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RAFAEL PENTEADO MANENTE

ATIVIDADE FORMATIVA–SEMINÁRIO DE FILOSOFIA SANTO CURA D’ARS


RESENHA DO LIVRO:
“LA PATERNIDAD ESPIRITUAL DEL SACERDOTE: un tesoro en vasos de barro” de JACQUES PHILIPPE

Resenha do livro argumentativo sobre os elementos que


formam a paternidade espiritual, com foco a paternidade
exercida pelo sacerdote.

Reitor: Pe. Frank Antônio de Almeida

SÃO PAULO
2022
O livro de Jacques Philippe é uma pequena reflexão sobre diversos aspectos da paternidade
espiritual. O foco do livro é a paternidade espiritual exercida pelo sacerdote, contudo, os conselhos
apresentados também podem ser úteis para todas as vocações que exijam semelhante paternidade.
Um dos primeiros pontos abordados por Philippe é a responsabilidade que vem embutida ao assumir
a posição de um pai. Para tal, é necessário ter consciência de nossas deficiências para que elas não roubem a
verdadeira paternidade que é devida ao outro. Sendo assim, elenca-se alguns dos pontos para se atentar ao
exercer a paternidade sacerdotal:

1. Estar presente: é importante que a prioridade de um pai seja seus filhos. Os demasiados
compromissos podem prejudicar a relação entre o sacerdote a as pessoas que precisam dele. E a
paternidade, antes de tudo, é uma presença. É claro que um pai não tem como estar presente
constantemente. Contudo, quando está presente, este está por inteiro: escuta e oferece total e
sincera atenção àqueles que o buscam.
2. A exigência desanimadora: o pai extremamente exigente que nunca está satisfeito pode suscitar um
sentimento de insuficiência no filho. A constante lembrança de seus erros e limitações, sem nunca
elogiar ou encorajar, pode fazer com que um pai exija mais do que Deus pede àquela pessoa.
3. Contentar-se em ser amigo: o lado oposto do pai exigente é o sacerdote que se contenta em ficar na
posição de amigo/colega, sem nunca se situar como pai. A amizade é algo essencial, contudo, não é
suficiente. Há a necessidade de ser algo a mais do que só mais um amigo na turma de jovens, é
preciso ter-lhes algo a dizer, uma sabedoria para lhes orientar e encorajar a viver o que Deus lhes
pede.
4. O pai “super-homem”: a falsa imagem de um homem completamente perfeito pode acabar gerando
um distanciamento dos filhos. Não há necessidade de colocar à vista todos os seus defeitos, todavia,
apresentar sinceramente sua própria luta e fragilidade pode colaborar para a imagem de um pai que
seja bom, forte e responsável, mas também, vulnerável como todo ser humano.

Todas essas possíveis deficiências de paternidade partem de um mesmo equívoco: pensamos que
somos nós mesmos que exercemos nossa paternidade. Contudo, um verdadeiro pai deixa-se ser conduzido
por Deus, ele não faz da pessoa o que ele quer, ele a ajuda a encontrar o que Deus quer para ela. Enquanto
sacerdote, “não sou chamado em primeiro lugar a realizar grandes obras, mas a ajudar a toda pessoa a
reconhecer e acolher o amor único que o Deus Pai tem por ela”. Nesse sentido, ser pai não é se impor ao
filho, mas, ao contrário, aceitar se diminuir, se apagar, para que Cristo cresça nele.

O guia para se viver uma boa paternidade está nas Bem-aventuranças. A primeira delas é a pobreza de
espírito: não se pode ser pai sem um radical despojo de si mesmo. Um pai não vive mais para si, mas para os
outros. Seu primeiro interesse não é mais o seu, mas o de seu filho. Um homem que se torna pai tem de
aprender a se submeter a essa nova e frágil vida que é colocada em suas mãos.

“Amar um filho tal como ele é, e ajudá-lo de maneira eficaz a crescer humana e espiritualmente, não é
uma tarefa fácil.” Sempre haverá um filho ou filha que nos fará lembrar de nossas limitações e nos pressiona
até às últimas defesas. Por consequência, ser um pai em desacordo com seus filhos pode ser uma
experiência muito humilhante às vezes. São essas experiências, no entanto, que nos revela a pobreza de
espírito: reconhecer que não podemos nos apoiar em nada, nem em nós mesmos, se não em Deus.
“Devemos sim usar todas as nossas capacidades humanas, mas o nosso último apoio é a nossa fé, a nossa
confiança absoluta na fidelidade e na misericórdia de Deus. Esse é o espírito da fé. Ver a mão de Deus em
tudo e repousar absolutamente nisso.”
Tendo isso em mente, podemos perceber o equívoco comum que fazemos quando alimentamos a
ideia de que fazer o bem aos outros nos confere algum direito sobre eles. Esse pensamento destrói qualquer
relação sincera, pois quebra a lógica de fazer por gratuidade, a lógica do amor. Em contraposição, quanto
mais pobre de espírito, quanto mais humildade e mansidão tiver, tanto mais sua palavra terá uma
verdadeira autoridade sobre seus filhos.

“Bem-aventurados os puros de coração” é outra exortação fundamental para a paternidade


espiritual. Um aspecto essencial da pureza de coração é o “relacionamento sem interesse”: amar o outro por
quem o outro é, não por qualquer benefício que se possa ganhar dele. Isso pressupõe um grande respeito:
um respeito pela identidade única e vocação particular de cada um. Respeitar a liberdade individual e o
tempo da Providência para aquela pessoa. Evitar toda manipulação e aceitar que talvez o caminho de Deus
para ela não seja o mesmo que o meu. Para tal, exige-se um longo processo de conversão e purificação:
“com frequência ficamos cegos pelo nosso amor próprio, nossa exigência de que a realidade seja conforme o
nosso querer.”

“Bem-aventurados os pacíficos”, essa é uma bem-aventurança profundamente enraizada na oração.


Com muita frequência, a adoração ao Santíssimo Sacramento é o meio mais seguro para recuperar a paz
perdida, o nosso coração agitado e inquieto é banhado com um pouco da paz do Céu. É comum, no
ministério sacerdotal, encontrar-se com pessoas com emoções muito fortes (medo, angústia, ira, amargura)
e é essa paz da oração que nos dá sabedoria para acolher essas pessoas. O pai do filho pródigo teve de
enfrentar a ira do filho mais velho e a dor do filho perdido. Sendo assim, um pai deve sempre ter empatia,
saber acolher e tocar os sofrimentos dos outros, e, para que todo esse sofrimento não o desestruture, ele
deve conservar uma paz, uma estabilidade interior, que só se consegue pela fé e pela vida de oração.

Em adição, é importante lembrar que o ministério sacerdotal pode ter várias formas diferentes. Não
há um modelo completamente único e cada sacerdote tem uma maneira específica de viver seu ministério e
paternidade. Todavia, há pontos que são essenciais para uma frutuosa paternidade espiritual.

Um deles, é a intercessão pelos fiéis. Essa é uma autêntica forma de ser pai: rezar por alguém é dar-
lhe a vida. Não podemos alcançar a todos, não podemos fazer todos virem a missa, não podemos convencer
a todos; mas sempre podemos rezar por todos e encomendar-lhes a Deus. E essa oração sempre dá frutos.
Não pelos méritos do sacerdote, mas porque Deus instituiu um pai como intercessor de seus filhos.

Um local privilegiado para ver os frutos de tal intercessão é, dentre outros, a direção espiritual.
Nesse local, faz-se muito necessária a pobreza de espírito: reconhecer que nem sempre terá grandes coisas a
dizer e que não terá rápidas soluções para todos os problemas apresentados. Deve-se, em primeiro lugar, se
manter humilde, falar na medida que a graça permitir, escutar a pessoa e rezar com ela.

Do modo semelhante, a pregação também exige tais virtudes. É uma grande alegria pregar quando
Deus proporciona a graça e a inspiração clara do que deve ser falado. Por outro lado, pode ser muito
desanimador e humilhante ter a sensação de estar aborrecendo aos seus ouvintes. Novamente, a solução
está na humildade e na vida de oração: “se somos sinceros em nosso desejo de comunicar a Palavra, ser
simples servidores do Evangelho, sem buscar êxito pessoal, mesmo que a pregação seja pobre, Deus saberá
administrá-la.”

Em conclusão, a obra de Jacques Phillippe é uma grande reflexão acerca de um pilar estrutural na
vida de um sacerdote, e de qualquer homem, que é a paternidade espiritual. Todo homem, de alguma
forma, é chamado a exercer uma paternidade, assim como toda mulher, de alguma forma, é chamada a
exercer uma maternidade. Essa paternidade, por sua vez, está sempre sob a Paternidade Divida e, por
consequência, deve ter um contínuo esforço para ser um instrumento de algo maior que si mesmo, ser dócil
e atento ao que te for inspirado pelo Espírito e não cair na ilusão de achar-se autossuficiente para assumir
essa responsabilidade. Vivendo o sacerdócio com grande humildade e uma dedicação constante à
conversão, não há porque duvidar das graças que Deus pode derramar através dessa paternidade.

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