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Universidade Federal de Goiás

Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas


Graduação em Administração
Disciplina de Psicologia das Organizações
Professora Juliana Chaves
Alunos: Pedro Vitor Sousa de Lima e Víctor Pires Borges

Introdução
O presente trabalho tem como objetivo principal compor a nota da primeira parte da
disciplina de Psicologia das Organizações da Professora Juliana Chaves. Em um primeiro
momento, será exposto o surgimento do Capitalismo Flexível a partir da crise da produção
Taylor-Fordista e as características do próprio Capitalismo Flexível - como a produção Just
in Time, as novas demandas aos trabalhadores e seus adoecimentos específicos deste
modo de produção, a terceirização, o empreendedorismo etc. Depois, haverá uma relação
entre o que foi exposto e o que pode-se observar na realidade com a análise da matéria
jornalística “O caso de trabalho análogo à escravidão em vinícolas no RS”, do site DW.com,
publicada em 02 de março de 2023. A análise da matéria terá enfoque no trabalhador e seus
adoecimentos característicos da flexibilidade do capital.
No período da Terceira Revolução Industrial (a partir da década de 1960, portanto no
pós-guerra), o sistema de produção em massa, característica do Capitalismo Taylorista-
Fordista, entrou em crise. Nesse contexto de colapso estrutural do Capitalismo Industrial (ou
Capitalismo Liberal), surge o que se chama de Capitalismo Flexível (também chamado de
Capitalismo Financeiro ou Capitalismo dos Monopólios), advindo das inovações da Terceira
Revolução Industrial. Este vem como uma alternativa ao modelo anterior que já se
encontrava ultrapassado à época pelos motivos a seguir elencados.
A primeira causa a ser citada está relacionada à forma de conduzir a produção. Após o
final da Segunda Guerra Mundial, a produção em larga escala não fazia mais sentido, uma
vez que a capacidade de consumo da população diminuiu em todo o mundo, com destaque
para os países centrais, seja por conta desta própria guerra e/ou pelo temor de uma futura.
Isso ocasionou um remanejamento da forma de produção, deixando de lado a produção em
massa e produzindo, a partir de agora, produtos personalizados para mercados diferentes.
Importante destacar que não tão personalizado como tem-se hoje, mas, comparado ao que era
o Taylor-Fordismo, no qual não havia (ou havia pouquíssima) personalização. Isso já se
relaciona a outro motivo da crise do capitalismo industrial: o Taylor-Fordismo tinha baixa
(ou quase nula) flexibilização no processo produtivo. Conclui-se, então, que precisava-se de
uma nova reorganização em todo o modo de produção capitalista para que os detentores dos
meios de produção voltassem a ter lucro, uma vez que precisava-se de um olhar mais
customizado a cada nicho de mercado. Agora, para uma montadora fazer o estudo de quantos
carros produzir, era necessário analisar com cautela e separadamente quantos carros
comprarão os habitantes do norte da Itália e quantos comprarão os habitantes do sul da Itália,
por exemplo. Houve uma separação dos mercados e uma personalização de atendimento a
cada mercado consumidor.
Dá-se, por esses motivos, uma flexibilização constante do capitalismo desde a década
de 1960 e, por isso, o chamamos de Capitalismo Flexível. A partir deste momento, passou-se
a vigorar uma nova forma de organização da produção capitalista: o modo de produção
Toyotista. Este, por sua vez, resolve as demandas de um mundo pós-guerra e se perpetua com
suas características próprias, as quais serão abordadas a seguir.
Já trabalhou-se, neste texto, como o capitalismo precisou moldar a sua produção para
atender às necessidades de um mercado consumidor mais enxuto depois da Segunda Guerra
Mundial e como e porquê foi necessário flexibilizar a produção para atender nichos
específicos. Para completar, essa produção sob demanda ficou conhecida como Just in Time
(“apenas no tempo”, tradução nossa), porque ela veio para eliminar os grandes desperdícios
ocasionados por grandes estoques. E, já que houve uma redução na produção (a produção em
massa ficou de lado), diminuiu-se, também, funcionários e equipamentos. Estes
colaboradores que ainda permaneceram na empresa passaram a realizar mais de uma função,
e uma delas foi o controle de qualidade: os empregados, agora, conferiam o que eles próprios
produziam para que os erros pudessem ser diminuídos. Ainda em relação aos trabalhadores,
cita-se como parte do capitalismo flexível a sua qualificação constante, o cumprimento de
metas e a proatividade. Tudo isso, faz com que o trabalhador fique em vigília
ininterrupta ao longo da sua vida profissional, já que o pensamento de que sempre tem
alguém melhor do que ele é incessante. Isso, invariavelmente, gera adoecimentos
específicos deste modo de produção, os quais estão ligados, majoritariamente, à saúde
mental.
Outra importante característica do Toyotismo é a terceirização. Ela consiste na
contratação de uma empresa (e não de um funcionário devidamente registrado) para a
prestação de serviços. O que acontece é que esse serviço é temporário e, na maioria das
vezes, são os menos valorizados, os menos rentáveis, os que exigem um grau mínimo de
instrução e os mais perigosos. Por exemplo, o Governo do Estado de Goiás contrata, para
realizar a limpeza de seus prédios públicos uma empresa. Esta empresa contratará os
funcionários e os delegará uma função dentro dos edifícios. Por que não fazer um concurso
para a efetivação de faxineiros, já que eles ganhariam melhor, teriam plano de saúde
(IPASGO), teriam acesso a crédito consignado facilitado, e teriam o status de concursado?
É importante destacar que a terceirização é causada pelo incentivo ao
Empreendedorismo. A partir do momento em que o contingente empregado diminui
sistematicamente, quem não consegue ser reintegrado a uma outra empresa, cai no
informalismo e, ao passar do tempo, entra no processo de abrir um novo empreendimento.
Seja no setor de serviços ou no comércio, o empreendedorismo é outra característica do modo
de produção Toyotista e busca refugiar os desempregados do setor industrial.
Outra face importante do Capitalismo Flexível é a sua relação com conceitos mais
amplos de economia, como os monopólios, o capitalismo financeiro e o comércio exterior
(este muito atrelado ao surgimento de novas tecnologias). Esses três pontos surgiram no
contexto do Capitalismo Flexível, o qual assume também o nome de Capitalismo Financeiro
e Capitalismo dos Monopólios, conforme trabalhado em sala de aula.
Os monopólios são aquelas empresas que são detentoras de várias outras empresas e
dominam grande parte do mercado. A principal consequência disso é a não observância do
mercado concorrente em relação à política de preços e salários. E, já que os monopólios
empregam muitas pessoas em muitos lugares, eles acabam ditando as regras do que está
realmente dando lucro ou prejuízo dentro das próprias fábricas. O estudo disso, gera
demissões e a consequente terceirização, processo o qual já foi explicado.
Já o capitalismo financeiro surge como um problema muito grave dentro da estrutura
macroeconômica mundial. Por um lado, ele é uma alternativa melhor de investimento para
alguém que não queira abrir e gerenciar uma indústria ou um comércio; por outro, é uma das
causas do desemprego estrutural. É fácil de se entender que abrindo um negócio, geraria-se
mais renda, emprego e valor para a sociedade como uma só. O capital financeiro “rouba”
recursos monetários que geram mais valor agregado e em cadeia. Ele também surgiu no
contexto do Capitalismo Flexível.

Análise da matéria a partir da teoria


Casos de condições degradantes de trabalho, infelizmente, ainda são muito comuns no
Brasil. A matéria jornalística que será analisada traz vários exemplos das características do
capitalismo flexível, da produção toyotista na atualidade e os seus malefícios para o
trabalhador.
Uma das primeiras características observadas na matéria se trata da situação precária
e insalubre enfrentada pelos contratados no ambiente de trabalho. As condições de
insegurança enfrentadas por eles, sofrendo tanto agressões físicas quanto psicológicas,
trabalhando sem qualquer tipo de direito e em condições análogas à escravidão, uma vez que
sofriam agressões físicas, más condições de alojamento e descontos do seus salários que
anteriormente não tinham sido combinados, as comidas que recebiam muitas das vezes
estavam estragadas, trabalho quase que intermitente etc. Essas condições de trabalho
contribuem ainda mais para o adoecimento dos trabalhadores, seja física, nesse caso, doenças
pelas jornadas de trabalho intensas e quase ininterruptas e mental, relacionada a descrença do
trabalhador sobre a situação que se encontra, muitas das vezes buscado o álcool ou o
tabagismo como um refúgio para esses problemas.
Outro exemplo dessa precarização é a terceirização da atividade que esses
trabalhadores realizavam, uma vez que a empresa responsável por esses trabalhadores
prestava serviço de forma terceirizada para outras empresas e cooperativas. Esses
trabalhadores foram contratados por essa empresa terceirizada por tempo determinado através
de um contrato de trabalho. Os trabalhadores que foram recrutados e acabaram migraram da
Bahia (observamos aqui que essas empresas que prestam serviços a outra empresas buscam
pessoas principalmente em situação de desemprego, vulnerabilidade e menor grau de
alfabetização, com o intuito de controlar melhor essas pessoas por muitas das vezes elas não
saberem seus direitos ou aceitarem qualquer coisa por estarem em uma situação difícil
monetariamente) para trabalharem nas colheita no Rio Grande do Sul. Eles relatam que o
combinado era uma coisa, mas na prática era outra, uma vez que se depararam com as
péssimas condições do trabalho, percebendo então o quanto estavam sendo explorados, mas
como o medo de perder seus direitos acabam se submetendo àquela situação, trabalhando
muitas vezes até doentes. Nesse caso, observamos a flexibilização das relações contratuais na
organização do trabalho e como ela afeta, significamente e de forma negativa, o trabalhador.
As diferenças com a CLT, por exemplo, se assentam nos níveis salariais, nas jornadas mais
prolongadas, na intensidade do trabalho e afins.
A terceirização surge também como uma maneira das empresas se protegerem e
passarem os riscos de trabalhos mais perigosos ou como no caso analisado, de trabalhos
menos valorizados e mais pesados, livrando-se de cumprir e seguir as exigências trabalhistas
e legais, que passa a ser dever das terceirizadas. Na matéria, as vinícolas contratantes da
terceirizada dizem que desconheciam quaisquer atividades ilegais dela e da situação
degradante enfrentada pelos trabalhadores. Dessa forma, elas se livram da maioria das
responsabilidades, sejam elas legais ou de imagem, como no caso analisado, uma vez que a
maior preocupação dessas empresas e cooperativas, percebemos pela nota enviada por elas,
era talvez manchar sua imagem perante as pessoas que talvez deixariam de consumir seus
produtos. Além de acabarem jogando a maior parte da culpa na empresa terceirizada,
afirmando que não tinham ciência do que estava acontecendo, o que é justamente o problema
dessas empresas, já que eles possuíam uma responsabilidade subsidiária com esses
trabalhadores.
Por fim, vale destacar como essa flexibilização se mostra frente à falta de proteção ao
trabalhador no Brasil. Observamos que “Quanto mais frágil a legislação protetora do trabalho
e a organização sindical na localidade, maior o grau de precarização das condições de
trabalho, independentemente da “modernização” das linhas de produção ou dos ambientes de
trabalho como um todo” (PRAUN, apud, ANTUNES, 2018).

Considerações Finais
A partir dos temas e o da matéria trabalhados nesta atividade, é possível avaliar a sua
importância na nossa aprendizagem, pois podemos fazer um paralelo da teoria com a
realidade, o que torna, consideravelmente, mais fácil sua compreensão. Como futuros
administradores iremos nos deparar com quase tudo que foi trabalhado e, a partir dos
assuntos que abordamos, estaremos mais preparados e com um olhar mais crítico ao
empreendedorismo e à terceirização, por exemplo. Poderemos identificar de forma mais
rápida, dessa forma, possíveis adoecimentos no exercício da nossa profissão e desenvolver
processos que evitem o desenvolvimento de tais adoecimentos.
Os conceitos ministrados em classe e fixados pela matéria são de suma importância
no nosso cotidiano, uma vez que eles dão luz a diversos temas que são deixados de lado ou
até normalizados durante o dia-a-dia. Percebe-se, por exemplo, que o conceito de
terceirização enquanto consequência negativa do Capitalismo Flexível foi deixado de lado
pela contemporaneidade e assumiu-se uma imagem positiva ao ponto de as políticas
governamentais incentivarem tal ação.
Portanto, a produção deste texto foi de grande valia para nós, uma vez que ajudou-nos
a fixar o conteúdo da disciplina e melhorou a nossa visão crítica a respeito do capitalismo
moderno e como ele afeta o trabalhador atual.

Referências bibliográficas
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era
digital. - 1. ed. - São Paulo : Boitempo, 2018.
GUIMARÃES, Renata F. & GOULART, Iris B. Cenários contemporâneos do mundo do
trabalho. In SAMPAIO, Jader dos R. & GOULART, Íris B. (Org.).
O caso de trabalho análogo à escravidão em vinícolas no RS. DW.com, 2023 disponível em:
https://amp.dw.com/pt-br/o-que-se-sabe-sobre-caso-de-trabalho-an%C3%A1logo-%C3%A0-
escravid%C3%A3o-no-rs/a-64865707. Acesso em 10 de novembro de 2023.

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