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A Declaração de Independência e a

Constituição Americana

Apresentação
A Declaração de Independência das colônias americanas decorreu de inúmeras insatisfações por
parte do povo, que era explorado pela coroa britânica.

Constatando a necessidade de separação, o Congresso proclamou, em 4 de julho de 1776, as 13


colônias originais dos EUA como Estados independentes e livres. A partir desse momento, os
estados passaram a ter autonomia. No entanto, para garantir a ordem em todo o território,
representantes das 13 colônias reuniram-se para revisar os artigos da confederação e acabaram por
elaborar um novo texto, em 1787, o qual deu origem à Constituição dos Estados Unidos, que foi
ratificada por todos os estados em 1789.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar a importância da Constituição americana, qual
foi o contexto histórico em que se deu a sua promulgação e quais foram os primeiros direitos
humanos positivados, além de entender os motivos que levaram os Estados Unidos a declararem
independência.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Explicar a importância da Constituição americana para os direitos humanos.


• Descrever o momento histórico vivido nos Estados Unidos da América quando de sua
independência.
• Analisar os dispositivos constantes na Constituição americana.
Desafio
Com base na Bill of Rights britânica, os Estados Unidos deram aos direitos humanos a qualidade de
direitos fundamentais, isto é, direitos reconhecidos expressamente pelo Estado.

Agora, imagine esse cenário nos Estados Unidos. Com base nas disposições da Constituição
americana, qual seria o seu parecer?
Infográfico
A inviolabilidade de domicílio foi um dos institutos positivados na Constituição americana. No
Brasil, esse dispositivo consta como um dos direitos fundamentais da pessoa humana. Há algumas
situações, porém, em que a violação de domicílio é permitida.

Veja mais no Infográfico.

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Conteúdo do livro
A Declaração de Independência dos Estados Unidos e, consequentemente, a Constituição
americana, tiveram suma importância para os direitos fundamentais. A Declaração ocorreu em um
período de insatisfação do povo, em que o governo identificou a necessidade de separação da Grã-
Bretanha. A Constituição, por sua vez, surgiu em decorrência desse momento histórico, positivando
direitos, tanto naturais quanto individuais.

Para saber mais, leia o capítulo A Declaração de Independência e a Constituição americana, do livro
Direitos humanos, para entender todo o processo que culminou nesses dois momentos históricos.
DIREITOS
HUMANOS

Guérula Mello Viero


Revisão técnica:

Renato Selayaram
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais
Especialista em Ciências Políticas
Mestre em Direito

A658d Arakaki, Fernanda Franklin Seixas.


Direitos humanos [recurso eletrônico] / Fernanda Franklin
Seixas Arakaki, Guérula Mello Viero [revisão técnica: Renato
Selayaram]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018.

ISBN 978-85-9502-537-0

1. Direitos humanos I. Viero, Guérula Mello. II.Título.


CDU 342.7

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin — CRB 10/2147


Declaração de
Independência e a
Constituição americana
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar a importância da Constituição americana para os direitos


humanos.
 Descrever o momento histórico vivido nos Estados Unidos quando
da sua independência.
 Analisar os dispositivos constantes na Constituição americana.

Introdução
A Constituição dos Estados Unidos se tornou um marco histórico por ser
o primeiro documento orgânico, ou seja, escrito, que concentrava todas
as normas. Nas suas 10 emendas, previa limitar o poder estatal com a
inserção da separação dos poderes, junto com a positivação de diversos
direitos humanos fundamentais. A promulgação do documento, porém,
foi precedida de disputas, culminando na necessidade da Declaração de
Independência dos Estados Unidos.
Neste capítulo, você vai ler sobre a importância da Constituição ame-
ricana, os primeiros direitos humanos positivados, o contexto histórico
no qual ocorreu a sua promulgação, bem como analisar os motivos que
levaram os Estados Unidos a declararem independência.

Direitos humanos sob a perspectiva


da Constituição americana
Os Estados Unidos se encontravam sob um regime político de confederação
durante os anos de 1776 a 1787. Havia um governo central precário, exercido
2 Declaração de Independência e a Constituição americana

pelo Congresso Continental. Os estados possuíam soberania absoluta, o que


permitia terem autonomia em relação aos termos políticos e jurídicos (BE-
ZERRA, 2018). Esse regime decorreu da conquista de independência das 13
colônias do norte da América em relação à Inglaterra, em 1776. Em outras
palavras, desde a Proclamação da Independência das 13 colônias, em 4 de
julho de 1776, as antigas colônias britânicas — Delaware, Maryland, Virgínia,
Carolina do Norte, Carolina do Sul, Geórgia, New Hampshire, Massachusetts,
Connecticut, Nova Iorque, Nova Jersey, Pensilvânia e Rhode Island — passaram
a viver sob os artigos da Confederação (FIUZA, 1987).
Cada estado era um país independente. Assim, os negócios eram regidos
internamente, sem se preocupar uns com os outros. Existiam 12 moedas dife-
rentes em circulação na Confederação, e os estados taxavam as mercadorias
uns dos outros. Com a situação que havia sido instaurada, representantes de
cinco estados se reuniram em Anápolis e propuseram que cada estado nomeasse
um delegado para uma reunião na Filadélfia, com o intuito de reavaliarem os
artigos da Confederação (FIUZA, 1987).
Desse modo, para garantir uma ordem em todo o território, 55 delegados,
representantes das 13 colônias, reuniram-se na Filadélfia, em 1787, para debater
a unificação e elaborar a formação de um novo Estado, momento no qual foi
apresentado um projeto de Constituição. Durante 116 dias, os representantes traba-
lharam secretamente em reuniões, mas, em vez de reverem os artigos existentes,
decidiram elaborar um novo texto, criando o primeiro Estado federal do mundo.
Nas palavras de Fiuza (1987, p. 99), “os Estados-membros cederam a soberania à
União, conservando para si grande dose de autonomia político-administrativa”.

O Congresso Continental era formado por representantes das 13 colônias. Foi o primeiro
governo nacional dos Estados Unidos, sucedido por um governo legislativo, após a
aprovação da Constituição americana. George Washington, que havia presidido a
sessão da Convenção Constitucional, a qual culminou na elaboração da Constituição
dos Estados Unidos, foi eleito, por unanimidade, o primeiro presidente do País, em
1789. (LIBRARY OF CONGRESS, 2018, documento on-line).

Após discussões e votação, a Constituição norte-americana foi promulgada,


no mesmo ano, sendo ratificada por 11 estados. Inicialmente, a Carolina do
Norte e Rhode Island não quiseram ratificar, mas acabaram aceitando em
Declaração de Independência e a Constituição americana 3

1789 (BEZZERA, 2018; FERREIRA, 2017). Em outras palavras, a elaboração


da Constituição ocorreu em 1787, mas somente após 2 anos, em 1789, a sua
ratificação foi concluída por todos os estados.
No entanto, dois delegados, George Mason (da Virgínia) e Eldbridge Gerry
(de Massachusetts), que haviam se recusado a assinar a Constituição, por não
haver cláusulas protetoras de direitos individuais (LLOYD, 2018), apresentaram
uma adição ao texto, propondo uma declaração de direitos. O constante nessa
proposta decorria de desdobramentos da Declaração da Independência e dos
artigos que constavam na versão original da Constituição. Segundo Godoy
(2011), tal declaração visava combater o mal-estar que a Constituição gerava
por não identificar especificamente a proteção dos direitos individuais.
O documento original da Declaração de Direitos dos Estados Unidos era
composto por 10 emendas ao Texto Constitucional original, as quais foram
escritas por James Madison — um dos delegados da Virgínia —, com fortes
influências da Declaração de Direitos da Virgínia, que foi elaborada por George
Mason, também delegado da Virgínia (BILL OF RIGHTS INSTITUTE, 2018).
Dessa forma, a Declaração de Direitos (Bill of Rights) dos Estados Unidos foi
ratificada em 15 de dezembro de 1791. Estabelecido em concepções federalistas,
o documento foi concebido, originalmente, para proteger os indivíduos contra
o poder central (GODOY, 2011).
As emendas codificavam inúmeras ideias, entre as quais podemos citar,
conforme Godoy (2011, documento on-line):

[...] proibição de religião oficial, livre exercício de religião, liberdade de ex-


pressão, de imprensa, de reunião, direito de petição, de usar armas, de não ser
obrigado a alojar tropas, de não se ver importunado por investigações absurdas,
necessidade de ordem judicial para buscas em domicílio, especificação da busca
na ordem judicial, direito ao júri, de não ser processado mais de uma vez pelo
mesmo crime, de não se autoincriminar, devido processo legal, direito de não
se ter propriedade confiscada para uso privado, justa compensação em caso de
desapropriação para uso público de propriedade privada, julgamento criminal
por júri imparcial, julgamento rápido e público, julgamento no distrito da cul-
pa, regular intimação de acusação penal, direito de contradita, procedimento
compulsório para réus em ações penais, direito de consulta e acompanhamento
de advogado em casos penais, júri em causas cíveis, razoável estipulação de
fiança e multas, proibição de penas cruéis, declaração de que direitos concedidos
não excluem outros direitos e de que poderes não expressamente delegados ao
governo central pertencem aos estados e seus habitantes.

Conforme Comparato (2010), a Bill of Rights norte-americana compreende,


na sua essência, declarações de direitos individuais. Juridicamente, o principal
4 Declaração de Independência e a Constituição americana

precedente da Declaração de Direitos dos Estados Unidos é a Bill of Rights


inglesa de 1689, mas a sua fundamentação filosófica vai além de John Locke,
visto que se ampara no pensamento europeu do século XVIII, dos escritores
Charles Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau.
Porém, os norte-americanos não se limitaram a essa herança cultural. Segundo
Comparato (2010), foram além, transformando os antigos direitos naturais em
direitos positivos, visto que os reconheceram como em nível superior a todos
os demais. Com base na Bill of Rights britânica, os Estados Unidos “deram aos
direitos humanos a qualidade de direitos fundamentais, isto é, direitos reconhe-
cidos expressamente pelo Estado, elevando-os ao nível constitucional, acima,
portanto, da legislação ordinária” (COMPARATO, 2010, p. 124).
Dessa forma, cabe destacar as 10 emendas incorporadas à Constituição
dos EUA como forma de garantia dos direitos individuais do povo (USP, 2018,
documento on-line):

EMENDA I
O Congress não legislará no sentido de estabelecer uma religião, ou proi-
bindo o livre exercício dos cultos; ou cerceando a liberdade de palavra, ou
de imprensa, ou o direito do povo de se reunir pacificamente, e de dirigir ao
Governo petições para a reparação de seus agravos.
EMENDA II
Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia
bem organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser
impedido.
EMENDA III
Nenhum soldado poderá, em tempo de paz, instalar-se em um imóvel sem
autorização do proprietário, nem em tempo de guerra, senão na forma a ser
prescrita em lei.
EMENDA IV
O direito do povo à inviolabilidade de suas pessoas, casas, papéis e haveres
contra busca e apreensão arbitrárias não poderá ser infringido; e nenhum
mandado será expedido a não ser mediante indícios de culpabilidade con-
firmados por juramento ou declaração, e particularmente com a descrição
do local da busca e a indicação das pessoas ou coisas a serem apreendidas.
EMENDA V
Ninguém será detido para responder por crime capital, ou outro crime infa-
mante, salvo por denúncia ou acusação perante um grande júri, exceto em
se tratando de casos que, em tempo de guerra ou de perigo público, ocorram
nas forças de terra ou mar, ou na milícia, durante serviço ativo; ninguém
poderá pelo mesmo crime ser duas vezes ameaçado em sua vida ou saúde;
nem ser obrigado em qualquer processo criminal a servir de testemunha
contra si mesmo; nem ser privado da vida, liberdade, ou bens, sem processo
legal; nem a propriedade privada poderá ser expropriada para uso público,
sem justa indenização.
Declaração de Independência e a Constituição americana 5

EMENDA VI
Em todos os processos criminais, o acusado terá direito a um julgamento rá-
pido e público, por um júri imparcial do Estado e distrito onde o crime houver
sido cometido, distrito esse que será previamente estabelecido por lei, e de
ser informado sobre a natureza e a causa da acusação; de ser acareado com as
testemunhas de acusação; de fazer comparecer por meios legais testemunhas
da defesa, e de ser defendido por um advogado.
EMENDA VII
Nos processos de Direito Consuetudinário, quando o valor da causa exceder
US$ 20, será garantido o direito de julgamento por júri, cuja decisão não
poderá ser revista por qualquer tribunal dos Estados Unidos senão de acordo
com as regras do Direito costumeiro.
EMENDA VIII
Não poderão ser exigidas fianças exageradas, nem impostas multas excessivas
ou penas cruéis ou incomuns.
EMENDA IX
A enumeração de certos direitos na Constituição não poderá ser interpretada
como negando ou coibindo outros direitos inerentes ao povo.
EMENDA X
Os poderes não delegados aos Estados Unidos pela Constituição, nem por ela
negados aos Estados, são reservados aos Estados ou ao povo.

Declaração da Independência dos Estados


Unidos na história
A Declaração de Independência é o documento responsável pela fundação
dos Estados Unidos. Aprovado em 4 de julho de 1776, no Congresso Conti-
nental das colônias britânicas na América do Norte, ocorrido na Filadélfia, o
texto proclamou as 13 colônias, originais dos Estados Unidos, como Estados
independentes e livres. Esse processo culminou na separação definitiva das
colônias em relação à Grã-Bretanha (BRITANNICA ESCOLA, 2018).
Um dos fatores que contribuíram para a aceleração da independência foi
a Guerra dos Sete Anos, um dos principais conflitos militares ocorridos no
século XVIII pela posse de terras. Entre 1756 e 1763, vários reinos europeus
se envolveram, tendo o conflito se estendido para os territórios coloniais na
África, Ásia e América do Norte. Os ingleses venceram a Guerra dos Sete
Anos, com amplo apoio dos colonos residentes, visto que o resultado da batalha
foi a anexação das terras dos franceses às suas. Contudo, a ideia dos colonos
não coincidia com os planos da coroa: enquanto os colonos acreditavam que
iriam se beneficiar das terras, a monarquia pretendia dá-las para novos colonos
que viessem da Inglaterra (FERNANDES, 2018a).
6 Declaração de Independência e a Constituição americana

Ademais, a revolta colonial baseava-se em outros fatores, como as restrições


fiscais da coroa inglesa, conhecidas como Leis Proibitivas. Entre essas leis,
algumas merecem destaque:

 Lei do Selo — Promulgada em 1765, previa um selo real em todos os


produtos, de modo que circulassem como mercadorias certificadas, o
que gerava enormes gastos aos produtores. O objetivo dessa lei era tirar a
Inglaterra do prejuízo após tantos gastos militares (FERNANDES, 2018a).
 Lei do Açúcar — Taxava as mercadorias produzidas para tentar re-
cuperar o valor pago por artigos importados de outras regiões, como
açúcar, vinho, tecido e café (FERNANDES, 2018b).
 Lei da Moeda — Previa o enfraquecimento do valor da moeda dos
colonos, fazendo o câmbio da coroa aumentar. Assim, a monarquia era
a responsável por julgar o trânsito econômico (FERNANDES, 2018b).
 Lei do Aquartelamento — Instituía que os colonos eram obrigados
a fornecer mantimentos aos soldados ingleses que estivessem em solo
americano (FERNANDES, 2018b).

Imposto sobre o chá


O imposto sobre o chá compreendia uma taxa alfandegária pela importação
de chá exigida dos colonos pela coroa britânica. O Parlamento inglês chegou a
revogar a maior parte dos impostos cobrados pelo Governo, em 1770, pois os
colonos se recusavam a pagar, visto que não lhes garantia representatividade
política. Contudo, a coroa, para demonstrar sua soberania, manteve a taxação
do chá. Assim, necessitando recuperar parte da fortuna gasta com a Guerra
dos Sete Anos, o rei George III concedeu à Companhia das Índias Orientais,
em 1773, o monopólio do comércio do chá para a América, de modo que os
colonos que contrabandeassem o produto pagariam um preço diferenciado
(REVOLTA..., 2010). Entretanto, em dezembro do mesmo ano, os colonos se
revoltaram contra a atitude da coroa, disfarçaram-se de índios para entrar no
Porto de Boston e jogaram sacas de chá da Companhia das Índias Orientais no
mar. Conforme Fernandes (2018b, documento on-line), essa afronta aos ingleses
ficou conhecida como a Festa do Chá de Boston, a qual “deu origem a um
dos mais sólidos movimentos políticos conservadores dos Estados Unidos”.
A insatisfação e a revolta tomaram conta dos colonos, agregando, inclusive,
os que antes eram contrários aos confrontos com a coroa inglesa. Assim, em 7
de junho de 1776, Richard Henry Lee, representante da Virgínia, apresentou
ao Congresso, que estava reunido na Filadélfia, uma proposta para que fosse
Declaração de Independência e a Constituição americana 7

declarada a independência em relação à Grã-Bretanha. No dia 11 de junho,


formou-se uma comissão para elaborar a Declaração de Independência, a
qual era composta por Thomas Jefferson, John Adams, Benjamin Franklin,
Roger Sherman e Robert R. Livingston (Figura 1). O seu texto final foi lido no
Congresso no dia 28 de junho (BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL, 2018).

Figura 1. Cópia da Declaração de Independência dos Estados Unidos.


Fonte: Biblioteca Digital Mundial (2018, documento on-line).
8 Declaração de Independência e a Constituição americana

Com uma lista de queixas contra a coroa britânica, o Congresso aprovou


a Declaração de Independência em 4 de julho de 1776. Na mesma noite,
John Dunlap, impressor oficial do Congresso Continental, gerou as primeiras
impressões da Declaração na sua oficina localizada na Filadélfia. Na manhã
seguinte, em 5 de julho, membros do Congresso despacharam as cópias im-
pressas para várias assembleias, convenções, comitês de segurança, bem como
aos comandantes das tropas continentais. No mesmo dia, uma das versões
impressas foi inserida na minuta do diário do Congresso Continental. O
texto foi impresso e distribuído, sob a forma de cartaz, para todas as colônias
(BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL, 2018).
A Declaração da Independência marcou a história por ser um texto atem-
poral, no qual explicita os direitos naturais do homem e a autodeterminação
dos povos (AMARAL, 2010). Uma prova disso é a união de teorias políticas
e crenças, como trazida no início do segundo parágrafo, ao declarar que
“consideramos estas verdades evidentes por si mesmas, que todos os homens
são criados iguais” (SÃO PAULO, 2016, documento on-line).
Entre tantos pontos evidenciados na Declaração de Independência, trans-
creveremos os dois primeiros parágrafos, que demonstram a valorização
destinada ao povo:

Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário a um


povo dissolver os laços políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os
poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão direito as leis da
natureza e as do Deus da natureza, o respeito digno para com as opiniões
dos homens exige que se declarem as causas que os levam a essa separação.
Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os
homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inaliená-
veis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade. Que
a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens,
derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sem-
pre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao
povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o
em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça
mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade. Na realidade,
a prudência recomenda que não se mudem os governos instituídos há muito
tempo por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, toda experiência
tem mostrado que os homens estão mais dispostos a sofrer, enquanto os
males são suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as formas a que se
acostumaram. Mas quando uma longa série de abusos e usurpações, perse-
guindo invariavelmente o mesmo objecto, indica o desígnio de reduzi-los ao
despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de abolir
tais governos e instituir novos Guardiães para sua futura segurança. Tal tem
sido o sofrimento paciente destas colónias e tal agora a necessidade que as
Declaração de Independência e a Constituição americana 9

força a alterar os sistemas anteriores de governo. A história do actual Rei da


Grã-Bretanha compõe-se de repetidas injúrias e usurpações, tendo todos por
objectivo directo o estabelecimento da tirania absoluta sobre estes Estados.
Para prová-lo, permitam-nos submeter os factos a um mundo cândido (SÃO
PAULO, 2016, documento on-line).

Constituição americana e dispositivos


A Constituição americana, aprovada em 1789 e ratificada em 1791, pretendeu,
nas suas 10 emendas, limitar o poder estatal com a inserção da separação dos
poderes, junto com a positivação de diversos direitos humanos fundamentais,
como (MORAES, 2011):

 liberdade religiosa;
 inviolabilidade de domicílio;
 devido processo legal;
 julgamento pelo tribunal do júri;
 ampla defesa;
 impossibilidade de aplicação de penas cruéis ou aberrantes.

Sem dúvida, o processo constitucional nos Estados Unidos foi de grande


relevância:

As declarações de direitos e as constituições dos novos Estados indepen-


dentes foram documentos pioneiros da nova Era Constitucional, a qual não
regulamentava somente a ordem institucional estatal, mas dava indícios de
um modelo de Estado Democrático (SOUZA, 2017, p. 308).

O constitucionalista Ricardo Fiuza (1987) elenca os pontos que tornam


a Constituição americana de suma importância, que abordaremos a seguir.

Constituição orgânica
É a primeira Constituição orgânica do mundo, ou seja, escrita. Em uma só lei,
traz todos os seus preceitos de forma organizada e sistemática. Fiuza (1987, p. 70)
cita Gacia Pelayo para evidenciar a relevância de se ter um ordenamento escrito:

[...] sendo direito escrito, oferece a maior soma de garantias e de racionalidade


frente à irracionalidade do costume, permite a adoção de uma ordem objetiva
10 Declaração de Independência e a Constituição americana

e permanente em face da mobilidade e transitoriedade de situações objetivas,


e proporciona, justamente por ser direito escrito, segurança aos governados
contra a arbitrariedade dos governantes.

Como bem ressalta Fiuza (1987), ao adotarem a teoria do contrato social


desenvolvida por Jean-Jacques Rousseau, os constituintes americanos mudaram
o curso do Direito Constitucional, uma vez que quase todos os Estados do
mundo adotaram o sistema de unificação das leis constitucionais em apenas
um código.

Separação de poderes
A Constituição americana foi a primeira a consagrar a doutrina de Charles
Montesquieu, a qual separa distintamente os três órgãos do Poder do Estado:
Legislativo, Executivo e Judiciário. Conforme Ricardo Fiuza (1987), não só os
americanos adotaram essa formação de Estado, como também o aprimoraram,
por meio do sistema de freios e contrapesos. Os federalistas Alexander
Hamilton, James Madison e John Jay, que colaboraram intensamente para
a criação do texto da Constituição americana, defendiam que os três órgãos
deveriam ser interdependentes e harmônicos (FIUZA, 1987), ou seja, sendo
uma Federação, haveria um conluio entre a União e os Estados, permitindo
que ambos pudessem agir sobre os indivíduos.

Estado Federal
A Constituição também foi responsável por criar o primeiro Estado Federal ou
Federação no mundo. Até então, era uma forma inexistente de Estado composto.
Esse modelo consiste na soberania da União no plano internacional, enquanto
os estados-membros conservaram a sua autonomia política e administrativa.
Assim, tanto no plano federal quanto no estadual, surgiam os três órgãos de
Poder (Legislativo, Executivo e Judiciário), criando dois planos harmônicos
de governo (FIUZA, 1987).
Dessa forma, a Constituição americana pode ser classificada quanto
(FIUZA, 1987):

 à sua forma, como orgânica, por ser escrita, e sintética, por contar com
poucos dispositivos, visto que a redação original tinha sete artigos
(com 21 seções);
Declaração de Independência e a Constituição americana 11

 à sua origem, legítima ou dogmática, uma vez que o seu texto foi ela-
borado e promulgado em convenção, formada por delegados eleitos nos
estados ainda confederados;
 à sua revisão, como rígida, pois as emendas constitucionais só são incor-
poradas à Constituição após aprovação de dois terços dos componentes
das duas casas do Congresso e ratificação por parte de três quartos das
Legislaturas dos estados-membros da federação.

Em 1987, próximo de completar 200 anos de vigência, a Constituição dos Estados


Unidos registrou cerca de 300 emendas propostas no Congresso, das quais apenas 31
tiveram voto favorável e só 26 foram ratificadas pelos estados-membros. Até aquele
momento, o último registro que se tinha de emenda incorporada à Constituição
datava de 1971 (FIUZA, 1987).

Assim, é importante destacarmos o conteúdo de cada um dos sete artigos


constantes na redação original da Constituição dos Estados Unidos (FIUZA,
1987):

 Art. I — É o texto mais extenso e é dedicado ao Legislativo. Evidencia a


adoção do sistema bicameral, em que o Congresso é composto por duas
casas; Senado e Câmara; a proporcionalidade dos deputados da Câmara
baixa; a composição da Câmara alta, a qual deverá ter dois senadores por
Estado; a eleição a cada dois anos para deputados e seis anos para senadores;
as imunidades e incompatibilidades parlamentares; o processo legislativo,
incluindo a possibilidade de veto presidencial; a competência do Congresso.
 Art. II — Esse artigo apresenta o mandato do presidente dos Estados
Unidos, que é de 4 anos; estabelece o processo eleitoral; e fixa a idade
mínima para se candidatar à presidência, qual seja, 35 anos.
 Art. III — Apresenta o Judiciário Federal, o qual é exercido pela Su-
prema Corte e por tribunais inferiores. Consagra também as garantias
da vitaliciedade e irredutibilidade de vencimentos dos magistrados.
 Art. IV — Estabelece normas especiais para o funcionamento da Fe-
deração; reconhece o trabalho escravo; deixa em aberto a possibilidade
de admissão de novos estados à federação, mas proíbe a formação de
um novo Estado dentro da jurisdição e outro, pela união de dois ou
12 Declaração de Independência e a Constituição americana

mais Estados ou de partes de Estados, sem que haja o consentimento


das Assembleias Legislativas interessadas e do Congresso.
 Art. V — Trata do processo de revisão da Constituição, que fixa o
quórum necessário para aprovação de emendas, bem como a necessi-
dade de ratificação pelas Assembleias Legislativas de três quartos dos
Estados da federação.
 Art. VI — Define que todas as dívidas e compromissos pelos Estado
da confederação serão honrados pela nova federação, bem como afirma
que a Constituição é a lei suprema do país, em que juízes e Estados
serão sujeitos a ela.
 Art. VII — Conclui o texto definindo o quórum de nove Estados-
-membros para a aprovação da própria Constituição.

AMARAL, M. A Declaração de Independência. Portal da história, São Paulo, 2010. Seção


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Humanos. Declaração de Independência dos Estados Unidos: 1776. 2016. Disponível em:
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SOUZA, M. M. A evolução histórica das fontes basilares dos direitos fundamentais.
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Biblioteca Virtual de Direitos Humanos. Constituição dos
Estados Unidos da América: 1787. São Paulo, 2018. Disponível em: <http://www.direitoshu-
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-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/constituicao-dos-estados-
-unidos-da-america-1787.html>. Acesso em: 19 jul. 2018.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Dica do professor
O Tribunal do Júri foi um dos direitos fundamentais estampados na Constituição americana e que
também foi incorporado pela legislação brasileira. No entanto, os dois sistemas apresentam formas
distintas.

Veja mais sobre os dois sistemas na Dica do Professor.

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Exercícios

1) Como funcionava o regime político de confederação?

A) Os estados eram unidos entre si e acordavam para estabelecer impostos.

B) Os negócios eram regidos pela monarquia.

C) Os estados respondiam à Inglaterra.

D) Os negócios eram regidos internamente, sendo os estados independentes entre si.

E) Os estados viviam sob as Leis Proibitivas.

2) Qual era o objetivo inicial da Declaração de Direitos?

A) Proteger os indivíduos contra o poder central.

B) Ampliar as negociações com outros países.

C) Delimitar o poder de taxação do governo.

D) Desconstituir a Constituição americana promulgada em 1789.

E) Promulgar a independência das 13 colônias.

3) Dentre as Leis Proibitivas impostas no período pré-declaração de independência dos EUA,


qual delas foi a mais significativa no contexto histórico?

A) Lei do Aquartelamento, visto que os colonos precisavam reservar uma parte de seus produtos
para fornecer aos soldados.

B) Lei do Açúcar, pois a taxação de mercadorias dos colonos servia para pagar os produtos
importados pela Coroa.

C) Lei do Selo, uma vez que o gasto para certificar as mercadorias com o selo real ocasionava
perdas aos colonos.
D) Imposto sobre o chá, pois, após uma revolta dos colonos em Boston, teve origem um dos mais
sólidos movimentos políticos conservadores.

E) Lei da Moeda, visto que previa enfraquecer o câmbio dos colonos para que a moeda da Coroa
fosse valorizada.

4) Como é classificada a Constituição americana?

A) Orgânica, sintética e legítima.

B) Sintética, legítima e rígida.

C) Orgânica, sintética, dogmática e rígida.

D) Rígida, sintética e dogmática.

E) Legítima, dogmática e sintética.

5) Qual o intuito das dez emendas da Constituição americana?

A) Dar liberdade religiosa ao povo.

B) Impor o devido processo legal, a liberdade religiosa e a inviolabilidade de domicílio.

C) Possibilitar a ampla defesa e a inviolabilidade de domicílio.

D) Determinar que todos os julgamentos fossem realizados pelo Tribunal do Júri.

E) Limitar o poder estatal com a inserção da separação dos poderes, juntamente com a
positivação de diversos direitos humanos fundamentais.
Na prática
A separação de poderes, trazida pela primeira vez na Constituição dos Estados Unidos, foi
desenvolvida por Charles Montesquieu. Esse instituto foi incorporado pelo ordenamento jurídico
brasileiro; no entanto, o que se nota, na prática, é uma interferência entre os poderes, que
deveriam ser autônomos entre si.

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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Duas primeiras emendas refletem história dos EUA


O autor faz extensa análise das duas primeiras emendas à Constituição americana, as quais
evidenciam a história dos Estados Unidos.

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