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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Campus UFRJ - Macaé

VICTORIA BONATI

VACINA DO SARAMPO NO BRASIL: UMA CRONOLOGIA EM


RETROCESSO

MACAÉ
2021
VICTORIA BONATI

VACINA DO SARAMPO NO BRASIL: UMA CRONOLOGIA EM


RETROCESSO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Farmácia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro – Campus Macaé Professor Aloísio
Teixeira, como um dos requisitos para a obtenção
do título de farmacêutica.

Orientadora: Dra. Suzana Passos Chaves.

MACAÉ
2021
CIP - Catalogação na Publicação

Bonati, Victoria
B699v VACINA DO SARAMPO NO BRASIL: UMA CRONOLOGIA EM
RETROCESSO / Victoria Bonati. -- Rio de Janeiro,
2021.
65 f.

Orientadora: Suzana Passos Chaves.


Trabalho de conclusão de curso (graduação) -
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Campus
Macaé Professor Aloísio Teixeira, Bacharel em
Farmácia, 2021.

1. Sarampo. 2. Vacinac?a?o. 3. Cobertura Vacinal.


I. Passos Chaves, Suzana , orient. II. Título.

Elaborado pelo Sistema de Geração Automática da UFRJ com os dados fornecidos


pelo(a) autor(a), sob a responsabilidade de Miguel Romeu Amorim Neto - CRB-7/6283.
VICTORIA BONATI

VACINA DO SARAMPO NO BRASIL: UMA CRONOLOGIA EM


RETROCESSO

Trabalho de conclusão de curso (TCC) defendido e aprovado como requisito para


obtenção do título de farmacêutica.

Macaé, 16 de novembro de 2021.

Comissão avaliadora:

Prof. Dra. Suzana Passos Chaves (Presidente da Banca)


UFRJ/Campus Macaé
http://lattes.cnpq.br/1151190936897970

Prof. Dra. Ana Carolina da Silva Carvalho


UFRJ/Campus Macaé
http://lattes.cnpq.br/4637564126071086

Prof. Dr. Francisco Martins Teixeira


UFRJ/Campus Macaé
http://lattes.cnpq.br/7648303522085382
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por guiar e orientar meus passos nessa


jornada durante toda a minha vida, e por todo amparo desde o meu ingresso até
este momento de conclusão do curso de farmácia, que foi muito importante na
minha formação não só profissional, como também pessoal e por toda força e
determinação que colocou em meu coração para eu conseguir chegar até aqui.
Agradeço a minha mãe Leny e meu pai Raimundo, que são também meus
melhores amigos, por sempre me orientarem com toda paciência, esforço e
dedicação para a minha formação, por todo apoio e amor incondicional, por todo
incentivo que me deram e por me ajudarem a chegar até aqui e não ter desistido
diante das dificuldades, sem vocês eu não me tornaria quem sou e nada disso seria
possível.
Agradeço a todos os meus familiares (incluindo amigas que me conhecem
desde quando eu era criança e são como minha família, especialmente Dinah e a
Valéria) que me incentivaram durante toda minha formação, me ensinaram muito e
me deram suporte nos momentos de dificuldade durante a faculdade.
As minhas amigas que conheci durante o curso, agradeço por todos os
momentos compartilhados e motivação durante essa longa jornada de aprendizado
e formação, que deixaram meus dias mais leves e felizes.
Agradeço à Dra. Suzana de Passos Chaves por toda orientação e suporte
para a conclusão deste trabalho.
Agradeço aos professores do curso por todo conhecimento transmitido e por
toda dedicação que tiveram nesse ensino de excelência.
Enfim, agradeço a todos que participaram e me ajudaram direta ou
indiretamente até a conclusão desta etapa.
“Bem-aventurado o homem que encontra sabedoria e
o homem que adquire conhecimento. Porque melhor
é a sua mercadoria do que a mercadoria de prata, e a
sua renda do que o ouro mais fino”.
(Provérbios, 3:13-14)
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Exemplo de propagação de uma infecção em uma pequena população, de


uma doença infecciosa com R=3 14
Figura 2 - Comparação dos valores estimados do número de reprodução, R0 para
diferentes infecções virais 15
Figura 3 - Tempo estimado de divergência entre o vírus do sarampo (MeV), o da
peste bovina (RPV), o da peste dos pequenos ruminantes (PPRV) e correlação com
o tamanho populacional 24
Figura 4 - Representação da estrutura do vírus do sarampo (MeV) 28
Figura 5 - Estrutura do vírus do sarampo 28
Figura 6 - Imagem de coloração negativa de nucleocapsídeos recombinantes
compostos de proteína MeV N de comprimento total, na forma circular à esquerda e
reta à direita 29
Figura 7 - Representação das duas rotas de entrada do vírus do sarampo (MV) 30
Figura 8 - Representação da Infecção por MeV e SLAM 31
Figura 9 - Patogênese do sarampo 33
Figura 10 - Ilustração da evolução clínica e laboratorial do sarampo 36
Figura 11 - Genótipos de sarampo identificados no Brasil entre o período de 2010 a
2020 38
Figura 12 - Diagrama representando resumidamente os fatores de risco
considerados agravantes para o sarampo 39
Figura 13 - Linha do tempo das principais ações implementadas contra o sarampo,
Brasil, 1967 a 2018 45
Figura 14 - Cobertura vacinal e número de óbitos no Brasil, 1984 a 1995 47
Figura 15 - Distribuição da incidência de casos de sarampo por 100.000 habitantes e
cobertura vacinal em percentual, por ano no Brasil, entre 1968 a 2018 50
Figura 16 - Cronologia com os principais eventos do sarampo 56
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Ilustração da cobertura vacinal do sarampo nos últimos cinco anos 16


Tabela 2 - Internações, óbitos e taxa de mortalidade entre Jan/1984 a Ago/1997 46
Tabela 3 - Internações, óbitos e valor de serviços hospitalares do sarampo de
2018 a 2020 53
Tabela 4 - Internações, óbitos e valor de serviços hospitalares do sarampo em
2021 53
LISTA DE ABREVIAÇÕES

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida


Bio-Manguinhos Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos
DC Células dendríticas
DC-SIGN Dendritic cell-specific intercellular adhesion molecule-3-grabbing
non-integrin/ Ligante da molécula de adesão intercelular não
integrina específica de célula dendrítica
ELISA Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay/ Ensaio de
Imunoabsorção Enzimática
F Glicoproteínas de fusão
Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz
H Hemaglutinina
IgG Imunoglobulina G
IgM Imunoglobulina M
JICA Agência de Cooperação Internacional do Japão
L Proteína grande – polimerase
Lacen Laboratório Central de Saúde Pública
M Proteína matriz
MA Macrófagos Alveolares
MeV Measles Virus/ Vírus do Sarampo
MeV Morbillivírus
MV Measles Virus/ Vírus do Sarampo
N Nucleocapsídeo
OMS Organização Mundial de Saúde
OPAS Organização Pan-Americana de Saúde
P Fosfoproteína
PESS Panencefalite Esclerosante Subaguda
PNI Programa Nacional de Imunizações
PPRV Peste des petits ruminants virus/ Peste bovina ovina
PVRL4 (nectina-4) Recombinant protein of human poliovirus receptor-related 4/
Proteína recombinante relacionada ao receptor de poliovírus
humano 4
R0 Número de reprodução básico
RNA Ácido Ribonucleico
RNP Ribonucleoproteína
RPV Rinderpest morbillivírus
Rt Número de reprodução efetivo
SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação
SLAMF1 (CD150) Molécula 1 de ativação linfocítica de sinalização
SUS Sistema Único de Saúde
UFs Unidades da Federação
RESUMO

Introdução: O sarampo é uma das doenças mais contagiosas do mundo e afeta


principalmente crianças através de transmissão por secreções respiratórias ou por
gotículas suspensas no ar, tendo como sintoma mais característico o surgimento de
erupções cutâneas. Ao ser infectado, o paciente pode ter graves complicações no
trato respiratório e no sistema nervoso central. A forma mais eficaz de prevenção é a
vacinação, que surgiu no Brasil em 1960, mas só foi implementada efetivamente em
1973, com a criação do Programa Nacional de Imunizações (PNI). A partir de 1992,
com a criação do Plano Nacional de Eliminação e Erradicação do Sarampo, a
vacinação passou a ser progressiva em todo o país, gerando uma queda de 81% no
número de casos notificados: de 42.934 casos em 1991 para 7.934 casos em 1992.
Em 2016, o país recebeu o certificado de livre de sarampo da Organização
Pan-Americana de Saúde, porém, devido a cobertura vacinal ter diminuído por
vários fatores, como exemplo, o movimento antivacina que ganhou força nas redes
sociais com as "fake news” e o próprio sucesso da vacina, o país perdeu esse
certificado e o sarampo tornou-se novamente uma preocupação de saúde pública.
Objetivo: Portanto, este trabalho tem como objetivo apresentar através de uma
cronologia o grande avanço em saúde pública com o controle do sarampo que foi
alcançado através da vacinação, e seu subsequente retrocesso, com a queda da
cobertura vacinal. Com isso, almejamos promover conscientização através de
narrativa baseada em dados históricos de saúde e epidemiológicos. Metodologia:
Trata-se de um estudo de revisão narrativa-descritiva cronológica, baseado em
dados epidemiológicos acerca da doença sarampo, utilizando as bases de dados
eletrônicas e sites de órgãos oficiais. Resultados e discussão: O número mais alto
de incidência de sarampo no Brasil foi em 1986, atingindo um registro de 129.942
casos. Com a primeira campanha nacional de vacinação em 1992, alcançou-se 96%
de cobertura vacinal, com consequente redução de 81% na taxa de incidência, entre
1991 a 1992. Porém, com quedas posteriores de vacinação houve aumento de
incidência da doença e surtos como o ocorrido em 2018, que registrou mais de 10
mil casos no país, período em que a cobertura vacinal estava abaixo de 95%. Com
isso, várias medidas nacionais foram tomadas para a rápida identificação de casos
suspeitos e redução da transmissão, sendo a divulgação de campanhas de
vacinação a mais fundamental delas. Conclusão: A vacinação em larga escala
permitiu uma alta redução na incidência e mortalidade do sarampo, mas não sua
erradicação. A queda das coberturas vacinais, principalmente relacionadas ao
movimento antivacina, propiciou novos surtos. Sendo assim, é importante o
conhecimento da história e dos dados epidemiológicos para propor medidas de
combate ao movimento antivacina, considerado um impasse na prevenção e
eliminação da doença.

Palavras-chave: Sarampo; Vacinação; Cobertura Vacinal.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

2 JUSTIFICATIVA 19

3 OBJETIVOS 20

4 METODOLOGIA 21

5 RESULTADOS 23
5.1 HISTÓRIA DO SARAMPO 23
5.1.1 Antiguidade 23
5.1.2 Modernidade 25

5.2 O VÍRUS E SUAS FORMAS DE TRANSMISSÃO 27

5.3 SINAIS E SINTOMAS 33

5.4 DIAGNÓSTICO 35

5.5 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA BASEADA EM DADOS EPIDEMIOLÓGICOS 37

5.6 FATORES DE RISCO E COMPLICAÇÕES CAUSADOS PELO SARAMPO 39

5.7 DESENVOLVIMENTO DA VACINA E ESQUEMA VACINAL 42

5.8 CONTROLE DO SARAMPO ATRAVÉS DA VACINA 45

5.9 MOVIMENTO ANTIVACINA E O RETORNO DE CASOS DE SARAMPO 49

5.10 CONSEQUÊNCIAS DO MOVIMENTO ANTIVACINA PARA ALÉM DO


AUMENTO DA INCIDÊNCIA DE CASOS DE SARAMPO 52

5.11 MEDIDAS TOMADAS PARA PREVENIR E CONTER OS CASOS DO SURTO


DE SARAMPO 55

6 CRONOLOGIA DO SARAMPO 56

7 CONCLUSÃO 57

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 58
12

1 INTRODUÇÃO

A palavra epidemia tem origem grega, usada desde Hipócrates, com


significado de visitante indesejável. A situação epidemiológica envolve o
conhecimento dos fatores de frequência inusitada, tempo e lugar. Sendo uma
epidemia definida pelo comportamento de uma doença em elevado número de
casos, que se apresenta em locais sob determinado período de tempo, com
frequência além da esperada, diferente do surto, denominado como um tipo de
epidemia restrita a uma determinada área geográfica (BRASIL, 2019). Entretanto,
para o sarampo basta um único caso confirmado por critério laboratorial para ser
considerado um surto, que se encerra com o desaparecimento de novos casos após
90 dias do exantema do último caso confirmado (BRASIL, 2019).
Estima-se que o sarampo tenha causado mais de 2 milhões de mortes por
ano por epidemias que aconteciam antes da vacinação em massa das populações
no mundo. No Brasil, o sarampo era o maior responsável por mortes em crianças até
4 anos de idade durante a década de 1960 e 1970, com epidemias que ocorriam a
cada 2 ou 3 anos. Tal fato só foi revertido mediante ao aumento da cobertura vacinal
e com o início das campanhas nacionais de vacinação e controle da doença. A
última epidemia de sarampo registrada no Brasil ocorreu em 1997 com 53.664
casos, a maioria dos casos concentrada na região sudeste. Após isso, ocorreram
surtos, sendo os mais recentes detectados em 2018 e 2019 relacionados à baixa
cobertura vacinal (REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÕES PARA A SAÚDE,
2008; DE SOUZA e PEREIRA, 2020).
Para o planejamento de políticas de intervenção e avaliação das intervenções
existentes no controle de epidemias, a análise matemática é uma importante aliada,
pois permite medir o índice de propagação de uma doença, fundamentada em
hipóteses que quantificam aspectos da interação entre microrganismo e hospedeiro,
incluindo os mecanismos de transmissão, infecção e imunidade, descrevendo os
aspectos da sua dinâmica ao longo do tempo (KRETZSCHMAR et al., 2009).
Kermack e McKendrick (INABA, 2001), foram pioneiros em propor um modelo geral
de epidemia com inserção da quantidade limite que separava regimes dinâmicos das
13

doenças infecciosas, de forma que somente acima de determinado valor do número


de reprodução básico, a doença poderia se espalhar em uma população suscetível
(KRETZSCHMAR et al., 2009). Esse número de reprodução básico (R0
(pronunciado R zero)), é que descreve, portanto, o comportamento de contágio da
doença infecciosa, quanto a facilidade que ela tem de se espalhar, mas é o número
de reprodução efetiva (Rt) o mais importante em uma epidemia, pois acompanha a
doença e seu agravo em tempo real, considerando no cálculo os indivíduos
imunizados, levando em consideração os suscetíveis e os não suscetíveis (INABA et
al., 2001; FERNÁNDEZ-NARANJO, 2021). A interpretação dos valores de R0 se dá
da seguinte forma: se R0=1, tende ao equilíbrio endêmico, situação em que cada
indivíduo infectado causa uma nova infecção, de forma que a doença permaneça em
modo constante na população, se R0 < 1 o número de infectados tende a zero e se
R0 > 1 o número de infectados tende a aumentar progressivamente levando a um
surto, epidemia ou pandemia, pois cada infectado é capaz de infectar mais de um
indivíduo, como pode ser observado na Fig.1 (HETHCOTE, 2000). O R0 não é
mensurável apenas por dados, pois também é relativo à idade, questões ambientais,
econômicas, sociais e genéticas (HETHCOTE, 2000).
Considerando σ como o número de contatos das pessoas durante o período
infeccioso, para evitar que a doença se espalhe na população o número de pessoas
1
suscetíveis deve ser menor do que σ
. Assim, para saber a imunidade de rebanho

necessária em uma população, o cálculo da fração da população imune (r)

considerando R0= σ, deve ser r>1 − ( ). Se o sarampo apresentar um R0 de 16,


1
𝑅0

r>1 − ( )=
1
16
0,94, o número da cobertura vacinal mínima para alcançar a

imunidade de rebanho em uma população seria de 94% (HETHCOTE, 2000).


Entretanto o R0 varia de acordo com o modelo matemático utilizado, sendo o do
sarampo entre 12 a 18, pode-se dizer que quanto maior o valor de R0 maior será o
valor necessário para alcançar a imunidade de rebanho (HETHCOTE, 2000;
ESTOFOLETE et al., 2020). A imunidade de rebanho é importante pois assegura a
proteção daqueles que não podem ser vacinados por razões intrínsecas ao seu
sistema imunológico e ao tipo de antígeno vacinal como: recém-nascidos, idosos,
pessoas com imunodeficiência ou grávidas (MELLO; GERVITZ, 2020).
14

Figura 1 - Exemplo de propagação de uma infecção em uma pequena população, de


uma doença infecciosa com R=3

Figura 1. Mostra como funciona o curso de transmissão de uma infecção dentro de uma população.
Inicialmente, o número de novas infecções aumenta de forma progressiva de acordo com o número
de reprodução (R) da doença, até que em um dado momento, o número de indivíduos disponíveis e
suscetíveis se esgota até levar à extinção da epidemia. Adaptado de KRETZSCHMAR et al. (2009)

Para o sarampo, o valor estimado da taxa básica de propagação (R0) é de 12


a 18, isso significa que uma pessoa infectada pode transmitir a doença para outras
12 a 18 pessoas suscetíveis, considerado um número alto quando comparado a
epidemia de Influenza de 2009 (H1N1) por exemplo, que teve um R0 entre 1,31 e
1,78, em que uma pessoa poderia infectar até 2 outras, que poderiam infectar, por
sua vez, outras 4 e assim por diante, em uma escala exponencial (CODEÇO et al.,
2012; ESTOFOLETE et al., 2020). Essa comparação está representada na Fig. 2,
que mostra em azul os valores mínimos e em vermelho os valores máximos para o
R0 de alguns tipos de infecção. Entretanto, o R0 indica somente a grandeza de
contágio e não de mortalidade e letalidade, isso significa que pode ter taxa maior de
contaminação e taxa menor em número de mortes (HETHCOTE, 2000;
ESTOFOLETE et al., 2020).
15

Figura 2 - Comparação dos valores estimados do número de reprodução, R0 para


diferentes infecções virais

Fonte: Autoria própria com base nos dados de FARRINGTON et al. (2001); CODEÇO et al. (2012);
ESTOFOLETE et al. (2020); LANA et al. (2020).

O sarampo, no entanto, além de ser altamente contagioso, com um R0 alto,


também tem alta letalidade, podendo alcançar nos países em desenvolvimento taxas
de 5% a 10% da população, mas no Brasil, devido às campanhas de vacinação e
controle da doença, a letalidade não chega a 0,5%, atingindo 0,08% em 2020, se
levar em consideração os dados epidemiológicos de 2020, da relação do número
total de mortos (que teve um total de 7 pessoas) pelo total de doentes acometidos
(8.419) (FIOCRUZ, 2011; BRASIL, 2020b).
A profilaxia do sarampo é feita através da vacinação, composta por vírus
vivos atenuados (BRASIL, 2014). Ela existe há mais de 50 anos, sendo
primeiramente concebida em 1960, após John Enders e Thomas Peebles
conseguirem isolar o vírus extraído de um jovem chamado David Edmonston, que
deu o nome à cepa atenuada. Por fim, a vacina foi licenciada em 1963 (ESCOFFIER
e GERLIER, 1999; DRUTZ, 2001). Antes da sua disponibilidade o sarampo infectava
mais de 90% das crianças até 15 anos de idade (AZAP and PEHLİVANOGLU,
2014). No Brasil, a vacina foi introduzida na década de 1960, porém somente após a
primeira campanha realizada pelo Plano Nacional de Eliminação do Sarampo em
16

1992 a vacinação passou a crescer em escala exponencial, mostrando como rápido


resultado a redução de 81% do número de casos notificados entre 1991 a 1992
(DOMINGUES et al., 1997).
Entretanto, novos surtos voltaram a ocorrer no mundo pela baixa cobertura
vacinal (DE SOUZA e PEREIRA, 2020). Segundo a Organização Pan-Americana da
Saúde (OPAS), os casos de sarampo tiveram aumento de 300% no mundo em 2019
e a cobertura global com a dose da vacina estagnou em 85% para a primeira dose e
67% na segunda, valores bem abaixo da meta esperada de 95% necessária para
evitar surtos (OPAS, 2019). No Brasil, ao longo dos anos, foi constatada uma
redução média de 40 à 55% na cobertura vacinal para a maioria das vacinas
oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) entre os anos de 2015 e 2019,
como pode ser observado na Tabela 1 (BELTRÃO et al., 2020). Os valores da
cobertura vacinal acima de 100%, pode ser indicativo de estimativas
populacionais incorretas e subdimensionadas (DE MORAES, 2003).

Tabela 1 - Ilustração da cobertura vacinal do sarampo entre 2015 a 2019

Fonte: BELTRÃO et al. (2020).

Uma das principais causas da queda da cobertura vacinal é devido ao


movimento antivacina, que teve início há muito tempo, quando as leis obrigavam a
17

vacinação compulsória na Inglaterra entre 1840 e 1853, gerando um sentimento de


revolta na população por quebra da liberdade individual, surgindo o primeiro
movimento antivacinação. No Brasil algo semelhante aconteceu posteriormente, o
que ficou marcado na história como a “Revolta da Vacina” em 1904 (JUNIOR, 2019).
Um dos eventos mais impactantes na história recente do movimento

antivacina foi quando em 1988 um artigo publicado na renomada revista The Lancet

relacionava a vacina tríplice viral com o desenvolvimento de comportamentos

relacionados ao autismo, o que foi posteriormente desmistificado e teve sua

publicação excluída, porém continua repercutindo na sociedade (BELTRÃO et al.,

2020). Ainda, o uso de algoritmos criados como forma de aumentar ganhos com

publicidade, criam bolhas que acabam reforçando ainda mais conceitos errados, por

impedir a entrada de visões contestadoras nesses grupos (BELTRÃO et al., 2020).

Dentre os adeptos do movimento antivacina se encontram pessoas que se

autodenominam naturalistas, pessoas desinformadas que não entendem o método

científico, e os que se utilizam do uso da desinformação espalhando Fake News,

possuindo em comum o pensamento de que o governo e a indústria farmacêutica

são vilões que usam profissionais da saúde, cientistas e apoiadores das vacinas

associados a eles (BELTRÃO et al., 2020; ROCHEL DE CAMARGO JR, 2020).

Tendo como influência fatores como: idade dos indivíduos que se vacinam ou

vacinam seus filhos, grau de escolaridade, crenças religiosas, influência política

entre outros, também estão relacionados com a queda da cobertura vacinal

(BELTRÃO et al., 2020).

Consequentemente à queda de imunizações, o Brasil perdeu em 2018 o

certificado de eliminação do sarampo que tinha recebido em 2016 da Organização

Panamericana de Saúde (OPAS), como primeira zona livre de sarampo. Dessa

forma, a problematização do sarampo e da vacina é um assunto importante a ser

discutido pela sociedade (DE SOUZA e PEREIRA, 2020; BELTRÃO et al., 2020),
18

uma vez que o sarampo é uma das principais causas de morbidade e mortalidade na

infância, sobretudo em menores de cinco anos e desnutridos que vivem em países

com menor desenvolvimento econômico, onde se comporta de forma endêmica com

variações de um local para outro em detrimento do grau de imunização não

homogênea e abaixo de 95%, susceptibilidade e circulação do vírus (BRASIL, 2005).

Baseado nos dados apresentados acima, esse trabalho se propôs a delinear

uma cronologia do sarampo, abordando desde o seu surgimento, o controle de sua

incidência, a situação atual de novos casos, até medidas necessárias para melhorar

o cenário mundial da doença. É um tema relevante levando em consideração a

gravidade do problema em saúde pública em sua atualidade, sendo importante

conhecer toda a trajetória do sarampo, abordar suas problemáticas a fim de obter

uma melhor perspectiva para o futuro.


19

2 JUSTIFICATIVA

É inquestionável como os avanços em saúde pública estão ameaçados


devido à queda da cobertura vacinal. Com isso, a reflexão acerca do retorno de
doenças já controladas no passado, como o sarampo, decorrente principalmente do
movimento antivacina, é de urgente e extrema importância, devido a sua alta
contagiosidade e periculosidade.

Ainda hoje, em 2021, centenas de pessoas no Brasil e milhares no mundo são


acometidas pelo sarampo, dentre elas, as crianças sendo as mais afetadas pelos
agravos gerados pela doença que pode ser prevenida com a vacinação. Entretanto,
muitos se recusam vacinar ou vacinar seus filhos, adeptos ao movimento antivacina
e essa realidade decorre de diversos fatores: sistema de informação por redes
sociais onde existem muitas notícias falsas e há um algoritmo que mantém as
pessoas em bolhas, recebendo sempre assuntos que elas consomem; grau de
escolaridade; filosofia de vida naturalista; crenças religiosas, influência política, entre
outros (BELTRÃO et al., 2020; ROCHEL DE CAMARGO JR, 2020). Isso resulta em
queda da taxa de vacinação e estatísticas inaceitáveis de aumento do número de
casos de sarampo, que trazem consequências para a saúde dos infectados, dos
impossibilitados de se vacinarem e maiores gastos financeiros de saúde,
tornando-se uma cronologia em retrocesso.

Com o objetivo de atrair atenção para o tema, o trabalho delineou uma


cronologia do sarampo, abordando desde o seu surgimento, dados epidemiológicos,
até medidas necessárias para melhorar a perspectiva do combate ao sarampo para
o futuro.
20

3 OBJETIVOS

Elaborar uma cronologia da doença infecciosa viral do sarampo, de forma a


compreender o histórico dessa doença, seu controle de casos alcançado através da
vacinação e seu ressurgimento na atualidade relacionado ao movimento antivacina.
21

4 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de revisão narrativa descritiva, realizado por meio de


revisão da literatura acerca do histórico do sarampo e os novos surtos da doença
no mundo. Nessa revisão, foi realizada uma análise minuciosa de diversos trabalhos
relacionados a temática para compor a linha do tempo da vacina do sarampo e
discutir seu ressurgimento, através da busca de dados nacionais e internacionais em
artigos científicos e sites de referência em saúde pública, como o do Ministério da
Saúde, a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) e Organização Mundial de Saúde (OMS).
A descrição narrativa é uma forma linguagem que apresenta as
características do tema de forma ampla, com fundamento teórico, considerando o
processo histórico e os avanços na área, sendo importante por permitir compreender
a complexidade do que foi descrito e captar os detalhes dos significados, com base
nas evidências além de permitir a atualização sobre o tema e reflexão sobre o texto
(RABELO, 2011).
Por se tratar de uma cronologia, não foi delimitado um período de tempo
durante a busca de dados. Como critério de escolha das referências foi levado em
consideração: a relevância do artigo para compor esse trabalho, quanto a sua
atualização e a fonte do conteúdo (forma de descrição, coerência e sua
completude).
Nas bases de dados eletrônicas: Google Acadêmico, Ministério da Saúde,

DATASUS, Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-americana de

Saúde (OPAS), Revista Science, Science Direct, Scielo, Pubmed e Web of Science,

foram utilizadas as seguintes palavras-chaves para a pesquisa: “história do

sarampo”, “morbidade hospitalar”, “history of measles”, “sarampo”, “measles”, “surtos

de sarampo”, “novos casos de sarampo”, “vacina contra o sarampo”, “dados

epidemiológicos do sarampo”, “boletim epidemiológico”, “guia de vigilância

epidemiológica”, “movimento antivacina”, “anti-vaccine movement”, “manual do


22

sarampo do Ministério da Saúde”, “boletim epidemiológico, secretaria de vigilância

em saúde”.
23

5 RESULTADOS

5.1 HISTÓRIA DO SARAMPO

5.1.1 Antiguidade

O sarampo, causado pelo Morbillivírus (MeV), vírus de RNA


(Mononegavirales: Paramyxoviridae), é exclusivamente humano e tem uma origem
pouco esclarecida. Acredita-se, a priori, se tratar de um salto entre espécies, devido
a sua semelhança com o vírus erradicado responsável por causar a peste bovina,
Rinderpest morbillivírus (RPV), podendo, assim, ter sido transferido do gado para
humanos (DÜX et al., 2020).
Por ser um vírus de RNA, é instável no meio ambiente, inviabilizando sua

recuperação em materiais genéticos arqueológicos, o que acaba dificultando o

estudo da sua ancestralidade e origem do comportamento endêmico em

populações. Porém, um estudo feito em coleções de patologia, em busca de um

genoma anterior ao utilizado para fazer a vacina em 1954, encontrou um genoma

viral em um pulmão preservado no Museu de História Médica de Berlim de um

paciente que havia falecido em detrimento à broncopneumonia relacionada ao

sarampo em 1912. Através desse genoma do vírus, realizaram o sequenciamento

pela técnica de relógio molecular (técnica que relaciona o tempo de divergência

entre espécies pelo número de diferenças moleculares medidas entre as sequências

do genoma), tornando possível determinar a data de divergência do vírus do

sarampo e da peste bovina. A data encontrada revelou ser potencialmente do século

IV a.C., bem anterior à estimativa que se tinha anteriormente, de ser uma doença do

final do século IX d.C (DÜX et al., 2020).


24

Concorrente a isso, surgiu uma nova hipótese do modelo de sua evolução,

que leva a pensar que existiu um vírus ancestral em comum entre o RPV, o vírus da

peste bovina, e o MeV, que passou por populações de gado por volta do terceiro

milênio a. C. e teria evoluído geneticamente de forma que se tornou capaz de

atravessar a barreira entre as espécies, como pode ser observado na Fig.3. Dessa

forma, o vírus teria primeiramente se estabelecido em pequenos povoados e se

espalhado durante a mobilidade e expansão da população, até ser capaz de gerar a

primeira epidemia (DÜX et al., 2020).

Figura 3 - Tempo estimado de divergência entre o vírus do sarampo (MeV), o da


peste bovina (RPV), o da peste dos pequenos ruminantes (PPRV) e correlação com
o tamanho populacional

Figura 3. O item (A) mostra o tempo estimado de divergência entre o vírus do sarampo MeV, o da
peste bovina RPV e o vírus ancestral de ambos, causador da peste dos pequenos ruminantes PPRV.
O ponto em vermelho mostra o momento de divergência do vírus do sarampo (MeV), da peste bovina
(RPV) e o azul da peste dos pequenos ruminantes (PPRV) de ambos, MeV e RPV; com suas datas
de divergência estimadas na margem inferior, descritas conforme os períodos clássicos da "história
25

mundial”. Em (B), mostra o tamanho estimado (escala log10) da maior cidade do sistema central em
azul escuro, leste da Ásia em azul claro e sul da Ásia em verde, ao longo do tempo. A linha vertical
vermelha representa o tempo médio de divergência estimado entre os vírus do sarampo e da peste
bovina, já a área vermelha mostra o intervalo de densidade mais elevado, de 95% e a linha horizontal
tracejada representa o limiar clássico para a manutenção do vírus do sarampo em uma população de
250.000 indivíduos. Adaptado de DÜX et al., 2020.

5.1.2 Modernidade

Por muito tempo se pensava que a varíola e o sarampo eram a mesma


doença, mas com variações de sintomas. Foi em 1670, que começou a história
moderna do sarampo, com a separação clara das doenças pela primeira vez
registrada pelo médico inglês Thomas Sydenham (AXTON, 1979).
Com a diferenciação das doenças, começaram as primeiras tentativas de se
isolar o vírus do sarampo e produzir a vacina com registros de 1758, quando o
médico escocês Francis Home, com interesse atribuído a epidemia de sarampo que
ocorreu em sua cidade e apresentava alta taxa de mortalidade, fez pela primeira vez
a inoculação do sangue de doentes em pessoas saudáveis, produzindo uma forma
de doença atenuada, antes mesmo de Edward Jenner, famoso por seus
experimentos com a varíola e reconhecido como fundador da vacina em 1796
(BAILEY, 1996; DRUTZ, 2001; KATZ, 2011). Após isso, em 1846, Peter Ludwig
Panum elucidou pela primeira vez os aspectos epidemiológicos da doença ao
embarcar para um estudo da epidemia nas Ilhas Faroe, definindo o período de
incubação da doença, sua infecciosidade e o tempo de duração da imunidade
adquirida após a infecção. Em 1910 Hektoen fez a identificação do vírus, e somente
em 1963 surge a primeira vacina atenuada, após John Enders e Thomas Peebles
isolarem e cultivarem o vírus retirado da garganta de um menino, chamado David
Edmonston que deu nome às cepas atenuadas usadas para fazer vacina, que foi
licenciada logo no início de 1960 (AXTON, 1979; KATZ, 2011).
Devido sua alta imunogenicidade, uma dose da vacina é capaz de produzir
soroconversão em 95 a 97% dos indivíduos suscetíveis, porém para evitar a
disseminação pelos 3 a 5% que não responderiam a dose inicial é aplicada uma
26

segunda dose de reforço (KATZ, 2011). De 1980 a 1994, após uma cobertura de
78% de vacinação no mundo, a Organização Mundial de Saúde (OMS), estimou
uma queda do número de morte infantil por sarampo, de 2,5 milhões anualmente
para menos de 750 mil (KATZ, 2011). No Brasil, ocorriam epidemias de sarampo,
atingindo o auge do número de casos em 1986, com um registro de 129.942, a partir
de então, esse número começou a declinar conforme aumentava a cobertura
vacinal. Entretanto, atualmente, o número de casos voltou a subir, principalmente
devido à circulação de falsas notícias sobre a vacinação e o crescimento do
movimento antivacina (DE SOUZA e PEREIRA, 2020).
27

5.2 O VÍRUS E SUAS FORMAS DE TRANSMISSÃO

Os seres humanos são os únicos hospedeiros que mantém a transmissão do


vírus, que ocorre primariamente de pessoa a pessoa por secreções respiratórias
durante o período de transmissibilidade, no intervalo de quatro dias antes a quatro
dias depois do aparecimento das erupções cutâneas características da doença,
momento de maior carga viral no trato respiratório. Ainda, apresenta um período de
incubação de aproximadamente 10 dias para o início da febre e 14 para o início da
erupção cutânea. Outra forma de transmissão pode ser por gotículas suspensas no
ar contendo o vírus, onde o mesmo pode permanecer suspenso por várias horas
(ROTA et al., 2016).

O vírus do sarampo é um vírus de RNA de fita simples com cadeia negativa


não segmentada e envelopado por cópias de proteína do nucleocapsídeo (N), que
formam um complexo de ribonucleoproteína helicoidal chamado de nucleocapsídeo.
Esse nucleocapsídeo é composto pelo holonucleocapsídeo, que contém a
fosfoproteína (P) e a proteína grande – polimerase (L), ambas com função de RNA
polimerase dependente de RNA viral, envolto por um envelope lipídico contendo a
hemaglutinina (H) e as glicoproteínas de fusão (F), e revestido internamente pela
proteína matriz (M) (BHELLA et al., 2004), conforme representado na Fig. 4 e nas
micrografias das Fig. 5 e 6.
28

Figura 4 - Representação da estrutura do vírus do sarampo (MeV)

Fonte: Adaptado de ROTA et al., 2016.

Figura 5 - Estrutura do vírus do sarampo

Fonte: MATUMOTO (1966).


29

Figura 6 - Imagem de coloração negativa de nucleocapsídeos recombinantes


compostos de proteína N de comprimento total, na forma circular à esquerda e reta à
direita

Fonte: BHELLA et al. (2004).

Ao entrar em contato com o organismo pelas vias aéreas, o vírus do sarampo


consegue aderir e se fundir às células mieloides da submucosa do trato respiratório
e nos pulmões do hospedeiro, que são suas células alvo (LAKSONO et al., 2020).
Durante esse estágio inicial de infecção, a hemaglutinina é a responsável pela
ligação do vírus às células hospedeiras e a proteína F (fusão) faz a disseminação
entre células por fundir o envelope viral e a membrana plasmática celular, ambas
proteínas estão presentes na superfície viral (AZAP and PEHLİVANOGLU, 2014).
Esse estágio inicial de infecção é mostrado na Fig. 7, em que após a fusão na
célula hospedeira, pela ligação da proteína H, o RNA viral é liberado no interior do
citoplasma, com consequente replicação e transcrição do genoma viral. Em
sequência, os complexos RNP sintetizados são transportados por reciclagem ao
longo dos microtúbulos. A proteína H e a proteína F são transportadas para a
membrana plasmática. A proteína M interage com complexos RNP, caudas
citoplasmáticas da proteína H e da proteína F, com a membrana celular e com
filamentos de actina nas células hospedeiras. Permitindo, assim, a montagem do
vírus e a regulação da fusão célula a célula do MeV, através dessas interações
(ROTA et al., 2016).
30

Figura 7 - Representação das duas rotas de entrada do vírus do sarampo (MV)

Fonte: Adaptado de ROTA et al., 2016.

Portanto, ao entrar em contato com as células mieloides da submucosa do

trato respiratório e nos pulmões, o MeV pode seguir duas rotas; ele pode alcançar os

alvéolos, infectando as células dendríticas (DC) ou os macrófagos alveolares (MA),

que carregam o vírus ao tecido linfóide, onde será transmitido aos linfócitos CD150+

também conhecido por SLAMF1, receptor de entrada a glicoproteína de membrana,

conforme mostra a rota 1 da Fig. 8, ou em uma outra via de infecção, ele se liga à

DC-SIGN, lectina do tipo C expressa em células dendríticas projetadas no muco que

cobre o lúmen do epitélio mucociliar, com função de transmitir o MeV das células

dendríticas aos linfócitos T, conforme mostra a rota 2 da Fig. 8 (DE VRIES et al.,

2012).
31

Figura 8 - Representação da Infecção por MeV e SLAM

Fonte: Adaptado de DE VRIES et al. (2012).

Com isso, as células infectadas se espalham nos tecidos linfoides


relacionados aos brônquios ou atingem os órgãos linfáticos através da via linfática,
podendo ainda ser transmitido sistematicamente de célula a célula para tecidos
linfáticos que contenham o receptor CD150+, alastrando, assim, a infecção
(LAKSONO et al., 2020).
O retorno do vírus às vias aéreas superiores do hospedeiro e consequente
liberação no meio ambiente, após a infecção, é mediado pelo receptor nectina-4
(PVRL4), expresso em células endoteliais, queratinócitos e região basolateral de
32

células epiteliais polarizadas. Essa proteína de junção, interage com a proteína de


fixação viral, emergindo nas vias aéreas por disseminação lateral não citopática em
camadas epiteliais primárias infectadas basolateralmente, levando os linfócitos
infectados com MeV ou células dendríticas da submucosa do trato respiratório para
as células epiteliais, permitindo assim o extravasamento apical do vírus, onde pode
infectar outro hospedeiro (DELPEUT et al., 2014; LAKSONO et al., 2020).
33

5.3 SINAIS E SINTOMAS

A infecção por sarampo tem início com a incubação do vírus, período sem
sinais e sintomas que dura normalmente de 10 a 14 dias (ROTA et al., 2016). Em
seguida, inicia a fase prodrômica, com duração de 2 ou 3 dias e no máximo 8 dias,
apresentando os sintomas clássicos de tosse e coriza, podendo apresentar também
mal-estar, febre acima de 38,5°C, anorexia e conjuntivite. Um ou dois dias após o
início dessa fase, surgem as manchas de Koplik, que são lesões brancas agrupadas
observadas na mucosa bucal e desaparecem dentro de 12 a 72 horas. Em seguida
há o início da fase de exantema, com o desenvolvimento de erupção cutânea
maculopapular, que costuma surgir primeiro na região do rosto, atrás das orelhas, se
espalhando pelo tronco e extremidades, tendo duração de 5 a 7 dias, sendo que ao
final, a erupção cicatriza com a formação de lesões acastanhadas e descamação
(Figura 9) (BRASIL, 2009; AZAP and PEHLİVANOGLU, 2014; ROTA et al., 2016).

Figura 9 - Patogênese do sarampo

Figura 9. Mostra em A, a ilustração das erupções cutâneas maculopapular, B) Descamação severa e


C) Manchas de Koplik na mucosa bucal, apontadas pelas setas brancas. Adaptado de ROTA et al.
(2016).
34

Por fim, a tosse costuma ser o último sintoma a desaparecer, podendo


persistir por 1 a 2 semanas após a infecção por sarampo (AZAP and
PEHLİVANOGLU, 2014). A convalescença nos casos comuns de sarampo, começa
logo após o surgimento da erupção cutânea, mas em 40% dos casos ocorrem
complicações, aumentadas em extremos de idade, má nutrição, baixa cobertura
vacinal e dificuldade de acesso a cuidados de saúde (MOSS, 2016; ROTA et al.,
2016).
35

5.4 DIAGNÓSTICO

A metodologia de diagnóstico para o sarampo, adotada pela Rede de


Laboratórios de Saúde Pública – Lacen, laboratórios de referência estaduais
vinculados às Secretarias Estaduais de Saúde, é o método de ensaio
imunoenzimático (ELISA), para a dosagem de IgM, imunoglobulina específica para
captar o vírus no plasma e IgG, específica para o vírus que pode ser utilizada tanto
para avaliar a soroconversão como para o diagnóstico laboratorial. Esse método de
ensaio é escolhido pela sua sensibilidade e especificidade de 85 a 98%, que após
confirmado, é encerrado pelo critério laboratorial (DO MINISTRO DE ESTADO DA
SAÚDE, 2002; BRASIL, 2009; XAVIER, 2019; BRASIL, 2020).
A detecção de anticorpos IgM no sangue é feita durante a fase aguda, pois é
o primeiro anticorpo a ser secretado na resposta imune adaptativa ao vírus. Os
níveis de IgM da fase aguda tem como o melhor período para diagnóstico os 4 dias
após o surgimento do exantema, devido a maior sensibilidade de detecção durante
esse período e seus níveis decaem no período de convalescença. A detecção de
IgG, anticorpo secretado considerado de fase crônica, atingem o auge após a fase
aguda, podendo ser detectado tardiamente conforme mostra a Fig. 10. Quando o
resultado é positivo ou indeterminado, deve ser comunicado de imediato a vigilância
epidemiológica estadual para realizar após 20 a 25 dias depois da primeira coleta, a
segunda coleta de amostra sanguínea a fim de que chegue à conclusão e
classificação final dos casos (BRASIL, 2009; XAVIER, 2019).
36

Figura 10 - Ilustração da evolução clínica e laboratorial do sarampo

Figura 10. Evolução clínica e laboratorial do sarampo, com o período de incubação, sem sintomas, a
fase de exantema, que perdura até 7 dias, fase aguda em que o nível de IgM atinge o auge e o nível
de IgG continua aumentando, até o final da evolução clínica. XAVIER (2019).
37

5.5 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA BASEADA EM DADOS EPIDEMIOLÓGICOS

Com a análise da sequência genética do sarampo, foi possível saber suas


variantes e rastrear geograficamente o vírus através do genótipo. Esse
conhecimento é utilizado na epidemiologia molecular na estratégia de combate ao
sarampo, como forma de vigiar e diferenciar os casos autóctones (naturais no país)
dos importados de outros países, e também os vírus vacinais dos selvagens. A
caracterização é feita pelo sequenciamento da região dos genes codificadores das
proteínas N e H, detentoras da maior variabilidade genética do vírus (SILVA et al.,
2018). Dessa forma, comparando as sequências disponíveis, os genótipos
selvagens foram divididos em 8 grupos de A até H, subdivididos em 24 genótipos,
com distribuição geográfica característica: A, B1, B2, B3, C1, C2, D1, D2, D3, D4,
D5, D6, D7, D8, D9, D10, D11, E, F, G1, G2, G3, H1, H2 (OMS, 2009; 2010). Sendo
destes, (B1, D1, E, F e G1) extintos por não circularem há mais de 25 anos e apenas
6 (B3, D4, D8, D9, G3 e H1) detectados desde 2015 (SILVA et al., 2018). No Brasil,
as variantes autóctones são as D8 e B3 registradas em todos os anos de 2010 a
2020, exceto entre 2016 e 2017 quando não houve registros de casos confirmados
no país (Figura 11).
38

Figura 11 - Genótipos de sarampo identificados no Brasil entre o período de 2010 a


2020

Figura 11. Genótipos registrados entre 2010 a 2013, estão descritos em azul, em 2014 na cor lilás,
em 2015 na cor verde, 2018 em vermelho, 2019 em laranja e 2020 em amarelo. Autoria própria com
base nos dados de SILVA et al. (2018).

O comportamento do sarampo varia de acordo com o local, dependendo do


grau de susceptibilidade da população, a doença e a circulação do vírus, sendo que
em locais com índice de vacinação menor do que 95%, a doença se comporta de
forma endêmica, com epidemia a cada dois ou três anos. Por outro lado, quando a
cobertura vacinal é superior a 95%, ocorre uma diminuição na incidência em
períodos cíclicos que variam entre cinco e sete anos; já nas zonas rurais é
comumente observado um comportamento de intervalos clínicos maiores. Outros
dados epidemiológicos mostram que a infecção acomete ambos os sexos de igual
forma, porém a variação das condições socioeconômicas, estado nutricional e
imunitário do indivíduo, impactam de diferentes formas sobre o comportamento da
infecção, quanto a sua incidência, evolução clínica e letalidade (BRASIL, 2009;
BRASIL, 2019c).
39

5.6 FATORES DE RISCO E COMPLICAÇÕES CAUSADAS PELO SARAMPO

O sarampo é uma doença que precisa ser evitada, já que pode trazer diversas
complicações e sequelas graves, relacionadas à imunossupressão e possíveis
infecções secundárias geradas, esquematizadas na Fig. 12. Os que possuem
imunidade celular prejudicada, como os que convivem com a síndrome da
imunodeficiência adquirida (AIDS), podem apresentar uma erupção cutânea
diferente da característica, além de terem maior risco de mortalidade. Além disso,
crianças desnutridas podem ter uma erupção cutânea mais pigmentada com
descamação durante a recuperação. Sendo considerados fatores de riscos:
extremos de idade e a desnutrição, responsável por acarretar ceratoconjuntivite,
pela deficiência de vitamina A, que pode levar à cegueira (MOSS, 2016; ROTA et al.,
2016).

Figura 12 - Diagrama representando resumidamente os fatores de risco


considerados agravantes para o sarampo

Fonte: Autoria própria com base nos dados de MOSS (2016); ROTA et al. (2016).
40

O sarampo está envolvido na supressão do sistema imunológico adaptativo e


por isso pode causar doenças infecciosas oportunistas (ROTA et al., 2016).
Estima-se que em 40% dos casos ocorrem complicações que costumam ser
frequentes no trato respiratório, sendo a pneumonia a maior responsável por mortes
associadas ao sarampo. Além dessas, há relatos de: laringotraqueobronquite, otite
média, úlceras na boca, estomatite e diarreia, sendo as três últimas associadas ao
desenvolvimento da desnutrição em crianças (MOSS, 2016; ROTA et al., 2016).
Outra grave complicação gerada pelo sarampo é no sistema nervoso central,
como: encefalomielite pós-sarampo, encefalite subaguda do sarampo e
panencefalite esclerosante subaguda (PESS). Sendo que a encefalomielite
pós–sarampo ocorre aproximadamente em 1 a cada 1000 casos, principalmente nos
extremos de idade e se desenvolve dentro de 2 semanas após o início da erupção
cutânea. A síndrome é caracterizada por febre, convulsões e anormalidades
neurológicas em que aproximadamente 15% dos pacientes morrem, além da metade
ficar com sequelas graves. Devido aos achados de desmielinização periventricular,
indução de respostas imunes à mielina e ausência do vírus do sarampo no cérebro,
a síndrome foi considerada um distúrbio autoimune desencadeado pelo vírus
(MOSS, 2016).
A encefalite subaguda do sarampo é rara, mas fatal; ela ocorre comumente
entre 2 a 6 meses após a infecção e é causada pela deterioração neurológica
progressiva que afeta indivíduos com imunidade celular deficiente. Seus sinais são:
letargia, confusão mental, convulsões, mioclonia e disfunção cerebral difusa que
progridem até a morte em poucos meses. Em sua patologia é possível observar
alterações inflamatórias em todo o cérebro, com inclusões eosinofílicas nos núcleos
dos neurônios (MOSS, 2016).
A panencefalite esclerosante subaguda (PESS) surge entre 5 e 10 anos após
a recuperação da infecção inicial, tem progressão mais lenta e é mais rara, afetando
aproximadamente um em dez mil casos de sarampo notificados, sendo mais
frequente antes dos cinco anos de idade (ROTA et al., 2016). Apresenta como
sinais: convulsões, deterioração das funções cognitivas e motoras até a morte em
dois anos (MOSS, 2016).
41

Ainda, uma outra complicação é a infecção por sarampo durante a gravidez,


que pode aumentar os riscos na gestação, com danos à placenta e/ ou o feto,
aumento de natimorto ou nascimento de bebês com sarampo congênito (ROTA et
al., 2016).
42

5.7 DESENVOLVIMENTO DA VACINA E ESQUEMA VACINAL

A primeira tentativa de produzir a vacina contra o sarampo foi em 1758 pelo


médico Francis Home, que inoculou sangue de doentes em indivíduos saudáveis em
Edinburgh, reproduzindo assim uma forma atenuada da doença e seu trabalho foi
publicado em 1759 intitulado “Medical Facts and Experiments” (DRUTZ, 2001; KATZ,
2011).
O trabalho de Home foi recebido inicialmente de forma cética pelos outros
pesquisadores que não conseguiam reproduzir seu resultado, mas posteriormente
obteve reconhecimento e após sucessivos anos de estudo e trabalho árduo de
vários pesquisadores para cultivar e isolar o vírus, finalmente em 1954, John Enders
e Thomas Peebles conseguiram fazer o isolamento do vírus do sarampo de culturas
de tecido extraídas do sangue colhido de um jovem com caso típico de sarampo,
chamado David Edmonston, que posteriormente deu nome às cepas atenuadas
utilizadas nas produções quase simultâneas em 1960 das vacinas por Okuno e
Matsumoto no Japão, Enders nos Estados Unidos e Smorodinstev da União
Soviética, além de outras vacinas atenuadas produzidas ao redor do mundo na
década de 1960, como a de Schwarz em 1962 que foi ainda mais atenuada
(ESCOFFIER e GERLIER, 1999; DRUTZ, 2001). A vacina atenuada derivada da
cepa Edmonston foi licenciada pelos Estados Unidos em 1963 (DRUTZ, 2001).
No Brasil, a primeira vacina contra o sarampo surgiu em 1964, na época ela
era importada e sua distribuição funcionava de forma desordenada, até que em
1973, com a criação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), foi possível
efetivá-la de forma mais organizada por ações de imunização, que foram
intensificadas em campanhas principalmente em locais com baixa cobertura no ano
seguinte, a fim de atingir a cobertura mínima para controlar o sarampo, com foco
principal em crianças menores de 5 anos (FIOCRUZ, 2014).
Em 1977 o Brasil definiu, através da portaria Ministerial nº 452, de 6/12, as
vacinas obrigatórias para menores de um ano de idade, contra: tuberculose,
poliomielite, sarampo, difteria, tétano e coqueluche (BRASIL, 2003) e em 1980
acordou uma cooperação técnica entre a Universidade de Osaka (Fundação Biken),
43

Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e Fiocruz, para a produção


da vacina do sarampo em Bio-Manguinhos. Esse acordo proporcionou uma
autonomia na produção de vacina e o ganho de experiência aos profissionais
brasileiros que puderam, então, ministrar o Curso Internacional de Controle da
Qualidade da Vacina contra Sarampo, ampliando o conhecimento aos profissionais
na América Latina e África, para o controle da doença (FIOCRUZ, 2014). Com isso,
em 1984 começa o início da produção de vacinas monovalentes contra o sarampo,
com a cepa CAM-70 (BRASIL, 2003). Em 2003, a vacina monovalente tem sua
produção descontinuada, sendo substituída pela vacina tríplice viral (sarampo,
caxumba e rubéola) (FIOCRUZ, 2014), e tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e
varicela), vacinas que apresentam forma liofilizada acompanhada de diluente e com
administração subcutânea (DRUTZ, 2001; BRASIL, 2014).
A vacina tríplice viral no Brasil é preparada, de acordo com o Manual de
Normas e Procedimentos para Vacinação do Ministério da Saúde, em cultura celular
de embrião de pinto, apresentada em forma liofilizada em frascos dose única ou
multidose e acompanhada pelo seu diluente, composta por vírus vivos (atenuados)
das cepas Wistar RA 27/3 do vírus da rubéola, Schwarz do sarampo e RIT 4385,
derivada de Jeryl Lynn, da caxumba, e tem como excipientes a albumina humana,
lactose, sorbitol, manitol, sulfato de neomicina e aminoácidos. Sua administração é
por via subcutânea a partir dos 12 meses de idade, sendo contraindicada em
pessoas que tiveram anafilaxia após receber a dose anterior, imunodeficientes e
gestantes. Sua forma de armazenagem ideal que garanta sua conservação no país
é mantendo-a protegida da luz em temperatura de 2° a 8°C e não pode ser
congelada, pois o congelamento reduz a potência além de aumentar o risco de
reações (BRASIL, 2014).
Estudos realizados pela OPAS envolvendo países da América do Sul, por
volta de 1982, mostraram os percentuais de soroconversão da vacina de acordo
com os meses de idade e chegaram a uma conclusão de que quanto mais próximo
for a vacinação do primeiro ano de vida da criança maior é a percentagem de
soroconversão, que chega a 97% das crianças vacinadas aos 12 meses de idade,
sendo mais baixas se for anterior a esse tempo, como aos 6 meses demonstraram
que apenas 58,9% das crianças vacinadas apresentaram soroconversão e aos 9
44

meses foram 87,1%. Dessa forma, a partir de 1992 com a criação do Plano Nacional
de Eliminação e Erradicação do Sarampo do PNI, a vacinação passou a ser adotada
progressivamente em todos os estados (BRASIL, 2014). O esquema de vacinação
atual é composto por duas doses, sendo uma dose de tríplice viral para indivíduos
de 12 meses e a segunda de tetra viral ou tríplice viral + varicela monovalente com
15 meses de idade. A tetra viral está disponível, para vacinação de rotina, de com
idade entre 15 meses e 4 (quatro) anos 11 meses e 29 dias. Para indivíduos com 5 a
29 anos, não vacinados ou com esquema incompleto, é indicada a administração de
duas doses da tríplice viral com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses,
conforme a situação vacinal encontrada, e em indivíduos com 30 a 59 anos não
vacinados, a recomendação é de uma dose da tríplice viral conforme a situação
vacinal encontrada (GOV.BR, 2020).
Em casos de suspeita da doença pela vigilância epidemiológica, é realizada a
vacinação de bloqueio a fim de parar com a cadeia de transmissão em até 72 horas
após o contato com o caso suspeito ou confirmado, sendo indicada uma dose zero
da tríplice viral, que não conta no calendário de vacinação, em crianças com 6
meses até 11 meses e 29 dias, já em indivíduos a partir de 12 meses até 59 anos, é
indicado a vacinação conforme o Calendário Nacional de Vacinação vigente e acima
dos 60 anos, se não houver a comprovação de nenhuma dose, deve ser
administrada uma dose de vacina contendo os componentes sarampo e rubéola
(GOV.BR, 2020).
45

5.8 CONTROLE DO SARAMPO ATRAVÉS DA VACINA

Antes da implementação do Plano Nacional de Eliminação do Sarampo em


1992, o sarampo era uma das principais doenças infectocontagiosas causadoras de
óbito, sobretudo em crianças menores de 5 anos, pelas consequências geradas,
sendo a pneumonia a principal delas (BRASIL, 2019). Entre o período de 1992
quando iniciou o plano de eliminação do sarampo, que teve como marco a primeira
campanha nacional até 2018, foram ao todo 7 campanhas de seguimento, que
trouxeram evoluções nas estratégias do controle do sarampo no Brasil, conforme
mostra o gráfico da Fig.14 (BRASIL, 2019).

Figura 13 - Linha do tempo das principais ações implementadas contra o sarampo,


Brasil, 1967 a 2018

Fonte: BRASIL (2019).

Essas estratégias aumentaram a cobertura vacinal, que chegou a alcançar


96%, podendo-se observar um declínio gradual do número de óbitos, de forma que
entre os anos 1980 a 1990 o número de registros caiu de 15.638 registros para 822,
46

valor cerca de 20 vezes menor (BRASIL, 2019). Segundo o Ministério da Saúde, até
o ano de 1992, o sarampo foi responsável por 623 óbitos, tendo redução expressiva
junto ao número de internações e óbitos a partir desse ano, conforme o aumento da
cobertura vacinal, como pode ser observado na Tabela 2 e Fig.14 abaixo.

Tabela 2 - Internações, óbitos e taxa de mortalidade entre Jan/1984 a Ago/1997

Ano de processamento Internações Óbitos

1984 10.629 194

1985 6.281 102

1986 11.573 103

1987 9.252 58

1988 2.783 25

1989 3.182 37

1990 9.475 52

1991 8.280 40

1992 1.737 12

1993 436 2

1994 327 7

1995 192 2

1996 131 -

1997 769 6

TOTAL 65.047 640

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) e


(DOMINGUES et al., 1997)
47

Figura 14 - Cobertura vacinal e número de óbitos no Brasil, 1984 a 1995

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).

A primeira campanha nacional de vacinação tinha como meta a eliminação do


sarampo para o ano 2000, assim, quando ocorreu o surto em 1997, foi
implementada a segunda campanha, nomeada por Plano de Ação Suplementar de
Emergência contra o Sarampo em 1999, com o envio de um técnico de vigilância do
sarampo para cada estado (BRASIL, 2005). Em 1999, foram confirmados 908 casos
de sarampo notificados e em 2000, houve a confirmação de 36 casos (BRASIL,
2005). Como resultado posterior das ações implementadas ao combate do sarampo,
entre 2001 a 2003, apenas 4 casos foram confirmados e de 2003 a 2005, 8 casos
foram confirmados, sendo que em 2004 não houve nenhum. Em 2005 foram 6
casos, já em 2006 tiveram 57 casos em surtos isolados na Bahia e após isso não
houve outro relato confirmado até 2009 (BRASIL, 2005; BRASIL, 2019c).
Entre 2010 a 2013, houve a confirmação de 333 casos, importados ou
secundários, com genótipos identificados de origem europeia e africana. Em 2014
tiveram 729 confirmações de sarampo e em 2015, foram 214 confirmados. Entre
2016 e 2017 não houve registro de casos confirmados no país. Sendo que, em 2016
48

o Brasil conseguiu o certificado de eliminação da circulação do vírus pela


Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) / Organização Mundial de Saúde
(OMS) (BRASIL, 2019c).
49

5.9 MOVIMENTO ANTIVACINA E O RETORNO DE CASOS DE SARAMPO

O movimento antivacinação consta no relatório da Organização Mundial de


Saúde (OMS), como um dos dez maiores riscos à saúde mundial (LUZ et al., 2015).
A principal medida de prevenção do sarampo de forma eficaz é a vacinação, porém,
a disseminação de falsas notícias sobre efeitos da vacinação, levam ao aumento da
propagação da doença no Brasil.

Em paralelo a vacina surgiu o movimento antivacina. Na Inglaterra, entre 1840


e 1853 iniciou-se um movimento antivacina organizado, devido à obrigatoriedade da
vacinação por parte do governo. A imposição gerou um sentimento de perda de
liberdade na população (JUNIOR, 2019). No Brasil, um movimento semelhante
aconteceu com as primeiras campanhas de vacinação, culminando com a revolta da
vacina em 1904 (BELTRÃO et al., 2020). A intervenção impositiva gerou um
sentimento de descrença no efeito da vacina e criação de mitos, como exemplo, de
que eram “consideradas armas biológicas criadas pelo governo para o controle
populacional” (BELTRÃO et al., 2020, p.2). Em 1998, o médico Andrew Wakefield
divulgou um artigo na renomada revista “The Lancet”, associando o desenvolvimento
do autismo com a vacina contra o sarampo, caxumba e rubéola, que ajudou a
embasar mais ainda os argumentos dos contrários a vacinação, além de reforçar o
temor e fortalecer mais ainda o movimento. Anos mais tarde, o erro foi reconhecido
e admitido, o artigo foi excluído, mas o impacto causado não foi recuperado
(JUNIOR, 2019; BELTRÃO et al., 2020).
Esse movimento antivacina prega que vacinas são inseguras e ineficientes e
se embasam em efeitos colaterais isolados em populações para tentar convencer
outras pessoas a aderirem ao movimento, a tecnologia aliada a isso agrava a
situação, pois serve como um meio de divulgação das “fake news”, principalmente
através das redes sociais, onde, conforme Beltrão 2020, circulam que:

as vacinas causam autismo, o excesso de vacinas pode levar há uma


sobrecarga imunológica, as vacinas são uma tentativa de realizar um
controle populacional e que contêm metais pesados em suas formulações
(BELTRÃO et al., 2020, p.2).
50

O constante crescimento desse movimento é devido principalmente pela


forma como é divulgado, pois a internet tem a capacidade do rápido
compartilhamento de informações e opiniões, sem exigir comprovações científicas,
devido a forma como as pessoas se organizam de forma aberta e globalizada,
oferecendo ainda a capacidade e facilidade em ganhar força pelo “ativismo político,
religioso ou cultural” (BELTRÃO et al, 2020, p.3).
A diminuição da imunização tem ocorrido em diversos países, trazendo o
retorno de doenças evitáveis, como o sarampo, e grandes surtos, associado com a
crescente recusa de pais a vacinarem seus filhos (BELTRÃO et al., 2020).
No Brasil, o sarampo é, desde 1968, uma doença de notificação compulsória
imediata em até 24 horas, acompanhado pela vigilância epidemiológica (BRASIL,
2009). Como dito anteriormente e pode ser observado na Figura 15, que a vacina
possibilitou a redução da incidência de casos, comprovando que entre 1997 e 2016,
a cobertura vacinal alcançada foi efetiva (DOMINGUES et al., 1997; DE SOUZA e
PEREIRA, 2020).

Figura 15 - Distribuição da incidência de casos de sarampo por 100.000 habitantes e


cobertura vacinal em percentual, por ano no Brasil, entre 1968 a 2018

Fonte: GOV.BR (2019).


51

Entretanto, em 2018 o país perdeu o certificado de país livre do sarampo


concedido pela OPAS/OMS, com a circulação do vírus novamente devido a crise
venezuelana. A Venezuela estava enfrentando um surto de sarampo naquele ano e
sua condição econômica e sociopolítica motivou a vinda de cidadãos do país para o
Brasil (DE SOUZA e PEREIRA, 2020). Esse acontecimento combinado com o fato
de o Brasil estar com cobertura vacinal inferior a meta, propiciou a ocorrência de
surtos, em 2018, em 11 Unidades da Federação (UFs), totalizando 10.326 casos,
sendo destes 10.245 confirmados na região Norte, e mais de 10 mil casos
registrados, principalmente no Amazonas e em Roraima (BRASIL, 2019c).
Em 2019, foram confirmados 18.203 casos de sarampo distribuídos no Brasil
entre fevereiro e dezembro de 2019, sendo a maior parte dos registros no estado de
São Paulo, com 16.090 casos (DE SOUZA e PEREIRA, 2020). Em 2020, das
semanas epidemiológicas 1 a 50 0 (29/12/2019 a 12/12/2020), foram confirmados
8.401 casos de sarampo e 7 óbitos (BRASIL, 2020b). Por fim, em 2021, entre as
semanas 1 a 22 foram confirmados 456 casos (BRASIL, 2021). Certamente, a
pandemia do COVID 19, prejudicou as vacinações contra o sarampo, contudo, o
Ministério da Saúde recomendou manter as ações de vacinação de forma planejada,
para vacinar o maior número de pessoas contra o sarampo e evitar ao mesmo
tempo aglomerações, diminuindo o risco de contágio pela COVID 19 (BRASIL,
2021).
52

5.10 CONSEQUÊNCIAS DO MOVIMENTO ANTIVACINA PARA ALÉM DO


AUMENTO DA INCIDÊNCIA DE CASOS DE SARAMPO

O movimento antivacina trouxe e traz diversas complicações, tanto em âmbito


da saúde do paciente, quanto para a saúde pública, inclusive com o aumento de
gastos financeiros.

Com relação a saúde do paciente, MINA et al. (2019) apresentou um estudo


que mede as consequências geradas pela infecção do sarampo para o paciente,
podendo causar além dos sinais e sintomas relatados acima um grande impacto na
saúde do indivíduo, por ser capaz de expô-lo a infecções secundárias. O trabalho
publicado na revista Science em 2015 relatou como a imunomodulação induzida
pelo vírus do sarampo aumenta a mortalidade por doenças infecciosas a longo prazo
na infância, visto que o vírus faz uma imunossupressão transitória que induz a um
dano imunológico atribuído à depleção de linfócitos B e T, desativando a memória
imunológica por dois a três anos (MINA et al., 2015). Um outro trabalho, publicado
pela mesma revista em 2019, relatou que a infecção pelo vírus diminui anticorpos
pré-existentes que oferecem proteção contra outros patógenos de forma transitória
(MINA et al., 2019). Cabe destacar, portanto, que a vacinação contra o sarampo é
importante não apenas para prevenir o sarampo como também outras infecções
secundárias e que além desses problemas mencionados, outra consequência
agravada pelo movimento antivacina é que com o aumento do número de pessoas
não imunizadas ao longo do tempo, a imunidade de rebanho pode se tornar ineficaz,
e ocorrer o retorno de doenças erradicadas anteriormente (MELLO; GERVITZ,
2020).

Outrossim, deve-se analisar também os impactos de gestão na Saúde Pública


gerados pelo indivíduo ao Estado, uma vez que a infecção representa um grande
impacto em relação às hospitalizações, morbidade e mortalidade na infância, que
por sua vez elevam gastos envolvidos no tratamento, internações etc. Segundo o
Ministério da Saúde, no histórico mais recente entre 2018 e 2020, foram um total de
2.281 internações devido o sarampo com um custo de R$ 620.163,12 em serviços
53

hospitalares, com maior número nas regiões Norte e Sudeste devido o surto ocorrido
na época nessas regiões; já em 2021, foram registrados um total de 135
internações, que gerou um custo total de R$ 32.338,09, como pode ser observado
nas Tabelas 3 e 4 (Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do
SUS – SIH/SUS).

Tabela 3 - Internações, óbitos e valor de serviços hospitalares do sarampo de 2018 a


2020

Região Internações Óbitos Valor de serviços hospitalares

1 Região Norte 1.209 5 278.807,08

2 Região Nordeste 154 1 59.513,27

3 Região Sudeste 829 - 254.511,74

4 Região Sul 63 - 22.235,03

5 Região Centro-Oeste 26 - 5.096,00

TOTAL 2.281 6 620.163,12

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).

Tabela 4 - Internações, óbitos e valor de serviços hospitalares do sarampo em 2021


Região Internações Óbitos Valor de Serviços Hospitalares

1 Região Norte 125 3 26.969,69

2 Região Nordeste 4 1 2.882,75

3 Região Sudeste 2 - 814,21

4 Região Sul 2 2 222,72

5 Região Centro-Oeste 2 - 1.448,72

TOTAL 135 6 32.338,09

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).

Outro problema de cunho legal e financeiro gerado pelo movimento antivacina


é a possibilidade de no futuro haver um colapso na produção e comercialização dos
imunobiológicos, devido o alto custo envolvido na fabricação e as ameaças judiciais
à indústria farmacêutica, que pode resultar em maior demanda do que produção,
54

levando ao aumento do preço que prejudicará principalmente os países em


desenvolvimento (JUNIOR, 2019).
Então, faz-se necessário aumentar a conscientização sobre os problemas
gerados pelo sarampo, aumentar o investimento em campanhas e estratégias que
contribuam com o fortalecimento pró-vacina, principalmente nas regiões que
apresentam maior incidência de casos, de forma que possa melhorar as
perspectivas futuras de saúde e interromper a circulação do vírus.
55

5.11 MEDIDAS TOMADAS PARA PREVENIR E CONTER OS CASOS DO SURTO


DE SARAMPO

Campanhas de vacinação que visam a vacinação em massa da população,


são fundamentais, pois aumentam a divulgação sobre sua importância na mídia,
assim como a ampliação do número de postos de vacinação, que facilitam o acesso
da população (BRASIL, 2019). Existem periodicamente campanhas de seguimento,
que ocorrem em nível nacional com objetivo de alcançar as crianças que não foram
vacinadas ou estão com o esquema de doses incompleto, sendo que o intervalo
dessas campanhas depende da situação epidemiológica do sarampo ou da
cobertura de rotina atingida pelos serviços de vacinação (BRASIL, 2019).
Dessa forma, fazem parte das várias estratégias para o controle do sarampo
no país o movimento Vacina Brasil, criado para sensibilizar o público adulto a se
vacinar e o programa Saúde na Hora que amplia o horário de funcionamento de
unidades de saúde aderentes ao programa, além das divulgações epidemiológicas
que mostram o panorama da doença no país (BRASIL, 2019b). Outra estratégia
adotada pelo governo inclui a vigilância em saúde, que busca detectar prontamente
os casos de sarampo, para então adotar as medidas de controle necessárias que
interrompam a disseminação do vírus, além do monitoramento das condições de
risco (BRASIL, 2019).
Para isso contam com a busca ativa dos casos de sarampo, realizada pelas
equipes municipais de saúde, responsáveis pela notificação da doença junto à
Secretaria Municipal de Saúde em 24h, registrada no Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan) e identificadas na Ficha de Notificação/Investigação
de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola. Os casos suspeitos após 48h
da notificação, são investigados através da coleta de sangue para sorologia do
paciente e quando positivo para sarampo, é feita a vacinação de bloqueio dos
contatos suscetíveis em até 72h. Após isso, é realizado o acompanhamento da
evolução dos casos suspeitos, a fim de avaliar se houve complicações, o surgimento
de novos casos ou o seu descarte/encerramento. Sendo todas essas, entre outras,
medidas indispensáveis contra o sarampo (BRASIL, 2019).
56

6 CRONOLOGIA DO SARAMPO

De forma a delinear uma ordem cronológica que sintetizasse os eventos sobre o


sarampo descritos neste trabalho, foi elaborada uma linha do tempo (Figura 16)
onde os principais eventos relacionados ao tema estão representados.

Figura 16 - Cronologia com os principais eventos do sarampo

Fonte: Autoria própria com base nos dados encontrados nesta revisão bibliográfica.
57

7 CONCLUSÃO

A alta cobertura vacinal permitiu uma forte redução na incidência e


mortalidade do sarampo, mas não sua erradicação. As quedas das coberturas
vacinais devido a fatores como: rápida urbanização, fluxo migratório para grandes
centros urbanos, imigrações e principalmente relacionadas ao movimento antivacina,
propiciou o aumento de incidência da doença e surtos como o ocorrido em 2018,
que registrou mais de 10 mil casos no país, período em que a cobertura vacinal
estava abaixo de 95%, gerando como consequência um aumento no número de
internações e gastos pelas complicações causadas pela infecção. Com isso, várias
medidas nacionais foram tomadas, como: o bloqueio vacinal dos contatos, busca
ativa dos casos, para a rápida identificação de casos suspeitos e redução da
transmissão, sendo a divulgação de campanhas de vacinação e conscientização, a
mais fundamental delas. Nesse contexto, é importante o conhecimento da história e
dos dados epidemiológicos para propor medidas de combate ao movimento
antivacina, considerado um dos principais impasses na prevenção e eliminação da
doença.
Destaca-se portanto, a necessidade da união do poder público, profissionais
de saúde e de usuários do serviço de saúde para a fiscalização das “fake news” e
sua desmistificação no combate ao movimento antivacina; a geração de debates e
compartilhamento de informações pelo meio onde as pessoas estão inseridas, na
internet, utilizando o mesmo meio de divulgação que o movimento contrário, as
mídias digitais para a conscientização da população sobre o sarampo e a
importância da vacinação; a implementação de estratégias vacinais em ambientes
escolares e o desenvolvimento de atualização vacinal por meio digital, visto que
podem existir casos de pessoas que deixam de se vacinar por perderem a carteira
de vacinação. Somente assim, será possível interromper a circulação do vírus e
obter um melhor cenário futuro para toda a população.
58

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