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A família escrava no contexto colonial: poder, trabalho e

resistência nas Minas setecentistas.*


The slave family in the colonial context: power, work and
resistance in the eighteenth century Minas Gerais
http://eoi.citefactor.org/10.11248/ehum.v10i2.2369
Renato da Silva Dias
Professor na Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
Doutor em História pela UFMG
dias.reno@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-1759-7144

Recebido em: 25/10/2017 – Aceito em 14/01/2018


Resumo. Neste artigo discute-se, através de análise bibliográfica, a importância da família escrava e do pa-
rentesco espiritual entre os cativos nas Minas setecentistas, relacionando os rituais de casamento e batismo
com a construção de identidades parentais com a resistência escrava. Para os escravos, a reconstituição da
família e do parentesco espiritual era estratégica, mostra, além do desejo dos pais de protegerem seus fi-
lhos, uma tentativa de ampliar a família, construindo redes de dependência mútua, de reciprocidade e de
fidelidade que perdurava por toda a vida, fato que revela a astúcia dos africanos e descendentes que viviam
sob a égide da escravidão. Longe de ser elemento estrutural para a manutenção do sistema escravista, a fa-
mília escrava poderia contribuir até mesmo para ajudar a desestabilizar o sistema social.
Palavras-chave: família escrava, poder, resistência.
Abstract: In this article we discuss, through bibliographic analysis, the importance of the slave family and
the spiritual kinship between the captives in the captaincy of Minas Gerais, Brazil, linking rituals of mar-
riage and baptism with the construction of parental identities with slave resistance. For the slaves, the re-
constitution of the family and spiritual kinship was strategic, showing, in addition to the parents’ desire
to protect their children, an attempt to expand the family, building networks of mutual dependence, rec-
iprocity and fidelity that lasted throughout the life, a fact that reveals the cunning of Africans and de-
scendants who lived in the time of slavery. Far from being a structural element for the maintenance of the
slave system, the slave family could contribute even to help destabilize the social system.
Keywords: slave family, power, resistance.

A família escrava no contexto colonial


o período escravista, a astúcia dos africanos e descendentes se revelava nas táticas utilizadas para a so-
N brevivência física, moral e espiritual, estratégias manifestadas também na busca de independência
por meio das irmandades religiosas – onde se viam cercados de “parentes”, construíam suas capelas e se con-
gregavam fora do controle direto de seus senhores –, nas festas religiosas e na formação de fortes laços, atra-
vés do casamento e do parentesco espiritual. Para melhor viver no mundo colonial era indispensável aos
escravos recriar afinidades sociais, e a família era uma das formas basilares. Além do en- * Este artigo faz parte de um pro-
lace matrimonial, nem sempre possível, tornava-se necessário reconstruir os vínculos jeto maior, intitulado “Quilombos
e mocambos nas Minas setecentis-
afetivos perdidos com o tráfico, para que pudessem recorrer em momentos de neces- tas: poder, violência e resistência es-
crava”, que ora se desenvolve na
sidade, para adquirir a liberdade para os filhos ou mesmo para facilitar a vida. Na Universidade Estadual de Montes
Claros/UNIMONTES.
maior parte das etnias africanas trazidas no tráfico atlântico de escravos para a Amé- livro 1
Sobre o batismo, conferir: CAB,
I, título X, parágrafos 33 e 34.

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rica portuguesa a concepção de família era alargada, constituía-se do grupo nuclear, mas também de
avós, tios, primos e demais parentes. No Novo Mundo uma das maneiras mais óbvias para a sua re-
criação era a apropriação dos rituais de batismo1 e casamento.
Neste artigo discute-se, através de análise bibliográfica, a relevância da família escrava e do paren-
tesco espiritual entre os cativos nas Minas setecentistas, relacionando os rituais de ca- SLENES, Na senzala, uma flor, p.
2

samento e batismo com a construção de identidades parentais e com a resistência 17, 53.
3
Segundo Iraci del Nero da Costa,
na freguesia de Nossa Senhora da
escrava. Para os escravos, a reconstituição da família e do parentesco espiritual era es- Conceição de Antônio Dias, as
crianças escravas eram predomi-
tratégica, mostra, além do desejo dos pais de protegerem seus filhos, uma tentativa de nantemente filhos “naturais”, e não
“legítimos” (575 casos versus 4 “le-
ampliar a família, construindo redes de dependência mútua, de reciprocidade, fato gítimos”), ou 99,3% do total.
COSTA, Vila Rica: população
que revela a astúcia dos africanos e descendentes que viviam sob a égide da escravidão. Como afirmou
(1719-1826),
4
p. 249.
Mary Karasch:
Longe de ser elemento estrutural para a manutenção do sistema escravista, a família es- “Sem dúvida, os africanos busca-
vam suas próprias formas de matri-
mônio que estabelecessem a
crava poderia contribuir até mesmo para ajudar a desestabilizar o sistema social.2 legitimidade de suas unidades fa-
A formação da família era bastante almejada pelos africanos escravizados, que miliares”. A vida dos escravos no
Rio de Janeiro (1808-1850), p.
379-380. Verificar também o capí-
também buscavam recriar suas crenças e afirmar suas identidades culturais. Como as tulo “Broomsticks and orange blos-
soms”. In: GENOVESE, Roll,
sociedades africanas se estruturavam em torno das famílias ampliadas e das linhagens, Jordan, Roll, p. 474-481.
5
SCHWARTZ, Segredos internos,
elementos organizadores de seu mundo e universos cosmológicos, essa instituição es- Segundo Schwartz e também
p. 311-12.
6

tava eivada de significações simbólicas. Nas Minas, a família escrava fez-se presente Motta, muitos senhores se opu-
nham ao casamento religioso de
seus mancípios, o que diminuiria o
desde os seus primórdios e, aos poucos, foi se consolidando entre escravos e libertos. seu preço para a venda, além do que
não poderiam negociar a família se-
É necessário esclarecer que o casamento e a formação da família não dependiam das paradamente, ato considerado
ofensivo à caridade cristã.
sanções formais da Igreja, na verdade, as uniões in facie ecclesiae foram a minoria nas SCHWARTZ, Segredos internos,
p. 315-316; MOTTA, Corpos es-
3
Minas, e a maior parte dos consórcios – “concubinatos”, para a Igreja – foi legitimada cravos, vontades livres, p. 211.
7
A prática da endogamia de plantel
era bastante difundida na Bahia, em
diante de membros da comunidade cativa, contando, possivelmente, com rituais an- Campinas, em Bananal. Contudo,
no agro fluminense e nas Minas se-
cestrais, trazidos de sua terra natal.4 tecentistas, regiões onde os plantéis
eram bastante limitados, a exoga-
Mas, se a família era tão importante, por que a porcentagem de casamentos entre mia era uma prática social permi-
tida, embora também, neste último
os mancípios era baixa? Deve-se sempre destacar a posição dos africanos e descenden- caso, fosse limitada em algumas re-
giões. Em Catas Altas e em Con-
tes nessa sociedade, pois, muito embora os senhores precisassem contar com a dispo- afirmoudoTarcísio
ceição Mato Dentro, segundo
Botelho, além do
sição dos seus escravos, não determinando sozinhos seus padrões de vida,5 como cativos baixo número de casamentos for-
mais, os senhores impunham restri-
eles também não poderiam dispor livremente de suas vidas. Desse modo, os casa- ções aos enlaces fora do plantel. De
59 casos, somente 3 fugiram à
regra, o que reduzia as possibilida-
mentos dependiam de uma série de fatores, a começar pela permissão dos senhores. Do des desse tipo de união. Conferir:
SCHWARTZ, Segredos internos,
período inicial da exploração aurífera, no final do século XVII, a meados do setecen- p.flor,313; SLENES, Na senzala uma
p. 75, 109; MOTTA, Corpos
tos, quando a mineração dava claros sinais de declínio, os proprietários não se inte- escravos, vontades livres, p. 219-
220; BOTELHO, Família escrava
em Catas Altas do Mato Dentro
ressaram tanto na reprodução endógena da mão de obra cativa, pois a compra de (MG) no século XVIII, p. 13-14.
8
BOTELHO, Família escrava em
africanos escravizados em fase produtiva traria lucros mais rápidos.6 Em algumas re- Catas Altas do Mato Dentro (MG)
no século XVIII, p. 10. Esse dese-
giões, os senhores buscaram limitar as bodas dos escravos ao seu próprio plantel, o quilíbrio foi verificado em diversas
regiões do Brasil, e em diversas ou-
que, no caso das pequenas posses, reduzia bastante a possibilidade de encontrarem tras áreas do mundo escravista ame-
ricano. RUSSELL-WOOD, The
7
parceiros adequados. black man in slavery and freedom
colonial Brazil, p. 175. Cf. tam-
Embora a instituição estivesse presente, a família escrava precisava conviver com bém: MOTTA, Corpos escravos,
vontades livres, p. 106, 231, 235;
SCHWARTZ, Segredos internos,
as arbitrariedades dos senhores. Mas havia ainda outros problemas, como o descom- p. 314; FLORENTINO; GÓES, A
passo na razão sexual, que pendia para o elemento masculino. Destarte, era limitado paz das senzalas, p. 61, 69. É pre-
ciso destacar também que a baixa
proporção de mulheres entre os es-
o número de mulheres para o casamento e, quanto mais dependente do tráfico afri- cravos também tem suas raízes nas
práticas culturais africanas, posto
cano, menor era a sua proporção. Estudos verificaram que esse não era um padrão ex- que essas eram empregadas nas la-
vouras, e como esposas, uma vez
clusivo da região mineradora no século XVIII, quando o tráfico foi uma fonte que o dote era caro.
9
A utilização de escravas para a
importante para o abastecimento de cativos. A razão de masculinidade vai se alterando prostituição também era usual na
região portuária carioca. Cf. KA-
RASCH, A vida dos escravos no
Rio de Janeiro, p. 388.

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pouco a pouco e somente no final do setecentos os crioulos, isso é, negros nascidos no Brasil, se equi-
valeram em número aos africanos, equilibrando também a razão entre os sexos.8 Além disso, muitos se-
nhores abusavam da condição escrava, mantendo cativas exclusivamente para a prostituição, muito
comum na região mineradora,9 o que desfalcava ainda mais o número de escravas aptas a contrair núp-
cias. Outro fator a ser destacado é o concubinato entre brancos, negras e mestiças, uma vez que as mu-
lheres brancas também eram escassas nas Minas.10 Somente as uniões legalmente sancionadas pela Igreja
eram minutadas nos arquivos eclesiásticos, assim, apenas por meios indiretos, como os
testamentos, as atas de batismo, mas, principalmente através dos registros de óbitos foi Nero 10
Segundo o que afirmou Iraci del
da Costa, as alianças entre
possível aos demógrafos obter uma aproximação entre os valores correspondentes entre pessoas do mesmo segmento social
eram mais comuns, contudo, não
os consórcios legais e as “mancebias”. As núpcias de escravos oficializadas pela Igreja havia rigidez absoluta em relação
aos consórcios de pessoas de grupos
eram mais raras ainda, tendo como causa maior o descaso dos proprietários, que não distintos. Dessa forma, homens
desejavam arcar com os custos financeiros envolvidos nos casamentos e, evidente- brancos casaram-se com pardas
26,79%, e pretas 7,14%. Não obs-
11 tante, o autor está tratando do ma-
mente, por questões práticas, de mercado e comercialização. trimônio oficial; acredita-se que se
Apesar das dificuldades, os africanos escravizados formavam suas famílias, tão im- fossem somadas as relações ditas
“ilícitas”, ou “concubinato”, esses
portantes e desejadas para a reconstrução e manutenção de identidades culturais, mas, números seriam significativamente
alterados. COSTA, Vila Rica: po-
também, para melhorarem suas condições de vida e para a busca de liberdade através pulação (1719-1826), p. 39.
11
SCHWARTZ, Segredos internos,
da alforria e manumissão. Nesse ponto, não faltaram autores a destacar a relevância da p.baixas
314-316. Para Robert Slenes, as
incidências de casamentos
constituição da família entre os escravos – embora fossem claras as divergências na entre os escravos eram fruto tam-
bém de seu próprio desinteresse, já
análise de seu papel político no interior do sistema escravista.12 que não se importavam com o sa-
cramento religioso. Na senzala uma
Donald Ramos, John Russell-Wood e Renato Pinto Venâncio analisaram a famí- flor, p. 89; Manolo Florentino e
Roberto Góes dividiram, bem a
lia escrava e as relações de compadrio entre cativos e forras na sociedade colonial, des- exemplo do modelo de Eugene Ge-
novese, os escravos entre aqueles do
tacando fatores como a proteção e a instabilidade, a manutenção de crenças e valores eito e os da casa, e somente este úl-
africanos, inclusive na administração do governo doméstico, e as relações parentais timo grupo costumava realizar seu
consórcio oficialmente. A paz das
como forma de proteção e ascensão social.13 Stuart Schwartz discute as limitações da senzalas, p. 106.
12
Conferir: RAMOS, A social his-
família escrava e sua capacidade de resgatar novas formas sociais e culturais que lhes tory of Ouro Preto, 1972; GENO-
VESE, Roll, Jordan, Roll, 1976;
permitissem apoio em um mundo hostil. Segundo o autor, o poder dos senhores e a COSTA,Vila Rica: população
(1719-1826), 1979; RUSSELL-
WOOD, The
escravidão não determinaram sozinhos os parâmetros da vida dos escravos, deixando and freedom in colonial black man in slavery
Brazil,
bem claro o papel dos cativos na construção de sua cultura.14 1982; SCHWARTZ, Segredos in-
ternos, 1988; Escravos, roceiros e
Hebe Maria de Castro enfatizou o desejo dos escravos de formar famílias, desta- rebeldes, 2001; CASTRO, Das
cores do silêncio, 1995; FLOREN-
cando as tensões decorrentes da conquista de recursos limitados, como alimentação, e TINO; GÓES, A paz das senzalas,
1997; MOTTA, Corpos escravos,
a possibilidade de os escravos construírem alianças no mundo dos livres, o que era vontades livres, 1999; SLENES, Na
senzala uma flor, 1999; KA-
mais limitado no caso dos solteiros.15 Em A paz nas senzalas, Manolo Florentino e José RASCH, A vida dos escravos no
Rio de Janeiro (1808-1850), 2000;
Roberto Góes partem de pressuposto teórico oriundo da análise antropológica de VENÂNCIO, Compadrio e rede
familiar entre forras de Vila Rica,
Marshall Sahlins (Las sociedades tribales), que permeou toda a construção da obra. 1713-1804, 2003; BOTELHO,
Família escrava em Catas Altas do
Segundo os autores, o que caracterizava as sociedades tribais era a inexistência de uma Mato Dentro (MG) no século
XVIII, 2003.
garantia institucional da paz, fazendo com que os homens vivessem em um estado la- RAMOS, A social history of
13

tente de guerra que, contudo, não se efetivava. De tal modo, as relações de parentesco, Ouro Preto, 1972; Marriage and
the family in colonial vila Rica,
como as cerimônias rituais, tornaram-se elementos interligantes, garantindo um es- 1975; A mulher e a família em Vila
Rica do Ouro Preto, 1990; RUS-
tado pacífico. Seguindo essa teoria, os autores afirmam que os plantéis não eram a tra- SELL-WOOD, The black man in
slavery and freedom in colonial
Brazil, 1982; VENÂNCIO, Com-
dução de um “nós”, devendo se assemelhar, por outro lado, a locais privilegiados onde padrio e rede familiar entre forras
os conflitos e as distensões ocorriam entre africanos de etnias diferentes e crioulos. deSCHWARTZ,
Vila Rica, 1713-1804, 2003.
14
Segredos internos,
Assim, os escravos construíam a paz através da recriação de diversos laços, como o pa- 1988;
2001.
Escravos, roceiros e rebeldes,

rentesco. Se para os mancípios a família possibilitava a cimentação de uma comuni- 1995. 15


CASTRO, Das cores do silêncio,

dade cativa, os autores destacaram que essa relação produzia uma “renda política” para dasFLORENTINO; 16
GÓES, A paz
senzalas, p. 32, 36, 45.

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os senhores, por ser instrumento da paz social.16
Dessas duas últimas análises, deseja-se destacar alguns pontos: crê-se que, neste trabalho, os auto-
res tenham enfatizado excessivamente as diferenças estabelecidas entre os grupos étnicos africanos re-
constituídos nas senzalas com os elementos coloniais, como crioulos, mestiços e pardos, e não
perceberam que a experiência do cativeiro e do “viver em colônia” poderia ter forjado novas relações de
sociabilidade, como os malungos, e os companheiros dos cantos. Alem disso, as diferenças étnicas po-
diam ser superadas diante das semelhanças culturais africanas, o que Hebe de Castro subestima ao en-
fatizar o fechamento nas famílias como garantia de obtenção de “recursos limitados” – fato que
Florentino & Góes, neste trabalho, somente vieram a afirmar ao final do texto, o que é problemático,
pois se havia homogeneidade cultural não haveria a necessidade da família para garantir a paz.17
Robert Slenes também faz uma abordagem política da escravidão, percebendo os escravos como
agentes históricos18 e, nesse sentido, sua análise se coaduna com a de Stuart Schwartz, que demonstra
a habilidade dos cativos para influenciar as condições de suas vidas. Esse autor desmistifica o que con-
sidera “falsa dicotomia”, ou seja, a velha discussão se o sistema escravista impôs aos escravos as normas
e ditou as regras de suas vidas ou se, por outro lado, eram os escravos que agiam e transformavam a “es-
trutura social”.19 Retornando, para concluir esta breve discussão, Slenes demonstra que a família escrava
se constituía como um projeto de vida que, longe de se reduzir a uma “brecha camponesa”, que admite
uma pequena autonomia enquanto reforça a muralha escravista, era, por outro lado, “um campo de ba-
talha, um dos palcos principais, aliás, em que se trava a luta entre escravo e senhor e se define a própria
estrutura e destino do escravismo”. Do que se considerava um epifenômeno, ou ele- 17
FLORENTINO; GÓES. A paz
mento estruturante do sistema escravista, o autor percebeu a capacidade dos escravos das senzalas, p. 171.
18
Isso significa que os mesmos frus-
de impedir um “cativeiro perfeito”, buscando suas estratégias cotidianas e sua dispo- traram os intuitos de seus proprie-
tários de impor um “cativeiro
sição em negociar com seus senhores. É sob tal enfoque que se discute aqui a família perfeito”, buscando reter as táticas
cotidianas dos cativos para lidar
escrava e seus laços parentais.20 com a opressão, inclusive nego-
Em relação à segurança, estabilidade e autonomia da família escrava observaram- ciando com os senhores. Dessa
forma, afirma o autor, a família de-
se alguns padrões bastante significativos, e o primeiro refere-se à dimensão das posses. sestabilizava o sistema escravista,
minando a hegemonia dos senhores
Em relação ao Recôncavo baiano, assim asseverou o autor de Burocracia e sociedade no eção, criando condições para a subleva-
“por mais que parecesse refor-
Brasil colonial: “Em certa medida, quanto maior a propriedade e mais distante e menos çar seu domínio no cotidiano”.
19
SLENES, Na senzala, uma flor, p.
íntimo o relacionamento com o senhor, mais liberdade tinham os escravos de toma- 17, 53. 20
SCHWARTZ, Escravos, roceiros
rem suas próprias decisões e fazer seus próprios arranjos”. Schwartz percebeu que os e rebeldes, p. 288-289.
21
escravos domésticos estavam mais sujeitos às interferências dos senhores, do que aque- 48,SLENES, Na senzala, uma flor, p.
17, 53, 133-134 respectiva-
les do “eito”, e, da mesma forma, os cativos das unidades maiores teriam maior sorte mente. 22
SCHWARTZ, Segredos internos,
em formar famílias do que os escravos urbanos e os pequenos agricultores.21 Em Cam- p.melhanças
318-319. Reparem-se aqui as se-
dessas análises com a es-
pinas e outros municípios também foi encontrada tal relação. Como os escravos resi- tabelecida por Eugene Genovese.
Roll, Jordan, Roll, 1976.
diam em unidades médias ou grandes, 10 a 40 ou 50 cativos ou mais, eles conseguiam 47, 72, 94, 108.
SLENES, 23
Na senzala, uma flor, p.

estabelecer laços familiares estáveis e manter suas famílias unidas mesmo após a morte MOTTA, Corpos escravos, von-
22

tades livres, p. 307.


de seu senhor e a partilha dos bens, construindo redes de parentesco extensas com SLENES, Robert. Na senzala,
24

uma flor, p. 95, 116.


maior facilidade do que aqueles pertencentes a plantéis menores, voltados para outras Tarcísio Botelho enfatizou o “cos-
25

tume” de os escravos casarem den-


atividades que não a grande lavoura.22 Essa relação entre a dimensão do plantel e a es- tro do mesmo plantel,
tabilidade foi notada também para a vila de Bananal (SP), estudada por José Flávio provavelmente um comportamento
induzido pelos senhores, muito em-
Motta,23 e para o agro-fluminense, analisado por Florentino & Góis.24 Para a região mi- bora os plantéis fossem relativa-
mente reduzidos. Contudo, o autor
neradora havia grande disseminação das posses escravas, e a dimensão dos plantéis era, adverte não saber ainda se esse era
um comportamento localizado ou
nos centros urbanos, demasiado reduzida, o que sugere, além da aproximação no dia uma prática corrente em todas as
Gerais. Família escrava em Catas
a dia entre escravos e seus senhores, a dificuldade na formação e manutenção das fa- Altas do Mato Dentro (MG), no
século XVIII, p. 12.

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mílias cativas. Contudo, acredita-se que, nesses casos, a pressão dos mancípios poderia fazer os senho-
res considerarem a possibilidade de permitir uniões fora dos plantéis.25
De fundamental importância foi a manutenção de afinidades étnico-culturais para os africanos na
escolha de seus consortes, fato mais observado para as regiões e períodos diretamente ligados ao tráfico
atlântico, e nos plantéis médios e grandes. A endogamia era fortemente prejudicada nas pequenas pos-
ses em situações as quais os senhores restringiam ou vetavam as uniões fora dos plantéis. Contudo,
como Iraci del Nero da Costa esclareceu, não havia rigidez absoluta com respeito às uniões de indiví-
duos de grupos distintos,26 e nem mesmo entre outras etnias, embora o comportamento mais provável
fosse o enlace entre indivíduos que dividiam culturas afins.27
A família escrava esteve presente na sociedade brasileira de outrora, apesar das condições desfavo-
ráveis, e o desejo de criarem suas famílias pode ser expresso, dentre outros aspectos, pela idade média
na concepção do primeiro filho entre as negras e mestiças, quando comparado às brancas.28 Segundo
Donald Ramos, enquanto as africanas concebiam seu primeiro filho com a idade média de 19,7 anos,
as mulatas o faziam com 24,3 e as brancas com 24,9 anos. Mas esses dados se alteram se isoladas ape-
nas as solteiras, que tinham menos filhos que as casadas, e os mesmos eram gerados bem mais tarde, in-
dicando que não tinham condições econômicas para alimentar famílias extensas. Estes dados também
foram observados por Florentino & Góes, para quem, em média, as africanas e crioulas tinham seus pri-
meiros filhos seis e oito anos antes da mulher inglesa dos séculos XVII e XVIII, sete e dez antes da fran-
cesa do setecentos, e um e três anos antes da escrava do velho sul dos Estados Unidos, e da livre colonial.
Stuart Schwartz também observou a precocidade das escravas da Bahia.
Mas, afinal, que vantagens os escravos teriam para formarem uma família? Além das razões já elen-
cadas, é preciso destacar também o conforto emocional e psicológico – de ter alguém para amar, rir, brin-
car, compartilhar experiências e dificuldades vividas e se consolar –; a família escrava permitia maior
autonomia dentro dos plantéis e, dependendo da negociação com seus senhores, o casal poderia cons-
truir um casebre separado dos demais cativos, e ainda, nas regiões rurais, dispor de 25
COSTA, Vila Rica, população
um pedaço de terra, onde poderiam plantar e, com a venda de produtos, sonhar em (1719-1826), p. 36. 26
SCHWARTZ, Segredos internos,
adquirir sua liberdade, possibilidade maior para os casados.29 p. 320.
27
RAMOS, A mulher e a família em
A família escrava se ampliou para além dos laços de consanguinidade, abarcando Vila Rica do Ouro Preto, p. 158.
as relações de parentesco espiritual, nas irmandades religiosas, e outras formas de re- FLORENTINO; GÓES, A paz das
senzalas, p.135-138; SCWARTZ, 28

construção da sociabilidade que mantinham a lealdade dinástica no mundo do pa- Segredos internos, p. 324. 29
Em relação às vantagens emocio-
rentesco.30 Além do conforto de se poder contar com pessoas amigas, o parentesco nais e psicológicas da família para
os cativos ver: SLENES, Na sen-
espiritual, sacralizado pela Igreja através do casamento e do ritual de batismo trouxe zala, uma flor, p. 149, 150, 59.
para alguns cativos, notadamente para os recém-nascidos e mulheres, a possibilidade Sobre as alianças políticas dos es-
cravos através da família: FLO-
de obterem a tão sonhada liberdade e de mudarem suas vidas, afinal, a condição de RENTINO; GÓES, A paz das
senzalas, p. 90. Concordo com
“forro” trazia maior autonomia e novas possibilidades de mobilidade e ação. Schwartz, ao afirmar que, diante
dos limites da escravidão, os escra-
O estudo da família escrava tomou novo alento principalmente graças às análises vos buscavam se apoiar na família,
no casamento e no renascimento
quantitativas, que se difundiram por todo o país. Elas esclareceram questões de difícil espiritual, não importando se com-
visualização, trazendo novos enfoques e abordagens, como a exploração da economia partilhavam ou não os sacramentos;
contudo, as famílias e o parentesco
familiar, a razão entre a maior proporção da alforria entre as mulheres e suas práticas eram essenciais nas vidas dos cati-
vos. SCHWARTZ, Segredos inter-
culturais, o estabelecimento de relações com outras camadas sociais, o estudo do pa- nos, p. 310, 330.
30
FLORENTINO; GÓES, A paz
rentesco ritual e a prática do compadrio entre escravos e libertos.31 Tais estudos per- das senzalas, p.88; RUSSELL-
WOOD, The black man in slavery
mitem refletir sobre a importância social do parentesco espiritual para os mancípios, and freedom in colonial Brazil, p.
a começar pela existência de paternalismo (e dominação social) nas relações de ba- 187-190. 31
BOTELHO, Família escrava em
Catas Altas do Mato Dentro (MG)
tismo. no século XVIII, p. 3.

e-hum Revista Científica das áreas de História, Letras, Educação e Serviço Social do Centro Universitário
de Belo Horizonte, vol. 10, n.º 2, Julho/Dezembro de 2017 - www.http://revistas.unibh.br/index.php/dchla/index 13
Sobre este aspecto é preciso destacar que na América portuguesa raramente os senhores batizaram
os seus próprios escravos, o que desacredita a pressuposta dominação ideológica ou controle dos cati-
vos através dessa instituição. Esse comportamento se estendeu da Bahia oitocentista, onde menos de 1%
dos proprietários tornaram-se padrinhos de seus escravos, a Curitiba, onde estes perfaziam, em 1779,
cerca de 20 a 25% da população total, e apresentava maior estabilidade na proporção sexual cativa,
marcadamente com pouca dependência do tráfico atlântico (85% dos cativos eram crioulos). Entre
1685 a 1850 somente 2,3% dos padrinhos de escravos eram parentes dos senhores e, antes de 1870, estes
não batizavam mais do que 5% dos casos.32 Os dados para Minas Gerais também se mostram desani-
madores para se supor qualquer medida de controle social através das relações de batismo.33
Mas então, quem eram os padrinhos? As Constituições da Bahia proibiram a existência de mais de
um padrinho e uma madrinha para o batismo, e fora os casos de exceção,34 não havia distinção social
na qualificação dos mesmos. Observou-se que existia, entretanto, certa hierarquia nessa escolha, de
forma que: brancos escolhiam para padrinhos pessoas também brancas, a maioria dos filhos de pardos
tinham por padrinhos brancos, porém, alguns tinham padrinhos negros ou pardos. Quanto aos ne-
gros, objeto desta análise, deve-se, por questões metodológicas, separar os adultos das crianças.35
Donald Ramos notou que dos 86 casos encontrados de crianças nascidas de mães 32
SCHWARTZ, Escravos, roceiros
cativas na paróquia de Antônio Dias (1707-1726), em 77 os padrinhos escolhidos e rebeldes, p. 267-275. 33
Segundo Schwartz, Kathleen Hig-
eram livres, enquanto que em seis outras o padrinho nasceu livre, a madrinha era li- gins também não encontrou casos
de senhores que batizassem escravos
berta ou escravizada e, dos 138 padrinhos arrolados, 127 eram inteiramente nascidos na amostragem de 200 batismos, na
década de 30 do setecentos, em
livres. A característica marcante nessas relações de compadrio foi a escolha de padri- Minas Gerais. SCHWARTZ, Es-
cravos, roceiros e rebeldes, p. 275.
nhos livres, o que, segundo o autor, tem como explicação o entendimento dos escra- Mais recentemente, Renato Pinto
vos na seleção dos parentes espirituais como uma “chave para a manumissão”. Venâncio reiterou esse aspecto, de-
monstrando que, nessa região, os
proprietários não apadrinhavam
Isolando-se somente as crianças libertas, percebe-se que 92% dos padrinhos eram li- seus próprios escravos. Baseando-se
vres e 61% deles não eram libertos, ou seja, já nasceram livres. Em 89% das crianças em pesquisa de Tarcísio Botelho
sobre Montes Claros, no século
libertas, o padrinho ou ambos eram livres, padrão que se alterava para 42% dos casos XIX, o autor afirmou que, na re-
gião, a proporção de senhores bati-
que abarcavam as crianças escravas.36 zando seus próprios cativos variava
entre 0 e 2%. VENÂNCIO, Com-
Outra característica marcante nas relações de parentesco das crianças negras li- padrio e rede familiar entre forras,
em Vila Rica, 1713-1804, p. 3.
bertas e das escravas é que, para o primeiro caso, 63% delas não tinham madrinhas, cílio 34
Seguindo as orientações do Con-
de Trento, as Constituições da
enquanto que essa proporção caía para menos da metade, 30%, no caso das escravas. a escolha
Bahia instituíram que, no batismo,
dos padrinhos era prerro-
É possível, afirma o autor, que ao obter a promessa de libertação do padrinho, o pai gativa do pai ou da mãe, ou ainda,
na falta desses, do tutor da criança.
não tenha se importado tanto em nomear uma madrinha. Nota-se então que, para os CAB, liv. I, tit. XVIII, par. 64.
35
SCHWARTZ, Escravos, roceiros
escravos, a madrinha assumia grande função social, amparando a criança em caso de e rebeldes, p. 266. Segundo o autor,
nesse caso, é bem provável que os
necessidade.37 padrinhos de adultos fossem outros
negros.
Em pesquisa sobre a relação familiar e o compadrio das forras de Vila Rica, Re- RAMOS, A social history of
36

Ouro Preto, p. 247-248.


nato Pinto Venâncio pôde constatar que entre 92,3 e 93,4% das forras escolhiam pa- RAMOS, A social history of
37

Ouro Preto, p. 248. Renato Pinto


drinhos livres, enquanto que a escolha de madrinhas era mais equilibrada, havendo Venâncio demonstra, no entanto,
que havia variações regionais na es-
casos em que as forras não indicavam madrinhas para seus filhos,38 dados que se asse- colha dos padrinhos. Conferir:
melhavam ao comportamento das mulheres livres, onde 98,2% dos padrinhos eram Compadrio e rede familiar entre
forras em Vila Rica, 1713-1804, p.
livres. Em relação às cativas, 71,3% do total escolhiam padrinhos livres.39 O autor ob- 3.Mas, segundo o autor, havia épo-
38

servou ainda que os padrinhos de forras eram geralmente pessoas importantes na so- cas em que uma em quatro forras
escolhia compadres e comadres em
segmentos sociais distintos: padri-
ciedade, de capitães a vigários, consagrando laços com grupos privilegiados daquele nhos livres, madrinhas forras. VE-
meio social, ato que atesta a sua capacidade de articulação através da releitura de um NÂNCIO, Compadrio e rede
familiar entre forras em Vila Rica,
ritual católico. 1713-1804, p. 6.
39
VENÂNCIO, Compadrio e rede
familiar entre forras em Vila Rica,
1713-1804, p. 7.

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de Belo Horizonte, vol. 10, n.º 2, Julho/Dezembro de 2017 - www.http://revistas.unibh.br/index.php/dchla/index 14
Considerações finais.
A análise da documentação eclesiástica demonstra que os negros não tinham por padrinhos os seus
próprios proprietários. Mas será que esse fato reflete apenas a recusa desses, por receio de assumir um
compromisso social e religioso com seus escravos – fato que implicaria várias restrições no domínio se-
nhorial – ou seria por que os escravos, temendo a intromissão em suas vidas e, consequentemente,
maior domínio, preferiam escolher a outros por padrinho? Pelos dados acima citados e pela procura
do padrinho como intermediário e protetor crê-se que eram os cativos que buscavam no apadrinha-
mento uma forma para melhorar suas condições de vida, apoiando-se em pessoas ilustres para obter a
liberdade das crianças. Apesar de não haver nenhuma restrição quanto à escolha dos senhores como pa-
drinhos de batismo de seus escravos,40 os dados levantados pelos especialistas mostram que estes, pen-
sando em beneficiar seus filhos com a possível manumissão, elegiam por padrinhos pessoas de condição
social superior, muitas vezes ainda selecionando negras por madrinhas, o que sugere que os escravos usa-
vam táticas diferenciadas: padrinho livre para obterem a liberdade dos filhos, madrinha negra para cui-
dados das crianças, caso faltasse a mãe, e ainda para reforçar laços com outros escravos. No caso dos
adultos, esses afirmavam suas ligações com outros cativos, em um relacionamento que se ampliava para
além do aspecto religioso.
Para os mancípios, o parentesco espiritual era uma forma de estabelecer laços duradouros que criava
obrigações recíprocas – importantíssimo quando se está preterido da maior parte dos direitos. As van-
tagens obtidas na escolha desses novos parentes iam muito além do esperado benefício espiritual: para
os escravos, essa eleição era estratégica, facilitando até mesmo a possibilidade de alcançarem a sua li-
berdade, fato que revela a astúcia dos africanos e descendentes que viviam sob a égide da escravidão.

Fontes:
CONSTITUIÇÕES PRIMEIRAS DO ARCEBISPADO DA BAHIA. Feitas e ordenadas pelo Ilustríssimo, e Reverendíssimo Se-
nhor D. Sebastião Monteiro da Vide, Arcebispo do dito Arcebispado, e do Conselho de Sua Majestade, propostas e aceitas em o Sí-
nodo Diocesano, que o dito Senhor celebrou em 12 de Junho do ano de 1707. São Paulo: Tipografia de Antônio Louzada Antunes,
1853. Nas notas: CAB.
Arquivo Histórico Ultramarino (AHU). AHU cx. 40, doc. 24. Requerimento do Coronel Manuel Simões de Azevedo, 29/11/1740.
Câmara Municipal de Ouro Preto (CMOP). CMOP 06, fl. 16/18. Bando do Governador D. Pedro de Almeida. Vila Rica, 21 de No-
vembro de 1719.
Seção Colonial do APM (SC/APM). SC-04, fl. 740/748. Carta de Assumar ao Rei. Informa sobre os meios utilizados pelas negras
para obterem sua alforria e outros assuntos. 28 de Novembro de 1719.
SC-11, fl. 171v. Carta a todos os Vigários da Vara das Minas. Vila do Carmo, 26 de Novembro de 1719. D.
Pedro de Almeida e Portugal, Conde de Assumar. 40
Nesse caso, os senhores deveriam
SC-11, fl. 184. Carta do Governador ao Vigário da Vara de Sabará. Vila do Carmo, 26 de Dezembro de 1719. alterar sua forma de tratamento
com os cativos, devido às implica-
SC-27, fl. 127/130. Carta de D. Lourenço de Almeida ao Juiz Antônio Ferreira. Vila Rica, 03 de Abril de 1732. ções decorrentes do parentesco es-
piritual, evitando açoitá-los ou
corrigi-los. No caso de adultos,
Stuart Schwartz afirma que isso
Referências Bibliográficas também pode refletir na posição
dos próprios senhores que, sabendo
BOTELHO. Tarcísio Rodrigues. Família escrava em Catas Altas do Mato Dentro (MG) no século XVIII. In: das responsabilidades e do signifi-
cado religioso do apadrinhamento,
Jornada Setecentista, 5., 2003, Curitiba. Anais... Curitiba, 26-28 nov. 2003. e não querendo pôr em risco a sua
salvação, não apadrinhavam seus
CASTRO, Hebe Maria da Costa Mattos G. de. Das cores do silêncio: os significados da liberdade no sudeste es- próprios escravos. Esse autor res-
cravista, Brasil século XIX. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1995. salta ainda que esse costume só se
alterou a partir de meados do século
COSTA, Iraci del Nero da. Vila Rica: população (1719-1826). Ensaios Econômicos, 1. São Paulo, IPEUSP, 1979. XIX, uma vez que “a religião e o
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vos”. Escravos, roceiros e rebeldes,
p. 285.

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