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Tanatologia e Fetopatologia

AULA Nº 11

Dora Pinto
Tanatologia e Fetopatologia

TANATOPRAXIA
Tanatologia e Fetopatologia

TANATOPRAXIA

É o conjunto de procedimentos, técnicas e métodos utilizados


para conservar, embalsamar, higienizar, restaurar e cuidar da
aparência de um cadáver, de modo a prepará-lo para
o velório, funeral ou cerimónia fúnebre, observando os devidos
preceitos religiosos e legais.

Um dos principais objetivos é o de evitar que o cadáver entre


em decomposição natural.

Em corpos mutilados, também lhes são aplicados tratamentos


de restauro e cosmética para tentar restituir o aspecto natural,
com o objetivo de atenuar o sofrimento dos familiares. 3
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TANATOPRAXIA - História

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TANATOPRAXIA - História

Foram os egípcios quem iniciou a técnica de embalsamar os


corpos.

Eles preservavam a integridade do corpo para alcançar a vida


eterna e acreditavam que a alma nunca abandonaria o corpo
enquanto o corpo fosse mantido intacto.

Para os egípcios, o corpo e a alma, antes e depois da morte


terrena, tinham um papel central nas crenças e nas práticas
funerárias.

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Nos primeiros tempos, os Egípcios praticaram uma


mumificação "natural": os cadáveres eram envolvidos em peles
de animais e enterrados no deserto, onde a secura os
conservava.

Depois, progressivamente desenvolveram um processo de


mumificação artificial.

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Segundo o historiador grego, a técnica mais nobre que


pretendia reproduzir o embalsamamento que tinha sido feito
sobre Osíris, começava com a extração do cérebro pelas narinas
depois de se partir o osso etmóide, com a ajuda de um gancho
de ferro.

Depois, com uma faca de pedra da Etiópia fazia-se um corte na


ilharga, do lado esquerdo do corpo por onde se retiravam os
intestinos.

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As vísceras eram lavadas com substâncias aromáticas e


colocadas em Vasos Canopos, representando divindades (filhos
de Hórus), que protegiam as vísceras da destruição. Eram
quatro vasos, com tampas em forma de homem, de chacal, de
falcão e de macaco.

O coração, que devia controlar o corpo no Além, e os rins, aos


quais o acesso era difícil ou por motivos ainda não descobertos,
permaneciam dentro do morto.

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Os egípcios desenvolveram várias técnicas de embalsamamento


a maioria tinha como base retirar todos os órgãos da cavidade
abdominal, lava-la com vinho de palma e com substâncias
aromáticas e depois colocavam o cadáver mergulhado num
banho de natrão (silicato de soda e alumínio) onde permanecia
durante muitos dias.

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O sistema mais económico consistia em fazer sucessivas


lavagens intestinais antes de introduzir o corpo em nitrato de
sódio. Depois deste tratamento lavava-se e envolvia-se o
cadáver da cabeça aos pés com panos de linho perfumados que
se recobriam com goma de acácias e outras árvores. Finalizando
este processo, que podia durar quinze dias, o corpo com mais
de vinte capas de proteção era depositado num sarcófago de
madeira.

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Thomas Holmes (1817-1900) é considerado o pai da técnica


moderna de embalsamar. Ele chega a essa técnica através de
uma fixação química das células. Essa técnica elimina
potencialmente qualquer perigo patogénico, previne o odor
forte e preserva uma aparência favorável para que o cadáver
possa ser visto.

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Com ligeiras variantes, as técnicas de conservação de cadáveres


em formol têm vindo a ser utilizadas com fins científicos desde
que este foi descoberto em 1868 por August Hoffman. O
embalsamamento científico consiste basicamente em introduzir
um líquido antisséptico e conservante através de uma artéria
que se difunde pelos capilares impregnando todo o organismo.

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Atualmente, a conservação artificial dos cadáveres leva-se a


cabo com a utilização de substâncias antissépticas preparadas e
aplicadas convenientemente. Os fluidos conservadores atuais
contêm vários ingredientes nos quais se destacam soluções de
arsénio, zinco, mercúrio ou cobre e as técnicas são semelhantes
às aplicadas pelos taxidermistas.

O propósito principal é conseguir que os cadáveres possam ser


utilizados durante largos períodos de tempo como objeto de
aprendizagem nas escolas de medicina.

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O embalsamamento mais surpreendente que se conhece na


história foi efetuado no corpo de Lenine. Utilizando
procedimentos secretos, conseguiram que o corpo do ideólogo
soviético permanecesse de uma forma natural no museu da
Praça Vermelha de Moscovo sem que tenham aparecido sinais
de deterioração desde 21 de Janeiro de 1924.

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O embalsamamento ou embalsamação é uma técnica de


preservação artificial de cadáveres que tem como propósito
impedir o avanço dos fenómenos cadavéricos e/ou preparar o
corpo para um transporte (quer por via aérea, terrestre,
marítima ou fluvial) além das fronteiras do local de óbito, de
acordo com todos os regulamentos sanitários nacionais e
internacionais.

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Consiste na introdução, generalizada, de uma mistura de


líquidos conservantes (fixadores), desinfetantes, e com alto
poder germicida, no interior do cadáver. A técnica completa-se
com um conjunto de manobras estéticas ao nível do rosto,
mãos ou outras zonas visíveis do cadáver.
Este processo só pode ter início após a verificação e
confirmação da autorização, pela Autoridade Sanitária.

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Existem várias técnicas de embalsamamento sendo que, a


escolha desta bem como as substâncias conservantes, ficam ao
critério de quem a realiza.

A sua escolha deve ser realizada tendo também em atenção as


circunstâncias da morte e o estado do cadáver.
Contudo, o processo estético é comum a todas as técnicas.

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Atualmente, o embalsamamento é realizado na maior parte das


vezes a pedido dos familiares.

Contudo, pode ser requerido por imperativos legais quando o


cadáver vai ser depositado em determinados lugares (edifícios
públicos, santuários, catedrais,…)

Quando o cadáver vai ser transladado para um país estrangeiro.

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Para a concretização deste processo de conservação artificial é


necessário a existência de alguns requisitos nomeadamente:

• Conhecimento do diagnóstico e causa de morte;

• Domínio por parte do embalsamador da anatomia humana


e da ação e efeitos dos líquidos conservantes;

• Autorização da autoridade sanitária para que se possa


proceder à conservação do corpo;

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Para a concretização deste processo de conservação artificial é


necessário a existência de alguns requisitos nomeadamente:

• Preenchimento de uma ata que inclua as assinaturas da


autoridade sanitária, da autoridade policial (nos casos de
morte violenta), do médico que atestou o óbito, do
embalsamador e de um representante da família do morto.

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TANATOPRAXIA - Técnicas de embalsamamento

Antes de começar a técnica de embalsamamento realizam-se


massagens no cadáver a fim de remover a rigidez cadavérica.
Em determinadas situações, os tendões e/ou músculos não
respondem a este tratamento, devido a processos de atrofia que
sofreram em vida. Nestes casos são cortados para que o
cadáver fique na posição correta para a cerimónia fúnebre. São,
também, aplicados cremes nas mãos e na cara para manter a
pele suave e maleável.

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 Injeção de substâncias fixadoras

Esta técnica inicia-se com a colocação do cadáver em decúbito


dorsal, procede-se a injeções de substâncias fixadoras nas
artérias e nas cavidades corporais e termina com tratamentos de
natureza estética.

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 Injeção de substâncias fixadoras

1) Injeção intra-arterial

São aplicadas a artérias de grande calibre nomeadamente às


artérias carótidas, axilares ou nas femorais.

Procede-se a um corte na veia adjacente para que, à medida que


o líquido fixador entre, o sangue venoso saia. A quantidade de
líquido fixador utilizada normalmente é de aproximadamente
10 litros. No entanto, esta quantidade varia de acordo com as
características físicas do cadáver. 25
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 Injeção de substâncias fixadoras

2) Injeção nas cavidades corporais

Quanto às cavidades, insere-se um trocater no abdómen e


aspiram-se os líquidos existentes, quer nesta cavidade, quer na
cavidade torácica. Através de diversos movimentos em várias
direções, procura-se puncionar as vísceras abdominais e
torácicas. Quando se aspirar todo o líquido, injeta-se a solução
conservadora (aproximadamente 1 litro para cada cavidade).
Relativamente à cavidade craniana, injeta-se uma pequena
quantidade de líquido fixador através da cavidade nasal. 26
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 Injeção de substâncias fixadoras

2) Injeção nas cavidades corporais

Trocater 27
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 Injeção de substâncias fixadoras

3) Processo estético

Coloca-se uma capa plástica sobre os globos oculares, que


induz uma aparência firme dos olhos.

A aplicação da maquilhagem e o arranjo do cabelo são


realizados com base em fotos recentes do defunto.

Caso existam zonas mutiladas visíveis no cadáver, estas são


recriadas com cera e maquilhagem. 28
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 Parafinização

Método adaptado e aperfeiçoado pelo professor Pedro Ara que


é em tudo semelhante ao processamento histológico:

1. Desidratação do cadáver em banhos sucessivos e cada vez


mais concentrados de álcool.

2. Submersão do cadáver em substâncias capazes de dissolver


lípidos, como o xilol, e depois em parafina.

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 Parafinização

3. Seguidamente retira-se o cadáver do banho e elimina-se o


excesso de parafina.

4. Por último, realizam-se todas e quaisquer medidas estéticas


necessárias. Verifica-se uma expressão fisionómica
perfeitamente conservada, que torna o especto do cadáver
mais real relativamente aos métodos de injeções intra-
arteriais.

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 Parafinização

Este foi o processo de embalsamamento do cadáver de Eva


Perón.

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 Plastificação ou plastinação

Em 1997, Gunther Von Hagens desenvolveu uma técnica de


embalsamamento que consiste na injeção de uma solução
conservante, como o formol, no cadáver, seguida da sua
submersão em acetona a -25ºC (a acetona funciona como meio
de substituição da água) que ocorre durante a desidratação dos
tecidos.

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 Plastificação ou plastinação

Após estes passos, introduz-se o cadáver em banhos de


acetona, à temperatura ambiente, de forma a eliminar a gordura
solúvel.

No final, impregnam-se resinas elásticas de silicone, para dar ao


corpo um aspeto relativamente maleável e flexível, ou resinas
epóxis, para este adquirir um aspeto duro e transparente.

Uma temperatura excessivamente baixa causa a precipitação dos


sais contidos nos líquidos endotérmicos. 33
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 Plastificação ou plastinação

Os cadáveres uma vez tratados devem seguir certos cuidados


para conservar a sua utilidade na ciência e na investigação pelo
que devem renovar-se com um agente humidificador composto
por uma solução de propilenoglicol, ácido fénico e álcool
isopropílico em água com o objetivo de ser conservada a
flexibilidade dos tecidos e impedir a sua destruição profunda.

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 Soluções conservadoras

Um dos processos mais utilizados para proceder ao


embalsamamento consiste em introduzir nos vasos do cadáver
em formol a 10%, com uma quantidade suficiente para
abranger todas as estruturas que o compõem.
Este processo foi concebido pelo Instituto Anatómico de
Waldeyer, em Berlim. Contudo, apresenta alguns
inconvenientes, o que levou a idealização de muitas outras
soluções para o mesmo fim.

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 Soluções conservadoras

Para obter tais soluções conservadoras foram desenvolvidos


diversos processos:

• Processo espanhol
• Processo de Pais Leme
• Processo de Laskowski
• Processo de Tannerde Abreu
• Processo de Franchina
• Processo do Instituto de Medicina Legal do Rio de
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Existem assim muitas e variadas formas para proceder ao


embalsamamento, contudo quase todas elas se baseiam nos
mesmos componentes que se podem classificar em:

• Substâncias conservantes: Formol


• Substâncias antisséticas: Etanol
• Substâncias tensioativas (diminuem a resistência à
progressão dos líquidos): Glicerina
• Substâncias que impedem a hemólise: Compostos fenólicos
e sais inorgânicos (Cloreto de cálcio, nitratos e bórax)
• Substâncias que dão aspeto de vida: colchicina
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VANTAGENS

Para a Medicina Legal é uma preciosa ajuda no que respeita à


conservação morfológica e estrutural do cadáver.
Visto esta técnica impedir a decomposição do cadáver, é
possível proceder à identificação e estudo do cadáver, bem
como ao diagnóstico da causa de morte (caso esta não tenha
ocorrido por causas violentas) por um período de tempo mais
alargado.
Os cadáveres convenientemente tratados são úteis por mais de
cinco anos.
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DESVANTAGENS

As substâncias conservadoras impedem os fenómenos


cadavéricos e os processos transformativos do cadáver, o que
torna impossível determinar a data da morte.

Determinados elementos que podem servir para diagnóstico


médico-legal são perdidos ao longo da técnica.

É impossível demonstrar morte por embolia gasosa.

É impossível realizar exames hematológicos. 39


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DESVANTAGENS

Cria grandes dificuldades nos exames toxicológicos.


Os líquidos fixadores interferem na análise química de alguns
componentes como por exemplo, o etanol, opiáceos e
monóxido de carbono.

Existem algumas substâncias que podem ser analisadas após o


embalsamamento, no entanto os seus valores podem não ser
reais devido à sua diluição após a introdução do agente fixador
(em algumas situações a análise dos fluidos biológicos mais
protegidos, como o humor vítreo e o LCR, podem dar uma 40
estimativa bastante boa).
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DESVANTAGENS

Componentes metálicos e os metaloides (como por exemplo o


arsénico) poderão ser recolhidos de um corpo embalsamado
após muitos anos desta prática. No entanto a sua concentração
atual pode não corresponder à da altura da morte, já que pode
ter ocorrido contaminação pelo solo.

Durante o processo de embalsamamento, o humor vítreo pode


ser contaminado mas isso parece não interferir na análise de
etanol ou de outras substâncias.
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