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Acidentes na Infância

Importância

● Causa frequente de morbidade e mortalidade;

● Situações previsíveis e totalmente evitáveis, mas frequentemente pouco valorizadas


pela família;

● Epidemiologia bem conhecida;

● Prevenção na maioria das vezes simples e barata;

RN e lactentes jovens

● Características — fragilidade física; curiosidade e inconsequência;

● Principais acidentes — quedas, asfixia e sufocamento, queimadura térmica,


intoxicações;

Pré-escolares e escolares

● Características — influenciáveis; com habilidades motoras abaixo do julgamento


crítico;

● Principais acidentes — quedas, acidentes de trânsito, intoxicações e queimaduras;

Profilaxia de Quedas

● Recém-nascidos e lactentes jovens:

○ Não permitir a permanência no colo de outras crianças;

○ Não colocar o bebê na cama ou sofá, somente no berço;

○ Separar o material para troca de fraldas antes de colocar o bebê no trocador;

○ Usar carrinhos adequados e sempre com o cinto afivelado;

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○ Não dormir com o bebê no colo;

● Crianças mais velhas:

○ Preparar a casa para a presença de uma criança — remover tapetes e móveis


desnecessários;

○ Sempre deve haver um adulto no mesmo ambiente que a criança;

○ Instalar portões nas escadas;

○ Instalar redes de segurança nas janelas;

○ Contraindicar andadores — aumentam o risco de quedas e atrapalha o


desenvolvimento da marcha (pois a criança tem que andar nas pontas dos
pés) precocemente;

Prevenção da Sufocação

● Recém-nascidos e lactentes jovens:

○ Dormir na posição adequada;

○ Impedir acesso a objetos pequenos ou brinquedos desmontáveis;

○ Ajuste adequado do colchão ao berço do bebê;

○ Prender o lençol e o cobertor e evitar excesso de almofadas e brinquedos no


berço;

○ Não fumar dentro de casa;

○ Não colocar o bebê para dormir com os pais na cama ou sofá;

○ Manter o berço próximo da cama dos pais nos primeiros meses de vida;

○ Evitar excesso de roupas;

○ Observar as técnicas corretas de amamentação ou oferecimento de


mamadeiras;

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○ Cuidado com roupas e acessórios com strass;

Prevenção de Intoxicações

● Recém-nascidos e lactentes jovens:

○ Não colocar naftalina nas roupas do bebê;

○ Não automedicar o bebê;

○ Sempre checar o rótulo do medicamento, a validade e a posologia de acordo


com a receita médica;

○ Não trocar medicamento de frasco;

○ Não medicar no escuro;

● Crianças maiores:

○ Uso de tampa de segurança em medicamentos, que devem ser guardados e


trancados fora do alcance;

○ Não dizer que o medicamento é doce ou bala!

○ Impedir acesso à lavanderia e aos produtos de limpeza;

○ Não trocar a embalagem de produtos;

Prevenção de Queimaduras

● Recém-nascidos e lactentes jovens:

○ Não se alimentar ou preparar alimentos com o bebê no colo;

○ Verificar a temperatura do que será oferecido ao bebê;

○ Testar a temperatura da água do banho;

○ Não expor excessivamente ao sol;

○ Não deixar o carrinho do bebê na cozinha;

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● Crianças mais velhas:

○ Impedir o acesso à cozinha;

○ Deixar as panelas com o cabo para dentro;

○ Evitar toalhas compridas nas mesas;

○ Evitar toalhas compridas nas mesas que a criança possa puxar;

○ Verificar a temperatura dos alimentos a serem oferecidos;

○ Impedir o acesso a churrasqueiras, fogueiras, fogos de artifícios;

Queimaduras elétricas

● Todas as idades:

○ Evitar uso de extensões ou ligações elétricas clandestinas;

○ Cobrir as tomadas com dispositivos de segurança;

○ Não permitir que a criança manipule a ligação de aparelhos eletrônicos;

○ Soltar pipa em locais adequados;

Afogamentos

● Todas as idades:

○ Não deixar o bebê sozinho na banheira e enchê-la sempre pouco;

○ Não deixar baldes e bacias com água ao acesso da criança;

○ Ensinar a criança a nadar com aulas com profissional;

○ Impedir o acesso a piscinas grandes;

○ Uso de coletes e boias;

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● OBS — não confiar em boias ou outros dispositivos de flutuação que não sejam
coletes salva-vidas. Os coletes salva-vidas colocam o indivíduo numa posição onde a
cabeça e o rosto ficam fora da água;

Prevenção dos Acidentes de Trânsito

● Todas as idades:

○ Observar o uso correto de cadeirinhas e cinto de segurança;

○ Ensinar regras básicas para pedestres;

○ Uso de capacete, joelheiras, cotoveleiras para ciclistas e uso de patins;

● Bebê conforto — crianças até um ano de idade ou crianças com peso de até 13 kg;

● Cadeirinha — crianças entre 1 a 4 anos ou com peso entre 9 a 18 kg;

● Elevação de assento — entre 4 e 7 anos ou crianças com até 1,45 m e 13 a 17 kg;

● Cinto de segurança somente — criança com idade superior a sete anos de idade ou
com altura superior a 1,45 m. A partir de 10 anos, já pode assentar-se no banco da
frente;

● Motocicletas — idade mínima de dez anos, que consiga encostar na pedaleira, tenha
condição de garantir a sua segurança (segurar em quem esteja na frente) e com
capacete;

Acidentes com animais peçonhentos

● Todas as idades:

○ Cobras, aranhas, escorpiões, lagartas, abelhas e vespas;

○ Tanto em ambiente rural quanto urbano;

○ Evitar andar em locais com mato, entulho, olhar dentro dos sapatos antes de
calçar, evitar ir para locais abertos com perfumes doces ou com bebidas
açucaradas;

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○ Tratamento de referência;

● Escorpiões — Tityus serrulatus;

○ Os acidentes por escorpiões são, atualmente, o de maior prevalência no


meio urbano, sendo difícil o controle ambiental das populações desses
animais;

○ Quadro clínico:

■ A maioria dos casos tem curso benigno, porém, a faixa pediátrica


representa o grupo de maior risco para manifestações clínicas de
maior gravidade;

■ O veneno age nos canais de sódio produzindo despolarização e


liberação de catecolaminas e acetilcolina;

■ A dor local é um sintoma constante, e outras manifestações clínicas


podem ocorrer, definindo a gravidade e necessidade de soroterapia;

○ Locais de risco — margens de rios, córregos, riachos, galerias de água,


esgotos, barrancos, cupinzeiros, troncos de árvore. Nas áreas rurais, a
preparação do solo para plantio pode promover o desalojamento de
escorpiões de seu hábitat natural;

○ Medidas de prevenção — em prédios, é preciso atenção nas áreas comuns;


fosso de elevador, caixas de gordura, pontos de energia, lixeiras; colocar
telas nos ralos das pias ou tanques, rebocar paredes para que não
apresentam rachaduras ou frestas, vedar soleiras de portas com rolos de
areia ou rodos de borracha, consertar rodapés altos, colocar telas nas
janelas;

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● Serpentes:

○ Os acidentes ofídicos são importantes devido à sua frequência e gravidade;

○ O gênero Bothrops é responsável por 75% dos casos, seguido pelo gênero
Crotalus com 10%. Acidentes pelos gêneros Lachesis (surucucu) e Micrurus
(coral) são raros;

○ A jararaca (Bothrops) habita zonas rurais e periféricas de grandes cidades;

■ O veneno tem ação proteolítica (edema local, bolhas e necrose),


coagulante (coagulopatia de consumo, principalmente fator X e
protrombina, semelhante à coagulação intravascular disseminada) e
hemorrágica (hemorragias alterando a membrana basal e função das
plaquetas);

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■ Além da soroterapia, o tratamento visa manter boa hidratação,
vigilância e intervenção precoces para infecções (antibioticoterapia),
necrose (debridamento) e síndrome compartimental (fasciotomia);

○ A cascavel possui um guizo na causa, sendo encontrada em campos abertos,


áreas secas, arenosas e pedregosas;

■ O veneno da cascavel tem atividade neurotóxica (paralisia


musculares), miotóxica (risco de rabdomiólise) e anticoagulante
(incoagulabilidade sanguínea, porém sem alterações das plaquetas e
com rara manifestação hemorrágica);

■ Além da soroterapia, o tratamento deve manter boa hidratação e


diurese adequada (1 a 2 mL/kg/h); manitol ou furosemida podem ser
indicados para tanto. Alcalinização da urina pode ser considerada;

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○ Medidas de prevenção — limpeza ao redor das residências, eliminando
acúmulo de lixo ou de folhagens secas (pois evitam roedores); usar bota de
borracha (até o joelho) ou botinas com perneiras ao andar no campo ou
mata; usar graveto, enxada o gancho ao mexer em lenha, buracos, folhas
secas e troncos ocos;

● Aranhas:

○ 3 gêneros de aranhas de importância médica; Phoneutria, Loxosceles e


Latrodectus;

○ Os acidentes causados por Lycosa (aranha de jardim) são frequentes, e pelas


caranguejeiras - muito temidas - não têm importância clínica;

○ Armadeiras - Phoneutria:

■ As armadeiras não constroem teia geométrica, sendo animais


errantes que caçam principalmente à noite. Agressiva, ergue-se
apoiada nas patas traseiras para morder;

■ O tratamento deve ser de acordo com as manifestações clínicas;

■ O principal sintoma é a dor. O tratamento é sintomático com


adequado controle da dor, que pode ser feito com bloqueio troncular
ou analgesia sistêmica;

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○ Aranhas-marrons - Loxosceles;

■ As aranhas-marrons constroem teias irregulares ao abrigo da luz


direta. Não são aranhas agressivas, mordendo apenas quando
comprimidas contra o corpo, geralmente, ao se refugiarem em
vestimentas;

■ A picada é quase sempre indolor e imperceptível;

■ O quadro clínico decorrente do envenenamento é geralmente na


chamada forma cutânea de instalação lenta e progressiva, dividida
em 3 fases (lesão):

● Incaracterística — bolha de conteúdo seroso, edema, calor e


rubor, com ou sem dor em queimação;

● Sugestiva — enduração, bolha, equimoses e dor em


queimação;

● Característica — dor em queimação, lesões hemorrágicas


focais mescladas com áreas pálidas de isquemia (placa
marmórea) e necrose. Geralmente o diagnóstico é feito nesta
oportunidade;

■ A forma cutâneo-visceral (hemolítica) é muito rara e inclui


manifestações sistêmicas precoces com hemólise intravascular,
anemia, icterícia, hemoglobinúria e coagulação intravascular
disseminada;

○ Latrodectus:

■ Viúvas-negras. Apenas as fêmeas causam acidentes significativos.


Com abdome globular de desenho característico no ventre em forma
de ampulheta;

■ Casos graves podem cursar com alterações hematológicas


(leucocitose, linfopenia, eosinopenia), bioquímicas (hiperglicemia,

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hiperfosfatemia), do sedimento urinário (albuminúria, hematúria,
leucocitúria e cilindrúria) e eletrocardiográficas (arritmias cardíacas);

■ Nos casos de maior gravidade, além de analgesia e soroterapia,


também podem ser usados diazepam, gluconato de cálcio e
clorpromazina;

○ Medidas de prevenção — usar luvas de raspa de couro ou mangas de


proteção nas atividades de jardinagem; usar graveto, enxada ou gancho ao
mexer em lenha, buracos, folhas secas e troncos ocos; evitar folhagens
densas junto às paredes e muros de casas; manter a grama aparada e
jardins e quintais limpos;

● Lonomia e outras lagartas:

○ Lonomia obliqua encontrada predominantemente na região Sul, SP e MG; e


L. achelous identificada no PA, AP e MA. É o único grupo responsável por
manifestações sistêmicas, caracterizadas por sangramentos;

● Abelhas, vespas e formigas:

○ As abelhas africanas e seus híbridos com as abelhas europeias são


responsáveis pela formação das chamadas abelhas africanizadas, que, hoje,
dominam toda a América;

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○ Abelhas:

■ O veneno de A. mellifera: enzimas hialuronidases e fosfolipases,


peptídeos ativos como melitina e apamina, aminas como histamina e
serotonina entre outros;

● A fosfolipase A2 (o principal alérgeno) e a melitina


representam aproximadamente 75% dos constituintes
químicos do veneno. São agentes bloqueadores
neuromusculares, podendo provocar paralisia respiratória;
possuem poderosa ação destrutiva sobre membranas
biológicas, por exemplo sobre as hemácias, produzindo
hemólise;

● A apamina representa cerca de 2% do veneno total e se


comporta como neurotoxina de ação motora;

● O cardiopeptídeo, não tóxico, tem ação semelhante às drogas


𝛽 adrenérgicas e demonstra propriedades antiarrítmicas;

■ Quadro clínico — manifestações alérgicas (mesmo com uma única


picada) e tóxicas (múltiplas picadas);

■ Manifestação local — após uma ferroada, há dor aguda local, que


tende a desaparecer espontaneamente em poucos minutos, deixando
vermelhidão, prurido e edema por várias horas;

■ Manifestações regionais — além do eritema e do prurido, o edema


flogístico evolui para enduração local que aumenta de tamanho nas
primeiras 24 a 48 horas, diminuindo gradativamente nos dias
subsequentes. podem ser tão exuberantes a ponto de limitarem a
motilidade do membro;

■ Manifestações sistêmicas — manifestações clássicas de anafilaxia;

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■ Manifestações tóxicas — nos acidentes provocados por ataque
múltiplo de abelhas (enxames), desenvolve-se um quadro tóxico
generalizado denominado de síndrome do envenenamento, por
causa da quantidade de veneno inoculada. Além das manifestações
descritas, há dados indicativos de hemólise intravascular e
rabdomiólise. Alterações neurológicas como torpor e coma,
hipotensão arterial, oligúria/anúria e insuficiência renal aguda podem
ocorrer.

Síndrome da Morte Súbita do Lactente

● Definição — morte súbita e inesperada, durante o sono, de uma criança com menos
de 1 ano de idade, em que história, exame físico, necropsia e exame do local não
apontam para uma causa específica;

● Epidemiologia — maior risco entre 2 e 5 meses. Principal causa de morte de


lactentes em países desenvolvidos;

● Fatores de risco:

○ Mãe jovem, multípara, curto intervalo entre gestações;

○ Ausência de pré-natal;

○ Prematuridade, baixo peso;

○ Irmão que morreu SMSL, baixo nível socioeconômico;

○ Dormir em posição prona;

Fisiopatologia

● Possíveis teorias:

○ Alteração no despertar do bebê;

○ Distúrbio da regulação autonômica que altere a frequência cardíaca ou sua


variabilidade;

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○ Controle autonômico da temperatura;

○ Distúrbios do padrão respiratório associados à obstrução de vias aéreas


superior;

● Evitar camas compartilhadas;

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Adolescência e Puberdade

Definições

● Puberdade — modificações biológicas que transformam o corpo infantil em adulto:


crescimento físico, maturação sexual, desenvolvimento da capacidade reprodutora,
mudanças na composição corporal;

○ Duração de 2 a 4 anos;

○ Início:

■ Meninas — dos 8 aos 12 anos. Há aumento das mamas, seguido de


surgimentos de pelos pubianos e menarca;

■ Meninos — dos 9 aos 14 anos. Há aumento do volume testicular (4


mL), seguido por surgimento de pelos pubianos, pelos faciais e por
fim a mudança do timbre da voz;

○ Término — caracteres sexuais secundários semelhantes ao do adulto e


estabelecimento da capacidade reprodutora (menarca e espermarca);

● Adolescência — período que abrange a puberdade, marcado não somente pelas


transformações físicas, mas também por componentes sociais e psicológicos, com
influência social;

○ Para a OMS e o MS — dos 10 aos 19 anos de vida;

○ ECA — dos 12 aos 18 anos;

Estadiamento Puberal

● Escala ou Estadiamento de Tanner;

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Meninas

● Mamas:

○ I — pré-puberal: ausência de glândula mamária;

○ II — broto mamário palpável abaixo da aréola;

○ III — tecido mamário se estende além da aréola e torna-se protuberante;

○ IV — aréola e mamilo formam um relevo;

○ V — mama adulta;

● Pelos:

○ I — ausência de pelos ou pelos finos (pré-puberal);

○ II — surgem pêlos mais escuros na parte anterior da vulva, ainda lisos e mais
finos;

○ III — mais grossos e encaracolados, em grandes lábios;

○ IV — crescimento em direção ao abdômen;

○ V — padrão adulto;

Menino

● Genitália:

○ I — pré-puberal: testículo de volume menor que 4 mL ou 2,5 cm no maior


eixo;

○ II — crescimento do testículo e do escroto, mudança da textura da pele;

○ III — crescimento em comprimento do pênis;

○ IV — crescimento em circunferência do pênis;

○ V — genitália do adulto

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● Pelos:

○ I — ausência de pelos ou pelos finos;

○ II — surgem pelos mais escuros na base do pênis, ainda lisos e mais finos;

○ III — mais grossos e encaracolados;

○ IV — início da distribuição mais ampla dos pelos;

○ V — padrão adulto;

Crescimento

● Crescimento esquelético — 50% do peso e 20% da estatura;

● Estirão puberal — fase de crescimento acelerado e não uniforme;

● Alteração da composição corporal:

○ Meninas — deposição de gordura na pelve;

○ Meninos — aumento da largura e da distância biacromial;

● Crescimento dos sistemas cardiocirculatórios, pulmonares e excretores;

● Avaliação do fechamento das epífises — a abertura das epífises dos ossos longos
indica que os ossos ainda crescerão;

● Avaliação da idade óssea — os ossos do punho alteram-se muito ao longo dos


primeiros anos da vida. Comparação de radiografia de mão e punho com os
padrões do Atlas de Greulich e Pyle;

Adolescentes

Síndrome do Adolescente Normal

● Busca pela identidade do ser adulto e de si mesmo;

● Necessidade de fantasiar e crescer intelectualmente;

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● Separação progressiva dos pais;

● Tendência a viver em grupos;

● Contradições nas manifestações de conduta rapidamente e alternativamente;

● Crises religiosas com tendência a adotar a religião diferente da família;

● Atitude reivindicatória na escola, em casa ou em qualquer meio de convívio;

● Alternância de humor;

● Sono exagerado;

● Evolução sexual;

Agravos à saúde do adolescente

● Obesidade;

● Transtornos alimentares;

● Carências nutricionais;

● Dismenorreia e irregularidade menstrual;

● Gravidez não planejada;

● ISTs;

● Acne;

● Piercings e tatuagens;

● Ginecomastia;

● Violência;

● Álcool e drogas;

● Depressão e outros transtornos e agravos à saúde mental;

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A consulta do adolescente

● O adolescente pode ser atendido sem os pais e participar das decisões quanto a
procedimentos e tratamento;

● É vedado ao médico: Art. 103 — Revelar segredo profissional referente a paciente


menor de idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor
tenha capacidade de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus próprios meios
para solucioná-los, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao
paciente;

○ Quebra de sigilo — Gravidez e HIV;

● Comunicação às autoridades em casos de suspeita de violência ou envolvimento em


crimes;

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Abordagem da Febre em Pediatria

Caso Clínico

Criança, 4 anos, chega à UPA com relato de febre de 38ºC, iniciada hoje pela manhã. A
mãe nega contato da criança com pessoas doentes. Nega alergias. Nega outros sintomas
como tosse, coriza, vômitos e diarreia;

Exame Físico:
● Peso de 17 kg e Temperatura axilar de 37,8ºC;
● Bom estado geral, ativa, corada, hidratada, acianótica, anictérica, lúcida;
● Sem sinais meníngeos;
● ACV: RCR2T, BNC, FC 110 bpm;
● AR: eupneica, ausência de ruídos adventícios. SpO2 de 98% aa.;
● Abdômen: plano, indolor, sem visceromegalias, RHA presentes;
● Períneo: sem alterações;
● Pele e linfonodos: sem manchas e sem adenomegalias palpáveis;
● Orofaringe: hiperemia de amígdala sem hipertrofia e sem exsudato ou placas;
● Otoscopia: reflexo luminoso normal, sem abaulamentos ou hiperemia,
bilateralmente;

Considerar: criança com 4 anos, quadro inicial, febre BAIXA, há menos de 12 horas, sem
sinais de toxemia. Criança > 36 meses de idade;
Diagnóstico: Febre sem sinais localizatórios (FSSL)

Conduta: antitérmico, hidratação e retorno se não melhorar em 72h ou se piora clínica.

Introdução

● Febre é um sintoma comum em Pediatria;


● 20 a 30% das consultas pediátricas apresentam febre como sintoma principal;
● A maioria é autolimitada, sendo que 14 a 40% não apresentarão foco identificado;
● É necessário avaliar critérios de gravidade — infecções com risco de disseminação,
neoplasias e doenças inflamatórias;
● Na maioria dos casos está relacionada a uma infecção viral autolimitada, que não
necessita de tratamento específico;

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● Algumas crianças apresentarão infecção bacteriana grave oculta, cujo atraso no
diagnóstico poderá permitir a progressão da doença
● Aumento da cobertura vacinal desencadeia menor preocupação com infecção
bacteriana atualmente:
○ Haemophilus influenzae B;
○ Pneumococo;
● A maioria dos episódios são provocados por vírus:
○ Herpes vírus humano 6;
○ Enterovírus;
○ Adenovírus;
○ Influenza;
○ Vírus sincicial respiratório;
○ Sars-Cov-2;

Fisiopatologia

● Complexa reação orgânica a agressões geralmente externas — pirógenos


exógenos — que são agentes capazes de causar a febre. Podem ser infecciosos ou
não;
○ Infecciosos: vírus, fungos, febres e toxinas;
○ Não infecciosos: imunocomplexos, antígenos resultantes da destruição
celular (DAMPs), reabsorção de hematomas, necrose tumoral, cicatrização
tissular;

Conceitos de Febre

● Conceito teórico de febre é aquele da temperatura retal maior ou igual a 37,8 ºC;
● Valores mais utilizados são:
○ Temperatura axilar acima de 37,3 ºC;
○ Temperatura oral acima de 38 ºC;
○ Temperatura auricular acima de 38 ºC;
● Classificação:
○ Febre baixa até 38,4 ºC;
○ Febre moderada de 38,5 a 39,4 ºC;

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○ Febre alta acima de 39,5 ºC;
■ Febres acima de 39 ºC podem decorrer de bacteremia;
■ Por volta de 42 ºC, há dano neurológico;
● É importante ressaltar que a temperatura corporal não se mantém constante no
decorrer do dia, pelo ritmo circadiano. Os menores valores de temperatura são
observados de madrugada, enquanto que os mais elevados são observados ao fim
da tarde. Em adultos, essa amplitude é de 0,5 ºC, mas em lactentes tolera-se 1ºC;
● Recém-nascidos, principalmente prematuros, podem não apresentar febre mesmo
em vigência de infecção;
○ Prematuros com infecção, observa-se ocorrência de hipotermia;
■ Pode ser consequência da vascoconstricção e pouco tecido celular
subcutâneo e à tomada da temperatura corporal periférica (axilar), e
não à imaturidade oral ou enzimática;
○ Desnutridos graves também podem não apresentar febre quando
infectadas. Possivelmente, o mecanismo envolvido é a diminuição da sua
capacidade de síntese proteica de interleucinas;

Avaliação da Criança Febril

● Anamnese detalhada e exame físico;


● Presença ou ausência de sintomas e sinais que possam ser utilizados para prever o
grau de risco;
● FC
○ < 12 meses — maior ou igual a 160 bpm
○ 12 a 24 meses — maior ou igual a 150 bpm
○ 2 a 5 anos — maior ou igual a 140 bpm;
● FR
○ > 50 irpm (6 a 12 meses)
○ > 40 irpm — para os maiores de 12 meses
○ Taxa de saturação de O2 inferior a 95%
● Tempo de enchimento capilar — alerta se superior a 3 segundos;
● Grau de hidratação: avaliação de mucosas e turgor da pele;
● Avaliação da atividade da criança e da resposta aos estímulos;

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● Quadro clínico — extremidades frias, ausência de sudorese e sensação de frio;

Hipertermia

● Elevação da temperatura corporal decorrente da dificuldade de perder calor ou


pela produção exagerada de calor;
● O quadro clínico reflete a necessidade de aumentar as perdas, ocorrendo
vasodilatação periférica — extremidades quentes, sudorese quente, sensação de
calor e ausência de tremores;

Febre Hipertermia

Elevação da temperatura Elevação da temperatura


corporal em resposta a corporal em decorrência da
Definição uma variedade de dificuldade de perder
estímulos, mediada e calor (excesso de roupa,
controlada pelo centro ambiente aquecido) ou pela
termorregulador no bulbo produção exagerada de
calor (exercícios intensos)

Extremidades frias, Reflete a necessidade de


ausência de sudorese, aumentar as perdas,
sensação de frio e ocorrendo vasodilatação
Quadro Clínico eventualmente tremores. periférica: extremidades
Taquicardia e taquipneia quentes, sudorese
intensa, sensação de calor
e ausência de tremores

Manejo da Febre

● Cuidados — roupas leves, ambientes ventilados, aumento da oferta de líquidos,


banho morno prolongado, compressas mornas (se temperatura superior a 40 ºC);
● Medicamentos:
○ Antitérmicos — dipirona, paracetamol, ibuprofeno. Ácido acetilsalicílico é
contraindicado em infecções virais e pelo risco de Síndrome de Reye;

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Dipirona

● Dose de 10 a 20 mg/kg/dose a cada 6/6h;


● Regra prática — 0,8 gota/kg = 20 mg/kg/dose → escolar
○ 0,6 gota/kg = 15 mg/kg/dose → bebê;
● Dose máxima diária é de 80 mg/kg;
● Apresentações:
○ Gotas — 500 mg/mL → 1 gota corresponde a 25 mg;
○ Solução oral — 50 mg/mL;
○ Comprimido de 500 mg e 1g;
○ Ampola de 2 e 5 mL → 1 mL = 500 mg;
○ Supositório de 300 mg;
● Efeitos colaterais — gástricos, aplasia de medula (raro), hipersensibilidade renal,
erupção cutânea;

Paracetamol

● Dose de 10 a 15 mg/kg/dose de 6/6h;


● Dose máxima diária de 90 mg/kg;
● Apresentações:
○ Gotas — 100 mg/mL e 200 mg/mL (1 gota/kg);
■ Máximo de 35 gotas (até 11 anos) e 55 gotas (adultos);
○ Solução oral: bebê (100 mg/mL) e criança (32 mg/mL);
○ Comprimido de 500 mg e 750 mg;
● Regra prática — 1 gota/kg para Paracetamol 100 mg/mL;
● Efeitos colaterais — gástricos, alterações plaquetárias, edema, exantema e
broncoespasmo;

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Ibuprofeno

● Dose de 10 a 15 mg/kg/dose a cada 6 horas;


● Dose máxima diária de 100 mg/kg;
● Apresentações:
○ Gotas — 100 mg/mL (10 mL por gota) e 50 mg/mL (5 mL por gota);
○ Comprimidos de 200 mg, 300 mg e 600 mg;
● Efeitos colaterais — gástricos, alterações plaquetárias, edema, exantema e
broncoespasmo;

AAS

● Contraindicado em doenças virais;


● Dose de 10 a 15 mg/kg/dose a cada 6 horas;
● Dose máxima diária de 100 mg/kg;
● Apresentações:
○ Comprimidos de 100 mg e 500 mg;
● Deve-se orientar uma droga antipirética por vez;

Após o Antitérmico

● Início de ação inferior a 1 hora;


● Redução da temperatura em 1 a 2 ºC;
● Duração do efeito:
○ Paracetamol e Dipirona: 4 a 6 horas;
○ Ibuprofeno e AAS: até 8 horas;
● Idade mínima para uso:
○ Paracetamol — não possui;
○ Dipirona — 3 meses de vida;
○ Ibuprofeno e AAS — 6 mese de vida;

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Orientações gerais sobre a febre

● Os responsáveis devem ser orientados sobre febre desde a maternidade;


● A febre é uma resposta a um estímulo, é um sinal!
● O estado geral da criança é sempre mais importante;
● Não associar antitérmicos diferentes ou alterná-los;

Manejo da Febre sem Sinais de Localização

● Febre sem sinais de localização (FSSL):


○ Febre com menos de 7 dias de duração em uma criança em que a história
clínica, e o exame físico não revela a causa;
● Na maioria das vezes, a causa é uma doença infecciosa aguda autolimitada —
pródromo de OMA, ou outras infecções;
● Poucas crianças evoluirão para infecção bacteriana grave ou potencialmente grave.
Caso ocorra, suspeitar de bacteremia oculta, meningite aguda, artrite séptica,
pneumonia, infecção urinária, osteomielite, celulite. Atentar para o risco de
disseminação, sepse e choque séptico;
● Bacteremia — hemocultura em uma criança febril, sem infecção localizada, num
bom estado geral e que apresenta pouco ou nenhum achado clínico;
○ Podem ter evolução espontânea;
○ Podem evoluir para quadros graves, tais como meningite, pneumonia, artrite
séptica, osteomielite e sepse;
● Febre de origem indeterminada — quadro de febre documentada por um
profissional de saúde, maior ou igual a 8 dias, cuja causa não foi definida após
avaliação clínica e laboratorial inicial;

Menores de 36 meses com FSSL

● Maior risco para uma infecção bacteriana oculta;


● Três subgrupos:
○ Recém nascidos;
○ Crianças com idade entre 30 e 90 dias (três meses);
○ Crianças com idade entre 3 a 36 meses;

26
● Qualquer criança com febre sem sinais de localização com idade abaixo de 36
meses que tenha aspecto toxêmico deve ser internada, submetida à realização de
exames e coleta de culturas (sangue e urina) e receber antibioticoterapia parenteral
empírica;
● Avaliar critérios clínicos e laboratoriais de gravidade;
○ Critérios de Rochester — avaliação de risco em crianças febris com menos
de 60 dias:
■ Critérios de baixo risco para infecção bacteriana grave
■ Critérios clínicos
● Previamente saudável;
● Nascido a termo e sem complicações durante hospitalização
no berçário;
● Sem doença crônica;
■ Critérios laboratoriais
● Contagem de leucócitos entre 5 e 15.000/mm³;
● Contagem absoluta de bastonetes inferior a 1.500/mm³;
● Microscopia de sedimento urinário com contagem inferior ou
igual a 10 leucócitos/campo;
● Microscopia de fezes com contagem inferior ou igual a 5
leucócitos/campo nas crianças com diarreia;
■ Conduta:
● Se alto risco, internar e iniciar antibioticoterapia para a faixa
etária;
● Se baixo risco, terapia antitérmica e avaliação diária;

3 a 36 meses

● Com vacinação completa — pelo menos duas doses das vacinas para hemófilo e
pneumococo → menor risco para bacteremia oculta;
○ Indicar inicialmente apenas a pesquisa de vírus respiratórios;
○ Considerar a investigação de uma infecção urinária;
○ 5 a 10% das FSSL entre 2 e 24 meses pode ser ITU, sendo os principais
fatores de risco — ausência de circuncisão no sexo masculino e ser do sexo
feminino. Outros:

27
■ Sexo feminino — cor branca, idade inferior a 1 ano, temperatura
superior a 39ºC, duração da febre superior a 2 dias, nenhuma causa
evidente de infecção;
■ Sexo masculino — ausência de circuncisão, cor não preta,
temperatura superior a 39ºC, febre com duração maior que 1 dia,
nenhuma causa evidente de infecção;
○ Avaliar sedimento urinário e pedir urocultura: nas meninas <24 meses, nos
meninos não circuncidados < 12 meses, nos meninos circuncidados < 6
meses;
● Com vacinação incompleta:
○ Maior risco para infecção e bacteremia por Hib, pneumococo;
○ Fazer pesquisa de vírus respiratórios;
○ Nas febres mais baixas (< 39ºC), considerar investigação de ITU. Nas febres
mais elevadas, pesquisar ITU. Se não houver ITU, indica-se o hemograma:
■ Hemograma sem alterações dita reavaliação diária e orientação aos
sinais de alerta;
■ Se hemograma com alterações, solicitar hemocultura e RX de tórax;

Bacteremia Oculta

● Agentes causadores de bacteremia oculta — depende da idade (até 3 meses e mais


que 3 meses de vida);

Abaixo dos 3 meses De 3 a 36 meses

● E coli ● Streptococcus pneumoniae


● Streptococcus grupo B ● Haemophilus influenzae
● Staphylococcus aureus ● Salmonella sp
● Staphylococcus pneumoniae ● Neisseria meningitidis
● Streptococcus viridans ● Staphylococcus aureus
● Klebsiella pneumoniae ● Streptococcus pyogenes
● Salmonella
● Enterococcus
● Listeria monocytogenes

28
● FSSL — 3 a 36 mese:
○ Sem foco determinado: solicitar hemocultura e radiografia de tórax, se
vacinação incompleta para HiB, pneumococo e meningococo;
○ Tratamento: Ceftriaxona 50 mg/kg IM a cada 24h;
○ Reavaliação diária até resultado de culturas;

Critérios de Gravidade

Clínicos Laboratoriais

Idade Menor idade > Risco Hemograma:


RN > 1a3m > 3 a 36m Leucócitos > 15.000 a 20.000/mm³
● Neutrófilos > 10.000/mm³
Toxemia Irritabilidade ● Neutrófilos não segmentado >
Alterações da consciência 500/mm³
Hipoatividade Granulações tóxicas de neutrófilos
Hipotonia Vacuolização de PMN
Letargia Neutropenia
Alteração ventilatória
Hipotensão Trombocitopenia < 100.000/mm³
Taquicardia
Alteração de perfusão Outros exames:
Cianose PCR (negativa < 6 mg/L)
> 30 mg/L
> 80 mg/L = doença bacteriana invasiva

Procalcitonina (normal < 0,5 ng/mL)


> 0,5 ng/mL
> 2 ng/mL = doença bacteriana invasiva

VHS > 30 mm/1ª hora

Bacteremia Hemocultura positiva sem Leucocitose > 20.000/mm³


oculta foco identificado Neutrófilos > 10.000/mm³
Radiografia de tórax normal

29
Infecções de Vias Aéreas Superiores

Dra. Elisabeth Campos de Andrade

● O diagnóstico de IVAS é indefinido, portanto deve ser evitado;


● Geralmente, mais de uma região acometida, e a denominação diagnóstica deve-se
referir às áreas ou regiões acometidas, por exemplo rinofaringite aguda,
rinossinusites;
● Nas crianças, 90% dos quadros são virais, sendo mais de 200 sorotipos virais;

IVAS

● Rinofaringite viral;
● Otite média aguda;
● Rinossinusite;
● Faringoamigdalites viral e bacteriana;

Resfriado Comum

Características

● Rinossinusite viral aguda ou rinofaringite aguda;


● Quadro benigno e autolimitado, causado pela infecção viral e inflamação da
mucosa do nariz, seios paranasais e faringe;
● Maior incidência em outono, inverno e primavera;
● O agente etiológico mais frequente é o rinovírus;
● Outros agentes etiológicos — coronavírus, Vírus Sincicial Respiratório,
Parainfluenza, Metapneumovírus, Adenovírus, Enterovírus;
● Período de incubação — 2 a 5 dias (24 a 72h);
● Duração de em média 7 dias, podendo estender-se até 2 semanas;
● Transmissão — aerossol e partículas maiores através da tosse e coriza,
principalmente;
○ Transmissão por contato — autoinoculação da própria conjuntiva ou mucosa
nasal depois de uma pessoa ou objeto contaminado com o vírus; deposição

30
de gotículas de partículas grandes que são expelidas durantes os espirros e
pousam na mucosa nasal ou conjuntival;
○ Transmissão aérea — por aerossois. Inalação de gotículas de partículas
pequenas (núcleos de gotículas ou aerossois) que ficam no ar por espirros ou
tosse;
● Sintomas:
○ Coriza clara e abundante e obstrução nasal — principais sintomas. A coriza
pode tornar-se purulenta pela descamação epitelial e presença de
polimorfonucleares;
■ Persistência de coriza mucopurulenta por mais de 10 a 14 dias sugere
infecção bacteriana secundária;
○ Tosse, irritação na garganta e febre/febrícula — podem estar presentes. A
tosse ocorre em mais de dois terços das crianças com resfriado comum,
sendo o sintoma mais incômodo aos cuidadores. Pode persistir por mais de
1 ou 2 semanas após melhora dos outros sintomas, mas deve melhorar
gradualmente;
■ Pensar em outros diagnósticos, se a tosse piorar ou não melhorar;
○ Período de incubação — geralmente de 24 a 72h;
● Diagnóstico — clínico:
○ A partir das características clínicas, da epidemiologia. Exames
complementares são desnecessários;
○ Exame físico:
■ Rinoscopia anterior — edema e hipertrofia de cornetos;
■ Orofaringe — discreta hiperemia;
■ Otoscopia — MT congesta nos primeiros 2 a 3 dias (não interpretar
como infecção bacteriana);
■ O vírus pode desencadear broncoespasmo em crianças asmáticas e
lactentes sibilantes transitórios;
● Diagnóstico diferencial:
○ Rinite alérgica, corpo estranho no nariz, sinusite bacteriana, coqueluche,
sífilis congênita (rinorreia serossanguinolenta com início entre 1 e 3 meses
de vida);

31
● A criança pode ter de 6 a 8 resfriados por ano, nos primeiros 6 anos de vida. 50% a
mais se creche no primeiro ano de vida;

Complicações

● Complicações — Otite Média Aguda e Sinusite. A faringite bacteriana não é uma


complicação do resfriado;

Tratamento

● Tratamento:
○ Manejo da dor e da febre;
○ Manejo dos sintomas nasais;
○ Manejo da tosse;
● Manejo da dor e da febre:
○ Paracetamol 200 mg/mL (15 mg/kg/dose — 1 gota/kg até de 6/6h)
○ Dipirona 500 mg/mL (20 mg/kg/dose — 0,8 gotas/kg até de 6/6h)
○ OBS. Se houver necessidade de medicamento além de 3 dias, procurar
avaliação médica, pela possibilidade de complicação;
● Manejo dos sintomas nasais:
○ Hidratação oral — para facilitar a fluidificação das secreções;
○ Ingesta de líquidos quentes — para alívio dos sintomas;
○ Lavagem nasal — instilação de soluções nasais isotônicas (soro
fisiológico 0,9%) nas narinas, principalmente antes das mamadas e antes de
dormir;
● Manejo da tosse:
○ A tosse não deve ser suprimida, pois elimina secreções do trato respiratório;
○ Antitussígenos, anti-histamínicos, expectorantes e mucolíticos não têm
comprovação de eficácia e estão associados a efeitos colaterais;
○ Hidratação e ingesta de líquidos quentes;
○ Mel — indicado para tosse por resfriado comum. Só liberado acima de 1 ano
de idade (pelo risco de botulismo);

32
Resfriado Comum Gripe

● Doença benigna e influenciada; ● Doença sistêmica;


● Ano todo; ● Epidêmica;
● Rinovírus; ● Sazonal;
● Febre — menos frequente; ● Causada pelo vírus Influenza;
● Fadiga leve; ● Febre (3 a 4 dias), mialgia e
● Complicações — OMA, sinusite. prostração;
● Fadiga por 2 a 3 semanas;
● Complicações — pneumonia.

Otite Média Aguda

● Autolimitada e com baixa incidência de complicações e mortalidade;


● É comum a OMA ser precedida por IVAS. Os vírus agiriam como copatógenos,
predispondo à infecção bacteriana;
● Nos meses de inverno, quando as infecções virais são mais frequentes, temos uma
maior frequência de OMA;

Fatores de Risco

● Aleitamento artificial — LM diminui os casos de OMA;


● Tabagismo passivo;
● Exposição a outras crianças — irmãos, permanência em creches e escolas;
● Anomalias congênitas — craniofaciais (fenda palatina) e Síndrome de Down
(prejuízo no funcionamento adequado da tuba auditiva);
● Ausência de vacina anti pneumocócica e anti-influenza;

Etiologia

● Haemophilus influenzae não tipável — aprox. 60%


● Streptococcus pneumoniae — aprox. 35%
● Moraxella catarrhalis — 10 a 15%

33
● Vacinas contra pneumo (10-13 valente) levaram à diminuição da frequência por
pneumococo, mas ao aumento da frequência de H. influenzae;
● Outros agentes:
○ Streptococcus pyogenes do grupo A — menos de 5% dos casos;
○ OMA + conjuntivite purulenta — sugestiva de Haemophilus influenzae não
tipável;

Diagnóstico

● A OMA deve sempre ser confirmada pela otoscopia;


● Abaulamento de MT é o achado mais significativo no diagnóstico de OMA. É
causada pelo acúmulo de secreção na orelha média;
○ Sensibilidade de 67% e especificidade de 98%;

Médicos devem diagnosticar OMA em:

Crianças com:
● Abaulamento moderado ou grave da MT OU início abrupto de otorreia (que
não seja devido à otite externa) — por ruptura da MT;

Crianças com:
● Abaulamento leve da MT E início recente de otalgia (< 48h) ou eritema intenso
da MT;

Médicos NÃO devem diagnosticar OMA em:

Crianças que não têm efusão na orelha média (baseada na otoscopia pneumática)

Evidência de efusão na orelha média:


● Abaulamento, perda de mobilidade da MT, nível líquido ou otorreia;

Otoscopia

● MT levemente opaca associada à hiperemia difusa leve ou moderada na ausência


de abaulamento — sugere OMA viral;
● MT opaca associada à hiperemia intensa com presença de abaulamento e há
diminuição da mobilidade da MT — sugere OMA bacteriana;
● Pode-se realizar otoscopia pneumática para avaliação da mobilidade da MT;

34
Conduta

● 80% das otites apresentam cura espontânea (seja viral, seja bactéria);
● Antibiótico nem sempre; e analgesia SEMPRE;
● Conduta Expectante está contraindicada em caso de:
○ Idade inferior a 6 meses;
○ Imunodeficiências;
○ OMA grave;
○ Fracasso terapêutico prévio;
○ Impossibilidade de seguimento;
○ Recorrência de otorreia em menos de 30 dias;
○ OMA bilateral em < 2 anos;
○ Malformações craniofaciais;
● Analgésico sempre — paracetamol ou dipirona;
● Antibioticoterapia:
○ Menor de 6 meses de idade — antibioticoterapia por 10 dias;
○ 6 meses a 2 anos:
■ Com sintomas importantes (otalgia moderada a intensa ou superior a
48h, febre superior a 39ºC, bilateral ou com presença de otorreia) →
antibioticoterapia por 10 dias;
■ Com sintomas leves → reavaliação em 36 a 72h ou antibioticoterapia
por 10 dias;
○ Superior a 2 anos;
■ Se otorreia ou com sintomas intensos → antibiótico;
■ Se sintomas leves → observação ou antibiótico (se impossibilidade de
segmento) independentemente de uni ou bilateral
○ Amoxicilina 50 mg/kg/dia, 12 em 12h ou 8 em 8h;
■ Desde que não tenha recebido Amoxicilina nos últimos 30 dias e que
não tenha OMA com conjuntivite purulenta (pelo risco de
Haemophilus influenzae produtor de 𝛽-lactamase) e que não seja
alérgico à penicilina;
■ Por 5 a 7 dias — se maior que 2 anos;
■ Por 7 a 10 dias — se entre 6 meses e 2 anos;

35
■ Por 10 dias — se inferior a 6 meses;
■ OBS — se suspeita de H. influenzae, adicionar Clavulanato. Se suspeita
de Pneumococo com resistência moderada (vacina incompleta ou
frequenta creche), aumentar a dose da Amoxicilina para 90 mg/kg/dia;
○ Alérgicos à Penicilina:
■ Ceftriaxona ou outras cefalosporinas;
● Cefdinir 14 mg/kg/dia, VO, 12/12h por 10 dias;
● Cefuroxima 30 mg/kg/dia, VO, 12/12h por 10 dias;
● Cefpodoxima 10 mg/kg/dia, VO, 12/12h, por 10 dias;
● Ceftriaxona 50 mg/kg/dia, IM, por 3 dias;

Primeira Linha para OMA — Amoxicilina


Segunda Linha — Amoxicilina com Clavulanato 90 mg/kg/dia;
● Em caso de antibioticoterapia prévia, história de OMA não responsiva à
Amoxicilina ou suspeita de germe produtor de 𝛽-lactamase (como Hib);
Terceira Linha — Ceftriaxona por 3 dias → se após 3 dias sem melhora ou falha terapia
de segunda linha

Complicações

● Mastoidite — antibioticoterapia venosa, miringotomia, TC de mastoide →


pneumococo e hemófilo não tipável;
● Colesteatoma — de tratamento quase sempre cirúrgico;
○ Reação de metaplasia do epitélio;
○ Envolve a cadeia ossicular;
○ Promove infecção e inflamação;
○ Presença de otorreia fétida e sanguinolenta;
○ Risco de surdez pela rápida perda de audição;
● Perfuração timpânica;
● Otite média crônica — mais de 3 meses;
● Otite média secretora — efusão persistente após 2 semanas do início do tratamento
antimicrobiano;
○ Assintomática, podendo haver plenitude auricular;
○ De resolução espontânea;

Sinusites e Rinossinusites

36
Seios da Face

● À medida que a criança cresce, há o desenvolvimento dos seios paranasais e sua


pneumatização;

Pneumatização Visível ao RX

Seios etmoidais Ao nascimento 1 ano

Seios maxilares 4 anos 4 anos

Seios esfenoidais 5 anos 5 anos

Seios frontais 7-8 anos até a adolescência 7 anos

Etiologia

● Viral autolimitada;
● Bacteriana aguda;
● Bacteriana subaguda (entre 4 e 12 semanas);
● Bacteriana crônica (acima de 12 semanas);

Rinossinusites

● Na maioria das vezes, virais. As bacterianas são por Pneumococo, hemófilo e


Moraxella. Casos crônicos são causados por bactérias estafilococos e anaeróbios;
● Patogênese:
○ Geralmente secundária a uma IVAS viral que leva à edema, produção de
muco e obstrução dos seios paranasais e proliferação bacteriana;
○ 0,5 a 2% dos resfriados comuns complicam com rinossinusite bacteriana
aguda;
○ Fatores desencadeadores de complicações — imunodeficiências, fibrose
cística, exposição ao fumo, rinite alérgica, DRGE;
● Manifestações:
○ Tosse e secreção nasal clara ou mucopurulenta;

37
○ Crianças com menos de 5 anos — tosse diurna e iora com decúbito e
rinorreia clara ou purulenta por mais de 14 dias;
○ Crianças com mais de 5 anos — febre, respiração com halitose, sensação de
pressão em região frontal;
● Diagnóstico — é clínico;
○ Rinoscopia anterior — visualização de secreção do meato médio;
○ RX de seios da face é desnecessário;
■ Presença de espessamento mucoso, opacificação do seio e
presença de nível aéreo indicam sinusite — mas não se sabe se viral
ou bacteriana;
○ TC e RNM — indicado nas infecções persistentes e na suspeita de cistos
ou pólipos;
● Tratamento:
○ Amoxicilina 50 mg/kg/dia;
○ Amoxicilina-Clavulanato 90 mg/kg/dia se:
■ Crianças menores de 2 anos que frequentam creche;
■ Uso de antibiótico prévio;
■ Suspeita de pneumococo de resistência moderada;
○ Duração — 7 a 10 dias;
○ Se alergia à penicilina: Cefuroxima, Cefpodoxima, Cefixima ou Levofloxacina;
● Complicações:
○ Celulite periorbitária — edema e flogose na região palpebral e
peripalpebral, febre e queda do estado geral. Internação e antibioticoterapia
venosa;
○ Celulite orbitária — complicação grave da sinusite etmoidal. Além de
edema e flogose na região palpebral e peripalpebral, há proptose e
oftalmoplegia. Internação imediata e antibioticoterapia venosa;
○ Infecção do SNC — meningite, abscessos e trombose de seio cavernoso;

Faringoamigdalite

● Abaixo dos 2 anos de idade, quase sempre é viral;

38
● Sintomas que sugerem etiologia viral:
○ Febre, rinorreia serosa, tosse, rouquidão, hiperemia difusa da orofaringe,
com ou sem exsudato, conjuntivite, vômitos ou diarreia;
○ Curta duração: 3 a 4 dias;
● Principais vírus:
○ Adenovírus — febre faringoadenoconjuntival;
○ Coronavírus;
○ Enterovírus;
○ Rinovírus
○ VSR;
○ HSV;
○ Coxsackie A — herpangina;
○ Epstein-Barr vírus — mononucleose infecciosa;

Faringite associada ao resfriado comum

● Dor de garganta moderada — garganta arranhando e coçando;


● Coriza, tosse, mal estar, anorexia e febre;
● Duração de 1 a 5 dias;
● Exame clínico:
○ Faringe com edema e eritema;
○ Pode ter exsudato — que pode ser indiferenciável da amigdalite
estreptocócica;
○ Linfonodos cervicais podem estar aumentados e dolorosos;

Febre faringoadenoconjuntival

● Agente etiológico: adenovírus;


● Exame Clínico:
○ Dor de garganta intensa, com presença de exsudatos nas amígdalas e
eritema de toda a faringe;
○ Mialgia, cefaleia, calafrios e febre superior a 38 ªC;
○ Conjuntivite por 10 a 14 dias (em até 50% dos casos);

Herpangina

39
● Coxsackie A — tipos 2, 3, 4, 5, 6, 8 e 10;
● Exame Clínico:
○ Pequenas vesículas no palato mole, úvula e pilares amigdalianos. As
vesículas se rompem e formam úlceras esbranquiçadas;
○ Febre alta, dor de garganta e disfagia;
○ Dificuldade na hidratação oral;

Síndrome mão-pé-boca

● Coxsackie A16;
● Exame Físico:
● Faringotonsilite ulcerosa;
● Lesões papulovesiculosas em mãos e pés;

EBV

● Mononucleose infecciosa:
○ Pré-adolescentes e adolescentes;
○ Prostração, dor de garganta intensa, estomatite, enantema, adenomegalia
cervical importante, hepatoesplenomegalia (risco de ruptura de baço) e
rash;
○ Amígdalas muito volumosas podem determinar dificuldade respiratória;
○ 50% cursam com amigdalite exudativa;
○ Quando o diagnóstico é confundido com amigdalite bacteriana e o paciente é
tratado por ampicilina ocorre enantema;

Bacterianas

● Estreptococo 𝛽-hemolítico do Grupo A — mais frequente em crianças e


adolescentes. Risco de complicações — febre reumática, glomerulonefrite,
coreia e fasciite necrosante;
● Outros estreptococos (grupos B, C e G) — também podem causar amigdalites, mas
não há risco de complicações não supurativas (febre reumática);
● Mycoplasma pneumoniae — adolescentes e adultos jovens. Simula uma
faringoamigdalite com exantema, semelhante ao da escarlatina;

40
● Neisseria gonorrhoeae — adolescentes, sexualmente ativos e abuso sexual na
infância — faringite gonocócica;
● Corynebacterium diphteriae — faringite aguda com presença de membranas
acinzentadas nas amígdalas, pilares e úvulas;

Faringoamigdalite estreptocócica

● Início — queixas pouco específicas: cefaleia, dor abdominal, mal estar;


● Pode haver vômitos, náuseas e febre de até 40 ºC;
● Algumas horas depois, a dor de garganta aparece de intensidade variável;
● Exsudato: 50 a 90% dos casos — amarelo acinzentado e limitado ao tecido
linfoide;
● Adenomegalia cervical anterior ou submandibular (precoce): 30 a 60% dos casos
— os linfonodos aumentados são dolorosos;
● Achado clínico de maior consistência à oroscopia — PETÉQUIAS EM PALATO
MOLE associadas à vermelhidão das amígdalas e dos pilares amigdalianos;
● Outros dados:
○ Idade entre 5 e 15 anos;
○ Ausência de sintomas do trato respiratório superior — não há rinite nem
sinusite;
● Complicações:
○ O reconhecimento e tratamento precoces têm papel importante no controle
da doença, além de profilaxia para febre reumática, que é uma das
complicações. Sem o tratamento, o contágio dura semanas além da fase
sintomática;
○ Não supurativas — febre reumática (e suas sequelas cardíacas) e GNDA
pós-estreptocócica;
○ Supurativas — abscesso retrofaríngeo e abscesso periamigdaliano;
● Tratamento:
○ Penicilina G benzatina IM dose única. 600.000 UI (se peso menor que 27
kg) ou 1.200.000 UI (se peso maior que 27 kg);
○ Outras drogas:

41
■ Amoxicilina — 50 mg/kg/dia VO a cada 8h por 10 dias;
■ Eritromicina — 30 a 40 mg/kg/dia VO a cada 6h por 10 dias;
■ Azitromicina — 5 dias em alérgicos à Penicilina VO;

Escarlatina

● Faringoamigdalite exsudativa associado ao exantema com aspecto de lixa;


● Produção de toxinas eritrogênicas estreptocócicas A, B e C;
● A exposição a uma toxina produz imunidade protetora específica. Mas a criança
pode ter escarlatina novamente por outro tipo;

Abscesso retrofaríngeo

● Raro;
● Geralmente crianças entre 3 e 4 anos — o espaço retrofaríngeo é rico em tecido
linfoide, que recebe a drenagem linfática de cavidade oral, faringe e fossas nasais;
● Disseminação de bactérias para esse espaço, posteriormente à parede posterior
da laringe e anteriormente à fáscia pré-vertebral. Involui aos 5 anos de idade;
● Etiologia polimicrobiana: estreptococos do grupo A, estafilococos e anaeróbios
da cavidade bucal;
● Sintomas:
○ Febre, irritabilidade, dificuldade de engolir, rigidez cervical ou torcicolo por
contratura da musculatura paravertebral; voz abafada, estridor e dificuldade
respiratória;
○ Pode cursar com pneumonite e mediastinite se supurar;
● Risco de vida, pois o abscesso pode obstruir as vias aéreas, drenar
espontaneamente causando pneumonia aspirativa grave e mediastinite;
● Diagnóstico — aumento do espaço retrofaríngeo no RX cervical de perfil;
● Tratamento — internação, drenagem e antibioticoterapia (amoxicilina com
clavulanato EV);

Abscesso periamigdaliano

● Mais frequente que o abscesso retrofaríngeo;


● Ocorre geralmente em crianças maiores e adolescentes;

42
● Decorre da ruptura da cápsula posterior da amígdala, lançando bactérias no espaço
periamigdaliano;
● Sintomas: intensificação da dor de garganta, intensa disfagiam trismo, sialorreia,
abaulamento unilateral, rechaçando a amígdala e a úvula para o lado oposto
(edema de palato mole);
● Tratamento — internação, drenagem e indicação de amigdalectomia;

Difteria

● Faringoamigdalite aguda pseudomembranosa;


● Oroscopia — placas esbranquiçadas aderentes, que podem invadir a faringe, palato
e úvula;
● Corynebacterium diphtheriae — início insidioso com sintomas gerais de febre, mal
estar, cefaleia, astenia e dor de garganta. O exsudato é branco-acinzentado e muito
aderente. A tentativa de sua retirada provoca sangramento abundante;

● OBS — atenção às crianças com hipertrofia de adenoides.

43
Transtorno do Desenvolvimento e do Comportamento - a
criança vulnerável

Introdução

● É importante saber o que é normal: o desenvolvimento fisiológico da criança.

Revisão do Desenvolvimento

● 0 a 3 anos de idade — 1ª infância:


○ O corpo é o instrumento de interação com o meio ao redor;
○ É de suma importância o estímulo à criança, sobretudo no 1º ano de vida;

● 3 a 6 anos — 2ª infância:
○ A criança já apresenta um sistema motor refinado e a capacidade de realizar
movimento de pinça, devendo, portanto, ser incentivada com atividades
livres e estimulantes, com pouca regra;
○ Aos 3 anos, JÁ DEVE ESTAR FALANDO;
○ O pensamento é simbólico é pré-operacional: realidade e imaginário;
○ Há início da compreensão de causa e efeito;
○ Importância do Brincar — evolução:
■ Brincar repetitivo — rolar e sorrisos;
■ Brincar construtivo — castelos, blocos;
■ Faz de conta dos 4 aos 6 anos;
■ Jogos formais acima dos 6 anos: correr, competição, quebra-cabeça;

● 6 aos 12 anos:
○ Linguagem, memória e coordenação motora;
○ A autoimagem e a autoestima refletem na capacidade de socialização da
criança;
○ Surge o interesse por atividades com regras e por jogos;
○ Há o desenvolvimento da escrita — noção de conservação, seriação, tempo,
causalidade e inclusão (formação de grupos);

44
■ A escrita inscreve a criança no mundo;
○ Há a percepção do “não-eu”;
○ Desenvolvimento escolar relacionado com a vida emocional;
○ Fortalecimento do “eu”, através da nomeação dos sentimentos: raiva, medo;
■ É importante estimular e ajudar nessa nomeação, sem reprimir;
○ Necessidade de atuar e executar;
○ Grande aproximação de amigos e distanciamento dos pais;
○ Puberdade e transformação da imagem corporal e da autoestima;

● 12 a 18 anos — Adolescência
○ Grande desenvolvimento físico;
○ Alta cognição;
○ Autonomia;
○ Estabelecimento das formas de relacionar;
○ Instabilidade do humor e alta emotividade;
○ Preocupação com a aparência, que sobre abalos com o crescimento físico;
○ Dúvidas de sexualidade e forma de exercê-la — necessidade de clareza;
○ Amadurecimento do córtex frontal — processamento de informação;
○ Crise de identidade — ansiedade, aceitação, experimento de ideologias e
papeis. Raramente se resolve na adolescência;
○ Questões principais:
■ Escolha da ocupação;
■ Adoção de valores e direcionamento;
■ Desenvolvimento de atividade sexual satisfatória;

● Influências do desenvolvimento:
○ Nascimento → história da família, desejo dos pais, encontros e
intercorrências → cultura e linguagem → sujeito psíquico → organizador do
desenvolvimento físico, psicomotor, cognitivo e psíquico;
○ O Lugar do sujeito depende de ações gerais que todo cuidador deve realizar
na Primeira Infância;
○ Confluência de ambiente, biologia, genética e sociedade;

45
Fatores Protetores

● Prevenção de doenças;
● Promoção à saúde;
● Aleitamento materno ou apego seguro com a mamadeira;
● Baixa mortalidade infantil;
● Cuidado com o RN de alto risco: pode acarretar em risco para a saúde cognitiva;

Fatores de Risco

● Aumento da urbanização — empilhamento de casas, saneamento básico, qualidade


de vida;
● Violência;
● Mudança na estrutura familiar;
● Baixo suprimento nutricional;
● Abuso, maus tratos e negligência;
● Falta ou inadequação de estimulação à criança;
● Meio ambiente;
● Importância da quantidade da exposição a qualquer desses fatores;
● Riscos múltiplos têm efeito cumulativo;
● Atraso no desenvolvimento tem alto custo social:
○ Evasão escolar, repetência, delinquência juvenil, gestações não planejadas;
○ ⅔ das crianças com déficits cognitivos moderado cresceram na pobreza;

Estresse

● Positivo — mediado por afeto e cuidado, favorece a evolução e o desenvolvimento


da criança;
● Negativo — tóxico e frequente, ausência de suporte e de proteção;
● Consequências — prejuízo no comportamento e no aprendizado; alteração
estrutural de amígdala, hipocampo e córtex frontal;

46
Atendimento

● Sintomas — emocionais, problemas de conduta e de comportamento, atraso no


desenvolvimento e dificuldades de relacionamento;
● Outros:
○ Angústia;
○ Fatores desencadeantes e mantenedores;
○ Capacidades da criança e seus pontos fortes;
○ Crenças e expectativas da família;

Transtornos do Neurodesenvolvimento

○ Deficiências intelectuais;
○ Atraso global do desenvolvimento;

Transtorno de Comunicação

● Afetam a linguagem e a fala;


● Fluência com início na fase infantil — gagueira;
● Fluência com início na fase adulta;

TEA e TDAH

● Psiquiatria da infância e adolescência (Ver caderno de Psiquiatria);

Transtorno Específico da Aprendizagem

● A criança apresenta dificuldade de aquisição da capacidade de uma grande área:


○ Leitura — dislexia;
○ Expressão escrita
○ Matemática — acalculia;

Transtornos Motores

● Transtorno do desenvolvimento da coordenação motora;


● Transtorno do movimento estereotipado;

47
Transtornos de Tique

● Síndrome de Tourette;
● Tique motor ou vocal persistente;
● Outros transtornos;

Transtorno Depressivo

● Sintomas depressivos;
● Devem sempre ser investigados.

Transtornos de Ansiedade

● Transtorno de Ansiedade de Separação;


● Fobias — animais, ambiente natural, sangue-injeção-ferimentos, cuidados médicos;

Transtornos Relacionados a Traumas e Estressores

● Transtorno do Estresse Pós-Traumático;

Transtornos do Humor Bipolar

● Aula de Psiquiatria da infância e adolescência (Ver caderno de Psiquiatria);

Transtornos Alimentares

● Anorexia nervosa;
● Bulimia nervosa;
● Compulsão alimentar;

Transtornos da Eliminação

● Enurese;
● Encoprese;

Transtornos Disruptivos

● Transtorno Opositor-Desafiante;
● Transtorno Explosivo Intermitente;

48
● Transtornos de Conduta, que podem ter início tanto na infância quanto na
adolescência;

Transtornos de Relacionamentos

● Relação com pais e filhos, irmãos;


● Relacionamentos na escola;

Transtornos de Maus Tratos e Negligência Infantil

● Maus tratos e abusos físicos, sexuais e psicológicos;


● Deve-ser retirar a criança do convívio com o abusador;

Transtorno do Desenvolvimento Intelectual - TDI

● Limitação entre 5 e 18 anos;


● Há limitação no funcionamento intelectual e comportamental;
● O comportamento adaptativo é comprometido: aprendizagem e compreensão
social — reflete em comunicação alterada, habilidades sociais, autocuidado, vida
doméstica, uso de recursos comunitários;
● Déficits acadêmicos, de trabalho e lazer;
● Limitação em pelo menos 2 dessas áreas, atentando-se para a idade e para a
cultura;

Atraso no Desenvolvimento Global - ADG

● Atraso global motor, de fala, da linguagem, da cognição; levando à déficits de


adaptação e aprendizagem;
● Acomete crianças jovens, com menos de 5 anos de idade;
● Sem diagnóstico definido — caráter meio provisório;
● Não é premonitor de TDI;

Deficiências Intelectuais

● Epidemiologia — acometimento de 1 a 3% da população, sendo 85% leve. É mais


prevalente em homens;

49
● Etiologia variada — genética (16%), idiopática (12,6%), neonatal (13,2%), não
biológica (44%), outras (12,2%)
● Fatores de risco:
○ Desnutrição na gestação; ○ TORCHS-HIV;
○ Abuso de drogas; ○ Negligência;
○ Poluentes; ○ Abuso;
○ Medicamentos ○ Ambiente disruptivo;
teratogênicos;
● Graus:
○ Leve — capacidade de: alfabetização, autocuidado, uso de linguagem e
trabalho simples;
○ Moderado — pode haver déficits; autocuidado sempre possível;
○ Grave — sem alfabetização, linguagem mínima, tarefas domésticas simples,
autocuidado possível;
○ Profundo — pode haver comprometimento da linguagem; autocuidado
supervisionado; sem alfabetização e incapacidade de trabalhar;
● Importância da Linguagem — fator preditor de capacidade intelectual futura;
○ Excluir surdez através de audiometria;
● Comorbidades:
○ TEA; ○ Epilepsia;
○ TDAH; ○ PICA alimentar (come
○ Tiques; papel, roupa, cabelo,
○ Ansiedade; macarrão cru, unha);
○ Automutilação;
● Tratamento:
○ Fonoaudiologia;
○ Terapia ocupacional;
○ Reabilitação física;
○ Acompanhamento familiar;
○ Assistência psicoeducacional;
○ Psicofármacos na presença de comorbidades (se indicado);

50
Transtornos de Linguagem

● Manifestações da linguagem:
○ Compreensão receptiva;
○ Decodificação linguística — compreensão, audição e leitura;
○ Codificação expressiva e produção — fala, escrita e sinalização;
● Processamento da linguagem — significado, afetividade, entonação e padrões
rítmicos;

Transtornos de Eliminação

○ Incontrole esfincteriano entre 4 a 6 anos;


● Encoprese — ver aula de Constipação;
● Enurese — perda de urina após o controle completo dos esfíncteres;
○ Etiologias:
■ Multifatorial;
■ Genético (100% em gêmeos idênticos);
■ Neurológico — imaturidade do esfíncter.
■ Urológico — capacidade vesical diminuída;
○ Agravantes — fatores psicológicos e psiquiátricos;

Sinais Precoces de Sofrimento Psíquico

○ Risco e vulnerabilidade;
○ Falta de proteção e de resiliência;
● Sinais de Alarme:
○ Faces — reciprocidade com cuidadores;
○ Tipo de apego:
■ Seguro e confiante — recuperação fácil de excitação e ansiedade →
cuidador principal (mãe);
■ Inseguro evitante;
■ Inseguro desorganizado e desorientado;
○ Insegurança;
○ Desconfiança;

51
○ Atitude confusa;
○ Choros inesperados;
○ Posturas rígidas;
○ Movimentos estereotipados;
○ Evitamentos ativos ou procura excessiva;
○ Alteração em alimentação, sono, eliminação e condutas relacionais em
crianças menores;
○ RN com sono alterado é grave;
● Alimentação — anorexia, obesidade, seletividade, PICA, mericismo (regurgitação e
mastigação);
● Controle esfincteriano:
○ Encoprese — é relacional;
○ Enurese — caráter neurofisiológico;
● Condutas motoras:
○ Instabilidade — leva a muitas quedas;
○ Transtornos de lateralização — podem ser causados pelo uso de tela até os 5
anos;
○ Dispraxias;
○ Tiques e movimentos estereotipados;
○ Hábitos;
● Linguagem — gagueira e mutismo;
● Ato de brincar — não brincar ou brincar alterado;
● Sociabilidade:
○ Fuga; ○ Furto: existe uma tendência
○ Mentiras; aos 7 anos. É necessário
○ Abuso de substância; explicar. Se for normal,
○ Agressividade; encerra-se com a
○ Opositor e desafiador; explicação;
○ Automutilação
● Sexualidade:
○ Observar curiosidade;
○ Manipulação;
○ Egodistonia — inaceitação do sexo biológico;

52
Vacinação

Doenças preveníveis por Vacina

● 1 em cada 5 crianças no mundo tem risco de morrer por doenças que são
imunopreveníveis;
● A pandemia do COVID19 desencadeou o maior retrocesso em matéria de vacinação
essencial em quase 3 décadas;
● Poliomielite, tuberculose, hepatite B, rotavírus, meningite, febre amarela;
● Redução da cobertura vacinal abaixo de 80%;

Caderneta de Saúde da Criança

● Toda criança deve ter em cada e qualquer consultas verificação da caderneta e


orientação, além da verificação de crescimento e desenvolvimento;

PNI Brasileiro

● Referência mundial de vacinação;


● Calendário de Vacinação da Criança e do Adolescente:
○ BCG-ID;
○ Vacina oral contra polio ou Vacina IM contra polio;

● Calendários disponíveis — são virtualmente idênticos;
○ PNI;
○ SBP;
○ SBIM;

Imunizações

● Definições — é o ato de tornar o indivíduo refratário à determinada doença;


● Objetivos:
○ Imediato — prevenção da doença;
○ Final — erradicação da doença;

53
Tipos de Imunizações

● Imunização passiva:
○ Organismo recebe anticorpos pré-formados;
○ Natural (placenta e aleitamento materno);
○ Soros e antiglobulinas;
● Imunização ativa:
○ O organismo produz defesas;
○ Pode ser natural (a partir da doença) ou artificial, através da vacina;

Composição das Vacinas

● Antígeno — estimula a resposta imune;


● Diluente;
● Conservante, antibiótico e estabilizadores;
● Adjuvante — alumínio;

Classificação quanto aos antígenos

● Vacinas de germes vivos atenuados — agente atenuado multiplica-se sem causar


doença, estimulando o sistema imune;
○ Sabin, sarampo, rubéola, SCR, BCG, rotavírus, febre amarela, varicela;
● Vacinas inativadas ou inertes:
○ Inteiras —
○ Frações ou Subunidades —
● Polissacarídicas — polissacarídeos da cápsula do agente infeccioso. Não induzem
memória imunológica duradoura e não são eficazes em crianças com menos de 2
anos. Ex — vacina contra febre tifoide, vacina antipneumocócica 23-valente;
○ Conjugação — adição de uma proteína ao polissacarídeo da cápsula. Produz
resposta imunológica mais eficaz e duradoura. Eficazes em menores de 2
anos. Induzem IgA de mucosa (propriedade de rebanho), impedindo a
colonização pelo micro-organismo;
■ Pneumos conjugadas 10 e 13-valentes, Hib, meningo C;

54
● Vacinas de organismos modificados — introduz-se no genoma de vírus não
patogênicos, determinantes de componentes antigênicos de vírus patogênicos
(Quimera). Não causam doença, uma vez que não apresentam o micro-organismo
vivo;
○ Ex — rotavírus, vacina contra a Dengue;

Tipos de Proteção

● Individual;
● Coletiva — de rebanho;
○ Qualquer vacina tem essa propriedade se ao menos 80% da população for
vacinada;
○ Algumas vacinas apresentam essa propriedade inerente a si mesmo, como a
Sabim (que faz o trajeto natural do vírus da poliomielite no organismo);

Particularidades das Vacinas

Intervalos

● Intervalos entre as doses da mesma vacina;


● Intervalos superiores ao recomendado — não existe! Conta-se a dose do
nascimento, também, em caso de atraso;
● Intervalos inferiores ao recomendado;
● Intervalos entre vacinas e prova tuberculínica (PPD) — as vacinas de vírus vivo
interferem no resultado do PPD (negativando-o), pois ambos ativam imunidade
celular;
● Intervalos entre vacinas compostas por antígenos diferentes;
○ Vacinas de vírus vivo de mesma via:
■ VO — Sabim e Rotavírus. Podem ser realizadas no mesmo dia. Caso
não seja possível, esperar 15 dias entre uma e outra, uma vez que
uma interfere na outra;
■ IM — Febre Amarela e Varicela. Podem ser realizadas no mesmo dia.
Caso não seja possível, esperar 30 dias entre uma e outra, uma vez
que há interferência na produção de anticorpos;

55
Reforços

● Uma vez lançada uma vacina, não se sabe se serão necessários reforços ou não;
● Um exemplo, é a DPT (tríplice bacteriana) a cada 10 anos;
● Intercambialidade;
○ Publicação de estudos;
○ Possível: hepatite A, hepatite B, tríplice viral;
● Vacinas conjugadas com proteínas carreadoras diferentes, número de doses,
composição antigênica — NÃO INTERCAMBIAR;
○ Novas vacinas contra o HPV — diferenças na composição antigênica, no tipo
de adjuvante e n método de produção;
○ Rotavírus — diferenças na composição antigênica, número de doses e
método de produção;

Aplicação simultânea

● Aplicação em locais diferentes;


● Não há limite máximo do número de vacinas — limite é o conforto do paciente e
locais disponíveis para aplicação (no mínimo 5 cm de distância);
● Não há sobrecarga para o sistema imunológico;
● Excelente oportunidade para atualizar atrasos, viajantes ou no preparo para
radioterapia, quimioterapia ou cirurgia;

Questões Técnicas da Vacina

● Controle de qualidade:
○ Laboratório produtor com critérios de certificação da OMS;
○ Lote da vacina: INCQS;
○ Liberação: garantia de potência, segurança e estabilidade;
● Rede de frio:
○ Calor acelera a inativação de componentes vacinais. Temperatura de 2 a 8ºC;
○ Produção - Armazenamento - Transporte - Manipulação;
○ Níveis — Nacional, Central Estadual, Regional, Municipal e Local;

56
Tipos de Vacinação

● Vacinação de Rotina — atendimento da população no dia a dia do serviço de


saúde. Acompanhamento contínuo e programado — PNI;
● Vacinação de campanha — ação que tem um fim específico. Visa, sobretudo, à
vacinação em massa de uma determinada população, com uma ou mais vacinas;
● Vacinação de bloqueio — quando há ocorrênica de um ou mais casos de vacina
preveníveis por vacina, realiza-se vacinação para impedir o contágio e a
disseminação;

Contraindicações

● Para qualquer vacina: alergina anafilática a componente vacinal;


● Gerais — para vacinas de germes vivos atenuados;
○ Imunodeficiência congênita e adquiridas;
○ Imunossupressão;

CRIES

● Centros de Imunobiolóficos Especiais;


● Pacientes especiais:
○ Doenças pulmonares crônicas;
○ Doenças cardiovasculares crônicas;
○ Doença ou terapia imunossupressora;
○ Infecção pr HIV;
○ Hemoglobinopatias;
○ Uso prolongado de aspirina;
○ Diabetes mellitus;
○ Doença renal crônica, hemodiálise, síndrome nefrótica;
○ Comunicantes (contato intradomiciliar antes do tratamento);
○ Outros — Síndrome de Down;

57
VACINAS

BCG

● Composição — Bacilos vivos atenuados do Mycobacterium bovis — cepa brasileira de


Moreau Rio;
● Indicação — prevenção de formas graves de Tuberculose e comunicantes de
Hanseníase;
● Esquema:
○ Uma dose ao nascimento;
○ Contactantes de Hanseníase — 2 doses com intervalo mínimo de 6 meses;
○ Indicação de repetição de dose: ausência de cicatriz vacinal a partir de 6
meses de vida (NÃO É MAIS RECOMENDADO);
● Imunidade:
○ BCG — primoinfecção artificial inofensiva;
○ Induz imunidade celular, com duração de 9 a 14 anos. Mas em países com
tuberculose endêmica, há reforço vacinal (booster) natural, com o contato
com o bacilo;
○ Impacto contra tuberculose miliar e tuberculose meníngea. O impacto
na tuberculose pulmonar é pouco expressivo;
● Eficácia — 70 a 80%, com redução de incidência de formas graves;
● Evolução da lesão vacinal:
○ Primeira à segunda semana — mácula avermelhada com induração (15 mm);
○ Terceira à quarta semana — amolecimento do centro da lesão e pústula
(crosta)
○ Quarta à quinta semana — úlcera (4 a 10 mm);
○ Sexta à décima segunda semana — cicatriz (4 a 7 mm);
○ Fenômeno de Koch
● Efeitos adversos locais — podem ser sinal de Imunodeficiência primária;
○ Notificar, investigar, tratar e acompanhar;
○ Úlcera > 1 cm não cicatrizada após 4 a 6 meses. Administrar isoniazida (10
mg/kg/dia) até regressão da lesão;
○ Abscesso subcutâneo frio — isoniazida até regressão da lesão;

58
○ Abscesso subcutâneo quente — geralmente primários (por contaminação à
vacinação) — utilizar antibióticos por 10 dias;

● Efeitos adversos sistêmicos

● Contraindicações — para vacinas de germes vivos atenuadas;
● Adiamento:
○ RN com peso inferior a 2 kg;
○ Até 3 meses após tratamento com altas doses de corticoide

Hepatite B

● Infecção aguda pelo vírus da hepatite B, sendo a maioria assintomática ou com


poucos sintomas inespecíficos;
● Mães HBsAg+ e HbeAg+ → 70 a 90% de transmissão;
● Mães HBsAg+ e HbeAg- → 5 a 20% de transmissão
● Infecção no período perinatal e 1º ano de vida: 90% das crianças desenvolverão
hepatite crônica, dos quais 25% terão morte precoce por carcinoma hepatocelular
ou cirrose;
● Infecção em crianças mais velhas e adultos: 5 a 10% de hepatite crônica;
● Filhos de mãe HBsAg+ — vacina HB e HBIG nas primeiras 12 horas de vida
previne em mais de 95% a transmissão perinatal;

Vacina

● Composição — HBsAg (DNA recombinante) associado a fosfato ou hidróxido de


alumínio;
● Eficácia — acima de 95% nas crianças;
● Via e dose de aplicação:
○ IM na face anterolateral da coxa em crianças inferiores a 2 anos e no
músculo deltoide acima de 2 anos;
○ Até 12 horas do nascimento;

59
● Esquema do PNI:
○ Ao nascer — Hepatite B;
○ 2, 4 e 6 meses — associada à penta…

Poliomielite

● Vacina Sabin — VOP:


○ Duas gotas VO;
○ Composição — vacina de vírus vivo atenuada (VVA). Contém os Poliovírus 1 e
3. O Poliovírus 2 foi retirado da composição da vacina como parte do Plano
Mundial da Erradicação da Poliomielite, por ser o vírus mais relacionado aos
eventos adversos pós-vacinação e não apresentar circuito ambiental. Isso
nos países que erradicaram a poliomielite
○ Imunidade protetora a partir de 7 dias;
○ Potencial de imunização de grupo, pois segue o trajeto natural do vírus;
○ Reações Adversas:
■ Urticária, exantema pruriginoso, meningite asséptica e encefalite;
■ Raras — Doença paralítica (1 a 3 casos ao ano);
○ Contraindicações — imunodeficientes ou crianças hígidas em contatos com
imunodeprimidos. Adiar em gastroenterites mais intensas, pois acelera o
trânsito intestinal;
○ Vantagens da VOP —

● Vacina Salk — VIP
○ Composição — Vírus Vivo Inativado (VVI) para os Poliovirus 1, 2 e 3;
○ Eficácia — 89 a 100% contra os 3 poliovírus;
○ Via de aplicação — IM ou SC;
○ Vantagens da VIP — não há risco de gerar cepas virais mutantes, segura em
imunodeficientes;
○ Desvantagens da VIP — gera apenas imunidade humoral, sem gerar
imunidade de mucosa. Por ser IM, não imuniza os contatos;
● Esquema do PNI
○ Esquema básico — 2, 4 e 6 meses com a VIP;

60
○ 1º reforço — 15 meses com a VOP;
○ 2º reforço — 4 anos com a VOP
○ Campanhas de vacinação são sempre VOP;

Vacina Pentavalente

● Difteria — cepas toxigênicas do Corynebacterium diphtheriae (bacilo gram-positivo).


Doença infecciosa aguda grave com alta letalidade e infecciosidade;
● Tétano — exotoxina (tetanospasmina) produzida pelo Clostridium tetani (bacilo
gram-positivo anaeróbio);
● Coqueluche — doença respiratória aguda causada por Bordetella pertussis (bacilo
gram-negativo aeróbico);
● Infecções por Haemophilus influenzae tipo B — cocobacilo gram-negativo; causa
alta morbimortalidade em crianças inferiores a 5 anos;
● Vacina conjugada contra Difteria, Tétano, Coqueluche (DPTw) associada à
Haemophilus influenzae tipo B e à Hepatite B;
○ Vacina tetravalente (DTPw e Hib);
○ Vacina tríplice bacteriana de células inteiras (DTPw);
○ Vacina tríplice bacteriana acelular (DTPa) — em caso de contraindicações à
DTPw;
○ Vacina duplo adulto (dT);
● Composição da Vacina — DPT: Toxoide tetânico (40 a 60 u), toxoide diftérico (30 u),
antígeno pertussis (4 u) associada à vacina conjugada de antígenos olissacárides do
HiB + CRM197 e antígenos de superfícies da Hepatite B, fosfato de alumínio e traços
de tiomersal;
● Via e Dose de Aplicação — IM profunda, 0,5 mL;
● Esquema do PNI:
○ Vacina pentavalente básico — 2, 4 e 6 meses (intervalo mínimo de 30 dias);
○ DPTw — reforço aos 15 meses e 4 anos;
○ dT — reforço a cada 10 anos;
● Reações Adversas:
○ Dor, edema, eritema locais, cefaleia, febre, mal estar e irritabilidade — 24 a
48 horas;

61
● Contraindicações:
● Adiamento:

Diarreia

● Rotavírus é hoje considerado um dos mais importantes agentes causadores de


gastroenterites e óbitos em crianças menores de 5 anos em todo o mundo;
● A doença diarreica leva a uma em cada cinco crianças brasileiras a procurar
atendimento, pelo menos uma vez até os 5 anos de idade, faz com que uma em
cada 30 crianças seja hospitalizada pelo menos uma vez; e mata uma em cada 1.400
crianças. A vacina por rotavírus, portanto, está implicada numa redução significativa
da mortalidade por diarreia na infância;
● Administração — VO 1,5 mL. Se vômitos, não repetir!
● Composição — VVA, monovalente (G1P1A[8]), cepa R1X4414 (Rotarix, da
GlaxoSmithKline);
● Imunidade:
○ Eficácia superior a 80% para gastroenterites graves (Pentavalente > 95%);


● Doses:


● Contraindicação:

Tríplice Viral

● Sarampo — Vírus RNA - Morbilivírus/Paramyxoviridae;


● Caxumba — Vírus RNA - Paramyxoviridae;
● Rubéola — Vírus RNA - Rubivírus/Togavírus;
● Se associada à vacina Anti-Varicela — VACINA TETRA VIRAL;
○ Infecção por varicela-zoster: exantema papulo-vesicular;
● Composições — ambas são VVA;
● Via e dose de aplicação — SC; 0,5 mL;
● Imunidade superior a 95%, mas se questiona a duração da imunidade;

62
● Esquema do PNI:
○ Primeira dose — 12 meses de idade (Tríplice Viral);
○ Reforço da Tríplice Viral e primeira dose da Varicela — aos 15 meses, com a
Tetravalente. A dose única da Varicela protege contra formas graves da
doença;
○ Reforço da Varicela — aos 4 anos, com a vacina contra Varicela-Monovalente;
● Reações Adversas:
○ Poucas manifestações locais;
○ Manifestações sistêmicas — febre, exantema, artralgias e artrites, parotidite
e raramente orquite e meningite. Época: 5º ao 12º dia;
● Contraindicações — por serem VVA;
○ Gestação;
○ Reação anafilática a ovo (Brasil), neomicina e gelatina (Brasil/EUA);
● Resposta ao PPD da tuberculose é deprimida pela vacina (pelo componente do
sarampo). Se necessário realizar PPD, fazer 4 ou 6 semanas após;
● Alerta:

Febre Amarela

○ Doença de notificação compulsória;


○ Há mais de 60 anos não há registro de febre amarela urbana, no Brasil;
● Composição da Vacina — VVA em embrião de galinha; cepa 17D;
● Via e dose de aplicação — SC - 0,5 mL;
● Indicações — residentes em áreas de recomendação da vacina, viajantes para áreas
com recomendação da vacina (pelo menos 10 dias antes da viagem) e pessoas que
se deslocam para países com situações epidemiológicas de risco;
● Esquema do PNI:
○ Esquema vacinal: 1ª dose aos 9 meses (6 meses apenas em situações de
epidemia);
○ Reforço — com 4 anos de idade (pode ser 6 meses após a primeira dose);
○ De 5 a 59 anos de idade não vacinados — administrar uma dose;
○ Reforço a cada 10 anos não é mais preconizado tanto pela OMS quanto pelo
MS;
● Imunidade de 90 a 99%, sendo a resposta imune a partir do 10º dia de vacinação;

63
● Reações Adversas:
○ Locais — dor e abscesso;
○ Sistêmicas:
■ Após 2 a 7 dias — febre mialgia, cefaleia (5%);
■ Hipersensibilidade e encefalite (raras);
● Contraindicações:
○ Portadores de alguma forma de imunossupressão;

Vacina Anti-Pneumocócica 10 valente

○ Doença pneumocócica é mais frequente em recém-nascidos e crianças


inferiores a 2 anos;
○ 45% ou mais das pneumonias da comunidade;
○ Há uma relação entre os sorotipos causadores de doenças invasivas e
resistência aos beta lactâmicos;
● Composição
○ Pneumo-10 valente — Sorotipos 1, 4, 5, 6B, 8F, 9V, 14, 18C, 19F e 23F
■ 3, 6A e 19A são cepas circulantes no Brasil, mas não contempladas
pela P10V;
● Via e dose de administração — IM profundo (músculo vasto lateral da coxa se
crianças com menos de 1,5 anos), 0,5 mL;
● Esquema do PNI 2023:
○ Básico — 2 doses com intervalo de 60 dias (intervalo mínimo de 30 dias);
■ Início — 2 meses de idade (ao mínimo de 6 semanas) e segunda dose
aos 4 meses;
○ 1º reforço — aos 12 meses de idade (6 meses após última dose do esquema
básico);
○ Crianças entre 1 e 5 anos de idade, sem comprovação vacinal — dose única
→ a vacina já não sofre alteração por anticorpos maternos;
● Imunidade — por ser conjugada a proteínas;
○ Contra doenças invasivas (meningite, sepse, pneumonia, artrite e
bacteremia) e OMA;

64
○ Diminui o estado de portador do pneumococo, o que confere certa proteção
de rebanho — é capaz de estimular IgA de mucosas, por ser conjugada;
○ Soroconversão superior a 90%;
○ Duração não conhecida ainda;
● Reações adversas:
● Contraindicações:
● Atenção

Vacina Anti-Meningocócica C

● Meningococo: Neisseria meningitidis — diplococo gram-negativo, com 13 sorogrupos


identificados. A, B, C, Y e W135 são os que mais frequentemente causam doença;
○ Meningite e Doença Meningocócica — maior incidência em crianças menores
de 5 anos (sobretudo inferiores a 1 ano);
● Composição:
● Via, local e dose de administração:
● Imunidade:
● Esquema do PNI:
● Reações adversas:
● Contraindicações:
● Adiamento:

Influenza

● Influenza — causada pelo…


● Vacina administrada anualmente em campanhas. Bianualmente nos estados do
Norte. Não integra o calendário (até 2023);
● PNI de 2023:
○ Vacina Influenza fragmentada e inativada:

○ Campanhas Nacional de Vacinação;
○ Crianças — 6 meses a menores de 6 anos: doses com intervalo de 30 dias se
for primovacinação. Uma única dose se vacinação na campanha prévia;
● Contraindicações

65
● Eventos adversos

Vacina contra HPV

● HPV:
○ Atualmente é a IST mais comum;
○ Foram identificados mais de 100 sorotipos virais, sendo 40 infectantes da
região anogenital humana. Desses, 15 são altamente oncogênicos;




● Vacina obtida por recombinação genética, contendo a proteína L1 do capsídeo viral;
● Vacina Bivalente contra HPV 16 e 18 ou Vacina Quadrivalente contra HPV 6, 11,
16 e 18;
● Via de administração e dose:
● Esquema do PNI:
○ Para o sexo feminino:
■ A partir dos 9 anos;
■ Prevenção de câncer e lesões pré-cancerosas cervicais — Bi ou
Quadrivalente;
■ Prevenção de verrugas genitais — Quadrivalente;
○ Para o sexo masculino:
■ A partir de 9 anos;
■ Prevenção de verrugas genitais, câncer de ânus, pênis e orofaringe —
Quadrivalente;
■ A vacinação do homem confere certo aspecto de imunidade de
rebanho;
○ Meninas e Meninos — 9 aos 14 anos, 2 doses (2ª dose 6 meses após a
primeira);
○ Outros:

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Hepatite A

● Características:
○ OMS — estima 1,5 milhões de casos de hepatite A ao ano;
○ No Brasil, é uma doença de notificação obrigatória;
○ Impacto negativo
● Esquema do PNI

COVID 19

● Mais de 10.000 hospitalizações por SRAG, com mais de 500 mortes;


● Vacinas disponíveis:
○ Vacina Corona Vac (Sinovac-Butantan) — crianças com mais de 3 anos
(com todas as doses);
○ Vacina de RNAm (Pfizer e BionTech):
■ 12 a 16 anos — duas doses de 30 microgramas, com pelo menos 21
dias de



● Aplicação simultânea com outras vacinas ou em qualquer intervalo;
● Intercambialidade em crianças — ainda sem evidências;
● Efeitos colaterais — dor no local da injeção, vermelhidão e inchaço. São menos
comum cefaleia, vômito e perda de apetite;
○ Muito raro — miocardite (mais comum com a vacina da Pfizer) na segunda
dose (40 a 50 casos para cada milhão de doses aplicadas). Não necessita de
drogas vasoativas e há restauração de 100% da função cardíaca;
● Não há óbitos relatados pela vacina. Há risco maior de miocardite com a infecção
pelo COVID19 e de pior evolução;

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Caso Clínico

Você atende Pedro, com 1 ano de vida cujo motivo da consulta foi resfriado comum.
Pedro está hidratado, sem desconforto respiratório, BEG, sem sinais de gravidade.
Durante a consulta, você observa a Caderneta da Criança: apenas 1 dose de BCG e 1
dose de Hepatite B feitas nos primeiros dias de vida. Quais as orientações quanto à
vacinação você dará por escrito para a mãe, encaminhando-a a um posto de vacinação
mais próximo.

● Pontos importantes:
○ Exaltar benefícios e importância da vacinação com a mãe;
○ Objetivo — imunizar o quanto antes (doses feitas seguindo o intervalo
mínimo);
○ Encaminhar por escrito as orientações para uma UBS de referência (se
possível comunicação pessoal ou contato telefônico com profissional da
UBS)
○ Comunicação ao Conselho Tutelar se maiores negligências;

Constituição de vacina — pelas indicações;

Efeitos colaterais de vacina;

Conservação de vacinas (temperaturas e presença de lotes na caderneta)

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