidade, H a altura e µ o coeficiente relacionado com
a viscosidade. No espaço tridimensional das velocidades (u, v, w) teremos nove tensões
diferentes correspondentes ao cisalhamento nas direções: (x, y, z), são elas derivadas da
Série de Taylor, na forma . Através da equação de tensão, calcula-se a
força de atrito . Utiliza-se o operador laplaciano na forma unidimensional como
. Assim, para a força de atrito na coordenada x, tem-se FATx = µ∇2udxdydz. Para

125
o espaço tridimensional: u é a velocidade na coordenada x, v é a velocidade na coorde-
nada y e w é a velocidade na coordenada z, sendo o vetor velocidade dado por , o
e a força de atrito escrita como FAT = µ∇2Vdxdydz.

FORÇA GRAVITACIONAL: a aceleração dada pela gravidade g e a massa pdv =


pdxdydz pelo princípio de conservação de massa, sendo que o volume é estabelecido
como dv. Obtém-se, para coordenada x, FGx = pdxdydzgx .

EQUAÇÃO NAVIER-STOKES: através da Segunda Lei de Newton, se apresenta o


somatório das forças em x dado por Fx = Fx + FATx + FGx = m . ax. Para convecção de sinais,
as forças que atuam para dentro da partícula são negativas e as que estão para fora são
positivas, na forma unidimensional em x, dada por:

Como a massa específica é dada por , sendo o volume dv = dxdydz, logo.


A equação apresentada é dividida pelo volume dxdydz, na forma:

Simplificando a equação se tem, . As equações po-


dem ser simplificadas em uma única equação que descreve essa variação nas três co-
ordenadas. A equação geral de N-S é dada por:

EQUAÇÃO NAVIER-STOKES PARA UM ESCOAMENTO TURBULENTO: a diferença


entre escoamento laminar e turbulento parte do comportamento desordenado dos
parâmetros do escoamento turbulento. Estas variações ocorrem nos três componentes
de onde há descrição de campo, tais como velocidade, pressão e tensão de cisalhamento
(MUNSON, 2004). Um escoamento turbulento é caracterizado por violentas flutuações,
surge então a dificuldade de se obter uma completa descrição do escoamento (FREIRE;
CRUZ, 2002). Para isso, escrevemos as propriedades de interesse em termos de valores
médios. Os valores instantâneos são dados pela soma do valor médio com a flutuação
; sendo U, V e W as velocidades nas coordenadas x, y e
z. A pressão dada por e a massa .

A tensão turbulenta é dada pelas tensões de Reynolds:

Na matriz, os valores na diagonal referem-se às tensões normais e as demais


às de cisalhamento. A tensão de cisalhamento total em uma localização particular seria
devido a ambas, à viscosidade e à troca de quantidade de movimento descrita (POTTER,
2004), ou seja, para escrever a tensão em termos de escoamento turbulento:

126
, onde . Da equação de N-S, temos as propriedades
escritas em termos de valores médios e para a equação N-S na coordenada x em um
escoamento laminar tem-se:

As tensões de cisalhamento totais são dadas por:


e . Substituindo os termos médios na equação de Navier-Stokes
e colocando em evidência os termos em comum, tem-se a equação N-S para um
escoamento turbulento:

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No estudo proposto, nesse projeto de Iniciação à Pesquisa, alcançar a equação


de N-S se mostrou um desafio a ser superado. Este trabalho se propôs a tornar a dedução
aqui apresentada uma alternativa para o estudo de mecânica dos fluidos. Como o
projeto está em andamento, considera-se que apenas uma etapa foi superada e que
o desenvolvimento das equações, que modelam a equação dinâmica para a densidade
espectral de energia cinética turbulenta na CLC, precisa ser alcançado. Portanto, este
trabalho tem segmento com o estudo do decaimento da turbulência na Camada Limite
Planetária.

Fonte: SILVA, L. G. C. da; KIPPER, C. J. Estudo da equação de Navier-Stokes utilizada na equação da energia
cinética turbulenta da CLC. In: SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, 9., 2017,
Santana do Livramento. Anais [...] Santana do Livramento: Universidade Federal do Pampa, 2017.

127
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Quando um fluido está em movimento haverá energia cinética, se houver diferença


de cotas entre o ponto de jusante e montante, haverá energia geométrica (potencial)
e se há matéria líquida há pressão sendo exercida sobre este fluido; caso seja laminar,
a energia se dissipa microscopicamente e estará relacionada à viscosidade, massa
específica do líquido e diâmetro do tubo, ou seja, relaciona-se como número de
Reynolds, porém, quando o escoamento for turbulento, a rugosidade da superfície
por onde fluido escoa serão relevantes na determinação da energia dissipada, ou
melhor, da perda de carga.

• O escoamento se dará na maioria dos casos em regime turbulento, porém não


é tão trivial a solução para variação de pressão nesse conduto. Diversos físicos,
matemáticos e engenheiros hidráulicos buscaram desvendar a relação do
escoamento turbulento e o atrito em superfícies, sendo que isso vai depender da
rugosidade relativa do tubo, da razão entre a rugosidade do tubo (ε) e o diâmetro,
resultando num valor adimensional dado por ε/D, e da turbulência, que será
determinada pelo número de Reynolds.

• Basta haver escoamento do fluido que ocorrerá perda de carga, sendo que essa
carga pode ser classificada como perda de carga distribuída (perda de carga em
uma tubulação retilínea) ou perda de carga localizada (perda de carga em peças
especiais ou acessórios e acidentais).

• As tubulações podem estar dispostas de diferentes maneiras (em série ou paralelo)


para atender à pressão requerida pelo sistema e também se adequar aos diâmetros
comerciais existentes no mercado.

• Com a demonstração das equações possíveis para o cálculo de perda de carga,


aprendemos a calcular as perdas possíveis (distribuída e localizada). Observamos
que a equação de Darcy-Weisbach é a mais indicada principalmente para diâmetros
menores de 50 mm.

128
AUTOATIVIDADE
1 A equação de Hazen-Williams é um método empírico que relaciona o fluxo de água em
uma tubulação com suas propriedades físicas e as diferenças de pressão. Utilizando
essa equação, determine a velocidade (aproximadamente) em uma tubulação de
2982 m de comprimento e 600 mm de diâmetro, construída de ferro fundido (C =
115), alimentada por um reservatório a 13,45 m acima da descarga.

Observação: considerar a energia disponível para escoamento (13,45 m).

a) ( ) 3,0 m/s.
b) ( ) 1,6 m/s.
c) ( ) 0,8 m/s.
d) ( ) 0,3 m/s.

2 Considere dois reservatórios em que a diferença de nível seja equivalente a 30,15 m.


Eles são interligados por um conduto medindo 3.218 m de comprimento e diâmetro
igual a 300 mm. Os tubos são de ferro fundido com 30 anos de uso (C = 80). A partir
da equação de Hazen-Williams, qual é a vazão?

Obs.: A diferença de nível entre os dois reservatórios representa a energia disponível


para escoamento, ou seja, a perda de carga para calcular a vazão disponível é 30,15 m.

a) ( ) 75 L/s.
b) ( ) 97 L/s.
c) ( ) 1 m³/s.
d) ( ) 38 L/s.

3 Para o dimensionamento de instalações hidráulicas e prediais, devemos considerar


algumas propriedades e características do fluido, além disso, é de suma importância
o entendimento do tipo de escoamento que ocorre em determinado conduto. De
acordo com as equações apresentadas, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:

( ) Preliminarmente, a fórmula de Hazen-Williams considera o efeito viscoso do líquido


e independe do número de Reynolds.
( ) Uma das vantagens da fórmula de Hazen-Williams é o seu amplo limite de aplicação;
ela pode ser utilizada para a análise de adutoras, redes de distribuição de água e
sistemas de recalque.
( ) Na fórmula universal de perda de carga, também conhecida como Equação de
Darcy-Weisbach, a perda de carga unitária é proporcional ao cubo da velocidade
média.

129
( ) O número de Reynolds determina o tipo de escoamento em um conduto livre, se
laminar ou turbulento, e quanto maior o seu valor, menos turbulento é o escoamento.
( ) Em um escoamento forçado e permanente em um tubo de diâmetro interno D,
considerando valores do Número de Reynolds muito grandes, os quais caracterizam
um escoamento completamente turbulento, o fator de atrito f depende apenas do
quociente entre a rugosidade do material e do diâmetro interno do tubo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F-V-V-F-F
b) ( ) V-F-V-V-F
c) ( ) F-V-F-F-V
d) ( ) V-V-F-F-F

4 Um projetista precisa dimensionar um diâmetro para uma determinada instalação


hidráulica. Utilizando a fórmula de Hazen-Williams e a Tabela 5 para determinar o
coeficiente de C, determine o diâmetro da tubulação de ferro fundido dúctil com
revestimento permanente epóxi com 10 anos de uso, 305 m de comprimento,
conduzindo 145 L/s de água e descarregando 1,22 m abaixo do reservatório que
fornece a água.

5 Na tabela a seguir é possível verificar os diâmetros nominais dos tubos. A partir dos
dados da Questão 4 e da tabela de diâmetro nominais dos tubos, escolha um com
diâmetro superior e outro com um inferior ao calculado na questão anterior. Diante
disso, calcule a vazão para cada configuração e apresente qual tubo você escolheria
para realizar o abastecimento solicitado na questão 4.

Diâmetro Nominal Diâmetro Interno (mm)


200 200
250 250
300 300
350 350
400 400
450 450

130
REFERÊNCIAS
AZEVEDO NETTO, J. M. de; FERNÁNDEZ, M. F. Manual de hidráulica. 9. ed. São Paulo:
Editora Blucher, 2015.

BROWN, G. O. The History of the Darcy-Weisbach Equation for Pipe Flow Resistan-
ce. Environmental and water resources history, v. 38, out. 2002. Disponível em:
http://www.fabianbombardelli.com/ECI141/HistoryoftheDarcyWeisbachEq.pdf. Acesso
em: 29 set. 2022.

CAMARGO, L. A. Equações explícitas para o fator de atrito de Darcy-Weisbach.


2001. Disponível em: http://hidrotec.atspace.co.uk/EquExpli.pdf. Acesso em: 4 out.
2022.

CARVALHO, J. de A.; OLIVEIRA, L. F. C. Instalações de bombeamento para irriga-


ção: hidráulica e consumo de energia. 3. ed. Lavras: Ed. UFLA, 2020.

FOX, R. W.; MCDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J. Introdução à mecânica dos flui-


dos. Rio de Janeiro: LTC, 2016.

GRIBBIN, J. E. Introdução à hidráulica, hidrologia e gestão de águas pluviais. 3.


ed. São Paulo: Learning Edições Ltda., 2010.

HELLER, L.; PÁDUA, V. L. de. Abastecimento de água para consumo humano. Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 2010.

PORTO, R. M. Hídráulica Básica. 4. ed. São Carlos: EESC-USP, 2006.

SOUZA, J. F. A. de et al. Uma revisão sobre a turbulência e sua modelagem. Revista


Brasileira de Geofísica, v. 29, n. 1, p. 21-41, mar. 2011. Disponível em: https://www.
scielo.br/j/rbg/a/HpS6mWtczZwCh49P3fDNpKq/?lang=pt. Acesso em: 29 set. 2022.

VERTCHENKO, L.; DICKMAN, A. G.; FERREIRA, J. R. F. Transferência de fluido por meio


de um sifão vs. aplicação da equação de Bernoulli. Revista Brasileira de Ensino de
Física, v. 31, n. 3 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbef/a/gfzPZTC7hpRh-
JPDDdgSswYd/abstract/?lang=pt#. Acesso em: 29 set. 2022.

131
132
UNIDADE 3 —

CÁLCULO DO ESCOAMENTO
EM TUBULAÇÕES SOBRE
PRESSÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• determinar a perda de carga de condutos sob pressão;

• conhecer a classificação de adutoras quanto à natureza e quanto à energia;

• estabelecer a vazão de dimensionamento para o período de funcionamento de uma


adutora;

• determinar os principais parâmetros necessários em um projeto de estação


elevatória;

• compreender as implicações negativas sobre as tubulações sob o efeito do golpe


de aríete.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – PERDAS DE CARGA E OS SISTEMAS HIDRÁULICOS DE TUBULAÇÕES

TÓPICO 2 – ADUTORAS E ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS

TÓPICO 3 – RESERVATÓRIOS E REDES DE DISTRIBUIÇÃO

TÓPICO 4 – GOLPE DE ARÍETE/TRANSIENTE HIDRÁULICO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

133
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

Acesse o
QR Code abaixo:

134
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
PERDAS DE CARGA E OS SISTEMAS
HIDRÁULICOS DE TUBULAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Em projetos de escoamento em tubulações, a principal questão é quanto
à energia necessária para que o escoamento ocorra de fato e para que este escoe a
quantidade pretendida de fluido até o ponto de interesse no projeto. Isso porque é a
quantidade de energia que determinará as características do escoamento. Conforme
visto na unidade anterior, existem fórmulas teóricas e empíricas que são empregadas
para determinar a vazão, o diâmetro, entre outras propriedades (AZEVEDO NETTO;
FERNÁNDEZ, 2015).

Em regimes de escoamento forçado, o escoamento é afetado diretamente por


atrito interno, gerado pela viscosidade do fluido e as aderências às paredes de tubulação.
O atrito gerado causa perda de energia (ou dito, perda de carga) ao escoamento, que
é ainda maior quando são adicionados à tubulação acessórios como curvas, válvulas,
registros etc.

Embora, atualmente, teorias relacionadas ao escoamento de fluidos sejam


razoavelmente bem compreendidas, as soluções teóricas são aplicáveis apenas para
poucos casos e estes, às vezes, muito simples, como o escoamento laminar totalmente
desenvolvido em um tubo circular. Por isso, muito do conhecimento sobre perdas de
carga que é aplicado, é muito baseado nos resultados experimentais e nas relações
empíricas que são observadas, ao invés de soluções analíticas fechadas (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007).

Tendo isso em mente e considerando a importância para o estudo da dinâmica


dos fluidos em regimes forçados, neste Tópico 1 serão apresentados os conceitos,
fórmulas e simplificações adotadas acerca de perdas de carga em tubulações e
acerca de sistemas hidráulicos, com ênfase nos sistemas de abastecimento de água.
Primeiramente serão apresentados os conceitos e a distinção que se faz em perdas de
cargas distribuídas e perdas de cargas localizadas. Depois serão apresentados valores
de importantes coeficientes para o cálculo da perda de carga em tubulações que são
predominantemente obtidos a partir de ensaios em laboratório e experiências práticas.

Na sequência, serão apresentados o método dos comprimentos equivalentes e


o método da distribuição em marcha, ambos utilizados para, de maneira mais simples,
resolver os cálculos quando se trabalha com perdas de carga em regime permanente
uniforme e em regime permanente gradualmente variado, respectivamente. Por fim,

135
serão apresentadas formas para a solução de problemas que envolvam escoamentos
com variação da vazão devido a derivações da água em um ou mais trechos de uma
tubulação.

2 PERDAS DE CARGAS LOCALIZADAS E DISTRIBUÍDAS


Em um regime dinâmico, parte da energia disponível para o escoamento do
fluido é dissipada. Essa dissipação ocorre devido ao atrito interno (ou viscosidade) do
fluido juntamente com a turbulência ou o choque entre as próprias partículas do fluido.
Considerando que, na verdade, energia nunca se perde (princípio da conservação de
energia), o que ocorre é a transformação dessa energia em calor. Assim, teoricamente,
ocorre um aquecimento do fluido e do meio de condução – da tubulação, por exemplo,
se o escoamento for realizado dessa forma (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015;
GOMES, 2009).

Geralmente, para líquidos, esse calor recebido é praticamente desprezível.


Isso porque, para muitos líquidos, a quantidade de energia necessária para elevação
significativa da temperatura do fluido é muito maior do que a convertida por essa energia
dissipada. A água é um exemplo desse tipo de fluido (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ,
2015; GOMES, 2009). A essa parte da energia “perdida” denomina-se perda de carga por
atrito ou perda de carga contínua ao longo do conduto.

Considere o exemplo de escoamento em um conduto como o mostrado na


Figura 1. O fluido saindo da esquerda (Ponto 1) para a direita (Ponto 2) apresenta energia
disponível para o escoamento maior em (1) do que em (2). A linha de carga, ou linha de
energia, corresponde a essa energia disponível para que o escoamento ocorra. Pelo que
se observa no exemplo, a diferença de energia entre os dois pontos é a indicada pela
perda de carga (∆H). Essa diferença de energia é muito importante para os problemas
de escoamento em engenharia e, por isso, é assunto bastante investigado (AZEVEDO
NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

136
Figura 1 – Desenho das linhas de energia e piezométrica

Fonte: https://dergipark.org.tr/tr/download/article-file/217735. Acesso em: 29 set. 2022.

Em um escoamento do tipo laminar, essa perda de carga é ocasionada pelo


atrito interno, ou seja, pela viscosidade do fluido. Entenda que ao mencionar atrito
interno não se deve imaginar que o que estamos nos referindo, nesse caso, seja o atrito
do fluido com as paredes da tubulação. Para o escoamento laminar o atrito com as
paredes da tubulação faz com que não ocorra movimento do fluido próximo a essas
paredes. A velocidade do escoamento vai aumentando conforme há o distanciamento
das paredes da tubulação, com a maior velocidade no eixo central. O atrito interno nesse
caso se refere ao atrito entre as “lâminas” que caracterizam o escoamento laminar,
dando resistência ao movimento.

Para a condição de escoamento turbulento, a perda de carga é resultado da


resistência causada pelas forças, tanto de atrito interno quanto da inércia. A distribuição
da velocidade nesse tipo de escoamento é afetada pela condição da tubulação, ou seja,
pela condição das paredes que estão em contato com o fluido. Se as paredes apresentam
maior rugosidade, o escoamento terá uma distribuição de velocidades menos uniforme
(escoamento mais turbulento). O que já se sabe é que para o escoamento laminar,
a perda de energia por resistência é estimada por uma função de primeira potência
da velocidade; enquanto no escoamento turbulento há maior variação na perda por
resistência, e essa relação se torna uma função de segunda potência da velocidade
(AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Na prática, as perdas de carga não podem ser esquecidas nos projetos de


escoamento, principalmente para grandes redes. As perdas de carga podem ser
classificadas em perdas contínuas e perdas localizadas.

Perdas contínuas são perdas ocasionadas pela resistência ao escoamento


causadas pela própria movimentação do fluido ao longo das tubulações. Se a tubulação

137
tem diâmetro constante, a perda de carga será uniforme nos trechos do escoamento;
por isso esse tipo de perda é denominado também de perda por resistência ao longo da
tubulação.

Perdas localizadas, como o próprio nome sugere, são pontuais. São


ocasionadas por acessórios hidráulicos, dispositivos ou outras singularidades nos
condutos. Quando se trata de uma rede curta, essas perdas localizadas tornam-se mais
significativas, enquanto para redes extensas as perdas localizadas às vezes podem ser
desconsideradas. Como geralmente as redes de abastecimento e esgotamento contêm
grandes tubulações, as perdas localizadas são comumente desconsideradas.

Assim, devido a sua importância, a questão da perda de carga em tubulações


foi objeto de muito estudo. Os resultados obtidos através de várias investigações
experimentais realizadas por Darcy e outros estudiosos contribuíram, significativamente,
com o entendimento sobre a resistência ao escoamento da água em tubos de seção
circular.

Podemos destacar, segundo Azevedo Netto (2015) como principais conclusões,


a partir desses estudos, que essa resistência é:

• inversamente proporcional a uma potência do diâmetro;


• diretamente proporcional ao comprimento da tubulação (π X D X L);
• função de uma potência da velocidade média (Vn);
• variável com a natureza das paredes dos tubos (rugosidade), no caso do regime
turbulento (k′);
• independente da posição do tubo;
• independente da pressão interna sob a qual o líquido escoa;
• função de uma potência da relação entre a viscosidade e a densidade do fluido (µ/ρ)r.
Ainda de acordo com Azevedo Netto (2015) e Porto (2006), para um caso de
escoamento de fluido incompressível em regime permanente semelhante ao presentado
na Figura 1, a equação da energia seria apresentada como:

O termo hf refere-se à perda de carga distribuída, que inclui qualquer perda de


energia associada ao escoamento. Essa perda é uma consequência direta da dissipação
de energia associada com o escoamento no conduto. Os coeficientes de energia
cinética a1 e a2 corrigem os efeitos provocados pela não uniformidade dos perfis de
velocidade nas seções transversais do conduto. Assim, a = 1 se os perfis de velocidade
são uniformes e a > 1 para perfis não uniformes. Para escoamentos ideais (invíscidos),
a1 = a2 = 1 e hf = 0, a equação da energia fica reduzida à equação de Bernoulli, discutida
na Unidade 2.

138
No dimensionamento de adutoras, redes de abastecimento e outras tubulações
pressurizadas sempre acaba sendo utilizada uma equação empírica, isto é, elaborada
com base em resultados experimentais, para calcular a perda de carga ao longo do
conduto. Atualmente, o engenheiro encontra uma porção grande de opções de equações
de perda de carga de escoamentos do tipo permanente e uniforme. Para escoamentos
de regime turbulento (os mais comuns), as equações empíricas mais comumente
empregadas são: Manning, Darcy-Weisbach, Hazen-Williams, Flamant, Scimeni, Scobey,
entre outras (GOMES, 2009; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

A hf pode ser expressa por:

Sendo L o comprimento da tubulação (m), v a velocidade (m/s), D o diâmetro


da tubulação (m) e k, n e p coeficientes empíricos. Essa é uma formulação básica, mas
que é difícil de ser usada na prática devido à necessidade desses parâmetros empíricos
(AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

A partir de experimentos em laboratório, por volta de 1850, Chézy observou que


a perda de carga no escoamento de água em uma tubulação tinha uma relação direta e
geralmente ao quadrado com a velocidade desse escoamento. Por isso, Chézy propôs
que o coeficiente n da equação básica para perda de carga fosse igual a 2. Após um
tempo, Darcy e Weisbach, ainda trabalhando com essa formulação, aprimoraram e a
transformaram na fórmula de Darcy-Weisbach. Para isso, consideraram que o coeficiente
empírico “p” poderia ser igualado a 1 e, ao multiplicar ambos número e denominador por
2 x g, criaram o fator f (coeficiente de atrito) para substituir (k′ x 2 x g), que resultou
por final na fórmula também conhecida por fórmula Universal (GOMES, 2009; AZEVEDO
NETTO; FERNÁNDEZ, 2015):

hf: perda de carga ao longo da tubulação (m);


L: comprimento da tubulação (m);
D: diâmetro interno da tubulação (m);
v: velocidade (m/s);
Q: vazão (m³/s);
g: aceleração da gravidade, igual a 9,8 m/s²;
f: fator de atrito.

A fórmula Universal é amplamente aplicada, apesar de alguns contrapontos.


Dentre eles podemos citar o fato de a perda de carga estar relacionada à segunda
potência da velocidade e não ser sempre condizente com a realidade, já que na maioria
dos casos práticos observamos escoamentos do tipo turbulento, e com relação com à
velocidade variando normalmente entre 1,75 e 2 (GOMES, 2009; NETTO, 2015).

139
Assim, vemos que a perda de carga distribuída (ou contínua) tem relação com a
rugosidade e o diâmetro da tubulação, com a velocidade do escoamento e a viscosidade
do fluido. A condição da tubulação, portanto, tem expressivo efeito na perda de carga
ao afetar a rugosidade, a área da seção transversal do escoamento (diâmetro, como
comentado) e, consequentemente, afetar também a velocidade do escoamento. Por
isso, muito esforços têm sido feitos na direção de quantificar e representar no fator f
os impactos da condição da tubulação sobre o escoamento (PORTO, 2006; AZEVEDO
NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Através da fórmula de Colebrook e White (regime de escoamento turbulento),


pode ser obtido o fator f:

Em que ε é a rugosidade absoluta (mm) e ε/D corresponde à rugosidade relativa


do tubo. Re é o número de Reynolds do escoamento, dado por:

Em que V é a velocidade média do escoamento (m/s), D corresponde ao


diâmetro (m) e v é a viscosidade cinemática do fluido (m²/s). A viscosidade cinemática
é dependente da temperatura, e na Tabela 1 são apresentados os valores de v da água
para temperaturas entre 0° e 38°C.

Tabela 1 – Viscosidade cinemática da água

Fonte: Gomes (2009, p. 42)

O problema da equação de Colebrook e White é que o fator f não é determinado


diretamente, sendo necessário utilizar algum método iterativo. A equação proposta por
Swamee e Jain (1976) pode ser utilizada para encontrar valores diretos do fator f para
escoamentos com número de Reynolds (Re) entre 103 e 108 e rugosidade relativa (ε/D)
entre 10-6 e 10-2, dada por (GOMES, 2009; PORTO, 2006):
140
Diversos autores apresentam tabelas que contêm valores para rugosidade das
tubulações pelo coeficiente de rugosidade absoluta. Na Tabela 2 você encontra alguns
valores de rugosidade (ε), tanto para tubulações novas quanto velhas.

Tabela 2 – Valores de rugosidade absoluta

Fonte: Porto (2006, p. 49)

Atualmente, existe a opção de usar tubos mais lisos, feitos em PVC ou outros
materiais. Contudo, mesmo que menor, sempre existirá uma perda de carga pelo atrito
com as paredes da tubulação. Afinal, todos os materiais parecem ser “rugosos” em um
microscópio com ampliação suficiente. Uma superfície é caracterizada como rugosa
quando os picos de rugosidade se estendem para fora da subcamada laminar. As

141
superfícies lisas são aquelas em que a subcamada submerge os elementos de rugosidade.
As superfícies de vidro e plástico, em geral, são consideradas hidrodinamicamente lisas
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Alguns anos após a apresentação da fórmula universal, Hazen e Williams, dois


pesquisadores norte-americanos, propuseram novos valores aos parâmetros empíricos
da equação básica geralmente aplicada. Diferentemente da equação universal que
pode ser empregada para todos os tipos de líquidos, materiais e estado das tubulações,
a equação de Hazen-Williams só é recomendada para condutos com diâmetros internos
maiores que 50 mm. Entretanto, é uma fórmula muito aplicável, pois seus limites de
aplicação são grandes: de 50 a 3.500 mm para o diâmetro e para até 3 m/s de velocidade,
ou seja, para quase todos os projetos de escoamento do dia a dia. A perda de carga é
então obtida por (GOMES, 2009; NETTO, 2015):

hf perda de carga ao longo da tubulação (m);


L: comprimento da tubulação (m);
D: diâmetro interno da tubulação (m);
Q: vazão (m³/s);
C: coeficiente de rugosidade que depende do material e das condições das
paredes internas do tubo.

Os parâmetros da equação de Hazen-Williams foram determinados a partir de


um longo levantamento de dados (dados experimentais disponíveis e de resultados
obtidos pelos próprios pesquisadores), usados para um cuidadoso exame estatístico
(AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

O parâmetro C representa a rugosidade das paredes internas da tubulação,


tendo ampla lista de valores a depender do material e idade da tubulação (Tabela 3).

Tabela 3 – Valor do coeficiente c sugerido para a fórmula de Hazen-Williams

142
Fonte: adaptada de Azevedo Netto et al. (1998 apud GOMES, 2009, p. 41)

Os expoentes encontrados para a fórmula foram determinados de maneira


a terem as menores variações do coeficiente C para tubos que tivessem a mesma
rugosidade. Com isso, o coeficiente C tornou-se praticamente uma função exclusiva
da natureza das paredes internas da tubulação (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Outra forma de apresentação proposta por Hazen-Williams é através do


parâmetro J, ou perda de carga unitária (m/m), que representa a perda de carga para
cada metro de comprimento da tubulação. Esse parâmetro é calculado pela perda de
carga total do sistema dividida pelo comprimento total da tubulação () (GOMES, 2009;
AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

A formulação também pode ser apresentada em termos de vazão ou da


velocidade:

Para a escolha da equação empírica mais adequada para a determinação da


perda de carga, o engenheiro deverá considerar se as condições hidráulicas em seu
projeto são semelhantes às condições hidráulicas dos experimentos nos quais as
fórmulas empíricas foram obtidas. Atualmente, as duas equações empíricas mais
usadas são essas comentadas anteriormente, de Darcy-Weisbach (fórmula universal) e
de Hazen-Williams (GOMES, 2009; NETTO, 2015).

Porto (2006, p. 19) apresenta um exercício que é exemplo do emprego de uma


dessas equações para o cálculo da perda de carga em tubulações:

Exemplo 1: Numa tubulação de 300 mm de diâmetro, a água escoa


em uma extensão de 300 m, ligando um ponto A na cota topográfica
de 90,0 m, no qual a pressão interna é de 275 kN/m², a um ponto B
na cota topográfica de 75,0 m, no qual a pressão interna é de 345 kN/

143
m². Calcule a perda de carga entre A e B, o sentido do escoamento e a
tensão de cisalhamento na parede do tubo. Se a vazão for igual a 0,14
m³/s, calcule o fator de atrito da tubulação e a velocidade de atrito.
Resolução: tendo a tubulação diâmetro constante, e sendo o
escoamento permanente, a carga cinética em qualquer seção
será a mesma. Deste modo, a linha de energia será paralela à
linha piezométrica e a perda de carga pode ser calculada como a
diferença entre as cotas piezométricas das seções A e B. O sentido
do escoamento deverá ser condizente com os níveis de energia
existentes nas seções A e B ou, no caso em questão, com as cotas
piezométricas naquelas seções. A cota piezométrica em A vale
e em B, , em que (p/γ) é a carga de pressão disponível, em metros
de coluna d’água, em cada seção. Com os dados do problema, vem:

∆H = 118,06 - 110,20 = 7,86m.


O sentido do escoamento será de A para B, pois C.PA > C.PB

Da definição de velocidade de atrito:

Para uma vazão , a velocidade média é .


Da equação universal da perda de carga, pode-se determinar o fator
de atrito f, como:

Além do material empregado na fabricação influenciar na rugosidade da


tubulação, o comprimento, a quantidade de juntas e ligações, a técnica de assentamento,
a condição de conservação e a existência ou não de revestimentos especiais nessa
tubulação são questões a serem consideradas. Um fator de impacto direto na rugosidade
é a idade da tubulação (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Com o passar do tempo, as tubulações passam por processos que degradam a


estrutura ou a qualidade do material. Dependendo do fluido que é escoado, a natureza
química do fluido pode afetar a superfície interna da tubulação, podendo surgir saliências
ou reentrâncias (através da corrosão). Não apenas por reação química, mas também
por deposição ou “incrustação” nas paredes da tubulação, a vida útil da tubulação é
comprometida, bem como a eficiência do escoamento, uma vez que a perda de carga é
maior (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Você pode estar imaginando que a formação de camadas aderentes às


superfícies internas das tubulações deva acontecer apenas em casos mais especiais, de
transporte de fluidos incomuns. Entretanto, esse é um problema comum no transporte

144
de “águas duras” ou águas calcárias, que apresentam altas concentrações de cálcio
que é depositado progressivamente na tubulação, ou de águas com muitas impurezas
(Figura 2). Como consequência dos fatores comentados anteriormente, a capacidade
de escoamento das tubulações vai diminuindo com o passar do tempo.

Figura 2 – Fotos do Departamento Autônomo de Água e Esgoto – DAAE de amostras de pedaços de tubos
de ferro fundido com incrustações retirados do sistema de abastecimento no município de Rio Claro – SP

Fonte: Moraes (2010, p. 20)

Quanto às perdas localizadas, estas recebem esse nome por serem causadas
por pontos específicos na tubulação, ao contrário das perdas distribuídas. Assim, a perda
de carga localizada (∆hf) em uma singularidade do conduto pode ser analisada como
uma porcentagem da carga cinética (V2/2g) imediatamente a jusante do ponto no qual
se produz a perda (GOMES, 2009), sendo K o coeficiente de perda de carga localizada:

3 VALORES DO COEFICIENTE K PARA ALGUMAS


SINGULARIDADES
O coeficiente de perda de carga (K) é determinado experimentalmente, e seu
valor varia conforme o diâmetro da peça ou dispositivo. A padronização dos valores de K
é bastante complexa, tendo em vista que para cada peça existe uma grande variedade
de modelos e de fabricantes (GOMES, 2009; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015). A
Tabela 4 apresenta valores aproximados de K para as peças e perdas mais comuns na
prática.

145
A variabilidade nos valores de K se deve à dificuldade da padronização
experimental. A perda de carga de uma singularidade (peça, acessório ou obra adicionada
ao escoamento) é função do acabamento interno da conexão, da existência ou não de
rebarbas ou ângulos vivos e até das condições em que são realizados os ensaios, como
o modo de fixação da peça etc. Desse modo, a mesma conexão originada de fabricantes
diferentes costuma apresentar nos ensaios valores diferentes do coeficiente K (PORTO,
2006).

Uma maneira muito utilizada para calcular a perda de carga localizada é usando
um comprimento fictício de tubulação que tenha diâmetro igual ao do acessório ou
elemento que está adicionando a perda de carga localizada. A ideia de um comprimento
fictício é para facilitar os cálculos, sendo que esse comprimento fictício deve produzir
perda de carga por atrito equivalente à perda provocada pelo acessório ou elemento.
Como isso, a perda de carga total, que inclui as perdas distribuídas mais as localizadas,
pode ser obtida através de fórmulas usadas para calcular a perda de carga contínua.
Para esses casos, o comprimento total (L) será igual ao comprimento real da tubulação
mais os comprimentos equivalentes (comprimentos fictícios) correspondentes à perda
de carga de cada um dos acessórios existentes na tubulação (PORTO, 2006; NETTO,
2015; GOMES, 2009).

Outra opção muito usada para incluir as perdas de carga localizadas no cálculo
final da energia requerida pelo sistema é computá-las indiretamente, alterando (para
mais) o coeficiente de atrito e o utilizando no cálculo das perdas contínuas (GOMES,
2009).

Tabela 4 – Valores aproximados do coeficiente de perda localizada – K

Fonte: Gomes (2009, p. 44)

146
Cabe ressaltar aqui as equações que foram obtidas para algumas singularidades
em específico, que são bastante frequentes em tubulações.

Passagem de uma tubulação para um reservatório: para esse tipo de


situação, sendo a passagem em aresta viva de uma canalização para um reservatório
grande (com velocidade praticamente nula), o valor de K é igual a 1, indicando que ocorre
a perda total da carga cinética (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

NOTA
“Arestas vivas” é o termo usado para se referir à extremidade proeminente
que resulta do encontro de duas superfícies de uma construção, formando
um ângulo reto ou aproximado.

Contrações bruscas: nesse caso, o escoamento é semelhante à expansão,


em que primeiro o fluido se afasta das laterais (Figura 3), como que um jato e, então, se
expande para preencher totalmente a seção a jusante, de menor diâmetro. Para esse
caso, o fator de perda de carga devido à contração poderia ser expresso por (PORTO,
2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015):

Em que Cc corresponde ao coeficiente de contração, que pode ser calculado


por:

Figura 3 – Contração brusca

Fonte: Porto (2006, p. 73)

147
Quando a área do montante é muito maior que a da jusante, o valor de K tende
a ser 0,50, pois a relação A2 / A1 se aproxima de zero (PORTO, 2006). A tabela a seguir
apresenta valores de K para casos de redução brusca.

Tabela 5 – Valores do coeficiente K para reduções bruscas

Fonte: Porto (2006, p. 73)

Alagamento ou contração gradual: para esses casos, a perda de carga é


função da geometria da peça, do ângulo de abertura do alagamento (ou de contração)
e da relação das áreas ou diâmetros das seções. Nesses casos o coeficiente K inclui
os efeitos do turbilhonamento de grande escala e os efeitos de atrito na parede. Para
uma situação de contração ou alagamento em que para ambos a relação de diâmetros
é a mesma e apresenta mesmo ângulo para contração ou alagamento, o coeficiente K
é menor para o estreitamento gradual do que para o alagamento. Isso ocorre porque
o movimento acelerado acompanhado de um gradiente de pressão favorável tende a
estabilizar o escoamento, ao passo que, no movimento desacelerado com gradiente
de pressão adverso, tende a produzir separação da veia, instabilidade, formação de
redemoinhos e, consequentemente, maior dissipação de energia (PORTO, 2006).

Figura 4 – Entradas afogadas em tubos cilíndricos com submergência maior que 3,5 no diâmetro nominal
para minimizar a ocorrência de vórtices: (1) normal; (2) reentrante ou borda; (3) sino; e (4) redução cônica

Fonte: Azevedo Netto (2015, p. 120)

Cotovelos e curvas: a perda de carga nesses casos se deve à mudança de


orientação do escoamento causada por essas conexões. Pelo efeito da inércia, sendo
o escoamento uniforme, o fluido tende a manter as características do escoamento.

148
Ao encontrar um elemento da tubulação que o force a mudar de direção, os filetes
(ou lâminas do escoamento) são impedidos de continuar seu movimento retilíneo. Os
cotovelos e curvas modificam, assim, o perfil de velocidade do escoamento, e com isso
alteram também a distribuição de pressão. A área externa da curva tem sua pressão
aumentada e a velocidade reduzida, enquanto na área interna da curva ocorre o contrário.
Essa diferença de pressão e velocidade faz com que as partículas do fluido apresentem
movimentação espiralada, que continua por uma significativa distância depois da curva.
Para o caso específico de curvas e cotovelos, os valores de K podem ser determinados
de acordo com o ângulo a (ou ângulo de mudança de direção) em graus, pelas seguintes
equações (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015; GOMES, 2009):

ou

Registro de gaveta: o registro de gaveta é um tipo de válvula. As válvulas são


acessórios utilizados para controlar e regular a vazão em tubulações. Elas podem ser de
diversos tipos, como a válvula borboleta, o registro de ângulo, a válvula em Y e o registro
de gaveta. Uma vantagem geral das válvulas é que quando estão totalmente abertas,
elas não geram perdas de carga significativas. Entretanto, se estiverem parcialmente
fechadas, elas afetam muito o escoamento, provocando perdas de carga que não
podem ser desprezadas. O registro de gaveta é muito utilizado, e seu fechamento ocorre
por uma lâmina vertical (Figura 5).

Figura 5 – Registo de gaveta

Fonte: Porto (2006, p. 76)

O valor do coeficiente K para esse dispositivo varia de acordo com o grau de


fechamento; quanto mais fechado o registro, maior a perda de carga (Tabela 6) (PORTO,
2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

149
Tabela 6 – Valores de K para o registro de gaveta parcialmente fechado

Fonte: Porto (2006, p. 76)

Válvula borboleta: essas válvulas (Figura 6) são usadas para controlar a vazão
do escoamento e podem ser manuais ou elétricas, para controle do grau de fechamento
ou fixação do ângulo a de abertura.

Figura 6 – Válvula de borboleta

Fonte: Porto (2006, p. 76)

Valores de K para esse dispositivo podem ser encontrados na Tabela 7.

Tabela 7 – Valores de K em função do ângulo de abertura

Fonte: Porto (2006, p. 76)

Em projetos com tubulações curtas, como na sucção de uma bomba, ou


em sistemas, como instalações hidráulico sanitárias em edifícios, em que, além dos
trechos serem curtos, existe um grande número de acessórios, as perdas localizadas
são absolutamente preponderantes. Para projetos de distribuição de água, nos quais os
diâmetros e comprimentos dos condutos são grandes, as perdas de carga localizadas
costumam ser desprezadas. Normalmente, em casos em que as perdas localizadas
não perfazem mais que 5% das perdas distribuídas, essas podem, em princípio, ser
desprezadas. Então, a regra básica para se desprezar as perdas de carga localizadas
quando a tubulação é longa, L/D >1000, é admitida como bastante razoável. O engenheiro
ou responsável pelo projeto deve ter ciência sobre as características do sistema em
questão e do grau de precisão exigido, para poder tomar a melhor decisão e estabelecer
seu próprio critério, se for o caso (PORTO, 2006).

150
4 MÉTODO DOS COMPRIMENTOS EQUIVALENTES
Para facilitar os cálculos, a analogia formal de que ambas as perdas de carga,
distribuída e localizada, são função direta da carga cinética ( ) é adotada. Assim, as
singularidades existentes na rede de escoamento são geralmente expressas em termos
de comprimento de tubulação equivalentes; isto é, as perdas de carga localizadas
na tubulação são representadas por comprimento de tubulação, de modo que esse
comprimento gere perda de carga distribuída de mesmo valor que pelo acessório, para
a condição de mesma vazão.

Em outras palavras:

O método dos comprimentos equivalentes consiste em substituir,


para simples efeito de cálculo, cada acessório da instalação por
comprimentos de tubos retilíneos, de igual diâmetro, nos quais a
perda de carga seja igual à provocada pelo acessório, quando a vazão
em ambos é a mesma (PORTO, 2006, p. 84).

Através da igualdade entre as equações de perda de carga localizada e distribuída,


obtém-se a seguinte expressão para determinação do comprimento equivalente (Le):

Na Tabela 8 são apresentados valores de comprimentos equivalentes conforme


a perda de carga para alguns acessórios.

Tabela 8 – Comprimentos equivalentes (m), peças de PVC rígido ou cobre, conforme ABNT

Fonte: Porto (2006, p. 87)

151
5 DISTRIBUIÇÃO DE VAZÃO EM MARCHA
O conceito de vazão em marcha é usado para tratar de casos em que não há
constância na vazão ao longo do trecho, ou seja, não se trata mais de um regime que
possa ser considerado permanente e uniforme. Um caso desses é o que a vazão vai
diminuindo ao longo do conduto, que ocorre, por exemplo, em um sistema de irrigação.
Tal condição é chamada de regime permanente gradualmente variado (PORTO, 2006).

Para resolver problemas desse tipo é assumido que a vazão total é consumida
ao longo do conduto e que isso é feito de maneira uniforme, como se houvesse uma
fenda na tubulação em todo o percurso. Então, cada metro da tubulação libera uma
vazão uniforme chamada de vazão unitária de distribuição (q), em l/(sm) ou m³/(sm).
Em um caso desses de movimento permanente gradualmente variado, como da Figura
7, a linha de energia é representada por uma parábola e as tangentes dessa parábola
no início e no final da tubulação correspondem aos escoamentos uniformes da vazão
de montante (Qm) e vazão de jusante (Qj). O cálculo da vazão de distribuição (Qd), que
seria a vazão real em regime permanente gradualmente variado, pode ser feito a partir
da equação de perda de carga (PORTO, 2006):

∆H = KL (Qm - 0,45Qd)2

Em que ∆H é a perda de carga, K é o coeficiente de perda de carga localizada e


L é o comprimento do trecho.

A fim de facilitar os cálculos, é definida uma vazão fictícia ou vazão equivalente


(Qf) para representar a vazão hipoteticamente constante que percorre todo o trecho e
produz a mesma perda de carga verificada na distribuição em marcha; que seria igual a:

Qf = Qm - 0,5Qd

ou

Qf = Qm - 0,5qL

Figura 7 – Definição de vazão equivalente

Fonte: Porto (2006, p. 98)

152
6 CONDUTOS EQUIVALENTES
O conceito de condutos equivalentes é semelhante ao conceito aplicado no
método dos comprimentos equivalentes, explicado no item 4. Nesse conceito, um
conduto ou um sistema de condutos é equivalente a outro quando a perda de carga total
e a vazão são as mesmas. Esse conceito é aplicado para tornar mais fácil os cálculos
através da simplificação de sistemas complexos de tubulações.

6.1 CONDUTO EQUIVALENTE A OUTRO


Pelo conceito de equivalência para duas tubulações, as perdas de carga e as
vazões devem ser as mesmas (PORTO, 2006). Portanto:

∆H₁ = ∆H₂
e
Q₁ = Q₂

Se as duas tubulações apresentam comprimentos, diâmetros e rugosidades


diferentes, mas mesma perda de carga total e vazão iguais, podemos estabelecer,
usando a equação universal, que:

Se fosse utilizada a equação de Hazen-Williams no lugar da equação universal,


o comprimento do segundo conduto poderia ser calculado por:

Essas equações permitem, então, que seja determinado o comprimento de uma


segunda tubulação, equivalente à primeira (PORTO, 2006). Caso se conheça qual será
o comprimento da segunda tubulação, pode-se calcular por essas equações qual o
diâmetro necessário para que se mantenham as características do escoamento quanto
à perda de carga e quanto à vazão.

153
6.2 CONDUTO EQUIVALENTE A UM SISTEMA
Geralmente, um sistema de tubulações apresenta quatro principais formas de
disposição das tubulações: em série, em paralelo, com ramificações e, um caso mais
especial, em rede. O caso de redes de tubulações é especial porque apresenta maior
complexidade, isto é, para esse caso as tubulações geralmente possuem diâmetros
diferentes e são diferenciadas pela sua finalidade. Para tratar agora sobre o conceito de
equivalência entre conduto e sistema, serão abordados apenas os casos de tubulações
em série, em paralelo e com ramificações.

ESTUDOS FUTUROS
O caso especial de redes de tubulações será visto no Tópico 3.

Sistema em série: nesse tipo de sistema, as tubulações são dispostas em


sequência e uma mesma vazão percorre as tubulações. A perda de carga entre o início e
o final do sistema pode ser calculada pelo somatório das perdas de cada tubulação. Um
conduto equivalente a um sistema desse tipo pode ser determinado usando também a
equação de perda de carga universal (PORTO, 2006):

Como Q e a são sempre os mesmos, a quação pode ser simplificada para:

Pela fórmula de Hazen-Williams, e não pela equação universal, tem-se (PORTO,


2006):

Sistema em paralelo: esse tipo de sistema é mais complexo porque a vazão


é redistribuída nos trechos, sendo a soma das vazões nos trechos igual à vazão inicial.
A perda de carga nesse caso é encontrada pela diferença das cotas piezométricas na
entrada e na saída do sistema, assim a perda de carga é a mesma em todos os trechos.
A Figura 8 mostra um exemplo de uma rede em paralelo.

154
Figura 8 – Tubulações em paralelo

Fonte: Porto (2006, p. 104)

Para esses casos, a vazão em cada trecho pode ser calculada por:

Como a vazão total é dada pela soma das vazões em cada uma das tubulações e
a perda de carga é constante, o diâmetro ou o comprimento de um conduto equivalente
pode ser obtido por (PORTO, 2006):

Se for usada a equação de Hazen-Williams:

7 SISTEMAS RAMIFICADOS
Um sistema ramificado é aquele no qual ocorre variação da vazão por causa
da derivação da água em um ou mais trechos da tubulação. A maneira mais prática
e fácil de entender o tipo de raciocínio que se deve ter para esses casos é através da
demonstração de solução para dois casos muito típicos: quando há a tomada de água
entre dois reservatórios e quando há um sistema de três reservatórios interligados
(PORTO, 2006; GOMES, 2009).

155
7.1 TOMADA DE ÁGUA ENTRE DOIS RESERVATÓRIOS
Em um caso como o mostrado na Figura 9, os reservatórios R1 e R2 estão
interligados por uma tubulação (ABC) com trechos de diferentes diâmetros e
comprimentos, D1, D2, e L1 e L2, respectivamente, conectados no ponto B em que ocorre
uma tomada de água de vazão Qb (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

1ª situação: se Qb = 0, então os dois trechos funcionarão como se fossem


dois condutos em série, e a vazão que sai de R1 chegará integralmente em R2. A linha
piezométrica nesse caso será a linha LB1M, e a perda de carga é determinada pela
diferença entre as cotas nos reservatórios (diferença entre Z1 - Z2) (PORTO, 2006;
AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Figura 9 – Disposição das cotas piezométricas

Fonte: Porto (2006, p. 106)

2ª situação: se Qb > 0, então a linha piezométrica diminui devido à perda


de carga no ponto B e à redução da vazão que chega em R2. Se Qb for aumentando
gradualmente, a linha piezométrica diminuirá até que em um certo momento a linha
será horizontal (B3M) e, então, a vazão no trecho entre o ponto B e R2 será nula. Nesse
caso, a vazão Qb poderá ser calculada pela mesma fórmula universal mostrada antes,
sendo a perda de carga ∆H igual a Z1 – Z2, já que a cota em B é a mesma do reservatório
R2 (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

156
3ª situação: se Qb continuar aumentando de maneira que a cota piezomética
em B seja menor do que em ambos os reservatórios, então Qb = Q1 + Q2, ou seja, será
igual ao somatório da vazão recebida pelos dois reservatórios, R1 e R2 (PORTO, 2006;
AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

7.2 TRÊS RESERVATÓRIOS INTERLIGADOS


No caso como o mostrado na Figura 10, em que os reservatórios são mantidos
em níveis constantes e conhecidos e as tubulações apresentam comprimentos e
diâmetros conhecidos também, a principal questão é determinar as vazões nos três
condutos estando na condição de regime permanente (sistema em equilíbrio) (PORTO,
2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Figura 10 – Problema dos três reservatórios

Fonte: Porto (2006, p. 107)

Para determinar as vazões, primeiramente se determina qual a cota piezométrica


no ponto B. Pela topografia do problema apresentado, é possível saber que R1 sempre
será abastecedor e R3 abastecido (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Uma forma de resolver esse problema seria fixando inicialmente um valor para
a cota piezométrica em B igual ao nível do reservatório intermediário, X= Z2. Desse
modo, Q2= 0 e pelas equações determinam-se Q1 e Q3. Se Q1= Q3, o problema está
resolvido. Se Q1>Q3, deve-se aumentar a cota piezométrica em B, de modo a diminuir Q1
e aumentar Q3 e Q2. Se Q1<Q3, deve-se diminuir a cota piezométrica em B, de modo a
aumentar Q1 e Q2 e diminuir Q3. A variação da cota piezométrica em B, em um sentido

157
ou outro (aumentando ou diminuindo), prossegue até que a equação da continuidade
no ponto de derivação seja satisfeita, ou seja, Q1= Q2+Q3 ou Q3= Q1+Q2 (PORTO, 2006;
AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Esse tipo de procedimento pode ser utilizado para resolver problemas


semelhantes a esse, como na ligação de quatro reservatórios através de duas junções
distintas. Fixando-se a cota piezométrica na junção mais próxima ao reservatório de
cota mais elevada, determinam-se as vazões dos reservatórios mais próximos. Com
estes valores e a equação da continuidade, a cota piezométrica da segunda junção pode
ser determinada. Se as condições de continuidade não foram satisfeitas na segunda
junção, um novo valor da cota piezométrica na primeira junção é adotado e o processo
repetido (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

158
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Que as perdas de carga em tubulações podem ser divididas em perdas de carga


distribuídas e perdas de carga localizadas. As primeiras são ocasionadas pela
resistência ao escoamento, causadas pela própria movimentação do fluido ao longo
das tubulações, assim como as localizadas por acessórios hidráulicos, dispositivos
ou outras singularidades nos condutos.

• Que o coeficiente de perda de carga (K) é determinado experimentalmente, e seu


valor varia conforme o diâmetro da peça ou dispositivo.

• Que o método dos comprimentos equivalentes consiste em uma analogia para


simplificação de cálculos, em que as perdas de carga localizadas na tubulação são
representadas por comprimento de tubulação, de forma que esse comprimento
fictício gere perda de carga distribuída de mesmo valor que pelo acessório, para a
condição de mesma vazão.

• Que no método de condutos equivalentes, um conduto pode ser dito equivalente


a outro conduto ou a um sistema de condutos quando a perda de carga total e a
vazão são as mesmas. Esse conceito é usado para tornar mais fácil os cálculos
através da simplificação de sistemas complexos de tubulações.

159
AUTOATIVIDADE
1 O transporte de água em tubulações é afetado pelas forças de atrito interno devido
à aderência das lâminas do fluido (viscosidade) e pela rugosidade da tubulação
(aderência sólido-líquido). O atrito interno implica em perda de carga, que é a
diminuição da energia disponível para o escoamento. Além do atrito interno causado
pelas próprias paredes da tubulação, acessórios hidráulicos quando adicionados à
tubulação, aumenta a perda de carga, só que de maneira pontual. Ao serem adicionados
acessórios, tais como curvas, válvulas e registros, a uniformidade do escoamento é
perturbada. Sobre a perda de carga em tubulações, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Em um escoamento do tipo laminar, a perda de carga distribuída (ou contínua) é


ocasionada pelo atrito externo, ou seja, devido ao choque do fluido transportado
com as paredes da tubulação.
b) ( ) Para a condição de escoamento turbulento, a perda de carga é resultado da
resistência causada pelas forças tanto de atrito interno quanto da inércia.
c) ( ) Valores padrões para o coeficiente K são facilmente encontrados a partir de
ensaios laboratoriais, pois são determinados por tipo de peça, não importando o
fabricante.
d) ( ) Quando se trata de uma rede longa, as perdas localizadas tornam-se mais
significativas, enquanto para redes menores as perdas localizadas às vezes
podem ser desconsideradas.

2 Para facilitar os cálculos, geralmente são admitidas simplificações ou são empregados


métodos de simplificação de base teórica. Como exemplo de tais situações podemos
citar o caso em que a carga cinética em um escoamento pode ser admitida como
desprezível para fins de simplificação dos cálculos, e métodos de simplificação
como o método dos comprimentos equivalentes e dos condutos equivalentes. Com
base nas definições para os métodos de comprimentos equivalentes e de condutos
equivalentes, analise as sentenças a seguir:

I- As perdas contínuas na rede de escoamento são geralmente expressas em termos


de comprimentos de tubulação equivalentes.
II- O método dos comprimentos equivalentes é utilizado para simplificar os cálculos
através da representação da perda de carga gerada por cada acessório adicionado
à tubulação por um comprimento de tubulação de mesmo diâmetro, que resulte na
mesma perda de carga quando a vazão também é a mesma.
III- Quando se é usado o método de contudo equivalente para a simplificação de
cálculos de um sistema de tubulações em paralelo, a vazão total do conduto será
igual ao somatório das vazões de cada tubulação e a perda de carga será constante.

160
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 O coeficiente K é dito coeficiente de perda de carga, e nele estão incluídas as


características inerentes da peça acessório, sua rugosidade interna etc., sendo
um coeficiente específico para o tipo de peça. Como sua determinação é feita
experimentalmente, seu valor reflete também as condições em que são realizados
os ensaios, como o modo de fixação da peça e as condições de pressão e vazão
nos ensaios. Devido a tantas variáveis, a padronização dos valores de K é bastante
complexa, tendo em vista que para cada peça existe uma grande variedade de
modelos. Considerando que para algumas singularidades foram obtidas equações
que permitem calcular o valor do coeficiente K, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) O valor do coeficiente K para uma válvula do tipo registro depende do grau de


fechamento.
( ) Os valores de K para curvas e cotovelos podem ser determinados de acordo com o
ângulo α.
( ) Nos casos de saídas ou entradas de reservatórios em que haja bocais que produzam
alagamento ou contração gradual do escoamento, a perda de carga é função da
geometria, do ângulo de abertura (de alagamento ou de contração) e da relação das
áreas ou diâmetros das seções.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - V - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 No dimensionamento hidráulico de sistemas de abastecimento de água, os


problemas geralmente são relacionados à determinação do diâmetro mais adequado
para a tubulação, das cargas piezométricas, das perdas de carga e da vazão de
dimensionamento. Considerando a importância da determinação do diâmetro para
esses sistemas, determine o diâmetro de uma tubulação de aço usada (C=90), que
veicula uma vazão de 250 l/s com uma perda de carga de 1,70 m por 100 m. Calcule
também a velocidade.

5 Para dimensionamento de adutoras em sistemas de abastecimento, parâmetros como


perda de carga unitária e perda de carga localizada trazem informações importantes
sobre as condições desfavoráveis ao escoamento. No planejamento de uma adutora,

161
uma das informações primordiais é a vazão inicial para a qual a adutora deverá ser
dimensionada. Para o caso de dimensionamento de uma adutora com diâmetro igual
a 0,20m, vazão de 25 l/s e perda de carga unitária igual a 0,0073 m/m, verifique qual
seria a vazão inicial a ser transportada nessa tubulação, considerando K= 5,79 (tubos
de ferro fundido).

162
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
ADUTORAS E ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS

1 INTRODUÇÃO
Um sistema de distribuição de água é geralmente composto por tubulações,
acessórios, reservatórios, casa de bombas etc., que têm o propósito de fornecer água
conforme os padrões exigidos de qualidade da água e de quantidade em vazão e pressão
adequadas a cada um dos diferentes locais de consumo de uma cidade ou setor de
abastecimento (PORTO, 2006).

As adutoras constituem a parte de um sistema de abastecimento que transporta


a água captada até aos reservatórios de distribuição. Nas adutoras inclui-se também as
estações elevatórias, que são a parte do sistema responsável pela adição de carga ao
sistema através do uso de mecanismos de bombeamento.

As tubulações da adutora podem ser muito extensas, no caso de pontos de


captação distantes das estações de tratamento da água (ETAs), o que faz com que
o custo das adutoras possa ser elevado. Não é devido apenas ao comprimento, mas
de que material é feita a tubulação, as condições topográficas e o tipo de terreno (se
acidentado, com pedras, alagadiço e outras condições), se são necessários muitos
dispositivos de proteção etc., é o que torna o dimensionamento e projeto adequados das
adutoras uma etapa extremamente importante do ponto de vista econômico-financeiro.

Devido a sua importância, neste Tópico 2 abordaremos a classificação, o traçado


e o dimensionamento hidráulico de adutoras, bem como os principais dispositivos de
proteção aplicados. Posteriormente, será abordado também sobre os componentes e os
aspectos de projeto de estações elevatórias em sistemas de abastecimento.

2 CLASSIFICAÇÃO, TRAÇADO E DIMENSIONAMENTO


HIDRÁULICO PARA ADUTORAS
De acordo com Tsutiya (2006, p. 155), “adutoras são canalizações dos sistemas
de abastecimento de água que conduzem água para as unidades que precedem a rede
de distribuição”. Essas canalizações fazem a ligação entre as unidades de captação, de
tratamento da água e com os reservatórios do sistema de abastecimento. Por vezes,
é necessário que a canalização da adutora principal tenha ramificações, chamadas de
subadutoras, para conduzir a água para outros pontos do sistema de abastecimento.

163
2.1 CLASSIFICAÇÃO
A classificação das adutoras é de acordo com a natureza da água transportada
ou de acordo com a energia para o escoamento. São partes muito importantes em um
sistema de abastecimento, sendo por isso necessária uma atenção maior na etapa de
planejamento e implantação (TSUTIYA, 2006).

Quanto à natureza da água transportada, as adutoras podem ser classificadas


em adutoras de água bruta (aquelas que transportam água sem tratamento) e em
adutoras de água tratada. Com relação à energia para o escoamento, as adutoras são
classificadas em adutoras por gravidade, por recalque ou mistas.

As adutoras por gravidade são aquelas nas quais o escoamento ocorre sem a
necessidade de energia adicional para o escoamento (por bombeamento, em estações
elevatórias). As adutoras por gravidade podem ter o escoamento ocorrendo por
condutos forçados (quando o escoamento é com pressão maior que a da gravidade)
ou por conduto livre (quando a pressão no escoamento é igual à atmosférica).

Adutoras por recalque são aquelas em que o transporte para um ponto de cota
mais alta é feito através de estações elevatórias. As adutoras mistas são aquelas em
que o transporte de água pode se dar em parte por gravidade em parte por recalque
(Figura 11).

Figura 11 – Adutora mista com trecho por recalque e trecho por gravidade

Fonte: Tsutiya (2006, p. 157)

Após a concepção do projeto de um sistema de abastecimento, que inclui


entre outras coisas a caracterização da área de estudo, do levantamento de planos
de abastecimento existentes, da demanda da população e do pré-dimensionamento
das unidades do sistema, para o dimensionamento correto da vazão nas adutoras é
necessário estudar e analisar também o horizonte do projeto, a vazão e adução e o
período de funcionamento da adutora.

164
Horizonte de projeto: o horizonte de projeto é o período de tempo estimado
para que o objeto do projeto, nesse caso o sistema de abastecimento, esteja em
operação. Para determinar adequadamente esse período de tempo, alguns fatores
devem ser considerados, tais como a vida útil da obra, a evolução da demanda de água,
o custo da obra, a flexibilidade de ampliação do sistema e o custo de energia elétrica.
Geralmente é utilizado um horizonte de projeto entre 20 e 50 anos (TSUTIYA, 2006).

Vazão de adução: a vazão de adução é determinada conforme a demanda da


população a ser abastecida. Para isso, considera-se o total de habitantes, o consumo
per capita dessa população, dos coeficientes de variação das vazões de abastecimento
e do tempo de operação diária da adutora. Geralmente são monitoradas as oscilações
de consumo mensal, diária, horária e instantânea.

Em um sistema público de abastecimento a vazão demandada e a


consumida variam continuamente em função da época do ano, dia
da semana, hora do dia, condições climáticas, hábitos da população,
da capacidade de produção, transporte, tarifa etc. (AZEVEDO NETTO;
FERNÁNDEZ, 2015, p. 416).

Normalmente, o que ocorre, é que, no período diurno, a vazão de demanda e


consumo varia bastante e apresenta maiores valores próximo ao meio-dia. De noite a
vazão de demanda cai abaixo da média, com valores mínimos geralmente no começo
da madrugada. Para representar as oscilações que essas variações causam na vazão
média de adução foram estabelecidos os coeficientes k1 e k2. O coeficiente k1 é dito o
coeficiente do dia de maior consumo e é a referência numérica da relação entre o valor
do consumo máximo diário ocorrido em um ano e a média do consumo desse mesmo
ano. k2 é chamado de coeficiente da hora de maior consumo e, portanto, refere-se à
relação entre a maior vazão horária e a vazão média do dia de maior consumo (TSUTIYA,
2006; GOMES, 2009).

As vazões de adução a serem determinadas são as indicadas na Figura 12.


A vazão da adutora de água bruta (Qa) é a vazão de transporte da água do ponto de
captação – superficial (rios, lagos e outros) e subterrânea (aquíferos) – até a estação
de tratamento de água (ETA). Também há a vazão em que ocorre o transporte de água
entre a ETA e os reservatórios de distribuição (Qb); e a vazão que liga o reservatório de
distribuição à rede de abastecimento (Qc) (TSUTIYA, 2006).

Figura 12 – Vazões a serem veiculadas nas adutoras

Fonte: Tsutiya (2006, p. 158)

165
As variações de demanda do sistema de abastecimento são um dos motivos
de se ter os reservatórios, pois estes auxiliam na regulação da vazão nos períodos de
oscilações de demanda. Em princípio, os reservatórios se enchem no período noturno de
menor consumo, e esvaziam nas horas diurnas em que geralmente há maior consumo.
Como não é viável dimensionar o sistema considerando a vazão na hora de maior
consumo, devido ao alto custo, a alternativa mais viável tem sido geralmente utilizar-se
dos reservatórios para fazer essa regulação da vazão.

Além disso, não seria rentável instalar reservatórios muito grandes para a
regulação dessa variação dos dias de maior consumo, visto que isso tornaria o projeto
muito oneroso. Por isso, o que se tem feito geralmente é dividir a parte de adução
do sistema em “produção e transporte”, que corresponde a captação e tratamento, e
deveria ter vazão dimensionada usando apenas o coeficiente k1, da parte da rede de
distribuição, que deve ter vazão dimensionada não só para o dia de maior consumo,
mas também para a hora de maior consumo, então, usando ambos os coeficientes k1 e
k2 (TSUTIYA, 2006; GOMES, 2009).

As vazões de adução podem ser calculadas a partir das seguintes equações:

Em que:
P = população a ser atendida (total de habitantes);
q = consumo médio per capita incluindo as perdas de água (l/habitantes/dia);
k1 = coeficiente do dia de maior consumo;
k2 = coeficiente da hora de maior consumo;
Qe = vazão de consumo específico (l/s);
Ceta = consumo na ETA.

Período de funcionamento: as aduções por gravidade podem até operar por


24h/dia, mas isso geralmente não ocorre em aduções por recalque. Devido a períodos de
manutenção de equipamentos, falta de energia elétrica e outras situações, em sistemas
por recalque o bombeamento diário é geralmente de 16 a 20h por dia. O período de
funcionamento do sistema pode ser determinado considerando também o “horário de
ponta” da rede elétrica, que corresponde a 3h consecutivas de pico de consumo no dia
(geralmente das 18h às 21h). Ao final, a seleção do período do funcionamento é também
em função do dimensionamento hidráulico do sistema.

166
2.2 TRAÇADO
Após ser definida a posição em planta das diferentes unidades do sistema de
abastecimento, deverá ser estudado o traçado da adutora. Geralmente o traçado é
função da topografia do local, mas outras coisas também devem ser consideradas para
a definição do traçado: localização e perfil da adutora, os efeitos da linha piezométrica,
do plano de carga e as áreas de desapropriação para implantação da adutora.

Para falar sobre o traçado de uma adutora, deve-se ter em mente as definições
quanto às referências para os planos de carga e as linhas de energia do sistema
hidráulico. Ambos, linhas ou planos, podem ser de referência absoluta ou efetiva. É
dito efetivo quando o plano (PE) ou a linha (LE) consideram o nível de montante como
referência; e dito plano e linha absoluto (PA e LA) quando além disso consideram a
pressão atmosférica. Alguns exemplos de situações de posicionamento das adutoras
com relação às linhas e aos planos são apresentados na Tabela 9.

Tabela 9 – Posicionamento de adutora com relação às linhas piezométricas e aos planos de carga

Fonte: adaptada de Tsutiya (2006, p.164-166)

167
No caso 1, como a adutora está totalmente abaixo da linha de carga efetiva, a
adutora está sempre sob pressão positiva, e a perda de carga total é igual ao desnível
geométrico (diferença entre as cotas das superfícies livres dos reservatórios). Na
prática, é recomendado que as adutoras sejam instaladas conforme os casos 1 e 2,
pois nos demais casos, ao cortarem a linha piezométrica efetiva, as tubulações não
transportam em condições satisfatórias. No caso 3, por exemplo, o acúmulo de ar no
trecho AB dificultará o escoamento, e a instalação de ventosas (acessório para remoção
de ar) não é recomendada, pois pela posição facilitaria a entrada de mais ar na tubulação
(TSUTIYA, 2006).

De acordo com Tsutiya (2006), algumas recomendações para o traçado devem


ser consideradas no planejamento, tais como:

• evitar terrenos rochosos, alagadiços, com baixa resistência, ou com outras


características que dificultariam a instalação e operação;
• os trechos devem ter declividade ascendente ≥ 0,2% e descendentes ≥ 0,3%, mesmo
em terrenos planos. Não se deve ter declividade próximo a zero, sendo preferível
sempre perfis ascendentes ou descendentes;
• se algum trecho tiver inclinação ≥ 25% é necessário instalar blocos de ancoragem
para estabilizar os condutos;
• recomenda-se, se for o caso de trechos ascendentes longos de baixa declividade,
que sejam seguidos por trechos descendentes curtos de maior declividade;
• em regime permanente, a linha piezométrica deve estar sempre acima da geratriz
superior da tubulação;
• evitar o quanto for possível fundos de vale, por requererem obras para a travessia;
• evitar áreas que requerem desapropriação de terras ou da faixa de utilização.

2.3 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO


Adutora por gravidade: o dimensionamento hidráulico para adutoras por
gravidade envolve principalmente a escolha mais viável técnica e financeiramente para
o projeto do diâmetro da tubulação. Isto porque normalmente o custo da tubulação
e seu assentamento alteram significativamente com o diâmetro escolhido; o que não
ocorre com os custos de operação e manutenção da adutora (TSUTIYA, 2006; GOMES,
2009).

A escolha mais adequada do diâmetro para adutora por gravidade, do ponto


de vista econômico, é buscando o proveito máximo da seção da tubulação e da altura
geométrica disponível. Para o caso de adutora por gravidade em conduto forçado,
conhecendo a diferença entre as cotas dos níveis de água no ponto mais alto e no
ponto mais baixo, é possível já saber a perda de carga total ∆H. Geralmente a vazão para
a tubulação já é conhecida e, ao usar a fórmula universal e a equação da continuidade

168
ou da perda de carga unitária (apresentadas a seguir), pode ser determinado o diâmetro
da tubulação – desde que sejam fixadas a perda de carga unitária (J) ou a velocidade (V)
–, sendo necessário verificar se o diâmetro é aceitável (TSUTIYA, 2006).

O estudo sobre a velocidade do escoamento é imprescindível, visto que


pequenas velocidades podem favorecer a deposição de materiais sedimentáveis e
dificultam a remoção hidráulica de ar na tubulação (TSITIYA, 2006). Em contrapartida,
altas velocidades de escoamento acarretam maior perda de carga e podem ocasionar
alguns problemas. Dentre os problemas podemos citar o surgimento de transientes
hidráulicos, ou também chamado golpe de aríete (Tópico 4 desta unidade). Normalmente
é recomendado adotar 0,5 m/s como um valor mínimo de velocidade, que garantirá que
não favoreça a deposição de sedimentos na tubulação.

A determinação da velocidade máxima depende de mais fatores do que a


velocidade mínima. Dentre os fatores a serem considerados estão a condição econômica
do projeto, a possibilidade de ocorrência de efeitos dinâmicos nocivos (tal como sobre
pressões na rede), as limitações quanto à da perda de carga, o desgaste que a adoção
de uma velocidade muito grande pode causar na tubulação e nos acessórios hidráulicos
e os problemas de controle da corrosão e de ruídos desagradáveis que possam ocorrer.
Normalmente, devido aos aspectos técnicos e econômicos, tem-se recomendado a
adoção de velocidade máxima por volta de 3 m/s (TSUTIYA, 2006).

ESTUDOS FUTUROS
Você vai aprender mais adiante sobre o que são os transientes hidráulicos,
no Tópico 4 desta Unidade 3.

Adutora por recalque: para o dimensionamento hidráulico da adutora por


recalque, geralmente são conhecidos os valores de vazão, comprimento da adutora,
desnível a ser vencido (Hg) e o material da tubulação. A dificuldade na determinação do
diâmetro da adutora está no fato de ser um problema indeterminado. Para uma mesma
vazão, ao diminuir o diâmetro da tubulação, aumenta-se a potência do equipamento de
recalque e vice-versa. A escolha do diâmetro é então feita geralmente considerando o
custo de implantação, operação e manutenção do sistema elevatório. As velocidades
adotadas têm sido entre 1,0 e 1,5 m/s (TSUTIYA, 2006; PORTO, 2006).

169
Para determinar esse diâmetro econômico recomenda-se utilizar a fórmula de
Bresse para o pré-dimensionamento, utilizando, no mínimo, os valores de K de 0,9, 1,0,
1,1, 1,2:

Em que D é o diâmetro (m), Q é a vazão (m³/s) e K o coeficiente de Bresse. O valor


desse coeficiente é em função da velocidade (TSUTIYA, 2006; PORTO, 2006):

Para a escolha do material da tubulação deve-se levar em consideração a


qualidade e a quantidade de água que será transportada, a pressão da água e a economia
pretendida. Além disso, devem ser consideradas as características do local de instalação,
a disponibilidade do material, bem como suas propriedades às pressões externas (peso
da terra, carga do tráfego) e o método que será usado para o assentamento dessa
tubulação (TSUTIYA, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Os principais materiais usados na fabricação de tubulações são os tubos


metálicos (aço, ferro fundido dúctil e ferro fundido cinzento) e não metálicos (PVC,
poliéster reforçado com fibra de vidro e concreto protendido). Para as adutoras, os
mais utilizados hoje em dia no Brasil são o aço, o ferro dúctil e o concreto protendido
(TSUTIYA, 2006; GOMES, 2009).

3 DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO PARA ADUTORAS


Os dispositivos de proteção de adutoras mais utilizados são: blocos de
ancoragem, proteção contra corrosão e proteção contra os transitórios hidráulicos.
Estes últimos serão discutidos no Tópico 4 desta unidade.

3.1 BLOCOS DE ANCORAGEM


O peso da própria tubulação e de seus acessórios, aliado aos esforços que podem
ser gerados pelo escoamento, podem causar grandes pressões sobre as estruturas. Para
proteger os condutos, são usadas estruturas para absorver e/ou transferir o excesso
de esforços como os que ocorrem, por exemplo, em curvas e válvulas. Os blocos de
ancoragem são estruturas utilizadas para esse tipo de proteção, absorvendo a força
resultante dos vetores de esforços internos e externos não anulados, transferindo-a
para o solo (TSUTIYA, 2006).

170
Além disso, há a necessidade do uso dos blocos de ancoragem quando a
inclinação da tubulação torna insuficiente as forças de atrito entre tubulação e o terreno
que mantém a tubulação assentada em equilíbrio. Na prática, os blocos de ancoragem
são dimensionados considerando o atrito e a resistência de apoio sobre o terreno
(TSUTIYA, 2006).

São diversos os tipos de aplicações desses blocos, que são usados em casos
de mudanças de direção, redução do diâmetro ou em fins de tubulação, sempre que os
esforços foram muito grandes. A seguir são apresentados alguns exemplos de blocos
de ancoragem para diferentes situações em que estes podem ser usados (Tabela 10).

Tabela 10 – Exemplos de uso de blocos de ancoragem em desenhos e em fotos

Fonte: adaptada de https://bit.ly/3S8ZUEp; https://bit.ly/3eGZRBR. Acesso em: 28 set. 2022.

3.2 PROTEÇÃO CONTRA CORROSÃO


Tsutiya (2006, p. 198) define a corrosão “como a deterioração de um material,
geralmente metálico, por ação química ou eletroquímica, aliada ou não a esforços
mecânicos” e afirma que “todo o material enterrado ou submerso, tais como tubulações
de abastecimento e tanques de armazenamento, são passíveis de corrosão”. A corrosão
se processa através de reações eletroquímicas com o meio, resultando na deterioração
do metal.

171
Os principais tipos de corrosão normalmente observados são a corrosão
galvânica, corrosão em frestas, corrosão atmosférica, corrosão pelo solo, corrosão
pela água, corrosão eletrolítica, além de outros. Pela aparência da superfície corroída é
possível identificar a forma de corrosão que ocorreu, sendo as principais formas: uniforme,
por placas, alveolar, por pite, intergranular e corrosão transgranular. A velocidade de
desgaste do material indica a taxa de corrosão, que é importante para saber a vida útil
do bem material que se quer proteger (TSUTIYA, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁDEZ,
2015).

Como muitas peças e acessórios hidráulicos, além da própria tubulação, podem


ser de material metálico, foram desenvolvidas técnicas para a proteção nos sistemas
hidráulicos. Dentre as técnicas, a corrosão catódica tem sido amplamente aplicada.
Atualmente, dois métodos são muito usados: por corrente impressa ou galvânica.

Corrente impressa: por esse método, uma corrente elétrica é injetada na


tubulação através de um retificador, bateria, ou gerador, para gerar uma diferença
de potencial entre o leito de anôdos e a estrutura a ser protegida. A vantagem desse
método é que permite que a injeção de corrente seja de maior intensidade e regulada.
Essa técnica é indicada para grandes adutoras e sistemas de longa extensão.

Corrente galvânica: por esse método, a diferença de potencial entre o bem


metálico a ser protegido e o anôdo galvânico, ou “metal de sacrifício”, é o que gera a
corrente elétrica de proteção. Como a corrente gerada em sua maioria das vezes é muito
pequena, é necessário que a resistência final do circuito seja muito baixa. Por isso, essa
técnica não é recomendada a eletrólitos de baixa resistividade elétrica. Também não
se recomenda a aplicação de corrente galvânica em estruturas que estejam sujeitas a
fortes correntes de interferência (TSUTIYA, 2006).

A Figura 13 mostra um exemplo de proteção catódica galvânica e o esquema de


proteção catódica por corrente impressa:

Figura 13 – (A) Esquema simplificado de uma proteção catódica galvânica e de (B) um sistema por corrente
impressa

Fonte: Tsutiya (2006, p. 200)

172
4 COMPONENTES E PROJETO DE ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS
DE ÁGUA
Estações elevatórias fazem parte de um sistema de abastecimento. São utilizadas
tanto na captação, adução e tratamento quanto na distribuição de água (TSUTIYA,
2006). Essas estações servem para transportar uma certa vazão de um reservatório
inferior para um em cota superior. Geralmente, para os sistemas de abastecimento,
esses reservatórios são abertos e com níveis constantes, permitindo que o escoamento
seja tratado como permanente (PORTO, 2006).

Um sistema de recalque ou elevatório é normalmente composto de três partes


principais (PORTO, 2006):

• tubulação de sucção: formada pela tubulação que liga o reservatório inferior à bomba.
Estão incluídas na tubulação de sucção todas as peças e acessórios necessários,
tais como registros, válvulas, curvas etc.;
• conjunto elevatório: inclui as bombas e os respectivos motores (elétricos ou de
combustão interna);
• tubulação de recalque: é constituída da tubulação que liga a bomba ao reservatório
superior, incluindo também todas as peças e os acessórios necessários para isso.

No conjunto elevatório, a bomba pode ser instalada com seu eixo abaixo da cota
do reservatório inferior, dito bomba afogada, ou ser instalada com a cota do eixo da
bomba acima da cota do nível d’água do reservatório inferior. Nesse caso dizemos que
é um caso de bomba não afogada (PORTO, 2006).

Devido aos novos tipos de bombas de largas faixas de capacidade, às tubulações


atualmente mais resistentes a altas pressões e à maior disponibilidade de energia
elétrica, as estações elevatórias têm sido cada vez mais usadas para resolver diversos
tipos de problemas de transporte de água. O contraponto disso é o aumento que tem
causado no custo da energia elétrica, que é um dos principais custos operacionais das
prestadoras de serviços de saneamento básico (TSUTIYA, 2006).

Os principais componentes de uma estação elevatória geralmente são: bombas


e motores, tubulações de sucção, de barrilete e de recalque, poço de sucção e casa de
bomba.

4.1 BOMBAS
As bombas podem ser divididas em bombas cinéticas e bombas de deslocamento
direto (TSUTIYA, 2006). A Figura 14 mostra as principais classificações de bombas.

173
Figura 14 – Classificação das bombas cinéticas e de deslocamento positivo

Fonte: adaptada de Tsutiya (2006, p. 226-227)

Bombas cinéticas: as bombas cinéticas trabalham adicionando energia


cinética ao líquido, que é parcialmente transformada em pressão no entorno das pás do
“rotor” e na carcaça (parte fixa da bomba).

Bombas de deslocamento positivo: essas bombas de deslocamento positivo


são chamadas também de volumétricas ou estáticas. O trabalho dessas bombas se
dá pelo deslocamento do fluido bombeado através do deslocamento de seu elemento
móvel. O bombeamento então é função das dimensões do elemento móvel da bomba,
sua geometria e o tempo de deslocamento contra uma pressão que é determinada
pelas alturas de recalque e sucção (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015). As bombas
do tipo pistão são compostas por êmbolo (pistão), cilindro, válvulas de entrada e de
saída e mecanismo de acionamento. Nessas bombas o vácuo parcial faz com que a
água seja sugada e a pressão atmosférica no poço force a água a encher o cilindro,
passando pelo tubo de sucção através da válvula de entrada. Quando o êmbolo muda
de direção, a válvula de entrada se fecha e a de saída se abre e, então, a água é forçada
a sair na tubulação de recalque (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015). As bombas
de deslocamento do tipo rotativas fazem o deslocamento do fluido, a princípio, pela
passagem deste entre as paletas ou dentes da entrada para a saída. Essas bombas
geralmente atingem pressões menores do que as do tipo volumétricas, por apesentarem
mais folgas mecânicas entre os elementos móveis e estacionários.

Sabe-se que as bombas de deslocamento positivo, “as de pistão” são mais


indicadas para pressões extremas e vazões mínimas, e as rotativas para pressões
médias e pequenas vazões, particularmente para movimentar óleos, pois a lubrificação
das partes internas é indispensável (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

174
DICA
Para saber mais detalhes sobre as bombas centrífugas (as mais aplicadas
em sistemas de abastecimento) leia o item A-11.5 Bombas Centrífugas (p.
270-284), do livro Manual de hidráulica. 9 ed. de Azevedo Netto e Fernádez,
disponível em: file:///C:/Users/01844524060/Downloads/Manual%20
de%20Hidr%C3%A1ulica%209a%20edi%C3%A7%C3%A3o%20
Edit%C3%A1vel.pdf.

4.1.1 Conceitos pertinentes


Altura manométrica e altura total de elevação total

Em uma bomba, a energia transferida ao fluido por unidade de vazão é chamada


de pressão manométrica. Ela é a diferença entre as cotas das linhas piezométricas de
recalque e de sucção da bomba. Geralmente essa pressão manométrica é referenciada
em termos de altura (H) do fluido bombeado (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015;
PORTO, 2006).

Já a altura total de elevação é dada pela diferença entre as linhas de carga


(lugar geométrico de representação das três cargas: a de velocidade, a de pressão e
a de posição) de recalque menos a de sucção (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015;
PORTO, 2006).

Para o caso de as tubulações de recalque e de sucção terem o mesmo diâmetro,


a altura total de elevação será igual à altura manométrica total, podendo ser calculada
por:

Em que:

: é a altura manométrica total, diferencial entre as cargas de pressão relativas


na saída e na entrada da bomba;
: é a carga cinética na tubulação de recalque;
: é a carga cinética na tubulação de sucção.

Entretanto, o que se observa na prática é a tubulação de sucção ser de um


diâmetro comercial imediatamente superior ao da tubulação de recalque, a fim de
diminuir as perdas de carga e a velocidade. Assim, a seguinte equação permite calcular
a altura total de elevação e, com isso, a potência de bombeamento necessária.

175
Em que:

Hg: é a altura geométrica ou altura estática total, dada pela diferença entre os
níveis de água dos reservatórios;
∆Hs: é a perda de carga total, distribuída e localizada, na tubulação de sucção;
∆Hr: é a perda de carga total, distribuída e localizada, na tubulação de recalque.

Potência do conjunto elevatório

Considerando potência total (consumida ou fornecida) como a energia total por


unidade de tempo, tem-se:

Em que Emaq é a energia total fornecida ou consumida, γQ é a vazão em peso,


emáq é a energia fornecida pela bomba e Hs - He é a altura total da bomba (ou diferença
entre as cargas de saída e entrada da bomba). Como η correponde ao rendimento global
da bomba, a equação de potência para bombas pode ser expressa como:

Como a água tem peso específico igual a 9,8.103 N/m³, a equação anterior pode
ser expressa como:

Sendo H igual à altura total da bomba (igual a Hs - He ).

Normalmente a unidade de potência, principalmente quando se trata de


bombas, é o cavalo-vapor (cv), que tem equivalência com kW igual a 1kW = 1,36 cv.

Para se conhecer a potência elétrica fornecida pelo motor que aciona a bomba,
podemos usar a seguinte equação, para a qual ηm é o rendimento global do motor que
aciona a bomba:

176
NPSH

A sigla NPSH (em inglês, Net Positive Suction Head), é a energia disponível
no líquido na entrada da bomba, e é usada universalmente para representar a energia
disponível na sucção, ou seja, a carga positiva e efetiva na sucção (AZEVEDO NETTO;
FERNÁNDEZ, 2015).

Existem dois tipos de NPSH que devem ser considerados: NPSH disponível e
NPSH requerido. A NPSH disponível é uma característica das instalações de sucção,
sendo a energia disponível para que o líquido consiga alcançar as pás do rotor (PORTO,
2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁDEZ, 2015). A NPSH disponível pode ser calculado por:

+H: altura de água na sucção para bomba afogada;


-H: altura de água na sucção para bomba afogada;
Pa: pressão atmosférica no local (por altitude);
Pv: pressão de vapor;
γ: peso específico (1,0);
hf: soma das perdas de carga na sucção.

A NPSH requerida é uma característica da bomba, definida como “a energia


requerida pelo líquido para chegar, a partir do flange de sucção e vencendo as perdas
de carga dentro da bomba, ao ponto onde ganhará energia e será recalcado” (PORTO,
2006, p. 154). A NPSH da bomba é fornecida pelo fabricante e depende dos elementos
de projeto da bomba, sendo fornecido geralmente na forma de curva em função da
vazão (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Para que o sistema elevatório funcione adequadamente, deve-se seguir a


condição NPSHdisponível ≥ NPSHrequerido (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ,
2015).

Operação em paralelo e em série

Se duas bombas iguais são instaladas em paralelo para aumentar a vazão


bombeada para uma tubulação, então é possível admitir que será obtida a mesma altura
manométrica ao somar a vazão das unidades instaladas. Para o caso de serem usadas
bombas com capacidades diferentes, elas funcionarão satisfatoriamente em paralelo
apenas se tiverem características semelhantes (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

É bem comum os casos de bombas operando em paralelo contra uma mesma


tubulação quando a vazão bombeada não é constante. Para esses casos a altura
geométrica é geralmente a mesma independentemente da vazão. Além disso, é comum

177
ligarem as bombas a uma única tubulação, pois é mais menos viável economicamente
instalar dois tubos em paralelo do que uma única tubulação com diâmetro equivalente
(AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015; TSUTIYA, 2006).

Para o caso de bombas iguais instaladas em série pode-se considerar a soma


das alturas de elevação que caracteriza cada uma delas, e a vazão de uma delas como
a representativa (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

4.2 seleção de conjuntos elevatórios


Como para quase 90% dos casos que requerem bombeamento em sistemas de
abastecimento se usam bombas centrífugas, estas serão apresentadas aqui com mais
detalhes (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Para a seleção correta de bombas centrífugas são necessárias várias


informações. Como é comum para a seleção de qualquer tipo de bomba, é necessário
conhecer as faixas de operação e as curvas características da bomba. Além de considerar
a potência e eficiência da bomba, é muito importante para bombas centrífugas conhecer
as características específicas de cada modelo, tais como: localização da bomba com
relação ao nível de água, sua capacidade de bombeamento, a altura geométrica de
sucção, de recalque e total, e a carga cinética.

A seleção dos motores usados para acionar as bombas é feita considerando os


aspectos técnicos e econômicos. Do ponto de vista técnico, a diferença entre motores
síncronos e assíncronos ou de indução se dá mais quanto à potência dos motores. Para
os motores síncronos, a potência pode ser ajustada em função da excitação do motor,
enquanto para os assíncronos essa vai variar de acordo com a carga (TSUTIYA, 2006).
Com relação ao rendimento, os motores síncronos e os assíncronos ou de indução são
praticamente equivalentes, apresentando alta eficiência.

Com relação aos aspectos econômicos, para a seleção do motor deve-


se considerar o custo total que envolve tanto o motor quanto o painel de controle e
proteção. Para motor de indução inclui-se também nos custos a eventual correção do
fator de potência (TSUTIYA, 2006).

Para se determinar a quantidade de conjuntos elevatórios (motor-bomba) deve-


se considerar as vazões envolvidas, as opções de equipamentos no mercado, os custos
das obras de construção, da manutenção e operação do sistema (TSUTIYA, 2006).

178
4.3 PROJETO DE ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS
Localização das estações elevatórias

Geralmente as estações elevatórias são localizadas:

• próximas ao manancial;
• no meio do manancial;
• junto ou próximas às ETAs;
• junto ou próximas aos reservatórios de distribuição.

Para escolher o local mais adequado para a instalação da estação deve-se


considerar as dimensões do terreno (se será possível expandir futuramente), se há baixo
custo e facilidades de desapropriação do terreno, a disponibilidade de energia elétrica,
a topografia da área, menor desnível geométrico, trajeto mais curto da tubulação de
recalque, entre outros aspectos (TSUTIYA, 2006).

Vazões de projeto

No planejamento de adutoras, as vazões de recalque, ou seja, vazões que


serão bombeadas nas estações elevatórias, são calculadas na etapa inicial quando se
faz a concepção da adutora. Nessa etapa é determinado também qual o período de
projeto, como será o regime de operação das estações elevatórias e como se dará a
implantação das estações. Um dos pontos difíceis de determinação é o tempo de vida
útil dos equipamentos das estações. O que se faz normalmente é adotar alguns valores
de referência de tempo de vida útil, tais como: 50 anos para tubulações e edificações, e
25 anos para equipamentos de bombeamento (TSUTIYA, 2006; GOMES, 2009).

Período de projeto

O mais comum é adotar um período de projeto de 20 anos. Esse tempo é


geralmente o período de projeto porque coincide na maioria dos casos com o período
de financiamento das obras. Entretanto, recomenda-se fazer sempre uma avaliação
criteriosa dos aspectos econômico-financeiro para determinar o período de projeto,
principalmente em instalações de grande porte (TSUTIYA, 2006).

Poço de sucção

É a estrutura de transição que recebe a água e a coloca à disposição das


unidades de recalque. O poço de sucção de água bruta deve ser constituído de paredes
verticais e laje de fundo com declividade no sentido da sucção das bombas, para evitar
deposição de materiais sólidos e facilitar a limpeza (TSUTIYA, 2006).

179
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Que adutoras são canalizações dos sistemas de abastecimento de água que


conduzem água para as unidades que precedem a rede de distribuição (TSUTIYA,
2006). São classificadas de acordo com a natureza da água transportada ou de
acordo com a energia para o escoamento.

• Que dimensionamento hidráulico para adutoras por gravidade envolve


principalmente a escolha mais viável técnica e financeiramente para o projeto do
diâmetro da tubulação.

• Que os dispositivos de proteção de adutoras mais utilizados são: blocos de


ancoragem, proteção contra corrosão e proteção contra os transitórios hidráulicos.

• Que um sistema de recalque ou elevatório é normalmente composto de três partes


principais: tubulação de sucção, conjunto elevatório e tubulação de recalque.

180
AUTOATIVIDADE
1 O traçado de uma adutora reflete todo o planejamento envolvido para conseguir as
melhores condições para operação da adutora. Na decisão sobre o traçado, o projetista
deve considerar as condições de localização e de topografia, que afetam diretamente
a linha piezométrica e o plano de carga sob os quais a adutora estará em operação.
A escolha do melhor traçado afeta o dimensionamento da adutora e os custos
envolvidos com o recalque, quando este é necessário. Sobre as recomendações para
o traçado das adutoras, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os trechos devem ter declividades ascendente ≥ 0,2% e descendente ≥ 0,3%,


mesmo em terrenos planos. Não se deve ter declividade próxima a zero, sendo
preferível sempre perfis ascendentes ou descendentes.
b) ( ) Se algum trecho tiver inclinação ≥ 15% é necessário instalar blocos de ancoragem
para estabilizar os condutos.
c) ( ) Em regime permanente, a linha piezométrica deve estar sempre acima da geratriz
inferior da tubulação.
d) ( ) Recomenda-se, se for o caso de trechos ascendentes longos de alta declividade,
que sejam seguidos por trechos descendentes longos de maior declividade.

2 No planejamento de adutoras são considerados vários fatores, como o horizonte


de projeto, a vazão de adução e o período de funcionamento da adutora. Sobre os
aspectos de projeto que são considerados no planejamento de adutoras, analise as
sentenças a seguir:

I- O horizonte de projeto é o período de tempo estimado para que a adutora esteja em


operação.
II- A vazão de água bruta é a vazão de transporte da água do ponto de captação
até a estação de tratamento de água (ETA). Também há a vazão em que ocorre o
transporte de água entre a ETA e os reservatórios de distribuição (Qb), e a vazão que
liga o reservatório de distribuição à rede de abastecimento (Qc).
III- O período de funcionamento de adutoras por gravidade pode chegar a ser 24h/dia,
mas isso geralmente não ocorre em aduções por recalque.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a sentença I está correta.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

181
3 Em sistemas de abastecimento de água, dependendo das condições de traçado,
pode ser necessário adicionar carga ao sistema para que sejam alcançadas alturas
manométricas mínimas para o escoamento em condições adequadas. Para tais
situações, as estações elevatórias são as unidades na adutora onde o bombeamento,
ou também dito recalque, acontece. Sobre estações elevatórias, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) As estações elevatórias são compostas de três partes principais: tubulação de


sucção, conjunto elevatório e tubulação de recalque.
( ) No conjunto elevatório, quando a bomba é instalada com seu eixo abaixo da cota do
reservatório inferior é denominada de bomba afogada.
( ) Quando a bomba é instalada com a cota do eixo da bomba acima da cota do nível
d’água do reservatório inferior, dizemos que é um caso de bomba não afogada.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - V - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 Estações elevatórias são as unidades dos sistemas de abastecimento responsáveis


pelo recalque. Para isso as estações contam com conjuntos elevatórios, que são
formados pelo par bomba e motor, este último responsável pelo acionamento
da bomba. Dependendo das condições do sistema, nas estações elevatórias as
bombas podem ser organizadas em série ou em paralelo por diferentes propósitos.
Considerando isso, em um caso hipotético em que duas bombas iguais foram
adquiridas com capacidade de 60 l/s e 45 m de altura manométrica, comente sobre
as condições de funcionamento se trabalharem em conjunto (em série ou paralelo).

5 A determinação do diâmetro da tubulação é um dos pontos mais importantes no


aspecto econômico do projeto de adutoras de grande extensão. Em tubulações
curtas, como em prédios e moradias, a perda de carga distribuída, relacionada com
o diâmetro e a rugosidade da tubulação, pode ser menos significativa do que as
perdas localizadas, que dependem do número de acessórios, peças hidráulicas ou
singularidades adicionadas na tubulação. Considerando a importância da determinação
do diâmetro da tubulação para os projetos de adução, determine o diâmetro de uma
tubulação de recalque de um edifício com 55 pequenos apartamentos habitados por
275 pessoas. A água é recalcada do reservatório inferior para o superior por meio de
conjuntos elevatórios e abastece os moradores que apresentam consumo diário per
capita de 200 l (máximo). Deve ser levado em conta que os conjuntos elevatórios
operam apenas 6 horas por dia.

182
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
RESERVATÓRIOS E
REDE DE DISTRIBUIÇÃO

1 INTRODUÇÃO
O abastecimento de água, desde os reservatórios até os pontos de consumo
na cidade (ligações domiciliares, hidrantes de incêndio, chafarizes e outros tipos de
tomadas de água) realiza-se através de uma ou várias redes de distribuição, com a
finalidade de garantir que em cada ponto consumidor a água chegue com vazão precisa,
pressão suficiente e que sua qualidade não seja deteriorada (GOMES, 2009).

Os reservatórios são parte importante dos sistemas de abastecimento por,


dentre outros motivos, darem maior segurança ao abastecimento e por regularizarem
as vazões. Como inconveniente dos reservatórios, podemos citar o elevado preço de
instalação.

Em função do porte, um sistema de abastecimento pode tornar-se bastante


complexo, não só quanto ao dimensionamento, mas também quanto à operação e
manutenção. A rede de distribuição de água trata-se, em geral, da parte mais dispendiosa
do projeto global de abastecimento, exigindo considerável atenção do projetista no que
concerne aos parâmetros do sistema, hipóteses de cálculo assumidas e metodologias,
de modo a obter um projeto eficiente (PORTO, 2006).

Neste Tópico 3 abordaremos com mais detalhes sobre os tipos de reservatórios,


sobre o dimensionamento dos volumes útil, de combate a incêndios e o volume de
emergência, além de abordar sucintamente sobre os órgãos acessórios utilizados.
Por fim, abordaremos sobre as redes de distribuição de água, suas vazões de
dimensionamento e as condições hidráulicas para o adequado funcionamento das
redes (de pressão, velocidade etc.), bem como sobre os dispositivos e equipamentos
acessórios necessários.

2 CLASSIFICAÇÃO E CAPACIDADE DOS RESERVATÓRIOS


Os reservatórios de distribuição são elementos imprescindíveis em sistemas de
abastecimento de água, sendo suas principais finalidades a regularização da vazão com
o propósito de mantê-la constante para o consumidor final, segurança do fornecimento,
reserva de água para casos de incêndio e regularização de pressões. Além disso, pode-
se citar a vantagem de os reservatórios possibilitarem o bombeamento de água fora
do horário de pico do custo de energia elétrica, o que permite diminuir sensivelmente

183
os custos. Também possibilitam o aumento no rendimento dos conjuntos elevatórios
(motor-bomba), uma vez que mantêm a altura manométrica e a vazão constantes, e
fazem com que os conjuntos motor-bomba operem próximos de seu rendimento
máximo (TSUTIYA, 2006).

Em contrapartida, reservatórios são de custo elevado de implantação e


necessitam de cuidado quanto à localização, pois precisam de cota adequada para
atender às variações de pressão da rede.

2.1 CLASSIFICAÇÃO
Os reservatórios podem ser classificados de diferentes formas. A seguir são
apresentadas algumas classificações.

Quanto a sua localização: os reservatórios podem ser subclassificados em


reservatórios de montante, de jusante ou de posição intermediária. Independentemente
de sua localização, os reservatórios devem abastecer as redes com pressão estática
máxima de 500 kPa (50 mH2O) e mínima de 100 kPa (10 mH2O) (TSUTYIA, 2006).

Os reservatórios de montante são aqueles localizados a montante da rede e que


sempre abastecem (isto é, sempre auxiliam a entrar mais água na rede). Se for o caso de
um reservatório desse tipo estar em um terreno de declive acentuado, se a rede estiver
em cota mais baixa, pode ocorrer excesso de pressão na rede e, por isso, às vezes,
a distribuição é feita de maneira escalonada. Por isso, também, em alguns sistemas,
são instalados reservatórios complementares de capacidade inferior ao de montante
(TSUTIYA, 2006).

Os reservatórios de jusante, ou reservatório de sobras, estão localizados a


jusante da rede de distribuição. Esses reservatórios são “flexíveis” no sentido de que
abastecem a rede, auxiliando a ter menor oscilação de pressão no abastecimento nas
zonas de jusante da rede, e são também abastecidos nas horas de menor consumo,
sendo tanto a entrada quanto a saída de água feitas por uma única tubulação (TSUTIYA,
2006).

Os reservatórios de posição intermediária são aqueles que são posicionados em


meio ao sistema de adução para auxiliar na regulação das vazões nos trechos em que
ocorrem transições entre bombeamento e/ou adução por gravidade.

Quanto a sua localização no terreno: nessa classificação os reservatórios são


ditos: reservatórios enterrados, semi-enterrados, reservatórios apoiados e reservatórios
elevados. Nessas situações os reservatórios estariam com cota inferior à do terreno, ou
com pelo menos um terço de sua altura abaixo do nível do terreno, ou com seu fundo a

184
menos de um terço de profundidade no solo, ou com cota de fundo superior à cota do
terreno, respectivamente. A Figura 15 mostra como seria a localização dos reservatórios
segundo essa classificação.

Figura 15 – Posições dos reservatórios em relação ao terreno

Fonte: Tsutiya (2006, p. 344)

Os reservatórios enterrados apresentam a vantagem de ter isolamento térmico


e de provocar menos impacto ambiental do que os outros tipos. Entretanto, além do
custo elevado para a construção, a operação também é mais onerosa, pois as entradas
e saídas são mais difíceis. Os reservatórios elevados são aplicados nos casos em que a
topografia do terreno não facilita o abastecimento na área através dos outros tipos de
reservatórios. Contudo, esse tipo de reservatório é muito oneroso e causa maior impacto
ambiental (TSUTIYA, 2006).

Quanto a sua forma: a preocupação quanto à forma dos reservatórios é mais


relacionada ao aspecto econômico. A depender da forma, pode haver muita economia
na estrutura, na fundação, no total de área requerida, em equipamentos de operação e
interligação das unidades (TSUTIYA, 2006).

Os reservatórios enterrados, semi-enterrados e apoiados são geralmente


construídos em formas retangular ou circular. É usual a construção de uma divisão em
câmaras dentro dos reservatórios; isso é feito muitas vezes para que mesmo antes da
finalização da obra, parte do reservatório já possa estar em operação. Após a seleção
da forma, tipo e capacidade de reserva, são estudadas as dimensões do reservatório de
forma a ter o mínimo custo; isso é considerado principalmente para os reservatórios de
concreto armado.

Os reservatórios elevados são construídos de diferentes formas. Para o


enchimento desse tipo de reservatório é normal a utilização de uma estação elevatória.
E, como o custo para esse tipo de reservatório é elevado, estes têm sido substituídos

185
por estações elevatórias do tipo “booster”, de custo bem menor e de fácil implantação.
Contudo, deve-se considerar também as vantagens que esse tipo de reservatório pode
trazer ao sistema, tais como: pode atuar na proteção da rede de distribuição contra o
fenômeno do golpe de aríete, auxilia no combate a incêndios e permite maior controle
das pressões na rede, diminuindo as perdas de água. Além disso, o custo de energia do
bombeamento para o reservatório elevado é geralmente menor do que o bombeamento
direto para a rede de distribuição através de booster (TSUTIYA, 2006).

INTERESSANTE
Você sabia que o maior reservatório da América Latina fica no Brasil?
Confira em: https://www.youtube.com/watch?v=IZ98FCi-laM.

Material de construção: os reservatórios podem ser construídos com os mais


diversos materiais, sendo os mais comuns o concreto armado (comum e protendido),
o aço, o poliéster armado com fibras de vidro, a madeira, a alvenaria etc. A escolha do
material é feita após um estudo técnico-financeiro que leva em consideração alguns
fatores, como as condições de fundação, a agressividade da água e a disponibilidade de
material para a construção (TSUTIYA, 2006).

2.2 CAPACIDADE
Os reservatórios devem ser capazes de atender às demandas dos sistemas
de abastecimento. Como os sistemas trabalham para atender diferentes demandas,
a capacidade dos reservatórios é determinada de acordo com três principais reservas
necessárias. A primeira delas seria a reserva que deve ser feita para atender à demanda
de consumo da população, considerando as variações que ocorrem, denominada de
demanda de equilíbrio ou volume útil. As demais reservas são a reserva para combate
a incêndio e a reserva para emergências. A capacidade dos reservatórios depende
do volume necessário para atender às variações de demanda de consumo (chamada
também de demanda de equilíbrio), o volume para combate a incêndios e um volume de
reserva para emergências.

2.2.1 Determinação do volume útil


Como mencionado, o volume útil visa atender às variações diárias de demanda
da população. O volume útil corresponde à diferença entre o maior nível atingido em
condições normais de operação (nível máximo) e o nível mínimo que deve ser mantido a

186
fim de evitar vórtices, cavitação e carreamento de sedimentos do fundo do reservatório
(nível mínimo). Esse volume pode ser determinado a partir de duas maneiras, dependendo
da disponibilidade ou não da curva de consumo.

Método baseado na curva de consumo: em situações em que um reservatório


forneça vazão contínua (vazão constante por 24h) à rede de distribuição, a determinação
do volume útil deverá ser feita considerando a adução para o dia de maior consumo. A
Figura 16 mostra um exemplo de curva de consumo de um setor de abastecimento
nessa condição de adução contínua e o seu diagrama de massa no reservatório.

Figura 16 – (A) Curva de consumo ao longo do dia de maior consumo e (B) diagrama de massa acumulada

Fonte: adaptada de Tsutiya (2006, p. 358-359)

Nesse caso de adução contínua, a reserva mínima de equilíbrio (ou volume útil)
pode ser determinada usando um diagrama de massa, como o mostrado na Figura 16
(B). Essa reserva é obtida após traçar duas retas tangentes nos pontos mais extremos
na curva de consumo acumulado (pontos de maior e menor consumo), paralelas à reta
de adução acumulada. A distância vertical entre essas tangentes, indicada na figura por
C (Capacidade de reserva), pode ser quantificada usando o eixo y (volume acumulado,
m³) da própria figura.

Para o caso de adução intermitente em que o período de adução para o


reservatório é único nas 24h, o diagrama de massa acumulada é com o apresentado na
Figura 17 (A). Se for o caso de se ter períodos espaçados de adução ao longo do dia, mas
com vazão também constante de adução, o diagrama de massa acumulada pode ser
como o exemplo da Figura 17 (B). Para ambos os casos, a capacidade de reserva pode
ser determinada pela soma de C1 e C2, como indicado na figura.

187
Figura 17 – Diagramas de massa acumulada para determinação da capacidade de reservatório com adução
intermitente no caso de (A) período único de adução e (B) períodos descontínuos de adução

Fonte: adaptada de Tsutiya (2006, p. 362-363)

Método quando não se tem curva de consumo: para os casos em que não
há curvas de consumo da rede, o volume útil do reservatório pode ser determinado
considerando-se uma curva de consumo senoidal (Figura 18). Assim, a vazão de
consumo pode ser determinada pela equação a seguir, em que V é o volume de água
consumido no dia de maior consumo, V/24 a vazão média nesse dia e K2 o coeficiente
da hora de maior consumo:

Figura 18 – Curva de consumo assimilada a uma senoide

Fonte: Tsutiya (2006, p. 363)

188
Para esse caso, portanto, o consumo pode ser obtido pela seguinte equação: C
é a capacidade mínima do reservatório (m³), K2 o coeficiente da hora de maior consumo
e V o volume diário consumido (m³):

Como resultado, ao admitirmos um valor de 1,5 para o coeficiente K2, o volume útil
seria aproximadamente 16% do volume que seria consumido no dia de maior consumo
(TSUTIYA, 2006).

2.2.2 Determinação do volume para combate a incêndios


Em sistemas de abastecimento de pequeno a médio porte, o volume reservado
para combate a incêndios é necessário, pois o volume retirado dos reservatórios no
caso de incêndio pode ser significativo para esses sistemas. Ao retirar esse volume dos
reservatórios, o serviço de regulação de pressão e de vazão realizado pelo reservatório
pode ser muito afetado.

A reserva de incêndio é calculada a partir de dados sobre a duração dos


incêndios que se tenha registro ou pode ser calculada usando valores recomendados
por órgãos governamentais quanto à vazão necessária ou mesmo volume de reserva,
que variam de acordo com o tamanho da população. No Brasil, como a frequência de
incêndios em cidades pequenas é baixa, geralmente o que se faz é adotar uma rede de
distribuição malhada que permita manobra de desvio de água para hidrantes, quando
ocorrem os incêndios.

2.2.3 Determinação do volume para emergência


Esse volume de reserva é destinado a manter a regulação dos abastecimentos
nas situações inesperadas que, vez ou outra, acontecem no sistema de abastecimento.
Como tais situações podem ser citadas, há paralizações de algumas unidades do
sistema para manutenção ou controle de vazamentos, ou acidentes. A decisão de se
ter um volume de emergência é decisão do sistema de abastecimento e não há fórmula
estabelecida para isso. No entanto, se o sistema conta apenas com uma fonte de
energia elétrica, então é recomendado acrescentar a reserva de emergência. Para fins
de referência, cabe dizer que alguns países utilizam geralmente reservas de 25% do
consumo máximo diário para essas situações.

189
2.2.4 Tubulação e órgãos acessórios
A tubulação de entrada nos reservatórios pode ser posicionada em qualquer
local. No entanto, as posições de entrada livre (acima do nível d’água) e entrada afogada
são as mais comuns, sendo que no Brasil prevalece o uso de entrada livre. Os motivos
para essa escolha são pela menor complexidade no projeto para a escolha do motor-
bomba para a elevação, o desconhecimento da economia de energia elétrica ao se
mudar a entrada e também por tradição. No entanto, a diferença de altura geométrica
entre uma entrada livre e uma afogada pode ser entre 2 e 10 m, de modo que entradas
do tipo afogada podem favorecer uma economia significativa de energia elétrica.

Um acessório importante para os reservatórios são as válvulas automáticas


que auxiliam a fechar a entrada do reservatório quando este já se encontra cheio. Para
isso, também podem ser utilizadas comportas ou adufas, enquanto a boia não é bem
recomendada para os casos em que a adução da entrada é feita por recalque.

O diâmetro da tubulação de entrada é geralmente o mesmo que da tubulação


da adutora, e a velocidade de entrada não pode exceder ao dobro da de adução. Na
saída do reservatório, a velocidade não deve exceder 1,5x a velocidade na tubulação da
rede principal imediatamente a jusante do reservatório. Devem ser adicionadas válvula,
comporta ou adufa, manobradas por dispositivo, para fechamento da saída na parte
externa do reservatório (TSUTIYA, 2006).

Outro acessório muito importante é o extravasor com capacidade para a vazão


máxima, objetivando extrair o excesso, caso ocorra. A folga mínima entre a cobertura
do reservatório e a altura máxima para o nível de água em extravasão é de 30 cm. Outro
acessório são os tubos curvos usados para ventilação, que são colocados com abertura
voltada para baixo e protegida por tela fina, para permitir a saída de ar. A vazão de ar
deve ser igual à máxima vazão de saída de água (TSUTIYA, 2006).

3 TIPOS DE REDE E VAZÃO DE DIMENSIONAMENTO


O projeto de sistema de reservatórios e tubulações que definem uma rede de
distribuição depende do porte da cidade a que se destina o abastecimento, bem como
das características topográficas (PORTO, 2006). Na prática, os sistemas de distribuição
de água são formados por uma quantidade enorme de tubulações interligadas, que
formam anéis ou malhas (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Em projetos e em alguns livros sobre o assunto, as tubulações de transporte


de água em uma rede de distribuição são classificadas em tubulações primárias,
secundárias, e assim por diante, de acordo com a posição que ocupam no esquema de
instalação da rede (GOMES, 2009).

190
Os condutos primários, ou principais, são de maior diâmetro e abastecem os
condutos secundários, que são de diâmetro menor e podem ou não ter a função de
abastecer diretamente os pontos de consumo na rede (PORTO, 2006).

Além dessas definições, é importante no estudo de redes de abastecimento


conhecer também as seguintes definições (GOMES, 2009; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ,
2015):

• trecho: trajetos parciais nos quais a vazão permanece constante;


• nó: ponto de conexão entre dois trechos. Nos nós ocorrem modificações na vazão
circulante;
• nó de derivação: nó que conecta três ou mais trechos;
• nó virtual: qualquer ponto da tubulação usado para caracterizar ou calcular algo
de interesse;
• ramal: trechos conectados em série sem nó de derivação;
• artérias: condutos principais na rede que são formados por ramais ligados em série;
• traçado da rede: arranjo e distribuição das tubulações;
• alimentação ou cabeceira da rede: ponto de origem da rede (normalmente
coincide com o local de início do sistema de distribuição).

3.1 TIPOS DE REDES


Os tipos de redes, ou o seu traçado, são divididos em dois tipos: rede malhada
ou rede ramificada. O traçado dito misto é uma mistura desses dois tipos de redes, e
normalmente ocorre em áreas mais periféricas ou de expansão.

As redes ramificadas apresentam um único sentido de escoamento, que causa


o inconveniente quando é necessária manutenção na rede, pois todos os trechos a
jusante ficam com abastecimento paralisado. Por isso, apesar de ter um custo menor do
que a rede malhada, o uso desse tipo de traçado em centros urbanos de médio e grande
porte tem sido evitado. Essas redes são mais empregadas em sistemas de irrigação na
área rural e em pequenas comunidades e áreas particulares (GOMES, 2009).

As redes malhadas possuem trechos conectados em forma de anéis, ou


malhas, possibilitando alterar o sentido da vazão conforme necessidade nos nós. Isso
torna o dimensionamento e a operação mais complexos em comparação com as redes
ramificadas. A Figura 19 mostra alguns dos tipos de traçados, sendo os traçados em
forma de espinha de peixe e do tipo grelha variações de traçado ramificado.

191
Figura 19 – Traçados de redes de distribuição

Fonte: Gomes (2009, p. 35)

3.2 RECOMENDAÇÕES PARA O TRAÇADO DA REDE


Conforme Gomes (2009), as principais recomendações sobre o traçado de redes
urbanas são:

• no projeto deve-se procurar assentar as tubulações em vias ou acessos públicos


não edificados, preferencialmente sob calçadas;
• as artérias principais devem ser direcionadas para as áreas de maior demanda na
rede;
• deve-se dar prioridade para traçado malhado no lugar de ramificado;
• quando se tiver traçado ramificado na rede, deve-se instalar acessórios como
válvulas de descarga nos pontos finais e mais baixos, a fim de possibilitar o
esvaziamento dos tubos.

3.3 VAZÃO PARA DIMENSIONAMENTO


A rede de distribuição deve ser dimensionada considerando a vazão de
distribuição, calculada por:

192
Em que:
Q: vazão (l/s);
K1 e K2: coeficientes do dia e da hora de maior consumo, respectivamente;
P: total da população a ser abastecida pela rede (hab);
q: consumo per capita final de água (l/hab.dia).

Ao se dividir a vazão pelo comprimento da rede (L), obtém-se a vazão específica


(qm):

Ao se dividir pela área (A) da rede obtém-se a vazão específica de distribuição


(qd):

Para calcular a vazão que passa pelos nós do sistema, o valor de qd deve ser
multiplicado pela área correspondente para cada nó. Em alguns casos pode acontecer
de se ter dois valores de qd para um mesmo nó, isso ocorre quando a vazão que passa
por esse nó é resultado de contribuição de duas ou mais tubulações por ser um nó de
intersecção. Nesses casos, a vazão será a soma das vazões totais de cada parcela de
área que influencia esse nó.

Recomenda-se, no dimensionamento de vazões, que sejam consideradas


as necessidades de áreas específicas, bem como das áreas de expansão. Também
recomenda-se identificar os consumidores singulares e as suas demandas pelo sistema.
Nesse dimensionamento, não devem ser incluídas as demandas especiais de combate a
incêndios em condições de operações normais da rede.

3.4 CONDIÇÕES HIDRÁULICAS NO DIMENSIONAMENTO DE


REDES
Na análise hidráulica de redes mantém-se o uso da equação da continuidade que
estabelece a condição de equilíbrio do sistema, sendo nula a soma algébrica das vazões
dos nós da rede. Deve-se determinar as vazões nos trechos e as cotas piezométricas
nos nós, a partir do conhecimento da qd do sistema. Geralmente, no cálculo de redes, as
cargas cinéticas e as perdas localizadas são desconsideradas (TSUTIYA, 2006; PORTO,
2006).

193
3.4.1 Pressões mínimas e máximas
A magnitude das pressões efetivas afeta significativamente nos custos de
implantação e operação da rede, e tem papel fundamental na etapa de dimensionamento
desse sistema. Um dos motivos da exigência de um valor mínimo de pressão na rede
de abastecimento é para garantir que a água chegue até o ponto de consumo com
carga suficiente para chegar à torneira do usuário. A norma da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) NBR12218 (1994) estabelece que em qualquer ponto da rede de
distribuição a pressão dinâmica deve ser no mínimo de 100 kPa (ou aproximadamente
10 mca) (GOMES, 2009).

As principais limitações que se apresentam para pressões máximas nas redes


são relacionadas aos custos, tanto de bombeamento e tubulação adequada quanto de
acessórios necessários. Outra limitação é com relação às perdas reais de água, que
crescem com o aumento das pressões de serviço e o aumento da vazão de consumo
final. Pela mesma norma NBR12218, a pressão máxima nas tubulações não deve
ultrapassar 500 kPa, ou 50 mca (GOMES, 2009).

3.4.2 Velocidades e diâmetro mínimo


O estabelecimento de limites máximos de velocidade busca tanto a segurança
das redes hidráulicas quanto reduzir o custo com os condutos. Para uma certa vazão de
escoamento, quanto maior a velocidade menor o diâmetro necessário para a tubulação.
Isso, a princípio, parece indicar que para se ter um menor custo com tubulações, a
decisão seria a mais simples e óbvia: escolher sempre o menor diâmetro disponível.
Entretanto, a determinação do diâmetro da tubulação não objetiva apenas o menor
custo, pois na prática com menor diâmetro ocorre aumento da velocidade, e com isso
se tem também o aumento da perda de carga e maior risco de danos à tubulação. Como
danos às tubulações, devido às altas velocidades, podemos citar o desgaste dos tubos,
dos elementos de conexão, as vibrações na rede e os problemas gerados pelos golpes
de aríete. Sobre a velocidade máxima nas tubulações, a NBR 12218 recomenda que
deva ser de 3,5 m/s e a mínima de 0,6 m/s. A velocidade mínima é estabelecida também
na norma para garantir que sempre haja escoamento na rede de forma a não prejudicar
a qualidade da água tratada (GOMES, 2009).

O cuidado de se ter um diâmetro mínimo recomendado para as tubulações


objetiva evitar as perdas excessivas no sistema, que podem comprometer a
uniformidade de pressões e vazões disponíveis aos usuários. Pela NBR 12218, o diâmetro
mínimo recomendado é de 50 mm para as tubulações secundárias da rede urbana de
abastecimento (GOMES, 2009).

194
Entretanto, a norma não indica valores de referência para tubulações principais.
Segundo uma norma antiga da ABNT (PNB 594/77) eram recomendados os seguintes
valores para redes malhadas:

• D = 150 mm quando for para abastecimento de zonas comerciais ou zonas


residenciais com densidade igual ou superior a 150 hab/há;
• D = 100 mm quando for para abastecimento de demais zonas urbanas com
população de projeto maior que 5 mil habitantes;
• D = 75 mm para áreas urbanas cuja população de projeto é igual ou inferior a 5 mil
habitantes.

3.4.3 Materiais para redes


As redes de distribuição de água são constituídas por tubos e peças que preci-
sam ser resistentes para suportar as pressões internas e externas as quais as tubula-
ções estão sujeitas, como esforços externos que atuam sobre as tubulações. Podemos
citar o peso da terra após o assentamento da tubulação e o sobrepeso devido ao tráfego
de veículos na superfície. Assim, devido às condições nas quais as tubulações estão
sujeitas, a seleção do material deve, portanto, considerar todos esses esforços atuantes
(TSUTIYA, 2006; GOMES, 2009).

Além da resistência dos tubos, outros fatores também devem ser considerados:
a durabilidade do material (vida útil); o material da superfície interna, que deve permitir
possibilitar o adequado escoamento; e não deve ter reação química como a água, nem
sofrer corrosão. Um dos fatores que afetam o escoamento é a rugosidade do material.
Atualmente, as tubulações têm um coeficiente de rugosidade (C), de Hazen-Williams,
que varia entre 100 e 150. O material da superfície externa também deve ser considerado,
bem como as dificuldades de instalação, o peso das tubulações e peças e a facilidade
em fazer interligações (TSUTIYA, 2006; GOMES, 2009).

Além dos aspectos citados, devem ser consideradas também a legislação local,
as condições climáticas e as especificações e recomendações de normas reconhecidas
e utilizadas, como as normas ISO (International Organization for Standardization) e ANSI
(American National Standards Institute) (TSUTIYA, 2006).

Os tipos de materiais disponíveis e empregados atualmente são de plástico


(PVC, polietileno e PRFV – poliéster revestido com fibra de vidro) e metal (ferro fundido
e aço).

PVC: as tubulações de PVC são utilizadas no sistema de abastecimento, não


sendo recomendadas para diâmetros nominais maiores que 500. Em sistemas que
necessitam de tubulações de diâmetros nominais maiores, tubulações de ferro fundido

195
são as mais utilizadas. A maior vantagem do PVC é seu baixo custo de transporte e
instalação, além de sua resistência à corrosão, ao ataque químico de águas impuras e à
baixa rugosidade das paredes do tubo.

Ferro fundido: as tubulações de ferro fundido (FoFo) são feitas de liga de ferro
e de carbono, e podem ser do tipo ferro cinzento ou ferro fundido, de acordo com a
proporção de carbono no material. Hoje em dia esses tipos de tubos são usados na
versão dúctil, que são revestidos por dentro com argamassa de cimento e por fora com
zinco e pintura betuminosa (GOMES, 2009).

Para escolher os tubos de FoFo é preciso consultar os catálogos dos fabricantes,


a fim de saber as características funcionais da tubulação conforme o diâmetro nominal.
Existe também a opção de tubos e conexões de ferro dúctil com flange, que são
indicados para montagem de peças em instalações não enterradas ou em poços de
visita, estações de bombeamento e outros.

3.4.4 Dispositivos e equipamentos acessórios


Os principais equipamentos e acessórios utilizados nas redes de distribuição
de água são as válvulas de manobra, de descarga, para redução de pressão, para
sustentação de pressão, hidrantes e ventosas.

Válvula de manobra e de descarga: as válvulas de manobra têm o propósito


de possibilitar a interrupção do abastecimento em uma área. As manobras nas redes
são recorrentes e devem minimizar o quanto possível a área de desabastecimento.
Busca-se dividir a rede em setores de manobra, objetivando garantir boa qualidade e
continuidade dos serviços para as áreas nas quais não está sendo necessária nenhuma
intervenção. Recomenda-se que o setor de manobra abranja uma área de rede entre 7
e 35 mil metros de extensão. Se o parâmetro não puder ser a extensão da rede, deve-se
considerar o número de economias abastecidas (recomenda-se a cada 600, 3 mil) ou
considerar a área da rede (entre 40 e 200 mil metros quadrados).

Como a manobra de fechamento ou abertura de válvulas requer rapidez,


recomenda-se instalar o menor número possível de válvulas para isolar algum setor
da rede de distribuição. Recomenda-se que em condutos secundários uma válvula
deve ser adicionada no ponto de ligação com os condutos principais, buscando isolar
o conduto secundário e permitir a interrupção do abastecimento em apenas parte da
rede, quando isto é necessário.

As válvulas de descarga são utilizadas para esvaziar a tubulação e, por isso, sã


posicionadas nos pontos baixos da rede. Geralmente, são colocadas próximas a locais
que permitem o escoamento da água de descarga, tais como córregos e rios. O diâmetro
mínimo da válvula para tubulações com diâmetro ≥ 100 mm deve ser de 100 mm, e para
diâmetros inferiores a 100 deve ser de 50 mm.

196
Ventosas: são acessórios que permitem a entrada e a saída de ar da tubulação
de maneira automática e, por isso, são colocadas nos pontos altos da rede nos condutos
principais. Nos casos em que se tenham ligações prediais nos pontos altos da rede,
não há a necessidade da instalação de ventosas, pois essas ligações já permitem que
ocorram a entrada e a saída de ar.

Válvula redutora e válvula sustentadora de pressão: a válvula redutora de


pressão (VRP) é também do tipo automática, sendo utilizada nas redes para reduzir a
pressão de montante a uma pressão constante a jusante. As VPRs conseguem fazer
essa regulação independentemente da vazão de escoamento e da pressão do sistema.
As válvulas sustentadoras de pressão (VSP) buscam manter as condições mínimas de
pressão a montante, também independentemente da variação de vazão e pressão da
rede. Esse tipo de válvula é muito útil para os casos em que por qualquer motivo surja
alguma demanda não prevista e isso resulte em diminuição da pressão da rede.

Hidrantes: os hidrantes são acessórios que permitem a utilização de água da


rede, sendo usados principalmente para o combate a incêndios. Outros usos para os
hidrantes são a lavagem de tubulações de água e coletores de esgoto, irrigação de
plantas das áreas públicas, assim como fornecimento de água para a construção de
obras quando ainda não há ligação de água ou rede. Os hidrantes são divididos em
dois tipos: tipo coluna e tipo subterrâneo. Os hidrantes subterrâneos têm a vantagem
de terem menor custo e serem de fácil conexão, na maioria das vezes (dependendo do
diâmetro da rede de abastecimento). Os hidrantes do tipo coluna são mais onerosos e
ficam mais suscetíveis a acidentes com veículos. Atualmente, o dimensionamento, a
instalação, o uso e a manutenção de hidrantes devem seguir a NBR 13714 de 2000.

DICA
O software mais utilizado no Brasil para cálculo e simulação de redes de
abastecimento é o EPANET. Para se ter uma ideia de como funciona esse
software, veja o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=CnHqI6Y3lHc.
Se quiser se aprofundar sobre essa poderosa ferramenta, você encontra
o manual e o software disponíveis em: http://ct.ufpb.br/lenhs/contents/
menu/assuntos/epanet.

197
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Que os reservatórios de distribuição têm como principais finalidades a regularização


da vazão com o propósito de mantê-la constante para o consumidor final, segurança
do fornecimento, reserva de água para casos de incêndio e regularização de
pressões. Além disso, podem ser classificados quanto a sua localização na rede,
quanto a sua localização em relação ao terreno e quanto a sua forma.

• Que a capacidade dos reservatórios depende do volume necessário para atender às


variações de demanda de consumo (chamada também de demanda de equilíbrio),
ao volume para combate a incêndios e a um volume de reserva para emergências.

• Que as tubulações de uma rede de distribuição são classificadas em tubulações


primárias ou principais, de maior diâmetro, secundárias (de menor diâmetro), e
assim por diante, de acordo com a posição que ocupam no esquema de instalação
da rede (GOMES, 2009), podendo ou não ter a função de abastecer diretamente os
pontos de consumo na rede (PORTO, 2006).

• Que as recomendações quanto às condições da rede de distribuição são de


que sejam mantidas condições mínimas de pressão e velocidade, isto é, de 100
kPa (10 mca) e 0,6 m/s, e condições máximas de 500 kPa (50 mca) e 3,5 m/s,
respectivamente. Quanto ao diâmetro mínimo, as recomendações são de acordo
com o tipo da tubulação (se primária ou secundária) e com a demanda (destino do
abastecimento e número de consumidores).

198
AUTOATIVIDADE
1 Nos sistemas de abastecimento, os reservatórios são utilizados para diferentes
finalidades, sendo dentre elas manter a segurança do fornecimento de água para
a população e auxiliar na regulação das pressões na rede de distribuição de água.
Apesar das muitas vantagens da admissão de reservatórios nos sistemas, o uso
é restringido devido ao custo elevado de implantação e aos requisitos quanto à
localização (cota adequada para atender às variações de pressão da rede). Sobre os
tipos de reservatórios, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Quanto a sua localização no sistema de abastecimento, os reservatórios podem


ser subclassificados em reservatórios de montante, de jusante ou de posição
intermediária.
b) ( ) Os reservatórios enterrados apresentam a vantagem de ter isolamento térmico,
mas provocam maior impacto ambiental em comparação com os outros tipos.
c) ( ) Os reservatórios enterrados, semi-enterrados e apoiados são geralmente
construídos em forma retangular ou circular. Já os reservatórios elevados são
apenas circulares.
d) ( ) Os reservatórios elevados são muito onerosos, mas apresentam a vantagem de
causar menor impacto ambiental.

2 Uma das exigências dos órgãos reguladores é a chegada de água aos consumidores
em qualidade e quantidade adequadas para o consumo. Como as adutoras contam
com diferentes unidades e as redes de distribuição, na prática, são sistemas bem
complexos, é difícil manter o controle das pressões e vazões no abastecimento. Por
isso, muitos sistemas contam com auxílio de reservatórios com a finalidade de garantir
que em cada ponto consumidor a água chegue com vazão precisa, pressão suficiente
e que sua qualidade não seja deteriorada. Sobre a capacidade dos reservatórios, as
tubulações e os acessórios hidráulicos geralmente usados, analise as sentenças a
seguir:

I- O volume para atender às variações diárias de demanda é chamado de volume útil,


e corresponde à diferença entre o nível máximo e o nível mínimo.
II- Nos casos em que há disponibilidade de dados de consumo da rede de
abastecimento, as curvas de consumo (curvas parabólicas) podem ser usadas para
determinar o volume útil de reservatórios para o sistema.
III- As válvulas automáticas são acessórios importantes para os reservatórios, pois
auxiliam no fechamento da entrada do reservatório quando este já se encontra
cheio.

199
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

3 Em um sistema de abastecimento, a rede de distribuição de água trata-se, em


geral, da parte mais dispendiosa do projeto global de abastecimento, exigindo muita
atenção do projetista para a determinação de parâmetros do sistema, hipóteses de
cálculo assumidas e metodologias, de modo a obter um projeto eficiente (PORTO,
2006). Sobre as redes de abastecimento, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:

( ) Os tipos de redes, ou os seus traçados, são divididos em dois tipos: rede malhada ou
rede do tipo espinha de peixe. O traçado dito misto é uma mistura desses dois tipos
de redes e normalmente ocorre em áreas mais periféricas ou de expansão.
( ) Quando se tiver traçado ramificado na rede, é preciso instalar acessórios como
válvulas de descarga nos pontos finais e mais baixos, a fim de possibilitar o
esvaziamento dos tubos.
( ) As artérias principais devem ser direcionadas para as áreas de maior demanda na
rede.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

FONTE: PORTO, R. de M. Hidráulica básica. 4 ed. São Carlos:


EESC-USP, 2006. 540p.

a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - V - V.

4 Em uma cidade com 50 mil habitantes, que consome em média 10 milhões de l/dia,
uma concessionária de abastecimento quer determinar a vazão de distribuição e a
vazão específica, para uma rede de 5000 m de comprimento e coeficientes K1 e K2
iguais a 1,2 e 1,4, respectivamente. Calcule as vazões específica e de distribuição para
esse caso.

5 No dimensionamento das redes de abastecimento são recomendados valores de


referência para alguns parâmetros, como valores máximos e mínimos para pressões
estática e dinâmica nas redes de distribuição de água. Acerca das condições hidráulicas
recomendadas para o dimensionamento de redes de abastecimento, cite os valores de
referência para a velocidade nas tubulações e explique o motivo de tais valores serem
recomendados.

200
UNIDADE 3 TÓPICO 4 -
GOLPE DE ARÍETE/TRANSIENTE
HIDRÁULICO

1 INTRODUÇÃO
O fenômeno de transiente hidráulico é um fenômeno costumaz em tubulações
que ocorre devido a mudanças bruscas de pressão associadas a mudanças de velocidade
no escoamento.

Em estações elevatórias, as tubulações de recalque com bombas centrífugas,


ocasionadas por motores elétricos, são as mais susceptíveis a ocorrência do fenômeno
de transiente hidráulico, ou também denominado golpe de aríete. Como as partes
rotativas do motor e da bomba apresentam grande inércia, quando se tem falta repentina
de energia, o bombeamento é quase instantaneamente interrompido.

Devido à inércia das partes rotativas do conjunto motor-bomba, diante de falta


de energia elétrica, o bombeamento é interrompido quase que instantaneamente, e a
vazão é reduzida bruscamente. Nessa condição ocorre o golpe de aríete, e a tubulação
passa a sofrer os efeitos de excesso de pressão (sobre pressão) e quase falta de pressão
(subpressão) (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Quando estão envolvidas instalações muito grandes, o cuidado através do


estudo mais aprofundado sobre o transiente hidráulico (ou golpe de aríete) do sistema
deve ser realizado. No entanto, para os casos que envolvam vazões e pressões não tão
grandes, a determinação de variáveis relacionadas ao golpe de aríete pode ser feita com
fórmulas de base teórico-experimentais que já foram desenvolvidas.

Esse fenômeno não pode ser ignorado, uma vez que pode acarretar acidentes
sérios, perda de vida e de bens materiais. Assim, caro estudante, nesse tópico
abordaremos especialmente sobre os conceitos envolvidos, como se dá o fenômeno, as
principais fórmulas aplicadas e também sobre alguns dos equipamentos e acessórios
hidráulicos relacionados a esse fenômeno de transiente hidráulico.

2 CONCEITO E MECANISMO DO FENÔMENO


O termo transiente ou transitório é usado também para se referir a esse fenômeno
hidráulico porque trata-se de um fenômeno ondulatório, em que a sub ou sobre pressão
que a tubulação recebe transita pela tubulação com velocidade de propagação de onda.
Essa velocidade é função do módulo de elasticidade da água e do material da tubulação
(AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).
201
Denomina-se “golpe de aríete” ou “martelo hidráulico” a qualquer
variação súbita de pressão em uma tubulação (conduto forçado),
normalmente associada a uma mudança de velocidade súbita
(acelerando ou desacelerando a massa de água) que se traduz em
uma “pancada” como se a tubulação sofresse uma “martelada”
(AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015, p. 29).

O golpe de aríete acontece principalmente devido ao fechamento ou abertura


de válvulas, partida ou parada de bombas e turbinas, presença de bolsões de ar ou
vapor, bem como pela colisão da superfície de água dentro de um tubo com a ventosa
quando termina a saída de ar (se for um processo muito rápido). Por mais rápido que se
faça o fechamento de válvulas, sempre leva um tempo, por mais pequeno que este seja,
e a energia que deveria ser absorvida pelo fluido é transformada em compressão sobre
a água e também em força de deformação sobre as paredes do tubo (AZEVEDO NETTO;
FERNÁNDEZ, 2015).

O atrito da tubulação contribui para o amortecimento dos golpes sucessivos


devido à translação das ondas de sub e sobre pressão e suas idas e vindas das extre-
midades da tubulação. Essas alternâncias entre sub e sobre pressão, a superposição de
ondas de pressão e depressão e a possibilidade de surgirem fenômenos de ressonância
são os problemas a serem contornados para aumento da vida útil da tubulação (AZEVE-
DO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Como exemplo de como ocorre o transiente hidráulico, veja a figura a seguir:

Figura 20 – Mecanismo do golpe de aríete

Fonte: adaptado de: https://app.uff.br/riuff/bitstream/handle/1/7036/CAIO%20SP%C3%93SITO%20ESTE-


VES%20111.37.057.pdf?sequence=1. Acesso em: 29 set. 2022.

Considere o caso de uma tubulação que está escoando água a uma velocidade
constante. Se considerarmos que o volume escoado ao longo dessa tubulação possa
ser “dividido” em porções menores (que podemos chamar de lâminas), podemos
exemplificar o fenômeno do golpe de aríete da seguinte maneira:

202
• quando se fecha o registro R, a primeira porção de água (lâmina 1) será comprimida
por esse fechamento, e a energia cinética nesse ponto será transformada em pressão
no fluido. Isso fará com que ocorra, simultaneamente, a distensão nas paredes da
tubulação e deformação elástica da água devido a esses esforços internos sobre a
lâmina. Esse processo será “transmitido” para as porções seguintes (lâminas 2, 3, 4,
e assim por diante), ocasionando a propagação da pressão como se fosse uma onda
ao longo da tubulação até a lâmina junto ao reservatório (lâmina n);
• quando a onda de pressão chega ao ponto próximo no reservatório, a pressão que
está sendo propagada impulsiona o fluido com mais força contra as paredes da
tubulação, fazendo com que o fluido tenda a sair da tubulação para o reservatório,
com velocidade –V. Enquanto essa propagação da onda de pressão com velocidade
C (celeridade da onda) vai ocorrendo ao longo da tubulação, no primeiro ponto, onde
iniciou a maior pressão (na porção lâmina 1), a pressão se mantém muito alta (sobre
pressão) durante o período da tubulação (T). Entende-se por período da tubulação o
tempo que a onda de propagação leva para sair e voltar para uma das extremidades
da tubulação;
• quando a onda volta ao ponto inicial próximo ao registro R, que ainda está fechado,
forma-se ali um ponto de subpressão interna. Ocorre a partir daí a propagação
de onda de subpressão ao longo da tubulação, pois como há uma subpressão no
local, a água ocupará esse local novamente, as porções voltarão se chocar com
o registro e a velocidade será convertida em V. Esse processo de alternância de
sobre e subpressões prossegue até que a energia em excesso seja dissipada. A
dissipação de energia acontecerá, dentre outros motivos, pelo atrito com as paredes
da tubulação, que durante o fenômeno contribui para o amortecimento dos golpes
sucessivos.

3 CELERIDADE E PERÍODO DE CANALIZAÇÃO


A velocidade de propagação das ondas geradas pelo fenômeno do transiente
hidráulico pode ser calculada pela seguinte equação:

Em que:

c: celeridade da onda (m/s);


D: diâmetro interno dos tubos (m);
e: espessura das paredes dos tubos (m);
k: coeficiente relacionado aos módulos de elasticidade (ε).

O coeficiente k é igual a e possui valores de referência para os principais


materiais usados nas tubulações de abastecimento de água (Tabela 11).

203
Tabela 11 – Valores do coeficiente k para diferentes tubos

Fonte: adaptada de Azevedo Netto e Fernádez (2015)

A celeridade é geralmente da ordem de 1000 m/s, mas tem grande variação, e


pode ser, algumas vezes, um terço disso. Pode-se nota que a velocidade de propagação
perturba muito o escoamento, visto que as velocidades nas tubulações de abastecimento
são sempre menores que 10 m/s (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

A fase ou período de canalização (T) é o tempo que a onda de sobre pressão ou


de subpressão leva para ir e voltar de uma extremidade à outra da canalização (L), com
velocidade de propagação de onda (c, celeridade).

Ao chegar na outra extremidade da tubulação, a onda de subpressão ou de


sobre pressão volta-se para a extremidade de origem sob outra forma de onda – se o
primeiro translado da onda foi sob forma de sobre pressão, ao retornar a onda estará sob
forma de onda de subpressão (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

O tempo de manobra de um acessório (fechamento de válvula, bombas etc.) é


importante no estudo dos transientes hidráulicos, e pela quantidade de tempo gasto na
manobra (t), com relação ao período de canalização T, ou seja, de viagem da onda pela
tubulação, pode-se classificar a manobra em rápida (t < T) ou lenta (t > T).

A sobre ou subpressão máximas ocorrem quando a manobra é rápida. A sobre


pressão pode ser calculada pela seguinte expressão:

Sendo v a velocidade média da água, ha o aumento de pressão em mca e g a


aceleração da gravidade. Por fins de praticidade e segurança, costuma-se considerar g
igual a 9.

Para o caso de manobra lenta, a sobre pressão pode ser obtida pela fórmula de
Michaud-Vensano:

204
Sendo os períodos de canalização T e de manobra t em segundos, L o
comprimento da tubulação e v a velocidade média da água. Essa fórmula pode ser
aplicada para descobrir o tempo de manobra a ser adotado para a que sobre pressão
não ultrapasse determinado limite. Apesar dos valores obtidos por essa fórmula serem
maiores do que os observados experimentalmente, a fórmula de Michaud tem sido
utilizada por favorecer o princípio da segurança (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

A Figura 21 mostra graficamente como seria o diagrama de pressão em um


conduto sob o fenômeno de transiente hidráulico em condição ideal (sem perda de
carga por atrito) e em condição real (que se observa na prática).

Figura 21 – Representação da onda de pressão nas situações ideal e real

Fonte: adaptada de Viana (2019, s. p.)

4 OUTRAS FÓRMULAS E TEORIAS


Para os casos de grandes obras, o estudo do transiente hidráulico deve ser feito
com mais detalhes e maior rigor, por se tratar de um fenômeno complexo que envolve
muitas condições e variáveis. Para as situações de instalações menores, diversas
fórmulas simplificadas de base teórico-experimental foram desenvolvidas e têm sido
amplamente aplicadas. A Tabela 12 apresenta algumas dessas principais fórmulas.

Tabela 12 – Golpe de aríete: principais teorias e fórmulas

Fonte: adaptada de Azevedo Netto e Fernádez (2015, p. 300)

205
5 CONDIÇÕES DE EQUIVALÊNCIA E DISPOSITIVOS USUAIS
Para obter o comprimento equivalente (L) de um conduto de área de seção A1
à situação de um conduto em série, com trechos de comprimentos L1, L2 e L3..., de
seções diferentes A1, A2 e A3..., a seguinte expressão de relação pode ser usada:

Usando esse mesmo princípio de equivalência, ao se ter um conduto com


diâmetro uniforme, mas com trechos com celeridades diferentes, podemos calcular
uma celeridade de uma tubulação equivalente como:

São diversos os dispositivos utilizados para lidar com os efeitos de transiente


hidráulico nas redes. A seguir são adicionados breves comentários sobre alguns desses
dispositivos.

Válvula de alívio: é uma válvula usada para impedir que a pressão ultrapasse
determinado valor máximo através da descarga de certo volume determinado (“purga”)
para fora da tubulação em locais na rede. Esses dispositivos operam automaticamente,
devendo abrir instantaneamente quando a pressão na tubulação atinge o limite máximo
estabelecido. Existem dois tipos de válvulas de alívio, a depender do mecanismo utilizado
para fechamento das válvulas: do tipo vam (com “mola” metálica espiralada) e do tipo
vac (por ar comprimido) (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Geralmente, as válvulas se diferenciam pelas condições pares as quais são


projetadas, por exemplo, a pressão máxima (em MPa ou mca) e a vazão máxima de
purga. A partir do estudo sobre o transiente hidráulico na tubulação são delineadas a
localização das válvulas de alívio e as vazões de purga. Caso seja necessário, essas
válvulas podem ser instaladas em série.

INTERESSANTE
Veja um exemplo de uma válvula desenvolvida por uma empresa para
proteção das bombas das ondas do golpe de aríete em: https://www.
youtube.com/watch?v=XVnBPAhOgpw.

206
Tanques unidirecionais (“TAUs”): são utilizados para impor limite de
subpressão através da injeção de determinados volumes, em tempos determinados,
em certos locais da rede. Assim como as válvulas, eles se dividem em dois tipos: tipo tau
(com pressão atmosférica) e tipo tbu (por ar comprimido), e a sua localização também
dependerá do estudo do transiente hidráulico do sistema.

Tanques bidirecionais (“TABs”): os TABs se dividem em tranques


hidropneumáticos e em chaminés de equilíbrio.

Os tanques pneumáticos, ou câmaras de gás ou ar comprimido, são


reservatórios fechados com ar e água que são posicionados geralmente logo após as
bombas. Esse tipo de tanque serve para atenuar as pressões do transiente hidráulico.
Ocorrendo o golpe de aríete, na primeira onda do golpe, a câmara libera um certo
volume de água para a tubulação, a fim de amortecer a subpressão do golpe negativo.
Na segunda onda, de sobre pressão, a câmara recebe água da tubulação, comprimindo
o ar e, com isso, reduzindo a onda (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Essas câmaras de ar são indicadas para casos de vazões e pressões não muito
elevadas, e exigem cuidado de instalar um compressor para adicionar ar na câmara, uma
vez que o ar dentro da câmara vai sendo reduzido por dissolução na água (AZEVEDO
NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

As chaminés de equilíbrio, ou tanques piezométricos, funcionam pelo princípio


dos vasos comunicantes, com a superfície d’água em contato direto com a atmosfera.
Para seu adequado funcionamento, as chaminés devem ser mais altas do que o nível
d’água mais alto interligado, acrescentando-se ainda a altura de água que é esperada
com o golpe e com borda livre para o caso de superposição de ondas (AZEVEDO NETTO;
FERNÁNDEZ, 2015).

Volantes de inércia: esses dispositivos são como discos com determinada


massa e momento que são acoplados ao eixo motor-bomba com o objetivo de aumentar
a inércia das partes rotativas do conjunto e, assim, forçar a conversão de uma manobra
rápida em manobra lenta. Por ter grande segurança operacional e robustez, é aplicável
em linhas relativamente curtas de recalque (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

207
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:

• Que o fenômeno do transiente hidráulico ocorre em tubulações em associação às


mudanças significativas e súbitas de velocidade no escoamento. Tais mudanças
ocorrem geralmente com o fechamento ou abertura de registros ou em partidas
ou paradas repentinas de conjuntos elevatórios, que causam variações bruscas de
pressão na tubulação (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

• Que as válvulas de alívio, os tanques unidirecionais e bidirecionais e os volantes de


inércia são exemplos de acessórios hidráulicos que auxiliam a lidar com os impactos
do golpe de aríete sobre as tubulações.

• Que as variáveis celeridade da onda, período de canalização, tempo de manobra,


aceleração da gravidade e velocidade da água na tubulação estão relacionadas ao
estudo do fenômeno de transiente hidráulico e são usadas no cálculo das sub ou
sobre pressões determinadas geralmente em mca (metros de coluna d’água).

• Que a velocidade de propagação das ondas, a celeridade, é afetada pela tubulação


(diâmetro e espessura das paredes), bem como pelo coeficiente k, que é indicativo
do módulo de elasticidade do material da tubulação.

208
LEITURA
COMPLEMENTAR
REDES MALHADAS – MÉTODO HARDY CROSS

Rodrigo de Mello Porto

O cálculo do escoamento de água em uma rede malhada envolvendo um


grande número de tubulações é muito mais complexo que nos sistemas hidráulicos
simplificados para fins de estudo. Evidentemente, a solução do problema está baseada
nas mesmas equações e princípios aplicados às redes ramificadas, sistemas em paralelo
etc. Na resolução do problema de distribuição de vazões pelos trechos de uma rede
malhada e na determinação das cotas piezométricas nos nós, uma série de equações
simultâneas pode ser estabelecida. Estas equações são escritas de modo a satisfazer
duas condições básicas para o equilíbrio do sistema, que são:

a) A soma algébrica das vazões em cada nó da rede é igual a zero.


b) A soma algébrica das perdas de carga (partindo e chegando ao mesmo nó) em
qualquer circuito fechado dentro do sistema (malhas e anéis) é igual a zero.

Para aplicação dessas duas condições, em geral, convenciona-se que as vazões


que afluem ao nó são positivas, e as que dele derivam são negativas. Para os anéis,
convenciona-se como sentido positivo de percurso o sentido horário, de modo que as
vazões e, consequentemente, as perdas de carga serão positivas e forem coincidentes
como sentido prefixado de percurso, e negativas, caso contrário. A figura a seguir mostra
a convenção a ser utilizada nas aplicações.

Figura 1 – Convenções utilizadas para as equações fundamentais

209
No cálculo da perda de carga em cada trecho da rede utiliza-se uma equação de
resistência na forma .

Como regra geral, uma rede malhada com m anéis ou malhas e n nós gera
um total de equações independentes, e à medida que a complexidade da
rede aumenta, cresce proporcionalmente o número de equações. Evidentemente, uma
solução algébrica da rede torna-se impraticável e então se lança mão de um método de
aproximações sucessivas, com auxílio do computador, prático e muito adequado para o
problema, denominado método Hardy Cross.

O método de Hardy Cross destaca-se dentre os métodos de aproximações


sucessivas para o cálculo de redes malhadas, por possibilitar o desenvolvimento manual
dos cálculos, em sistemas simples, além de ser um método provido de significado físico,
que facilita a análise dos resultados intermediários obtidos.

O método Hardy Cross é aplicado aos condutos principais (anéis principais) de


uma rede malhada, a partir de alguns pressupostos do projeto e traçado da rede:

a) Uma vez lançados os anéis da rede, baseado em critérios urbanísticos de distribuição


de demanda, densidade populacional, vetores de crescimento da área a ser abastecida
etc., são definidos pontos fictícios convenientemente localizados nas tubulações.
Tais pontos, para efeito de cálculo, substituem, do ponto de vista de demanda, uma
certa fração da área a ser abastecida, de modo a transformar vazões por unidade de
área em vazões pontuais. Imagina-se que toda a rede seja suprida através dos anéis,
em pontos fictícios de descarregamento, que serão os nós da rede, para efeito de
aplicação do método.
b) Conhecendo-se a topografia da área, a distância entre dois nós será o comprimento
do trecho a ser dimensionado ou, se o diâmetro já for especificado, o trecho a ser
determinada a vazão e as pressões nas extremidades.
c) Admite-se que a distribuição em marcha que ocorre nos trechos que formam os
anéis seja substituída por uma vazão constante.
d) Supõem-se conhecidos os pontos de entrada e saída de água (reservatórios, adutoras
e os nós distribuídos nos anéis) e os valores das respectivas vazões.
e) Atribui-se, partindo dos pontos de alimentação, uma distribuição de vazão hipotética
Qa pelos trechos dos anéis, obedecendo em cada nó a equação da continuidade
.
f) Para cada trecho de cada anel, conhecendo-se o diâmetro (que pode ser pré-
dimensionado pela condição de velocidade limite, Tabela 1), o comprimento e o fator
de atrito, calcula-se o somatório das perdas de carga em todos os anéis. Se para
todos os anéis tivermos , a distribuição de vazões estabelecida está
correta e a rede é dita equilibrada.

210
Tabela 1 – Velocidades de vazões máximas em redes de abastecimento

D (mm) Vmáx (m/s) Qmáx (l/s)


50 0,68 1,34
60 0,69 1,95
75 0,71 3,14
100 0,75 5,89
125 0,79 9,69
150 0,83 14,67
200 0,90 28,27
250 0,98 47,86
300 1,05 74,22
350 1,13 108,72
400 1,20 150,80
500 1,35 265,10

g) Se em pelo menos um dos anéis, , que é a situação mais comum,


a distribuição de vazão admitida será corrigida, somando-se (compensando-se)
algebricamente a cada uma delas um valor de ∆Q, de modo que as novas vazões em
cada trecho serão:
Q = Qa + ∆Q

De modo a se atingir:

Expressão que desenvolvida pelo binômio de Newton torna-se:

Supondo-se que ∆Q é muito pequeno comparado a Qa, isto é, que os valores


supostos para as vazões são próximos dos valores reais, pode-se desprezar o terceiro
termo da série e os seguintes, e daí:

E finalmente:

Com as novas vazões obtidas em cada anel, recalculam-se as perdas de carga


e prossegue-se com o método até que se obtenham, em todos os anéis, valores de ∆Q
pequenos ou nulos. O número de aproximações sucessivas necessárias depende, em
grande parte, da margem de erro das estimativas iniciais das vazões e do porte da rede.

211
Não é objetivo do cálculo chegar a um limite muito afinado, uma vez que os resultados
obtidos não podem ser mais precisos que os dados básicos, os quais forçosamente
serão com frequência incertos.

Com a rede equilibrada e conhecidas as cotas piezométricas nos pontos de


alimentação, resultam imediatamente as cotas piezométricas e as pressões disponíveis
nos diversos pontos da rede. Se estas pressões forem inadequadas, modifica-se o
sistema, alterando ou a altura do reservatório ou os diâmetros de alguns trechos.

Tanto o problema de verificação quanto, principalmente, o problema de


dimensionamento, por se utilizar de um método de aproximações sucessivas, são
extremamente laboriosos, exigindo o auxílio de um programa computacional para
agilizar a análise de alternativas.

Fonte: PORTO, R. de M. Hidráulica básica. 4 ed. São Carlos: EESC-USP, 2006. p. 178-181.

212
AUTOATIVIDADE
1 O golpe de aríete causa grande turbulência no escoamento e pode danificar
tubulações e acessórios de um sistema de abastecimento, devido às grandes
variações de pressão que ocorrem. Para o cálculo das sub e sobre pressões nas
tubulações durante esse fenômeno transiente, são estudadas algumas variáveis
com relação direta ao fenômeno. Sobre as variáveis e fórmulas aplicadas aos cálculos
relacionados ao fenômeno do golpe de aríete, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A partir do tempo gasto na manobra (t), com relação ao período de canalização T,


pode-se classificar a manobra em rápida (t > T) ou lenta (t < T).
b) ( ) A celeridade é geralmente da ordem de 100 m/s, mas tem grande variação e
pode ser, algumas vezes, um terço disso.
c) ( ) A fase ou o período de canalização (T) é o tempo que a onda de propagação leva
para sair de uma extremidade da tubulação e retornar a esse mesmo ponto.
d) ( ) A fórmula de Michaud-Vensano pode ser aplicada para descobrir o tempo de
manobra a ser adotado para que sobre pressão não ultrapasse determinado
limite.

2 Por mais rápido que se faça o fechamento de válvulas, durante manobras na rede
sempre ocorre a transformação de energia em compressão sobre a água e também
em força de deformação sobre as paredes do tubo pelo fenômeno do transiente
hidráulico (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015). Com base nos conceitos e definições
acerca do fenômeno do transiente hidráulico, analise as sentenças a seguir:

I- O termo transiente ou transitório é usado também para se referir a esse fenômeno


hidráulico porque trata-se de um fenômeno ondulatório, em que a sub ou sobre
pressão que a tubulação recebe transita pela tubulação com velocidade de
propagação de onda.
II- A velocidade de translação da onda pela tubulação é afetada por alguns fatores,
dentre eles o módulo de elasticidade do material da tubulação.
III- O atrito da tubulação contribui para a formação dos golpes sucessivos devido
à translação das ondas de sub e sobre pressão e suas idas e vindas das
extremidades da tubulação.

Assinale a alternativa CORRETA:

Fonte: AZEVEDO NETTO, J. M. de; FERNÁNDEZ, M. F. Manual


de hidráulica. 9. ed. São Paulo: Blucher, 2015.

213
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Em um projeto de sistema de abastecimento, maior cuidado deve-se ter com


a tubulação de recalque, a fim de especificar acessórios hidráulicos e materiais
adequados que podem resistir a fenômenos transientes, como o golpe de aríete.
Isso porque as variações de pressão na tubulação submetem o material dos tubos a
variações de pressão que podem diminuir a sua vida útil. O que se tem recomendado
é a adoção de acessórios ou dispositivos que favoreçam a proteção da tubulação
para eventuais casos como esses. Considerando as opções de dispositivos usados e
seus mecanismos de funcionalidade, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

( ) Os TAUs se dividem em tranques hidropneumáticos e em chaminés de equilíbrio.


( ) Válvula de alívio são válvulas usadas para impedir que a pressão ultrapasse
determinado valor máximo, e os dois tipos são chamadas de tipo “vam” e tipo “vac”.
( ) Os volantes de inércia forçam a conversão de uma manobra lenta em manobra
rápida.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - F - V.
b) ( ) F - V - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) V - F - F.

4 Um conduto de aço de 500 m de comprimento, 0,80 m de diâmetro e 12 de espessura


está sujeito a uma carga de 250 m. A válvula localizada no ponto mais baixo é
manobrada em 8 s e a velocidade média na canalização é de 3 m/s. Calcule o período
de canalização, compare com o período de manobra e qualifique a manobra (rápida ou
lenta). Determine também a pressão total em mca à qual o conduto estará submetido
(AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).

Fonte: AZEVEDO NETTO, J. M. de; FERNÁNDEZ, M. F. Manual


de hidráulica. 9. ed. São Paulo: Blucher, 2015.

5 Em um sistema de abastecimento, a água é bombeada com carga de 50m em um trecho


de 250 m de uma rede malhada de distribuição. A água é transportada a 3,6 m/s e a
tubulação com 700 mm de diâmetro possui um registro ao final do trecho. Após uma
manobra de fechamento do registro observou-se que ocorreu na tubulação o golpe
de aríete. Calcule a sobre pressão máxima para esse caso considerando que o tempo
de manobra foi de 2,1 s (manobra lenta), e que a velocidade de propagação da onda
(celeridade) era de 980 m/s.

214
REFERÊNCIAS
AZEVEDO NETTO, J. M. de; FERNÁNDEZ, M. F. Manual de hidráulica. 9. ed. São Paulo:
Blucher, 2015.

ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações. New


York City: Mcgraw-hill, 2007. 562p.

GOMES, H. P. Sistemas de abastecimento de água: dimensionamento econômico e


operação de redes e elevatórias. 3. ed. João Pessoa: Universitária, 2009. 277p.

MORAES, C. R. Caracterização e origem da composição química da incrustação


e simulação de cenários de perda de energia em setor da rede de abastecimen-
to de água da cidade de Rio Claro – SP. 2010. 66 p. Trabalho de conclusão de curso
(Engenharia Ambiental) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade
estadual Paulista, Rio Claro, 2010.

MUNSON, B. R. Fundamentos da mecânica dos fluidos. 4. ed. São Paulo: Edgard


Blucher, 2004. 584p.

PORTO, R. de M. Hidráulica básica. 4 ed. São Carlos: EESC-USP, 2006. 540p.

TSUTIYA, M. T. Abastecimento de água. 3 ed. São Paulo: Departamento de Engenha-


ria Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2006.
643p.

VIANA, D. Guia da engenharia, 2019. Golpe de aríete: entenda o que é. Disponível em:
https://www.guiadaengenharia.com/golpe-ariete/. Acesso em: 1º set. 2022.

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