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Geração de energia elétrica

Aula 1: Conceitos fundamentais em energia hidráulica

Apresentação
Nesta aula, iniciaremos a abordagem sobre a energia hidráulica, conheceremos os estudos de viabilidade para
implantação de uma usina hidrelétrica. Conhecer sobre essa forma de geração de energia é importante, pois quase 80%
da eletricidade gerada no Brasil é proveniente se usinas hidrelétricas.

Como os impactos ambientais dessas usinas são expressivos, é fundamental estudar os locais onde os impactos sejam
menores.

Com o avanço da tecnologia, abordaremos outras formas de aproveitamento que têm se destacado pela redução dos
impactos socioambientais mantendo a viabilidade econômica para implementação de usinas hidrelétricas.
Objetivos
Conceituar energia hidrelétrica;

Explicar os estudos de viabilidade para implantar uma usina hidrelétrica.

Conceitos fundamentais
Segundo a Agência Internacional de Energia (International Energy Agency - IEA), podemos agrupar a matéria-prima que gera a
energia elétrica em larga escala, em quatro grupos:

Fóssil;

Nuclear;

Hídrica;

Renováveis não hídricas.

 Fonte de energia elétrica (Fonte: Shutterstock).

Comentário
A Agência Internacional de Energia (International Energy Agency - IEA) é conhecida como a fonte de maior autoridade para as
estatísticas globais de energia. A IEA divulga suas estatísticas em uma série de publicações anuais e trimestrais, bem como por
meio de serviços de dados eletrônicos.

 Figura Geração de energia por tipo de combustível empregado Fonte: IEA, 2018.

Como os combustíveis fósseis são limitados, vários países têm explorado a geração de energia através do uso de fontes
renováveis.

Dentre as renováveis, temos que atentar para a eficiência:

Uma turbina eólica consegue converter em energia elétrica 59,3% da energia cinética do vento (conhecido como máximo
de Betz);

Uma célula fotovoltaica pode chegar no máximo a 40% de eficiência;

Nas turbinas hídricas a eficiência pode chegar à 90%.

Neste capítulo será abordado a energia hidrelétrica, que é uma das melhores, mais baratas e limpas fontes de energia, levando-
se em consideração a construção das barragens e os diversos problemas sociais e ambientais envolvidos.

A hidroeletricidade

A energia hidrelétrica é gerada pelo aproveitamento do fluxo


das águas em uma usina, na qual as obras civis – que
envolvem tanto a construção quanto o desvio do rio e a
formação do reservatório – são tão ou mais importantes
que os equipamentos instalados.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL
(2008), o projeto mais antigo de usina hidrelétrica data do
ano de 1878 na Inglaterra e a primeira usina hidrelétrica do
mundo foi construída no Canadá junto às Cataratas do
Niágara na fronteira com os Estados Unidos em 1879. Até a
chegada das modernas turbinas hidráulicas atuais, ocorreu
um longo processo de desenvolvimento tecnológico.

 Fonte: ANEEL

"Em pouco mais de 100 anos, a potência instalada das


unidades aumentou significativamente – chegando a 14 mil
MW, como é o caso da binacional Itaipu, construída em
parceria por Brasil e Paraguai e hoje a maior hidrelétrica em
operação do mundo . "
- (ANEEL, 2008)

O princípio físico, básico, de funcionamento, geração e transmissão de energia elétrica não mudou. O que evoluiu foram as
tecnologias que permitem a obtenção de maior eficiência e confiabilidade do sistema.

De acordo com a ANEEL (2008), para produzir a energia hidrelétrica é necessário integrar a vazão do rio, a quantidade de água
disponível em determinado período e os desníveis do relevo, sejam eles naturais, como as quedas d’água, ou criados
artificialmente.

Estudos hidroenergéticos
Um bom conhecimento de hidrologia é fundamental para que haja maior aproveitamento dos recursos hídricos. Nos tópicos
abaixo, estudaremos alguns pontos importantes deste assunto.

Vazão de um curso d’água


A vazão de qualquer curso de água é igual a: Q = v . T Onde:

v é o volume de água em metros cúbicos considerando um trecho reto do curso de água;


t é o tempo (que é medido em segundos).

Calcular a vazão de um rio é fundamental, pois com esta informação podemos saber qual potência capaz de ser gerada ao
implementar uma geração hidráulica (este cálculo é feito para cada local onde é determinada a vazão).
 Usina Hidrelétrica (Fonte: Shutterstock).

Ao longo dos anos, a vazão é variável. Por isso, um histórico de vazões ao longo dos anos é importante para analisar a
viabilidade da instalação de uma usina, pois quanto maior o histórico de vazões, maior será a assertividade do estudo da
viabilidade.

O processo de obtenção da vazão inclui medir, no ponto escolhido do rio, além da vazão, o nível de água do rio. Em pequenos
cursos de água são utilizados para medição das vazões um dispositivo chamado de calha medidora. Já em grandes rios, essa
medição com instrumentos é praticamente inviável, então são realizados estudos de:

Vazão direta do rio;

Velocidade do rio (esta deve ser feita em vários pontos de uma mesma seção do rio)

De posse desses estudos, é feito uma integral para determinar a real vazão deste ponto do rio no período da tomada dos
dados.

 Figura: Curva – chave Fonte: Reis, 2011.

Fluviograma
Segundo Reis (2011), o fluviograma nos apresenta um gráfico, que possui um eixo com os valores da vazão do rio por ponto de
medição (lembrando que essas medições de vazão são tomadas na mesma seção reta do rio, como se, hipoteticamente,
tirássemos uma “fatia” do rio). O outro eixo do gráfico expressa a unidade de tempo, onde normalmente são utilizados um
período de 12 meses, fechando um ano de medições. Outras medidas de tempo podem ser praticadas, porém não são usuais.

 Figura: Fluviograma com valores de vazão e cota fluviométrica do rio Tibagi. Estação
fluviométrica de Jataizinho. Fonte: Researchgate

Vamos agora analisar a seguir questões relacionadas a capacidade de um reservatorio.

 Capacidade de um reservatório

 Clique no botão acima.

Como vimos nas definições anteriores, as medições de vazão são tomadas no período de um ano pela variação no
ciclo hidrológico, significando uma vazão variável no tempo. Se os estudos de viabilidade de uma geração hidrelétrica
não levarem em conta um armazenamento de água, aproveitando somente a vazão, a potência gerada deveria ser
calculada pela menor vazão anual.

As vazões durante o ano podem variar muito, então a potência gerada na menor vazão seria muito menor do que a
potência na maior vazão, tornando, provavelmente, qualquer projeto de implantação de usina inviável do ponto de vista
econômico.

Para tornar o projeto viável e aproveitar as diferenças de vazões, são construídas barragens com o intuito de
armazenar a água para que a geração seja mais constante ao longo do ano. O custo de construção de uma barragem
de uma usina é elevado (são da ordem de bilhões de reais), resultando em impactos ambientais que serão vistos mais
adiante. Por outro lado, as barragens permitem que utilizemos a água dos períodos de cheia dos rios, normalmente de
dezembro a maio, e nos períodos secos, normalmente de junho a novembro, utilizando toda a água do rio em um ano
em parcelas mensais, como numa média.

Além do aproveitamento hidrelétrico, a construção de reservatórios pode ter múltiplos fins:

Abastecimento urbano e agrícola;

Recreação e lazer;

Psicultura e aquicultura;

Navegação e outras.

Nos estudos de vazão, há um conceito de vazão regularizada, que é a vazão média liberada pela barragem em função
do total anual do acúmulo de água dividido pelos 12 meses. Desta forma, dizemos que o rio foi regularizado quanto à
vazão, atenuando cheias e reduzindo os impactos de secas.
Para a geração de energia elétrica, podem ser construídas várias usinas no mesmo rio, onde a água, após passar pela
turbina da primeira usina, é devolvida ao leito do rio e armazenada em uma próxima barragem, passando por outra
turbina e assim por diante, como é o caso do Rio São Francisco com as usinas:

Xingó;

Paulo Afonso I, II, II e IV;

Itaparica;

Sobradinho;

Moxotó;

Três Marias.

O aproveitamento pode ser realizado também dentro da mesma bacia, mas com rios diferentes, com seus sistemas
elétricos interligados, como as usinas de Queimado, no Rio Preto e a usina de Retira Baixo, no Rio Paraopeba, ambos
da mesma bacia do São Francisco.

As usinas podem ser construídas levando em conta duas situações de aproveitamento:

A fio d’água - não requer a construção de barragem, sendo instalados geradores que convertem a energia
cinética do movimento da água em energia elétrica diretamente, impulsionados somente pela vazão do rio. Em
algumas usinas a fio d’água são construídas pequenas barragens para auxiliar na produção de energia. Esses
aproveitamentos possuem impactos ambientais bem menores;

Com a construção de barragens - são as usinas tradicionais, armazenam a água no período de cheias para ter
uma reserva para períodos secos e manter a geração de energia mais constante ao longo do ano.

Quando o aproveitamento definido é o de barragens, é importante identificar qual será a capacidade do reservatório a
construir. Embora esse estudo seja muito complexo e envolva um corpo multidisciplinar pela quantidade de variáveis
envolvidas do ponto de vista técnico, social e ambiental, em tese, a capacidade do reservatório é dada pela máxima
altura em que se pode construir em função da geografia do local.

Esses estudos resultam em uma curva da área inundada e a altura máxima do nível do reservatório (uma maior área
inundada significa uma elevada altura do reservatório). Esse gráfico ajuda a determinar quais os impactos sociais e
ambientais causados pela água represada na barragem em função das várias alturas que pode ter em um ano,
estabelecendo uma cota máxima e mínima do nível de água. Essas cotas determinam o melhor projeto de turbinas.

 Figura: Curva de Capacidade x Altitude e Área x Altitude. Fonte:


Reis, 2011.
Nessa curva, podemos determinar a caudabilidade, que é a quantidade de água incrementada à barragem em um
tempo qualquer. Nos estudos de geração hidrelétricas, expressamos a caudabilidade em quilômetros cúbicos por ano
(km3/ano) ou em metros cúbicos por dia (m3/dia).

Atividades
1. O que é um fluviograma?

2. Quais os benefícios das barragens de acumulação d’água?

Vazão regularizada
O diagrama de Rippl (ou de massas) é um gráfico obtido pela soma acumulada do fluviograma para determinar qual será a
vazão regularizada do rio em função do maior valor de volume do reservatório.

 Figura Diagrama de Rippl. Fonte: Reis, 2011.


Segue outro exemplo de digrama de Rippl:

 Fonte://www.pliniotomaz .com.br/ downloads/livros/Livro_aprov ._aguadechuva/


Capitulo09.pdf

Traçamos o correspondente do diagrama de volumes disponíveis no reservatório ao longo do tempo

 Figura: Variação do volume e água disponível em um reservatório. Fonte: Reis, 2011.

O gráfico dessa figura apresenta o reservatório começando e terminando com o mesmo volume da água armazenado porque,
no tempo analisado, todo o volume de água que entra no reservatório é igual ao volume que sai (vazão regularizada total). A
diferença entre os volumes máximo e mínimo do gráfico é a capacidade de armazenamento que o reservatório deve ter para
operar corretamente.

Regularização parcial de um Produção de energia elétrica


A produção de energia elétrica depende da
vazão de água que acionará o gerador
elétrico, a qual recebe o nome de vazão
turbinável. O valor dessa vazão está
relacionado ao tipo de aproveitamento do
local de construção da usina (se for a fio
d'água ou com o reservatório), com sua
regularização e se o aproveitamento será
totalmente voltado à produção de energia
elétrica, que neste caso toda vazão
curso d’água

compare_arrows
regularizada poderá ser turbinada. Outros

Se pensarmos em uma capacidade de aproveitamentos que contemplem

armazenamento menor do que o volume agricultura e navegabilidade, por exemplo,

do reservatório calculado na análise o item podem reduzir a vazão turbinável.

anterior, provavelmente não seria possível


obter a mesma vazão regularizada por
todo o período determinado. No entanto,
teríamos menores custos de investimento
como, por exemplo, na construção da
barragem, que representa um custo
significativo para implementação da usina
hidrelétrica. Também teríamos menores
impactos ambientais já que área alagada
seria menor. Mesmo assim, podemos
obter, com volume menor, várias vazões
regularizadas com média igual à vazão
total.

Atividade
3. Como podemos obter a capacidade dos reservatórios?

4. Quais as utilizações de um reservatório de acumulação?

Referências
Notas

AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA. IEA. Key World Energy Statistics 2018. Disponível em: https://webstore.iea.org/ key-
world- energy-statistics-2018. Acesso em: 18 jul. 2019.

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília, 2008. Disponível em:
//www2.aneel.gov.br/ arquivos/PDF /atlas3ed.pdf. Acesso em: 18 jul. 2019.

PINTO, M. O. Energia elétrica: geração, transmissão e sistemas interligados 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014.

REIS, L. B. Geração de energia elétrica. 2. ed. São Paulo: Manole, 2011.

Próxima aula

Componentes de uma usina hidrelétrica;


Tipos de usinas hidrelétricas 2;

Tipos de turbina.

Explore mais

Leia sobre um recente estudo de viabilidade de uma usina, publicado pelo Ministério de Minas e Energia:

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