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A Protegida do CEO

A PROTEGIDA DO CEO

JOSIANE VEIGA

1ª Edição

2021
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Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação. Qualquer semelhança
com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser considerado mera coincidência.

Título:

A PROTEGIDA DO CEO

Romance

ISBN – 9798707695704

Texto Copyright © 2021 por Josiane Biancon da Veiga


Sinopse:

***** ATENÇÃO: NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS *****

Eu não sou a pessoa ideal para ver um crime. Ainda mais que não sei identificar sequer o carro usado no assassinato.
Era preto e não era um fusca, serve?

De nada adiantou para os assassinos, que agora queria me matar para destruir a única testemunha. Eu estava tão
ferrada...

Até meu chefe, Vicente, decidir me proteger. E o que era para ser minha salvação, tornou-se minha perdição.
Sumário
Sinopse:
Capítulo 1
Jenifer
Capítulo 2
Vicente
Capítulo 3
Jenifer
Capítulo 4
Vicente
Capítulo 5
Jenifer
Capítulo 6
Vicente
Capítulo 7
Jenifer
Capítulo 8
Vicente
Capítulo 9
Jenifer
Capítulo 10
Vicente
Capítulo 11
Jenifer
Capítulo 12
Vicente
Capítulo 13
Jenifer
Capítulo 14
Vicente
Capítulo 15
Jenifer
Capítulo 16
Vicente
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Capítulo 1
Jenifer

Meu nome é Jenifer. Sem dois Fs, sem dois Ns, bem simplinho mesmo. Jenifer. Como da
música “O nome dela é Jenifer”, música tal que me aterroriza até hoje porque me fez ser a piada do
escritório durante um mês.

Um cachorro de rua cruzou por mim entre a igreja Deus é Amor e a Rodoviária. Eram seis
horas da tarde mas o sol já havia desaparecido desde as cinco naquela Porto Alegre típica de outono.
Eu sabia que o vento gelado e molhado contra meu rosto não indicava chuva e sim que a noite seria
longa e fria.
Meu nome é Jenifer. Da Silva. Assim, sem nada adicional. O sobrenome da minha mãe. Meu
pai, não conhecia. Minha mãe engravidou com quinze anos e me deu para minha avó. Caiu no mundo,
depois disso. Vivi com minha avó até os dezesseis, quando o câncer a levou. E então fui para o
mundo também.

O cachorro abanou a cauda e eu não resisti em fazer um cafuné.

— Não posso ficar aqui te mimando porque meu chefe precisa de mim para um encontro
noturno com futuros investidores — disse ao cachorrinho, puxando o resto de um sanduíche da bolsa
e dando para ele abocanhar .

Aos dezesseis eu fui para o mundo. Mas, não exatamente o mundo que todos imaginam.
Sozinha, eu fiquei numa pensão estudantil no centro da capital, terminei meu ensino médio, arrumei
um trabalho de meio período para custear meus gastos, fiz um curso de secretariado, e então me
joguei no mercado de trabalho.

Dei sorte, claro.

Meu melhor amigo se tornou meu chefe.

Bom, não sei exatamente se ainda posso chamá-lo de melhor amigo. É profissional chamar seu
chefe de amigo?

Vicente e eu estudamos juntos no ensino médio, e enquanto ele foi cursar administração, eu fiz
curso de secretariado. Acabou que ele é CEO de segurança de sistemas na empresa onde fui tentar
trabalho.

Durante a entrevista, quando o reconheci, fiquei muito animada, mas a forma fria como ele
lidou comigo baixou meu ânimo.

Achei que não seria admitida, mas fui.

Me tornei sua secretária e amava a função, porque havia momentos em que Vicente parecia
ainda meu amigo querido que dividia o lanche comigo e que me fazia companhia na biblioteca.

Porém, na maioria das vezes ele era distante, quase alheio a minha presença.

Talvez seja porque nossa função é muito diferente. De qualquer forma, sou grata a ele pelo
trabalho porque com isso pude alugar um apartamento, consigo pagar minhas contas, e ainda consigo
guardar um pouco para uma emergência.
O cachorro passou por mim e eu segui caminhando em direção à rodoviária.

Eu havia vindo a essa região da cidade para comprar umas roupas usadas que uma moça estava
vendendo no Facebook. Eu tinha duas horas de folga para vir buscar as roupas e voltar ao escritório
perto do parque Moinhos de Vento. Para não me atrasar, estava indo até o ponto de táxi.

A luz do poste de iluminação estava apagada. Enquanto me aproximava, percebi que alguém
havia quebrado a lâmpada. Era sempre assim, os vândalos. A vida deles era tão quebrada que eles
queriam fazer o mesmo com tudo ao seu redor.

Suspirei, apressando o passo porque não me sentia segura naquela escuridão, naquele local.
Não que eu não soubesse me virar, mas... enfim...

De repente, um carro em alta velocidade passou por mim. Ele andou cerca de dez metros e
freou, os pneus cantando.

Foi naquele instante breve que minha vida mudou. Assim, de repente. Não que fosse surpresa,
porque dizem que as coisas que vão nos marcar acontecem sem que possamos prever.

Meu coração gelou e minhas pernas travaram. Os segundos que levaram para os homens
abrirem a porta do automóvel e saírem não foram o suficiente para me fazerem correr.

É isso. Eu simplesmente paraliso diante de algumas situações.

Foi tudo muito rápido depois.

Pam. Pam. Pam.

Três tiros disparados pelos dois homens que saíram na direção de outro cara parado na
esquina, a quem mal havia reparado enquanto caminhava por ali.

Os caras entraram no carro, enquanto eu me agachava embaixo do poste sem luz, quase até o
chão, completamente horrorizada pelo que acabei de ver.

Alguém havia assassinado um homem. Há poucos metros de mim. Três tiros. E eu era a única
testemunha.
Capítulo 2
Vicente

— Que porra está acontecendo aqui?


— É a Jenifer. Ela está na televisão — Suzana me contou enquanto eu me aproximava da área
comum do escritório.
Meu telefone começou a tocar, mas eu ignorei.
Quase todos os membros do escritório que precisavam estar ali naquela noite, estavam
rodeando a televisão. Eu levantei a minha fronte mudando o foco da tela do celular para a tela do
enorme televisor, onde um jornalista alto enfiava um microfone quase na cara de Jenifer, que
lacrimejava sem parar.
— Como se chama?
— Jenifer da Silva.
— E então, Jenifer, o que aconteceu? — o homem inquiriu.
— Então... assim... dois homens saíram de um automóvel preto...
— Qual automóvel, deu para identificar?
— Era um automóvel preto... alto...
— O automóvel preto era alto?
— O homem era alto. O automóvel eu não sei exatamente...
Meu Deus do céu.
A mais improvável das criaturas havia sido testemunha de um crime? Jenifer não era capaz de
saber a diferença de um fusca e uma Brasília, ela seria a pessoa mais inútil para uma investigação.
— O que aconteceu depois?
— Então eles dispararam, foi muito horrível, meu Deus... Eles mataram aquele homem.
— Você viu os rostos?
Diga não!
— Eu vi!
PUTA QUE PARIU! Pelo menos ninguém sabe onde ela mora.
— O que fazia nesse lado da cidade, Jenifer?
— Estava comprando umas roupas... Estava quase voltando para o escritório em que trabalho,
que fica perto do Parque.
— Ah, então você não mora por aqui?
— Não, eu moro lá no Rubem Berta...
Gemi.
Sério, a vida era boa - a vida era muito boa. Meu problema – único problema - tinha nome e
sobrenome: Jenifer da Silva. E eu nem sei explicar porque a tinha perto de mim quando tudo nela era
confuso e distorcido.
Para começar, Jenifer era a criatura mais infantil do universo. Ela ainda assistia a desenhos
animados japoneses, com vinte e poucos anos! Ainda lia gibis. Ainda sonhava em se casar com
algum cantor de boyband. Ainda colecionava fotos de atores de filmes.
Era como se ela não houvesse crescido, a eterna adolescente que se enfiava na biblioteca para
ler sobre mitologia grega porque amava os cavaleiros do zodíaco.
Olhei meu relógio sabendo que o cliente chegaria em breve. Me afastei da televisão, dubio
entre esperar o cliente ou ir buscá-la na delegacia.
Droga! Ela não era minha responsabilidade!
Mas, era minha amiga...
Bom, amizade foi tudo que existiu entre nós. Claro, ela foi minha paixonite da adolescência e
eu vivia cercando-a na escola mesmo sabendo que não tinha nenhuma chance. Quando a avó dela
faleceu e ela foi transferida de colégio – estudávamos num particular, e então ela foi para um público
– imaginei que jamais a veria novamente. Contudo, anos depois ela surgiu buscando emprego na
empresa que eu chefiava.
Era perfeito. Já éramos adultos e eu ainda sentia o coração balançar por ela.
Bastou duas horas para eu perceber que ela não havia mudado nada.
Então, decidi seguir em frente.
Sou o tipo de cara sortudo, com biótipo que chama a atenção das mulheres. Alto, cabelos
escuros, olhos negros, pele clara, faço academia, tenho uma rotina legal com alimentação, tenho um
ótimo emprego, um carro do ano, um apartamento bonito... Enfim, sou o tipo de cara que as mulheres
realmente querem.
E eu tive muitos namoros. Curtos, mas muito satisfatórios.
Porto Alegre é um antro de mulheres bonitas procurando se tornar celebridades, sonhando em
serem modelos na Europa. Namorar um cara rico só as ajudava.
Admito que as vezes levava alguma para o escritório, acreditando que podia despertar
qualquer ciúme em Jenifer. Como eu era idiota, meu Deus! Ela ficava mais animada do que eu sobre
seu melhor amigo estar em relacionamentos.
Era assim que ela me via... como seu melhor amigo...
Então, tentei afastá-la. Às vezes era grosso com ela. Mas, quando voltava a falar normalmente,
ela agia como se tudo estivesse bem.
— Suzana — chamei a atenção da recepcionista. — Ligue para o nosso cliente e reagende a
reunião. Explique o que aconteceu a uma das nossas colaboradoras e que eu terei que me ausentar
para auxiliá-la.
Suzana assentiu.
— Tadinha da Jenifer... Ela deve estar tendo um colapso nervoso.
Eu estava tendo um colapso nervoso!
Provavelmente aquela morte foi por causa do tráfico. Vingança. E Jenifer não tinha nada a ver
com isso, não fosse ela ter aberto a boca em rede nacional e ter dito ter visto os homens. Agora só
Deus sabia o que aconteceria a Jenifer.
Meu telefone tocou novamente. Dessa vez o peguei.
— Pai?
Meu pai tinha uma propriedade rural no noroeste do Rio Grande do Sul. Ele criava gado e
cavalos de raça para torneios. Meu irmão mais velho, que comandava o lugar, estava sofrendo de
uma severa depressão depois que a filha menor faleceu de câncer e a esposa o deixou. Meu pai
estava insistindo para que eu fosse passar um tempo com eles, até as coisas se normalizarem.
— Você falou com o RH da sua empresa? Não tira férias há três anos, Vicente!
Contive um gemido. Meu pai era um homem muito bom, que me criou com severidade, mas
princípios. Minha mãe era uma mulher gentil, meu irmão um cara decente... Eu sabia que minha
família precisava de mim. Mas, estava na melhor fase na empresa e não queria sair.
Porém, existe dois pesos e duas medidas. O trabalho era importante e eu jamais o deixaria, não
fosse pela minha família.
— Eu vou falar com eles, pai...
— Vicente — o tom da voz dele pareceu acanhar. — Vicente, eu temo que seu irmão cometa
uma loucura... Você entende? Eu preciso de ajuda, aqui. Sua mãe chora dia e noite por causa de
Lucy... ela vai ao cemitério levar flores todos os dias. Mas, ela está tentando ser forte... eu também
estou tentando ser forte, mas somos velhos, filho. Eu não queria estar atrapalhando a sua vida...
— O senhor não está, pai...
— Eu não pediria se não fosse importante, Vicente. Um mês ou dois... no máximo...
— Sim...
— Sua mãe e seu irmão irão me acompanhar a Porto Alegre. Queremos ir ver a compra de um
trator novo. Vamos jantar juntos?
Eu não estava familiarizado com uma delegacia de polícia. Nunca tive nenhum motivo para
colocar os pés em uma. Até hoje.
Entrei no ambiente, procurando por Jenifer. Uma pequena figura familiar de cabelos escuros
apareceu no corredor. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e seus olhos brilharam em um
verde esmeralda enquanto ela me dava seu melhor sorriso.
— Jenifer!
— Oh, Deus... Vicente, foi tão horrível — ela avançou contra mim e se jogou nos meus braços.
— Foi tipo, três tiros fortes, e o homem fez um “ai” e “plot”, caiu no chão como um saco vazio. Eu
nunca havia visto alguém morrer antes.
— O que disse a polícia? — questionei.
— Nada — o policial surgiu atrás dela. — Você é?
— Vicente — ela me apresentou. — Meu melhor amigo. E meu chefe.
O policial estendeu a mão num cumprimento que aceitei prontamente.
— A senhora foi incapaz de descrever os assassinos.
— Eu os vi, mas não sei explicar formato do nariz, dos olhos, da boca...
— Nem a altura, nem o peso... — o policial completou. — O carro também... ela só sabe que é
preto.
— Não há câmeras de vigilância naquela área? — questionei.
— Muitas. Mas, é a região mais movimentada da cidade e na rua que dá saída, naquela hora,
cruzaram mais de duzentos carros pretos. Vamos investigar.
Volvi para Jenifer, seu sorriso vacilando quase imperceptivelmente.
— Bom, ela está dispensada?
— Ela disse no programa policial da tarde que viu os assassinos, tememos por sua segurança
— o policial apontou. — Essa gente não gosta de deixar testemunhas.
Eu balancei minha cabeça.
— Tudo bem, eu cuido dela.
Jenifer sorriu novamente, me fazendo notar a covinha em sua bochecha. As vezes ela era
adorável.
— Está bem então. Só me avise se precisar de alguma coisa, certo? — O policial então se
distanciou.
Peguei na mão de Jenifer e comecei a puxá-la para sairmos da delegacia.
— Você acha que eu corro perigo, Vicente?
— Você sabe que minha família possui uma fazenda. Eu acho que seria bom você passar um
tempo lá até as coisas se acalmarem. — Me virei para ela. — Por que contou na TV que viu os
caras?
— Eu estava nervosa e ele começou a me fazer um monte de perguntas...
— Você disse até onde morava...
— Eu estava nervosa! — insistiu.
Eu queria recriminá-la pela idiotice. Num país de leis relapsas como o nosso, a gente não vê,
não ouve, não se envolve. Contudo, agora só desejava sabê-la bem. Olhar para ela e afastar aquelas
lágrimas dos seus olhos.
Jenifer deu uma risadinha, o que me fez ficar instantaneamente duro como uma rocha com o
som. Céus, fazia tempo que eu não transava...
— Do que você está rindo?
— Eu estou tão ferrada...
Apertei seus dedos na minha mão. O vento gelado nos tocou na área externa da delegacia, e eu
apontei meu carro na esquina.
— Não está, não... Esses caras eliminam seus mulas e seus drogados como quem troca de
camisa... Logo eles vão esquecer de você...
Ela me puxou levemente, me fazendo observá-la novamente.
Seus lábios eram carnudos e, pela primeira vez na vida, eu trocaria tudo que tenho, que sou,
por alguma coisa real entre nós. Deus, como eu queria beijar aquelas bochechas adoráveis ​e aquela
boca suculenta.
— Obrigada, Vicente...
Ela se aproximou e me abraçou, afundando o rosto no meu peito. O cheiro do cabelo dela me
tocou.
Céus, parecia tão sedoso... tão exuberante... tão sedutor... Eu queria puxar suas madeiras,
deixar a mostra seu pescoço esguio e morder sua pele.
Caminhei pesadamente para a minha caminhonete, abrindo o lado do passageiro para ela.
Depois que ela se acomodou, fui para o meu lado, entrei. Liguei o motor e inclinei minha cabeça para
trás contra o encosto de cabeça.
Em todos os anos desde que a conheci, não conseguia me lembrar de ter conhecido uma única
mulher que me guiasse na direção oposta a minha secretária. Toda a minha vida girava em torno de
uma única pessoa.
Jenifer.
Respirei fundo.
— Meu pai está vindo para Porto Alegre...
— Sério? Saudades dos seus pais.
— Ele quer jantar... eu pretendo levá-los a um restaurante, minha mãe precisa respirar fora da
fazenda e meu irmão... Bom, você sabe como tudo ficou difícil depois da morte da minha sobrinha.
Enfim, pensei que você pudesse querer vir comigo?
O rosto de Jenifer se iluminou antes que ela acenasse extremamente fofa, e dissesse:
— Que legal! Vai me levar para jantar com seus pais. Parece até que sou sua namorada.
Capítulo 3
Jenifer

Eu puxei o celular e observei as últimas novidades. Fariam um filme de Yuyu Hakusho.


Sabendo o quanto haviam destruído Death Note na produção, eu rezei para que desistissem da ideia.
Eu não queria ver meus personagens amados acabados e mal interpretados na tela do cinema.
“Dragon Ball, o filme” ainda me dava pesadelos.
Suspirei fundo, enquanto Vicente cruzava uma esquina numa velocidade considerável.
O mundo do entretenimento era minha fuga. Minha avó assumiu minha guarda com mais de
sessenta anos. Ela não tinha paciência para uma criança, então me deixava horas parada diante da
televisão assistindo desenhos. Quando me tornei adolescente, a rotina não mudou. O mundo
imaginário parecia mais seguro do que a vida onde nem um pai ou uma mãe me quiseram, e uma avó
que me cuidava porque sentia ser sua obrigação.
O carro parou. Observei o prédio onde eu morava, um conjunto habitacional popular. Volvi
para Vicente e sorri.
Ele parecia ser a única pessoa no mundo que me tinha por perto porque queria. Na escola, foi
ele que começou a amizade comigo. Depois, quando me deu o trabalho, foi seu desejo me ter como
sua secretária.
Meu melhor amigo... Ao menos eu tinha algo nessa vida.
— Obrigada Vicente — disse, e retirei o cinto.
Em cinco segundos eu já estava na área externa do prédio. Acenei para uma senhora que
morava no andar de baixo e que cruzou por mim com uma sacola nas mãos, e puxei a porta. Todavia,
não entrei. A mão de Vicente me firmou no lugar.
— Jenifer?
— Oi... Sim? Esqueci algo?
— Não... eu queria te dizer algo... — Ele mordeu o lábio inferior e pareceu fugir do meu olhar.
Então, respirou profundamente e me encarou. — Eu gosto de você.
Eu mal conseguia conter o sorriso na minha face.
— Eu também gosto de você, Vicente! Você é meu melhor amigo!
O corpo inteiro dele pareceu tenso, nervoso. Por causa disso, dei um breve abraço nele. Foi
ele que me afastou e voltou ao carro. Sabendo que Vicente era estranho com demonstrações de
carinho, eu segui para dentro.
Meu apartamento estava silencioso como sempre. Eu lembro de me pegar chorando por causa
da solidão em momentos como o Natal ou o Ano Novo, mas hoje estava quase me sentindo aliviada
por não ter que dar explicações a ninguém pela minha burrice.
Cara, por que eu abri a porra da minha boca?
Eu fiquei com medo. Eu sabia o que os traficantes faziam com delatores. Eu falei meu bairro na
televisão, não seria difícil descobrir quem eu era.
Vicente falou que eu poderia ir para a fazenda da família dele e pensei que talvez fosse uma
boa coisa. Comecei a andar em direção ao banheiro, imaginando se isso realmente seria necessário,
quando meu telefone tocou.
— Oi?
— Jenifer! — Amanda, outra secretária da empresa em que eu trabalhava, estava no outro lado
da linha.
Amanda se tornou minha amiga durante os últimos meses de convivência. Nós costumávamos
almoçar juntas, rindo da droga de vida que tínhamos. Ela se casou aos vinte anos porque estava
grávida, e o cara era um traste. Ela sempre me dizia que eu tinha sorte por nunca ter me apaixonado.
— Oi. Você soube...?
— Sim, não havia ficado para o turno da noite, mas soube o que rolou. Menina! Que susto você
deve ter tomado!
— Sim... — olhei para o banheiro. Estava exausta e precisava levantar-me cedo. — Preciso
tomar banho agora, podemos conversar amanhã?
— Vai ser rápido. Sábado vamos fazer um jantar aqui em casa... Você quer vir?
— Vou jantar com Vicente...
Silêncio.
— Amanda?
— Acabei de ouvir que você vai ter um encontro com Vicente? —ela gritou do outro lado da
linha.
Eu lutei contra um riso debochado.
— Com Vicente e seus pais.
— Ele vai te apresentar para os pais dele?
— Não... Você entendeu errado. Vicente e eu somos amigos e eu já conheço seus pais.
Ela não sabia daqueles detalhes porque não tinha ainda um ano completo na empresa.
— Mulher, tu é cega ou burra demais!
Suspirei. Ninguém acredita na amizade entre um homem e uma mulher solteiros.
A respeito das minhas preocupações a noite foi tranquila. Acredito que nem mesmo os muitos
cachorros da rua latiram. Eu dormi um sono sem sonhos e acordei cedo para voltar ao escritório.
Quando entrei, a primeira visão que tive foi Amanda, com seus olhos amendoados e
inquisidores.
— Não. — Disse, rapidamente.
— Não falei nada.
— Eu consigo ver na sua cara. Você sabe que não posso simplesmente acreditar em fantasias
ou viver algo assim com meu chefe. Vicente é meu chefe! — Argumentei, mentalmente deixando de
lado o fato de que ele também era meu melhor amigo.
— Ele é solteiro, você é solteira, e... Nossa... Ele é louco por você — rebateu Amanda.
— De onde você tira essas ideias?
— Ele cancelou uma reunião importante ontem apenas para ir te buscar na delegacia.
— Bom, é o que eu espero do meu melhor amigo.
— Os olhos dele brilham quando te vê.
— Quer parar? Ele já namorou um monte de mulheres depois que a gente se reencontrou.
— Você nunca deu uma chance para ele, Jenifer. Ele é um cara bom. Caras bons existem. Eu sei
que você tem trauma porque não conheceu seu pai e tal... — Ela fez uma pausa para beber um gole
da sua xícara de café. — E eu fico te falando sobre a merda do meu relacionamento..., mas, nem
todos os caras são idiotas. Vicente é um cara incrível.
— Ele é meu amigo — persisti, a forma como Vicente falou comigo ontem passando pela
minha mente.
— Até quando você vai ficar declarando isso como um mantra, Jenifer?
De repente ela se levantou da cadeira em que estava e afastou-se da sua mesa. Veio na minha
direção, suas mãos gentis pousando nos meus ombros.
— Você me considera sua amiga?
Amanda era muito especial para mim. Ela era praticamente minha irmã. Ela sabia tudo sobre
mim e não me achava ridícula por conta disso. Eu a abracei, me perguntando pela milionésima vez,
se isso era ser família.
— Eu amo você — disse, sem medo, porque ela sempre me entendia.
— Então acredite em mim quando eu digo que ele gosta de você. Porque ele gosta de você. De
verdade.
— Como você pode ter tanta certeza?
— O dia que você se permitir abrir seu coração para as possibilidades, você vai saber que a
mulher apenas sente. Isso se chama sexto sentido.
Capítulo 4
Vicente

O escritório estava agitado quando entrei nele naquela manhã. Meus olhos buscaram por
Jenifer como sempre faziam, e a vi próxima de Amanda, numa conversa focada.
Ela adorava conversar. Falava mais que a boca. Às vezes precisava pedir para que ela ficasse
em silêncio no escritório porque mal conseguia trabalhar e odiava fechar a porta do escritório,
porque minha mesa ficava voltada para a dela. Se eu fechasse a porta não podia vê-la. E não vê-la...
Ah, que inferno!
Ontem tentei falar para ela sobre meus sentimentos. É como falar com uma porta. Sei que não
faz por maldade, mas é a pessoa mais alheia a realidade que eu conheço. Ela me lembra um pouco
meu irmão, nisso. Vitor raramente era capaz de compreender o que acontecia ao seu redor. Era um
homem honrado e decente, mas incapaz de vislumbrar que a vida matrimonial dele já estava acabada
antes mesmo de ele perder sua filha. Sua esposa já queria deixá-lo antes disso, pois odiava a vida no
campo e o achava maçante. Soube por meu pai que ela o havia traído, que a cidade inteira
comentava, mas ninguém tinha coragem de falar para meu irmão. A julgar pelo rosto de meu pai
quando soube da sequência de eventos que Ester, a ex de meu irmão, expôs a família, o divórcio era
a melhor coisa. Ester não queria ficar com Lucy e meus pais amavam a neta. Tudo parecia se
encaminhar para um final racional. Mas, a morte chegou sem avisar. Quando Lucy morreu, todos
pareceram enlouquecer.
E eu estava no meio disso. Era o diferente da família porque não fiquei na fazenda, não estudei
agronomia e não tinha interesse em cuidar de gado. Mas, isso não significava que eu não amava meus
pais e meu irmão e não quisesse estar perto deles nesse momento complicado.
A perda lenta de Lucy para um câncer foi inesperada. Mamãe sabia que a doença não estava
entrando em remissão e papai comentava que Lucy não parecia bem. Porém... Ninguém esperava.
Ninguém estava pronto.
Lucy tinha só sete anos. Nenhuma família se prepara para enterrar uma criança.
Nesse processo de luto, eu parecia o único a não sentir nada. O que não era bem verdade. Às
vezes me pegava, durante à noite, lacrimejando pela vida que Lucy não teria. Também sofria pelo
meu irmão e me preocupava com ele. Contudo, me sentia deslocado em não conseguir demonstrar
isso como eles.
Seria bom vê-los no sábado. Talvez eu pudesse expressar em palavras e eles pudessem me
compreender.
Avancei pelo corredor, chegando perto do meu escritório. Abri e porta quando me deparei com
a administradora da fazenda de meu pai.
Núbia Caino morava na região de Cruz Alta. Cresceu em uma fazenda como a dos meus pais -
embora muito mais modesta. Quando os pais venderam suas terras e foram morar na cidade, ela
pediu emprego para meu pai.
— Vicente! — Núbia me cumprimentou, seu humor extrovertido. — Vim te ver por que faz
meses que não te vejo! — disse. — Estou na cidade para finalizar a papelada do trator.
Eu me aproximei dela e lhe dei um abraço curto, apontando a cadeira diante da minha mesa.
— Quer um café?
— Não, acabei de tomar um na rodoviária e já estou sentindo o estômago queimar. Vitor diz
que sou fresca para café, mas acho que realmente prefiro bebidas mais suaves como chá.
Núbia tinha esse poder sobre meu irmão, de fazê-lo falar sobre coisas sem importância como a
diferença entre chá e café. Eram melhores amigos, o que já considerava uma grande coisa, porque
Vitor sempre foi fechado com todos.
— Eu não vi Jenifer — ela apontou. — Ela não vem hoje?
— Ela está na outra sala conversando com outra funcionária.
— Oh, sim... — Núbia deu os ombros. Ela vinha me visitar sempre que vinha a Porto Alegre e
eu a apresentei a minha secretária. — Você ainda é caidinho por ela ou já está em outra? Sua mãe me
disse que estava saindo com uma fisioterapeuta...
— Sim. Jessica. Ela era muito legal, mas não rolou...
— Por que você não consegue superar sua paixão da adolescência? — Núbia sorriu
amplamente. Devia ser divertido para as mulheres ver um cara se ferrar.
— Não tem nada de interessante para me contar? E quanto a você? Está saindo com alguém?
— Me poupe, Vicente! — O cabelo loiro de Núbia balançou enquanto ela mexia as mãos. —
Não a nada de interessante na minha vida, você sabe. Mas, e quanto a Jenifer...?
O som dos saltos de Jenifer no corredor me calou. Não que importasse. Mesmo que eu
colocasse letreiros luminosos declarando meus sentimentos, ela não entenderia.
Deus, cara... Como eu fui cair nessa? O que eu podia fazer para a coisa andar?
E eu nem conseguia ficar zangado com ela por ser tão besta. Ela era muito fofa, gentil, doce...
Não havia nenhuma maneira de alguém não se encantar por seu semblante gentil e delicado. Se eu
conseguisse... se um dia ficássemos juntos, eu sei que ela me faria feliz porque era uma pessoa
honesta, humana e boa.
— Vou levá-la para jantar com meus pais no sábado — contei e os olhos de Núbia se
iluminaram.
Eu odiava aquele olhar. Gritava “Oh meu Deus, vocês foram feitos um para o outro, vocês vão
se casar e ter muitos filhos e serão felizes para sempre”. Seria um olhar legal de receber se houvesse
1% de chance de isso acontecer.
— Vicente, ela é uma menina muito doce. Eu a conheci pouco, mas ela está sempre sorrindo,
parece ser uma pessoa muito boa. Você precisa fazê-la entender que gosta dela.
— Eu já disse e ela não entendeu...
— Dê um beijo nela. — Sua sugestão quase me fez gargalhar.
— Isso é constrangedor. Sem falar quer eu jamais iria me impor para Jenifer. Você sabe que eu
sempre me importei muito com ela...
— Ok, Vicente, ok. Não precisa ficar chateado. Devo admitir, porém, que os dois terão um
longo caminho pela frente. Mas isso é apenas minha percepção. De coração eu espero que tudo dê
certo. — Ela riu então. — Você deve realmente gostar dessa garota. Não é todo cara que resiste a
avançar o sinal quando está apaixonado.
Corri a mão pelo meu cabelo escuro.
— Já se passaram anos. Eu devia ter sido mais claro quando éramos adolescentes. Agora
Jenifer me vê como um irmão mais velho.
— Sim — ela concordou, seus olhos parecendo sorrir junto com sua boca. — Mas você não é
o irmão, e a vida não acabou, vocês são jovens e tem um longo caminho pela frente.
De repente, Núbia se levantou da cadeira e se aproximou da porta. Eu a segui.
— Bem, preciso ir. Conte comigo se precisar de algo.
Assenti. Eu tinha bons amigos.
—Jenifer?
Ela ergueu o rosto dos papeis e me encarou com olhos arregalados. Havia algo no gesto, mas
eu não era capaz de alçar o que era.
— Aconteceu algo? — questionei.
— Não... Nada... Ah... Você precisa de alguma coisa?
Ok. Algo aconteceu. Não foi uma pergunta feliz ou despreocupada como sempre acontecia.
Não havia a pequena covinha em sua bochecha direita quando ela sorria. Era mais Jenifer me dando
um sorriso mecânico e estranho.
— Alguém te incomodou sobre o lance do assassinato?
— Não...
— E alguém foi até sua casa? Está tudo bem mesmo?
— Eu acho que sou muita pouca coisa para esses caras...
— Hum... — Eu não tinha certeza disso. — Bom, o jantar amanhã será as vinte horas, mas
resolvi passar na sua casa por volta das dezenove para que pudéssemos chegar um pouco mais cedo.
Eu escolhi uma casa de eventos.
— Não ia ser um restaurante?
Eu sabia que ela odiava festas grandes onde teria que se vestir bem. Por Jenifer, ela passaria a
vida toda usando calças ou saias normais com sapatos de saltos baixos.
— Eu deveria ter mencionado que quero levar minha mãe para um lugar mais animado, ela
precisa ouvir música, essas coisas. Você pode usar o que quiser, no entanto. Tudo está bem. Vamos
nos divertir, eu prometo.
Silêncio.
— Jenifer...
Mais silêncio.
— Talvez eu apenas encontre você lá, então me manda a localização pelo WhatsApp. Tenho
umas coisas para fazer casa, mas estarei lá, ok? Oito horas, né? — Jenifer ofereceu um sorriso
falsamente confiante.
— Você vai sair sozinha quando pode estar sendo alvo de marginais?
— Eu vou ficar bem, Vicente. Só preciso do endereço, só isso — Jenifer persistiu, tensa.
Ok, tinha coisa ali. Eu sentia. Quase podia tocar. E ela estava assustada. Não com a merda da
situação que passou com ela.
Era comigo...
Sim... Era comigo.
Eu a assustei, de alguma forma.
— Vamos nos divertir, prometo. — disse, agora nervoso também.
Eu podia perder o mundo todo, eu podia assustar quem fosse, eu podia ser uma decepção para
qualquer mulher...
... Menos para ela. Não com Jenifer.
Dei-lhe as costas e entrei na minha sala. Pela primeira vez desde que me lembro, fechei a porta
e torci a chave.
Capítulo 5
Jenifer

Eu não gostava de eventos sociais pelo óbvio: não tinha roupa para ir em tais lugares e não
tinha maneiras de me comportar em ambientes assim. Quando Vicente disse que eu jantaria com seus
pais, imaginei o restaurante familiar que sua família costumava frequentar perto do gasômetro, não
uma casa de eventos lotada, com gente de classe alta desfilando em roupas caras e segurando bebidas
de nomes que eu sequer saberia pronunciar.
Porque eu era diferente. E Vicente sabia. Ele sabia – mesmo que se recusasse a demonstrar
isso – que nós dois pertencíamos a mundos diferentes onde eu era a eterna assalariada que precisava
separar e contar o dinheiro do aluguel todo mês, e onde ele era filho de um pecuarista de nível
financeiro elevado.
Mesmo assim... Vicente não parecia se importar. Nem com a diferença de status nem com a
enorme diferença financeira entre nós.
Na verdade, ele nem parecia reparar nas minhas roupas usadas.
Abri meu guarda-roupa nem sei por quê. Olhei para dentro e suspirei pesadamente.
Eu não tinha um vestido. Nem sequer um velho.
Eu também não tinha um terninho, nem algo que pudesse ser considerado social. Eu trabalhava
de calças jeans e Vicente nunca reclamou do meu vestuário. Contudo, eu não podia ir a uma casa de
eventos usando jeans e camiseta escrito: “A Mãe tah ON”. E eu tinha quase certeza de que meus tênis
eram menos do que aceitáveis. Todavia, essas eram minhas opções, e elas estavam me dando um
colapso.
O som da campainha me fez girar o rosto do guarda-roupas. No caminho, meus olhos
vislumbraram um pequeno espelho na parede e eu vi lágrimas.
— Por que eu estou chorando? — murmurei, incrédula.
Abri a porta da frente e me deparei com Amanda. Ela entrou de forma abruta no meu
apartamento, eu mal tive tempo de cumprimentá-la. Ergui as mãos rapidamente para secar as
lágrimas, mas sei que ela as viu quando se voltou para mim. Baixei a face, envergonhada.
O som do vento bateu na janela desviou um pouco minha atenção. Em mim, havia um misto de
desespero, vergonha e cansaço. Tentei levantar a cabeça e dizer algo, mas não sabia o que dizer.
Amanda me trouxe algo novo quando me falou dos sentimentos de Vicente. Subitamente, eu coloquei
na balança todos aqueles anos e não pude mais mentir para mim mesma de que Vicente não pudesse
sentir algo a mais por mim.
Porém...
— O que foi, Jenifer? — Amanda ficou em alerta.
Porém eu não estava preparada para sentir nada por ninguém. Talvez nunca estivesse. Amar
dói. Amar machuca. Eu não queria sofrer nessa vida mais do que já havia passado. Eu sobrevivi ao
desamor, e me protegi da indiferença. Não importava que minha família me abandonou, que eu não
tinha pai e que minha mãe nunca me procurou, porque eu não sentia nada fora das telas animadas do
meu celular.
Mas agora a vida real clamava por mim. Vicente estava ali. E eu estava desesperada.
Amanda avançou e me envolveu em um abraço.
— Eu não quero ir neste encontro... Eu não posso ir, Amanda! Eu sequer tenho roupa... E não
vai dar certo! A família dele tem posses e eu sou uma ninguém...Mesmo que eu me dê uma chance,
que eles me deem uma chance, um dia vão jogar na minha cara que eu nunca contribuí com nada. —
As palavras saíram de mim, misturadas com lágrimas e respiração irregular.
— É nisso que você está pensando? Você sabe que Vicente quer você, não sabe? Ele podia ter
um monte de riquinhas perfeitas, e ele as teve por muito tempo, mas os sentimentos dele sempre
foram para você. —Amanda declarou, me segurando longe dela e me olhando diretamente no rosto.
— Agora vá lavar esse rosto porque eu trouxe umas roupas de casa para você experimentar.
Alguns minutos depois, estávamos sentadas na cama, observando as peças que Amanda havia
trazido numa sacola. Não havia muitas opções, mas nós duas pensamos que um vestido longo era a
melhor coisa. Até porque ele escondia minhas sandálias de salto baixo e gasto.
Quando me vesti, coloquei-me diante do espelho, observando minha figura miúda e estranha.
Havia algo diferente comigo hoje. Algo que havia sido despertado pelas palavras da minha melhor
amiga no dia anterior.
Pensei em Vicente, com seu sorriso caloroso. Pensei na maneira com que ele sempre lidou
comigo. Havia muita ternura em quase todos os seus gestos...
Mas, eu nunca havia me apaixonado. Nunca havia tido um namorado. Então, eu podia me
enganar fácil. E homens não prestam, não no âmbito romântico. O que eu podia sentir podia me
marcar para sempre, mas ser apenas um passatempo temporário para ele.
Provavelmente havia sido assim com minha mãe. Jovem demais, inexperiente demais, ela deve
ter caído na lábia de um cara qualquer que a chutou depois que ela ficou grávida.
Ok. Era ridículo. Eu já estava visualizando minha barriga prenhe de Vicente e ele me dando um
pé na bunda. Isso mesmo que sequer eu conseguia nos imaginar fazendo sexo.
Ok. Agora eu estava me imaginando fazendo sexo com ele.
Um arrepio cruzou minha espinha e eu me sacudi como um cão molhado.
Eu poderia, agora, começar uma nova vida. Ou eu podia ficar presa ao medo.
— Sério mesmo, você está linda — Amanda disse as minhas costas. — Precisamos fazer uma
maquiagem no seu rosto.
Um estralo na janela fez nós duas desviarmos a atenção para lá. Amanda se levantou enquanto
eu caminhava até a vidraça e puxava a cortina.
— O que foi isso? — ela questionou e eu entendi seu medo.
Sei lá que tipo de dementes podia estar atrás de mim nesse exato momento. Enquanto eu estava
aqui planejando minha vida amorosa, provavelmente estava sendo caçada como um animal.
Isso ou eu era pouca coisa demais para traficantes virem atrás de mim.
Mas, e se não fosse o tráfico?
— Acho que era só um gato — disse para minha amiga, que assentiu.
A ideia passou por minha mente algumas vezes, mas eu pensei que era bobagem ficar focada
nisso. Milhares de pessoas eram assassinadas todos os dias e bandido nenhum tinha medo das leis no
Brasil. Ser testemunha não importava.
Eu não importava.

O homem do Uber era um senhor de sessenta e poucos anos que ficou me falando sobre como a
cidade estava alagando com a chuva e o quanto ele perdeu dinheiro tendo que arrumar o carro por
causa disso.
Eu concordei com a fronte diante de todas as suas afirmações, querendo que sua conversa não
tivesse fim, e que eu nunca chegasse ao meu destino.
Porque eu estava com medo. E esses medos se intensificariam quanto mais perto eu estava.
Tentei desesperadamente me lembrar que Vicente era meu melhor amigo. E que eu já havia
saído para jantar com ele e seus pais várias vezes. Que ninguém da família dele representava uma
ameaça, provavelmente porque não vinham em mim uma ameaça também.
Suspirei, meus dedos deslizando pelo vestido vermelho escuro de Amanda.
Minha amiga feito um bom trabalho com a maquiagem. Eu parecia uma mulher segura.
Isso aí. Eu sou tipo, uma super mulher segura!
— A moça está muito bonita — o motorista comentou. — Está indo ver o namorado?
Ok. Eu não era uma mulher segura.
— Um amigo.
Logo ele me deixou diante do prédio. Meu primeiro instinto foi pedir que voltasse e me
levasse o mais longe possível dali. Eu definitivamente não nasci para esse mundo de luzes brilhantes
e música alta, com mulheres e homens parados próximos da entrada, segurando taças e conversando
sobre política e economia.
Eu só sabia falar sobre animes japoneses e novelas tailandesas. Aliás, o lindo do Maxiin
Nattapol iria começar uma nova novela com o Tul... Meu casal favorito... eu devia ir para casa e
verificar meu Instagram, para ver se eles tinham postado algo...
Ahhhhhhhhhhhhhhh!
Viver a vida real não era fácil quando a imaginária era tão confortável e segura. E na vida
imaginária eu também não ficava tão desconfortável em um lugar.
Caminhei em direção à entrada quando reparei em flashes de fotos em todas as direções.
Ok. Acabei de ver um ex-BigBrother caminhando perto de uma modelo web celebridade. Eu
sabia que eles já estavam caindo no ostracismo, mas não resisti em erguer meu celular e captar uma
imagem.
A mulher me viu e fez cara feia.
Baixei o celular.
Puta que pariu, vá se foder!
Eu tô aqui super de boa sendo um pouco tiete – coisa que em poucos meses você nem terá
mais – e você está agindo como uma atriz de Hollywood.
Outra mulher cruzou por mim e eu percebi que não foi desprezo que vi no olhar da web
celebridade, e sim deboche.
Estava claro que eu era uma pobretona com um vestido emprestado.
Segurei o choro, embora pudesse sentir que logo ia desabar. Eu nunca deveria ter vindo aqui.
Não entendia por que Vicente resolveu que esse era o local ideal para eu encontrar seus pais.
Por que diabos eu devia encontrar seus pais?
Eles nem gostavam muito de mim.
E eles combinavam com esse ambiente. A família de Vicente era muito rica e estava adequada
a esse lugar. Provavelmente a mãe dele passou a tarde no cabelereiro e o dia em alguma boutique
chique do centro comprando um vestido pomposo.
Eu te odeio, Vicente!
Volvi em direção à rua, preparando-me para chamar outro Uber quando trombei no corpo
grande e bonito de Vicente.
Ele vestia um terno escuro e estava simplesmente perfeito com aquela sua eterna postura de
macho alfa.
O que diabos eu pensei?
Macho Alfa?
Era só meu melhor amigo...
Todavia, sobre uma nova ótica. Saber que ele gostava de mim me causava algo completamente
novo.
— O que foi Jenifer? — a voz fria dele me acordou.
Respirei fundo, tentando me concentrar.
— As pessoas estão me olhando.
— Por quê?
— Porque está escrito na minha cara que eu não pertenço a esse lugar.
Vicente sorriu, parecendo envergonhado e adorável.
— Acho que é mais porque está bonita. Aliás, nunca te vi com um vestido longo.
— É de Amanda. Ela me emprestou porque eu não tinha roupa para vir aqui.
Ele pareceu culpado.
— Eu sinto muito, Jenifer. Deveria ter me avisado. Eu poderia ter providenciado...
— Não é essa a questão. Eu não pertenço a esse lugar.
— Por que não?
— Você não entende porque nasceu em berço de ouro.
Vicente me surpreendeu quando riu da minha frase. Depois ofereceu o braço, enviando ondas
de choque pelo meu corpo.
— Você pertence a qualquer lugar onde eu estiver. Nunca reparou nisso antes?
Capítulo 6
Vicente

Eu estava esperando por ela há quinze minutos, nervoso porque ela havia decidido que eu não
devia ir buscá-la. Toda a situação era muito estranha para mim, porque Jenifer nunca se incomodou
em ser minha protegida, de se apoiar em mim para qualquer coisa, e sua relutância em me ter como
seu motorista nesse dia despertou certa desconfiança.
Quando vi seu rosto enquanto ela lentamente subia as escadarias da casa de eventos, percebi o
choque em seus olhos. Jenifer parecia desgostosa e incomodada. Não era tolo, entendia que havia
colocando-a fora da sua zona de conforto, mas tentar deslocá-la um pouco do seu mundo fechado
podia ser a forma que eu teria de despertar nela o entendimento sobre como eu me sentia.
Tinha que ser isso, porque eu não tinha coragem para mais nada.
Seria fácil dominá-la algum dia e forçar um beijo, mas acima de qualquer coisa, diante de mim
estava minha melhor amiga. E eu a conhecia por tempo suficiente para saber o quanto ela temia
sentimentos. Jenifer sofreu muito por não ter pais e pela avó não esconder o quanto se sentia
incomodada por ter de criá-la. Se ela amasse, se ela se permitisse amar, estaria baixando sua guarda
e colocando sua paz em risco. Eu sabia o quanto isso podia afastá-la de mim. E eu não estava pronto
para perder sua amizade.
Eu podia viver com seu desamor, mas não com sua ausência.
Quando a alcancei, vi que além do desgosto, ela estava com raiva. Mas a minha frase depois
de interceptá-la pareceu acalmar seus ânimos. Mesmo assim, seus lindos olhos verdes ainda estavam
tristes. Ela sorriu um pouco e fui recompensado com o reaparecimento de sua covinha.
— Eu sou a pior amiga que você pode ter, você sabe disso, não sabe? Nós dois somos muito
diferentes.
— Você é muito diferente. — Pressionei meus lábios, firme. — A maioria das garotas iria ficar
feliz em estar aqui essa noite.
Jenifer parecia envergonhada e balançou a cabeça, se desculpando.
— Você devia ter trazido outra garota, Vicente.
— Eu já te disse. Várias vezes, aliás. Para meus pais, eu só vou trazer você.
Jenifer se virou para mim e eu percebi que ela estava fazendo o possível para manter o rosto
despreocupado. Ou para ignorar minha colocação. Mas eu não acreditei. Claramente, havia algo
diferente nela desde o momento em que se recusou de que eu a trouxesse até esse evento.
— Vamos fazer o seguinte? Sábado que vem, se não acontecer nada que atrapalhe, te levo ao
cinema.
Ela bufou.
— Você sempre diz isso, mas faz meses que não vamos ao cinema.
Eu sorri. Na verdade, fugia de ir ao cinema porque ela só gostava daqueles filmes de super-
heróis chatos.
Então ela se pôs ao meu lado e segurou meu braço. Parecia um sonho, e por alguns segundos eu
fantasiei de que ela era realmente minha, nem que fosse apenas por essa noite.
— Você está linda.
Jenifer riu alto e balançou a cabeça.
— Certo! — debochou. — Chefe, você está muito gentil comigo.
— Estou falando sério, Jenifer.
Eu segurei seu olhar por um momento. Meu corpo clamava desesperado para que ela alçasse a
verdade entre nós. Por fim, Jenifer estremeceu, mas eu não sabia se era por causa do frio ou do olhar
intenso que estávamos compartilhando.
— Você é a mulher mais linda desse mundo, Jenifer...
O som de vozes chamando meu nome interrompeu o momento entre nós e eu blasfemei baixinho
por isso. Ela suspirou alto e então começou a andar.
Eu a segui. Revoltado porque havia perdido o momento. Quantos eu ainda teria com aquela
cabeça-dura?
Meus pais moravam numa fazenda, mas tinham uma vida social muito agitada. Costumavam ir
para eventos no Uruguai, e minha mãe já havia ido várias vezes a festas de socialites no Rio de
Janeiro.
Não eram caipiras. Meu pai era formado em administração e agronomia, se especializado em
criação de gado, e conseguia ótimos animais com cruzas de raças distintas.
Minha mãe era bem mais dondoca, nunca ajudou a cuidar da criação, e passava as férias na
França ou outro país da Europa.
Assim, sabia, então, que eles não estavam alheios aquele ambiente. Na verdade, aquela casa
de eventos era bastante concorrida pela nata Porto Alegrense, mas meus pais eram mais poderosos
que a maioria dos homens e mulheres que desfilavam em poses aristocratas.
Suspirei, olhando de soslaio para o lado.
Quando vim estudar em Porto Alegre me encantei por essa garota sem berço, que frequentava
uma escola particular porque a avó conseguia desconto por ser antiga professora dali. Ela não tinha
os tênis das outras, nem os acessórios da moda, mas era tão encantadora e gentil que logo meus olhos
não se desviaram mais dela.
Minha família não se importou quando eu a apresentei a eles pela primeira vez – como minha
amiga. Éramos adolescentes e eles imaginavam que aquilo logo acabaria.
Quando Jenifer se transferiu de escola eu surtei por meses, mas enfim segui o conselho de meu
irmão, e a esqueci.
Ou achei que a esqueci.
Saí com um monte de mulheres na faculdade, e basicamente nem me lembrava dela enquanto
participava de eventos movidos a drogas e sexo.
Mas, quando me formei e consegui meu atual emprego, foi com surpresa que a reencontrei na
sala de entrevistas, onde ela tentava uma vaga para ser minha secretária.
Havia dezenas de mulheres mais capacitadas para o cargo, mas eu nem pensei.
Quando meus pais souberam, não gostaram. Talvez porque junto com o retorno de Jenifer a
minha vida, veio também o decréscimo de namoros esporádicos e a certeza de que eu não voltaria
para casa, para administrar a fazenda com meu irmão.
Talvez eles até quisessem persegui-la, incomodá-la, mas os muitos negócios de meu pai não
deram tempo a eles de se preocupar com Jenifer. Depois, Lucy foi diagnosticada com câncer. A
doença da minha sobrinha trouxe meus pais de volta a humanidade. Desceram o altar em que se
colocaram e se lembraram que eram pessoas de carne e osso, e que dinheiro não era tudo.
Dinheiro não salvou Luciana – nossa pequena Lucy – nem impediu que Ester transasse com
vários homens da cidade e expusesse meu irmão a vergonha.
Talvez essa chuva de realidade trouxe a meus pais o quanto Jenifer era uma pessoa
maravilhosa e o quanto ela seria a nora ideal.
Escondi um riso.
O problema aqui nem é meus pais. Francamente eu não me importo se eles aceitam Jenifer ou
não. O problema é Jenifer aceitar.
— Eu te contei que Max e Tul vão fazer uma nova novela? — ela murmurou e eu sorri.
Ela gostava de ver aqueles dois tailandeses se pegando. Eram dois homens grandes como dois
armários, e ela achava lindo e romântico.
— Por que você não assiste novelas normais?
— É uma novela normal.
— É gay!
— Você vê dois pintos, eu vejo dois seres humanos.
Não pude impedir meu riso. Não de deboche e sim de orgulho. Deus, eu a amava. Eu a amava
porque ela era completamente incapaz de julgamentos. Ela era inteira doçura, gentileza e aceitação.
Quando ela me aceitaria?
Encontramos Vitor primeiro. Núbia estava com ele. Não fiquei surpreso por Núbia estar ali,
mas sim pelo fato de que Vitor se permitia estar de braços dados com outra mulher depois de tudo o
que aconteceu.
Não que eles fossem amantes ou namorados. Eram apenas amigos. Eu sabia disso.
— Oi, gente...
Vitor sorriu na minha direção, um sorriso sem alma. Era como se meu irmão estivesse morto,
apenas uma figura apagada e sem luz naquele lugar.
Eu não o culpava.
— Oi, Jenifer! — Núbia se adiantou, aproximando-se para um curto abraço. Seus olhos
escuros pareciam pura alegria. — Eu fiquei feliz que outra reles mortal estaria nesse lugar chique.
— Não é um lugar chique. É só uma merda de lugar — Vitor disse, uma carranca se formando
em seu lugar. — Oi, Jenifer — ele a cumprimentou antes de volver na minha direção. — De todos os
lugares de Porto Alegre, por que nos trazer aqui?
— A mãe precisa se animar, Vitor. E você sabe que ela gosta de lugares assim.
— Bem, é verdade — concordou educadamente. — Dona Vanda passou a tarde inteira feliz
porque estava se arrumando para alguma coisa importante.
— Continuar a viver é importante o suficiente — rebati.
Um silêncio incômodo se formou entre nós.
— Bom — Jenifer disse, como se quisesse quebrar o momento. — Eu vi um big brother.
— Você viu o quê? — Vitor indagou, as sobrancelhas interrogativas.
— Um famoso.
— Ah. Cantor?
— Não.
— Ator?
— Não.
— Jogador de futebol? Modelo...?
— Ele só apareceu na TV por alguns meses num jogo...
— Um reality show — expliquei e então meu irmão pareceu entender.
— Havia me esquecido do quanto você é viciada nessas coisas, Jenifer. É uma pena,
desperdício de tempo. Precisa vir até a fazenda, vou te ensinar coisas que realmente valem a pena,
como o nascimento de um bezerro.
Meu Deus, eu realmente vi um brilho nos olhos verdes da minha secretária?
— Jenifer é uma garota da cidade...
— Ela é meiga demais para essa selva de pedras. Se eu fosse seu homem, ela estaria num lugar
que combina com sua gentileza, em meio a ovelhas ou a pomares. Quase posso visualizá-la perto de
macieiras, usando vestidos fofos de algodão.
Ok. Ele estava me provocando. O que não impediu que Jenifer risse da sugestão.
Era o momento perfeito para interromper essa conversa esquisita.
Afinal ele estava falando de Jenifer. Minha Jenifer.
— Vicente ficou com ciúmes — ouvi Nubia dizendo enquanto caminhava puxando Jenifer pela
mão.
A ignorei.
De repente, mamãe apareceu diante de mim. Eu observei ao redor procurando meu pai, mas ele
não estava em lugar nenhum.
— Oi, meu amor — ela me puxou e eu a apertei nos braços.
Eu temia que ela parecesse rude e assustasse Jenifer. Ela costumava ter uma gentileza fria com
Jenifer, mas não sabia como minha mãe lidaria com minha secretária depois da morte de Lucy e do
divórcio do meu irmão.
Puxei Jenifer. Eu podia ver o terror crescendo em seus olhos e dei-lhe um aperto encorajador.
— Mãe, lembra da Jenifer?
— Como eu poderia esquecer, Vicente? É um prazer revê-la, Jenifer. Está se divertindo?
— Oh, hum... — Jenifer poderia simplesmente dizer que sim, mas ela tinha o enorme defeito
de não conseguir mentir. — É um lugar diferente. — Jenifer respondeu. Seu tom era doce, mas
convincente.
De repente, pela primeira vez eu vi minha mãe sorrindo de forma genuína para Jenifer.
— Eu também estou infeliz, querida. Não se preocupe. Mas faz parte da vida a gente enfrentar
adversidades ou lugares chatos.
Eu fiquei destroçado em ouvir minha mãe.
— Mãe... Pedi para que viesse aqui porque achei que se sentiria alegre. Você sempre gostou
desses eventos.
— A vida mudou, Vicente. — Para minha surpresa, ela deu a Jenifer um aceno educado e então
desapareceu na multidão, provavelmente para ir de encontro a Vitor.
Não pude impedir um suspiro pesado.
— Ei, Vicente — Jenifer esfregou meu braço. — Tudo bem. A senhora Vanda está sofrendo
muito por causa da Lucy. Ela amava muito a neta.
Concordei.
— Eu pensei que trazê-la aqui lhe daria um pouco de felicidade — disse.
— Ela sabe. Por isso tentou se animar para vir. Mas, perder Lucy foi muito recente.
Jenifer olhou para mim, preocupação genuína em seu rosto, a empatia transbordando por ela.
— De qualquer forma, eu estou aqui, Vicente. Você pode se apoiar em mim e na minha
amizade.
Meu Deus... Como eu gosto dessa mulher. Como eu quero Jenifer para mim. Como eu trocaria
tudo para que ela me desse – nos desse – uma chance.
Quis dizer isso para ela agora, mas a mente me lembrou de como ela reagiu a minha confissão
naquela semana. Eu não estava a fim de ouvir que ela me amava como a um irmão.
Aproximei-me, e me deixei levar por um abraço leve.
— Obrigado. — Sussurrei perto de seu ouvido.
Ela estremeceu e acenou com a cabeça, dando-me um sorriso tenso.
Ficamos um diante do outro. Jenifer estava diferente, a forma como ela estremeceu era
diferente, e eu quis indagar a ela o que havia acontecido quando uma mão firme puxou meu ombro.
— Vicente Franke! Sempre perto da sua amiga, Jenifer! Você realmente não puxou aos homens
dessa família. Seu irmão e eu nunca seriamos tão leais a uma única fêmea, que sua mãe não me ouça.
Os olhos de Jenifer estavam enormes e inquietantemente temerosos de novo, e eu estava
começando a me perguntar se alguém havia dito algo a ela que a fez perceber que eu a amava.
Suspirei e me resignei com a conversa iminente.
— Oi, Pai. — Falei o mais animadamente possível, virando-me obedientemente e ignorando a
frase machista. — Parece feliz com o evento.
Bom, todos sabiam que Afonso Franke havia tido uma ou duas amantes naqueles anos todos, e
que minha mãe fazia vista grossa porque ela gostava da imagem da família perfeita.
— Muitas mulheres bonitas — meu pai estava radiante. — Não que você se importe.
Realmente, eu não me importava.
— Não seja desagradável, pai — alertei.
Ele não era um cara mal. Em absoluto. Era um homem decente que me criou com princípios.
Tinha seus defeitos, gostar de rabos de saia era um deles, mas nunca chegou a ser um cretino.
Contudo, até ele havia perdido o viço por Lucy.
— Jenifer, não quis ser desagradável — ele se desculpou, segurando a mão da minha
acompanhante. — Às vezes esqueço como Vicente se preocupa com tudo ao seu redor.
— Meu redor? — Jenifer indagou, timidamente.
— Sim, querida. Quando vão se casar? Já estão juntos a tempo demais, não é? Ou vocês acham
mesmo que convencem alguém de que tudo que vivem é amizade?
Um olhar para Jenifer me disse que eu estava completamente correto, em relação a alguém ter
dito algo sobre meus sentimentos. Esta não era uma pergunta que ela queria responder. Talvez porque
não soubesse como responder.
Aguardei a resposta padrão de que éramos apenas amigos, mas ela não veio. Ao contrário,
Jenifer me olhou como se questionasse as coisas e eu fiquei sem palavras.
Algo estava errado.
Papai ergueu uma sobrancelha.
— Ah, Jenifer, estou brincando! Não fique tão na defensiva! Mas, saiba que quando
assumirem, eu vou aceitar de bom grado tê-la como nora, especialmente se conseguir trazer meu filho
para casa, novamente.
— Pai...
— Você ganha três vezes menos do que merece naquele escritório. E nossa fazenda produz
muito. Te falei que vamos fornecer carne bovina para o Uruguai? Acha que Vitor conseguirá
administrar tudo sozinho?
Quando o assunto mudou, percebi que ela ficou aliviada, e eu logo comecei a ouvir a série de
reprimendas do meu pai.
Logo o que devia ser um jantar em família numa casa de eventos se tornou uma coisa esquisita
onde cada um foi para um lado e meu pai ficou sozinho reclamando de tudo.
Foi com prazer que o vi se afastando, indo em direção a um grupo de mulheres que falavam
com um candidato a prefeito.
Cocei a nuca, antes de volver para Jenifer.
— Ok. Foi uma péssima ideia. Da próxima vez, restaurante — disse, despertando um sorriso
nela.
— Esse lugar é bonito, Vicente. — Jenifer olhou ao arredor com olhos maravilhados. — E
você se esforçou para ter uma noite agradável em família.
— Minha família que nem se esforçou em ficar por perto. Ao menos eu tenho você.
O alarde em seu rosto sobressaiu-se novamente.
— Eu gosto de você, Jenifer — Eu ri um pouco, era completamente ridículo. Eu havia jurado
não dizer isso novamente. Logo eu ouviria a frase padrão de que eu era um bom amigo.
Ela não veio.
Jenifer sorriu então, mas foi um sorriso triste. Eu me senti péssimo.
— Desculpe por ficar sendo insistente...
Eu queria beijá-la. Mas do que isso. Queria Jenifer embaralhada em minha cama, parte da
minha vida, mãe dos meus filhos.
— Ficaria magoado se eu dissesse que quero ir embora?
Seria uma frase perfeita para se ouvir se fosse outra mulher. Seria maravilhoso fugir dali para
levá-la até meu apartamento para fazer amor. Mas, Jenifer provavelmente só queria voltar para casa
para assistir a próxima temporada de The Walking Dead.
— Tudo bem.
Poucos minutos depois ela estava na minha S10, o rosto escorado no banco. Eu suspirei,
sorrindo. Ela havia ficado tão tensa naquela festa que agora simplesmente apagou na minha
caminhoneta.
Seria fácil simplesmente deslizar para o lado e tocar sua boca com a minha. Estava ali, a
disposição.
Mas, era Jenifer. E ela confiava tão cegamente em mim que nem se incomodava em saber para
onde eu a levaria ou o que eu faria com seu corpo cansado.
Capítulo 7
Jenifer

Acordei com o som do motor da caminhonete. Contudo, não havia balanço. O veículo estava
parado no lugar, apesar de ligado.
Volvi meus olhos para Vicente e o peguei observando meu prédio. Seus olhos estavam
vidrados e havia uma série de inquietações nele que eu não era capaz de entender.
Provavelmente ele só estava analisando onde eu morava. Era um bairro simples, um prédio
pobre, comparado ao seu apartamento de luxo, devia ser excessiva pouca coisa.
— Vicente? — eu o tirei da letargia e seus olhos azuis oceano me encararam com certa
inquietação.
Então algo mudou. O brilho nos seus olhos deixava claro que não havia julgamento nele sobre
onde eu morava ou quem eu era. O brilho nos seus olhos era puro sentimento.
Estava ali, o tempo todo, e se Amanda não tivesse me dito, eu jamais teria descoberto.
De repente, me senti sufocada.
O pensamento inesperado de que meu melhor amigo podia me amar me causou completo
horror.
Porque... se eu perdesse Vicente... O que eu teria?
Se não desse certo e eu tivesse que sair do meu emprego, para onde eu iria?
Era muito a arriscar por algo que podia... Por algo que com certeza não daria certo.
E se desse?
Eu queria..., mas a dúvida me paralisava.
O verdadeiro Vicente era o rapaz dessa noite, o cara que levava uma mulher em eventos
importantes, que tinha uma família podre de rica, que não sabia o que era se preocupar em pagar as
contas.
— Você quer almoçar comigo amanhã? — ele questionou, referindo-se ao dia seguinte.
Deus, era domingo. Que alívio que não precisaria ter que enfrentá-lo no escritório depois
desse montante de reações não entendidas no meu coração.
— Eu... vou dormir o dia todo. Estou com sono atrasado.
— Ah. Maratonou séries de madrugada, novamente?
— Estreou a segunda temporada de TharnType na Tailândia.
Ele assentiu, parecendo entender tudo. Mas, estava errado. Ele não entendia nada.
— Por que alguém um dia gostaria de uma garota como eu? — as palavras eram para serem
pensadas, mas escaparam dos meus lábios de forma obtusa, me deixando em choque.
Vicente me observou com surpresa, ainda estava sorrindo, mas parecia genuinamente chocado.
— O que está dizendo, Jenifer?
— Sou uma pessoa estranha.
Ele colocou a mão ao lado do meu rosto. Nunca tinha me tocado assim na vida. Parecia
confortador, e ao mesmo tempo...
Meu mundo inteiro ficou em silêncio e parou de girar quando Vicente se inclinou contra mim e
me beijou.
Não foi um beijão de filmes, ou algo que me tirasse o folego. Era como se ele soubesse que era
meu primeiro beijo e quisesse apenas me confortar. Um toque de lábios singelo e então ele se
afastou.
— Sim, você é estranha. Mas, é a estranha mais incrível que eu conheço — ele murmurou, e
não sei por que, me vi fechando os olhos novamente, como se esperasse outro beijo.
E ele veio. Seus lábios suaves exploraram ternamente os meus. De repente uma carne quente e
atrevida adentrou minha boca e eu gemi de puro fogo.
Foi assim. Eu literalmente incendiei. Nem sei como aconteceu, mas estava prestes a soltar o
cinto e me sentar naquele homem como as mulheres diziam fazer nas músicas funks.
Mas, ele se afastou primeiro, buscando o fôlego, o que me deixou em completo abandono.
— Tem certeza de que não quer almoçar comigo? — ele murmurou.
— Bom... talvez...
Ele sorriu.
— Tem certeza de que quer passar a noite aqui? Você sabe como as coisas estão no seu
bairro...
Todos os alarmes de proteção soaram ao mesmo tempo e eu comecei a puxar o cinto para fugir
quando ouvi o suspiro cansado dele.
— Tudo bem, Jenifer... Desculpe... Foi indelicado questionar isso. Amanhã eu venho te buscar
para almoçarmos, ok?
Eu assenti antes de abrir a porta e fugir.
Como sempre, Vicente não foi embora até me ver entrando no prédio.
Por algum motivo eu sentia que ele não era o único olhar a focar em mim naquela noite.
Eu abri a porta do meu pequeno apartamento e a luz interna do abajur me buscou. Observei o
ambiente com olhos desinteressados, enquanto minha respiração tentava acalmar e meu coração
estava desesperado por algo que eu não era capaz de identificar.
Eu fechei meus olhos com força.
Vicente era bonito, engraçado e meu melhor amigo. Ele cuidava de mim. E era meu chefe. Meu
chefe exigente, mas gentil.
Vicente costumava me levar café expresso nas manhãs geladas de inverno porque sabia que eu
adorava. Ele também assistia algumas séries que eu comentava apenas para ter assunto para debater
comigo. Vicente colocou os pés pela primeira vez num estádio de futebol só porque eu queria assistir
uma final de campeonato. Certa vez, num jantar de negócios promovido pela empresa, ele havia
pedido lanches extras num restaurante diferente porque sabia que a empresa iria oferecer sushis e eu
não gostava de comidas cruas.
Vicente era o homem perfeito...
Se não fosse...
Havia um universo entre nós chamado dinheiro.
Ele tinha. E eu não.
Parece besteira, mas eu observei todas as suas namoradas naqueles anos e sei que as pessoas
esperam que a namorada do CEO use roupas de marca, vá a salões de beleza com frequência, faça as
unhas todas as semanas, tenha uma vida social interessante.
E isso não era eu.
Eu usava o mesmo penteado desde sempre. Meus cabelos castanhos claros eram atados num
coque frouxo. Eu tinha apenas duas calças para trabalhar, e meus sapatos eram sempre levados ao
sapateiro.
Quando me dava o luxo de comprar algo novo, tinha que parcelar em muitas vezes.
Eu não tinha carro. Eu não tinha vida social. Tirando Amanda e o próprio Vicente, eu sequer
tinha amigos.
A única coisa que eu tinha em comum com ele era a atração.
Porque isso não vou negar.
Quando ele me beijou essa noite, todas as muitas dúvidas despertadas em mim pelas palavras
de Amanda, de repente ficaram claras.
Mas atração não salva um relacionamento, e a vida real não é um conto de fadas. A família
dele jamais me aprovaria. Eu não era o tipo de garota que eles exibiriam com orgulho. Não era a
médica ou a advogada importante. Também não tinha berço como a ex de Vitor, que tinha pais ricos.
Eu sequer tinha pais...
Eventualmente, eles jogariam na minha cara que eu era a pior escolha que o filho podia ter
feito. Isso se o filho não percebesse isso primeiro.
Beijos e química não salvariam meu coração.
Fechei os olhos. Um arrepio se espalhou pelo meu corpo com a lembrança gentil dos seus
lábios.
Meu celular vibrou e eu observei a tela. Amanda me chamava para fofocar.
Eu podia responder em mensagem, como sempre, mas de repente queria desabafar. Sentei-me
no sofá, enquanto atendia.
— Você nunca devia ter me contado.
— Por quê?
— Agora que eu percebi que é verdade, eu tenho a certeza de que vou perder meu melhor
amigo.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos.
— Como assim, Jenifer?
— Olha pra mim, Amanda. Eu não posso competir com as mulheres que fazem parte da vida
dele. A família dele mal consegue esconder o quanto desaprova. O pai dele brincou com a
possibilidade nessa noite, mas eu sentia o veneno por trás.
— Isso não significa nada para Vicente.
— Talvez não signifique nada agora, mas quando o fogo passar você não acha mesmo que ele
não vai jogar na minha cara de que não sou ninguém. Você sabe como os ricos são! Nós trabalhamos
naquela empresa e a maioria das pessoas com um cargo maior nos ignora sumariamente.
— Ele nunca ignorou. E francamente, você enche a boca pra dizer que ele é seu melhor amigo
e agora o acusa de coisas que nem sabe se ele fará! Isso é só autodefesa, Jenifer. Você vai se
defender tanto que esquecerá de viver. E não viver é pior do que sofrer.
Capítulo 8
Vicente

Jenifer abriu a porta para mim com o rosto ansioso.


Eu suspirei alto, sabendo que nossa relação haveria de cair em um labirinto de estranheza,
agora que não resisti e a beijei na noite anterior.
— Tudo bem? Como passou a noite?
— Bem. Você quer entrar?
Eu queria entrar, mas sabia que não era o melhor momento.
— Não. Que tal irmos para a churrascaria? É quase meio-dia e estou faminto.
— O delegado me ligou — ela contou enquanto saia da porta e girava na direção para trancá-
la. — Parece que o rapaz que foi morto não estava envolvido com o tráfico. Na verdade, era do tipo
que presta, bons antecedentes... Trabalhava num banco. Os parentes e amigos garantiram que não
estava envolvido em nada ilegal. O chefe dele disse que era um funcionário exemplar.
— Por que foi executado, então?
— A polícia não me disse, mas pediu para eu tomar cuidado.
Começamos a andar pelo corredor em direção ao elevador.
— Talvez fosse melhor te levar para a fazenda do meu pai...
— Por enquanto não aconteceu nada de incomum.
— Se não foi uma simples morte por drogas, e sim um homicídio mais elaborado, você, como
única testemunha, corre perigo.
Ela deu os ombros.
Eu estendi minha mão e segurei na dela. Não era estranho ficarmos de mãos dadas. Era
sempre em momentos em que eu desejava confortá-la.
— De qualquer forma, se acontecer qualquer coisa... Qualquer coisa...
— Eu sei... eu te aviso. — Ela suspirou e encolheu os ombros ligeiramente.
Balancei a cabeça enquanto a porta do elevador se abria. Entrei e a puxei, de repente ciente de
que não soltaria suas mãos.
Jenifer corou e eu não pude impedir um sorriso.
Eu queria beijá-la de novo. Estávamos no elevador fechado e eu podia fazer isso, não é? Eu
quase balancei para ela, mas a percebi recuando um pouco.
— Você acha que sua família...? — a voz dela soou no exato momento em que a porta se abriu
no térreo.
— Minha família o quê?
— Nada, esquece.
Ela desvencilhou de minhas mãos e rumou em direção a saída. Eu a segui, buscando seus
dedos entre os meus, novamente. Eu não iria recuar. Agora que nós havíamos avançado um pouco, ela
não me faria voltar atrás.
— Minha família o quê, Jenifer?
— O que você pensa sobre nós?
A pergunta dela me fez sorrir.
— Eu já disse um milhão de vezes. Quer uma declaração formal?
— Mas você sabe que não sou o que sua família iria querer para você — ela estava
visivelmente perturbada com isso.
— E quem se importa com isso?
— Eu me importo.
Ela não estava sendo dramática. Ela realmente estava preocupada. E não podia culpá-la.
— Jenifer, estou do seu lado. Mesmo que eles não gostem, eles vão ter que engolir. Se você me
der uma chance, só uma... eu prometo que jamais vai se arrepender.
Ela ressonou exatos quinze minutos após deitar-se no meu sofá. Comer muita carne e depois
vir até o meu apartamento para assistir filmes fazia isso com Jenifer. Eu sabia disso, mesmo assim
insisti.
Porque era bom tê-la assim. Nem que fosse dormindo pesado após ter comido muito.
O tempo passou naquela tarde de domingo enquanto eu visualizava alguns relatórios no meu
computador, e enquanto os filmes apareciam pela tela da enorme televisão que eu mal usava.
Enquanto Gerard Butler corria contra o tempo para tentar salvar sua família do fim do mundo,
eu me sentei aos pés dela, no sofá, e comecei a mexer em alguns papeis sobre o criado-mudo. Cartas
que haviam chegado naquele dia, cuja atenção eu não havia dado.
Contas... pedido para assinatura de revistas... Mais contas...
Olhei no relógio e percebi que já eram 18 horas. Cara, Jenifer devia realmente estar exausta da
noite anterior.
Talvez ela sequer houvesse dormido por conta do meu beijo...
Me levantei do sofá e fui até meu quarto buscar um cobertor. Eu pensei que levá-la até minha
cama, mas não queria acordá-la. Seria até bom que ela dormisse no meu apartamento, depois das
novidades sobre a investigação.
Jenifer suspirou quando eu a cobri. Depois, abriu os olhos e pareceu um tanto desorientada.
— Que horas são?
— Dezoito.
— Dezoito? Meu Deus, preciso ir para casa...
— Fique — pedi.
Seus olhos volveram aos meus, e havia algo lá.
Ok. Ela não estava recusando imediatamente como de costume.
— Vicente...
— Por favor — sussurrei, desta vez me aproximando dela no sofá e tocando sua orelha com
meus lábios.
Jenifer estremeceu.
— Você não acha que isso está indo muito rápido?
— Muito rápido? Eu esperei mais de dez anos para te dar o primeiro beijo, Jenifer. E acho que
esperei demais. Nós estamos atrasados.
— E agora quer tirar esse atraso todo em um dia?
Isso era um problema?
— Jenifer, eu tenho que te dizer uma coisa
Silêncio.
As luzes piscaram com um estrondo ao longe. Iria chover. Não que fosse incomum naquela
Porto Alegre. Brincávamos dizendo que se um cachorro mijasse no poste, as luzes acabavam.
— O quê?
— Eu quero verdadeiramente que fiquemos juntos. Como namorados. Depois noivos. Então
quero me casar com você. Quero ter filhos com você. Netos. Ficar velho ao seu lado. Estou sendo
bem claro para que você possa entender por que se tem algo que eu descobri nesses anos todos é que
você nunca compreende bem o que eu digo.
Seus olhos esmeraldas brilharam.
— Mas não quero forçá-la a isso, Jenifer. O que você sente? Você pode ser sincera comigo. Se
você não se sente da mesma maneira, eu não vou culpá-la.
Ela respirou fundo e pareceu pensar. Finalmente, depois de segundos que pareceram horas, ela
me encarou e sorriu.
— Quando eu descobri que você gostava de mim, eu fiquei...
— Sim?
— Feliz — confessou. — Mas, assustada, porque não acho que vá dar certo. Acho que você
um dia vai olhar para o lado, e me comparar com as mulheres dos seus amigos e vai ver que eu sou
muito menos do que elas.
Balancei a face, discordando.
— Que você é insegura eu sei. Mas, isso não responde como você se sente em relação a mim.
Ela abriu a boca, para fechar logo em seguida. Sabia que tinha dificuldades em dizer, mas eu
podia ver através dela. Havia algo ali, uma esperança para mim.
— A gente pode tentar avançar — ela sugeriu e meu sorriso se alargou.
— Claro que sim.
— Com sexo.
Eu fiquei tão chocado que tenho absoluta certeza de que por alguns segundos eu não respirei.
Quando novamente pude sentir o ar voltando aos meus pulmões, percebi que ela havia se magoado
pelo meu silêncio.
Quando tentou se afastar, envergonhada, eu capturei suas mãos na minha.
— Você já fez isso antes?
— Ah, não.
— E tipo, essa é a sua primeira sugestão sobre nós?
— Se você não quer...
— Se eu não quero? Eu me masturbava pensando em você desde os dezesseis...
Avancei em sua direção. Imaginei que ela fosse recuar assustada e arrependida pelas próprias
palavras, mas ela me encontrou com a mesma paixão. Nossos lábios trocaram um beijo forte e firme
enquanto meu corpo avançava sobre o dela, minhas mãos puxando-a pelos cabelos, inclinando sua
cabeça para trás para que eu pudesse morder seu pescoço alvo como um vampiro sedento.
— Aqui não... — disse, e então me ergui, a puxando pela mão.
As roupas começaram a desaparecer enquanto cruzávamos o corredor. Quando a observei nua
pela primeira vez, vi nela uma Eva do paraíso. Jenifer era tão pequena e doce, tão gentil...
Eu a deitei suavemente na minha cama, não querendo de forma nenhuma deixá-la aflita. Ela era
virgem, e era minha Jenifer. Eu tentei ao máximo ser paciente e gentil.
Ela me puxou para baixo, buscando minha boca novamente. Meus dedos deixaram sua nuca e
desceram até seus seios. Apertei-os suavemente e gostei do gemido que ela exalou. Eu trabalharia
neles com dedicação mais tarde.
Todavia, agora eu precisava tocar sua fenda, senti-la molhada e pronta para mim.
O som que ela emitiu a invasão de meu dedo indicador foi de êxtase.
Essa mulher se reprimiu por tanto tempo que agora mal conseguia conter a vontade de ser
minha.
Capítulo 9
Jenifer

Ok. Eu era louca. Isso se provou nos últimos dias, desde que descobri os sentimentos de
Vicente. De repente, em questão de segundos, meu melhor amigo se tornou meu foco romântico. Só
que minhas inseguranças não me permitiram avançar.
Até a ligação do delegado naquela manhã de domingo.
Senti na sua voz que havia muitas coisas não ditas a mim. Se o assassinado não era apenas de
um coitado que vivia as margens da sociedade, cuja presença não importava a ninguém, eu podia ser
a próxima vítima.
Se a vítima era realmente uma vítima, e eu havia sido a única testemunha, tudo levava a crer
que era questão de tempo até virem eliminar a prova.
O mastro longo de Vicente entrou totalmente em mim e senti suas bolas batendo na parte baixa
da minha boceta.
Eu gemi, um misto de dor e êxtase. Estava experimentando pela primeira vez a sensação de
viver, de existir.
— Está doendo? — ele gemeu no meu ouvido.
Neguei com a face. Não havia dor, mas havia libertação. As estocadas estavam me
impulsionando direto para um espaço desconhecido. Aquele momento estava me mudando
completamente.
Será que isso é amor?
Jamais pensei em me apaixonar. Meu coração só batia forte pelos meus atores favoritos.
Talvez se Mew Suppasit estivesse ali eu tivesse certeza. Mas, com Vicente havia minhas dúvidas. Eu
gostava muito dele. Eu me sentia atraída por ele. Mas, amá-lo? E se eu estivesse confundindo
amizade e desespero pela minha necessidade de amor?
Meu Deus, era meu melhor amigo. Eu tinha amor por ele. Mas, temia magoá-lo porque...
Suas mãos me exploraram, e seus lábios se moveram do meu rosto para o meu pescoço, minhas
orelhas e meu pensamento se interrompeu.
Ele bombeou com tanta vontade, mergulhando cada vez mais fundo até que comecei a tremer de
prazer e tudo meu se perdeu a certeza de que eu estava gostando – muito – de viver isso com Vicente.
Em TharnType, um dos protagonistas começou a transar com o parceiro de quarto por causa da
atração e acabou se apaixonando.
E se isso acontecesse comigo?
Essa ideia me fez enrijecer de tal forma que me senti apertando Vicente dentro de mim ao
ponto de ordenhá-lo.
— O que foi? — ele perguntou.
— Nada... Não pare...
Meus pensamentos podiam estar me matando, mas eu tinha certeza de que queria o que estava
acontecendo.
Mais e mais.
Percebi que ele estava crescendo, e isso só aumentou meu prazer. De repente, um calor me
atingiu e me elevou a um nível inigualável que era quase causou dor. Então explodi em pedaços
enquanto sentia Vicente chegando ao ápice.
Então, depois daquela conexão absurda, meu corpo sacudiu e descansou. O corpo de Vicente
ainda conectado ao meu, pesado sobre meu peito, uma junção de almas que eu jamais havia pensado
existir.
— Talvez eu realmente esteja apaixonada por você — admiti, e senti ele balançando num riso
sincero.
Sua face que descansava sobre o meu peito elevou-se e seus olhos encontraram os meus.
— Estou feliz por ser seu namorado.
— Ou talvez apenas um caso casual.
— Caso casual? Acho que se nossa velha professora de português estiver morta, está se
revirando no tumulo agora.
Eu sorri e coloquei a mão em sua bochecha suavemente.
— Obrigada, Vicente...
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Nossa, sei que sou bom, mas é a primeira vez que uma mulher me agradece depois.
Eu não resisti e gargalhei.
— Você é um idiota.
Ele me buscou e me beijou com força. Havia tanta necessidade naquele beijo que eu senti sua
paixão emergente contra meu baixo ventre.
— Ao menos eu sou o seu idiota.
E eu fiquei feliz porque era verdade.
Eu me olhei no espelho do banheiro do escritório e sabia que estava diferente. Havia algo em
mim que brilhava de uma forma que nunca havia acontecido antes. Era uma segunda-feira gelada e eu
estava tão feliz que podia sair dançando pelo escritório.
Suspirei, e balancei a cabeça, afastando os pensamentos.
Sai do banheiro pouco depois de lavar as mãos. No corredor acenei para Antônia e aceitei um
copinho de café recém passado de Suzana. O Dr. Lourenço, do jurídico da empresa, cruzou por mim
e me elogiou pelos papeis que organizei para ele na quinta passada.
Quando cheguei na minha sala, observei Vicente concentrado em relatórios na tela do
computador.
Deus, ele era tão lindo. Lindo demais. Tão lindo que doía. E eu podia ficar o dia inteiro
olhando para ele não fosse ele ter erguido a frase e me questionado onde eu estava.
— No banheiro.
— Certo — pigarreou. — Jenifer, você pode ir até o banco pegar um malote que foi deixado
lá? Está no meu nome e preciso que leve seu documento de identidade.
A empresa gerenciava sistemas de proteção de bancos e grandes empresas da cidade. Não era
incomum eu ir até a agência do bairro pegar um malote. Não havia dinheiro nele, mas números
criptografados enviados pela gerência. Normalmente eles enviavam metade online e metade em
papel, para dificultar uma fraude.
Me levantei e logo cruzei novamente pelo corredor. Minha respiração calma enquanto, no
trajeto, eu ia ajeitando o casaco.
Lá fora, o vento me recebeu num uivo agoniado. Dei dois passos em direção a calçada quando
vi uma figura conhecida cruzar por mim.
— Samantha? — indaguei enquanto uma loira estonteante me observava sorrindo.
Ela era ex-namorada de Vicente. E era maravilhosa. Nós duas sempre nos demos muito bem,
fomos ao cinema várias vezes, mas ela havia sumido depois que eles terminaram.
— Oi Jenifer!
— O que está fazendo aqui?
Eu não queria ter perguntado daquela forma. Mulher nenhuma deve ser antipática com outra
por causa de macho. Mas, minha voz estava descontrolada.
Era... ciúme?
— Vim ver o Vicente. Estou com pressa, mas me liga para tomarmos um café, okay?
Enquanto ela entrava, permaneci estática observando sua figura adorável se apresentando ao
guarda.
De repente, todas as minhas inseguranças voltaram.
Porque ela era exatamente o tipo de mulher que devia estar com Vicente. Linda, estudada, de
uma família importante, com dinheiro, sabe se vestir, sabe se portar socialmente, tem um bom
sobrenome...
Dei as costas, caminhando em direção à rua. Estava me sentindo tão abatida que mal percebi
um homem caminhando cada vez mais perto, até a respiração dele estar quente na minha nuca.
Só então girei para ele e recebi um forte puxão no pescoço.
— Nós estamos de olho em você, vagabunda — ele murmurou. — É melhor você desaparecer
e nunca mais ir à delegacia, ou a gente te mata.
Quando ele me soltou, levei alguns segundos para me restabelecer do choque. Quando respirei
novamente, o homem havia desaparecido como um fantasma maligno num castelo amaldiçoado.
Capítulo 10
Vicente

Certo. Eu estava lutando bravamente contra meu semblante de uma felicidade latente.
Afinal, eu estava no trabalho e queria ser profissional. Contudo... Deus... Jenifer foi incrível.
Ela dormiu aconchegada em mim, e foi tão natural que não parecia que era nossa primeira vez.
Quando acordamos naquela manhã, tomamos café da manhã depois de um banho quente. E então a
levei para seu apartamento para se arrumar para o trabalho.
Chegamos juntos a empresa e recebemos alguns olhares curiosos, mas Jenifer nem pareceu
perceber. Ela estava animada e feliz que mal parecia notar que era segunda-feira e estávamos
abarrotados de trabalho.
Eu queria chamar sua atenção, mas não consegui. Ela estava diferente da minha amiga de
sempre. Ela me deixou entrar nela de várias maneiras, e a carnal foi a menos importante.
Nosso enlace agora parecia espiritual.
Tive a sensação de que as coisas seriam diferentes para nós de agora em diante. Nossa antiga
relação estava no passado.
Quando ela saiu para ir à agência, eu volvi meu olhar para o computador. Contudo, pouco mais
de cinco minutos depois ouvi uma batida na porta e volvi meu olhar para lá.
Sorri na direção da Samantha.
— Quando tempo eu não a vejo?
Me levantei e fui em sua direção, para trocar um beijo no rosto.
Todas – absolutamente todas – as minhas namoradas se tornaram minhas amigas depois da
relação.
— Eu vi a Jenifer na porta — ela disse. — Parecia animada. Está encantada por uma nova
série ou enfim você fê-la perceber que gostava dela?
— As duas coisas? — brinquei, e ela riu. — Mas, o que a traz aqui? Eu não te vejo desde que
foi estudar moda em Paris.
Samantha suspirou e eu movi o corpo para deixá-la entrar. Ela sentou-se no sofá num canto do
meu escritório e eu a acompanhei.
— Não deu certo... Sobre a moda.
— Sinto muito.
— Tudo bem. Eu dei uma guinada de 180 graus e descobri que sou ótima em economia. Então
comecei a estudar, mas quero entrar na área executiva de um banco digital que sei que você tem
contato. Eu gostaria de sua ajuda.
— Quer que eu te indique?
— Estão formando a equipe executiva, fiz a entrevista, mas seria bom alguém falar bem de
mim para os caras.
Eu concordei.
— Com certeza eu irei falar bem.
Ela suspirou e então pousou a mão no meu joelho.
— Então... Você falou mesmo para Jenifer?
— Sim.
— E ela aceitou?
— Sim — sorri mais amplamente.
— Nem consigo acreditar — ela murmurou. — Que pena — suspirou fundo. — Eu ainda acho
que nós tínhamos futuro, Vicente. Você acha que a Jenifer iria se incomodar de sermos um trisal?
Eu gargalharei no exato momento que Jenifer retornava. Ela entrou no meu escritório e largou o
malote na minha mesa como se não tivesse me vendo. Samantha retirou rapidamente a mão do meu
joelho e me encarou com ares de preocupação.
Ela nunca foi do tipo que estragaria a vida de alguém, então sabia que estava disposta a se
explicar para Jenifer, não fosse o fato de Jenifer parecer sequer nos enxergar.
Algo estava errado.
— Melhor você ir — disse a minha ex que assentiu.
Só depois de estarmos sozinhos foi que me aproximei de Jenifer.
— Tudo bem?
Nada. Ela encarava a tela do computador como se eu não existisse. Levei a mão até seus olhos
e balancei os dedos.
— Oi? —indaguei.
— Oi — ela respondeu, assustada.
— O que houve?
— Nada.
Jenifer estava escondendo algo de mim.
Sua expressão facial não era exatamente descontraída. Sem sorriso. Sem covinhas. Apenas
vazio.
— Você está diferente — falei diretamente, mas calmamente.
— Não. Não estou — Jenifer balançou a cabeça severamente.
Observei seu rosto com cuidado, implorando que meu gesto penetrasse naquele maldito olhar
frio que ela estava tentando segurar.
Jenifer hesitou, e eu soube que o que quer que fosse que ela diria a seguir, era algo ruim.
— Eu acho que é melhor sermos apenas amigos.
Meu mundo inteiro ruiu naquele instante.
— Foi porque a Samantha veio aqui?
— Não... Quero dizer... Também. Samantha é uma namorada mais adequada.
De repente meu estômago se revirou. Eu queria despejar um monte de coisas, mas não era o
lugar certo para discutir o relacionamento.
— Vou te buscar à noite para jantarmos, então conversamos.
— Eu não quero, Vicente.
— Você me deve isso — fui duro e rumei até minha porta.
Eu estava de saco cheio das inseguranças dela, e revoltado por ela ter me descartado tão
rapidamente.
Capítulo 11
Jenifer

Era isso. Eu estava na mira de bandidos. Era questão de tempo até eles decidirem que era mais
fácil me eliminar do que simplesmente me amedrontar para evitar que eu falasse demais.
Pavor e tristeza estavam me preencheram, mas fiz questão de manter minha expressão firme e
resoluta.
Ver Samantha naquele dia foi positivo. Saber que ela estava voltando à vida de Vicente
também.
Engoli um soluço, tentando conter meu ciúme.
Samantha era uma pessoa maravilhosa e Vicente merecia ser feliz. Eu era uma coisa sem sal,
que iria envergonhá-lo mais cedo ou mais tarde. Isso se não o colocasse em perigo.
Não podia suportar a ideia de que Vicente se ferisse porque andava comigo.
E se um dia viessem me matar e ele estivesse ao meu lado? O que aconteceria a ele?
— Vou te buscar à noite para jantarmos, então conversamos.
— Eu não quero, Vicente.
— Você me deve isso — Seus olhos tinham aquela fome límpida que me levou ao caos na noite
anterior.
Quando ele entrou e fechou a porta do escritório, senti meu coração aos saltos.
Não era o momento certo para eu viver aquela história. Quanto antes eu deixasse isso claro
para Vicente, melhor.
Seus cabelos escuros eram um belo contraste com seus lindos olhos azuis. Os Franke eram de
origem europeia, mas Vicente tinha a malandragem brasileira nos olhos.
Provavelmente poderia passar a vida inteira observando sua beleza e jamais me cansaria.
Porque ele era tão especial.
Como nunca reparei nisso antes?
Eu sabia tudo sobre Vicente. Conhecia seus gostos, suas vontades, e parecia que ainda havia
um tanto mais a aprender. O Vicente que me arrebatou na cama na noite anterior foi uma grata
surpresa.
Meu Deus... Eu estou apaixonada por ele...
Agora parecia tão claro. Ele é um cara legal. Ele é provavelmente o melhor amigo que eu
poderia ter. Ele é educado, gentil. Ele nunca me deixou constrangida ou nervosa. Ele aguenta todos os
meus gostos peculiares sem reclamar.
E ele me amava...
E provavelmente jamais ficaremos juntos.
Deus sabe o quanto eu queria.
— Eu vim jantar com você porque quero deixar as coisas às claras entre nós.
Vicente ergueu os olhos do cardápio e me deu aquele olhar de revirar os olhos.
— Você estava toda animada e feliz, mal conseguia ficar quieta. Daí do nada você ficou
emburrada como uma criança. Foi por causa de Samantha? Francamente, Jenifer, é ridículo. Pior que
isso, é insultante. Eu não sou do tipo que fica saindo com duas ao mesmo tempo e você sabe muito
bem disso.
Eu queria negar. Não era Samantha! Mas, era Samantha também. Claro, eu a conhecia e sabia
que ela não faria nada de ruim, todavia, não conseguia evitar o pensamento de que eram perfeitos um
para o outro.
De repente, suas mãos seguraram firme meu queixo, enquanto ele apaixonadamente fundia seus
lábios aos meus.
Oh Deus... era tão bom...
Meu corpo ficou aquecido e meu coração saltou em batidas descontroladas.
Vicente começou a rir no meio do beijo.
— Ah, Jenifer... Você não tem nada com que se preocupar —brincou com a minha bochecha. —
Vamos jantar e depois vamos para casa?
Vicente era sólido e me dava tanta força que eu jamais imaginei que poderia me suster nele,
inteiramente. Vicente era tudo para mim. Meu parceiro, meu amigo...
Assim que o pensamento passou pela minha cabeça, o terror o seguiu. E se eu o colocasse em
perigo porque não conseguia conter os sentimentos que ele havia despertado em mim?
Vicente abriu a porta do seu apartamento, me dando espaço para entrar primeiro. Nossos olhos
se cruzaram e soube que ele estava me estudando de uma forma que deveria me deixar
desconfortável, contudo, não o fazia.
— Jenifer... O delegado voltou a ligar para você? Novidades sobre o assassinato?
Fechei os olhos e a lembrança daquele homem me espreitando durante a manhã vibrou em mim
como um carretel indesejado de medo e pavor. Seus olhos não mentiram sobre o que aconteceria
comigo. Eu estava correndo perigo...
E esse perigo incluía Vicente. Eu devia ir embora porque não suportaria viver se algo
acontecesse a ele. Mas ao invés disso, peguei sua mão e a apertei contra meu rosto.
Ficamos em silêncio, hipnotizados pelo momento.
— Jenifer? — A voz de Vicente estava calma.
— Sim?
— Eu sei que o que eu sinto por você. E não é algo passageiro ou algo que surgiu do nada e irá
embora. Porque já tem tempo demais que eu te amo. Só preciso que me ame também.
— Eu também te amo — disse, quase sussurrando, sabendo que meu sentimento não era capaz
do sacrifício.
Vicente envolveu seus braços em volta de mim e me beijou - primeiro suavemente, depois com
crescente paixão. Eu me encontrei pressionando contra ele com tanto desejo, e algo dentro de mim
começou a ficar ardente.
Eu o montei, guiando suavemente seu pau pela minha fenda, nossos olhos fixos um no outro
enquanto o movimento nos arrebatava. Puxei meu corpo para cima e empurrei para baixo, em
movimentos ritmados, até que Vicente soltou um urro e agarrou meus quadris.
A cavalgada começou a acelerar. Nossas bocas se encontraram, numa busca ansiosa de que não
tem mais tempo a perder.
Quando ele rugiu, me molhando, eu joguei minha cabeça para trás, perdida em tanto prazer.
Capítulo 12
Vicente

Eu amo Jenifer.
Eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado.
Mas, enquanto a observava parada perto da janela, a olhar os carros cruzando na rua abaixo,
eu sabia que tinha algo errado com ela.
E não era Samantha.
Eu perguntei novamente qual era o seu problema depois de termos feito amor. Ela não disse. E
eu conhecia aquela tagarela para saber que se ela não estava matracando sobre o assunto, era porque
estava com medo.
Me aproximei e a cerquei, minhas duas mãos deslizando pelos seus braços, amorosamente.
Jenifer ficou arrepiada e eu percebi que ela estava desabando.
— Jenifer...
Ela negou com a face, antes de enterrar o rosto no meu peito.
E então ficamos alguns minutos assim, sem trocas de palavras. Eu queria que ela se abrisse
comigo, mas ela se recusava. Assim, por puro instinto, eu senti que o problema vinha do assassinato
que ela presenciou.
— Jenifer, você precisa confiar em mim.
— Eu confio — interpôs. — Por que está me cobrando tanto?
Seu tom já estava beirando a hostilidade, então tentei ir com calma.
— Só quero proteger você, Jenifer...
— Eu não preciso de proteção, Vicente.
— Mesmo assim eu sempre protegi você. Sempre vou proteger. Mas, se você não falar, eu não
vou saber o que preciso fazer...
— Não precisa fazer nada! Eu posso cuidar de mim.
Agora sua voz não estava mais beirando a hostilidade. Estava definitivamente hostil.
— Você está me entendendo mal, Jenifer.
— Eu não estou te entendendo mal. Na verdade, estou te entendendo muito bem. Você
simplesmente não consegue conter essa sua maneira de mandão e dono de tudo, não é?
— Você está na defensiva e dizendo coisas que não são reais. E você sabe que não são. Está
tentando me afastar, Jenifer. Contudo, desista. Eu não vou me afastar.
Seus olhos verdes pareciam dúbios. Nervosos.
— Não sei o que aconteceu com você, mas algo aconteceu. E quero você bem. Eu nunca vou
parar de querer isso. E se você me contar o que diabos está por trás de tudo isso, eu posso ajudá-la!
— Por quê?
— Por quê? Não é óbvio. Eu me importo!
Ela recebeu essa declaração como um tapa. Desvencilhou-se de mim e caminhou pela sala.
Tentei ir até ela. Isso estava saindo do controle. Jenifer estava completamente perturbada.
— Jenifer, só estou preocupado com você. — Eu estendi a mão, pretendendo colocá-la
suavemente em seu ombro.
Ela se esquivou. Isso doeu.
— Vou para casa.
Eu estava embasbacado. Onde estava a minha melhor amiga doce e alegre? Ela parecia uma
fera ferida, um soldado abatido diante do seu algoz.
— Jenifer, o que está acontecendo?
— O que está acontecendo é que você não aceita a palavra “não”! Por que você não pode me
deixar em paz?
E então ela começou a chorar. Fiquei impotente observando-a, sem acreditar que isso estava
acontecendo. Havíamos acabado de fazer amor e agora ela parecia ansiosa para me ver o mais longe
possível.
Alguém a machucou.
Eu sabia disso.
Ela estava com medo.
E esse medo estava me afastando.
Era tão óbvio para mim. Porque nem por um segundo eu acreditava que minha melhor amiga se
tornou uma mulher fria, incapaz de desejar o amor depois de tê-lo descoberto.
Eu sabia que ela me amava. Eu sentia no corpo dela. No calor dela. Quando a levei para casa
naquela noite, fui direto para a delegacia.
— Ela não entrou em contato com vocês? — indaguei ao policial que havia nos atendido no
dia do assassinato.
— Não — ele negou. — Ela nunca ligou. Sou eu que ligo, às vezes, para deixá-la a par da
investigação.
— Ela está estranha — contei. — Parece estar com medo de algo, mas não me diz o que é.
— Bom, você falou que a levaria a uma fazenda, não? Talvez seja melhor retirá-la das vistas...
— Acho que não aceitaria. Ela se sente... diminuída... perto da minha família.
— Talvez seja bom insistir. De qualquer forma, vamos enviar um policial para conversar com
ela e ver se diz o que está acontecendo.
Agradeci.
Seja lá o que esteja agoniando Jenifer, eu precisava saber. Não queria perdê-la. Não podia
perdê-la. Eu a amava demais.
Capítulo 13
Jenifer

Eu vi dois homens pela janela do meu apartamento. Eles estavam parados, conversando na
esquina. Às vezes olhavam na minha direção como se quisessem que eu estivesse ciente de que
estavam ali.
Um policial apareceu na tarde de quinta. Ele tentou conversar comigo sobre o assassinato,
mas, de repente, eu que era tão falante, não conseguia mais dizer uma palavra.
No dia anterior uma menina foi encontrada perto do Guaíba. Enterrada em uma mata, seu corpo
deixava claro sinais de estupro e tortura. Ela foi capturada numa parada de ônibus e o motivo foi
porque descobriram que ela delatou um dos donos da boca de fumo do seu bairro.
Eu me sentia condenada. Talvez devesse ir embora de Porto Alegre, mas francamente eu não
tinha dinheiro para isso. E não queria envolver Vicente, pedindo sua ajuda.
Vicente era um cara maravilhoso, e eu o amava. Não podia colocá-lo em risco sem que toda a
culpa do universo me avassalasse.
Portanto... foi melhor assim. Foi melhor a gente ter encerrado tudo naquela conversa da
segunda-feira.
Foi difícil trabalhar ao seu lado nos dias que se seguiram, mas eu tentei ser forte. Eu sentia que
ele tinha por mim preocupação genuína mesclada a amor, mas nem por isso podia aceitar seus
sentimentos.
Na quarta, Vicente havia falado sobre irmos até a casa dos seus pais, no interior. Eu neguei. Os
Frankes eram boas pessoas. Tudo bem que eles me olhavam de cima para baixo, mas eu não podia
colocá-los numa situação ruim por conta da minha boca grande.
Maldita hora que fui ver aquelas roupas perto da rodoviária. Maldita hora que presenciei o
assassinato. Não fosse por isso, hoje poderia estar tranquilamente vivendo uma história de amor.
Talvez as coisas não sejam para dar certo para mim. Talvez ser uma pobre garota sem família
seja minha sina. Talvez pessoas como eu não devem sonhar em algo além da solidão.
E ver aquele assassinato foi uma lembrança de que pessoas como eu devem se manter no seu
círculo de isolamento absoluto.
Vicente queria uma família. Ele disse isso claramente. Ele não estava brincando.
Quando ele me colocou contra a parede, eu soube que acabou. De repente, eu me vi sendo a
causa dos males da vida de Vicente. Ele podia ter tudo que desejasse na vida, e eu podia ser aquela
que arrancaria isso dele.
Eu amo Vicente. E por amá-lo, eu devia deixá-lo ir.
Amanda me aguardava na portaria do prédio. Nós tínhamos combinado irmos lanchar juntas,
passar a tarde de sábado no shopping e comprarmos alguns pijamas novos para o inverno. Eu não
queria ir de jeito nenhum, estava evitando sair na rua, desde o ocorrido, e quando saia era sempre
com Vicente ou com um carro de aplicativo, onde o motorista tinha nota alta.
— Como você está? — ela me perguntou, segurando meu braço.
Dei os ombros. Havia dado a ela um breve resumo sobre o que havia acontecido, e ela estava
inteiramente ao meu lado.
— Você vai falar com a polícia?
— Eu tenho medo. No dia que o policial veio até a minha casa, havia homens me espionando.
Estou apavorada.
— Você devia falar com Vicente. Ele se preocupa com você.
Imediatamente me senti péssima.
— Você praticamente terminou com ele sem lhe dar qualquer explicação. Pense em como se
sentiria se fosse o contrário. Coloque-se no lugar dele.
Amanda fazia tudo parecer tão fácil. De repente, me vi pegando meu celular:
“Quero conversar. Você pode vir até minha casa hoje à noite?”
Ela leu a mensagem enquanto eu a digitava. Depois sorriu.
— Estou feliz por você, Jenifer.
— Eu também — disse a ela, mas não tinha certeza.
Segundos depois meu celular vibrou.
“Estarei aí”.
Vicente fazia as coisas entre nós serem tão fáceis.
Mostrei a mensagem para minha amiga que bateu palmas.
— Coragem, Jenifer! Você não está sozinha!
Começamos a andar. Cruzamos o portão em direção à parada de ônibus.
— Você precisa contar a ele tudo que me disse. Como está sofrendo e com medo...
— Não sei se é uma boa ideia.
— Ele vai saber como te ajudar, Jenifer.
Olhei para os lados. A rua estava deserta.
— Você acha que é bom sairmos a rua? É sábado à tarde, inverno... está tão frio, ninguém está
andando por aqui...
— Não se preocupe.
— Mas e se...
— Eu cuido de você, amiga! — ela apertou meus braços me dando suporte.
Me acalmei imediatamente porque confiava muito em Amanda.
De repente, contudo, um solavanco me puxou para trás. Eu gritei e tentei me desvencilhar das
mãos que me puxaram, mas antes que pudesse correr, meu captor me bateu com força na cabeça.
Minhas vistas nublaram e eu perdi o ar. Me vi caindo, enquanto uma arma aparecia diante de
mim.
De repente um carro parou ao meu lado. O homem me puxou para dentro do veículo e o
automóvel se pôs em movimento.
Busquei Amanda com minhas vistas escurecidas, mas a dor me impedia de pensar direito.
— A gente te avisou, mas tem que ser uma putinha que vive abrindo a boca para a polícia, não
é?
O carro parou. O meu bairro ficava próximo de uma área isolada, um campo de árvores
fechadas. Olhei de soslaio pelo vidro do carro e vi uma desmanche de veículos aos fundos de um
murro alto.
É isso. Eu vou morrer aqui.
— Droga! Droga! — O murmuro me surpreendeu.
Era uma voz feminina? Amanda?
— Solte minha amiga... É a mim que vocês querem — pedi ao homem.
De repente minha vista clareou e vi Amanda no volante do veículo. Eu não conseguia acreditar.
Era... era impossível...
Meus olhos focaram-se então no meu captor. Era o marido dela.
— Amanda...
— Cala a boca, Jenifer! Cala a boca! —ela parecia descontrolada, e lacrimejante.
Eu senti a emoção na voz dela.
— O que está acontecendo, Amanda?
— O que está acontecendo? Droga, Jenifer! Você é tão idiota! Tão besta! Talvez por isso eu
tenha gostado tanto de você! Como uma irmã! Por que não foi para o interior com Vicente? Eu nem
tinha certeza se ele gostava mesmo de você, só suspeitava, mas queria que ele tivesse te tirado de
Porto Alegre. Mas, você insistiu em ficar, e agora aconteceu isso! Isso Jenifer! Por sua culpa... Não
minha. Não minha.
O homem desceu do carro e me puxou. Amanda veio atrás dele. O local isolado era tão
fantasmagórico que nem mesmo os pássaros cantavam.
— Me explica, Amanda... Me explica por que...
— Melhor terminar com isso. — O marido de Amanda levou a arma até minha cabeça.
— Espere — ela pediu. — Ela merece saber a verdade.
— Você está brincando, mulher?
— Ela é minha amiga! — Amanda retrucou. Depois me encarou. — Eu trabalho para uma
organização chamada Black Rose. Sou informante para eles dos esquemas bancários para lavagem de
dinheiro. Vicente criou sistemas praticamente invioláveis, então consegui me infiltrar na empresa
para roubar esses dados. Por isso me aproximei de você, queria que facilitasse meu acesso as
senhas. Só que aconteceu algo que eu não previa. De verdade, eu adorei você. Eu queria ser sua
amiga para sempre. E provavelmente seriamos se um idiota de um banco não tivesse descoberto o
esquema. Descobrimos que ele tentou levá-la até o Centro Histórico com a desculpa de lhe vender
roupas para interceptá-la no caminho, e lhe contar tudo a fim de que você contasse para Vicente. A
Black Rose o matou antes, mas você viu...
— Meu Deus...
— E você falou publicamente que viu os rostos. A pessoa que matou é muito importante dentro
da Black Rose, então tentei dizer que você não falaria, que é meio boba etc. Mas, então um policial
foi vê-la na sua casa. Eles souberam disso. E agora exigem que nós nos livramos de você...
Lágrimas deslizaram pela minha face.
— Não entendo como você pode cair em algo assim, Amanda...
— Eu não tive escolha. Eu precisava de dinheiro. Nunca quis te prejudicar!
— Eu entendo que você tenha roubado. Não é certo, mas entendo. Contudo, assassina? Você,
Amanda?
— Sou eu ou você, Jenifer — ela explicou. — Foi por erro meu que o cara do banco descobriu
o golpe. Agora é minha responsabilidade limpar as pistas.
Um som brusco me fez encolher. Não era um tiro. Ela o som de um carro derrapando.
Capítulo 14
Vicente

Era ridículo, mas quando Jenifer me mandou a mensagem, eu estava a poucas quadras da casa
dela. Incomodado com seu distanciamento, eu estacionei perto de uma lancheria, pedi um café, e
fiquei no carro tentando ter coragem de ir até ela.
Até que meu celular vibrou.
E tudo em mim reascendeu.
Ela me pediu para ir à noite, mas eu não podia evitar. Então comecei a dirigir até seu
apartamento. Na sua rua, vi ela caminhando ao lado de Amanda, e pensei que era por esse motivo
que ela não queria me ver agora.
Bom, você respeita o tempo das mulheres e respeita a amizade entre elas.
Já estava indo embora quando percebi um homem a agarrando por trás enquanto Amanda
corria.
Em choque, eu pensei em ir naquela direção, quando percebi que Amanda estava pegando um
carro estacionado a poucos passos e o colocado ao lado de Jenifer. O homem a enfiou no automóvel
e partiram.
Foi tudo tão rápido que mal tive tempo de abrir a porta do carro e tentar correr até eles.
Assustado, volvi para meu veículo. Liguei para a polícia enquanto também dava partida no
meu carro.
Eu precisava chegar até Jenifer.
Nunca ultrapassei o limite de velocidade. De verdade, eu era o tipo de cara merdinha que faz
tudo certo. Mas hoje eu corri como se estivesse em Interlagos. Eu estava preocupado com Jenifer, e
com o que ela pudesse estar sofrendo nas mãos daquelas pessoas.
Amanda...
Minha cabeça girou e eu não conseguia ligar os pontos. O que Amanda tinha a ver com tudo
aquilo. E quem era aquele homem?
O carro da frente cortou para uma estrada de chão batido, logo depois da rodovia. Quando eu
fui fazer exatamente a mesma coisa, um outro veículo cruzou por mim e interceptou-me
momentaneamente.
Pelos segundos que levou para eu ver novamente a cor prata do carro de Amanda, eu acreditei
que perdi Jenifer para sempre. Todavia, quando o brilho cintilou entre as árvores fechadas, eu pude
seguir o automóvel rapidamente.
O sol estava baixo no céu, e aquele lugar abandonado por Deus tinha a aparência mais
assustadora que eu já vi. A própria atmosfera parecia funesta.
Eu sabia onde era. Aquele local era comum nos noticiários do estado.
Lá naquela mata costumavam matar gente, usuários de drogas que não pagavam as contas.
De repente, eu a vi. Ajoelhada no chão. Um homem ao seu lado, apontando uma arma e
Amanda na sua frente, com o olhar embasbacado.
— Jenifer? — Eu chamei, descendo do carro.
Seus olhos verdes assustados volveram para mim e eu vi o desespero neles.
Eu olhei em volta freneticamente até que vi algo que poderia me ajudar. Um pedaço de cano de
metal que havia caído de um dos veículos do ferro velho e rolado até perto da estrada, entre ervas
daninhas.
O cano estava no meio do caminho entre o captor de Jenifer e eu. Podia ter uma chance se
conseguisse me aproximar sem que ele disparasse.
— O que está acontecendo, Amanda?
A mulher correu os olhos, desesperada.
— Vicente! Vá embora — Jenifer gritou.
— Não vai não. — O homem reclamou. — Ele viu nossas caras!
— Mas, não vi fazerem nada... — argumentei. — Se baixar essa arma e forem embora, não vou
denunciá-los.
O cara riu.
— Que cara bonzinho!
— Poderão ficar livres — persisti.
— Livres? Eu devo para a Black Rose. Eles vão me matar se eu não pagar! E agora estamos
nas mãos deles para fazermos o que eles quiserem.
Ok... Eu sabia o que era a Black Rose. A organização de drogas liderava o tráfico no Rio
Grande do Sul. Pelo que entendi, esse idiota na minha frente era um drogado que devia para eles, e
Amanda...
— Ele é seu marido? — questionei a Amanda.
Ela assentiu.
— E você vai se tornar uma assassina, prejudicar sua vida, ir para a cadeia, por causa de um
merda desses? — indaguei.
A frase mexeu com ela.
— Eu fiz mais coisas — ela disse.
— Mas não matou ninguém, certo? Matar alguém é crime sem perdão, Amanda, porque a vida
não pode ser devolvida. Pense bem nisso!
— Cale a boca! — o cara gritou. Depois virou em direção para Amanda, a arma dançando
entre Jenifer e Amanda. — Mulher, você é minha e faz o que eu mando! Não dê opinião, entendeu?
Agora pegue a sua arma e atire nessa bostinha! — apontou Jenifer.
— Por que você não atira? — indaguei. — Quer que Amanda seja a condenada, não é? Se
forem pegos, ela pegará mais anos de cadeia. Você é um bosta que nem é capaz de assumir suas
próprias responsabilidades.
No instante que ele girou para mim, corri até ele, pegando o cano no caminho. Quando
estávamos frente e frente, pus toda minha energia e força no cano, derrubando o homem no chão, a
arma voando longe.
— Atire nele, Amanda — ele gritou, rolando.
Mas o som da arma não ecoou. Amanda recobrou o juízo ou não teve coragem. Aproveitei isso
para lhe dar mais uma bela e sólida pancada na cabeça. Numa das batidas, ele apagou. Eu busquei
sua arma com os olhos, pronto para matar o desgraçado quando Amanda gritou.
— Pare agora ou eu mato Jenifer! — Ela gritou.
Deixei cair o cano.
— Se coloque de joelhos ao lado de Jenifer — ela ordenou.
Eu olhei para Jenifer e percebi que ela estava arrasada e completamente chocada, sem
conseguir se mexer ou dizer nada.
— Como você pôde fazer isso com ela? Jenifer te ama como a uma irmã.
Amanda sorriu para mim com tristeza.
— Você quer dinheiro? Para pagar a dívida do seu namorado? Eu posso dar isso para você.
— Você acha que isso vai me adiantar? Estou nas mãos da Black Rose.
— E como nos matar vai ajudar você?
— Pelo menos vou cumprir o que eles ordenaram.
Capítulo 15
Jenifer

Amanda estava totalmente desequilibrada, sua arma engatilhada, e eu senti as lágrimas


correndo pelo meu rosto, esperando o momento em que minha amiga matasse o homem da minha
vida.
Porque era isso que aconteceria, não é?
Pessoas como eu, pessoas com azar, que não dão certo, quando vislumbram a felicidade são
destruídas pela vida.
E pela morte...
—Você definitivamente não está pensando direito. Você não pode simplesmente matar alguém e
ir embora. Você acha que não tem câmeras de segurança perto do prédio de Jenifer? Você acha
mesmo que ninguém suspeitaria de você? Você não sabe se ela comentou com alguma vizinha, mesmo
que não lembre, de que iria sair com a melhor amiga. Seu DNA está em todo este lugar, também. Esse
seu lindo e longo cabelo loiro deve cair às vezes, não é? Aposto que tem algum fio por aqui. E o
sangue do seu marido, das pancadas que dei nele, estão por aqui... Você não vai se safar!
Os olhos dela pareceram inquietos. Amanda me encarou e depois se voltou para Vicente. Eu
jamais esperaria que ele iria usar de todos os argumentos para tentar me salvar.
— Você só está tentando me amedrontar.
Como eu não vi a verdadeira Amanda antes? Amanda sempre foi gentil comigo... Ela se dizia
minha amiga, me deu apoio, me ligava sempre, me convidou para passar o Natal com ela... Ela era
minha família...
Senti um soluço escapando, mas ele foi bloqueado pelo salto inesperado de Vicente. De
repente ele atacou. Eu sabia que ele precisava arrancar a arma de sua mão, mas também de alguma
forma garantir que ela não disparasse e matasse um de nós, o que era perfeitamente possível.
Os dois caíram no chão, pés e mãos lutando freneticamente. De repente a arma escapou dos
dedos de Amanda e então eu consegui me mover. A busquei rapidamente, enquanto corria para outro
lado e pegava a arma que o marido – desacordado – dela havia perdido.
De repente Vicente deu um soco forte no rosto de Amanda e ela desmaiou.
Ele se ergueu, sem fôlego, e me encarou. Ambos, um diante do outro, vermelhos pela ocasião,
ele todo arranhado e eu segurando duas pistolas.
— Você acha que isso dá Maria da Penha?
Eu queria rir, mas as lágrimas romperam como um rio sem controle. Eu perdi, naquele dia,
minha melhor amiga. Amanda seria presa e com certeza nunca mais nos veríamos. Mas, Deus me
poupou Vicente.
Ao longe, a sirene da polícia soou alta e eu olhei na direção da viatura que chegava.
Quando vi o policial que investigava o assassinato perto da rodoviária, eu deixei as armas
caírem no chão.
Estávamos salvos.
Capítulo 16
Vicente

Três Meses depois...

Jenifer surgiu na estrada de chão batido com um pequeno pato nas mãos. Ela sorriu na minha
direção, erguendo o animal, completamente animada.
— Está cheio de patinhos no açude — contou-me.
Eu sorri genuinamente para ela.
Quando deixamos Porto Alegre após saber sobre a Black Rose, eu me senti desanimado por ter
voltado as terras do meu pai. Todavia, não infeliz, porque Jenifer estava comigo. Quando ela aceitou
ser minha namorada, as coisas pareceram se iluminar. Agora que estava vivendo comigo em uma
casa de campo, perto das montanhas da serra e afastada da casa maior e cheias de luxos dos Franke,
auxiliando-me na administração da fazenda que eu fazia remotamente, entendi que não importava
onde eu estava ou o que estava fazendo, contanto que ela estivesse ao meu lado.
— Você foi incomodar a pata? — eu ralhei, brincando.
— Ela me deixou pegar.
Ela girou o corpo e correu em direção a mata onde daria para o açude de peixes. Eu a segui.
Depois do que aconteceu com Amanda, contamos a polícia todo o esquema. Concordamos em
testemunhar, mas sabíamos que não podíamos ficar na metrópole. Então partimos. Eu achei que
Jenifer fosse reclamar de viver afastada da cidade, mas ela amou as terras dos Franke.
A vi perto do açude, mexendo na água. Aproximei-me dela, agachando-me ao seu lado.
— Jenifer... — murmurei, e seu rosto volveu para o meu.
Minha mente vagou por nossa adolescência, quando sua presença era tudo para mim. Depois,
quando nos reencontramos, adultos, e no quanto eu a amei em segredo, sem esperança de um dia ter
qualquer chance de transformar meu amor em realidade.
E então aconteceram todas as coisas que a aproximaram de mim. Coisas ruins, mas que
serviram para que eu a tivesse... a única mulher que verdadeiramente eu quis.
— Os técnicos avisaram que vão instalar a Internet na casa amanhã — contei.
Ela ficou feliz, apesar de não estar absurdamente animada como imaginei.
— Que bom.
— Achei que estivesse com saudades das suas séries favoritas...
— E eu estou...
— Então, por que não está dando pulinhos de felicidade?
Ela deu os ombros.
— Não sei... eu gosto de ficar com os bichos mais do que eu gosto de ficar on-line. É
estranho?
Eu neguei.
— Jenifer...
— Hum?
— Quer se casar comigo?
Não era para ser assim. Eu tinha um anel, e tinha me programado para levá-la para jantar num
local especial. Mas, de repente, não pude esperar.
— Vicente?
— Hum?
— Você vai ser pai.
Eu sorri. Nós dois acenamos, concordando com ambas as colocações.
Viver era maravilhoso.

FIM
Pedro afastou minhas pernas com o joelho e se acomodou na minha entrada. Ele estava pronto
e eu também, mas me deixou guiar conforme minha vontade.
Montei nele, minhas coxas espalhadas em volta do seu tórax. Sentei-me devagar, deixando com
que seu pau brincasse com o tecido da minha calcinha.
Era incrível a sensação de beijar e se esfregar ao mesmo tempo. De repente, os botões da
minha blusa voaram em todas as direções. Meu peito surgiu diante dele e fiquei um pouco
envergonhada.
Pedro se sentou, levando os mamilos até a boca. Sugou, acariciando a pele mais escura em
volta do mamilo.
Soltei um gemido suave. Ele rosnou em aprovação.
— Tire a calcinha — ele pediu e eu me retesei, lembrando-me imediatamente da primeira vez.
Porém, estava quente demais, com tesão demais, para resistir.
Me levantei e removi a saia e a calcinha. Logo, retornei à posição montada, seu pau ereto
diante da minha boceta um tanto temerosa.
Ele me puxou em sua direção até que estivéssemos cara a cara, me deu um beijo rápido, depois
me colocou de costas novamente. Nossos olhos ficaram presos enquanto ele deslizou entre minhas
coxas. Pedro se colocou entre minhas dobras e brincou com meu clitóris antes de entrar em mim.
Estranhamente, não doeu. Dessa vez, não precisei pedir para ele parar, ele mesmo ficou imóvel
alguns segundos, deixando meu corpo se acostumar ao seu.
De repente, uma sensação cresceu dentro de mim novamente.
Era algo gostoso, bom, me fez contorcer-me... eu precisava...
— Deus, sua bocetinha me puxa tanto — ele gemeu no meu ouvido e eu senti que a vontade
ultrapassou meus limites.
O corpo perfeito de Pedro começou a empurrar seu pau. Saia e voltava com um ritmo
cadenciado, louco... Eu o empurrei de volta, rolando meus quadris para sentir mais da sua carne, sua
delícia.
Seu corpo bateu contra o meu, novamente e novamente. A repetição aqueceu nossas mentes, o
calor aumentou quando colidimos juntos em estocadas desesperadas. Assim que eu alcancei uma
sensação tão poderosa, quase me fazendo gritar, ele se manteve firme e me empurrou no ritmo
perfeito. Nós explodimos juntos, ele derramando-se em mim como se eu fosse parte dele.
Eu não conseguia parar de tremer, mesmo depois que ele caiu em cima de mim. Minhas mãos o
apertaram num abraço gentil e ele sorriu.
Uma parte de mim ainda queria estar com raiva dele. E não apenas porque ele foi um canalha
comigo. Uma parte de mim ainda queria se proteger de tudo que eu estava experimentando.
Fechei meus olhos.
— Eu estou tão cansada e preciso de um banho — murmurei.
Ele assentiu.
— Vamos tomar banho juntos? — pediu. — Depois eu te empresto uma camiseta e você pode
dormir o dia todo aqui. E passar a noite... Quem sabe você queira ficar o resto da vida?
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Foi o que precisou. O toque explodiu meu sangue em fogo puro. Logo, minha boca tomou a
dela, enquanto meu corpo a subjugava contra a lataria do carro.
O gosto de Geovanna não era diferente do que eu sentia na boca, fruto dos meus sonhos. Ela
era doce com aroma de canela. A língua dela era quente e eu pude senti-la contra meus dentes, numa
batalha desesperada por...
Pelo quê?
Deslizei minha mão pela sua coxa e cheguei na parte molhada da calcinha. Eu sabia que ela
estava me ansiando e não era de agora. Seu corpo estremeceu contra o meu e eu disse a mim mesmo
que devia recompensá-la por todo esse tempo em que ela me desejou e não me teve.
Eu me aliviei em outras mulheres, mas Geo não fez isso com outros homens. Era dela, portanto,
o direito ao primeiro prazer.
Deslizei suas pernas por minha cintura, enquanto as costas dela se inclinavam sobre o capô.
Em segundos, ela estava encaixada contra o monte elevado do meu pau, duro como aço.
Não importa mais porra nenhuma. Que o mundo se exploda.
Meus dedos ágeis puxam a calcinha dela para o lado. Eu sinto seus pelos eriçados contra meus
dedos. Quero afundar a boca ali, mas tudo que faço e forçar sua boceta contra meu caralho duro.
— Alex — ela soluça, esfregando-se contra meu pau.
— Diga, Geo — ordeno.
— Meu senhor... — ela geme, não conseguindo se controlar mais.
Eu quero responder, mas nem consigo respirar enquanto começo a roçar meu pau duro através
de nós, para cima e para baixo. Estou vestido, mas mesmo as roupas, não tiram a intimidade gritante
do ato.
Estou prestes a dar a ela o primeiro orgasmo. O primeiro de muitos.
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Eu puxo a barra de sua camisa e ele se levanta um pouco: apenas o suficiente para permitir que
a camisa escorregue dele. Em seguida, ele faz o mesmo comigo. Meus seios nus pressionam em seu
peito duro, meus mamilos roçando enlouquecidamente em sua pele com cada inspiração que consigo.
Suspiro contra sua boca e ele geme contra a minha.
Antony então abaixa a cabeça para passar a língua sobre meu mamilo. Um gemido sobe dos
meus lábios para o ar e acaba abafado em sua boca quando ele volta para me beijar novamente. Eu
gemo novamente em seu beijo, morrendo por mais.
Tudo em meu corpo está gritando para ele me levar. Preciso tanto dele. Não sei como pude
viver sem ele até então.
— Não acho que é o momento certo, Adriana. — Ele sussurra em meus lábios, suas mãos
percorrendo minhas costas, me pressionando contra ele. Estou tremendo, o recuo de seus beijos e
toques me atormentando.
Minha cabeça cai para trás e um suspiro ofegante me escapa. Suas mãos fortes me seguram
contra seu mastro, e seus lábios descem ao longo da minha garganta, espalhando beijos suaves lá.
— Eu preciso... preciso tanto de você...
Minha boceta lateja contra seu pau duro e, de repente, estou ciente de que há muito tecido entre
nós lá embaixo. Como se ele pudesse ler minha mente, ele espalma suas mãos grandes em volta da
minha cintura e me levanta, tirando minhas calças em um golpe suave e rápido, e jogando-as de lado.
Depois Antony me deita e tira suas próprias calças. Logo ele está ajoelhado entre minhas coxas,
numa adoração que mais parece um ritual pagão.
Seu pau surge, ereto, entre nós. Meus olhos se arregalam com seu tamanho. Ele meio que sorri
quando vê minha reação.
— Você é virgem... — ele diz o óbvio. — Tem certeza de que quer isso, agora, comigo?
Ele agarra a base, as mãos se tocando, batendo para cima e para baixo e sei que ele está
fazendo isso para tentar se controlar caso eu não aceite.
Se eu disser não, Antony vai se levantar e ir terminar no banheiro. Eu sei. Ele não vai se
impor.
Meus olhos nublam de lágrimas pela sua gentileza.
— Vem para mim — peço.
Antony se inclina, posicionando-se, e passa a cabeça ao longo da minha fenda ensopada antes
de empurrar-se para dentro de mim.
Suspiro, meus dedos deslizando em seu cabelo e entrelaçando-o, enquanto ele enche minha
boceta com sua circunferência, me esticando completamente.
Doí. Mas, sua delicadeza aquece meu coração.
— Diga-me quando estiver confortável — sua voz calma preenche o vazio na minha alma. —
Eu vou esperar seu tempo, Adri... Sempre vou esperar você.
É quase uma declaração de amor, apesar de até então não termos dito nada nesse sentido um
para o outro.
Meus olhos abrem, surpresos.
Eu sei que o amo. E sei que ele me ama também. É como se as palavras não tivessem espaço
entre nós.
Antony está inteiro dentro de mim. Ele se deita sobre meu corpo esperando com que eu faça o
próximo movimento. Quando a leve ardência acalma, eu resvalo meu quadril contra ele.
Ah... sim... é isso.... Deus, é isso...
Não foi preciso pedir. Antony sentiu. Depois da minha reação, Ele empurrou com mais
ferocidade em mim. Meus calcanhares circundaram seu quadril, segurando-o com força em minha
boceta, certificando-me que ele não pode se afastar muito antes de me esmurrar novamente com seu
pau grosso.
Ele abaixa a cabeça, sugando um mamilo em sua boca e o provoca com os dentes enquanto
fode minha boceta melhor do que qualquer coisa que eu já imaginei. A dor já foi embora,
transformada em êxtase selvagem e sons ferinos.
Minhas unhas arranham suas costas enquanto eu subo alto, uma espiral enrolando
profundamente dentro de mim, com força, e estou pronta para pular com uma intensidade feroz.
Grito seu nome enquanto minha boceta se debate em torno de seu pau enorme, forçando seu
próprio orgasmo para fora dele.
Nós afundamos, derretendo. Meu corpo sacode em clímax desesperado, seu pau batendo com
força no meu clitóris, sua boca buscando a minha. Estamos perdidos um no outro.
— Meu Deus — grito, quando explodo num gozo desesperado. — Antony, Antony...
Seu corpo sacode antes de cair sobre o meu.
— Adri... o que foi isso?
Eu não sabia. Mas, eu precisava de mais.
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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por literatura, e teve em Alexandre Dumas e Moacyr
Scliar seus primeiros amores.
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais de vinte livros, dos quais, vários se destacaram
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