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Harald Schistek1
hskjua@superig.com.br
RESUMO
Para o sucesso da captação de água da chuva para uso domiciliar, é fundamental dispor de
tecnologias que reúnam simplicidade de construção, alta resistência e baixo custo. Três fatores
que parecem difíceis a reunir sob um teto só. A cisterna de alambrado parece corresponder a estas
três exigências. Enquadra-se na tecnologia de ferro-cimento, que garante alta resistência. Além
disso, a construção possui baixo insumo de materiais e é de grande simplicidade: em uma base de
concreto se coloca uma tela de alambrado, de forma cilíndrica, já no tamanho da futura cisterna.
Para permitir a aplicação de argamassa, a tela é envolta com sacaria do tipo usado para cebola. A
aplicação de quatro camadas finas de argamassa confere a resistência necessária à parede. O teto
consiste em segmentos fabricados de forma semelhante. A cisterna aqui apresentada possui uma
capacidade de armazenamento de 16 m³, porém facilmente seu volume pode ser ampliado ou
reduzido, pela simples adição ou subtração de alguns decímetros de tela.
INTRODUÇÃO
aplicação das duas camadas externas. O desafio para a nova tecnologia foi a eliminação da fôrma,
sem abdicar da simplicidade e da segurança que o ferro-cimento oferece e da parede inteiriça,
sem emendas ou composição por elementos singulares. Um produto da indústria siderúrgica,
muito usado para separar espaços em ar livre, como residências, estacionamentos etc, se oferecia
como ideal: o alambrado, uma tela de dois metros de altura, de malha 15 cm x 5 cm, de arame
galvanizado de 3 mm de diâmetro, com uma resistência a ruptura de 65/70 kgf/mm² –
ligeiramente superior ao do arame 3,4 mm utilizado na construção de cisterna com fôrma de 50
kgf/mm², com mesmo volume de armazenamento. A tela é fornecida em rolos de 25 metros de
comprimento.
A aplicação da argamassa em quatro camadas imita o princípio de materiais compostos, como
chapas de madeira compensada ou vidro blindado.
METODOLOGIA
O passo seguinte, a colocação da primeira camada de argamassa, para estabilizar a tela e permitir
a aplicação das camadas estruturais e vedantes, encontrou uma solução surpreendente. O desafio
foi encontrar alguma maneira que permitisse a segurar a primeira camada de argamassa junto à
tela de aço. Na tecnologia original de ferro-cimento se aplicam diversas camadas de tela de arame
fino e na aplicação da massa, uma segunda pessoa segura do outro lado uma peça de compensado
fino, ou semelhante, para a massa não cair no vazio. Mas esta não seria a proposta. Precisava
encontrar uma solução que segurasse a argamassa, com facilidade, sem encarecer a construção.
Não poderia ser algo de material orgânico, pois pela camada fina de argamassa pequena
Foto 3 Fixando o saco de cebola com fitilho Foto 4 Aplicação da 1ª camada de argamassa
Com a finalidade de evitar o movimento elástico da tela, causado pela aplicação da massa, o
cilindro de tela deve ser fixado na sua posição com arame, esticado para o lado de fora, e escoras
de madeira pelo lado de dentro.
No dia seguinte aplica-se a segunda camada externa e nos dias subsequentes duas camadas
internas, todas estas com uma espessura de aproximadamente um centímetro. A composição da
argamassa é de uma parte de cimento a duas partes de areia grossa (lavada, sem argila) e uma de
areia média, do tipo usado para reboco de paredes.
Duas observações não podem deixar de serem feitas:
-- a aplicação das camadas precisa ser realizada de uma vez só, sem interrupção;
-- após cada etapa a cisterna deve ser coberta por uma lona e a parede ser molhada copiosamente
antes do próximo passo. Isto para permitir a cura da argamassa, e evitar o secamento precoce.
O teto é unicamente formado por 17 segmentos de placas, com armação de tela de alambrado e
uma espessura de uma polegada. A foto 6 mostra os segmentos de tela cortados, e a Foto 5 a
aplicação da segunda camada de argamassa na camada inferior ainda fresca.
Foto 5: Colocando a segunda camada de argamassa Foto 6: Os segmentos de armação das placas
É bom lembrar que as placas da cobertura devem ser fabricadas como primeiro passo, antes de
iniciar a construção da cisterna, pois o concreto necessita de tempo para curar e assim evitar a
quebra das placas na hora da colocação. As placas são apoiadas no centro da cisterna em uma
escora, Foto 7, colocadas nos suas posições em forma de um telhado inclinado.
Após rejuntar e fixar as placas entre si e na parede da cisterna com argamassa, Foto 8, segue a
colocação do piso, na espessura de três centímetros, tudo com traço de uma parte de cimento para
três de areia grossa.
No final, nas paredes internas e no piso se aplica uma demão de nata de cimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos a partir da construção das cisternas de tela de alambrado mostram que esta
tecnologia une segurança e simplicidade de construção. O custo se revelou ser o mais baixo de
todos os hoje mais difundidos modelos de cisterna. Na Tabela seguinte segue a demonstração dos
insumos e seus respectivos preços.
CONCLUSÕES/SUGESTÕES
1. A segurança desta tecnologia contra vazamentos e seu baixo custo, recomendam sua
utilização em programas governamentais de construção de cisternas e da sociedade civil,
como no P1MC da ASA;
2. pela simplicidade da construção, dispensando de maiores conhecimentos de pedreiro, se
presta para aplicação em programas populares de construção de cisterna;
3. os preços indicados se referem à praça de Juazeiro - BA. Encomendas de quantidades
maiores, especialmente da tela de alambrado, obterão certamente preços mais vantajosos
ainda.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
WATT, S.B., Ferrociment Water Tanks and Their Construction, IT Publication, London,
1978
CHINDAPRSAIRT, P., e.a. A study and development of low-cost rainwater tank, Khon Kaen
University, Thailand, 1986
LENGEN, J., von, Manual do arquiteto descalço, Rio de Janeiro, Casa do Sonho, 2002
SCHISTEK, H., A Construção de Cisternas de Tela e Arame, Editora Fonte Viva, 1998
AGRADECIMENTOS
Ao técnico José Aparecido dos Santos, pela dedicação e esforço na preparação e realização da
construção.