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2005
OS TÍTULOS DE CRÉDITO
NOÇÃO
Segundo Ferrer Correia1, o título de crédito é um documento que
se encontra numa posição especial face ao direito a que se reporta;
trata-se de um documento constitutivo de carácter permanente, que
constitui prova do direito e é, ele próprio, fundamento desse direito
porque incorpora a relação cartular2 ou fundamental.
Toda a sua disciplina está mais ou menos enformada por um
preocupação de defesa dos portadores do título de crédito, de boa fé,
que são terceiros face à relação cartular, e pelo propósito de facilitar e
encorajar a circulação dos próprios títulos de crédito.
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AS LETRAS3
A letra é um título de crédito:
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Iniciaremos a exposição pelas letras porque o seu regime é aplicável aos restantes
títulos de crédito. Quando haja especialidades, a referência a elas será feita no local
próprio.
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Tirando este requisito da disponibilidade de fundos, tudo o resto se passa como na
letra.
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Requisitos de Forma
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Depois veremos melhor esta questão. Cfr. artigos 16.º e 17.º LULL.
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Artigo 1º
Requisitos da letra
A letra contém:
1 - A palavra "letra" inserta no próprio texto do título e expressa na língua
empregada para a redacção desse título;
2 - O mandato puro é simples de pagar uma quantia determinada;
3 - O nome daquele que deve pagar (sacado);
4 - A época do pagamento;
5 - A indicação do lugar em que se deve efectuar o pagamento;
6 - O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga;
7 - A indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada;
8 - A assinatura de quem passa a letra (sacador).
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Daqui em diante, iremos apenas referirmo-nos às letras, apenas chamando a atenção
para o que for diferente.
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Aquela letra a que, precisamente, faltam elementos formais; não está totalmente
preenchida quando é entregue ao portador.
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Artigo 6º
Divergências na indicação do montante
Se na letra a indicação da quantia a satisfazer se achar feita por extenso
e em algarismos, e houver divergência entre uma e outra, prevalece a
que estiver feita por extenso.
Se na letra a indicação da quantia a satisfazer se achar feita por mais de
uma vez, quer por extenso, quer em algarismos, e houver divergências
entre as diversas indicações, prevalecerá a que se achar feita pela
quantia inferior.
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Outra questão que coloca este n.º 2, quando diz puro e simples, é
a de saber se é possível uma convenção de juros no título cambiário. O
artigo 5.º resolve esta questão, permitindo que se convencionem juros
na letra à vista (a que se vence com a simples apresentação a
pagamento, ou seja, não tem prazo) e na letra a um certo termo de vista
(que tem um prazo, mas este só começa a correr a partir da
apresentação a pagamento). No fundo, estas são letras que traduzem
obrigações puras.
Artigo 5º
Estipulação de juros
Numa letra pagável à vista ou a um certo termo de vista, pode o sacador
estipular que a sua importância vencerá juros. Em qualquer outra
espécie de letra a estipulação de juros será considerada como não
escrita.
A taxa de juro deve ser indicada na letra; na falta de indicação, a
cláusula de juros é considerada como não escrita.
Os juros contam-se da data da letra, se outra data não for indicada.
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Artigo 3º
Modalidades do saque
A letra pode ser à ordem do próprio sacador.
Pode ser sacada sobre o próprio sacador.
Pode ser sacada por ordem e conta de terceiro.
Artigo 7º
Independência das assinaturas válidas
Se a letra contém assinaturas de pessoas incapazes de se obrigarem
por letras, assinaturas falsas, assinaturas de pessoas fictícias, ou
assinaturas que por qualquer outra razão não poderiam obrigar as
pessoas que assinaram a letra, ou em nome das quais ela foi assinada,
as obrigações dos outros signatários nem por isso deixam de ser
válidas.
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Artigo 2º
Falta de algum dos requisitos
O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo
anterior não produzirá efeito como letra, salvo nos casos determinados
nas alíneas seguintes:
A letra em que não se indique a época do pagamento entende-se
pagável a vista.
Na falta de indicação especial, o lugar designado ao lado do nome do
sacado considera-se como sendo o lugar do pagamento, e, ao mesmo
tempo, o lugar do domicílio do sacado.
A letra sem indicação de lugar onde foi passada considera-se como
tendo-o sido no lugar designado, ao lado do nome do sacador.
Artigo 33º
Modalidades do vencimento
Uma letra pode ser sacada:
-À vista;
-A um certo termo de vista;
-A um certo termo de data;
-Pagável no dia fixado.
As letras, quer com vencimentos diferentes,
quer com vencimentos sucessivos, são nulas.
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Atenção que estas normas são imperativas e não é por haver aqui uma presunção
que passam a ser supletivas. Com isto quer-se dizer que, na falta de indicação, o que
vale é o artigo 2º.
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Conclusão:
São estes os requisitos essenciais cuja falta, em princípio, produz
a invalidade do título, que implica que o título não é considerado letra,
excepto nos casos que já vimos e noutros que passamos a enunciar.
Elementos relativamente essenciais são aqueles que o artigo 2.º
supre época e lugar de pagamento e lugar de emissão (artigo 1.º, n. os
4, 5 e 7, 2ª parte). Ainda assim, estes elementos são essenciais (ainda
que relativamente) porque há situações em que o suprimento não é
possível, como será o caso da data e lugar de pagamento impossíveis.
Os outros elementos são essenciais; mas há dois que são
essencialíssimos; e são-no porque, mesmo na figura da letra em branco
(aquela a que falta algum dos requisitos essenciais), que é admitida pela
LULL, são dois elementos que nunca podem faltar: a indicação da
palavra LETRA (artigo 1.º, § 1) e a assinatura do sacador (artigo 1.º, §
8). Os outros são apenas essenciais porque, não existindo, a letra é uma
letra em branco, que segue o regime previsto na LULL.
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NEGÓCIOS CAMBIÁRIOS
Vejamos os negócios cambiários passíveis de existir no âmbito
dos títulos de crédito.
1) Saque
2) Endosso
3) Aceite
4) Aval
Pode haver simultaneamente, a existência destes quatro negócios
cambiários ou de alguns deles. Vejamos cada um, isoladamente.
O Saque
É a declaração cambiária que cria a letra. Quem emite a letra é o
sacador que, através do saque, enuncia uma ordem de pagamento ao
sacado. Mas o saque não é apenas a ordem de pagamento; também
significa uma garantia de pagamento, na medida em que o sacador
ordena o pagamento, mas também o garante ao tomador no caso de
este não ser feito, ou seja, se o sacado não pagar. O artigo 9.º refere,
expressamente, que o sacador é garante da obrigação e do pagamento.
Artigo 9º
Responsabilidade do sacador
O sacador é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra.
O sacador pode exonerar-se da garantia da aceitação; toda e qualquer
cláusula pela qual ele se exonere da garantia do pagamento
considera-se como não escrita.
Já vimos que, nos termos do artigo 3º, o saque pode ser feito:
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Só se pode invocar a falsidade de documentos autênticos ou autenticados.
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Artigo 8º
Representação sem poderes ou com excesso de poder
Todo aquele que apuser a sua assinatura numa letra, como
representante de uma pessoa, para representar a qual não tinha, de
facto, poderes, fica obrigado em virtude da letra e, se a pagar, tem os
mesmos direitos que o pretendido representado. A mesma regra se
aplica ao representante que tenha excedido os seus poderes.
O Aceite
O aceite é o negócio cambiário que, à partida, não tem que existir
numa letra (pois, caso o sacado não a aceite, o sacador é responsável
pelo seu pagamento). Mas pode existir e, nessa medida, é a declaração
cambiária pela qual o sacado se obriga a pagar a letra ao seu sacador.
Só pelo aceite é que o sacado se torna obrigado cambiário, se obriga a
pagar a letra. Quer isto dizer que a ordem de pagamento dada pela letra
só vale em relação ao sacado quando este aceita a letra. E isto é assim
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A questão que decorre do cumprimento ou incumprimento desta obrigação do
sacado aceitar a letra que é a apresentação ao aceite não iremos ver porque é
demasiado complexa.
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Artigo 26º
Modalidades do aceite
O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limita-lo a uma parte da
importância sacada.
Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite no enunciado da
letra equivale a uma recusa do aceite. O aceitante fica, todavia,
obrigado nos termos do seu aceite.
Artigo 28º
Obrigações do aceitante
O sacado obriga-se pelo aceite a pagar a letra à data do vencimento.
Na falta de pagamento, o portador, mesmo no caso de ser ele o
sacador, tem contra o aceitante um direito de acção resultante da letra,
em relação a tudo o que pode ser exigido nos termos do artigo 48º e
artigo 49º.
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