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Petrolina, PE, 11 – 14 de julho de 2005

UMA NOVA TECNOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DE CISTERNAS USANDO COMO


ESTRUTURA BÁSICAS TELA GALVANIZADA DE ALAMBRADO

Harald Schistek1
hskjua@superig.com.br

RESUMO

Para o sucesso da captação de água da chuva para uso domiciliar, é fundamental dispor de
tecnologias que reúnam simplicidade de construção, alta resistência e baixo custo. Três fatores
que parecem difíceis a reunir sob um teto só. A cisterna de alambrado parece corresponder a estas
três exigências. Enquadra-se na tecnologia de ferro-cimento, que garante alta resistência. Além
disso, a construção possui baixo insumo de materiais e é de grande simplicidade: em uma base de
concreto se coloca uma tela de alambrado, de forma cilíndrica, já no tamanho da futura cisterna.
Para permitir a aplicação de argamassa, a tela é envolta com sacaria do tipo usado para cebola. A
aplicação de quatro camadas finas de argamassa confere a resistência necessária à parede. O teto
consiste em segmentos fabricados de forma semelhante. A cisterna aqui apresentada possui uma
capacidade de armazenamento de 16 m³, porém facilmente seu volume pode ser ampliado ou
reduzido, pela simples adição ou subtração de alguns decímetros de tela.

PALAVRAS-CHAVE: recursos hídricos, tecnologias, captação de água de chuva

INTRODUÇÃO

A captação da água da chuva representa para o Sem-árido Brasileiro um elemento indispensável


para a segurança hídrica, especialmente na parcela da região de subsolo cristalino que abrange
cerca de 80 % da área e possui recursos subterrâneos limitados, muitas vezes salobras. Para o uso
humano, a captação de água de chuva necessita de um reservatório seguro e fechado, para que
não haja vazamentos, nem evaporação. Ao longo dos anos, após tentativas e experiências com
diversos materiais como tijolos, pedras, materiais sintéticos, tem-se mostrado reservatórios
cilíndricos de argamassa de cimento os mais resistentes. Nestes, a tecnologia de ferrocimento se
destaca por sua grande resistência e emprego reduzido de materiais. A tecnologia tradicional de
ferro-cimento emprega diversas malhas de arame fino amarradas de arame numa estrutura de
barras de aço que sustenta o próprio peso o da argamassa. A construção desta estrutura é
demorada e emprega sempre mais aço do que necessário para a segurança do reservatório. A
tecnologia da cisterna de tela e arame2 representa uma simplificação da tecnologia tradicional,
mantendo, porém, o princípio básico de ferro-cimento que garante resistência e segurança contra
vazamento. Não se usam barras de aço verticais, mas sim uma fôrma de chapa de aço flexível,
removível, em torno da qual fica enrolada a tela e em torno da tela, o arame galvanizado. A
sustentação da parede, enquanto a argamassa fresca, é assumida pela fôrma, que é retirada após a
1
Eng. Agrônomo, cooperante do Horizont3000, Viena,Áustria, assessor do IRPAA, Juazeiro,BA
2
Schistek, H., A Construção de Cisternas de Tela e Arame, Editora Fonte Viva, 1998

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aplicação das duas camadas externas. O desafio para a nova tecnologia foi a eliminação da fôrma,
sem abdicar da simplicidade e da segurança que o ferro-cimento oferece e da parede inteiriça,
sem emendas ou composição por elementos singulares. Um produto da indústria siderúrgica,
muito usado para separar espaços em ar livre, como residências, estacionamentos etc, se oferecia
como ideal: o alambrado, uma tela de dois metros de altura, de malha 15 cm x 5 cm, de arame
galvanizado de 3 mm de diâmetro, com uma resistência a ruptura de 65/70 kgf/mm² –
ligeiramente superior ao do arame 3,4 mm utilizado na construção de cisterna com fôrma de 50
kgf/mm², com mesmo volume de armazenamento. A tela é fornecida em rolos de 25 metros de
comprimento.
A aplicação da argamassa em quatro camadas imita o princípio de materiais compostos, como
chapas de madeira compensada ou vidro blindado.

METODOLOGIA

A construção segue os procedimentos básicos da construção de cisterna com fôrma: no local da


construção se retira a camada que contém matéria orgânica – normalmente em torno de 20 cm - e
compacta o solo. Em seguida são colocadas duas camadas, de sete centímetros cada, uma de
seixo rolado, outra de areia grossa (lavada), ambas compactadas, que servem de fundação. Dentro
da camada seguinte, do contra-piso, é colocada e fixada a tela de alambrado, Foto 1. Deve-se ter
o cuidado de unir bem a parcela do concreto colocado do lado externo do cilindro de tela com a
parte interna, Foto 2. O cilindro de tela precisa ser nivelado com nível de mangueira.

Foto 1: Colocando o alambrado Foto 2: Unindo o concreto na base do alambrado

O passo seguinte, a colocação da primeira camada de argamassa, para estabilizar a tela e permitir
a aplicação das camadas estruturais e vedantes, encontrou uma solução surpreendente. O desafio
foi encontrar alguma maneira que permitisse a segurar a primeira camada de argamassa junto à
tela de aço. Na tecnologia original de ferro-cimento se aplicam diversas camadas de tela de arame
fino e na aplicação da massa, uma segunda pessoa segura do outro lado uma peça de compensado
fino, ou semelhante, para a massa não cair no vazio. Mas esta não seria a proposta. Precisava
encontrar uma solução que segurasse a argamassa, com facilidade, sem encarecer a construção.
Não poderia ser algo de material orgânico, pois pela camada fina de argamassa pequena

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quantidades de umidade penetram e decompõem o material orgânico, o que causa estufamento e


destruição do concreto. Como solução se ofereceu a sacaria usada para cebola. Possui capacidade
de 20 kg, é feito de fio de polipropileno e tecido em malha tipo giro inglês. A malha é bastante
fina e não deixa a argamassa cair para o outro lado na hora da aplicação e é suficientemente
resistente para poder ser bem ajustado e esticado em torno do alambrado. São necessários 25
sacos de cebola, previamente bem lavadas que serão fixados com fitilho sintético, uma volta a
cada cinco centímetros, Foto 3.
Com uma espátula flexível de náilon se aplica a primeira camada de argamassa, para estabilizar a
tela de alambrado, Foto 4. A sacaria não é colocada como elemento estrutural, mas sim, como
simples suporte para sustentar a aplicação da primeira camada de massa.

Foto 3 Fixando o saco de cebola com fitilho Foto 4 Aplicação da 1ª camada de argamassa

Com a finalidade de evitar o movimento elástico da tela, causado pela aplicação da massa, o
cilindro de tela deve ser fixado na sua posição com arame, esticado para o lado de fora, e escoras
de madeira pelo lado de dentro.
No dia seguinte aplica-se a segunda camada externa e nos dias subsequentes duas camadas
internas, todas estas com uma espessura de aproximadamente um centímetro. A composição da
argamassa é de uma parte de cimento a duas partes de areia grossa (lavada, sem argila) e uma de
areia média, do tipo usado para reboco de paredes.
Duas observações não podem deixar de serem feitas:
-- a aplicação das camadas precisa ser realizada de uma vez só, sem interrupção;
-- após cada etapa a cisterna deve ser coberta por uma lona e a parede ser molhada copiosamente
antes do próximo passo. Isto para permitir a cura da argamassa, e evitar o secamento precoce.
O teto é unicamente formado por 17 segmentos de placas, com armação de tela de alambrado e
uma espessura de uma polegada. A foto 6 mostra os segmentos de tela cortados, e a Foto 5 a
aplicação da segunda camada de argamassa na camada inferior ainda fresca.

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Foto 5: Colocando a segunda camada de argamassa Foto 6: Os segmentos de armação das placas

É bom lembrar que as placas da cobertura devem ser fabricadas como primeiro passo, antes de
iniciar a construção da cisterna, pois o concreto necessita de tempo para curar e assim evitar a
quebra das placas na hora da colocação. As placas são apoiadas no centro da cisterna em uma
escora, Foto 7, colocadas nos suas posições em forma de um telhado inclinado.

Foto 7: A escora com disco de madeira suporta as placas

Após rejuntar e fixar as placas entre si e na parede da cisterna com argamassa, Foto 8, segue a
colocação do piso, na espessura de três centímetros, tudo com traço de uma parte de cimento para
três de areia grossa.

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Foto 8: A cisterna pronta com as placas rejuntadas

No final, nas paredes internas e no piso se aplica uma demão de nata de cimento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos a partir da construção das cisternas de tela de alambrado mostram que esta
tecnologia une segurança e simplicidade de construção. O custo se revelou ser o mais baixo de
todos os hoje mais difundidos modelos de cisterna. Na Tabela seguinte segue a demonstração dos
insumos e seus respectivos preços.

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Tabela: Insumos e custo

Item Quantidade Preço unitário R$ Preço total R$

Seixo rolado 1,2 m³ 28,00 33,60

Areia grossa 2,2 m³ 20,00 44,00

Areia média 0,35 m³ 13,00 4,55

Cimento 14,5 sacos 18,00 261,00

Tela de alambrado 20 m 18,00 360,00

Fitilho 1 kg 5,35 5,35

Saco de cebola novo 25 0,64 16,00

Preços de junho 2005 Total 724,50

CONCLUSÕES/SUGESTÕES

1. A segurança desta tecnologia contra vazamentos e seu baixo custo, recomendam sua
utilização em programas governamentais de construção de cisternas e da sociedade civil,
como no P1MC da ASA;
2. pela simplicidade da construção, dispensando de maiores conhecimentos de pedreiro, se
presta para aplicação em programas populares de construção de cisterna;
3. os preços indicados se referem à praça de Juazeiro - BA. Encomendas de quantidades
maiores, especialmente da tela de alambrado, obterão certamente preços mais vantajosos
ainda.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

WATT, S.B., Ferrociment Water Tanks and Their Construction, IT Publication, London,
1978

NISSEN-PETERSEN, E., How to build a underground watertank with dome. ASAC


consultants LDT, Kitui, Kenya, 1992

SHARMA, P.C., An Gopalratnam, V.S., Ferrociment water tank, International Ferrociment


Information Center, Asian Insitute of Tecnology, Bangkok, Thailand, 1980

CHINDAPRSAIRT, P., e.a. A study and development of low-cost rainwater tank, Khon Kaen
University, Thailand, 1986

GNADLINGER, J.G., A Busca da Água no Sertão, IRPAA, Juazeiro-BA, Brasil, 2002

LENGEN, J., von, Manual do arquiteto descalço, Rio de Janeiro, Casa do Sonho, 2002

SCHISTEK, H., A Construção de Cisternas de Tela e Arame, Editora Fonte Viva, 1998

AGRADECIMENTOS

Ao técnico José Aparecido dos Santos, pela dedicação e esforço na preparação e realização da
construção.

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