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Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN

Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais – FAFIC

Departamento de História – DHI

Componente Formativo: História do Rio Grande do Norte I

Docente: Leonardo Cândido Rolim

Discente: Rafael Pereira Maia

SOARES, Michele. Famílias escravas no sertão seridoense. In: BALDINO, Bruno;


ESTEVAM, Saul. (Orgs.). História do Rio Grande do Norte: Novos Temas. Natal:
EDUFRN, 2014. p. 9-27.

“Se é verdade que os matrimônios eram melhor viabilizados nas médias e grandes
fazendas, este fato não impediu que os escravos, habitantes de plantéis pequenos e
com desproporção entre escravos do sexo feminino e do sexo masculino buscassem
seus pretendentes fora do cativeiro”. (95)

“Casos como estes se repetem com frequência e, embora não esteja explicitamente
declarado na fonte o grau de parentesco destes escravos não se pode deixar de
levar em consideração que, à hora de se fazer o levantamento de todos os bens
pertencentes aos inventariados, muitos detalhes referentes ao perfil dos escravos
como idade, cor, habilidade e certamente estado civil, passavam em branco” (96)

“Os proclamas do futuro enlace, bem como a consagração do casamento se deu


sem impedimento algum, isso considerando que a consolidação das uniões entre
escravos dependia da autorização senhorial, pois a eles cabiam o direito de interferir
nos anseios matrimoniais dos seus cativos. [...] Ao perceber-se que um escravo
insatisfeito diminuía seu rendimento nos trabalhos da fazenda, os senhores
atentavam para as vantagens de promoverem ou incentivarem os matrimônios de
seus cativos. Uma vez casados, o poder de controle senhorial aumentava sobre
eles. Um escravo com mulher e filho mais dificilmente se envolveriam em fugas,
desavenças, promoveriam ou compactuariam com rebeliões dentro do cativeiro. [...]
Por outro lado, veremos que apesar de todas essas vantagens e resistência dos
senhores em levar seus escravos para se casar na igreja devia-se à existência de
leis eclesiásticas contra a separação de casais escravos e de seus filhos. Pois,
como é sabido, os escravos que constituíam laços familiares sob a benção da Igreja
Católica, impunham maior dificuldade de venda aos seus senhores, graças à
reprovação da própria igreja.” (97-98)

“A própria estabilidade das famílias escravas segundo SLENES (1999) e


SCHWARTZ (1998) dependia em grande medida de fatores exteriores à senzala. As
vicissitudes econômicas e partilha de herança são apontados por esses autores
como expressivos obstáculos à estabilidade familiar dos escravos. Após a morte dos
proprietários a divisão dos bens entre os inventariados poderia implicar na
separação dos casais escravos ou de seus filhos.” (100)

“A partir de tais exemplos, é possível deduzir que embora os laços de parentesco


ultrapassam os limites da escravidão, nem sempre era possível os pais comprarem
a liberdade de seus filhos ou mesmo, os escravos de um modo geral entrarem em
negociação com seus proprietários para comprarem a própria liberdade.” (103)

“Outro ponto que deve ser observado é a maior facilidade dos escravos crioulos
entrarem em comunicação e consequentemente negociação com seus senhores.
Qualidades individuais destes escravos como falar a língua nativa e adaptar-se sem
muitas dificuldades à cultura local, certamente eram um veículo facilitador da relação
senhor/escravo.” (104)

“A questão da preferência senhorial por uniões que se dessem dentro de seus


próprios planteis também pode ser uma explicação plausível. Não encontramos para
a Vila do Príncipe nenhum caso de arranjos familiares Inter propriedades. Ao que
parece, os senhores de escravos proibiam ou mesmo coibiam o casamento formal
entre os cativos de proprietários diferentes.” (106)

“Dentre os arranjos familiares possíveis de serem estabelecidos dentro do cativeiro,


o compadrio permitia aos escravos a construção dos laços verticais, ou seja, o
contato com pessoas abastardas, com as quais poderiam vir a ter alguma espécie
de benefício material e proteção social. A expectativa dos escravos diante de um
compadre fazendeiro era de que esse viesse a beneficiar com a alforria, ou qualquer
outra regalia, seu protegido.” (113)

“Sua cor denunciava sua descendência escrava, vinculava-o, portanto ao mundo da


escravidão e as privações que esta ainda lhe impunha. [...] O que nos faz observar
que, dependendo das circunstâncias sociais e o tipo de relação que os livres
estabeleciam com pessoais influentes sua cor poderiam ser um detalhe negociado,
mas nunca esquecido”. (118)

“Cremos ser pouco provável que as mães dos expostos, sendo estas mulheres
negras, se tratasse de pessoas motivadas apenas por uma questão moral. A
pobreza entre a população negra foi sempre uma realidade crua, salvo aqueles que
com muito custo conseguiam constituir fortuna que pudesse, por exemplo, justificar a
abertura de um inventário. Não descartamos a hipótese da moralidade com um fator
de influência, contudo sobrepomos a ela motivos econômico-financeiros.” (126)

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