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Cadeira de Sociolinguística/Curso: LPC. 4º Ano. Prof.

: Cassule

Variação linguística externa

A maior parte das teorias linguísticas que se desenvolveram no sécculo XX


fazem abstracções dos fenómenos de variação linguística, por motivos teóricos e
metodológicos, estudando as regularidades da língua enquato sistema. Mas, na
realidade, a língua vive através da diversidade.

A linguística estruturalista europeia utilizando o prefixo dia, que significa «ao


longo de, através de» estabeleceu uma série de compartimentos com o objectivo de
eliminar os campos de estudo de variação.

Na óptica de Izete Coelho (2012), existem duas dimenões da variação


linguística: a interna e externa. No entanto, em primeiro plano, reflectir-se-á a respeito
da dimensão externa da língua, visando à compreensão dos diferentes níveis de variação
da língua. Razão pela qual, os factores extralinguísticos foram o alvo do estudo pioneiro
de Labov.

Assim, as variações fora da língua consideram-se as seguintes: diatópica,


diastráctica, diafásica e diamésica.

1. Variação diatópica: a variação diatópica, do grego «dia + topos = através de


lugar» ou geolinguística ou ainda dialectal é aquela relacionda com factores geográficos
diferentes ou o uso da língua em diferentes regiões.

A fala utilizada em diferentes regiões possui características próprias. A


dialectologia é a disciplina que as procura descobrir e descrever, tentando identificar
áreas mais ou menos coesas, assim como determinar factores que levam a sua formação.
Ademais, esta variação é a responsável por podermos identificar, às vezes com bastante
precisão, a origem de uma pessoa através do modo como ela fala.

2. Variação diastráctica: Da mesma forma que a fala pode carregar marcas de


diferentes regiões, também pode reflectir marcas de diferentes características sociais dos
falantes. A sociedade tem a sua hierarquia, os seus grupos. Cada um destes grupos
sociais possui código de comportamento que a diferencia dos demais e permitem, dentro
do grupo, a identificação mútua. Este tipo de variação linguística, relacionada com
factores sociais, chama-se «variação diastráctica» «do grego dia + stratos = através de
camada, nível» ou variação social.
Cadeira de Sociolinguística/Curso: LPC. 4º Ano. Prof.: Cassule

Foi a sociolinguística que permitiu observar que «a heterogeneidade faz parte da


economia linguística da comunidade e é necessária para satisfazer as exigências
linguísticas da vida quotidiana…» (Labov, 1982). Uma variedade linguística partilhada
por um grupo social denomina-se sociolecto.

Se a maior parte dessas variedades é, tal como toda a língua ou dialecto materno,
incoscietemente adquirido, transmitindo no uso quotidiano, existem, no entanto,
sociolectos que resultam do desejo de diferenciação de um grupo em relação a sua
comunidade linguística. É o caso das gírias que se podem definir como códigos
forjados por determinados grupos com objectivos de se tornarem completamente
ininteligíveis para os não iniciados.

Geralmente, basta introduzir modificações no léxico ou na configuração ou


ordem das sílabas, para que os enunciados se tornem imcompreensíveis.

Uma gíria distingue-se de uma linguagem técnica ou tecnolecto pelo facto de


afectar todo discurso, enquanto a linguagem técnica, sendo desprovida de intenções de
hermetismo, limita-se a introduzir os termos de maior rigor que lhe são estritamente
necessários.

Os principais factores sociais que condicionam a variação linguística são o grau


de escolaridade, o nível socioeconómico, o sexo/género, a faixa etária e mesmo a
profissão dos falantes.

3. Variação diafásica: Um mesmo falante pode usar diferentes formas


linguísticas, dependendo da situação em que se encontra, o falante é capaz de manifestar
um dado estilo. Mediante a situação mais ou menos formal, em que se encontra a
situação discursiva (oralidade, escrita…), cada falante pode usar diversos estilos ou
registos linguísticos. A variação relacionada com factores de intimidade, não
intimidade, pragmáticos, discursivos e outros que implicam por parte do falante de um
código socialmente estabelecido para cada situação, no entanto, isto se chama variação
diafásica «do grego dia + phasis = através da fala, discurso».

Cada ser humano, por outro lado, no conjunto de todos os seus actos de fala, tem
hábitos discursivos próprios, usa, preferencialmente, determinadas palavras que, de
alguma forma, o individualizam. Essa maneira própria do uso da língua de cada falante
chama-se o seu idiolecto.
Cadeira de Sociolinguística/Curso: LPC. 4º Ano. Prof.: Cassule

No entanto, estão, em jogo, os diferentes «papéis sociais» que as pessoas


desempenham nas interações que se estabelecem em diferentes domínios sociais. Esses
papéis sociais são um conjunto de obrigações e de direitos definidos por normas
socioculturais, conforme Bortoni-Ricardo (2004).

4. Variação diamésica: A palavra «diamésica» relaciona-se, etimologimente, à


ideia de vários meios, no contexto da sociolinguística, os meios ou códigos a que nos
referimos são a fala e a escrita.

O que, basicamente, difere a fala da escrita?

Para Izete Coelho (2012), podemos dizer, então, que, salvo em situações
excepcionais, a fala é como o proferimento de uma palestra, por exemplo, a produção de
um texto falado é uma actividade espontânea, improvisada e susceptível a variação nos
mais diversos níveis.

Já a escrita constitui-se como uma actividade artificial (inespontânea), ensaiada,


no sentido de que reserva tempo e espaço para planificação, revisões e reformulações, e
um pouco menos variável, pois, em geral, está mais vinculada à produção de géneros
sobre os quais há mais regras e maior monitoramento.

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