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Elaboração de Portfólio

Segundo Parecer CNE/CP nº 5/2020, do Conselho Pleno, do Conselho Nacional


de Educação – CNE, o qual aprovou orientações com vistas a reorganização do
calendário escolar e à possibilidade de cômputo de atividades não presenciais, para fins
de cumprimento de carga horária mínima anual, em razão da pandemia do novo
coronavírus – Covid-19.
Este documento foi elaborado com intuito de versar sobre o conteúdo a que se
refere tal parecer, além de orientar as unidades escolares quanto ao registro das
frequências dos estudantes, e que para tanto surge a necessidade de implementação do
uso de Portfólio como forma de registros e posteriormente como ferramenta avaliativa
do docente, após retorno ao regime de aulas presenciais.
O uso do portfólio vem sendo apontado como uma das mais recentes
contribuições facilitadoras para uma avaliação formativa e somativa eficaz. Um ponto
positivo no uso do portfólio, é o fato de constituir-se em:
[...] um instrumento de comunicação entre aluno e professor, pois a partir da
análise conjunta do documento, é possível percorrer as histórias das
aprendizagens, num fundamental equilíbrio nas relações de poder entre os
indivíduos desse processo. Tanto professor como aluno terão como bases
argumentativas, a resultante construída processualmente. Ambas as partes
terão que dar conta do que fizeram, trocar sugestões para as próximas
atividades, considerar idiossincrasias e aprender a lidar com as diferenças
(PERNIGOTTI et al., 2000, p. 54-56).

 Implementação de Portfólio como estratégia de acompanhamento e


avaliação

Sá-Chaves (2000) referem-se ao portfólio reflexivo como sendo instrumentos de


diálogo entre educador e educando, que não são produzidos só no término do período
para fins avaliativos. São continuamente (re)elaborados na ação e partilhados de forma a
recolherem, em tempo útil, outros modos de ver e de interpretar, que facilitem ao aluno
uma ampliação e diversificação do seu olhar, levando-o à tomada de decisões, ao
reconhecimento da necessidade de fazer opções, de julgar, de definir critérios, além de
permitir as dúvidas e conflitos para deles poder emergir mais consciente, mais
informado, mais seguro de si e mais tolerante quanto às hipóteses dos outros.
Nesse sentido, pode-se entender que Sá-Chaves (2000) também compreende o
portfólio como sendo um instrumento de estimulação do pensamento reflexivo,
facilitando oportunidades para documentar, registrar e estruturar os procedimentos e a
própria aprendizagem. O portfólio evidencia ao mesmo tempo, tanto para o educando
quanto para o educador, processos de autorreflexão. Com isso, ele possibilita o sucesso
do estudante que, em tempo, pode transformar, mudar, (re) equacionar sua
aprendizagem, em vez de simplesmente saber sobre ela, ao mesmo tempo em que
permite ao professor repensar sua prática e suas condutas pedagógicas em vez de
somente fazer algum juízo, avaliar ou classificar o processo de ensino-aprendizagem do
aluno.
O portfólio difere de outros instrumentos, pois valoriza-se todas as etapas da
construção do conhecimento, ou seja do processo de busca e investigação, as
impressões, opiniões, sentimentos despertados pelo assunto em pauta, principalmente
nesse momento tão complexo da educação ocasionado pelo distanciamento social. Esse
instrumento vem com sentido de oportunizar a educadores e educandos uma reflexão
sobre suas trajetórias, buscando promover interação e redefinição de rotas/coordenadas
para a caminhada.
Para que o portfólio seja utilizado/implementado como um instrumento de
acompanhamento da aprendizagem e avaliação se faz necessário que os registros sejam
feitos com intencionalidade. O ponto principal que deve ser pensado neste momento, é o
de como vincular os registros ao desenvolvimento de competências. Para viabilizar este
processo, o professor precisa analisar quais anotações, fotos, vídeos ou quaisquer outros
tipos de registros sugeridos ele deve fazer para acompanhar o progresso do estudante.
É imperioso que fique claro que o portfólio não substitui os momentos de
produção dos estudantes (como sínteses ou confecção de relatórios), mas que deve ser
um registro de processos que oferece maior segurança no momento de realizar a
avaliação de desempenho do estudante e do professor.
No REANP, a produção de registros com intencionalidade pedagógica é mais
um desafio, já que as escolas muitas vezes precisam contar com o apoio das famílias
para alimentar o Portfólio. Por isso, para que o uso deste instrumento tenha sucesso é
preciso que seja feita do professor para o estudante/família uma comunicação simples e
clara de como o registro deverá ser feito pelo estudante, possibilitando que a avaliação
seja eficaz e integral.
Sendo assim, o portfólio deve se constituir como um instrumento de
comunicação entre professor e estudante de forma que seja possível uma análise
conjunta do documento, onde seja factível percorrer as histórias de aprendizagens,
percebendo equilíbrio e harmonia na relação dos indivíduos envolvidos no processo de
ensino e aprendizagem, inclusive com anexo de uma AUTOAVALIAÇÃO do
estudante. Como exemplo podemos trazer as turmas de Ensino Médio que podem
elaborar um diário de bordo para fazer suas anotações, fotos, vídeos e registros variados
de experimentos científicos feitos em casa e demais registros que possam demonstrar
seu percurso de aprendizagem.
Desta forma, o portfólio funcionará como uma estratégia para permitir que o
professor faça uma avaliação formativa e acompanhe o desenvolvimento gradual dos
estudantes.

 Evidências da eficiência e eficácia do uso de portfólio:


 Oferece ao professor a possibilidade de ter um olhar reflexivo da sua
prática e, ao mesmo tempo, de entender como os seus alunos estão aprendendo;
 Promove o desenvolvimento reflexivo dos estudantes;
 Estimula o processo de enriquecimento conceitual;
 Fundamenta os processos de reflexão para, na, e sobre a ação, quer na
dimensão pessoal, quer acadêmica;
 Estimula a originalidade e criatividade individuais no que se refere aos
processos de intervenção educativa, aos processos de reflexão sobre ela e à sua
explicação, através de vários tipos de narrativa;
 Contribui para a construção personalizada do conhecimento;
 Facilita os processos de auto e heteroavaliação;
 Proporciona o (re)pensar e (re)elaborar dos planejamentos e práticas de
intervenção cotidianas.

 Estruturação do Portfólio:
De acordo com HERNÁNDEZ, Fernando (2000) o portfólio é:
Um continente de diferentes tipos de documentos (anotações pessoais,
experiências de aula, trabalhos pontuais, controles de aprendizagem,
conexões com outros temas fora da escola, representações visuais, etc.) que
proporciona evidências do conhecimento que foram sendo construídos, as
estratégias utilizadas para aprender e a disposição de quem o elabora para
continuar aprendendo. (HERNÁNDEZ, Fernando 2000, p.166)

Sendo assim, é preciso se considerar o aluno em todos os momentos, nos


quais interage com diferentes pessoas e situações de aprendizado, quando ele realiza
uma AUTOAVALIAÇÃO. Então para construir o portfólio é necessário que se
estabeleça a sua composição (estrutura), então os seguintes passos são indispensáveis:
1. Definir o local do registro.
O Portfólio pode ser elaborado e apresentado por meio de vários suportes como,
por exemplo, em pastas variadas, em cadernos, em material virtual etc. O professor e o
estudante podem escolher a forma que consideram mais pertinente para composição do
portfólio, o importante é que ele seja caracterizado como um “álbum” com as atividades
mais importantes selecionadas pelo professor (sempre pensando nos múltiplos caminhos
que o estudante pode percorrer com foco na aprendizagem).
2. Definir o formato das atividades.
O registro das atividades pode ocorrer de diferentes formas como resumo, mapas
conceituais, esquemas, desenhos, fichamentos, história em quadrinhos, músicas, vídeos
produzidos, diversos gêneros e tipos textuais, segundo o planejamento do professor do
componente que está sendo avaliado. Desse modo, os registros devem exteriorizar o
sentido do conteúdo aprendido, expresso em diferentes linguagens que podem ser
evidenciados na produção de atividades diversas conjuntamente com a
AUTOAVALIAÇÃO realizada pelo estudante.
3. Focar no desenvolvimento das atividades.
O estudante deverá estar sempre atento ao registro das atividades, evidenciando
sua capacidade reflexiva, crítica e criativa sobre as habilidades e competências
desenvolvidas, o que será demonstrado na produção das atividades propostas e também
na AUTOAVALIAÇÃO produzida pelo estudante.
4. Organizar os trabalhos em ordem cronológica.
Os registros em datas diferentes comporão processualmente (no espaço e no
tempo) o Portfólio. Sendo assim, é importante que todas as atividades tenham data e
estejam organizadas em uma sequência cronológica crescente.
Vale ressaltar que o portfólio, de acordo com Gardner (1995) é o local que
armazena todos os passos percorridos pelo estudante ao logo de sua trajetória. Sendo
assim é importante que a cada dia haja um registro, tendo a função de demonstrar a
importância de cada aula, de cada momento, de cada situação de aprendizagem.
5. Fixar no cabeçalho os critérios de identificação.
O Portfólio, em sua construção, requer um título e uma apresentação que sirva
de orientação para o seu leitor sobre o que encontrará, com relação ao processo de
aprendizagem. Os coordenadores junto com os professores e estudantes precisam definir
um padrão de cabeçalho, que será seguido por todos.
6. Seguir o fluxo do Plano de Estudo
A organização das atividades do portfólio deve seguir a composição dos Planos
de Estudo semanais ou quinzenais que são enviados aos alunos, para tanto, os
professores precisam direcionar quais atividades devem compor este documento.
Sendo assim, o professor deve lembrar que o portfólio é entendido ainda como
uma coleção de amostras selecionadas (atividade + AUTOAVALIAÇÃO) do melhor
acervo pessoal sobre os conteúdos das disciplinas, que tem duas importantes
dimensões: o produto, enquanto sua terminalidade, e o processo, envolvendo o olhar dos
professores de forma seletiva e crítica, sobre as atividades desenvolvidas pelos alunos.
Nessa ótica, vemos a aprendizagem como um movimento permanente, composto por
progressos e rupturas, e a avaliação como prática de investigação que considera
relevantes tanto o resultado como o produto (FERREIRA; BUENO, 2005).
7. Autoavaliação
O estudante deve ser orientado para ser claro e objetivo ao revelar, analisar e
discutir sua própria aprendizagem durante o processo (vide Anexo -
AUTOAVALIAÇÃO), por meio de comentários pessoais integrados em cada momento
de sua produção ao compor o Portfólio. Essas impressões constituem um importante
instrumento de avaliação e de autoavaliação.
Pode ser que aconteça do estudante sentir dificuldade em expressar essa
autoavaliação ao longo do processo. Entendemos que nossos estudantes estão passando
por uma forte experiência, por isso a importância de registrar o que aprendeu e como
aprendeu e quais são as dificuldades que ainda precisam ser superadas. Alves (2003)
afirma de forma extraordinária que o que é importante não é o portfólio em si, mas o
que o estudante aprendeu ao criá-lo ou, dito de outro modo, é um meio para atingir um
fim e não um fim em si mesmo.

 Ressaltamos que:
O portfólio é um instrumento que potencializa a reflexão das práticas, assegurando a
construção do conhecimento, do desenvolvimento pessoal e profissional dos envolvidos
(docentes e discentes), sendo um instrumento que auxilia no crescimento do estudante,
já que o objetivo da construção do portfólio é que se leia mais e se reflita sobre o que
leu, bem como se posicione a partir de sua reflexão e amplie a busca de respostas
(FERREIRA; BUENO, 2005).
Acredita-se, ainda, que a trajetória por ele projetada revela a máxima de que é
pensando criticamente que a prática de hoje ou de ontem pode melhorar (FREIRE,
2000). Isto porque o estudante constrói a si mesmo como um ser reflexivo, ético e
criativo, capaz de refletir criticamente a sua formação, principalmente quando se
encaminha para uma perspectiva dinâmica, em que a educação se faça a partir das
representações simbólicas deste.
Coordenadores e professores devem decidir juntos quais atividades serão
registradas no portfólio, selecionar trabalhos que demonstrem a trajetória da
aprendizagem, considerando também o desenvolvimento acadêmico e pessoal do
estudante, apontando, pois, que atividades são essas, as quais deverão vir
acompanhadas da AUTOAVALIAÇÃO, haja vista que a forma de avaliar traz,
implicitamente, as concepções de aprender e ensinar de quem avalia. Na medida em que
a intenção de moldar e dirigir vai sendo substituída pela ideia de olhar o ser humano
como capaz de selecionar, assimilar, projetar e interpretar, entre outras habilidades, a
avaliação toma uma conotação formativa. Portanto, se as atividades elencadas na
proposta pedagógica (inclusive na construção do portfólio) demonstram uma
preocupação com o aprender e o ensinar, o processo de avaliação será eficaz (VIEIRA,
2006).
Do exposto, solicita-se, portanto que a Unidade Escolar selecione e oriente os
estudantes sobre quais atividades deverão compor o portfólio e que estas sempre
deverão estar acompanhadas de uma autoavaliação do momento de estudo, para que este
documento sirva como subsídio avaliativo a fim de promover a veracidade das aulas
não-presenciais bem como da realização das atividades remotas , pois de acordo com
Pimenta (2001):
A essência da atividade (prática) do professor é o ensino-aprendizagem, ou
seja, é o conhecimento técnico prático de como garantir que a aprendizagem
se realize como consequência da atividade de ensinar. Envolve, portanto, o
conhecimento do objeto, o estabelecimento de finalidades e a intervenção no
objeto para que a realidade (não aprendizagem) seja transformada, enquanto
realidade social. (Pimenta, 2001)

Reafirma-se, portanto, que a produção do portfólio é essencial nesse momento


adverso pelo qual vem passando a nossa Educação.
Referenciais Bibliográficos

ALVES, L. P. Portfólios como instrumentos de avaliação dos processos de ensinagem.


In: ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. (Orgs). Processos de ensinagem na
universidade. Joinville: UNIVILLE; 2003.
FERREIRA, M. C. I; BUENO, A. L. G. O Portfolio como avaliação na educação
superior. In: SANTOS, C. R. (Org). Avaliação educacional: um olhar reflexivo sobre
sua prática. São Paulo: Avercamp, 2005.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
GARDNER, H. Inteligências Múltiplas. A teoria na prática. Porto Alegre, Artes
Médicas, 1995.
HERNÁNDEZ, F. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto
Alegre: Artmed, 2000.
PERNIGOTTI, J. M.; SAENGER, L.; GOULART, L. B.; AVILA, V. M. Z. O portfólio
pode muito mais que uma prova. Pátio, Porto Alegre, v. 3, n. 12, p. 54-6, 2000.
PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade teoria e
prática? São Paulo: Cortez, 2001.
SÁ-CHAVES, I. (2000). Portfólios Reflexivos: estratégia de formação e de supervisão.
Aveiro: Universidade.
VIEIRA, V. M. O. Representações sociais e avaliação educacional: o que revela o
portfólio. 261 f. Tese (Doutorado em Psicologia da Educação) - Pontifícia Universidade
Católica, São Paulo, 2006.
http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/sumula-do-parecer-cne/cp-n-5/2020-254924735

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