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AS LIÇÕES DO CASO ROMÁRIOO Negócio é “Bola na Rede”:

Luiz Marins

Ele marca gols! É artilheiro disparado! Por que não foi logo o primeiro a ser
convocado para a Seleção Brasileira? Como não sou muito entendido de futebol,
entrevistei mais de cem pessoas de todas as idades, de várias cidades e estados e
portanto torcedores de vários times, fazendo as mesmas perguntas:
1) Por que o Romário não é convocado?
2) Você gostaria de estar na posição de técnico do Romário?
3) Qual, na sua opinião, a maior característica de personalidade do Romário?
4) Você conhece na sua empresa ou no seu círculo de amizades pessoas
semelhantes ao “tipo” Romário?
5) Qual a sua opinião sobre elas? E ainda fiz algumas outras perguntas para
“checar” e “cruzar” as respostas, como por exemplo
– Se o Romário jogasse na Seleção e marcasse um gol ele iria “abraçar o Felipão”
como todos fazem? O que ouvi foi surpreeendente!

Algumas pessoas disseram que o Romário não foi convocado porque o Felipão
“simplesmente não gosta dele” ou ainda “que o Felipão só gosta de jogador que não
apareça mais que ele...” . Outros disseram: “O problema é que o Romário é
indisciplinado. Não gosta de concentração. Não cumpre horários. Desagrega a equipe...”
ou ainda “Ele só fica na sombra esperando a bola e não joga para o time...”. Poucos dos
meus entrevistados gostariam de ser técnico do Romário. Gostariam de ser o “dono do
time”, mas técnico, não. “Ele é difícil de lidar...”. “Quando ele não quer, simplesmente não
joga... Ele desafia a disciplina e não quer cumprir os regulamentos....” foram os
comentários. A arrogância, o ser “cheio de si” e ainda “indisciplinado” ou “preguiçoso”
foram características de personalidade apontadas.
Mas o que mais me chamou a atenção foi que todos disseram conhecer “vários
Romários” na vida e na empresa. São pessoas que marcam gols, verdadeiros craques,
mas... “são indisciplinados, desagregam a equipe, jogam só para si mesmos, dizem o que
querem, mesmo contra a empresa em que trabalham, são preguiçosos, não querem
participar de programas de treinamento, qualidade. Acham que sabem tudo e até
humilham os seus companheiros de trabalho, etc.” . Mas são verdadeiros artilheiros!
Vendem muito! São verdadeiros campeões!
E agora? Que conclusões podemos tirar? Vale ou não a pena ter um “Romário” em
nossa empresa, em nosso time? Será possível mudar um “Romário” tornando-o mais
disciplinado, menos arrogante? A verdade é que nenhum diretor, gerente, chefe ou
supervisor gostaria de ter um “Romário” como (in)subordinado. Embora ele “marque
gols”, entenda do que faz e o faça como um artilheiro, a verdade é que hoje é necessário
jogar em time, em equipe, aceitar as regras e cumprí-las em benefício do time e ser
disciplinado.
Assisti a um programa de esportes na televisão em que um preparador físico que
havia trabalhado com o Romário declarou que ele “é mesmo diferente”. “Num treino que
fizemos ele ficou o tempo todo sentado na bola. E eu perguntei ao técnico porque o
Romário não estava treinando e o técnico respondeu: - Hoje ele não quer treinar. O
treinamento dele hoje é só ficar sentado na bola....”. O mesmo preparador físico disse
que tinha que fazer tudo diferente para o Romário. “Ele simplesmente não fazia os
exercícios solicitados. A solução era dizer a ele que então ele fizesse o que quizesse...”.
Num outro programa, vi uma série de videotapes em que o campo estava meio no sol e
meio na sombra (em jogos em final de tarde). O Romário ficava parado na sombra. De
repente ele corria para o sol – marcava o gol – e voltava para a sombra, esperando a
próxima bola....
Pessoas com o temperamento e a personalidade de um Romário serão sempre um
problema para serem “convocadas” para a Seleção – o que na empresa significa –
receber uma promoção, serem convidadas para um nova oportunidade de crescer.
Pessoas “difíceis” como o Romário podem jogar muito bem mas poderão ser
deixadas de fora por aqueles que têm o poder de convocá-las, pois sempre representam
uma ameaça ao espírito de equipe que um time tem que ter.
E você quem é? Você é um Romário ou está na posição de um Felipão? Você
convocaria o Romário para a Seleção? Você convocaria um “Romário” para trabalhar na
sua empresa, no seu departamento, no seu time? O que fazer com um vendedor que
vende muito mas fala mal de sua empresa e da sua marca? O que fazer com um
vendedor que vende muito mas não cumpre prazos, não entrega relatórios, não participa
de treinamentos e de reuniões matinais, não quer fazer visitas pós-venda e que acha que
tudo o que você, gerente de vendas, diz é bobagem e coisa de quem não é “campeão”
como ele (vendedor)?
Se você é um “Romário” também tem um problemão pela frente. Você, é claro,
está louco para ser “convocado”. Até o povão pede a sua convocação. Você chora, pede
desculpas pelo que fez e pelo que deixou de fazer. Mas quem tem o poder de convocá-lo,
simplesmente prefere correr o risco de não ter “o artilheiro” na equipe do que ter alguém
que ele (chefe) acha que pode desagregar o time. E você, embora “campeão de gols”
pode se ver, de repente, desempregado. Um currículo maravilhoso, um currículo cheio de
vitórias e títulos talvez não seja suficiente para que você seja “convocado”. Ninguém quer
ser seu “técnico” – ninguém quer ser seu chefe, seu gerente e talvez pouca gente queira,
na verdade, ter você como colega de trabalho. O seu pecado é que você é “bom demais”
para qualquer time que exija disciplina, espírito de corpo, humildade e luta. Será que o
Romário é assim? Será você assim?
A verdade é que a polêmica do “caso” Romário é maior do que a da Casa dos
Artistas ou do Big Brothers. “Tantas cabeças, quantas sentenças” como diz o ditado
latino. Não há unanimidade de opinião, nem se consegue o consenso. Afinal no futebol,
como na vida, o importante é “marcar gols”, o resto é vã filosofia....
Será? Pense nisso! Sucesso!

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