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BRASÍLIA
2023
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 1
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 13
5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14
1
1. INTRODUÇÃO
O trabalho que se segue tem como objeto o conjunto de leis que regem os direitos civis
dos cidadãos israelenses. Isso porque, Israel não possui uma constituição formal, não há um
“documento denominado constituição1”, ou seja, uma carta que contenha os direitos e
garantias fundamentais fruto de assembleia constituinte2.
Como requisito para aprendizagem e formação da disciplina Teoria da Constituição e
Direitos Fundamentais ministrada pela professora e constitucionalista Christine Peter, no
segundo semestre do ano de 2023, na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais (FAJS) do
Centro de Ensino Unificado de Brasília (UniCEUB), este trabalho compõe o projeto
Constituições no Mundo o qual é coordenado pela referida professora desde 2010.
Diante dos atuais acontecimentos históricos, a reforma do poder judiciário3 israelense
proposta pelo primeiro-ministro de Israel aprovada em julho de 2023 e, a chamada Guerra
Israel-Hamas4 iniciada em 07 de outubro de 2023, busca-se estudar a história constitucional
de Israel e de seus direitos fundamentais, traçar um paralelo com os direitos fundamentais
brasileiros e entender se possuem alguma relação com algum desses conflitos.
A metodologia utilizada neste trabalho foi a revisão bibliográfica, com a utilização das
obras de três principais autores: Tatiana Waisberg, José António Pires Teles Pereira e Roberto
Ferreira da Silva. Para entender melhor a história, foi utilizado a leitura do livro produzido por
Bruce Ackerman “Constituições Revolucionárias”.
Este trabalho está dividido em dois tópicos: a história constitucional de Israel e seus
direitos fundamentais. Este segundo tem um subtópico que traça um paralelo entre os direitos
fundamentais israelenses da Lei Básica Dignidade Humana e Liberdade e os Direitos
Fundamentais brasileiro da Constituição de 1988.
Estudar a história constitucional de um país e seus direitos fundamentais não é só
estudar as leis. A Constituição escrita, e mesmo a falta dela, contém a impressão digital de um
1
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
108.
2
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
108.
3
ABREU, Pedro Vitor Serodio. Reforma judicial em Israel: uma mudança necessária ou uma ameaça à
democracia? Migalhas, julho de 2023. Disponível em <https://www.migalhas.com.br/depeso/390552/reforma-
judicial-em-israel>.
4
ISRAEL declara guerra após ataque do Hamas; conflito deixa mais de 500 mortos. Globo, outubro de 2023.
Disponível em< https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/10/07/israel-conflito-faixa-de-gaza-hamas.ghtml>.
2
povo, porque conta uma história, existe um motivo por trás de sua existência ou de sua
ausência. Como foi dito, Israel não possui uma Constituição escrita. Esse texto é um convite
ao leitor a tentar entender os motivos que culminaram nessa situação, a conhecer um pouco
sobre as fontes do direito israelense e sobre sua história.
Em meados do século 73 d.C, os judeus foram expulsos pelos romanos da região que
era descrita como “Eretz Yisrael” ou “Terra de Israel”, obrigando o povo judeu a se dispersar
pela Europa, Ásia, África e América5. Diferentemente do conceito de Estado de Israel, a Terra
de Israel é uma região que, de acordo com a bíblia judaica, foi prometida por Deus aos
descendentes de Abraão6. Desde então, o povo judeu aspirava um retorno à essa terra e a
criação do Estado de Israel7.
Nesse contexto, surgiu o movimento nacionalista intitulado de “Sionistas”, fazendo
alusão a Sião, como uma reação à perca de identidade e a perseguição anti-semita aos judeus
da Europa Oriental8. Em 1897 ocorreu o Primeiro Congresso Sionista 9e definiu-se que, o
objetivo do movimento seria “garantir ao povo judeu um lar na Palestina assegurado pelo
direito público10”.
Porém, entre 1516 e 1917, a Palestina estava ocupada pelos turcos-otomano e, durante
a Primeira Guerra Mundial11, o Governo Britânico costurou um acordo com a comunidade
judaica através da Declaração da Balfour12, em que, caso obtivessem o apoio dos judeus para
vencer o exército turco-otomano, eles “facilitariam” o estabelecimento do Estado de Israel no
território da Palestina13.
Os ingleses conquistaram a Palestina e o sistema legal adotado foi uma mescla entre o
sistema otomano e as leis britânicas que duraram de 1922 a 194814. Durante esse período, os
5
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 213.
6
TERRA de Israel. Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Terra_de_Israel>. Acesso em: 15
nov. 2023.
7
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 213.
8
GOMES, Rejane Aura. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel. São Paulo, 2001, p. 11.
9
GOMES, Rejane Aura. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel. São Paulo, 2001, p. 12.
10
GOMES, Rejane Aura. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel. São Paulo, 2001, p. 13
11
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 214.
12
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 214.
13
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 214.
14
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 214.
3
colonos israelenses criaram sua “própria Assembleia Nacional de acordo com linhas gerais de
Westminster15” (base para o governo provisório e para a construção constitucional),
“departamentos semelhantes a Ministérios” e “a organização militar de defesa16”. Também já
tinham um chefe do Executivo Nacional, Ben-Gurion, que foi uma das lideranças políticas
sionistas que “orquestrou” a imigração de judeus para a Palestina17.
Em 1947, foi aprovada pela Assembleia geral da ONU via Resolução 181, a
Declaração de Independência do Estado de Israel na Palestina, que dispunha que, tanto Israel
quanto a Palestina, deveriam criar uma constituição via assembleia constituinte18. Em 14 de
maio de 1948, o Estado de Israel foi criado e, segundo Pereira (2007, p. 277), “já dispunha
instalados ou prontos a entrar em funcionamento” de todo “um conjunto de órgãos e
instituição” para compor a “acepção do conceito de Estado”, ou seja, povo, território e
soberania.
Após a independência de Israel, as leis britânicas e otomanas foram incorporadas às
leis jurídicas israelenses, denominadas de “Manifesto”. Em 19 de maio de 1948 foi editada
uma “miniconstituição”, que continha também disposições do “Manifesto”, denominada de
“Ordenanças sobre a Organização do Governo e a Lei 1948” que dispunha sobre “o governo,
as leis, o sistema e cortes judiciais, as forças armadas, o orçamento etc.”19
Em 15 de setembro de 1948, o Supremo Tribunal de Israel (STI) foi criado20, somente
quatro meses após a independência. Segundo Pereira (2007, p. 279), não havia clima propício
para priorizar o sistema judicial. Em meio aos ataques árabes, o Conselho Provisório anunciou
uma proposta para que a Assembleia não concentrasse seus esforços em uma constituição21.
Doze dias depois, em 25 de janeiro de 1949, ocorreram as primeiras eleições e Ben-Gurion foi
eleito o primeiro-ministro do Estado de Israel.22
15
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 513.
.
16
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 277.
17
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 518-519.
18
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 215.
19
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 215.
20
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 278.
21
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 520.
22
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 520.
4
23
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 216.
24
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 520-523.
25
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 529.
26
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 281.
27
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 532.
28
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 281.
29
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 531.
5
30
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
113.
31
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 532.
32
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
113.
33
CONSTITUTE Project. Disponível em:< https://www.constituteproject.org/constitution/Israel_2013>. Acesso
em: 15 nov. 2023.
6
34
KLEIN, Mário Menachem. Panorama do Direito de Israel. Revista Faculdade Direito UFMG, Belo Horizonte,
n. 65, 2014, p. 758.
7
afirma que, “à medida que se esgota a necessidade de aprovação de novas Leis Básicas, no
Knesset, desde maio de 2003, a Comissão de Constituição vem renovando o compromisso da
Resolução Harari de redigir uma proposta de Constituição”.
O direito Israelense se divide em três grupos de legislação 35: A Primária ou Formal
(principal fonte do direito em Israel), a Secundária e a de Emergência. Esse sistema de divisão
foi aprovado como uma Lei Ordinária “Fontes Judiciais de 1980”. As Leis Básicas, as leis do
Conselho Temporário do Estado e as leis britânicas que não foram revogadas são classificadas
como Primárias. Os dispositivos emitidos pelo Poder Executivo, municípios e pelas Forças
Armadas são Secundárias. A de Emergência são aquelas adotadas durante o estado de defesa.
Outras fontes do direito são as jurisprudências, que são as deliberações emitidas pelo
Poder Judiciário. Na ausência de leis ou jurisprudência, o magistrado pode fundamentar sua
deliberação com base nos “valores morais inscritos na Declaração de Independência de
194836”. Segundo Wainsberg (2008, p. 108), essa Declaração “foi a força motriz que
impulsionou o ativismo judicial”.
Uma das principais críticas à Resolução Harari estão no fato de que, não ficou
especificado como seria feito o controle de constitucionalidade37, pois existia um acúmulo dos
“Poderes Legislativo e Constituinte pelo Knesset38”. Diante disso, segundo Waisberg (2008,
p. 108), coube a Suprema Corte assumir um papel de “guardiã dos valores democráticos do
Estado, com ênfase na proteção dos direitos humanos”, que ficou conhecida como
“Revolução Constitucional”.
Em 1953, até então, nenhuma Lei Básica havia sido promulgada e, a Suprema Corte,
pela primeira vez, interfere indiretamente no Poder Legislativo39 interferindo nos atos do
35
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 221.
36
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 221.
37
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 227.
38
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
109.
39
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
123.
8
Poder Executivo autorizados por Lei. O Ministro do interior havia ordenado a suspensão de
uma publicação de dois jornais. A Suprema Corte, evocando ao Princípio do Direito à
Liberdade de Expressão40 e da razoabilidade41 e se espelhando no modelo das democracias
liberais 42com base no direito comparado, decidiu em favor dos jornais.
Na Lei Básica “O Knesset” de 1958 foi introduzido o artigo 4º que especifica o
quórum mínimo para aprovação de uma lei. Foi conhecido como o primeiro controle de
constitucionalidade43. Em 1969, a lei de financiamento de Partidos eleitorais foi aprovada 44
sem respeitar o quórum mínimo exigido no artigo dessa Lei e, a Suprema Corte se posicionou
contrária ao dispositivo, fixando o entendimento de que, há uma “estrutura normativa
superior45”.
Tanto a liberdade de expressão quanto o ‘Princípio de hierarquia entre as leis” não
eram princípios formais. Segundo Wainsberg (2008, p. 126) houve “a evocação de princípios
orais a fim de garantir a coerência do regime democrático”, que viria a impactar a Carta de
direitos e garantias fundamentais.
O Partido Trabalhista de Ben-Gurion dirigiu o país até 197746, o que foi gerando um
desgaste institucional e um anseio por uma reforma política47. Esse período marca a ascensão
40
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
120.
41
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
122.
42
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
123.
43
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
123.
44
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
124.
45
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
126.
46
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 293.
47
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 295.
9
da direita nacionalista48. Entre elas a escolha do chefe de Estado, que deixaria de ser o
primeiro-ministro eleito pelo Knesset para uma presidência eleita pelo povo49.
Ackerman (2002, p. 545) afirma que esse debate acerca da presidência “apagou” a
discussão acerca da Lei da Dignidade Humana. E, em março de 1992, com um quórum de
apenas 44%, por 32 a 21, o 13º Knesset aprovou duas Leis Fundamentais: a Lei Básica
Dignidade Humana e Liberdade e a Lei Básica Liberdade e Ocupação. Com a aprovação
dessas duas Leis, marca-se o início da “Revolução Constitucional50”, intitulada assim pelo
presidente do STI, Aharon Barak, naquela época.
Pereira (2007, p. 295) afirma que:
“Estas, não obstante, tiveram o efeito de fornecer ao STI um instrumento de
aprofundamento da judicial review, até aí exercida numa base algo precária,
abrindo novas possibilidades de intervenção ao Tribunal”.
Barak, em um artigo de 1997, chega a afirmar:
“Uma lei simples do Knesset, não mais poderá infringir esses direitos, a não
ser que preencha o requerimento dessas Leis Básicas ("clausula de
limitação"). Assim, nos tornamos uma democracia constitucional. Nos
juntamos a grupo de nações iluminadas pela democracia, em que direitos
humanos, ganharam força constitucional, acima das leis simples. Similar aos
Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e outros Países
ocidentais, nós agora temos uma defesa constitucional dos direitos humanos.
Nós também temos uma constituição escrita" (BARAK apud WAISBERG,
2008, p. 131).
A afirmação de Barak não é um consenso. Apesar de Israel possuir um “corpo
constitucional51”, para Silva (2010, p. 223), “carecem de uma norma suprema e intransponível
que as submeta”. Além do que, questiona-se a legitimidade52 do poder constituinte da
48
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 290.
49
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 545-546.
50
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
129.
51
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 230.
52
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 298.
10
Suprema Corte, tanto pelo Knesset, quanto pela sociedade53, ao mesmo tempo que, possuem
um dos melhores percentuais de aprovação pelas pesquisas de opinião.
Desde então, a Suprema Corte de Israel assumiu o controle de inconstitucionalidade54
e invalida Leis do Knesset que contrariam aos princípios das leis de 1992. O Tribunal também
já “desafiou” a ortodoxia em matérias de discriminação religiosa ou de orientação sexual55 e,
proibiu o uso de tortura em interrogatórios56 de suspeitos de atentados terroristas.
Em julho de 2023, o atual presidente de Israel, Benjamin Netanyahu propôs57 o fim da
“cláusula de razoabilidade”, que é um princípio utilizado pela Suprema Corte para anular
decisões do governo consideradas irrazoáveis. A medida provocou diversos protestos pelo
país. Levin, Ministro da Justiça, afirmou que “Demos o primeiro passo em um processo
histórico para corrigir o sistema judicial58." Em contrapartida, a Suprema Corte prepara59 uma
votação acerca do tema.
As tentativas60 de ser elaborar uma Constituição para Israel ainda permanecem.
Durante todos esses anos, o Knesset vem recebendo algumas propostas de organizações não-
governamentais como o Instituto de Democracia de Israel – IDI, Estratégia Sionista,
Movimento Progressista e Centro de Ação Religiosa pelo Judaísmo de Israel. A proposta
elaborada pelo IDI é multicultural, contendo “líderes das comunidades representativas dos
direitos femininos, ativistas sociais, árabes e ultra-ortodoxos, veteranos israelenses, novos
imigrantes e especialistas de todas as universidades do país”.
53
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
129.
54
WAISBERG, Tatiana. “Notas sobre o Direito Constitucional Israelense: A revolução Constitucional e a
Constituição escrita do Estado de Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 11 de junho de 2008, p.
129.
55
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 302.
56
PEREIRA TELES, J.A.” De actor secundário a actor principal: O Supremo Tribunal e a “Revolução
Constitucional” em Israel”. Revista Brasileira do Direito Constitucional, 09 de junho de 2007, p. 302.
57
ABREU, Pedro Vitor Serodio. Reforma judicial em Israel: uma mudança necessária ou uma ameaça à
democracia? Migalhas, julho de 2023. Disponível em <https://www.migalhas.com.br/depeso/390552/reforma-
judicial-em-israel>.
58
ISRAEL: Como é a nova lei que tira poder da Suprema Corte? BBC News, 2023. Disponível em: <
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cyrmymgkz51o>.
59
KRESCH, Daniela. Suprema Corte de Israel vota cláusula de razoabilidade. Expresso Israel 92, 2023.
60
SILVA, Roberto. “Uma Constituição para Israel”. Brasília a. 47 n. 185. jan./mar de 2010, p 227.
11
Outras tentativas61 também ocorreram, uma em junho de 2000, elaborada por Eliezer
Cohen, membro do Knesset, mas só 44 parlamentares apoiaram a proposta e outra em
novembro de 2000 para a criação de Corte Constitucional, novamente apoiada por somente 52
membros. Assim também, em 2007, obteve rejeição a proposta do Ministro da Justiça para
institucionalizar à Suprema Corte o poder de declarar a inconstitucionalidade das leis.
Assim como em Israel, a Suprema Corte do Brasil também sofreu uma investida62 do
Poder Legislativo brasileiro. O Senado brasileiro propôs uma PEC para limitar decisões
monocráticas e restringir os mandatos a 15 anos. Tanto em Israel quanto no Brasil, a medida
foi vista como um ataque à democracia63.
Diante desses fatos históricos em comum entre os dois países, abaixo busca-se
demonstrar um detalhamento da Lei Básica Dignidade Humana e Liberdade, traçar um
paralelo com os princípios fundamentais da Carta Magna brasileira de 198864 e ver o que
esses dois países também tem em comum em matéria de direitos fundamentais.
61
LEAL, Saul Tourinho. O reconhecimento da dignidade humana em Israel. Migalhas, 2023. Disponível em:
<https://www.migalhas.com.br/coluna/conversa-constitucional/272279/o-reconhecimento-da-dignidade-
humana-em-israel>.
62
PEC que limite decisões monocráticas no STF passa por 1ª sessão de discussão. Agência Senado, 2023.
Disponível em: < https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/10/24/pec-que-limita-decisoes-
monocraticas-no-stf-passa-por-1a-sessao-de-discussao>.
63
FERREIRA, Marcus Vinicius. Artigo: Os ataques à democracia em Israel e no Brasil. Correio Braziliense,
2023. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2023/07/5112923-os-ataques-a-
democracia-em-israel-e-no-brasil.html>.
64
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
12
7. Privacidade
1. Todas as pessoas têm direito à Art. 5º X - são invioláveis a intimidade, a
privacidade e à intimidade. vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
2. Não será permitida a entrada nas
dependências privadas de quem não tenha
consentido.
3. Nenhuma revista será realizada nas
dependências privadas de uma pessoa, nem
no corpo ou objetos pessoais.
4. Não haverá violação da confidencialidade
da conversa, ou dos escritos ou registros de
uma pessoa.
8. Violação de direitos (alteração 1)
Não haverá violação dos direitos previstos Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
nesta Lei Básica, exceto por uma lei distinção de qualquer natureza, garantindo-se
condizente com os valores do Estado de aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
Israel, promulgada para um propósito no País a inviolabilidade do direito à vida, à
adequado e em uma extensão não maior do liberdade, à igualdade, à segurança e à
que a necessária, ou por regulamento propriedade.
promulgado em virtude de autorização
expressa em tal lei.
Fonte: Elaboração própria
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
65
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 535.
14
5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, Pedro Vitor Serodio. Reforma judicial em Israel: uma mudança necessária ou uma
ameaça à democracia? Migalhas, julho de 2023. Disponível em
<https://www.migalhas.com.br/depeso/390552/reforma-judicial-em-israel>.
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de
Direito. no 1. São Paulo: editora Contracorrente, 2022.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
66
ACKERMAN, Bruce. Constituições Revolucionárias: Liderança Carismática e Estado de Direito. no 1. São
Paulo: editora Contracorrente, 2022, p. 547.
15