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JULIANA ALVES DE OLIVEIRA

LUÍSA VIEIRA DOS SANTOS

HISTÓRIA CONSTITUCIONAL DE ISRAEL E SEUS DIREITOS FUNDAMENTAIS

BRASÍLIA
2023
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 1

2. A HISTÓRIA CONSTITUCIONAL DE ISRAEL 2

3. OS DIREITO FUNDAMENTAIS, REVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL E O


PAPEL DA SUPREMA CORTE 7

Comparação entre os Direitos Fundamentais de Israel e do Brasil 11

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 13

5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14
1

1. INTRODUÇÃO

O trabalho que se segue tem como objeto o conjunto de leis que regem os direitos civis
dos cidadãos israelenses. Isso porque, Israel não possui uma constituição formal, não há um
“documento denominado constituição1”, ou seja, uma carta que contenha os direitos e
garantias fundamentais fruto de assembleia constituinte2.
Como requisito para aprendizagem e formação da disciplina Teoria da Constituição e
Direitos Fundamentais ministrada pela professora e constitucionalista Christine Peter, no
segundo semestre do ano de 2023, na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais (FAJS) do
Centro de Ensino Unificado de Brasília (UniCEUB), este trabalho compõe o projeto
Constituições no Mundo o qual é coordenado pela referida professora desde 2010.
Diante dos atuais acontecimentos históricos, a reforma do poder judiciário3 israelense
proposta pelo primeiro-ministro de Israel aprovada em julho de 2023 e, a chamada Guerra
Israel-Hamas4 iniciada em 07 de outubro de 2023, busca-se estudar a história constitucional
de Israel e de seus direitos fundamentais, traçar um paralelo com os direitos fundamentais
brasileiros e entender se possuem alguma relação com algum desses conflitos.
A metodologia utilizada neste trabalho foi a revisão bibliográfica, com a utilização das
obras de três principais autores: Tatiana Waisberg, José António Pires Teles Pereira e Roberto
Ferreira da Silva. Para entender melhor a história, foi utilizado a leitura do livro produzido por
Bruce Ackerman “Constituições Revolucionárias”.
Este trabalho está dividido em dois tópicos: a história constitucional de Israel e seus
direitos fundamentais. Este segundo tem um subtópico que traça um paralelo entre os direitos
fundamentais israelenses da Lei Básica Dignidade Humana e Liberdade e os Direitos
Fundamentais brasileiro da Constituição de 1988.
Estudar a história constitucional de um país e seus direitos fundamentais não é só
estudar as leis. A Constituição escrita, e mesmo a falta dela, contém a impressão digital de um

1
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
108.
2
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
108.
3
ABREU, Pedro Vitor Serodio. Reforma judicial em Israel: uma mudança necessária ou uma ameaça à
democracia? Migalhas, julho de 2023. Disponível em <https://www.migalhas.com.br/depeso/390552/reforma-
judicial-em-israel>.
4
ISRAEL declara guerra após ataque do Hamas; conflito deixa mais de 500 mortos. Globo, outubro de 2023.
Disponível em< https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/10/07/israel-conflito-faixa-de-gaza-hamas.ghtml>.
2

povo, porque conta uma história, existe um motivo por trás de sua existência ou de sua
ausência. Como foi dito, Israel não possui uma Constituição escrita. Esse texto é um convite
ao leitor a tentar entender os motivos que culminaram nessa situação, a conhecer um pouco
sobre as fontes do direito israelense e sobre sua história.

2. A HISTÓRIA CONSTITUCIONAL DE ISRAEL

Em meados do século 73 d.C, os judeus foram expulsos pelos romanos da região que
era descrita como “Eretz Yisrael” ou “Terra de Israel”, obrigando o povo judeu a se dispersar
pela Europa, Ásia, África e América5. Diferentemente do conceito de Estado de Israel, a Terra
de Israel é uma região que, de acordo com a bíblia judaica, foi prometida por Deus aos
descendentes de Abraão6. Desde então, o povo judeu aspirava um retorno à essa terra e a
criação do Estado de Israel7.
Nesse contexto, surgiu o movimento nacionalista intitulado de “Sionistas”, fazendo
alusão a Sião, como uma reação à perca de identidade e a perseguição anti-semita aos judeus
da Europa Oriental8. Em 1897 ocorreu o Primeiro Congresso Sionista 9e definiu-se que, o
objetivo do movimento seria “garantir ao povo judeu um lar na Palestina assegurado pelo
direito público10”.
Porém, entre 1516 e 1917, a Palestina estava ocupada pelos turcos-otomano e, durante
a Primeira Guerra Mundial11, o Governo Britânico costurou um acordo com a comunidade
judaica através da Declaração da Balfour12, em que, caso obtivessem o apoio dos judeus para
vencer o exército turco-otomano, eles “facilitariam” o estabelecimento do Estado de Israel no
território da Palestina13.
Os ingleses conquistaram a Palestina e o sistema legal adotado foi uma mescla entre o
sistema otomano e as leis britânicas que duraram de 1922 a 194814. Durante esse período, os

5
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 213.
6
TERRA de Israel. Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Terra_de_Israel>. Acesso em: 15
nov. 2023.
7
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 213.
8
GOMES, Rejane Aura. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel. São Paulo, 2001, p. 11.
9
GOMES, Rejane Aura. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel. São Paulo, 2001, p. 12.
10
GOMES, Rejane Aura. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel. São Paulo, 2001, p. 13
11
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 214.
12
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 214.
13
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 214.
14
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 214.
3

colonos israelenses criaram sua “própria Assembleia Nacional de acordo com linhas gerais de
Westminster15” (base para o governo provisório e para a construção constitucional),
“departamentos semelhantes a Ministérios” e “a organização militar de defesa16”. Também já
tinham um chefe do Executivo Nacional, Ben-Gurion, que foi uma das lideranças políticas
sionistas que “orquestrou” a imigração de judeus para a Palestina17.
Em 1947, foi aprovada pela Assembleia geral da ONU via Resolução 181, a
Declaração de Independência do Estado de Israel na Palestina, que dispunha que, tanto Israel
quanto a Palestina, deveriam criar uma constituição via assembleia constituinte18. Em 14 de
maio de 1948, o Estado de Israel foi criado e, segundo Pereira (2007, p. 277), “já dispunha
instalados ou prontos a entrar em funcionamento” de todo “um conjunto de órgãos e
instituição” para compor a “acepção do conceito de Estado”, ou seja, povo, território e
soberania.
Após a independência de Israel, as leis britânicas e otomanas foram incorporadas às
leis jurídicas israelenses, denominadas de “Manifesto”. Em 19 de maio de 1948 foi editada
uma “miniconstituição”, que continha também disposições do “Manifesto”, denominada de
“Ordenanças sobre a Organização do Governo e a Lei 1948” que dispunha sobre “o governo,
as leis, o sistema e cortes judiciais, as forças armadas, o orçamento etc.”19
Em 15 de setembro de 1948, o Supremo Tribunal de Israel (STI) foi criado20, somente
quatro meses após a independência. Segundo Pereira (2007, p. 279), não havia clima propício
para priorizar o sistema judicial. Em meio aos ataques árabes, o Conselho Provisório anunciou
uma proposta para que a Assembleia não concentrasse seus esforços em uma constituição21.
Doze dias depois, em 25 de janeiro de 1949, ocorreram as primeiras eleições e Ben-Gurion foi
eleito o primeiro-ministro do Estado de Israel.22

15
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 513.
.
16
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 277.
17
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 518-519.
18
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 215.
19
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 215.
20
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 278.
21
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 520.
22
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 520.
4

Em fevereiro de 1949, Ben-Gurion promulgou a “Lei de Transição de 1949” e


denominou a Assembleia como “Knesset”23. Essa Lei contrariou ao previsto na Declaração de
Independência, abandonando a ideia de uma construção da Constituição. Esta lei concedia ao
parlamento poderes ao estilo do modelo britânico e foi visto como uma traição pelos críticos
sionistas e pelos partidos de oposição24. Um membro do próprio partido de Ben-Gurion
chegou a proferir o seguinte discurso na Câmara25:
“O que, em essência, é uma Constituição? Uma constituição é, antes de tudo,
a expressão da vontade comum das pessoas que vivem juntas sob uma
autoridade comum. A constituição estabelece o arcabouço e os princípios
segundo os quais as pessoas desejam se comprometer e construir suas vidas
juntas. (...) Uma constituição não é o maior instrumento para colocar o
Estado no coração do soldado?”.
Vários são os motivos que levaram ao retardamento pelo Parlamento para a criação da
Constituição. Waisberg (2008, p. 109) aponta como causa imediata “a instabilidade gerada
pelas sucessivas guerras, 1948, 1956, 1967 e 1973”. Também, existia uma desconfiança por
parte do primeiro-ministro de que, o poder político viesse a ser fiscalizado pelo poder
judiciário26 ou então que ele pudesse perder o seu poder27. Essa desconfiança contou com o
apoio do Partido Nacional Religioso e da ortodoxia religiosa, pois acreditavam que Israel já
possuía uma “Constituição feita por Deus28”, a sagrada Torah.
9Como uma medida para apaziguar as divergências entre os parlamentares, pois uns
queriam cumprir a determinação da Declaração de Independência e outros prefeririam manter
um “governo ao estilo de Westminster”, em junho de 1950, com apenas 50 votos, foi
aprovada a Resolução Harari. Ao invés de criarem uma Constituição, o Knesset passaria a
promulgar Leis Básicas29, assim proposto30:

23
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 216.
24
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 520-523.
25
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 529.
26
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 281.
27
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 532.
28
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 281.
29
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 531.
5

"O Primeiro Knesset confere ao Comitê de Constituição, direito e justiça a


preparação da Constituição proposta para o Estado. A Constituição será feita
por meio de capítulos, cada um desses constituirá uma lei básica em
separado. Os capítulos serão levados ao Knesset, quando o Comitê
completar seu trabalho, e todos os capítulos conjuntamente constituirão a
Constituição do Estado.”
A ideia era a de que, as leis seriam criadas de acordo com os problemas que viriam a
surgir, gerando princípios e codificação a partir do debate parlamentar. E assim, as Leis
Básicas formariam o corpo de uma Constituição. No entanto, essa Resolução reduziu o papel
da Constituição em apenas um compromisso para o futuro31.
Em 12 de fevereiro de 1958, foi promulgada “O Knesset”, como a primeira Lei Básica
de Israel, composta por 46 capítulos32. Ela define Jerusalém como o local sede do
parlamento, composto por cento e vinte membros eleitos pelo voto direto e de forma secreta
para mandados de quatro anos. O Knesset também dispõe sobre o quórum mínimo para
aprovação de uma decisão, que é a de maioria dos participantes na votação.
Desde então, mais 10 Leis Básicas 33foram promulgadas:
a) Terras de Israel (1960): Define o conceito de terrenos e proíbe a venda ou transferência
de terras de propriedade de Israel (90% do território);
b) O Presidente do Estado (1964, revisada em 1992 e 2001): Dispõe que o presidente é o
chefe de Estado, suas funções e competências. Terá residência em Jerusalém, será
eleito por voto secreto pela maioria simples do Knesset por setes anos e terá apenas
um mandato.
c) O Governo (1968, revisada em 1992 e 2001): Dispõe que o Governo é o poder
executivo do Estado, com sede em Jerusalém e define sua composição com Primeiro-
Ministro e outros Ministros subordinados a este, suas competências e atribuições.

30
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
113.
31
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 532.
32
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
113.
33
CONSTITUTE Project. Disponível em:< https://www.constituteproject.org/constitution/Israel_2013>. Acesso
em: 15 nov. 2023.
6

d) A Economia do Estado (1975): Dispõe sobre os impostos, empréstimos compulsórios,


taxas e sobre o orçamento, que deve ser submetido ao Knesset.
e) As Forças de Defesa de Israel (1976): Dispõe que o Exército estará sobre
responsabilidade do Ministro da Defesa, será do Estado e estará subordinado à
autoridade do Governo;
f) Jerusalém, Capital de Israel (1980): Define Jerusalém como a capital de Israel e como
sede do Presidente do Estado, do Knesset, do Governo e do Supremo Tribunal.
g) O Judiciário (1984): Dispõe sobre a quantidade de tributais, sua organização e
atribuições. Para a eleição de um juiz do Tribunal Supremo, será formada uma
comissão composta por nove membros: o Presidente do Supremo Tribunal, dois
outros juízes dessa corte, o Ministro da Justiça (sendo este o presidente do comitê) e
outro Ministro designado pelo Governo, dois membros do Knesset e dois
representantes da Câmara de Advogados eleitos pelo Conselho Nacional da Câmara
Nacional.
h) O Controlador do Estado (1988): Dispõe que a auditoria e fiscalização do do Estado,
sua economia, finanças, obrigações e a administração, será executada pela
Controladoria do Estado. Será escolhido pelo Knesset e seu mandato será de sete
anos.
i) Dignidade Humana e Liberdade (1992): Tem como objetivo a proteção da dignidade e
as liberdades humanas. Dispõe também sobre as liberdades e a privacidade.
j) Liberdade de Ocupação (1992, revisada em 1994): Possui como objetivo proteger a
liberdade dos cidadãos israelenses escolherem sua ocupação, profissão ou comércio.
Desde a criação do Estado de Israel, o direito israelense tem sido influenciado pelos
direitos alemão, sueco, francês, americano e quase todas as leis britânicas vem sendo
modificadas34. Além disso, segundo Klein (2014, p. 759) “o direito israelense reconhece
também as leis e os pactos internacionais de que o governo do Estado de Israel tomou parte e
assinou”, como por exemplo, as normas do direito internacional, a Convenção de Haia de
1980 e a Convenção de Genebra.
Segundo Silva (2010, p. 219), as Leis Liberdade Humana e Dignidade e “O Governo”
foram iniciativas dos membros do Knesset, já o restante das Leis Básicas, exceto a Lei “O
Knesset” proposta pela Comissão, foram de iniciativa do Poder Executivo. O autor também

34
KLEIN, Mário Menachem. Panorama do Direito de Israel. Revista Faculdade Direito UFMG, Belo Horizonte,
n. 65, 2014, p. 758.
7

afirma que, “à medida que se esgota a necessidade de aprovação de novas Leis Básicas, no
Knesset, desde maio de 2003, a Comissão de Constituição vem renovando o compromisso da
Resolução Harari de redigir uma proposta de Constituição”.
O direito Israelense se divide em três grupos de legislação 35: A Primária ou Formal
(principal fonte do direito em Israel), a Secundária e a de Emergência. Esse sistema de divisão
foi aprovado como uma Lei Ordinária “Fontes Judiciais de 1980”. As Leis Básicas, as leis do
Conselho Temporário do Estado e as leis britânicas que não foram revogadas são classificadas
como Primárias. Os dispositivos emitidos pelo Poder Executivo, municípios e pelas Forças
Armadas são Secundárias. A de Emergência são aquelas adotadas durante o estado de defesa.
Outras fontes do direito são as jurisprudências, que são as deliberações emitidas pelo
Poder Judiciário. Na ausência de leis ou jurisprudência, o magistrado pode fundamentar sua
deliberação com base nos “valores morais inscritos na Declaração de Independência de
194836”. Segundo Wainsberg (2008, p. 108), essa Declaração “foi a força motriz que
impulsionou o ativismo judicial”.
Uma das principais críticas à Resolução Harari estão no fato de que, não ficou
especificado como seria feito o controle de constitucionalidade37, pois existia um acúmulo dos
“Poderes Legislativo e Constituinte pelo Knesset38”. Diante disso, segundo Waisberg (2008,
p. 108), coube a Suprema Corte assumir um papel de “guardiã dos valores democráticos do
Estado, com ênfase na proteção dos direitos humanos”, que ficou conhecida como
“Revolução Constitucional”.

3. OS DIREITO FUNDAMENTAIS, REVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL E O


PAPEL DA SUPREMA CORTE

Em 1953, até então, nenhuma Lei Básica havia sido promulgada e, a Suprema Corte,
pela primeira vez, interfere indiretamente no Poder Legislativo39 interferindo nos atos do

35
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 221.
36
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 221.
37
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 227.
38
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
109.
39
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
123.
8

Poder Executivo autorizados por Lei. O Ministro do interior havia ordenado a suspensão de
uma publicação de dois jornais. A Suprema Corte, evocando ao Princípio do Direito à
Liberdade de Expressão40 e da razoabilidade41 e se espelhando no modelo das democracias
liberais 42com base no direito comparado, decidiu em favor dos jornais.
Na Lei Básica “O Knesset” de 1958 foi introduzido o artigo 4º que especifica o
quórum mínimo para aprovação de uma lei. Foi conhecido como o primeiro controle de
constitucionalidade43. Em 1969, a lei de financiamento de Partidos eleitorais foi aprovada 44

sem respeitar o quórum mínimo exigido no artigo dessa Lei e, a Suprema Corte se posicionou
contrária ao dispositivo, fixando o entendimento de que, há uma “estrutura normativa
superior45”.
Tanto a liberdade de expressão quanto o ‘Princípio de hierarquia entre as leis” não
eram princípios formais. Segundo Wainsberg (2008, p. 126) houve “a evocação de princípios
orais a fim de garantir a coerência do regime democrático”, que viria a impactar a Carta de
direitos e garantias fundamentais.
O Partido Trabalhista de Ben-Gurion dirigiu o país até 197746, o que foi gerando um
desgaste institucional e um anseio por uma reforma política47. Esse período marca a ascensão

40
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
120.
41
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
122.
42
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
123.
43
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
123.
44
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
124.
45
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
126.
46
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 293.
47
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 295.
9

da direita nacionalista48. Entre elas a escolha do chefe de Estado, que deixaria de ser o
primeiro-ministro eleito pelo Knesset para uma presidência eleita pelo povo49.
Ackerman (2002, p. 545) afirma que esse debate acerca da presidência “apagou” a
discussão acerca da Lei da Dignidade Humana. E, em março de 1992, com um quórum de
apenas 44%, por 32 a 21, o 13º Knesset aprovou duas Leis Fundamentais: a Lei Básica
Dignidade Humana e Liberdade e a Lei Básica Liberdade e Ocupação. Com a aprovação
dessas duas Leis, marca-se o início da “Revolução Constitucional50”, intitulada assim pelo
presidente do STI, Aharon Barak, naquela época.
Pereira (2007, p. 295) afirma que:
“Estas, não obstante, tiveram o efeito de fornecer ao STI um instrumento de
aprofundamento da judicial review, até aí exercida numa base algo precária,
abrindo novas possibilidades de intervenção ao Tribunal”.
Barak, em um artigo de 1997, chega a afirmar:
“Uma lei simples do Knesset, não mais poderá infringir esses direitos, a não
ser que preencha o requerimento dessas Leis Básicas ("clausula de
limitação"). Assim, nos tornamos uma democracia constitucional. Nos
juntamos a grupo de nações iluminadas pela democracia, em que direitos
humanos, ganharam força constitucional, acima das leis simples. Similar aos
Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e outros Países
ocidentais, nós agora temos uma defesa constitucional dos direitos humanos.
Nós também temos uma constituição escrita" (BARAK apud WAISBERG,
2008, p. 131).
A afirmação de Barak não é um consenso. Apesar de Israel possuir um “corpo
constitucional51”, para Silva (2010, p. 223), “carecem de uma norma suprema e intransponível
que as submeta”. Além do que, questiona-se a legitimidade52 do poder constituinte da

48
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 290.
49
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 545-546.
50
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
129.
51
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 230.
52
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 298.
10

Suprema Corte, tanto pelo Knesset, quanto pela sociedade53, ao mesmo tempo que, possuem
um dos melhores percentuais de aprovação pelas pesquisas de opinião.
Desde então, a Suprema Corte de Israel assumiu o controle de inconstitucionalidade54
e invalida Leis do Knesset que contrariam aos princípios das leis de 1992. O Tribunal também
já “desafiou” a ortodoxia em matérias de discriminação religiosa ou de orientação sexual55 e,
proibiu o uso de tortura em interrogatórios56 de suspeitos de atentados terroristas.
Em julho de 2023, o atual presidente de Israel, Benjamin Netanyahu propôs57 o fim da
“cláusula de razoabilidade”, que é um princípio utilizado pela Suprema Corte para anular
decisões do governo consideradas irrazoáveis. A medida provocou diversos protestos pelo
país. Levin, Ministro da Justiça, afirmou que “Demos o primeiro passo em um processo
histórico para corrigir o sistema judicial58." Em contrapartida, a Suprema Corte prepara59 uma
votação acerca do tema.
As tentativas60 de ser elaborar uma Constituição para Israel ainda permanecem.
Durante todos esses anos, o Knesset vem recebendo algumas propostas de organizações não-
governamentais como o Instituto de Democracia de Israel – IDI, Estratégia Sionista,
Movimento Progressista e Centro de Ação Religiosa pelo Judaísmo de Israel. A proposta
elaborada pelo IDI é multicultural, contendo “líderes das comunidades representativas dos
direitos femininos, ativistas sociais, árabes e ultra-ortodoxos, veteranos israelenses, novos
imigrantes e especialistas de todas as universidades do país”.

53
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
129.
54
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
129.
55
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 302.
56
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 302.
57
ABREU, Pedro Vitor Serodio. Reforma judicial em Israel: uma mudança necessária ou uma ameaça à
democracia? Migalhas, julho de 2023. Disponível em <https://www.migalhas.com.br/depeso/390552/reforma-
judicial-em-israel>.
58
ISRAEL: Como é a nova lei que tira poder da Suprema Corte? BBC News, 2023. Disponível em: <
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cyrmymgkz51o>.
59
KRESCH, Daniela. Suprema Corte de Israel vota cláusula de razoabilidade. Expresso Israel 92, 2023.
60
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 227.
11

Outras tentativas61 também ocorreram, uma em junho de 2000, elaborada por Eliezer
Cohen, membro do Knesset, mas só 44 parlamentares apoiaram a proposta e outra em
novembro de 2000 para a criação de Corte Constitucional, novamente apoiada por somente 52
membros. Assim também, em 2007, obteve rejeição a proposta do Ministro da Justiça para
institucionalizar à Suprema Corte o poder de declarar a inconstitucionalidade das leis.

Comparação entre os Direitos Fundamentais de Israel e do Brasil

Assim como em Israel, a Suprema Corte do Brasil também sofreu uma investida62 do
Poder Legislativo brasileiro. O Senado brasileiro propôs uma PEC para limitar decisões
monocráticas e restringir os mandatos a 15 anos. Tanto em Israel quanto no Brasil, a medida
foi vista como um ataque à democracia63.
Diante desses fatos históricos em comum entre os dois países, abaixo busca-se
demonstrar um detalhamento da Lei Básica Dignidade Humana e Liberdade, traçar um
paralelo com os princípios fundamentais da Carta Magna brasileira de 198864 e ver o que
esses dois países também tem em comum em matéria de direitos fundamentais.

LEI BÁSICA. DIGNIDADE HUMANA E CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA


LIBERDADE (1992) FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
1. Princípios básicos (alteração 1) Dos Princípios Fundamentais
Os direitos humanos fundamentais em Israel
baseiam-se no reconhecimento do valor do
ser humano, na santidade da vida humana e
Art. 1º A República Federativa do Brasil,
no princípio de que todas as pessoas são
formada pela união indissolúvel dos Estados e
livres; estes direitos serão defendidos no
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
espírito dos princípios estabelecidos na
em Estado Democrático de Direito e tem
Declaração do Estabelecimento do Estado de
como fundamentos:
Israel.

61
LEAL, Saul Tourinho. O reconhecimento da dignidade humana em Israel. Migalhas, 2023. Disponível em:
<https://www.migalhas.com.br/coluna/conversa-constitucional/272279/o-reconhecimento-da-dignidade-
humana-em-israel>.
62
PEC que limite decisões monocráticas no STF passa por 1ª sessão de discussão. Agência Senado, 2023.
Disponível em: < https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/10/24/pec-que-limita-decisoes-
monocraticas-no-stf-passa-por-1a-sessao-de-discussao>.
63
FERREIRA, Marcus Vinicius. Artigo: Os ataques à democracia em Israel e no Brasil. Correio Braziliense,
2023. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2023/07/5112923-os-ataques-a-
democracia-em-israel-e-no-brasil.html>.
64
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
12

1A. Objetivo (Alteração 1)


O objetivo desta Lei Básica é proteger a Art. 1º III - a dignidade da pessoa humana;/
dignidade e a liberdade humanas, a fim de Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
estabelecer numa Lei Básica os valores do distinção de qualquer natureza, garantindo-se
Estado de Israel como um Estado judeu e aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
democrático. no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
2. Preservação da vida, do corpo e da
dignidade
Não haverá violação da vida, do corpo ou da Art. 1º A República Federativa do Brasil,
dignidade de qualquer pessoa como tal. formada pela união indissolúvel dos Estados
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos: III - a dignidade da
pessoa humana;
3. Proteção de propriedade
Não haverá violação da propriedade de uma Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
pessoa. distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
4. Proteção da vida, do corpo e da
dignidade
Todas as pessoas têm direito à proteção da Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
sua vida, corpo e dignidade. distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
5. Liberdade pessoal
Não haverá privação ou restrição da Art. 5º XLVI - a lei regulará a
liberdade de uma pessoa por prisão, individualização da pena e adotará, entre
detenção, extradição ou de outra forma. outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;


6. Saindo e entrando em Israel
1. Todas as pessoas são livres para deixar XV - é livre a locomoção no território
Israel. nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele
entrar, permanecer ou dele sair com seus
bens;
13

2. Todo cidadão israelense tem o direito de


entrar em Israel vindo do exterior.

7. Privacidade
1. Todas as pessoas têm direito à Art. 5º X - são invioláveis a intimidade, a
privacidade e à intimidade. vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
2. Não será permitida a entrada nas
dependências privadas de quem não tenha
consentido.
3. Nenhuma revista será realizada nas
dependências privadas de uma pessoa, nem
no corpo ou objetos pessoais.
4. Não haverá violação da confidencialidade
da conversa, ou dos escritos ou registros de
uma pessoa.
8. Violação de direitos (alteração 1)
Não haverá violação dos direitos previstos Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
nesta Lei Básica, exceto por uma lei distinção de qualquer natureza, garantindo-se
condizente com os valores do Estado de aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
Israel, promulgada para um propósito no País a inviolabilidade do direito à vida, à
adequado e em uma extensão não maior do liberdade, à igualdade, à segurança e à
que a necessária, ou por regulamento propriedade.
promulgado em virtude de autorização
expressa em tal lei.
Fonte: Elaboração própria

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tantas adversidades, Israel foi bem-sucedido em se estabelecer como um


Estado soberano. Mas um de seus principais líderes fundadores, com apoio da maioria do
Parlamento, “sucumbiu” ao poder, ferindo o preceito de pesos e contrapesos proposto por
Montesquieau, que hoje serve como base para uma democracia. Como escreveu Ackerman
(2002), “a dinâmica revolucionária, de maneira característica, leva os atores a cruzar a linha
positivista de maneiras não convencionais65”.
A sensação que se pese é a de que, faltou tão pouco para a instituição de uma Carta
Magna em Israel. Mesmo assim, a promulgação da Lei Básica da Dignidade e da Liberdade
representa um avanço. Avanço este que, só foi possível após uma transição de poder. Em que,

65
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 535.
14

finalmente, os partidos de oposição se tornaram a maioria. Importante lição para todos os


países, em que, a troca de governos se mostra necessária.
Mesmo assim, foi uma Lei aprovada com pouquíssimos votos. Ackerman chama isso
de “expressão débil de soberania popular66”. Ele também levanta um outro ponto importante,
Israel perdeu a chance de promulgar uma Constituição fundamentada nos direitos e na
dignidade humana como um pilar, um exemplo e uma resposta diante das atrocidades do
Holocausto.
Nesse sentido, os constituintes brasileiros foram mais “espertos” ao incluir na
Constituição brasileira todos os direitos fundamentais quanto pôde, após terem presenciado o
fim de um período tão traumático para a democracia que foi a Ditadura Militar de 1964. Há de
se destacar também o papel que as Supremas Corte, tanto brasileira quanto israelense, vem
desempenhando como garantidoras dos direitos fundamentais.
O caso de Israel é um excelente exemplo para a aplicação dos pressupostos de Konrad
Hesse, na qual, a Constituição só pode se consolidar diante das condições certas, dependem
do esforço coletivo, ou seja, dependem da “vontade de Constituição” e são necessários limites
ao poder de mutação constitucional. Ele ainda alerta para o caso de que, se não for possível
preservar a razoabilidade de sentido texto da norma, deve-se tratar esse momento como
ruptura institucional.
Ao término, chegamos à seguinte conclusão: Israel não possui uma Constituição
escrita. Mas ela existe e está viva no imaginário israelense. Ou seja, mesmo que muitos
tentem impedir, a ideia de uma Constituição não vai morrer, pois ela representa um avanço no
marco civilizatório impossível de se apagar. Mais uma vez sua criação ficará para o futuro e a
história irá nos contar.

5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Pedro Vitor Serodio. Reforma judicial em Israel: uma mudança necessária ou uma
ameaça à democracia? Migalhas, julho de 2023. Disponível em
<https://www.migalhas.com.br/depeso/390552/reforma-judicial-em-israel>.
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de
Direito. no 1. São Paulo: editora Contracorrente, 2022.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

66
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 547.
15

CONSTITUTE Project. Disponível em:<


https://www.constituteproject.org/constitution/Israel_2013>. Acesso em: 15 nov. 2023.
ISRAEL: Como é a nova lei que tira poder da Suprema Corte? BBC News, 2023. Disponível
em: < https://www.bbc.com/portuguese/articles/cyrmymgkz51o>.
ISRAEL declara guerra após ataque do Hamas; conflito deixa mais de 500 mortos. Globo,
outubro de 2023. Disponível em< https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/10/07/israel-
conflito-faixa-de-gaza-hamas.ghtml>.
GOMES, Rejane Aura. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel. São Paulo, 2001, p.
11.
KLEIN, Mário Menachem. Panorama do Direito de Israel. Revista Faculdade Direito UFMG,
Belo Horizonte, n. 65, 2014.
KRESCH, Daniela. Suprema Corte de Israel vota cláusula de razoabilidade. Expresso Israel
92, 2023.
LEAL, Saul Tourinho. O reconhecimento da dignidade humana em Israel. Migalhas, 2023.
Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/coluna/conversa-constitucional/272279/o-
reconhecimento-da-dignidade-humana-em-israel>.
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a
“Revolução Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de
junho de 2007.
PEC que limite decisões monocráticas no STF passa por 1ª sessão de discussão. Agência
Senado, 2023. Disponível em: <
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/10/24/pec-que-limita-decisoes-
monocraticas-no-stf-passa-por-1a-sessao-de-discussao>.
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p
213.
TERRA de Israel. Wikipedia. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Terra_de_Israel>. Acesso em: 15 nov. 2023.
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução
Constitucional e a Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito
Constitucional, 11 de junho de 2008.

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