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Entenda como é feita a coleta de dados da Covid-19 em todo o país

Quando as informações de um paciente são digitadas no SIVEP-Gripe e no e-SUS-VE, significa que o caso
já pode ser visto e contabilizado pelo Ministério da Saúde. Mas nem toda unidade de saúde consegue ter
a mesma agilidade para inserir as informações nesses sistemas.

Os números que o Ministério da Saúde divulga diariamente vêm de unidades de saúde de todo o país - e
muitas vezes percorrem um caminho longo até se tornarem conhecidos.

Em todos os cantos do Brasil, estão as pontas de uma rede que leva os números da Covid-19 até Brasília.
Cada serviço de saúde, público ou privado, de cada cidade do país tem a obrigação de avisar, no prazo de
24 horas, sempre que há um caso ou uma morte com suspeita ou confirmação da doença. Esse prazo
nem sempre é cumprido, até pelo volume de trabalho dos profissionais de saúde.

Quando o paciente tem um quadro leve, a chamada "síndrome gripal", a ficha dele deve ser preenchida
num sistema na internet chamado e-SUS-VE, que foi criado por causa da pandemia. Quando o caso é
mais sério e o paciente tem dificuldade para respirar, tem que ser registrado num outro sistema: o SIVEP-
Gripe.

“O SIVEP-Gripe é um sistema de vigilância que foi criado na época da pandemia do H1N1. Ele tem uma
vigilância de síndrome respiratória aguda grave, que são quadros gripais que evoluem para insuficiência
respiratória. São as pessoas que precisam internar, precisam de oxigênio, precisam ir para a UTI. Esse
sistema acabou servindo para vigiar também a Covid-19”, explica Eder Gatti, infectologista.

Pelas regras do Ministério da Saúde, também é no SIVEP-Gripe que devem ser registradas as mortes por
Covid-19. Quando as informações de um paciente são digitadas no SIVEP-Gripe e no e-SUS-VE, significa
que o caso já pode ser visto e contabilizado pelo Ministério da Saúde.

“Essas informações vão para uma base de dados eletrônica. Enfim, ela fica disponível numa nuvem de
dados que tanto os municípios quando os estados e o governo federal têm acesso à mesma base de
dados”, destaca Eder Gatti.

Mas nem toda unidade de saúde consegue ter a mesma agilidade para inserir as informações nesses
sistemas.

Guarulhos tem mais de um milhão de habitantes. É a segunda cidade mais populosa do estado de São
Paulo. Na região, várias unidades de pronto-atendimento não conseguiram ter acesso à base de dados
do Ministério da Saúde. A prefeitura afirma que, até hoje, não recebeu as senhas para entrar no sistema.

A prefeitura diz que não houve prejuízo. Oito unidades de saúde de Guarulhos estão sem o acesso.
Nelas, em vez de inserir os dados dos pacientes na internet, os profissionais de saúde preenchem uma
ficha de papel e a mandam por e-mail a um departamento da prefeitura, que digita tudo de novo no
sistema na internet.

Ainda na Grande São Paulo, no pronto-socorro de Diadema, os profissionais de saúde também


preenchem fichas de papel e levam, a pé, cada papel até o Departamento de Vigilância em Saúde, que
fica ao lado. Em uma sala, outros profissionais passam as informações para as bases de dados na
internet.

“Esta sala aqui é uma sala de um setor chamado de epidemiologia e controle de doenças”, explica um
funcionário.

Outros hospitais de Diadema mandam as fichas por e-mail. A prefeitura afirma que concentrar a
digitação em um escritório poupa médicos e enfermeiros de ter que ficar atualizando a ficha de cada
paciente durante a internação.

Em outra cidade da Grande São Paulo, Ribeirão Pires, os profissionais de saúde também usam caneta e
papel. A enfermeira Patrícia digita todas as informações anotadas no papel.

“Se está faltando algum campo de informação, a gente solicita para a unidade de saúde que preencheu a
mesma, para ter completude dos dados: data, data de nascimento, nome completo da mãe, sinais e
sintomas. A ficha tem que estar completinha para a gente poder inserir no sistema de informação”, conta
Patrícia Bezerra da Silva, enfermeira da Vigilância em Saúde de Ribeirão Pires.

O Ministério da Saúde divulga apenas casos e mortes em que a Covid-19 foi confirmada por testes. Mas,
como o Brasil testa muito pouco, médicos e pesquisadores afirmam que o número de pessoas infectadas
é muito maior.

“É importante também olhar para os casos ou que não estão confirmados, os suspeitos que ainda
precisam ser confirmados, e aqueles que você não sabe exatamente qual é a causa. Porque é muito
provável que uma parcela desses seja Covid; e o que a gente está vendo, quer dizer, o que o ministério
está divulgando, são apenas aqueles que são confirmados laboratorialmente”, explica Márcia Castro,
professora da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

O Centro de Vigilância Epidemiológica do estado afirmou que aguarda, desde abril, o aval da prefeitura
de Guarulhos para habilitar os profissionais autorizados de duas unidades para acessar as informações
sobre casos e óbitos; e que outras seis já estão aptas a ter o acesso.

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/06/26/entenda-como-e-feita-a-coleta-de-dados-da-
covid-19-em-todo-o-pais.ghtml

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