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Lição 3

SOMOS TODOS TEÓLOGOS

Em minha infância conheci grandes teólogos. Nas muitas vezes que


acompanhei meu pai à Casa Publicadora das Assembleias de Deus, eu os
vi produzir, comentar e debater. O desjeito de suas escrivaninhas era calcu-
lado, próprio dos intelectuais em atividade, com livros aos montes e papéis
rascunhados. Computadores? Não havia. Apenas as antigas e elegantes
Remingtons, robustas como a Teologia que diariamente grafavam. Quem
visse Geremias do Couto, Jefferson Magno da Costa, Joanir de Oliveira,
Antônio Gilberto ou Claudionor de Andrade, absortos em pensamentos
e iluminações, os chamaria teólogos. E eles eram.
Desta mesma época, trago recordações de dois outros teólogos.
Sem livros, sem anotações ou escrivaninhas, eles não duelavam epifa-
nias ou debatiam metafísica. Preferiam testemunhos aos conceitos e
usavam palavras simples. Uma destas lembranças é de meu avô materno,
Leonildo. Descendente de italianos, ele demorou a libertar-se da idolatria
e a se reconciliar com Deus. Mas quando finalmente aconteceu, pelo seu
testemunho, a esposa e os nove filhos também se entregaram ao Salvador.
O que ele fizera foi boa teologia, teologia de resultados.
A outra recordação, mais que memória, é uma conclusão. Então,
vou reservá-la para o final.

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Esboço da Lição

– Quem é o teólogo?
– A caixa de ferramentas do teólogo
– A função do teólogo
– Conclusão

Objetivos da Lição

Ao término desta lição, o aluno deverá estar apto para:


– esclarecer o que o teólogo deve ser, e estabelecer o quanto
estamos longe da condição ideal;
– discorrer sobre como o teólogo deve trabalhar de modo
autônomo, não cedendo à influência emocional ou relacional
de outras pessoas;
– detalhar o que é a atividade do teólogo e, assim, estabelecer
a diferença que há entre a titulação e a função;
– por uma experiência pessoal do autor, confirmar o entendi-
mento de que somos todos teólogos.

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TEXTO 1
QUEM É O TEÓLOGO?
Qualquer pessoa. Sim, qualquer pessoa pode ser um teólogo. Não
estou sugerindo que um teólogo possa vir de qualquer lugar; isso é impre-
ciso. Estou dizendo que toda e qualquer pessoa é um teólogo. Descon-
fiado? Então é porque você não sabe o que um teólogo é – razão pela
qual, aliás, tantas pessoas não se reconhecem teólogos, embora sejam. No
próximo capítulo veremos o que é Teologia, mas já é possível e necessário
dizer que ela é o resultado de pensamentos a respeito de Deus; então,
quem pensa sobre Ele comete Teologia. Não é errado ou forçoso dizer
que somos todos teólogos.

“Teólogo” não é título. É função

Tempos atrás, tive uma conversa muito interessante com uma


grande ensinadora chamada Vera Brock1. A educadora contou-me que ao
receberem os diplomas do curso teológico, alguns alunos questionavam
a razão de não estar dito ali que eles eram teólogos. “Quanta pretensão!”,
ela me disse, e eu concordo.
Quem quiser entender melhor esse comentário precisa ter estômago
forte para ir ao Google e buscar por “conselho de teólogos”. Incrível,
não é? A já incalculável quantidade de instituições do tipo sugere que
esse é o caminho, a tendência. De fato, essa é a vereda do desastre e a
inclinação do ego. Algumas dessas organizações cometem o absurdo
de usar indevidamente as insígnias da República se autoproclamando
federais2. Mas no que depender deste autor, nunca serão, pois se um dia

1 A professora Vera atuou por muitos anos como Secretária Geral da Associação Evangélica
de Educação Teológica na América Latina - AETAL, além de integrar o quadro docente do
excelente Seminário Bíblico Palavra da Vida.
2 Assim está publicado no endereço http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteu-
do/109656, para nossa alegria: “A Procuradoria Regional da União da 2ª Região (PRU2)
conseguiu junto à 23ª Vara Federal do Rio de Janeiro que fosse determinada liminarmente
a retirada da expressão ‘federal’ do nome de um Conselho de Teólogos, já que a instituição
não possui qualquer vínculo com a União. Além da expressão ‘conselho federal’ no nome,
o órgão usava o brasão da República no site e em papéis de correspondência, o que cau-
sava a impressão de tratar-se de uma entidade autárquica oficial. A profissão de teologia
ainda não foi regulamentada [e no que depender deste autor, nunca será]. Mesmo assim,
o regimento interno da instituição prevê a função da profissão e a obrigatoriedade do re-
gistro profissional, que deveria ser feito pela própria entidade. A Procuradoria alegou que
somente a lei pode impor qualificações profissionais para o exercício de determinada pro-
fissão e não a vontade particular. O Conselho de Teólogos contestou a ação reconhecendo

66 Identidade Teológica
isso acontecer, só mesmo o Senhor poderá nos livrar dos malefícios do
monopólio da Palavra.
Teólogo não é título, ao contrário do que dizem os diplomas e
certificados que os sábios aos seus próprios olhos confeccionam para si
e para os incautos de egos inflados que os seguem. Teólogo é função.
Não é posto nem é cargo. É trabalho, apenas. É labor. É ideia e ideal.
Se Teologia é palavra sobre Deus, então Teólogo é coisa que todo e
qualquer crente pode ser, pois a Teologia não é propriedade intelectual
da Igreja, é patrimônio da Cristandade. Quando vejo os títulos carim-
bados, as carteirinhas das associações, os anéis ostentando o saber que
não houve, lembro-me do que disse Paulo, o fazedor de tendas: “virá
o tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão
nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias
concupiscências” (2Tm 4.3).
Qual a diferença entre um título e uma função? O título é algo
que se conquista a partir de um esforço acadêmico. A função é aquilo
que a sociedade ou os grupos notam e reconhecem no indivíduo. É
fácil compreender isso a partir de exemplos acadêmicos e sociais que
ainda não foram tão contaminados pelo ego humano, como (lástima!) a
Teologia parece ter sido. Alguém que complete a faculdade de História é
titulado Bacharel naquela matéria. Um concluinte do curso de Filosofia é
licenciado naquela área do saber. Daí a serem reconhecidos como Histo-
riador ou Filósofo há um abismo. Bacharel é, portanto, o grau conferido
ao nível de graduação superior. Socialmente, porém, não é preciso ser
Bacharel em História para ser um Historiador, ou em Filosofia para ser
Filósofo, pois estas são funções. Laurentino Gomes3 e Eduardo Bueno4
são jornalistas de formação, mas sagraram-se historiadores. Olavo de

possíveis erros em seu Regimento Interno, que afirmava falsamente relação com o Minis-
tério do Trabalho e Emprego. No entanto, sustentou não haver vedação legal para o uso
da expressão ‘Conselho Federal’. A Decisão da Vara Federal foi favorável a União, determi-
nando que o conselho retire dos seus atos, bem como de qualquer veículo de mídia, em até
dez dias, as expressões que o caracterizem como autarquia federal, além da proibição da
utilização do brasão da República, sob pena de multa diária de R$ 5 mil. Ref.: Processo nº
2008.51.01.022492-8 (23ª Vara Federal do Rio de Janeiro). Camila Carelli e Lorena Simões”
3 Laurentino formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná, é pós-graduado
em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo. É de sua autoria a excep-
cional trilogia 1808, 1822 e 1989, sobre passagens fundamentais da história brasileira.
4 Eduardo Bueno é jornalista. Suas principais obras foram a respeito da história do Brasil.

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Carvalho5 e Luiz Felipe Pondé6 são considerados pensadores, filósofos,
pelo desempenho social de seus trabalhos.
Por ganância e arrogância, malvados que fingem piedade, mas
negam a eficácia do amor, querem fazer das funções social e espiritual
do Teólogo propriedades de uma classe na qual se entra não pelo desem-
penho aprovado pela cristandade, mas pelo pagamento de uma anuidade.
Prezado Leitor, se você entrou em uma coisa dessas, saia. Se considerava
entrar, desista. Isso não é para servos.

Cada cristão, um teólogo

Todo aquele que ref lete a respeito de questões essenciais do


existir pratica Teologia. Se estas indagações esbarram em perguntas
que incluam o Criador, então esta pessoa é um Teólogo. O que
noto nos diálogos com meus alunos, com outros cristãos e com a
maioria das pessoas, é a predominância de uma ideia generalista
do que é um Teólogo e do que ele faz. A bem da verdade, muitos
cristãos acham natural que a imensa maioria dos Teólogos seja
hermética e estéril – como se houvesse relação entre ser profundo
e ser incompreensível7.
Ao dizer que cada cristão é um teólogo, estão em jogo três convic-
ções que tenho. A primeira diz que é impossível o crente não ocupar-se
de pensar sobre o relacionamento entre Deus e o homem. Logo, todo
crente é um teólogo. A segunda advoga que a Teologia produzida por
um humilde cristão não precisa diferir daquela nascida no gabinete do
teólogo na qualidade, mas diferirá, talvez, na intensidade e na quanti-
dade. E, finalmente, os cristãos precisam dos teólogos convencionais,
pois estes são como ferramenteiros, e aqueles como operários. Logo, o
teólogo convencional tem a obrigação de ser útil ao crente que se senta
no último banco da congregação.

5 Olavo Luiz Pimentel de Carvalho é considerado um dos grandes filósofos em atividade no


Brasil.
6 Luiz Felipe de Cerqueira e Silva Pondé, de origem judaica e matriz conservadora. Ao lado de
Olavo de Carvalho é um dos pensadores mais conceituados da atualidade.
7 É necessário e justo dizer que diante destas considerações, o temor dos missionários sue-
cos e outros obreiros pentecostais do início do século XX, tratado anteriormente, não era
de todo infundado.

68 Identidade Teológica
Somos todos teólogos porque a Teologia é universal

No princípio do período cristão, não havia teólogos – ao menos, não


nos termos como hoje os definimos. De acordo com o que Paulo escreve
aos crentes efésios, havia apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres
(Ef 4.11), mas nenhum teólogo. Entre os apóstolos contam-se um cobrador
de impostos, um traidor reacionário, quatro pescadores, seis homens de
ocupação não declarada, mas nenhum teólogo! Ninguém que se arvorasse
fonte do saber autorizado. Como, então, houve Teologia cristã sem teólogos?
Fácil: a Teologia é universal em seus temas (todo ser humano necessita
confrontar-se com as indagações fundamentais sobre o existir de Deus e
o seu próprio) e coletiva em sua formação. Isso é o que se chama Teologia
de Cosmovisão, o questionamento sobre Deus feito por pessoas comuns –
exatamente da mesma forma como fazem os teólogos convencionais.
Os crentes primitivos, nos primeiros movimentos da Teologia Cristã,
procuraram responder os questionamentos essenciais do viver a partir da
nova cosmovisão recebida do Cristo. Sua nova visão do mundo incluía a
necessidade inadiável de reconciliar-se com Deus através do Messias e uma
expectativa de vida eterna através do mesmo Salvador. Fazia-se necessário,
sim, que cada cristão se lançasse às investigações fundamentais do viver a
partir das novas perspectivas recebidas dos ensinamentos do Senhor Jesus.
Não quero sugerir, porém, que o caminho para a formulação do arcabouço
doutrinário cristão foi curto e seguro. Muito ao contrário, ainda hoje não
fechamos algumas questões, e todo e qualquer postulado está sempre sob
análise (ou de quem o quer confirmar ou de quem deseja questioná-lo).
Mas se não foi plano o caminho, foi natural a caminhada, tão natural
quanto a inclinação humana ao inquérito – Grenz e Olson sugerem que
isso seria, inclusive, um indício da existência de Deus8.

EXERCÍCIOS
Escreva suas respostas abaixo

3.01 Você se inspira ou admira algum teólogo? Cite.


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8 Grenz, Stanley J. e Olson, Roger E. Quem precisa de teologia? Um convite ao estudo sobre
Deus e sua relação com o ser humano. São Paulo. Editora Vida, 2002.

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3.02 Leia a afirmativa a seguir, extraída do parágrafo acima: “... é
possível e necessário dizer que ela [teologia] é o resultado de
pensamentos a respeito de Deus”. Esta afirmação permite que
você se considere um teólogo? Explique.
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________________________________________________
___________________________________________________

3.03 Explique a diferença entre título e função. Se desejar, procure


seus significados em um dicionário.
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________________________________________________
___________________________________________________

Assinale com “x” as alternativas corretas.

3.04 Marque somente as alternativas que demonstram qual deve ser


o papel da teologia formalmente produzida.
___a) A teologia formalmente produzida deve fornecer aos
crentes ferramentas que os ajudem a aprofundar seus
conhecimentos bíblicos.
___b) A teologia formalmente produzida deve ampliar a visão
que os crentes, de uma forma geral, têm do Reino.
___c) A teologia formalmente produzida deve servir como
palavra final, não deixando ao crente comum espaço
para que faça as suas próprias reflexões a respeito de
Deus.
___d) A teologia formalmente produzida deve confirmar
aquilo que o Espírito Santo comunica ao coração de
cada crente.

70 Identidade Teológica
Marque “C” para certo e “E” para errado.
___3.05 Já no início da era cristã, homens se destacaram após declararem-se
fontes do saber autorizado e de fornecerem, aos demais cristãos,
formulações prontas que dispensavam qualquer questionamento
ou reflexão a respeito das investigações fundamentais do viver.
___3.06 No começo da era cristã, não havia homens portadores do
título de teólogo, como os temos hoje. Mas todo o crente
era um teólogo, pois todos tinham de lidar com as questões
fundamentais acerca de Deus e da sua própria existência.
___3.07 O fato de, hoje, termos teólogos e materiais de estudo em
abundância não dispensa a iniciativa individual de questionar
e de refletir acerca de Deus e dos assuntos eternos.
___3.08 A cosmovisão recebida do Cristo não deve ser o único meio
de responder às perguntas essenciais do viver, já que todas
as religiões apresentam soluções satisfatórias às dúvidas que
todos temos concernentes à eternidade e a Deus.

TEXTO 2
A CAIXA DE FERRAMENTAS DO TEÓLOGO
Aos sete anos de idade, senti um assombro teológico enquanto ouvia
meu pai contar sobre como os judeus desprezaram a Cristo. O medo
brotou quando perguntei: “Mas os pastores dos judeus aceitaram Jesus,
certo? Só os judeus que não eram pastores negaram Jesus?” Era-me óbvio
que os líderes espirituais judeus jamais cometeriam um erro tão grosseiro
quanto ver o Messias e não reconhecê-Lo. Para minha surpresa, foram
justamente os judeus teólogos os mais míopes. Aí, não deu para disfarçar
o medo: se eu tivesse vivido naquela época, como poderia concluir
sozinho (sem a ajuda de pastores ou teólogos) que Jesus era o Cristo?
É inegável que nossas concepções de fé são influenciadas, para o
bem ou para o mal, por aqueles a quem amamos e respeitamos. Uma
verdade psicológica inconteste diz que a força do culto das crianças está
em seus pais – e este é um fato verificável, pois muito raramente elas
se aproximam de alguma fé que não a professada por quem as educou.
Ainda que em parte nos beneficiemos disso, pois criamos nossos rebentos

Lição 3 - Somos todos Teólogos 71


no Evangelho desde a tenra idade (Pv 22.6), devemos considerar que
uma teologia sólida não pode ser construída apenas com base em
opiniões. De que recursos, então, o teólogo dispõe para o labor?

Precisamos de ferramentas

Trabalhamos até aqui a ideia de que todos somos teólogos. Embora


doce, esta afirmação deixa alguma cica na boca, pois causa impacto
comparar Alister McGrath ou Norman Geisler a nós mesmos. Então,
como é possível que sejamos todos teólogos se nossas atividades teológicas
não podem ser comparadas às de Shedd ou Stott?
Dizer que a Teologia pode ser feita por qualquer pessoa não é igual
a sugerir que ela possa ser produzida de qualquer forma. Aliás, não é
rara a ideia de que o trabalho teológico é divagação. Esse entendimento
domina o senso comum, mesmo o cristão evangélico, supondo que o
teólogo passa os dias a olhar o céu pela janela do gabinete enquanto
pensa nas profundidades que vai comunicar. Teologia, no entanto, é
também a articulação de crenças sobre Deus. O teólogo procura estabe-
lecer conexões entre a revelação e a fé, e entre a fé e o entendimento...
depois, claro, de olhar o céu pela janela.
Para trabalhar, o teólogo precisa de algumas ferramentas. Estes utensí-
lios são como fontes de matéria prima (conteudista) e como regras (ferra-
mentas normativas). Para as pretensões deste estudo consideraremos três
destas fontes e normas: a Palavra, a tradição teológica e a cultura do teólogo.

A Palavra (normativa)
Alguns anos atrás, revisando uma apresentação para uma palestra
sobre a Teologia Reformada, notei uma coincidência: em todas as
pinturas e gravuras que eu usaria, Lutero aparecia segurando um volume
das Escrituras. Não por acaso, a Reforma Protestante entrou para o
imaginário teológico cristão como sendo um evento de resgate inequí-
voco da qualidade bíblica do pensamento cristão. Mergulhados em
toda a corrupção da fé cristã do século XVI, o mérito dos reformadores
foi conseguir enxergar outra vez a Bíblia como norma teológica. Isso é
mais que considerá-la como fonte primária, pois a sua função normativa
requer aceitá-la como a revelação escrita de Deus aos homens. Sendo
o resultado único e direto da inspiração, as Escrituras têm autoridade
normativa sobre a produção teológica. Entender o significado é mais que

72 Identidade Teológica
tomá-la por fonte primária, posto que sua autoridade tem precedência
inquestionável sobre o conteúdo (pois ela é fonte) e a forma (pois ela é
a norma). Por exemplo, Jesus está no centro da mensagem bíblica, logo
Cristo não é só um tema teológico (a Bíblia como fonte), mas o tema
central (a Bíblia como norma).

Tradição Teológica (conteudista)


Tenho muito orgulho do nome que meus pais me deram, Gunar
Berg – a mim, ele é mais que um vocativo, é uma vocação. Natural-
mente, a história das Assembleias de Deus foi mais familiar à minha
infância que à de outros coleguinhas da Escola Dominical. Mesmo
assim, foi um tanto decepcionante uma experiência que tive em 1999.
Naquele ano, voluntariei-me para ajudar no culto noturno das crianças
de nossa igreja. Logo na primeira noite, contei-lhes a história de Daniel
e Gunnar. E, claro, aqueles meninos e meninas entusiasmaram-se com
os pioneiros – e não poderia ser diferente, pois narrativa como aquela
não há. A decepção foi descobrir que aquelas crianças chegaram aos dez
anos de idade sem jamais haverem escutado falar em Berg, Vingren ou
qualquer outro pioneiro do movimento pentecostal – e praticamente
todas eram filhos de pais assembleianos de segunda geração. Há saudo-
sismo em minha observação? Talvez um pouco – não vou negar. Mas
ele é muito menor que a urgência de reconhecermos o inestimável valor
da tradição como ferramenta do teólogo em seu labor.

A tradição teológica é valiosa


Por que insistir na labuta teológica, se a tradição já fez tudo? A
tradição não fez tudo... e não seremos nós que terminaremos o trabalho.
Observando a Teologia de onde estamos, do alto de dois mil anos de
estudos e ideias, podemos ter duas miragens. A primeira nos levaria a
crer que sabemos muito mais que nossos antecessores. A segunda nos
convenceria de que há pouco a fazer, pois caminhamos significativamente
em dois milênios. Como disse, são duas ilusões.
Sabemos mais que as gerações passadas (A tradição teológica subesti-
mada). Não sabemos mais que os Pais da Igreja, ou os teólogos orientais,
ou os escolásticos medievais, ou qualquer outro doutor da igreja (mesmo
que algumas das heresias que conhecemos hajam sido formuladas por
alguns deles). As nossas conclusões, os nossos bem-sucedidos estudos e
teses sempre, sempre consideram o que foi produzido, debatido e escrito

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antes de nós. O pouco de segurança que temos ao escrever não pode
ser confundido com autossuficiência. E nem pode ser atribuído à nossa
própria desenvoltura. Se estamos em posição elevada, é porque repou-
samos sobre os ombros das gerações de teólogos dos últimos dois mil
anos. O que sabemos, não descobrimos. Aprendemos.
Há pouco a fazer (A tradição teológica superestimada). Se a primeira
miragem produz soberba, a outra falsa visão induz à acomodação. Não
podemos subestimar, sob hipótese qualquer, o trabalho dos pais do
pensamento teológico, e nem supervalorizá-lo. Uma das mais expres-
sivas demonstrações de superestima teológica, ao ponto de causar depen-
dência intelectual, eu noto na forma como muitos calvinistas são afeitos
ao príncipe de Genebra. Com incrível frequência meus alunos temem
discordar, um pouquinho que seja, de Calvino, e mais comum ainda
são as reações acaloradas daqueles que discordam de quem discorda
do reformador francês. Ah, quantos e-mails furiosos eu já recebi de
predestinacionistas, só porque ousei divergir do João. Isso é sintoma de
dependência intelectual teológica. Não estou falando de preguiça, mas
dependência. Sei que isso vai me render outros muitos pares de vigorosas
manifestações, mas Calvino partiu para a glória aos 54 anos – faltou-lhe
tempo para amadurecer e burilar as ideias. Claro que se isso for toda
a prova a favor ou contra uma doutrina, Armínio seguiu pelo mesmo
caminho, pois morreu aos 49. Mas em compensação, em sua biografia
não pesa o decreto de morte contra Miguel Servet9 ou a terrível omissão
que culminou na morte de Giordano Bruno (comento brevemente o
fato no capítulo 12).
Como usar (A utilidade da tradição teológica). Fará bom uso da
tradição teológica o crente que entendê-la nas reais dimensões que ela
tem. A tradição teológica é um farol na costa. É uma referência na carta
de navegação. É um dique contra as ondas de modismos. Ela não é
superior à Bíblia, nem igual a ela. Mas é o resultado do esforço de todos
os que foram iluminados ao tentar sinceramente compreender as Escri-
turas. A tradição é as ideias testadas pelo tempo, experimentadas pela
Igreja e aprovadas por seus resultados. E mesmo que a história teológica

9 Miguel Servet não foi apenas médico, mas teólogo e filósofo. Entre seus feitos está a pri-
meira descrição feita por um europeu da circulação pulmonar. A sentença de morte lhe foi
decretada porque Servet não cria na Trindade e não aceitava o batismo infantil. Conforme
o entendimento de João Calvino, o principal agravante foi que a heresia antitrinitariana do
médico espanhol emprestava aos muçulmanos e judeus argumentos contra os cristãos.

74 Identidade Teológica
faça-se pontuar por erros e deslizes, esses eventos servem como um mapa
do campo minado que já fez tantas vítimas.
A instrumentalidade da tradição é ser um ponto de partida, e às
vezes de chegada. Algumas vezes, continuamos de onde pararam os Pais
da Igreja, e outras vezes chegamos ao mesmo lugar que eles mapearam
como termo de alguma ideia. Consideremos brevemente o caso da
doutrina trinitariana. Se formos absolutamente sinceros, confessaremos
fingir entender essa doutrina, pois na verdade quem a pode explicar
satisfatoriamente? Nela, ousamos dizer o que Deus é (definir), e isto
é impossível e muito diferente de falar que Deus é isto e mais aquilo
(listar), como explicaria Charles Hodge. A doutrina trinitariana é a
tentativa de discorrer sobre a constituição de um ente incriado e autoe-
xistente. “Um Ser subexistente em três Pessoas igualmente divinas”, a
frase que repetimos com ares de superioridade, é uma tentativa tão pálida
de explicar a Trindade Santa que me faz indagar se Miguel Servet era
herege ou insatisfeito. A declaração trinitária é só o que sabemos sobre
a Trindade, só o que saberemos em vida, e só o que teremos condições
de assimilar. Todo o resto é aceitado por fé, pois esse é o desafio de todo
mistério: ser aceitado. Esqueça o esquema do triângulo, pois ele destitui
de personalidade divina o Pai, o Filho e o Espírito quando lhe separamos
os lados. É... Lado de triangulo não é triângulo, é traço. Mas Jesus sem
o Pai ainda é Deus. E o ovo? Exemplo igualmente infrutífero, pois casca
de ovo não é ovo, mas o Consolador sem Jesus ainda é Divino.
Tradição é referência.
Tradição é conhecimento.
Tradição não é tudo.
Tradição é muita coisa.

A cultura do teólogo (a ferramenta que requer conteúdo)


Durante uma consulta da World Evangelical Alliance (WEA)
acontecida em 2009 na cidade de São Paulo, uma plenária me foi parti-
cularmente interessante graças ao embate travado entre o palestrante e
um dos ouvintes. Durante cerca de uma hora, o orador convidado nos
brindou com notícias a respeito de seu esforço por uma teologia africana.
Nascido na África do Sul, aquele homem fora alcançado para Cristo por
uma missão estrangeira. Agora, ele próprio era pastor de um rebanho
nativo. Nalgum momento, porém, a sua fala mudou, e o que parecia

Lição 3 - Somos todos Teólogos 75


zelo com a transmissão dos valores cristãos aos povos africanos mostrou-se
uma discriminação rasteira com a “teologia ocidental”. Foi então que um
dos participantes manifestou-se contrário à fala do expositor. Ele disse:
“Como poderia haver uma teologia africana ou uma europeia se a Bíblia é
uma só?” A discussão foi longa, mas distante alguns anos deste fato, pode
ser que eu consiga, finalmente, organizar o pensamento sobre o quanto
a cultura do teólogo é importante (ou não) para o seu trabalho teológico.

O que fazer com a lente cultural do intérprete bíblico?


A Teologia atravessa um instante pernicioso: a defesa de uma
fragmentação e uma acomodação por demanda. O resultado não seria
a Teologia universal de origem bíblica, mas o embaraço de conveniências
com uma teologia asiática, outra africana, uma feminista, a da liber-
tação, a homossexual histriônica e assim por diante. Aos desavisados e
entusiastas acríticos pode parecer que uma teologia só é um desperdício
de esforço, pois povos não alcançados não estão prontos para receber a
comunicação judaico-cristã-ocidental da verdade. Por isso insistem os
liberais que o certo é retalhar o tecido teológico pelo molde do mosaico
cultural. Mas a verdade passa longe deste discurso de ateliê, pois a trama
bíblica orna plenamente toda e qualquer cultura.
Que cabe ao teólogo fazer, então? Articular a Teologia com as
demandas do tempo presente. Mas é preciso compreender que a cultura
pergunta, não ordena. As culturas exigem intensidades ou quantidades
de conteúdo diferentes para ser confrontadas. Como teólogos, precisamos
assumir que nosso trabalho é produzir respostas às perguntas feitas pela socie-
dade, ainda que boa parte destas indagações não seja acompanhada de inter-
rogação. Sim! Uma das qualidades exigidas do apologeta cristão é reconhecer
as perguntas, principalmente aquelas que surgem com exclamações.

EXERCÍCIOS
Escreva suas respostas abaixo
3.09 Quanto à ideia de que todos somos teólogos, responda: Que
indagações você já fez sobre Deus e sobre você mesmo? Como a
Bíblia satisfez a sua busca por respostas?
_________________________________________________
__________________________________________________

76 Identidade Teológica
3.10 Que utilidade os erros e deslizes teológicos cometidos ao longo
da história teológica podem ter?
_________________________________________________
__________________________________________________

3.11 Antes de prosseguir com a leitura, reflita e responda: A cultura


do teólogo deve, ou não, influenciar a sua produção? É possível
produzir uma Teologia que atenda às demandas de uma socie-
dade sem ser infiel ao que a Bíblia declara a respeito de Deus?
_________________________________________________
__________________________________________________

3.12 Identifique a única alternativa correta.


___a) O mérito dos reformadores foi fazer com que a Bíblia
fosse novamente vista como norma teológica.
___b) O mérito dos reformadores foi dar, à Bíblia, uma inter-
pretação que atendesse às demandas sociais da época.
___c) Nem sempre a Bíblia regerá a produção teológica, pois
nem sempre o teólogo concordará com o que diz a Bíblia.
___d) A arqueologia e os registros históricos têm o mesmo peso
e servem igualmente de fonte à produção teológica.

Escreva C, se a frase estiver correta, e E se estiver errada.

___3.13 Em se tratando de teologia, tudo já foi dito. Basta ao


estudante recorrer às fontes existentes e à tradição.
___3.14 Se hoje podemos avançar e produzir teologia, é graças a tudo
o que nos deixaram as gerações passadas.
___3.15 Não podemos nos julgar superiores, em conhecimento,
às gerações passadas, como também não podemos nos
acomodar, supondo que tudo o que deveria ser dito já foi dito.
___3.16 A tradição pouco tem a acrescentar ao teólogo.

Lição 3 - Somos todos Teólogos 77


TEXTO 3
A FUNÇÃO DO TEÓLOGO
Uma das mais famosas definições de Teologia deve ser que ela “é fé
em busca de entendimento”10. Creio que esta é uma linda verdade mal
compreendida, a ponto de desvirtuar a função do teólogo.
Para alguns estudiosos, esta definição propõe que a fé seja substi-
tuída pelo entendimento. Fosse assim, concluiríamos que a fé vem
pelo ouvir, mas só se sustenta pelo intelecto – o que explicaria tantos
sabichões querendo livrar-se da fé o mais depressa possível. Se ela devesse
ser trocada pelo entendimento, nós dependeríamos não da fé para crer na
Bíblia, mas da História. E, claro, não é isso o que um teólogo faz. Ora,
o caráter volitivo da fé é mais pronunciado que o cognitivo. Noutras
palavras, crer é um exercício da vontade e não da fria razão. Eu creio em
Deus, antes de tudo, por desejar fazê-lo e não por algum convencimento
intelectual da necessidade e da plausibilidade de acreditar Nele.
O que seria, então, a fé em busca de entendimento? Certamente
não seria o desejo por uma jornada acadêmica estéril. A fé à procura de
entendimento é o amor à procura de mais saber sobre o Deus a quem
ama. A fé que investiga é o homem desejando conhecer mais o Deus em
quem decidiu crer. É conhecer Deus através de Deus, conhecer o Verbo
pela Palavra, o Espírito pelo derramamento de poder.
Agostinho11, o bispo de Hipona, disse que cria a fim de poder
compreender. Segundo ele, o conhecimento sobre Deus não pressupõe
fé, mas a fé reclama conhecimento sobre o Divino. Por isso os ateus
podem saber muitas coisas sobre Deus sem, contudo, acreditar Nele;
mas os cristãos queremos entender aquilo em que cremos, e cremos na
intenção de compreender mais sobre aquEle a quem tanto amamos. A
fé quer entender, e entender alimenta a fé. Mais importante que isso,
porém, é que esse entendimento não é qualquer um, senão aquele que
é em Deus e por Deus – “Não mintais uns aos outros, pois que já vos
despistes do velho homem com os seus feitos, e vos vestistes do novo,
que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que
o criou” (Cl 3.9-10).

10 Frase atribuída a Anselmo de Cantuária (1033-1109), filósofo cristão reputado como fun-
dador do Escolasticismo.
11 Um dos mais importantes teólogos do Cristianismo (354-430).

78 Identidade Teológica
Conhecer a Deus

A confusão que precipita filósofos e tantos teólogos ao abandono da fé


e à procura do entendimento é supor que a revelação de Deus ao homem
opõe-se à razão humana. O correto, porém, é que a Verdade excede a capaci-
dade humana de conhecer, mas não é contrária a ela. A função teologal é
aprofundar-se no conhecimento de Deus, por Deus e em Deus. Daí, como o
lavrador é o primeiro a gozar daquilo que plantou, o resultado da Revelação
na mente do teólogo é a sua elevação intelectual a tal ponto que se torna
possível a ele explicar a razão da esperança que há no salvo. Neste sentido,
não é exagero afirmar que o trabalho do teólogo é algo indispensável à igreja.
As intensas transformações culturais de nossos dias reforçam
a importância da função do teólogo, mas é preciso dizer que ele está
exposto a riscos. Nenhum teólogo consegue manter sua integridade
bíblica a não ser resistindo aos apelos falsamente intelectuais do pós-Cris-
tianismo. A exposição aos riscos faz parte do labor teológico, pois é
próprio da reflexão teológica conjecturar. Não estou defendendo uma
teologia especulativa, mas assumo que ao buscar entendimento o teólogo
ousa. Neste ponto, há somente uma de duas coisas a fazer: publicar
ou ponderar. O teólogo que publicar suas ousadias, mesmo com boas
intenções, já não se expõe somente, mas também à comunidade da fé,
que lhe concederá um tipo de presunção de inocência teológica. Mas o
ideal seria ponderar, maturar as ideias, aperfeiçoar o raciocínio e, sobre
tudo, examinar outra vez as Escrituras para evitar que suas palavras sobre
Deus nada tenham a ver com a Palavra de Deus.
A “fé em busca de entendimento” demanda a constante formu-
lação de propostas, mas a edificação da fé requer o teste destas mesmas
ideias. Assim, o teólogo deve saber que suas contribuições precisam ser
submetidas à correção de eventuais desvios. Não parece, mas a necessária
busca pelo refinamento expõe o teólogo ao risco de seguir por tortuosas
veredas, pois requer liberdade, o que pode culminar em doutrina ou
heresia. Como o teólogo pode salvar-se deste risco? A resposta está no
modo de fazer Teologia, e este é o assunto da Unidade 3.

CONCLUSÃO
A outra grande lembrança teológica que trago da infância não é
de um pesquisador, mas de minha primeira ensinadora, a minha mãe

Lição 3 - Somos todos Teólogos 79


– sem dúvida, a maior teóloga que conheci. Em um dia muito quente de
verão, que no subúrbio carioca é sempre cáustico, ao chegar da escola
eu a encontrei no quintal de casa, pendurando nossas roupas no varal.
Roupas que foram lavadas à mão. Ela estava cansada e mesmo com os
cabelos presos em um arranjo improvisado, o seu rosto suava muito.
Graciosa, mas sem interromper os afazeres, ela olhou-me e disse “Sabe
o que eu faço quando o tanque está cheio como agora? Peço a Deus que
me dê forças. E Ele dá!” Isso é Teologia da boa!

EXERCÍCIOS
Marque “C” para certo e “E” para errado.
___3.17 O amor a Deus cresce e se fortalece na medida em que o
homem aprende mais sobre Ele.
___3.18 O ser humano só é capaz de crer em Deus após adquirir vasto
conhecimento sobre Ele.
___3.19 Ao crer em Deus, é natural que o homem deseje aprender
mais sobre Ele.
___3.20 Cremos em Deus porque o nosso intelecto foi convencido de
que devemos crer, e não pela nossa livre vontade.

Associe a coluna “A” à coluna “B”.


Coluna “A”
___3.21 amadurecer as conclusões e ponderar para que não exponha
o corpo de Cristo a raciocínios que não tenham nada a ver
com Deus.
___3.22 é indispensável ao corpo de Cristo pois, ao buscar conhecer
mais a Deus, consegue compreender e explicar a razão de
crermos em Jesus.
___3.23 toda proposta formulada pelo teólogo deve ser testada.
___3.24 resistir àquilo que na era pós-cristã podemos chamar de falso
apelo intelectual.
Coluna “B”
A. O trabalho do teólogo

80 Identidade Teológica
B. Para que o teólogo mantenha a integridade bíblica deve
C. Antes de publicar a sua produção, o teólogo deve
D. Para que a fé seja edificada

REVISÃO DA LIÇÃO
Assinale com “x” as alternativas corretas.
3.25 Atualmente é comum vermos seminários e faculdades teológicas cheias
de estudantes, alguns são dedicados e estudam para obter um conhe-
cimento mais abrangente das Escrituras, já outros buscam apenas o
título e o tão sonhado cargo. Sobre isso, é certo afirmar que
___a) um estudante de teologia deve empenhar-se em seus
estudos para conquistar o título de teólogo, pois somente
com a aquisição do certificado é que ele poderá por em
prática essa função, lembrando que o quanto antes ele
filiar-se em um conselho de teólogos melhor será.
___b) apenas aqueles que estudam em boas instituições teoló-
gicas podem tornar-se bons profissionais, caso contrário
esse aluno não será um teólogo reconhecido.
___c) muitos almejam ser teólogos profissionais obter títulos,
cargos e reconhecimento. A busca pelo conhecimento
não é errada, mas devemos lembrar que ao contrário de
que muitos pensam a Teologia não é simplesmente um
título, posto ou cargo, é trabalho.
___d) Nenhuma das alternativas anteriores.

3.26 A Teologia pode ser feita por qualquer pessoa, porém sabemos que não
deve ser produzida de qualquer maneira. Existem algumas ferramentas
que são utilizadas como fontes de matéria prima e normas, e uma
dessas ferramentas utilizadas é a Tradição. Leia as sentenças a seguir.
I. A tradição não é superior a Bíblia, é apenas
referência ou ponto de partida.
II. A tradição é considerada igual ou até mesmo
superior à Bíblia, além de ser nossa referência e
ponto de partida, a tradição nos revela a verdade.

Lição 3 - Somos todos Teólogos 81


III. Devemos nos acomodar na tradição, pois a depen-
dência intelectual teológica é necessária para a
compreensão das Escrituras.
IV. Sabemos mais que nossos antecessores, pois nossas
conclusões de estudos não estão embasadas na
produção, debates ou escritos daqueles que vieram
antes de nós; tudo o que sabemos, descobrimos.
V. Não podemos negar que tudo aquilo que produ-
zimos hoje, nossas conclusões, debates, teses e
estudos foram construídos a partir do que já foi
debatido, discutido e estudado antes de nós por
teólogos dos últimos dois mil anos.

Assinale a alternativa abaixo que reúne as sentenças acima que


são corretas.
___a) I e II
___b) III e IV
___c) II e III
___d) II e V
___e) I e V

3.27 Assinale a alternativa que melhor completa a sentença a seguir:


O Teólogo, como qualquer outro estudioso, também necessita
de suas fontes e ferramentas que o auxiliam em seus estudos,
portanto para produzir a boa teologia o estudante deve utilizar
as ferramentas corretas, sobre elas é certo dizer que
___a) as Escrituras possuem conteúdo inquestionável tem
autoridade normativa sobre a produção teológica e
a Tradição é o resultado do esforço de todos os que
buscaram compreender as Escrituras, é a nossa referência.
___b) a Bíblia é a única fonte inesgotável de saber teológico,
pois ela é a Palavra de Deus e isso faz dela um livro
teológico. É impossível ter teologia sem Bíblia.
___c) devido ao conteúdo infalível da Bíblia e ser a única fonte
de saber teológico, ela se torna uma ferramenta norma-
tiva para a Teologia, além disso, toda cultura se alinha
perfeitamente a ela.

82 Identidade Teológica
___d) há uma diversidade de diferentes fontes para refletirmos
a respeito da fé, porém a única fonte válida é a Bíblia, o
melhor livro teológico de todos os tempos.

3.28 Assinale a alternativa correta referente à relação da fé e do


entendimento.
___a) A fé deve ser trocada pelo entendimento, pois ela não é
necessária para crermos na Bíblia.
___b) Se possuirmos fé, jamais precisaremos de entendimento
para compreender e conhecer a Deus, a fé é suficiente e
o intelecto nos afasta de Deus.
___c) Um verdadeiro teólogo não deve trocar o entendimento
pela fé, porque não dependemos dela para compreender
a Bíblia.
___d) A fé não deve ser trocada pelo conhecimento, pelo
contrário, quando temos fé e buscamos entendimento
é possível compreender e conhecer mais a Deus e sua
Palavra, ou seja, cremos na intenção de compreender.

Marque “C” para certo e “E” para errado.

___3.29 A Teologia pode ser feita por qualquer pessoa.


___3.30 Obter um diploma ou certificado de Teologia é um dos graus
mais altos que um cristão pode chegar, é uma profissão honrosa.
___3.31 O título é aquilo que deve ser mostrado para sociedade ou
grupos para reconhecerem o indivíduo, já à função é conquis-
tada através do esforço acadêmico.
___3.32 Todas as pessoas que pensam em questões relacionadas à
essência do existir praticam Teologia.
___3.33 Todo cristão pensa em seu relacionamento com Deus e com o
homem em si, por isso, dizemos que todo cristão é um teólogo.
___3.34 No começo do período cristão havia muitos teólogos formados,
como hoje, eles eram capacitados em grandes seminários e
escolas teológicas construídos pelos próprios cristãos.

Lição 3 - Somos todos Teólogos 83


___3.35 A teologia pode ser produzida de qualquer forma e por
qualquer indivíduo.
___3.36 Para chegarmos a nossos tão bem-sucedidos estudos, conclu-
sões e teses, é correto afirmarmos que tudo o que foi produ-
zido por nós foi antes debatido e escrito antes de nós.
___3.37 Uma das funções da tradição é ser um ponto de partida e até
mesmo de chegada.
___3.38 Há uma necessidade de ferramentas para fazer teologia, pois
existem diferentes fontes para a fé sobre a qual desejamos
refletir.
___3.39 Segundo historiadores e teólogos e a própria Escritura Sagrada
nos mostram que Bíblia é a única fonte de saber teológico.
___3.40 Teologia é a Palavra de Deus! A Bíblia, portanto, é uma fonte
e livro de saber teológico.

84 Identidade Teológica

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