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Eu vou apresentar esquema do crescimento de uma economia

para ajudar a orientar o estudo da


evolução do mercado de trabalho processo de acumulação de capital.
Acumulação de capital amplia a capacidade de
produção e o uso da capacidade gera emprego e renda.
A renda gerada pelo uso da capacidade de produção é
apropriada por proprietários e trabalhadores.
A apropriação de renda pelos trabalhadores depende do nível e
composição dos empregos, bem como do nível e diferenças de salários.
No estudo da evolução do mercado de trabalho processo de acumulação
de capital interessa não somente o nível nominal de salários,
mas também o que os salários significam
termos de poder de compra dos produtos elaborados pela economia.
No processo de acumulação de capital é eliminada uma
parte da capacidade produtiva preexistente e surge uma nova capacidade de produção.
Não havendo alterações nem na técnica, nem na organização da produção e do trabalho,
a capacidade de produção nova substitui a que é
eliminada e amplia o potencial produtivo da economia,
sem modificar a relação entre os níveis de produção e de emprego.
Na ampliação da capacidade de produção sem a alteração
técnico produtiva, não muda a composição dos empregos.
O nível dos salários nominais depende da intensidade do aumento
dos níveis de produção e emprego e a evolução do poder de compra dos
salários é condicionado pelo que venha a ocorrer com as margens de lucro,
o que depende do poder de mercado das empresas, que por sua vez depende das
vantagens comparativas na competição pelo atendimento da demanda pelos produtos.
Assim, crescimento moderado da economia,
sem avanço técnico produtivo e sem modificações no poder de mercado das
empresas não modifica a composição dos empregos, nem as diferenças de salário.
O nível de emprego aumenta, mas não se modificam nem a parcela dos
trabalhadores na renda nacional, nem a distribuição dos salários,
mantendo-se o nível e as diferenças entre os salários.
A substituição e ampliação da capacidade produtiva de uma economia,
entretanto, costuma envolver avanço técnico e
aperfeiçoamentos na organização da produção e do trabalho.
Neste caso, aumenta a produção por empregado e se
modifica a composição dos empregos.
Neste caso, o mesmo nível de produção gera menos emprego, a mesma produção com
a maior capacidade produtiva implica menor grau de utilização da capacidade.
Por sua vez, o mesmo grau de utilização da capacidade implica produção maior
na proporção do aumento verificado na capacidade de produção e o emprego poderia
ser maior, mas aumentaria proporção menor do que a produção.
Dado o grau de utilização da capacidade produtiva, o nível de
produção aumentaria na intensidade do aumento da capacidade de produção,
a relação entre as intensidades dos aumentos de produção
e do nível de emprego dependeria da intensidade do avanço técnico produtivo.
Quanto maior o avanço técnico produtivo, maior a eliminação de capacidade
produtiva preexistente e a consequente eliminação de postos de trabalho e menor
a criação de novos postos de trabalho com o uso da capacidade de produção nova.
O avanço técnico produtivo eliminando capacidade preexistente e postos
de trabalho tornam os empregados exército de reserva para acumulação de capital.
Elevando a produtividade do sistema de produção,
proporciona meios para expandir a produção e a força de trabalho para ser
empregada pelo uso da maior capacidade produtiva.
Quanto maior o avanço técnico produtivo, então, maior a probabilidade
que o aumento de capacidade de produção não aumente o nível de emprego,
mesmo que se mantenha o grau de utilização da capacidade de produção.
Na hipótese de pequeno avanço técnico produtivo,
a produção por empregado tem pequeno aumento e a eliminação de
capacidade preexistente de postos de trabalho também são pequenas.
Neste caso, o uso da capacidade de produção ampliada aumenta
o nível de emprego e são pequenas as modificações na composição dos empregos.
A repetição da ampliação da capacidade de produção no tempo,
mantendo o grau de utilização da capacidade e a composição dos empregos,
vai sedimentando a força de trabalho determinados tipos de
ocupação e atividade econômica, possibilitando o estabelecimento
de posições de barganha para melhorar as condições de trabalho e remuneração.
Neste caso, os salários nominais tendem a aumentar e se o aumento
do nível de emprego for comparável ao do aumento da população economicamente ativa,
pode ocorrer aumento nominal generalizado dos salários,
sem grandes modificações nas diferenças entre os trabalhadores.
Não havendo modificações nas margens de lucro, o poder de compra
dos salários aumenta no ritmo do aumento da produção por empregado.
Neste caso, a acumulação de capital amplia o nível de emprego e aumenta o poder
de compra dos salários, mas não altera nem a parcela dos salários na renda,
nem as diferenças entre os salários.
Na hipótese de avanço técnico produtivo mais expressivo, é maior o aumento
da produção por empregado e a eliminação de capacidade produtiva preexistente,
mudando mais expressivamente a composição dos empregos e é menor a ampliação
do nível de emprego para dado grau de utilização da capacidade de produção.
A eliminação de postos de trabalho pode abalar alguns dos segmentos
estruturados do mercado de trabalho, prejudicando sua posição de barganha.
Além disso, a menor ampliação do nível de emprego pode dificultar o aumento do nível
nominal de salários, fora dos segmentos mais organizados dos trabalhadores.
E se o avanço técnico produtivo for
acompanhado de maior poder de mercado das empresas, é possível que não aumente o
poder de compra dos salários dos trabalhadores menos organizados,
apesar do expressivo aumento da produção por empregado, aumentando as diferenças de
salários favor dos segmentos melhor estruturados do mercado de trabalho.
Com intenso avanço técnico produtivo, a ampliação do nível de emprego
pode ficar aquém do crescimento da população economicamente ativa,
colocando o problema da redundância de força de trabalho.
A redundância de força trabalho tem diferentes formas de manifestação.
Dependendo das características da regulação da economia e do trabalho
assalariado, a população ativa sem emprego pode ficar desempregada,
ou pode realizar estratégias de sobrevivência que permita apropriar-se
de renda sem ser proprietário ou ter emprego assalariado.
A regulação da economia pode colocar exigências para o exercício de
atividade econômica que dificultam a realização de estratégia de sobrevivência.
São exigências tributárias, normas visando a saúde pública,
o zoneamento urbano, a mobilidade espacial das pessoas.
A responsabilidade do poder público perante a cidadania não
lhe permite admitir liberdade absoluta para a iniciativa privada
e isto pode dificultar a realização de estratégia de sobrevivência.
As exigências do poder público implicam
necessidade de dispor de recursos materiais ou não,
para iniciar e manter atividades que permitam apropriação de renda.
A ampliação da redundância de força de trabalho com o crescimento do
emprego menor do que o crescimento da população ativa coloca problemas para
o poder público manter as exigências para realizar atividade econômica.
O relaxamento na aplicação das normas facilita
a implementação de estratégias de sobrevivência, evitando maior desemprego.
A regulamentação do trabalho assalariado pelo poder público e pelas organizações de
trabalhadores e empregadores, protegendo os empregados diante da competição dos que
procuram emprego e normatizando as condições de trabalho e de remuneração,
afeta o perfil dos desempregados ao influir na rotatividade do emprego.
Normas públicas sobre trabalho e remuneração pressupõe a continuidade
dos vínculos de emprego e a redução na rotatividade faz com que tenda a aumentar
o desemprego de longa duração relação a curtos períodos de desemprego,
entre empregos de curta duração.
Os mecanismos de apoio ao desempregado supõe desemprego de curta duração.
A finalidade desses mecanismos é facilitar encontrar
emprego adequado e não manter desempregados por longo período de tempo.
O aumento da incidência do desemprego de longa duração,
coloca problemas para os mecanismos de apoio ao desempregado e aumenta a pressão
para relaxar as exigências para realizar atividade econômica,
facilitando a implementação de estratégia de sobrevivência.
A consolidação de estratégia de sobrevivência,
vai constituindo segmento de população que vive fora das normas
que regem a atividade econômica e o trabalho assalariado.
A heterogeneidade de situações neste segmento é muito grande.
Alguns logram ser proprietários, estes podem se formalizar e passar
a ser regidos pelas normas sobre a atividade econômica,
ou seguem sem respeitar essas normas no mundo da informalidade.
Esses são os que têm mais êxitos nas estratégias de sobrevivência.
Outros não logram ser proprietários e vivem sem proteção social ligado
ao emprego assalariado e não tem acesso pleno ao consumo de produtos
proporcionados pela economia.
Essa informalidade coloca uma dimensão adicional
na desigualdade socioeconômica, além da existente entre
proprietários e assalariados e dentro dos proprietários e dos assalariados.

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