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AGRONEGÓCIO CAFÉ

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MBA em Agronegócios
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1. ORIGEM E IMPORTÂNCIA
ECONÔMICA

O café é originário da Etiópia e, apesar da data ser incerta, sua origem remete ao século IX. Uma
das histórias mais antigas conta que um pastor chamado Kaldi observou que suas cabras, após
comerem alguns frutos amarelados e avermelhados, ficavam mais agitadas e conseguiam percorrer
distâncias maiores.
O pastor, que viveu na Etiópia há cerca de mil anos, levou tal informação a um monge, que utilizou os
frutos do cafeeiro para fazer uma infusão, conseguindo absorver suas capacidades estimulantes durante
o consumo, e essa prática se espalhou rapidamente pela cidade, sendo sua bebida amplamente procurada
na região. A planta foi cultivada pelos árabes e, devido a esse fato, a denominação “Coffea arabica” ficou
retratada como o nome científico da espécie mais importante atualmente.

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Existem outras histórias da origem do café, mas uma coisa é inevitável: com o passar do tempo, as

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mudas foram se espalhando cada vez mais pela Europa. No século XVII o café entrou no continente
pelo porto de Veneza, na Itália, foi para a Inglaterra, França, Holanda e se espalhou por muitos países,

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tornando-se um costume o seu consumo em passeios e encontros sociais.
No Brasil, os primeiros pés foram plantados em 1727, trazidos de forma clandestina da Guiana Francesa

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pelo oficial português Francisco de Mello Palheta. As primeiras plantações começaram no Nordeste,
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contudo, desfavorecido pelo zoneamento climático, o cultivo migrou para o Maranhão e Rio de Janeiro.
Em 1830, as plantações foram para São Paulo e Minas Gerais, gerando importantes fontes de renda para
os estados produtores e para a economia nacional.
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O plantio no Brasil foi um sucesso devido ao clima favorável e, em 1860, o país produzia 60% do café
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mundial, sendo um importante gerador de renda e empregos nas lavouras, indústrias, comércio nacional e
exportação. Atualmente, o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, e é o segundo maior
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consumidor de café, correspondendo a 1/3 da produção mundial do grão (ou seja, a cada três xícaras de
café consumidas no mundo, uma é do Brasil), posto que ocupa há mais de 150 anos (ABIC, 2021).
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No Brasil são mais de trezentos mil produtores, predominando os pequenos e médios, distribuídos em
cerca de 1900 municípios do país (dentre os 5570 existentes), sendo as espécies Coffea arabica L. (Figura
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1) e Coffea canephora P. as variedades mais plantadas.


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Figura 1. Coffea arabica


Fonte: Rural Pecuária (2022).

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2. BOTÂNICA

O café é uma planta perene da família Rubiaceae, gênero Coffea, de porte


arbustivo, caule lenhoso e flores hermafroditas. As duas variedades de
café mais plantadas no mundo são a Coffea arabica (café arábica) e o Coffea
canephora (café robusta). Ainda existem outras duas espécies cultivadas em
menores proporções, como o Coffea liberica (café libérica) e o Coffea dewevrei
(café excelsa).

O café arábica é menos produtivo quando comparado com o canephora,


porém produz grãos de melhor qualidade e com mais sabor e aromas, sendo
seu valor de venda superior no mercado mundial. Foi descrito em 1753 por
Lineu e suas variedades mais conhecidas são o Bourbon e o Typica, sendo

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que outras variedades foram desenvolvidas a partir dessas, como o Caturra,

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Mundo Novo, Tico, San Ramon, Catuaí e outros. Possui folhas ovaladas verde-
escuras, os frutos são ovais e amadurem em 7 a 9 meses, com duas sementes

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achatadas e seus frutos têm maior complexidade em notas de aromas e
sabores, sendo mais apreciado no mercado cafeeiro.

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O Coffea canephora, (ou robusta), é um arbusto volumoso de até cinco
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metros de altura, possui sistema radicular pouco profundo, folhas maiores de
coloração verde-clara, seus frutos são arredondados, menores e amadurecem
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em até 11 meses. Também apresenta dimorfismo de ramos, contudo a planta
é multicaule, o que permite a obtenção de maiores produtividades. É cultivado
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na África Ocidental e Central e no Brasil, sendo também conhecido como


café Conillon. Algumas vantagens de seu plantio são: maior capacidade de
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produção; menor necessidade de aplicação de insumos e defensivos; e maior


rendimento de xícara.
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3. ZONEAMENTO
AGROCLIMÁTICO

O zoneamento climático para a cultura do café envolve estudos de temperatura, solo, chuvas e
fatores ambientais ideias para o correto desenvolvimento da cultura ao longo do ano. Segundo
dados do Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas [CIIAGRO] (2009), para o café arábica,
o zoneamento ideal são temperaturas médias anuais entre 18°C e 22°C (Tabela 1), chuvas anuais da
ordem de 1500 a 2000 mm e altitudes de 1500 a 1900m. O cafeeiro é pouco tolerante ao frio, sendo que
temperaturas de -2°C já provocam danos aos seus tecidos. Períodos muitos quentes com temperaturas
e exposições prolongadas a temperaturas acima de 30°C prejudicam a produção do café arábica
conduzido a pleno sol. No zoneamento da cultura do café não é estabelecido uma precipitação ótima,
mas deficiências hídricas anuais maiores que 150 mm afetam a longevidade do cafezal. Se o período seco
de inverno coincidir com a maturação e a colheita dos frutos, tem-se um produto com melhor qualidade.
Sites como o Instituto Nacional de Meteorologia [INMET] ou o Agritempo podem ser consultados para

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análises do balanço hídrico e das temperaturas médias.

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Tabela 1. Zoneamento agroclimático para o café arábica
Temperatura média anual (°C) .1 Classificação
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< 17 Inapta
.0
17 a 18 Marginal
18 a 22 Apta
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22 a 23 Marginal
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> 23 Inapta

Fonte: Adaptado de CIIAGRO (2009).


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Regiões fora destas faixas de temperatura também podem cultivar café, mas vale ressaltar que tais
áreas marginais ou inaptas terão maiores chances de fracasso, uma vez que as plantas serão mais
prejudicadas pelas temperaturas e umidades de cada região. O plantio e a condução de cafezais em
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regiões fora do zoneamento ideal implicam, na maioria das vezes, em maiores custos com tratos culturais,
manejo das plantas em campo, reduções na produtividade e perdas na qualidade dos frutos. A altitude
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também pode influenciar diretamente no zoneamento da cultura, uma vez que a cada 100 m de altitude,
aproximadamente, a temperatura cai 1°C. Consequentemente, com menores temperaturas, a maturação
do café é mais lenta e maiores serão as incidências de pragas e doenças, as quais podem acarretar a
perda da qualidade do fruto.

Com menores temperaturas, o acúmulo de ar frio e a ocorrência de geadas podem ser um problema no
manejo dos cafezais. Os estados brasileiros que mais sofrem com geadas na cultura do café são Minas
Gerais (porção sul do estado), Paraná e São Paulo. Em cafés conduzidos em montanha ou regiões mais
frias, temperaturas abaixo de 18°C costumam prejudicar a floração, pois prolongam a fase vegetativa,
acarretando reduções na produção.

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As geadas, dependendo da intensidade, causam amarelecimento e morte das folhas e galhos. Se o
fenômeno climático for leve, a planta consegue se recuperar e rebrotar, porém em casos mais severos, tem-
se a morte da planta toda, conhecida como geada negra. Para evitar geadas e perdas em produtividade,
áreas de baixada e espigões muito planos devem ser evitados na implantação dos cafezais. A Figura 2
mostra o risco de ocorrência de geada para o mês de julho, no estado de São Paulo, sendo que os meses
de junho e julho, no Brasil, costumam ser os mais críticos (Wrege et al., 2018).

Figura 2. Risco de ocorrência de geadas em São Paulo para o mês de julho

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Fonte: Wrege et al. (2018).


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Em fazendas com sistemas de irrigação, o funcionamento em dias de geada é uma prática comum para
evitar o congelamento das folhas, uma vez que a água da irrigação eleva o ponto de congelamento da
seiva por umidificar o ar. Ademais, a utilização de barreiras de vento com árvores com densa folhagem
também é uma estratégia de manejo interessante para impedir o avanço das massas de ar frio no meio
do cafezal, evitando que geadas ocorram nessas áreas.

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4. ADUBAÇÃO DO CAFEEIRO

A adubação do cafeeiro irá depender dos estágios vegetativos de cada lavoura. As exigências
nutricionais para um cafezal em formação são menores que para um cafezal em plena produção.
Até o terceiro ano de implantação, os insumos são alocados em quantidades menores, propiciando o
crescimento vegetativo e formação das plantas. De acordo com o Boletim 100 do Instituto Agronômico
de Campinas [IAC] (Quaggio et al., 2018), as necessidades de nitrogênio [N], fósforo [P] e potássio [K]
para um cafezal em formação podem ser vistas na Tabela 2.

Tabela 2. Recomendação de adubação para café em formação

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Ano N P resina - mg.dm-1 K - mmolc.dm-3

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< 15 15 - 30 > 30 < 1,5 1,5 - 3,0 > 3,0
1° 90 30 20 0 30 20 0

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2° 140 60 40 20 90 60 30
3° 160 90 60 40
.1 120 90 60
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Fonte: Adaptado de Quaggio et al. (2018)
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Tomando como base um cafezal em produção, é necessário primeiro ter em mente a produção que
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se deseja atingir. Quanto maior for a produção, maiores serão as necessidades de insumos para as
plantas. Segundo o Boletim 100 do IAC, a recomendação de adubação pode ser vista na Tabela 3.
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Tabela 3. Recomendação de adubação para café em produção


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Teor foliar Teores no solo


Produtividade
N - g.kg-1 P resina - mg.dm-1 K - mmolc.dm-3
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sacas.ha-1 kg.ha-1 < 25 25 - 30 > 30 < 15 15 - 30 > 30 < 1,5 1,5 – 3,0 > 3,0
< 20 < 1200 180 140 120 20 20 20 120 100 80
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20 - 30 1200 – 1800 200 160 140 40 20 20 140 120 100


30 - 40 1800 – 2400 240 200 160 60 40 20 160 140 120
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40 - 50 2400 – 3000 260 220 180 80 60 40 220 180 140


50 - 60 3000 – 3600 300 240 200 80 60 40 260 220 180
60 - 70 3600 - 4200 350 260 220 100 80 60 300 260 220
70 - 80 4200 – 4800 400 280 240 120 80 60 360 300 260
> 80 > 4800 450 350 240 140 100 60 400 340 300

Fonte: Adaptado de Quaggio et al. (2018)

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As análises podem ser foliares, do 3° ou 4° par de folhas totalmente expandidas, ou podem ser
provenientes de análises de solo. Existem inúmeras formas de realizar os cálculos e adubação,
e alguns estados possuem seus boletins próprios de recomendação. Se a produção desejada for
de 40 a 50 sacas/ha, é necessário aplicar: 180 kg.ha-1 de N, 40 de P2O5 e 140 de K2O; além dos
macronutrientes, os micronutrientes são essenciais para altas produtividades na cultura do café
(Tabela 4).

Tabela 4. Teores foliares para a cultura do café


Nutriente Baixo Adequado Alto

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Macro g.kg-1

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N < 25 25 a 30 > 30
P < 1,2 1,2 a 2,0 > 2,0

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K < 20 30 a 30 > 30

.1
Ca < 10 10 a 15 > 15
Mg < 3,0 3a5 > 5,0
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S < 1,5 1,5 a 2,0 > 2,0
.0
Micro mg.kg-1
B < 60 60 a 100 > 100
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Cu < 10 10 a 20 > 20
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Fe < 50 50 a 200 > 200


Mn < 50 50 a 200 > 200
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Zn < 20 20 a 40 > 40
Mo < 0,1 0,1 a 0,2 > 0,2
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Fonte: Adaptado de Quaggio et al. (2018)


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5. PREPARO DE SOLO
E PLANTIO

O preparo de solo deve ser realizado três meses antes do plantio,


preferencialmente a partir de novembro, com o solo devidamente
corrigido após uma análise de solo da área de implantação. A abertura das
covas pode ser feita de forma mecânica ou manual e no momento do plantio.
As mudas devem ser umedecidas e plantadas no mesmo dia, para evitar o
ressecamento. Para o plantio, realiza-se um corte transversal no fundo do
saquinho com espessura de 2 cm, para minimizar o risco de ocorrer o pião
torto.

A muda, então, é inserida na cova e coberta com terra, realizando uma

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pequena compactação em torno da muda. A irrigação deve ser realizada

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após o plantio, e o controle de plantas daninhas deve ser realizado na linha
de plantio. Os espaçamentos utilizados antigamente variavam de 4,0 x

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1,5 m e 3,5 x 1,0 m, o que gerava uma menor densidade de plantas por
hectare (1.666 e 2.857), alta produção por planta e rápido depauperamento

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da planta. Atualmente, tem-se cafezais adensados ou superadensados
com espaçamentos de 3,0 x 0,5 m e 3,5 x 0,5m, o que gera uma maior
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densidade de plantas (6.666 e 5.714), com menor produção por planta e
maior longevidade da planta.
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Na hora da implantação é preciso ter em mente a escolha do espaçamento,


a população de plantas, a cultivar de café a ser utilizada e a mecanização da
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lavoura. Em lavouras mecanizadas, o espaçamento deve permitir o tráfego


das máquinas, tratores e implementos, e geralmente espaçamentos de 3 e
4 m são os mais utilizados. Em cafezais onde não é possível a mecanização
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e fazendas que utilizam colheita manual, o adensamento é a melhor opção,


sendo espaçamentos de 2 a 2,5 m os mais utilizados. O maior adensamento
aproveita melhor a área das lavouras, melhora a reciclagem de nutrientes,
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aumenta a produtividade e propicia retorno do capital investido de forma


mais rápida. Contudo o investimento inicial é maior, bem como os custos
com colheita, podas e incidência de doenças.
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6. PRAGAS E DOENÇAS

M uitas pragas e doenças podem afetar a cultura do café. O combate pode ser realizado com o
Manejo Integrado de Pragas [MIP], produtos químicos ou biológicos. A Ferrugem do cafeeiro
(Figura 3), por exemplo, pode ser causada por duas espécies de fungos. No Brasil, a ferrugem alaranjada
é causada pelo fungo Hemileia vastatrix, que é um parasita que necessita de tecido vegetal vivo para se
desenvolver.

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Figura 3. Ferrugem do cafeeiro
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Fonte: Agrolink (2022)
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A outra espécie é a Hemileia coffeicola e causa a ferrugem farinhosa, porém não há relatos dessa
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doença nas lavouras brasileiras de café. Os primeiros sintomas da ferrugem aparecem na saia do
cafeeiro e são lesões claras nas folhas que evoluem para necrose e redução da área foliar, acarretando
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redução da fotossíntese e prejudicando o desenvolvimento das plantas. O controle pode ser realizado
com o plantio de cultivares tolerantes ou resistentes e pela aplicação de fungicidas à base de cobre.
Fungicidas do grupo químico estrobilurina e carboxamida têm ação sistêmica e podem ser aplicados
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para o combate da ferrugem do cafeeiro.

Outra doença que afeta os cafezais é a Cercosporiose. Causada pelo fungo Cercospora coffeicola,
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essa doença é também conhecida como mancha-de-cercospora. Esse fungo ataca as folhas
e os frutos, e como consequência tem-se perdas de produtividade e qualidade final do café. A
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cercosporiose afeta plantas desde sua fase jovem até as fases adultas e é considerada a segunda
doença mais importante na cultura do café, estando atrás apenas da ferrugem. Os sintomas são
manchas circulares de coloração marrom-escura que crescem rapidamente. O centro das lesões tem
uma cor cinza-claro, com um anel amarelado em volta parecido com um olho. A cercosporiose é
favorecida pela alta radiação solar e alta umidade e, como o controle coincide com o da ferrugem, é
possível usar formulações ou misturas no tanque que englobem produtos para controle de ambas as
doenças.

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A Broca do Café é favorecida por lavouras mais adensadas e com maior umidade. Para prevenção
e controle da broca pode-se usar o MIP, evitando deixar frutos no chão da lavoura e realizar uma
colheita bem-feita, uma vez que os frutos caídos auxiliam na multiplicação e aumento da população
da broca do café. Como controle biológico pode-se usar parasitoides, armadilhas com feromônio ou
o fungo Beauveria bassiana. Como controle químico pode-se usar produtos com clorpirifós na dose
de 1 a 1,5 L.ha-1.

O Bicho Mineiro também é outra praga que ataca os cafeeiros brasileiros. Os danos causados são
galerias nas folhas, geralmente no terço médio e superior das plantas. Tais galerias reduzem a área
fotossintética, ocasionando perdas em produtividade. Essa praga é favorecida por altas temperaturas
e condições mais secas e são problema em lavouras mais espaçadas e menos adensadas. Estudos
apontam que desequilíbrios nutricionais do cafeeiro também podem favorecer o bicho mineiro. Como

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controle biológico é possível usar parasitoides como Eulophidae e Braconidae e predadores como

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Vespidae.

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7. COLHEITA E TORREFAÇÃO
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A colheita mecanizada na cafeicultura foi intensificada pela pandemia da COVID-19. Por conta
do distanciamento social, alguns produtores optaram por mecanizar suas lavouras. A colheita
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mecanizada possibilita redução de custos de até 62% em relação à colheita manual e ainda proporciona
ganhos na qualidade do grão com a colheita seletiva, fundamental para cafés especiais (Oliveira, 2006).
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No Brasil, a colheita acontece entre maio e junho, e se entende até agosto e setembro, sendo que
50% dos produtores utilizam a colheita mecanizada, 24% realizam a colheita manual, 22% usam a
derriçadeira e 4% fazem a colheita manual seletiva (CNA, 2021).
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Em geral, fazendas maiores que 25 hectares utilizam colheita mecanizada, e vale ressaltar que
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para cada variedade de café existe a máquina e as regulagens corretas. As colhedoras operam com
segurança em áreas com declividade de até 20%, sendo a colheita manual realizada nas fazendas de
café de montanha com declividades maiores que esse valor.

A estimativa de produtividade no café se baseia na experiência de campo do produtor ou consultor.


Pessoas experientes conseguem estimar de maneira precisa a produção de cada talhão do cafezal,
geralmente contabilizado em litros por planta, para posterior conversão em sacas por hectare. Para
encher uma saca geralmente são necessários 480 L. Para aqueles sem muito conhecimento de
campo, uma técnica pode ser aplicada. Basta selecionar algumas plantas (5 ou mais) e colher todos
os frutos dela, colocando em um recipiente. Se os frutos de um pé encher um balde de três litros,
então a produção será de 3 L por planta.

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Para converter para sacas por hectare basta seguir o cálculo:

3L/planta x 4000 plantas/ha = 12.000L/ha


12.000L/ha / 480 (L/saca) = 25 sacas/ha

Neste caso, a produtividade dessa lavoura é de 25 sacas por hectare.

Após a colheita se iniciam os processos de secagem e torra. A qualidade

4
do café é estabelecida lá no campo. Ela é diretamente relacionada

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com tamanho, cor, integridade do grão, clima e manejo da cultura. O
beneficiamento envolve a remoção do grão do fruto e posterior secagem.

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Antes de ser beneficiado, o café necessita descansar em tulhas para que
a secagem seja mais uniforme. A secagem pode ser natural em terreiros

.1
(mais usada no Brasil e de menor custo) ou mecânica. 61
Os lotes antes ou após o beneficiamento não devem ser misturados
e devem estar com umidade de 10 a 12%. Umidades abaixo de 10%
.0

afetam a integridade do grão, enquanto acima de 12% acarretam risco de


deterioração. Atualmente, muitos produtores usam máquinas eletrônicas
41

para separar os grãos defeituosos e depois partem para a torra. A torra


consiste em três fases: secagem, torra e arrefecimento. Os graus da torra
e1

refletem a cor, desenvolvimento de sabor e aroma. Podem ser classificados


em leve, média e escura.
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A moagem é de fundamental importância para obtenção de um produto


de qualidade. Moagem mais grossa que a ideal propicia uma bebida mais
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fraca e menos saborosa, sendo necessário uma maior quantidade de pó


para um café mais forte. Após ser torrado e moído, o café já está pronto
para o consumo, contudo, se não for conservado de modo adequado, pode
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sofrer influência do oxigênio e umidade, acarretando perda de aroma e


sabor.
Di

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8. MERCADO

A s principais regiões produtoras brasileiras englobam os estados de MG, ES, SP, PR, BA e RO com
cerca de 264,9 mil produtores. Cerca de 80% dos produtores são cafeicultura familiar, sendo o café
o 5° produto mais importante no agronegócio brasileiro. Com área de 2,23 milhões de hectares, a cultura
do café emprega mais de três milhões de pessoas de forma direta e indireta.

Em volume total, o ano de 2016 teve exportação de 34,4 milhões de sacas. Nos anos de 2017
e 2018, as exportações brasileiras de café atingiram volumes de 31,3 e 34,3 milhões de sacas,
respectivamente. Já em 2019, as exportações saltaram para 41,5 milhões de sacas e, em 2020,
mesmo com a pandemia da COVID-19, alcançaram 43,9 milhões de sacas; em 2021, 46,3 milhões de
sacas foram exportadas. Para a safra de 2022, a Companhia Nacional de Abastecimento [CONAB]

4
(2022) estima uma produção de 55,7 milhões de sacas totais, o que representaria um aumento de

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16,8% em comparação com o ano de 2021.

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No período de janeiro a agosto de 2021, as exportações do café brasileiro totalizaram a quantia
de aproximadamente US$ 3,8 bilhões, valor correspondente a um crescimento de 15,2% quando
comparado com o mesmo período de 2020. Os principais destinos de exportação nesse período
foram os Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Itália e Japão. Com as altas nos preços desde .1
61
novembro de 2020, a quebra de safra na produção brasileira de 2021 e as estimativas de crescimento
da demanda para 2022, associadas à alta taxa de câmbio no Brasil, o café arábica deve se manter
.0

em valorização no mercado internacional. Em abril de 2022, o preço da saca do café arábica estava
41

sendo comercializada por cerca de R$ 1.233,88, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada [CEPEA] (2022), conforme Figura 4.
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Figura 4. Indicador do café arábica CEPEA/ESALQ


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2000
1875
1750
1625
eg

1500
1375
1250
Di

1125
1000
875
750
625
500
375
250
125
0
Fevereiro/21

Janeiro/22

Fevereiro/22

Abril/22
Maio/20

Junho/20

Julho/20

Novembro/21

Dezembro/21

Março/22
Agosto/20

Setembro/20

Outubro/20

Novembro/20

Dezembro/20

Janeiro/21

Março/21

Abril/21

Maio/21

Junho/21

Julho/21

Agosto/21

Setembro/21

Outubro/21

Fonte: Adaptado de CEPEA (2022)

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Os produtores brasileiros se preocupam com a colheita da safra de 2022,
especialmente devido às condições climáticas desfavoráveis em algumas
regiões produtoras, que sofreram com geadas e secas prolongadas, afetando
diretamente a produção das fazendas. Frente a este cenário de restrição de
oferta ao mercado nacional, os consumidores acabam sendo afetados com
as altas nos preços encontrados no café interno. Com a alta inflação (11,3%
acumulado nos últimos 12 meses) divulgada pelo Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo [IPCA] (IBGE, 2022) e a perda do poder de compra, o
consumo de grãos especiais sofreu um grande impacto no país nos anos de
2020 e 2021 e deve levar anos para se recuperar, porém, o tradicional café
torrado e moído teve seu espaço preservado na maioria das casas brasileiras.

Segundo o Euromonitor (2019), os grãos especiais têm muito mercado

4
para crescer no médio e longo prazo no Brasil e ainda têm muito espaço para

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inovação. O mercado brasileiro é o maior do mundo, com uma participação
de 14% no consumo mundial de café. A média de consumo do brasileiro

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fica em torno de 839 xícaras por ano, sendo mais que cinco vezes a média
mundial. O mercado de cápsulas, por sua vez, ainda é pouco desenvolvido em

.1
alguns países, mas possui grande potencial de crescimento. Em mercados
desenvolvidos (como EUA, Canadá e Europa), as cápsulas concentram a maior
61
parte do crescimento em valor, já estando na quarta fase de maturidade de
consumo de cafés especiais, com foco em produtos “premium”, ao passo que
.0

países como Austrália, Brasil, Itália, Irlanda e Reino Unido estão na terceira fase,
41

sendo a conveniência e o poder de compra os principais atributos. No entanto,


por se tratar de uma “commodity”, o seu preço é cíclico, e varia conforme a
relação de oferta e demanda.
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9. INOVAÇÕES E TENDÊNCIAS
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Di

M uitas inovações estão aparecendo na cultura do cafeeiro, desde


aplicação de conceitos de agricultura de precisão ao uso de drones
e satélites para levantamento de dados da lavoura. A utilização de drones de
pulverização é uma inovação e uma tendência futura no agronegócio mundial.
Apesar de ainda não existir muitas pesquisas na área, os drones realizam o
trabalho que, até então, só era realizado manualmente, de forma autônoma.
A pulverização do cafeeiro com drones pode auxiliar no controle de doenças
como a ferrugem e a cercosporiose. O voo pode ser realizado a três metros
da cultura ou menos, com economia de água, produtos químicos, sendo bem
eficiente na questão de deriva dos produtos e aplicações localizadas. Além
disso, o drone opera em áreas de difícil acesso e com velocidades de 20 a 100
vezes mais rápida que aplicações manuais.

13
Esses equipamentos também podem ser utilizados para realização de mapeamentos aéreos,
monitoramentos agrícolas, criação de índices vegetativos como o “Normalized Difference Vegetation Index”
[NDVI] e o “Normalized Difference Red Edge Index” [NDRE]. Existem outras tecnologias que certamente
estarão presentes no campo: imagens de satélites, softwares de gestão, telemetria, monitoramento de
colheita e sensores para colheita seletiva dos grãos.

10. REFERÊNCIAS

-8 4
.1 07
Agrolink. 2022. Disponível em: <https://www.agrolink.com.br/problemas/ferrugem-do-cafeeiro_1532.
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em: 19 abr. 2022.

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