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Esboço da Lição
– Quem é o teólogo?
– A caixa de ferramentas do teólogo
– A função do teólogo
– Conclusão
Objetivos da Lição
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TEXTO 1
QUEM É O TEÓLOGO?
Qualquer pessoa. Sim, qualquer pessoa pode ser um teólogo. Não
estou sugerindo que um teólogo possa vir de qualquer lugar; isso é impre-
ciso. Estou dizendo que toda e qualquer pessoa é um teólogo. Descon-
fiado? Então é porque você não sabe o que um teólogo é – razão pela
qual, aliás, tantas pessoas não se reconhecem teólogos, embora sejam. No
próximo capítulo veremos o que é Teologia, mas já é possível e necessário
dizer que ela é o resultado de pensamentos a respeito de Deus; então,
quem pensa sobre Ele comete Teologia. Não é errado ou forçoso dizer
que somos todos teólogos.
1 A professora Vera atuou por muitos anos como Secretária Geral da Associação Evangélica
de Educação Teológica na América Latina - AETAL, além de integrar o quadro docente do
excelente Seminário Bíblico Palavra da Vida.
2 Assim está publicado no endereço http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteu-
do/109656, para nossa alegria: “A Procuradoria Regional da União da 2ª Região (PRU2)
conseguiu junto à 23ª Vara Federal do Rio de Janeiro que fosse determinada liminarmente
a retirada da expressão ‘federal’ do nome de um Conselho de Teólogos, já que a instituição
não possui qualquer vínculo com a União. Além da expressão ‘conselho federal’ no nome,
o órgão usava o brasão da República no site e em papéis de correspondência, o que cau-
sava a impressão de tratar-se de uma entidade autárquica oficial. A profissão de teologia
ainda não foi regulamentada [e no que depender deste autor, nunca será]. Mesmo assim,
o regimento interno da instituição prevê a função da profissão e a obrigatoriedade do re-
gistro profissional, que deveria ser feito pela própria entidade. A Procuradoria alegou que
somente a lei pode impor qualificações profissionais para o exercício de determinada pro-
fissão e não a vontade particular. O Conselho de Teólogos contestou a ação reconhecendo
66 Identidade Teológica
isso acontecer, só mesmo o Senhor poderá nos livrar dos malefícios do
monopólio da Palavra.
Teólogo não é título, ao contrário do que dizem os diplomas e
certificados que os sábios aos seus próprios olhos confeccionam para si
e para os incautos de egos inflados que os seguem. Teólogo é função.
Não é posto nem é cargo. É trabalho, apenas. É labor. É ideia e ideal.
Se Teologia é palavra sobre Deus, então Teólogo é coisa que todo e
qualquer crente pode ser, pois a Teologia não é propriedade intelectual
da Igreja, é patrimônio da Cristandade. Quando vejo os títulos carim-
bados, as carteirinhas das associações, os anéis ostentando o saber que
não houve, lembro-me do que disse Paulo, o fazedor de tendas: “virá
o tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão
nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias
concupiscências” (2Tm 4.3).
Qual a diferença entre um título e uma função? O título é algo
que se conquista a partir de um esforço acadêmico. A função é aquilo
que a sociedade ou os grupos notam e reconhecem no indivíduo. É
fácil compreender isso a partir de exemplos acadêmicos e sociais que
ainda não foram tão contaminados pelo ego humano, como (lástima!) a
Teologia parece ter sido. Alguém que complete a faculdade de História é
titulado Bacharel naquela matéria. Um concluinte do curso de Filosofia é
licenciado naquela área do saber. Daí a serem reconhecidos como Histo-
riador ou Filósofo há um abismo. Bacharel é, portanto, o grau conferido
ao nível de graduação superior. Socialmente, porém, não é preciso ser
Bacharel em História para ser um Historiador, ou em Filosofia para ser
Filósofo, pois estas são funções. Laurentino Gomes3 e Eduardo Bueno4
são jornalistas de formação, mas sagraram-se historiadores. Olavo de
possíveis erros em seu Regimento Interno, que afirmava falsamente relação com o Minis-
tério do Trabalho e Emprego. No entanto, sustentou não haver vedação legal para o uso
da expressão ‘Conselho Federal’. A Decisão da Vara Federal foi favorável a União, determi-
nando que o conselho retire dos seus atos, bem como de qualquer veículo de mídia, em até
dez dias, as expressões que o caracterizem como autarquia federal, além da proibição da
utilização do brasão da República, sob pena de multa diária de R$ 5 mil. Ref.: Processo nº
2008.51.01.022492-8 (23ª Vara Federal do Rio de Janeiro). Camila Carelli e Lorena Simões”
3 Laurentino formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná, é pós-graduado
em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo. É de sua autoria a excep-
cional trilogia 1808, 1822 e 1989, sobre passagens fundamentais da história brasileira.
4 Eduardo Bueno é jornalista. Suas principais obras foram a respeito da história do Brasil.
68 Identidade Teológica
Somos todos teólogos porque a Teologia é universal
EXERCÍCIOS
Escreva suas respostas abaixo
8 Grenz, Stanley J. e Olson, Roger E. Quem precisa de teologia? Um convite ao estudo sobre
Deus e sua relação com o ser humano. São Paulo. Editora Vida, 2002.
70 Identidade Teológica
Marque “C” para certo e “E” para errado.
___3.05 Já no início da era cristã, homens se destacaram após declararem-se
fontes do saber autorizado e de fornecerem, aos demais cristãos,
formulações prontas que dispensavam qualquer questionamento
ou reflexão a respeito das investigações fundamentais do viver.
___3.06 No começo da era cristã, não havia homens portadores do
título de teólogo, como os temos hoje. Mas todo o crente
era um teólogo, pois todos tinham de lidar com as questões
fundamentais acerca de Deus e da sua própria existência.
___3.07 O fato de, hoje, termos teólogos e materiais de estudo em
abundância não dispensa a iniciativa individual de questionar
e de refletir acerca de Deus e dos assuntos eternos.
___3.08 A cosmovisão recebida do Cristo não deve ser o único meio
de responder às perguntas essenciais do viver, já que todas
as religiões apresentam soluções satisfatórias às dúvidas que
todos temos concernentes à eternidade e a Deus.
TEXTO 2
A CAIXA DE FERRAMENTAS DO TEÓLOGO
Aos sete anos de idade, senti um assombro teológico enquanto ouvia
meu pai contar sobre como os judeus desprezaram a Cristo. O medo
brotou quando perguntei: “Mas os pastores dos judeus aceitaram Jesus,
certo? Só os judeus que não eram pastores negaram Jesus?” Era-me óbvio
que os líderes espirituais judeus jamais cometeriam um erro tão grosseiro
quanto ver o Messias e não reconhecê-Lo. Para minha surpresa, foram
justamente os judeus teólogos os mais míopes. Aí, não deu para disfarçar
o medo: se eu tivesse vivido naquela época, como poderia concluir
sozinho (sem a ajuda de pastores ou teólogos) que Jesus era o Cristo?
É inegável que nossas concepções de fé são influenciadas, para o
bem ou para o mal, por aqueles a quem amamos e respeitamos. Uma
verdade psicológica inconteste diz que a força do culto das crianças está
em seus pais – e este é um fato verificável, pois muito raramente elas
se aproximam de alguma fé que não a professada por quem as educou.
Ainda que em parte nos beneficiemos disso, pois criamos nossos rebentos
Precisamos de ferramentas
A Palavra (normativa)
Alguns anos atrás, revisando uma apresentação para uma palestra
sobre a Teologia Reformada, notei uma coincidência: em todas as
pinturas e gravuras que eu usaria, Lutero aparecia segurando um volume
das Escrituras. Não por acaso, a Reforma Protestante entrou para o
imaginário teológico cristão como sendo um evento de resgate inequí-
voco da qualidade bíblica do pensamento cristão. Mergulhados em
toda a corrupção da fé cristã do século XVI, o mérito dos reformadores
foi conseguir enxergar outra vez a Bíblia como norma teológica. Isso é
mais que considerá-la como fonte primária, pois a sua função normativa
requer aceitá-la como a revelação escrita de Deus aos homens. Sendo
o resultado único e direto da inspiração, as Escrituras têm autoridade
normativa sobre a produção teológica. Entender o significado é mais que
72 Identidade Teológica
tomá-la por fonte primária, posto que sua autoridade tem precedência
inquestionável sobre o conteúdo (pois ela é fonte) e a forma (pois ela é
a norma). Por exemplo, Jesus está no centro da mensagem bíblica, logo
Cristo não é só um tema teológico (a Bíblia como fonte), mas o tema
central (a Bíblia como norma).
9 Miguel Servet não foi apenas médico, mas teólogo e filósofo. Entre seus feitos está a pri-
meira descrição feita por um europeu da circulação pulmonar. A sentença de morte lhe foi
decretada porque Servet não cria na Trindade e não aceitava o batismo infantil. Conforme
o entendimento de João Calvino, o principal agravante foi que a heresia antitrinitariana do
médico espanhol emprestava aos muçulmanos e judeus argumentos contra os cristãos.
74 Identidade Teológica
faça-se pontuar por erros e deslizes, esses eventos servem como um mapa
do campo minado que já fez tantas vítimas.
A instrumentalidade da tradição é ser um ponto de partida, e às
vezes de chegada. Algumas vezes, continuamos de onde pararam os Pais
da Igreja, e outras vezes chegamos ao mesmo lugar que eles mapearam
como termo de alguma ideia. Consideremos brevemente o caso da
doutrina trinitariana. Se formos absolutamente sinceros, confessaremos
fingir entender essa doutrina, pois na verdade quem a pode explicar
satisfatoriamente? Nela, ousamos dizer o que Deus é (definir), e isto
é impossível e muito diferente de falar que Deus é isto e mais aquilo
(listar), como explicaria Charles Hodge. A doutrina trinitariana é a
tentativa de discorrer sobre a constituição de um ente incriado e autoe-
xistente. “Um Ser subexistente em três Pessoas igualmente divinas”, a
frase que repetimos com ares de superioridade, é uma tentativa tão pálida
de explicar a Trindade Santa que me faz indagar se Miguel Servet era
herege ou insatisfeito. A declaração trinitária é só o que sabemos sobre
a Trindade, só o que saberemos em vida, e só o que teremos condições
de assimilar. Todo o resto é aceitado por fé, pois esse é o desafio de todo
mistério: ser aceitado. Esqueça o esquema do triângulo, pois ele destitui
de personalidade divina o Pai, o Filho e o Espírito quando lhe separamos
os lados. É... Lado de triangulo não é triângulo, é traço. Mas Jesus sem
o Pai ainda é Deus. E o ovo? Exemplo igualmente infrutífero, pois casca
de ovo não é ovo, mas o Consolador sem Jesus ainda é Divino.
Tradição é referência.
Tradição é conhecimento.
Tradição não é tudo.
Tradição é muita coisa.
EXERCÍCIOS
Escreva suas respostas abaixo
3.09 Quanto à ideia de que todos somos teólogos, responda: Que
indagações você já fez sobre Deus e sobre você mesmo? Como a
Bíblia satisfez a sua busca por respostas?
_________________________________________________
__________________________________________________
76 Identidade Teológica
3.10 Que utilidade os erros e deslizes teológicos cometidos ao longo
da história teológica podem ter?
_________________________________________________
__________________________________________________
10 Frase atribuída a Anselmo de Cantuária (1033-1109), filósofo cristão reputado como fun-
dador do Escolasticismo.
11 Um dos mais importantes teólogos do Cristianismo (354-430).
78 Identidade Teológica
Conhecer a Deus
CONCLUSÃO
A outra grande lembrança teológica que trago da infância não é
de um pesquisador, mas de minha primeira ensinadora, a minha mãe
EXERCÍCIOS
Marque “C” para certo e “E” para errado.
___3.17 O amor a Deus cresce e se fortalece na medida em que o
homem aprende mais sobre Ele.
___3.18 O ser humano só é capaz de crer em Deus após adquirir vasto
conhecimento sobre Ele.
___3.19 Ao crer em Deus, é natural que o homem deseje aprender
mais sobre Ele.
___3.20 Cremos em Deus porque o nosso intelecto foi convencido de
que devemos crer, e não pela nossa livre vontade.
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B. Para que o teólogo mantenha a integridade bíblica deve
C. Antes de publicar a sua produção, o teólogo deve
D. Para que a fé seja edificada
REVISÃO DA LIÇÃO
Assinale com “x” as alternativas corretas.
3.25 Atualmente é comum vermos seminários e faculdades teológicas cheias
de estudantes, alguns são dedicados e estudam para obter um conhe-
cimento mais abrangente das Escrituras, já outros buscam apenas o
título e o tão sonhado cargo. Sobre isso, é certo afirmar que
___a) um estudante de teologia deve empenhar-se em seus
estudos para conquistar o título de teólogo, pois somente
com a aquisição do certificado é que ele poderá por em
prática essa função, lembrando que o quanto antes ele
filiar-se em um conselho de teólogos melhor será.
___b) apenas aqueles que estudam em boas instituições teoló-
gicas podem tornar-se bons profissionais, caso contrário
esse aluno não será um teólogo reconhecido.
___c) muitos almejam ser teólogos profissionais obter títulos,
cargos e reconhecimento. A busca pelo conhecimento
não é errada, mas devemos lembrar que ao contrário de
que muitos pensam a Teologia não é simplesmente um
título, posto ou cargo, é trabalho.
___d) Nenhuma das alternativas anteriores.
3.26 A Teologia pode ser feita por qualquer pessoa, porém sabemos que não
deve ser produzida de qualquer maneira. Existem algumas ferramentas
que são utilizadas como fontes de matéria prima e normas, e uma
dessas ferramentas utilizadas é a Tradição. Leia as sentenças a seguir.
I. A tradição não é superior a Bíblia, é apenas
referência ou ponto de partida.
II. A tradição é considerada igual ou até mesmo
superior à Bíblia, além de ser nossa referência e
ponto de partida, a tradição nos revela a verdade.
82 Identidade Teológica
___d) há uma diversidade de diferentes fontes para refletirmos
a respeito da fé, porém a única fonte válida é a Bíblia, o
melhor livro teológico de todos os tempos.
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