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Matéria sobre cidadania

Declaração Universal dos Direitos do Homem

Artigo I – Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas
de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

Artigo II – Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos
nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,
religião, opinião pública, ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento, ou qualquer outra condição.

Artigo III – Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança.

Artigo IV – Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como
pessoa perante a lei.

Perspetiva histórica

Grécia – cidadão vem da palavra civitas.

Tinha significados como liberdade, igualdade e virtudes republicanas

Cidadão: ser titular de um poder público não limitado e participar do modo estável do
poder de decisão coletiva.
Quem pode ser cidadão: número restrito de homens, excluídos os que viviam do próprio
trabalho, as mulheres, os escravos e os estrangeiros.
Modernidade: ideia de direitos do homem

Existência de ideia de contrato entre cidadãos com o Estado;

Sair do estado de natureza.

Ideia da igualdade de direitos entre os homens.

Declaração francesa de 1789: “que os homens nascem e permaneçam livres e iguais nos
seus direitos.
Definição de cidadania

Cidadania é definida como identidade social politizada. Modo de identificação


intersubjetiva entre as pessoas e o sentimento de pertencimento criados eminúmeras
mobilizações, confrontos e negociações cotidianas, práticas e simbólicas. A cidadania é
construída coletivamente e ganha sentido nas experiências individuais quanto coletivas.
É, portanto, uma identidade social.
Cidadania é uma noção política: força ou fragilidade depende inúmeras mobilizações,
confrontos e negociações cotidianas. Cidadania vista como somatório de direitos
políticos, sociais e civis – cidadão incompleto seria aquele que não possuísse os três ao
apenas algum deles.
Não existe passividade na cidadania.

A dimensão cultural da cidadania abrange os movimentos sociais e o reconhecimento de


suas identidades – negro, feminista, LGBTS. Nessa perspetiva, existe a defesa da
particularidade dos direitos.

Cidadania e direitos

Cidadania pensada como o somatório de direitos: sociais, políticos e civis.

Direitos civis: liberdade individual, liberdade de palavra, pensamento e fé, liberdade deir
e vir, o direito à propriedade, o direito de contrair contratos válidos e o direito à justiça.
São direitos que se baseiam na existência de uma justiça independente, eficiente, barata e
acessível a todos.

Direitos políticos: “se referem à participação do cidadão no governo da sociedade –


capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, movimentos sociais,
de votar e ser votado”. Direitos políticos se referem fundamentalmente ao voto. Sem
direitos civis não há direitos políticos”. Direitos políticos garantem a participação no
governo da sociedade.
Direitos sociais: Direitos civis garantem a vida em sociedade através da participação na
riqueza coletiva. Diretos sociais: direito à educação, ao trabalho, ao salário justo; à saúde;
à aposentadoria. A garantia de sua vigência depende de uma eficiente máquina
administrativa do Poder Executivo. Direitos sociais sem direitos civis e políticos acabam
tomando um conteúdo arbitrário. É preciso lembrar que a cidadania não requer apenas
direitos, mas também deveres dos cidadãos.
O acesso à Justiça no Brasil

A falta de defensores públicos no país deixa 58 milhões de pessoas sem acesso à justiça
gratuita.
Para suprir essa falta, seriam necessários no mínimo 4,7 mil profissionais adicionais

 Fonte: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/08/03/sem-
defensores-publicos-58-milhoes-nao-tem-acesso-a-justica-gratuita.htm
Acesso à educação no Brasil

 Em 2020, o número de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos fora da escola passou


para 1,5 milhão. A suspensão das aulas presenciais, somada à dificuldade de acesso
à internet e à tecnologia, entre outros fatores, fez com que esse número aumentasse
ainda mais.
 Fonte:https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2021-04/mais-de-5-
milhoes-de-criancas-e-adolescentes-ficaram-sem-aulas-em-2020

O acesso à Justiça no Brasil

 Sete em cada dez brasileiros, ou mais de 150 milhões de pessoas, dependem


exclusivamente do SUS (Sistema Único de Saúde) para tratamento;

 Fonte: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/09/04/7-
em-cada-10-brasileiros-dependem-do-sus-para-tratamento-diz-ibge.htm

A cidadania no Brasil

Cidadania no Brasil: tortuoso caminho de 1822, ano da independência, até hoje. Durante
o regime monárquico, no século XIX, quase não se podia falar em direitos.

O voto tinha um caráter censitário – apenas os latifundiários – adultos homens –


participavam do poder político. Manutenção da escravidão – sociedade marcado por
extrema desigualdade.

Fim da escravidão – 1888 – e proclamação da República – 1889 – não provocaram


qualquer tipo de modificação na realidade. Proibição dos analfabetos de votarem – estes
representavam a maioria da população brasileira.

Poder local nas mãos dos coronéis – controlavam o voto e o acesso aos cargos públicos
existentes.
Inúmeros problemas sociais tratados pela repressão policial: Canudos, Revolta da Vacina
e greves operárias na década de 1910 nas cidades do Rio e São Paulo. Jovens marinheiros
pobres punidos com castigos físicos, como na Revolta da Chibata, liderada por João
Cândido, em 1910.
Durante a Primeira República – 1889:1930 – inexistiu qualquer indíciodo que chamamos
de cidadania. República Oligárquica derrubada em 1930, organizada por setores
dissidentes da própria elite.
Durante o período 1930-1945 começou a ser introduzida uma vasta legislação social, que
atingia principalmente os centros urbanos. Em 1932, foi decretada, no comércio e na
indústria, a jornada de oito horas de trabalho.
Em 1933, houve a regulamentação das férias. A Constituição de 1934, estendeu o voto às
mulheres e determinou a criação de um salário-mínimo para satisfazer as necessidades
básicas – só foi implantado em 1940.
Organização da Previdência em 1933, com a criação de institutos por categorias
profissionais – marinheiros, bancários, comércio.

Cidadania regulada” entre 1930-1945

 Somente tinham acesso aos direitos sociais os trabalhadores urbanos vinculados a


categorias reconhecidas pelo Estado

 O Estado controlava os sindicatos.

Direitos sociais atingidos

 Pequeno valor do salário-mínimo


 Impossibilidade de organização autônoma dos sindicatos pelos trabalhadores.
 Direitos sociais implantados antes dos direitos civis e dos direitos políticos, que
praticamente deixaram de existir durante o período ditatorial – 1937-1945.
 Os direitos civis e políticos somente foram implementados no Brasil, a partir de 1946,
com a Constituição que marcava a primeira experiência democrática do país.
 A experiência durou até 1964, quando houve o golpe que deu início à ditadura
militar que duraria até 1985.
 No Brasil houve maior ênfase nos direitos sociais em relação aos direitos civis e
políticos.
Primeiro vieram os direitos sociais implantados por Vargas durante o Estado
Novo(1937-1945).

Estado Novo (1937-1945)

 Supressão dos direitos políticos e redução dos direitos civis durante o período
ditatorial.
 Os direitos políticos vieram depois.
 Ainda hoje muitos direitos civis, a base da sequência de Marshall, continuam
inacessíveis a maioria da população”.
Ditadura civil-militar (1964-1985)

 Houve prisões arbitrárias, torturas, assassinatos e exílios políticos que atingiram


lideranças políticas, estudantis, intelectuais, artistas.

Durante a ditadura, houve prisões arbitrárias, torturas, assassinatos e exílios políticos que
atingiram lideranças políticas, estudantis, intelectuais, artistas.
A partir de 1978, houve a abertura política com a legalização dos novos partidos – duranteo
regime só existiam dois – Arena (partido do governo) e MDB(partidoda oposição). Brasil
– direitos sociais implantados antes dos direitos civis e dos direitos políticos, que
praticamente deixaram de existir durante o período ditatorial – 1937-1945.
A Constituição de 1988
 Amplia os direitos políticos;
 Torna facultativo o voto aos analfabetos.
 Em 1990 havia cerca de 30 milhões de brasileiros de cinco anos ou mais que
eram analfabetos.
A Constituição amplia os direitos políticos, eliminando o último obstáculo à
universalização do voto – torna facultativo o voto aos analfabetos – em 1990 havia cerca
de 30 milhões de brasileiros de cinco anos ou mais que eram analfabetos. Surgimento de
movimentos sociais como o MST – Movimentos dos trabalhadores rurais sem-terra;
Movimentos surgiram com demandas históricas representadas pelo controle da terra no
país pelo latifúndio desde o período colonial.
Ganhos das Constituição de 1988

 Fixou em um salário-mínimo o limite inferior para as aposentadorias e pensões.


 Ordenou o pagamento de pensão de um salário-mínimo a todos os deficientes físicos
e a todos os maiores de 65 anos, independentemente de terem contribuído para a
previdência.

Direitos civis conquistados em 1988

Entre eles cabe salientar a liberdade de expressão, de imprensa e de organização.


Criação do direito de habeas data: qualquer pessoa pode exigir do governo acesso às
informaçõesexistentes sobre ela nos registos públicos, mesmo as de caráter confidencial.
Definiu o racismo como crime inafiançável e imprescritível e a tortura como crime
inafiançável e não-anistiável.
Fora criado também, em 1996, o Programa Nacional dos Direitos Humanos, que prevê
várias medidas para proteger esses direitos.
Houve a criação dos Juizados Especiais de Pequenas Causas Cíveis e Criminais, que vieram
para simplificar, baratear e agilizar a prestação da justiça.
Acesso limitado à Justiça

Apesar de ser um dever constitucional do Estado prestar assistência jurídica gratuita aos
pobres, os defensores públicos são em número insuficiente para atender à demanda. Uma
vez instalado o processo, há o problema da demora. Do ponto de vista da garantia dos
direitos civis, os cidadãos brasileiros podem ser divididos em classes. Há os de primeira
classe, os privilegiados, os ‘doutores’, que estão acima da lei, que sempre conseguem
defender seus interesses pelo poder do dinheiro e do prestígio social.
Os ‘doutores’ são invariavelmente brancos, ricos, bem vestidos, com formação
universitária. São empresários, banqueiros, grandes proprietários rurais e urbanos,
políticos, profissionais liberais, altos funcionários. Frequentemente, mantêm vínculos
importantes nos negócios, no governo, no próprio Judiciário.
Cidadania no Brasil – drama social para milhões de pobres, analfabetos, semi-
analfabetos, desempregados, vítimas da violência particular e oficial.
Referências:
https://amazoniareal.com.br/os-brasileiros-sem-direitos/

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45138048

CARVALHO, José Murilo de. (2001) Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira.

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