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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DE SAÚDE


DEPARTAMENTO DE ENSINO E INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIAS
FARMACÊUTICAS

PRODUÇÃO DE RELAXANTE MUSCULAR (CLORETO DE


MAGNÉSIO) A PARTIR DAS ÁGUAS DO MAR DO BENFICA NO II
SEMESTRE DE 2022

ADILSON MENDES MANUEL

LUANDA, 2022
Adilson Mendes Manuel

PRODUÇÃO DE RELAXANTE MUSCULAR (CLORETO DE MAGNÉSIO) A


PARTIR DAS ÁGUAS DO MAR DO BENFICA NO II SEMESTRE DE 2022

Trabalho de fim do curso apresentado ao Instituto de


Ciências de Saúde de Universidade Agostinho Neto
como requisito para obtenção do grau de Licenciado em
Ciências Farmacêuticas

Orientador: Manuel Londa Vueba, PhD

LUANDA, 2022
Autorizo a reprodução total ou parcial deste trabalho exclusivamente para fins académicos e
científicos, desde que seja citada a fonte.

Assinatura ___________________________________________________

Assinatura ___________________________________________________

Data: ______∕_________∕__________

FICHA CATOLOGRÁFICA

MANUEL, Adilson Mendes


PRODUÇÃO DE RELAXANTE MUSCULAR (CLORETO DE MAGNÉSIO)
A PARTIR DAS ÁGUAS DO MAR DO BENFICA NO II SEMESTRE DE
2022.

Orientador: Manuel Londa Vueba, PhD

Pag.: 49

Tipo de letra: Time New Roman

Trabalho de Fim de Curso em Licenciatura do Instituto de Ciências de Saúde de


Universidade Agostinho Neto, como requisito para obtenção do grau de Licenciado
em Ciências Farmacêuticas.

Palavras-chave: I – Cloreto de Magnésio; II – Relaxante muscular; III - Produção


TERMO DE APROVAÇÃO

MANUEL, Adilson Mendes

PRODUÇÃO DE RELAXANTE MUSCULAR (CLORETO DE MAGNÉSIO) A PARTIR


DAS ÁGUAS DO MAR DO BENFICA NO II SEMESTRE DE 2022

Trabalho de fim do curso apresentado ao Instituto de


Ciências de saúde da Universidade Agostinho Neto
como requisito para obtenção do grau de Licenciado em
Ciências Farmacêuticas

Aprovado em ________∕________∕__________

BANCA EXAMINADORA

Presidente ___________________________Assinatura _______________________

1° Vogal ____________________________Assinatura _______________________

2° Vogal ____________________________Assinatura _______________________


DEDICATÓRIA

À senhora Maria Salomé António Mendes, minha mãe, que se tornou pai e mãe muito cedo,
estando a tempo inteiro orando e suplicando pela saúde de seus filhos e por dias melhores
AGRADECIMENTOS

Jeová Deus em primeiro lugar, pois na sua infinita sabedoria concebeu-nos dotados da mesma
qualidade;

Aos meus irmãos que sempre acreditaram, apoiaram e apostaram em mim, António Manuel,
Lurdes Fonseca, Teresa Manuel e Tírcia Manuel;

Ao meu orientador Dutor Manuel Vueba por aceitar mais um desafio em sua caminhada
académica, pela sua paciência, dedicação e vontade em ensinar de maneiras a melhorarmos a
saúde e a qualidade de vida da sociedade;

Às professoras Maria Regla, Domingas Duarte e Ana Patrícia pelos ensinamentos e


oportunidades em monitorar as suas cadeiras no D.E.I.C, e a todos os professores que
cruzaram o meu percurso académico no ICISA;

Aos meus colegas da turma C.F-2018 pela ajuda durante o tempo de formação no ICISA e
estágio curricular;

À direção da clínica Girassol e do grupo Mecofarma pela oportunidade de conciliarmos a


teoria com a prática no campo de estágio;

À minha querida costela, Marília Magalhães pela paciência, amor, amizade e incentivo
durante essa caminhada;

Aos meus colegas Edmilson, Tilzia, Lucrécia, Nádia, Roberto, Emídio, Débora, Aldair, BV,
Visi, Alfredo, César, Leonardo;

Ao Departamento de Engenharia do ISPTEC, na pessoa da Decana deste departamento Dra.


Kátia Gabriel;

À todos que esqueci de mencionar, mas que de alguma forma contribuíram para que este
projecto fosse uma realidade, o meu muito obrigado.
EPÍGRAFE

"Não persiga ao êxito, seja um excelente Farmacêutico e o êxito te perseguirá."

- Os 3 Idiotas
RESUMO

O cloreto de magnésio é um suplemento alimentar que combina o magnésio com o cloro. Ele
pode ser indicado para a prevenção e tratamento da deficiência do mineral e ainda como
terapia complementar para tratar problemas como espasmos musculares, fraqueza muscular,
alterações de funções cognitivas, doenças articulares, funções digestivas, sintomas de
fibromialgia, prevenção de cãibras, melhora o funcionamento do intestino e ainda ajuda a
regular os níveis de glicose no sangue. Foi realizado um estudo bibliográfico e experimental
como o objectivo de produzir cloreto de magnésio a partir da água do mar usando o processo
de Dow. O método de produção de MgCl2 proposto neste trabalho envolve a análise de vários
parâmetros de operação tais como: a qualidade e quantidade da matéria-prima, a concentração
da cal apagada ao ser levada a neutralização, a acidez, o pH, etc. Durante a produção foi
possível destacar alguns processos tais como a salificação, filtração, decantação e evaporação.
De acordo o estudo destes processos os resultados revelaram que é possível identificar as
melhores condições de operação que garantem melhor desempenho do processo e a obtenção
de um sal com pureza acima dos 90%. Mais, foram realizados balanços de massa com base na
massa residual de água a ser processada. Utilizou-se 2 kg de água do mar e proporcionou 0,6
kg de Cloreto de magnésio Hexa-hidratado produzido, com odor, cor, sabor, pH, pureza e
temperaturas de fusão iguais e/ou próximas à aquelas encontradas na literatura. Conclui-se
então que é possível produzir o relaxante muscular cloreto de magnésio a partir da água do
mar usando o processo de Dow da água do mar.

Palavras-Chave: Relaxante muscular; Água do mar; Cloreto de magnésio;


ABSTRACT

Magnesium chloride is a food supplement that combines magnesium with chlorine. It can be
indicated for the prevention and treatment of mineral deficiency and as a complementary
therapy to treat problems such as muscle spasms, muscle weakness, changes in cognitive
functions, joint diseases, digestive functions, fibromyalgia symptoms, prevention of cramps,
improves functioning. intestine and even helps regulate blood glucose levels. A bibliographic
and experimental study was carried out with the objective of producing magnesium chloride
from seawater using the Dow process. The method of production of MgCl2 proposed in this
work involves the analysis of several parameters of operation such as: the quality and quantity
of the raw material, the concentration of slaked lime when taken to neutralization, acidity, pH,
etc. During production it was possible to highlight some processes such as salification,
filtration, decantation and evaporation. According to the study of these processes, it was
possible to identify the best operating conditions that guarantee better performance of the
process and obtain a salt with purity above 90%. Mass balances were performed based on the
residual mass of water to be processed. 2 kg of sea water was used 0.6 kg of Magnesium
Chloride Hexahydrate was produced, with odor, color, taste, pH, purity and melting
temperatures equal and/or close to those found in the literature. It is therefore concluded that
it is possible to produce the muscle relaxant magnesium chloride from seawater using the
seawater Dow process.
Key words: I-Muscle relaxant; II-Sea water; III-Magnesium chloride;
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Estrutura da molécula de clorofila, uma porfirina com o magnésio no centro. ........ 22
Figura 2: Materiais e Reagentes usados na prática. Fonte: O autor ........................................ 36
Figura 3: Diagrama de bloco do processo ................................................................................ 39
Figura 4: Formação de cristais de MgCl2 ................................................................................. 40
Figura 5: Cristais anidro de MgCl2 .......................................................................................... 40
Figura 6:Espectrofotómetro usado para caracterizar o produto................................................ 41
Figura 7: espectro do infravermelho de uma amostra de Magnoral, Magnesium Ok e do
produto obtido. ......................................................................................................................... 41
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Exemplos de medicamentos cuja substância ativa é o magnésio ............................. 27


Tabela 2: Balanço de massa geral do experimento................................................................... 38
Tabela 3: Caracterização da cor e cheiro do produto obtido .................................................... 42
Tabela 4: Caracterização quanto à solubilidade e higroscopia ................................................. 42
Tabela 5: Avaliação das temperaturas de decomposição e de fusão ........................................ 43
Tabela 6: Avaliação do pH e da densidade do produto obtido ................................................. 43
Tabela 7: Avaliação do índice de refração e do sabor do produto obtido ................................ 44
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADN – Ácido Desoxirribonucléico


ARN – Ácido Ribonucléico
ATP – Adenosina Trifosfato
AVC – Acidente Vascular Cerebral
Ca(OH)2 – Hidróxido de cálcio
CaCl2 – Cloreto de Cálcio
CaCO3 – Carbonato de Cálcio ou calcário
CaO – Óxido de Cálcio ou cal virgem
HCl – Ácido clorídrico
HDL – Lipoproteína de Alta Densidade
LDL – Lipoproteína de Baixa Densidade
Mg(OH)2 – Hidróxido de Magnésio
MgCl2 – Cloreto de Magnésio
MgCl2.6H2O –Cloreto de Magnésio Hexa-hidratado

MgO _ Óxido de Magnésio


pH – Medida de Actividade do Ião de Hidrogénio
TPM – Tensão Pré-Menstrual
LISTA DE SÍMBOLOS

% - Percentagem
°C – Grau centígrado
aq. – Aquoso
Ca – Cálcio ou cal
g – Grama
g/cm3 – Grama por centímetro cúbico
Kg – Kilograma
M – Molaridade
Mg – Magnésio
mL – Mililitro
S – Sólido
t – Tonelada
SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 14
1.1 - FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ......................................................................... 16
1.2 - JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 17
1.3 APRESENTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ..................................... 18
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 20
2.1 - História do Magnésio ................................................................................................. 20
2.2 - O papel do magnésio na saúde humana ................................................................... 22
2.3 - Usos farmacêuticos ..................................................................................................... 24
2. 4 – Cloreto de Magnésio ................................................................................................. 28
2.4.1 – Como tomar Cloreto de Magnésio? ...................................................................... 28
2.4.2 – Benefícios do Cloreto de Magnésio ...................................................................... 29
2.4.3 – Efeitos colaterais do Cloreto de Magnésio ............................................................ 32
3 - OBJECTIVOS ................................................................................................................... 19
3.1 - Objectivo Geral : ........................................................................................................ 19
3.2 - Objectivos Específicos: ............................................................................................... 19
4. METODOLOGIA............................................................................................................... 34
4.1 - Descrição do Processo ................................................................................................ 34
4.1.1 Processo Dow de água do mar ................................................................................. 34
4.1.2 Processo Dow da salmoura natural .......................................................................... 34
4.2 Etapas da Metodologia ................................................................................................. 34
4.2.1 – Determinação da Capacidade Nominal ................................................................. 35
4.2.2 - Elaboração do diagrama de blocos ........................................................................ 35
4.2.3 – Parte experimental ................................................................................................. 35
5- RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 38
5.1 – Determinação da massa de água ............................................................................... 38
5.1.1 – Balanço de massa .................................................................................................. 38
5.2 – Diagrama de blocos .................................................................................................... 39
5.3 – Procedimento Experimental ..................................................................................... 39
5.4 – Caracterização do produto obtido............................................................................ 41
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................................................ 45
6.1 – CONCLUSÕES .......................................................................................................... 45
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 46
14

INTRODUÇÃO
A industrialização, o uso de produtos agrotóxicos e a criação de animais com rações são
alguns dos obstáculos atuais da nutrição. Seguir uma dieta balanceada em meio à rotina
corrida também não é tarefa fácil. Por conta disso, muitas pessoas têm recorrido à utilização
de suplementos alimentares, pequenas e práticas cápsulas que ajudam a atingir as doses ideais
de nutrientes dos quais todos nós precisamos. Dentre esses suplementos, destaca-se o cloreto
de magnésio, um composto mineral repleto de benefícios à saúde (Novais, 2022)

Os minerais são substâncias inorgânicas que se encontram presentes nos tecidos e fluidos do
organismo humano. A sua presença é necessária para a manutenção dos processos físico-
químicos essenciais à vida (Soetan et al., 2010). A alimentação é uma das maiores fontes de
minerais, fornecendo, por exemplo, hortícolas que contêm quase todos os minerais essenciais
para o bom funcionamento do nosso organismo. Os minerais são os responsáveis por grande
parte da estrutura do esqueleto (ossos e dentes) e são necessários ao metabolismo humano,
atuando como cofatores essenciais para várias enzimas. (Gupta & Gupta, 2013).

Hoje em dia, o mundo da medicina e da bioquímica permitiu novos desenvolvimentos na


prevenção e tratamento de diversas doenças, com recurso aos minerais. O ferro, por exemplo,
é usado para o tratamento de anemias, o cálcio na prevenção da osteoporose e a platina no
tratamento de diversas neoplasias, o que os torna minerais de grande importância para a
indústria farmacêutica. A indústria cosmética recorre, por exemplo, ao zinco por ajudar nos
processos de cicatrização de feridas na pele e proteção solar e o selénio para tratar dermatites
seborreicas. Por estas razões é que, nos dias de hoje, os minerais têm diversas aplicações,
sendo a indústria farmacêutica e cosmética uma das suas áreas de intervenção (Sampaio et al.,
2011; Abbaspour et al., 2014; Kogan et al., 2017; Pais et al., 2018).

Conhecido como o mineral do músculo, o magnésio está envolvido em mais de 300 reações
bioquímicas do nosso organismo. Ele atua em funções básicas do nosso corpo, promovendo o
desenvolvimento dos ossos, tecidos e músculos. Além disso, é responsável por regular a
absorção de outros nutrientes que, em conjunto, garantem o bom funcionamento do
organismo. É a quarta substância mais abundante no corpo, perdendo apenas para o cálcio,
sódio e o potássio (Hélio, 2012).
Além de fortalecer o sistema imunológico, o magnésio auxilia nas funções nervosas e
musculares, regula a pressão arterial e ajuda a combater a má digestão.
15

É comercialmente produzido por eletrólise de cloreto de magnésio (MgCl2), sendo processado


principalmente a partir da água do mar e pela redução direta de seus compostos com agentes
redutores adequados (Hanusa 2015).

O magnésio é obtido naturalmente através da dieta e por essa razão a indústria farmacêutica
dedicou-se a obter e estudar suplementos de magnésio ou, outros combinados em que este
elemento tenha um papel fundamental, cujo objetivo é actuar nas situações de
hipomagnesemia.

Estes suplementos têm diversas aplicações e muitas vezes apenas são prescritos quando um
sintoma, relacionado com este défice de magnésio se torna persistente. É o caso da
necessidade de actuar na redução da pressão arterial ou na estabilização do miocárdio uma
vez que o magnésio relaxa a musculatura lisa dos vasos cardíacos e actua na dilatação das
coronárias. Desta forma os suplementos à base de magnésio, para este efeito o sulfato de
magnésio, melhoram a contratibilidade do miocárdio e reduzem a probabilidade de ocorrência
de espasmos coronarianos, inibindo ainda a agregação plaquetária (Ramirez 2017).

Existem ainda outros princípios activos, disponíveis no mercado português, à base de


magnésio, tais como aspartato de magnésio, o cloreto de magnésio, o lactato de magnésio e o
pidolato de magnésio, estes mais usados na fraqueza, fadiga, náuseas e cãibras provocadas por
uma concentração insuficiente de magnésio no organismo (INFARMED - s.d.).

O cloreto de magnésio é um suplemento alimentar que combina o magnésio, mineral essencial


para a vida, com o cloro, elemento químico que favorece a absorção do magnésio no intestino
e o mantém biodisponível para quem apresenta deficiência de magnésio no organismo. É um
dos suplementos mais comuns por ser uma combinação em que o mineral é bem mais
absorvido pelo corpo.

O cloreto de magnésio pode ser indicado para a prevenção e tratamento da deficiência do


mineral e ainda como terapia complementar para tratar problemas como espasmos
musculares, fraqueza muscular, alterações de funções cognitivas, doenças articulares, funções
digestivas, sintomas de fibromialgia, prevenção de cãibras, melhora o funcionamento do
intestino e ainda ajuda a regular os níveis de glicose no sangue.
16

FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Durante o período de estágio, foi possível notar a adesão de idosos, maioritariamente do sexo
feminino, adultos e jovens praticantes de atividades físicas, aos relaxantes musculares à base
de Magnésio, em especial o Cloreto de Magnésio, que comumente aparece com os nomes
comerciais de Magnoral® Magnesium-OK® e Bio-Ritmo®, com o desejo de se livrarem das
dores reumáticas, fadigas, cãibras, espasmos e arritmias cardíacas.

De acordo com (Lewis 2018), os sintomas da hipomagnesemia são habitualmente, náuseas,


vómitos, sonolência, fraqueza, alterações na personalidade, espasmos musculares, tremores e
perda de apetite. Em casos graves a hipomagnesemia pode causar convulsões, especialmente
em crianças ou paragem cardíaca.

Em média, de acordo as prescrições médicas, tais indivíduos precisam consumir 30 câpsulas


durante 1 mês, para tratamento ou prevenção aos níveis baixos de Magnésio no organismo.
Embora os preços variam, em média o utente ou paciente chega a desembolsar mais de
9.000kz na aquisição de tal suplemento em farmácias, um valor que pode ser reduzido à um
terço do mesmo, se produzido cá em Angola.

Como além da eficácia, segurança e qualidade, um medicamento também precisa ser


acessível, diante do exposto surge então as seguintes questões:

 Como é feita a produção do relaxante muscular cloreto de Magnésio a partir da água


do mar?

 Qual é o impacto económico, social e ambiental decorrentes da produção de cloreto


de magnésio?
17

JUSTIFICATIVA

O medicamento do ponto de vista da economia é considerado um bem económico, pois está


disponível em quantidade inferior a que realmente o sistema de saúde necessita ou deseja para
satisfazer aos seus provedores e usuários.

O presente trabalho justifica-se não só pela abordagem de uma das saídas do profissional de
farmácia, que é a área da indústria farmacêutica, mas também pelo impacto económico que
pode causar na economia nacional, criando mais postos de trabalho, reduzindo a importação e
consequentemente a redução do preço de compra, valorização do capital humano nacional e,
dando cada vez mais ênfase aos produtos Mad in Angola.

Do ponto de vista social, sabemos que temos um compromisso com a saúde e qualidade de
vida da sociedade. Deste modo, a produção de relaxante muscular será uma das muitas formas
de honrarmos com o nosso compromisso com a sociedade (onde temos jovens e adultos
trabalhando mais de 10h por dia, percorrem mais 4km à pé e com hábitos alimentares não
saudáveis), já que teremos mais medicamentos do género disponíveis no mercado angolano à
um preço muito mais reduzido, facilitando a adesão dos seus usuários, reduzindo ou
impedindo a hipomagnesemia que, em casos graves pode levar a uma paragem cardíaca.
18

APRESENTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO


Neste trabalho foi estudada a aplicação de processos físicos e químicos para a obtenção de um
relaxante muscular, o Cloreto de Magnésio.

O principal objectivo deste trabalho foi efectuar o aproveitamento dos sais de magnésio
presente na água do mar, por meio de reações químicas e processos físicos de separação de
mistura de substãncias, para a obtenção do relaxante muscular cloreto de Magnésio, sem
recorrer ao uso de catalisadores, e com condições experimentais economicamente mais
favoráveis, nomeadamente temperaturas mais baixas e uma água com alto teor em magnésio,
de modo a maximizar a produção e a qualidade do produto obtido.

No capítulo 1 é justificada a escolha do tema e feita a apresentação do trabalho.

No capítulo 2 faz-se menção ao magnésio, as propriedades físicas, químicas e farmacêuticas


do Mg e do seu cloreto mais usado, bem como uma revisão bibliográfica da informação
existente sobre este tema e consequentemente a justificação dos estudos desenvolvidos e do
trabalho experimental realizado também são apresentados neste capítulo.

O capítulo 3 é dedicado à descrição do trabalho experimental, sendo apresentada a


metodologia usada na realização dos ensaios bem como os métodos analíticos utilizados na
caracterização da matéria prima e do produto final obtido.

Neste capitulo, o 4º, são então apresentados os resultados de todos os procedimentos descritos
na metodologia.

No capítulo 5 é apresentada uma sinopse dos aspectos mais importantes e a apresentação de


sugestões para trabalhos futuros.
19

OBJECTIVOS

Objectivo Geral :
 Produzir Cloreto de Magnésio a partir da água do mar do Benfica no II semestre de
2022

Objectivos Específicos:
 Fazer o levantamento da revisão bibliográfica, para se conhecer o estado de arte do
tema deste trabalho;
 Desenhar um diagrama de blocos da produção do cloreto de magnésio;
 Descrever as principais etapas do processo;
 Definir a capacidade nominal;
 Realizar o balanço de massa;
 Produzir em escala laboratorial o cloreto de magnésio;
 Caracterizar o produto final obtido quanto à pureza (índice de refracção), solubilidade,
cor e as propriedades organolépticas e farmacológicas;
20

CAPÍTULO I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


Neste capítulo é apresentada a revisão bibliográfica, tendo em conta que o objectivo proposto
neste trabalho engloba produzir e caracterizar o cloreto de magnésio, dando ênfase acentudada
aos processos fisicoquímicos, especialmente o Dow Process, pelo qual o tema do trabalho foi
proposto.

1.1 - História do Magnésio

A palavra magnésio vem de uma expressão latina magnesia alba, que significa “magnésia
branca”, nome dado ao carbonato de magnésio. Contudo, entende-se que o nome do elemento
teve origem grega, uma vez que Magnésia era um distrito de Tessália, Grécia, local em que
foi encontrado o mineral esteatito, um silicato de magnésio hidratado, conhecido como talco
ou pedra-sabão.

Embora já se conhecesse compostos de magnésio, como o sal de Epsom, descoberto em 1618


por Henry Wicker, na cidade de Epsom, ao norte do condado de Surrey, Inglaterra, o
magnésio só foi obtido na forma pura em 1808, por Sir Humphry Davy. Davy utilizou o
mesmo método eletrolítico desenvolvido por Jöns Jakob Berzelius e Magnus Martin Pontin
para isolar o sódio, bário, potássio, estrôncio e cálcio, nos anos de 1807 e 1808.

O magnésio é o oitavo elemento mais abundante na crosta terrestre e o terceiro no mar


representando 2,5% da sua constituição e é, depois do alumínio e do ferro, o terceiro metal
estrutural mais abundante. Ocorre como carbonato (magnesite -MgCO3 e dolomite - CaMg
(CO3)2) e em muitos silicatos comuns, incluindo o talco, a olivina e a maioria dos tipos de
amianto. Também pode ser encontrado como hidróxido (brucite), cloreto (carnalite, KMgCl3 ∙
6H2O) e sulfato (quieserite). É distribuído em minerais como serpentine e crisólite. A água do
mar contém cerca de 0,13% de magnésio, principalmente na forma de cloreto dissolvido, e
que lhe confere o seu sabor amargo característico.

O magnésio é comercialmente produzido por eletrólise de cloreto de magnésio (MgCl2),


sendo processado principalmente a partir da água do mar e pela redução direta de seus
compostos com agentes redutores adequados (Hanusa 2015).

No passado o magnésio era usado para fitas e pó de flash fotográfico, porque, quando
finamente moído, queima no ar com uma luz branca intensa. Essa característica faz com que,
ainda nos dias de hoje o magnésio seja utilizado em dispositivos explosivos e pirotécnicos.
21

Também na indústria aeroespacial é muito utilizado devido à sua baixa densidade (apenas
dois terços da do alumínio).

Mas como o magnésio apresenta baixa resistência estrutural na sua forma pura, é utilizado
principalmente sob a forma de ligas, nomeadamente com 10% ou menos de alumínio, zinco e
manganês que visam melhorar a sua dureza, resistência à tração e capacidade de ser fundido e
soldado. As ligas de magnésio são usadas em peças de aeronaves, espaçonaves, máquinas,
automóveis, ferramentas portáteis e eletrodomésticos.

O magnésio é o metal estrutural mais fácil de trabalhar mecanicamente e é frequentemente


utilizado, quando um grande número de operações, cuja finalidade seja atribuir formato à
matéria-prima, são necessárias.

A condutividade térmica e elétrica do magnésio e o seu ponto de fusão são muito semelhantes
aos do alumínio. O magnésio é resistente à maioria dos álcalis, mas é prontamente atacado
pela maioria dos ácidos. Em temperaturas normais, é estável no ar e na água devido à
formação de uma fina película protetora de óxido, mas é atacado pelo vapor. O magnésio é
um poderoso agente redutor e é usado para produzir outros metais a partir de seus compostos
(por exemplo, titânio, zircônio) (Hanusa 2015).

O magnésio possui uma coloração prateada brilhante, este brilho perde-se quando se expõe o
magnésio ao ar, por se formar óxido de magnésio. Este elemento quando se encontra
pulverizado e exposto ao ar é extremamente inflamável produzindo uma chama branca. Reage
com a água apenas se estiver em ebulição, formando hidróxido de magnésio e libertando
hidrogénio. O magnésio deve ser manipulado com precaução pois em contacto com o ar reage
rapidamente, libertando calor (Lopez-Melinda, 2007).

Nos sistemas biológicos, o magnésio tem grande importância, já que ele é vital para que
células ou enzimas de organismos vivos possam sintetizar adenosina trifosfato, DNA e RNA.
O magnésio é o átomo central da porfirina clorofila, responsável pela fotossíntese.
22

Figura 1: Estrutura da molécula de clorofila, uma porfirina com o magnésio no centro.

Fonte: Novais, 2022

Já na química orgânica, o magnésio foi essencial para os avanços nos estudos


dos organometálicos. Embora já se conhecesse compostos organometálicos de magnésio, os
que haviam sido descritos até então tinham a questão da baixíssima solubilidade,
desacelerando suas aplicações. Até que, em 1900, o então doutorando francês Victor Grignard
conseguiu sintetizar compostos organometálicos de magnésio solúveis e estáveis em solução,
dando origem ao que hoje conhecemos como compostos de Grignard.

Essa descoberta revolucionou a química orgânica, tanto que Grignard recebeu um prêmio
Nobel, em 1912, pela descoberta. Hoje, os compostos de Grignard são os nucleófilos mais
populares, com centenas de milhares de publicações científicas a seu respeito.

O magnésio também é utilizado na fabricação de remédios. O mais famoso é o leite de


magnésia, uma suspensão de hidróxido de magnésio utilizada como antiácido e laxante. O
citrato de magnésio é aplicado em remédios efervescentes, enquanto o sulfato de magnésio é
comercializado sob o nome de sal de Epsom, conhecido por suas propriedades anti-
inflamatórias, antioxidantes e relaxantes (Novais, 2022).

1.2 - O papel do magnésio na saúde humana

O magnésio é um dos eletrólitos que está presente no corpo humano (minerais que carregam
uma carga eléctrica quando dissolvidos em líquidos corporais). Mas a maioria do Magnésio
23

no organismo não tem carga eléctrica e liga-se a proteínas ou é armazenado nos ossos. Este
elemento é fundamental desde o embrião até à fase adulta.

Metade do magnésio contido no corpo humano está localizado nos ossos. Por sua vez o
sangue contém muito pouco magnésio. Este elemento é fundamental na formação dos ossos e
dentes e para o funcionamento normal dos nervos e dos músculos. Também diversas enzimas
corporais dependem do magnésio para funcionarem normalmente. O magnésio também está
intimamente relacionado com o metabolismo do cálcio e do potássio.

Os níveis de magnésio presentes no sangue dependem, na sua maioria do equilíbrio entre o


magnésio obtido através de alimentos e a excreção na urina e nas fezes e em menor medida
com a quantidade total de magnésio armazenada no organismo (Lewis 2018).

Os produtos hortícolas bem como o feijão, os cereais integrais e ainda algumas águas são as
principais fontes de ingestão de magnésio para o corpo humano.

O défice de magnésio é conhecido por hipomagnesemia. Habitualmente níveis baixos de


magnésio estão relacionados com baixo consumo de alimentos ricos neste elemento ou
porque o intestino não consegue absorver nutrientes normalmente (um quadro clínico
denominado má absorção). Por vezes, a hipomagnesemia também surge porque os rins ou
intestino realizam uma excreção excessiva de magnésio.

A hipomagnesemia pode também ser causada por: O consumo de grandes quantidades de


álcool, o que reduz o consumo de alimentos e aumenta a excreção de magnésio; Diarreia
prolongada o que aumenta a excreção do magnésio; Níveis elevados de aldosterona,
vasopressina (hormona antidiurética) ou de hormonas tiroideas, o que aumenta a excreção de
magnésio; Medicamentos que aumentam a excreção do magnésio, tais como os diuréticos,
alguns medicamentos antifúngicos e o medicamento quimioterápico cisplatina; Uso crónico
de um inibidor da bomba de protões (usados para reduzir o ácido do estômago);
Amamentação, que aumenta as necessidades de magnésio (Lewis 2018).

Os sintomas da hipomagnesemia são habitualmente, náuseas, vómitos, sonolência, fraqueza,


alterações na personalidade, espasmos musculares, tremores e perda de apetite. Em casos
graves a hipomagnesemia pode causar convulsões, especialmente em crianças.

O diagnóstico é feito à base de análises sanguíneas que indicam qual nível o de magnésio. O
tratamento passa pela administração de magnésio por via oral, intravenosa ou intramuscular
24

quando os sintomas são muito persistentes. O magnésio costuma fazer parte do tratamento
padrão no alcoolismo.

O excesso de magnésio presente no corpo humano é conhecido por hipermagnesemia e é,


felizmente, incomum. Esta hipermagnesemia surge quando uma pessoa com insuficiência
renal recebe sais de magnésio ou toma medicamentos que contêm magnésio (antiácidos ou
laxantes).

A hipermagnesemia pode causar: i) fraqueza muscular, ii) pressão arterial baixa, iii)
comprometimento da respiração. Em quadros de maior gravidade a hipermagnesemia, pode
provocar a paragem cardíaca (Lewis 2018).

O diagnóstico, tal como no caso da hipomagnesemia, é realizado com recurso a análises


sanguíneas que indicam o nível de magnésio presente no organismo. O tratamento é feito à
base de gluconato de cálcio por via intravenosa e através de diuréticos também por via
intravenosa e têm como objetivo aumentar a excreção de magnésio dos rins. No entanto, se os
rins não estiverem a funcionar correctamente ou se a hipermagnesemia for grave, a diálise é
normalmente necessária.

1.3 - Usos farmacêuticos

Como referido anteriormente o magnésio é obtido naturalmente através da dieta e por essa
razão a indústria farmacêutica dedicou-se a obter e estudar suplementos de magnésio ou,
outros combinados em que este elemento tenha um papel fundamental, cujo objetivo é actuar
nas situações de hipomagnesemia.

Estes suplementos têm diversas aplicações e muitas vezes apenas são prescritos quando um
sintoma, relacionado com este défice de magnésio se torna persistente. É o caso da
necessidade de actuar na redução da pressão arterial ou na estabilização do miocárdio uma
vez que o magnésio relaxa a musculatura lisa dos vasos cardíacos e actua na dilatação das
coronárias. Desta forma os suplementos à base de magnésio, para este efeito o sulfato de
magnésio, melhoram a contratibilidade do miocárdio e reduzem a probabilidade de ocorrência
de espasmos coronarianos, inibindo ainda a agregação plaquetária (Ramirez 2017).

Também no caso dos sintomas de pirose (azia), enfartamento ou flatulência existem


suplementos farmacológicos cuja substância activa principal é o magnésio. É o caso do
hidróxido de magnésio.
25

Na prática, tanto o hidróxido de magnésio assim como o sulfato de magnésio e também o


óxido de magnésio são os sais mais usados na suplementação terapêutica de magnésio.

Existem ainda outros princípios activos, disponíveis no mercado português, à base de


magnésio, tais como aspartato de magnésio, o cloreto de magnésio, o lactato de magnésio e o
pidolato de magnésio, estes mais usados na fraqueza, fadiga, náuseas e cãibras provocadas
por uma concentração insuficiente de magnésio no organismo (fonte: INFARMED - s.d.).

O magnésio (Mg) é o segundo catião mais abundante no organismo, as principais fontes de


magnésio são os hortícolas, as nozes, o feijão e os cereais integrais, havendo algumas águas
de consumo que também contribuem significativamente para a ingestão deste elemento
(Mazur & Maier, 2016). A sua deficiência pode estar associada a diversos distúrbios
metabólicos, incluindo doenças cardiovasculares (síndrome metabólica de hipertensão,
insuficiência cardíaca congestiva, arritmias cardíacas), disfunção imunológica, diabetes
mellitus tipo II, doenças de Parkinson e Alzheimer e danos causados pelos radicais livres
(Allen, 2013; Komiya & Runnels, 2017; Ramirez, 2017).

A absorção deste mineral no organismo ocorre no intestino delgado (jejuno e íleo), variando
entre 11% a 65% do total de magnésio ingerido, sendo que possíveis distúrbios
gastrointestinais (vómitos e diarreia) ou existência de doença de Crohn podem limitar a
capacidade de absorção de Mg. O magnésio circula no sangue ligado à albumina, sendo este
mineral armazenado nos ossos, músculos, tecidos moles e fluídos corporais. A sua excreção é
maior pela via urinária do que pela via fecal. Contudo, os rins conservam o magnésio de
forma eficiente, mais precisamente quando a ingestão deste se encontra num nível baixo. O
rim é considerado o principal regulador da homeostase do magnésio, pelo que os distúrbios
renais podem levar à depleção de Mg e à sobrecarga, o que por sua vez aumenta o risco de
doença cardiovascular (Soetan et al., 2010; Maham et al., 2012 Ramirez, 2017;
Tangvoraphonkchai & Davenport, 2018).

O magnésio está relacionado com centenas de reações enzimáticas do organismo humano,


sendo um cofator de enzimas que fazem parte do metabolismo de lípidos, glícidos, proteínas e
ácidos nucleicos, da síntese de transportadores de hidrogénio e de todas as reações que
envolvem a formação ou aplicação de trifosfato de adenosina (ATP). A principal função do
magnésio é estabilizar a estrutura do ATP, bem como a estrutura terciária do ADN (Maham et
al., 2012; Ramirez, 2017; Kateb & Topf, 2019).
26

Porém, o magnésio é responsável pelo relaxamento do músculo liso, pela inibição da


transmissão neuromuscular colinérgica e pela estabilização dos mastócitos. É considerado um
antagonista do cálcio e um cofator responsável pelos sistemas enzimáticos relacionados com o
fluxo de sódio e potássio através da membrana celular (Ramirez, 2017).

Portanto, a capacidade que o magnésio possui a nível do relaxamento da musculatura lisa dos
vasos cardíacos faz com que este atue na dilatação das coronárias, o que melhora a
contratilidade do miocárdio, reduz a probabilidade de ocorrência de espasmos coronarianos e
inibe a agregação plaquetária, aumentando a relação prostaciclina /tromboxano. Como o
sulfato de magnésio tem um efeito vasodilatador, é capaz de diminuir a pressão arterial. Este
mineral tem ainda a capacidade de estabilizar o ritmo cardíaco (Ramirez, 2017; Rios et
al.,2017).

O magnésio possui um papel fundamental na replicação e reparação do ADN, na transcrição


de ácido ribonucleico (ARN), na síntese de aminoácidos, na formação de proteínas e no
metabolismo da glicose. Existem evidências de que o magnésio está relacionado com a
secreção de insulina, e alguns ensaios clínicos indicam que este potencia melhores perfis
metabólicos em diabéticos com suplementação em magnésio.

De facto, este mineral tem sido associado ao controle glicémico em pacientes diabéticos, mais
precisamente a hipomagnesemia, que é a mais comum nestes pacientes. À medida que os
valores de glicemia vão aumentando, o magnésio tem tendência a diminuir e, por sua vez, a
sensibilidade à insulina vai diminuindo. Contudo, a toma de suplementos de magnésio por
pacientes diabéticos tipo II tem favorecido a sensibilidade à insulina e, consequentemente, o
controlo metabólico (Kateb & Topf, 2019).

A hipomagnesemia ocorre quando a excreção renal do magnésio está aumentada e a absorção


intestinal diminuída, estando estas alterações associadas a um grupo de patologias. Os
sintomas são inespecíficos, mas incluem espasmos musculares, fadiga e depressão. As
principais causas abrangem ingestão desajustada de magnésio e diminuição da absorção,
aumento da eliminação por ocorrência de diarreia ou vómitos, assim como pelo consumo de
fármacos (diuréticos, imunossupressores, antibióticos, entre outros). A hipomagnesemia
também pode ocorrer devido a problemas renais, gastrointestinais ou ósseos. Esta é tratada
inicialmente por via oral, via intramuscular ou via endovenosa com sais de magnésio (Gad &
Pham, 2014; Rios et al., 2017).
27

Estudos de coorte têm demonstrado que a baixa ingestão de magnésio tem sido associada a
um risco aumentado no desenvolvimento de hipertensão. Contudo, os ensaios clínicos
indicam que a suplementação em magnésio reduz a pressão arterial, devido ao seu efeito
dilatador e controla positivamente as doenças cardiovasculares (Ramirez, 2017; Schutten et
al., 2018).
A hipermagnesemia, por sua vez, é menos comum e a sua principal causa é a ocorrência de
insuficiência renal. Os sintomas incluem sonolência, fraqueza muscular grave, hipotensão,
bradicardia, diminuição dos reflexos, coma e ocorrência de distúrbios na condução elétrica. O
controlo destes sintomas é conseguido através da administração de cálcio, por via
endovenosa, repetidas vezes ou recorrendo a gluconato de cálcio e cloreto de cálcio, usados
como antídotos (Luisi, 2009; Gad & Pham, 2014). Embora o excesso de magnésio possa
inibir a calcificação óssea, é pouco provável que se este resultar de fontes dietéticas, inclusive
de suplementos, resulte em toxicidade (Maham et al., 2012).
Os sais de magnésio mais usados na terapêutica de suplementação das diferentes doenças e
patologias são o sulfato de magnésio, o óxido de magnésio e o hidróxido de magnésio (Luisi,
2009; Rios et al., 2017). Para além destes, são comercializados outros compostos deste
mineral, como se pode verificar na tabela 1 (Infarmed, 2022).
Tabela 1: Exemplos de medicamentos cuja substância ativa é o magnésio

Nome Comercial Denominação Comum Tratamento

Alívio sintomático de
perturbações do sistema
Maalox Plus Hidróxido de alumínio +
digestivo como a pirose
Hidróxido de magnésio +
(azia), enfartamento e
Simeticone
flatulência.

Magnesiocard Aspartato de magnésio Prevenção e alívio de


queixas sugestivas de falta
Magnoral Cloreto de magnésio
de magnésio, tais como

Magnespasmil Lactato de magnésio fraqueza, fadiga,


irritabilidade, náuseas,
Magnesona Pidolato de magnésio cãibras e parestesias.

Fonte: Infarmed - 2022


28

1. 4 – Cloreto de Magnésio

O Cloreto de Magnésio é um composto cristalino incolor. O sal é muito higroscópico. Tem


uma densidade de 2,325 g/cm3 (anidro), 1,56 g/cm3 (hexa-hidrato) e um elevado ponto de
fusão de 987 K. Magnésio hexa-hidratado é estável abaixo de 373 K e decompõe-se a 391 K.
A solubilidade em água é de 35,5 g por 100 g de H2O, a 298 K (BRASIL, 2004).

Este composto tem um papel essencial como um co-fator na reação em cadeia da polimerase
(PCR), que é a técnica de base da biologia molecular.

O magnésio é um mineral que pode ser encontrado em diversos alimentos, portanto a


alimentação costuma suprir este nutriente. No entanto, existem algumas pessoas mais
propensas à carência de magnésio, como:

 Pessoas com diabetes: principalmente os que tem a doença mal controlada, já que o
magnésio acaba sendo excretado pelo organismo junto com a glicose que não é
absorvida pelas células;
 Pessoas que ingerem álcool em grandes quantidades: já que a substância impede a
absorção do magnésio;
 Idosos: com a idade o estômago produz menos ácido clorídrico, por isso o magnésio
acaba sendo menos absorvido;
 Pessoas com dietas pouco balanceadas: o magnésio está presente principalmente nas
folhas verdes, portanto quem evita esses alimentos pode ter deficiência do nutriente
 Alta ingestão de refrigerantes: o fosfato nas bebidas à base de cola inibe a absorção do
magnésio;
 Uso de suplementos de cálcio;
 Mulheres que tomam anticoncepcionais ou fazem reposição hormonal de estrogênio;
 Pessoas que tomam laxantes ou diuréticos, medicamentos que fazem com que esse
mineral seja excretado mais facilmente.

1.4.1 – Como tomar Cloreto de Magnésio?

O cloreto de magnésio é um suplemento que une o mineral magnésio com o nutriente cloro,
elemento protetor que favorece a chegada do magnésio ao intestino e o torna mais
biodisponível para o organismo.
29

É importante compreender como isso é importante para a absorção do magnésio pelo corpo, já
que os iões de cloro promovem um estímulo para a produção de elementos digestivos,
facilitando a absorção do magnésio, um micronutriente com importante participação no
metabolismo energético.

O suplemento cloreto de magnésio deve ser consumido conforme orientação de um


nutricionista ou médico. O profissional tem condições de avaliar as particularidades e
direcionar as estratégias de suplementação conforme os objetivos a serem alcançados pelo
paciente.

Segundo os especialistas, a recomendação diária de ingestão de magnésio é de 310 a 320 mg


para mulheres e 400 a 420 mg para homens adultos. Todavia, antes de consumir, é importante
verificar quais são as orientações do profissional que realiza o seu acompanhamento.

A fórmula aceita para diluição do cloreto de magnésio é a seguinte: 33 g de cloreto de


magnésio devem ser diluídos em um litro e meio de água pura, filtrada, e de preferência,
desfluoretada. A dose diária é de uma xicrinha de café (mudar para um copo descartável de
café), para pessoas que não estão doentes e, até três, para pessoas que têm alguns dos
incômodos mencionados abaixo.

1.4.2 – Benefícios do Cloreto de Magnésio


O Magnésio é essencial para a atividade cardiovascular e muscular normal. Os médicos
prescrevem sais de Magnésio como um tratamento profiláctico e clínico.

Em Setembro de 2005, J. Durlach e co-autores demonstraram que o Cloreto de Magnésio tem


significativamente melhores propriedades farmacológicas, incluindo a penetração e absorção
da membrana celular, e também tem menos toxicidade celular de sulfato de Magnésio
geralmente utilizado ( Kateb & Topf, 2019).

O Cloreto de Magnésio funciona como um suplemento alimentar cheio de benefícios para a


saúde, que nos ajuda a manter o corpo jovem e vigorante, além de colaborar no combate e
prevenção de muitas infecções.

Alguns estudos mostram que o cloreto de magnésio pode ser benéfico para algumas
situações, como:
30

 Controla a acidez sanguínea

O cloreto de magnésio é uma importante substância, pois ajuda a manter o pH (unidade de


medida de acidez) do sangue entre os níveis 7,3 e 7,4, considerados saudáveis. Quando o pH
do sangue sai desse intervalo, a acidez pode desencadear uma série de problemas de
metabolismo, sistema cardiovascular, sistema digestório, sistema imunológico, entre outros.

 Calmante do sistema Nervoso

O cloreto de magnésio tem um efeito calmante no sistema nervoso e ajuda no bom descanso
noturno, acalma nervos superexcitados, impede crises epiléticas e convulsões.

 Melhora o desempenho dos rins

Os rins são muito importantes para o organismo, pois esses órgãos filtram o sangue de todas
as impurezas, que são eliminadas pela urina. O cloreto de magnésio otimiza o funcionamento
dos rins, evitando que as toxinas se acumulem, ajudando a prevenir problemas como a gota.

 Mantém a pressão arterial em níveis saudáveis

Como uma consequência natural ao item anterior, é possível afirmar também que o cloreto de
magnésio melhora os níveis de pressão arterial. Muitos dos casos de hipertensão são
decorrentes de problemas nos rins e, como a substância melhora o funcionamento desses
órgãos, a pressão arterial também se mantém em níveis seguros, afastando o risco de
problemas cardiovasculares mais sérios, como infarto do miocárdio e AVC.

 Ajuda nos exercícios físicos

Além da alimentação equilibrada, a prática regular de atividade física também é fundamental


para a manutenção de condições gerais de saúde. Nesse aspecto, o cloreto de magnésio
também é bastante útil, já que evita a ocorrência de cãibras, fadiga e lesões musculares.
Pessoas que praticam muita atividade física podem perder magnésio no suor, e ele é
extremamente importante para elas, já que possibilita a contração muscular. Portanto, atletas
que suplementam cloreto de magnésio conseguem um rendimento melhor nos exercícios.

 Previne o infarto do miocárdio


31

Muitas vezes acontece o infarto agudo do miocárdio por deficiência de magnésio então, a sua
ingesta atua como preventivo e curativo pois sana as palpitações e arritmias que tão
frequentemente são os primeiros sintomas de sofrimento cardíaco.
 Melhora a digestão

Esse suplemento também se mostra bastante benéfico para o bom funcionamento dos órgãos
do sistema digestório. Assim, problemas como prisão de ventre, colite, hemorroidas e
síndrome do intestino irritável podem ser prevenidos., já que o magnésio regula a produção de
ácidos estomacais reduzindo sintomas de acidez e digestão lenta, pesada. Esse efeito deriva da
regulagem do pH da mucosa estomacal.

 Auxilia no controle dos níveis glicêmicos

Estudos demonstram que o consumo do cloreto de magnésio ajuda na produção de insulina,


um hormônio que transporta a glicose para dentro das células, como fonte de energia (pessoas
com diabetes têm menos magnésio no organismo, ele costuma ser excretado com a glicose
extra do sangue). Assim, essa substância mantém os índices de glicemia equilibrados na
corrente sanguínea, prevenindo o diabetes.

 TPM e cólicas menstruais

Alguns estudos já mostraram que a suplementação do mineral pode reduzir a TPM e também
as cólicas menstruais, se ele for tomado antes da menstruação; O magnésio tem ação
regulatória nas glândulas e, por este efeito, também ajuda na diminuição dos sintomas típicos
da tensão pré-menstrual e menstrual, prevenindo e tratando também as cólicas neste período.

 Redução de crises de asma


20% dos asmáticos são deficientes em magnésio e este elemento ajuda no tratamento pois tem
a qualidade de melhorar o sistema imunológico e de diminuir os processos inflamatórios,
dilataando as estruturas que levam o ar para o pulmão (brônquios), evitando crises da doença;

 Melhora a função hepática

Em casos de fígado gorduroso ou de alcoolismo, este elemento é essencial para a melhora da


função hepática possibilitando ao fígado a sua recuperação.

 Dissolve a maioria dos cálculos renais


32

Tomando magnésio se reduz as chances de formação de cálculos renais de cálcio pois, este
elemento impede as calcificações em lugares inadequados combatendo a acumulação do
oxalato de cálcio, o tal que forma as pedras nos rins, em 90% dos casos.
 Melhora as funções cerebrais
O consumo de cloreto de magnésio potencializa as funções cerebrais de aprendizagem e
diminui a sua perda no envelhecimento.

 Normaliza os níveis de colesterol


O nível adequado de magnésio no organismo regula a produção de colesterol do tipo LDL e
HDL e mantendo-os no equilíbrio necessário à boa saúde.

 Impede o risco de parto prematuro


Magnésio reduz a ocorrência de partos prematuros pois tem o efeito de reduzir as contrações
uterinas antecipadas. E também é importante saber que, durante a gravidez o nosso organismo
precisa de muito magnésio para a boa formação fetal.

 Enxaquecas ou migrenas
O magnésio é um vasodilatador por excelência promovendo muito rápida melhora em casos
de dores de cabeça mas, no caso das enxaquecas, a este efeito se soma a sua ação curativa no
fígado e vesícula, agindo como desintoxicante hepático.

1.4.3 – Efeitos colaterais do Cloreto de Magnésio

De forma geral, o excesso de magnésio (assim como outros minerais) não faz mal à saúde. O
organismo elimina a carga excessiva por meio da urina.

Entretanto, é importante destacar que, em caso de superdosagem em níveis muito altos, é


comum observar queda de pressão arterial, problemas respiratórios, alterações na função renal
e, ainda, consequências mais graves como paradas cardíacas.

Em contrapartida, a ausência de magnésio no corpo pode provocar, entre outros sintomas,


falta de apetite, náusea e vômito, sonolência, tremores, fraquezas e espasmos musculares.
33

Ao tomar antibióticos, o Cloreto de Magnésio pode diminuir a eficiência de alguns deles, é


por isso que se recomenda tomá-lo 3 ou 4 horas antes de consumir o antibiótico.

Está contraindicado para as pessoas que sofrem de diarreia, pois tem um efeito laxante.
Deve ser evitado em pessoas com doenças renais, especialmente as que sofrem de
insuficiência deste tipo. Não deve ser consumido quando se sofre de colite ulcerosa, pois pode
aguçar as diarreias.

A quantidade ideal da substância vai depender dos índices já encontrados no corpo e


consumidos via dieta alimentar. A necessidade de suplementação com cloreto de magnésio
deve ser avaliada por um nutricionista, levando em consideração as particularidades e
necessidades de cada paciente.
34

CAPÍTULO II. METODOLOGIA

Neste capitulo é apresentada a metodologia aplicada para a realização deste trabalho.

Segundo Ribas e Da Fonseca (2008, p. 5) metodologia é como um meio de organizar o saber


acumulado pela humanidade. Ela oferece procedimentos e caminhos para se atingir a
realidade teórica e prática de um determinado campo de estudo.

A Metodologia descreve princípios teóricos e fornece orientações práticas para pensar


criticamente, ter disciplina, escrever e apresentar trabalhos conforme padrões metodológicos e
acadêmicos. (De Almeida e Leite, 2016. p.1).

2.1 - Descrição do Processo


De uma forma geral, industrialmente o magnésio tem sido obtido por eletrólise do cloreto de
magnésio, MgCl2, fundido; este por sua vez tem sido obtido a partir da água do mar. Para a
produção de 1 t de cloreto de magnésio são necessárias cerca de 40 t de água do mar.

2.1.1 Processo Dow de água do mar


A água do mar contém cerca de 0,13% de íons de Mg2+ e a extração do magnésio depende do
fato de ser o Mg(OH)2 muito menos solúvel do que o Ca(OH)2. Cal hidratada Ca(OH)2 é
adicionada à água do mar: os íons cálcio se dissolvem e precipita o Mg(OH)2. Este é filtrado,
tratado com HCl para formar o cloreto de magnésio, e eletrolisado (ALTERTHUMM, 2001).

2.1.2 Processo Dow da salmoura natural


Calcina-se dolomita MgCO3.CaCO3 (por aquecimento 900°C), com a obtenção de MgO.CaO
(dolomita calcinada). Esta é tratada com HCl, o que leva a uma solução de CaCl2 e MgCl2.
Ela é tratada com nova quantidade de dolomita calinada, borbulhando-se a seguir CO2. O
CaCO3 precipita, deixando em solução o MgCl2.

2.2 Etapas da Metodologia

As etapas da metodologia desenvolvidas neste trabalho foram as seguintes: definição da


capacidade nominal, elaboração do diagrama de blocos, produção de cloreto de magnésio em
escala laboratorial, análise das propriedades físicas, químicas e organolepticas.
35

2.2.1 – Determinação da Capacidade Nominal


Por se tratar de uma produção à escala laboratorial, a capacidade nominal foi definida de
acordo ao teor de magnésio presente na água do mar (0,13%). É sabido que para a produção
de 1 t de cloreto de magnésio são necessárias cerca de 40 t de água, logo para a produção de
50g de cloreto de magnésio, que é a nossa capacidade nominal, foram utilizadas 2000g de
água.

2.2.2 - Elaboração do diagrama de blocos


Foi elaborado o diagrama de blocos com a ferramenta do Visio Professional para a
representação macroscópica das principais etapas envolvidas na produção de cloreto de
magnésio, utilizando o processo Dow de água do mar. O diagrama de blocos foi elaborado
levando em consideração as diversas operações envolvidas e possibilita entender, de forma
resumida e simples, os princípios operacionais relacionados neste tipo de processo de
valorização de um dos metais mais importantes do metabolismo celular.

2.2.3 – Parte experimental


2.2.3.1 – Materiais e reagentes
Os materiais utilizados para a prática, consistiam em equipamentos muito bem conhecidos por
nós a nível laboratorial, tal como mostra a figura abaixo:
36

Figura 2: Materiais e Reagentes usados na prática. Fonte: O autor

Legenda:
1.Suporte Universal com garra
2.Barra Magnética
3.Água do mar
4.Proveta graduada em centímetros
5.Hidróxido de cálcio Ca(OH)2
6.Ácido clorídrico HCl
7.Indicador ácido-base
8.Placa de petri e papel filtro
9.Placa de Agitação
10.Bureta
11.Ácido sulfúrico H2SO4
12.Pipeta

2.2.3.2 – Procedimento experimental


Com a ajuda de uma proveta graduada, retirou-se 500ml da amostra da água do mar retirada
na zona das Salinas no Benfica;

Transferiu-se esta mesma amostra para um Becker e, com a ajuda de papel filtro, cobriu-se a
amostra para evitar contaminação ou troca de massa com o meio externo;
37

Em outros 2 (dois) Becker´s padronizou-se as soluções de Ácido clorídrico com uma


concentração de 0,5mol por 1000ml e a de Hidróxido de cálcio 0,1 M com uma constante de
solubilidade de 5,02 x10-6;

Em um Becker de 500ml colocou-se 100ml de água do mar e lentamente foi se adicionando a


solução de Ca(OH)2 (hidróxido de cálcio) até a formação de um precipitado branco, o
Mg(OH)2, enquanto os iões de cálcio eram dissolvidos;

Em um outro Becker filtrou-se a mistura com a ajuda do papel filtro, e separou-se a base
formada (precipitada no fundo do Becker) do restante da solução;

O precipitado foi tratado com a solução de HCl 0,5M e submetida a um processo físico para a
retirar o excesso de água;

De seguida, caracterizou-se o produto obtido e os resultados são apresentados nas páginas a


seguir.
38

CAPÍTULO III- RESULTADOS E DISCUSSÕES


Neste capitulo são apresentados os resultados de todos os procedimentos descritos na
metodologia.

3.1 – Determinação da massa de água


Tal como já foi abordado no capítulo da metodologia, a determinação da massa para o
experimento à escala de bancada foi com base as limitações da escala, bem como da
quantidade de Cloreto de Magnésio que se pretendia produzir. Assim sendo, determinou-se a
quantidade de 2000g de água com o objetivo de produzir de 50g de MgCl2.

3.1.1 – Balanço de massa


Baseada na lei de conservação da massa, descrita por Lavoisier, a matéria pode ser
transformada mas nunca criada nem destruída. O balanço de massa de um processo consiste
em calcular, de forma exacta, os materiais que entram, saem, acumulam ou aqueles
transformados em um intervalo de tempo operacional (Brasil, 2013, p. 165). A Equação (1)
mostra, de forma geral, o conceito de balanço de massa.

Entrada + Geração - Saída - Consumo = Acúmulo (1)

{ }+{ }-{ }-{ }={ } (2)

Como trata-se de operações unitárias, no caso o Processo de Dow, utilizou-se uma produção
em batelada. Logo, para um sistema em batelada os termos Geração e Consumo não se fazem
sentir e podemos rescrever a equação (1) da seguite forma: Entrada – Saída = Acúmulo(2).

Com base na equação (2) e no balanço geral apresentado na Figura 3, os resultados do balanço
de massa na utilização de 2kg de água do mar são apresentados na Tabela 2 abaixo indicada,
com a sequência dos produtos conforme descritas no fluxograma de blocos.

Tabela 2: Balanço de massa geral do experimento

Matéria Prima Quantidade(Kg) Percentagem (%)


Água do mar 2,0 86,95
Ca(OH)2 0,1 4,35
HCl 0,2 8,70
Total 2,3 100
Produtos
MgCl2 0,05 3,22
CaCl2 1,5 96,78
Fonte: (Autor, 2022)
39

Interpretação: Em linhas gerais, com 2kg de água do mar, 100ml de hidróxido de cálcio e
200ml de ácido clorídrico é possível obter 50g de Cloreto de Magnésio e cerca de 1kg e 500g
de Cloreto de cálcio.

5.2 – Diagrama de blocos


A Figura 1 descreve o diagrama de blocos do processo proposto e utilizado para o fechamento
dos balanços de massa.

Ca(OH)2 (aq) HCl


0,1kg
0,2 kg
Processo I Processo II

Mg(OH)2
MgCl2 (s)
Água do mar Mg(OH)2 (s)
MgCl2 (aq) 0,6kg 0,2kg

Processo III

CaCl2 - 1.5kg Resíduos líquidos - 0,6kg


Em solução

Figura 3: Diagrama de bloco do processo


Fonte: Autor, 2022

3.3 – Procedimento Experimental


Na primeira etapa é adicionada a solução de hidróxido de cálcio à agua do mar contendo
cloreto de magnésio na forma aquosa. A solução alcalina de cálcio contém uma constante de
solubilidade de 5,02 x10-6, que a torna mais solúvel em água que a de magnésio. Nesta etapa
os iões de Mg2+ presentes da água do mar combinam com os iões hidrixilos, precipitando e
formando o Mg(OH)2 por serem menos solúveis em água, enquanto que os iões de cálcio são
dissolvidos, e reagindo com os iões cloretos formando um eletrólito muito importante e de
grande valor comercial, o Cloreto de cálcio, um medicamento de alto risco e apenas de uso
hospitalar.

Na primeira etapa decorre a seguinte reação química:


40

MgCl2 (aq) + Ca(OH)2 (aq) Mg(OH)2 (s) + CaCl2 (aq)

Na etapa II, após a separação dos compostos obtidos na primeira etapa, pelos processos
físicos de decantação e filtração respectivamente, a solução de hidróxido de magnésio é
tratada com uma solução de ácido clorídrico, obtendo dessa forma o Cloreto de Magnésio, de
acordo a equação abaixo:

Mg(OH)2 (s) + 2HCl (aq) MgCl2 (s) + 2H2O (l)

Na etapa III do processo de Dow, o cloreto de magnésio é filtrado e passado pelo processo
físico de evaporação que separa o resíduo líquido do sal, formando os cristais incolores,
algumas vezes brancos, de Cloreto de Magnésio Hexa-hidratado, conforme a figuras 4.

Figura 4: Formação de cristais de MgCl2

Fonte: (Autor, 2022)


Para a obtenção do mesmo sal, mas forma anidra (sem água), deixa-se evaporar toda a água
até a obtenção de cristais brancos, conforme a figura 5.

Figura 5: Cristais anidro de MgCl2

Fonte: Autor, 2022


41

3.4 – Caracterização do produto obtido


Após ao procedimento experimental, o produto, Cloreto de Magnésio, foi submetido a uma
caracterização físico-quimica.

Utilizou-se o método analítico de espectroscopia de absorção com uma velocidade média de


varredura, usando o equipamento abaixo indicado pela imagem 6.

Figura 6:Espectrofotómetro usado para caracterizar o produto

Fonte: (Autor, 2022)

A imagem 7 mostra o resultado do espectro de infravermelho de uma mostra de Magnoral,


Magnesium e o produto obtido.

100
810.54

95
1606.27

875.51
1641.35

1030.40
1377.66

721.60
991.73

675.50
1495.24

805.55 794.62

90
1377.18 1376.79

720.01

85
1462.30
1457.20
2956.09

767.62
% Tr ans mittance

80
908.85

693.77
1456.22

75
2855.03
2852.45
2849.64

70
741.40 727.78
2954.65

65
2918.992921.41

60
2953.46
2922.85

55

400 0 350 0 300 0 250 0 200 0 150 0 100 0 500


W av enu mber s ( c m- 1)

Figura 7: espectro do infravermelho de uma amostra de Magnoral, Magnesium Ok e do produto


obtido.
42

De acordo ao espectro do infravermelho, não há diferenças significativas entre as três


amostras analisadas. Os picos de incidências são realçados nas mesmas bandas e com quase as
mesmas frequências, tal como é possível verificar em literaturas que abordam assuntos
semelhantes.

Isso mostra claramente os mesmos grupos ou elementos químicos presentes nas 3 amostras,
com ligeira diferença nos picos por conta do nosso produto encontrar-se na forma pura, sem
aditivos e conservantes.

A tabela 3 apresenta os dados da caracterização da cor e do cheiro do cloreto de magnésio


obtido.
Tabela 3: Caracterização da cor e cheiro do produto obtido

Substância Aspecto e Cor Cheiro


Cloreto de Magnésio Hexa- Cristais incolores e/ou Inodor
hidratado brancos
Fonte: (Autor, 2022)
Interpretação: De acordo a tabela acima, o sal obtido apresenta a forma de um composto
sólido cristalino incolor e branco sem odor.

Comparação: Segundo (Rios et al., 2017) o Cloreto de magnésio é um composto sólido-


cristalino incolor inodoro, isto é, sem cheiro. A obtenção de cristais brancos não significa
necessariamente uma coloração errada, até porque há autores que consideram tanto os cristais
incolores como os brancos, como sendo as formas de apresentação do Cloreto de magnésio
puro.

Outro sim, a concentração molar do Hidróxido de magnésio influencia grandemente nos


aspectos finais do produto (Kateb & Topf, 2019).

Tabela 4: Caracterização quanto à solubilidade e higroscopia

Substância Solubilidade Higroscopia


Cloreto de Magnésio .6H2O Muito solúvel Muito higroscópico
43

Fonte: (Autor, 2022)

Interpretação: Segundo a tabela 4, a substância obtida é muito solúvel em água e apresenta


um elevado grau de higroscopia, que é a propriedade que certos materiais possuem de
absorver água na forma líquida ou gasosa.

Comparação: De acordo a ficha de segurança do Cloreto de magnésio retirada da norma


NBR 14725-4:2014 emitida em 28 de Julho de 2021, o Cloreto de magnésio hexahidratdo
apresenta um peso molecular de 203,30g/mol, não apresenta ingredientes perigosos, é
bastante higroscópico e apresenta uma solubilidade em água de 1670g/L (FELDER, 2012).

Tabela 5: Avaliação das temperaturas de decomposição e de fusão

Substância Temperatura de Temperatura de


decomposição Fusão
Cloreto de Magnésio . 6H2O 89°C 714°C
Fonte: (Autor, 2022)

Interpretação: De acordo a tabela 5, o sal obtido apresentou uma temperatura de


decomposição de 129°C e 714° como temperatura de fusão, que é a passagem de uma
substância do estado sólido para o estado líquido.

Comparação: Segundo alguns autores (Kateb & Topf, 2019), a temperatura de decomposição
do cloreto de magnésio hexahidratado é acima de 100°, mais 11° em comparação com o
produto obtido no experimento. Esse diferencial de temperatura de decomposição pode
revelar a quantidade de moléculas de água a menos do que aquelas que devem ou deveriam
restar, ou seja, pode ser resultante do processo de evaporação do produto obtido.

A tabela n° 6 traz consigo as informações do carácter ácido-base da substância obtida, bem


como da sua densidade que definida como o quociente entre a massa e volume de um
determinado corpo.

Tabela 6: Avaliação do pH e da densidade do produto obtido

Substância pH Densidade(g/cm3)
Cloreto de Magnésio 6.H2O 6,4 1,61
Fonte: (Autor,2022)

Interpretação: De acordo a tabela acima, o cloreto de magnésio obtido apresenta uma acidez
de 6,4 e 1,61g/cm3 a temperatura ambiente e 1 atm.
44

Comparação: A literatura mostra que o pH do cloreto de magnésio hexa-hidratado varia de


4,5 à 7,0. Logo, o valor encontrado está dentro da margem dos possíveis valores de pH que
essa substância pode apresentar.

Quanto a densidade, na literatura encontramos um valor de 1,56 g/cm3. A diferença pode estar
relacionada à má leitura do densímetro (equipamento utilizado em laboratórios para medir a
densidade de líquidos) ou a um menor volume e/ou maior massa (Lagowski,2004).

A tabela abaixo, 7, faz referência ao índice de refracção e ao sabor do sal obtido. Tal como é
do nosso conhecimento, existem sais com sabores doces, azedos, salgados e amargos.

O índice de refração é definido como a razão entre as velocidades da luz entre dois meios
pelos quais ela se propaga. Ele estabelece o valor específico de um material e o refractômero é
o equipamento que consegue determinar a pureza e a concentração desse material baseado no
seu índice de refração (Lagowski, 2004)

Tabela 7: Avaliação do índice de refração e do sabor do produto obtido

Substância Índice de refracção Sabor


Cloreto de Magnésio .6H2O 1,221 amargo
Fonte: (Autor, 2022)

Interpretação: de acordo a tabela 7 o sal obtido apresenta um índice de refração de valor 1,36
com um sabor amargo.

Comparação: Relativamente ao sabor, a literatura mostra que os sais de magnésio


apresentam um sabor amargo. Quanto ao índice de refração, o encontrado na literatura para o
cloreto de magnésio é de 1,42, não muito distante do valor achado, o que nos dá uma pureza
de 95,77% do sal cloreto de magnésio obtido no experimento laboratorial (FELDER, 2012)
45

4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Nesta secção são apresentadas as conclusões do presente trabalho e as sugestões para


trabalhos futuros, que terão linhas de pesquisa similares.

4.1 – CONCLUSÕES

Este projecto teve como objetivo geral produzir Cloreto de Magnésio a partir da água do mar
usando o processo de Dow. Com o estudo desenvolvido chegou-se as seguintes conclusões:

I. As bibliografias apresentam informações pertinentes para o desenvolvimento de um


projecto industrial, especificamente sobre a produção do cloreto de magnésio, mas,
para um acervo teórico que possa garantir uma cobertura referencial mais ampla,
dados específicos de projectos, são ainda muito limitados;

II. Ficou demonstrado, pela revisão bibliográfica, que o Magnésio é um dos elementos
essenciais à vida e que, a implementação de uma unidade fabril ajudará no
desenvolvimento industrial de Angola. Foram apresentados inúmeros benefícios do
uso desse suplemento;
III. Foi possível elaborar um diagrama de bloco com as principais etapas exibidas,
exercício que permitiu ter uma melhor observação dos processos e que ao mesmo
tempo facilitou a realização do balanço de massa;
IV. Produziu-se cloreto de magnésio de alta qualidade em escala laboratorial seguindo as
3 (três) etapas do processo de Dow, demonstrando ser um projecto econômica e
ambientalmente viável;
V. Por último, foi possível caracterizar o produto obtido, tendo constatado um elevado
grau de pureza, com cor, odor, pH, densidade e outras propriedades físicas e químicas
aceitáveis e dentro dos valores tabelados em literaturas;
46

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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I, 2004.

Carretero, M.I. & Pozo M. (2009). Clay and non-clay minerals in the pharmaceutical
industry Part I. Excipients and medical applications. Applied Clay Science, 46(1)
pp.7380.

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FELDER, R. M. Princípios elementares dos processos químicos. 3. ed. Rio de Janeiro:


[s.n.], 2012.

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Hélio, A. (2020), Ferro - Um elemento quimico estratégicos que permeia história,


economia e sociedade. Quím. Nova vol.42 no.10

Klein, C., Dutrow, B. (2012). Manual de ciência dos minerais. Traduzido por Rualdo
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Lagowski, J., (2004). Chemistry Foundations and Applications. 3. pp. 267–268.


47

Lewitzka, U., Severus, E., Bauer, R., Ritter, P., Müller-Oerlinghausen, B., Bauer, M. (2015)
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NOVAIS, Stéfano Araújo. "Magnésio (Mg)"; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/quimica/magnesio.htm. Acesso em 26 de agosto de 2022.

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