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Geração de energia elétrica

Aula 2: As usinas hidrelétricas

Apresentação
Abordaremos os tipos de usinas, as partes principais de uma usina hidrelétrica e o dimensionamento da potência gerada.

Ilustraremos os cálculos da potência instalada de uma usina, apontando que são efetuados por meio de estudos
hidroenergéticos. Além disso, identificaremos como a energia hidráulica é convertida em energia mecânica por meio de
uma turbina hidráulica, e em energia elétrica por meio de um gerador.
Objetivos
Classificar os tipos de usinas hidrelétricas;

Descrever as partes de uma usina hidrelétrica.

Determinar a potência gerada por uma turbina hidrelétrica.

Conhecendo melhor uma usina hidrelétrica

Nesta aula, conheceremos os tipos, a classificação, os


desafios de implementação e operação e como dimensionar
a potência de uma usina.

Tipos de usinas hidrelétricas


As usinas hidrelétricas são classificadas conforme:

Uso das vazões naturais;

Potência;

Altura de queda;

Captação de água;

Função no sistema quanto ao uso das vazões naturais.

Para esse último item, existem centrais a fio d'água, centrais de acumulação e centrais com armazenamento por
bombeamento ou com reversão (centrais reversíveis).

 Função no sistema

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Quanto às vazões
Usinas a fio d’água - algumas usinas hidroelétricas são chamadas a fio d’água, ou seja, próximas à superfície, e
utilizam turbinas que aproveitam a vazão e a velocidade do rio para gerar energia. Essas usinas reduzem as áreas de
alagamento por formarem reservatórios pequenos ou não formarem reservatórios. A ausência de reservatório diminui
a capacidade de armazenamento de água e, consequentemente, a capacidade de geração nos períodos de escassez
de chuva.

Comentário

A usina de Itaipu binacional, Brasil - Paraguai com capacidade instalada de 14.000 MW opera a fio d'água.

Usina com reservatório - este tipo de usina possui reservatório capaz de acumular água dos períodos de cheia para os
períodos de estiagem. Deve dispor de vazão mínima natural para isso.

Usina reversível - utilizada a fim de gerar energia para atender os períodos de maior demanda do sistema. Durante as
horas de menor demanda, a água é bombeada, no canal de fuga (canal de saída de água da usina) para um
reservatório à montante da usina para novamente ser utilizada para geração. Embora essa operação apresente perdas,
é utilizada para prover potência suplementar nas horas de maior demanda.

Quanto à potência
Quanto à potência gerada (P), as usinas são classificadas em:

TIPO POTÊNCIA (P)

Micro P ≤ 100kW

Mini 100 < P ≤ 1.000kW

Pequenas 1.000 < P ≤ 30.000kW

Médias 10.000 < P ≤ 100.000kW

Grandes 100.000 > P

As pequenas centrais hidrelétricas (PCH) têm sido incentivadas pelo governo através da ANEEL e possuem tratamento
diferenciado para obtenção da licença ambiental, que possui requisitos mais simples. A mini usina deve apenas
comunicar à ANEEL e a micro não deve cumprir nenhum requisito com a ANEEL.
Quanto à altura de queda,
São classificadas em:

TIPO ALTURA DE QUEDA

Baixíssima H < 10m

Baixa 10 < H < 50m

Pequenas 1.000 < P ≤ 30.000kW

Média 50 < H < 250m

Alta H > 250m

Quanto à forma de captação, são classificadas em:

Desvio;

Derivação;

Leito do rio;

Barramento;

Represamento.

Quanto à função no sistema, são classificadas em:

Operação na base (da curva de carga);

Operação flutuante;

Operação na ponta (da curva de carga).

Atividades
1. Quanto à altura de queda, as usinas são classificadas em:

2. Quanto a potência gerada as usinas são classificadas em:

3. Quais são os tipos de turbina utilizados nas usinas hidrelétricas?


4. Qual é a turbina utilizada em pequenas centrais hidrelétricas -PCH a fio d’água?

Operação de uma usina hidrelétrica


As características de operação de uma usina hidrelétrica são importantes, pois servem de base para o planejamento da geração e
da expansão do sistema integrado nacional.

A operação de uma usina hidrelétrica pode ser limitada pelo múltiplo uso da água como: Navegação, irrigação, suprimento no
abastecimento de água e recreação. Normalmente, nesses casos, é necessário que o reservatório tenha um volume mínimo, porém
maior do que a cota mínima do reservatório, que não poderá ser convertido em energia elétrica para garantir o fornecimento de
água para os demais consumidores.

As hidrelétricas apresentam incertezas no fornecimento de energia pelo fato das vazões dos rios serem aleatórias e dependerem
de chuvas, que são incertas quanto à previsão futura.

Como não é possível prever a quantidade de chuva que ocorrerá nos próximos meses e anos, nos sistemas de potência onde as
hidrelétricas têm papel importante, esses efeitos aleatórios devem ser estudados com cuidado. Esse estudo baseia-se nas médias
existentes na tentativa de prever a quantidade de chuva futura.

Como forma de melhorar a contribuição das centrais hidrelétricas no sistema de potência podemos citar:

1 2

Aumentar a potência instalada das usinas existentes. Aumentar a produção total de energia com o aumento da
capacidade do reservatório pela ambientação da altura das
barragens.

Construir novas centrais hidrelétricas, possibilitando a


expansão da potência gerada que será interligada ao sistema
integrado nacional.

Para construção e operação de mais de uma central hidrelétrica no mesmo rio, é necessário um planejamento cuidadoso dos
recursos hídricos da bacia hidrográfica, o qual inclui principalmente o melhor local de instalação de forma a conseguir a maior
quantidade de energia elétrica possível.

No caso da construção de mais de uma Esse planejamento da operação leva em


usina hidrelétrica no mesmo rio, devem conta que as centrais hidrelétricas à
ser avaliadas as divisões de quedas no montante aumentam a energia das
aproveitamento. Na operação, é preciso centrais elétricas à jusante, pois as
examinar as vazões turbinadas de forma primeiras aumentam o nível de água dos

compare_arrows
que a operação em cascata seja reservatórios das centrais que estão à sua
otimizada. frente. Tratando-se de usinas hidrelétricas
(UHE), podemos ter:

Grandes usinas hidrelétricas;

Médias usinas hidrelétricas;

Pequenas centrais elétricas (PCH).

Os problemas de implantação das usinas são interdisciplinares e estão relacionados a várias cadeiras da Ciência.

Como as pequenas centrais hidrelétricas são de menor porte, sua vantagem


é a maior simplicidade no projeto, pois a obtenção de licenças de operação é
mais fácil e mais simples na montagem e na operação regular para geração
de energia elétrica.

 Componentes de uma usina hidrelétrica

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Barragem
Segundo Pinto (2014), a barragem, também chamada de represa, é uma barreira de concreto ou pedra com finalidade
de armazenar água. Seu arranjo depende da topografia do local de instalação e das condições da fundação. Boa parte
do custo da hidrelétrica é para a construção da barragem, que representa uma obra de elevado grau de complexidade.

A escolha do melhor tipo de barragem para uma determinada seção é problema tanto de viabilidade técnica quanto de
custo. A solução técnica depende do relevo, da geologia e do clima. O custo depende dos vários tipos de barragens e
principalmente da disponibilidade de materiais de construção próximos da obra e da acessibilidade de transportes. Há
diferentes tipos de barragens:

De gravidade;

Em arco;

De gravidade em arco.

A avaliação e escolha são efetuadas através de considerações técnicas e econômicas de responsabilidade da


engenharia civil.
 Figura: Barragem da Usina de Itaipu (Furnas)- tipo gravidade | Fonte: Furnas

 Figura: Lago da usina Fontes Novas em Piraí – RJ | Fonte: Acervo  Figura: Barragem da usina Fontes Novas em Piraí – RJ | Fonte: Acervo
próprio próprio

De acordo com a ANEEL (2008), os sistemas de captação e adução são formados por túneis, canais ou condutos
metálicos que têm a função de levar a água até a casa de força. É nesta instalação que estão as turbinas, formadas
por uma série de pás ligadas a um eixo conectado ao gerador.

Um problema associado aos condutos forçados é a perda de carga, que pode ser refletida com a diminuição na queda
útil de água devido a fenômenos de escoamento da água, tais como atrito, características do encanamento e outras. A
determinação dessa perda é parte importante do projeto e depende largamente do material utilizado na tubulação
(aço, concreto, ferro fundido, cimento e outros).

Sendo assim, a altura de perdas no conduto forçado (Hp) indica o valor de redução em metros da altura real de queda,
equivalente às perdas do sistema de adução, e podem ser calculadas desta forma:

1.95
Q
−4.87.L
H p = 10. 643. ( ) .D
λ

Casa de força
A casa de força é o local onde ficam instaladas as turbinas da usina hidrelétrica e demais equipamentos de controle da
geração. Durante o seu movimento giratório, as turbinas convertem a energia cinética (do movimento da água) em
energia elétrica por meio dos geradores que produzirão a eletricidade. Depois de passar pela turbina, a água é
restituída ao leito natural do rio pelo canal de fuga.
 Figura: Casa de força usina Anna Maria em Juiz de Fora – MG | Fonte:  Figura: Gerador Usina Anna Maria em Juiz de Fora – MG | Fonte:
Acervo próprio Acervo próprio

 Figura: Placa do Gerador da usina Anna Maria em Juiz de Fora – MG |  Figura: Gerador da usina Fontes Novas em Piraí – RJ | Fonte: Acervo
Fonte: Acervo próprio próprio

Segundo Pinto (2014), a potência de uma turbina é dada por:

P = ρ. Q. H. g. η

Sendo:
P = potência gerada em kW
ρ= densidade da água em kg/m³
Q= vazão (m³/s)
H= altura de queda (m) (altura bruta)
η= rendimento total do sistema em (%)
O rendimento “η total” do pode ser dado por:

√P
Ns = N.
5
/
H 4

Onde:
N= número de rotações por minuto em RPM
P= potência em kW
H= altura de queda d’água em metros
 Figura: Barragem da Usina de Itaipu (Furnas)- tipo gravidade | Fonte: Furnas

Exemplo Uma usina hidrelétrica possui nível de água no reservatório à montante na cota de 800 metros e o nível à
jusante na cota de 660 metros. A vazão de água é de 60m³/s, o rendimento da turbina é 0,92% e do gerador 0,94%. A
adução possui encanamento de aço soldado com λ=115, diâmetro de 4,5 metros e comprimento de 1000 metros
Assuma que a densidade da água é igual a 1 (1000kg/m³). Determine:

1. A potência bruta e a potência disponível;

2. A potência no eixo e a potência elétrica;

3. O rendimento total.

Solução
A potência bruta é dada por:

H = 800 − 660 = 140 metros

Com a vazão 60m³/s


Temos que as perdas nos condutos é:

1,85
Q
−4,87
H p = 10, 643. ( ) . D .L
λ

1,85
60 −4,87
H p = 10, 643. ( ) . 4, 5 . 1000 = 2, 1
115

Considerando a potência bruta, temos o rendimento = 1

P = p. Q. H . g. n

kg 3
m m
P = 1000 . 60 . 140m. 9, 81 . 1 = 82. 404kw
m
3 s 2
s

kg 3

Para a potência disponível: P = 1000


3
. 60
m

s
. (140 − 2, 1)m. 9, 81
m
2
. 1 = 81. 168kw
m s

Potência do eixo = Peixo = P disponível . ηt= 81168. 0,92= 74.675kW

Potência elétrica = Pel = Peixo . ηg= 74675 . 0,94= 70.195Kw

Rendimentos
140−2,1
No sistema de admissão: n =
140
= 0, 985
é
P ot. el trica
Do sistema total: nT otal = 0, 985. 0, 92. 0, 94 =
70195
= 0, 852
P ot.bruta 82404

Tipos de turbinas
Os principais tipos de turbinas hidráulicas são: Pelton, Kaplan, Francis e Bulbo. Cada turbina é adaptada para funcionar em
usinas com determinadas faixas de altura de queda e vazão.
Turbina Pelton Turbina Francis Turbina Kaplan
A turbina Pelton é considerada uma As turbinas Francis 1 e Kaplan são É semelhante à turbina Francis,
das mais eficientes turbinas chamadas de turbinas de reação, porém o rotor foi reduzido a um
hidráulicas, fabricada até 200MW pois o trabalho mecânico é obtido núcleo com poucas pás (de duas a
de potência. É indicada para altas por meio da transformação das seis) em formato de hélice, que
quedas d’água (de 250 a 2500 energias cinéticas e de pressão do giram sobre si mesmas mudando
metros). A velocidade do jato de fluxo d’água no rotor da turbina. São os ângulos de entrada e saída e
água na saída do bocal dessa utilizadas para baixas e médias consequentemente as velocidades
turbina pode ir de 150 a 180 m/s. quedas de água. (quando as pás são fixas, a turbina
é do tipo hélice). São adequadas
para baixas quedas (de 30 a 250
metros) com potência geralmente
entre 30 e 250MW.

Turbina bulbo
As turbinas tipo bulbo são próprias
para usinas a fio d’água ou locais
com baixas quedas (de até 30
metros).
Atividade
5. Assinale a alternativa correta sobre as usinas hidrelétricas e os recursos hídricos.

a) A água não tem sido considerada mais um recurso renovável já que as mudanças climáticas têm causado um volume menor de chuvas
todos os anos.
b) As usinas a fio d’água aproveitam a velocidade e a vazão do rio para geração de energia elétrica.
c) Todas as usinas hidroelétricas possuem vertedouro, cuja função é permitir que as populações mais à frente da usina tenham água
suficiente para seu consumo.
d) As usinas hidroelétricas que possuem reservatório podem ou não ter conduto forçado, dependendo do tipo de turbina utilizado para a
geração de energia.
e) As principais turbinas utilizadas para a geração de hidroeletricidade são a ABB, Siemens, Weg e Westinghouse.

Notas

turbinas Francis 1

A turbina Francis é caracterizada por ter o escoamento d’água no seu interior perpendicular ao eixo da máquina. O fluxo d’água
é conduzido ao interior da turbina por um tubo espiral aliado a um conjunto de palhetas estáticas, forçando o escoamento a ser
radial em relação ao motor. São melhor empregadas em quedas de 40 a 400 metros e sua potência pode variar de 10 a
750MW. É utilizada em diversas usinas nacionais e na usina de Três Gargantas na China.

Referências

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília, 2008. Disponível em:
//www2.aneel.gov.br/arquivos/PDF/atlas3ed.pdf. Acesso em: 18 jul. 2019.

PINTO, M. O. Energia elétrica: geração, transmissão e sistemas interligados 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014.

REIS, L. B. Geração de energia elétrica. 2. ed. São Paulo: Manole, 2011.

Próxima aula

Geração termelétrica e seus fundamentos;

Suprimentos para termelétricas;

Caldeiras para geração de energia.

Explore mais
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