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PERGUNTAS EM ABERTO E ALTERNATIVAS DE PRÁTICAS

FORMATIVAS

O texto aborda uma série de questões cruciais relacionadas à


formação docente, destacando que, embora haja evidências de avanços
nesse campo, persistem desafios significativos. Bernadete levanta perguntas
fundamentais, como promover a aprendizagem da docência, quais práticas
formativas são mais eficazes na formação inicial e continuada, e como
formar profissionais reflexivos e capazes de analisar criticamente suas
práticas.
A reflexão sobre essas questões é considerada vital, visto que não há
respostas únicas devido à diversidade de métodos de ensino e
aprendizagem. Bernadete destaca a necessidade de examinar o que
funciona, o que deve ser abandonado e o que deve ser construído ou
reconstruído.
O texto destaca a importância das narrativas na formação docente,
enfatizando que escrever sobre experiências pedagógicas pode potencializar
o processo de reflexão. Bernadete menciona práticas como casos de ensino,
portfólio, memoriais de formação e diários reflexivos como formas eficazes
de explorar e analisar a complexidade da prática docente. Além disso,
observa o aumento do uso de recursos digitais e linguagens digitais nos
processos formativos, destacando sua utilidade para criar interatividade,
compartilhar informações e analisar a prática de forma mais abrangente.
Ao considerar a formação inicial e continuada, o texto destaca o
impacto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(Pibid) no fortalecimento das licenciaturas e na introdução de novas
práticas e culturas. Além disso, ressalta a importância crescente do trabalho
colaborativo na formação continuada, buscando superar o isolamento dos
professores.
Bernadete ressalta a importancia de apresentar as potencialidades
dos dispositivos de formação, como casos de ensino, portfólio, memorial de
formação e diários reflexivos, o texto destaca a aspiração comum de
analisar a prática de forma abrangente, tomar a prática como objeto de
análise e saber, em sua globalidade, sua complexidade, suas múltiplas
referências, sua ambuiguidade, sua opacidade, compreendidos seus aspectos
não-refletidos, não-racionais, não-ditos.
Em acordo com essa aspiração, considerou-se pertinente apresentar
as potencialidades de alguns dispositivos de formação, inspirados nos
consensos descritos, que vêm sendo empregados na formação de
professores. São eles: casos de ensino, portfólio, memorial de formação e
diários.

CASOS DE ENSINO

O texto explora o conceito de casos de ensino como narrativas de


eventos escolares que facilitam a reflexão sobre a prática docente. Destaca-
se que não toda história, mas sim a descrição de situações com alguma
tensão, que possam ser analisadas de diferentes perspectivas, constituem
casos de ensino. Essas narrativas são particulares, específicas, situadas no
tempo e espaço, refletindo o trabalho, pensamentos, sentimentos e contextos
sociais e culturais dos envolvidos.
O texto enfatiza que os casos de ensino são dispositivos de formação
aplicáveis tanto na formação inicial quanto na continuada , presencial ou a
distância, abordando temáticas diversas. Destaca-se que esses casos não
apenas têm valor formativo, mas também contribuem para processos
investigativos no desenvolvimento profissional docente.
O texto destaca três propósitos principais para a utilização de casos
de ensino:
(i) Podem ser usados como exemplos visando a enfatizar a teoria e
priorizar o conhecimento proposicional;
(ii) Como oportunidades para praticar a tomada de decisões e a
resolução de problemas práticos tendo em vista ajudar professores a
“pensar como professores” por meio da apresentação de situações escolares
que ocasionam situações problemáticas que exigem a identificação e análise
do problema, bem como tomada de decisão e definição da ação;
(iii) E como estímulo à reflexão enfatiza a introspecção e o
desenvolvimento do conhecimento profissional pessoal permitindo o
desenvolvimento de hábitos e técnicas de reflexão.
A abordagem metodológica na elaboração de casos de ensino envolve
dois momentos:
1. Primeiro, os docentes examinam casos existentes para
compreender o conceito;
2. São orientados na elaboração de seus próprios casos. A
interação entre formadores e professores permite o
aprimoramento dos casos, tornando-os mais analisáveis por
outros professores e aprofundando a reflexão do professor em
torno de sua prática.

PORTFÓLIO

O texto aborda o conceito e a utilização do portfólio como uma


ferramenta valiosa no campo educacional, com ênfase na formação de

professores. Hernández ressalta a origem do portfólio nas artes com a


finalidade de promover o desenvolvimento das inteligências artísticas,
explicando que sua inserção na educação ocorreu principalmente a partir
dos anos 1990. O propósito do portfólio é documentar aprendizagens,
vivências e o desenvolvimento de habilidades ao longo do tempo, facilitando
a reconstrução e reelaboração do processo de aprendizagem do estudante e
promovendo autorreflexão e autoavaliação.
O uso do portfólio na formação docente no Brasil é influenciado pelos
estudos de Sá-Chaves, que o concebe como um instrumento reflexivo. SÁ-

CHAVES destaca que o portfólio reflexivo favorece o registro, a


sistematização de reflexões e o desencadeamento de novas aprendizagens,
proporcionando aos professores em formação inicial e em exercício a
oportunidade de conhecerem-se melhor como pessoas e profissionais.
O texto enfatiza a utilização do portfólio em situações de estágio
supervisionado na formação inicial, argumentando que, quando usado de
maneira proativa em ciclos sucessivos de reflexão, ele fornece evidências
sobre as ações vividas, constrangimentos, coerência, sucesso ou insucesso,
permitindo a captura do fluir do pensamento. Destaca-se a capacidade do
portfólio de analisar as práticas e estimular o desenvolvimento crítico e
reflexivo dos futuros professores.
A elaboração do portfólio não pode ser feita de maneira superficial,
mas requer tempo e dedicação. O texto descreve o portfólio como uma
"longa carta" enviada a si mesmo e ao formador, sempre devolvida e
enriquecida com nova informação, perspectivas ou suporte afetivo e
pessoal. Destaca-se que o uso do portfólio na formação inicial favorece o
diálogo entre o professor e o estagiário, promovendo a construção do
conhecimento.
O texto menciona que, embora o uso do portfólio na formação em
serviço seja ainda incipiente, tem possibilitado aos professores refletirem
sistematicamente sobre suas práticas cotidianas, configurando-se como um
instrumento organizador e revelador da aprendizagem. Em situações de
formação continuada, a produção de portfólios reflexivos é vista como um
processo de conscientização que permite a relativização de convicções e
conhecimentos próprios, ampliando o quadro de referências e abrindo
novos espaços de compreensão contextualizada e de ação futura. SÁ-

CHAVES destaca a importância da interação com os outros para


enriquecer e potencializar a reflexão e as aprendizagens no processo.
O MEMORIAL DE FORMAÇÃO E AS NARRATIVAS DE
FORMAÇÃO

O memorial de formação tem sido empregado em diversos contextos


formativos, desde a formação inicial, substituindo o tradicional trabalho de

conclusão de curso, até em programas de formação continuada. SARTORI


ressalta que o memorial, ao adotar a forma composicional predominante da
narração, possibilita a presença do "eu" que narra sua história,
experiências profissionais e de formação. Nesse sentido, o memorial destaca
a voz dos professores, unindo prática e reflexão em um diálogo íntimo.
O texto menciona que as orientações para a elaboração do memorial
podem variar, mas geralmente pedem que o professor relate suas
experiências nos âmbitos pessoal, escolar/acadêmico e profissional. Destaca-
se que a narrativa não precisa seguir uma ordem cronológica linear; pode
ser estruturada de diversas maneiras, e as escolhas feitas pelo autor são
fundamentais.
O memorial de formação é visto como uma ferramenta que favorece o
desenvolvimento profissional dos professores, pois o ato de relembrar
permite a reconstrução da memória com um viés afetivo e intelectual,
organizando as experiências vividas. Escrever sobre si mesmo é descrito
como uma tarefa exigente, envolvendo uma dimensão de auto escuta, onde o
sujeito conta para si mesmo suas experiências e aprendizagens ao longo da
vida.
O texto também destaca a diferença de abordagem entre o uso do
memorial na formação inicial e continuada. Na formação inicial, o foco está
na compreensão da trajetória de formação pelo futuro professor e suas
implicações para sua constituição pessoal e profissional. Na formação
continuada, o memorial evidencia conhecimentos derivados da ação e da
formação, resultando em um texto reflexivo de crítica e autocrítica sobre a
inter-relação entre formação e prática profissional.

DIÁRIOS

O diário é apresentado como um documento pessoal que permite uma


liberdade de autoria para o registro de ações, certezas, incertezas, sendo
considerado o espaço da experiência vivida. Zabalza destaca que escrever
sobre práticas e experiências não apenas esclarece os fatos, mas também
possibilita o retorno às situações vivenciadas para análise e revisão. Esse
processo contribui para estabelecer relações, tirar conclusões e tomar
decisões, realizando as intervenções necessárias.
O uso do gênero diário em contextos de formação de professores teve
início na década de 1970, associado à valorização da escrita e da pesquisa
(auto)biográficas.
A escrita sobre as ações ocorridas permite que os docentes e futuros
professores documentem e sistematizem as experiências vivenciadas.
Durante o processo de narrar, o docente direciona o olhar para si próprio,
inicialmente como narrador e, posteriormente, como crítico dos registros
elaborados. A escrita do diário na forma de narrativa proporciona o
registro de conflitos, angústias, emoções, hipóteses, explicações,
pensamentos, reflexões e teorias implícitas.
Na formação inicial e continuada, a escrita de diários é um
instrumento que possibilita a atitude de introspecção, (auto)avaliação,
conscientização, crítica e transformação. Zabalza destaca quatro dimensões
que conferem potencialidade a esse tipo de registro:
(i) Requer escrever: Isso implica mobilizar uma série de operações
que aproximam o professor ou futuro professor do processo de aprender. A
narração não apenas constrói linguisticamente a experiência recente
(ii) Implica refletir: A narração se transforma em reflexão, sendo
um dos componentes fundamentais dos diários. As unidades de experiência
relatadas são analisadas ao serem escritas e descritas de outra perspectiva,
sendo vistas sob uma 'luz diferente'.
(iii) Integra o referencial e o expressivo: Reflete sobre o objeto
narrado (referencial) e sobre o narrador como indivíduo protagonista dos
fatos descritos (expressivo).
(iv) Possui caráter histórico e longitudinal: Os registros permitem
acompanhar a evolução do pensamento do professor ao longo do tempo,
conservando a sequência, evolução e atualidade dos dados recolhidos
durante o período coberto pelo diário.
Além disso, o diário possui um caráter atemporal, permitindo, após
um tempo de distanciamento dos acontecimentos, redescobrir caminhos que
poderiam não ser perceptíveis inicialmente. Esse recurso é valioso para o
desenvolvimento profissional permanente.
O uso de diários em cursos de licenciatura, especialmente no estágio
supervisionado, tem sido discutido em vários estudos, destacando aspectos
como a construção de conhecimento crítico, análise das próprias atitudes e
crenças sobre o processo de ensino e aprendizagem, interação entre pares,
autorreflexão, manifestação de subjetividades, ampliação do conhecimento
sobre a escola, identificação de áreas de investigação, e compreensão da
relação entre teoria e prática.
De modo geral, nesses estudos, o uso de diários tem favorecido o
desenvolvimento profissional do futuro professor uma vez que os processos
de escrita, reflexão e discussão têm possibilitado, dentre outros aspectos:
Na formação contínua de professores, o diário pode ser utilizado com
finalidades mais estritamente investigativas ou orientadas para o
desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes.
Zabalza destaca quatro âmbitos de impacto formativo dos diários
para professores em serviço:
vivenciar dúvidas, anseios, alegrias, descontentamento, ansiedade,
satisfação e sentimentos;
refletir sobre a própria prática e tomar de consciência das próprias
aprendizagens, das conquistas obtidas e das dificuldades encontradas,
levando a mudanças conscientes no trabalho docente;
rever práticas docentes cristalizadas, uma vez que no processo de
escrita e reflexão há a reconstrução das experiências e do percursos
realizado, favorecendo a compreensão dessas práticas;
adquirir o hábito do registro, da escrita como processo de expressão e
de objetivação do pensamento.
E como fazer o diário? Zabalza explica que os diários têm uma
estrutura narrativa flexível, sendo importante considerar a solicitação,
periodicidade, quantidade e conteúdo. O tipo de solicitação orientará o que
contar e como, a periodicidade baseia-se na regularidade para garantir
continuidade e sistemática.

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