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O novo (e precário) mundo do trabalho e crise do sindicalismo

Desse modo, a uniformização que o toyotismo realiza é apenas a expressão organizacional


da coletivização do trabalho, sob a forma de trabalho abstrato (que permite a ampliação das
tarefas). O trabalho ampliado, dos operários “pluriespecialistas”, resulta tão vazio e tão
reduzido à pura duração, como o trabalho fragmentado.

Toyotismo, também chamado lean production “produção enxuta

O objetivo supremo continua sendo incrementar a acumulação do capital por meio do


incremento da produtividade do trabalho.

* É o toyotismo que Irá propiciar com maior poder ideológico, no campo organizacional, os
apelos à administração participativa, salientando o sindi-
calismo de participação e os CCQ's (Círculos de Controle de Qualidade); reconstituindo,
para isso, a linha de montagem e instaurando uma nova forma de gestão da força de
trabalho'.

O avanço das iniciativas organizacionais de envolvimento do trabalhador, captura da


subjetividade operária, a Inserção engajada dos trabalhadores no processo produtivo (a
auto-racionalização operária).

Desse modo, uma característica central do toyotismo é a vigência da "manipulação» do


consentimento operário, objetivada em conjunto de inovações organizacionais institucionais
e relacionais no complexo de produção de mercadorias, que permitem "superar"' os limites
postos pelo taylorismo-fordismo, É um novo tipo de ofensiva do capital na produção que
reconstitui as práticas tayloristas e fordistas na perspectiva do que poderíamos denominar
uma captura da subjetividade operária pela produção do capital. É uma via de racionalização
do trabalho que instaura uma solução diferente — que, a ngor, não deixa de ser a mesma,
mas que na dimensão subjetiva é outra — da experimentada por Taylor e Ford, para
resolver, nas novas condições do capitalismo mundial, um dos problemas estruturais da
produção de mercadorias: o consentimento operário (ou de como romper a resistência
operária à sanha de valorização do capital, no plano da produção).
Se o taylorismo-fordismo procurou resolvê-lo por intermédio que Coriat salientou como a
parcelização e a repetitividade do trabalho, o toyotismo procura resolvê-lo (utilizando os
termos do próprio Coriat) pela desespecialização dos trabalhadores qualificados, por meio
da instalação de certa polivalência e plurifuncionalidade dos homens e das máquinas É a
operação de um novo tipo de captura da subjetividade
operária pela produção do capital que consideramos como o nexo essencial da série de
protocolos organizacionais do toyotismo, tais como a "autonomação" e "auto-ativação,
just-in-time/kanban, etc.

Diferente do Fordismo que reduzia a linha de montagem ao aspecto físico maquinal do


humano, o Toyotismo procura, mais do que nunca, reconstituir algo que era fundamental na
manufatura: o "velho nexo psicofísico do trabalho profissional qualificado — a participação
ativa da inteligência, da fantasia, da iniciativa do trabalho”

Autonomação:
● Com a autonomação(autonomia+automação das máquinas em parar a produção
quando os produtos estão fora do padrão de qualidade), os operários podem operar
várias máquinas ao mesmo tempo.
● O Toyotismo tende a incentivar a participação dos trabalhadores nos projetos de
produtos e processos de produção, pelo incentivo às suas sugestões para o
aperfeiçoamento dos mesmos. Sem ganhar nada a mais

Just-in-time/Kanban:

● Gestão pelo estoque. Estoque curto apenas o necessário


● Redução de pessoal
● Gestão visível aos olhos do gestor do andamento da produção

Os trabalhadores ficam “presos” confortavelmente na empresa pelo sistema de senioridade


e bônus, etc. Existe um elo entre o desempenho do negócio e o comportamento dos
funcionários: na Toyota, às vezes um bônus salarial corresponde a um terço do salário
anual, mas o sistema de bônus pode ser reduzido ou até eliminado se a empresa tiver baixa
performance.

As lideranças e gerências da empresa são também avaliadores e representantes dos


sindicatos, no Japão.

● “Somos todos chefes” é o lema do trabalho em equipe no toyotismo. Um regula o


trabalho do outro e se o squad de 8 trabalhadores falha, todos perdem aumento.
● Competitividade de trabalho em equipe
● Operários são incentivados a achar soluções para problemas antes deles
acontecerem.

Relação interfirmas:
● Pequenas empresas, subcontratadas ou fornecedores em vários graus da cadeia
produtiva que instauram uma relação de longo prazo com a empresa central, cuja
duração é determinada pelo ciclo do produto.

Observamos que o complexo de reestruturação produtiva, sob a mundialização do capital, é


caracterizado não apenas pela instauração de uma nova base técnica - o controle
automático da produção - mas, principalmente, por uma nova proposta de organização
social da produção, uma nova (re)posição do princípio de cooperação e divisão do trabalho,
que constituíram o pressuposto organizativo do desenvolvimento da acumulação do capital
na grande indústria

● O sucesso do sistema Toyota vincula-se, numa perspectiva histórica, às grandes


derrotas da classe operária. A própria decapitação e neutralização do seu intelectual
orgânico no plano produtivo: o sindicato industrial, de classe, transformado num
sindicato de empresa, corporativo e interlocutor exclusivo do capital. Esse processo
de neutralização político-ideológica da classe operária no espaço da produção é tão
importante para o sucesso do toyotismo que, no Japão, uma das passagens
essenciais que asseguram a promoção dos dirigentes e formação das elites da
empresa Toyota é a atividade sindical.
● Integravam também ao sindicato, os trabalhadores das empresas pequenas de
subcontratação e fornecedores, a fim de evitar conflitos de interesse.

Hoje, todas as corporações transnacionais tendem a adotar técnicas e princípios do


toyotismo. O sistema Toyota de terceirização e o just-in-time foram adotados ainda mais
facilmente.

O nosso interesse em apreender a ofensiva do capital a partir do complexo de


reestruturação produtiva vincula-se à necessidade de apreendermos algo que é fundamental
para o sistema produtor de mercadorias: a (des) construção da classe dos trabalhadores
assalariados como uma das condições sócio- históricas para um novo patamar de
acumulação do capital. E a partir daí que se Instaura, como veremos adiante, um
novo (e precário) mundo do trabalho e uma crise do sindicalismo moderno. O que
presenciamos é uma dimensão sócio-histórica superior do ser-precisamente-assim do
"sujeito" capital.

Toyotismo como ideologia orgânica da produção capitalista

Ao dizermos ideologia orgânica, procuramos salientar a amplitude de valores e regras de


organização da produção que sustentam uma série de protocolos organizacionais.

O toyotismo é regido pelo princípio da flexibilidade, que articula pelo menos 3 valores
universais - o valor do envolvimento subjetivo do trabalho (o "nexo essencial" do toyotismo,
que implica a captura da subjetividade do trabalho pelo capital) e os valores da produção
fluida e da produção difusa ("nexos contingentes" do toyotismo)

O cerne do toyotismo é a busca do engajamento estimulado do trabalho, principalmente do


trabalhador central, o assalariado estável, para que ele possa operar uma série de
dispositivos organizacionais que sustentam a produção fluida e difusa.

Mas o que cabe resgatar são seus princípios intrínsecos de busca do envolvimento
subjetivo do trabalho e de busca recorrente de uma produção difusa (através da
terceirização) e de urna produção fluida (recorrendo, neste caso, em última instância, à
utilização de novas tecnologias microeletrônicas).

Portanto, seja na indústria, onde tal sistema produtivo se originou, seja nos bancos e
empresas capitalistas as mais diversas, o toyotismo tenta se tornar um senso comum da
produção de valor. Estamos, pois, diante de um conceito com maior densidade ontológica do
que imaginam sociólogos ou engenheiros de produção, muitos deles voltados para a análise
empirista e restrita do processo real.

● O valor ontológico do toyotismo não se vincula apenas à sua morfologia intrínseca


adequada a mercados restritos, mas a ser ele - o toyotismo - o resultado de um
processo de luta de classes. Na verdade, o toyotismo é a expressão plena de uma
ofensiva do capital na produção. Na verdade, ele é um dispositivo organizacional e
ideológico que busca debilitar (e anular) - ou negar - o caráter antagônico do trabalho
no seio da produção do capital.
● Sindicalismo por empresa, mais uma vez

? O que é a lógica do “Mercado Restrito” que tanto se diz nos textos que foi a base do
surgimento do Toyotismo?

Este é, com certeza, seu calcanhar de Aquiles, na medida em que, ao reduzir o nexo da
hegemonia do capital apenas à esfera intra-fabril (ou entre empresas), não o ampliando para
além da cadeia produtiva central, para o corpo social total, o toyotismo permanece limitado
em sua perspectiva política, principalmente se o compararmos ao arranjo fordista. Por isso,
sob o toyotismo, agudiza-se a contradição entre racionalidade intra-empresa e
irracionalidade social.

Do fordismo à acumulação flexível

No espaço social criado por tantas oscilações e incertezas, uma série de novas experiências
nos domínios da organização industrial e da vida social e política começou a tomar forma.
Essas experiências podem representar os primeiros ímpetos da passagem para um regime
de acumulação inteiramente novo, associado com um sistema de regulamentação política e
social bem distinta.

A acumulação flexível, é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se
apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e
padrões de consumo. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do
desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando por
exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado “setor de serviços”, bem como
conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas.

A acumulação flexível parece implicar níveis altos de desemprego “estrutural”, rápida


destruição e reconstrução de habilidades, ganhos modestos(quando há) de salários reais e
o retrocesso do poder sindical.
Os patrões tiraram proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade
de mão-de-obra excedente (desempregados ou subempregados) para impor regimes e
contratos de trabalho mais flexíveis.
● Cada empresa aplica a flexibilidade de acordo com suas necessidades
● Ex: “nove dias corridos” de trabalho mesmo para empregados regulares,
jornadas de trabalho que tem em média 40h aos longo do ano, mas obrigam
o empregado a trabalhar bem mais em períodos de pico de demanda,
compensando com menos horas em períodos de redução de demanda.
● Mais importante do que isso é a aparente redução do emprego regular em
favor do crescente uso do trabalho em tempo parcial, temporário ou
subcontratado.
Esses arranjos de emprego flexíveis não criam por si mesmos uma insatisfação trabalhista
forte, visto que a flexibilidade pode às vezes ser mutuamente benéfica. Mas os efeitos
agregados, quando se consideram a cobertura de seguro, direitos de pensão, os níveis
salariais e a segurança no emprego, de modo algum parecem positivos do ponto de vista da
população trabalhadora como um todo.

A transformação da estrutura do mercado de trabalho teve como paralelo mudanças de igual


importância na organização industrial. Por exemplo, a subcontratação organizada abre
oportunidades para a formação de pequenos negócios e sem alguns casos, permite que
sistemas mais antigos de trabalho doméstico, artesanal, familiar e paternalista e revivam e
floresçam, mas agora como peças centrais, e não apêndices do sistema produtivo.

Os sistemas paternalistas de trabalho são perigosos para os trabalhadores, porque é mais


provável que corrompam o poder sindical. A luta contra a exploração capitalista na fábrica é
bem diferente da luta contra um pai ou tio que organiza o trabalho familiar num esquema de
exploração

?Movimento de ascensão social, paralelo ao aumento da exploração? Ascenção essa


também associada às pequenas empresas terceirizadas e atividade de consultoria para
substituir funções que eram antes realizadas internamente.

Enquanto a classe trabalhadora se torna mais organizada, o capitalismo mais desorganizado


e coeso.

?No texto do Harvey o último capítulo que é um questionamento se a acumulação flexível


seria uma transformação sólida ou reparo temporário. E os textos falam do toyotismo num
contexto dos anos 70 até o final dos anos 80.

A minha dúvida é se aqui no Brasil a gente começou a viver essa flexibilização tardiamente
ou se ela vem desde essa época e se manteve como uma transformação sólida?

AULA:

A crise do petróleo fez com que criassem produtos pra diferentes segmentos de mercado. O
mercado de massa acabou pois o mercado não mais absorvia tudo que se produzisse. Isso
pode ser relacionado diretamente a gestão de estoque enxuto do toyotismo

O Japão se tornou referência em mercado orgânico mundial e não nacional pq perceberam


que produzir muito e barato tinha o mesmo custo que pouco e caro. Devido a escassez do
mercado restrito desenvolveram metodologias sob demanda numa estrutura super enxuta e
funcional. Não existe a lógica de produzir para vender, e sim de saber o que o meu cliente
quer

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