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Hidrometria
Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Livia Malacarne Pinheiro Rosalem
Prof. Erick Santana Amancio
215p.
ISBN 978-65-5466-223-9
ISBN Digital 978-65-5466-224-6
“Graduação - EaD”.
1. Hidráulica 2. Hidrometria 3. Engenharia
CDD 622.2
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Entende-se por Hidráulica o estudo do comportamento da água e de outros
fluidos, quer seja esse comportamento de movimento ou de repouso. A Hidráulica pode
ser dividida em Geral, dita também Teórica, Aplicada ou Hidrotécnica. Contudo, busca-
se sempre conciliar os princípios teóricos com a aplicação, o que faz com que haja
o intenso desenvolvimento em ambas as áreas da Hidráulica (AZEVEDO NETTO, 2015;
SCHULZ, 2003).
Assim, caro acadêmico, temos como objetivo, com esse material, compartilhar
com você o conhecimento básico da Hidráulica, a fim de que você desenvolva uma sólida
base de conhecimentos teóricos e práticos de maneira a habilitá-lo para os desafios que
surgirão em sua carreira profissional.
Bons estudos!
Lívia M. P. Rosalem
PhD Engenharia Hidráulica e Saneamento (EESC/USP)
GIO
Olá, eu sou a Gio!
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dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
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ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS........................................................................................................64
REFERÊNCIAS.......................................................................................................131
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 215
UNIDADE 1 -
PRINCÍPIOS CONCEITUAIS
BÁSICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
CONCEITOS BÁSICOS
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico abordaremos o conceito e um pouco sobre
a história da evolução do conhecimento na Hidráulica. Devido à necessidade de
abastecimento de águas nas cidades, do esgotamento sanitário e também da irrigação
de suas plantações, algumas das grandes cidades antigas desenvolveram sistemas
para isso que remontam a mais de 3000 a.C.
3
2.1 CONCEITO DE HIDRÁULICA - SUBDIVISÕES
A palavra hidráulica tem sua origem do grego, com o significado de “condução
de água” (hydor = água e aulos = tubo, condução), mas, atualmente, o termo hidráulica é
utilizado para se referir, de uma maneira mais abrangente, ao estudo do comportamento
da água e outros fluidos em repouso ou em movimento (AZEVEDO NETTO, 2015).
ATENÇÃO
Cuidado para não confundir Hidrocinemática com Hidrodinâmica! Atenção
para o fato de a Hidrodinâmica considerar as forças envolvidas no escoamento
do fluido.
4
Figura 1 - Diagrama das áreas e subáreas de estudo da hidráulica
INTERESSANTE
Já ouviu sobre as muitas construções de diques e de outras obras Hidráulicas
que os holandeses constroem há anos para lidar com o nível baixo de suas
terras? Acesse em: http://glo.bo/3rx4eSO.
5
Em 250 a.C., Arquimedes enunciou alguns princípios da Hidrostática, entre
eles o enunciado que depois ficou conhecido como “Princípio de Arquimedes”, a saber:
“Todo corpo submerso num líquido em equilíbrio, sofre ação de uma força denominada
Empuxo, cuja intensidade é igual ao peso do volume de líquido deslocado, sendo tal
empuxo vertical, agindo de baixo para cima e cuja linha de ação passa pelo centro de
gravidade do líquido deslocado”. Essa é reconhecida como a contribuição para a teoria
da mecânica dos fluidos mais antiga (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; MUNSON, 2004).
6
A fusão dessas duas escolas se deu no final do século XIX, formando a atual
Mecânica dos Fluidos. Nessa época foram desenvolvidos importantes avanços sobre
a viscosidade nos estudos de Hidrodinâmica (Navier e Stokes), sobre os métodos de
experimentação em Hidráulica (Reynolds) e o desenvolvimento da Análise Dimensional
(Lord Rayleigh). A junção desses dois ramos de estudo deve-se muito também ao
desenvolvimento, à época, da Engenharia Aeronáutica e, com isso, do avanço no estudo
dos fluidos gasosos.
7
Fonte: Azevedo Netto (2015, p. 19)
Sempre que é estabelecida uma igualdade entre dois membros de uma equação,
essa igualdade evidentemente implica que as quantidades são iguais e também que
a qualidade das grandezas avaliadas é a mesma. Assim, podemos dizer que partindo
do fato de que exprimimos todas as grandezas físicas por nós definidas sem termos
de quantidades e qualidades, ou seja, valores numéricos e unidades de trabalho,
8
forçosamente as relações que produzirmos entre essas grandezas, se fundamentadas
nos princípios físicos válidos, conduzirão a igualdades em termos de quantidades e de
qualidades (valores e unidades).
• comprimento;
• massa;
• tempo;
• intensidade de corrente elétrica;
• temperatura termodinâmica;
• intensidade luminosa;
• quantidade de matéria.
• metro (m);
• quilograma (kg);
• segundo (s);
• ampère (A);
• kelvin (K);
• candela (cd);
• mol (mol).
9
Quando analisamos a relação que existe entre a massa (M) e a força (F) de um
corpo, esta pode ser expressa pela equação da 2ª lei de Newton:
F=kxMxa
Onde:
k é uma constante
a é a aceleração a que o corpo está submetido
Ela gera a unidade prática de pressão conhecida como metro de coluna d’água
(m. c. a.), tão difundida entre os técnicos (AZEVEDO NETTO, 2015).
10
Hoje, está em vigor no Brasil e na maioria dos países do mundo, o sistema
absoluto, ou SI, do tipo MLT (massa, comprimento, tempo) e não FLT (força, comprimento,
tempo). As unidades básicas desse sistema são o quilograma, o metro e o segundo.
As unidades derivadas do SI são obtidas por tratamento algébrico ou dimensional, a
partir das grandezas físicas básicas mencionadas (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL;
CIMBALA, 2008).
11
for derivado de algum nome próprio. Um exemplo é a unidade de força que deriva do
físico Sir Isaac Newton, que deve ser escrita por extenso “newton” e abreviada por “N”.
Outra padronização relevante é sobre as abreviaturas das unidades, em que não se deve
utilizar ponto, a menos que fosse no final de sentença (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL;
CIMBALA, 2008).
No sistema SI, a unidade de força é o newton (N), que é definido como a força
necessária para acelerar uma massa de 1kg a uma taxa de 1m/s². Já no sistema inglês,
a força é expressa em lbf, que é, aproximadamente, 454g. Além disso, outra unidade de
força em uso comum em muitos países europeus é o quilograma-força (kgf), que é o
peso de 1kg ao nível do mar (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL; CIMBALA, 2008).
12
ESTUDOS FUTUROS
Não se preocupe que no próximo tópico você aprofundará seu conhecimento
sobre as diferenças conceituais de peso, massa e densidade.
Ff - W = ma
Ff = m (g + a)
DICA
Exercite o aprendizado sobre as diferentes unidades do sistema SI, fazendo
alguns exercícios on-line. Disponível em: https://bit.ly/3rDKbCt.
13
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Líquidos e gases são fluidos porque não possuem forma e escoam quando lhes é
aplicada uma força de cisalhamento.
14
AUTOATIVIDADE
1 Devido à relação de extrema dependência do ser humano com a água, a história da
Hidráulica é ligada à história de desenvolvimento e evolução de cidades e civilizações.
É por isso também que muito da evolução do conhecimento da Hidráulica se dá,
principalmente, acerca do escoamento de água (abastecimento ou esgotamento).
Entretanto, a Hidráulica envolve o escoamento de fluidos, isto é, não apenas líquidos,
mas também de gases. Acerca dos pontos importantes da história da Hidráulica que
foram apresentados neste tópico, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:
a) ( ) V - F - F - V.
b) ( ) V - F - V - V.
c) ( ) F - V - F - V.
d) ( ) F - F - V - F.
15
II- A Hidráulica Teórica tem foco no entendimento e descrição dos processos Hidráu-
licos, através das suas subdivisões: Hidrodinâmica, Hidrocinética e Hidrostática.
III- A Hidráulica Aplicada emprega os conhecimentos teóricos na resolução dos
problemas práticos de Hidráulica, tais como: elaboração de um sistema de drenagem,
construção de uma rede de distribuição de água e de coleta de esgoto, construção
e manutenção de diques, barragens e galerias pluviais e outras aplicações.
4 Sabendo-se que uma pessoa consome, aproximadamente, 800 m³ de água por ano
e que o planeta dispõe de, no máximo, 9000 km³ de água para o consumo por ano,
pode-se afirmar que a capacidade máxima de habitantes que o planeta suporta,
considerando-se apenas a disponibilidade de água para consumo, é de quanto?
16
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
PROPRIEDADES DOS FLUIDOS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico abordaremos sobre as principais propriedades dos
fluidos. Os conceitos aqui apresentados são importantes para o entendimento futuro das
leis e processos relacionados ao estudo do escoamento dos fluidos, especificamente,
da água, nosso principal objeto de estudo na Hidráulica.
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2 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS
Sem exceções, todos os seres do planeta vivem imersos em uma camada de
fluido, (e.g.) água ou ar. Um fluido é geralmente definido como uma substância que
se deforma continuamente sob ação de uma força tangencial (SCHULZ, 2003), mais
especificamente, “fluidos são substâncias ou corpos cujas moléculas têm a propriedade
de se mover umas em relação às outras sob a ação de uma força de mínima grandeza”
(AZEVEDO NETTO, 2015). Segundo Brunetti (2008), o fluido é uma substância que,
submetida a uma força tangencial constante, não atinge uma nova configuração de
equilíbrio estático.
18
Quando comparados aos líquidos, os gases apresentam maior compressividade
e menor densidade, o que ocasiona respostas de magnitudes diferentes. O estudo do
escoamento dos gases na Hidráulica é praticamente apenas nos casos de enchimento e
esvaziamento de tubulações e reservatórios fechados e também quando é necessária a
passagem de ar através de dispositivos hidráulicos, tais como ventosas ou respiradores,
ou também em casos de golpe de aríete (fenômeno de transitório hidráulico em
tubulações) (AZEVEDO NETTO, 2015; ÇENGEL; CIMBALA, 2007).
V=3x3x2
V = 18m3
19
Exemplo 2: A massa específica da gasolina é ρ = 0, 66 g/cm³. Em um tanque
com capacidade para 5.000 litros, qual a massa da gasolina?
Solução:
20
DICA
Para assimilar melhor a diferença entre peso, massa e densidade, acesso o
vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=upguBOEhq4c.
dV = - a x V x dp
21
diminuição do volume se ocorresse um aumento da pressão (uma compressão) de igual
valor absoluto. Isto é, os módulos de elasticidade são iguais ocorrendo à descompressão
ou a compressão do fluido (AZEVEDO NETTO, 2015; SCHULZ, 2003).
ESTUDOS FUTUROS
Mais informações sobre o fenômeno do Golpe de Aríete serão aprendidas
adiante, na Unidade 3.
22
aumento da pressão, acima da pressão de vapor e as bolhas que se formaram na etapa
de ebulição se colapsam causando microjatos no derredor. A força desses microjatos
desgastam superfícies, causam vibrações na tubulação, reduzem o rendimento de
bombas e turbinas, dentre outros efeitos indesejáveis (PORTO, 2006; SCHULZ, 2003;
AZEVEDO NETTO, 2015; HIBBLER, 2016).
INTERESSANTE
Quer aprender mais sobre cavitação? Nesse vídeo você pode saber mais
sobre isso. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f-1P0CDJ1SY.
Assim, se um fluido é dito incompressível, o seu volume não varia com a alteração
da pressão, portanto, se o fluido for incompressível, a sua massa específica não variará
com a pressão. Mas, na prática, não existem fluidos nessas condições. Os líquidos,
porém, têm um comportamento muito próximo a esse e, por isso, são normalmente
considerados como tais. Entretanto, é importante ser cauteloso e compreender que
nenhum fluido deve ser julgado de antemão. Podendo ser admitido que o fluido seja
incompressível ou que, ao longo do escoamento, a variação da massa específica ρ pode
ser considerada desprezível e o estudo do fluido será efetuado pelas leis estabelecidas
para fluidos incompressíveis (BRUNETTI, 2008; SCHULZ, 2003).
23
2.3 LÍQUIDOS PERFEITOS
Um fluido em repouso apresenta isotropia, isto é, em torno de um ponto os
esforços são iguais em todas as direções (AZEVEDO NETTO, 2015). Quando em
movimento, devido à viscosidade, o fluido apresenta anisotropia na distribuição dos
esforços. Como um exemplo disso, você pode pensar em um copo com óleo que, quando
derramado sobre uma mesa, irá se espalhar de maneira desuniforme.
24
Figura 2 – Representação para o estudo da viscosidade
Foi Isaac Newton que propôs, no final do século XVII, que a tensão de
cisalhamento do fluido é diretamente proporcional a essa taxa de deformação por
cisalhamento ou gradiente de velocidade. Essa formulação ficou conhecida como Lei
de Newton da viscosidade ou “equação da viscosidade de Newton” (AZEVEDO NETTO,
2015; HIBBLER, 2016), como segue:
25
Figura 3 – Taxa de deformação de um fluido newtoniano
26
Nesse método pelo viscosímetro de Ostwald, a equação de Poiseuille é utilizada,
sendo:
27
basicamente dois tipos, que se comportam como mostrado na Figura 4. Para cada
um desses fluidos, a inclinação da curva entre a taxa de deformação e a tensão de
cisalhamento determina a viscosidade para esse fluido. Os fluidos que possuem um
aumento da viscosidade (inclinação) com um aumento da tensão de cisalhamento são
conhecidos como fluidos dilatantes e dentre esses podemos citar a água com altas
concentrações de açúcar e a areia movediça (HIBBELER, 2016; ÇENGEL; CIMBALA,
2007).
ESTUDOS FUTUROS
Veja que interessante o comportamento de um fluido não newtoniano. Se
quiser, pode fazer essa experiência em casa. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=ZCGwatTa8r8.
Figura 4 – Curvas dos tipos de fluidos de acordo com o comportamento da tensão de cisalhamento
28
Como se pode observar pela Tabela 3, a viscosidade varia consideravelmente com
a temperatura e, portanto, essa é uma variável importante a ser levada em consideração
nos cálculos. De modo geral, a viscosidade diminui para os líquidos e aumenta para os
gases, quando ocorre o aumento da temperatura (Figura 5). Isso acontece porque a
viscosidade nos líquidos é ocasionada pelas forças coesivas entre suas moléculas, que
possuem mais energia disponível quando em temperatura mais elevada.
A viscosidade dos gases pode ser determinada pela fórmula de Sutherland, que
expressa a viscosidade em relação à temperatura como:
29
Figura 5 – Exemplo da resposta da viscosidade de líquidos e gases à variação da temperatura
30
sendo a máxima na parte central do tubo. Por isso, devido aos atritos e, principalmente,
da viscosidade, o escoamento em uma tubulação ou canalização só ocorre com certa
perda de energia. Essa perda de energia é dita também “perda de carga” (AZEVEDO
NETTO, 2015).
Outros fenômenos que afetam o escoamento dos líquidos que devem ser
comentados aqui são os fenômenos de origem molecular: adesão e tensão superficial,
além do já mencionado fenômeno de coesão.
31
Quebrar a tensão superficial exige o trabalho de separar as moléculas, sendo a
energia produzida por esse trabalho chamada de energia de superfície livre (AZEVEDO
NETTO, 2015). Nesse caso, o que ocorre é o “excesso de energia” como resultado da
ligação, agora incompleta nas duas superfícies. A energia de superfície também pode
ser melhor entendida como o excedente de energia na superfície de um material,
quando comparado ao seu volume. Logo, ao cortar um corpo sólido em pedaços,
suas ligações são interrompidas. Com isso, ocorre o aumento da área de superfície e,
consequentemente, o aumento da energia de superfície (HIBBELER, 2016; MUNSON,
2004).
INTERESSANTE
Sabia que os fenômenos da capilaridade podem ser usados para
irrigação? Acesse o vídeo disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=GXOxrURQ-E8.
32
Figura 6 – Efeito da ação capilar em tubos com diâmetro pequeno
γπR2h = 2πRσcosθ
33
Outra denominação dada para os líquidos a partir da forma do ângulo de contato
é líquidos umectantes, quando o menisco ou superfície do líquido em um recipiente
estreito apresenta formato côncavo ou não umectante, quando o menisco forma uma
superfície convexa (HIBBELER, 2016; MUNSON, 2004).
34
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
35
AUTOATIVIDADE
1 Os fluidos, líquidos e gases, são caracterizados por não apresentarem forma definida
e por deformarem quando lhes é aplicada uma força. Apesar de apresentarem várias
propriedades semelhantes, existem diferenças importantes entre líquidos e gases.
Um dos motivos para isso é a diferença no arranjo e na movimentação de suas
partículas, que têm efeitos sobre diversas propriedades e sobre a sensibilidade e,
com isso, sobre a resposta às variações de pressão e temperatura. Sobre os conceitos
relacionados aos fluidos, assinale a alternativa CORRETA:
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3 A viscosidade é uma propriedade dos fluidos que se refere à resistência destes ao
movimento. Também chamada de atrito interno, a viscosidade faz com que os fluidos
convertam energia cinética em calor, permitindo que o fluido desenvolva resistência
quando lhe é aplicado um esforço cisalhante. A deformação que ocorre nos fluidos
vai depender da sua viscosidade, sendo em diferentes taxas para diferentes tipos
de fluidos. Considerando os conhecimentos acerca da viscosidade dos fluidos,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.
4 De acordo com Miranda (2018), um tubo capilar com 0,88 mm de diâmetro interno é
mergulhado numa cuba com glicerina e a glicerina sobe 23,3 mm no tubo. Qual é a
sua tensão superficial? Dados: massa específica = 1260kg/m³ e ângulo = 0°.
37
38
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
TIPOS E REGIMES DE ESCOAMENTOS
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, agora abordaremos os conteúdos finais da Unidade 1. Nesse
tópico são apresentados os tipos e os regimes de escoamento.
Depois dessa discussão serão apresentados alguns dos tipos de movimento dos
escoamentos. Algumas das subdivisões dos movimentos são de acordo com grandezas
físicas que afetam esses escoamentos, tais como: tempo, velocidade, força (isto é,
pressão) entre outras.
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2 TIPOS E REGIMES DE ESCOAMENTOS
Na maior parte dos casos, os fluidos não permanecem estáticos, mas escoam.
Especificamente, a Cinemática é o estudo da geometria do escoamento, que tem por
foco a descrição da posição, da velocidade e da aceleração das partículas de um sistema
de fluido. Um sistema consiste em uma quantidade específica do fluido que está contido
em uma região do espaço, separado do fluido que está fora dessa região, nos arredores
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007; HIBBELER, 2016, SCHULZ, 2003).
40
2.1 REGIMES DE ESCOAMENTO
Quando duas camadas de fluido estão se movimentando, uma em relação à
outra, ocorre o aumento de uma força de atrito entre essas camadas. A camada fluída
que se move mais lentamente tentará reduzir a velocidade da camada mais rápida
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007; HIBBELER, 2016). Essa resistência ao movimento ocasionada
pela aderência interna do fluido é denominada viscosidade. Todos os fluidos apresentam
viscosidade, então, todo o escoamento é afetado pelos efeitos viscosos em algum grau.
Entretanto, os escoamentos em que esses efeitos são significativos, são denominados
escoamentos viscosos. Devido a essa importância, então, uma maneira de classificação
do regime de escoamento é em relação a esses efeitos viscosos (SCHULZ, 2003).
INTERESSANTE
Veja como é o comportamento das partículas nos diferentes tipos de
escoamento, como é mostrado na Figura 8 e no vídeo disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=MjujI72PX-k.
41
Figura 8 – Tipos de regime de escoamento
Assim, nota-se que com uma taxa de descarga pequena (no primeiro caso) e,
portanto, com menores velocidades no escoamento, as partículas no fluido escoam
sem muita movimentação transversal e mantêm as lâminas concêntricas típicas do
escoamento laminar. Aplicando-se uma taxa maior de descarga (como no segundo
caso), ocorre o aumento da velocidade de escoamento e, com isso, maior turbulência,
isto é, o escoamento apresenta maior movimentação transversal das partículas do fluido,
fazendo com que haja maior troca de massa entre as lâminas concêntricas (BRUNETTI,
2008; HIBBELER, 2016).
42
Esse experimento foi realizado por Reynolds (1883) para demonstrar a existência
desses dois tipos de regime. Reynolds verificou que o fato de o movimento ser turbulento
ou laminar dependeria de um fator adimensional e acabou recebendo seu nome. Esse
fator, ou número adimensional de Reynolds, será estudado mais detalhadamente na
Unidade 2 dessa disciplina.
ESTUDOS FUTUROS
Esse assunto sobre o Número de Reynolds será abordado com mais
detalhes na Unidade 2.
43
Considere o exemplo a seguir:
44
No escoamento do tipo tridimensional, a velocidade variará em função das três
coordenadas cartesianas (nos eixos x, y e z) (Figura 10). Ocorrendo a necessidade de
uma análise em três dimensões, as equações tornam-se muito mais complexas, por
isso, é conveniente, quando possível, descrever o escoamento na forma unidimensional,
tendo-se que assumir previamente que o escoamento apresente velocidade igual em
todos os pontos e, portanto, que as propriedades não se alteram entre um ponto e outro.
Isso é usualmente aplicado para os cálculos relacionados ao escoamento de fluidos
(BRUNETTI, 2008) e um exemplo disso são os cálculos que envolvem vazão.
IMPORTANTE
Essa simplificação de escoamentos tri ou bidimensionais para
unidimensionais é uma simplificação muito usual e que você fará uso para
muitos dos cálculos nessa disciplina.
45
A terminologia da área também apresenta uma classificação dos escoamentos
de acordo com seu comportamento temporal. De forma imediata, um escoamento no
qual nenhuma variável se altera ao longo do tempo, em nenhum ponto no interior do
fluido, é denominado “escoamento permanente” ou escoamento em “regime perma-
nente”. Note-se que as propriedades do fluido podem variar de ponto a ponto, desde
que não ocorram variações com o tempo. Um exemplo prático é o de um escoamento
através de uma tubulação, desde que o nível dele seja mantido constante (Figura 11).
Nesse tanque, a quantidade de água que entra em (1) e que sai em (2) (HIBBELER, 2016;
BRUNETTI, 2008; PORTO, 2006).
Qualquer outra situação em que uma variável em pelo menos um ponto no interior
do fluido se altere ao longo do tempo é denominada “escoamento não permanente”
ou escoamento em regime “não permanente” ou “escoamento variado” (PORTO, 2006;
SCHULZ, 2003; AZEVEDO NETTO, 2015). Olhando para a Figura 12, se não houver mais
o abastecimento de água no ponto (1), o regime passará a ser dito variado. Para esses
casos, só que em reservatório de grandes dimensões – aqueles em que se extrai,
mas devido a sua dimensão muito extensa o nível não varia significativamente com o
tempo – o regime acaba sendo considerado como aproximadamente permanente. Essa
diferença ocasionada pela dimensão do reservatório é exemplificada na figura a seguir
(HIBBELER, 2016; BRUNETTI, 2008).
46
Os termos em regime permanente e uniforme são muito usados na Hidráulica e,
portanto, é necessário compreender corretamente seus significados. Para distingui-los
melhor, podemos dizer que o termo regime permanente implica “não haver mudança com
o passar do tempo”. O termo uniforme implica “não haver mudança com a localização”
em uma região específica (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; BRUNETTI, 2008; PORTO, 2006).
47
Figura 13 – Variação da velocidade do escoamento de um fluido em relação ao tempo
48
c) Escoamento rotacional e irrotacional: embora haja uma definição
matemática que exprime exatamente a rotacionalidade, aqui a definição se baseia
na noção intuitiva de que o escoamento rotacional é aquele no qual suas partículas
experimentam rotação, isto é, deslocamentos angulares em torno de seu eixo. No
escoamento irrotacional isso não ocorre (SCHULZ, 2003; PORTO, 2006).
49
Os escoamentos em regime não uniforme (ou ditos turbulentos) são
intrinsecamente não permanentes (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Em casos práticos, o
componente velocidade pode variar aleatoriamente em torno de um valor médio de
velocidade. Nos escoamentos ditos turbulentos, a definição do escoamento como
permanente ou não permanente, pode se dar com relação ao comportamento dessa
grandeza – velocidade média. Havendo constância dessa grandeza ao longo do tempo,
o escoamento será definido como permanente, caso contrário, será definido como não
permanente. Outra terminologia usada especificamente para escoamentos turbulentos
são os termos “estacionário” e “não estacionário” para representar as tendências das
grandezas médias, justamente procurando evitar confusões com a definição mais
rigorosa de permanência e não permanência (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; PORTO, 2006;
SCHULZ, 2003).
Figura 14 – Linha de trajetória exemplificando o caminho seguido por uma partícula em um escoamento em
estudo
50
Linha de emissão: é definida a partir de uma origem, um ponto fixo no
interior do escoamento. A linha de emissão é o lugar geométrico ocupado por todas
as partículas diferentes que passaram pelo ponto de origem. Note-se que a trajetória
é o lugar geométrico ocupado ao longo do tempo por uma única partícula, enquanto
a linha de emissão considera todas as partículas que passaram por um ponto. Como
o escoamento pode variar ao longo do tempo, os dois registros podem ser diferentes
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003).
Linha de corrente: é uma curva que é traçada de tal maneira que indique a
direção da velocidade das partículas em um fluido em movimento em determinado
instante de tempo. Especificamente, a velocidade de qualquer partícula é sempre
tangente à linha de corrente ao longo da qual ela está trafegando nesse instante
(HIBBELER, 2016; SCHULZ, 2003). Assim, a linha de corrente pode ser entendida como
a linha tangente aos vetores da velocidade das diferentes partículas em um mesmo
instante (BRUNETTI, 2008). É importante lembrar que as linhas de corrente são usadas
para representar o campo de escoamento durante cada instante de tempo. Assim, na
equação de uma linha de corrente, o tempo não é uma variável, já que se refere a um
certo instante de tempo. Para traçar essas linhas usa-se, por exemplo, de pequena
serragens em diversos pontos e tirando em seguida uma fotografia instantânea (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003; BRUNETTI, 2008; HIBBELER, 2016). A serragem servirá
para indicar o curto espaço percorrido, que representará o vetor velocidade, como
ilustrado na Figura 15.
51
Figura 16 – Representação de tubo de corrente
Assim, uma partícula trafegará nesse tubo mais lentamente, quanto maior for
a distância entre as linhas de corrente, ou seja, se o tubo de corrente for mais largo.
Assim, terá o escoamento mais acelerado, caso essas linhas estejam mais próximas (ou
o tubo de corrente for estreito). As principais propriedades dos tubos de corrente é que
estes são fixos quando o regime é permanente e que são “impermeáveis” à passagem
de massa, ou seja, não ocorre a passagem ou o fluxo de partículas do fluido através do
tubo de corrente. Isso porque, como o regime é permanente, não deve ocorrer a variação
da condição do fluido ou de suas propriedades e também porque, para que partículas
do fluido cruzassem o tubo, o vetor da velocidade teria que ser oblíquo em relação ao
tubo de corrente. Isso não é possível de acontecer devido à própria definição das linhas
de correntes, em que estas seriam formadas pelas retas tangentes dos vetores de
velocidade das partículas (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; SCHULZ, 2003; BRUNETTI, 2008).
52
setas que indicam tanto o módulo quanto a direção de uma propriedade em determinado
instante de tempo. Por exemplo, embora as linhas de corrente sejam as que indiquem
a direção do campo de velocidade instantânea de um escoamento, elas não indicam o
módulo da velocidade.
54
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
55
AUTOATIVIDADE
1 A Hidrocinética é a área da Hidráulica que tem por foco o estudo da geometria do
escoamento dos fluidos. Isso é importante quando trabalhamos com escoamento
de fluidos porque ao determinar as características do escoamento, as condições
de pressão ou as forças que afetam esse escoamento, podem ser determinadas
também. Além das diferentes formas de se descrever o movimento das partículas
de um fluido, existem diferentes formas para classificar os padrões de escoamento
do fluido em um sistema ou um volume de controle. Com isso em mente, assinale a
alternativa CORRETA acerca da descrição e dos tipos e classificações de regime de
escoamento de fluidos:
I- Laminar.
II- Turbulento.
III- Transitório.
56
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) I - III - II.
b) ( ) II - I - III.
c) ( ) I - II - III.
d) ( ) III - II - I.
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) V - V - V.
57
LEITURA
COMPLEMENTAR
EXATIDÃO, PRECISÃO E ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS
Erro de precisão é o valor de uma leitura menos a média das leituras. Em geral,
a precisão de um conjunto de medidas refere-se à fineza da resolução e à capacidade
de repetição do instrumento de medida. Geralmente, a precisão é associada a erros não
repetitivos e aleatórios.
Uma medida ou cálculo podem ser muito precisos sem serem muito exatos, e
vice-versa. Por exemplo, suponha que o valor real da velocidade do vento seja 25,00
m/s. Dois anemômetros A e B fazem cinco leituras, cada um, da velocidade do vento:
• anemômetro A: 25,50; 25,69; 25,52; 25,58 e 25,61 m/s. Média de todas as leituras =
25,58 m/s.
• anemômetro B: 26,3; 24,5; 23,9; 26,8 e 23,6 m/s. Média de todas as leituras = 25,02
m/s.
58
Claramente, o anemômetro A é mais preciso, visto que nenhuma das leituras
difere por mais de 0,11m/s da média. Entretanto, a média 25,58 m/s é 0,58 m/s maior
do que a velocidade verdadeira do vento, indicando erro de desvio significativo, também
chamado de erro constante ou erro sistemático. Por outro lado, o anemômetro B não é
muito preciso, visto que as suas leituras variam bastante em torno da média, mas sua
média total está muito mais próxima do valor verdadeiro. Logo, o anemômetro B é mais
exato do que o anemômetro A, pelo menos para este conjunto de leituras, ainda que seja
menos preciso. A diferença entre exatidão e precisão pode ser ilustrada eficazmente
por uma analogia do disparo de um revólver num alvo, como mostrado na figura 1-40.
O atirador A é muito preciso, mas não muito exato, enquanto o atirador B tem melhor
exatidão total, mas menos precisão.
59
estudantes é tentada a escrever C = 0,802434, com seis algarismos significativos, uma
vez que este é o resultado exibido na calculadora depois de multiplicar os dois números.
60
Você também deve estar consciente de que algumas vezes preferimos
introduzir pequenos erros a fim de evitar o incômodo de pesquisar dados mais exatos.
Por exemplo, ao lidarmos com água, frequentemente usamos o valor 1000 kg/m³ para
densidade, que é o valor da densidade da água pura a 0 °C. O uso de tal valor a 75 °C
resultará num erro de 2,5% uma vez que a densidade nessa temperatura é 975 kg/m³.
Os minerais e impurezas na água introduzem um erro adicional. Sendo esse o caso,
não tenha escrúpulos em arredondar os resultados finais com um número razoável de
algarismos significativos. Além disso, ter um pequeno grau de incerteza nos resultados
da análise de engenharia usualmente é a regra, não a exceção.
61
Finalmente, quando a quantidade de algarismos significativos for desconhecida,
o padrão aceito na engenharia é de três algarismos significativos. Portanto, se o
comprimento de um cano for dado como 40 m, assumiremos que o valor seja 40,0 m a
fim de justificar o uso de três algarismos significativos finais.
62
Substituindo-se pelos valores medidos, a vazão de volume é:
Tenha em mente também que boa precisão não garante boa exatidão. Por
exemplo, se as pilhas do cronômetro estiverem fracas, sua exatidão poderá ser bem
baixa, apesar do mostrador ainda exibir precisão de quatro algarismos significativos.
63
REFERÊNCIAS
AZEVEDO NETTO, J. M. de. Manual de Hidráulica. 9. ed. São Paulo: Blucher, 2015.
632p.
BRUNETTI, F. Mecânica dos fluidos. 2. ed. rev. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2008. 446p.
HIBBELER, R. C. Mecânica dos fluidos. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016.
834p.
64
UNIDADE 2 —
PRINCÍPIOS GERAIS DO
ESCOAMENTO DOS FLUÍDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
65
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
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66
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
PRINCIPAIS EQUAÇÕES
E LINHA DE CARGA
1 INTRODUÇÃO
Para haver deslocamento, é necessário que haja diferença potencial de energia.
Por exemplo, se quisermos que uma pedra desça uma ladeira, primeiramente, teremos
que posicioná-la no ponto mais alto e depois abandoná-la em uma superfície em que
a ação de atrito seja menor que a força resultante da aceleração gravitacional que atua
naquele corpo. O que abordaremos nesta unidade não será diferente, sendo que as
diferenças de cotas e as características de rugosidade dos condutos serão cruciais para
que haja deslocamento de uma massa de água.
Para que a discussão fique mais fluída, será necessário definir o que é vazão.
Pode-se dizer que vazão é a quantidade de matéria que passa entre dois pontos de
corrente em um intervalo de tempo, ou seja, uma grandeza F, vetorial ou escalar, que
faz associação a alguma partícula de volume , que com determinada velocidade
passa por uma seção de escoamento de área S. Essa grandeza F, em associação ao
fluido, pode ser a massa (vazão mássica), o peso (vazão em peso) e o volume (vazão
volumétrica).
DICA
Quando falamos de montante e jusante, estamos falando de direção de
deslocamento da água. A água sai de um ponto de maior energia (montante)
e vai para outro ponto onde tem menor energia (jusante). Para facilitar o
entendimento, veja o vídeo sugerido e compreenda melhor esse conceito:
https://youtu.be/YKxx9rDXTwI.
(2.1)
(2.2)
Com a equação 2.2 é possível determinar a vazão de um rio, pois é possível medir
a área a partir da topografia e a velocidade com um equipamento chamado de molinete,
que é um instrumento composto por uma hélice, um contador de giros que converte a
velocidade angular em velocidade linear. O equipamento deve ser posicionado no leito
do rio no sentido contrário ao da corrente.
68
Existe uma maneira bem prática para medir vazão e você pode fazer esse
experimento na sua própria casa. Basta você abrir a torneira e medir o tempo que
leva até o enchimento de um balde com volume conhecido, ou ele pode ser pesado
posteriormente e então aplicar a equação.
69
como laminar. À medida que a velocidade era aumentada e o fluxo do corante apresentava
trajetória irregular, com movimento indefinido, o escoamento era classificado como
turbulento. Nesse sentido, podemos destacar também o escoamento transicional, uma
combinação entre os processos laminar e turbulento. O escoamento transicional é muito
instável, ocorre com números de Reynolds > 2300 < 4000. Na prática, o escoamento
turbulento é o que mais ocorre, exceto quando as velocidades são muito baixas e em
fluidos muito viscosos.
ESTUDOS FUTUROS
No Tópico 3 desta Unidade vamos estudar o conceito de escoamento uniforme
em condutos forçados, e é de suma importância entendermos o que são
linhas de correntes e tubos de correntes, que estão diretamente relacionados
com a determinação da velocidade dentro dos condutos forçados.
70
tangencial em cada ponto ao vetor velocidade, conseguiremos identificar as chamadas
linhas de corrente. Se traçarmos essas linhas em cada instante no tempo podemos
entender a evolução do escoamento.
2 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE
Em quais sentidos e direções que um fluido se movimenta? Para compreender
como se dá esse movimento, vamos imaginar que seja observado um cubo de fluido
localizado em tubo de corrente. Chamaremos esse cubo de cubo elementar e ele terá
dimensões infinitesimais dx, dy e dz, suas arestas serão paralelas aos eixos cartesianos,
conforme pode-se observar na Figura 1.
71
Figura 1 – Cubo elementar
(2.3)
a) As forças que dependem do volume considerado, a força peso seria um exemplo, que
será expressa pelas acelerações ax, ay e az.
b) As forças relacionadas à superfície de cada uma das faces do cubo elementar
resultantes da pressão exercida pelo fluido externo.
DICA
Você já deve ter se perguntado o motivo pelo qual barcos não afundam ou
cubos de gelo ficam boiando quando estão na superfície da água. O Princípio
de Arquimedes explica exatamente como um fluído exerce pressão sobre um
corpo submerso. Veja este vídeo sugerido e fique por dentro: https://youtu.
be/57qs91GBscU
Agora, voltando para a Figura 1, podemos observar a face ABCD, nela age a
pressão “p” e em sua face oposta agirá uma pressão “p” somada a sua diferencial,
resultante do deslocamento dx, ou seja, é a variação de x na direção x (AZEVEDO NETTO;
FERNANDEZ, 2015):
72
Ainda observando cubo elementar, as ações normais a 0x (representado pelas
semirretas do eixo cartesiano no eixo z e eixo y e perpendicular ao eixo x) e de superfície
dx dz terão uma resultante de um vetor no sentido oposto à pressão exercida face ABCD,
que pode ser escrita da forma a seguir:
Com relação ao eixo 0x, F é resultante das forças de pressão, a aceleração será
a variação velocidade no tempo e a massa é descrita na equação 2.2, então:
Como:
Ou seja:
Por fim:
(2.4)
73
(2.5)
Saindo da face oposta, tem-se a massa observada que passou na face ABCD e
uma parte resultante desse deslocamento:
Então:
74
Ou seja:
Ou seja, temos agora quatro equações e quatro incógnitas, visto que a densidade
agora é uma constante, tornando o nosso sistema possível e dependente do arranjo do
problema para que ele seja determinado.
Como não há variação de massa, pois não há entrada nem saída de líquido,
respeitaremos a Lei de Lavoisier:
75
No subtópico 2 desta unidade, definimos que a vazão pode ser calculada pela
expressão: Q = v . A, ou seja, se trata do produto da velocidade do fluido pela área.
Sendo assim, podemos chegar à conclusão de uma das mais importantes equações da
hidráulica (2.6):
Q1 = Q2 (2.6)
Sendo essa a descrição da Equação da Continuidade, que nos diz que a vazão é
constante, desde que não haja contribuição e retirada entre os dois trechos analisados.
Como elas são iguais, podemos estabelecer uma relação com a área e com a velocidade
entre duas seções de escoamento de líquidos.
Observe que a partir desse ponto discutiremos apenas sobre um tipo de fluido,
o líquido, ou melhor, o líquido perfeito. Para as demais situações e os demais fluidos
compressíveis, devemos utilizar a Equação de Euller e o comportamento do elemento
estudado ao escoar em alguma superfície para equacionar o seu movimento.
76
Estando o fluido sujeito às mesmas regras de um corpo sólido, podemos aplicar
equacionamentos para entender como varia a energia durante o movimento de uma
massa de fluido, em que as regras de balanço de energia são atendidas. Em grande
parte do deslocamento dos líquidos, o fluido que está em foco em nossos estudos
será devido à energia potencial. Normalmente, o fluido estará confinado em uma caixa
d’água e, a partir de sua liberação, haverá deslocamento. O fluido estará normalmente
confinado em um conduto circular, ou melhor, tubulações, e ele se deslocará até outro
ponto. Durante esse deslocamento, parte da energia potencial se converterá em energia
cinética e parte se converterá em energia de pressão (que será interpretada em termos
de inércia e estará relacionada com a sua massa, como veremos mais adiante).
Figura 2 – Detalhe de uma tubulação que conduz um líquido e o traçado das linhas de energia
Na Figura 2, pode-se observar a linha energética, que sempre será maior que a
linha piezométrica, salvo quando o fluido está em repouso, quando não há movimento
e, portanto, não há energia cinética. Observe que o ponto de montante é o ponto 1, por
possuir maior energia piezométrica (energia de pressão) e está indo para o ponto 2, que
é o ponto de jusante.
77
Ainda analisando a Figura 2, veja que a energia cinética não se altera, não
necessariamente há perda de energia em fluido, porém, há sempre perda de energia de
pressão. Devido ao atrito com as bordas do conduto, chamaremos essa perda de perda
de carga, simbolizado por ∆H, a letra delta é referente à variação e H vem do inglês head
que significa carga.
Observe que temos outros elementos, como a cota do ponto, que está
relacionada com um plano de referência para sabermos a altura desse ponto até o
local de análise. Nesse caso, não há diferença de cotas, mas caso haja diferença entre
elas, fará com a energia potencial seja diferente de zero e ela ajustará tanto a energia
de pressão quanto a energia cinética. Lembra que em Física estudamos um corpo em
queda livre? O que acontece com a velocidade quando um corpo é abandonado de uma
certa altura, ela aumenta ou diminui?
Uma maneira mais fácil e prática para entender como funciona o traçado das
linhas de energia é analisando possíveis traçados de condutos com escoamento por
gravidade, ou perfis de adutoras que podem estar abaixo, podendo coincidir ou estar
acima das linhas piezométricas e absoluta ou do plano de carga estático. Dessa forma,
teremos cinco perfis distintos de acordo com a Figura 3 a seguir.
a) A tubulação está abaixo da linha piezométrica efetiva no perfil (1), neste caso, a carga
de pressão em todo o perfil é maior do que a pressão atmosférica, tratando-se de um
escoamento forçado.
b) Já no perfil (2), ele coincide com a linha piezométrica, a pressão na superfície é igual
à atmosférica, tratando-se então de escoamento livre.
c) O conduto no perfil (3) passa cortando a linha piezométrica efetiva, neste caso, pode
ocorrer pressões inferiores à pressão atmosférica, e a tubulação que passa acima
dessa linha corre o risco de entrada de ar e contaminação da água.
78
d) No caso do perfil (4), o escoamento só ocorrerá caso a tubulação esteja toda
preenchida com fluido, pois o conduto está cortando a linha piezométrica efetiva e o
plano de carga efetivo.
e) Finalmente, no perfil (5), não ocorrerá escoamento por gravidade porque o conduto
está cortando a linha piezométrica absoluta, neste caso, seria necessário o uso de
um sistema de bombeamento.
4 EQUAÇÃO DE BERNOULLI
São raras as pessoas que nunca colocaram o dedo em uma borracha ou
mangueira de água objetivando aumentar a “força” do jato e alcançar locais mais
distantes ou retirar uma sujeira em determinado ponto. Sugerimos que você faça
isso novamente e reflita: será que essa ação altera a energia de pressão ou a energia
cinética do fluido? Para que isso seja discutido nos termos corretos, apresentaremos o
Princípio de Bernoulli. Em um breve histórico, Daniel Bernoulli nasceu na Suíça, em 1700,
e foi pioneiro em trabalhos envolvendo probabilidade e estatística, além dos estudos
envolvendo a mecânica dos fluidos. Bernoulli foi o primeiro a estudar e entender a
pressão atmosférica em termos moleculares.
79
Figura 4 – Exemplo de escoamento em conduto horizontal que possui diâmetros D1 e D2
Se:
Como:
Ou seja:
Considerando ainda a Figura 4, vemos que a pressão P1 é maior que a P2, mas isso
seria por qual motivo? Para explicar esse fato, devemos analisar a variação de energia em
um fluido a partir do conhecimento adquirido na disciplina de Física e estudar a variação
80
da energia mecânica em um fluido. A variação da energia mecânica é igual à variação
do trabalho necessário para o deslocamento de um fluido. Como o fluido se desloca da
esquerda para direita, dizemos que o deslocamento se deve à inércia da massa de fluido
no tubo de diâmetro maior que se direciona para o tubo de diâmetro menor, que resiste
ao movimento, também devido a sua massa. Essa força é representada em termos de
pressão. Podemos equacionar esse problema da seguinte forma:
, onde:
, como:
, logo:
, relembrando que:
, sendo assim:
Diante do que está exposto, podemos observar que existe uma relação entre
pressão e velocidade em um conduto. Supondo que não há perda de energia, ao alterar
a área de escoamento, afetaremos a velocidade, aumentando a energia cinética,
conforme vimos na equação da continuidade, porém, caso a área seja menor, a pressão
no ponto observado será menor, observe que a equação da energia de pressão também
está em termos de área. Sendo esse o princípio de Bernoulli, em um conduto, há um
equilíbrio de energia em que parte da energia de pressão se converte em energia
cinética e vice-versa.
DICA
Os pesquisadores Lev Vertchenko, Adriana G. Dickman e José Faleiro Ferreira
descreveram em um artigo a aplicação do teorema de Bernoulli, apresentando
uma análise de transferência de fluido entre dois reservatórios e discutindo
possíveis inconsistências na solução do problema dos reservatórios.
O artigo pode ser acessado pelo link: https://www.scielo.br/j/rbef/a/
gfzPZTC7hpRhJPDDdgSswYd/?format=pdf&lang=pt
81
Agora que estamos cientes do Princípio de Bernoulli, podendo estudar um
escoamento um pouco mais complexo, avaliaremos o deslocamento de um fluido em
um conduto que há alteração cota em relação à linha de referência, observe a Figura
5 (S1 e S2 simbolizam o deslocamento de uma mesma massa – quantidade – de água):
, como:
V = A . h, então:
82
. Lembre-se que o
peso específico é definido por , simplificando a equação teremos:
. Agora, ajustando os
elementos subscritos por um no lado esquerdo e por dois no lado direito, termos, por
fim, a Equação de Bernoulli, que será a 2.7:
(2.7)
83
O manômetro em U serve para determinar pressões mais elevadas. É utilizado
um fluido de massa específica maior, geralmente o mercúrio, que não se mistura com o
fluido da tubulação em que será medida a pressão. A pressão na tubulação provocará o
deslocamento do fluido, e essa diferença de altura é que determina a pressão. Um lado
do manômetro conecta-se onde se quer saber a pressão, e o outro lado fica em contato
com a pressão atmosférica. Para equacionar a pressão utilizando essa carga hidráulica,
utilizamos o Teorema de Stevin ou a Lei Fundamental da Hidrostática.
5 EQUAÇÃO DE DARCY-WEISBACH
A história da fórmula universal da perda de carga ou equação de Darcy-Weisbach
começou a ser construída no século XVIII. Embora tenha o nome de dois importantes
engenheiros da época, houve contribuição de muitos outros com o passar dos anos.
Para entendermos as principais variáveis presentes no equacionamento da perda de
carga utilizando Darcy-Weisbach, é importante conceituarmos a perda de carga. Neste
tópico, abordaremos tais conceitos de maneira genérica, mas, no Tópico 3, teremos
informações mais detalhadas.
84
Caso um tipo de líquido se desloque em um conduto, esse fluido será dotado de
uma viscosidade, ou seja, teremos um atrito interno e a área interna do tubo será rugosa,
ocorrendo neste caso um atrito externo, entre o líquido e a superfície por onde ele
escoa. Na Figura 2, observamos que a linha energética decai linearmente, Azedo Netto
e Fernandez (2015) nos alertam que a relação entre a perda de carga e o comprimento
do conduto será linear, desde que não haja alteração nas características do conduto.
Chamaremos essa relação de J, em que:
(2.8)
85
DICA
O pesquisador Glenn O. Brown escreveu um artigo contando um pouco
da história da equação de Darcy-Weisbach e a resistência do fluido ao
escoamento. Você pode ler o artigo “The History of the Darcy-Weisbach
Equation for Pipe Flow Resistance” na íntegra pelo endereço: http://www.
fabianbombardelli.com/ECI141/HistoryoftheDarcyWeisbachEq.pdf
86
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• A vazão é a quantidade de fluido que passa por uma determinada secção transversal
de um conduto forçado ou livre por unidade de tempo, ou seja, quantidade de fluido
que pode ser escoado por uma tubulação em um período de tempo, podendo ser
classificada em vazão em massa, vazão em peso ou vazão em volume.
87
AUTOATIVIDADE
1 Qual a vazão que escoa por um conduto de 10 mm de diâmetro a uma velocidade de
2,6 m/s?
a) ( ) 0,112 m3/s.
b) ( ) 1,35 m3/s.
c) ( ) 0,020 m3/s.
d) ( ) 0,0020 m3/s.
a) ( ) Conservação da energia.
b) ( ) Conservação da velocidade.
c) ( ) Conservação da massa.
d) ( ) Conservação da quantidade de movimento.
3 Vazão é uma determinada quantidade de fluido que passa pela área de uma secção
transversal em um dado tempo. Imagine você jogando água nas plantas com uma
mangueira, quando você abre a torneira, é possível verificar qual a vazão que está
passando por ali. Calcule a vazão de água em litros por segundo que passa por
mangueira que possui um diâmetro de 25 mm e escoa em uma velocidade igual a 3
m/s. Considerando esse resultado, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) 1,4 L/s.
b) ( ) 0,5 L/s.
c) ( ) 6 L/s.
d) ( ) 1,7 L/s.
88
Observações:
• Use para o cálculo da perda de carga distribuída a Fórmula de Darcy-Weisbach,
também conhecida como Fórmula Universal.
• Tubos em paralelo possuem a mesma perda de carga.
• Considere o Fator de Atrito f igual para ambos os tubos.
89
90
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES
1 INTRODUÇÃO
Nas definições de escoamento realizadas não foram consideradas situações em
que o fluido, durante o escoamento de regime turbulento, colide com as paredes de uma
superfície. Como caracterizaríamos esse evento e quanto ele seria preponderante para
determinação do escoamento? Para que isso seja discutido, será necessário introduzir
o conceito de camada-limite.
91
em que a velocidade torna-se maior até momento em que é alcançada a velocidade
média do fluido antes de sofrer influência pela superfície, conforme podemos observar
na Figura 7, em que a espessura da camada-limite foi exageradamente ampliada para
facilitar a visualização.
2 TENSÃO TANGENCIAL
Até aqui já sabemos que a viscosidade é uma das propriedades do fluido.
Neste subtópico, mostramos que teoricamente o fluido escoa devido à ação de uma
força tangencial ou cisalhante, que age em uma placa que está posicionada sobre um
fluido, conforme podemos observar na Figura 8 (B), sendo que a resistência a esse
deslizamento do fluido chamaremos de viscosidade.
Figura 8 – (A) Elemento fluido em um tempo T, (B) deformação do elemento fluido em um tempo T + ∆T e
(C) deformação do elemento fluido no tempo T + 2∆T.
92
Para fluidos em repouso não haverá tensão tangencial, porém, quando eles se
colocam em movimento, essas tensões passam a atuar no fluido, como podemos ver na
Figura 8 (A e B) (FOX, MCDONALD PRITCHARD, 2016).
Observe que após o deslocamento do fluido, ele sofre uma deformação, esse
fenômeno acontece porque os fluidos são viscosos. Essa deformação será representada
por uma abertura angular muito pequena que chamaremos de δα, que varia no tempo.
Dessa forma, podemos denotar que a taxa de deformação, que chamaremos de δγ,
poderá ser calculada por:
Para ângulos muito pequenos, não é errado afirmar que δu . δt = δy . δα, ou seja:
Aplicando o limite nos dois lados da igualdade, para um tempo que tende a zero
e y também tendendo a zero, visto que os deslocamentos são muito pequenos, temos:
Diante do que foi exposto, podemos dizer que quando aplicamos uma tensão
cisalhante tangencial (cisalhamento) em um elemento fluido, será provocada uma
deformação, que chamaremos a partir de então de taxa de cisalhamento, dada por
(FOX; MCDONALD PRITCHARD, 2016).
93
Sugerimos que você faça um experimento quando possível. Em copo de 400
ml, coloque, aproximadamente, 100 ml de um óleo lubrificante de motor. Você notará
que, ao provocar movimentos circulares no corpo, será formado uma espécie de vórtice,
observe atentamente o movimento do fluido. Em um outro copo de 400 ml, coloque
100 ml água. Você observará que também se formará um vórtice. A partir dessas
observações, qual fluido apresentou mais resistência ao escoamento? Você notará que
foi o óleo para motor, sendo que isso será graças a sua viscosidade. Essa viscosidade
será constante e em função do tipo de fluido. Dessa forma, podemos afirmar que a
tensão tangencial atua em um elemento fluido e será diretamente proporcional a
uma taxa de deformação e uma constante de proporção, que depende do fluido, que
chamaremos de viscosidade absoluta ou viscosidade dinâmica (µ). Nesse sentido,
utilizando as coordenadas descritas na Figura 8 para o escoamento unidimensional, a
tensão cisalhante pode ser descrita pela equação 2.9:
(2.9)
Souza et al. (2011) apresentam uma curva U(y), descrita na Figura 9 (B), em
que ocorre um escoamento turbulento unidirecional na direção x, cuja velocidade
equivale a u(y). Apesar da velocidade no eixo y ser nula, há uma flutuação v’ que move
a partícula, de forma cíclica, do ponto 1 para ponto 2, conforme observa-se na Figura
9 (A). Os mesmos autores relatam que Prandlt, em 1925, desenvolveu uma hipótese de
comprimento de mistura e propôs um modelo algébrico para descrever como se dá essa
relação, que ocorre em uma escala macroscópica.
94
FIGURA 9 – (A) Troca de parcelas de fluido devido à turbulência e (B) escoamento na camada-limite
ilustrando a hipótese do comprimento da mistura
O que se pode discutir aqui é que, quando está muito próximo da camada-limite,
as ações viscosas são preponderantes para determinação do movimento das partículas
de fluido, porém, o que acontece se nos distanciarmos dessa superfície? Discutiremos
isso no subtópico a seguir.
Quando o fluido passa pela região da placa em regime laminar, observa-se que
muito próximo da placa a velocidade pode ser considerada nula e, quanto mais distante
o escoamento for da placa, maior será a velocidade, até o momento que ela se iguala à
velocidade média U. Mais adiante tem-se o escoamento turbulento, o comprimento da
camada-limite é maior, porém o comportamento é análogo ao observado no escoamento
de regime laminar, e a curva que representa o perfil de velocidade assemelha-se a uma
curva logarítmica.
95
A Figura 10 descreve o escoamento turbulento e subdivide-o em zonas. É
possível observar a subcamada viscosa que possui um comportamento linear. Como
veremos a seguir, há uma zona de transição, em que o comportamento não é trivial, e
há um comportamento de uma curva logarítmica após esse ponto.
(2.10)
(2.11)
96
Figura 11 – Perfil de velocidade junto à superfície sólida
(2.12)
Figura 12 – Definições de espessura da camada-limite. (A) Espessura de deslocamento, δ*; (B) espessura de
perturbação, δ; (C) espessura de quantidade de movimento, δ
97
a) u → U em, y = δ a velocidade do fluido tende à velocidade média quando a profundidade
de análise é próxima ao comprimento da camada-limite;
b) → em y = δ, quando a taxa de cisalhamento tende a zero indica que estamos
no comprimento da camada-limite, ou seja, não há ação da viscosidade reduzida à
velocidade do fluido;
c) u << U quando y << δ, dentro da camada-limite as velocidades são menores que a
velocidade média;
d) experimentos demonstram que a camada-limite é muito fina quando comparada ao
comprimento desenvolvido ao longo de sua superfície. Pode-se afirmar então que a
variação de pressão também pode ser considerada desprezível.
5 EXPERIÊNCIA DE NIKURADSE
Na Figura 12 é possível observar que em um escoamento turbulento existem
três horizontes de escoamento. O fluido pode escoar na subcamada viscosa, camada de
transição e camada logarítmica. Como vimos, a relação entre rugosidade e viscosidade
torna-se cada vez menos intensa quando se distancia da superfície rugosa. O aluno
orientado por Ludwing Pradtl, o físico e engenheiro alemão Johnann Nikuradse, discutiu
como a rugosidade e a viscosidade podem interferir no escoamento, passando a discutir
o fator de atrito f da equação 2.7.
98
Figura 13 – Variação do fator de atrito em função do número de Reynolds e da rugosidade do conduto
I. Aqui o Re < 2.000, ou seja, essa região é caracterizada por um escoamento laminar,
dessa forma, a perda de carga é dominada por ações microscópicas a partir do
escoamento do fluido e da tensão de cisalhamento pelo movimento das partículas
de fluido. O fator de atrito, neste caso, é função apenas do número de Reynolds
para todos os valores de rugosidade testados, sendo assim, na região I, o fator de
atrito pode ser calculado pela equação 2.13.
(2.13)
II. Nessa região, entre as retas I e II, ocorre um escoamento de regime transicional,
ou seja, 2.000 < Re < 4.000. Nesse sentido, não há equações que definam um
escoamento que está entre o laminar e o turbulento.
III. Aqui no escoamento, a rugosidade impactará apenas a subcamada viscosa do fluido.
Podemos caracterizar esse tipo de escoamento turbulento como hidraulicamente
liso, dessa forma, o fator de atrito é regido apenas pelo número de Reynolds, e
as curvas relativas a diferentes viscosidades são colineares. Essa região limita-se
entre uma reta, dessa forma, observou-se que quanto maior for a turbulência, mais
delgada será a subcamada, sendo que o escoamento pertencerá à região IV.
IV. Teremos uma outra região delimitada pelas linhas III e a tracejada da região V. Nesse
momento, o fator de atrito depende tanto dos valores de rugosidade relativa quanto
da turbulência, representada pelo número de Reynolds.
99
V. Essa região está acima da linha tracejada, onde há um escoamento que é
denominado como hidraulicamente rugoso. Nesse momento, o fator de atrito é a
função exclusiva da rugosidade relativa.
(2.13)
100
Figura 14 – Diagrama de Moody
(2.14)
101
Com o passar do tempo e com o avançar da aplicação de soluções matemáticas
para fluidos, foram surgindo mais equações. Uma delas foi desenvolvida, em 1983, por
S. Haaland, que encontrou uma equação (2.15) explícita com resultados dentro de 2%
daqueles obtidos pela equação de Colebrook-White, sendo essas equações práticas para
que sejam encontrados valores iniciais para estimativas mais precisas do coeficiente de
atrito a partir do uso de métodos iterativos.
(2.15)
Em 1993, Swamee desenvolveu uma fórmula explícita que concorda bem com
o ábaco de Moody. A equação 2.16 é válida para escoamentos laminares, turbulento liso,
de transição e turbulento rugoso.
(2.16)
Mais adiante veremos um outro conjunto de equações que também nos ajudarão
a definir a perda de carga ao longo de um conduto, as chamaremos de Fórmulas Empírica.
Tabela 1 – Valores de rugosidade f para tubulações de materiais diversos para serem utilizados em todas as
equações deste item
102
muito
103
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
104
AUTOATIVIDADE
1 O diagrama ou ábaco de Moody é a representação gráfica do fator de atrito levando
em consideração o número de Reynolds e a rugosidade relativa, sendo muito utilizado
para o equacionamento da perda de carga em instalações prediais ou tubulações
no geral. O experimento de Nikuradse gerou muitas constatações. Sobre essas
constatações, assinale a alternativa INCORRETA:
a) ( ) Zona de transição é uma região onde o coeficiente de atrito varia com o número
de Reynolds.
b) ( ) Para o regime laminar, o fator de atrito em função do número de Reynolds é
descrito por uma hipérbole que, no gráfico logarítmico, transforma-se em uma
linha reta.
c) ( ) Para o regime turbulento, existe uma região, chamada de zona de tubo rugoso,
em que o fator de atrito é independente do número de Reynolds.
d) ( ) Quanto menor for o número de Reynolds, mais delgada será a subcamada laminar
e menores serão as flutuações de velocidade ocorrendo maior penetração da
turbulência.
e) ( ) Quando o escoamento nos tubos é laminar, com números de Reynolds abaixo de
2.300, há uma relação simples entre o fator de atrito e o número de Reynolds,
que é completamente independente da rugosidade dos tubos.
3 Por um tubo gotejador de 0,6 mm escoa uma vazão de 2 L/h com a água em uma
temperatura de 20 °C e perda de carga de 10 mca. Utilizando os dados a seguir para
os cálculos e fazendo o uso da equação de Darcy-Weibach, calcule a velocidade
do escoamento, o número de Reynolds e determine o regime de escoamento para
chegar ao comprimento do tubo.
105
4 A fórmula de Swamee-Jain foi criada para substituir o ábaco ou diagrama de Moody,
e que é dependente apenas do número de Reynolds (Re), da rugosidade absoluta do
material (ε) e do diâmetro do conduto (D). A partir da equação de Swamee, defina f.
Utilize os dados descritos para efetuar os cálculos.
Dados:
Re = 504952.
ε = 0,1 mm (0,0001 m).
D = 25 mm (0,025 m).
106
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
ESCOAMENTO EM CONDUTOS FORÇADOS
1 INTRODUÇÃO
Quando um líquido está em movimento haverá energia cinética. Se houver
diferença de cotas entre o ponto de jusante e montante, haverá energia geométrica
(potencial), e se há matéria líquida, há pressão. Vimos nos tópicos anteriores que a
variação do trabalho resulta na variação da energia mecânica e que parte dessa energia
é dissipada em forma de calor devido ao movimento que pode ser tanto no regime
laminar ou turbulento. Caso seja laminar, a energia se dissipa microscopicamente
e estará relacionada à viscosidade, massa específica do líquido e diâmetro do tubo,
ou seja, relaciona-se com o número de Reynolds, porém, quando o escoamento for
turbulento, a rugosidade da superfície por onde o fluido escoa serão relevantes na
determinação da energia dissipada, ou melhor: a perda de carga e o fenômeno são
observados macroscopicamente.
107
Figura 16 – Escoamento em conduto forçado
108
Figura 17 – Experimento de Reynolds: vista frontal do experimento e corte do reservatório para detalhar o
esquema montado
(2.17)
109
Salienta-se que o produto entre densidade e velocidade (ρ.v) representa a
inércia, e o quociente entre diâmetro e viscosidade (µ/D) representa as forças de
viscosidade, então não é incorreto interpretar que o número de Reynolds é a razão entre
as forças de inércia e as forças de viscosidade.
DICA
Que tal verificar em um vídeo como se dá o experimento de Reynolds? Clique
no link a seguir e veja um pequeno vídeo para entender como esse físico
e engenheiro hidráulico irlandês idealizou o experimento: https://youtu.be/
bARZPr-wxwE
(2.18)
(2.19)
110
2.1 ESCOAMENTO EM CONDUTOS FORÇADOS
Azevedo Netto e Fernandez (2015) falam que as canalizações foram pensadas
para conduzir líquido tanto como condutos livres quanto como condutos forçados. Os
mesmos autores ainda afirmam que esses tubos que conduzem água até a pressão
atmosférica são executados em declividades preestabelecidas e nivelamento muito
cuidadoso, pois, caso contrário, as pressões podem ser superiores à pressão atmosférica
e o tubo pode apresentar pressões superiores às previstas, podendo provocar perdas de
água por vazamentos, visto que as juntas que unem os tubos não preveem tais pressões
internas.
(2.20)
A partir dessa discussão breve sobre perda de carga, é possível descrever como
a pressão varia em conduto. Na Figura 18 pode-se observar que a linha de pressão está
em termos de carga efetiva, ou seja, não se considera a pressão atmosférica, a equação
de Bernoulli é observada sob a mesma ótica. Nesta figura, podemos observar o plano
de carga efetivo, que é a quantidade de energia para o escoamento. O plano de carga
absoluto leva em consideração a pressão atmosférica. A linha piezométrica efetiva leva
em conta a perda de energia de pressão que dissipa metro a metro, linearmente, estando
relacionada à perda de carga ao longo do conduto. Já a linha de carga total efetiva soma
a energia piezométrica às energias cinéticas e geométricas (Z).
112
VI- Novamente ocorre a perda de carga distribuída.
VII- Ao término desse percurso, ocorre uma perda devido à saída da água no conduto.
113
Como na prática tanto em instalações prediais, industriais ou na irrigação não
trabalhamos apenas com tubulações retilíneas, as tubulações incluem peças especiais
ou acessórios. Dessa forma, podemos classificar a perda de carga de duas maneiras:
perda de carga distribuída, que é a perda ocasionada pelo próprio movimento do fluido
ao longo do conduto; e perda de carga localizada ou acidentais, que é provocada por
essas peças especiais e demais particularidades de uma instalação. A perda de carga
localizada é importante no caso de tubulações curtas, sendo que quando se apresentam
longos trechos de tubulação podem ser consideradas desprezíveis.
114
(2.21)
Caso haja mais de uma peça especial (joelho, cotovelo, luvas etc.), a perda de
carga localizada será o somatório das perdas de carga de todos os acessórios.
Tabela 2 – Valor do coeficiente K para cálculo das perdas de carga localizada em função do tipo de peça,
para velocidades usuais em tubulações de água: entre 0,5 e 2,5 m/s
Tipo da peça K
Ampliação gradual: A2/A1 < 1,6 e 2D1 < L < 2D2 0,10 a 0,30
Bocais 0,5 < D2/D1 < 0,8 2,75 a 5,00
Crivo 3,00 a 6,00
Curva de 90° longa 0,15 a 0,40
Curva de 90° raio curto (cotovelo) 0,90 a 1,20
Curva de 45° longa 0,13 a 0,28
Curva de 45° curta 0,30 a 0,50
Curva de 22,5 0,10 a 0,20
Junção a 45°, tipo barrilete 0,35 a 0,50
Medidor Venturi 2,50
Redução gradual: A2/A1 < 1,6 e 2D1 < L < 2D2 0,15 a 1,25
Tê, passagem direta DN1 (saída lateral fechada) 0,50 a 0,70
Tê, passagem + saída lateral < 20% Q1, D2 < D1 1,30 a 1,60
Tê, bifurcação simétrica 1,50 a 2,00
Válvula de pé 100% aberta 4,00 a 5,00
Válvula de retenção portinhola ou disco, sem mola 2,50 a 12,00
Fonte: Azevedo Netto e Fernandez (2015, p.120)
115
Como hf = ∆h, temos: e simplificando teremos a
equação 2.22:
(2.22)
116
Então: L= n X D (2.23)
117
equacionando as variáveis demonstradas anteriormente. Antes disso, vamos dar uma
lembrada no conceito de condutos em série e em paralelo? Afinal, precisamos saber em
quais situações podemos aplicar as fórmulas que serão apresentadas.
L = L1 + L2 + L3... + Li
Hf = hf + hf2 + hf3... + hfi
Q = Q1 + Q2 + Q3... + Qi
(2.24)
Em que as incógnitas “m” e “n” são expoentes utilizados para o cálculo da perda
de carga no conduto.
Tabela 5 – Valores de “m”, “n” e “2m+n” para cálculo de perda de carga de acordo com as equações
(2.25)
118
Algumas situações práticas exigirão que o projetista faça uso desse recurso
dos condutos equivalentes para atender às limitações de perda de carga ou atender
também aos diâmetros comerciais disponíveis no mercado.
3 FÓRMULA DE HAZEN-WILLIAMS
No tópico anterior desta unidade, discutiu-se bastante sobre o coeficiente de
atrito f e sua relação com a rugosidade da superfície de escoamento e a viscosidade
do líquido. O uso da equação de Hazen-Williams ou equação Universal apresenta o
inconveniente de observar a situação apropriada e o horizonte de escoamento, sendo
necessário visitar a harpa de Nikuradse, o diagrama de Moody ou o diagrama de Rouse.
Observou-se que em um escoamento turbulento seria possível determinar uma equação
(2.26) que se comporta da seguinte maneira:
(2.26)
(2.27)
119
Em que Q é a vazão dada em metros cúbicos por segundo (m³/s); C é o coeficiente
de Hazen-Williams, um número adimensional que representa a rugosidade do tubo; D é
o diâmetro do tubo dado em metros (m).
(2.28)
(2.29)
Por ser uma equação empírica, deve-se assumir algumas premissas, pois elas
precisam ser atendidas para que os resultados estejam dentro do intervalo de confiança
determinados pelos estatísticos. As recomendações para uso da fórmula de Hazen-
Williams são:
Tabela 6 – Valor do coeficiente C sugerido para fórmula de Hazen-Williams para águas ~20 °C, pouco incrus-
tantes, pouco corrosivas para tubulações de PVC e ferro fundido
120
inadequada, irregularidades no terreno, qualidade da água. A sugestão é que mesmo
que no catálogo indique a utilização de um fator C maior do que o sugerido na tabela
apresentada, o projetista utilize os valores tabelados.
• Água fria
Aço galvanizado e ferro fundido: (2.32)
Cobre ou plástico: (2.33)
• Água quente
Cobre ou latão: (2.34)
(2.35)
121
Em que K é o coeficiente que ajusta a equação para SI e agrega o fator de
atrito do conduto. Veja que há semelhanças entre as equações 2.26 e 2.27. Observe que,
para fórmula de Hazen-Williams, o coeficiente de Q é próximo de 2 e o coeficiente do
diâmetro D é próximo a 5.
122
LEITURA
COMPLEMENTAR
ESTUDO DA EQUAÇÃO DE NAVIER-STOKES UTILIZADA NA EQUAÇÃO DA
ENERGIA CINÉTICA TURBULENTA DA CLC
Resumo
1 INTRODUÇÃO
123
descrever o sistema, fluido, de maneira mais simples e de fácil entendimento para
os estudantes. A equação dinâmica para a densidade espectral de energia cinética
turbulenta (TKE) na Camada Limite Convectiva (CLC) (KIPPER, 2011), que modela o
movimento do ar na atmosfera, é obtida de forma clássica através da equação de Navier-
Stokes. Esta equação expressa a conservação de momento introduzida pela segunda
Lei de Newton. A equação de Navier-Stokes descreve a velocidade de um fluido, em um
ponto no tempo (POTTER, 2004). Ela iguala a aceleração de uma partícula do fluido com
a força resultante exercida na partícula, devido ao gradiente de pressão, a viscosidade
do fluido e a gravidade, por unidade de volume (BRUNETTI, 2008). No estudo inicial
de mecânica dos fluídos, nos livros de engenharia, nos deparamos com a dificuldade
encontrada na dedução e obtenção da equação de Navier-Stokes. Este trabalho visa
facilitar o entendimento dos conceitos utilizados para a obtenção desta equação. Este
projeto de estudo ainda está em andamento e pretende avaliar as variáveis atmosféricas
na região da campanha do Rio Grande do Sul estudando o fenômeno de decaimento da
turbulência na CLC, baseando-se na equação dinâmica TKE (GOULART et al., 2003).
2 METODOLOGIA
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
124
a força gravitacional. A partícula do fluido poderá ser entendida como um elemento de
fluido infinitesimal. A equação de N-S expressa a conservação de momento para um
movimento de pequena escala, que ocorre em um fluido incompressível e irrotacional. O
momento e a velocidade são grandezas vetoriais e descritas no espaço de coordenadas
cartesiano tridimensional.
125
o espaço tridimensional: u é a velocidade na coordenada x, v é a velocidade na coorde-
nada y e w é a velocidade na coordenada z, sendo o vetor velocidade dado por , o
e a força de atrito escrita como FAT = µ∇2Vdxdydz.
126
, onde . Da equação de N-S, temos as propriedades
escritas em termos de valores médios e para a equação N-S na coordenada x em um
escoamento laminar tem-se:
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fonte: SILVA, L. G. C. da; KIPPER, C. J. Estudo da equação de Navier-Stokes utilizada na equação da energia
cinética turbulenta da CLC. In: SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, 9., 2017,
Santana do Livramento. Anais [...] Santana do Livramento: Universidade Federal do Pampa, 2017.
127
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• Basta haver escoamento do fluido que ocorrerá perda de carga, sendo que essa
carga pode ser classificada como perda de carga distribuída (perda de carga em
uma tubulação retilínea) ou perda de carga localizada (perda de carga em peças
especiais ou acessórios e acidentais).
128
AUTOATIVIDADE
1 A equação de Hazen-Williams é um método empírico que relaciona o fluxo de água em
uma tubulação com suas propriedades físicas e as diferenças de pressão. Utilizando
essa equação, determine a velocidade (aproximadamente) em uma tubulação de
2982 m de comprimento e 600 mm de diâmetro, construída de ferro fundido (C =
115), alimentada por um reservatório a 13,45 m acima da descarga.
a) ( ) 3,0 m/s.
b) ( ) 1,6 m/s.
c) ( ) 0,8 m/s.
d) ( ) 0,3 m/s.
a) ( ) 75 L/s.
b) ( ) 97 L/s.
c) ( ) 1 m³/s.
d) ( ) 38 L/s.
129
( ) O número de Reynolds determina o tipo de escoamento em um conduto livre, se
laminar ou turbulento, e quanto maior o seu valor, menos turbulento é o escoamento.
( ) Em um escoamento forçado e permanente em um tubo de diâmetro interno D,
considerando valores do Número de Reynolds muito grandes, os quais caracterizam
um escoamento completamente turbulento, o fator de atrito f depende apenas do
quociente entre a rugosidade do material e do diâmetro interno do tubo.
a) ( ) F-V-V-F-F
b) ( ) V-F-V-V-F
c) ( ) F-V-F-F-V
d) ( ) V-V-F-F-F
5 Na tabela a seguir é possível verificar os diâmetros nominais dos tubos. A partir dos
dados da Questão 4 e da tabela de diâmetro nominais dos tubos, escolha um com
diâmetro superior e outro com um inferior ao calculado na questão anterior. Diante
disso, calcule a vazão para cada configuração e apresente qual tubo você escolheria
para realizar o abastecimento solicitado na questão 4.
130
REFERÊNCIAS
AZEVEDO NETTO, J. M. de; FERNÁNDEZ, M. F. Manual de hidráulica. 9. ed. São Paulo:
Editora Blucher, 2015.
BROWN, G. O. The History of the Darcy-Weisbach Equation for Pipe Flow Resistan-
ce. Environmental and water resources history, v. 38, out. 2002. Disponível em:
http://www.fabianbombardelli.com/ECI141/HistoryoftheDarcyWeisbachEq.pdf. Acesso
em: 29 set. 2022.
HELLER, L.; PÁDUA, V. L. de. Abastecimento de água para consumo humano. Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 2010.
131
132
UNIDADE 3 —
CÁLCULO DO ESCOAMENTO
EM TUBULAÇÕES SOBRE
PRESSÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
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133
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
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134
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
PERDAS DE CARGA E OS SISTEMAS
HIDRÁULICOS DE TUBULAÇÕES
1 INTRODUÇÃO
Em projetos de escoamento em tubulações, a principal questão é quanto
à energia necessária para que o escoamento ocorra de fato e para que este escoe a
quantidade pretendida de fluido até o ponto de interesse no projeto. Isso porque é a
quantidade de energia que determinará as características do escoamento. Conforme
visto na unidade anterior, existem fórmulas teóricas e empíricas que são empregadas
para determinar a vazão, o diâmetro, entre outras propriedades (AZEVEDO NETTO;
FERNÁNDEZ, 2015).
135
serão apresentadas formas para a solução de problemas que envolvam escoamentos
com variação da vazão devido a derivações da água em um ou mais trechos de uma
tubulação.
136
Figura 1 – Desenho das linhas de energia e piezométrica
137
tem diâmetro constante, a perda de carga será uniforme nos trechos do escoamento;
por isso esse tipo de perda é denominado também de perda por resistência ao longo da
tubulação.
138
No dimensionamento de adutoras, redes de abastecimento e outras tubulações
pressurizadas sempre acaba sendo utilizada uma equação empírica, isto é, elaborada
com base em resultados experimentais, para calcular a perda de carga ao longo do
conduto. Atualmente, o engenheiro encontra uma porção grande de opções de equações
de perda de carga de escoamentos do tipo permanente e uniforme. Para escoamentos
de regime turbulento (os mais comuns), as equações empíricas mais comumente
empregadas são: Manning, Darcy-Weisbach, Hazen-Williams, Flamant, Scimeni, Scobey,
entre outras (GOMES, 2009; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).
139
Assim, vemos que a perda de carga distribuída (ou contínua) tem relação com a
rugosidade e o diâmetro da tubulação, com a velocidade do escoamento e a viscosidade
do fluido. A condição da tubulação, portanto, tem expressivo efeito na perda de carga
ao afetar a rugosidade, a área da seção transversal do escoamento (diâmetro, como
comentado) e, consequentemente, afetar também a velocidade do escoamento. Por
isso, muito esforços têm sido feitos na direção de quantificar e representar no fator f
os impactos da condição da tubulação sobre o escoamento (PORTO, 2006; AZEVEDO
NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).
Atualmente, existe a opção de usar tubos mais lisos, feitos em PVC ou outros
materiais. Contudo, mesmo que menor, sempre existirá uma perda de carga pelo atrito
com as paredes da tubulação. Afinal, todos os materiais parecem ser “rugosos” em um
microscópio com ampliação suficiente. Uma superfície é caracterizada como rugosa
quando os picos de rugosidade se estendem para fora da subcamada laminar. As
141
superfícies lisas são aquelas em que a subcamada submerge os elementos de rugosidade.
As superfícies de vidro e plástico, em geral, são consideradas hidrodinamicamente lisas
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007).
142
Fonte: adaptada de Azevedo Netto et al. (1998 apud GOMES, 2009, p. 41)
143
m². Calcule a perda de carga entre A e B, o sentido do escoamento e a
tensão de cisalhamento na parede do tubo. Se a vazão for igual a 0,14
m³/s, calcule o fator de atrito da tubulação e a velocidade de atrito.
Resolução: tendo a tubulação diâmetro constante, e sendo o
escoamento permanente, a carga cinética em qualquer seção
será a mesma. Deste modo, a linha de energia será paralela à
linha piezométrica e a perda de carga pode ser calculada como a
diferença entre as cotas piezométricas das seções A e B. O sentido
do escoamento deverá ser condizente com os níveis de energia
existentes nas seções A e B ou, no caso em questão, com as cotas
piezométricas naquelas seções. A cota piezométrica em A vale
e em B, , em que (p/γ) é a carga de pressão disponível, em metros
de coluna d’água, em cada seção. Com os dados do problema, vem:
144
de “águas duras” ou águas calcárias, que apresentam altas concentrações de cálcio
que é depositado progressivamente na tubulação, ou de águas com muitas impurezas
(Figura 2). Como consequência dos fatores comentados anteriormente, a capacidade
de escoamento das tubulações vai diminuindo com o passar do tempo.
Figura 2 – Fotos do Departamento Autônomo de Água e Esgoto – DAAE de amostras de pedaços de tubos
de ferro fundido com incrustações retirados do sistema de abastecimento no município de Rio Claro – SP
Quanto às perdas localizadas, estas recebem esse nome por serem causadas
por pontos específicos na tubulação, ao contrário das perdas distribuídas. Assim, a perda
de carga localizada (∆hf) em uma singularidade do conduto pode ser analisada como
uma porcentagem da carga cinética (V2/2g) imediatamente a jusante do ponto no qual
se produz a perda (GOMES, 2009), sendo K o coeficiente de perda de carga localizada:
145
A variabilidade nos valores de K se deve à dificuldade da padronização
experimental. A perda de carga de uma singularidade (peça, acessório ou obra adicionada
ao escoamento) é função do acabamento interno da conexão, da existência ou não de
rebarbas ou ângulos vivos e até das condições em que são realizados os ensaios, como
o modo de fixação da peça etc. Desse modo, a mesma conexão originada de fabricantes
diferentes costuma apresentar nos ensaios valores diferentes do coeficiente K (PORTO,
2006).
Uma maneira muito utilizada para calcular a perda de carga localizada é usando
um comprimento fictício de tubulação que tenha diâmetro igual ao do acessório ou
elemento que está adicionando a perda de carga localizada. A ideia de um comprimento
fictício é para facilitar os cálculos, sendo que esse comprimento fictício deve produzir
perda de carga por atrito equivalente à perda provocada pelo acessório ou elemento.
Como isso, a perda de carga total, que inclui as perdas distribuídas mais as localizadas,
pode ser obtida através de fórmulas usadas para calcular a perda de carga contínua.
Para esses casos, o comprimento total (L) será igual ao comprimento real da tubulação
mais os comprimentos equivalentes (comprimentos fictícios) correspondentes à perda
de carga de cada um dos acessórios existentes na tubulação (PORTO, 2006; NETTO,
2015; GOMES, 2009).
Outra opção muito usada para incluir as perdas de carga localizadas no cálculo
final da energia requerida pelo sistema é computá-las indiretamente, alterando (para
mais) o coeficiente de atrito e o utilizando no cálculo das perdas contínuas (GOMES,
2009).
146
Cabe ressaltar aqui as equações que foram obtidas para algumas singularidades
em específico, que são bastante frequentes em tubulações.
NOTA
“Arestas vivas” é o termo usado para se referir à extremidade proeminente
que resulta do encontro de duas superfícies de uma construção, formando
um ângulo reto ou aproximado.
147
Quando a área do montante é muito maior que a da jusante, o valor de K tende
a ser 0,50, pois a relação A2 / A1 se aproxima de zero (PORTO, 2006). A tabela a seguir
apresenta valores de K para casos de redução brusca.
Figura 4 – Entradas afogadas em tubos cilíndricos com submergência maior que 3,5 no diâmetro nominal
para minimizar a ocorrência de vórtices: (1) normal; (2) reentrante ou borda; (3) sino; e (4) redução cônica
148
Ao encontrar um elemento da tubulação que o force a mudar de direção, os filetes
(ou lâminas do escoamento) são impedidos de continuar seu movimento retilíneo. Os
cotovelos e curvas modificam, assim, o perfil de velocidade do escoamento, e com isso
alteram também a distribuição de pressão. A área externa da curva tem sua pressão
aumentada e a velocidade reduzida, enquanto na área interna da curva ocorre o contrário.
Essa diferença de pressão e velocidade faz com que as partículas do fluido apresentem
movimentação espiralada, que continua por uma significativa distância depois da curva.
Para o caso específico de curvas e cotovelos, os valores de K podem ser determinados
de acordo com o ângulo a (ou ângulo de mudança de direção) em graus, pelas seguintes
equações (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015; GOMES, 2009):
ou
149
Tabela 6 – Valores de K para o registro de gaveta parcialmente fechado
Válvula borboleta: essas válvulas (Figura 6) são usadas para controlar a vazão
do escoamento e podem ser manuais ou elétricas, para controle do grau de fechamento
ou fixação do ângulo a de abertura.
150
4 MÉTODO DOS COMPRIMENTOS EQUIVALENTES
Para facilitar os cálculos, a analogia formal de que ambas as perdas de carga,
distribuída e localizada, são função direta da carga cinética ( ) é adotada. Assim, as
singularidades existentes na rede de escoamento são geralmente expressas em termos
de comprimento de tubulação equivalentes; isto é, as perdas de carga localizadas
na tubulação são representadas por comprimento de tubulação, de modo que esse
comprimento gere perda de carga distribuída de mesmo valor que pelo acessório, para
a condição de mesma vazão.
Em outras palavras:
Tabela 8 – Comprimentos equivalentes (m), peças de PVC rígido ou cobre, conforme ABNT
151
5 DISTRIBUIÇÃO DE VAZÃO EM MARCHA
O conceito de vazão em marcha é usado para tratar de casos em que não há
constância na vazão ao longo do trecho, ou seja, não se trata mais de um regime que
possa ser considerado permanente e uniforme. Um caso desses é o que a vazão vai
diminuindo ao longo do conduto, que ocorre, por exemplo, em um sistema de irrigação.
Tal condição é chamada de regime permanente gradualmente variado (PORTO, 2006).
Para resolver problemas desse tipo é assumido que a vazão total é consumida
ao longo do conduto e que isso é feito de maneira uniforme, como se houvesse uma
fenda na tubulação em todo o percurso. Então, cada metro da tubulação libera uma
vazão uniforme chamada de vazão unitária de distribuição (q), em l/(sm) ou m³/(sm).
Em um caso desses de movimento permanente gradualmente variado, como da Figura
7, a linha de energia é representada por uma parábola e as tangentes dessa parábola
no início e no final da tubulação correspondem aos escoamentos uniformes da vazão
de montante (Qm) e vazão de jusante (Qj). O cálculo da vazão de distribuição (Qd), que
seria a vazão real em regime permanente gradualmente variado, pode ser feito a partir
da equação de perda de carga (PORTO, 2006):
∆H = KL (Qm - 0,45Qd)2
Qf = Qm - 0,5Qd
ou
Qf = Qm - 0,5qL
152
6 CONDUTOS EQUIVALENTES
O conceito de condutos equivalentes é semelhante ao conceito aplicado no
método dos comprimentos equivalentes, explicado no item 4. Nesse conceito, um
conduto ou um sistema de condutos é equivalente a outro quando a perda de carga total
e a vazão são as mesmas. Esse conceito é aplicado para tornar mais fácil os cálculos
através da simplificação de sistemas complexos de tubulações.
∆H₁ = ∆H₂
e
Q₁ = Q₂
153
6.2 CONDUTO EQUIVALENTE A UM SISTEMA
Geralmente, um sistema de tubulações apresenta quatro principais formas de
disposição das tubulações: em série, em paralelo, com ramificações e, um caso mais
especial, em rede. O caso de redes de tubulações é especial porque apresenta maior
complexidade, isto é, para esse caso as tubulações geralmente possuem diâmetros
diferentes e são diferenciadas pela sua finalidade. Para tratar agora sobre o conceito de
equivalência entre conduto e sistema, serão abordados apenas os casos de tubulações
em série, em paralelo e com ramificações.
ESTUDOS FUTUROS
O caso especial de redes de tubulações será visto no Tópico 3.
154
Figura 8 – Tubulações em paralelo
Para esses casos, a vazão em cada trecho pode ser calculada por:
Como a vazão total é dada pela soma das vazões em cada uma das tubulações e
a perda de carga é constante, o diâmetro ou o comprimento de um conduto equivalente
pode ser obtido por (PORTO, 2006):
7 SISTEMAS RAMIFICADOS
Um sistema ramificado é aquele no qual ocorre variação da vazão por causa
da derivação da água em um ou mais trechos da tubulação. A maneira mais prática
e fácil de entender o tipo de raciocínio que se deve ter para esses casos é através da
demonstração de solução para dois casos muito típicos: quando há a tomada de água
entre dois reservatórios e quando há um sistema de três reservatórios interligados
(PORTO, 2006; GOMES, 2009).
155
7.1 TOMADA DE ÁGUA ENTRE DOIS RESERVATÓRIOS
Em um caso como o mostrado na Figura 9, os reservatórios R1 e R2 estão
interligados por uma tubulação (ABC) com trechos de diferentes diâmetros e
comprimentos, D1, D2, e L1 e L2, respectivamente, conectados no ponto B em que ocorre
uma tomada de água de vazão Qb (PORTO, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).
156
3ª situação: se Qb continuar aumentando de maneira que a cota piezomética
em B seja menor do que em ambos os reservatórios, então Qb = Q1 + Q2, ou seja, será
igual ao somatório da vazão recebida pelos dois reservatórios, R1 e R2 (PORTO, 2006;
AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).
Uma forma de resolver esse problema seria fixando inicialmente um valor para
a cota piezométrica em B igual ao nível do reservatório intermediário, X= Z2. Desse
modo, Q2= 0 e pelas equações determinam-se Q1 e Q3. Se Q1= Q3, o problema está
resolvido. Se Q1>Q3, deve-se aumentar a cota piezométrica em B, de modo a diminuir Q1
e aumentar Q3 e Q2. Se Q1<Q3, deve-se diminuir a cota piezométrica em B, de modo a
aumentar Q1 e Q2 e diminuir Q3. A variação da cota piezométrica em B, em um sentido
157
ou outro (aumentando ou diminuindo), prossegue até que a equação da continuidade
no ponto de derivação seja satisfeita, ou seja, Q1= Q2+Q3 ou Q3= Q1+Q2 (PORTO, 2006;
AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).
158
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
159
AUTOATIVIDADE
1 O transporte de água em tubulações é afetado pelas forças de atrito interno devido
à aderência das lâminas do fluido (viscosidade) e pela rugosidade da tubulação
(aderência sólido-líquido). O atrito interno implica em perda de carga, que é a
diminuição da energia disponível para o escoamento. Além do atrito interno causado
pelas próprias paredes da tubulação, acessórios hidráulicos quando adicionados à
tubulação, aumenta a perda de carga, só que de maneira pontual. Ao serem adicionados
acessórios, tais como curvas, válvulas e registros, a uniformidade do escoamento é
perturbada. Sobre a perda de carga em tubulações, assinale a alternativa CORRETA:
160
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - V - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.
161
uma das informações primordiais é a vazão inicial para a qual a adutora deverá ser
dimensionada. Para o caso de dimensionamento de uma adutora com diâmetro igual
a 0,20m, vazão de 25 l/s e perda de carga unitária igual a 0,0073 m/m, verifique qual
seria a vazão inicial a ser transportada nessa tubulação, considerando K= 5,79 (tubos
de ferro fundido).
162
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
ADUTORAS E ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS
1 INTRODUÇÃO
Um sistema de distribuição de água é geralmente composto por tubulações,
acessórios, reservatórios, casa de bombas etc., que têm o propósito de fornecer água
conforme os padrões exigidos de qualidade da água e de quantidade em vazão e pressão
adequadas a cada um dos diferentes locais de consumo de uma cidade ou setor de
abastecimento (PORTO, 2006).
163
2.1 CLASSIFICAÇÃO
A classificação das adutoras é de acordo com a natureza da água transportada
ou de acordo com a energia para o escoamento. São partes muito importantes em um
sistema de abastecimento, sendo por isso necessária uma atenção maior na etapa de
planejamento e implantação (TSUTIYA, 2006).
As adutoras por gravidade são aquelas nas quais o escoamento ocorre sem a
necessidade de energia adicional para o escoamento (por bombeamento, em estações
elevatórias). As adutoras por gravidade podem ter o escoamento ocorrendo por
condutos forçados (quando o escoamento é com pressão maior que a da gravidade)
ou por conduto livre (quando a pressão no escoamento é igual à atmosférica).
Adutoras por recalque são aquelas em que o transporte para um ponto de cota
mais alta é feito através de estações elevatórias. As adutoras mistas são aquelas em
que o transporte de água pode se dar em parte por gravidade em parte por recalque
(Figura 11).
Figura 11 – Adutora mista com trecho por recalque e trecho por gravidade
164
Horizonte de projeto: o horizonte de projeto é o período de tempo estimado
para que o objeto do projeto, nesse caso o sistema de abastecimento, esteja em
operação. Para determinar adequadamente esse período de tempo, alguns fatores
devem ser considerados, tais como a vida útil da obra, a evolução da demanda de água,
o custo da obra, a flexibilidade de ampliação do sistema e o custo de energia elétrica.
Geralmente é utilizado um horizonte de projeto entre 20 e 50 anos (TSUTIYA, 2006).
165
As variações de demanda do sistema de abastecimento são um dos motivos
de se ter os reservatórios, pois estes auxiliam na regulação da vazão nos períodos de
oscilações de demanda. Em princípio, os reservatórios se enchem no período noturno de
menor consumo, e esvaziam nas horas diurnas em que geralmente há maior consumo.
Como não é viável dimensionar o sistema considerando a vazão na hora de maior
consumo, devido ao alto custo, a alternativa mais viável tem sido geralmente utilizar-se
dos reservatórios para fazer essa regulação da vazão.
Além disso, não seria rentável instalar reservatórios muito grandes para a
regulação dessa variação dos dias de maior consumo, visto que isso tornaria o projeto
muito oneroso. Por isso, o que se tem feito geralmente é dividir a parte de adução
do sistema em “produção e transporte”, que corresponde a captação e tratamento, e
deveria ter vazão dimensionada usando apenas o coeficiente k1, da parte da rede de
distribuição, que deve ter vazão dimensionada não só para o dia de maior consumo,
mas também para a hora de maior consumo, então, usando ambos os coeficientes k1 e
k2 (TSUTIYA, 2006; GOMES, 2009).
Em que:
P = população a ser atendida (total de habitantes);
q = consumo médio per capita incluindo as perdas de água (l/habitantes/dia);
k1 = coeficiente do dia de maior consumo;
k2 = coeficiente da hora de maior consumo;
Qe = vazão de consumo específico (l/s);
Ceta = consumo na ETA.
166
2.2 TRAÇADO
Após ser definida a posição em planta das diferentes unidades do sistema de
abastecimento, deverá ser estudado o traçado da adutora. Geralmente o traçado é
função da topografia do local, mas outras coisas também devem ser consideradas para
a definição do traçado: localização e perfil da adutora, os efeitos da linha piezométrica,
do plano de carga e as áreas de desapropriação para implantação da adutora.
Para falar sobre o traçado de uma adutora, deve-se ter em mente as definições
quanto às referências para os planos de carga e as linhas de energia do sistema
hidráulico. Ambos, linhas ou planos, podem ser de referência absoluta ou efetiva. É
dito efetivo quando o plano (PE) ou a linha (LE) consideram o nível de montante como
referência; e dito plano e linha absoluto (PA e LA) quando além disso consideram a
pressão atmosférica. Alguns exemplos de situações de posicionamento das adutoras
com relação às linhas e aos planos são apresentados na Tabela 9.
Tabela 9 – Posicionamento de adutora com relação às linhas piezométricas e aos planos de carga
167
No caso 1, como a adutora está totalmente abaixo da linha de carga efetiva, a
adutora está sempre sob pressão positiva, e a perda de carga total é igual ao desnível
geométrico (diferença entre as cotas das superfícies livres dos reservatórios). Na
prática, é recomendado que as adutoras sejam instaladas conforme os casos 1 e 2,
pois nos demais casos, ao cortarem a linha piezométrica efetiva, as tubulações não
transportam em condições satisfatórias. No caso 3, por exemplo, o acúmulo de ar no
trecho AB dificultará o escoamento, e a instalação de ventosas (acessório para remoção
de ar) não é recomendada, pois pela posição facilitaria a entrada de mais ar na tubulação
(TSUTIYA, 2006).
168
ou da perda de carga unitária (apresentadas a seguir), pode ser determinado o diâmetro
da tubulação – desde que sejam fixadas a perda de carga unitária (J) ou a velocidade (V)
–, sendo necessário verificar se o diâmetro é aceitável (TSUTIYA, 2006).
ESTUDOS FUTUROS
Você vai aprender mais adiante sobre o que são os transientes hidráulicos,
no Tópico 4 desta Unidade 3.
169
Para determinar esse diâmetro econômico recomenda-se utilizar a fórmula de
Bresse para o pré-dimensionamento, utilizando, no mínimo, os valores de K de 0,9, 1,0,
1,1, 1,2:
170
Além disso, há a necessidade do uso dos blocos de ancoragem quando a
inclinação da tubulação torna insuficiente as forças de atrito entre tubulação e o terreno
que mantém a tubulação assentada em equilíbrio. Na prática, os blocos de ancoragem
são dimensionados considerando o atrito e a resistência de apoio sobre o terreno
(TSUTIYA, 2006).
São diversos os tipos de aplicações desses blocos, que são usados em casos
de mudanças de direção, redução do diâmetro ou em fins de tubulação, sempre que os
esforços foram muito grandes. A seguir são apresentados alguns exemplos de blocos
de ancoragem para diferentes situações em que estes podem ser usados (Tabela 10).
171
Os principais tipos de corrosão normalmente observados são a corrosão
galvânica, corrosão em frestas, corrosão atmosférica, corrosão pelo solo, corrosão
pela água, corrosão eletrolítica, além de outros. Pela aparência da superfície corroída é
possível identificar a forma de corrosão que ocorreu, sendo as principais formas: uniforme,
por placas, alveolar, por pite, intergranular e corrosão transgranular. A velocidade de
desgaste do material indica a taxa de corrosão, que é importante para saber a vida útil
do bem material que se quer proteger (TSUTIYA, 2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁDEZ,
2015).
Figura 13 – (A) Esquema simplificado de uma proteção catódica galvânica e de (B) um sistema por corrente
impressa
172
4 COMPONENTES E PROJETO DE ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS
DE ÁGUA
Estações elevatórias fazem parte de um sistema de abastecimento. São utilizadas
tanto na captação, adução e tratamento quanto na distribuição de água (TSUTIYA,
2006). Essas estações servem para transportar uma certa vazão de um reservatório
inferior para um em cota superior. Geralmente, para os sistemas de abastecimento,
esses reservatórios são abertos e com níveis constantes, permitindo que o escoamento
seja tratado como permanente (PORTO, 2006).
• tubulação de sucção: formada pela tubulação que liga o reservatório inferior à bomba.
Estão incluídas na tubulação de sucção todas as peças e acessórios necessários,
tais como registros, válvulas, curvas etc.;
• conjunto elevatório: inclui as bombas e os respectivos motores (elétricos ou de
combustão interna);
• tubulação de recalque: é constituída da tubulação que liga a bomba ao reservatório
superior, incluindo também todas as peças e os acessórios necessários para isso.
No conjunto elevatório, a bomba pode ser instalada com seu eixo abaixo da cota
do reservatório inferior, dito bomba afogada, ou ser instalada com a cota do eixo da
bomba acima da cota do nível d’água do reservatório inferior. Nesse caso dizemos que
é um caso de bomba não afogada (PORTO, 2006).
4.1 BOMBAS
As bombas podem ser divididas em bombas cinéticas e bombas de deslocamento
direto (TSUTIYA, 2006). A Figura 14 mostra as principais classificações de bombas.
173
Figura 14 – Classificação das bombas cinéticas e de deslocamento positivo
174
DICA
Para saber mais detalhes sobre as bombas centrífugas (as mais aplicadas
em sistemas de abastecimento) leia o item A-11.5 Bombas Centrífugas (p.
270-284), do livro Manual de hidráulica. 9 ed. de Azevedo Netto e Fernádez,
disponível em: file:///C:/Users/01844524060/Downloads/Manual%20
de%20Hidr%C3%A1ulica%209a%20edi%C3%A7%C3%A3o%20
Edit%C3%A1vel.pdf.
Em que:
175
Em que:
Hg: é a altura geométrica ou altura estática total, dada pela diferença entre os
níveis de água dos reservatórios;
∆Hs: é a perda de carga total, distribuída e localizada, na tubulação de sucção;
∆Hr: é a perda de carga total, distribuída e localizada, na tubulação de recalque.
Como a água tem peso específico igual a 9,8.103 N/m³, a equação anterior pode
ser expressa como:
Para se conhecer a potência elétrica fornecida pelo motor que aciona a bomba,
podemos usar a seguinte equação, para a qual ηm é o rendimento global do motor que
aciona a bomba:
176
NPSH
A sigla NPSH (em inglês, Net Positive Suction Head), é a energia disponível
no líquido na entrada da bomba, e é usada universalmente para representar a energia
disponível na sucção, ou seja, a carga positiva e efetiva na sucção (AZEVEDO NETTO;
FERNÁNDEZ, 2015).
Existem dois tipos de NPSH que devem ser considerados: NPSH disponível e
NPSH requerido. A NPSH disponível é uma característica das instalações de sucção,
sendo a energia disponível para que o líquido consiga alcançar as pás do rotor (PORTO,
2006; AZEVEDO NETTO; FERNÁDEZ, 2015). A NPSH disponível pode ser calculado por:
177
ligarem as bombas a uma única tubulação, pois é mais menos viável economicamente
instalar dois tubos em paralelo do que uma única tubulação com diâmetro equivalente
(AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015; TSUTIYA, 2006).
178
4.3 PROJETO DE ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS
Localização das estações elevatórias
• próximas ao manancial;
• no meio do manancial;
• junto ou próximas às ETAs;
• junto ou próximas aos reservatórios de distribuição.
Vazões de projeto
Período de projeto
Poço de sucção
179
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
180
AUTOATIVIDADE
1 O traçado de uma adutora reflete todo o planejamento envolvido para conseguir as
melhores condições para operação da adutora. Na decisão sobre o traçado, o projetista
deve considerar as condições de localização e de topografia, que afetam diretamente
a linha piezométrica e o plano de carga sob os quais a adutora estará em operação.
A escolha do melhor traçado afeta o dimensionamento da adutora e os custos
envolvidos com o recalque, quando este é necessário. Sobre as recomendações para
o traçado das adutoras, assinale a alternativa CORRETA:
181
3 Em sistemas de abastecimento de água, dependendo das condições de traçado,
pode ser necessário adicionar carga ao sistema para que sejam alcançadas alturas
manométricas mínimas para o escoamento em condições adequadas. Para tais
situações, as estações elevatórias são as unidades na adutora onde o bombeamento,
ou também dito recalque, acontece. Sobre estações elevatórias, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - V - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.
182
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
RESERVATÓRIOS E
REDE DE DISTRIBUIÇÃO
1 INTRODUÇÃO
O abastecimento de água, desde os reservatórios até os pontos de consumo
na cidade (ligações domiciliares, hidrantes de incêndio, chafarizes e outros tipos de
tomadas de água) realiza-se através de uma ou várias redes de distribuição, com a
finalidade de garantir que em cada ponto consumidor a água chegue com vazão precisa,
pressão suficiente e que sua qualidade não seja deteriorada (GOMES, 2009).
183
os custos. Também possibilitam o aumento no rendimento dos conjuntos elevatórios
(motor-bomba), uma vez que mantêm a altura manométrica e a vazão constantes, e
fazem com que os conjuntos motor-bomba operem próximos de seu rendimento
máximo (TSUTIYA, 2006).
2.1 CLASSIFICAÇÃO
Os reservatórios podem ser classificados de diferentes formas. A seguir são
apresentadas algumas classificações.
184
menos de um terço de profundidade no solo, ou com cota de fundo superior à cota do
terreno, respectivamente. A Figura 15 mostra como seria a localização dos reservatórios
segundo essa classificação.
185
por estações elevatórias do tipo “booster”, de custo bem menor e de fácil implantação.
Contudo, deve-se considerar também as vantagens que esse tipo de reservatório pode
trazer ao sistema, tais como: pode atuar na proteção da rede de distribuição contra o
fenômeno do golpe de aríete, auxilia no combate a incêndios e permite maior controle
das pressões na rede, diminuindo as perdas de água. Além disso, o custo de energia do
bombeamento para o reservatório elevado é geralmente menor do que o bombeamento
direto para a rede de distribuição através de booster (TSUTIYA, 2006).
INTERESSANTE
Você sabia que o maior reservatório da América Latina fica no Brasil?
Confira em: https://www.youtube.com/watch?v=IZ98FCi-laM.
2.2 CAPACIDADE
Os reservatórios devem ser capazes de atender às demandas dos sistemas
de abastecimento. Como os sistemas trabalham para atender diferentes demandas,
a capacidade dos reservatórios é determinada de acordo com três principais reservas
necessárias. A primeira delas seria a reserva que deve ser feita para atender à demanda
de consumo da população, considerando as variações que ocorrem, denominada de
demanda de equilíbrio ou volume útil. As demais reservas são a reserva para combate
a incêndio e a reserva para emergências. A capacidade dos reservatórios depende
do volume necessário para atender às variações de demanda de consumo (chamada
também de demanda de equilíbrio), o volume para combate a incêndios e um volume de
reserva para emergências.
186
fim de evitar vórtices, cavitação e carreamento de sedimentos do fundo do reservatório
(nível mínimo). Esse volume pode ser determinado a partir de duas maneiras, dependendo
da disponibilidade ou não da curva de consumo.
Figura 16 – (A) Curva de consumo ao longo do dia de maior consumo e (B) diagrama de massa acumulada
Nesse caso de adução contínua, a reserva mínima de equilíbrio (ou volume útil)
pode ser determinada usando um diagrama de massa, como o mostrado na Figura 16
(B). Essa reserva é obtida após traçar duas retas tangentes nos pontos mais extremos
na curva de consumo acumulado (pontos de maior e menor consumo), paralelas à reta
de adução acumulada. A distância vertical entre essas tangentes, indicada na figura por
C (Capacidade de reserva), pode ser quantificada usando o eixo y (volume acumulado,
m³) da própria figura.
187
Figura 17 – Diagramas de massa acumulada para determinação da capacidade de reservatório com adução
intermitente no caso de (A) período único de adução e (B) períodos descontínuos de adução
Método quando não se tem curva de consumo: para os casos em que não
há curvas de consumo da rede, o volume útil do reservatório pode ser determinado
considerando-se uma curva de consumo senoidal (Figura 18). Assim, a vazão de
consumo pode ser determinada pela equação a seguir, em que V é o volume de água
consumido no dia de maior consumo, V/24 a vazão média nesse dia e K2 o coeficiente
da hora de maior consumo:
188
Para esse caso, portanto, o consumo pode ser obtido pela seguinte equação: C
é a capacidade mínima do reservatório (m³), K2 o coeficiente da hora de maior consumo
e V o volume diário consumido (m³):
Como resultado, ao admitirmos um valor de 1,5 para o coeficiente K2, o volume útil
seria aproximadamente 16% do volume que seria consumido no dia de maior consumo
(TSUTIYA, 2006).
189
2.2.4 Tubulação e órgãos acessórios
A tubulação de entrada nos reservatórios pode ser posicionada em qualquer
local. No entanto, as posições de entrada livre (acima do nível d’água) e entrada afogada
são as mais comuns, sendo que no Brasil prevalece o uso de entrada livre. Os motivos
para essa escolha são pela menor complexidade no projeto para a escolha do motor-
bomba para a elevação, o desconhecimento da economia de energia elétrica ao se
mudar a entrada e também por tradição. No entanto, a diferença de altura geométrica
entre uma entrada livre e uma afogada pode ser entre 2 e 10 m, de modo que entradas
do tipo afogada podem favorecer uma economia significativa de energia elétrica.
190
Os condutos primários, ou principais, são de maior diâmetro e abastecem os
condutos secundários, que são de diâmetro menor e podem ou não ter a função de
abastecer diretamente os pontos de consumo na rede (PORTO, 2006).
191
Figura 19 – Traçados de redes de distribuição
192
Em que:
Q: vazão (l/s);
K1 e K2: coeficientes do dia e da hora de maior consumo, respectivamente;
P: total da população a ser abastecida pela rede (hab);
q: consumo per capita final de água (l/hab.dia).
Para calcular a vazão que passa pelos nós do sistema, o valor de qd deve ser
multiplicado pela área correspondente para cada nó. Em alguns casos pode acontecer
de se ter dois valores de qd para um mesmo nó, isso ocorre quando a vazão que passa
por esse nó é resultado de contribuição de duas ou mais tubulações por ser um nó de
intersecção. Nesses casos, a vazão será a soma das vazões totais de cada parcela de
área que influencia esse nó.
193
3.4.1 Pressões mínimas e máximas
A magnitude das pressões efetivas afeta significativamente nos custos de
implantação e operação da rede, e tem papel fundamental na etapa de dimensionamento
desse sistema. Um dos motivos da exigência de um valor mínimo de pressão na rede
de abastecimento é para garantir que a água chegue até o ponto de consumo com
carga suficiente para chegar à torneira do usuário. A norma da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) NBR12218 (1994) estabelece que em qualquer ponto da rede de
distribuição a pressão dinâmica deve ser no mínimo de 100 kPa (ou aproximadamente
10 mca) (GOMES, 2009).
194
Entretanto, a norma não indica valores de referência para tubulações principais.
Segundo uma norma antiga da ABNT (PNB 594/77) eram recomendados os seguintes
valores para redes malhadas:
Além da resistência dos tubos, outros fatores também devem ser considerados:
a durabilidade do material (vida útil); o material da superfície interna, que deve permitir
possibilitar o adequado escoamento; e não deve ter reação química como a água, nem
sofrer corrosão. Um dos fatores que afetam o escoamento é a rugosidade do material.
Atualmente, as tubulações têm um coeficiente de rugosidade (C), de Hazen-Williams,
que varia entre 100 e 150. O material da superfície externa também deve ser considerado,
bem como as dificuldades de instalação, o peso das tubulações e peças e a facilidade
em fazer interligações (TSUTIYA, 2006; GOMES, 2009).
Além dos aspectos citados, devem ser consideradas também a legislação local,
as condições climáticas e as especificações e recomendações de normas reconhecidas
e utilizadas, como as normas ISO (International Organization for Standardization) e ANSI
(American National Standards Institute) (TSUTIYA, 2006).
195
são as mais utilizadas. A maior vantagem do PVC é seu baixo custo de transporte e
instalação, além de sua resistência à corrosão, ao ataque químico de águas impuras e à
baixa rugosidade das paredes do tubo.
Ferro fundido: as tubulações de ferro fundido (FoFo) são feitas de liga de ferro
e de carbono, e podem ser do tipo ferro cinzento ou ferro fundido, de acordo com a
proporção de carbono no material. Hoje em dia esses tipos de tubos são usados na
versão dúctil, que são revestidos por dentro com argamassa de cimento e por fora com
zinco e pintura betuminosa (GOMES, 2009).
196
Ventosas: são acessórios que permitem a entrada e a saída de ar da tubulação
de maneira automática e, por isso, são colocadas nos pontos altos da rede nos condutos
principais. Nos casos em que se tenham ligações prediais nos pontos altos da rede,
não há a necessidade da instalação de ventosas, pois essas ligações já permitem que
ocorram a entrada e a saída de ar.
DICA
O software mais utilizado no Brasil para cálculo e simulação de redes de
abastecimento é o EPANET. Para se ter uma ideia de como funciona esse
software, veja o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=CnHqI6Y3lHc.
Se quiser se aprofundar sobre essa poderosa ferramenta, você encontra
o manual e o software disponíveis em: http://ct.ufpb.br/lenhs/contents/
menu/assuntos/epanet.
197
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
198
AUTOATIVIDADE
1 Nos sistemas de abastecimento, os reservatórios são utilizados para diferentes
finalidades, sendo dentre elas manter a segurança do fornecimento de água para
a população e auxiliar na regulação das pressões na rede de distribuição de água.
Apesar das muitas vantagens da admissão de reservatórios nos sistemas, o uso
é restringido devido ao custo elevado de implantação e aos requisitos quanto à
localização (cota adequada para atender às variações de pressão da rede). Sobre os
tipos de reservatórios, assinale a alternativa CORRETA:
2 Uma das exigências dos órgãos reguladores é a chegada de água aos consumidores
em qualidade e quantidade adequadas para o consumo. Como as adutoras contam
com diferentes unidades e as redes de distribuição, na prática, são sistemas bem
complexos, é difícil manter o controle das pressões e vazões no abastecimento. Por
isso, muitos sistemas contam com auxílio de reservatórios com a finalidade de garantir
que em cada ponto consumidor a água chegue com vazão precisa, pressão suficiente
e que sua qualidade não seja deteriorada. Sobre a capacidade dos reservatórios, as
tubulações e os acessórios hidráulicos geralmente usados, analise as sentenças a
seguir:
199
Assinale a alternativa CORRETA:
( ) Os tipos de redes, ou os seus traçados, são divididos em dois tipos: rede malhada ou
rede do tipo espinha de peixe. O traçado dito misto é uma mistura desses dois tipos
de redes e normalmente ocorre em áreas mais periféricas ou de expansão.
( ) Quando se tiver traçado ramificado na rede, é preciso instalar acessórios como
válvulas de descarga nos pontos finais e mais baixos, a fim de possibilitar o
esvaziamento dos tubos.
( ) As artérias principais devem ser direcionadas para as áreas de maior demanda na
rede.
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - V - V.
4 Em uma cidade com 50 mil habitantes, que consome em média 10 milhões de l/dia,
uma concessionária de abastecimento quer determinar a vazão de distribuição e a
vazão específica, para uma rede de 5000 m de comprimento e coeficientes K1 e K2
iguais a 1,2 e 1,4, respectivamente. Calcule as vazões específica e de distribuição para
esse caso.
200
UNIDADE 3 TÓPICO 4 -
GOLPE DE ARÍETE/TRANSIENTE
HIDRÁULICO
1 INTRODUÇÃO
O fenômeno de transiente hidráulico é um fenômeno costumaz em tubulações
que ocorre devido a mudanças bruscas de pressão associadas a mudanças de velocidade
no escoamento.
Esse fenômeno não pode ser ignorado, uma vez que pode acarretar acidentes
sérios, perda de vida e de bens materiais. Assim, caro estudante, nesse tópico
abordaremos especialmente sobre os conceitos envolvidos, como se dá o fenômeno, as
principais fórmulas aplicadas e também sobre alguns dos equipamentos e acessórios
hidráulicos relacionados a esse fenômeno de transiente hidráulico.
Considere o caso de uma tubulação que está escoando água a uma velocidade
constante. Se considerarmos que o volume escoado ao longo dessa tubulação possa
ser “dividido” em porções menores (que podemos chamar de lâminas), podemos
exemplificar o fenômeno do golpe de aríete da seguinte maneira:
202
• quando se fecha o registro R, a primeira porção de água (lâmina 1) será comprimida
por esse fechamento, e a energia cinética nesse ponto será transformada em pressão
no fluido. Isso fará com que ocorra, simultaneamente, a distensão nas paredes da
tubulação e deformação elástica da água devido a esses esforços internos sobre a
lâmina. Esse processo será “transmitido” para as porções seguintes (lâminas 2, 3, 4,
e assim por diante), ocasionando a propagação da pressão como se fosse uma onda
ao longo da tubulação até a lâmina junto ao reservatório (lâmina n);
• quando a onda de pressão chega ao ponto próximo no reservatório, a pressão que
está sendo propagada impulsiona o fluido com mais força contra as paredes da
tubulação, fazendo com que o fluido tenda a sair da tubulação para o reservatório,
com velocidade –V. Enquanto essa propagação da onda de pressão com velocidade
C (celeridade da onda) vai ocorrendo ao longo da tubulação, no primeiro ponto, onde
iniciou a maior pressão (na porção lâmina 1), a pressão se mantém muito alta (sobre
pressão) durante o período da tubulação (T). Entende-se por período da tubulação o
tempo que a onda de propagação leva para sair e voltar para uma das extremidades
da tubulação;
• quando a onda volta ao ponto inicial próximo ao registro R, que ainda está fechado,
forma-se ali um ponto de subpressão interna. Ocorre a partir daí a propagação
de onda de subpressão ao longo da tubulação, pois como há uma subpressão no
local, a água ocupará esse local novamente, as porções voltarão se chocar com
o registro e a velocidade será convertida em V. Esse processo de alternância de
sobre e subpressões prossegue até que a energia em excesso seja dissipada. A
dissipação de energia acontecerá, dentre outros motivos, pelo atrito com as paredes
da tubulação, que durante o fenômeno contribui para o amortecimento dos golpes
sucessivos.
Em que:
203
Tabela 11 – Valores do coeficiente k para diferentes tubos
Para o caso de manobra lenta, a sobre pressão pode ser obtida pela fórmula de
Michaud-Vensano:
204
Sendo os períodos de canalização T e de manobra t em segundos, L o
comprimento da tubulação e v a velocidade média da água. Essa fórmula pode ser
aplicada para descobrir o tempo de manobra a ser adotado para a que sobre pressão
não ultrapasse determinado limite. Apesar dos valores obtidos por essa fórmula serem
maiores do que os observados experimentalmente, a fórmula de Michaud tem sido
utilizada por favorecer o princípio da segurança (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).
205
5 CONDIÇÕES DE EQUIVALÊNCIA E DISPOSITIVOS USUAIS
Para obter o comprimento equivalente (L) de um conduto de área de seção A1
à situação de um conduto em série, com trechos de comprimentos L1, L2 e L3..., de
seções diferentes A1, A2 e A3..., a seguinte expressão de relação pode ser usada:
Válvula de alívio: é uma válvula usada para impedir que a pressão ultrapasse
determinado valor máximo através da descarga de certo volume determinado (“purga”)
para fora da tubulação em locais na rede. Esses dispositivos operam automaticamente,
devendo abrir instantaneamente quando a pressão na tubulação atinge o limite máximo
estabelecido. Existem dois tipos de válvulas de alívio, a depender do mecanismo utilizado
para fechamento das válvulas: do tipo vam (com “mola” metálica espiralada) e do tipo
vac (por ar comprimido) (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).
INTERESSANTE
Veja um exemplo de uma válvula desenvolvida por uma empresa para
proteção das bombas das ondas do golpe de aríete em: https://www.
youtube.com/watch?v=XVnBPAhOgpw.
206
Tanques unidirecionais (“TAUs”): são utilizados para impor limite de
subpressão através da injeção de determinados volumes, em tempos determinados,
em certos locais da rede. Assim como as válvulas, eles se dividem em dois tipos: tipo tau
(com pressão atmosférica) e tipo tbu (por ar comprimido), e a sua localização também
dependerá do estudo do transiente hidráulico do sistema.
Essas câmaras de ar são indicadas para casos de vazões e pressões não muito
elevadas, e exigem cuidado de instalar um compressor para adicionar ar na câmara, uma
vez que o ar dentro da câmara vai sendo reduzido por dissolução na água (AZEVEDO
NETTO; FERNÁNDEZ, 2015).
207
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:
208
LEITURA
COMPLEMENTAR
REDES MALHADAS – MÉTODO HARDY CROSS
209
No cálculo da perda de carga em cada trecho da rede utiliza-se uma equação de
resistência na forma .
Como regra geral, uma rede malhada com m anéis ou malhas e n nós gera
um total de equações independentes, e à medida que a complexidade da
rede aumenta, cresce proporcionalmente o número de equações. Evidentemente, uma
solução algébrica da rede torna-se impraticável e então se lança mão de um método de
aproximações sucessivas, com auxílio do computador, prático e muito adequado para o
problema, denominado método Hardy Cross.
210
Tabela 1 – Velocidades de vazões máximas em redes de abastecimento
De modo a se atingir:
E finalmente:
211
Não é objetivo do cálculo chegar a um limite muito afinado, uma vez que os resultados
obtidos não podem ser mais precisos que os dados básicos, os quais forçosamente
serão com frequência incertos.
Fonte: PORTO, R. de M. Hidráulica básica. 4 ed. São Carlos: EESC-USP, 2006. p. 178-181.
212
AUTOATIVIDADE
1 O golpe de aríete causa grande turbulência no escoamento e pode danificar
tubulações e acessórios de um sistema de abastecimento, devido às grandes
variações de pressão que ocorrem. Para o cálculo das sub e sobre pressões nas
tubulações durante esse fenômeno transiente, são estudadas algumas variáveis
com relação direta ao fenômeno. Sobre as variáveis e fórmulas aplicadas aos cálculos
relacionados ao fenômeno do golpe de aríete, assinale a alternativa CORRETA:
2 Por mais rápido que se faça o fechamento de válvulas, durante manobras na rede
sempre ocorre a transformação de energia em compressão sobre a água e também
em força de deformação sobre as paredes do tubo pelo fenômeno do transiente
hidráulico (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ, 2015). Com base nos conceitos e definições
acerca do fenômeno do transiente hidráulico, analise as sentenças a seguir:
213
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
a) ( ) V - F - V.
b) ( ) F - V - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) V - F - F.
214
REFERÊNCIAS
AZEVEDO NETTO, J. M. de; FERNÁNDEZ, M. F. Manual de hidráulica. 9. ed. São Paulo:
Blucher, 2015.
VIANA, D. Guia da engenharia, 2019. Golpe de aríete: entenda o que é. Disponível em:
https://www.guiadaengenharia.com/golpe-ariete/. Acesso em: 1º set. 2022.
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