Você está na página 1de 1

Em seu livro "A via para o futuro da humanidade”, o autor Edgar Morin discorre e apresenta

análises que buscam propor alternativas estratégicas baseadas em reformas morais e


educacionais capazes de solucionar problemas cotidianos a partir da re exão das principais
práticas e pensamentos coletivos causadores de impacto negativo no funcionamento da
sociedade atual. Dessa forma, uma das problemáticas levantadas por Morin, apresentada no
quarto capítulo da obra, é a situação de crise alimentar instaurada e caracterizada pela
desigualdade e miséria nutricional ao redor do globo.

Podendo ser determinada por vários fatores, Morin aponta que os desequilíbrios entre a
superalimentação das classes abastadas e a subalimentação das populações urbanas pobres
são enormes, tendo, evidentemente, causas econômicas (pobreza e miséria), regionais
(insu ciência de recursos) e até mesmo razões psicológicas ou culturais. No que diz respeito aos
desperdícios, o autor aponta que os índices também são enormes e causados por razões
distintas: quando avaliado em países ricos, nota-se que o essencial de perdas acontece no “ nal
da cadeia produtiva” em razão da má aparência e da margem de validade dos produtos – a cada
ano, 40% da alimentação disponível nos Estados Unidos é jogada fora, signi cando um quarto
da água utilizada para produzir esses mesmos alimentos e um gasto anual de energia equivalente
a trezentos milhões de barris de petróleo –, já em países subdesenvolvidos, essas perdas devem-
se, principalmente, às más condições de colheita, de transporte e de armazenagem.

Além disso, por estarem cada vez mais atrelados à indústria que, sob a pressão da concorrência,
obstinam-se em reduzir os custos de produção, os alimentos se encontram cada vez mais pobres
em nutrientes. Como exemplo, frutas e legumes se tornam insípidos e perdem boa parte de suas
vitaminas e antioxidantes, sendo condicionados a conservas com excessivas quantidades de sal,
açúcares, acidulantes, corantes e até mesmo alguns conservantes que destroem seus nutrientes
mais úteis e revelam-se perigosos. Segundo o autor, nesse contexto o poder público deveria
intervir e fazer com que a indústria agroalimentar assuma a responsabilidade pela qualidade de
seus produtos, assim como ocorre com a indústria de tabaco.

Como vias reformadoras capazes de solucionar tais cenários, Morin propõe que a mundialização
do comércio de alimentos indispensáveis às populações de numerosos países deve ser mantida,
mas, ao mesmo tempo, que é preciso que haja o desenvolvimento de uma alimentação local; que
a redução dos desperdícios alimentares e as reformas de alimentação necessitam da consciência
dos consumidores e, simultaneamente, de medidas públicas apropriadas. A partir disso, é
possível propor normas alimentares e regras gerais universalmente úteis que evitariam carências
e promoveriam o “reacostumar” do paladar.

Morin também traz a proposta do reequilíbrio do consumo, que implicaria na adoção de uma
alimentação variada. Pressupondo uma diminuição no consumo de carne nos países ricos e sua
regulação nos países emergentes, o autor a rma que seria mais e caz se as pessoas
consumissem diretamente as proteínas vegetais ao invés de alimentar o gado com elas. Segundo
ele, “as vacas dos países ricos são as concorrentes diretas dos pobres de países pobres”.

Apresentando algumas iniciativas como as de slow food, mercearia social e redução da rede de
intermediários, Morin conclui suas ideias determinando como vinculadas as reformas da
alimentação, agricultura, de vida e de consumo, instigando, ainda, que essas reformas precisam
ser ajudadas e estimuladas pela reforma do pensamento, da política, da economia e do social.
fi
fi
fi
fl
fi
fi

Você também pode gostar