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RESUMO
1
Graduando e residente no curso de História pela UFSJ.
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Graduando e residente no curso de História pela UFSJ.
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Graduando e residente no curso de História pela UFSJ.
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Universidade Federal de São João del-Rei.
5
Utilizamos bell hooks neste artigo sempre em minúsculo, pois para a autora, o destaque deveria ser no conteúdo e não na
pessoa que o proferia.
1
pedagógicas e agirem para aperfeiçoá-las, em um espaço onde podem manifestar
seus temores, ideias e reflexões em uma relação de troca com os professores
preceptores e coordenadores institucionais. Conclui-se que a RP possui imenso
potencial de transformação da ação de docentes em formação.
INTRODUÇÃO
2
pode ser uma experiência de educação transgressora, ou seja, que rompe com os
princípios de educação bancária e hegemônica. Uma educação bancária, que
segundo Freire em sua obra Pedagogia do oprimido analisa seu funcionamento
como uma linha de produção, na qual os alunos são meros receptores de
informações que devem ser armazenadas em suas mentes, sem espaço para a
reflexão necessária, a construção do conhecimento e a formação integral dos
sujeitos. Em nossa experiência, contudo, buscamos um diálogo em conjunto com os
alunos e a comunidade escolar, por meio de projetos que estimulem o pensamento
crítico e uma relação direta entre ensino-aprendizagem.
1. APRESENTAÇÃO DA ESCOLA
6
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Brasileiro de 2022. Rio
de Janeiro: IBGE, 2023.
7
Idem.
8
Segundo a última amostra da religião da população residente disponível no censo do IBGE de 2010,
verificamos a seguinte distribuição: católica apostólica romana: 5.868 e Evangélica: 1.347, totalizando
juntas um total de 88,98% da população. (IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA. Censo Brasileiro de 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.)
3
diversificada sobre expressões afro culturais em suas famílias (aqui pensando
especificamente sobre o tema religioso), também não encontram possibilidades
desse tipo de troca de conhecimentos por meio das relações sociais em sua
comunidade.
1.1 INFRAESTRUTURA
4
tenha sido revogado no dia 19/07/2023, os estados da União possuem autonomia
para o encerramento ou continuidade das atividades. O governo de Minas Gerais até
o momento não encerrou a execução do PECIM.
A gestão cívico-militar condiciona os alunos em uma rotina de obediência e
disciplina militar, na qual os estudantes devem responder a comandos, como a
continência, vestir fardas e seguir normas de cortes de cabelo. Tal prática faz parte
da formação de soldados e sua adoção na formação de educandos civis pouco
contribui para uma educação libertadora, já que os alunos têm parte de sua
individualidade anulada por uma padronização artificial dentro da própria instituição
escolar, além de serem submetidos a uma rotina de robotização do comportamento
que transforma o ensino, que deveria ser empolgante, em uma rotina tediosa de
obediência e postura artificiais. Para hooks9 é necessário:
9
hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Tradução de Marcelo
Brandão Cipolla. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013
5
2. OS PROJETOS
10
Lei 10639, de 9 de janeiro de 2003. “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e
médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura AfroBrasileira. § 1º
O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e
dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da
sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política
pertinente à História do Brasil”
11
Lei 11.645, de 10 de março de 2008: Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada
pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
6
surgiu a proposta de trabalhar com os temas “Identidade racial” e “Racismo”
naquelas salas. Pelo cronograma, o conteúdo de História da África seria abordado
pela professora Maria Cristina no segundo bimestre, sendo assim, a pedido de
nossa preceptora e tendo em mente as demandas observadas em sala de aula,
desenvolvemos um projeto com o tema “Identidade e diversidade étnico-racial,
influência cultural dos povos africanos no Brasil”.
Nosso projeto foi uma estratégia para abordar a temática de África prevista no
currículo. Desenvolvemos uma série de aulas em que tratamos de questões relativas
à identidade racial, preconceito racial ou racismo, colorismo, influência cultural
africana no Brasil através das religiões de matriz africana ou expressões culturais
como o Congado. O objetivo geral era expandir o conhecimento dos alunos dos
sétimos anos sobre temáticas que envolvem a cultura africana e suas heranças
culturais no Brasil, a fim de desconstruir preceitos limitados pré-estabelecidos e
construir um entendimento mais complexo e diversificado sobre os temas
abordados. Nosso intuito era facilitar o acesso a conhecimentos a fim de
desmistificar o tratamento dos problemas raciais, partindo da premissa que o
preconceito se forma, entre outros fatores, a partir do desconhecimento da realidade
de determinados indivíduos ou crenças.
12
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
13
Ibid., p. 17
7
obter uma compreensão mais exata de quais seriam os pontos que precisavam ser
atendidos, além de adquirir uma percepção de sua identificação racial e o
conhecimento que eles traziam, com os quais nos propomos a dialogar. Por fim,
projetamos executar uma abordagem mais adequada de cada assunto de acordo
com a demanda apresentada por cada turma. O projeto foi realizado em etapas,
pelas quais desenvolvemos os temas com aulas expositivas, diálogo com os alunos
sobre a temática e confecção de cartazes, realizados no encerramento do projeto.
8
Devido ao tempo curto de nossa aula, não seria possível abarcar aspectos
aprofundados dessas religiões, portanto, planejamos e realizamos uma visita ao
Campus Dom Bosco da Universidade Federal de São João del-Rei, onde trabalha o
Professor Dr. Cláudio Márcio do Carmo do Departamento de Letras da UFSJ.
Convidamos Cláudio por sua relação profunda com o candomblé, sua vivência
nesse meio religioso e pela larga experiência com o ensino básico, fator de
adequação ao nível de cognição dos alunos. Ele poderia, portanto, apresentar
elementos e relatos sobre essa experiência religiosa desconhecida pelos alunos em
uma linguagem acessível.
14
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17º.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
9
de proporcionar um ambiente de exercício da liberdade criativa dos alunos para
associar o conteúdo em sala de aula à confecção dos cartazes. Participamos
instigando os alunos a refletirem sobre os conceitos propostos em sala de aula,
como: alteridade, colorismo, racismo estrutural, identidade, entre outros. Além disso,
auxiliamos os alunos na prática artística atuando como monitores que ajudaram a
trazer à tona suas ideias, desenvolvê-las e executá-las.
2.1.1. REFLEXÕES
10
porém, pelo modo expositivo das aulas, seria necessário um nível de abstração,
atenção, foco que esses jovens alunos podem ter enfrentado dificuldades em
absorver. Possivelmente, abordagens mais dinâmicas ou que tornassem o aluno
mais ativo poderiam proporcionar resultados diferentes.
Se esta descoberta não pode ser feita em nível puramente intelectual, mas
da ação, o que nos parece fundamental, é que esta não se cinja a mero
ativismo, mas esteja associada a sério empenho de reflexão, para que seja
práxis. 15
Dessa forma, a RP, como espaço formativo da docência, nos permite estar
em constante investigação e reinvenção de nossa própria prática pedagógica em
15
FREIRE, 1987, p.33
11
conjunto com a preceptora. Por meio dessa troca, é possível expressar nossos
temores, colhendo saberes de suas longas experiências docentes, ao mesmo tempo
em que é possível propor novas estratégias e perspectivas que poderão ser
aplicadas em sala de aula. É interessante pensar nesta experiência em diálogo com
hooks quando ela diz:
16
hooks, 2013, p. 52
17
Entende-se aqui como multiculturalismo uma práxis educativa que permita o conhecimento,
valorização e respeito das diversas culturas presentes dentro e fora da sala de aula. Portanto um
ensino multicultural é, necessariamente, aliado às lutas contra a desigualdade social e a opressão e
discriminação de grupos minoritários na sociedade.
18
Ibid.
12
necessidade desse ensino está expressa na já citada Lei nº 10.639/03 que institui a
obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. É necessário
também abordar os temas sobre a população africana e afro-brasileira
desprendendo-os dos colonizadores, ou seja, tratá-los com a sua complexidade
próprias. Entende-se que, dessa forma, os alunos afrodescendentes possam
reconhecer-se como agentes ativos da História e da formação cultural brasileira.
13
permitem trazer para a sala de aula acontecimentos históricos de protagonismo
negro e promover conversas sobre liberdade, racismo, resistência, cultura negra e
afro-brasileira, questões importantes para um ensino antirracista e multicultural.
19
SCHMIDT, Maria. A formação do professor de História e o cotidiano da sala de aula. in: Bittencourt,
Circe (org.). O saber histórico em sala de aula. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2001.p. 60.
20
hooks, 2013; FREIRE, 1996.
21
A mulher rei. Direção: Gina Prince-Bythewood. TrisStar Pictures, 2022. 2:22 h.
14
contemporâneas de resistência negra e a própria luta para a produção de filmes com
maior representatividade negra.
15
de uma educação multicultural, que crie caminhos cultivando o respeito e a riqueza
das diferenças na sociedade.
23
FREIRE, 1996, p.21
16
Estudantes da graduação e licenciatura em história desenvolvem-se, absorvem essa
linguagem e quando chegam a atuar em sala de aula deparam-se com uma
realidade na qual não se pode esperar que os alunos do ensino básico
simplesmente se adaptem à complexidade dos dizeres, debatendo e entendendo a
mensagem. Dependendo do nível de desenvolvimento escolar ou contexto de
origem, os alunos não conhecerão ainda termos científicos mais complexos. O
primeiro movimento deve partir de quem se propõe facilitar o processo de formação
do saber, o professor.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
24
hooks, 2013, p. 17
17
Dessa forma, a experiência em sala de aula no Ensino Fundamental se torna
reveladora, na qual os signos e conceitos apreendidos durante a graduação se
fazem ineficientes se aplicados no ensino sem as mediações necessárias para o
Ensino Básico], que só podem ser efetivadas com a prática. O educador deve
relacionar estes conceitos com os contextos vivenciados na comunidade escolar.
Assim, somos confrontados com a necessidade de adequação ao linguajar escolar e
uma transposição didática que articule sua formação acadêmica com o mundo
cotidiano de seus alunos. Segundo Schimidt:
Além disso, acredita-se que o ensino de História em sala de aula seja uma
poderosa ferramenta para a educação como prática da liberdade, já que a própria
especificidade do conhecimento histórico exige do aluno uma reflexão crítica do
saber construído para abstrair o conteúdo e relacioná-lo seja com outros
acontecimentos históricos ou com o próprio presente. Portanto, “ao professor cabe
ensinar o aluno a levantar problemas e a reintegrá-los num conjunto mais vasto de
25
SCHIMIDT, 2001, p.59
26
hooks, 2013
18
outros problemas, procurando transformar, em cada aula de História, temas em
problemáticas” 27
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural / Silvio Luiz de Almeida. -- São Paulo:
Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17º.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
27
SCHIMIDT, 2001, p.57
19
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
20