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DESENVOLVIMENTO DE
PROJETOS SOCIAIS: PLANEJAMENTO,
CAPTAÇÃO DE RECURSOS E REDES SOCIAIS
© 2018 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A.
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Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Rocha, Ivone Ananias dos Santos


R672d Desenvolvimento de projetos sociais: planejamento,
captação de recursos e redes sociais/ Ivone Ananias dos
Santos Rocha – Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S.A. 2018.
100 p.

ISBN 978-85-522-1341-3

1.Projetos Sociais. 2. Administração de projetos. I.


Rocha, Ivone Ananias dos Santos. II. Título.

CDD 370
Thamiris Mantovani CRB: 8/9491

2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS SOCIAIS:
PLANEJAMENTO, CAPTAÇÃO DE RECURSOS E REDES SOCIAIS

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina ................................................................................................................ 4

TEMA 01.................................................................................................................................................... 5
Noções de orçamento

TEMA 02................................................................................................................................................. 27
Noções de Orçamento: Contabilidade

TEMA 03 ............................................................................................................................................... 44
Noções de sustentabilidade

TEMA 04................................................................................................................................................. 63
Estratégias para captação de recursos

TEMA 05................................................................................................................................................. 80
Gestão do relacionamento em projetos

TEMA 06 ............................................................................................................................................... 97
Redes sociais: desafios e possibilidades

TEMA 07 ........................................................................................................................................................ 114


Concepções de rede no campo das políticas sociais

TEMA 08 ........................................................................................................................................................ 131


A rede na execução de projetos sociais

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 3


Apresentação da disciplina

Seja bem-vindo à disciplina Desenvolvimento de Projetos Sociais:


Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais. Em oito temas, você
terá um vasto conteúdo que facilitará o seu entendimento sobre como
trabalhar com projetos sociais. Além de noções de orçamento, orçamento
público e contabilidade, você será contemplado com sustentabilidade e
captação de recursos. Também farão parte do conteúdo parcerias, volun-
tariado e redes sociais, assim como concepção e estruturação de redes no
campo das políticas sociais.

O objetivo da disciplina é discutir aspectos que envolvem o desenvolvi-


mento de projetos sociais, os quais, considerando-se sua abrangência,
exigem abordagens e apreensão de conceitos e fundamentos. No Tema
1, a discussão central será os tipos de orçamento bem como as técnicas
orçamentárias. O Tema 2 estará concentrado na contabilidade do proje-
to. O tema 3 terá como foco a sustentabilidade; o quarto tema discorrerá
sobre a captação de recursos. O quinto tema terá como ponto alto as par-
cerias para se viabilizar um projeto social. O Tema 6 discutirá os desafios
e possibilidades das redes sociais. O penúltimo tema discorrerá sobre as
articulações nas concepções de redes. E o oitavo e último tema se concen-
trara na execução do projeto. Você terá como desafio desenvolver uma
boa argumentação de seu projeto, bem como estabelecer um objetivo
bem definido e de fácil compreensão por qualquer um de seus públicos,
sejam eles pessoas beneficiadas, apoiadores ou patrocinadores.

4 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


TEMA 01
NOÇÕES DE ORÇAMENTO

Objetivos

• O principal objetivo deste conteúdo, denomina-


do Noções de Orçamento é oferecer um arcabouço
conceitual com instruções contextualizadas sobre
orçamento público, tema que permeia o desenvol-
vimento de projetos sociais. Para isso, tem como
objetivos específicos:

• Conceituar o orçamento público a partir das formas


como são empregadas, tais como orçamento por
desempenho e orçamento por programa.

• Apresentar as técnicas orçamentárias utilizadas na


composição do orçamento, quais sejam base zero,
orçamento participativo e incremental.

• Abordar referências, tais como o Plano Plurianual


(PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei
Orçamentária Anual (LOA).

• Exemplificar o uso dos modelos de orçamentos


apresentados.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 5


Introdução

O orçamento é uma das etapas mais importantes em nossa vida e que


permeia nossa sobrevivência, no tocante a bens materiais. Para qualquer
planejamento que envolva recursos financeiros é preciso fazer um levan-
tamento de custos, que é o orçamento. Sem ter um plano financeiro, por
mínimo que seja, fica difícil planejar qualquer atividade futura que de-
penda de verba. Se você almeja estudar, fazer uma viagem, comprar um
carro, adquirir sua casa, para citar alguns exemplos, além de criar seu pla-
nejamento, precisa montar seu orçamento para investir nesse objetivo.
Trata-se de um recurso administrativo que vale para qualquer atividade,
assim como para o desenvolvimento de projetos sociais.

A diferença é que, no caso de projetos sociais, é imprescindível que o


orçamento seja formalizado, pois servirá de comprovação para justificar
o investimento requerido, daí sua relevância nesse contexto e a necessi-
dade de você estudá-lo detalhadamente. O orçamento, tal como é enten-
dido na atualidade, pode ser estudado em dois modelos, o primeiro, por
desempenho e o segundo, por programa. No primeiro caso, orçamento
por desempenho, refere-se a recursos alocados com resultados mensurá-
veis. O orçamento por programa estabelece qual é e como deve ser feito
o investimento, considerando as metas estabelecidas. Há ainda três técni-
cas para se trabalhar os orçamentos em projetos sociais: a de base-zero,
a participativa e a incremental, cujos desdobramentos você acompanhará
na sequência.

1. Orçamento

Orçamento é um instrumento administrativo utilizado por instituições


em geral para nortear as estratégias em projetos. Ele mensura todas as

6 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


atividades relacionadas ao projeto, bem como materiais e equipamen-
tos e organiza, em um documento, cada uma delas com seus respectivos
valores individuais e totais. Por meio do orçamento é possível detectar
riscos financeiros a que o projeto poderá estar sujeito, dando condições à
instituição de tomar as devidas providências em tempo, as quais pode ser
a busca por aportes ou mesmo a redução de valores em determinadas
ações, se assim for necessário.
“O orçamento e o planejamento estratégico ocupam um lugar de destaque
nas organizações em geral, onde tem se mostrado como um importante
instrumento de análise, concentrando informações do ontem, do hoje e do
amanhã, tornando, assim, resultados futuros mais próximos da sua realiza-
ção”. (QUINTANA, 2011, p. 70)

Braga (1995) vai ainda mais além; para ele o orçamento precisa se valer
de um histórico anterior de atividades de projetos para que sejam men-
suradas as ações futuras. Nessa mesma linha de raciocínio, está Padoveze
(2000), para o qual, desenvolver um orçamento é elencar as informações
atuais com vistas a um exercício posterior. Quintana (2011) apresenta
três divisões do orçamento. A primeira é o operacional, onde estão con-
templados os custos de outros orçamentos, por exemplo, de vendas, de
produção, de consumo de matéria prima, mão de obra, custos indiretos
de fabricação e o de despesas. A segunda refere-se ao financeiro, que
compreende o orçamento do caixa, ou seja, quanto será necessário para
despesas rápidas e imprevisíveis. E a terceira divisão é o orçamento de
investimentos, com a discriminação de operações que terão retornos
sobre os valores investidos, como trabalhos artísticos, fotográficos, literá-
rios, os quais, de alguma forma, darão retorno aos investimentos. Nesse
caso, pode ser exposição maior do investidor, ganho social com a associa-
ção de seu nome com a atividade, entre outros.

1.1 Orçamento público

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 7


A partir do conceito de orçamento, você consegue compreender que o
orçamento público relaciona-se às despesas e receitas previstas, contem-
pladas por uma administração pública para um determinado período.
Considere um espaço de 12 meses, ou seja, um exercício fiscal. Segundo
o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (2015), trata-se
de um documento que reúne os valores arrecadados pelo governo, com
suas devidas destinações, quais sejam as áreas de saúde, educação, infra-
estrutura, habitação, entre outras.

EXEMPLIFICANDO
Modelos de orçamento

O orçamento na saúde pode ser para a construção ou am-


pliação de hospitais ou equipamentos hospitalares, contra-
tação de profissionais, entre outros. Na educação, pode ser
para aumentar o número de escolas, de vagas, de reformar,
etc. Em infraestrutura, pode se valer de um orçamento para
a abertura de estradas, reformas ou construção de unidades
públicas e no caso da habitação, o orçamento pode destinar
à liberação de financiamento a construtoras, incorporadoras
ou bancos para a aquisição da casa própria, por exemplo.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 165, estabelece que o orçamen-


to público deve ser de natureza jurídica, instituindo três incisos: I – plano
plurianual, responsável pelos objetivos e metas da administração pública
federal; II – diretrizes orçamentárias, e III – orçamentos anuais. No âmbito
federal, o Orçamento Geral da União (OGU) é desenvolvido pelo Poder
Executivo e analisado pelo Poder Legislativo, o que ocorre no exercício
anterior ao de sua vigência. Nele estão descritas as receitas e suas formas
de arrecadação, bem como as despesas, durante aquele período. Esse
documento contempla ainda os orçamentos fiscal, de seguridade social e

8 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


o de investimento das empresas públicas. Tanto nas empresas privadas
quanto no terceiro setor, o orçamento segue a um modelo semelhante,
em se tratando de estrutura, já que ambos relacionam receitas, despesas
e resultados. Entretanto, eles se diferenciam em aspectos importantes,
como conceituais, principalmente, considerando o seu objetivo genérico,
quais sejam a origem dos recursos de um e de outro segmento, o controle
de gastos, pois os dois tencionam resultados diferentes, para citar alguns
(SÁ RÊGO, [s.d.]).

Enquanto “o orçamento empresarial é uma peça de integração, orienta-


ção e de coordenação de esforços organizacionais [...] sendo também de
comunicação para todos na organização [...]” (WELSCH, 1983; HORNGREN,
2000; SÁ, 2005 apud SÁ REGO, [s.d.], p. 4), o orçamento público, embora
mais antigo, só recentemente incorporou “uma visão de planejamento,
gestão e coordenação de esforços” (idem). Ele desempenhava apenas o
papel de controle político, tentando inibir gastos do executivo que impac-
tavam em mais tributos.

PARA SABER MAIS


O que são primeiro, segundo e terceiro setores

Tanto o primeiro quanto o segundo e o terceiro setores são re-


levantes para o desempenho das atividades políticas, econômi-
cas e sociais de um país. Como explica o Diário Oficial da União
(DOU) (2017), primeiro setor é o Estado, ou o setor público,
que compreende a prefeitura, os governos estaduais e o fede-
ral. Toda a verba desse setor deve ser pública, portanto, sem
fins lucrativos. Segundo setor compreende à iniciativa privada,
a que possui fins lucrativos e tem como objetivo a comercializa-
ção de produtos e serviços. Terceiro setor contempla as insti-
tuições religiosas, ONGs, entidades beneficentes, organizações
de voluntários, entre outros modelos semelhantes.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 9


Nas empresas, o orçamento está alinhado ao planejamento estratégico,
pois considera as metas e os objetivos estabelecidos. “[...] O orçamen-
to empresarial é a tradução do planejamento estratégico em números
[...], com ele é possível estabelecer metas e objetivos tangíveis, estimando
como se espera que transcorram os negócios” (DE PAULA, 2014, [s.p.]).
Serve também para que a empresa identifique oportunidades ou riscos
no desempenho dos negócios. Nas organizações não-governamentais
(ONGs), o orçamento tem representação semelhante às empresas priva-
das, porém, refere-se também a questões de ordem financeira ou não,
já que ajuda a ressaltar o accountabilily, que é a prática da prestação de
conta e de respectivas atividades pelos gestores (FERLE, 2012). Tanto nas
empresas privadas quanto no terceiro setor, diferentemente do governo,
o orçamento não tem a obrigatoriedade de vigência de um ano.

Figura 1 | Representação do orçamento

Fonte: <https://pt.freeimages.com/photo/employee-team-1237788>. Acesso em: 21 jan. 2019.

Em qualquer setor, seja governo, empresas privadas ou organizações não-


-governamentais, o ponto alto é o compromisso com a responsabilidade
e a transparência. No terceiro setor isso é condição sine qua non, já que o
foco são pessoas e processos, tal como mostra a imagem.

10 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


PARA SABER MAIS
O controle de recursos do terceiro setor é bastante rigoro-
so, tanto por parte do Estado quanto pelo setor empresarial,
o qual se justifica por ser apoiador e financiador de proje-
tos dessa área. Segundo Tozzi (2014), isso faz da gestão uma
área bastante qualificada, podendo servir de modelo para
instituições com fins lucrativos. Nessa sua sofisticação, se-
gue a dois conceitos. O primeiro é o de recursos de natureza
restrita, voltados a determinado projeto, não sendo permi-
tido arcar com despesas da instituição mantenedora, com
as sobras, caso houver, devolvidas ao investidor. “Portanto
a gestão destes recursos deve ser feita de forma específica
e segregada” (TOZZI, 2014, p. 45). O segundo conceito refe-
re-se aos recursos de natureza irrestrita, captados pela e
para a instituição, sem destinação específica, com a gestão
pelos administradores da ONG, sem necessariamente, a exi-
gência de uma prestação de contas.

LINK
Caso você tenha interesse em conhecer melhor os concei-
tos de orçamento empresarial e gestão orçamentária, pode
baixar o e-book Guia – orçamento empresarial na prática. É
possível compreender melhor como é feita a composição do
orçamento empresarial, projeções, utilizações, gestão orça-
mentária, entre outros assuntos. As informações estão dispo-
níveis no link: <https://d335luupugsy2.cloudfront.net/cms/fi-
les/2197/1498499355Treasy_-_Guia_pratico_do_Orcamento_
Empresarial_-_Verso_04.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2019.

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2. Orçamento por desempenho

Um dos modelos do orçamento público, focado nos resultados mensurá-


veis, é o orçamento por desempenho, que contempla recursos alocados,
resultados mensuráveis e que se vale de indicadores de eficiência e efe-
tividade, considerando o accountability de gestão (prestação de contas),
na perspectiva do desempenho das ações contempladas no orçamento.
Por meio desse modelo, o gestor consegue avaliar com facilidade se as
metas estabelecidas no planejamento, as alcançadas, os recursos envolvi-
dos, bem como os resultados obtidos estão apresentados no orçamento.
O orçamento por desempenho se enquadra no New Puclic Management
(NPM), que significa Nova Gestão Pública. Como explica Cavalcante (2009),
trata-se de uma divisão do orçamento que surgiu na década de 1990, mas
que teve sua origem, nos Estados Unidos, nos anos de 1960, a partir do
modelo planning, programming and budgeting system (PPBS).

ASSIMILE
Accountability refere-se à prestação de contas por gestores
a grupos, comunidades ou à sociedade diretamente envol-
vidos em determinado patrimônio. É o caso do orçamento
público do Governo Federal, que deve ser apresentado à po-
pulação que contribui e também por se tratar de um recurso
de finalidade pública. Esses valores referenciados na pres-
tação de contas devem ser transparentes e ficarem disponí-
veis para consulta a qualquer momento que houver interes-
se. Accountatility é um termo de utilização recente no Brasil,
iniciado por conta da Lei da Transparência, originária da Lei
Complementar 131/2009, da então Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF). Sua origem é inglesa para designar transparên-
cia na prestação de contas e, portanto, na responsabilização.

12 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Vieira (2005) identifica dois significados que podem ser atri-
buídos ao accountability: responsabilidade objetiva ou obri-
gação de responder por alguma coisa; e capacidade de res-
posta, controle e possibilidade de punição.

A efetividade do orçamento por desempenho depende da unificação dos


custos gerais, indicadores que sejam mensuráveis com a provisão de bens
e serviços, medidas de desempenho e sistema avaliativo, além de um con-
trole eficiente de gestão. Em suma, esse modelo considera o desempenho
de cada uma das áreas envolvidas no orçamento, oferecendo aos demais
órgãos e à sociedade credibilidade e assertividade nas ações, o que pres-
supõem sistemas democráticos. Ao orçamento de desempenho, enqua-
dram-se alguns princípios assinalados por Abrucio (2006), como: 1. Lógica
de competição, trata de ressaltar a qualidade de programas com incenti-
vo representado por premiações; 2. Primazia da hierarquia burocrática,
refere-se a uma análise comparativa dos resultados dos programas im-
plementados e suas ações; 3. Transparência diante da sociedade, consi-
dera sistemas que possam responsabilizar a administração pública. Este
último tem uma relação muito próxima com o accountability. O orçamen-
to por desempenho se caracteriza por suas duas dimensões: o objeto a
ser aplicado o recurso e um programa de trabalho contendo as ações
desenvolvidas. Porém, diferentemente do orçamento para o programa,
não apresenta uma vinculação a um sistema de planejamento.

EXEMPLIFICANDO
Um exemplo de accountability é o Portal da Transparência do
Governo Federal. Trata-se de um canal na internet criado em
novembro de 2004 pela Controladoria Geral da União (CGU)
para disponibilizar informações sobre a destinação dos re-
cursos financeiros, sejam eles relacionados a saúde, habita-
ção, educação, transportes, entre outros, além de repasses

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 13


aos governos estaduais e municipais. A gestão do portal fica a
cargo do Ministério da Transparência e CGU. Essa ferramen-
ta digital atende ao que estabelece a Lei da Transparência
(Lei Complementar 131), sancionada pelo Governo Federal
em 2009, e determina que todos os setores públicos devam
ter instrumentos de accountability.

O link de acesso ao Portal da Transparência do Governo


Federal está disponível em: <http://www.portaltransparen-
cia.gov.br/. Acesso em: 8 set. 2018.

3. Orçamento por programa

Instituído a partir do Decreto-Lei 200/67, o orçamento por programa dis-


crimina as funções do planejamento e do orçamento público disponibiliza-
das nos programas de governo, com a classificação de suas despesas. A lei
prevê que as despesas estejam classificadas de acordo com as funções de
Estado e seus programas de governo a serem executados no exercício em
referência. No orçamento devem ser apresentados os programas e seus
desdobramentos, como subprogramas para os programas e projetos e ati-
vidades para os subprogramas. “Essa modalidade de orçamento possibilita
uma melhor identificação das funções, situação, soluções, objetivos e re-
cursos, dando ênfase às realizações, e não ao gasto apenas, do governo”
(NUNES, OLIVEIRA; BEU, 2015, p. 428). Embora essa divisão do orçamento
tenha sido legalmente efetivada em 1967, somente em 1976 é que passou
a valer na prática. Hoje, esse modelo integra o Orçamento Geral da União
(OGU), que se constitui de orçamento fiscal, de seguridade social e de in-
vestimento das empresas estatais. O controle do OGU está previsto na Lei
4.320/64, que estabelece para tal três formas de controle, quais sejam o
Plano Purianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei de
Orçamento Anual (LOA), conforme esclarece o quadro a seguir:

14 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Quadro 1 | Diretrizes orçamentárias

Foi criada para contemplar as diretrizes, objeti-


vos e metas do governo durante os quatro anos
de gestão. Ela estabelece “de forma regionaliza-
da, os parâmetros, objetivos e metas para ad-
ministração pública federal para as despesas
de capital e outras delas decorrentes e para as
relativas aos programas de duração continua-
Plano Plurianual (PPA) da”, conforme art. 165 da Constituição Federal.
É um documento que traz as diretrizes, objetivos
e metas de médio prazo da administração
pública. Prevê, entre outras coisas, as grandes
obras públicas a serem realizadas nos próximos
anos. Ele tem vigência de quatro anos, portanto
expressa as propostas de governo e a visão
estratégica da gestão pública.

A LDO é elaborada anualmente e tem como ob-


jetivo apontar as prioridades do governo para
o próximo ano. Ela orienta a elaboração da Lei
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
Orçamentária Anual, baseando-se no que foi es-
tabelecido pelo Plano Plurianual. Ou seja, é um
elo entre esses dois documentos.

A LOA é debatida e votada no Congresso Nacional


que pode modificar decisões orçamentárias do
Poder Executivo. Ela responde pelo orçamento
fiscal, de seguridade social e de investimento das
estatais. O Governo Federal deve encaminhar ao
Congresso até o dia 31 de agosto de cada ano
para que possa ser analisado até o final do exer-
cício financeiro. “O projeto de Lei da LOA deve ser
enviado pelo Poder Executivo ao Congresso até
Lei de Orçamento Anual (LOA) quatro meses antes do final do exercício financeiro
e devolvido para a sanção até o encerramento da
sessão legislativa”, que é 22 de dezembro (ENAP,
2014, p. 14).
É o orçamento anual propriamente dito. Prevê
os orçamentos fiscal, da seguridade social e de
investimentos das estatais. Todos os gastos do
governo para o próximo ano são previstos em
detalhe na LOA.

Fonte: Constituição Federal de 1988 e ENAP (2014).

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 15


4. As três técnicas de orçamento

O orçamento moderno, sobretudo o público, além de atentar para o pla-


nejamento das ações, precisa considerar outros aspectos, como suas áre-
as, bases, períodos e metas estabelecidas para cada segmento orçado.
Além disso, a partir dos interesses do contribuinte, contempla técnicas
orçamentárias específicas. Uma delas é o orçamento base zero, que parte
do zero para a análise de entradas e saídas de recursos. A outra é orça-
mento participativo, bastante sugestivo, principalmente diante do proces-
so democrático em que vivemos e que será mais detalhado a seguir. Por
meio desse recurso, os cidadãos podem “influenciar ou decidir sobre os
orçamentos públicos” (PEIXOTO, 2017). A terceira técnica refere-se ao in-
cremental e se baseia em atualização de valores no comparativo entre o
exercício em estudo e o anterior.

4.1 Orçamento base zero (OBZ)

O OBZ é uma técnica do orçamento moderno que prevê uma metodolo-


gia de previsão de investimentos, que considera a movimentação finan-
ceira dos exercícios anteriores, mas que foca nas projeções. Em outras
palavras, é uma solução criada para cortar custos. Ele ajuda o gestor a
considerar apenas o necessário no orçamento e isso resulta em um do-
cumento que considera despesas e receitas enxutas. O orçamento base
zero possui como características “análise orçamentária de receitas, revi-
são de todas as despesas [...] e o nível de custo fixo já existente” (CRUZ,
2016, [s.p.]). Essa metodologia foi criada nos anos 1970 pelo contador
americano da Texas Instruments, Peter Pyhrr, uma consultoria financeira
do então governador da Georgia, Jimmy Carter. Mais tarde, como presi-
dente dos Estados Unidos, Carter adotou o trabalho de Pyhrr, fato que
o ajudou a fazer o livro Orçamento base zero, uma ferramenta gerencial
prática para avaliar despesas (Zero-base budgeting: a practical management
tool for evaluating expenses).

16 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Com o fim do mandato de Jimmy Carter e o início da gestão de Ronald
Reagan, o orçamento base zero deixou de ser utilizado, sendo retomado
nos anos 2000 pelos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann
Telles e Carlos Alberto Sicupira da empresa 3G Capital, como explicam
Ana Paula Ribeiro Tozzi e Jéssica de Souza Costa, em artigo no site do
Estadão (blog do jornalista Fausto Macedo), de 29 de abril de 2017, intitu-
lado A cultura do orçamento base zero. Como define Padoveze (2000, p. 384
apud SAMPAIO et al., 2016, p. 4), “a filosofia do orçamento base zero está
em romper com o passado, ou seja, nunca deixar o orçamento partir da
observação dos dados do passado, pois estes podem conter ineficiências
que poderiam ser perpetuadas”.

O OBZ não considera as verbas autorizadas no orçamento anterior, o que


obriga o gestor a justificar todos os itens apontados no orçamento do
exercício. Em relação aos projetos sociais, cujo orçamento é único, esse
modelo é compatível. As críticas surgem em relação ao orçamento pú-
blico, já que alguns analistas enxergam o orçamento federal, por exem-
plo, muito vinculado a ações constitucionais, receitas e orçamentos de
outras instâncias de poder, como o Legislativo e o Judiciário. Essa é uma
discussão que se acirra a partir do novo governo, iniciado em 2019, que
prevê a aplicação do OBZ a partir de 2020. Para o economista Everardo
Macial, ex-chefe da Receita Federal no governo de Fernando Henrique
Cardoso, esse tipo de modelo fica prejudicado pelas amarras constitucio-
nais necessárias.

Em artigo de janeiro de 2017, a revista da HSM Management, aprova a


volta do OBZ e aponta cinco fatores de sucesso. 1. Oferece maior visibi-
lidade para os itens que geram custos; 2. A redução das despesas pode
ser feita por duas pessoas, dividindo autonomia sobre o orçamento; 3. O
orçamento é feito do zero (tem um processo rigoroso de planejamento e
monitoramento) e possui checagem mensal, o que possibilita maior con-
trole; 4. Permite a introdução de métrica que possa medir o desempenho
do custo, alinhando a remuneração aos objetivos de gestão; e 5. Mudança

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 17


na mentalidade da gestão. Esse, como aponta o artigo, pode ser o fator
mais crítico e que o OBZ consegue ser eficaz.

4.2 Orçamento participativo

Como o próprio nome explica, essa técnica permite a participação do ci-


dadão ou de instituições que o representem nas decisões do orçamento
público. Isso ocorre em municípios. Trata-se de “um importante instru-
mento de complementação da democracia representativa, pois permi-
te que o cidadão debata e defina os destinos de uma cidade”, destaca o
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão em sua página
on-line. O tema se popularizou a partir de 1989, quando a cidade de Porto
Alegre (RS) adotou a prática e teve grande repercussão. O orçamento par-
ticipativo está previsto na Constituição de 1988, em seu art. 29, inciso XII,
e determina que seja adotado por municípios com a “cooperação das as-
sociações representativas do planejamento municipal”. O capítulo IV do
Estatuto da Cidade, relativo a Lei 10.257 de julho de 2001, discorre sobre
a gestão democrática da cidade para garantir a participação do cidadão
no orçamento público, possibilitando a instituição de órgãos colegiados
de política urbana, consultas públicas, audiências e debates, participação
em conferências e em programas e projetos de desenvolvimento urbano.
Para a gestão orçamentária, destaca-se, como condição para aprovação
na Câmara Municipal, a obrigatoriedade da realização de eventos seme-
lhantes, como debates, audiências e consultas públicas a respeito do que
propõe o plano plurianual, a lei de diretrizes orçamentarias e do orça-
mento anual. A participação popular deve ocorrer individualmente ou por
representações de entidades representativas, garantindo o controle dire-
to das atividades e o exercício da cidadania.

Um aspecto importante do orçamento participativo é seu caráter demo-


crático, por estimular a participação da sociedade na destinação de recur-
sos por meio de um recurso governamental, que se vale de reuniões ou
assembleias abertas à participação da sociedade representada ou não.

18 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Sua importância também se encontra no fomento de uma cultura demo-
crática, possibilitando a soberania de quem contribui com recursos e usu-
frui deles (AVRITZER, 2002).

4.3 Orçamento incremental

Esta é outra técnica orçamentária que serve para reajustar os itens de re-
ceita e despesa, como forma de atualizar os valores aplicados conforme
o reajuste da moeda. Possui vertente oposta ao orçamento base zero, já
que o orçamento não começa pelo zero, mas por um princípio de reajuste
em relação aos aplicados no exercício anterior, daí o fato de considerar
uma técnica incremental. Segundo o economista Marcos Cintra, em artigo
apresentado ao jornal Folha de S. Paulo (2016), intitulado Avanços e recuos
da PEC 241, o processo orçamentário incremental possui propostas para
exercícios futuros de ações que estão em curso, com a prerrogativa de
que, somente por existirem já são auto justificáveis. Ele encara com críti-
cas esse fato, já que, nesses casos, o orçamento não incide sobre decisões
centrais de acréscimos ou reduções de recursos. Para ele, “os orçamentos
tornam-se rígidos, inflexíveis e com frequentes vinculações obrigatórias”.
Ele considera que com essa técnica orçamental novos programas vão sen-
do acrescentados no orçamento sem que os anteriores passem por ava-
liação de seus custos e benefícios.

ASSIMILE
Orçamento base zero: cada exercício analisado considera
entrada e saída de recursos daquele período orçado.
Orçamento participativo: prevê a participação do cidadão
e de instituições representativas na destinação de verbas do
exercício posterior.
Orçamento incremental: considera como incremento um
reajuste dos valores aplicados no exercício anterior, seu pon-
to de partida para montar o orçamento.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 19


QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Conforme você estudou, o orçamento público apresenta dois mo-
delos: o orçamento por desempenho, que se vale de indicadores de
eficiência e efetividade, e o orçamento por programa que classifica
as despesas e discrimina as funções do planejamento e do orçamen-
to público que constam dos programas de governo. As três técnicas
mencionadas (orçamento base zero, orçamento participativo e orça-
mento incremental), na sua opinião, podem ser aplicadas a qualquer
um dos modelos de orçamento?

5. Considerações Finais

• Neste Tema 1 você conseguiu analisar e refletir sobre alguns


temas, como:
• Conceitos e aplicabilidade do orçamento público.
• Divisão o orçamento moderno em orçamento por desempenho e
por programa.
• Contextualização das técnicas orçamentárias, quais sejam orçamen-
to base zero, orçamento participativo e orçamento incremental.
• Como se aplicam as técnicas orçamentárias.
• As leis que atuam como referencial teórico para a aplicação do
orçamento, ou seja, o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária anual (LOA).

Glossário

• Orçamento fiscal: documento de destinação dos recursos relati-


vos ao Fisco.

20 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


• Fisco: Estado que detém a gestão do tesouro público.

• Seguridade social: políticas sociais de proteção ao cidadão, como


políticas de saúde, desemprego, moradia, entre outros.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 1
1. No Brasil, o orçamento reveste-se de diversas formalidades
legais. Sua existência está prevista constitucionalmente, ma-
terializada anualmente numa lei específica que “estima a
receita e fixa despesa” para um determinado exercício. Por
causa dessa característica, as despesas só poderão ser re-
alizadas se forem previstas ou incorporadas ao orçamento.
(ENAP, 2014, p. 5). O orçamento refere-se a receitas e despe-
sas durante um determinado período. No caso das adminis-
trações públicas, qual o tempo relativo a exercício fiscal?
a) Refere-se ao período de gestão do presidente, gover-
nador ou prefeito.
b) Corresponde aos primeiros três meses de gestão
pública.
c) Trata do período bianual, ou seja, de dois anos.
d) d) O exercício fiscal corresponde a 12 meses, ou seja,
ao ano posterior.
e) O exercício fiscal compreende ao período estabelecido
pelo gestor público e pode variar.

2. A técnica orçamentária que está bem condizente com o


sistema democrático do Brasil, é o orçamento participati-
vo. O tema está previsto na Constituição Federal de 1988 e
se estabelece como uma prática a ser adotada por municí-
pios. De que maneira pode ser aplicada?

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 21


a) É aplicada por meio de consultas por e-mails envia-
das aos cidadãos cadastrados.
b) Por meio de reuniões ou assembleias abertas à
participação do cidadão ou de instituições que o
representem.
c) São aplicadas consultas aos cidadãos via telefone
com o serviço de atendimento ao contribuinte.
d) Os cidadãos só podem participar se representados
por associações de classe ou outras instituições.
e) e) Por meio de eventos como reuniões e assembleias
cujo cidadão participa pela televisão.

3. O controle do Orçamento Geral da União (OGU), previsto


da Lei 4.320/64, estabelece para tal três formas de contro-
le, quais sejam o Plano Purianual (PPA), a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e a Lei de Orçamento Anual (LOA).
Assinale a alternativa que relacione corretamente as dire-
trizes com seu significado.

I Ela responde pelo orça-


mento fiscal, de seguridade
1. Plano Plurianual (PPA)
social e de investimento
das estatais.

II Objetivos e metas do gover-


2. Lei de Diretrizes
no durante os quatro anos
Orçamentárias (LDO)
de gestão.

III Atividades orçamentárias


baseadas em programas e es-
3. Lei de Orçamento Anual (LOA)
tabelece a utilização de agên-
cias financeiras de fomento.

22 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


a) 1 – III; 2 – I; 3 – II.
b) 1 – II; 2 – I; 3 – III.
c) 1 – II; 2 – III; 3 – I.
d) 1 – I; 2 – III; 3 – II.
e) 1 – III; 2 – II; 3 – I.

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Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 25


Gabarito - Tema 1

Questão 1- Alternativa D

O orçamento público é desenvolvido no período que antecede ao


exercício fiscal a ele correspondente, e compreende o período de 12
meses, ou seja, a um ano.

Questão 2 - Alternativa B

Um aspecto importante do orçamento participativo é seu caráter de-


mocrático, por estimular a participação da sociedade na destinação
de recursos por meio de um recurso governamental, que se vale de
reuniões ou assembleias abertas à participação da sociedade repre-
sentada ou não.

Questão 3 - Alternativa C

O PPA fiscaliza objetivos e metas do governo durante os quatro anos


de gestão. A LDO se encarrega das atividades orçamentárias basea-
das em programas e determina a utilização do orçamento por agên-
cias financeiras de fomento. A LOA é encarregada de analisar o or-
çamento fiscal, de seguridade social e de investimento das estatais.

26 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


TEMA 02
NOÇÕES DE ORÇAMENTO:
CONTABILIDADE

Objetivos

O objetivo geral desta aula é estudar o processo contábil


em geral, de forma a facilitar o entendimento do orçamen-
to público, tendo os seguintes objetivos específicos:

• Conceituar contabilidade.

• Contextualizar o processo evolutivo da contabilidade.

• Abordar o processo de um registro contábil.

• Analisar a contabilidade no setor público.

• Estudar a contabilidade voltada ao terceiro setor.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 27


Introdução

Para que você possa compreender a relevância da contabilidade nos di-


versos contextos econômicos, políticos e sociais observe que todo patri-
mônio, seja ele físico, memorial, sentimental, histórico, orgânico, requer
o controle e a mensuração de seu valor, quando possível. A contabilidade
está presente em tudo o que possa ser materializado. Daí se percebe a
relação da contabilidade com o orçamento. A descrição da receita e sua
destinação (despesa) só são possíveis se tanto uma quanto a outra forem
contabilizadas. Segundo Franco (1997 apud SILVA, 2008), é a contabilidade
que analisa o que ocorre com o patrimônio das entidades. E isso é feito a
partir de registro, classificação, demonstração expositiva, bem como sua
interpretação. A contabilidade, como explica o autor, oferece informação
sobre determinado patrimônio e permite que se tome a decisão mais as-
sertiva sobre a composição desse patrimônio. Quintana (2014) afirma que
não se sabe quem criou a contabilidade, mas que ela surgiu de forma
gradativa nos séculos XIII e XIV, em escrituração em comércio do norte
da Itália, encontrada em arquivos da cidade de Gênova, em 1340. De lá
para cá houve uma importante evolução nos sistemas contábeis, percor-
rendo algumas correntes de pensamento, até se configurar como uma
ciência. Nesse percurso, podermos destacar o Contismo, o Personalismo,
o Neocontismo, o Controlismo, o Aziendalismo, o Patrimonialismo e o
Neopatrimonialismo, vindos tanto da Escola Europeia (italiana) quando
da norte-americana (Anglo-Saxônica).

1. Para entender a Contabilidade

A Contabilidade passou a existir quando se deu início ao inventário ou no


momento em que o homem primitivo passou a contar seu rebanho.

28 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


“O homem, cuja natureza é ambiciosa, não se preocupa apenas com a con-
tagem do seu rebanho, mas [...] com o crescimento, com a evolução do
rebanho e, consequentemente, com a evolução de sua riqueza”. (MARION,
1998, p. 21)

Foi a partir de então que se tomou conhecimento de um relatório contá-


bil, constando nele uma análise de variação de riqueza. Essa análise, que
se verifica até hoje, considera dois inventários, de dois períodos, um em
relação ao outro. A primeira publicação sobre contabilidade que se tem
notícia vem de 1494, de nome Summa de arithmetica, geometria, proportio-
ne et proportionalità, escrita pelo frei franciscano Luca Pacioli. Nela há um
sistema de escrituração por partidas dobradas. Esse foi o primeiro mate-
rial que se tem conhecimento sobre escrituração contábil, como esclarece
Quintana (2014), a partir de referência a Hendriksen e Van Breda (2010).

PARA SABER MAIS


Partidas dobradas é um método de escrituração, criado
pelo frei Luca Pacioli e que representa uma importante con-
tribuição à ciência contábil. Ele se baseia em “lançamentos
contábeis que têm por princípio que não há devedor sem
credor e vice-versa” (QUINTANA, 2014, p. 34). A premissa é de
que para cada débito há um crédito de igual valor.

A Summa, como era conhecida a primeira publicação de contabilidade, “era,


fundamentalmente, um tratado de matemática, mas incluía uma seção sobre
o sistema de escrituração por partidas dobradas, denominada Particularis de
Computis et Scripturis” (SILVA, 2008, p. 81). Para que você compreenda me-
lhor a contabilidade e sua relação com o orçamento, considera-se que ela
estuda o patrimônio e suas variações, com vistas a disponibilizar dados que
auxiliem na tomada de decisões. Assim, um orçamento embasado em um sis-
tema contábil eficiente requer um registro de temas relativos ao patrimônio,

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 29


chamado de escrituração contábil, demonstrações de resultados, de lucros,
prejuízos, fluxo de caixa, resultados do exercício analisado, denominado pela
contabilidade de demonstrações contábeis, análise de documentos, entendi-
do como auditoria contábil, e comparação e demonstrações analíticas, que
recebe o nome de análise de demonstrações contábeis.

As demonstrações contábeis, contempladas na resolução do Conselho


Federal de Contabilidade (CFC) n. 1374/11, utilizam as seguintes informações
para a tomada de decisões: 1. Qual o momento de comprar, manter ou ven-
der recursos patrimoniais; 2. Como avaliar a administração de determinada
instituição, na perspectiva de seu desempenho e prestação de contas; 3. A
capacidade de a entidade pagar e oferecer benefícios aos seus colaborado-
res; 4. Recuperação dos recursos financeiros; 5. Quando estabelecer políticas
tributárias; 6. Distribuição de lucros e dividendos; 7. Estabelecer e se valer de
estatísticas da renda nacional; e 8. Regulamentar as atividades das entidades
(QUINTANA, 2014, p.4).

2. Evolução da Contabilidade

Como você viu na introdução, a Contabilidade trafegou por algumas corren-


tes de pensamento ao longo do tempo, acompanhando transformações do
próprio tempo, como as de ordem política, social, cultural e econômica. A
seguir, conheça as sete correntes vindas da Escola Italiana de Contabilidade
(Europa) e da Escola Anglo-Saxônica (Estados Unidos).

2.1 Contismo

Como destaca Silva (2008), o contismo relaciona-se ao desempenho das con-


tas e aos sistemas de escrituração. As contas representam um dos pilares da
Contabilidade. Assim, o contismo deu origem à ciência das contas. Ela retra-
ta o estudo dos livros contábeis, além de documentos, cálculos e contas
relacionados e que amparam o patrimônio.

30 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


2.2 Personalismo

Esta segunda corrente compreende a personalização das contas, levando


aos responsáveis pelos orçamentos, o esclarecimento sobre as relações
entre direito e obrigações e entre crédito e débito. Entre os estudos sobre
este tema, destacam-se os de Guiseppe Cerboni Bornaccini, um dos pen-
sadores do século XVII, que é grande referência no estudo da ciência con-
tábil. Na visão de Herman Junior (1972 apud SILVA, 2008), a contabilidade,
por meio do personalismo, estabelece critérios para os administradores
e oferece métodos de como se deve “medir, computar e demonstrar os
resultados obtidos nos vários períodos da vida aziendal [empresarial]”
(2008, p. 82).

2.3 Neocontismo, controlismo e aziendalismo

O neocontismo coloca a Contabilidade como um sistema que mede valo-


res econômicos e que orienta sobre como aplicar esses valores no patri-
mônio de seus proprietários (HERMAN JUNIOR, 1972 apud SILVA, 2008).
Essa corrente serviu de base para a criação do controlismo, já que para
medir valores seria necessário um controle desses valores. Tanto o ne-
ocontismo quanto o controlismo foram importantes para a contabilida-
de, o que a tornou a ciência que estuda controle e orientação das ações
da administração econômica. Foi a partir dessas definições que surgiu o
aziendalismo.

2.4 Patrimonialismo

Esta teoria considera que o patrimônio é a grande representação da conta-


bilidade. O patrimonialismo preocupa-se com a conservação e renovação
do capital e seu acúmulo de riqueza a fim de se manter sua utilidade po-
tencial (SILVA, 2008, p. 84). No patrimonialismo estão contemplados dois
aspectos. 1) Estático: refere-se ao patrimônio como empresa ou institui-
ção em determinado momento, período ou época. 2) Dinâmico: trabalha

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 31


as variações desse patrimônio, que podem ser originadas de fatores ad-
ministrativos ou da redução patrimonial. Há quem defina contabilidade na
perspectiva do patrimonialismo. É o caso com contabilista contemporâneo
e professor de contabilidade na Itália, no século XVIII, Vicenzo Masi. Para
ele, define-se contabilidade como o estudo do patrimônio das aziendas
(administrações empresariais) (HERMAN JUNIOR, 1972 apud SILVA, 2008).

2.5 Neopatrimonialismo

Assim como o patrimonialismo, esta corrente de pensamento da contabi-


lidade entende como objeto de estudo o patrimônio, porém o das células
sociais, a partir das funções sistemáticas ligadas à eficácia. A partir dessa
interpretação, entende-se a contabilidade sob a ótica dos fenômenos pa-
trimoniais com enfoque para suas próprias realidades, evidências e com-
portamentos. O neopatrimonialismo está muito presente nas grandes or-
ganizações, tendo em vista suas divisões, cada uma sendo considerada
como um usuário de informação contábil.
Quadro 2 | Evolução da contabilidade

Contismo desem penho das contas.

Persona lismo contas persona lizadas.

Neocontismo med ição de va lores econômicos.

Contro lismo contro le dos va lores.

Azienda lismo setores empresarial, o rganizaciona l ou ad m inistrativos.

Patri mon ia Iismo conse rvação e renovação do capita l patri mon ial.

Neopatrimonialismo patrimonialismo a partir de células.

Fonte: elaborado pela autora.

32 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


LINK
Você pode ampliar seus conhecimentos nessas linhas de
pensamento da contabilidade no artigo A Escola Italiana
(Europeia) de Contabilidade, do Portal Educação, disponível
no link: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/arti-
gos/contabilidade/a-escola-italiana-europeia-de-contabilida-
de/24797>. Acesso em: 21 jan. 2019.

3. O processo de um registro contábil

O registro contábil é a transcrição detalhada de um patrimônio ou de uma


atividade, tanto para entender seu orçamento, quanto seus recursos. Seu
“nível de detalhamento da escrituração contábil deve estar alinhado às
necessidades de informação de seus usuários” (QUINTANA, 2014, p. 28). A
escrituração considera dois componentes: atos administrativos, questões
que envolvem alterações do patrimônio, e fatos contábeis, que se relacio-
nam a mudanças nos valores do patrimônio.

Também fazem parte do registro contábil, as contas, o plano de contas,


livros de escrituração contábil, regimes contábeis e balancete de verifica-
ção. As contas correspondem ao que consta no orçamento como com-
pra, venda, recebimento ou pagamento. O plano de contas vai além do
demonstrativo de contas, é o documento que apresenta a estrutura des-
sas contas. “É um dos aspectos mais importantes da organização contábil
e destina-se a orientar o registro das operações, oferecendo a vantagem
de uniformização das contas utilizadas em cada registro” (FRANCO, 1996,
p. 123 apud QUINTANA, 2014, p. 30). Os livros de escrituração contábil
contemplam o histórico da Contabilidade e serve para demonstrar a situ-
ação econômico-patrimonial da instituição, assim como seu desempenho.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 33


Os regimes contábeis equivalem às despesas e receitas relativas a deter-
minado exercício social. Consideram-se dois regimes, 1º o de caixa e 2º o
de competência. O primeiro refere-se a um processo dinâmico e cotidia-
no, pois trata da entrada e saída de dinheiro. O segundo, regime de com-
petência relaciona-se a “receita ganha e despesa consumida e vimos a im-
plicação deste regime na formação do resultado do exercício” (MARION,
1998, p. 100).

Figura 2 | Representação de um registro contábil

Fonte: <https://pixabay.com/pt/livro-raz%C3%A3o-contabilidade-
neg%C3%B3cios-1428230/>. Acesso em: 21 jan. 2019.

EXEMPLIFICANDO
O regime de caixa pode ser exemplificado pelo dinheiro deixado
para despesas extras simples, como taxi, refeições ou cafés com
clientes ou produtos e materiais não previstos no orçamento. Já
o regime de competência exemplifica-se pela discriminação no
orçamento de material de escritório (canetas, papel, lápis, entre
outros), pois são gastos previsíveis e que podem corresponder
a período competente ao orçamento.

34 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


O último item que faz parte do registro contábil é o balancete de verifi-
cação, que compreende um documento com estrutura de uma planilha,
contendo algumas colunas relativas aos objetivos do negócio, bem como
à necessidade dos usuários, duas delas, as principais, são as de saldos
devedores e de saldos credores.

ASSIMILE
O registro contábil está previsto na Resolução CFC 1.330/11 e
deve estar em consonância com os princípios da contabilida-
de, os quais precisam atender às necessidades de informa-
ções dos usuários. Segundo Quintana, “a escrituração contá-
bil deriva de atos e fatos praticados no processo de gestão”
(2014, p. 28). Por meio do registro contábil são identificados
os atos administrativos (ações que influenciam no patrimô-
nio) e fatos contábeis (de natureza econômica, que contri-
buem para as alterações nos valores patrimoniais).

4. Contabilidade no setor público

Para orientar sobre o sistema contábil aplicado ao setor público, o Governo


Federal dispõe do Manual de Contabilidade aplicada ao setor público. O
documento possui como diretrizes 1) Padronização de um plano de con-
tas nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal), obrigato-
riamente para as empresas estatais dependentes e facultativo para as in-
dependentes; 2) Adequação do detalhamento às particularidades de cada
nível; 3) Divulgação pública da estrutura do Plano de Contas Aplicado ao
Setor Público; 4) Criação de um manual com a descrição das contas, fun-
ções e procedimentos dos recursos. Como aponta o manual, o plano de
contas do setor público tem bastante semelhança com o da área privada,
pois visa:

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 35


atender, de maneira uniforme e sistematizada, ao registro contábil dos atos
e fatos praticados pela entidade. Desta forma, proporciona maior flexibili-
dade no gerenciamento e consolidação dos dados e alcança as necessida-
des de informações dos usuários. (BRASIL, 2012, p. 7)

Os canais de informação devem ser flexíveis para que possam permitir a


produção de relatórios que facilitem a tomada de decisão.

As contas precisam possibilitar a identificação, classificação e escrituração


sistematizadas e uniformes. Devem auxiliar no custo das operações das
administrações públicas. As contas devem ainda estar alinhadas com o
controle do planejamento e do orçamento, além de apoiar nos balanços
orçamentário, financeiro e patrimonial do governo, assim como nos de-
monstrativos patrimoniais, fluxos de caixa entre outros. Outras funções
da conta contábil é permitir análise do patrimônio a partir de ativos e pas-
sivos e apoiar na composição do patrimônio. Elas devem ser de tal forma
elucidativas, para que possam facilitar a análise dos resultados, na indivi-
dualização dos devedores e credores e no controle das ações contratuais.
O plano de contas considera para sua estrutura e classificação da conta-
bilidade as teorias personalista (as contas configuram-se como pessoas e
representam pessoas), materialista (relacionam-se a materiais) e patrimo-
nialista (destina-se à contabilidade do patrimônio e sua administração).

5. Sistema contábil do governo

Segundo o plano e contas, “o sistema contábil [do governo] é a estrutura


de informações para identificação, mensuração, avaliação, registro, con-
trole e evidenciação dos atos e dos fatos da gestão do patrimônio público”
(BRASIL, 2012, p. 13). Tem o propósito de auxiliar no processo de deci-
são, prestação de contas e instrumentalização do controle social. Possui
alguns subsistemas como o de informações orçamentárias, informações
patrimoniais, subsistema de custos e subsistema de compensação.

36 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


O patrimônio público é composto por direitos e bens tangíveis (concretos,
que podem ser tocados, como imóveis, máquinas, veículos) ou intangíveis
(compreende a propriedade imaterial da empresa que possui um valor. É
como o caso da marca) e contemplam os ativos, que são os recursos con-
trolados pelo órgão governamental como resultado de eventos passados
que gerarão resultados positivos econômicos no futuro. Já os passivos,
obrigações da instituição oriundas de ações do passado, e o patrimônio
líquido, saldo patrimonial ou situação líquida patrimonial, que represen-
ta o valor residual dos ativos, após a dedução dos passivos.

6. Contabilidade nas organizações do terceiro setor

O desenvolvimento de projetos sociais pode ocorrer por empresas públi-


cas, privadas ou pelo terceiro setor. Isso significa que qualquer instituição
devidamente constituída pode desenvolver um projeto social. A contabili-
dade voltada ao terceiro setor, sobretudo organizações não-governamen-
tais (ONGs), embora prevê sistemas semelhantes entre si, requer uma do-
cumentação diferenciada. Para o registro da instituição, são necessários
dois documentos:

6.1 Estatuto Social

Contempla nome, missão, objetivo e administração. Sua aprovação ocor-


re em assembleia constitutiva, com a presença dos fundadores.

6.2 Ata de constituição

Documento com o registro da primeira assembleia, com a lista de pre-


sença e o chamamento público com seu devido registro em cartório.
(PENIDO, s/d)

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 37


ASSIMILE
Partindo do pressuposto de que um projeto social constitui um
conjunto de ações voltadas a beneficiar pessoas em grupos
específicos ou comunidades, tais iniciativas podem se originar
de empresas públicas, privadas, de governos ou mesmo de in-
divíduos. São ações que promovem e reforçam o direito à ci-
dadania. Podem ser apoio institucional ou financeiro a institui-
ções legalmente constituídas, como ONGs, escolas, hospitais,
incentivo a causas sociais, criação de recursos para viabilizar
uma necessidade, como compra de cadeiras de rodas, óculos,
equipamentos cirúrgicos, entre outras. Enfim, projetos sociais
são iniciativas individuais ou coletivas que visam a proporcio-
nar a melhoria da qualidade de vida de pessoas e comunida-
des. Por uma sociedade se mobiliza, organizando e desenvol-
vendo projetos e ações sociais para transformar determinada
realidade para o bem comum sem fins lucrativos.

Mediante esses dois documentos, a Receita Federal emite o Cadastro


Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ); as organizações da sociedade ci-
vil de interesse público (Oscips), além dos documentos relacionados às
ONGs, precisam possuir um título de parcerias e convênios, emitido pelo
Ministério da Justiça, o qual valerá para qualquer órgão público.

LINK
Informações completas sobre o plano de contas aplicado ao
setor público podem ser obtidas no documento de 2012, com
o detalhamento do plano, disponível no link: <http://www.
tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/113505/Parte_IV_
PCASP2012.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2019.

38 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


QUESTÃO PARA REFLEXÃO
O sistema contábil de um orçamento (ou sistema orçamentário) re-
quer um registro de documentos relacionados a patrimônio, em que
há demonstrações de resultados, lucros, prejuízos, fluxos de caixa,
entre outras atividades. Em se tratando de um projeto social, e para
fins contábeis, o que pode ser considerado patrimônio?

7. Considerações Finais

• Apresentação do conceito e a contextualização da contabilidade


para que se possa relacioná-la ao orçamento público.

• O processo evolutivo da contabilidade e a origem desse processo.

• As sete correntes da Escola Italiana de Contabilidade e da Escola


Anglo-Saxônica.

• A estrutura e as etapas de um registro contábil.

• Como a contabilidade acontece no setor público.

• A contabilidade voltada ao terceiro setor.

Glossário

• Aziendalismo: refere-se ao setor empresarial, sua organização e


administração. Surgiu a partir de estudos dos contadores do sé-
culo XVIII, Guiseppe Cerboni Bornaccini e Fábio Besta, tendo como
representante outro pesquisador, Gino Zappa, o qual entende a
economia aziendal como centro do triângulo formado por admi-
nistração, organização e contabilidade.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 39


• Patrimônio ativo: bens da empresa que podem ser convertidos
em dinheiro. Trata-se do aspecto positivo da instituição.

• Patrimônio passivo: representa o saldo das obrigações financei-


ras. Enquanto o ativo é o que se tem a receber, o ativo refere-se ao
que se tem a pagar.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 2
1. A Contabilidade surgiu no momento em que iniciou o in-
ventário e que o homem primitivo passou a contar seu re-
banho. “O homem, cuja natureza é ambiciosa, não se pre-
ocupa apenas com a contagem do seu rebanho, mas [...]
com o crescimento, com a evolução do rebanho e, conse-
quentemente, com a evolução de sua riqueza” (MARION,
1998, p. 21). Como definir o valor da Contabilidade?

a) A Contabilidade discute e avalia o fluxo de caixa das


empresas para que possam ter seus nomes disponí-
veis na praça.
b) A Contabilidade estuda o patrimônio e suas varia-
ções, com vistas a disponibilizar dados que auxiliem
na tomada de decisões.
c) A Contabilidade se constitui na demonstração patri-
monial das empresas por meio de balancetes.
d) A Contabilidade descreve as políticas tributárias da
empresa e estabelece regras de utilização desses
tributos.
e) A Contabilidade refere-se às contas ativas da empresa,
para que possam ser distribuídas entre os acionistas.

2. Desde sua criação, a Contabilidade percorreu alguns

40 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


caminhos com suas respectivas correntes de pensamen-
to, as quais acompanharam as transformações do tempo,
como as de ordem política, social, cultural e econômica.
Relacione as correntes teóricas do pensamento com suas
devidas definições e aponte a alternativa correta.

1. Contismo V. Desempenho das contas.

2. Personalismo III. Contas personalizadas.

3. Neocontismo VI. Medição de valores econômicos.

4. Controlismo VII. Controle dos valores.

IV. Setores empresarial, organizacional ou


5. Aziendalismo
administrativos.

6. Patrimonialismo I. Conservação e renovação do capital patrimonial.

7. Neopatrimonialismo II. Patrimonialismo a partir de células.

a) 1 – IV; 2 – VII; 3 – I; 4 – VI; 5 – II; 6 – III; 7 – V.


b) 1 – II; 2 – V; 3 – I; 4 – III; 5 – VI; 6 – IV; 7 – VII.
c) 1 – III; 2 – VI; 3 – VII; 4 – I; 5 – II; 6 – IV; 7 – V.
d) 1 – V; 2 – III; 3 – VI; 4 – VII; 5 – IV; 6 – I; 7 – II.
e) 1 – VII; 2 – I; 3 – V; 4 – VI; 5 – III; 6 – II; 7 – IV.

3. O registro contábil contempla as contas, o plano de con-


tas, livros de escrituração contábil, regimes contábeis e
balancete de verificação. Como é possível definir registro
contábil?

a) É o documento que apresenta a descrição dos bens


imateriais das empresas.
b) É o detalhamento do patrimônio imaterial das empre-
sas, o qual serve para que ela seja identificada como
pública ou privada.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 41


c) É a transcrição detalhada de um patrimônio ou de
uma atividade, tanto para entender seu orçamento,
quanto seus recursos.
d) É um documento que contempla aspectos estáti-
cos e dinâmicos relativos ao patrimônio material da
empresa.
e) É um documento registrado em cartório que apon-
ta os proprietários ou acionistas da empresa e seus
bens.

Referências Bibliográficas

MARION, J. C. Contabilidade Empresarial. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1998.

BRASIL. Ministério da Fazenda. Secrataria do Tesouro Nacional. Manual de


Contabilidade Aplicada ao Setor Público. Parte IV – Plano de Contas aplicado ao
Setor Público. Brasília: 5. Edição, 2012. Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.
gov.br/documents/10180/113505/Parte_IV_PCASP2012.pdf>. Acesso em: 16 set. 2018.

OLIVEIRA, L. Que tipo de registros as ONGs devem ter? Capital Social, Contabilidade
e Gestão. 6 de fev. 2014. Disponível em: <http://www.rosapenido.com.br/que-tipos-
-de-registros-ongs-devem-ter/>. Acesso em: 29 jan.2019.

PORTAL EDUCAÇÃO. A Escola Italiana (Europeia) de Contabilidade. [s.d.]. Disponível


em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/contabilidade/a-escola-
-italiana-europeia-de-contabilidade/24797> Acesso em: 16 set. 2018.

QUINTANA, A. C. Contabilidade Básica. São Paulo: Atlas, 2014.

SILVA, L. I. S. Contabilidade: objeto, objetivos e funções. Feira de Santana, BA:


Sitientibus, p. 79-101, 2008. Disponível em: <http://www2.uefs.br/sitientibus/
pdf/38/5_contabilidade_objeto_objetivos_e_funcoes.pdf>. Acesso em: 16 set. 2018.

42 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Gabarito - Tema 2

Questão 1 - Alternativa B

A Contabilidade estuda o patrimônio e suas variações, com vistas a


disponibilizar dados que auxiliem na tomada de decisões. Assim, um
orçamento embasado em um sistema contábil eficiente requer um
registro de temas relativos ao patrimônio.

Questão 2 - Alternativa D
1. Contismo 5. Desempenho das contas.

2. Personalismo 3. Contas personalizadas.

3. Neocontismo 6. Medição de valores econômicos.

4. Controlismo 7. Controle dos valores.

5. Aziendalismo 4. Setores empresarial, organizacional ou administrativos.

6. Patrimonialismo 1. Conservação e renovação do capital patrimonial.

7. Neopatrimonialismo 2. Patrimonialismo a partir de células.

Questão 3 - Alternativa C

É a transcrição detalhada de um patrimônio ou de uma atividade,


tanto para entender seu orçamento, quanto seus recursos.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 43


TEMA 03
NOÇÕES DE SUSTENTABILIDADE

Objetivos

• Conceituar sustentabilidade e desenvolvimento


sustentável.

• Discutir os pilares da sustentabilidade: desenvol-


vimento humano, desenvolvimento econômico e
desenvolvimento social.

• Contextualizar as conferências internacionais que


estiveram focadas na sustentabilidade e, consequen-
temente, na preservação do meio ambiente.

• Estudar a Conferência ECO 92, bem como conceituar


a Agenda 21.

• Abordar o meio ambiente como forma de provocar


reflexão sobre a previsibilidade ou não da natureza,
bem como sua fragilidade e efemeridade.

• Apresentar exemplos práticos de desenvolvimento


sustentável.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 44


Introdução

A amplitude do tema sustentabilidade demonstra a relevância que ele tem


no meio ambiente, ao qual todos os seres vivos fazem parte. Para você abor-
dar esse tema, comece relacionando-o ao desenvolvimento sustentável na
perspectiva de preservação do planeta, sempre com o olhar para o futuro,
que pode ser amanhã, no próximo ano, nos próximos dez anos, em um sé-
culo ou mais. O importante é pensar que as gerações futuras precisarão dos
cuidados que devemos ter agora. Por isso, faz-se necessário discutir o desen-
volvimento sustentável como forma de explorar o meio ambiente na sua ra-
cionalidade, para que supra as necessidades de todos com o menor impacto
possível. A conceituação do tema requer também um entendimento de seus
pilares, quais sejam o desenvolvimento humano, econômico e o social. O
desenvolvimento humano compreende fatores ligados ao ciclo de vida do
ser humano; o desenvolvimento econômico caracteriza-se, sobretudo, pelo
bem-estar material, associado à acumulação de capital, qualidade do pro-
duto interno bruto, sobrevivência das empresas, das nações e das gestões
públicas. E o terceiro pilar, desenvolvimento social, está bastante relacionado
ao desenvolvimento humano e trabalha o enfrentamento de diversos desa-
fios, como o da diversidade, diferenças sociais, entre outras questões que
focam o desenvolvimento com equidade. Tudo isso você acompanhará aqui
de forma contextualizada e com a apresentação de exemplos que possam
facilitar seu entendimento.

1. Sustentabilidade

Embora possa parecer recente, o conceito de sustentabilidade remonta de


muitos anos. Em 1896 já havia a preocupação com as consequências do im-
pacto industrial na natureza, com a emissão de gases e os efeitos da poluição.
Entretanto, foi em 1972 que a Organização das Nações Unidas (ONU) deu

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 45


início aos encontros mundiais, por meio dos quais, governos, parlamentos
e a sociedade civil puderam refletir e discutir a questão. (PASSOS, 2009) No
Brasil, o assunto teve destaque na Eco 92, Conferência das Nações Unidas,
ocorrida no Rio de Janeiro, em junho de 1992.

Mas, afinal, como definir sustentabilidade? Trata-se de um conceito que sur-


giu do termo desenvolvimento sustentável, cujo propósito é pensar o de-
senvolvimento humano, econômico e o social, levando em conta a preser-
vação do planeta. Sustentabilidade é uma visão de mundo que considera
atender as necessidades ambientais do presente, preocupando-se com seus
impactos nas gerações futuras. Para isso, desde 1972, quando aconteceu a
primeira Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, co-
nhecida como Conferência de Estocolmo, vêm se discutindo estratégias que
possam oferecer essa garantia. São esses três pontos (humano, econômico
e o social) que compõem os pilares da sustentabilidade e seu grande desafio
é obter a harmonia entre eles. Esses três pilares também são mencionados
por Elkington (1994 apud SARTORI; LATRÔNICO; CAMPOS, 2014), para quem,
as empresas têm uma grande responsabilidade nessa causa, já que os negó-
cios devem ser feitos em mercados estáveis, com as tecnologias voltadas ao
desenvolvimento sustentável.

LINK
O site Brasil Escola avança na definição de sustentabilidade,
apresentando alguns pontos como base para ideias susten-
táveis. Os quais encontram-se no link: <https://brasilescola.
uol.com.br/o-que-e/quimica/o-que-e-sustentabilidade.htm>.
Acesso em: 22 jan. 2019.

Para que você possa se aprofundar no conceito de sustentabilidade, as-


sim como ter a fundamentação devida, é importante compreender as ba-
ses do Desenvolvimento Sustentável (DS). O termo passou a ser utilizado

46 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


na década de 1980, como forma de chamar a atenção para a preservação
do planeta, já que o mundo passava a olhar as futuras gerações com a
preocupação de terem suas necessidades atendidas na perspectiva de
sua longevidade. Tisdell (1988) encara o DS como oportunidades iguais
para as gerações futuras. Outra pesquisadora, Chichinlnisky (1995) enten-
de que pensar em DS não é deixar de consumir o capital da humanidade,
mas encontrar maneiras de substituir esse consumo por outro. Não seria,
por exemplo, como afirma a autora, substituir todas as árvores do plane-
ta por outras alternativas, mas mudar o consumo de forma que não seja
necessário destruir essas árvores.

EXEMPLIFICANDO
Existem várias ações que você pode ter tanto no trabalho
quanto em casa ou orientando outras pessoas, e que tam-
bém pode acompanhar. Uma delas é o reaproveitamento
de produtos, equipamentos obsoletos ou mesmo alimentos.
Com garrafas pet, por exemplo, além de produtos artesanais,
como cortinas, utensílios domésticos, etc., é possível se cons-
truir casas, como mostra o site SustentArqui em texto intitu-
lado 10 construções com reutilização de garrafas, publicado
em 15 de maio de 2017. Outro exemplo é de um empreende-
dor de Taubaté (SP), apresentado em vídeo produzido pelo
Sindicato dos Contadores e Técnicos em Contabilidade do
Vale do Taquari (RS) (Sincovat), que trabalha a compostagem
de lixo orgânico em casa. Com uma bicicleta, ele recolhe,
duas vezes por semana, o material orgânico dos moradores
de sua cidade para transformar em adubo que ele mesmo
vende para favorecer outras plantações. Foi assim que criou
sua empresa, a BioCiclo. Você pode conhecer melhor esse
trabalho, acessando o link: <https://www.youtube.com/wat-
ch?v=k_tbclMzHuE>. Acesso em: 22 jan. 2019.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 47


Desse pensamento surge a sustentabilidade que é “a existência de con-
dições ecológicas necessárias para dar suporte à vida humana em um
nível específico de bem-estar através de futuras gerações” (SARTORI;
LATRÔNICO; CAMPOS, 2014, p. 4). Deve ser um norteador sobre o com-
portamento das pessoas em relação à natureza e às gerações futuras. Os
autores ressaltam haver dois níveis de sustentabilidade, a fraca e a for-
te. A sustentabilidade fraca carece da preservação de seu capital natural.
Seria a extensão do bem-estar econômico, entendendo que o capital eco-
nômico pode compensar as perdas do capital natural. A sustentabilidade
forte trata da preservação e valorização dos sistemas naturais para não
comprometer as gerações futuras.

PARA SABER MAIS


As instituições sociais, como as organizações não-governa-
mentais (ONGs), foram as grandes responsáveis pelas pau-
tas de discussões e pelos tratados que levaram a conferên-
cias, convenções, resultando em legislação internacional.
Uma delas foi a Eco 92, da qual surgiu a Declaração sobre o
uso das florestas e a Convenção sobre a Diversidade bioló-
gica, que trata da extração de produtos da natureza para a
industrialização. Outra decisão internacional importante foi
o Protocolo de Kyoto, de 1997, que fez com que os países
desenvolvidos assumissem o compromisso com a redução
da emissão de gases que venham a promover o efeito estufa,
contribuindo para diminuir o aquecimento global. A Agenda
21, apresentada mais adiante, foca no desenvolvimento sus-
tentável, com medidas de proteção à atmosfera e aos ocea-
nos. A Agenda também considera os “excluídos”, como índios
e população ribeirinha, mencionando ainda questões de or-
dem social, que envolvem a mulher, os jovens, a diversidade.

48 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Há outros itens que compõem a legislação e o Direito
Internacional do Meio Ambiente. Para saber mais, aces-
se o site da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
(Cetesb), disponível em: <https://cetesb.sp.gov.br/proclima/
legislacao/legislacao-e-direito-internacional-do-meio-am-
biente/>. Acesso em: 26 set. 2018.

2. Os pilares da sustentabilidade

2.1 Desenvolvimento humano

Sob o olhar da ciência, o desenvolvimento humano compreende fatores


sociais, psicológicos e comportamentais, na perspectiva do ciclo de vida
do ser humano, assim como no meio ambiente como um todo. Trata de
um conjunto de estudos transdisciplinares, que visam a compreender os
fenômenos relacionados ao indivíduo (DESSEN; GUEDEA, 2004, p. 11). As
autoras apresentam alguns princípios básicos que auxiliam no estudo do
tema. O primeiro trata da vida humana como um fator integrado. O se-
gundo considera o ato de viver uma dinâmica contínua, interagindo com
outros em semelhante dinamismo. O terceiro trata da questão individual
do ser humano, o qual é influenciado por vivências integradas. Há outros
princípios que tratam de padrões individuais e de diferenças psicológicas,
ou seja, para entender o desenvolvimento humano é preciso reunir um
conjunto de qualidades e especificidades que, de forma sistêmica, pos-
sam sincronizar com o modo de vida, comportamentos e ações humanas.
Isto requer a contribuição de diferentes disciplinas, tais como, a biologia e a
psicologia do desenvolvimento, a fisiologia, a neuropsicologia, a psicologia
social, a sociologia e a antropologia. (DESSEN; GUEDEA, 2004, p. 12)

Outra definição é a de que o desenvolvimento humano:

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 49


é um processo de construção contínua que se estende ao longo da vida dos
indivíduos, sendo fruto de uma organização complexa e hierarquizada que
envolve desde os componentes intra-orgânicos até as relações sociais e a
agência humana”. (SIFUENTES; DESSEN; OLIVEIRA, 2007, p. 379)

2.2 Desenvolvimento econômico

Podemos definir desenvolvimento econômico como um processo sistêmi-


co de aumento da produtividade de forma sustentável, ou seja, de manei-
ra que não agrida o meio ambiente e que contribua com a qualidade de
vida. Segundo Bresser Pereira (2006), trata-se de um fenômeno histórico
que acontece nos diversos países e se caracteriza também pelo aumento
da renda por habitante e pela acumulação de capital. Entretanto, as taxas
de desenvolvimento podem variar de um país para outro, dependendo da
forma como promovem o desenvolvimento. Pereira (2006) entende que
um investimento de longo prazo tende a ser mais bem-sucedido, pois tra-
balha a sobrevivência das empresas, mesmo com taxas de crescimento
que dependem da sorte econômica das nações. Mas o desenvolvimento
econômico está atrelado a dois fatores importantes, como a taxa de acu-
mulação de capital por seu produto nacional e a capacidade técnica de
progressão de sua produção. Dessa forma, persiste o autor:
o desenvolvimento econômico é assim um fenômeno histórico, de um lado
relacionado com o surgimento das nações e a formação dos estados nacio-
nais ou estados-nação e, de outro, com a acumulação de capital e a incor-
poração de progresso técnico [...]. (PEREIRA, 2006, p. 5)

ASSIMILE
A acumulação de capital depende do nível de produtividade do
país, da conformidade de suas instituições políticas econômi-
cas, assim como da capacidade de sua população de enxergar
suas ações como estratégicas do ponto de vista internacional.

50 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Entendendo o desenvolvimento econômico na perspectiva da teoria es-
truturalista, como forma de solucionar a problemática da mudança es-
trutural, considera-se que “é uma transformação na relação e nas pro-
porções internas do sistema econômico” (QUEIROZ, 2011, p. 146). Como
se sabe, a conjuntura econômica produz resultados e perspectivas tam-
bém no campo social, já que ambos estão ligados ao desenvolvimento. O
desenvolvimento econômico, como coloca a autora, é consequência de
um círculo virtuoso em que a produtividade varia e modifica as formas
de produção, gerando distribuição de renda e, consequentemente, maior
produtividade. Mas essa produtividade depende de um progresso técni-
co, que é “o motor do desenvolvimento, [...] a espinha dorsal desse pro-
cesso é a cumulação de capital”, assinala Furtado (apud QUEIROZ, 2011,
p. 147). A partir de tal pensamento, conclui-se que o desenvolvimento ma-
croeconômico ocorre a partir da incorporação de invenções e da difusão
de inovações. Nesse campo do desenvolvimento, Raúl Prebisch concentra
sua análise na disseminação da tecnologia global e na consequência de
seus resultados. Segundo, Furtado, “o subdesenvolvimento é, portanto,
um processo histórico autônomo, e não uma etapa pela qual tenham, ne-
cessariamente, passado as economias que já alcançaram grau superior de
desenvolvimento” (FURTADO, 1961, p. 180 apud QUEIROZ, 2011, p. 149).

ASSIMILE
Teoria Estruturalista
Ao final da Segunda Guerra Mundial, era preciso estabelecer
um processo de desenvolvimento econômico, baseado no
path-dependent (dependência da trajetória), ou seja, havia a
necessidade de se analisar o caráter heterogêneo das estru-
turas econômicas para promover a endogeneização de suas
capacidades técnicas específicas. Daí surgiu a teoria estru-
turalista, criada pelos pensadores da Comissão Econômica
para a América Latina (Cepal) e da escola cepalina, os econo-
mistas Celso Furtado (Brasil) e Raúl Prebisch (Argentina).

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 51


2.2 Desenvolvimento social

Este pilar da sustentabilidade tem uma relação bastante forte com o de-
senvolvimento humano. Isso porque ambos estão ligados a questões
como renda, emprego, gênero, raça, etnia, idade, território, deficiências,
orientação sexual, ou seja, de inclusão social e desenvolvimento com equi-
dade. “Em primeiro lugar, exige a superação da dicotomia entre desenvol-
vimento econômico e desenvolvimento social; em consequência, a busca
de uma nova articulação entre políticas econômicas e políticas sociais”
(LAMPREIA, 1995, p. 17).

3. Meio ambiente

O meio ambiente integra tanto a natureza original e artificial, quanto o


solo, a água, o ar, a flora, o patrimônio histórico, paisagístico e turístico,
ou seja, o meio físico, biológico, químico. A Lei Federal nº 6.938/81, que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente em seu art. 3º, inciso
I, conceitua o meio ambiente como “um conjunto de condições, leis, in-
fluências e integrações de ordem física, química e biológica, que permite,
obriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Para entender o que se passa com a natureza, Angelo (2007) monta uma
cronologia dos efeitos do crescimento populacional e do aumento do
consumo de energia sobre o meio ambiente, que começa em 1892, com o
início de uma pesquisa sobre a era do gelo, o efeito estufa e do gás carbô-
nico. Em 1957, dois oceanógrafos, Roger Revelle e Hans Suess (citados por
Silva (2012)), divulgam que apenas 10% de gás carbônico é consumidor
pelo mar. Em 1962 surge o primeiro alerta contra a poluição química. Em
1971 nasceram os movimentos ambientalistas como o Greenpeace, em
protesto contra usinas nucleares. Em 1985 é divulgado o buraco da cama-
da de ozônio. O ano de 1987 destacou-se nesse cenário de preservação
do meio ambiente pelo surgimento do Relatório Brundtland, denominado

52 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Nosso Futuro Comum, cujo objetivo era o desenvolvimento sustentável,
ou seja, atender as necessidades do presente com a preocupação de não
comprometer as gerações futuras. Em 1988 surge o Intergovermental Panel
on Climate Change (IPCC), que significa Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas, criado pela Organização Meteorológica Mundial e o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Seu objeti-
vo é munir as populações de informações técnicas, científicas e socioeco-
nômicas sobre as mudanças climáticas.

PARA SABER MAIS


O Relatório Brundtland Nosso Futuro Comum foi criado em 1987,
fruto do resultado da avaliação de dez anos da Conferência de
Estocolmo. Seu nome é uma referência a primeira-ministra da
Noruega, Gro Harlem Brundtland, por ter sido a responsável pela
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Para a produção do relatório, houve pesquisas com líderes de
governo e a sociedade, por meio de reuniões em diversas regi-
ões tanto já desenvolvidas quanto em desenvolvimento. Foram
inúmeros posicionamentos colocados no relatório, envolvendo
questões ligadas a energia, água, tecnologias, desenvolvimen-
to sustentável, além de agricultura e silvicultura (SILVA, 2012).
Também contemplou o documento, iniciativas de desenvolvi-
mento de industrialização, com riscos de uso em excesso dos
recursos naturais sem que fosse considerado o ecossistema.
Outra problemática que integra o relatório é a da relação desi-
gual entre desenvolvimento e produção e consumo, entre ou-
tras questões que envolvem meio ambiente.

O relatório Brundtland também foi referenciado na Conferência Eco 92


no Brasil, onde foi gerada a Agenda 21, documento criado para divulgar o

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 53


compromisso de cada um dos países envolvidos com as questões socio-
ambientais. A agenda está dividida em quatro seções: dimensões sociais e
econômicas, conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento,
fortalecimento do papel dos grupos principais e meios de implementação
(SILVA, 2012), como mostra o quadro abaixo:

Quadro 2 | As quatro seções da Agenda 21

Divide-se em sete capítulos, dos quais destacam-se:


cooperação internacional para acelerar o desenvolvi-
mento sustentável dos países em desenvolvimento:
combate à pobreza, implementação de programas
Seção I – Dimensões so-
integrados de meio ambiente e desenvolvimento, pro-
ciais e econômicas
moção das condições da saúde humana, promoção do
desenvolvimento sustentável dos assentamentos hu-
manos, utilização eficaz de instrumentos econômicos e
de incentivos de mercado.

Nesta segunda seção estão contemplados 14 capítu-


los, tratando de temas como gestão dos recursos da
atmosfera, gerenciamento dos recursos terrestres,
Seção II – Conservação e
combate ao desmatamento, à degradação do solo,
gestão dos recursos para
promoção do desenvolvimento rural e agrícola susten-
o desenvolvimento
tável, conservação da diversidade biológica, proteção
de oceanos e mares, da qualidade e do abastecimento
dos recursos hídricos, para citar alguns.

Esta contem dez capítulos e se dedica a crianças e jo-


Seção III – Fortalecimento
vens, grupos de mulheres, indígenas, trabalhadores,
do papel dos grupos
sindicatos, comércio e indústria, comunidade científica
principais
e agricultores.

Esta seção define mecanismos para que as intenções


apresentadas sejam cumpridas. São elas, recursos de
Seção IV – Meios de
financiamento, transferência de tecnologia, promoção
implementação
do ensino, conscientização e cooperação internacional,
instrumentos e mecanismos jurídicos, entre outros.

Fonte: <https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/4483/1/Valeria%20Rossi%20
Rodrigues%20da%20Silva.pdf>. Acesso em: 26 set. 2018.

54 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Como você pode verificar, o termo sustentabilidade se entrelaça com de-
senvolvimento sustentável, e isso se justifica porque não há nada que se
sustente sem a preocupação com o que virá pela frente. E quando se fala
em desenvolvimento, se olha para o futuro. Para que você não se con-
funda em relação a um ou outro, atente à explicação de Ellovitch (2010),
criador do termo Triple Bottom Line, no site Ecodebate. Ele define DS como
a exploração do meio ambiente de forma racional e menos degradan-
te possível. E também como a adoção de ações que atenuem impactos,
compensando alterações ambientais inevitáveis. Já a sustentabilidade, no
seu entendimento, é o reconhecimento de que o homem precisa fazer
uso dos recursos naturais para sua sobrevivência, porém pode fazê-lo
preservando-os para que sejam cada vez mais duradouros. Ainda, segun-
do Ellovitch, quando se falava em “setor produtivo”, pouco (ou nada) se
levava em conta o DS, o que acarretava no esgotamento dos recursos
ambientais e a uma poluição desenfreada. As pesquisas, os estudos, dis-
cussões internacionais, reflexões e leis mais rigorosas promoveram uma
mudança de comportamento. “A sociedade despertou para esses graves
problemas e passou a valorizar quem compartilhava dessa preocupação”
(ELLOVITCH, 2010, [s.p.]). Hoje, sustentabilidade já faz parte das ações es-
tratégicas das empresas, como forma de dar visibilidade positiva a seus
produtos. Embora nem todos integram discursos à prática, a evidência e
a disseminação do tema, bem como as informações a respeito já podem
representar o começo de um caminho sustentável.

4. Considerações finais

• Sustentabilidade e origens do tema.

• Entendendo o desenvolvimento sustentável a partir de exemplos.

• As conferências internacionais e os compromissos das nações.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 55


• Apresentação dos pilares da sustentabilidade.

• Breve explicação e contextualização de meio ambiente.

• As seções da Agenda 21, criada na ECO 92.

• Fechamento do tema.

Glossário

• Triple Bottom Line: são os pilares da sustentabilidade, quais se-


jam, desenvolvimento humano, desenvolvimento econômico e de-
senvolvimento social.

• Protocolo de Kyoto: documento internacional, ratificado em 1998,


que chama a atenção para os cuidados que se deve ter, em qual-
quer atividade (industrial ou não) na redução da emissão de ga-
ses poluentes. Quando foi criado, estabelecia que entre os anos de
2008 e 2012, essa redução deveria ser de no mínimo 5,2% para não
provocar riscos ao planeta.

• Agenda 21: documento criado em 14 de junho de 1992, na Eco 92,


no Rio de Janeiro, por acordo de 179 países, em que todos se com-
prometiam com o desenvolvimento sustentável do planeta.

• Endogeneização: valorização interna de processos, procedimen-


tos e de ideias.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 3
1. Sustentabilidade surgiu do termo desenvolvimento susten-
tável, cujo propósito é pensar o desenvolvimento humano,

56 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


econômico e o social, levando em conta a preservação do
planeta. Esse é um assunto que vem sendo discutido, por
diversos países, desde 1972, na perspectiva de se encon-
trar estratégias que possam garantir a exploração dos re-
cursos naturais com baixo risco de comprometimento do
meio ambiente. Qual a responsabilidade das empresas no
desenvolvimento sustentável?

a) As empresas, assim como as administrações públi-


cas, devem focar no aumento das árvores nas zonas
rurais dos países.
b) As empresas têm a responsabilidade de prover
aos cidadãos das regiões metropolitanas de recur-
sos semelhantes aos que teriam nas áreas menos
favorecidas.
c) As empresas devem pensar as estratégias de seus
negócios fundamentadas em mercados estáveis
e que também estejam focadas na preservação do
planeta.
d) As empresas têm a responsabilidade do cuidado com
a compostagem do lixo orgânico produzido pelos
moradores de todas as áreas.
e) As empresas devem promover políticas públicas que
possam oferecer aos cidadãos condições de consu-
mirem produtos sustentáveis.

2. A ECO 92, conferência que teve como sede o Brasil, insti-


tuiu a declaração sobre o uso das florestas e a convenção
sobre a diversidade biológica. Criou também a Agenda 21.
No Japão, em 1997 foi produzido o Protocolo de Kyoto.
Complete o texto que explica do que se trata o Protocolo
de Kyoto e assinale a alternativa correta.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 57


O Protocolo de Kyoto fez com que _________________ assumis-
sem o compromisso com __________________________ que
venham a promover o efeito estufa, contribuindo para di-
minuir _______________________.

a) Os empresários do setor industrial; a redução da


fabricação de produtos; o consumo.
b) Os movimentos de preservação da natureza; o con-
sumo de produtos industrializados; os danos à
natureza.
c) As conferências internacionais; preservação dos
espaços; as reclamações sobre a falta de cuidados à
natureza.
d) Os países menos desenvolvidos; a preservação dos
recursos ambientais; a produção de alimentos de
maiores riscos.
e) Os países desenvolvidos; a redução da emissão de
gases; o aquecimento global.

3. A sustentabilidade é “a existência de condições ecológicas


necessárias para dar suporte à vida humana em um ní-
vel específico de bem-estar através de futuras gerações”
(SARTORI; LATRÔNICO; CAMPOS, 2014, p. 4). Deve ser um
norteador sobre o comportamento das pessoas em rela-
ção à natureza e às gerações futuras. Nessa perspectiva,
ela se sustenta em três pilares: desenvolvimento humano,
desenvolvimento econômico e desenvolvimento social.
Assinale V para verdadeiro e F para falso e assinale a alter-
nativa correta.

1. O desenvolvimento econômico, na visão de Bresser


Pereira (2006), caracteriza-se pelo aumento da renda

58 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


por habitante e pela acumulação de capital.

2. O desenvolvimento econômico trabalha os fenômenos


relacionados ao indivíduo e o ato de viver de for-
ma contínua.

3. O desenvolvimento humano está focado no ciclo de


vida do ser humano, compreendendo fatores sociais,
psicológicos e comportamentais.

4. O desenvolvimento humano discute a sobrevivência


das empresas e suas taxas de crescimento ligado a
questões de ordem material.

5. O desenvolvimento social está ligado ao enfrentamen-


to de problemas como diversidade de gêneros, cor,
classe social, desenvolvimento com equidade, entre
outros fatores.

a) 1 – V; 2 – V; 3 – F; 4 – V; 5 – F.
b) 1 – V; 2 – F; 3 – V; 4 – F; 5 – V.
c) 1 – F; 2 – F; 3 – V; 4 – V; 5 – F.
d) 1 – F; 2 – V; 3 – F; 4 – V; 5 – F.
e) 1 – V; 2 – F; 3 – F; 4 – V; 5 – V.

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Gabarito - Tema 3

Questão 1 - Resposta C

As empresas têm uma grande responsabilidade na questão da sus-


tentabilidade, já que os negócios devem ser feitos em mercados es-
táveis, de forma que se atente para a preservação do planeta.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 61


Questão 2 - Resposta E

O Protocolo de Kyoto, de 1997, foi uma decisão internacional impor-


tante que fez com que os países desenvolvidos assumissem o com-
promisso com a redução da emissão de gases que venham a promo-
ver o efeito estufa, contribuindo para diminuir o aquecimento global.

Questão 3 - Resposta B

O desenvolvimento econômico, na visão de Bresser Pereira (2006),


caracteriza-se pelo aumento da renda por habitante e pela acumu-
lação de capital. O desenvolvimento humano está focado no ciclo de
vida do ser humano, compreendendo fatores sociais, psicológicos e
comportamentais. O desenvolvimento social está ligado ao enfrenta-
mento de problemas como diversidade de gêneros, cor, classe social,
desenvolvimento com equidade, entre outros fatores.

62 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


TEMA 04
ESTRATÉGIAS PARA CAPTAÇÃO
DE RECURSOS

Objetivos

Para discutir o tema Captação de Recursos, os objetivos são:

• Contextualizar a atividade de captação.

• Abordar os setores envolvidos.

• Discutir o trabalho voluntário.

• Analisar as fontes de recursos.

• Estudar o desenvolvimento de um projeto de capta-


ção, bem como os itens necessários.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 63


Introdução

Qualquer instituição, seja pública, privada ou do terceiro setor depende de


recursos físicos e humanos para se estabelecer, daí a necessidade cons-
tante de captar recursos. Os setores públicos obtêm recursos por meio do
pagamento de impostos, tendo que devolver à sociedade benefícios que
atendam suas necessidades, como saúde, transporte, saneamento, etc.
As empresas privadas sobrevivem com a comercialização de seus produ-
tos e serviços, em que muitas delas dependem da captação de recursos
para promover melhorias ou para dar o passo inicial ao negócio. Quando
começam a obter retorno sobre esses investimentos, o valor adquirido é
devolvido aos investidores em forma de dinheiro ou de benefícios, como
contratação de pessoas, realização de projetos, ações voltadas à comuni-
dade, entre outros.

As organizações sem fins lucrativos dependem de doações, sejam físicas,


de trabalho voluntário ou de tempo, já que os trabalhos desenvolvidos
são sociais e não requerem comercialização. Nesses casos, é fundamen-
tal o processo de captação de recursos. Quem atua nessas organizações
ou acompanham seus trabalhos sabem que esse é o maior desafio. Nem
sempre a administração de seus recursos é tarefa compreendida pelos
gestores. Por isso, se você é um gestor, consultor, se presta algum tipo de
serviço a qualquer uma dessas instituições citadas, é muito importante
atentar para os procedimentos necessários.

1. Captação de recursos

Desde o século XVIII se tem notícia de captação de recursos para formar


fundos. Isso ocorria tanto na Europa quanto na América do Norte, como
explica Ferrari (2014). Na época, a estratégia era a captação por meio de
jantares beneficentes, o que até hoje ocorrem. Eram listadas as pessoas

64 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


que tinham mais posses e mais influência social, as quais eram convida-
das. Os doadores eram chamados de benfeitores potenciais, geralmente
do gênero masculino e que tinham prazer em competir com os outros
no tamanho de sua maleta de dinheiro. Até que essa prática fosse total-
mente disseminada pelos meios de comunicação, as pessoas com menos
recursos financeiros colaboravam apenas por meio do voluntariado.

A prática de captação de recursos tal como conhecemos hoje, por meio


de patrocínios de empresas privadas e públicas, começou a se dissemi-
nar na década de 1970 na Inglaterra e nos Estados Unidos, e o marketing
deu grande contribuição, com técnicas e práticas de divulgação de pro-
jetos. “O captador começou a estabelecer um diálogo mais direto com o
doador, tornando-se mais próximo daquele que passou a ser uma peça
fundamental para seu ‘negócio’” (FERRARI, 2014, p. 5). Foi nessa época
que surgiu o termo relationship fundraisers (captadores de recursos por
relacionamento), o que deu mais importância e formalidade à prática de
doar. No Brasil, a atividade de captação de recursos começou a ser utili-
zada tal como se vê hoje, a partir de 1990. Até então, a doação ocorria de
forma voluntária, ou seja, não havia qualquer interesse no retorno des-
se investimento. Sua formalização ocorreu com a possibilidade de abati-
mento do Imposto de Renda, ou seja, quem o paga pode transferir uma
parte em forma de doação para instituições do terceiro setor, devidamen-
te legalizadas.

Explica Ferrari (2014) que hoje essa atividade já está bem menos com-
plexa, tanto fora quanto dentro do Brasil, e desde a década de 2000, já
existem cursos sobre captação de recursos oferecidos por instituições pú-
blicas e privadas. Em 2010, na edição do International Fundraising Congress
(Congresso Internacional de Captação de Recursos) na Holanda, o Brasil
foi, pela primeira vez, representado entre os conferencistas. Os captado-
res fazem parte de organizações que buscam investimentos para seus
projetos sociais ou de empresas privadas. E, por meio de apoiadores ou
parcerias conseguem viabilizar projetos comerciais ou sociais.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 65


Na teoria, a captação de recursos é o processo estruturado desenvolvido
por uma organização para pedir as contribuições voluntárias de que ela
precisa, sejam eles financeiros ou outros recursos, buscando as doações
com indivíduos, empresas, governos, outras organizações e etc.

Na prática, captação de recursos significa ter uma equipe dedicada a pen-


sar em ideias criativas para trazer as doações, a aproximar a organização
da comunidade, a defender que ela seja o mais transparente possível etc.
Captar recursos é, principalmente, ter pessoas na organização que enten-
dem que o trabalho delas é fundamental para conseguir os recursos tão
importantes para que a ONG tenha impacto e seja transformadora na sua
atuação, cumprindo integralmente a sua missão. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE CAPTADORES DE RECURSOS, [s.d.])

EXEMPLIFICANDO
Um exemplo de instituição que se beneficiou da publicidade e
do marketing na captação de recursos foi a inglesa YMCA (Young
Men´s Christian Association) ou, como é conhecida no Brasil,
Associação Cristã de Moços, que foi fundada em 1844, com
o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas, por
meio do trabalho de jovens. Com isso, seu fundador, Charles
Summer Ward, acabou sendo reconhecido como o pai da cap-
tação de recursos. Como estratégia, ele usava uma propaganda
simples, informal, como se estivesse conversando com o possí-
vel doador, mostrando um sentido de igualdade, de forma que
as pessoas, pobres ou ricas, se sentiam parte da causa.

1.1. Setores envolvidos

Um grande desafio, senão o maior para as instituições do terceiro setor, é


a gestão financeira. Como seu objetivo é social, seu olhar é voltado para o

66 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


propósito, que pode ser, por exemplo, o de atender a crianças, pessoas ca-
rentes, moradores de rua, idosos, estudantes, portadores de necessidades
especiais, doenças raras, entre outros. Com isso, as áreas administrativa e fi-
nanceira podem ficar fragilizadas, necessitando de profissionais específicos.
Essas são atividades constantes que não podem depender apenas de volun-
tários, embora o voluntariado também faça parte da captação de recursos.
Assim, a captação de recursos compreende a busca por dinheiro, por bens fí-
sicos, equipamentos, considerando-se os bens duráveis e não duráveis. Essa
captação deve atender, de forma equilibrada, a três setores: as exigências
dos doadores, a forma como os recursos serão aplicados e os serviços ofe-
recidos ao público, que são os beneficiários, tal como mostra a figura abaixo.
Figura 3 | Setores envolvidos na captação de recursos

C TA
DE
cu so.s

< ,At,endi1mento aos lben:~fic: iá rios •◄--


Fonte: elaborada pela autora.

O equilíbrio a esses três envolvidos pode colaborar para que os recursos


continuem sendo oferecidos. “O sucesso na captação de recursos depen-
de do relacionamento que estabelece com os doadores, que são pessoas
ou instituições que geralmente compartilham da missão, valores e ob-
jetivos da organização” (SZAZI, 2005; PEREIRA, 2006; TACHIZAWA, 2007
apud SANTOS et al., 2008, p. 78). A contrapartida para o doador é que se
tenham trabalhos ou ações que vão ao encontro dos princípios morais e
éticos e também que sejam condizentes com seus valores.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 67


ASSIMILE
O que é o trabalho voluntário?

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), voluntá-


rio pode ser um jovem, um adulto ou um idoso que dedica
parte de seu tempo para atividades de bem-estar social ou
outros campos da filantropia, sem ser remunerado. Na mes-
ma linha de raciocínio está a Revista Filantropia (2008), para
a qual o voluntariado é uma atividade sem a expectativa de
qualquer contrapartida financeira e que pode ser praticada
por pessoas ou entidades beneficentes. Segundo o site por-
tuguês Universia, a Lei 71 de 3/11/98, de Portugal, estabelece
como voluntariado:
o conjunto de ações de interesse social e comunitário, re-
alizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito
de projetos, programas e outras formas de intervenção [...]
desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou
privadas. (SOUSA, 2011, [s.p.])

LINK
A ONU recebe por ano milhares de pessoas em todo o plane-
ta para trabalharem como voluntários. Como se observa no
link a seguir (programa de voluntariados da ONU), o sistema
de voluntariado traz benefícios para quem recebe, mas tam-
bém para que faz tarefas, ele contribui no campo econômi-
co, no social, para sociedades mais justas e que prezam pela
confiança e reciprocidade entre os indivíduos. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?time_continue=111&v=Js-
FiAgQmssA>Acesso em: 22 jan. 2019.

68 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


1.2 Fontes de recursos

O trabalho de captação de recursos requer ações que se assemelhem à


propaganda e ao marketing de qualquer empresa, ou seja, cabe desen-
volver campanhas promocionais com mensagem “vendedora” do produto
ou serviço social. Isso porque quanto mais conhecido for o projeto mais
chance terá de encontrar recursos. Para isso, precisa de planejamento,
gestão, comunicação e marketing. “As organizações devem profissiona-
lizar a gestão de suas atividades e aprimorar o seu relacionamento com
os doadores e parceiros” (SANTOS et al., 2008, p. 78). Porém, para isso
é necessário ter um bom projeto, aquele com consistência, com objeti-
vos claros e alinhados às necessidades do público a que se destina. Essa
similaridade das ações de comunicação e marketing entre empresas e
instituições do terceiro setor se concentra na estruturação de suas cam-
panhas e em seus processos. Porém diferenciam-se em sua essência, já
que produtos, objetivos finais, assim como os públicos são diferentes, tal
como assinalam Kotler (2000) e Drucker (1997).

Existem inúmeras fontes de recursos. Além das doações de pessoas fí-


sicas, há também as de empresas privadas, públicas, agentes públicos e
instituições internacionais.

Quadro 3 | Fontes para captação de recursos

Fontes Origem do recurso

Qualquer empresa de qualquer segmento pode ser


Empresas privadas ou
doadora. Essa doação pode ser via patrocínio ou
empresas públicas
via edital.

Bancos de desenvolvimento (BNDES), FINEP


(Financiadora de Estudos e Projetos) e CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Fontes locais como a FAPEMIG (Fundação de Amparo à
Agentes públicos
Pesquisa do Estado de Minas Gerais) e o BDMG (Banco
de Desenvolvimento de Minas Gerais. Fontes da inicia-
tiva privada como o SESI (Serviço Social da Indústria) e
o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 69


Fontes Origem do recurso

Agências Internacionais Japão, Alemanha, Itália, Estados Unidos, França,


bilaterais Canadá, British Council, Espanha , entre outras.

OEA–Organização dos Estados Americanos.


BID–Banco Interamericano de Desenvolvimento
IICA–Instituto Interamericano de Cooperação para a
Agricultura.
UE–União Europeia (ou Comunidade Europeia).
PNUD–Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento.
FAO – Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação.
FNUAP–Fundo de População das Nações Unidas
Agências Internacionais *População e Desenvolvimento.
multilaterais
OIMT–Organização Internacional de Madeiras
Tropicais. OIT–Organização Internacional do Trabalho.
PNUMA–Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente.
UNAIDS–Programa das Nações Unidas para a AIDS.
UNDCP–Programa das Nações Unidas para o Controle
de Drogas.
UNESCO–Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura.
UNICEF–Fundo das Nações Unidas para a Infância.
ONU MULHERES – UNIFEM + Avanço das Mulheres +
IIPTAM + Escritório Questões de Gênero.

Foundation Center
FUNDAÇÕES
INTERNACIONAIS International Partnership for Human Development
European Foundation Center

Fonte: <https://biominas.org.br/blog/2017/04/27/formas-de-captacao-de-recursos-para-
sua-empresa/>. Acesso em: 3 out. 2018.

70 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


1.3 Projetos de captação de recursos

O desenvolvimento de um plano de captação de recursos, embora seja


um instrumento de utilização interna da instituição, deve estar alinhado
aos objetivos do financiador. Geralmente, ele disponibiliza um formulário
próprio em que o captador preenche dados como objetivos do projeto,
informações da instituição responsável, metodologia, cronograma e orça-
mento. Esse tipo de formulário se assemelha aos solicitados em editais,
que podem ser de empresas ou órgãos públicos, empresas privadas ou
leis de incentivo. Entretanto, para a divulgação do projeto aos prospects e
instituições de apoio na divulgação, como associações de classe, de traba-
lhos científicos, grupos de pesquisa, entre outros, é importante estar com
o projeto bem estruturado, contendo todas as informações relevantes.
Essas instituições, além de serem beneficiárias de projetos, são também
parceiros e agentes, podendo, dessa forma, atuarem como divulgadores.

PARA SABER MAIS


Editais para captação de recursos
Existem dois tipos de editais, os públicos e os público-privados
(destinado a um público específico). Os públicos são de gover-
nos ou demais instituições que representem o Estado, como
parlamentos e Judiciário. Esses, por serem públicos, precisam
ser mais o mais transparente possível, com rigidez na seleção
e na cobrança da prestação de contas. Os público-privados são
de empresas ou organizações da sociedade civil, como institui-
ções de classe, fundações, agências de cooperação internacio-
nal, entre outras. Os editais público-privados são importantes
para oferecer oportunidades a propostas públicas, como na
educação, na saúde, entre outras áreas. As empresas privadas
em geral podem dispor de editais para definir projetos ou ins-
tituições que devam ser beneficiados. Os recursos investidos
podem vir de parcela de contribuição do imposto de renda.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 71


Veja os itens que podem compor um projeto:

1.3.1. Apresentação do projeto

O que é o projeto, seu contexto social, político e econômico.

1.3.2. Instituição

Apresentação da instituição mantenedora, outros projetos já realizados (se


tiver), resultados, expectativas.

1.3.3. Justificativa

Explicar a importância do projeto depois de implementado. Ou seja, qual a


contribuição que o projeto dará quando for concluído?

1.3.4. Objetivo geral

O que o projeto pretende oferecer.

1.3.5. Objetivos específicos

Como serão suas ações para atender ao objetivo geral.

1.3.6. Atividades

Descrição das atividades contempladas no projeto. Por exemplo, palestras,


oficinas, orientação a alunos e professores. Orientações a familiares de
pessoas com doenças graves, entre outros.

1.3.7. Indicadores

Trata-se de uma medida para que se possa ter um padrão necessário, esta-
belecido pelo próprio projeto. Os indicadores podem ser de efetividade, de

72 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


impacto, de riscos, de conformidade, entre outros. Em outras palavras é a
indicação para a medida do risco, do impacto e assim por diante.

1.3.8. Fatores de risco

Identificação do que pode causar riscos para o projeto. A partir aí, é pos-
sível encontrar as soluções para eliminação, redução do risco ou sua
administração.

1.3.9. Metodologia

Apontar os métodos e os procedimentos para o desenvolvimento do projeto.

1.3.10. Cronograma

Estabelecer o tempo de execução do projeto e de suas etapas


individualmente.

1.3.11. Orçamento

Apontar os custos relacionados. A melhor forma de apresentação é por


meio de uma planilha, com os custos individuais e gerais. Dependendo do
valor total do projeto, na planilha, pode-se dividi-lo em cotas, as quais po-
dem ser por prazo (exemplo, primeiro mês custa determinado valor e equi-
vale a uma cota), por tipo de custo (exemplo, custo com equipamentos e
tecnologia pode ser uma outra cota, com recursos humanos, pode ser ain-
da outra e assim por diante).

1.3.12. Anexos

Podem conter documentos relacionados a outros projetos, estatísticas para


potencializar o projeto, reportagens sobre o projeto, documentos oficiais
de apoio, entre outros.

Segundo o consultor de projetos voltados ao terceiro setor, Ricardo Falcão


([s.d.], [s.p.]), “um novo e bom projeto leva, no mínimo, um mês para ser

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 73


elaborado e dá muito trabalho, mas não é complicado. Estimo que um pro-
jeto seja composto por 5% de inspiração e 95% de transpiração”.

Já o processo de captação de recursos não pode prescindir de um bom


planejamento, por meio do qual se organizam as ideias, discutem-se os
procedimentos, atividades, atores e agentes envolvidos, fontes de finan-
ciamento, etc. O planejamento precisa responder as questões: o que, para
quê, como, quem, quando e quanto. Deve haver ainda a prospecção de
oportunidades de financiamento, com uma relação de fontes possíveis e
estratégias de abordagens dessas fontes. Também contempla um plano
de captação de recursos o entendimento do funcionamento das agências
financiadores, assim como suas diretrizes. Outro item imprescindível no
processo é elaboração da proposta, que compreende uma apresentação
do projeto, seu prazo de execução, plano de trabalho e a participação fi-
nanceira de investidores. Como explica o Sakiyama (2015), uma proposta
não é um artigo científico, um projeto de tese ou monografia, algo que al-
guém queira realmente ler, algo bem feito de última hora. Para que possa
ser aceita, uma proposta deve conter adequação, exatidão, exequibilidade,
público-alvo/beneficiários, credibilidade da entidade, orçamento e transpa-
rência. Antes de ser encaminhada, uma proposta precisa de releitura, de
revisão por terceiros, checklist, assinaturas e adequação para cada tipo de
investidor. Depois de todo esse processo, com a proposta aprovada, segue-
-se para a gestão do projeto, que é o acompanhamento de tudo o que ficou
estabelecido e aprovado.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


A atividade de captação de recursos nas organizações não-governa-
mentais precisa ter ações de comunicação, sobretudo de propagan-
da e marketing, tal como são desenvolvidas pelas empresas privadas,
que priorizam essas ações para posicionamento de marca e venda de
produtos e serviços. Qual seria a diferença para as organizações que
atuam no campo social, em relação às empresas privadas?

74 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


2. Considerações Finais

• Histórico da captação de recursos.

• A contribuição do marketing para a captação.

• O exemplo da instituição inglesa YMCA

• Os três envolvidos na captação: doadores, beneficiados e gestão


dos recursos.

• Como se define o trabalho voluntário.

• As fontes de recursos disponíveis para o trabalho de captação.

• Itens que contemplam projetos de captação de recursos.

• Como definem-se os editais para captação de recursos.

Glossário

• Edital: formalização de um ato público, apresentado ao público


em geral ou específico, em forma de avisos, citações, convocações
de ordem oficial.

• Fundraisers: termo em inglês usado para definir captadores de


recursos.

• Pospects: representa e pessoa que possui o perfil do público de-


sejado ou que já demonstrou interesse naquela marca ou na-
quele produto ou serviço. No caso das doações, define possíveis
investidores.

• Exequibilidade: qualidade do que é exequível, ou seja, significa


possibilidade.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 75


VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 4
1. Embora exista desde muito tempo, a captação de recursos
começou a se disseminar na década de 1970, na Inglaterra
e nos Estados Unidos. Trata-se de uma atividade que con-
siste na busca por investimentos para projetos tanto de
instituições do terceiro setor quanto de empresas priva-
das. Quando a captação de recursos passou a ser utilizada
no Brasil, da forma que se vê hoje?
a) A captação de recursos no Brasil iniciou no século
XVIII com os jantares beneficentes, nos quais partici-
pavam as pessoas com mais recursos.
b) O Brasil passou a ter captadores de recursos a partir
de 1970, juntamente com a Inglaterra e os Estados
Unidos.
c) A atividade com seus devidos captadores de recursos
iniciou no Brasil, na década de 2000, quando inicia-
ram os cursos de captação.
d) Foi a partir de 1990 que a atividade de captação de
recursos no Brasil começou a ser utilizada tal como
se vê hoje.
e) Foi em 2010 que surgiu a captação de recursos no
Brasil, justamente no ano em que o país foi repre-
sentado no Congresso Internacional de Captação de
Recursos.

2. Tendo em vista que uma instituição social tem pouco foco


para as questões de ordem administrativo financeira, a
captação de recursos acaba sendo um grande desafio.
O importante é atentar para o equilíbrio de três setores.
Aponte a alternativa que apresenta esses três setores.

76 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


a) 1. As exigências dos doadores; 2. A imposição dos
captadores; 3. O tipo de trabalho do voluntariado.
b) 1. Competências iguais entre o voluntariado; 2. A for-
ma como os recursos serão aplicados; 3. O acordo
com os doadores.
c) 1. As exigências dos doadores; 2. A forma como os
recursos serão aplicados; 3. Os serviços oferecidos
ao público.
d) 1. As necessidades dos captadores; 2. O pagamen-
to de imposto de renda; 3. Os serviços oferecidos ao
público.
e) 1. Os serviços oferecidos ao público; 2. O retorno
do investimento aos doadores; 3. A gestão dos bens
duráveis e dos recursos humanos.

3. Existem várias fontes de recursos que podem ser analisa-


das pelos captadores. Além das pessoas físicas, empresas
privadas, públicas, agentes públicos e instituições interna-
cionais são importantes fontes que podem colaborar com
diversas iniciativas. Para a captação de recursos de empre-
sas privadas ou públicas, qual a origem do patrocínio?
a) A doação de empresa privada ou pública pode ser via
patrocínio ou via edital.
b) A doação de empresa privada vem do marketing. De
empresa pública, da arrecadação de impostos.
c) A doação pode ocorrer por meio dos bancos cadas-
trados pela empresa.
d) A doação de empresa privada ou pública deve vir das
doações de seus funcionários.
e) A doação de empresa privada vem de uma parte de seu
lucro. De empresa pública vem dos bancos estatais.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 77


Referências Bibliográficas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CAPTADORES DE RECURSOS. O que é captação


de recursos. Disponível em: <http://captadores.org.br/captacao-de-recursos/>.
Acesso em: 4 out. 2018.
BIOMINAS BRASIL. Formas de captação de recursos para sua empresa.
Disponível em: <https://biominas.org.br/blog/2017/04/27/formas-de-captacao-
-de-recursos-para-sua-empresa/>. Acesso em: 5 out. 2018.
FERRARI, M. Captação de recursos em organização da sociedade civil. Revista
Pensamento & Realidade, v. 29, n. 1, 2014. Disponível em: <https://revistas.pu-
csp.br/index.php/pensamentorealidade/issue/view/1312/showToc>. Acesso em:
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FERREIRA, O. M.; BURIOL, J. Fontes de Captação de Recursos Financeiros. Novo
Hamburgo, RS: Feevale, 2009. Disponível em: <http://s-inova.ucdb.br/wp-content/
uploads/biblioteca/Livro-Fontes-de-Captacao-de-Recursos.pdf>. Acesso em: 7
out. 2018.
REDE FILANTROPIA. O que é voluntariado? Revista Filantropia, 2008. Disponível
em: <https://www.filantropia.ong/informacao/o_que_e_voluntariado>. Acesso
em: 6 out. 2018.
ONUBR. O trabalho voluntário e a ONU. Disponível em: <https://nacoesunidas.
org/vagas/voluntariado/>. Acesso em: 6 out. 2018.
SAKIYAMA, C. C. H. Processo de Captação de Recursos para Projetos. São João
Del Rei: UFSJ, 2015. Disponível em: <https://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/
File/prope/Apres_Dra_Cassia_Camargo_Harger_Sakiyama_FUNARBE_compr.pdf>.
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SANTOS, N. C. et al. Captação de recursos financeiros em organizações sem fins
lucrativos: a utilização de indicadores de gestão para os doadores e beneficiá-
rios dos projetos sociais. São Paulo: Revista de Gestão USP, 2008. Disponível
em: <http://www.revistas.usp.br/rege/article/view/36623/39344>. Acesso em: 22
nov. 2018.
VASCONCELOS, Y. L.; TUDE, J. M.; MELLO, L. M. Captação de recursos para proje-
tos. São Paulo: Saraiva, E-book, 2009.

78 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Gabarito - Tema 4

Questão 1 - Resposta D

No Brasil a atividade de captação de recursos começou a ser utilizada


tal como se vê hoje, a partir de 1990. Até então, a doação ocorria de for-
ma voluntária, ou seja, não havia qualquer interesse no retorno desse
investimento.

Questão 2 - resposta C

A captação de recursos compreende a busca por dinheiro, por bens fí-


sicos, equipamentos, considerando-se os bens duráveis e não duráveis.
Essa captação deve atender, de forma equilibrada, a três setores: as exi-
gências dos doadores, a forma como os recursos serão aplicados e os
serviços oferecidos ao público, que são os beneficiários.

Questão 3 - Resposta A

Para doação de empresas privadas ou pública, a origem pode ser de


empresa de qualquer segmento. Essa doação ocorre via patrocínio ou
via edital.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 79


TEMA 05
GESTÃO DO RELACIONAMENTO
EM PROJETOS

Objetivos

Veja a seguir os objetivos desta aula, cujo tema é gestão do


relacionamento e parcerias:

• Estudar a parceria entre ONGs e empresas.

• Definir projeto social e sua relação com proje-


tos em geral.

• Abordar a avaliação de projetos.

• Analisar a gestão da comunicação em projetos.

• Contextualizar a gestão de relacionamento


em projetos.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 80


Introdução

Este tema tem como foco a compreensão da gestão do relacionamento en-


tre parceiros em projetos sociais. Como define o Portal Educação ([s.d.]) um
projeto social é um composto de ações que reproduzem uma visão de futu-
ro em uma base real, que parte de uma realidade e de uma questão social.
Também é entendido como um documento que formaliza uma proposta
que busca financiamento público ou privado para viabilizar uma solução. Os
projetos sociais têm o propósito de alterar uma situação, servindo de ponte
entre desejo esperado e a realidade. Nesse sentido, é coerente afirmar que
os projetos sociais se concretizam a partir de colaborações (seja em dinheiro,
em produtos, em serviços e em mão de obra) externas para transformar so-
nhos em ações concretas. Essas colaborações são por meio de parcerias, en-
tretanto, elas acontecem em todos os setores e estão mais em destaque na
atualidade por conta da sociedade em rede, que se evidencia com as novas
tecnologias de informação e comunicação. E quanto mais se potencializam
os relacionamentos tanto mais se fortalecem as parcerias.
As empresas encontram nos parceiros soluções de melhorias nos produtos,
no atendimento e no contato com os clientes. Esses parceiros são os colabo-
radores, os fornecedores, o setor logístico, etc. Você pode observar também
que o ponto alto de uma boa parceria é a comunicação, daí a necessidade
de uma eficiente gestão de relacionamento, a qual pode ser o diferencial de
qualquer negócio. Porém, antes de tudo é preciso compreender o conceito
de projeto social, como se processa a avaliação de projetos, sem deixar de
analisar a gestão do relacionamento com os diversos públicos envolvidos e
com o uso das ferramentas adequadas.

1. Parcerias entre ONGs e empresas

A contribuição do terceiro setor para ações ligadas à educação, assistência, di-


reitos humanos, entre outras é bastante expressiva, considerando o volume

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 81


de instituições relacionadas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, (IBGE) apontavam em 2010 cerca de 290 mil associações sem fins
lucrativos. O estudo considera o Perfil das Fundações Privadas e Associações
sem Fins Lucrativos (Fasfil) e apontou que no período de 2006 a 2010, houve
um crescimento de 8,8% de instituições dessa natureza, passando de 267 mil
para 290 mil no período, com a maior concentração nas regiões Sudeste, com
44,2% de representação, seguida do Nordeste, com 22,9%, Sul com 21,5%,
Centro Oeste, com 6.5% e Norte, 4.9%. São instituições que se destacam pe-
las parcerias com empresas do setor privado. Trata-se de uma prática que
traz benefícios a ambas as partes.

Para as ONGs, significa aporte de recursos ou materiais para concretizar ativi-


dades; para o outro lado, há melhoria na imagem da corporação e maior en-
gajamento de colaboradores, como destaca artigo da Amcham Brasil (2018),
publicado no Estadão. As parcerias ocorrem com maior expressividade no
voluntariado, na arrecadação de verbas para projetos e materiais. Segundo
o texto, grandes multinacionais estão buscando maior aproximação com o
terceiro setor, tornando-se mais assíduas e menos eventuais.

2. Projeto social

Um projeto social é desenvolvido com o intuito de promover uma me-


lhoria racional nos problemas sociais identificados. Os projetos podem
envolver inúmeras atividades, seja com crianças, adultos, mulheres, esco-
las, grupos comumente chamados de minorias, entre outros. E todos têm
algo em comum: criar um produto inovador, que solucione um problema
identificado. Na definição de Maximiano (2002), ao se referir a um projeto
comercial, trata-se é um empreendimento temporário, com começo e fim
determinados, e visa oferecer um produto singular a partir de um orça-
mento previamente estabelecido. “Projetos são sistemas ou sequências
de atividades finitas, com começo, meio e fim definidos” (MAXIMIANO,

82 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


2002, p. 26). A entrega final de um projeto é o seu produto, o qual pode
estar em uma das três categorias.
1ª Produtos físicos: bens tangíveis como casas populares, alimen-
tos, farmácia, linha específica de remédios, etc. O projeto envolve as
atividades de mobilizações, estudos, entre outras, para a obtenção
do produto.
2ª Produtos conceituais: esses são intangíveis e referem-se a ideias,
roteiros, processos, fórmulas, entre outros. Nesses casos, o projeto tra-
balha o passo a passo para colocar em prática os produtos.
3ª Produtos em forma de eventos: compreende tarefas, serviços ou
atividades. Como exemplo, projetos de casamentos, formatura, estu-
do no exterior, entre outros. Esse tipo de produto tem como projeto a
preparação financeira, social e psicológica.

Um projeto social, assim como qualquer outro projeto de cunho comer-


cial, tem um ponto de partida, entretanto, esse ponto refere-se a mudan-
ça de uma realidade social, que depende, em muitas vezes, de um finan-
ciamento público ou privado oriundo da captação de recursos. Conforme
explica o Portal Educação1, os projetos sociais:
são importantes ferramentas de ação, amplamente utilizadas pelo
Estado e pela Sociedade Civil. [...] Nascem do desejo de mudar a realida-
de [...], são ações estruturadas [...] que partem da reflexão do diagnósti-
co sobre uma determinada problemática. (PORTAL EDUCAÇÃO, [s.d.])

EXEMPLIFICANDO
Um exemplo de projeto social é o Memórias em Rede, do
Instituto Devir Educom de Santos, principal cidade do litoral
de São Paulo. Como explica reportagem do portal da prefei-
tura local, por meio do projeto, alunos de escolas públicas

1
Portal Educação. Conceitos de Projeto Social. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteu-
do/artigos/administracao/conceitos-de-projeto-social/63861>. Acesso em: 4 dez. 2018.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 83


são repórteres em busca de histórias particulares de anô-
nimos, antigos moradores, que revelem sua afetividade
pela Cidade (2018). O produto final desse projeto é um li-
vro digital interativo produzido por todo o grupo envol-
vido. As parcerias são das escolas onde estudam os jo-
vens, de uma escola privada chamada SuperGeeks e da
Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em
Educomunicação (ABPEducom). Além da produção do li-
vro, o projeto contempla oficinas de jornalismo e forma-
ção de professores. Há a participação de outros parceiros
como empresas públicas e privadas que, investem a partir
de editais publicados.

2.1 Avaliação de projetos

Trata-se de um trabalho de controle tanto da aplicação dos recursos


financeiros quanto da efetividade das atividades previstas no projeto.
Na opinião de Assumpção e Campos (2011), na prática, ao que se tem
conhecimento, em muitos casos, fica limitado ao controle dos investi-
mentos, apresentando apenas um relatório listando as atividades re-
alizadas, sem mostrar valor ou mérito social. Além desses problemas,
os autores apontam a falta de material que contribua para o aprofun-
damento do desempenho das funções dos atores envolvidos no pro-
jeto. Segundo eles, “os aspectos considerados relevantes ao se ava-
liar uma intervenção social devem ir além daqueles considerados im-
portantes sob a lógica da objetividade: economia, eficiência e eficácia”
(ASSUMPÇÃO; CAMPOS, 2011, p. 217). Essa é uma crítica contundente,
já que é muito importante aos envolvidos uma avaliação completa do
projeto, em todo o seu percurso.

Do ponto de vista conceitual, avaliação de processo é complementar ao


monitoramento e procura avaliar a qualidade da implementação e as
mudanças ou tendências no problema que está sendo abordado pelo

84 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


projeto. Avaliação de resultado: também chamado de monitoramento
dos resultados, pode servir à prestação de contas, levantamento de
dados e análise de tendências ao longo do tempo. Ajuda os gestores
a contar a história do projeto ou negócio social. Ela pode ser usada
na avaliação de impacto fornecendo um meio simples de rastrear os
insumos, os produtos e, em certa medida, os resultados ao longo do
tempo. Avaliação econômica: este tipo de avaliação considera, além do
impacto causado por um projeto a partir de análises quantitativas, o
cálculo do retorno econômico da iniciativa (PEIXOTO et al., 2016).

Quadro 4 | Fontes para avaliação de projetos sociais

Experimentação Análise aleatória.

Mensuração Medidas de comportamento.

Análise sistêmica Considera algumas variáveis para a melhor decisão.

Abordagem Utiliza a hermenêutica e metodologias de coleta e inter-


interpretativa pretação de dados.

Fonte: adaptado de: <http://www.scielo.br/pdf/rap/v45n1/v45n1a10.pdf>. Acesso em:


16 out. 2018.

A avaliação de um projeto social deve considerar diversos momentos.


E, ao final de cada atividade, cabe uma análise de como transcorreu,
o que pode ser melhorado, ampliado ou mesmo eliminado. Em geral,
diversos especialistas em gestão de projetos entendem que é preci-
so, no mínimo uma avaliação antes, outra durante e outra depois do
projeto implantado. Antes, para que se possam criar estratégias com
vistas à obtenção dos objetivos. Durante serve para entender o que
está sendo feito de forma assertiva ou não. Depois, para que se te-
nham lições aprendidas, que possam ser corrigidas no próprio projeto
ou em outros futuros. Em todos esses momentos, a comunicação e as
parcerias são de grande relevância. A comunicação ajuda no melhor

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 85


entendimento possível dos resultados. E as parcerias são fundamen-
tais para os ajustes e as melhorias necessárias, já que esse é um traba-
lho que depende do grupo.

3. Gestão da comunicação em projetos

Todo projeto deve prezar por fatores como competências humanas,


gerenciamento do escopo, do tempo, dos recursos, entre outros.
Entretanto, as atividades têm por trás um grupo de pessoas coordena-
do por outra pessoa. Isso, por si só, já assinala a relevância da gestão
da comunicação. Uma boa gestão da comunicação consegue integrar
todos os envolvidos de forma que o trabalho ocorra com fluidez, har-
monia, fomentando ideias e soluções que auxiliem no bom resultado
do projeto.
O gerente de projetos tem a responsabilidade de assegurar que as infor-
mações sejam explícitas, claras e completas, de modo que seus interlo-
cutores não tenham dificuldades para entender as mensagens transmi-
tidas. (ALVES, 2008, p. 14-15)

O processo de comunicação atua na perspectiva de qualquer tipo de


projeto, seja ele, social ou comercial, assim como se faz presente em
atividades das mais variadas, haja vista o sucesso das redes sociais
digitais e demais ferramentas de internet que se constituem meios de
interações e relacionamentos, o que só é possível com a comunicação.
A diversidade de características dos projetos de engenharia, desenvolvi-
mento ou implementação de sistemas [...] apresenta requisitos e com-
portamentos específicos que devem ser considerados no gerenciamento
da comunicação. (CHAVES et al., 2007, p. 27)

Um projeto pode representar o meio pelo qual as pessoas possam


expressar suas ideias, mostrar seus talentos e contribuir para o seu
resultado positivo. Já afirmava Martin-Barbero (2003) que o meio foi

86 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


percebido com o folhetim em uma parte do jornal nos idos do século
XIX. Era um recurso encontrado no jornal para divulgação de varie-
dades, críticas literárias, resenhas teatrais, entre outras informações.
Era a oportunidade encontrada com a revolução tecnológica para que
agentes e atores se encontrassem e se comunicassem, pois assim se-
ria estabelecido um relacionamento no sentido de que erros fossem
esclarecidos e soluções encontradas. Isso colaborou também para que
se identificassem as concorrências, que são relevantes em qualquer
evolução de aprendizado. “A competição entre os jornais iria desem-
penhar um papel importante na configuração do romance-folhetim”
(MARTIN-BARBEIRO, 2003, p. 183). Da mesma forma, a competição en-
tre projetos e processos sociais ou corporativos comerciais é respon-
sável pelo aumento da qualidade tanto desses projetos quanto de seus
respectivos produtos. Porém, a gestão da comunicação requer uma
compreensão maior dos seus atributos e de como a comunicação deve
se estabelecer.

ASSIMILE
A comunicação se constitui de emissor (quem emite a men-
sagem), receptor (quem recebe a mensagem), mensagem (o
que se pretende comunicar), canal (recurso pelo qual a co-
municação é veiculada) e meio (a forma encontrada no ca-
nal para veicular a informação). Segundo McLuhan (1964), o
meio também é a mensagem, já que qualquer pessoa – por
sua vestimenta, seus olhos e demais membros do corpo,
seu andar, entre outros atributos físicos e de comporta-
mento – pode ser a mensagem. O canal, por onde veicula a
mensagem pode ser entendido como a tecnologia.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 87


Figura 4 | Constituição da comunicação

Meio
Revistas
TV Rádio Jornais
Internet Livros
Mensagem
Emissor Receptor

Canal

Fonte: elaborada pela autora.

Assim, os projetos sociais, por seus objetivos, grupo envolvido, ferramen-


tas utilizadas, suas origens, etc. já se constitui uma mensagem. Os re-
lacionamentos internos ou externos, as ações, as informações, opiniões
e comportamentos compreendem um processo de comunicação. Esses
são fatores que a gestão deve levar em conta para obter os resultados
esperados.

4. Gestão do relacionamento

Uma comunicação assertiva, alinhada ao projeto e aos seus objetivos é


um grande passo para uma gestão de relacionamento eficiente, assim
como um projeto bem-sucedido. E como gerir esse relacionamento? O
primeiro passo é entender cada um dos lados envolvidos. Um projeto so-
cial possui uma equipe gestora, público beneficiário e as parcerias com
voluntários, apoiadores e investidores. Os apoiadores podem ser empre-
sas ou personalidades que oferecem seus nomes e suas influências so-
ciais ou econômicas para dar credibilidade ao projeto perante ao público.
Os investidores podem ser pessoas físicas ou jurídicas que fazem inves-
timentos em dinheiro ou em bens materiais ou imateriais que possuam
determinado valor.

88 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


LINK
O site Filantropia traz um artigo intitulado Marketing de re-
lacionamento também faz parte do terceiro setor, de novem-
bro de 2014, que apresenta as modalidades de CRM vol-
tado a instituições desse segmento, sua representação no
setor social, o uso da ferramenta, entre outros assuntos.
Essas informações podem ser acessadas pelo link: <ht-
tps://www.filantropia.ong/informacao/marketing-de-rela-
cionamento-tamb%C3%A9m-faz-parte-do-terceiro-setor>.

Considerando que todos esses envolvidos compreendem públicos, a ges-


tão do relacionamento atua no sentido de promover uma comunicação
alinhada ao perfil de cada um. Quando se trata de relacionamento en-
tre empresa e cliente, faz-se necessário a aplicação do CRM (Customer
Relationship Management) ou gestão do relacionamento com o cliente.
Quando se pretende incrementar essas relações entre marca e público,
um utiliza-se é o MR (marketing de relacionamento). Como explica Pereira
(2012), tanto o marketing de relacionamento quanto a fidelização de clien-
tes são estratégias criadas por empresas para melhorar o desempenho
das relações entre os parceiros, com vistas aos melhores resultados pos-
síveis. O MR surgiu na década de1990, quando as empresas passaram a
destinar maiores esforços na aproximação com seus clientes, com vistas
a melhorar as relações comerciais entre marca e público. Kotler (2014)
assinala que o marketing de relacionamento é um recurso para relações
satisfatórias e de longo prazo. CRM e gestão de conteúdo têm sido os
principais instrumentos para o MR, o que se justifica pela necessidade de
recursos de comunicação que estejam alinhados ao perfil e à expectativa
do cliente.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 89


PARA SABER MAIS
CRM é um sistema de gestão de relacionamento com clien-
tes que promove uma aproximação maior entre empresa,
marca e seu público. Surgiu na década de 1970 como um
software que, associado a um banco de dados, armazenava
o maior número possível de informações do cliente para que
se pudesse oferecer produtos e serviços na medida de suas
necessidades. A partir da década de 2000 foi tornando-se
também um conceito, pois qualquer ferramenta digital que
contemplasse um local de armazenamento de dados já se-
ria suficiente para promover um bom relacionamento e sua
devida gestão. Dessa forma, mais importante do que o canal
é a informação. Quanto melhor o CRM, mais possibilidades
se têm de conhecer e entender o público e, portanto, de de-
senhar produtos ou serviços cada vez mais personalizados.
Mais próximo do final da década de 2000, surgiu o CRM social,
provocado pela Web 2.0 que trouxe consigo as redes sociais
digitais. As relações mudaram, sobretudo entre empresas,
instituições sociais e o público. Embora as redes sociais da
internet promovam maior exposição de pessoas e empresas
em ambientes públicos, elas permitem o monitoramento e
a análise, possibilitando assim um melhor diagnóstico tanto
do público quanto das marcas.

Em projetos sociais, além de estreitar os relacionamentos com uma co-


municação eficaz, é preciso analisar muito bem o perfil de cada um dos
colaboradores, para que estejam em sintonia com os princípios sociais e
morais do projeto. Por exemplo, empresas ou personalidades que não
destinam esforços para a preservação do planeta e, portanto, não levan-
tam a bandeira da sustentabilidade e da responsabilidade social podem

90 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


prejudicar o desempenho do projeto que tenham como ponto alto esses
atributos e afastar o público. Dessa forma, é preciso, primeiro, que o pro-
jeto apresente muita clareza de seus valores, os quais devem combinar e
se alinhar com os de seus públicos. É assim que os produtos são criados
e que novos projetos se desenvolvem.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Independentemente de sua destinação, os projetos sociais têm
como objetivo atender uma diversidade de problemas, os quais po-
dem envolver crianças, adultos, pobres, moradores de rua, escolas,
além de outros. O importante, e o que caracteriza um projeto é o
seu caráter inovador, e um de seus desafios é oferecer um produto
singular em um período previamente estabelecido. O produto de
um projeto classifica-se em uma das três categorias: físico, concei-
tual e evento. Como é possível descrever um produto conceitual,
que não tem uma forma específica, e que argumentos utilizar para
solicitar o apoio financeiro?

5. Considerações Finais

• Projetos sociais como solução para problemas sociais identificados.

• Categorias de produtos que resultam do desenvolvimento


de projetos.

• Memórias em Rede é um exemplo de projeto social da cidade de


Santos (SP).

• Avaliação como controle do projeto e de seu compromisso.

• Fontes para avaliação de projetos.

• A comunicação e o relacionamento.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 91


Glossário

• Produto singular: é um produto único, específico e que represen-


ta o aspecto inovador de um projeto.

• Hermenêutica: técnica, que surgiu da necessidade de religiosos e


filósofos para a interpretação de textos. Traz o sentido das palavras.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 5
1. Projeto social é um composto de ações que reproduzem
uma visão de futuro. É entendido como um documento que
formaliza uma proposta que busca financiamento público
ou privado para viabilizar uma solução. Tem o propósito
de alterar uma situação, servindo de ponte entre desejo e
realidade. O que garante a concretização dos projetos?
a) Participações filantrópicas que podem ser
esporádicas.
b) Uma gestão eficiente dos atores envolvidos.
c) Uma avaliação com o devido controle das atividades
desempenhadas.
d) Colaborações, que podem ser em dinheiro, produ-
tos, serviços ou mão de obra.
e) Produtos que sejam singulares e concretos.

2. “Projetos são sistemas ou sequências de atividades finitas,


com começo, meio e fim definidos” (MAXIMIANO, 2002, p.
26). Segundo o autor, o produto de um projeto deve se
classificar em uma das três categorias. Relacione a catego-
ria com seu significado e aponte a alternativa correta.

92 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


I Bens intangíveis e referem-se a
1ª Produtos físicos ideias, roteiros, processos, fórmu-
las, entre outros.

II Compreende tarefas, serviços ou


atividades. Como exemplo, forma-
2ª Produtos conceituais
tura, estudo no exterior,
entre outros.

III Bens tangíveis como casas po-


3ª Produtos em forma
pulares, alimentos, farmácia, linha
de eventos
específica de remédios, etc.

a) 1ª – III; 2ª – I; 3ª – II.
b) 1ª – I; 2ª – III; 3ª – II.
c) 1ª – II; 2ª – III; 3ª – I.
d) 1ª – III; 2ª – II; 3ª – I.
e) 1ª –II; 2ª – I; 3ª – III.

3. “A diversidade de características dos projetos de engenha-


ria, desenvolvimento ou implementação de sistemas [...]
apresenta requisitos e comportamentos específicos que
devem ser considerados no gerenciamento da comuni-
cação” (CHAVES et al., 2007, p. 27). A partir de tais con-
siderações, precisamos compreender como se constitui
a comunicação. Assinale a alternativa que esclarece tal
questionamento.
a) A comunicação se constitui da competição entre
emissor e receptor.
b) A comunicação, em se tratando de projetos sociais,
se constitui em informativos visuais.
c) A comunicação se constitui de emissor, receptor,
mensagem, canal e meio.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 93


d) A comunicação se constitui de canal para que se esta-
beleçam as relações.
e) A comunicação se constitui em mensagem, para que
a informação seja direcionada aos devidos públicos.

Referências Bibliográficas

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em uma empresa do setor metalúrgico. 2008. 42 f. Monografia (Graduação em
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94 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


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dantes e moradores antigos pela Cidade. 2 de ago. 2018. Disponível em: <http://
www.santos.sp.gov.br/?q=noticia/projeto-memorias-em-rede-trabalha-o-afeto-
-de-estudantes-e-moradores-antigos-pela-cidade>. Acesso em: 13 out. 2018.

Gabarito - Tema 5

Questão 1 - Resposta D

Os projetos sociais têm o propósito de alterar uma situação, servindo


de ponte entre desejo e realidade. Nesse sentido, é coerente afirmar
que os projetos sociais se concretizam a partir de colaborações (seja
em dinheiro, em produtos, em serviços e em mão de obra) externas
para transformar sonhos em ações concretas. Essas colaborações
são por meio de parcerias.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 95


Questão 2 - Resposta A

1ª Produtos físicos: bens tangíveis como casas populares, alimen-


tos, farmácia, linha específica de remédios, etc.

2ª Produtos conceituais: esses são intangíveis e referem-se a ideias,


roteiros, processos, fórmulas, entre outros.

3ª Produtos em forma de eventos: compreende tarefas, serviços


ou atividades. Como exemplo, projetos de casamentos, formatura,
estudo no exterior, entre outros.

Questão 3 - Resposta C

A comunicação se constitui de emissor (quem emite a mensagem),


receptor (quem recebe a mensagem), mensagem (o que se pretende
comunicar), canal (recurso pelo qual a comunicação é veiculada) e
meio (a forma encontrada no canal para veicular a informação).

96 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


TEMA 06
REDES SOCIAIS: DESAFIOS E
POSSIBILIDADES

Objetivos

• Estudar como se configuram as redes sociais.

• Analisar públicos, atores e conexões nas redes para


entender como atuam em projetos sociais.

• Discutir as diferenças entre redes digitais e pessoais.

• Contextualizar as redes nos projetos sociais.

• Estudar como se processa a comunicação nas redes.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 97


Introdução

Olá, bem-vindo a mais uma etapa da disciplina Desenvolvimento de


Projetos Sociais. Nela, você poderá refletir sobre as redes sociais em
projetos e as mudanças ocorridas na comunicação a partir das no-
vas tecnologias. É evidente que ao ver o termo redes sociais você
vai se lembrar imediatamente dos canais de internet que provêm as
relações entre as pessoas, com os recursos da tecnologia. Sim, hoje
essa relação ocorre em muito mais volume do que antes. Os grupos
de amigos podem contemplar centenas de pessoas, das mais varia-
das regiões do mundo, mesmo que não se conheçam pessoalmente.
Mas, convêm que você comece compreendendo as redes em geral
para facilitar seu entendimento sobre as digitais e, assim, conseguir
relacioná-las aos projetos sociais. Tal como acontece com as redes,
nos projetos sociais o critério de participação é livre de cada um.
Ou seja, tanto um voluntário quanto uma empresa adotam seus cri-
térios próprios para contribuir, a partir do foco e dos princípios de
cada projeto. E até nesse aspecto as redes sociais são relevantes,
pois elas são compostas de nós, que podem representar os temas,
sendo que em cada um há uma adesão específica.
Em outras palavras, projetos e redes sociais atuam na mesma pers-
pectiva, a de socializar um assunto – que pode ser uma causa ou a
solução de um problema – que possa contribuir para uma determi-
nada sociedade. Dessa forma, as redes sociais digitais reforçam es-
ses objetivos, ampliando as vozes para além das fronteiras, unindo
os interesses comuns. A compreensão de tudo isso requer conhecer
um pouco os tipos de redes e de público dessas redes, como acon-
tece a comunicação nelas e em que isso pode ajudar na gestão de
projetos sociais. Cabe analisar também a contribuição das redes nos
projetos sociais e como elas podem ser utilizadas, com vistas ao su-
cesso dos projetos.

98 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


1. As redes sociais

Segundo Castells (2003), uma rede compreende um conjunto de nós co-


nectados, cada um representando um ponto em que a curva se intercepta,
sem um centro (por definição). Quando estão em uma rede, um depende
do outro. Uma rede prevê a existência de dois elementos: os atores e suas
conexões. Os atores são pessoas que podem ser em grupos de indivíduos
sem um vínculo com qualquer instituição ou mesmo que integrem algum
órgão. As conexões representam as interações ou os laços sociais. Elas
podem ser das mais variadas, como conexões de família, de vizinhos, de
escola, de trabalho, de amigos de amigos, entre outras, ou da internet,
como os sites e aplicativos de redes sociais digitais. Assim, define-se a
rede social como “uma rede, assim, é uma metáfora para observar os
padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões estabele-
cidas entre os diversos atores” (RECUERO, 2009, p. 24). Na internet, essas
estruturas de redes, mediadas pelo computador ou outro dispositivo que
desempenhe funções semelhantes, geram fluxo de informações e trocas.

ASSIMILE
Consideram-se atores o primeiro elemento de uma rede social.
Eles estão representados por nós, conforme Figura 5. Esses
atores dão a forma à estrutura das redes a partir do tipo de
interação e de laço social criado. Na internet, como os atores
mantém uma relação com certa distância, seu perfil pode não
ser de fácil identificação, podendo ser uma pessoa ou uma fer-
ramenta, como blog, Facebook, Instagram, Twitter, etc. Essas
ferramentas seriam a representação desses atores. São eles os
protagonistas do projeto. Podemos dizer que as conexões são
os rastros deixados pelos usuários das redes.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 99


“Essas interações são, de certo modo, fadadas a permane-
cer no ciberespaço, permitindo ao pesquisador a percepção
das trocas sociais mesmo distante, no tempo e no espaço, de
onde foram realizadas”. (RECUERO, 2009, p. 30)

Os instrumentos dessas conexões são, segundo a autora, a


interação, as relações e os laços sociais.

Figura 5 | Representação de uma rede social, com seus nós representa-


dos por pessoas

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Fonte: <https://pixabay.com/pt/conex%C3%B5es-comunica%C3%A7%C3%B5es-sociais-
rede-2099068/>. Acesso em: 25 out. 2018

100 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


1.1 As diferenças de redes digitais e pessoais

Na internet, as redes, seus atores e suas conexões ficam disponíveis no


ciberespaço. As diferenças entre as digitais e as não digitais vão além da
mediação da máquina, são que as interações podem ocorrer, mesmo que
um dos atores esteja ausente. Nas pessoais, se um dos lados estiver au-
sente não acontece a comunicação. É o caso da interação mútua e a in-
teração reativa, defendida por Primo (2003). Outras diferenças, quanto
às redes digitais, são as estruturais, formadas por recursos tecnológicos,
sendo necessária a intermediação por algum dispositivo. Nas pessoais,
basta a presença física. Pode-se assinalar também a instantaneidade com
que ocorrem as relações, bem como a inexistência de barreiras geográfi-
cas. Nas pessoais, é preciso proximidade.

Ugarte (2008) vai mais longe na contextualização das redes. Ele lem-
bra que em 1885, em Berlim, uma rede tecnológica já se apresenta-
va: o telégrafo. No Reino Unido e na França o telégrafo chegou em
1851. E a união, por rede, entre Estados Unidos e Europa data de 1858.
Foi por meio do telégrafo que as duas principais agências de notícias,
Associated Press e Reuters passaram veicular suas notícias. A inovação
tecnológica avança em 1944, com a criação do primeiro computador,
o Colossus, configurando o início da informática. E em 1969 o cenário
tecnológico avança mais com a criação da internet. Mas o telefone e
as cartas também possibilitaram o estabelecimento das redes, como
lembrou Castells (2003). Entretanto, ele vê as redes digitais como res-
ponsáveis pelo individualismo. “O individualismo em rede é um padrão
social, não um acúmulo de indifícuos isolados. O que ocorre é que in-
divíduos montam suas redes, online e off-line, com base em seus inte-
resses, valores, afinidades e projetos” (CASTELLS, 2003, p. 109). Se por
um lado as redes promovem o individualismo, por outro, considerando
as conexões e os dispositivos, entre os quais o celular, respondem por
interações colossais, que se constatam no volume de pessoas nas re-
des sociais digitais.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 101


PARA SABER MAIS
Interação mútua e a interação reativa

Trata-se de uma proposta de estudo de interatividade de


Primo (2000), com base na tecnologia de informação que
considera três elementos inter-relacionados, quais sejam, os
participantes, a relação entre eles e o contexto, formando
uma relação mútua e argumentativa. Tanto a interação mú-
tua quanto a reativa consideram sete dimensões: 1ª Sistema,
conjunto de objetos ou entidades que se inter-relacionam
entre si formando um todo; 2ª Processo, acontecimentos
que apresentam mudanças no tempo; 3ª Operação, produ-
ção de um trabalho ou a relação entre a ação e a transforma-
ção; 4ª Fluxo, curso ou sequência da relação; 5ª Throughput,
relativo a decodificação e a codificação, assim como inputs e
outputs (entrada e saída); 6ª Relação, encontro, conexão que
representam as trocas entre elementos ou subsistemas; e 7ª
Interface, superfície de contato, agenciamentos de articula-
ção, interpretação e tradução. Esse estudo contextualiza o
papel das redes na perspectiva científica.

1.2 Tipos de redes

Considerando a afirmativa de que redes são compostas por pessoas


conectadas e por conexões, Gabriel (2012) traz três formas distintas de
redes, as centralizadas, as descentralizadas e as distribuídas. As cen-
tralizadas consideram como um dos nós um centro por onde a infor-
mação é distribuída aos demais da rede. “Esse é o modelo clássico de
broadcasting, no qual o poder de controle e distribuição da informação
é concentrado na fonte emissora” (idem, [s.p.]). As redes descentra-
lizadas são as formadas por vários centros, como em igrejas, governo
e empresas. O terceiro tipo refere-se às redes distribuídas, nas quais

102 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


não existem centros, o controle é distribuído pelos nós e tem como ca-
racterística principal o fato de que não há dono da rede. São as redes
sociais digitais.

1.3 As redes nos projetos sociais

O terceiro setor, que responde por parte dos projetos sociais, está reco-
nhecendo as redes como suas grandes aliadas. Elas possibilitam maior
visibilidade aos projetos, aumento do público e consequentemente de
voluntários e investidores, assim como permite a criação de campanhas
para financiamento coletivo, sem contar a capacitação a instituições do
terceiro setor. Em artigo no site Correio Web, Eduardo Gay (2016) comen-
ta que já ocorreram resultados de ações conjuntas entre várias organi-
zações de Brasília, entre elas, a Rede de Investidores do Distrito Federal
(RIS), formada por grupos de entidades que se tornaram conhecidas por
meio das redes e de ações em grupo.

EXEMPLIFICANDO
Foi do trabalho em rede por instituições do terceiro setor que
surgiu o Selo Social em Brasília. Trata-se de um programa
que une ações de ONGs, empresas privadas e setor público,
com o objetivo de implementar, até 2021, cerca de 6 mil pro-
jetos de impactos na sociedade. As empresas reconhecidas
pelo programa recebem o Selo Social, o que dá maior credi-
bilidade de suas ações sociais perante a sociedade em geral.
Em 2016, algumas cidades do Distrito Federal foram capa-
citadas para o desenvolvimento sustentável, contribuindo
para melhoria da qualidade de vida da população, são elas:
Águas Claras, Ceilândia, Gama, Samambaia e Taguatinga. O
programa Selo Social surgiu em 2011 na cidade de Itajaí, em

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 103


Santa Catarina, sendo ampliado para estados do Sul, Sudeste
e Centro-Oeste. O programa está alinhado aos objetivos
de desenvolvimento do milênio (ODM), estabelecidos pela
Organização das Nações Unidas (ONU).

LINK
Para mais informações sobre o Selo Social, acesse o link: <https://
serit.itajai.sc.gov.br/c/o-que-e-selo-social#.W9S7TWhKjIU>.
Acesso em: 23 jan. 2019.

2. Comunicação nas redes

As redes sociais digitais tornaram-se recursos fundamentais nos relacio-


namentos entre as pessoas, marcas e seus públicos e, como não pode-
ria deixar de ser, entre instituições, em projetos e seus atores e agentes.
Como você sabe, existem diversas ferramentas de redes sociais e cada
uma possui suas próprias peculiaridades. Isso exige conteúdo e estra-
tégias de comunicação diferenciadas. Existem inúmeras redes sociais
digitais que vão muito além das populares, como Facebook, Instagram,
YouTube, WhatsApp, para citar algumas. Para que você tenha uma ideia,
há redes de relacionamento e de compartilhamento de viagens, moda,
música, fotos, filmes, livros, entre outras, que funcionam via aplicativos
ou sites. E todas elas têm seus públicos, os quais só permanecem ali no
seu espaço se houver uma comunicação culturalmente condizente com
sua realidade de vida e com seu repertório, daí a complexidade da comu-
nicação. Santaella (2005) entende que esse é um desafio que precisa ser
pensado na perspectiva de uma configuração das culturas humanas e a
partir de categorias analíticas que consideram três eras civilizatórias:

104 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


• A da comunicação oral: fundamenta-se nas formações culturais, cuja
fala é seu processo de comunicação preponderante.

• A da comunicação escrita: se traduz nas formas de registro que se utili-


za de escritura pictográfica, ideográfica, hieroglífica e também fonética.

• A da comunicação impressa: era de Gutenberg, que permitiu a repro-


dução da escrita em cópias a partir de uma matriz.

É a partir dessas três eras que identificam-se a comunicação de massa, que


representa a cultura de massa instaurada a partir da Revolução Industrial,
quando comunicação e artes passaram a se relacionar, e a comunicação mi-
diática, que marcou presença com o surgimento das novas tecnologias.

PARA SABER MAIS


A comunicação de massa estabeleceu-se com a fotografia, tes-
temunhando os acontecimentos, e o cinema, depois o rádio e a
televisão. Ficou marcada pela “desconstrução dos sistemas de
codificação visuais herdados do passado renascentista. [...] as
artes foram crescentemente incorporando os dispositivos tec-
nológicos dos meios de comunicação como meios para a sua
própria produção” (SANTAELLA, 2005, p. 12). Ao analisar esse
cenário histórico, você vai perceber que houve um entrelaça-
mento dos meios de comunicação com os meios de produção,
possibilitados pelos dispositivos tecnológicos criados entre as
décadas de 1970 e 1980. “Graças a esses equipamentos, facil-
mente disponíveis ao artista, originaram-se formas de arte tec-
nológica que deram continuidade à tradição da fotografia como
arte” (SANTAELLA, 2005, p. 13). E o que isso tem a ver com as
redes? Tudo. Por meio de dispositivos tecnológicos, como com-
putadores e celulares, tanto o design, quanto a publicidade, o
cinema e a televisão se inter-relacionam, pela comunicação,
promovendo os mercados.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 105


As novas tecnologias, com destaque para a internet e as redes sociais
digitais, imprimiram nas sociedades relações muito mais dinâmicas
e flexíveis. Pela palma da mão é possível superar limitações de tem-
po e espaço e acompanhar fatos e informações de qualquer parte do
planeta, assim como firmar parcerias e conhecer o mundo. Os indiví-
duos que nasceram a partir de 1995 são considerados os nativos da
cibercultura e familiarizados com a convergência de mídias. Eles po-
dem não reconhecer efetivamente o valor desses recursos, por não
ter vivido sem eles. Porém, sabem que as ferramentas de redes sociais
consolidam as relações e fortalecem as causas, que pela possibilidade
de grande número de participantes, dão maior legitimidade aos movi-
mentos sociais, bem como aos projetos. Com as novas tecnologias de
informação e comunicação, ampliaram-se os grupos que se identifica-
ram e puderam quebrar barreiras demográficas com bastante facili-
dade. Esse novo cenário tecnológico “permite que elas [organizações]
transformem em um instante uma ideia ou um descontentamento
em um exército de patrocinadores apaixonados pela mudança social”
(KANTER; FINE, 2011, p. 33).

Entretanto, no meio digital, as relações só se efetivam nas redes so-


ciais por meio de ferramentas, as quais precisam passar por um ma-
peamento para identificação da que mais se adequa às necessidades
de comunicação tanto da instituição quanto de seus projetos sociais.
Segundo os autores:
as organizações têm uma enormidade de métodos e técnicas disponíveis
para fazer que isso aconteça. Elas podem compartilhar informação, iniciar
ou entrar em conversas, agradecer as pessoas por seus esforços, educar e
aumentar a consciência sobre um assunto e, é claro, algumas vezes pedir
às pessoas que façam algo como ir a uma reunião ou fazer uma doação”.
(KANTER; FINE, 2011, p. 81)

106 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


3. Presença nas redes

Uma questão sempre colocada, não apenas entre as instituições do ter-


ceiro setor, é se se deve estar presente em todas as redes sociais. A res-
posta virá depois de um conhecimento real de seu público, o que ajudará
também a definir o conteúdo e o tipo de comunicação a ser veiculada.
“Seus hábitos e gostos determinam de quais mídias sociais fazem parte, o
que direcionará o seu trabalho e indicará onde sua presença digital deve
ser construída” (MLABS, 2018, [s.p.]). Veja no quadro a seguir que a comu-
nicação pode ser trabalhada nas principais ferramentas de redes sociais.

Quadro 5 | A comunicação em cada ferramenta de rede social

Recomenda-se uma comunicação bem direcionada, para isso,


cabe analisar o público e entender onde ele se localiza dentro
dessa ferramenta. Trata-se de um canal bem amplo, com di-
Facebook versas possibilidades de interação, já que é possível criar pági-
nas, grupos, interagir em outros grupos e páginas e ainda pos-
tar anúncios publicitários, o que sugere uma linguagem ainda
mais diferenciada.
Esta é uma ferramenta de rede que prioriza o visual e que é
muito acessada pelo público jovem. As marcas têm a possibili-
dade de se relacionar e se comunicar com o público de forma
Instagram
mais direta, usando o Instagram. É possível utilizar vídeos, le-
gendas e Stories com linguagem e abordagem se aproximem
do público.
Sugere uma linguagem mais formal, já que se trata de uma
rede corporativa. A comunicação deve considerar que nes-
ta ferramenta, as pessoas buscam networking profissional. E
LinkedIn também que as interações ocorrem tanto entre pessoas, quan-
to entre empresas e instituições do terceiro setor e seus pú-
blicos. Assim, o conteúdo e sua linguagem devem prezar uma
linguagem voltada ao clássico e não ao coloquial.

O limite de 280 caracteres determina um conteúdo sucinto,


embora ofereça a possibilidade de publicação de imagens em
foto e vídeos, permitindo, assim, mais espaço para o conteúdo.
Twitter
A comunicação requer boa persuasão, para que possa conven-
cer de forma rápida. Segundo a MLabs (2018), trata-se de um
canal cuja preferência maior é do público masculino.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 107


Por ser predominantemente visual, essa plataforma, que utiliza
tecnologia streaming, exige bastante qualidade em sua lingua-
gem escrita, que deve ter a função de complementariedade e
YouTube não de duplicidade de informação. Como trata-se de uma rede
acessada por grande variedade de público, pode-se trabalhar
com diversos tipos de linguagem, podendo ser formais, infor-
mais, despojada, clássica, etc.

Fonte: <https://www.mlabs.com.br/blog/comunicacao-nas-midias-sociais-veja-co-
mo-agir-em-cada-midia/>. Acesso em: 23 out. 2018.

LINK
No link a seguir há um modelo de projeto que utiliza, além
de seu site, o YouTube, Facebook e o Instagram para disse-
minar o projeto. Trata-se do Sorriso para Todos da Colgate.
Disponível em: <http://www.projetosorrisoparatodos.com.
br/>. Acesso em: 24 jan. 2019.

Há muito tempo não se questiona mais se uma instituição deve ou não utili-
zar as redes sociais, o que é compreensível, por ser um assunto já ultrapassa-
do. A discussão agora tem outro nível, que é a qualidade da comunicação via
redes. Desde que foram descobertas como instrumentos de grande dissemi-
nação de informações, as redes sociais potencializam o conteúdo e sua co-
municação. Com elas é possível monitorar o público, mensurar os resultados
dessa utilização dessas ferramentas digitais e possibilitar estratégias mais
assertivas. Não é por acaso que as redes sociais digitais integram qualquer
planejamento corporativo e de projetos sociais.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Lidar com a complexidade da comunicação é um grande desafio a ser
enfrentado no universo das redes sociais. Segundo Santaella (2005),
a comunicação precisa ser pensada na perspectiva de categorias

108 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


analíticas considerando as eras civilizatórias da comunicação oral, da
comunicação escrita e da comunicação impressa, as quais permane-
cem até hoje e se perpetuam. Como um projeto social pode atuar
com vistas a essas três eras civilizatórias?

4. Considerações Finais

• Como se configuram as redes sociais?

• Atores, conexões e agentes.

• Identificação de redes digitais e não digitais.

• As redes sociais como aliadas dos projetos.

• Selo Social, um exemplo de projeto.

• A comunicação nas redes sociais.

• As eras civilizatórias da comunicação.

• Presença nas redes.

Glossário

• Escrita pictográfica: remonta do período neolítico, no qual o homem


se comunicava por meio de pictografias desenhadas na pedra.

• Escrita ideográfica: escrita a partir de ideogramas, ou seja, símbolos


gráficos.

• Escrita hieroglífica: escrita a partir de hieróglifo, sinais de escritas


dos egípcios e maias, representada por figuras e símbolos.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 109


• Persona: representação fictícia de uma pessoa com perfil e caracte-
rística. É usada no marketing para traçar o perfil do cliente da forma
mais real possível.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 6
1. As redes sociais são compostas de nós, que podem repre-
sentar os temas, sendo que em cada um há uma adesão
específica. Em outras palavras, projetos e redes sociais
atuam na mesma perspectiva, a de socializar um assunto
– que pode ser uma causa ou a solução de um problema
– que possa contribuir para uma determinada sociedade.
Dessa forma, as redes sociais digitais rechaçam esses ob-
jetivos, ampliando as vozes para além das fronteiras, unin-
do os interesses comuns. O que significam os nós das re-
des sociais?
a) Agentes.
b) Ferramentas digitais.
c) Tecnologia.
d) Conexões.
e) Pessoas.

2. “O individualismo em rede é um padrão social, não um acú-


mulo de indivíduos isolados. O que ocorre é que indivídu-
os montam suas redes, online e off-line, com base em seus
interesses, valores, afinidades e projetos” (CASTELLS, 2003,
p. 109). Mas a existência de redes tecnológicas remonta de
muito tempo. O primeiro caso que se tem notícia foi de 1885.
Qual o recurso de rede social que foi criado naquele período?

110 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


a) Telefone.
b) Telex.
c) Fax.
d) Cartas escritas.
e) Telégrafo.

3. Todas as redes sociais têm seus públicos, os quais só se


mantêm se houver uma comunicação culturalmente con-
dizente com sua realidade de vida e com seu repertório,
daí a complexidade da comunicação. Santaella (2005) des-
taca três categorias civilizatórias, por entender que a co-
municação precisa ser pensada na perspectiva de uma
configuração das culturas humanas. Relacione cada uma
das categorias com sua representação e aponte a alterna-
tiva correta.

I Vem da era de Gutenberg, que


1 - Comunicação oral permitiu a reprodução da escrita
em cópias a partir de uma matriz.

II Fundamenta-se nas formações


2 - Comunicação escrita culturais cuja fala é seu processo
de comunicação preponderante.

III Traduz-se nas formas de regis-


tro que se utiliza de escritura pic-
3 - Comunicação impressa
tográfica, ideográfica, hieroglífica
e também fonética.

a) 1 – III; 2 – II; 3 – I.
b) 1 – II; 2 – I; 3 – III.
c) 1 – II; 2 – III; 3 – I.
d) 1 – III; 2 – I; 3 – II.
e) 1 – I; 2 – III; 3 – II.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 111


Referências Bibliográficas

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pdf>. Acesso em: 23 out. 2018.

112 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Gabarito - Tema 6

Questão 1 - Resposta D

Os nós representam as conexões, que são interações ou os laços so-


ciais, como conexões de família, de vizinhos, de escola, de trabalho,
de amigos de amigos, entre outras, ou da internet, como os sites e
aplicativos de redes sociais digitais.

Questão 2 - Resposta E

Ugarte (2008) lembra que em 1885, em Berlim, uma rede tecnológica


já se apresentava: o telégrafo. No Reino Unido e na França o telégra-
fo chegou em 1851.

Questão 3 - Resposta C

Santaella (2005) entende que o processo de comunicação vem de


uma configuração das culturas humanas e a partir de categorias ana-
líticas que consideram três eras civilizatórias:

- A da comunicação oral: fundamenta-se nas formações culturais,


cuja fala é seu processo de comunicação preponderante.

- A da comunicação escrita: se traduz nas formas de registro que


se utiliza de escritura pictográfica, ideográfica, hieroglífica e também
fonética.

- A da comunicação impressa: era de Gutenberg, que permitiu a re-


produção da escrita em cópias a partir de uma matriz.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 113


TEMA 07
CONCEPÇÕES DE REDE NO CAMPO
DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Objetivos

Compreender o papel das redes no contexto dos projetos


sociais. Para isso, seguem os objetivos específicos:

• Conceituar as redes sociais na perspectiva dos projetos.

• Discutir sua complexidade em âmbito global.

• Abordar a cultura da internet.

• Contextualizar a internet sob o olhar dos proje-


tos sociais.

• Analisar o financiamento coletivo (crowdfunding).

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 114


Introdução

O desenvolvimento de projetos sociais encontra nas redes sociais um im-


portante aliado para sua disseminação e viabilização, já que nessas redes
estão as parcerias necessárias para que se efetive. Essa colaboração vem
de empresas públicas, privadas, Estado e sociedade. E com os recursos
das novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs), um novo
universo se ascende, principalmente para a sociedade civil organizada,
potencializando os movimentos sociais. Esses novos tempos são sinali-
zados por Castells (2013), quando afirma que, assim como todo compor-
tamento humano, também a mudança social relaciona-se a uma ação in-
dividual e/ou coletiva, motivada por fatores emocionais nos quais estão
envolvidos todos esses atores da sociedade. “Quando se desencadeia o
processo de ação comunicativa que induz a ação e a mudança coletivas,
prevalece a mais poderosa emoção positiva: o entusiasmo, que reforça a
mobilização societária intencional” (CASTELLS, 2013, p. 162). Os projetos
sociais, assim como as redes podem ter contribuído para políticas sociais
mais engajadas aos anseios dos cidadãos, assim como para uma nova
estruturação dos serviços, sejam de saúde, assistência, entre outros. Mas
isso não garante que o atendimento oferecido por esses serviços, pelos
órgãos públicos, tenha evoluído em relação ao período anterior à inter-
net, como mencionam Gonçalves e Guará (2009). Segundo os autores, o
fato do público ser atendido pela internet, sem ser preciso estar presente
no local de atendimento, não dá garantia de que esse atendimento seja
oferecido de forma satisfatória. Pode ter, isso sim, dado maior visibilidade
aos problemas sociais e potencialidade aos grupos, que não encontram
mais a barreira geográfica para buscar engajamento. Porém, toda essa
reflexão carece de referencial acerca dos temas que mobilizam as socie-
dades, quais sejam as redes sociais e os movimentos sociais. Segundo
Gohn (2013), nos dias atuais, a rede social passa a ter papel ainda mais
importante que movimento social.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 115


1. Redes sociais

As redes compreendem uma categoria importante na análise das


relações sociais, por permitir a leitura e a interpretação da diversi-
dade sociocultural e política existentes nessas relações. E nada disso
é novo. Já em 1920 discutiam-se os ciclos de vida das redes, chama-
das de teias alimentares. A biologia molecular também depende de
redes específicas para suas análises genéticas. Nas ciências exatas,
as redes servem de suporte para definir conceitos em áreas como a
física. Na administração e nos recursos humanos, são recursos im-
portantes para fluxogramas, análise de desempenho. Nas ciências
sociais representam instrumentos de mobilização e criação de mo-
vimentos sociais. Também na antropologia as redes são relevantes
para classificar as relações sociais entre as pessoas. Degenne (1999
apud GOHN, 2013) define as redes como conjunto de métodos que
auxiliam na composição das estruturas sociais. A geografia distingue
as redes urbanas e as rurais, tendo-as como base para a ressignifi-
cação do conceito de território (GOHN, 2013). Rede é “o conjunto das
relações interpessoais concretas que vinculam indivíduos a outros
indivíduos, num dado campo social – composto, por exemplo, por
uma série de atividades, eventos, atitudes, registros orais e escritos”
(BARNES, 1987 apud GOHN, 2013, p. 34).
Para que você possa compreender a aplicabilidade das redes no ter-
ceiro setor, Gohn (2011) destaca que, sendo os movimentos sociais
fontes de inovação e matrizes de saberes, as redes de articulações
podem responder pela conjuntura política, econômica e sociocultu-
ral. Ajudam, ainda, na compreensão dos fatores responsáveis pela
aprendizagem, bem como pelos valores da cultura política, os quais
são construídos em processos interativos proporcionados pelas re-
des. As redes são protagonistas nas relações dos movimentos so-
ciais tanto locais quanto internacionais, sobretudo as redes digitais,

116 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


promovendo o agir comunicativo, a criação e o desenvolvimento de
novos saberes. As redes auxiliam na construção de ações coletivas
com vistas à exclusão e proporcionam recursos para a luta pela in-
clusão social. “Constituem e desenvolvem o chamado empowerment
de atores da sociedade civil organizada à medida que criam sujeitos
sociais para essa atuação em rede” (GOHN, 2011, p. 336).
Kanter e Fine (2011) corroboram tal pensamento, destacando que as
instituições do terceiro setor deixaram de ser organizações isoladas
para participar de uma rede social mais ampla e que está presen-
te, inclusive fora das paredes institucionais. “Isso permite que elas
transformem em um instante uma ideia ou um descontentamento
em um exército de patrocinadores apaixonados pela mudança so-
cial” (2011, p. 33). Gohn (2011) ainda reforça que ações em rede pro-
movem sentimentos de pertencimento social, pois os grupos consi-
derados excluídos, conseguem se integrar, pois sempre haverá uma
rede onde poderá se conectar.

EXEMPLIFICANDO
Entre os exemplos de utilização bem-sucedida de re-
des sociais citados por Gohn (2011) estão os movimen-
tos pela moradia, que se articulam em redes socio-
políticas de intelectuais e de movimentos populares.
Participam de redes com o apoio de instituições como
as pastorais da Igreja Católica. Nas redes, os indivíduos
que compõem esses movimentos participam de fóruns
desde os anos 1970 e 1980, “e têm possibilitado aos
grupos organizados olhar para além da dimensão lo-
cal. [...] São fontes de referência e comparação para os
próprios participantes” (idem, p. 356).

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 117


ASSIMILE
As redes representam canais de conexão entre os mo-
vimentos sociais e são multimodais, por utilizarem
como ferramentas, não apenas a internet, mas inclusi-
ve os telefones celulares. “Embora esses movimentos
geralmente se iniciem nas redes sociais da internet,
eles se tornam um movimento ao ocupar o espaço ur-
bano, seja por ocupação permanente de praças públi-
cas seja pela persistência das manifestações de rua”
(CASTELLS, 2013, p. 164).

1.1 Complexidade

Entender as redes sociais digitais requer reconhecer a complexida-


de do que elas representam em termos globais e para cara um de
nós, assim como requer reflexão sobre sua representatividade na
superação de obstáculos que passam a ser também globais. Como
obstáculos podemos elencar diferenças culturais, políticas e sociais
entre nações e territórios. “Convivemos com uma confusão de refe-
rências e com a sobreposição de modelos mais hierárquicos ou mais
flexíveis e percebemos, ao mesmo tempo, intenções de integração
e de especialização, como é comum ocorrer em momentos de tran-
sição” (GONÇALVES; GUARÁ, 2009, p. 1). Para os autores, nesse mo-
delo de rede com relações mais horizontais, ocorre a participação
de políticas setoriais, de comunidades e da sociedade em geral, e o
acolhimento de grupos específicos. Tudo isso, com o intuito de uma
abertura a novos cenários e conhecimentos, para que se fomentem
ideias que considerem melhorias ao todo e não somente às partes
individualizadas.

118 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


EXEMPLIFICANDO
Um exemplo muito emblemático da força das redes sociais,
que envolveu e acabou se sobressaindo na internet foi o
Occupy Wall Street, um movimento que se alastrou por 20
estados norte-americanos, cuja população sofreu as conse-
quências da queda do mercado imobiliário, com a perda de
suas casas. Com o sistema financeiro em crise, levada pela
problemática do mercado imobiliário, inclusive, o governo
se apressou a socorrer, mesmo em detrimento à população.
Com isso, os problemas aumentaram, houve desnivelamen-
to de salários e o desespero tomou conta do país, como de-
talha Castells (2013) em sua publicação Redes de Indignação e
Esperança. Com isso, o aspecto global foi deixado de lado, e
o Oriente Médio só interessava ao governo americano pelo
petróleo. Mas, possivelmente, sem que se percebesse, o eco
das revoltas árabes ampliou-se pelas notícias dos aconteci-
mentos na Europa, mais precisamente na Espanha. As redes
fomentaram novas formas de mobilização e organização, co-
nectando pessoas nos mais variados ambientes, sobretudo
o digital, com vistas a uma mobilização política insurgente.
Toda essa mobilização culminou com o Occupy Wall Street em
17 de setembro de 2011. As redes intimidaram a polícia, que
quanto mais reprimia, mas tinha suas imagens estampadas
na internet. Até mesmo nomes dos policiais agressores eram
revelados. E as tomadas de territórios começaram a partir de
outubro daquele ano, todas registradas em imagens de ma-
nifestantes. O saldo foi de mobilizações em 20 estados nor-
te-americanos, mais a área onde se encontra a Casa Branca.
O público era, em sua maioria, jovens profissionais e estu-
dantes, com idade entre 20 e 40 anos, prevalecendo as

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 119


mulheres, predominantemente desempregados, subempre-
gados e empregados temporários, como destaca Castells
(2013). O movimento mostrou a possibilidade de ampliação
de espaço, tendo a internet como protagonista e as redes
sociais como agentes. O mundo inteiro se voltou para o fato,
tornando-se um fórum de debate e de solidariedade.
O Occupy Wall Street nasceu digital. O grito de indignação
e o apelo à ocupação vieram de vários blogs (Adbusters,
AmpedStatus e Anonymous, entre outros) e foram postados
no Facebook e difundidos pelo Twitter (CASTELLS, 2013, [s.p.])

Exemplos como o Occupy Wall Street foram presenciados em outros luga-


res, como nos países árabes, contra sistemas ditadores, e no Brasil, em
junho de 2013, quando multidões tomaram as ruas durante alguns dias
protestando contra o aumento do transporte público, o que repercutiu
também entre os americanos, mas sobretudo na Europa. O fato é que,
sem entrar no mérito de qualquer um dos movimentos, as redes sociais
levam os indivíduos a pensar coletivamente.

Em qualquer tempo, desconsiderando a internet, um coletivo poderia pres-


supor a existência de uma liderança, alguém com superioridade. Assim, de
outro lado seria possível supor a existência da inferioridade (VERMELHO;
VELHO; BERTONCELLO, 2015). Mas Castells (2003) vê tendências contra-
ditórias com as novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs).
“Nem utopia nem distopia, a Internet é a expressão de nós mesmos atra-
vés de um código de comunicação específico, que devemos compreender
se quisermos mudar nossa realidade” (2003, p. 75). Podemos concordar
com o autor, quando afirma que a internet é um meio que possibilita a
comunicação de muitos com muitos e em escala global, na qual cientistas,
hackers e comunidades contraculturais formam essa nova sociedade, a
sociedade em rede.

120 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


2. A cultura da internet

A cultura compreende valores e crenças que denotam o comporta-


mento do indivíduo e o direcionam a escolha de um caminho para sua
vida. Difere-se de ideologia porque cultura é uma construção coletiva
de saberes, valores e crenças e reflete no comportamento individuali-
zado do cidadão, o qual influencia e é influenciado por suas práticas. A
cultura da internet é caracterizada por Castells (2003) a partir de qua-
tro camadas:

• Cultura tecnomeritocrática: reconhecida no meio acadêmico,


envolve o desenvolvimento científico e tecnológico.

• Cultura do hacker: incorpora normas e costumes e redes de


cooperação voltadas para projetos tecnológicos de uma comuni-
cação livre.

• Cultura comunitária virtual: envolve o compartilhamento tecno-


lógico, com a internet como meio de interação social seletiva e de
integração simbólica.

• Cultura empresarial: atua em parceria com a cultura hacker e a


cultura comunitária, pois dissemina as práticas da internet na
sociedade, com objetivos econômico-financeiros.

Dada a conjuntura globalizada da internet, seu papel frente a aspectos


políticos é mais no sentido de fortalecer o regime democrático, pois
auxilia o fortalecimento de grupos e movimentos no sentido de ser
obter melhores resultados às políticas instituídas na área social. “A de-
mocracia obriga a coalisões. Os serviços já não são de seus agentes/
trabalhadores. São de um coletivo societário” (GONÇALVES; GUARÁ,
2009, p. 2).

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 121


3. A internet nos projetos sociais

Não é de hoje que a internet e suas ferramentas vêm sendo utilizadas


para dar voz ao cidadão e garantir seus direitos de participar da formula-
ção de políticas públicas, opinar sobre elas, impedir ações que não sejam
de seu interesse e até desfazer algo já criado e constituído, como legisla-
ção ultrapassada. A educação também encontra na internet um canal de
disseminação de informação e conhecimento e de formação profissional
e intelectual. Como lembra o site Tecmundo, em 2011 a Organização das
Nações Unidas (ONU) declarou que o acesso à internet deveria passar
a ser um direito humano, sob o argumento de que ela contribui para o
exercício da cidadania – e, portanto, ajuda a garantir os direitos do cida-
dão – e colabora com o progresso da humanidade, por fomentar o de-
senvolvimento econômico, social e político das nações. As redes sociais
digitais atuam como uma grande ágora, onde o indivíduo passa a ter voz
sem precisar se submeter a processos hierarquizados, podendo disse-
minar sua cultura, sua realidade social, assim como invocar discussões e
soluções de problemas coletivos.

Os projetos sociais podem ser o resultado dessas invocações, já que eles


surgem a partir de um diagnóstico que sugere mudança da realidade das
pessoas. E representam o desejo ou a necessidade de desenvolver ações
que tragam soluções à problemática identificada. Um projeto é uma ação
com começo e fim determinados e suscita um planejamento, com clareza
em objetivos, escopo, investimentos e resultados, geralmente com uma
quantidade limitada de recursos (ARMANI, 2000).

Os projetos sociais não são realizações isoladas, ou seja, não mudam o


mundo sozinhos. Estão sempre interagindo, através de diferentes mo-
dalidades de relação, com políticas e programas voltados para o desen-
volvimento social. Um projeto não é uma ilha (STEPHANOU; MÜLLER;
CARVALHO, 2003, p. 11).

122 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Os projetos sociais podem instituir políticas públicas ou gerir e executar
ações dessas políticas.

PARA SABER MAIS


Políticas públicas são programas ou ações conjuntas deman-
dadas pela sociedade e desenvolvidas pelo Estado, de forma
direta ou indireta, financiadas principalmente com recursos
públicos e com objetivos de atender a interesses coletivos. O
interesse por programas de políticas públicas parte da socie-
dade como um todo, a partir de uma problemática mais am-
pla, como mudança no pagamento de impostos, por exem-
plo, ou de grupos específicos, como melhorias nas condições
de trabalho de professores, de benefícios a crianças, idosos,
adolescentes, entre outros. Por isso, podem ocorrer a partir
de diferentes tipos de articulações entre Estado e indivíduos.
“O desafio das políticas públicas é assegurar uma relação de
participação e boa articulação entre os setores sociais envol-
vidos nas instâncias de gestão compartilhada” (STEPHANOU;
MÜLLER; CARVALHO, 2003, p. 11).

4. Financiamento coletivo (crowdfunding)

Os projetos sociais podem ser custeados de diversas formas: por meio de


doações periódicas, esporádicas de pessoas físicas, patrocínios de empre-
sas privadas, editais públicos ou privados ou financiamento coletivo (do
inglês crowdfunding). É uma forma de obter recursos para um projeto es-
pecífico ou uma ação de um projeto, com a colaboração de várias pessoas
e de valores diferenciados, de acordo com as condições e o interesse do
colaborador. Essa prática vem sendo utilizada pela mídia televisiva, para

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 123


custear causas sociais e projetos como o Teleton, cujos recursos vão para
a Associação de Assistência à Criança com necessidades especiais (AACD)
e o Criança Esperança, da TV Globo.

A internet potencializou o crowdfunding, tornando um formato acessível


a qualquer projeto, mesmo sem o apoio da mídia convencional. Esse mo-
delo, com o uso da internet, chegou ao Brasil em 2010 e em 2011 surgiu
o primeiro site de financiamento coletivo, o Catarse. Hoje existem alguns
que atuam de formas semelhantes. Esses sites fazem a intermediação da
doação, facilitando a forma de pagamento, dando segurança a quem doa
de que o recurso será direcionado de fato ao referido projeto. Para parti-
cipar, responsável pelo projeto se cadastra no site, informando seus obje-
tivos e os dados para o envio do dinheiro arrecadado. Essas ferramentas
de crowdfunding cobram algo em torno de 10% do valor arrecadado. Cada
projeto passa a ter uma página no site, cujo link pode ser divulgado em
toda a internet, inclusive em aplicativos ou redes sociais virtuais. Nessa
página é possível publicar fotos, vídeos, áudios e textos. Nela também
há o link para a efetivação do pagamento. No mundo, um grande site
de financiamento coletivo é o Kickstarter. Os doadores costumam ter re-
compensas, como camiseta, caneta, boné, livros, ingressos para eventos,
ensaios fotográficos, entre outros.

EXEMPLIFICANDO
Um exemplo apresentado pelo jornal O Globo, em repor-
tagem de Marina Cohen (2014), intitulada “Projetos sociais
ganham força em plataformas de financiamento coletivo na
internet”, foi a ONG Soluções Urbanas, que utilizou o crow-
dfunding em 2010 para obter recursos para a reforma da
casa de uma aposentada. Nesse caso, a doação seria de cai-
xas de bebidas longa vida, que a ONG utiliza como moeda de
troca em uma feira de materiais para construção. Como os

124 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


recursos não foram suficientes, no ano seguinte a ONG pe-
diu R$ 40 mil no Catarse e conseguiu arrecadas pouco mais
de R$ 42 mil. Outra iniciativa é o Projeto Ímpar, iniciado em
agosto de 2016. Seu objetivo foi a criação de uma plataforma
para a criação de uma rede, em todo o território nacional,
para troca de calçados entre pessoas unípedes (que pos-
suem apenas um pé).

LINK
Conheça outros projetos que utilizaram a internet para serem
viabilizados e serem bem-sucedidos. Disponível em: <https://
dlscomunicacao.com.br/2236-2/>. Acesso em: 24 jan. 2019.

Se a internet intensificou as ações sociais, deu voz aos cidadãos e visibilidade


aos seus direitos, as redes sociais promoveram uma revolução nas relações,
uma aproximação entre as pessoas e o fortalecimento dos grupos, entre os
quais os coletivos. Os projetos sociais ganharam um grande fôlego pelas re-
des. Conquistas expressivas foram provocadas pelas redes sociais com mo-
vimentos que se globalizaram. Essas ações originam-se das necessidades e
da demanda dos grupos mobilizadores, que continuam sendo as alavancas
da mudança social. E esses movimentos encontram nas redes sociais a ânco-
ra que precisa para sempre se manterem firmes e fortes.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Se as redes sociais são instrumentos relevantes para a disseminação
de projetos e contribuição para formação de políticas sociais mais en-
gajadas às necessidades dos cidadãos, por que elas não são suficien-
tes para garantir a melhoria do atendimento dos serviços oferecido
aos cidadãos pelos órgãos públicos?

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 125


5. Considerações Finais

• As redes sociais no âmbito dos projetos.

• A complexidade que envolve as redes sociais digitais.

• Movimentos como o Occupy Wall Street e o de junho de 2013 no Brasil.

• O que compreende a cultura da internet.

• A internet sob a ótica dos projetos sociais.

• Financiamento coletivo na internet.

Glossário

• NTICs: novas tecnologias de informação e comunicação, nome


instituído principalmente a partir dos anos 1990, com a revolução
informacional.

• Diversidade sociocultural: refere-se a uma variação de conheci-


mentos, culturas, etnias e religiões inerentes às sociedades.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 7
1. As redes sociais nas ciências exatas servem de suporte para
definir conceitos em áreas como a Física. Na Administração
e nos Recursos Humanos, são importantes para fluxogra-
mas e análise de desempenho. Complete o trecho a seguir
e aponte a alternativa correta.

Nas Ciências Sociais as redes representam

126 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


_______________________ e criação de ______________________.
Também na Antropologia as redes são relevantes para
classificar _________________ entre as pessoas.
a) Recursos digitais; sociedades culturais; relações.
b) Instrumentos de mobilização; movimentos sociais;
as relações sociais.
c) A sociedade informacional; grupos digitais; o
comportamento.
d) A geografia das ações; campos sociais; os registros
de sociedades.
e) Registros sociais; estruturas informatizadas; os com-
portamentos digitais.

2. “Convivemos com uma confusão de referências e com a


sobreposição de modelos mais hierárquicos ou mais fle-
xíveis e percebemos, ao mesmo tempo, intenções de in-
tegração e de especialização, como é comum ocorrer em
momentos de transição” (GONÇALVES; GUARÁ, 2009, p. 1).
A que se refere essa afirmativa dos autores?
a) Ao comportamento digital dos internautas.
b) À forma como os projetos sociais são desenvolvidos.
c) À diversidade de projetos sociais.
d) Complexidade do que representam as redes sociais.
e) Ao contexto político-econômico do Brasil.

3. Castells (2003) caracteriza a cultura da internet a partir de


quatro camadas: cultura tecnomeritocrática, do hacker,
comunitária virtual e empresarial. Assinale a alternati-
va que corresponde, respectivamente, ao significado das
duas últimas camadas mencionadas.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 127


a) Comunitária virtual, envolve desenvolvimento cientí-
fico; e a empresarial incorpora redes de cooperação.
b) Comunitária virtual, analisa o meio científico; e a
empresarial envolve o desenvolvimento social.
c) Comunitária virtual, envolve o compartilhamento
tecnológico; e a empresarial dissemina práticas da
internet com fins econômico-financeiros.
d) Comunitária virtual, criação de grupos de dentro e de
fora da internet, e a empresarial trabalha o fortaleci-
mento de movimentos sociais.
e) Comunitária virtual, relaciona-se a movimentos
sociais, e a empresarial atua na perspectivas de par-
cerias no campo digital.

Referências Bibliográficas

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tão de projetos sociais. Porto Alegre, Tomo/AMENCAR, 2000.
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______. A Galáxia da Internet. Reflexões sobre a internet, os negócios e a socieda-
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vo-na-internet-13426281>. Acesso em: 3 nov. 2018.

128 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


GOHN, M. G. Movimentos sociais e redes de mobilizações civis no Brasil contem-
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www.scielo.br/pdf/ep/2015nahead/1517-9702-ep-1517-97022015041612.pdf>.
Acesso em: 3 nov. 2018.

Gabarito -Tema 7

Questão 1 - Resposta B

As redes compreendem uma categoria importante na análise das re-


lações sociais, por permitir a leitura e a interpretação da diversidade

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 129


sociocultural e política existentes nessas relações. Nas Ciências
Sociais representam instrumentos de mobilização e da criação de
movimentos sociais. Também na Antropologia as redes são relevan-
tes para classificar as relações sociais entre as pessoas.

Questão 2 - Resposta D

Refere-se à complexidade que as redes sociais representam em ter-


mos globais e para cara um de nós.

Questão 3 - Resposta C

- Cultura comunitária virtual: envolve o compartilhamento tecnológi-


co, com a internet como meio de interação social seletiva e de inte-
gração simbólica.

- Cultura empresarial: atua em parceria com a cultura hacker e a cul-


tura comunitária, pois dissemina as práticas da internet na socieda-
de, com objetivos econômico-financeiros.

130 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


TEMA 08
A REDE NA EXECUÇÃO DE
PROJETOS SOCIAIS

Objetivos

Para compreender a importância da rede na execução de


projetos sociais, estão relacionados os seguintes objetivos:

• Analisar o papel da rede no desenvolvimento


de projetos.

• Discutir como atua a sociedade civil nos projetos sociais

• Estudar o tema projeto no contexto da rede de pro-


teção social.

• Contextualizar o foco de atuação do projeto.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 131


Introdução

Seja bem-vindo ao último tema da disciplina Desenvolvimento de Projetos


Sociais. Nesta etapa, você vai se envolver com o papel da rede na exe-
cução de projetos, cuja participação precisa ser constantemente objeti-
vada e estimulada para que possa incentivar a adesão livre de todos os
participantes. Essa rede pode contemplar tanto pessoas físicas quanto
empresas dos mais variados setores e também organizações. As redes
podem ser de vários tipos, como de intercâmbio de informações, com-
partilhamento, colaboração, entre outros, como explica Maria Gloria
Gohn (2013) em seu livro Movimentos sociais e redes de mobilizações ci-
vis. A constituição de uma rede social será outro assunto a ser tratado,
assim como a participação da sociedade civil nos projetos sociais, que
considera a adesão dos participantes, marcada pela reciprocidade nas
relações como fator de sustentação das redes. Neste tema também
será abordado o projeto como rede de proteção social e traz para dis-
cussão conceitos de rede nas perspectivas de Michel Foucault (1999)
e Manuel Castells (1999), um tratando das relações de poder entre as
redes e o outro, entendendo as novas tecnologias como instrumentos
para formação de redes com objetivos comerciais. Você vai se deparar
ainda com alguns questionamentos cujas reflexões a respeito serão
desenvolvidas ao longo do texto, entre as quais destacam-se os princí-
pios de uma rede e quem são os beneficiários. Entretanto, um projeto
precisa ter uma boa definição de seu foco de atuação e que esteja em
consonância com seu contexto social; seu objetivo deve ser muito bem
definido; é imprescindível conter informações claras com definições de
papeis e responsabilidade; além de oferecer desenvolvimento e capa-
citação de seus participantes. Todas essas informações você terá aqui
a partir de agora.

132 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


1. A rede na execução de projetos

Pensar a eficiência dos projetos sociais requer considerar a existência de


uma rede para o seu desenvolvimento, que pode ser oriunda tanto de
pessoas físicas, quanto de empresas públicas, privadas ou de outras orga-
nizações. A definição dos envolvidos vai depender da complexidade dos
objetivos, da causa e do projeto em si. É preciso também entender os
tipos de redes adequadas ao projeto. Gohn (2013) destaca que a denomi-
nação de rede contempla subcategorias similares e que, dependendo do
papel que assume o projeto, as redes podem ter diversos sentidos. As re-
des, portanto, segundo a autora, podem ser de circulação, de fluxo, troca,
intercâmbio de informações, compartilhamento, intensidade, extensão,
colaboração, aprendizagem, inovações, diversidade de articulação, plura-
lismo organizacional, ação direta, institucionalidade, atuação nos campos
cultural e político, descentralização, horizontalidade organizativa, flexibili-
dade, maior agilidade, entre outras. Para firmar as parcerias de redes em
um projeto é importante formalizá-las, com todas as regras, determina-
ções, compromissos e orientações acordadas, devidamente assinalados.

Gohn (2013) entende que é preciso ter cuidado com a utilização de ter-
mos modernos que podem dar significados e entendimentos diferentes
podendo colocar em risco objetivos que podem ser relevantes em arti-
culações, processos, relações, além de outras que estejam relacionadas
ao projeto. Isso pode desconfigurar o projeto no tocante aos seus propó-
sitos, o que impacta tanto na captação de recursos, quanto na constru-
ção da rede.
Para nós, a questão é complexa e diz respeito à luta político-cultural de di-
ferentes grupos sociais, na busca de ressignificação dos conceitos e criação
de novas representações e imagens sobre a sociedade. (GOHN, 2013, p. 35).

Tal afirmativa refere-se à substituição (indevida ao seu ver) de rede da ca-


tegoria movimento social ou de ferramentas dos movimentos. Há ainda

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 133


outros, como explica a autora, que definem rede como uma construção
do campo das práticas civis, por exemplo, “sem conotações com a políti-
ca, onde a ideia de público participante substitui a de militante, ou cria o
ativista” (idem). Ela entende que a rede se caracteriza por sua articulação
heterogênea com múltiplos atores.

Ao analisar tais considerações, você poderá concluir que um projeto pre-


cisa ser bem articulado com suas esferas e necessita de apoios, já que se
trata de ações propositivas para fins sociais. É nessa perspectiva que se
pode considerar a rede. Sua contribuição se resume em inúmeras ativida-
des, como apoio institucional, divisão de trabalhos, desenvolvimento de
grupos, ganhos em experiências, além de ser expressiva na construção e
valorização da cidadania..1

ASSIMILE
Como constituir uma rede para o projeto? Participando de
ações de outros grupos, contribuindo, relacionando-se, com-
partilhando. “O trabalho em rede cria relações que se ante-
põem à cultura baseada nos vínculos de dependência e na
tradição hierárquica e clientelista ainda fortemente presen-
tes no trato dos assuntos públicos no Brasil” (RIBAS, 2015,
[s.p.])1. Pelas redes abertas pode haver compartilhamentos
dos mais variados, além de se criar uma cultura de colabora-
ção e cooperação.
As redes horizontais, multimodais, tanto na internet quanto
no espaço urbano, criam companheirismo. Essa é uma ques-
tão fundamental para o movimento, porque é pelo compa-
nheirismo que as pessoas superam o medo e descobrem a
esperança”. (CASTELLS, 2013, p. 167).

1
RIBAS, Fábio. Rede: uma ideia transformadora e uma estratégia para o desenvolvimento social. In: Parceiros
Voluntários. Porto Alegre, 7 de dez. 2015. Disponível em: <http://www.parceirosvoluntarios.org.br/rede-uma-i-
deia-transformadora-e-uma-estrategia-para-o-desenvolvimento-social/>. Acesso em: 7 dez. 2018.

134 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


2. A sociedade civil nos projetos sociais

Considerando que os projetos sociais são instrumentos de democracia,


há que se destacar a participação da sociedade civil, a qual, segundo
Arato e Cohen (2000), tem um papel que não está diretamente relacio-
nado ao controle ou conquista do poder, mas possui influência sobre
as ações democráticas e sobre à esfera pública.

2.1 Adesão livre de todos os participantes

É a reciprocidade nas relações responsável por sustentar as redes, so-


bretudo as redes primárias ou de proteção espontâneas; é preciso que
as relações sejam recíprocas, estabelecendo um sentido de pertenci-
mento. Elas se organizam e se juntam compartilhando apoio e solida-
riedade, formando uma família.
Uma forte identificação em face das necessidades de um ou mais indiví-
duos, em determinado grupo, de uma determinada comunidade, mobi-
liza a solidariedade dos demais, pautados no caráter de pertencimento
e de identificação com o outro. (SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS –
SDH –, 2010, p. 23)

Porém, para que haja efetividade nas ações de políticas públicas, é ne-
cessária a participação livre de indivíduos e sua inserção no que a SDH
denomina de microterritórios, assim como nas redes sociocomunitá-
rias relacionadas. Mas a participação está relacionada a um contexto, o
qual deve ter relação com quem poderá participar. Ou seja, as pessoas
participam de grupos cujos temas são de interesse.

Para que você possa compreender o sentido de microterritórios, come-


ce analisando o entendimento de Milton Santos (1978), quando concei-
tua os territórios. Ele explica que espaço e territórios se inter-relacio-
nam e não são imutáveis.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 135


O espaço por suas características e por seu funcionamento, pelo que ele
oferece a alguns e recusa a outros, pela seleção de localização feita entre
as atividades e entre os homens, é o resultado de uma práxis coletiva
que reproduz as relações sociais, (...) o espaço evolui pelo movimento da
sociedade total. (SANTOS, 1978, p. 171)

Daí a justificativa por ser algo que sofre mudanças. Já o microterritório


é um espaço formado a partir do uso que os agentes da esfera públi-
ca ou privada fazem dele, em períodos ou horários diferentes. Eles
podem ser praças, parques, salas, ou podem ser grupos, redes, espa-
ços virtuais, etc. Os objetos podem ser fixos, mas as relações e suas
formas não.

PARA SABER MAIS


Fluxo de trabalho

Todo projeto possui atividades desenvolvidas sequencial-


mente e que precisam ser bem organizadas por seus ges-
tores, para não se perder entre as diversas ações previstas.
O acompanhamento dos trabalhos pode ser via cronograma
e por um diagrama de rede, um recurso que mostra todo
o projeto, como estão apresentadas as atividades, compe-
tências humanas relacionadas, as interações, bem como o
tempo para a execução de cada uma delas. É uma forma,
também de mostrar transparência no projeto. O diagrama
de rede é um gráfico, contemplando todo o escopo do proje-
to, com cada atividade e seu responsável representados em
formas geográficas, que pode mostrar, inclusive, o desempe-
nho do projeto.

136 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Figura 6 | Representação de um diagrama de rede

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Fonte: <https://pixabay.com/pt/quadro-de-avisos-homem-apresenta%C3%A7%C3%A
3o-849811/>. Acesso em: 10 nov. 2018.

3. Projeto como rede de proteção social

Enquanto Castells (2003) discute as redes na perspectiva das corporações,


Foucault (1999) defende que as redes se estabelecem com a disciplina
dos grupos, imposta numa relação de poder. As corporações, segundo
Castells, se valem das novas tecnologias de informação e comunicação
(NTICs) para transferir dinheiro e comercializar produtos e serviços em
outros espaços como forma de driblar a concorrência. E aí residem as
contradições existentes na relação capital-trabalho e que impactam na
violência social, econômica e política (NETTO, 2001; ALVES, 2001; SANTOS,
2009 apud ARAGÃO, 2011). Foucault (1999) entende que disciplina é uma
tecnologia usada para aumentar a produtividade das pessoas, sem deno-
tar a submissão.
As redes sociais são um sistema aberto em permanente construção, que
se constroem individual e coletivamente. Utilizam o conjunto de relações
que possuem uma pessoa e um grupo, são fontes de reconhecimento, de

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 137


sentimento de identidade, do ser, da competência, da ação. Estão relacio-
nadas com os papéis desempenhados nas relações com outras pessoas e
grupos sociais, constituindo-se nas práticas sociais que no cotidiano não se
aproveitam em sua totalidade. (MENESES, 2007, p. 24)

Essas reflexões, sejam do lado corporativo ou do indivíduo, são importan-


tes quando se delineia um projeto que envolve rede de proteção social.
A partir das afirmativas dos autores, é preciso considerar alguns questio-
namentos: quais são os atores e os agentes? Estão voltados a que tipo
de proteção? O que objetivam? Quais os princípios? Quem, efetivamente,
será beneficiado? De qual rede o projeto fará parte? Para tais indagações,
um projeto de natureza social precisa ter: uma boa definição de seu foco
de atuação, objetivo bem definido, informações claras de papeis e res-
ponsabilidades, desenvolvimento e capacitação de seus participantes, os
quais você confere em detalhes na sequência.

LINK
Entenda melhor o funcionamento das redes de proteção so-
cial em um trabalho desenvolvido em 2010 pela Secretaria
do Desenvolvimento Humano do Ministério da Justiça. Você
pode acessar esse trabalho no link: <https://www.neca.org.
br/wp-content/uploads/Livro4.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2019.

3.1 Definição de seu foco de atuação

É preciso que o projeto esteja conectado ao contexto social, que sua


cultura organizacional seja condizente à realidade de seu público, que
possa ter poder de mobilização capaz de sensibilizar os setores res-
ponsáveis pelas políticas públicas relacionadas àquele contexto. É im-
portante ainda, que tenha por trás uma instituição, que pode ser uma
organização do terceiro setor ou de fins lucrativos, com propósitos cla-
ros e alinhados às iniciativas do projeto. Nesse sentido, as redes são

138 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


fundamentais para promover a integração entre os setores. “As redes
constituem instrumentos eficazes na mobilização de diferentes agen-
tes para ações coletivas nos espaços públicos, fortalecendo as organi-
zações por meio da troca de experiências e capacitações” (CURY, 2001
apud UNISUL, 2015, p. 19). Elas permitem ainda o acesso a informações
e conhecimentos, fatores sem os quais não se desenvolvem projetos.
Para isso, é preciso uma rede de parceiros que atuem ou que defen-
dam propósitos semelhantes, com princípios e valores alinhados. E
que tenham, segundo Stephanou (2003 apud UNISUL), três níveis de
articulação, quais sejam:

1º. Apoio e fomento: que a rede seja articulada com doadores e


financiadores, instituições religiosas, empresas, entre outras
instituições, para que se obtenha, além de recursos financeiros,
estrutura para capacitação das pessoas envolvidas no projeto.

2º. Mediações: este nível refere-se às parcerias com instituições de


formações semelhantes, que, além de recursos financeiros, pos-
sam fortalecer o projeto por seu posicionamento ideológico.

3º. Gestão local: refere-se à articulação com o público beneficiário


do projeto. Bem como com as lideranças locais, protagonistas de
outras iniciativas e que vivenciam as experiências de todos e que
possam reconhecer no projeto seu efetivo valor.

3.2 Objetivo bem definido

Antes de compreender o que seja um objetivo bem definido em um


projeto social, cabe o entendimento de objetivo ou propósito nesse
âmbito. Pode-se entender como objetivo, o que se pretende com o
projeto em se tratando de impacto paradigmático. Dessa forma, o ob-
jetivo geral deve prescindir de respostas mensuráveis com a elucida-
ção de indicadores. Os objetivos específicos devem ser sinalizações de
como se obter os resultados relacionados ao objetivo geral.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 139


EXEMPLIFICANDO
Se o objetivo geral em um projeto for promover a conscienti-
zação da comunidade para a prática de economia criativa, os
objetivos específicos explicarão como fazer para que se con-
quiste tal resultado. Então, pode-se considerar como objeti-
vos específicos, conceituar economia criativa na perspectiva
de comunidades, analisar o conhecimento da comunidade
acerca do assunto, estudar ações locais que se enquadram
no conceito de economia criativa, para citar alguns.

Para que se possa definir bem os objetivos, é importante atentar para que
não sejam apenas ações pontuais, mas que venham efetivamente a pro-
mover os resultados que se deseja. Em um projeto social, o objetivo pre-
cisa considerar melhorias na situação social, sob o olhar do beneficiário.
Precisa ter clareza no propósito de construir ações que levem a uma nova
vida da comunidade em pelo menos um de seus aspectos, que podem ser
qualidade de vida, estrutura financeira, valores sociais ou outra ação que
permita uma transformação social positiva. Nessa perspectiva de que os
projetos precisam ser guiados por seus objetivos, primeiro devem-se con-
siderar como propósitos do projeto tempo, recursos, investimentos, qua-
lidade e escopo, e depois as questões mencionadas anteriormente. “Um
bom objetivo deve ser sucinto, porém abrangente, envolvendo tanto as-
pectos do negócio quanto o que se espera do produto ou serviço do pro-
jeto” (MEI, 2015, [s.p.])2.

3.3 Informações claras de papeis e responsabilidades

A definição de papeis e responsabilidades em um projeto é estabeleci-


da a partir de seus objetivos, do produto/serviço a ser desenvolvido pelo
2
MEI, P. A importância de um objetivo bem definido para o projeto. FIXE. São Paulo, 10 de jun. 2015. Disponível
em: <http://youwilldobetter.com/2015/06/a-importancia-de-um-objetivo-bem-definido-para-o-projeto/>. Acesso em:
10 nov. 2018.

140 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


projeto, do escopo e das necessidades inerentes. Como tratam-se de ati-
vidades de pessoas, estão diretamente ligados à gestão de recursos hu-
manos. Um dos envolvidos é o patrocinador, o que torna viável o pro-
jeto, do ponto de vista financeiro. Tem o papel de porta-voz do projeto,
ajuda na sua disseminação e acompanha seus trâmites e desenvolvimen-
to. Projetos desenvolvidos em rede nem sempre tem um patrocinador.
Cada um dos atores participantes, por exemplo, numa rede de proteção
social como apresentado acima, pode obter recursos individualmente de-
pendendo de sua característica, e não especificamente para a atuação
em rede. Pode compor a rede órgãos públicos, ONGs que recebam apoio
para projetos e dentro do planejamento de cada projeto se contemple a
articulação em rede, etc. É interessante chamar atenção para que den-
tro do planejamento de cada projeto tenha-se sempre a preocupação de
avaliar se participação ou formação de redes devem, ou podem ser con-
templados. A equipe é outra parte envolvida. Responsável pelo desenvol-
vimento dos trabalhos do projeto, ela auxilia a gestão na identificação dos
requisitos, no acompanhamento do cronograma, no relacionamento com
os beneficiários e com a comunidade impactada. Também colabora na
gestão de custos e no retorno ao patrocinador. O voluntário tem o papel
de colaborar no âmbito de sua capacidade, competência, disponibilidade
e interesse. O gerente do projeto é quem vai zelar pelo controle e a qua-
lidade do projeto, além de prestar contas aos patrocinadores, voluntários
e demais envolvidos direta ou indiretamente ao projeto. Em projetos so-
ciais, ele pode dividir essa função com os demais da equipe.

3.4 Desenvolvimento e capacitação de seus participantes

O capital social e humano representa o maior ganho de uma instituição e,


da mesma forma, de um projeto. Entenda o social como a representação
de valor que a equipe, seus colaboradores e seus beneficiários represen-
tam ao projeto. Segundo Thiry-Cherques (2006, p. 39), para Bourdieu “ca-
pital social corresponde ao conjunto de acessos sociais, que compreende

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 141


o relacionamento e a rede de contatos” (1998, p. 67). Portanto, o capital
social é constituído por redes sociais e quantidade e qualidade dos re-
cursos dos envolvidos no projeto. Segundo a definição de Bourdieu, o
capital social é “o conjunto de recursos atuais e potenciais que estão liga-
dos à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucio-
nalizadas de interconhecimento e interreconhecimento [...]” (BOURDIEU,
1998, p. 67).

SITUAÇÃO-PROBLEMA

O coletivo Meio Ambiente Sustentável – MAS – (nome fictício) é um


projeto que visa trabalhar a consciência da sustentabilidade em es-
colas públicas de ensino médio da periferia de São Paulo. O proje-
to tem duração de 18 meses, iniciando no segundo semestre de um
ano, sendo concluído em três semestres. Em seu início, concentra-se
em trabalhar a formação de professores e palestras, debates e bate
papos com alunos com vistas a levar informação e conhecimento so-
bre o tema e orientar sobre práticas de sustentabilidade. Na segunda
etapa, o tema é totalmente integrado ao currículo escolar, envolven-
do todas as disciplinas do ensino médio. Além disso, os alunos têm
oficinas, apoio com orientações para a comunidade no entorno da
escola e visitas a outros projetos semelhantes. As práticas se concen-
tram primeiro no reaproveitamento do lixo da escola e na mudança
do conceito de lixo.

Em outra etapa, os familiares dos alunos são envolvidos, com o ofere-


cimento de cursos e oficinas sobre economia criativa dentro da esco-
la contemplada no projeto. Com isso, além da conscientização sobre
os resultados de práticas sustentáveis, pais, responsáveis e parentes
dos estudantes poderão aprender como cuidar do meio ambiente,

142 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


obtendo ganhos financeiros, com a comercialização de objetos pro-
duzidos a partir de produtos reaproveitados. Os alunos são os ato-
res do projeto. São eles que divulgam o projeto na comunidade, que
controlam o lixo da escola, que fazem a gestão dos produtos reapro-
veitados e que cadastram os participantes para os cursos. O trabalho
de divulgação envolve ferramentas de comunicação, como jornais, fo-
lhetos, programas de rádio, vídeo, sites, blogs e redes sociais digitais.
Todos os meses haverá um concurso para premiar a sala de aula mais
sustentável, assim como o colaborador exemplar da escola. Aquele
que terá efetuado as melhores práticas sustentáveis.

O projeto ainda não foi iniciado porque depende da captação de re-


cursos. Para que seja viabilizado, precisa de patrocínio, de voluntários
e de apoiadores. A escola já autorizou o desenvolvimento do projeto,
os professores já estão cientes, assim como os alunos. Tanto os do-
centes quanto os estudantes estão sendo orientados e recebendo al-
gumas formações de forma voluntária. Mas sua viabilização depende
de investimentos financeiros. O custo total do projeto é de R$ 90 mil.

Para trabalhar essa situação problema, cabem alguns questionamen-


tos, os quais foram estudados ao longo da disciplina.

• Qual a problemática que gerou a ideia do projeto?


• Qual o principal problema para a realização do projeto?
• Quais os maiores desafios em trabalhar o tema?
• Como trabalhar a captação de recursos?
• Quais os papeis e responsabilidades dos envolvidos na gestão
do projeto?

Reflita sobre estas questões e confira a resolução na vídeoaula!

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 143


QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Maria Gloria Gohn (2013) entende que é preciso ter cuidado com a utili-
zação de termos modernos que podem desviar dos objetivos dos movi-
mentos e desconfigurar projetos em relação aos seus propósitos, colo-
cando em risco a captação de recursos e a construção da rede. Por que a
substituição da nomenclatura antiga por uma mais recente pode impac-
tar nos objetivos da rede e consequentemente no sucesso do projeto?

4. Considerações Finais

• A eficácia dos projetos a partir da concepção de rede.

• Como construir uma rede que promova um bom desenvolvimento


do projeto.

• A participação da sociedade civil nos projetos sociais.

• As formas de adesão dos participantes.

• Orientações sobre fluxo de trabalho em projetos.

• O projeto como rede de proteção social.

• Definição do foco de atuação e sua conexão ao contexto social.

• Definição dos objetivos de um projeto.

• Papeis e responsabilidades em projetos.

• Capacitação dos participantes do projeto.

Glossário

• Esferas: em relação a projeto, refere-se à abrangência intelectual

144 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


e/ou de espaço geográfico.

• Redes horizontais multimodais: são redes sem categorização


hierárquica de vários canais, como internet, TV, rádio, etc.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 8
1. Segundo Gohn (2013), em um projeto, é preciso entender
os tipos de redes que são mais adequadas, já que elas
contemplam subcategorias que podem ser relacionadas
ao papel que assume projeto. De onde podem se originar
as redes, na visão da autora?
a) De pessoas que fazem parte de comunidades
carentes.
b) De instituições ligadas a sistemas democráticos
horizontalizados.
c) De pessoas físicas, empresas públicas, privadas ou
de outras organizações.
d) De intercâmbios de informações provenientes de
pessoas jurídicas.
e) De projetos, cujos objetivos devem ser relacionados
às novas tecnologias.

2. As relações que acontecem nas redes são de reciprocida-


de, estabelecendo um sentido de pertencimento a cada
um dos envolvidos. Como deve ser a adesão dos partici-
pantes às redes?
a) Por convite formal.
b) Participação livre.
c) Participação de acordo com o perfil.

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 145


d) Por competência.
e) Por interesse da equipe do projeto

3. As corporações, segundo Castells, se valem das novas tec-


nologias de informação e comunicação (NTICs) para trans-
ferir dinheiro e comercializar produtos e serviços em ou-
tros espaços como forma de driblar a concorrência. Quais
os atributos de um projeto de natureza social? Aponte três
itens que correspondem à resposta e assinale a alternati-
va correta.
1. Visão comercial com vistas a ganhos financeiros.

2. Uma boa definição de seu foco de atuação.

3. Objetivo bem definido.

4. Reconhecer outros projetos como concorrentes.

5. Informações claras de papeis e responsabilidades.


a) 1, 4 e 5.
b) 2, 4 e 5.
c) 1, 3 e 4.
d) 2, 3 e 5.
e) 1, 2 e 4.

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Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 147


Gabarito - Tema 8

Questão 1 - Resposta C

Pensar a eficiência dos projetos sociais requer considerar a existên-


cia de uma rede para o seu desenvolvimento, que pode ser oriunda
tanto de pessoas físicas, quanto de empresas públicas, privadas ou
de outras organizações

Questão 2 - Resposta B

Para que haja efetividade nas ações de políticas públicas, é neces-


sária a participação livre de indivíduos e sua inserção no que a SDH
denomina de microterritórios, assim como nas redes sociocomunitá-
rias relacionadas.

Questão 3 - Resposta D

Um projeto de natureza social precisa ter: uma boa definição de seu


foco de atuação, objetivo bem definido, informações claras de papeis
e responsabilidades, desenvolvimento e capacitação de seus partici-
pantes, os quais você confere em detalhes na sequência.

148 Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais


Bons estudos!

Desenvolvimento de Projetos Sociais: Planejamento, Captação de Recursos e Redes Sociais 149

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