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TERAPIA
DE CASAL

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SOBRE A PROFESSORA

Allana Araújo, é psicóloga, casada


e tem como seus valores o cuidado
com a família e com o relacionamento,
por isso o seu olhar foi despertado para
essa área.

Se formou em psicologia em 2013


e durante o seu percurso vivenciou
a prática de Constelação Familiar, o
que lhe trouxe imensa paixão pelos
atendimentos com famílias e casais.
Ter a experiência com a Constelação
familiar, lhe trouxe um novo olhar diante
da vida, o que lhe fez despertar um grande interesse em ajudar seus pacientes e
demais pessoas a enxergarem a vida de outra forma.

Nesse percurso de aprendizado e autoconhecimento teve a iniciativa de fundar


o Instituto Attuare de Psicologia em Brasília, de modo a dar prosseguimento na
missão e um suporte emocional para as pessoas.

Como se não bastasse, teve o desejo de levar adiante seu conhecimento sobre
a psicologia e atualmente atua como professora da ElloCursos Psicologia.

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SUMÁRIO
Introdução
..............................................................................................................................................................................................................7

2 Principais motivos que levam casais a buscarem a terapia de casal


.............................................................................................................................................................................................................9
2.1. Um esboço histórico conceitual da psicoterapia de casal
.............................................................................................................................................................................................................9
2.2.Visão geral da Terapia de Casal
............................................................................................................................................................................................................13
2.3. Sistema Conjugal
............................................................................................................................................................................................................16
2.4. Interseccionalidade: raça, gênero, classe e orientação sexual
............................................................................................................................................................................................................17
2.5. Principais motivos que levam casais a buscarem a terapia de casal
............................................................................................................................................................................................................18

Terapia de Casal: para ficarem juntos ou para se separarem?


..........................................................................................................................................................................................................23
3.1. Terapia de Casal: para ficarem juntos ou para se separarem?
..........................................................................................................................................................................................................23
3.1.1. Compreendendo a dinâmica do casal
..........................................................................................................................................................................................................23
3.1.2. Padrão Interacional do casal
..........................................................................................................................................................................................................25
3.1.3. A comunicação conjugal e seus dilemas
..........................................................................................................................................................................................................28
3.1.3. Divórcio e mediação
..........................................................................................................................................................................................................31
3.1.5. Casos extraconjungais e infidelidade
..........................................................................................................................................................................................................33
3.1.6. Abuso e violência
..........................................................................................................................................................................................................35
3.1.7. Infertilidade
..........................................................................................................................................................................................................39
3.1.8. Intimidade e sexualidade na terapia de casal
..........................................................................................................................................................................................................42
3.1.9. Casais do mesmo sexo e seus filhos
..........................................................................................................................................................................................................43
3.1.10. O que fazer quando o cônjuge não tem interesse em fazer terapia de
casal
..........................................................................................................................................................................................................45
3.1.11. O tempo na terapia de casais
..........................................................................................................................................................................................................49
3.1.12. Maturidade do casal
..........................................................................................................................................................................................................50

4 A terapia de casal na prática clínica


..........................................................................................................................................................................................................51
4.1. Como acontece, na prática, a terapia de casal e o papel do psicólogo
..........................................................................................................................................................................................................51
4.2. O papel do terapeuta
..........................................................................................................................................................................................................53
4.2.1. Questionários
..........................................................................................................................................................................................................55
4.3. Ferramentas na terapia de casal
..........................................................................................................................................................................................................60
4.4. Ferramentas na terapia de casal
..........................................................................................................................................................................................................61
4.5. Estratégias de resolução de conflito
..........................................................................................................................................................................................................63
4.6. Principais técnicas de intervenção: psicoeducação, identificação de pen-
samentos automáticos, técnicas comportamentais, melhora do processo de
comunicação
..........................................................................................................................................................................................................66

Referências Bibliográficas
..........................................................................................................................................................................................................73

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TERAPIA
DE CASAL

1 Introdução

A terapia de casal é uma abordagem terapêutica que se concentra na


análise e na intervenção nas dinâmicas e nos desafios específicos que afetam
os relacionamentos íntimos. Com uma trajetória histórica que remonta ao início
do século XX, essa modalidade de intervenção terapêutica tem evoluído e se
estabelecido como uma ferramenta eficaz no contexto da psicologia clínica.
Os fundamentos teóricos da terapia de casal têm suas raízes em diversas
correntes psicológicas, como a terapia familiar sistêmica, a psicodinâmica e a
cognitivo-comportamental. Essas abordagens fornecem bases conceituais e
estruturais para a compreensão dos padrões de interação entre os parceiros e
das dinâmicas relacionais presentes nos relacionamentos afetivos.
Na terapia de casal, o foco principal é entender e abordar os conflitos e
as dificuldades que surgem na convivência a dois. O terapeuta trabalha como
um facilitador, criando um espaço seguro e neutro no qual os parceiros podem
expressar suas preocupações, emoções e pensamentos de forma aberta e
respeitosa. Por meio de técnicas terapêuticas específicas, o profissional busca
promover a comunicação efetiva, o fortalecimento dos vínculos e a resolução dos
problemas conjugais.
A prática clínica na terapia de casal envolve uma avaliação detalhada da
dinâmica relacional, levando em consideração aspectos individuais e contextuais.
É essencial compreender as necessidades, os valores e as expectativas de cada
parceiro, bem como explorar os padrões de interação e os conflitos recorrentes
que afetam a saúde do relacionamento.
Durante o processo terapêutico, podem ser utilizadas diferentes estratégias e
técnicas terapêuticas, como a resolução de problemas, a negociação de papéis, o
fortalecimento da empatia e o desenvolvimento de habilidades de comunicação
assertiva. Além disso, o terapeuta auxilia na identificação e na transformação de

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crenças disfuncionais e padrões de comportamento prejudiciais, promovendo o
crescimento individual e conjugal.
É importante ressaltar que a terapia de casal não se restringe apenas a
relacionamentos em crise. Ela também pode ser uma ferramenta valiosa para
fortalecer os laços afetivos, melhorar a comunicação e promover o desenvolvimento
mútuo dentro de um relacionamento saudável.
Em suma, a terapia de casal é uma abordagem terapêutica que se dedica a
compreender e intervir nas dinâmicas relacionais que afetam os casais. Por meio
de uma prática clínica fundamentada em teorias psicológicas, o terapeuta busca
promover a melhoria do relacionamento, fortalecendo a comunicação, resolvendo
conflitos e cultivando vínculos saudáveis.

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2 Principais motivos que levam ca-


sais a buscarem a terapia de casal
2.1. Um esboço histórico conceitual da psicoterapia
de casal

A história

Em meados dos anos 40, a Europa e Estados Unidos passam a reconhecer, por
meio de estudos sociológicos, psicológicos, psiquiátricos e de assistentes sociais, a
importância dos distúrbios nos relacionamentos humanos como contribuinte para
as doenças apresentadas pelas pessoas e a sociedade.
Como exemplo, destaca-se um artigo publicado na Inglaterra durante a década
de 1940, intitulado «The study and reduction of group tensions in the Family» (em
tradução livre: «O estudo e redução das tensões em grupo na família»). Este artigo,
publicado por Bolwby, apresentou uma pesquisa pioneira envolvendo famílias e
sua relação com materiais individuais. O estudo foi uma contribuição significativa
para o desenvolvimento das terapias de casal, pois explorou os fenômenos de
tensão e conflito que ocorrem no contexto familiar. Ao investigar esses aspectos,
o autor reconheceu a importância das interações familiares e sua influência na
saúde emocional e nos relacionamentos conjugais.
A pesquisa de Bolwby envolveu observações sistemáticas das dinâmicas
familiares, analisando como os membros da família interagiam entre si e como
essas interações afetavam a coesão e o funcionamento do sistema familiar. O
estudo também investigou como essas interações podiam resultar em tensões e
conflitos no núcleo conjugal. Uma das principais contribuições desse estudo foi a
ênfase dada aos materiais individuais, referindo-se aos elementos e características
pessoais de cada membro da família. Esses materiais individuais podem incluir
histórias pessoais, experiências de vida, traumas, habilidades de comunicação,
estilos de apego e expectativas relacionais.
Ao considerar os materiais individuais, Bolwby sugeriu que as interações
familiares e conjugais são influenciadas por fatores internos de cada membro da
família. Esses fatores internos podem criar expectativas, crenças e comportamentos
que afetam a dinâmica relacional. Portanto, ao compreender e abordar esses
materiais individuais, seria possível reduzir as tensões e promover a saúde

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emocional nas relações familiares.
O trabalho de Bolwby foi precursor das abordagens sistêmicas que se
desenvolveriam posteriormente na terapia de casal. Sua pesquisa abriu caminho
para uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas familiares e do impacto
dos materiais individuais na interação conjugal. Essas ideias foram fundamentais
para a evolução das terapias de casal e influenciaram o desenvolvimento de
abordagens mais contemporâneas, como a terapia familiar sistêmica.
Nesse período, a esquizofrenia foi considerada como sendo originada de
relacionamentos interpessoais disfuncionais. Alguns autores estudiosos foram
muito importantes e fortes influenciadores para o desenvolvimento de estudos
voltados para as desordens mentais e suas conexões com os relacionamentos
interpessoais.
Por meio desses estudos, em 1949 foram fundados dois Centros de
Estudos e Atendimentos a Casais, chamado “Marital Unit” na clinica Tavistock,
e o “Family Discussion Bureau”, que também ficou vinculado a clinica Tavistock,
com o nome de institute of Marital Studies. Esses dois centros, tinham como foco
estudar a dinâmica de casais e proporcionar terapia para aquelas pessoas que
apresentassem distúrbios no casamento.
Inicialmente, o alicerce desse trabalho com casais, foi desenvolvido por
psiquiatras da Marital Unit, Henry Dicks (1967) e Lilly Pincus (1960), utilizando como
base principal a teoria psicanalítica, especificamente as relações objetais, devido
a ênfase que era dada ao sujeito e suas relações com seu objeto.
Segundo Henry Dicks (1963), a dinâmica conjugal fica melhor compreendida
por meio da teoria elaborada por Fairbairn, do que pela teoria dos estágios
da organização libidinal. Segundo Dicks, é muito difícil analisar o conteúdo da
complexidade de uma interação entre dois adultos, levando em consideração
termos quase neurofisiológicos de gratificação de impulsos, estabelecidos por
Freud. Até porque, conforme explica Dicks, se a interação do casal se torna
turbulenta, seus impulsos também ficam turbulentos.
Para a psicanálise e as relações objetais, o desenvolvimento da personalidade
se inicia a partir de uma percepção que o bebê tem, de que o objeto é parte de si
mesmo, nesse estágio o bebê não é capaz de distinguir ainda entre os cuidados
externos e uma experiência interna, para ele tudo é uma coisa só. Então ou o bebê
sente sensação boa e uma totalidade ou a sensação ruim em sua totalidade, ele
não consegue fazer discriminações, conforme explica a teoria de Melanie Klein.
Assim, o bebê percebe o outro como algo total, é como se ele e o outro fossem

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uma coisa só. Nesse estágio, o bebê passa a ter momentos de ansiedade, quando
sente amor e ódio em períodos diferentes, pela pessoa que tem essa dependência,
ou seja, ele sente essas emoções por ele mesmo, já que não consegue fazer a
divisão do que é ele e do que é o outro. Como consequência, o bebê experimenta
sentimentos de culpa, abandono e perdas.
É por meio dessas primeiras relações, cujos principais contatos são pai,
mãe e irmãos, o indivíduo cria um reservatório acumulado de potencial relacional
com essas figuras, os quais se tornam modelos internalizados de relacionamentos.
O padrão de relacionamento ali formado estará a serviço de relacionamentos
futuros, principalmente no que se trata de relacionamento conjugal, paternidade e
maternidade.
Baseado na teoria psicanalítica, um dos princípios estabelecidos na relação
de casal é de que o impulso que leva as pessoas a se casarem ou conviverem
juntos acontecem de forma inconsciente. A atração entre um casal, não acontece
somente pelas coisas boas que conscientemente eles identificam um no outro,
mas também por conteúdos inconscientes. “Inconscientemente a escolha é feita,
geralmente a partir de uma complementaridade, um encaixe das personalidades
dos cônjuges.
Por exemplo, pessoas que sofrem com ansiedade de separação, buscam por
pessoas que também sofrem a mesma ansiedade de separação e ambos se juntam
como se fossem um. Essas pessoas podem associar separação com individuação,
com perda irreparável, violência ou sentimento de culpa, E para aliviar a ansiedade
gerada por essas fantasias, eles se unem sem brigas. Trata-se assim, o mundo
como uma ameaça e o casamento como algo harmonioso e amoroso. Claro que
essa dependência pode, com o tempo de relacionamento, gerar um preço a se
pagar, afinal, está escolhendo um individuo igual a si mesmo para se relacionar e
está se bloqueando a receber coisas boas da vida. Assim, o trabalho pode ser visto
como algo que atrapalha a relação, assim como outras coisas externas, já que são
consideradas ameaçadoras para ambos. Nessa situação, o individuo não foi capaz
de introjetar um objeto bom em sua infância, por isso escolhem pessoas iguais a
si para se relacionar. Não acreditam que outras pessoas tem a capacidade de lhes
darem coisas boas, assim a relação de dependência é construída e não importa
se o relacionamento está doloroso e desconfortável, elas permanecem nele, se
tornam incapazes de se separar, pois se separando perdem uma parte do Eu.
Um outro exemplo tem a ver com o ditado que diz: “os opostos se
atraem”. Uma pessoa otimista que se relaciona com um pessimista; ou uma

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esposa econômica que possui um marido esbanjador. A pessoa que reclama do


esbanjamento, do pessimismo ou da depressão do outro, está inconscientemente
ansiosa com esses aspectos em si mesma, identificados de forma projetiva na
outra pessoa. O sujeito fica desprovido desses aspectos em si e vivencia o objeto
como se a pessoa possuísse a parte projetada. No casamento esse mecanismo é
compartilhado por ambos os cônjuges.
Por causa da ansiedade gerada por essas fantasias, cada um dos cônjuges
deseja se transformar no modelo dessas projeções. Sendo assim, podemos
afirmar que: “O casamento então é considerado o ‘recipiente’ das duas partes de
um todo, dentro do qual cada um dos cônjuges pode interagir tanto criativa como
destrutivamente.
Desde o seu início, algumas modificações acontecerem com o método
terapêutico da abordagem psicanalítica com casais, mas sempre com o objetivo
de trazer esclarecimentos sobre o porque da perturbação na relação do casal, ao
invés de identificar quem está mais perturbado dentro do casal. A estruturação
das sessões passou a ser reestruturada com o tempo. Por exemplo, a princípio,
as sessões eram realizadas de forma individual (cada um dos cônjuges com um
terapeuta). As sessões conjuntas, ou seja, dois terapeutas e o casal, aconteciam
somente no inicio do tratamento para fins diagnósticos.
Assim, ao longo do tempo, o método terapêutico da abordagem psicanalítica
com casais passou por modificações significativas, buscando uma compreensão
mais aprofundada das perturbações na relação do casal, em vez de se concentrar
na identificação de quem está mais perturbado dentro da dinâmica conjugal.
Essas mudanças refletiram-se também na estruturação das sessões terapêuticas.
Se, inicialmente, as sessões eram conduzidas de forma individual, ou seja, cada
cônjuge participava de sessões separadas com um terapeuta, com o tempo, houve
uma reestruturação na abordagem terapêutica, priorizando sessões conjuntas
com a presença de ambos os terapeutas e o casal.
No formato inicial, os terapeutas buscavam compreender individualmente as
questões, histórias pessoais e dinâmicas intrapsíquicas de cada parceiro. Essas
sessões individuais no início do tratamento eram utilizadas principalmente para
fins diagnósticos, a fim de obter uma compreensão mais completa dos desafios
enfrentados pelo casal. No entanto, com o tempo, a mudança permitiu uma
análise mais profunda das dinâmicas interacionais, dos padrões de comunicação
e dos conflitos específicos vivenciados pelo casal. Ao reunir todos os envolvidos
no processo terapêutico, os terapeutas puderam observar diretamente as

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interações entre os cônjuges, identificando os pontos de tensão e as dificuldades
de comunicação.
Essa abordagem conjunta também facilitou a criação de um espaço terapêutico
compartilhado, no qual os parceiros puderam expressar suas preocupações,
emoções e perspectivas de forma mais direta e imediata. A presença de ambos os
terapeutas permitiu uma maior objetividade na observação e uma compreensão
mais equilibrada das perspectivas individuais e conjuntas.
Além disso, a abordagem psicanalítica com casais evoluiu para enfatizar a
importância da compreensão das dinâmicas inconscientes e dos processos de
transferência e contratransferência presentes na relação conjugal. Os terapeutas
procuram identificar as influências do passado, os conflitos não resolvidos e os
padrões repetitivos que impactam a dinâmica atual do casal. Com base nessa
compreensão, busca-se promover a conscientização e a resolução desses conflitos,
visando ao crescimento e à transformação do relacionamento.
Portanto, comparando com a abordagem descrita anteriormente, atualmente
a terapia psicanalítica com casais tende a enfatizar as sessões conjuntas como
a principal forma de intervenção terapêutica, possibilitando uma análise mais
abrangente das dinâmicas interacionais e promovendo a compreensão e a
transformação dos padrões inconscientes que influenciam a relação do casal.

2.2. Visão geral da Terapia de Casal

A compreensão do casal está intrinsecamente ligada à noção de família,


uma vez que a formação de uma família ocorre por meio da união de um casal.
No contexto do desenvolvimento da terapia familiar, MINUCHIN (2009) destaca
em sua obra que os pioneiros da terapia familiar nos ensinaram a olhar além das
personalidades individuais, identificando os padrões que caracterizam as pessoas
como uma unidade familiar.
A terapia familiar teve um crescimento significativo ao contribuir para a
compreensão da importância da interconectividade humana, concluindo que a
família é mais do que uma simples coleção de indivíduos; ela é um sistema no
qual as partes vão além de suas características isoladas. Assim, aprendemos a
considerar as partes em relação ao todo e expandir nossa percepção.
Como em qualquer sistema de relacionamento, cada pessoa possui sua
própria maneira de ser e de pensar. É nesse ponto que entram em cena alguns
conceitos da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). A Terapia Cognitiva

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Comportamental, aparece numa posição de destaque dentro da terapia familiar,


por ser composta por uma metodologia eficaz para a dinâmica de família e casais.
Foi feito um levantamento em parceria com a universidade de Columbia, na qual
foi constatado que uma grande porcentagem de profissionais, utilizam a TCC em
complemento a outros métodos de terapias para casais e famílias.
Os primeiros escritos de aplicação da abordagem cognitiva comportamental
para relacionamentos conjugais, foram realizados a quase 50 anos atrás, por Albert
Ellis, no qual esclarece a importância da cognição nos relacionamentos íntimos.
De acordo com as perspectivas de Ellis, é possível identificar disfunções nas
relações de casais quando certos padrões cognitivos negativos são estabelecidos.
Esses padrões são caracterizados por duas principais características: a aquisição
de crenças irracionais ou não verdadeiras sobre os parceiros e a avaliação negativa
do relacionamento quando as expectativas irrealistas não são atendidas.
As crenças irracionais ou não verdadeiras referem-se a pensamentos
distorcidos ou generalizações negativas que os parceiros têm em relação um
ao outro ou à própria relação. Essas crenças podem incluir ideias como «Meu
parceiro deve sempre me entender e concordar comigo» ou «Se meu parceiro
realmente me amasse, ele faria tudo o que eu peço». Essas crenças irrealistas criam
expectativas pouco realistas e podem levar a uma visão distorcida do parceiro e
do relacionamento como um todo.
Quando essas expectativas irrealistas não são correspondidas, ocorre uma
avaliação negativa do relacionamento. Os parceiros podem interpretar a falta de
atendimento de suas expectativas como uma prova de que o relacionamento está
falhando ou que o parceiro não se importa o suficiente. Essa avaliação negativa
desencadeia uma série de emoções negativas, como raiva, desapontamento e
amargura.
Esses sentimentos negativos podem gerar um ciclo vicioso, no qual as
crenças irracionais e a avaliação negativa do relacionamento se reforçam
mutuamente. Por exemplo, acreditar que o parceiro não se importa pode levar a
uma postura defensiva e hostil, o que por sua vez reforça a percepção negativa
do relacionamento. Esse processo cognitivo negativo pode criar uma dinâmica
destrutiva na relação, prejudicando a comunicação, a intimidade e a satisfação
conjugal.
No entanto, ao adotar uma abordagem terapêutica baseada na Terapia
Cognitivo-Comportamental, é possível ajudar os casais a reconhecerem esses
padrões cognitivos negativos e a substituí-los por crenças mais realistas e

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construtivas. O terapeuta auxilia os parceiros a desafiar suas crenças irracionais,
identificar expectativas mais realistas e desenvolver habilidades de comunicação
e resolução de problemas mais eficazes. Dessa forma, é possível reduzir os
sentimentos negativos e promover uma relação mais saudável e satisfatória.
A terapia racional emotiva (TRE), estabelecida por Ellis, foi aplicada em casais
disfuncionais, a fim de desafiar os pensamentos irracionais dos indivíduos.
A década de 1960 e 1970, marcou o desenvolvimento inicial da terapia de casal
e terapia familiar, porém nesse início as técnicas cognitivas eram desdenhadas e
consideradas pouco confiáveis. Somente no final da década de 1970, as cognições
foram de fato introduzidas como forma de tratamento dentro de um paradigma
comportamental.
Na década de 1980, os fatores cognitivos ganharam enfoque para as
pesquisas e terapias de casal. Mais do que profissionais de outras abordagens, os
terapeutas comportamentais de casais, passaram a utilizar a cognição de forma
sistemática e direta. Assim, os processos de pensamentos dos membros das
famílias passaram a ser muito importantes nas orientações teóricas da terapia
familiar, como por exemplo: na reestruturação da abordagem estratégica, a
“conversa sobre o problema”, na terapia concentrada na solução e histórias de
vida na terapia narrativa.
Os métodos de intervenção utilizados na terapia individual, foram adaptados
pelos terapeutas cognitivos comportamentais, para que pudessem ser utilizados
na terapia com casais. O objetivo era modificar cognições distorcidas que são
criadas entre os parceiros dentro da relação. Com essa modificação, acreditou-se
que seria possível melhorar as habilidades cognitivas e de comunicação, assim
como resolver problemas de forma construtiva.
A abordagem cognitiva foi introduzida dentro da terapia familiar, inicialmente
por Ellis (1982), com a utilização da TRE. Nesse mesmo tempo, Bedrosian (1983),
aplicou o modelo da terapia cognitiva de Beck, para entender as dinâmicas
disfuncionais nas famílias e tratá-las. Em 1981, Barton e Alexander, desenvolveram
a chamada terapia familiar funcional. Durante os anos de 1980 a 1990, a terapia
familiar cognitivo- comportamental (TFCC), se expandiu rapidamente e atualmente
é considerada uma abordagem de tratamento muito importante nas terapias de
famílias.

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2.3. Sistema Conjugal

Éfundamental compreender o conceito de sistema. Um sistema refere-se a um


conjunto de elementos interconectados e interdependentes. Podemos identificar
sistemas em diferentes contextos, como um casal, uma empresa, um grupo de
amigos ou até mesmo uma escola. Esses sistemas são compostos por indivíduos
que interagem entre si. A família, por exemplo, é um sistema, e não é necessário
que seja composta apenas por laços sanguíneos para ser considerada como tal.
Dentro desse sistema familiar, aprendemos regras e papéis específicos, e cada
membro ocupa um lugar único.
O sistema familiar é caracterizado por uma série de interações complexas
entre seus membros, em que cada indivíduo influencia e é influenciado pelos
demais. As relações e dinâmicas estabelecidas dentro desse sistema têm um
impacto significativo no funcionamento geral da família.
Dentro desse contexto, é importante reconhecer que cada membro da família
possui um papel e uma função específica, contribuindo para a dinâmica e a
estabilidade do sistema. As interações entre os membros da família podem ser
influenciadas por fatores como expectativas, valores, histórico familiar e cultural.
Compreender a família como um sistema nos permite analisar as relações e
os padrões de comunicação, identificar áreas de conflito e compreender como
as ações e emoções de um membro podem afetar os outros. Essa perspectiva
sistêmica é valiosa no contexto da terapia familiar, pois permite explorar as
dinâmicas relacionais, promover a compreensão mútua e buscar soluções que
beneficiem o sistema como um todo.
Portanto, quando se considera a família como um sistema, acaba por se
reconhecer a importância das interações e conexões entre seus membros,
independentemente dos laços sanguíneos, e compreendemos como esses
sistemas influenciam nosso desenvolvimento, nossas relações e nosso senso de
pertencimento.
De acordo com Hellinger, existem papeis dentro dos sistemas, seja onde e
como for, nos quais cada membro tem o seu lugar e a sua função. Na família, por
exemplo, o pai tem o papel de pai, a mãe tem o seu papel e os irmão também
(mas, contrario sensu, é possível que a mãe assuma o papel de pai, a título de
exemplo, o que gera desequilíbrios e problemas). Na relação de casal, acontece da
mesma forma, cada um tem o seu lugar e papel.
Precisamos levar em consideração que um sistema pode ser funcional ou

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não. O que vai determinar se um sistema é ou não funcional é a constatação de
que cada um está conseguindo fluir com o seu papel dentro daquele sistema. Se
o membro não está conseguindo assumir seu papel, é porque algo está errado
naquele sistema.
A teoria sistêmica trabalha com o conceito de Globalidade, ou seja, o sistema
funciona como um todo, qualquer desordem ou mudança influenciará o restante,
como exemplo, podemos citar um esposo que casa e tem filhos, se ele sai do
sistema por meio de uma separação, isso afeta a globalidade, ou seja, afeta todo
a família.
A abordagem sistêmica considera o casal como um sistema, ou seja, já que a
família também é um sistema, podemos concluir que o casal é um subsistema no
interior da família.
Quando não existe a concordância entre o casal sobre regras que estão
implícitas dentro da relação, começam a acontecer os conflitos. A dificuldade na
relação também começa a ser apresentada quando as exigências que cada um
dos cônjuges faz são contraditórias.
Segundo o modelo sistêmico, a família tem predisposição a funcionar como um
sistema total, sendo assim, os comportamentos de cada membro influenciam e são
influenciados pelas ações e comportamentos de todos os outros. Aqui acessamos
o conceito de globalidade, onde todas as partes de um sistema estão relacionadas
com as demais partes e qualquer mudança ocorrida em uma delas impactará nas
outras e consequentemente no sistema total.
Considera-se então que “distúrbio mental”, quando aparece, é parte integral
das interações recíprocas entre membros da família que operam como um sistema
total. Em resumo, a família pode ser vista como um circuito de retroalimentação, já
que o comportamento de cada pessoa dentro da família afeta e é afetado pelos
demais membros desse sistema.

2.4. Interseccionalidade: raça, gênero, classe e


orientação sexual

O termo interseccionalidade começou a ser apresentado nos anos 80 por


uma norte americana chamada Kimberlé Crenshaw, interessada nos assuntos
sociológicos. A interseccionalidade passou a ganhar força e ser utilizado nos
movimentos sociais com o objetivo de lidar com a problemática das opressões
e desigualdades, tentando dialogar com a questão de gênero e a questão racial.
Definida como um método para compreender como aconteciam as

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subordinações e encontrar estratégias de superação, a interseccionalidade busca
explicar os problemas estruturais e a dinâmica deles, a partir de vários eixos que
geram a exploração, racismo, patriarcado e outras discriminações que provocam
as desigualdades.
Por se tratar de um meio capaz de analisar as relações sociais, a
interseccionalidade deve ser levada em consideração como instrumento de inclusão
e de integração entre raça, gênero e classe. Além disso, a interseccionalidade pode
ser entendida como uma ferramenta de intervenção política, para enfrentamento
da desigualdade. Desrespeito, imagem depreciada, extermínio, violações de direitos
humanos, violências e todas as formas de exploração sociais e de desigualdade
pode ser vista de uma perspectiva interseccional.

2.5. Principais motivos que levam casais a buscarem


a terapia de casal

Quando os casais decidem buscar a terapia de casal, é porque enfrentam uma


série de desafios e questões específicas que afetam sua relação. Esses motivos
podem variar, mas existem alguns padrões comuns que levam casais a procurar
ajuda profissional.
Um dos motivos recorrentes é a intromissão inoportuna. Isso ocorre quando
um dos parceiros interfere na vida do outro de forma inadequada, seja com
pedidos constantes, comportamentos inconvenientes ou até mesmo investidas
sexuais em momentos inapropriados. Essas invasões de espaço e tempo podem
gerar conflitos e desgastes na relação.
Outra questão que gera conflitos é a invasão de privacidade e espaço. À
medida que o casal se torna mais íntimo, é comum ocorrerem invasões em relação
à individualidade de cada um. Isso pode levar a brigas sérias, pois todos precisam
de seu espaço pessoal e respeito à sua privacidade.
Acomodação também é um fator que desencadeia problemas nos
relacionamentos. Quando o casal se acomoda aos incômodos mútuos, a energia
negativa começa a se acumular. O mal-estar presente no relacionamento vai
se intensificando até chegar a um ponto de explosão, muitas vezes por meio de
situações aparentemente insignificantes.
A falta de diálogo equilibrado é outra causa comum de conflitos. Monólogos
são frequentes em relacionamentos problemáticos, em que um dos parceiros
desabafa sobre seus problemas e sentimentos, sem dar espaço para que o outro
se expresse. Isso gera ressentimentos e pode desencadear grandes brigas.

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Explosões de raiva também são motivo de preocupação. Algumas pessoas
têm dificuldade em controlar sua irritação e acabam resmungando ou gritando
constantemente. Qualquer desacordo ou mal-estar pode desencadear esses
comportamentos explosivos. A dificuldade do outro em entender o que aconteceu
pode gerar mais sintomas e, como consequência, mais brigas.
Brigas relacionadas ao espaço doméstico também são frequentes. Muitas
vezes, os conflitos surgem por questões do ambiente em que vivem ou pelas
responsabilidades da casa. No entanto, é importante identificar se essas brigas são
realmente por essas questões ou se estão servindo como uma forma de transferir
raiva de problemas mais profundos do relacionamento para assuntos triviais.

Brigas que se originam durante o namoro também podem persistir ao longo


do tempo. Durante essa fase, é comum que o casal construa uma imagem
idealizada um do outro e da relação. No entanto, essa fantasia pode distorcer a
realidade e gerar expectativas irrealistas. À medida que o relacionamento avança,
é necessário desconstruir essas idealizações e encarar a realidade. Caso contrário,
as brigas surgem quando as expectativas não são atendidas.
Alguns casais entram em ciclos de testes e jogos de poder. Utilizam brigas,
controles e métodos para avaliar a relação e o amor que sentem um pelo outro.
Esse comportamento é prejudicial à saúde do relacionamento, pois impede a
comunicação aberta e saudável.
Outra causa de brigas são as inseguranças relacionadas a se entregar ao
amor e perder a própria identidade. Alguns indivíduos lutam contra a invasão
emocional, criando situações de conflito como forma de se protegerem.
O mau uso da intimidade também pode ser um problema. É importante entender
que intimidade não significa dizer tudo o que vem à mente sem considerar os
sentimentos do parceiro. Confundir intimidade com grosseria pode causar danos
à relação, mesmo que a pessoa seja gentil em outros contextos.
Esses são apenas alguns exemplos dos principais motivos que levam casais
a buscarem a terapia de casal. Cada casal é único e possui suas particularidades.
O trabalho terapêutico tem como objetivo ajudar os parceiros a identificar
e compreender esses desafios, promovendo a resolução de conflitos e o
fortalecimento do relacionamento de forma saudável e satisfatória para ambos.
Muitas pessoas utilizam estratégias de ataques que podem de fato levar a
uma separação inadequada. Isso porque, a decisão de uma separação jamais
deve acontecer no calor da emoção, é necessário deixar o racional agir antes

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da tomada de decisão. As estratégias de ataques podem girar em torno de falas
como: “Estou indo embora!”; “Por que você não se divorcia de mim?”; “Se você
quiser, podemos terminar”; “Muito bem, vou procurar um advogado”.
Esse tipo de postura, anuncia a necessidade de mudança no relacionamento.
Se percebendo nessa ameaça em se separar, o casal deve refletir sobre o que
podem fazer para melhorar a relação. Sendo assim, consideramos esse tipo de
fala, um despertador, para que ambos enxerguem que a relação está em risco e
que precisa ser trabalhada.
Dentro da intimidade do casal, existe um preço a se pagar chamado frustração.
Isso acontece pela expectativa que sempre está presente e pela dificuldade de
compartilhar o que se passa internamente na mente do casal.
Muitas vezes, a briga é útil e pode reduzir a frustração conjugal, porém essa
utilidade se torna eficaz quando outras estratégias são utilizadas para melhorar
a relação. O caminho do amadurecimento faz com que a pessoa entenda que
a frustração faz parte do relacionamento e, com esse entendimento, pode lidar
melhor com ela, sem ter que brigar, cobrar, controlar ou se alterar.
Olhar o mundo com os olhos um do outro, significa interesse pela conversa,
porém muitos casais competem, disputam com o interesse de ganhar ou querem
provar suas verdades. Além de provocar uma guerra, ninguém chega a lugar
nenhum para a resolução.
É impossível ter intimidade sem que haja conflitos, até porque quanto mais a
aproximação, mais se percebe o outro de forma crua. São nesses momentos de
intimidade que as diferenças começam a aparecer e os conflitos podem surgir. É
por meio da briga que os limites podem ser colocados diante da permissividade
que a intimidade provoca nas relações conjugais. Sendo assim, se norteadas por
respeito a si e ao outro, as brigas podem abrir oportunidade para negociações,
conversas e mudanças.
A intimidade proporciona a habilidade do casal atacar as vulnerabilidades um
do outro. É necessário autocontrole e aprimoramento pessoal para que o casal
não use os pontos fracos um do outro para atacar.
Existem comportamentos que podem prejudicar a vida de um casal e até
mesmo levar à destruição da relação. Alguns desses comportamentos prejudiciais
são:
Primeiro, os investigadores conjugais, que são aqueles que utilizam situações
para investigar os medos e receios que o outro possui em relação à forma como
se relacionam. Isso cria um clima de desconfiança constante e pode minar a

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confiança mútua, tornando a relação insustentável.
Outro comportamento prejudicial é a invasão de privacidade. Alguns casais
acreditam que devem compartilhar absolutamente tudo, inclusive invadindo a
privacidade um do outro. Nesse caso, as brigas se tornam uma espécie de tarefa
de invadir a vida do parceiro, checar se tudo foi dito ou compartilhado. Isso gera
uma sensação de falta de espaço e individualidade, causando conflitos constantes.
A despersonalização do parceiro também é um comportamento que pode
piorar a vida do casal. Durante as discussões, alguns casais podem utilizar rótulos
repetitivos para atacar o outro, fazendo com que ele deixe de ser visto como uma
pessoa com a qual estão lidando em determinada questão. Essa desumanização
prejudica a intimidade e o respeito mútuo.
Agredir o ponto fraco do companheiro é outro comportamento prejudicial que
pode levar à destruição da relação. À medida que a relação se desenvolve, os
parceiros conhecem tanto o melhor quanto o pior um do outro. No entanto, usar
as vulnerabilidades do parceiro como arma durante as brigas é extremamente
prejudicial e desrespeitoso, gerando mágoas e ressentimentos profundos.
Agressividade passiva é um comportamento que pode passar despercebido,
mas que também prejudica a vida do casal. Nem sempre a agressividade se
manifesta por meio de palavras ofensivas. Tirar conclusões precipitadas, pedir
que o parceiro repita várias vezes a mesma coisa ou adotar comportamentos que
desgastam emocionalmente são exemplos de agressividade passiva, que pode
corroer a relação aos poucos.
O uso de psicologismos durante as brigas também é prejudicial. Utilizar termos
e conceitos psicológicos para atacar o outro ou para explicar determinados
comportamentos impede que o julgamento seja retirado do conflito, gerando
impotência e uma verdadeira guerra entre o casal.
Por fim, a conivência é um comportamento que pode levar à destruição da
relação. Fingir aceitar os argumentos do outro sem expressar suas próprias opiniões
e sentimentos é uma forma de conivência. Essa atitude pode ser motivada pelo
medo da rejeição ou por inseguranças pessoais. No entanto, isso pode resultar em
brigas ainda mais intensas no futuro, pois os problemas não são abordados de
forma adequada.
Esses comportamentos prejudiciais podem levar a um ambiente tóxico e
desgastante para o casal. É fundamental que ambos os parceiros reconheçam
esses padrões e estejam dispostos a buscar ajuda profissional, como a terapia
de casal, para aprenderem a lidar com essas questões de forma saudável e

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construtiva. O objetivo é promover a compreensão mútua, a comunicação eficaz
e a construção de uma relação saudável e harmoniosa.

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3 Terapia de Casal: para ficarem jun-


tos ou para se separarem?
3.1. Terapia de Casal: para ficarem juntos ou para se
separarem?

3.1.1. Compreendendo a dinâmica do casal


Damos o nome de conjugalidade, a relação de duas pessoas que tem uma
relação de intimidade, sexualidade e projetos em comum. Por meio dessa relação,
são formadas outras relações familiares.
Ao decidirem se casar, os parceiros formam um novo sistema, com regras,
definições e um tipo de funcionamento. Não importa como isso é feito, se por
meio de um casamento legal, se vão morar juntos na mesma casa ou em casas
separadas, se o objetivo é ser para sempre ou se apenas por “um trecho”.
Independente de qualquer coisa, a união está criando um espaço de convivência.
É um espaço que pertence somente ao casal, mesmo havendo pessoas ao
redor, existe ali uma energia que liga e envolve somente o casal. Qualquer invasão
ou interferência, pode influenciar na relação dos dois.
Nesse espaço, vivencias, aprendizados e experiencias são construídas, de
forma que só é possível fazer isso, pelo fato de existir a intimidade, sexualidade
e parceria. A compatibilidade de casal é muito importante nessa construção,
afinal são pessoas diferentes que não conseguirão satisfazer totalmente um ao
outro, cada um deles fará uma construção da realidade de forma diferente em
sua mente. Apesar de construírem com olhos diferentes a visão de mundo dentro
da relação, isso pode enriquecer a relação com a diversificação e aprendizagem,
mas caso não estejam abertos a isso, podem dificultar a construção de projetos
comuns para o casamento. Nesse sentido, o casal tem a missão de sempre estar
negociando entre si e lutando juntos. Para encontrar saídas, é necessário tolerância
e criatividade.
O conceito de casal útil se refere a utilidade que a relação está trazendo
para o desenvolvimento psíquico dos pares e se o padrão construído na relação
está promovendo a evolução para ambos.
O conceito de casal terapeuta do indivíduo, possibilita compreender que a
relação do casal representa uma psicoterapia no sentido de promover a evolução
individual da pessoa.
Sendo assim, viver o casamento pode sim promover o crescimento

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individual que foi iniciado no sistema de origem da pessoa. Assim destacamos
que o casamento é uma vivencia muito importante para o desenvolvimento de
potencialidades individuais. “As dificuldades são vistas como uma possibilidade de
trazer à luz os pontos pessoais que precisam ser burilados” (ROSSET, p. 17).
Importante destacar que só é possível viver essas possibilidades, se o
casal conseguir promover a compreensão, o amor e a compaixão. Para que isso
aconteça, os medos devem ser trabalhados, seja o medo de se entregar, de ser
mal compreendido, o medo de perder, sejam medos conscientes ou não, até
porque são os medos que causam defesas e afastam o casal. Ao contrário disso, é
possível construir a intimidade e obter uma relação de confiança e funcionalidade.
Um processo complexo, cheio de nuanças, aprendizagens, dificuldades,
dores, o contato com as dificuldades pessoais do outro e de si mesmo, isso é
casamento.
Dentro de uma relação de casal, existem duas possibilidades, a de se
tornarem passivos diante das dificuldades, se conformando com a dor e fica
numa zona de reclamação ou entrar num papel ativo, na qual ambos se utilizarão
dos conflitos como um aprendizado não só pessoal, como também para o casal,
promovendo a mudança e evolução.
O grande desafio é fazer um bom uso do casamento, e para isso, destacam-se
algumas dicas valiosas. Primeiramente, é essencial desenvolver a autoconsciência
dentro da intimidade do casal. Ao ouvir atentamente o que cada parceiro tem
a dizer e compreender as próprias características e comportamentos, é possível
alcançar uma maior autoconsciência. Isso contribui para um melhor entendimento
mútuo e fortalece a relação.
Além disso, é importante dar o melhor de si para prosperar a relação.
Cada parceiro deve ter consciência de suas próprias características pessoais e
competências individuais. Ao unirem seus talentos e esforços, eles podem contribuir
de forma significativa para o crescimento e enriquecimento da relação.

Aprimorar-se por meio das falhas e diferenças do parceiro é outro aspecto


importante. Ao invés de encarar as falhas e diferenças como obstáculos, é possível
enxergá-las como oportunidades de crescimento pessoal. Ao lidar de forma
construtiva com as características do parceiro que possam ser desafiadoras, cada
um pode aprender e se aprimorar como indivíduo.
Desenvolver características como compaixão, paciência, amorosidade e
compreensão também é fundamental. Cultivar esses sentimentos e atitudes cria

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um ambiente propício para uma relação saudável e sustentável. O respeito mútuo
e a capacidade de compreender as necessidades e limitações do parceiro são
essenciais para um relacionamento próspero e cheio de crescimento.
Ao aplicar essas dicas, os casais podem criar um ambiente propício para
o desenvolvimento pessoal e mútuo, promovendo a harmonia e a felicidade
na relação. É importante lembrar que o casamento é um processo contínuo de
aprendizado e ajuste, e cada parceiro tem um papel fundamental na construção
de um relacionamento saudável e gratificante.

3.1.2. Padrão Interacional do casal


Existem padrões de funcionamento de casais que se repetem, trazendo a
formação do que chamamos de tipos específicos de casais.
Os tipos específicos de casais, são explicados pela psicologia e pelos estudos
de desenvolvimento das personalidades. Tais estudos, nos mostram que algumas
pessoas passam pelas fases do desenvolvimento de uma forma pior e outras
de uma forma melhor. Essa definição acontece por meio da forma com que são
supridas as necessidades básicas das pessoas, pois algumas são supridas, outras
são frustradas e outras são reprimidas. Durante o desenvolvimento humano,
existem diferentes formas de lidar com as necessidades básicas, e cada uma delas
pode impactar de maneira significativa a vida adulta. Vamos explorar três dessas
formas: suprida, frustrada e reprimida.
Quando as necessidades básicas são supridas de forma satisfatória, ou seja,
quando uma pessoa recebe o que precisa em quantidade adequada e de maneira
saudável, isso contribui para o seu desenvolvimento equilibrado. Nesse caso, não
há marcas registradas que prejudiquem a sua vida adulta. As necessidades são
atendidas de maneira adequada, permitindo o florescimento de uma pessoa
emocionalmente saudável.

No entanto, quando as necessidades são frustradas, a pessoa recebe muito


pouco do que necessita ou, por vezes, em excesso. Isso pode resultar em cicatrizes
emocionais que acompanham a pessoa ao longo da vida adulta. A frustração
das necessidades básicas deixa marcas, podendo gerar dificuldades emocionais,
relacionais e comportamentais. Essas cicatrizes podem afetar a autoestima, a
capacidade de se relacionar de forma saudável e a forma como a pessoa lida
com as próprias necessidades.
Por outro lado, quando as necessidades são reprimidas, além de não receber
o que precisam, as pessoas têm seus impulsos para buscar o atendimento dessas

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necessidades sufocados. Isso pode ocorrer devido a pressões externas, crenças


limitantes ou rejeição social. Como resultado, a pessoa pode desenvolver um
padrão de supressão de suas necessidades, o que afeta negativamente sua
autoexpressão, satisfação pessoal e relacionamentos saudáveis.
É importante ressaltar que as formas de lidar com as necessidades básicas não
são estáticas e podem variar ao longo da vida de uma pessoa. O entendimento e
a conscientização dessas diferentes abordagens permitem que a pessoa trabalhe
no sentido de desenvolver uma relação saudável e equilibrada com suas próprias
necessidades, buscando o seu atendimento de forma adequada e respeitando-se
como um ser único e completo.
Cada pessoa, se não tiver passado pelas fases do desenvolvimento, de forma
saudável, apresentará comportamentos e carências que estão ligadas as fases
primárias do desenvolvimento. Na escolha dos parceiros, a pessoa se atrai por
pessoas que também estejam presas à mesma fase, com comportamentos e
necessidades parecidas.
É nesse sentido que chegamos à criação dos tipos e casais, ou seja, por
terem os mesmos desejos e necessidades, o casal estrutura um padrão de
funcionamento definido por suas carências primárias e tudo isso é organizado de
forma inconsciente entre o casal.
O casal, quando em terapia, precisa ter o conhecimento dessa definição,
para que consigam perceber o funcionamento entre si e ter mais controle sobre
isso. Lembrando que, as tipologias servem somente para organizar e facilitar a
autoconsciência do casal.
Existem diferentes comportamentos que podem prejudicar a vida de um casal
e levar à destruição da relação. Alguns exemplos incluem casais que existem em
função um do outro, delegando sua existência e importância ao parceiro, em vez
de se preocuparem consigo mesmos. Para superar esse padrão, é necessário que
ambos os parceiros desenvolvam a consciência de suas próprias competências e
valores, fortalecendo sua identidade individual.
Outro comportamento prejudicial é quando os casais buscam apenas cuidar um
do outro e desejam ser cuidados. Isso cria uma dinâmica em que um dos parceiros
constantemente solicita cuidado maternal, enquanto o outro assume o papel de
cuidador. Para romper com esse padrão, é essencial que ambos aprendam a ser
sua própria fonte de cuidado, desenvolvendo autonomia emocional e atendendo
às suas próprias necessidades.
Há também casais que se envolvem por meio de competição, com um parceiro

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dominador e o outro dominado. O objetivo dessa relação é obter poder, e conflitos
surgem quando o parceiro dominante abusa de sua autoridade e o dominado
deseja se libertar dessa exploração. Para superar essa dinâmica, é necessário que
ambos os parceiros aprendam a cooperar em vez de competir, trabalhando na
comunicação, na expressão clara de sentimentos e nas influências passadas que
moldaram esses padrões.
Outro comportamento prejudicial é quando os casais focam na perfeição,
tendo expectativas excessivamente altas um do outro e sendo críticos com as
ações do parceiro. Essa busca pela perfeição gera ansiedade e estresse, impedindo
o crescimento saudável da relação. Superar esse comportamento requer aprender
a se relacionar com leveza, flexibilidade e otimismo, aceitando as próprias falhas
e as do parceiro, e cultivando a compreensão e o respeito mútuo.
Por fim, alguns casais evitam o conflito a todo custo, buscando sempre
manter a paz e evitando confrontos. No entanto, essa postura defensiva e a falta
de expressão dos problemas podem impedir o crescimento e a resolução de
questões importantes na relação. Superar esse comportamento requer aprender
a expressar os problemas, pontos de vista e emoções, colocando a harmonia em
risco quando necessário para alcançar um aprendizado mútuo.
Em todos esses casos, é fundamental que os casais desenvolvam a
autoconsciência, melhorem a comunicação, cultivem o respeito mútuo e estejam
dispostos a trabalhar tanto individualmente como em conjunto. Cada relação é
única, e buscar o apoio de um profissional, como um terapeuta de casal, pode
ser valioso para obter orientação específica e estratégias personalizadas para
fortalecer a relação. O objetivo para o tratamento de casais é agregar os
comportamentos de um ao outro, pois o mais importante é o funcionamento do
casal em seu conjunto.
O processo de interação do casal está totalmente ligado a aos fenômenos
complementares, então é necessário a busca dessa complementação. Aqui não
cabe o conceito de certo ou errado, melhor e nem pior, mas cabe a consciência do
papel de cada um.
Quando duas pessoas se unem, passam a construir a sua forma única de ser,
passam a estabelecer um padrão de funcionamento. Essa estrutura, passa a ser
formada por meio da forma que o casal tem de reagir às situações da vida e a
forma com que lindam na relação, fazendo parte disso, aquilo que é dito e não
dito, aquilo que é feito em forma de ação e demais comportamentos.
Algumas pessoas, tem a dificuldade de se perceber e acabam mudando de

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parceiro, mas não muda de funcionamento. A consciência individual, é importante
para se ter entendimento e aprender como lidar com as dificuldades e problemas
que o casal tem, assim como prevenir os problemas que se pode ter.

3.1.3. A comunicação conjugal e seus dilemas


É importante mencionarmos inicialmente sobre a definição de comunicação.
Esta trata-se de um processo de dar e receber informação, trata-se também de
um processo verbal ou não verbal de solicitar algo ao recebedor da mensagem.
Além de tantas outras definições, a comunicação é um processo de interação. A
comunicação é um dos principais fatores da relação entre casais e a mais difícil
de ser mantida.
A vida moderna traz para a rotina a falta de tempo, a agitação, as diferenças
entre o casal, assim também como um certo egoísmo e diferenças entre os casais.
Tudo isso pode provocar a dificuldade na comunicação entre eles, por isso é
necessário cuidar de todo esse contexto, já que isso reflete na forma com que o
casal se relaciona.
Cada pessoa tem uma bagagem de vida, de sentimentos, pensamentos,
desejos e necessidades. Cada indivíduo, automaticamente volta seu olhar para suas
questões individuais. Sendo assim, se o casal não compartilha seus pensamentos
e todos esses pontos que fazem parte do seu próprio mundo, o casal poderá
se tornar dois desconhecidos, vivendo no mesmo ambiente, compartilhando
obrigações e responsabilidades, mas completamente estranhos um ao outro.
Quanto mais os casais se comunicam de forma velada, mais disfuncional se
torna a relação. Casais passam a criar defesas dentro da relação, justamente por
causa da dificuldade de compreenderem um ao outro ou se fazerem compreendidos.
A consequência disso é a diminuição das conversas e com o tempo elas podem
parar de acontecer.
Desqualificar a mensagem que o outro está transmitindo é uma das falhas
graves dentro de um relacionamento e que destrói a comunicação funcional.
Existem várias técnicas que desqualificam as mensagens transmitidas entre casais,
dificultando a comunicação e gerando mal-entendidos. Um exemplo é quando um
cônjuge joga com as palavras, respondendo de forma sarcástica e provocativa,
desviando o assunto principal da conversa. Outra técnica é modificar o significado
na forma de falar, utilizando sotaques ou palavras diversas para confundir a
mensagem original. Além disso, negar com gestos aquilo que é dito verbalmente,
como dar beliscões enquanto afirma que não faz o que o parceiro não gosta,
contribui para a desqualificação da comunicação.

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A incoerência também é uma técnica prejudicial, em que um cônjuge responde
de forma evasiva e desconexa, não levando em consideração o que foi dito pelo
outro. Invalidar a própria comunicação ou a do parceiro, afirmando que certas
verdades não devem ser ditas, também dificulta o diálogo. Mudar bruscamente o
assunto, utilizar frases incompletas e interpretar de forma errada as palavras do
outro são técnicas que criam confusão na comunicação.
Além disso, falar usando um estilo obscuro e pedante, com linguagem
complexa, dificulta a compreensão mútua. O uso de linguagem técnica, que pode
não ser compreensível para o parceiro, também prejudica a troca de mensagens.
Por fim, fazer interpretações literais de metáforas utilizadas pelo outro pode levar
a mal-entendidos e confusões desnecessárias.
Essas técnicas desqualificam as mensagens transmitidas entre casais,
prejudicando a clareza, a compreensão e a empatia na comunicação. Para
promover uma comunicação saudável, é fundamental evitar esses comportamentos
e buscar a expressão clara, a escuta ativa e a compreensão mútua. Um diálogo
aberto, respeitoso e livre dessas técnicas é essencial para construir uma relação
sólida e harmoniosa.
Toda mensagem possui o seu valor, por isso, aquilo que é dito deve ser dito
com cuidado. Atividade ou inatividade, palavras ou silêncio, posturas, olhares, tudo
se refere a comunicação e influencia os outros. Se o casal não aprende a falar, os
sentimentos vão ficando presos a ponto da comunicação se tornar não verbal.,
provocando o distanciamento e ocultando cada vez mais o que estão pensando,
sentindo ou querendo dizer.
A capacidade de se comunicar o que se sente ou pensa, está ligada ao
conhecimento de si mesmo e dos outros. A facilidade ou dificuldade de tomar
consciência das próprias dificuldades de se comunicar estão ligadas ao passado,
ou seja, ao padrão comunicacional que a pessoa aprendeu no seu sistema de
origem.
Nós da linha sistêmica, acreditamos que não existe comunicação boa ou
má, pontuação que certa ou errada; o foco é saber identificar as diferenças de
pontuações e conversar sobre essas diversidades, ao invés de brigar por uma
verdade.
Para que um relacionamento flua de maneira saudável e funcional, é
fundamental que o casal consiga proporcionar determinados aspectos no diálogo.
Primeiramente, é importante que ambos se sintam à vontade para falar sobre
suas aflições e receios. Isso envolve compartilhar as preocupações, ansiedades

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e medos que possam surgir no contexto da relação, permitindo que ambos se
apoiem emocionalmente e encontrem soluções juntos.
Conversar abertamente sobre desejos e fantasias é outro elemento relevante.
É essencial que o casal possa expressar seus anseios e expectativas, bem como
discutir como essas aspirações podem estar sendo frustradas. Essa abertura
ao diálogo proporciona uma compreensão mais profunda das necessidades
individuais e permite que o casal busque maneiras de satisfazê-las de forma
saudável e respeitosa.
A insegurança em expressar insatisfações também deve ser abordada
no diálogo. Muitas vezes, as pessoas temem magoar o parceiro ou causar
aborrecimentos ao expressar suas insatisfações. No entanto, é importante criar
um ambiente de confiança e compreensão mútua, onde ambos se sintam seguros
para compartilhar suas preocupações e opiniões, sabendo que serão ouvidos e
respeitados.
Outro aspecto crucial é discutir como ocorre o processo de explosão emocional,
no qual um dos parceiros expressa suas insatisfações de forma ríspida e agressiva.
Reconhecer e compreender esses padrões de comunicação prejudiciais é essencial
para buscar alternativas mais saudáveis. O casal pode explorar maneiras de
expressar suas insatisfações de forma construtiva, evitando conflitos e danos
emocionais.
Além de falar e discutir, é igualmente importante saber ouvir o que o outro
tem a dizer sobre todos esses aspectos. Ouvir com empatia e genuíno interesse
demonstra respeito e valorização das opiniões e sentimentos do parceiro. Isso
fortalece a conexão entre ambos e promove um diálogo mais enriquecedor,
permitindo que cada um se sinta compreendido e valorizado.
Ao proporcionar esses aspectos no diálogo, o casal está construindo as bases
para uma comunicação saudável e eficaz. Essa habilidade de se expressar e ouvir
com abertura e respeito fortalece o relacionamento, criando um espaço seguro
para compartilhar experiências, superar desafios e construir uma conexão mais
profunda e significativa.
O exercício de ouvir é mais eficaz do que o objetivo de querer resolver alguma
situação ou de criticar, eliminar as dificuldades ou mostrar os erros. Existem
momentos que um dos parceiros só precisa ser ouvido, quer contar como se
sente ou o que pensa em determinada situação. Ao excesso de fala que tem
como objetivo resolver o problema do parceiro ou tranquilizá-lo chamamos de
compulsão comunicacional.

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Falar sobre o outro, ao invés de falar sobre si, é um ponto que também provoca
a disfuncionalidade nas relações. Por exemplo, a fala: “Fiquei magoada porque
você não chegou na hora combinada para irmos ao supermercado”, tem mais
eficácia do que dizer: “Você é completamente irresponsável, só pensa em si e não
chega na hora”.
A palavra “sempre” ou “nunca” numa discussão, acusando o outro sobre algo,
desqualifica a comunicação e torna a discussão uma guerra, pois um sentirá a
necessidade de provar para o outro que isso não é real e que a situação não
acontece sempre ou nunca.
Frear a impulsividade de falar tomando a frente do parceiro, pode favorecer
em conhecer formas diferentes da realidade vivenciada naquele momento. Um
outro hábito que destrói a comunicação de casal, é tentar “ler a mente” do outro,
ou seja, adivinhar os pensamentos. Por exemplo: “Você está tentando me fazer de
culpado” ou “Eu sei, você está pensando que eu não deveria”. Isso traz impedimento
ao outro de expressar com clareza suas ideias e sentimentos. Isso gera no parceiro
um comportamento defensivo, impedindo que ouça o que de fato o outro tem
a dizer. Nessa situação, a pessoa fica preocupada em se defender e dizer o que
precisa, que acaba se perdendo na discussão.
A qualidade da comunicação depende do treino dos envolvidos para dizer de
forma clara o que querem e precisam comunicar ao outro. Também depende do
seu exercício em escultar com lucidez o que o outro está dizendo. Depende ainda,
do desenvolvimento de boa intenção, paciência e amorosidade para com seus
parceiros. A comunicação amorosa exige humildade e generosidade.
É interessante conhecer a técnica se trata de Verdade/bondade/necessidade.
O controle do que se fala é simbolizado metaforicamente por três peneiras, na qual
deve ser peneirado o que se pretende dizer. A primeira é a da Verdade, na qual só
passaria pela peneira as palavras que a pessoa tivesse como provar. A segunda
peneira é a da bondade, na qual só passariam as palavras com a intenção e o
efeito de proporcionar coisas boas, tanto para quem recebesse, quanto para quem
falasse. A terceira peneira, é a da Necessidade, ou seja, só passariam conteúdos
que tivessem real exigência de serem ditos. Sendo assim, o que passasse pelas
três peneiras poderia ser dito.

3.1.3. Divórcio e mediação


Todo término de uma relação causa dor, sofrimento e muitas vezes o
desespero sobre como será a vida a partir do divórcio. O processo de mediação
permite trazer para o indivíduo o conhecimento sobre si mesmo. Dessa forma, será

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possível trabalhar seu fortalecimento interno para que possa aprender a continuar
adiante, seja sozinho ou seja para um novo relacionamento.
Alguns passos são importantes para lidar com o término de um relacionamento
e promover o crescimento pessoal. O primeiro passo é aprender a lidar com a
dor. Embora seja difícil, é fundamental reconhecer que toda dor traz consigo uma
oportunidade de fortalecimento. Mesmo que a situação que levou ao término do
relacionamento tenha sido dolorosa, é importante entender que esse processo
de finalização pode preparar a pessoa para se reconectar consigo mesma e se
tornar mais inteira, pronta para enfrentar os desafios futuros ou até mesmo para
se abrir a uma nova relação no futuro.
É essencial também alegrar-se com o que a relação possibilitou. Isso envolve
olhar além do fim e refletir sobre o que de bom foi vivido durante o relacionamento.
É importante valorizar as experiências positivas, os momentos de aprendizado e
as descobertas pessoais que surgiram ao longo do caminho. Cada relação traz
consigo oportunidades de crescimento, inclusive nas dificuldades enfrentadas.
Reconhecer e apreciar tudo o que foi aprendido e experimentado contribui para o
desenvolvimento pessoal e ajuda a construir uma perspectiva mais positiva sobre
o término.
Ao percorrer esses passos, é possível encarar o término de um relacionamento
como um processo de transformação e crescimento. Lidar com a dor e enxergar
os aspectos positivos da experiência permite que a pessoa se fortaleça
emocionalmente, ganhe autoconhecimento e esteja mais preparada para construir
relacionamentos saudáveis e satisfatórios no futuro. É importante lembrar que cada
experiência nos molda e nos proporciona oportunidades valiosas de aprendizado
e evolução.
É possível ter um bom divórcio ao invés de guerras e competições que causam
traumas e sequelas ao casal.
Todas as etapas de um divórcio trazem a possibilidade de uma nova relação
para ambas as partes. O divórcio quando acontece em forma de guerra, deixa
sequelas e feridas mal resolvidas, mas quando feito em forma de parceria, ambos
poderão desapegar da necessidade de serem vencedores de qualquer tipo de
vinganças voltadas para a relação.
A fase do divórcio também influencia diretamente nos filhos e dependendo
do padrão estabelecido para as novas relações, tanto estas quantos os filhos
poderão ser prejudicados.
É necessário considerar que os primeiros tempos após o divórcio trazem

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maior dificuldade, pois as feridas estão abertas. É nesse período que as maiores
mudanças físicas são estabelecidas e novas regras de convivência são criadas.
Essa primeira fase provoca a dor do abandono, o ódio, a culpa, o desejo de
vingança, o ressentimento. O casamento que inicialmente foi um projeto, passa
a deixar um sentimento de fracasso. É comum que os parceiros sintam medo da
solidão, a tristeza de não poder compartilhar planos futuros com o outro.
Vivenciar as emoções do que estão sentindo e expressar as dores no processo
de separação é muito importante. Assim, após a crise, os pensamentos poderão
ser reorganizados, assim como os sentimentos e as relações.
Em se tratando de casais com filhos, é necessário tomar consciência de que
o papel de pai e mãe não acabou e que a paternidade não foi fracassada. É de
extrema importância, entender que os filhos precisam dos pais e que tem direito
aos dois.
O que faliu foi o projeto e o investimento na relação do casal. A relação pai e
mãe pode permanecer ativa com boas memórias do que foi construído. Inclusive,
com o passar do tempo a relação pai e mãe pode passar por modificações e não
necessariamente isso é um problema, desde que não prejudique os filhos.
O que o casal conquistou antes da separação, deve ser levado em consideração
e olhado com um certo cuidado. Ter a percepção desses fatores vai ajudar passar
por essa fase tão dolorosa.

3.1.5. Casos extraconjungais e infidelidade


Define-se infidelidade como uma traição, quebra de confiança ou rompimento
de um acordo dentro de qualquer relacionamento. O grande questionamento é
sobre o que leva uma pessoa a ser infiel e qual tipo de comportamento provoca
a infidelidade.
Essa pergunta pode nos levar a considerar alguns parâmetros que vão além
do externo, ou seja, é necessário identificar os valores estabelecidos pelo casal,
afinal, cada pessoa traz consigo uma forma de pensar sobre infidelidade.
Para construir um relacionamento saudável e seguro, é essencial percorrer
algumas etapas importantes:
Primeiro, é necessário entender e explorar suas próprias crenças e valores em
relação à fidelidade e infidelidade. Reflita sobre o que esses conceitos significam
para você, quais são seus limites e como você deseja vivenciar um relacionamento
comprometido.
Em seguida, é crucial ter uma compreensão clara das crenças e valores
do seu parceiro. Tenham conversas abertas e honestas para compartilhar

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suas perspectivas e compreender as perspectivas um do outro. Isso ajudará a
estabelecer uma base sólida de compreensão mútua e respeito.

Uma conversa franca sobre o que cada um considera traição e infidelidade é


fundamental. Definam juntos quais ações ou comportamentos são considerados
inaceitáveis e prejudiciais ao relacionamento. Estabelecer limites claros ajudará a
evitar mal-entendidos e desacordos futuros.
Além disso, é importante explorar e discutir quais são os fatores que
podem desencadear uma possível traição. Compartilhe suas preocupações e
vulnerabilidades com seu parceiro, criando um espaço seguro para expressar suas
emoções e medos. Essa comunicação aberta e honesta fortalecerá a confiança
entre vocês.
Conversem sobre suas fantasias, expectativas e crenças em relação aos
desencadeadores de infidelidade. Discutam como podem lidar com essas situações
juntos e quais estratégias podem ser implementadas para fortalecer a confiança
e o compromisso mútuo.
Por fim, é essencial ter um diálogo contínuo sobre como prevenir os riscos de
infidelidade. Explore maneiras de fortalecer o relacionamento, como melhorar a
comunicação, cultivar a intimidade emocional e apoiar um ao outro nas dificuldades.
Estabeleçam acordos e compromissos mútuos para promover a confiança e o
respeito mútuo.
Ao percorrer esses passos, vocês estarão criando um relacionamento sólido
e saudável, baseado na confiança, comunicação aberta e compromisso mútuo.
Essas bases sólidas ajudarão a fortalecer o relacionamento e enfrentar os desafios
relacionados à fidelidade e infidelidade com respeito e entendimento mútuo.
No caso de pessoas compulsivas, é necessário que seja identificada a
responsabilidade dessa pessoa nas situações de infidelidade. Existem casos em
que a pessoas utiliza a compulsão como justificativa para os relacionamentos
extra- conjugais. É necessário que a pessoa infiel, possa tomar consciência dos
seus atos, daquilo que tem se apoiado como justificativa para continuar sendo
infiel e tomar para si as consequências de seus comportamentos.
Independente do motivo pelo qual a pessoa foi infiel, ela sempre estará ferindo
e sendo desleal não só com o cônjuge, como também para com os filhos e para o
relacionamento. Os sentimentos de dores, inseguranças, mágoa, vingança, dentre
outros, são consequências da ação.
Ainda que o casal permaneça juntos, a marca ocasionada pela traição

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permanece para sempre. As marcas geradas nos filhos, giram em torno da forma
como o casal lida com a situação. Os ataques, a agressividade são momentos que
se presenciados, podem gerar dores e traumas aos filhos.
Após a situação de infidelidade, o casal pode conseguir se reestruturar e fazer
diferente daquilo que era. Trabalhar a forma que cada um tem de olhar para si e
para o relacionamento, levando em consideração os desejos de cada um pode
fazer com que o casal produza um casamento de forma mais saudável e prazerosa.

3.1.6. Abuso e violência


O conceito de conflito conjugal é definido como desentendimento ou como
dificuldade na relação. Diante dos conflitos, é necessário estratégias de solução
para que os cônjuges possam lidar com suas discórdias. Essas estratégias podem
ser consideradas construtivas ou destrutivas.
Em um relacionamento construtivo, é importante adotar atitudes de
cooperação e colaboração. Isso envolve estar disposto a aceitar o ponto de vista
do parceiro(a), mesmo que seja diferente do seu. É essencial ter a intenção genuína
de solucionar os problemas juntos, colocando o bem-estar do relacionamento em
primeiro plano em vez de questões individuais. A empatia desempenha um papel
fundamental, permitindo que você compreenda e se conecte emocionalmente
com as experiências e perspectivas do seu parceiro(a). Além disso, a prática da
escuta ativa é crucial para realmente ouvir e compreender o que o outro está
comunicando, demonstrando interesse e respeito.
Por outro lado, comportamentos destrutivos podem minar o relacionamento.
Atitudes opressoras, como tentar impor seu ponto de vista sobre o do parceiro(a)
ou buscar dominação, criam um ambiente de desequilíbrio e desrespeito. Essas
atitudes podem levar a um relacionamento baseado na subordinação de um
parceiro(a) ao outro, resultando em sentimentos de desvalorização e desigualdade.
Para um relacionamento saudável, é importante estar ciente dessas dinâmicas
destrutivas e evitá-las. Em vez disso, concentre-se em promover uma comunicação
aberta e equilibrada, onde ambos os parceiros se sintam valorizados e respeitados.
O objetivo deve ser construir um relacionamento baseado na cooperação,
resolução de problemas conjunta e apoio mútuo, permitindo que ambos cresçam
e se desenvolvam juntos.
É natural levarmos em consideração que todo relacionamento tem seus
conflitos, já que são pessoas diferentes unindo pontos de vista que muitas vezes se
divergem. O grande problema é quando os conflitos conjugais chegam ao ponto
do desrespeito e da violência.

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A violência pode se fazer presente nas relações de diversas formas, sendo
algumas delas acometidas de forma sutil e outras de forma visível. Seja qual for a
forma em que a violência se manifesta, causa danos a todos os envolvidos.
O feminismo é um dos movimentos sociais cujo papel foi demonstrar que a
gravidade da violência extrapolava cada vez mais. Uma outra iniciativa política foi
a criação da Lei n. 11.340, nomeada como Lei Maria da Penha. Essa lei deixa claro
os vários tipos de violências que podem estar presentes em relações afetivas, tais
como violência física, psicológica (incluindo a verbal), sexual, patrimonial e moral.
Junto a isso, estabeleceu ações para proteção da mulher.
A violência física é um tipo de violência que causa danos diretos à integridade
e saúde corporal. É o tipo de violência mais visível devido às marcas físicas que
deixam, incluindo lesões, mutilações e, em casos extremos, até mesmo a morte.
É importante ressaltar que, mesmo quando as marcas não são visíveis, isso não
significa que a violência tenha sido menos intensa. As memórias dessas experiências
traumáticas podem persistir de forma permanente.
A violência psicológica causa danos emocionais significativos, afetando a
autoestima e causando perturbações no desenvolvimento físico, emocional e
social. Esse tipo de violência pode incluir a ridicularização, o controle excessivo do
comportamento, crenças e decisões da vítima, estratégias que visam constrangê-
la, ameaças, chantagem, perseguição, insultos, exploração e outras ações que
visam desestabilizar emocionalmente a pessoa.
A violência sexual engloba situações em que mulheres são constrangidas e
forçadas a participar de relações sexuais não desejadas. Isso pode ocorrer por
meio de ameaças, intimidações, coerção ou uso de força física. A violência sexual
também pode incluir a exploração da sexualidade da pessoa, impedindo o uso
de métodos contraceptivos, forçando o casamento, a gravidez, o aborto ou a
prostituição, por meio de chantagem, manipulação e suborno.
A violência patrimonial é caracterizada por ações que resultam na destruição
total ou parcial de objetos, bem como na retenção ou subtração de instrumentos
de trabalho, documentos pessoais, bens e valores, direitos ou recursos econômicos,
incluindo aqueles que são necessários para suprir as necessidades das mulheres
e de seus filhos.
É fundamental compreender e reconhecer essas diferentes formas de violência,
pois elas podem ter consequências graves para a saúde física, emocional e social
das vítimas. A conscientização sobre essas formas de violência é essencial para
promover a prevenção, o suporte às vítimas e a busca por uma sociedade mais

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justa e livre de violência.
Dificilmente algum tipo de violência ocorre de forma isolada. Como por
exemplo, podemos citar a violência física, pois geralmente vem acompanhada da
violência verbal e psicológica.
A violência, independentemente de seu tipo, deixa marcas profundas que podem
perdurar para sempre na vida das pessoas afetadas. Quando se trata de mulheres
que vivenciam situações de violência, algumas narrativas frequentemente abordam
os seguintes fatores como parâmetros para compreender suas experiências.
A religiosidade desempenha um papel significativo na vida das mulheres,
influenciando suas percepções sobre relacionamentos, papel de gênero,
submissão, perdão e busca de ajuda. As crenças religiosas podem tanto fornecer
apoio e consolo quanto impor barreiras e culpas, dependendo da interpretação e
das normas religiosas.
O isolamento social é uma realidade enfrentada por muitas mulheres em
relacionamentos abusivos. Elas podem ser afastadas de amigos, familiares e
redes de apoio, seja por escolha própria ou imposta pelo parceiro abusador. Esse
isolamento as torna mais vulneráveis e dependentes do agressor.
As mudanças sociais e a longevidade têm um impacto significativo nas
expectativas relacionadas ao casamento, à sexualidade e ao papel das mulheres
na sociedade. Conflitos podem surgir quando as expectativas tradicionais não se
alinham com as mudanças e desejos individuais, levando a tensões e incertezas
nas relações.
A sexualidade é um aspecto central na vida de uma pessoa e pode ser afetada
de maneira negativa em situações de violência. Mulheres que sofrem violência
podem experimentar coerção sexual, abuso, negação de direitos sexuais e
intimidação, o que tem um impacto profundo em sua sexualidade e autoestima.
A desigualdade de gênero e as expectativas tradicionais em relação aos papéis
de homens e mulheres no casamento podem contribuir para conflitos e tensões.
Essas expectativas socialmente construídas podem restringir a autonomia e a
liberdade das mulheres, perpetuando relações desequilibradas e abusivas.
Em contextos de violência doméstica, a paternidade pode ser afetada, tanto
para os agressores quanto para os pais que são vítimas. Isso inclui questões
relacionadas à co-parentalidade, alienação parental, responsabilidades parentais
e impactos emocionais nos filhos envolvidos.
A influência dos meios de comunicação de massa, como a televisão, filmes,
redes sociais e outros meios, desempenha um papel importante na formação de

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ideias sobre relacionamentos, papéis de gênero e normas sociais. A exposição
a conteúdos que perpetuam estereótipos de gênero ou romantizam a violência
pode contribuir para a perpetuação da violência doméstica.
Cada caso de violência é único e complexo, exigindo uma abordagem sensível e
abrangente para entender e abordar a violência de maneira eficaz. É fundamental
oferecer apoio, recursos e promover a conscientização para prevenir e combater
a violência de gênero em todas as suas formas. A escuta atenta e o apoio às
mulheres que vivenciam situações de violência são essenciais para ajudá-las a
superar o trauma e reconstruir suas vidas.
O acompanhamento feito com casais que passam por esse tipo de situação
exige investigar a dinâmica relacional, isso porque cada relação é única em função
de como as violências começaram a acontecer e o papel que esses atos possuem
na vida do casal. Existe o casal que experiencia situações de agressões de forma
esporádica e outro que convive com violências há muitos anos.
A violência conjugal está presente em diversas formações, tais como na
atuação de psicólogos, assistentes sociais, juízes, promotores, advogados, técnicos,
agentes de sistemas judiciários, pedagogos. O ato afeta a postura não só dos
que estão envolvidos diretamente, como também para familiares, vizinhos, líderes
religiosos, dentre outros.
A pergunta que nunca se cala é: “Será que a violência tem uma causa, um
motivo ou explicação? A ação violenta aflora por meio de fatos históricos, culturais,
familiares, relacionais, institucionais, sociais e pessoais.
Alguns mitos foram construídos para minimizar o conceito de violência. Um
deles é o de que o ciúme e o controle são provas de amor. O alcoolismo, estresse,
desemprego, sofrimento intenso vivido no sistema familiar de origem e a falta de
apoio familiar, contribuem para a minimização dos comportamentos violentos.

Exemplo de caso:
Um exemplo chamou nossa atenção: uma mulher em torno de 30 anos,
que já havia sido agredida várias vezes, passou mais de um mês na UTI, por
causa de uma facada na região do tórax, próxima ao coração. Em sua primeira
versão, a lesão não foi intencional, pois o marido tropeçou e caiu em cima dela.
Tal hipótese veio abaixo quando, em atendimento posterior, vimos saber que ela
estava adormecida no quarto do casal quando o “acidente” aconteceu. O fator
provocador foi ciúme, porque ela chamou atenção na rua em função da roupa
que estava usando durante uma atividade de lazer do casal na noite do episódio.

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Foi só após vários meses de atendimento e de um trabalho cuidadoso em torno da
negação que essa participante conseguiu admitir a gravidade do risco que havia
corrido e que continuava a correr ao permanecer com seu companheiro.
O que a mídia tem mostrado com frequência é que o maior numero de
denuncias, homicídios e presenças nos tribunais estão voltados para casos de
vivências entre homens e mulheres em situações de pobreza.
Diante de casos de abuso, primeiramente deve-se garantir a segurança e em
alguns casos essa segurança envolve a quebra de contrato ou separação do casal.
Dependendo da situação, a separação é a primeira coisa a ser feita. Planejar a
segurança envolve o uso de abrigos.
Depois disso, deve-se desenvolver uma estratégia de intervenção na qual as
partes estejam de acordo, que envolve também avaliação de risco e determinação
do potencial para violência no futuro. A vitima também deve entender seu papel
diante da situação, já que o plano de ação deve envolver cooperação.
Técnicas comportamentais devem ser utilizadas desde que haja acordo,
a fim de lidar com a disfunção do relacionamento e com os gatilhos que estão
desencadeando os surtos abusivos. A terapia individual é recomendada para cada
um dos cônjuges.
Havendo a progressão do processo, a ponto em que os cônjuges consigam
estar no mesmo ambiente, o terapeuta deve ter cautela, liberando do atendimento
primeiramente o cônjuge agredido, para que este tenha maior segurança no
momento da saída.
Por fim, o terapeuta deve se assegurar de que também está sendo tomada as
precauções de segurança para seu próprio bem estar.

3.1.7. Infertilidade
Desde pequeno o desejo de ser mãe geralmente é introduzido na vida da criança,
mesmo que não se tenha consciência, por exemplo nas brincadeiras, fazendo papel
de mãe das bonecas, de esposo e esposa. Durante o desenvolvimento, a pessoa
cresce, namora, casa, vem a vontade de ter filhos, suspende o anticoncepcional
e a família vive a expectativa da chegada de um novo membro. Então a dúvida
começa a pairar: “Podemos ou não podemos ter filhos?”. Várias tentativas
acontecem e nada das expectativas serem correspondidas. É aí que vem o choque
de frustração, saber que o casal é infértil os levam a uma crise existencial. Leva
tempo para desconstruir aquilo que desde a infância foi construído, enquanto isso
é como se um fantasma amedrontasse o casal, em especial as mulheres.
A sociedade cobra dos casais que se tenham filhos, diante de um namoro

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longo ou depois que casam ou os pais dos casais sonham com netos. As vezes
outros casais que são amigos ou próximos e evoluem nesse sentido, engravidou
numa viagem ou na primeira relação. Isso faz com que a comparação aconteça e
autocobrança diante de uma possível gestação acontece.
Mas e quando não é possível ter filhos? Quando o casal descobre que é
infértil? Uma série de coisas começam a mudar: os pensamentos, os objetivos, o
caminho que foi visto por meio da gestação. Após receber o diagnóstico a pessoa
olha para a sociedade com um novo olhar, percebendo que todos podem ter filhos
e ela não, então a frustração começa a acontecer, ela se acha diferente de todas
as outras pessoas.
Infelizmente ainda existe um julgamento de que a pessoa infértil é menos
mulher ou menos homem. Acabam entrando numa zona de culpa e se fecham
diante da sociedade, se retraem dos amigos e escondem essa dificuldade por
vergonha ou algo do tipo.
Geralmente, os casos de infertilidade não geram término de relacionamento,
diante do problema o casal se une mais ainda, passa-se a ter uma cumplicidade
maior. Se houver separação é porque já tinha a probabilidade de se separar antes
do diagnóstico
Diante desse choque, o mundo da pessoa cai e precisa ser reconstruído.
A comunicação do casal precisa ser fortificada. Definir estratégias para dar
continuidade aos objetivos de vida é necessário. Tem casais que optam por adoção,
FIV (reprodução assistida), é muito subjetivo, vai da decisão de cada casal.
No processo terapêutico, existem três pontos essenciais que não podem
deixar de ser trabalhados para promover a transformação e o crescimento do
casal.O primeiro ponto é a comunicação do casal sobre o assunto em questão.
É fundamental que haja um espaço seguro e aberto para que ambos possam
expressar seus sentimentos, preocupações, desejos e necessidades. A comunicação
eficaz permite que as questões sejam abordadas de maneira clara e respeitosa,
facilitando a compreensão mútua e a busca por soluções.
O segundo ponto é o acolhimento. Durante o processo terapêutico, é
fundamental que cada membro do casal se sinta acolhido e compreendido em
suas emoções e experiências. O terapeuta desempenha um papel crucial ao criar
um ambiente empático, livre de julgamentos, onde cada pessoa se sinta segura
para compartilhar suas vulnerabilidades. O acolhimento fortalece a confiança
mútua e facilita a abertura para explorar questões mais profundas.
O terceiro ponto é a normalização dos sentimentos e experiências do casal.

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Muitas vezes, as dificuldades e conflitos enfrentados pelos casais podem ser
acompanhados de sentimentos de culpa, vergonha ou inadequação. No entanto,
é importante que eles compreendam que esses sentimentos são normais e fazem
parte do processo de crescimento e transformação. Ao normalizar as emoções,
o casal é encorajado a explorá-las e trabalhar juntos para encontrar caminhos
saudáveis de enfrentamento.
No conjunto desses três pontos, a comunicação aberta e respeitosa, o
acolhimento emocional e a normalização dos sentimentos permitem que o casal
se engaje no processo terapêutico de forma mais efetiva. Ao trabalhar esses
aspectos, o casal tem a oportunidade de se reconectar, compreender melhor
um ao outro e desenvolver habilidades e recursos para lidar com os desafios
que surgem no relacionamento. O processo terapêutico pode ser uma jornada
de autoconhecimento, crescimento e fortalecimento dos vínculos afetivos,
proporcionando um espaço para construir uma relação mais saudável e satisfatória.
Importante se reconectar as outras áreas da vida, conhecer o mundo ao redor
e ampliar a visão de mundo, do que sou e encontrar essa serenidade, antes de
tomar alguma decisão. A pessoa precisa se reconectar e se sentir parte novamente
da sociedade como uma pessoa normal, pois existe a grande possibilidade de
desenvolver uma depressão, ansiedade. Contar com a família se a pessoa se sentir
à vontade. Até porque a pessoa acaba se apegando somente ao que não tem.
Para alguns médicos, se o casal não consegue engravidar depois de 1 ano
de tentativa, estando ativo sexualmente é considerado infertilidade. Para outros
médicos a tentativa durante 8 meses já é considerada infertilidade, já outros
acreditam que vai de 10 a 12 meses para se considerar infértil. Isso varia. Além
disso, é importante que se mantenham frequentes as relações sexuais, pois a falta
delas podem provocar a infertilidade masculina. Tendo relações muito espaçadas,
os espermatozóides se acumulam na vesícula seminal, tornando-se com o passar
dos dias envelhecidos e vai perdendo a sua vitalidade para a grande missão da
fecundação.
É necessário que se tenha clareza de que não existe uma pessoa infértil, mas o
par. O tratamento é para os dois. Já que, tendo o diagnóstico da impossibilidade de
ter filho os projetos futuros começam a ser invalidados, a relação amorosa pode
entrar em crise. Muitas mulheres e homens sofrem calados diante da situação,
escondendo um sofrimento que precisa ser visto e levando em consideração.
Em questão de gênero, existem mitos, o homem considera que sua
masculinidade está em risco e a mulher se sente inútil por não conseguir exercer

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a função de mãe. As pessoas sofrem em silencio, acham que estão frustrando o


parceiro. O sentimento de culpa domina, se perguntam o por que, se é porque
demorou, ou porque não queriam ter filhos antes, é castigo.
O estado psicológico pode não ser a causa de infertilidade, mas assim como
diversos outros fatores, o psicológico também pode influenciar.
Nesse tipo de situação, o casal não deve ser cobrado, as pessoas que estão
a volta precisam entender a situação do casal. Não ajuda falar que existe uma
certeza de que dará certo as alternativas.
Compartilhar as emoções ajuda muito no gerenciamento das instabilidades
emocionais, a aproximação do parceiro também ajuda muito. A ajuda psicológica
é necessária.

3.1.8. Intimidade e sexualidade na terapia de casal


Em se tratando de intimidade sexual, que este é um dos principais pontos
de vinculação entre um casal, pois nenhuma outra ação nos permite acessar
tamanha harmonia, prazer e riqueza de vida. Nada oferece tanta recompensa e
ao mesmo tempo tantos riscos. A tomada do outro nos torna mais compreensivos,
mais humanos e sábios.
O ato sexual é o ato mais humilde, ali acontece a exposição entre o casal, é
revelada a parte mais profunda do ser e o seu lado mais íntimo, inclusive, Bert
Hellinger faz ligação a passagem bíblica, na qual diz que homens e mulheres
deixarão seus pais para se tornarem uma só carne.
Importante mencionar aqui que Bert Hellinger não exclui outras formas
afetivas de relacionamentos sexuais, como por exemplo, homens que desejam
homens, mulheres que desejam mulheres e até mesmo pessoas que não querem
ter filhos. Aqui estamos referindo ao valor de procriação. Até porque, por
exemplo, uma pessoa que não quer gerar filhos e adota, isso também é um ato de
amor.
Uma boa vida sexual, não garante que o casal não terá problemas em outras
áreas da vida, mas pode ajudar o casal a resolver muitas questões do dia a dia.
A falta de conexão sexual, impede o casal de ter uma conexão que os ajuda a se
manterem juntos nas adversidades. Muitos casais tem dificuldade de olhar para
as questões sexuais e para as dificuldades que aparecem durante a relação e que
estão vinculadas a isso.
A sexualidade tem o poder de alimentar a relação do casal, até porque o sexo
é uma forma de demonstrar afeto. Não só o sexo, mas o carinho, a compreensão,
a admiração, são nutrientes para o casamento.

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Quem já ouviu falar que para se ter uma boa relação sexual, é necessário
que a mente esteja em boas condições? E para a mente estar em boas condições
o casal precisa partilhar ideias, exercitar a compreensão, fazerem coisas juntos,
serem gentis um com o outro.
Ao contrário disso, quando o casal possui uma rotina de discussões, cenas de
ciúme, desqualificação um do outro, o sexo pode até continuar acontecendo, mas
por obrigação ou simplesmente para aliviar as tensões. A partir disso, problemas,
dificuldades e sintomas sexuais vão aparecer. Os distúrbios sexuais são ocasionados
por meio das dificuldades nas relações, então a sexualidade não deixa de ser um
instrumento relacional.
O impulso sexual provoca a atração do casal, mas as dificuldades de se
relacionar os afasta. E essas dificuldades podem ser ativadas ou pioradas
pelas dificuldades pessoais/individuais de cada um dos parceiros. Determinado
comportamento de um dos parceiros pode ser um gatilho para que o outro acesse
suas dores pessoais e a partir dali, se gere um conflito.
Casais que tem dificuldade de discutir suas diferenças e fingem nada estar
acontecendo, vão acumulando dores, mágoas e até formando um desejo de
vingança. O ressentimento e a mágoa é um dos principais pontos que atrapalha
a relação sexual, inclusive pode ter a ver com a ejaculação precoce, dificuldade
de ereção, vaginismo, dificuldade de orgasmo, falta de desejo sexual e até a
passividade dentro da relação, ou seja, aquela pessoa que não se sente livre para
ter a iniciativa.
Tudo isso acontece de forma inconsciente, algumas vezes um dos parceiros
sente a diferença do outro, algumas vezes os dois tem a percepção de que algo
está errado, mas deixam de lado e não olham pra isso.
O grande problema é todas essas questões se tornarem uma “bola de neve”.
Quanto mais sintomas a pessoa adquirir na relação, mais dificuldade ela terá de
se relacionar no casamento.

3.1.9. Casais do mesmo sexo e seus filhos


Casais do mesmo sexo buscam terapia pelos mesmos motivos de casais
heterossexuais. As intervenções aplicadas geralmente são as mesmas e
dependendo do caso, pode ser feita alguma alteração. É necessário que o psicólogo
esteja consciente de que casais do mesmo sexo enfrentam pressões que precisam
ser levadas em consideração.
Em muitos casos, existe o isolamento da família, dos amigos e pessoas que
estão em volta. O momento de adoção dos filhos é um momento também de

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estresse, assim como os relacionamentos após a ampliação da família. É importante
que o profissional deixe claro aos parceiros que os casais heterossexuais também
passam por conflitos semelhantes.
Ajudar os parceiros do mesmo sexo a se sentirem normalizados com relação
ao seu relacionamento é um ponto muito importante no tratamento. Nem todos os
psicólogos tem aptidão para tratar casais do mesmo sexo. O profissional deve se
avaliar e se for o caso, encaminhar para outro profissional ou contar com outros
recursos.
Nossa sociedade está passando por muitas mudanças, proporcionando a
igualdade de direitos, o que tem facilitado a expressão por parte dos homossexuais
do desejo em constituir uma família e ter filhos. Ao se ter a ideia de ter filhos, seja
biológico ou adotivo, deve-se levar em conta qual é a fantasia de filho e qual é a
fantasia de parentalidade das pessoas envolvidas. É necessário avaliar em qual
lugar o filho está sendo colocado, se num lugar de sujeito e num lugar de objeto.
Essa organização de papeis é extremamente importante para que o sistema
familiar seja funcional.
Tornar-se pai ou mãe exige um trabalho psíquico de definição e redefinição
de lugares, onde são reatualizadas as referências aos próprios pais. Seja hetero
ou homo, a parentalidade de alguma forma traz a continuidade das gerações
precedentes e envolve uma renúncia do lugar de filho para ceder ao novo membro
que nasce ou que está chegando. Em resumo, acontece um movimento psíquico,
no qual acontece a perda do lugar de filho e uma reativação das identificações
aos pais. É um momento em que será transmitido aquilo que foi aprendido no
sistema de origem.
A experiencia de paternidade, tanto para o homossexual, quanto para o
heterossexual, gera um contato inconsciente com os fantasmas edípicos e
uma mudança simbólica de lugares, que provoca uma espécie de luto. Assim é
externalizado o desejo de superar os pais, de se parecer com eles de transmitir o
que foi aprendido ou até fazer diferente daquilo que viveram, afinal, as dificuldades
e conflitos também podem ensinar a fazer diferente.
O percurso de paternidade se inicia com o desejo infantil de ser o objeto
de desejo da mãe até o desejo de que, um dia, seu filho se torne pai ou mãe.
Pesquisas com casais do mesmo sexo, trouxeram aos estudiosos, a conclusão
de que essas pessoas não escapam de uma estruturação edípica, ou seja, existe
uma identificação com os pais em suas funções parentais. O mesmo acontece
com relação ao meio social e cultural, os filhos de casais homoafetivos não estão

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impedidos de reconhecer a diferença e se inscrever na cultura.

3.1.10. O que fazer quando o cônjuge não tem inte-


resse em fazer terapia de casal
Muitas pessoas ainda tem um certo preconceito em fazer terapia, alguns
jugam como “Coisa de quem é louco” ou até mesmo “Coisa de gente fraco”. Assim
também como existem aquelas pessoas que são resistentes a admitir seus próprios
problemas, sejam eles profissionais, pessoas, familiares ou conjugais.
O comportamento de negar um problema, acaba trazendo prejuízos para
a relação de casal. Acabe se tornando aquele tipo de relacionamento em que
a pessoa que tem dificuldade em assumir suas responsabilidades conflituosas
dentro da relação, acaba apontando o outro e assim fica mais difícil de se resolver
as questões que precisam ser resolvidas.
No contexto do relacionamento conjugal, uma série de questões complexas
surgem, e entender qual é a parcela de contribuição de cada parceiro na relação
ainda pode ser um ponto de difícil compreensão. No entanto, alguns fatores podem
fazer a diferença para construir uma relação saudável e harmoniosa a dois.
O primeiro fator é saber qual é a sua parcela de contribuição para o surgimento
dos problemas na relação. Reconhecer as próprias ações e comportamentos que
podem desencadear conflitos é fundamental para um relacionamento saudável.
Isso envolve uma análise sincera de si mesmo, assumindo responsabilidade pelos
próprios erros e buscando maneiras de melhorar e crescer juntos.
O segundo fator é compreender que nem sempre as coisas acontecerão da
maneira que cada um planeja. O relacionamento requer flexibilidade e adaptação
às circunstâncias e às necessidades do outro. É importante ter em mente que nem
sempre as expectativas serão totalmente atendidas, e estar aberto para encontrar
soluções e compromissos que sejam satisfatórios para ambos os parceiros.

O terceiro fator é o respeito pelo espaço e pelas limitações do outro. Cada


indivíduo possui suas próprias necessidades, desejos e limitações, e é essencial
respeitar essas diferenças. Isso implica em permitir que cada um tenha sua
individualidade e espaço pessoal, sem invadir ou sufocar o outro. O respeito mútuo
promove a confiança e fortalece os laços afetivos na relação.
O último fator é o equilíbrio nas ações, aprendendo a hora certa de ceder e
de se valorizar. O relacionamento conjugal é uma dinâmica de troca e negociação
constante. É necessário encontrar um equilíbrio saudável entre ceder às

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necessidades do outro e afirmar suas próprias necessidades e valores. Isso requer
uma comunicação aberta e honesta, buscando encontrar soluções que sejam
benéficas para ambos os parceiros.
Ao considerar esses fatores, o casal tem a oportunidade de desenvolver uma
relação mais sólida e harmoniosa. Reconhecendo a própria responsabilidade, sendo
flexível, respeitando as diferenças e buscando o equilíbrio, é possível construir um
relacionamento conjugal saudável, baseado no diálogo, na compreensão mútua e
no crescimento pessoal e a dois.
Quando o casal percebe que não está conseguindo dominar a relação e que
a vida a dois tem girado em torno de brigas, discussões e desentendimentos é
porque chegou o momento de buscar a terapia de casal.
Nesse ponto, começa o grande dilema: Fazer ou não fazer terapia. É comum
que um dos parceiros se apresente resistente para fazer terapia. As vezes um quer
muito fazer, mas é podado pelo outro. Até nesse momento de decisão, em muitos
casos, geram-se ainda mais brigas.
Sempre tem aquela parte que não assume a necessidade da terapia e joga
a “batata quente” para o outro parceiro e o outro fica com a responsabilidade de
não deixar a batata cair. Só uma das partes assumir essa responsabilidade é muito
pesado.
Quando uma das partes reluta em fazer terapia, é comum que as pessoas
procurem Terapia Individual para se trabalha questões do relacionamento. E aqui
entra o papel psicólogo em ajudar a pessoa a lidar com os conflitos de vida a dois.
Importante destacar que a terapia individual com enfoque no relacionamento
também traz muitos benefícios para a relação do casal, até porque a mudança
daquela pessoa que está na terapia individual, vai refletir de forma evidente no
parceiro (a).
O preconceito por parte de quem não frequenta a terapia consiste em
pensamentos do tipo: “Como vou abrir minha vida diante de uma pessoa que não
conheço?” ou “vou deixar alguém que não conheço interferir nas minhas relações
ou nos meus comportamentos?”. Mas quando a pessoa inicia o processo e recebe
aquele acolhimento dado pelo profissional, a pessoa passa a se sentir mais
confiante e positivo no efeito que o processo terapêutico causa.
Quando um dos parceiros se recusa a fazer terapia de casal, é essencial
compreender as justificativas apresentadas. Essas razões podem refletir suas
percepções, medos e descrenças em relação ao processo terapêutico. É importante
abordar essas preocupações de maneira respeitosa e empática, visando encontrar

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alternativas e soluções que possam ser acolhidas por ambos.
Uma das justificativas comuns é a falta de crença na eficácia da terapia de
casal. Alguns parceiros podem ter tido experiências anteriores frustrantes ou
simplesmente duvidam que a terapia possa realmente resolver os problemas
do relacionamento. Nesses casos, é importante compartilhar informações sobre
os benefícios e resultados positivos que a terapia de casal pode trazer, além de
oferecer exemplos de casos em que o processo terapêutico foi bem-sucedido.
Outra justificativa é a tendência de atribuir a responsabilidade pelos problemas
do relacionamento ao outro parceiro. Essa postura implica em não reconhecer a
própria contribuição para a situação e pode gerar resistência em buscar ajuda
terapêutica. É fundamental criar um espaço seguro para promover a reflexão
conjunta sobre as dinâmicas do relacionamento, incentivando ambos os parceiros
a assumirem a responsabilidade por suas ações e comportamentos.
A resistência em compartilhar assuntos íntimos com um terapeuta desconhecido
é outra razão comumente mencionada. A terapia de casal envolve expor questões
sensíveis e vulneráveis, e alguns parceiros podem sentir-se desconfortáveis em
discuti-las com um profissional desconhecido. Nesse caso, é importante respeitar
essas preocupações e buscar um terapeuta com quem ambos se sintam à vontade
e confiantes para compartilhar suas experiências.
Por fim, alguns parceiros podem ter perdido a esperança no futuro do
relacionamento, levando-os a questionar a relevância da terapia. É fundamental
explorar esses sentimentos e expectativas, compreendendo as razões por trás
dessa descrença. Nesses momentos, é importante estabelecer um diálogo aberto
e honesto, discutindo as possibilidades de crescimento e transformação que a
terapia de casal pode oferecer.
Lidar com a recusa em fazer terapia de casal requer paciência, empatia e esforço
mútuo. É essencial que ambos os parceiros se sintam ouvidos e compreendidos
em suas preocupações e receios. Buscar um terapeuta capacitado, que possa
ajudar a construir um ambiente de confiança, pode ser um passo importante para
superar essas barreiras e iniciar um processo terapêutico que possa fortalecer
o relacionamento, promover a comunicação saudável e abrir caminho para um
futuro mais harmonioso e satisfatório juntos. A pessoa que não quer fazer terapia
jamais deve ser forçada a fazer parte do processo.
Quando um dos parceiros se recusa a fazer terapia de casal, é essencial
compreender as justificativas apresentadas. Essas razões podem refletir suas
percepções, medos e descrenças em relação ao processo terapêutico. É importante

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abordar essas preocupações de maneira respeitosa e empática, visando encontrar
alternativas e soluções que possam ser acolhidas por ambos.
Uma das justificativas comuns é a falta de crença na eficácia da terapia de
casal. Alguns parceiros podem ter tido experiências anteriores frustrantes ou
simplesmente duvidam que a terapia possa realmente resolver os problemas
do relacionamento. Nesses casos, é importante compartilhar informações sobre
os benefícios e resultados positivos que a terapia de casal pode trazer, além de
oferecer exemplos de casos em que o processo terapêutico foi bem-sucedido.
Outra justificativa é a tendência de atribuir a responsabilidade pelos problemas
do relacionamento ao outro parceiro. Essa postura implica em não reconhecer a
própria contribuição para a situação e pode gerar resistência em buscar ajuda
terapêutica. É fundamental criar um espaço seguro para promover a reflexão
conjunta sobre as dinâmicas do relacionamento, incentivando ambos os parceiros
a assumirem a responsabilidade por suas ações e comportamentos.

A resistência em compartilhar assuntos íntimos com um terapeuta desconhecido


é outra razão comumente mencionada. A terapia de casal envolve expor questões
sensíveis e vulneráveis, e alguns parceiros podem sentir-se desconfortáveis em
discuti-las com um profissional desconhecido. Nesse caso, é importante respeitar
essas preocupações e buscar um terapeuta com quem ambos se sintam à vontade
e confiantes para compartilhar suas experiências.
Por fim, alguns parceiros podem ter perdido a esperança no futuro do
relacionamento, levando-os a questionar a relevância da terapia. É fundamental
explorar esses sentimentos e expectativas, compreendendo as razões por trás
dessa descrença. Nesses momentos, é importante estabelecer um diálogo aberto
e honesto, discutindo as possibilidades de crescimento e transformação que a
terapia de casal pode oferecer.
Lidar com a recusa em fazer terapia de casal requer paciência, empatia e esforço
mútuo. É essencial que ambos os parceiros se sintam ouvidos e compreendidos
em suas preocupações e receios. Buscar um terapeuta capacitado, que possa
ajudar a construir um ambiente de confiança, pode ser um passo importante para
superar essas barreiras e iniciar um processo terapêutico que possa fortalecer
o relacionamento, promover a comunicação saudável e abrir caminho para um
futuro mais harmonioso e satisfatório juntos.
A pessoa que faz terapia, abre a mente diante de suas responsabilidades na
vida e no relacionamento, assim também como abre possibilidades de enxergar

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o que está acontecendo na relação por meio de outros olhos e de outro ângulo.
Isso possibilitará o entendimento dos pontos que precisam ser melhorados e como
poderá ser feito isso.
Obrigar uma pessoa a fazer terapia, fará com que ela enxergue a terapia de
uma forma negativa, mais estresse vai ser gerado e a probabilidade da pessoa se
abrir para um processo de terapia em algum momento, vai ser menor ainda.

3.1.11. O tempo na terapia de casais


De acordo com a Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), mais
especificamente no artigo 4º, o tempo de sessão em psicoterapia é definido pelo
profissional psicólogo, levando em consideração diversos critérios teóricos e éticos
relacionados à sua abordagem terapêutica.
Os critérios teóricos são fundamentados nos princípios e diretrizes da
abordagem terapêutica adotada pelo profissional, que podem variar de acordo
com a sua formação e orientação teórica. É importante que o tempo de sessão
esteja alinhado com as práticas e princípios dessa abordagem, garantindo a
coerência e a eficácia do processo terapêutico.
Além disso, o profissional deve considerar a garantia da qualidade do
atendimento oferecido e dos objetivos propostos. Isso implica levar em conta a
complexidade e as especificidades das pessoas atendidas, adaptando o tempo de
sessão de acordo com as necessidades individuais de cada cliente. Cada pessoa
traz consigo uma história, um contexto e demandas específicas, o que requer uma
avaliação cuidadosa do profissional para determinar o tempo adequado.
É importante ressaltar que a resolução veda ao condicionamento do tempo de
sessão a certos aspectos, como honorários e gratuidade, volume de atendimentos
e exigências institucionais contrárias aos critérios estabelecidos nos incisos I e
II. Isso significa que o tempo de sessão não deve ser influenciado por questões
financeiras, número de pacientes atendidos ou imposições de instituições que
possam comprometer a qualidade e os objetivos terapêuticos.
Portanto, a definição do tempo de sessão em psicoterapia envolve uma
análise criteriosa por parte do psicólogo, considerando critérios teóricos, éticos, a
complexidade e especificidades das pessoas atendidas. A garantia da qualidade
do atendimento e a adequação aos objetivos propostos são elementos essenciais
nesse processo, garantindo um trabalho ético e eficaz no contexto terapêutico.
O tempo na terapia de casal, vai depender da visão de cada profissional.
Tem profissionais que fazem por uma hora e meia e isso pode provocar outros
conflitos, por terem um tempo maior. Isso pode prejudicar o processo terapêutico.

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Uma hora é um tempo considerável para casal, mas algumas pessoas que tem
um estilo talvez mais suave, mais calmo, então precisam de mais tempo para o
atendimento. No máximo 1:45h, pra que isso não se torne um workshop. Já que
acontece 1x por semana.

3.1.12. Maturidade do casal


Interessante pontuar alguns esclarecimentos sobre como acontece a atração
entre um casal. Segundo Hellinger, a base da família é a atração sexual entre
um homem e uma mulher. O homem quando deseja uma mulher, deseja aquilo
que, como homem, lhe é necessário e não possui e quando a mulher deseja um
homem, deseja aquilo que como mulher lhe falta.
Uma grande interrogação é saber o que é necessário para que o amor dê
certo após essa conexão e intimidade. E a resposta está ligada a uma das leis
estabelecidas na teoria de Bert Hellinger: o Equilíbrio entre o Dar e Receber.
Para que um relacionamento flua de forma saudável, é necessário o equilíbrio
entre o dar e tomar, isso faz com que a relação caminhe em igualdade e fortificada.

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4 A terapia de casal na
prática clínica
4.1. Como acontece, na prática, a terapia de casal e o
papel do psicólogo

Para que se tenha bons resultados dentro de um sistema, o terapeuta se coloca


num lugar de liderança e se “intromete” no sistema familiar e de casal. Podem
ser passadas tarefas a serem realizadas dentro ou fora das sessões, em alguns
momentos o terapeuta vai se aliar a alguns membros contra outras, as posições
dos membros da família podem ser alteradas a fim de proporcionar aproximação
e estabelecer interações entre eles.
O terapeuta de casal, tem como objetivo melhorar a capacidade dos cônjuges
de se comunicar, ou seja, de enviar e receber mensagens. Para isso, o terapeuta
precisa dar uma atenção especial às diferenças de visões do casal. Assim, observa-
se a comunicação tanto verbal, como a não verbal. A postura, a expressão e o tom
de voz, tudo isso acompanha a comunicação que está sendo transmitida. Isso
porque, qualquer comunicação provoca uma expectativa de algo na outra pessoa.
Segundo Virginia Satir, renomada terapeuta familiar, citada por Lamanno
(1987), o processo terapêutico em casais visa o desenvolvimento de habilidades
essenciais para um relacionamento saudável. De acordo com Satir, o término
da terapia conjugal ocorre quando os cônjuges internalizam determinados
aprendizados fundamentais.
Um dos aspectos importantes é a habilidade de checar suas percepções com
o outro. Isso implica em evitar suposições e interpretações precipitadas, buscando
validar pensamentos, sentimentos e percepções através da comunicação aberta
e sincera. Ao promover essa troca, os parceiros constroem uma compreensão
mais precisa e evitam mal-entendidos que possam gerar conflitos desnecessários.
Além disso, é fundamental que cada cônjuge seja capaz de enxergar a
percepção que o outro tem sobre si mesmo. Essa capacidade de se colocar no
lugar do parceiro e compreender como ele o enxerga fortalece a empatia e a
conexão emocional. Reconhecer como as ações e comportamentos pessoais
afetam a visão que o outro tem de si mesmo permite uma maior compreensão
das dinâmicas do relacionamento.
Expressar medos e expectativas de forma aberta e autêntica é outro
aspecto trabalhado na terapia conjugal. Comunicar-se de maneira vulnerável e

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honesta fortalece a confiança mútua e promove uma conexão mais profunda.
Ao compartilhar necessidades e desejos, os parceiros têm a oportunidade de
se aproximar e trabalhar juntos na busca de soluções e na construção de um
relacionamento mais satisfatório.
Por fim, a congruência entre a mensagem verbal e não-verbal é um elemento
essencial para a comunicação efetiva no relacionamento. É importante que
a linguagem corporal, o tom de voz e as expressões faciais estejam alinhadas
com a mensagem verbal transmitida. Essa congruência evita mal-entendidos e
reforça a confiança mútua, criando um ambiente de comunicação mais seguro e
transparente.
Assim, o processo terapêutico em casais busca capacitar os cônjuges a checar
suas percepções, compreender a visão do outro, expressar medos e expectativas, e
comunicar-se de forma congruente. Essas habilidades promovem a construção de
um relacionamento saudável, baseado na compreensão, na empatia e no diálogo
aberto. O término da terapia conjugal ocorre quando os cônjuges internalizam
esses aprendizados e são capazes de aplicá-los de forma autônoma no cotidiano
de sua relação.
Não necessariamente, o casal precisa estar casado para fazer terapia. Casais,
noivos, namorados podem receber auxílio para que a relação se torne saudável e
fluida.
Lembrando que não existe uma fórmula mágica para que a mudança
aconteça, afinal, cada pessoa possui sua individualidade que deve ser levada em
consideração, assim será possível identificar as dificuldades e encontrar caminhos
que preserve a individualidade de cada um.
O psicólogo utiliza várias abordagens como recurso no tratamento dos casais:
recursos educacionais, componentes de mediação e técnicas de terapia individual.
Cada método escolhido vai depender do casal e da demanda apresentada. Isso
favorece ao aprendizado da comunicação do casal, a compreensão do ponto de
vista de cada um e a interação de forma respeitosa.
O envolvimento do casal no processo psicoterapêutico é o que vai determinar
como será o resultado do tratamento. Dentro do processo terapêutico, será
analisado todo o contexto do casal, assim como tudo que está em sua volta:
famílias de origem, ambiente em que vivem, filhos.

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4.2. O papel do terapeuta

Ajudar o casal a entender as origens de suas dificuldades e como estas estão


afetando o relacionamento do casal e depois disso, capacitá-los a analisar a
situação e construir formas de administrar essas questões. Importante destacar
que, apesar de ser levada em consideração a individualidade dos membros da
relação, o foco da terapia com casais está nos dois parceiros que estão em busca
de estratégias para solucionar seus problemas da relação.
A expectativa é que os resultados sejam positivos ao casal e que ambos
consigam ter capacidade para lidar com as diferenças e conseguir administrá-las.
O resultado positivo só é possível de acontecer quando se chegam à conclusão de
suas origens e quando se encontram soluções de forma assertiva. Além disso, será
possível trabalhar a falta de afetividade e possíveis dependências emocionais.
Portanto, considera-se na Terapia de Casal o psicólogo com uma função de
mediador, na qual está ali não para defender nenhuma das partes, mas para
identificar o que será necessário ser corrigido e alinhado entre o casal.
Assim como na terapia individual, na terapia de casal também é necessário
que haja empatia pelo psicólogo para que o vinculo entre pacientes e terapeuta
seja construído. Se uma das partes envolvidas na relação não se sentir à vontade
com o terapeuta, o processo não irá se desenvolver de uma forma fluída.
Caso uma das partes não sinta empatia ou confiança pelo profissional,
pode ser sugerida sessões individuais para ser trabalhado essa questão. Nessa
situação, o sigilo das sessões individuais deve ser mantido, assim, o que for dito
nessas sessões não deve ser exposto nas sessões com o casal, a não ser que seja
permitido pelo paciente.
Técnicas para Diagnóstico: entrevista conjunta e individual, questionários,
roteiros de anamneses
O sucesso do tratamento para casais, depende da avaliação inicial,
conceitualização do caso e da investigação cuidadosa. Para isso, o psicólogo/
terapeuta precisa ser criativo.
A avaliação inicial em terapia de casal tem como objetivo principal fornecer
uma compreensão abrangente do casal e da dinâmica de relacionamento em que
estão inseridos. Existem alguns objetivos específicos que orientam essa fase do
processo terapêutico.
Um dos objetivos é identificar tanto as potencialidades quanto as características
problemáticas do casal. Isso envolve explorar as forças e recursos que o casal

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possui, bem como os desafios e dificuldades que estão enfrentando. Compreender


esses aspectos é fundamental para direcionar as intervenções terapêuticas de
forma adequada.
Além disso, a avaliação busca colocar o funcionamento individual de cada
parceiro no contexto em que o casal está vivenciando e nas mudanças que estão
ocorrendo. Isso implica em considerar as histórias de vida, as experiências pessoais
e os eventos significativos que afetam a dinâmica conjugal. Compreender o
contexto mais amplo contribui para uma visão mais abrangente do relacionamento
e permite uma abordagem terapêutica mais efetiva.
Outro objetivo da avaliação inicial é identificar o funcionamento cognitivo
e comportamental do casal e da família. Isso envolve analisar os padrões de
pensamento, as crenças, as emoções e os comportamentos que influenciam a
dinâmica conjugal. Compreender como esses aspectos estão inter-relacionados
e como afetam a relação é essencial para desenvolver intervenções terapêuticas
específicas e direcionadas.
Dessa forma, a avaliação inicial em terapia de casal busca obter uma
compreensão aprofundada do casal, considerando tanto os aspectos positivos
quanto os desafios presentes na relação. Identificar o funcionamento individual
e contextual, bem como o funcionamento cognitivo e comportamental, contribui
para a elaboração de um plano terapêutico adequado e personalizado. A avaliação
inicial é um passo fundamental para direcionar as intervenções terapêuticas e
auxiliar o casal no caminho para uma relação mais saudável e satisfatória.
O psicólogo deve se familiarizar com a dinâmica da família, a fim de
compreender como o sistema funciona e se existe equilíbrio na interação. Identificar
o que faz a família funcionar e o que a torna disfuncional, assim como entender
como cada um reage perante os conflitos. Essa avaliação não é só inicial, ela
vai continuar sendo vista durante todo o tratamento, isso porque, o terapeuta
sempre vai obter novas informações que podem modificar o caminho terapêutico
dos pacientes.
A entrevista inicial conjunta pode ajudar a obter informações sobre o passado
do paciente e seu presente. É uma fonte de informações sobre lembranças e
opiniões do casal e que leva em consideração lembranças, opiniões e interações.
Apesar das entrevistas iniciais provocarem nos pacientes alguma alteração
no comportamento ou no que falam da relação, é comum que consigam mostrar
aspectos do seu padrão típico, principalmente quando o terapeuta consegue
envolve-los na descrição daquilo que os levaram a procurar ajuda psicológica.

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O terapeuta formula hipóteses na primeira avaliação e essas são testadas
ao longo das próximas sessões. As razões pelo qual os pacientes buscaram
ajuda e quais são suas expectativas na terapia são externalizadas nesse primeiro
encontro. Perguntas sobre como o casal se conheceu, o que os fizeram se atrair
um pelo outro, também são feitas nesse início. O nascimento dos filhos, quando
se casaram, demandas individuais da família ou da infância que possam estar
impactando o relacionamento.
Este é também o momento de obter informações sobre cognição, reações
emocionais, interação dos membros da família; se o marido consegue receber
criticas na relação ou se fica retraído quando a esposa aponta suas habilidades
como pai. O terapeuta pode buscar saber que tipo de pensamento ele experiencia
depois de ouvir os comentários da esposa. Pensamentos automáticos podem
surgir, tais como: “Ela não me respeita. Isso não tem jeito”, e sentimentos tanto de
raiva quanto de profunda tristeza.
Em terapias de casais, pode acontecer a necessidade de que os pacientes
façam terapia individuais com outros profissionais, além da terapia de casal.
Dependendo da situação, pode ser feito pelo terapeuta do casal, uma coordenação
do tratamento, entrando em contato com esses outros profissionais a fim de
enriquecer o trabalho terapêutico, garantido que todos estão seguindo o mesmo
propósito e a mesma direção, assim, os resultados serão produtivos. Claro que,
todos os terapeutas precisam concordar com essa dinâmica, na qual deve ser
feita com cautela.

4.2.1. Questionários
Dentro da abordagem Cognitiva Comportamental, utiliza-se questionários
padronizados para obter informações sobre o casal e a família, sendo possível
adquirir informações sobre a forma de pensar de cada membro sobre si e sobre a
dinâmica do relacionamento. Essa ferramenta é útil, ainda mais quando o tempo
do terapeuta é limitado em cada sessão. O terapeuta, geralmente pede que o
casal ou a família responda o questionário antes da entrevista inicial, para que ele
possa pedir informações adicionais sobre as respostas do questionário durantes
os contatos iniciais. A utilização dos questionários, possibilitam posteriormente,
explorar com mais profundidade determinados assuntos, além da análise
comportamental do casal.
Os inventários e questionários, ajudam também a determinar a motivação
dos cônjuges com relação a mudanças no relacionamento. O tratamento bem

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sucedido também depende da motivação para a mudança.


Algumas estratégias de intervenção foram criadas para buscar a visão geral
de áreas -chave do funcionamento do casal e da família, tais como satisfação,
coesão, qualidade da comunicação, tomada de decisão, valores e nível de conflito.
Segue alguns exemplos de escalas: Dyadic Adjustment Scale [Escala de
Ajustamento Diádico], Spanier (1976), o Marital Satisfaction Inventory – Revised
[Inventário de Satisfação Conjugal – Revisado], Snyder e Aikman (1999), a Family
Environment Scale [Escala do Ambiente Familiar], Moos e Moos (1986), o Family
Assessment Device [Dispositivo de Avaliação Familiar], Epstein, Baldwin e Bishop
(1983) e o Self -Report Family Inventory [Autorrelato do Inventário Familiar],
Beavers, Hampson e Hulgus (1985).
Essas escalas não trazem informações específicas sobre cognição, emoção
e reações comportamentais com relação a problemática do casal ou da família,
por isso, nas sessões subsequentes a aplicação dos questionários ou escalas,
o terapeuta deve sondar detalhadamente a respeito, assim poderá identificar
melhor sobre a interação positiva e negativa do casal.
Segue abaixo modelo de questionários que pode ser utilizado na terapia de
casais:
O Relationship Belief Inventory (Inventário da Crença no Relacionamento),
desenvolvido por Eidelson e Epstein em 1982, é uma ferramenta de avaliação que
busca identificar cinco crenças irrealistas comuns associadas ao estresse e aos
problemas de comunicação nos relacionamentos de casais.
A primeira crença avaliada pelo inventário é a de que o desacordo é destrutivo.
Essa crença irrealista pressupõe que qualquer tipo de discordância ou conflito no
relacionamento é prejudicial, ignorando a possibilidade de um diálogo saudável e
construtivo para a resolução de problemas.
A segunda crença abordada é a de que os parceiros devem ser capazes de ler
os pensamentos e sentimentos um do outro. Essa expectativa irrealista pode levar
a mal-entendidos e frustrações, já que nenhum indivíduo possui a habilidade de ler
a mente do outro de forma precisa e constante.
A terceira crença avaliada no inventário é a de que os parceiros não podem
mudar o relacionamento. Essa crença desconsidera a possibilidade de crescimento
e transformação na dinâmica do relacionamento, limitando as oportunidades de
melhoria e aprendizado mútuo.
A quarta crença irrealista está relacionada às diferenças de gênero inatas, que
supostamente determinam os problemas de relacionamento. Essa crença ignora

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a influência de fatores individuais, culturais e contextuais na dinâmica do casal,
atribuindo todos os desafios ao fator biológico do gênero.
Por fim, o inventário avalia a crença de que se deve ser um parceiro sexual
perfeito. Essa expectativa irrealista coloca uma pressão excessiva e muitas vezes
inatingível na vida sexual do casal, podendo levar a frustrações e insatisfação.
Ao identificar essas crenças irrealistas, o Relationship Belief Inventory busca
ajudar os casais a reconhecer e desafiar essas perspectivas limitantes, promovendo
uma maior compreensão, comunicação e satisfação no relacionamento. Através
do processo terapêutico, é possível desenvolver uma visão mais realista e saudável
do relacionamento, facilitando o crescimento individual e mútuo do casal.

Esse questionário pode identificar as formas com que os parceiros estabelecem


padrões para o seu relacionamento com relação aos limites (grau de autonomia e
compartilhamento), distribuição e exercício de poder/controle e como lidam com
o tempo e energia no relacionamento.
O Communication Patterns Questionnaire (Questionário dos Padrões de
Comunicação), desenvolvido por Christensen em 1988, é uma ferramenta de
avaliação que adota uma abordagem sistêmica para examinar a interação do
casal, especialmente no contexto de conflitos conjugais. Esse questionário utiliza
uma série de itens para investigar a ocorrência de padrões diádicos de comunicação
entre os parceiros.
Um dos padrões avaliados pelo questionário é o ataque mútuo, que ocorre
quando ambos os parceiros se envolvem em comportamentos críticos, agressivos
ou hostis durante os conflitos. Esse padrão de comunicação pode levar a um
ciclo negativo de acusações, culpas e ressentimentos, tornando difícil a resolução
construtiva dos problemas.
Outro padrão investigado é a exigência-retraimento, em que um parceiro
adota uma postura mais dominante e demandante, enquanto o outro adota uma
postura de recuo, evitando o confronto direto. Esse desequilíbrio na comunicação
pode levar a um sentimento de desigualdade e frustração, dificultando a expressão
de necessidades e a busca de soluções conjuntas.
Além disso, o questionário aborda a evitação mútua, que ocorre quando
ambos os parceiros evitam abordar ou discutir questões conflitantes. Esse padrão
de comunicação pode surgir como uma estratégia para evitar o desconforto e
a tensão, mas também pode levar a uma falta de resolução de problemas e à
estagnação do relacionamento.

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Por meio do Communication Patterns Questionnaire, é possível identificar e
analisar esses diferentes padrões de comunicação que ocorrem nos conflitos do
casal. Essa compreensão ajuda os terapeutas e os próprios parceiros a adotarem
estratégias mais saudáveis de comunicação, visando promover a expressão de
sentimentos, a escuta ativa, a negociação de soluções e a construção de um
relacionamento mais satisfatório e harmonioso.
A Conflict Tactics Scale - CTS2 (Escala de Táticas de Conflito), desenvolvida
por Strauss, Hamby, Boney-McCoy e Sugarman em 1996, é uma ferramenta de
avaliação que visa identificar e investigar as diferentes formas de comportamento
abusivo nos relacionamentos conjugais, tanto verbais quanto não verbais. Essa
escala desempenha um papel importante na obtenção de informações que podem
ser difíceis para os pacientes ou clientes revelarem durante as entrevistas.
A CTS2 abrange uma ampla gama de comportamentos abusivos, incluindo
agressões físicas, psicológicas e sexuais. Ela fornece uma estrutura para que os
casais relatem sua experiência em relação a esses comportamentos, permitindo
uma compreensão mais clara das dinâmicas de poder e controle presentes no
relacionamento.
Ao utilizar essa escala, os profissionais podem explorar questões sensíveis
e delicadas, como agressões verbais, ameaças, intimidação, violência física e
sexual. Essas informações são cruciais para uma avaliação abrangente e uma
intervenção adequada nos casos em que ocorre violência doméstica ou abuso no
relacionamento conjugal.
É importante ressaltar que a utilização da CTS2 deve ser realizada de maneira
ética e sensível, garantindo a confidencialidade e o acolhimento dos relatos
dos indivíduos. Ela desempenha um papel fundamental na identificação e no
reconhecimento dos padrões abusivos, contribuindo para a segurança e o bem-
estar dos envolvidos.
Ao abordar o tema dos comportamentos abusivos nos relacionamentos
de casal, a utilização da Conflict Tactics Scale - CTS2 pode fornecer uma visão
mais abrangente das dinâmicas de poder e controle, possibilitando intervenções
apropriadas e ajudando os profissionais a promoverem relacionamentos saudáveis,
seguros e livres de violência.
Os inventários utilizados nos primeiros contatos, possibilita a expressão não-
verbal do casal, isso é de grande ajuda para aqueles parceiros que possuem
dificuldades expressarem verbalmente o contexto em que vivem. Isso favorece
também o trabalho dos terapeutas no tratamento de ambos ou de forma individual

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a determinadas demandas.
Importante destacar que, os questionários e inventários, nem sempre são
suficientes para revelar patologias mais sérias que podem existir na relação entre
o casal. De acordo com a extensão da psicopatologia, é necessária uma testagem
psicodiagnóstica adicional.
O Genograma também é uma estratégia de intervenção que tem sido bastante
utilizado por profissionais no atendimento de casal e família, a fim de descobrir
importantes informações sobre a história e a família de origem dos membros.
Utiliza-se de símbolos para descrever os membros da família entre as gerações.
É possível tratar o elo de conexão com relação as patologias existentes no sistema
familiar e do casal e também ajuda a recapitular os familiares que fizeram parte
do passado e que contribuíram para o desenvolvimento de uma doença mental.
Os Genogramas também possibilitam ao paciente/cliente entrar em contato
com o processo de transmissão intergeracional, identificando motivos para a
maneira como a pessoa age ou como a patologia de uma pessoa se desenvolve
por meio das gerações da família. Tudo isso, não para culpabilizar a ancestralidade,
mas para entender como os vínculos acontecem.
Cada terapeuta tem a sua forma de trabalhar, assim como alguns optam por
questionários, outros utilizam-se de roteiros estruturados de entrevistas, como o
Structured Clinical Interview Schedule for DSM -IV – SCID [Roteiro para Entrevista
Clínica Estruturada do DSM -IV], Spitzer, Williams, Gibbon e First (1994), com o
objetivo de apresentar um diagnóstico diferencial. Os testes psicológicos, técnicas
projetivas e inventários de personalidade, também podem ser utilizados. É comum
que, seja qual for a da abordagem utilizada na avaliação, a maioria dos terapeutas
não passam muito tempo focando em avaliações cuidadosas e detalhadas dos
pacientes/clientes antes de iniciar o tratamento.
As entrevistas individuais devem ser conduzidas após as entrevistas iniciais
em conjunto, a fim de obter informações do passado e presente, saúde de forma
geral, estresses e patologias. São nas entrevistas individuais que os pacientes/
clientes conseguem externalizar melhor suas dificuldades pessoais e seu potencial
de enfrentamento. Aqui os profissionais tem mais facilidade de identificar pontos
familiares ou patológicos que estão influenciando a postura do individuo dentro
do relacionamento. Isso vai trazer segurança para um possível encaminhamento
a alguma área ou determinar a necessidade de um complemento com a terapia
individual.
O psicólogo tem a responsabilidade obter informações importantes do

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processo de vida do casal. Pode acontecer, diante de alguma sessão, uma das
partes apresentarem segredos de família há muito tempo foi enterrado e que
afetou claramente o curso do tratamento. Situações como: casos extra-conjugais,
abusos físicos, dentre outras vivências, colocam o terapeuta numa posição difícil,
mas que necessita ética e discernimento sobre como lidar frente a situação, se
for o caso encaminhar para a terapia individual ou trabalhar o enfrentamento e
tomada de decisão. Em caso de abuso físico ou situações de ameaça a vida do
paciente, o profissional deve focar para o trabalho com essa pessoa, a fim de
desenvolver planos para manter a segurança e intervir para que ela saia de casa
e busque abrigo em outro lugar caso aumente o risco de abuso.

4.3. Ferramentas na terapia de casal

Nenhuma técnica utilizada com casais tem bom efeito quando utilizada
para manipulação. O momento certo de utilizar as técnicas é quando houver
necessidade de novos movimentos na relação do casal. Se o processo terapêutico
estiver fluindo bem, não há necessidade de incluir técnicas.
As técnicas são utilizadas como um instrumento que facilita a dinâmica do
casal, jamais deve ser utilizada como um foco principal dentro de uma sessão
terapêutica. Sendo assim, quando o tratamento terapêutico está se desenvolvendo
bem, não há porque utilizar facilitadores.
As técnicas trazem a oportunidade de se trabalhar alguma questão que o
paciente/cliente precisa aprender, assim também como possibilitar o treinamento
de alguma ação, por exemplo: aprender a lidar com regras, com comportamentos
agressivos, compreender momentos lúdicos, promover afetos, etc.. Além disso,
possibilitam também o trabalho com a mágoa, raiva, ciúmes, inveja e dor, a fim de
compreender o que está por trás do sentimento.
Também é possível trabalhar o real, ou seja, as coisas concretas: listar, fazer;
com o simbólico: desenho, jogo, escultura; ou fantasia: imaginação, desejos,
vontades. Tudo isso por meio da utilização de técnicas.
Importante destacar, que as técnicas também são instrumentos de apoio
para o próprio terapeuta, pois o ajudará a não tomar partido em determinadas
situações.
É importante que a escolha da técnica seja feita de acordo com o objetivo
da vivência que o casal está tendo, caso isso não seja assertivo, será uma perda
de tempo no processo terapêutico. O bom resultado depende do cuidado em que

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será feito o manejo da terapia e das técnicas utilizadas.

4.4. Ferramentas na terapia de casal

Em se tratando dos obstáculos que os psicólogos estão sujeitos a passar diante


do processo terapêutico com casais vamos primeiramente entender o conceito
de obstáculo. Na terapia com casais os obstáculos podem surgir de ambos os
lados, tanto da parte do terapeuta quanto por parte dos pacientes. E se isso não
for trabalhado de alguma forma, poderá prejudicar a evolução do tratamento e
inclusive paralisar.
Um dos impasses do terapeuta no trabalho com casais é sua própria
resistência ou mecanismos de defesa que acontecem durante o tratamento. E não
necessariamente precisa ser um caso difícil para que essa resistência aconteça.
O fracasso do terapeuta com suas próprias questões voltadas para a sua
família de origem e a imagem que se construiu de relacionamento pode afetar
a forma com que o processo psicoterapêutico será manejado. Por causa dos
conflitos não resolvidos do próprio terapeuta o caminho terapêutico pode ter
prejuízos. Nesses casos existe a grande probabilidade de acontecer transferências.
Outro impasse que o terapeuta está sujeito a passar, é acompanhar casos
difíceis e se sentir desamparado e oprimido, devido a falta de supervisões de
casos. Pode acontecer do terapeuta ter pensamentos catastróficos do tipo: “é o
fundo do poço” ou “vou fracassar nesse acompanhamento”.
Esse tipo de pensamento pode estar indicando que o terapeuta perdeu sua
objetividade e precisa resgatar seu senso de equilíbrios frente ao caso. Sugere-
se, nesse tipo de situação, que o terapeuta busque fazer supervisões de casos e/
ou consultas durante o período que estiver em conflito. Aprender a se distanciar
da situação para que o profissional consiga reestruturar o modo de pensar sobre
a situação e seu próprio sistema de crenças é fundamental para que se consiga
superar os bloqueios e ter o sucesso no tratamento com o paciente.
Casos de segredo, abusos, violências são grandes desafios que o terapeuta
passa e precisa tratar com cautela e ética. Um outro desafio aos terapeutas,
inclusive os novatos, é a desconstrução de expectativas irrealistas. Ser otimista em
excesso sobre o que se pode alcançar no tratamento do paciente, pode ter como
resultado uma grande armadilha. Além do terapeuta desenvolver um quadro
de estresse, os envolvido no processo podem ser preparados para o fracasso.
É necessário reconstruir expectativas que sejam realistas e ser o mais flexível

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possível diante do processo.


Obstáculos culturais também podem ser um grande obstáculo aos terapeutas.
Sabemos que as pessoas horam os costumes do seu sistema de origem e isso pode
trazer resistências, já que um processo terapêutico visa a mudança. Um exemplo é
o terapeuta passar uma atividade para o membro e acontecer a falta de adesão
por estar preso em costumes ou questões culturais que tragam dificuldades de
exercer aquela atividade. Quando isso acontece, o terapeuta deve identificar o
que está ocorrendo e reestruturar a forma de trabalhar.
Questões étnicas também podem trazer questões desafiadoras no processo
terapêutico. Se o terapeuta tiver etnia ou cultura diferente da do seu paciente, casal
ou família que está trabalhando, isso pode se tornar um problema. Os clientes
podem se sentir não compreendidos. É necessário que o terapeuta esteja aberto
a conhecer aquela cultura e expandir seu conhecimento. É necessário que esse
interesse em dar essa abertura ao novo seja demonstrado aos pacientes.
Um dos maiores obstáculos para um terapeuta são as psicopatologias, pois
alguns transtornos de personalidade impedem o processo podendo inclusive
paralisar. Nessas situações mais graves o paciente pode ser encaminhado para a
terapia individual.
Pacientes com baixo funcionamento intelectual e cognitivo são grandes
desafios aos terapeutas, já que muitas abordagens se utilizam de insights para
como aspectos importantes aos tratamentos. Utilizar-se da mesma linguagem
que o paciente é fator determinante para um bom desempenho. Alguns pacientes
trazem musicas para expressar seus sentimentos, outros conseguem compreender
melhor por meio de metáforas, enfim. Cada um com seu jeito de pensar e suas
limitações referentes a determinados níveis de comunicação.
As experiências passadas dos pacientes podem ter um impacto negativo na
evolução do tratamento. Muitos chegam à terapia trazendo consigo experiências
anteriores em que foram aconselhados por profissionais a optarem pela separação
como solução. Isso pode gerar resistência e desconfiança em relação ao processo
terapêutico atual. Além disso, alguns pacientes podem abandonar a terapia
quando são confrontados com questões dolorosas e feridas emocionais profundas.
É importante que os terapeutas estejam cientes dessas experiências passadas e
trabalhem para construir um ambiente seguro e acolhedor, respeitando o ritmo e
as necessidades dos pacientes.
Outro aspecto a ser considerado é a pressão exercida na hora errada durante
o tratamento. Em alguns casos, o processo terapêutico pode estar estagnado e

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necessitar de movimento para avançar. O terapeuta pode sentir a necessidade
de estimular o casal ou a família a se engajarem mais ativamente. No entanto,
é fundamental escolher o momento adequado para fazer isso, levando em
consideração a disponibilidade e a prontidão emocional dos envolvidos. Algumas
pessoas podem resistir em expressar suas opiniões, optando pela neutralidade
como forma de evitar conflitos, ou podem até mesmo estar desinteressadas no
processo. Nesses casos, é importante que o terapeuta seja sensível às emoções e
limitações dos pacientes, trabalhando com eles de forma colaborativa para criar
um ambiente de confiança e segurança.
Como profissionais, é crucial evitar entrar no jogo do cliente ao falar mal do
terapeuta anterior ou alimentar ressentimentos. Em vez disso, devemos manter
o foco no presente e no que será trabalhado daqui para frente. É nosso papel
ajudar os pacientes a superarem as dificuldades do passado e a encontrarem
caminhos saudáveis de enfrentamento e crescimento. Através da empatia,
compreensão e orientação adequada, podemos auxiliar os pacientes a construírem
relacionamentos mais saudáveis e satisfatórios.
A reincidência de comportamentos pode acontecer e tanto o terapeuta quanto
os pacientes precisam se prevenir. Isso pode ser feito por meio de estratégias
sobre como lidar com as recaídas caso aconteçam e de que formas elas podem
ser prevenidas.
Independente de cultura, seja individual, casal ou de família, todo tipo de
terapia é difícil de ser conduzida devido aos obstáculos que aparecem durante
o processo. Todo terapeuta encontrará vários obstáculos no decorrer dos seus
atendimentos, por isso a importância da utilização de técnicas e ferramentas para
ajudar na condução de cada processo. Além disso a paciência deve ser exercida
e ter a aceitação de que esses desafios existem e devem ser enfrentados em todo
tratamento psicoterapêutico faz toda a diferença.

4.5. Estratégias de resolução de conflito

Obviamente, o casal está em terapia para ser ajudado na resolução de


seus problemas. Quando existe a necessidade de uma negociação, é necessário
habilidade para colocar na balança de forma calma.
A resolução de conflitos entre casais pode ser facilitada ao seguir os seguintes
passos. Definir o problema de forma específica, dado que é importante identificar
e descrever claramente o problema em termos comportamentais específicos. Isso

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envolve comparar as percepções de ambos os parceiros e chegar a uma descrição


acordada do problema. Ter uma compreensão comum do que está causando o
conflito é o primeiro passo para resolvê-lo.
Ademais, gerar um conjunto de soluções, uma vez que o problema tenha
sido definido, é hora de buscar possíveis soluções. Encoraje ambos os parceiros a
contribuir com ideias e sugestões para resolver o conflito. É importante criar um
ambiente de abertura e respeito, onde todas as ideias sejam consideradas.
Avaliar as vantagens e desvantagens de cada solução, após gerar um conjunto
de soluções, é necessário avaliar cada uma delas. Considere as vantagens e
desvantagens de cada opção em relação ao problema em questão. Isso ajudará
a determinar qual solução é mais viável e adequada para ambas as partes.
Escolher uma solução possível. Com base na avaliação das soluções, os
parceiros devem escolher a opção que considerem mais adequada. É importante
buscar um consenso e garantir que ambas as partes se sintam confortáveis com
a escolha. A decisão tomada deve ser mutuamente acordada e aceita.
Implementar a solução escolhida e avaliar sua eficácia, uma vez que a solução
tenha sido escolhida, é hora de colocá-la em prática. Ambos os parceiros devem
se comprometer a implementar a solução de forma consistente. Após um período
de tempo adequado, é importante avaliar a eficácia da solução. Se necessário,
ajustes podem ser feitos para melhorar o resultado.
Seguir esses passos pode ajudar os casais a abordarem os conflitos de forma
estruturada e colaborativa. Ao definir o problema, gerar soluções, avaliar as
opções, fazer uma escolha conjunta e implementar a solução escolhida, os casais
têm a oportunidade de fortalecer seu relacionamento e encontrar resoluções
satisfatórias para os conflitos que surgem ao longo do caminho. Ao trabalhar
juntos nesse processo, eles podem promover a compreensão, a comunicação
eficaz e o crescimento mútuo.
Também pode ser utilizado pelo terapeuta, instruções escritas, exemplos
e repetições. O treinamento comportamental facilita para resolução eficaz dos
problemas. Antes de tudo, é necessário ter a definição clara do problema do casal.
A resolução de conflitos entre casais requer uma abordagem estruturada e
colaborativa. Seguir um conjunto de passos pode ajudar a facilitar esse processo
e promover a resolução saudável dos problemas. O primeiro passo é definir o
problema de forma específica, identificando comportamentos e situações
específicas que estão causando o conflito. É importante que ambos os parceiros
compartilhem suas percepções e cheguem a uma descrição acordada do

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problema, criando uma compreensão comum.
Após definir o problema, é hora de gerar um conjunto de soluções possíveis.
Ambos os parceiros devem ser encorajados a contribuir com ideias e sugestões
para resolver o conflito. Um ambiente de abertura e respeito é essencial para que
todas as ideias sejam consideradas, sem julgamentos ou críticas precipitadas.
Em seguida, as soluções geradas devem ser avaliadas considerando suas
vantagens e desvantagens. Cada opção deve ser cuidadosamente analisada em
relação ao problema em questão. Esse processo de avaliação ajudará a determinar
qual solução é mais viável e adequada para ambos os parceiros.
Uma vez que a avaliação tenha sido concluída, chega o momento de escolher
a solução que parece mais promissora. É importante buscar um consenso e
garantir que ambas as partes se sintam confortáveis com a escolha. A decisão
tomada deve ser mutuamente acordada e aceita, evitando qualquer sentimento
de imposição ou desequilíbrio de poder.
Com a solução escolhida, é hora de implementá-la e colocá-la em prática.
Ambos os parceiros devem se comprometer a seguir a solução de forma consistente
e engajada. É fundamental estabelecer uma comunicação aberta e contínua
durante esse processo, compartilhando feedbacks e ajustando a abordagem, se
necessário.
Após um período adequado de implementação, é importante avaliar a
eficácia da solução escolhida. Se os resultados não estiverem sendo satisfatórios,
é possível fazer ajustes ou revisitar o processo de resolução de conflitos. O objetivo
é encontrar uma solução que seja mutuamente benéfica e que contribua para
fortalecer o relacionamento.
Seguir esses passos pode ajudar os casais a lidarem com conflitos de maneira
construtiva e a fortalecerem seu relacionamento. Ao abordar os conflitos de forma
estruturada, respeitosa e colaborativa, é possível encontrar soluções que levem
ao crescimento e à harmonia mútua. A resolução saudável de conflitos é essencial
para a construção de um relacionamento duradouro e satisfatório.
Esses passos podem ser realizados utilizando-os como dever de casa para o
casal. É um trabalho que envolve repetição, inclusive o terapeuta pode rever esse
processo rotineiramente.
Quando se tem dificuldade de habilidades sociais ou timidez, a pessoa tem
dificuldade de falar de si e em outros casos se mostram agressivos: Um exemplo
de estratégia para melhorar as habilidades sociais é fazer os cônjuges treinarem
uns com os outros os tipos de reações não assertiva, assertiva e agressiva. Isso

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pode ajudá -los a compreender qual desses tipos de comportamento promovem


uma relação saudável para o casal. Obviamente a assertiva é a mais benéfica.
A dramatização durante as sessões, programas de treinamento, vídeos de
treinamentos sobre assertividade envolvendo contexto de casais são meios para se
trabalhar esses treinamentos. Inversão de papeis é uma técnica de dramatização
que envolve casais. Jacobson e Margolin sugeriram que os cônjuges invertessem
os papéis e discutisse um problema como ele costuma ser discutido em casa, e
cada pessoa assume o papel do outro cônjuge. Assumir o papel do outro cônjuge
amplia a perspectiva que ele tem sobre o outro e pode mudar a visão que ela tem
sobre toda a discussão trazida pelo casal e também possibilita a demonstração
de como o parceiro gostaria que o outro agisse diante da situação, já que está
representando o papel dele. Esse exercício provoca risos, é divertido e pode trazer
alívio no desenvolvimento do processo.

4.6. Principais técnicas de intervenção: psicoeduca-


ção, identificação de pensamentos automáticos, téc-
nicas comportamentais, melhora do processo de co-
municação

É necessário que o casal entenda os princípios e os métodos envolvidos no


processo que está sendo realizado. Isso ocorrerá por meio da psicoeducação.
Em se tratando de uma abordagem cognitivo comportamental, inicialmente, o
psicólogo deve explicar de forma breve uma visão geral do modelo e conceitos
específicos utilizados durante a terapia.
Sendo propostas lições de casa ou leituras durante o tratamento, é necessário
que o casal compreenda a importância de realiza-los, visto ser um meio de assumir
a responsabilidade e o controle de seus próprios pensamentos e ações.
O terapeuta também tem como responsabilidade informar aos clientes que as
sessões serão guiadas de acordo com o objetivo proposto pelo casal no início de
cada sessão.
Um outro ponto, se refere ao estabelecimento de regras para o comportamento
de cada membro dentro e fora das sessões, afinal é necessário respeito e a
construção de uma boa comunicação durante o tratamento (comportamentos
abusivos são inaceitáveis, seja físico ou verbal).
Alguns modelos utilizados cognitivos comportamentais utilizados durante o
processo terapêutico são rígidos e nem todos os casais podem aceitar. Nesses

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casos, o terapeuta deve estar aberto a adaptá-los e fazer ajustes de acordo
com a personalidade de cada casal. Como exemplo, podemos citar casais que se
sentem pressionados a realizarem tarefas de casa que são propostas em terapia.
O terapeuta é livre para fazer alterações, desde que não perca os princípios da
terapia.
É de extrema importância que o casal aumente a sua capacidade para
identificar os pensamentos automáticos, pois isso facilita a mudança das
cognições distorcidas ou extremadas. Inicialmente, vamos compreender o que são
os pensamentos automáticos: são aqueles que surgem de forma espontânea na
mente da pessoa.
O terapeuta tem como responsabilidade, treinar o casal durante as sessões
a realizar observações sobre o padrão de pensamentos que são gerados por
meio de suas reações emocionais e comportamentais negativos em relação um
ao outro. Aderir a um caderno de anotação entre as sessões para descrever de
forma breve as situações nas quais se sentiram estressados no relacionamento ou
que ocasionaram conflitos, pode ajudar a enriquecer o trabalho com os casais. O
registro nesse caderno deve conter a descrição dos pensamentos automáticos, as
reações emocionais que resultaram das situações e a ação comportamental.
Por meio desse instrumento de registro, o terapeuta consegue com mais
facilidade mostrar aos casais como está a funcionalidade dos pensamentos
automáticos e de que forma eles estão ligados as suas emoções e reações
comportamentais. Os pensamentos automáticos são os perturbadores dos
relacionamentos.
Esse procedimento também ajuda ao casal tomar consciência das reações
emocionais e comportamentais negativas. Nesse sentido, o terapeuta vai treinar
cada membro da relação a assumir sua responsabilidade sobre suas reações.
Futuramente, é produtivo que se faça o exercício de examinar os registros
que foram feitos e indicar os vínculos entre os pensamentos, as emoções e os
comportamentos. Assim, o terapeuta pode pedir ao casal que explore cognições
alternativas que produzam reações emocionais e comportamentais diferentes a
uma determinada situação.
A forma de intervenção mais utilizada nas diversas abordagens da psicologia
gira em torno de melhorar as habilidades do casal em expressar os pensamentos e
emoções, assim como melhorar a escuta entre ambos. O fato é que a comunicação
é o principal fator para se tornar um relacionamento funcional e duradouro.
Pesquisas demonstram que o equilíbrio nos relacionamentos consiste em

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comportamento emocional, cognição, percepção e a filosofia. Esses fatores são


contribuintes para determinar o destino dos relacionamentos. Tais pesquisas
trouxeram a conclusão de que casais que caminham em direção ao divórcio
demonstram mais negatividade do que positividade no comportamento emocional
e interação conjugal. Interações negativas, do tipo: queixas/críticas, desprezo,
comportamento defensivo e falta de comunicação são pontos de destruição das
relações.
No contexto dos relacionamentos, algumas atitudes e comportamentos podem
contribuir para a deterioração da comunicação e a intensificação dos conflitos.
Um deles é o surgimento de queixas e críticas, que podem levar a construções
negativas e julgamentos em relação ao parceiro. Essas críticas podem se tornar
destrutivas, minando a confiança e a harmonia no relacionamento.
Outro comportamento prejudicial é o desprezo, que envolve zombaria, insultos,
sarcasmo e apontamento de incompetência. Essas atitudes demonstram falta de
respeito e consideração, causando sofrimento emocional e afastamento entre os
parceiros.
A defensividade também pode prejudicar a comunicação e a resolução de
conflitos. Quando uma das partes se fecha para evitar algo ou se proteger de um
suposto ataque, a dinâmica de acusações e justificativas se sobrepõe ao diálogo
e à compreensão mútua.
Além disso, a falta de comunicação efetiva é um problema recorrente em
muitos relacionamentos. Quando uma das pessoas não se manifesta diante do
que é dito pelo parceiro, cria-se uma barreira emocional que pode ser interpretada
como desligamento, hostilidade ou desinteresse. Isso dificulta a conexão emocional
e impede o estabelecimento de um diálogo saudável.
Para superar esses desafios, é fundamental que os casais reconheçam
esses padrões destrutivos de comunicação e estejam dispostos a trabalhar para
modificá-los. A terapia de casal pode ser uma ferramenta valiosa nesse processo,
fornecendo um ambiente seguro e orientado por um profissional especializado. Por
meio desse apoio, os casais podem aprender a identificar esses comportamentos,
compreender suas origens e desenvolver estratégias mais construtivas de
comunicação. O objetivo é cultivar uma comunicação aberta, respeitosa e
empática, permitindo que os parceiros expressem suas necessidades, desejos e
preocupações de maneira saudável, promovendo assim um relacionamento mais
harmonioso e satisfatório.
Quando ocorre dificuldade na comunicação, existe a tendencia de construir

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um processo de distanciamento e isolamento que envolve. No contexto dos
relacionamentos, alguns sentimentos e comportamentos podem desencadear
problemas e dificultar a resolução dos conflitos. Um desses elementos é considerar
o problema como grave, atribuindo-lhe uma importância desproporcional. Essa
percepção exagerada pode levar à intensificação do conflito e dificultar a busca
de soluções.
A crença de que não há como trabalhar as questões com o parceiro(a) também
pode ser um obstáculo. Quando alguém está convencido de que não é possível
resolver os problemas ou melhorar a relação, pode desistir de investir tempo e
esforço na resolução dos conflitos. Essa atitude pode levar ao distanciamento
emocional e ao enfraquecimento do vínculo.
Sentir-se sufocado pelas queixas apontadas pelo parceiro(a) é outra questão
comum. Quando uma das partes se sente constantemente criticada e não
reconhecida pelo parceiro, pode surgir um sentimento de asfixia, gerando frustração
e ressentimento. Essa dinâmica pode levar a um ciclo negativo de comunicação,
prejudicando ainda mais a relação.
Algumas pessoas podem até provocar situações para passarem cada vez
menos tempo juntas com o parceiro(a). Essa tentativa de evitar o confronto ou a
intimidade emocional pode ser uma forma de lidar com a dificuldade de enfrentar
os problemas. No entanto, essa estratégia pode contribuir para o distanciamento
e a deterioração do relacionamento.
Por fim, o sentimento de solidão é uma experiência comum em relacionamentos
problemáticos. Mesmo estando em um relacionamento, uma pessoa pode sentir-
se isolada emocionalmente, com a sensação de não ser compreendida ou apoiada
pelo parceiro(a). Essa solidão emocional pode gerar grande angústia e dificultar a
resolução dos conflitos.
É importante que os casais reconheçam esses sentimentos e comportamentos
negativos e estejam dispostos a trabalhar para superá-los. A terapia de casal
pode oferecer um espaço seguro e facilitar a reflexão e o diálogo construtivo. Por
meio desse processo, os parceiros podem explorar suas emoções, compreender
as motivações por trás de seus comportamentos e desenvolver estratégias para
melhorar a comunicação, fortalecer o vínculo e promover um relacionamento mais
saudável e satisfatório.
Na dinâmica dos relacionamentos, é importante compreender os conceitos de
comunicação linear e comunicação circular. A comunicação linear é caracterizada
por um pensamento de causa e efeito centrado no parceiro, em que uma pessoa

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fala constantemente sobre o outro, reagindo apenas quando se refere a si mesma.
Esse tipo de comunicação tende a ser limitado e unilateral, impedindo uma
compreensão mais profunda das emoções e necessidades individuais.
Por outro lado, a comunicação circular é uma forma mais madura de
interação, na qual os parceiros têm a capacidade de falar sobre seus padrões
de relacionamento recíprocos. Por exemplo, quando a esposa expressa sua
frustração em relação a um comportamento não verbal do marido, ela é capaz
de esclarecer o significado dessa preocupação e oferecer insights em resposta ao
comportamento dele. Esse tipo de comunicação beneficia o relacionamento, pois
permite compreender os padrões de comportamento de cada parceiro e como
esses comportamentos afetam um ao outro.
Através dessas trocas de diálogo, os parceiros podem incorporar cognitivamente
novos conhecimentos comportamentais em seus sistemas de crenças. Isso resulta
em uma maior clareza sobre os padrões de comunicação, tornando possível
aprimorar a forma como se relacionam. A discussão aberta e honesta permite que
os parceiros compreendam melhor as motivações e intenções por trás de suas
ações, promovendo uma conexão mais profunda e significativa.
Ao adotar a comunicação circular, os casais podem desenvolver habilidades
para expressar suas necessidades, emoções e preocupações de forma clara e
construtiva. Esse tipo de comunicação fortalece a intimidade, a confiança e a
resolução de conflitos, proporcionando um ambiente saudável para o crescimento
mútuo.
É fundamental que os casais estejam dispostos a aprender e praticar a
comunicação circular, buscando compreender não apenas as palavras faladas,
mas também as emoções subjacentes e os sinais não verbais. A terapia de casal
pode ser um recurso valioso para auxiliar nesse processo, oferecendo orientação
e técnicas específicas para melhorar a comunicação e promover relacionamentos
mais saudáveis e harmoniosos.
A comunicação quando direcionada para o conteúdo, o casal ou a família se
porta de forma madura em seus pensamentos, se concentram apenas no que
estão pensando, não em como estão pensando.
É sugerido que os terapeutas de casais auxiliem os parceiros a passar da
comunicação linear para a circular, passando também do conteúdo para o
processo de comunicação, assim será promovido o intercâmbio de forma saudável.
O terapeuta consegue desenvolver isso nas sessões apontando os déficits de
comunicação específicos e fazendo sugestões em termos de estratégias para

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melhorar a comunicação e interação entre ambos.
A comunicação eficaz envolve tanto o falante quanto o ouvinte, e cada um
desempenha um papel importante no processo. Para o falante, é crucial identificar
as necessidades do ouvinte e utilizar estratégias adequadas para garantir uma
comunicação clara e efetiva.
Uma dessas estratégias é falar atentamente, mantendo contato visual e
adaptando-se ao estilo de fala do ouvinte. Buscar sinais corporais que indiquem
compreensão é fundamental. Mesmo em momentos de perturbação, é importante
tentar manter um tom consistente e calmo. Além disso, fazer perguntas significativas
é essencial para promover conversas mais circulares e produtivas, evitando
perguntas que levem apenas a respostas «sim» ou «não».
Outra dica importante é evitar falar demais. É necessário encontrar um equilíbrio
na quantidade de informações compartilhadas, evitando prolongar declarações
que possam sobrecarregar o ouvinte. Aceitar o silêncio também é fundamental,
pois permite ao ouvinte processar as informações ouvidas. É importante não
interpretar o silêncio como resistência, mas sim como um momento de reflexão.
Por outro lado, o ouvinte também desempenha um papel crucial na
comunicação. Ouvir atentamente, mantendo contato visual e demonstrando que
está realmente prestando atenção, é essencial. Evitar interrupções é importante
para evitar a sensação de desrespeito. Esclarecer o que foi ouvido, fazendo um
resumo do que foi dito e pedindo esclarecimentos quando necessário, é uma
estratégia eficaz para garantir uma compreensão mútua. Refletir sobre o que
foi ouvido também é importante, mostrando ao falante que suas palavras foram
absorvidas e compreendidas. Por fim, resumir o que foi comunicado é uma prática
fundamental para evitar mal-entendidos e garantir que ambos os envolvidos
estejam na mesma página.
Ao aplicar essas estratégias tanto como falante quanto como ouvinte, é possível
promover uma comunicação mais circular, na qual as necessidades de ambas as
partes são atendidas e há um melhor entendimento mútuo. A comunicação eficaz
é essencial para o fortalecimento dos relacionamentos e a resolução de conflitos
de maneira saudável e construtiva.
A comunicação eficaz requer treinamento e prática, e quando os parceiros
demonstram habilidades adequadas, o terapeuta pode orientá-los a praticar
essas habilidades como tarefa de casa. Uma das habilidades importantes a serem
desenvolvidas é a comunicação empática.
Muitas vezes, os casais não têm naturalmente a capacidade de expressar

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empatia um pelo outro. Portanto, é necessário ensiná-los e orientá-los nesse


aspecto. Através da empatia, é possível gerar intimidade e tornar o diálogo mais
positivo e construtivo. Isso envolve demonstrar compreensão, validar as emoções
e perspectivas do outro e mostrar interesse genuíno em seu ponto de vista.
Outro aspecto importante da comunicação é a validação. É fundamental
entender que a validação não significa necessariamente concordar ou refletir o
ponto de vista do outro, mas sim reconhecer e aceitar suas emoções e perspectivas
como válidas. A validação ajuda a acalmar a tensão e reduzir o diálogo negativo,
pois mostra que o parceiro está sendo ouvido e respeitado, mesmo que haja
discordância.
O terapeuta desempenha um papel fundamental ao orientar os casais no
desenvolvimento dessas habilidades de comunicação. Isso envolve oferecer
orientações práticas, exemplos e exercícios que permitam aos parceiros praticar e
aprimorar suas habilidades de comunicação empática e validação. Com o tempo,
essas habilidades podem se tornar mais natural e integradas ao relacionamento,
promovendo uma comunicação mais saudável, respeitosa e colaborativa.

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