Você está na página 1de 2

RESENHA

CABETE, Marta Alexandra Calado Santos da Silva. O processo de ensino-aprendizagem do


português enquanto língua de acolhimento. Dissertação (Mestrado em Língua e Cultura
Portuguesa). Universidade de Lisboa, Lisboa, 2010. Disponível em:
<https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/4090/1/ulfl081236_tm.pdf>

Nome: Roberta Silva Santos

No tópico 3.4 “O português enquanto língua de acolhimento” da dissertação de Cabete


(2010) a autora nos convida a entender sobre o contexto em que se insere o ensino-
aprendizagem de língua de acolhimento. Para dialogar com o tema, ela utiliza autores como
Maria Helena Ançã que considera que a palavra “acolhimento” deve, de fato, carregar o seu
sentido no que diz respeito a necessidade receber e integrar o imigrante na sociedade local.
No entanto, apesar das diversidades regionais no Brasil, o conservadorismo dos costumes
locais ainda é muito presente nas comunidades e qualquer coisa que não esteja ligado às
tradições se torna algo estranho. A presença de um estrangeiro pode gerar um conflito, já que
leva-se um tempo para que ele entenda e se adapte à nova realidade.
Em seguida, Cabete (2010) cita as autoras Villalba Martinez e Hernández (2005) ao
tratar das especificidades do processo de ensino-aprendizagem da língua de acolhimento. Em
tese, as autoras alertam da dificuldade de inserção dos imigrantes na sociedade para que haja
um processo de aprendizagem natural da língua. Devido aos estereótipos culturais arraigados
na sociedade, bem como ao distanciamento entre os que chegam e a comunidade local, já que
há um choque em relação as questões políticas, sociais, econômicas etc. O acolhimento
desejado não acontece de fato. Além disso, os fatores cognitivos, psíquicos e emocionais dos
imigrantes dificultam ainda mais o processo de aquisição da segunda língua.
Na dissertação, a autora cita Stern (1983) que apresenta os três grandes fatores
determinantes para o processo de aprendizagem e consequentemente para o resultado da
aprendizagem que são: o contexto social (fatores sociolinguísticos, culturais, etc) as condições
de aprendizagem (a maneira que ocorre a aprendizagem) e as características dos aprendentes
(idade, personalidade). Percebe-se que esses grupos vão interferir como cada imigrante irá se
desenvolver durante o processo de aprendizagem. A abordagem de ensino precisa considerar
esses fatores para atender as necessidades e expectativas dos aprendentes. Considerando as
características, por exemplo, que engloba o fator idade, para o aprendiz adulto é importante
que se dê mais ênfase ao prático do que ao acadêmico, pois eles querem aplicar o que
aprendem em situações reais. Acerca do contexto social, várias implicações vão estar
envolvidas, a motivação, a identidade, as percepções do sujeito diante a nova sociedade, a
cultura e seus valores, o conhecimento linguístico, dentre outros, são fatores que talvez o
imigrante não consegue identificar como importantes para que se aprenda a segunda língua.
Por isso, as condições de aprendizagem, ou seja, a exposição direta à lingua-alvo associada
com atividades de ensino formal tem mais probabilidades de ter um desempenho proativo
quando se é pensado nesses fatores.
Neste contexto, Cabete (2010) traz uma reflexão acerca do papel do ensinante da
língua de acolhimento, para a autora é “...sempre um desafio, na medida em que cada
aprendente/grupo traz para dentro da sala de aula um pouco da sua experiência, das suas
expectativas, da sua motivação, entre outros, o que impregna a aula de uma boa dose de
imprevisibilidade. ” CABETE (2010, p.74). De fato, é um papel árduo do ensinante que além
de uma formação técnica terá que atuar como um mediador que irá acolher e situar o aprendiz
num novo contexto. Compreende ainda, o papel do ensinante a lidar com a sociedade local a
fim de romper com estereótipos e pré-conceitos em relação aos estrangeiros. Além disso, a
autora apresenta uma preocupação em relação ao material a ser utilizado durante ao ensino
formal, realmente é uma questão que precisa ser levada em consideração, pois é fundamental
a escolha de matérias que faça uma conexão com aquilo que se vive no cotidiano, ou seja,
deve haver um elo entre a sala de aula e sociedade. O conhecimento do pós-método pode
contribuir muito para a atuação dos ensinantes de língua de acolhimento, pois trata-se de um
método que valoriza a autonomia do mediador. Acredito que seja a melhor forma de
triangular os três fatores determinantes para a aprendizagem.

Referências Bibliográficas

CABETE, Marta Alexandra Calado Santos da Silva. O processo de ensino-aprendizagem do


português enquanto língua de acolhimento. Dissertação (Mestrado em Língua e Cultura
Portuguesa). Universidade de Lisboa, Lisboa, 2010. Disponível em:
<https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/4090/1/ulfl081236_tm.pdf>

VILLALBA MARTÍNEZ, F. y HERNÁNDEZ, Mª. T. (2005a) “La Enseñanza del Español


para Inmigrantes y Refugiados” in Actas de la II Escuela de Verano. Metodologia y
Evaluación de Personnas Adultas, Comunidad de Madrid, Madrid
STERN, H. H. (1983) Fundamental Concepts of Language Teaching, Oxford

Você também pode gostar