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2020 NEF 4 - Insuficiência Renal Aguda, Insuficiência Renal Crônica, Terapia de Substituição Renal
2020 NEF 4 - Insuficiência Renal Aguda, Insuficiência Renal Crônica, Terapia de Substituição Renal
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1
substâncias nitrogenadas, que também se elevam nos quadros
Cap. AS FUNÇÕES DO RIM azotêmicos, não são habitualmente mensuradas.
Hipovolemia.
A MEDIDA DA FUNÇÃO (EXCRETÓRIA) RENAL
Sangramento digestivo.
SAIBA MAIS...
Estimativa do clearance de creatinina em CRIANÇAS!
Nos dias de hoje, o termo "injúria renal aguda" tem sido preferido por
representar melhor o amplo espectro de apresentação da doença, uma vez
que a terminologia antiga descreve bem somente um subgrupo desses
pacientes, que são aqueles que necessitam de suporte dialítico de
emergência... Há muito se tenta padronizar a definição de IRA, mas ainda
não há consenso absoluto na literatura! Uma das definições mais
utilizadas na atualidade é aquela proposta pela KDIGO (Kidney Disease
Improving Global Outcomes) – Tabela 1.
Tab. 1
2
Cap. INJÚRIA RENAL AGUDA Na Tabela 2, colocamos o estadiamento da injúria renal aguda conforme
proposto pela mesma referência.
Tab. 2
Note que, apesar do destaque dado à OLIGÚRIA na definição acima, na Felizmente, os vasos renais possuem um mecanismo de proteção contra
verdade a IRA pode ser dividida em três subtipos, de acordo com o débito alterações deletérias do fluxo renal e da taxa de filtração glomerular, o que
urinário: (1) IRA oligúrica, quando o débito urinário for inferior a 500 denominamos autorregulação do fluxo renal e da filtração glomerular.
ml/24h, ou 400 ml/24h, dependendo da referência; (2) IRA não oligúrica, Quando a Pressão Arterial Média (PAM) cai, as arteríolas aferentes
quando a diurese for maior que 400-500 ml/24h; e (3) IRA anúrica, para vasodilatam, reduzindo a resistência vascular do rim, evitando o hipofluxo
débitos urinários inferiores a 50 ml/24h ou 100 ml/24h (novamente existe renal. Em condições normais, o fluxo sanguíneo renal é preservado até
divergência na literatura)... O fato é que mais de 50% das IRA cursa com uma PA sistólica de 80 mmHg. Caso a pressão caia abaixo desse limite, a
a forma não oligúrica, com volume urinário normal em torno de 1 a 2 autorregulação não será mais capaz de evitar o hipofluxo, pois as
L/dia! Eventualmente, um débito urinário acima do normal (poliúria = arteríolas já estarão em seu máximo de vasodilatação!!! Neste ponto,
mais de 3 L/dia), pode ser observado em pacientes com injúria renal instala-se a azotemia pré-renal. É importante ressaltar que indivíduos com
aguda... um "desajuste" da autorregulação renal podem desenvolver azotemia pré-
renal mesmo quando a PA sistólica está um pouco acima de 80 mmHg. É o
A ocorrência de injúria renal aguda (em qualquer grau) está associada a caso dos idosos, hipertensos crônicos e diabéticos de longa data (condições
um importante aumento da morbimortalidade intra-hospitalar. que comumente lesam a arteríola aferente).
Dependendo do contexto clínico (ex.: idade avançada, presença de outras
disfunções orgânicas) a mortalidade da IRA pode variar entre 30-86%. O mecanismo de vasodilatação aferente depende de dois fatores: (1)
estímulo direto de barorreceptores de estiramento da própria musculatura
lisa arteriolar (reflexo miogênico) e (2) liberação intrarrenal de
ETIOPATOGENIA vasodilatadores endógenos (prostaglandina E2, sistema calicreína-cinina,
óxido nítrico) que agem predominantemente na arteríola aferente.
A injúria renal aguda pode ser causada por três mecanismos básicos: (1)
hipofluxo renal (azotemia pré-renal); (2) lesão no próprio parênquima A TFG ainda pode ser regulada de forma independente do fluxo renal,
renal (azotemia renal intrínseca) e (3) obstrução do sistema uroexcretor por ação da angiotensina II, um potente vasoconstritor da arteríola
(azotemia pós-renal). A causa de azotemia renal intrínseca mais comum é eferente. Ao agir sobre esta arteríola, a angiotensina II promove um
a NTA (Necrose Tubular Aguda), responsável por cerca de 90% dos casos aumento da pressão de filtração glomerular, contribuindo para a
neste grupo etiopatogênico. Mas considerando todos os mecanismos, o manutenção da TFG.
mais comum parece ser o pré-renal, e o menos comum, o pós-renal. Veja
os percentuais:
Veja a importância desses conceitos... Os AINE (inibidores da formação
de prostaglandinas), os inibidores da ECA e os antagonistas do receptor de
1. Pré-renal (hipofluxo) – 55-60%; angiotensina II prejudicam a autorregulação do fluxo renal e da TFG!!!
2. NTA (Necrose Tubular Aguda) – 35-40%; Estes fármacos podem precipitar azotemia pré-renal em pacientes com
baixo fluxo renal, como aqueles com hipovolemia moderada a grave, ICC
3. Pós-renal (obstrutiva) – 5-10%.
descompensada, nefropatia crônica ou estenose bilateral de artéria renal.
Na tentativa de conservação hidrossalina, a angiotensina II aumenta a A nefropatia isquêmica é uma situação especial de azotemia pré-renal.
reabsorção de sódio e água pelo néfron proximal, enquanto a aldosterona Ocorre na estenose bilateral de artéria renal (ou estenose arterial em rim
aumenta a reabsorção de sódio e água no néfron distal. A vasopressina único). Geralmente são pacientes previamente hipertensos e com
aumenta a reabsorção de água livre no néfron distal. Resultado final: aterosclerose em vários territórios vasculares. O mecanismo da isquemia
oligúria, urina hiperconcentrada e pobre em sódio. aguda pode ser trombose sobre a placa de ateroma, hipovolemia ou uso de
inibidores da ECA/AINE em pacientes com estenose bilateral grave. No
caso dos inibidores da ECA e AINE, a IRA geralmente é reversível após a
ETIOLOGIA retirada da droga.
Tab. 3: Causas de azotemia pré-renal. A injúria pré-renal geralmente se instala assim que a pressão
arterial média cai abaixo de 80 mmHg, porém, em alguns idosos,
Redução do volume circulante efetivo.
hipertensos crônicos e diabéticos de longa data, o hipofluxo renal
poderá se instalar com uma PAM um pouco acima deste valor,
Estados de choque.
devido à disfunção crônica da arteríola aferente (menor capacidade
de vasodilatação).
Insuficiência cardíaca descompensada.
Entretanto, a piora da função hepática leva a um aumento absurdo da ● Tipo 2 – a creatinina sérica aumenta de maneira lenta e gradual, levando
vasodilatação esplâncnica, promovendo uma queda tão acentuada da mais do que duas semanas para dobrar e ultrapassar o valor de 2,5
resistência vascular sistêmica que os mecanismos compensatórios não mg/dl. Geralmente não há fatores agudos desencadeantes (trata-se de
conseguem mais manter a homeostase circulatória e, por fim, acabam se uma evolução natural da doença de base). O prognóstico de curto prazo
tornando eles mesmos deletérios. Vamos entender isso com calma... Olha é um pouco melhor que o da SHR tipo 1, porém o tratamento definitivo
só: o aumento do tônus adrenérgico promove vasoconstrição inicialmente é o mesmo. O quadro clínico é de ascite refratária.
periférica, mas quando exagerado também promove vasoconstrição renal
direta! Já o excesso de angiotensina II, além de contribuir para o estímulo Em segundo lugar, precisamos reconhecer que a SHR é um diagnóstico de
vasoconstritor, também induz hipersecreção de aldosterona, o que por sua exclusão! Por conta das alterações hemodinâmicas próprias das
vez faz os rins reabsorverem sódio com uma avidez extrema (justificando o hepatopatias graves (já descritas), os hepatopatas são naturalmente
clássico achado de Nau < 10 mEq/L na SHR). O aumento do sódio propensos ao desenvolvimento de injúria renal aguda, em face de qualquer
corporal total leva ao estado hipervolêmico (aumento do volume de fluido insulto que altere sua homeostase circulatória... Infelizmente, tais insultos
extracelular), que neste caso se expressa como edema periférico e, são comuns nesse tipo de paciente (ex.: hemorragia digestiva alta,
principalmente, ascite volumosa, não raro refratária ao tratamento clínico. peritonite bacteriana espontânea, uso excessivo de diuréticos de alça), o
que faz a IRA ser um problema bastante frequente. É preciso identificar
Existe ainda um terceiro mecanismo compensatório que será ativado nos todos os fatores que possam contribuir para a IRA, e tratá-los de forma
casos extremos, numa última tentativa de normalizar o volume circulante direcionada.
efetivo: a secreção "não osmótica" de vasopressina (AVP ou ADH). Este
hormônio aumenta a retenção renal de água livre (causando hiponatremia Antes de prosseguir, devemos esclarecer um ponto que sempre gera
dilucional) e possui efeito vasoconstritor direto (mais um fator confusão... Como você deve ter reparado, ainda há pouco dizíamos que
aumentando a vasoconstrição renal). Lembre-se que a hiponatremia é um um dos principais deflagradores da SHR tipo 1 é a Peritonite Bacteriana
marcador de péssimo prognóstico na cirrose hepática justamente por Espontânea (PBE), mas agora acabamos de afirmar que a SHR é um
traduzir a existência de doença muito avançada... diagnóstico de exclusão... Isso não é contraditório??? Não se você
entender o seguinte: já vimos que na vigência de uma infecção grave
Enfim, como você já deve ter percebido, tanto a queda inexorável do (como a PBE), o cirrótico tem grande chance de desenvolver injúria renal
volume circulante efetivo (por "roubo" da circulação esplâncnica) quanto aguda. Neste caso, num momento inicial não temos como dizer se ele
os fenômenos compensatórios exageradamente intensos (causando entrou ou não em SHR (ainda que o quadro clínico seja de IRA
vasoconstrição renal) levam a uma profunda redução na taxa de filtração oligúrica)... Como a PBE é um "deflagrador" da SHR, mesmo após a cura
glomerular e no ritmo de produção de urina, o que resulta em oligúria dessa infecção o doente pode permanecer com oligúria e piora progressiva
(débito urinário < 500 ml/dia ou < 400 ml/dia, dependendo da referência) e da azotemia, quando então teremos certeza de que ele realmente entrou
azotemia (Cr > 1,5 mg/dl), ou seja, um quadro de injúria renal grave!!! em SHR...
Mas o que explica a vasodilatação esplâncnica? Assim, fica fácil compreendermos os critérios diagnósticos da SHR,
propostos pelo International Ascites Club:
Tudo leva a crer que a vasodilatação no território esplâncnico é
secundária ao fenômeno da translocação bacteriana, isto é, bactérias
presentes no lúmen intestinal conseguem ultrapassar a mucosa (danificada CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DA SÍNDROME HEPATORRENAL
pela hipertensão porta) e alcançar os linfonodos mesentéricos. Neste local,
leucócitos mononucleares iniciam a produção de citocinas pró-
● Hepatopatia grave, aguda ou crônica, com hipertensão porta.
inflamatórias – como TNF-alfa e IL-6 – induzindo hipersecreção pelo ● Cr > 1,5 mg/dl.
endotélio de mediadores como óxido nítrico, monóxido de carbono e
canabinoides endógenos, que promovem vasodilatação local e "roubo de ● Ausência de melhora da creatinina sérica após expansão
sangue" para a circulação esplâncnica! volêmica com albumina IV (1 g/kg), passados pelo menos dois
dias sem administrar diuréticos.
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Mais detalhes serão vistos no módulo de Hepatologia. Crise renal da esclerodermia
A azotemia renal intrínseca, ou IRA por lesão intrínseca, é a disfunção NECROSE TUBULAR AGUDA ISQUÊMICA
renal aguda causada por lesão no próprio parênquima renal. É
responsável por 35-40% dos casos de injúria renal aguda. Pode cursar com
oligúria (necrose tubular aguda isquêmica, rabdomiólise, A Necrose Tubular Aguda (NTA) isquêmica é uma causa frequente
glomerulonefrites ou nefropatias microvasculares), anúria (necrose cortical de IRA oligúrica em pacientes internados, especialmente na UTI.
aguda, algumas glomerulonefrites) ou não oligúria/poliúria (necrose Em geral são pacientes em estado crítico (choque, sepse,
tubular aguda por aminoglicosídeos). pancreatite aguda necrosante, politrauma, grande queimado, pós-
operatório). As cirurgias mais associadas à NTA isquêmica são: (1)
A injúria renal aguda por lesão renal intrínseca é uma entidade comum cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea > 2h; (2) correção
entre os pacientes com patologias graves internados em CTI. Nessas de aneurisma de aorta abdominal com clampeamento aórtico acima
circunstâncias, está associada a uma alta letalidade (até 80%), mas não das renais > 60min; e (3) cirurgia biliar em pacientes ictéricos.
por causa da insuficiência renal propriamente dita, e sim devido à
gravidade da doença de base (ex.: sepse com falência orgânica múltipla). O sistema tubular é mais sensível à lesão isquêmica ou hipóxica do
que o glomérulo, pois (1) tem um gasto energético maior e (2)
Enquanto o comprometimento glomerular (glomerulopatias) predomina recebe menor vascularização. A parte reta do túbulo proximal e a
entre as causas de lesão renal intrínseca crônica, a causa mais comum de porção ascendente espessa da alça de Henle são especialmente
lesão renal intrínseca aguda é o comprometimento tubular! O tipo mais suscetíveis (são os segmentos que gastam mais energia).
comum de IRA intrínseca é a Necrose Tubular Aguda (NTA) que responde
por cerca de 90% dos casos. A Tabela 4 mostra as principais causas de Para levar à NTA, a isquemia renal deve ser grave ou prolongada,
injúria renal aguda intrínseca. Vamos aproveitar para rever os pontos mais mas se o paciente for nefropata crônico ou estiver tomando
importantes de cada uma delas... medicamentos nefrotóxicos, a NTA pode ocorrer com graus menos
severos de isquemia... No caso da sepse, o principal mecanismo é
Tab. 4: Causas de IRA por lesão intrínseca. a combinação de vasoconstrição renal + vasodilatação sistêmica,
com a endotoxina também exercendo um efeito tóxico direto sobre
Necrose Tubular Aguda os túbulos renais.
● Isquêmica (choque, sepse, SIRS, pós-operatório).
A NTA isquêmica, na verdade, faz parte de um continuum: o
● Rabdomiólise.
paciente com isquemia renal evolui de imediato com azotemia pré-
● Hemólise intravascular. renal. Se esta não for corrigida precocemente (ex.: reposição de
fluidos), a tendência será a evolução para NTA isquêmica. Se isso
● Medicamentos (aminoglicosídeos, anfotericina B, contraste
acontecer, a azotemia e a oligúria não mais responderão à
iodado, ciclosporina, aciclovir, foscarnet, pentamidina, cisplatina,
reposição volêmica!
ifosfamida).
● Venenos: etilenoglicol, Bothrops (jararaca), Loxosceles sp.
Por que a NTA cursa com IRA (queda na TFG)? (1) feedback
(aranha marrom).
tubuloglomerular – a mácula densa recebe mais sódio e cloreto,
● Síndrome da lise tumoral (ácido úrico). pela menor reabsorção no túbulo proximal, o que induz
vasoconstrição da arteríola aferente; (2) obstrução do sistema
Leptospirose tubular por plugs epiteliais; (3) vazamento de escórias nitrogenadas
pela parede tubular desnuda, com retorno das mesmas ao plasma.
Nefrite intersticial aguda "alérgica"
A lesão do epitélio tubular prejudica a reabsorção, levando à
● Penicilinas, cefalosporinas, sulfas, tetraciclinas, rifampicina,
formação de uma urina rica em sódio e água (diluída). As células
etambutol, diuréticos, alopurinol, AINE, ranitidina, captopril.
epiteliais se desprendem para o lúmen, aderindo-se à proteína de
Tamm-Horsfall e formando os cilindros epiteliais. Ao se
Glomerulonefrite difusa aguda
degenerarem, tais células acumulam pigmentos, formando cilindros
granulosos pigmentares ("cilindros marrons").
Glomerulonefrite rapidamente progressiva
Nefroesclerose hipertensiva maligna O prognóstico da NTA isquêmica é ruim... O paciente não morre da
IRA (pois deverá ser dialisado), e sim da disfunção orgânica
Ateroembolismo por colesterol múltipla subjacente! Quando o paciente sobrevive à fase aguda, a
evolução natural é a regeneração do epitélio tubular dentro de 7-21
dias, sobrevindo uma fase poliúrica e paulatina recuperação da
Síndrome hemolítico-urêmica
TFG.
AZOTEMIA PÓS-RENAL
Devemos suspeitar desta grave síndrome em pacientes
esclerodérmicos difusos que apresentam hipertensão acelerada
maligna associada à: IRA oligúrica, anemia hemolítica VIDEO_05A_NEF4
microangiopática e plaquetopenia. Esses pacientes têm, na A azotemia pós-renal, ou injúria pós-renal, é uma disfunção renal causada
verdade, uma endarterite interlobular crônica pela esclerodermia por obstrução aguda do sistema uroexcretor. É responsável por apenas 5-
que, subitamente, desenvolve vasoespasmo arteriolar renal difuso, 10% dos casos de injúria renal aguda, embora, no subgrupo dos idosos,
necrose fibrinoide e arterioloesclerose hiperplásica. Os inibidores da esta proporção se torne um pouco maior devido à elevada prevalência de
ECA reduzem a mortalidade destes pacientes de 80% para menos doença prostática...
de 30%, inclusive permitindo a recuperação da função renal!
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fatores precipitantes mais frequentes são: uso de medicamentos com efeito
Um conceito fundamental: a azotemia pós-renal só irá se
anticolinérgico (disfunção do detrusor) ou simpatomimético (espasmo do
desenvolver nas obstruções com repercussão renal bilateral, como
colo vesical) – Tabela 7, infecção prostática (prostatite) ou do trato
ocorre na obstrução uretral, do colo vesical, ureteral bilateral ou
urinário e infarto prostático. Clinicamente, o paciente apresenta-se com
ureteral em rim único. Uma obstrução renal unilateral, mesmo que
oligoanúria, desconforto hipogástrico e "bexigoma". Alguns evoluem com
completa, geralmente não causa azotemia, pois o rim contralateral
síncope vasovagal, desencadeada reflexamente pela distensão aguda da
(se for normofuncionante) é capaz de suprir a falta do outro.
bexiga. Lembre-se que a presença de diurese de modo algum descarta a
Entretanto, se o paciente já for um nefropata crônico (ex.: IRC em
hipótese de obstrução, pois o fluxo de urina pode estar ocorrendo por
tratamento conservador) mesmo a obstrução de um único ureter
"transbordamento" em uma bexiga repleta... A passagem de um cateter de
pode desencadear um quadro de uremia, pois o rim não obstruído
Foley costuma resolver a obstrução e, portanto, a azotemia. Quando a
pode não ser capaz de manter a homeostase...
retenção vesical for maior que 900 ml, a chance do paciente voltar a urinar
espontaneamente é pequena (em torno de 15%), necessitando de cirurgia
prostática desobstrutiva.
Tab. 6: Causas de azotemia pós-renal.
Obstrução uretral Vale ressaltar que um "bexigoma" muito volumoso, ao ser rapidamente
● Congênita: valva uretral posterior, estenose, fimose. esvaziado, pode levar à hematúria macroscópica, pela rotura de pequenos
vasos da parede vesical.
● Estenose iatrogênica (ex.: cateter de Foley por tempo
prolongado).
As outras causas menos comuns de obstrução do sistema uroexcretor
● Cálculo uretral. devem ser divididas em: (1) congênitas e (2) adquiridas. Exemplos de
uropatia obstrutiva bilateral congênita: valva uretral posterior, estenose
Obstrução do colo vesical e uretra prostática uretral, fimose. Das patologias adquiridas, destacam-se: câncer de
● Hiperplasia prostática benigna (principal). próstata, câncer de bexiga, bexiga neurogênica, cálculo uretral, cálculo
ureteral bilateral ou em rim único, carcinoma metastático para pelve (mais
● Câncer de próstata.
comum: Ca de colo uterino), linfoma pélvico, fibrose retroperitoneal,
● Câncer de bexiga. ligadura cirúrgica acidental dos ureteres.
➤ Coágulo; ● Terbutalina;
Hipertensão arterial.
A pericardite urêmica manifesta-se com dor torácica pleurítica, associada
a atrito pericárdico e/ou alterações eletrocardiográficas de pericardite
Edema pulmonar, SDRA.
aguda (taquicardia sinusal + pequeno supradesnível de ST de formato
côncavo em várias derivações). Provém de uma inflamação pericárdica
Distúrbio da hemostasia com sangramentos.
hipervascularizada, predispondo à rotura de capilares e sangramento. Por
isso, o líquido pericárdico geralmente é hemorrágico. O tamponamento
Encefalopatia, crise convulsiva, coma. cardíaco é uma das complicações mais temíveis da uremia, pois pode ser
fatal. Ocorre pelo acúmulo muito rápido de líquido na cavidade
Hiper-reflexia, asterixis, mioclônus. pericárdica, elevando subitamente a pressão intrapericárdica. A causa
mais comum é o sangramento pericárdico, o que pode ser precipitado pelo
Síndrome das pernas inquietas, neuropatia periférica. uso de heparina na hemodiálise. Como prevenção, a hemodiálise deve ser
realizada sem heparina nos pacientes com pericardite urêmica, ou então,
Distúrbios eletrolíticos e acidobásicos. deve-se preferir a diálise peritoneal.
DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS E cálcio, o que aumenta a fração livre do cálcio sérico (biologicamente
ativo).
ACIDOBÁSICOS
A hipermagnesemia (mg > 2,0 mg/dl) é comum na IRA grave, podendo
FORMAS OLIGOANÚRICAS DE IRA provocar bradipneia, hiporreflexia e parada cardíaca.
Na injúria renal aguda podemos ter vários distúrbios hidroeletrolíticos e A hiperuricemia pode ocorrer na IRA, devido à saturação do carreador de
acidobásicos. Na forma oligúrica ou anúrica, os principais são: (1) ácidos orgânicos do túbulo proximal por outros ácidos retidos. Os níveis
hipercalemia; (2) hiponatremia; (3) acidose metabólica; (4) geralmente não ultrapassam 12 mg/dl. Quando isso acontece, deve-se
hiperfosfatemia; (5) hipocalcemia. suspeitar da síndrome de lise tumoral ou nefropatia aguda pelo ácido
úrico. Neste caso, a relação urinária ácido úrico/creatinina é
A hipercalemia se dá pela redução da excreção renal de potássio, que caracteristicamente maior que 1.
lembre-se que doentes críticos com IRA por NTA oligúrica comumente
apresentam hipercatabolismo proteico... A retenção de H+ leva ao A IRA costuma não acarretar sintomas, a não ser que a retenção das
consumo de bicarbonato, causando acidose metabólica. A retenção do "escórias" seja muito acentuada. Então, a situação mais comum é
encontrarmos elevação da ureia e creatinina em um paciente com os sinais
sulfato (SO4−2) e outros ânions leva ao aumento do ânion-gap. A acidose
e sintomas provenientes, não da IRA em si, mas da patologia que a está
pode ser grave, com o pH chegando a um valor < 7,10. Quando isso
determinando (ex.: sepse, hipovolemia, etc.).
acontece, há risco de arritmia ventricular fatal ou choque por
vasodilatação e baixa resposta às catecolaminas.
Diante do diagnóstico de IRA, a primeira pergunta que deve ser
respondida é:
A hiperfosfatemia e a hipocalcemia normalmente ocorrem juntas. O fosfato
precisa do rim para ser eliminado, havendo hiperfosfatemia (P > 4,5
mg/dl) quando a TFG está abaixo de 20 ml/min. A consequência imediata Estamos diante de azotemia pré-renal, renal intrínseca ou pós-renal?
A BIOQUÍMICA URINÁRIA A fração excretória de ureia (FEureia) não é " falseada" pelo uso de
diuréticos, e por isso deve ser usada no lugar da FENa em pacientes que
Este exame é extremamente útil na diferenciação entre azotemia pré-renal fizeram uso dessas drogas. É calculada pela mesma fórmula da FENa,
e NTA isquêmica, as duas causas mais comuns de oligúria e injúria renal substituindo-se o sódio pela ureia. Quando inferior a 35% indica pré-
aguda nos pacientes internados! A prova terapêutica com cristaloide pode renal, e quando maior do que 50% indica NTA. Ressalte-se que o emprego
ser duvidosa (quando a resposta for discreta) e os dados clínicos podem da FEureia no lugar da FENa só foi validado no caso de uso de diuréticos
ser insuficientes para o diagnóstico diferencial... Nestes casos, a – nas demais condições em que a IRA pré-renal pode cursar com FENa >
bioquímica urinária, colhida antes do uso de diuréticos ou da reposição 1% a real utilidade deste marcador ainda não foi definida...
volêmica, será de grande valia! Valores compatíveis com IRA pré-renal e
NTA estão listados na Tabela 9.
QUADRO DE CONCEITOS IV Exceções à regra...
Uma obstrução uretral por hiperplasia prostática pode ser prontamente Dopamina em Dose "Renal" – NÃO FAZER!!!
tratada pela inserção do cateter de Foley. Se não for possível ultrapassar a
obstrução uretral com o cateter, deve-se proceder à cistostomia. Se a Apesar de doses de dopamina entre 2-3 mcg/kg/min (doses
obstrução for ureteral e houver hidronefrose, um cateter duplo J pode ser "dopaminérgicas") terem efeito vasodilatador renal e natriurético, seu uso
inserido no ureter por via transuretral (baixa) ou transpiélica (alta). Se a na NTA oligúrica já foi proscrito da prática médica... O motivo é a
obstrução ureteral não puder ser vencida, uma nefrostomia percutânea comprovada inexistência de benefício, pelo contrário: esta é uma droga
O diurético de escolha é a furosemida. A dose de ataque máxima é de 100- Síndrome urêmica inquestionável (encefalopatia, hemorragia,
200 mg (5-10 ampolas). A dose de manutenção deve ser prescrita somente pericardite).
naqueles que respondem ao diurético, de modo a evitar o uso
desnecessário de uma droga potencialmente ototóxica. A dose é 0,3-0,6 Hipervolemia grave refratária (HAS, edema pulmonar).
mg/kg/h, feita, de preferência, por infusão contínua em bomba infusora. A
infusão contínua traz menos chance de lesão auditiva do que a posologia
Hipercalemia grave refratária ou recorrente.
intermitente...
● Sepse;
● Oligúria;
● Refratariedade à furosemida;
● Síndrome urêmica;
SAIBA MAIS...
A chance de se tornar "renal crônico" após um episódio de IRA tende a
ser maior nos pacientes que já possuíam disfunção renal prévia –
Tab. 1
3
Cap. DOENÇA RENAL CRÔNICA
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Existe Doença Renal Crônica (DRC) quando há "dano renal" (geralmente
detectado pela presença de albuminúria ≥ 30 mg/dia, ou alterações
equivalentes) e/ou "perda de função renal" (definida como uma taxa de
filtração glomerular < 60 ml/min/1.73 m²), por um período maior ou igual
a três meses. Este pré-requisito temporal é importante para diferenciar
Fig. 1: Observe a evolução macroscópica dos rins na DRC... Ocorre diminuição
entre DRC e IRA... De um modo geral, as causas de doença renal crônica progressiva de tamanho (atrofia) com os contornos adquirindo um aspecto lobulado e
são processos patológicos lentamente progressivos. Ao contrário do que se irregular devido à substituição do parênquima normal por fibrose.
observa na maioria dos casos de IRA, na DRC não ocorre regeneração do
parênquima renal, e por isso a perda de néfrons, por definição, é O número de pacientes com doença renal em fase terminal aumenta a
irreversível. Às vezes, no entanto, a doença renal crônica pode se instalar cada ano... Nos EUA, por exemplo, o banco de dados do US Renal Data
de forma aguda, tal como acontece em dois exemplos clássicos – necrose System mostra que esse número quadruplicou nos últimos 20 anos! A
cortical aguda e glomerulonefrite rapidamente progressiva. Nestas velocidade de aumento da população de renais crônicos gira em torno de
entidades, a capacidade de regeneração do parênquima renal pode ser 4% ao ano naquele país... No Brasil, a população de "renais crônicos"
abolida, e o paciente "se torna agudamente um nefropata crônico" (pois também vem aumentando consistentemente.
previsivelmente continuará em insuficiência renal após três meses)...
Todas as nefropatias crônicas, após um período variável (geralmente entre Doenças altamente prevalentes na população, como diabetes
3 a 20 anos), podem evoluir para a chamada Doença Renal em Fase mellitus e hipertensão arterial, são as principais etiologias de
Terminal (DRFT), em que se observam níveis residuais de TFG (< 15% DRC no Brasil e no mundo, respondendo, juntas, por cerca de 70%
do normal). Neste momento, a histopatologia renal perde as dos casos!
Sim!!! O segredo está no diagnóstico e intervenção precoces... Uma O uso de inibidores da ECA ou bloqueadores do receptor de angiotensina II
albuminúria ≥ 30 mg/24h, quando persistente, sinaliza os pacientes com produz uma redução no grau de proteinúria bem acima do esperado
maior risco de evoluir para DRC progressiva e rins em fase terminal, somente pela queda dos níveis tensionais (fato relacionado à dilatação da
independentemente da etiologia. Na realidade, quanto maior for o nível de arteríola eferente e redução da hipertensão intraglomerular)! Estudos
proteinúria, mais rápida será a queda anual na taxa de filtração sugerem que, além de reduzir a hiperfiltração e a proteinúria (isto é, a
glomerular. "sobrecarga" dos néfrons remanescentes), tais drogas possuem efeito
antifibrótico e anti-inflamatório no rim, retardando a progressão da
À medida que a perda de néfrons progride, os néfrons remanescentes vão nefropatia através de vários mecanismos complementares... A associação
sendo "sobrecarregados", isto é, eles tentam excretar – além de sua carga dessas duas classes, por outro lado, apesar de reduzir a proteinúria de
básica de solutos – os solutos que os néfrons perdidos excretariam, um forma mais intensa que a monoterapia, não é recomendada, devido a um
processo conhecido como hiperfiltração adaptativa (FIGURA 2)... maior risco de piora da função renal e hipercalemia.
Entretanto, a própria hiperfiltração adaptativa acaba induzindo lesão glo-
merular, inicialmente pelo processo de glomeruloesclerose segmentar focal Assim, um dos principais "alvos terapêuticos" com o objetivo de evitar ou
(justificando a proteinúria crescente), que com o tempo evolui para atrasar a evolução para DRFT é o controle da proteinúria para níveis
glomeruloesclerose global difusa, acompanhada de fibrose e atrofia de todo inferiores a 0,5-1 g/dia, ou, pelo menos, uma queda superior a 50-60% em
o néfron (justificando a DRFT)... Assim, após certo grau de injúria renal relação ao valor inicial. As drogas de escolha com este intuito, conforme já
já ter se estabelecido (com perda de grande número de néfrons), mesmo explicado, são os IECA ou os BRA.
que a doença inicialmente responsável pela lesão seja controlada ou
eliminada, a própria DRC entrará numa fase de autoperpetuação, um O controle da hipertensão arterial é imprescindível para proteger os
ciclo vicioso!!! O bloqueio do sistema renina-angiotensina néfrons remanescentes da sobrecarga pressórica e evitar a perda adicional
comprovadamente consegue prevenir ou atrasar esta evolução... desses néfrons. No entanto, sabemos que existem controvérsias acerca do
"alvo pressórico" ideal para nefropatas, com modernas referências
colocando como meta uma PA < 130 x 80 mmHg, principalmente se o
paciente for portador de DRC proteinúrica (≥ 1 g/dia de proteína na
urina) enquanto outras (como o VIII Joint, de 2014) preconizam como
meta uma PA < 140 x 90 mmHg para todos os nefropatas
(independentemente do grau de proteinúria).
Acidose metabólica.
Compostos aromáticos.
Inflamação sistêmica/aterosclerose acelerada.
Aminas alifáticas.
Deficiência de eritropoetina (anemia).
Poliaminas.
Deficiência de calcitriol (vitamina D ativa).
Hiperparatireoidismo secundário ou terciário. De todos os acima, os compostos guanidínicos têm sido os mais
implicados na síndrome urêmica. Depois da ureia, são os de maior
concentração no soro urêmico. As principais substâncias deste
TOXINAS DIALISÁVEIS (PERDA DA FUNÇÃO grupo são: ácido guanidinoacético, ácido guanidinosuccínico,
DE "FILTRO") metilguanidina e a creatinina, esta última desprovida de efeito
tóxico. O ácido guanidinosuccínico inibe a atividade plaquetária,
Antes do advento da diálise como tratamento da insuficiência renal grave,
sendo, portanto, um dos fatores implicados no sangramento
na década de 60, a síndrome urêmica evoluía inexoravelmente para o óbito
urêmico. As guanidinas também parecem se associar às alterações
após um período variável. Os pacientes faleciam de encefalopatia (levando
do estado mental, e se acumulam no fluido cerebroespinhal de
à convulsão e ao coma), tamponamento cardíaco, sangramento, edema
pacientes urêmicos. Os compostos aromáticos podem ser ácidos ou
agudo de pulmão ou hipercalemia refratária. O método dialítico provou
aminas. Por definição, contêm um grupamento do tipo benzeno,
ser eficaz em prevenir e tratar estas complicações! Os doentes, então,
fenol ou indol. Entre eles estão: ácido fenólico, hidroxifenólico,
passaram a fazer parte de um programa crônico de diálise, que os
benzoico, fenilacético, indolacético, triptamina, escatol, escatoxil,
mantinham vivos por muitos anos. Apesar de o tratamento dialítico ter
etc. Os fenóis e os indóis geralmente apresentam carga negativa,
aumentado a sobrevida dos renais crônicos em fase terminal, o
portanto, seu acúmulo contribui para o aumento do ânion-gap na
prognóstico desses indivíduos continua desfavorável, com uma sobrevida
insuficiência renal. A semelhança destes produtos com
média em cinco anos de 35%, devido, principalmente, a uma elevada
neurotransmissores torna provável sua contribuição na gênese dos
incidência de doenças cardiovasculares (ex.: doença coronariana)...
sintomas neurológicos! Entre os fenóis mais estudados, está o p-
cresol. Seus níveis se associam a um pior prognóstico no paciente
em diálise. Entre as aminas alifáticas, a metilamina, dietilamina e a
A disfunção renal grave leva ao acúmulo de substâncias tóxicas
trimetilamina têm produção endógena e por bactérias intestinais,
endógenas, algumas das quais podem ser filtradas pela membrana de
apresentam distribuição preferencial intracelular em função do pH
diálise. As moléculas "filtráveis" são aquelas que têm peso molecular
intracelular ácido, portanto, a hemodiálise não é tão eficaz em sua
inferior a 500 dáltons e passam pelos "poros" do filtro de diálise. A
retirada. A trimetilamina é um dos responsáveis pelo hálito urêmico,
primeira substância incriminada foi a ureia, um composto nitrogenado de
semelhante ao de peixe podre. As aminas também se associam aos
60 dáltons, pois desde o início se percebeu que seus níveis sempre se
sintomas neurológicos da uremia. As poliaminas são: espermidina,
encontravam bastante aumentados no soro desses pacientes (daí o termo
espermina, putrescina.
"uremia", inicialmente cunhado para descrever a síndrome).
A ureia é a substância de maior concentração urinária, e representa 80% A ureia apresenta efeito tóxico apenas quando em altas concentrações (>
de todo o nitrogênio eliminado na urina. Entretanto, foi observado que, 380 mg/dl). Sua toxicidade é primariamente gastrointestinal (anorexia,
ao se fazer diálise acrescentando ureia na solução dialítica (para manter náuseas e vômitos) e hematológica (sangramento). É importante ressaltar
inalterados seus elevados níveis séricos), mesmo assim havia melhora que, apesar da baixa toxicidade, seus níveis elevam-se juntamente com os
importante dos sinais e sintomas da síndrome urêmica... Além disso, a de outras substâncias nitrogenadas tóxicas e, por conseguinte, ela pode ser
infusão de ureia em cobaias não produzia efeitos tóxicos significativos, usada como "marcador substituto" da síndrome urêmica (sendo, inclusive,
somente quando em níveis extremamente elevados! Logo, percebeu-se que de fácil dosagem laboratorial, ao contrário das demais toxinas)... Os sinais
não era a ureia a grande "vilã" da síndrome urêmica, e ainda era preciso e sintomas da síndrome urêmica costumam ocorrer com ureia sérica > 180
encontrar as supostas toxinas dialisáveis implicadas nesta síndrome... mg/dl, em não diabéticos, e > 140 mg/dl, em diabéticos. Na falência renal
crônica lentamente progressiva, esses níveis podem cursar sem sintomas
Atualmente, centenas de substâncias nitrogenadas com peso molecular < importantes, devido aos mecanismos de adaptação.
500 dáltons, derivadas do metabolismo proteico, são encontradas em altos
níveis na circulação de pacientes urêmicos! Todas provavelmente têm
FUNÇÃO ENDÓCRINA)
DESEQUILÍBRIO ACIDOBÁSICO
BALANÇO DE ÁGUA
O rim saudável excreta 70-100 mEq de ácidos produzidos diariamente pelo
O rim normal é capaz de eliminar quantidades variáveis de água livre, ao metabolismo proteico. O catabolismo dos aminoácidos que contém
modificar, conforme a necessidade, a osmolaridade urinária. Em uma enxofre (tio-aminoácidos) libera ácido sulfúrico – o principal ácido
pessoa saudável, os rins podem eliminar até 18 L de água por dia. Quando produzido no metabolismo. Os outros são os ácidos fosfórico, úrico,
a filtração glomerular está abaixo de 10 ml/min (10% da função renal), um láctico e os cetoácidos (corpos cetônicos), cada um contribuindo com uma
consumo de água acima de 2-3 L/dia já pode ser suficiente para promover pequena parcela do total. A excreção do H+ proveniente desses ácidos é
retenção de água livre, diluindo o sódio plasmático – hiponatremia. realizada no néfron distal, por secreção tubular, regenerando no plasma 1
HCO3 para cada 1 H+ secretado no lúmen.
BALANÇO DE POTÁSSIO
Para que o H+ seja de fato excretado na urina, ele precisa se ligar a uma
A retenção de potássio na insuficiência renal crônica é comum apenas base urinária. Cerca de 2/3 do H+ é eliminado ligado à amônia (NH3),
quando a filtração glomerular está < 5-10 ml/min (menos de 5-10% da
formando o íon amônio (NH4+). O 1/3 restante sai ligado a outras bases,
função renal).
principalmente ao fosfato.
MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS Na uremia aguda (ou crônica agudizada), o paciente pode apresentar
desorientação, letargia, lassidão, confusão mental, surto psicótico,
O trato gastrointestinal é muito afetado pela uremia, com frequência delirium, associado a sinais de encefalopatia metabólica, como nistagmo,
respondendo pelos primeiros sintomas da síndrome! Em geral, a anorexia disartria, asterixis, mioclonia espontânea, fasciculações, hiper-reflexia e
é o sintoma mais precoce. Seguem-se náuseas, plenitude abdominal e sinal de Babinski bilateral – encefalopatia urêmica aguda. Pode evoluir
vômitos (intolerância gástrica). Estes podem ser explicados por dois para convulsões tônico-clônicas generalizadas, coma e óbito, por edema
fatores: (1) gastrite urêmica; (2) gastroparesia urêmica. A mucosa cerebral grave.
gastroduodenal, além de enantema e edema, pode apresentar petéquias. A
disfunção plaquetária contribui para esses achados. E ao contrário do que Na uremia crônica, o distúrbio mental tende a ser insidioso e mais sutil nas
se pensava, a incidência de úlcera péptica na uremia é semelhante à da fases iniciais – a encefalopatia urêmica crônica. Observa-se disfunção
população geral (8-10%), apesar de alguns livros ainda falarem o cognitiva progressiva, caracterizada por amnésia anterógrada, dificuldade
contrário... A disgeusia (percepção de gosto amargo na boca) é decorrente de concentração, alteração de comportamento ou de personalidade,
da transformação da ureia, por bactérias presentes na saliva, em amônia... sonolência ou insônia, confabulação e perda do raciocínio aritmético.
Alguns pacientes desenvolvem apraxia motora (dificuldade em executar
O comprometimento da mucosa intestinal, tanto no delgado como no tarefas), afasia (distúrbio da linguagem) ou agnosia (perda da capacidade
cólon, pode levar a um quadro de diarreia urêmica, bem como ao íleo de reconhecimento relacionado a uma função sensorial), uma síndrome
urêmico (distensão abdominal e cólicas). São causados pela inflamação demencial semelhante ao mal de Alzheimer... A encefalopatia urêmica
mucosa, com redução no tamanho das vilosidades, acrescida de uma série deve ser diferenciada da encefalopatia da hemodiálise, causada pela
de outros fatores, como disautonomia, supercrescimento bacteriano e intoxicação por alumínio (ver adiante). Esta última possui um quadro
deficiência de vitamina D. Uma forma de colite ulcerativa urêmica era inicial marcado por importantes alterações da fala (disartria, fala
comum na era pré-diálise... balbuciante, gagueira). O EEG pode diferenciar essas duas entidades,
apresentando somente ondas lentas na encefalopatia urêmica e alternância
de ondas lentas com ondas rápidas na encefalopatia por alumínio.
Os sinais e sintomas digestivos, tais como anorexia, náuseas, vômitos e
diarreia, geralmente melhoram em poucos dias ou semanas com a diálise.
Portanto, presume-se que sejam causados por efeito das toxinas urêmicas A diálise costuma reverter (ao menos parcialmente) o quadro
dialisáveis. encefalopático. A melhora pode levar meses para se completar, sendo mais
lenta na encefalopatia urêmica crônica. Nesta última, o EEG pode
demorar até seis meses para voltar ao normal!
Hemorragia digestiva, tanto alta (hematêmese ou melena) quanto baixa
(hematoquezia ou enterorragia), pode ocorrer como complicação da
uremia. É explicada pela inflamação urêmica da mucosa gastrointestinal, ENVOLVIMENTO DOS NERVOS PERIFÉRICOS
que pode evoluir com erosões ou ulcerações, e pelo distúrbio plaquetário
da uremia. A incidência de angiodisplasia gastrointestinal está aumentada A neuropatia periférica urêmica é muito comum na insuficiência renal
na síndrome urêmica, por mecanismos desconhecidos, podendo contribuir crônica, observada, em algum grau, em até 65% dos casos. Trata-se de
para a maior incidência de hemorragia digestiva. As angiodisplasias são uma polineuropatia axonal, sensorimotora, simétrica e com predomínio
mais comuns no ceco e cólon direito. Podem ser encontradas em 25-30% distal e de membros inferiores. Os sintomas iniciais são parestesias nos pés
dos casos de hemorragia digestiva na síndrome urêmica. do tipo "agulhadas", que costumam piorar à noite. O exame físico revela
hipoestesia "em bota". A perda dos reflexos tendinosos distais –
MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS hiporreflexia do Aquileu – é muito comum. Caso a uremia não seja
prontamente tratada (diálise ou transplante), o quadro evolui com perda
de força distal e atrofia muscular, gerando dificuldade de marcha. A
ENVOLVIMENTO PULMONAR
A pericardite urêmica é caracterizada por: (1) dor torácica do tipo
pleurítica (ventilatório-dependente), contínua e que piora com o decúbito
Os pulmões do paciente urêmico estão geralmente com aumento do
dorsal; (2) atrito pericárdico; (3) alterações eletrocardiográficas de
conteúdo líquido – edema pulmonar crônico. Este edema predomina no
pericardite; (4) derrame pericárdico. Nem sempre os quatro itens estão
interstício pulmonar, mas também pode acometer o espaço alveolar nos
presentes. A patogenia está relacionada à retenção de toxinas urêmicas
casos mais graves. Como o paciente está hipervolêmico e normalmente a
dialisáveis, e pode ocorrer tanto na uremia aguda quanto na crônica,
reserva cardíaca está prejudicada, o edema pulmonar da uremia é
sendo mais comum nesta última... O pericárdio encontra-se inflamado e
decorrente principalmente da congestão pulmonar (aumento da pressão
hipervascularizado, predispondo à ruptura de pequenos vasos superficiais
venocapilar). Este edema é chamado de Edema Pulmonar Cardiogênico, e
e sangramento. Por esta razão, o líquido é caracteristicamente
responde bem ao processo de ultrafiltração (retirada de sódio e água na
hemorrágico. A pericardite urêmica crônica leva ao espessamento
diálise). A uremia aguda ou crônica também pode levar ao edema
pericárdico, com acúmulo de fibrina. Algumas vezes, pode evoluir para
pulmonar simplesmente por aumentar a permeabilidade capilar – Edema
pericardite constritiva ou efusivo-constritiva, com seu quadro clínico
Pulmonar Não Cardiogênico. Este tipo de edema depende de toxinas
característico de congestão sistêmica.
dialisáveis e é chamado de "pulmão urêmico".
A síndrome urêmica (aguda ou crônica) cursa com tendência ao alto... Vale lembrar que os novos anticoagulantes orais (inibidores diretos
sangramento, devido a um distúrbio da hemostasia primária. Após rotura da trombina ou do fator Xa) são drogas de eliminação renal, assim como
da parede de um vaso, a hemostasia primária é ativada, fazendo parar o a heparina de baixo peso molecular (ex.: enoxiparina). Logo, tais
sangramento. Ela é dependente da ação das plaquetas, que aderem na fármacos devem ser evitados na DRC avançada, mas nos estágios
solução de continuidade da parede vascular e se agregam, formando um intermediários eles podem ser empregados com redução de dose (no caso
"tampão", o chamado trombo plaquetário (trombo branco). Em seguida, das heparinas de baixo peso, pode-se lançar mão da monitorização
é ativada a hemostasia secundária, dependente do sistema de coagulação, laboratorial do anti-fator Xa para ajuste posológico). A heparina não
levando à formação da rede de fibrina, necessária para a estabilização do fracionada pode ser utilizada sem problemas, ajustando-se a dose de
trombo. Nesta rede, aderem hemácias e leucócitos circulantes, dando o acordo com o PTTa – por este motivo a heparina não fracionada representa
A uremia inibe todas as funções plaquetárias (adesão, ativação e INTOLERÂNCIA À GLICOSE E METABOLISMO
agregação). A plaqueta adere ao colágeno exposto do tecido conjuntivo DA INSULINA
através da interação entre o receptor glicoproteína Ib e o fator de von
Willebrand (FvW), este último fazendo uma "ponte" com o colágeno. O
O metabolismo dos carboidratos encontra-se alterado na uremia, levando
fator de von Willebrand encontra-se inibido na uremia... Além disso, as
às seguintes consequências: (1) intolerância à glicose; (2) pseudodiabetes
plaquetas também ficam depletadas de ADP e serotonina, e reduzem sua
urêmico. Na verdade, são graus variáveis do mesmo distúrbio, marcado
capacidade de gerar tromboxane A2 (potente ativador plaquetário),
pela resistência periférica à insulina associada à disfunção da célula beta da
diminuindo, consequentemente, a capacidade de agregação. O fator 3
ilhota pancreática, uma fisiopatologia semelhante ao diabetes tipo 2. A
plaquetário está igualmente depletado, contribuindo para o distúrbio.
resistência insulínica é do tipo pós-receptor. Estes fenômenos já podem ser
observados em pacientes com TFG < 50 ml/min.
Toxinas dialisáveis estão implicadas na disfunção plaquetária urêmica,
com destaque para o ácido guanidinossuccínico. A anemia também
A resistência periférica à insulina melhora significativamente após os dois
contribui: com um hematócrito normal, o fluxo laminar de sangue faz
primeiros meses de terapia dialítica e com a dieta hipoproteica,
com que as hemácias se localizem no centro do vaso, "empurrando" as
evidenciando um provável papel das toxinas urêmicas dialisáveis na gênese
plaquetas para a periferia (local onde a interação com o endotélio lesado é
deste distúrbio. A disfunção das células beta pancreáticas está mais
facilitada). Quando o hematócrito diminui, as plaquetas se afastam da
relacionada ao hiperparatireoidismo e ao aumento do cálcio citossólico.
parede vascular, pois a massa de hemácias no centro do vaso é menor...
A anemia é uma das primeiras manifestações da síndrome urêmica. Em A anemia por intoxicação pelo alumínio deve ser suspeitada diante de uma
geral, se instala quando a filtração glomerular cai abaixo de 30-40 ml/min anemia microcítica que não responde à reposição de eritropoetina
(creatinina sérica > 2,0-3,0 mg/dl). Na doença renal em fase terminal, a recombinante nem ao ferro parenteral!!! Os níveis séricos de alumínio
anemia é um achado universal! Uma característica que chama a atenção é geralmente estão elevados (> 100 µg/L). O alumínio, como veremos, pode
a dissociação clinicolaboratorial – os pacientes com DRC toleram, ser proveniente da água utilizada para hemodiálise ou dos medicamentos
relativamente bem, graus importantes de anemia. quelantes de fosfato contendo alumínio (hidróxido de alumínio),
utilizados no tratamento da osteodistrofia renal. A intoxicação por
alumínio deve ser tratada com o quelante específico (desferoxamina).
A anemia urêmica é normocítica e normocrômica. É responsável por uma
série de sintomas atribuídos à síndrome urêmica, tais como astenia,
indisposição física e mental, depressão, deficit cognitivo, insônia, cefaleia, TRATAMENTO DA ANEMIA
diminuição da libido, anorexia e tendência ao sangramento. Pode
exacerbar o comprometimento cardiovascular, com angina, hipertrofia O tratamento da anemia urêmica baseia-se na reposição de eritropoetina
ventricular esquerda e insuficiência cardíaca congestiva. recombinante por via subcutânea, devendo ser iniciado quando os níveis
de hemoglobina caírem abaixo de 10 g/dl. O controle do
O principal fator implicado na gênese da anemia urêmica é a deficiência hiperparatireoidismo contribui para a melhora da anemia. A reposição de
relativa de eritropoetina, hormônio produzido por uma subpopulação de eritropoetina visa atingir uma hemoglobina média de 11 g/dl (entre 10-12
fibroblastos no interstício renal, em reposta à hipóxia tecidual, e que age g/dl) e um hematócrito de 33% (entre 30-36%). Nos pacientes com
na medula óssea estimulando a diferenciação de células-tronco em células hemoglobina > 12 g/dl que estejam em tratamento com eritropoetina
progenitoras da série eritroide. Qualquer fator que leve à hipóxia tecidual recombinante, deve-se reduzir a dose ou aumentar os intervalos de
aumenta a produção e liberação de eritropoetina pelo rim, tal como administração da medicação.
hipoxemia e a própria anemia. Os níveis séricos de eritropoetina em um
indivíduo hígido estão entre 10-12 mU/ml. Esses níveis podem aumentar
para 100-1.000 mU/ml em portadores de anemia hemolítica com A posologia é de 80-120 U/kg por semana, dividida em 3x/semana,
hematócrito de 25% e rins normais. Na insuficiência renal crônica, com via subcutânea (nos pacientes em programa de diálise). O principal
um hematócrito de 25%, os níveis de eritropoetina estão em 20-25 mU/ml, efeito adverso é a hipertensão arterial (ou a piora da hipertensão),
isto é, acima dos valores de referência, porém, muito abaixo do esperado que ocorre em 30-40% dos pacientes. Este aumento dos níveis
para o grau de anemia... tensionais deve ser manipulado com a intensificação da
ultrafiltração na diálise e/ou com o aumento das doses dos anti-
Contudo, a gênese da anemia urêmica é na verdade MULTIFATORIAL.
hipertensivos! A importância da anemia como responsável por boa
Toxinas dialisáveis e aumento de PTH também estão implicados,
parte dos sinais e sintomas do paciente urêmico crônico pode ser
reduzindo a meia-vida da hemácia de 120 para 65-70 dias e inibindo o
observada na grande melhora vista em usuários de eritropoetina
recombinante. Ocorre melhora substancial de vários sintomas
(astenia, indisposição, anorexia, tendência ao sangramento,
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alterações neuropsiquiátricas e cardiovasculares). Além disso, císticas no osso, as quais podem sangrar dando origem aos "tumores
pacientes com hipertrofia do ventrículo esquerdo podem apresentar marrons" (cistos repletos de sangue "antigo").
uma redução na massa do VE. A darbepoetina alfa (Aranesp), um
análogo da eritropoetina de meia-vida mais longa, pode ser
administrada a cada uma a duas semanas ou até mensalmente. Por que o PTH aumenta na uremia?
■ ACHADOS CLÍNICOS
● Hiperfosfatemia grave (P > 6,5 mg/dl); Fig. 4: Reabsorção subperiosteal das falanges dos dedos da mão – achado mais
característico.
● PTH-intacto muito elevado (> 450 pg/ml);
● Achados radiológicos.
Fig. 3: Observar a deposição de cálcio nos tecidos moles periarticulares (setas pretas)
e em um vaso (setas brancas).
A biópsia óssea pode ser necessária, nos casos duvidosos, para confirmar o
tipo de osteopatia. A presença do woven bone, aumento das lacunas de
■ HIPERPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO
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Fraturas recorrentes.
Prurido intratável.
Calcifilaxia.
E o hiperparatireoidismo terciário?
MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS E
O tratamento da artrite por depósito de cristais deve ser feito com AINE CORONARIANAS
ou colchicina, na fase aguda, tomando-se o cuidado de utilizar doses mais
baixas e por curto período, visando evitar a toxicidade. A indometacina é
As causas mais comuns de óbito no doente renal crônico são
uma boa escolha, por ter metabolismo hepático. A hiperuricemia deve ser
cardiovasculares (40% de todos os óbitos), através do desenvolvimento de
tratada com alopurinol em doses corrigidas.
insuficiência cardíaca congestiva, infarto agudo do miocárdio ou morte
súbita arrítmica. Aqui serão revisadas aquelas que não respondem ou que
A artrite séptica tem incidência aumentada no paciente urêmico, devido à
respondem apenas parcialmente à diálise. Infelizmente são as que mais
deficiência imunológica e à presença de "portas de entrada" (cateter
matam o paciente. Os fatores de risco para doença cardiovascular
duplolúmen, fístula AV para hemodiálise, cateter peritoneal). As
presentes no paciente com DRC que contribuem para o desenvolvimento
articulações mais acometidas são o joelho, o ombro e o quadril. As
da aterosclerose acelerada, hipertrofia ventricular esquerda e doença
bactérias mais comuns são o Staphylococcus aureus e os Gram-negativos
coronariana encontram-se na tabela a seguir:
(gonococos, Pseudomonas, E. coli, Klebsiella). Porém, nos casos com
cultura negativa, deve-se suspeitar de infecção por Salmonella arizona,
fungo ou tuberculose. A biópsia sinovial guiada por artroscopia pode
orientar o diagnóstico nesta circunstância. O diagnóstico e o tratamento
devem ser precoces, para evitar a destruição articular. No renal crônico, a
artrite séptica pode ocorrer sem febre ou leucocitose, daí a importância da
punção articular precoce, até porque está incluída no tratamento a
drenagem repetida da articulação. Esta pode ser feita através da
artroscopia. No caso do quadril, a drenagem deve ser por cirurgia aberta.
DOENÇA CORONARIANA E ATEROSCLEROSE
A reserva coronariana está comprometida mesmo nos pacientes que não ecocardiograma como uma redução da fração de ejeção (< 55%) associada
ao aumento dos diâmetros cavitários (diâmetro diastólico > 5,7 cm e
apresentam obstrução das coronárias epicárdicas pela coronariografia. A
diâmetro sistólico > 3,7 cm). Além da uremia propriamente dita, a
disfunção endotelial, predispondo à vasoconstrição, e a hipertrofia
ventricular esquerda, são mecanismos centrais na doença microvascular hipertensão arterial, a isquemia miocárdica e o infarto miocárdico podem
contribuir para o quadro. O diabetes mellitus também pode causar
miocárdica.
cardiomiopatia dilatada (cardiomiopatia diabética). Clinicamente,
manifesta-se com sinais e sintomas de insuficiência cardíaca congestiva:
Hoje sabemos que os renais crônicos – além da maior incidência de
dispneia, ortopneia, estertoração pulmonar, turgência jugular,
doença coronariana – também possuem maior mortalidade (em
hepatomegalia e edema. A anemia agrava a síndrome, o que pode ser
comparação com pacientes não nefropatas) após a ocorrência de um
constatado quando da reposição de eritropoetina, reduzindo-se os
evento isquêmico miocárdico (ex.: IAM).
diâmetros ventriculares e a massa ventricular ao ecocardiograma. A
cardiomiopatia urêmica com insuficiência cardíaca congestiva é uma das
SAIBA MAIS... principais complicações cardiovasculares na síndrome urêmica,
Os níveis séricos de troponinas cardioespecíficas não raro encontram- responsável por cerca de 35% dos óbitos.
se cronicamente aumentados na DRFT sem que isso signifique injúria
miocárdica aguda (IAM). Por tal motivo, uma única dosagem
DISLIPIDEMIA
aumentada de troponina não deve levar ao diagnóstico imediato de
IAM neste grupo de pacientes! Para confirmação diagnóstica é
A dislipidemia mais comum da uremia é a hi pertrigliceridemia isolada
necessário observar a curva de troponina – se os níveis forem
(tipo IV), detectada em cerca de 80% dos pacientes. Há uma queda do
mantidos após dosagens seriadas, isto é, se não houver aumento com
HDL, enquanto o LDL e o colesterol total encontram-se geralmente na
o passar das horas, NÃO se trata de infarto agudo, independente da
faixa normal. A hipertrigliceridemia da síndrome urêmica ocorre muito
presença de sintomas... De qualquer forma, portadores de IRC que
mais pela inibição da degradação do que pelo aumento da produção de
apresentam troponinas cronicamente elevadas possuem pior
lipoproteínas, ao contrário da dislipidemia do diabetes mellitus. A
prognóstico cardiovascular do que os indivíduos que permanecem com
hipertrigliceridemia é um fator de risco para aterosclerose, principalmente
troponinas normais! A troponina de escolha para diagnóstico de IAM no
quando associada à redução do HDL.
renal crônico – por ter demonstrado possuir menor número de falso-
positivos – é a troponina I (cTNI).
A dislipidemia é decorrente da inibição pela uremia de diversas enzimas
do metabolismo lipídico. O LDL, apesar de não se elevar pela uremia,
HIPERTROFIA VENTRICULAR ESQUERDA apresenta alterações qualitativas que, juntamente com as alterações do
HDL, levam a um estado de bloqueio na retirada de colesterol dos vasos –
A Hipertrofia Ventricular Esquerda (HVE) responde apenas parcialmente contribuindo para a aterosclerose acelerada. As estatinas podem ser
à diálise, mas pode reverter completamente com o transplante renal. Cerca usadas, com o objetivo de manter o LDL < 100 mg/dl.
de 80% dos pacientes com uremia crônica apresentam HVE, definida
como uma espessura da parede do VE > 1,2 cm no ecocardiograma.
Alguns possuem HVE grave (> 1,4 cm). Um fator importante é a
ESTADO HIPERCATABÓLICO: DESNUTRIÇÃO
hipertensão arterial, que contribui pela sobrecarga pressórica crônica do PROTEICOCALÓRICA
ventrículo esquerdo. A HVE é do tipo concêntrica (espessura aumentada
com diâmetros cavitários normais ou reduzidos) em 50% dos pacientes e O metabolismo das proteínas também está alterado na uremia. O paciente
do tipo excêntrica (espessura aumentada com diâmetros aumentados) em urêmico costuma ter catabolismo proteico acelerado, ao mesmo tempo em
30% deles. A HVE também pode ser definida como um aumento da massa que ingere pouca quantidade de proteína, devido à anorexia. A
consequência é a desnutrição proteicocalórica, presente em cerca de 40%
VIDEO_10_NEF4
O paciente apresenta TFG < 15 ml/min/1,73 m², creatinina sérica > 6-8 Aminoglicosídeos.
mg/dl e ureia sérica > 120-180 mg/dl. O débito urinário pode estar normal
ou reduzido. Nesse momento, a indicação de algum método de AINE.
substituição renal é inquestionável! O melhor é o transplante renal, mas a
maioria dos pacientes acaba entrando no programa de diálise... Contraste iodado.
Eventualmente, alguns pacientes conseguem ser transplantados antes mesmo
de entrar no programa de diálise, e parece que esta conduta resulta num Inibidores da ECA/ant. angio II.
melhor prognóstico... Como vimos, a diálise não melhora vários sinais e
sintomas da síndrome urêmica. A dieta, neste momento, deve ter restrição Pielonefrite aguda.
proteica menos acentuada (1,2–1,3 g/kg/dia), tendo como principal
objetivo evitar a desnutrição proteicocalórica. Em relação aos distúrbios Nefropatia obstrutiva.
hidroeletrolíticos e acidobásicos, o paciente deve fazer restrição dos
seguintes elementos: sódio – 100 mEq/dia (reduzir a retenção volêmica),
potássio – 40 mEq/dia (evitar hipercalemia) e água – 1.000-1.500 ml/dia
1. IECA ou ant. angio II Retardar a progressão da
(reduzir ou prevenir a hiponatremia). Quando o bicarbonato sérico estiver
nefropatia.
persistentemente abaixo de 20 mEq/L, está indicada a reposição oral de
bicarbonato de sódio. A reposição de ferro e ácido fólico está indicada em
2. Restrição de proteína, Alterações na dieta.
todos os pacientes em programa de hemodiálise. O ácido fólico corrige a
fosfato, sódio, água e
hiper-homocisteinemia, importante fator de risco para eventos
potássio
cardiovasculares no renal crônico.
DEFINIÇÃO E TIPOS
1
Apêndice DIÁLISE E OUTROS MÉTODOS DE
Fig. 1
Algumas moléculas de peso maior (entre 200 e 500 dáltons) são mais bem
depuradas pela diálise peritoneal do que pela hemodiálise, pois os "poros"
A solução de diálise é mantida em contínua circulação através do
dos capilares do peritôneo permitem a passagem de moléculas de maior
compartimento externo aos capilares do filtro, para que seja
tamanho. Como veremos adiante, métodos semelhantes à hemodiálise,
permanentemente renovada, de forma a facilitar a depuração dos solutos.
como a hemofiltração e a hemodiafiltração, são capazes de depurar
substâncias maiores do que 200 dáltons, como, por exemplo, algumas
Para aumentar a capacidade de renovação, a solução de diálise corre
toxinas da sepse.
contracorrente com o fluxo sanguíneo nos capilares do filtro (figura abaixo).
2. Diálise Peritoneal (DP): o processo de diálise é realizado dentro do CONTROLE ELETROLÍTICO E ACIDOBÁSICO
próprio corpo, utilizando-se o peritôneo como a membrana
semipermeável. A diálise tem um papel fundamental no controle eletrolítico e acidobásico.
A solução de diálise é preparada com concentrações eletrolíticas próximas
O peritôneo é um tecido extremamente vascularizado, contendo capilares às concentrações plasmáticas normais. Quando o sangue está separado da
de permeabilidade acentuada, e banhado externamente pelo líquido solução de diálise pela membrana semipermeável, as concentrações
peritoneal. Podemos infundir a solução de diálise dentro da cavidade tendem a se equilibrar. O equilíbrio não é completo pelo pequeno tempo
peritoneal, induzindo ascite. As substâncias se difundem do sangue (que de exposição, porém é intensificado pelo fluxo contracorrente da solução
passa pelos capilares peritoneais) para a cavidade peritoneal (contendo a de diálise. Na maioria das vezes, a solução de diálise não contém K+ e
solução de diálise), através do peritôneo. nem fosfato, pois esses eletrólitos geralmente estão em níveis muito
aumentados na insuficiência renal grave e devem ser intensamente
Depois de um tempo necessário para a difusão das substâncias do plasma depurados. Algumas vezes, entretanto, a diálise pode causar de fato
para o líquido peritoneal, este é retirado, sendo trocado por uma nova hipocalemia ou hipofosfatemia, principalmente se o nível sérico prévio
solução de diálise. desses eletrólitos não estiver muito elevado ou quando a diálise é feita no
método contínuo (ver adiante). Atualmente, considera-se conveniente uma
concentração de K+ de 2,0 mEq/L na solução de diálise. Um exemplo de
ASPECTOS FISIOLÓGICOS solução de diálise típica (para hemodiálise) é apresentado a seguir:
Enfim, quem são as substâncias depuradas na diálise? Inicialmente, achava- [Ca++] = ≥ 2.5 mEq/L [Mg++] = 0-1,5 mEq/L
se que a ureia era o grande "vilão" das manifestações clínicas da
insuficiência renal grave. Isso levou ao termo uremia ou síndrome urêmica
[Cl-] = 87-120 mEq/L [HCO3] = 25-40mEq/L
para descrever esta síndrome clínica. De fato, a ureia é a substância que se
acumula em maior concentração no plasma dos pacientes com síndrome
[Glicose] = 0-200 mg/dl
urêmica e possui um peso molecular de apenas 60 dáltons, o que a torna
uma substância facilmente dialisável. Porém, a injeção de ureia em
animais leva apenas a uma toxicidade baixa.
O bicarbonato não deve ser colocado na mesma solução com o cálcio,
pois pode haver a formação de carbonato de cálcio, que então precipita.
Quando a hemodiálise é feita com uma solução rica em ureia, de forma a As atuais máquinas de HD são microprocessadas, sendo capazes de liberar
manter os níveis plasmáticos desta substância inalterados, o paciente o bicarbonato de um modo que evita sua interação com o cálcio. O
continua apresentando melhora dos sinais e sintomas da síndrome bicarbonato é uma base melhor que o acetato e o lactato (antigamente
urêmica. Na verdade, a ureia é tóxica apenas quando em concentrações empregados como bases), pois o acetato está associado à hipotensão na
muito elevadas (> 380 mg/dl), quando pode contribuir para os sintomas HD e o lactato pode piorar a acidose láctica em indivíduos em estado de
gastrointestinais e para o sangramento urêmico. choque grave ou com insuficiência hepática.
Uma série de substâncias derivadas do metabolismo proteico e contendo A concentração de cálcio da solução de hemodiálise pode influir na
nitrogênio em suas moléculas, tal como a ureia, acumula-se na calcemia do paciente. Ela pode ser reduzida, caso haja hipercalcemia
insuficiência renal. Estas substâncias foram descritas no capítulo anterior desencadeada pela reposição de calcitriol. Geralmente, a concentração
e são denominadas "escórias nitrogenadas". A relação exata entre a sua recomendada deve ficar em torno de 2,5 mEq/L ou 5 mg/dl.
EFICÁCIA DA DIÁLISE
O CDL não deve permanecer por longa data (mais de 15-21 dias), se
possível, pois existe risco considerável de infecção (maior no sítio
femoral), sendo o germe mais comumente envolvido o Staphylococcus
aureus. Em alguns casos, pode haver endocardite infecciosa relacionada ao
cateter!
TRATAMENTO DA ÁGUA
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A solução de diálise, ao entrar em contato com o sangue, através da hemodinâmica ou um estado de doença crítica, geralmente aqueles
membrana dialítica (capilar do filtro), além de receber as substâncias internados no CTI, podem tolerar mal este tipo de diálise, pois podem ter
eliminadas do plasma, também pode transferir moléculas para o sangue episódios graves de hipotensão.
do paciente. Por isso, esta água precisa receber um tratamento especial
antes de ser usada para o preparo da solução de diálise.
Quando é retirado um volume de líquido do intravascular, este
A água deve passar pelos processos de filtração, deionização e osmose
volume deve ser reposto por líquido proveniente do compartimento
reversa. Este último consiste em passar, sob pressão, a água através de uma
intersticial (geralmente aumentado na insuficiência renal), para que
membrana semipermeável, removendo-se, assim, os contaminantes
não haja hipotensão. Na hemodiálise convencional, um volume
microbiológicos e 90% dos íons remanescentes. Com o advento da osmose
grande de líquido (ex.: quatro litros) é retirado em pouco tempo (ex.:
reversa, reduziram-se os casos de intoxicação pelo alumínio na diálise (ver
3-4h). A transferência de líquido do interstício para o intravascular
capítulo anterior).
não é imediata. Portanto, até que o deficit de volume intravascular
seja compensado pelo líquido proveniente do interstício, pode se
instalar um quadro de hipovolemia relativa, levando à hipotensão ou
TIPOS DE FILTRO choque.
Acidose metabólica com pH < 7,10 (refratária). Muitas vezes a escolha fica a critério do médico ou do paciente, contudo,
existem condições em que um dos dois métodos é mais indicado.
Ao ser programado o início da terapia dialítica, deve-se escolher entre DP Contraindicações à heparina (ex.: retinopatia diabética
ou HD. Se for escolhida a DP, deve-se marcar uma cirurgia de instalação proliferativa).
do cateter de Tenckoff. Após instalado, deve-se esperar pelo menos duas
semanas para utilizá-lo para DP. Se for a HD a escolhida e não houver Diabetes mellitus insulino-dependente.
urgência, programa-se com um cirurgião vascular a confecção da fístula
AV. O tempo ideal para maturação da fístula é de três meses, portanto
devemos antecipar o procedimento em relação ao momento do início da COMPLICAÇÕES DA DIÁLISE
diálise.
Cãibras.
Anemia por deficiência de eritropoietina.
Hipoxemia.
Aterosclerose acelerada, aumento da incidência de doença
isquêmica do miocárdio.
Desequilíbrio de diálise.
Pericardite urêmica.
Isquemia miocárdica.
Prurido.
Hipertensão arterial.
Sangramento agudo (heparina). As outras causas de hipotensão podem ser: reação anafilática; efeito do
acetato (se este estiver sendo usado como base); efeito da temperatura da
Embolia gasosa. solução de diálise, quando a 37°C; sangramento agudo ou isquemia
miocárdica. A anafilaxia se dá devido à ativação do sistema complemento
Tamponamento cardíaco. e dos leucócitos pelo contato do sangue com o material do capilar do filtro
de diálise, um fenômeno denominado bioincompatibilidade da membrana
do filtro.
A complicação mais comum durante uma sessão de HD convencional é a
hipotensão. Os dois principais mecanismos são a rápida extração de
A anafilaxia se manifesta com hipotensão, dispneia, lombalgia, dor
líquido intravascular pela ultrafiltração e a rápida extração de solutos. A
torácica, náuseas e vômitos. Como este fenômeno é mais comum no
ultrafiltração rápida leva à hipovolemia relativa (apenas do
primeiro contato com o filtro, podemos chamar de "síndrome do primeiro
compartimento intravascular), pois não há tempo hábil para que o líquido
uso". Eventualmente, a anafilaxia é ao óxido de etileno, substância
intersticial reponha o intravascular. A rápida retirada de solutos,
utilizada na esterilização do filtro.
principalmente da ureia, leva à súbita redução da osmolaridade
extracelular em relação à osmolaridade intracelular, levando à
transferência de líquido do extracelular para as células. As cãibras são complicações frequentes, geralmente devido à hipovolemia
transitória, à queda rápida da osmolaridade ou a distúrbios eletrolíticos.
A hipocalemia pode ocorrer quando a solução de diálise não contém
Tab. 5: Complicações crônicas da HD.
potássio, e pode levar à taquiarritmias graves. A hipoxemia se dá pela
RELACIONADAS À PRÓPRIA DIÁLISE perda de O2 pelo filtro ou pela anafilaxia, levando à deposição de
leucócitos nos alvéolos. Raramente, a hipoxemia é pela isquemia
Demência / osteodistrofia pelo alumínio. miocárdica ou por embolia gasosa.
HEMOFILTRAÇÃO E ANÁLOGOS
HEMOFILTRAÇÃO
reabsortiva tubular deve ser acrescentado ao processo. Como a reabsorção 1- "Parte arterial"
tubular é muito complexa, o que é feito é a reposição de um líquido 2- Bomba sanguínea (estabelece o fluxo)
contendo as concentrações eletrolíticas ideais para o paciente – a solução 3- Heparina
de reposição da hemofiltração. Uma solução de reposição típica é 4- Filtro de hemofiltração
apresentada a seguir: 5- Saída do hemofiltrado
6- Solução de reposição
7- Detector de bolhas
[Na+] = 140 mEq/L [K+] = 0 8- "Parte venosa"
[Ca++] = 1,6 mEq/L [Mg++] = 0,75 mEq/L A hemofiltração geralmente é utilizada de forma contínua, isto é,
utilizando-se fluxo sanguíneo baixo por período prolongado. O método
[Cl-] = 101 mEq/L [Lactato] = 45 mEq/L pode ser o arteriovenoso (CAVH) ou o venovenoso (CVVH). O exemplo
típico de CVVH é um fluxo de 125 ml/min durante um período de 24-48h.
[Glicose] = 200 mg/dl Dos 125 ml/min que passam pelos capilares do filtro, cerca de 25 ml/min
são filtrados, isto é, 20%. Esta é a fração de filtração, análoga à fração de
filtração glomerular.
Deve-se acrescentar KCl à solução em pacientes com normo ou
hipocalemia, até uma concentração de K+ de 4,0 mEq/L.
A hemodiálise utiliza o processo de difusão passiva para eliminar os Existe diferença na incidência de rejeição quando o doador é
solutos indesejáveis e a hemofiltração utiliza o processo de convecção para uma pessoa viva ou um cadáver?
este intuito, necessitando da filtração de uma enorme quantidade de Nos dias de hoje não. A evolução da terapia imunossupressora
líquido, que deve ser reposta continuamente. A hemodiálise é melhor do fez com que a incidência de rejeição se tornasse praticamente
que a hemofiltração para eliminar as toxinas urêmicas de baixo peso idêntica em ambos os grupos (no início da era dos transplantes,
molecular, pois essas substâncias são mais bem eliminadas por difusão do o rim de cadáver apresentava uma taxa significativamente maior
que por convecção. A hemofiltração é melhor que a hemodiálise para de rejeição).
eliminar as toxinas urêmicas e sépticas de maior peso molecular, pois essas
substâncias não passam pelos "poros" do filtro de hemodiálise. TALVEZ,
Existe diferença na durabilidade do enxerto quando o doador é
o ideal para o paciente grave, com SIRS e IRA ou insuficiência de
uma pessoa viva ou um cadáver?
múltiplos órgãos, seja a adição dos dois processos ao mesmo tempo –
Sim. Os rins de cadáver têm probabilidade de sofrer períodos
hemodiafiltração. A hemodiafiltração normalmente é utilizada como
mais prolongados de isquemia, o que tende a causar lesões
método contínuo (CAVHDF ou CVVHDF), em pacientes graves
parenquimatosas irreversíveis que limitam a sobrevida do
internados em CTI.
enxerto no hospedeiro. Após cinco a dez anos, o número de
enxertos cadavéricos normofuncionantes é bem menor que o
No filtro de hemodiafiltração, os dois processos ocorrem: a convecção e a
número de enxertos oriundos de doadores vivos.
difusão. Enquanto uma parte do plasma é hemofiltrada, a porção restante
é hemodialisada.
A cirurgia de transplante renal é uma "grande cirurgia"?
Não... O enxerto é colocado na fossa ilíaca direita, sem invasão
Este procedimento tem alto custo em comparação com a hemodiálise ou a
da cavidade peritoneal. As anastomoses vasculares são feitas
hemofiltração isoladas. Como já enfatizado, até o momento não existem
com os vasos ilíacos externos, e o ureter é diretamente
evidências definitivas de que qualquer método de substituição renal seja
anastomosado na bexiga. Se não houver complicações
superior aos demais em pacientes com IRA...
perioperatórias (ex.: infecção da ferida cirúrgica), os pacientes
costumam receber alta num prazo médio de cinco dias!
PROGNÓSTICO
Quais são os principais critérios de elegibilidade para receber
A mortalidade do paciente com IRC em "programa de diálise", pela um transplante renal?
estatística americana, gira em torno de 18-20% ao ano, sendo a taxa de
1. expectativa de vida > 5 anos.
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2. ausência de contraindicações absolutas. Quais são os pré-requisitos para ser um doador cadavérico?
Ausência de câncer, hepatite viral crônica e infecção pelo HIV,
Então idade, transplante renal prévio e doença renal de base pois todos podem ser transmitidos ao receptor... Pacientes
não são contraindicações ao transplante renal? idosos e com algum grau de doença renal crônica costumavam
NÃO! Atualmente se tem transplantado com sucesso pacientes ser excluídos, porém, em vista da crescente demanda por
com > 60 anos, com múltiplos retransplantes e com qualquer transplante (não acompanhada por um aumento equiparável na
doença renal de base!!! oferta de órgãos), os critérios para doação de rim de cadáver
foram ampliados... Assim, atualmente definem-se critérios
Quais são as poucas contraindicações absolutas ao expandidos de doação cadavérica e critérios para doação após
transplante renal? morte cardíaca.
Os "critérios expandidos" são:
1. Expectativa de vida reduzida (< 5 anos).
1. Doador cadavérico > 60 anos.
2. Câncer.
2. Doador cadavérico > 50 anos com história de HAS e Cr > 1.5
3. Infecção ativa sem tratamento.
mg/dl.
4. Psicose grave.
3. Doador cadavérico > 50 anos com história de HAS e morte
5. Abuso e dependência ao álcool e/ou drogas ilícitas. por AVC.
4. Doador cadavérico > 50 anos com morte por AVC e Cr > 1.5
Quais são as contraindicações relativas ao transplante renal?
mg/dl.
1. Infecção ativa em tratamento (ex.: TB).
Os critérios para doação após morte cardíaca são:
2. Úlcera péptica ativa.
1. Falência da ressuscitação cardiopulmonar.
3. Doença coronariana.
2. Paciente em que se espera uma parada cardiorrespiratória
4. Hepatite crônica (incluindo B e C*). iminente.