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essa documentação. Uma análise preliminar no acervo bem como alguns estudos
anteriores, de graduação e pós-graduação (Campos, 2007; Tadeu, 2003; Silva, 2005),
localizaram documentos sobre a dinâmica institucional da Escola de Educação Física da
UFMG, desde a sua fundação, que têm permitido o levantamento de marcos
periodizadores e a seleção de informações para a escrita de uma das possíveis versões
sobre a sua história institucional. Conhecer essa história tem sido fundamental para
compreender os aspectos particulares da evolução da estrutura organizacional dessa
Escola e, assim, estabelecer os elementos que compõem os quadros de arranjo do seu
fundo institucional.
Em 8 de fevereiro de 1952, iniciaram-se as atividades da primeira Escola de
Educação Física do Estado de Minas Gerais, de caráter público, no governo Juscelino
Kubitschek. A Escola era vinculada à Diretoria de Esportes de Minas Gerais e mantida
com verba mensal vinda da Loteria de Minas, garantida pelo Decreto Federal n. 31.761,
de 12 de novembro de 1952. No mesmo ano foi criada também em Belo Horizonte a
Escola de Educação Física das Faculdades Católicas, mantida pela Sociedade Mineira
de Cultura. Nessas Escolas funcionavam quatro cursos: Superior de Educação Física,
Educação Física Infantil, Técnica Esportiva, Medicina Especializada e Massagem
Especializada.
Os currículos das duas escolas eram idênticos. Tal organização era baseada
naquele da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD), Rio de Janeiro,
de acordo com o Decreto-lei 1212, de 17 de abril de 19393. Nas Escolas mineiras, a
única diferença estava na inclusão da disciplina Cultura Religiosa, no curso das
Faculdades Católicas.
Um ano depois houve a fusão das Escolas, em acordo firmado por Juscelino
Kubitschek e Dom Cabral, em 30 de setembro de 1953 sendo denominada, a partir daí,
Escola de Educação Física de Minas Gerais. Possivelmente problemas financeiros, a
pequena demanda de alunos nos vestibulares e as brigas internas inviabilizavam a
existência de ambas, isoladamente. A nova Escola passou então a ter uma organização
mista, sendo mantida com recursos da Diretoria de Esportes do Estado e tendo
orientação pedagógica vinculada ao Conselho Diretor da Sociedade Mineira de Cultura.
A oficialização da fusão, com o reconhecimento federal da instituição, foi homologado
em 13 de abril de 1955. O currículo da Escola de Educação Física de Minas Gerais
manteve estrutura similar àquele que vigorava na Escola do Estado, com a inclusão da
disciplina Cultura Religiosa. Os cursos oferecidos também foram os mesmos previstos
pelo Decreto-Lei 1.212. No que diz respeito à coordenação das atividades da Escola, os
assuntos administrativos e educacionais eram decididos diretamente pelo Diretor, nas
reuniões do Conselho Técnico Administrativo (CTA), ou ainda nas da Congregação.
Indícios apontam que, nessas condições de funcionamento, a Escola procurou ter
certa visibilidade no cenário da Educação Física nacional, como, por exemplo, a
realização de atividades de formação extra curriculares, com o apoio financeiro do
Governo de Bias Fortes, como as “Jornadas Internacionais de Estudos de Educação
Física” 4. A Escola de Educação Física de Minas Gerais também publicou por algum
tempo o seu jornal, denominado “Educação Física” (Linhales e Lima, 2010).
A Escola experimentou a partir de 1961 sérios problemas políticos e financeiros
que quase a levaram ao desaparecimento. O financiamento do Estado foi reduzido sob o
governo de Magalhães Pinto. Ela deixou de publicar o seu jornal “Educação Física” e,
nos anos seguintes, não promoveu outras Jornadas de Educação Física. Cerca de 50
bolsas de estudo ofertadas a alunos do interior do Estado foram cortadas. Aos
professores, funcionários e alunos faltaram recursos para continuar as atividades
normais (Campos, 2007).
5
Em 1964, ano de golpe militar, a crise chega ao limite. Uma comissão de alunos
da Escola vai ao governador Magalhães Pinto, que a recebeu no Palácio da Liberdade
em 29 de setembro. A Escola chegou a encerrar suas atividades temporariamente na
expectativa de uma reação do governo. O seu diretor naquele período, Herbert de
Almeida Dutra, chegou a recorrer a diferentes instâncias governamentais dos Estados
Unidos da América solicitando que a Escola fosse incluída entre as beneficiadas pelo
Plano Educacional de auxílio à América do Sul. Além disso, escreveu também ao
presidente do Brasil, General Humberto de Alencar Castelo Branco, mas seus apelos
que não tiveram resultado. Em 1965, a Escola passou pelo momento mais difícil e os
funcionários decidiram paralisar suas atividades. Os alunos, de pronto, aderiram ao
movimento5.
Mesmo assim, essa Escola parece ter se firmado como lugar de referência da
Educação Física em Minas Gerais. Alguns documentos no acervo do CEMEF apontam
que ela também exerceu atividades para além de seus próprios cursos: foi espaço de
implantação de uma política de formação de professores do governo militar, o
denominado PREMEM (Programa de Expansão e Melhoria do Ensino) e foi também
instituição oficialmente designada pelo governo estadual para atividades de
“provimento de cadeiras” e “exames de suficiência” relativos à contratação de
professores para a disciplina Educação Física das escolas estaduais.
A situação precária de funcionamento da Escola perdurou nos anos seguintes e,
foi naquela conjuntura, que uma alternativa foi ganhando força: os seus membros
entenderam que a situação pela qual a instituição passava somente seria resolvida em
definitivo com a sua federalização6.
A partir de 1966, estudos foram realizados com o intuito de implementar uma
ampla reforma universitária no Brasil, que se efetivou com a Lei 5540/68. Nesta nova
circunstância, em 21 de novembro de 1969 a Escola de Educação Física de Minas
Gerais foi agregada à Universidade Federal de Minas Gerais, por meio do Decreto-Lei
nº 997. A inserção definitiva deu-se com a instalação da Congregação da Escola de
Educação Física, em 1973.
A integração à UFMG trouxe mudanças significativas para a instituição, que se
configuram num momento de inflexão na sua estrutura, coordenação e funcionamento.
A Escola teve que se adaptar às especificidades da Universidade, com impactos sobre
sua organização de ensino e administrativa, seu corpo docente, seu corpo discente e seus
funcionários. Houve necessidade de reestruturar os cursos então oferecidos, conforme
regimento específico da UFMG. Permaneceu a oferta do curso Superior em Educação
Física, enquanto que o relativo à Educação Física Infantil, por exemplo, foi
paulatinamente desativado. Desde 1974, uma nova proposta curricular para a
Licenciatura em Educação Física foi elaborada e enviada ao Conselho de Graduação e à
Coordenação de Ensino e Pesquisa da UFMG, onde foi finalmente aprovada sem
restrições em 1977.
Uma vez inserida na Universidade, houve também a construção de sua sede no
campus da Pampulha, inaugurada em 12 de dezembro de 1977, depois de cinco anos de
construção, com uma área de 12 mil metros quadrados. Nessa mesma década de 1970
também foi construído o Centro Esportivo Universitário, instituição anexa à Escola,
onde aconteciam as aulas de Educação Física, sob responsabilidade da Escola, para os
outros cursos superiores da Universidade.
As duas décadas seguintes, no que diz respeito aos modelos que orientavam o
curso, foram marcadas por iniciativas que contribuíram para consolidar a Escola de
Educação Física da UFMG como lugar de formação profissional e também de produção
de conhecimento na área. Destaque-se, por exemplo, a parceria com a UFRJ em 1973,
6
Referências bibliográficas
1
Com afirma Tessitore (2003, p. 18), “nem sempre o Centro de Documentação tem como objetivo a
preservação da memória ou a pesquisa histórica. Muitos estão vinculados à pesquisa em outras áreas ou à
produção e prestação de serviços”. Tomando outros Centros como referência, ressaltamos que no CEMEF
a memória toma uma dimensão central, nos processos mistos de organização de acervos permanentes Tal
como acontece no Centro de Memória da Educação (FE/USP) no CMU: Centro de Memória da
UNICAMP, no CEME (Centro de Memória do Esporte (ESEF/URGS) ou no CEMENF (Centro de
Memória da Enfermagem (UFMG), apenas para citar alguns.
2
O CEMEF possui projetos que foram ou ainda são financiados pelo CNPq, pela FAPEMIG, pela FINEP
e pela Rede CEDES do Ministério do Esporte
3
Nesse decreto foi estabelecido que essa Escola da Universidade do Brasil teria que, entre suas principais
funções, servir de base para outras escolas e, com isso, dar unidade teórica e prática ao ensino de
Educação Física no país.
4
De 1957 a 1962, foram realizadas cinco “Jornadas Internacionais de Estudos de Educação Física”,
patrocinadas com recursos do Estado.
5
Após ampla discussão, decidiu-se por uma paralisação completa das atividades, em função da falta de
recursos financeiros e didáticos.
6
A Escola deveria passar a pertencer à Universidade Federal de Minas Gerais, alternativa que vinha
sendo cogitada desde 1963.
7
LINHALES, M. A.; ROSA, M. C. (Orgs.). Guia de fontes: acervo do Centro de Memória da Educação
Física, do Esporte e do Lazer. Belo Horizonte, 2007. 203 p. Disponível em
http://www.cemef.eeffto.ufmg.br
8
A equipe de trabalho que está organizando o acervo é formada por professores e alunos integrantes do
CEMEF/UFMG e por pessoal de uma empresa contratada para este fim. Todo o grupo encontra-se em
reuniões de trabalho em que são analisados textos e autores que subsidiam os procedimentos e são
planejadas as ações de tratamento do acervo. A equipe divide-se em sub-grupos que executam as ações
planejadas.
9
Suporte é o material em que a informação é registrada. Exemplos de suportes são papel, fita magnética,
filme.
10
Gênero é a reunião de espécies documentais com suporte e formato semelhantes. Exemplos de gêneros
documetais são documentos audiovisuais, documentos filmográficos, documentos textuais.
11
ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística. Rio de Janeiro:
Arquivo Nacional, 2005, p. 136.
12
TESSITORE, Viviane. Como implantar centros de documentação. São Paulo: Arquivo do Estado,
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2003, p.12-13.
13
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2004, p. 38.
14
Por arquivística clássica entende-se a disciplina constituída ao longo do século XIX e que
autonomizou-se da paleografia, da diplomática e da história na transição para o século XX. Esta disciplina
pretendia um método objetivo e acreditava que a organização dos documentos de arquivo deveriam
espelhar a ordem interna da entidade produtora. No contexto de organizações com estruturas
administrativas mais rígidas e hierárquicas, tal objetividade tinha mais significado. A arquivística
contemporânea reconhece as dificuldades do método clássico tendo em vista a acelerada mutabilidade
interna das organizações.
15
DUCHEIN, Michel. O respeito aos fundos em arquivística: princípios teóricos e problemas práticos.
Arquivo & Administração. Rio de Janeiro, v. 10-33-, abr. 1982/ago. 1986.
16
Arranjo é a “seqüência de operações intelectuais e físicas que visam à organização dos documentos de
um arquivo ou coleção, de acordo com um plano ou quadro previamente estabelecido”. ARQUIVO
NACIONAL (Brasil). Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 2005, p. 37.
17
Para mais informações sobre a sistemática do arranjo funcional, ver: TESSITORE, Viviane. Arranjo:
estrutura ou função? Arquivo: boletim histórico e informativo, São Paulo, 10(1): 19-28, jan.-jun., 1989 e
12
SOUSA, Renato Tarciso Barbosa de. A classificação como função matricial do que-fazer arquivístico. In.
SANTOS, V. B. dos (Org.) et. Al. Arquivística: Temas contemporâneos. 2.ed. Distrito Federal: SENAC,
2008. p. 78-172.