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Ergonomia e

Medicina do
Trabalho
Livro Didático Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ELAINE CHRISTINE PESSOA DELGADO
MARCOS RODOLFO DA SILVA
GISELLY SANTOS MENDES
AUTORIA
Elaine Christine Pessoa Delgado
Sou formada em administração de empresas pela Universidade
Federal de Campina Grande (2007), e tenho uma experiência técnico-
profissional de mais de 10 anos na área de gerência de empresas.

Marcos Rodolfo da Silva


Sou Graduado em Enfermagem, Pós-Graduado em Enfermagem
do Trabalho, Técnico em Radiologia e Instrumentador Cirúrgico pelo
Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB),
2010 - 2012 e 2008, respectivamente. Além disso, ao longo de minha
carreira, participei de cursos na área de urgência e emergência e atuei
como enfermeiro supervisor no Pronto Socorro Municipal Dr. Oscar Pirajá
Martins, na cidade de São João da Boa Vista (SP), de março de 2011 a
janeiro de 2014. Atualmente sou acadêmico do 5° ano do curso de Medicina
no Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino Unifae, São
João da Boa vista (SP). Além disso, desenvolvo materiais didáticos como
professor conteudista nas áreas de saúde pública, saúde do idoso, direito
à saúde e áreas correlatas.

Giselly Santos Mendes


Sou Mestre em Qualidade Ambiental, Tecnóloga em Polímeros,
Administradora, Educadora com uma experiência técnico-profissional de
mais de 12 anos na área de Processos Gerenciais e Educacionais.

Somos apaixonados pelo que fazemos e gostamos de transmitir


nossas experiências de vidas àqueles que estão iniciando em suas
profissões. Por isso fomos convidados pela Editora Telesapiens a integrar
seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder
ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Riscos Ergonômicos.................................................................................... 10
Os Riscos Ergonômicos .............................................................................................................10
Esforço Físico Intenso, Levantamento e Transporte Manual de
Peso......................................................................................................................................... 11
Imposição de Ritmos Excessivos e Jornada Prolongada de
Trabalho............................................................................................................................... 15
Monotonia, Repetitividade e Situações de Estresse Físico e
Psíquico................................................................................................................................ 17
Biomecânica Ocupacional.......................................................................20
A Biomecânica................................................................................................................................... 20
A Biomecânica Ocupacional.................................................................................23
Trabalho Estático e Trabalho Dinâmico.....................................25
Postura .............................................................................................................26
Movimentos Corporais e Força........................................................28
Antropometria............................................................................................... 31
A Antropometria................................................................................................................................ 31
Tipos.......................................................................................................................................33
Antropometria Estática..........................................................................33
Antropometria Dinâmica.......................................................................35
Antropometria Funcional......................................................................35
Variações das Medidas Humanas.................................................................... 36
Variações em Função do Gênero ............................................... 36
Variações em Função de Fatores Genéticos e
Hereditários....................................................................................................37
Variações em Função do Clima..................................................... 38
Variações em Função do Tipo de Alimentação................. 38
Variações em Função do Biótipo.................................................. 38
A Ergonomia e as Doenças Ocupacionais..........................................40
As Doenças Relacionadas com a Ergonomia............................................................ 40
Ergonomia e Medicina do Trabalho 7

02
UNIDADE
8 Ergonomia e Medicina do Trabalho

INTRODUÇÃO
Você sabia que os riscos ergonômicos são riscos ocupacionais que
se originam em ambientes de trabalho cujas atividades oferecem danos
à saúde do trabalhador, e que esses danos podem causar várias doenças
ou até mesmo agravar outras já existentes? Que através da Biomecânica
pode-se identificar as tensões que ocorrem nos músculos e articulações
nas posturas e nos movimentos? E que a Antropometria estuda as
dimensões e proporções do corpo humano? A Antropometria ajuda
na elaboração de ambientes de trabalho adequados às necessidades
posturais e a Biomecânica Ocupacional avalia os impactos causados
pelos movimentos do corpo humano relacionados ao trabalho. Esses
impactos associados a ambientes laborais inadequados e com riscos
ergonômicos acabam acarretando malefícios aos indivíduos que estão
exercendo essas atividades. Dessa forma, o projetista deve identificar as
situações que são danosas ao trabalho adotando medidas necessárias
para preservar os trabalhadores desses riscos. Nesta unidade iremos
conhecer quais são os riscos ergonômicos, o que é a Biomecânica
Ocupacional e a Antropometria, e as doenças ocupacionais que possuem
relação com a Ergonomia.

Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste


universo!
Ergonomia e Medicina do Trabalho 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:

1. Identificar e analisar os riscos ergonômicos no dia a dia laboral.

2. Entender a biomecânica ocupacional e sua aplicação na ergonomia.

3. Aplicar as técnicas da antropometria na solução de problemas


ergonômicos.

4. Compreender, tipificar e analisar as doenças relacionadas com a


ergonomia.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
10 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Riscos Ergonômicos

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


quais são os riscos relacionados com a Ergonomia. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então
vamos lá. Avante!.

Os Riscos Ergonômicos
Conforme Macedo (2012), o bem-estar e a satisfação relativos ao
serviço estão diretamente ligados com a qualidade de vida do trabalhador,
que é um dos aspectos mais importantes a serem analisados. Dessa
maneira, é essencial que o ambiente de trabalho seja continuamente
fiscalizado e avaliado, para conferir e mensurar os riscos que ele pode
oferecer à saúde do trabalhador.

Os riscos ocupacionais se originam nas mais variadas atividades


exercidas pelo trabalhador como cumpridor de uma determinada
ocupação atualmente, sobretudo nas atividades insalubres e perigosas,
cuja natureza, condições ou métodos de trabalho envolvem algum mal a
sua integridade física e psíquica, explicam Barsano e Barbosa (2013).

NOTA:

Para que graus aceitáveis de eficiência, qualidade e


produtividade sejam obtidos, é indispensável a utilização
de políticas orientadas para implementação de ambientes
de trabalho confiáveis e seguros (MACEDO, 2012).

Os mais diversos riscos existentes no ambiente foram identificados


como riscos ambientais e incluem os riscos químicos, físicos, biológicos,
de acidentes e ergonômicos, como informa Macedo (2012).
Ergonomia e Medicina do Trabalho 11

Mas o que é um risco?

DEFINIÇÃO:

O glossário da Norma Regulamentadora 10 define risco


como sendo “a capacidade de uma grandeza com potencial
para causar lesões ou danos à saúde das pessoas”.

Salvatierra (2014) esclarece que são considerados riscos


ergonômicos quaisquer fatores que possam causar interferência nas
características psicofisiológicas do trabalhador, gerando desconforto ou
prejudicando sua saúde.

Os riscos ergonômicos podem ser, segundo Macedo (2012): esforço


físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de
postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos
excessivos, jornada prolongada de trabalho, monotonia e repetitividade,
situações de estresse físico e psíquico. Vejamos alguns deles.

Esforço Físico Intenso, Levantamento e Transporte


Manual de Peso
Kroemer e Grandjean (2005, p. 85) explicam que o trabalho pesado é
qualquer atividade que estabelece grande esforço físico e é “caracterizado
por um alto consumo de energia e grandes exigências do coração e do
pulmão”. O consumo de energia e o esforço cardíaco estabelecem limites
à atuação sob trabalho pesado, e estas duas funções são comumente
usadas para aferir a rigidez do trabalho físico, relatam os autores.
12 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Figura 1 - Esforço físico

Fonte: Freepik.

O trabalho pesado causa grande quantidade de calor pelos


processos metabólicos, assim, em espaços muito quentes, o organismo
ganha uma carga complementar de calor por convecção e radiação,
elucidam Iida e Buarque (2018). Em contrapartida, o único mecanismo
à disposição para acabar com o calor corporal é a evaporação do suor.
Dessa forma, qualquer desconformidade pode induzir ao aumento da
temperatura corporal, podendo tornar-se muito perigoso.

Iida e Buarque (2018) destacam três tipos de providências


adequadas:

•• Agir sobre o ambiente – aperfeiçoar as condições ambientais para


beneficiar a evaporação do suor, com ventilação e uso de roupas
apropriadas.

•• Construir barreiras – levantar barreiras entre a fonte de calor e o


trabalhador, colocando uma superfície refletora para o calor radiante
ou roupa protetora, para que esse calor não alcance o corpo.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 13

•• Reduzir o ritmo de trabalho – diminuir o ritmo ou dar pausas para


que o trabalhador tenha tempo necessário para acabar com o
calor acumulado no organismo.

NOTA:

Durante essas pausas, o trabalhador deverá se distanciar da


zona quente, deslocando-se para locais menos quentes,
explicitam Iida e Buarque (2018).

O trabalho pesado é frequente na mineração, construção, agricultura,


atividades florestais e transporte, compreendendo, por exemplo, manejo
de bagagem pelo pessoal de transporte aéreo, informam Kroemer e
Grandjean (2005).

Kroemer e Grandjean (2005) afirmam que o manuseio de


cargas (levantar, abaixar, empurrar, puxar, carregar, segurar e arrastar)
comumente abrange muito esforço estático e dinâmico, o bastante para
ser classificado como trabalho pesado.

A Norma Regulamentadora 17 explica o transporte manual de cargas


(Figura 2) como “todo transporte no qual o peso da carga é suportado
inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a
deposição da carga”.
Figura 2 - Transporte manual de cargas

Fonte: Pixabay.
14 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Oliveira (2018) lembra que quando um trabalhador é apontado


para o transporte manual de cargas, exceto as leves, deverá receber
treinamento ou instruções suficientes quanto aos métodos de trabalho
que ele deverá empregar no processo de transporte.

Nos transportes de materiais em que a única opção é a força humana,


torna-se indispensável a adoção de medidas para a prevenção de vários
riscos resultantes da atividade que, por causa do processo contínuo e
frequentemente exaustivo de uma determinada função, podem acarretar
acidentes e perturbação física e mental no trabalhador, como é o exemplo
de carregamento, descarregamento e empilhamento de sacos e outros
tipos de materiais, esclarecem Barsano e Barbosa (2013).

IMPORTANTE:

Não deverá ser permitido o transporte manual regular de


cargas que seja passível de comprometer a saúde ou a
segurança do trabalhador, mesmo quando empregados
equipamentos mecânicos de ação manual (OLIVEIRA,
2018).

Essas funções demonstram preocupação contínua quanto às


condições ergonômicas, pois os trabalhadores constantemente estão
sujeitos a condições inapropriadas no cumprimento de suas atividades,
como pisos escorregadios, escadas que não aguentam seu peso e o da
carga, longas distâncias para as entregas, jornadas extensas de trabalho e
ausência de pausa para descanso, o que pode causar lesões musculares
e estresse físico e mental, informam Barsano e Barbosa (2013).

Abrahão et al. (2009) descreve que no transporte de cargas devem


ser consideradas: a distância horizontal em relação ao corpo; a frequência
do levantamento; o trajeto a ser percorrido; a altura da carga a ser
levantada e o tipo de pega do objeto.

Existem algumas normas que regulamentam o transporte e o


manuseio de cargas individuais, como as NRs 5, 11, 17 e 18, cita Abrahão
Ergonomia e Medicina do Trabalho 15

et al. (2009). Barsano e Barbosa (2013) ainda mencionam que a Norma


Regulamentadora 11 traz algumas condições que deverão ser seguidas
para que sejam diminuídos os efeitos adversos e que elas devem ser
respeitadas nos ambientes laborais. Um exemplo disso é a distância
máxima percorrida para o transporte manual de um saco.

Imposição de Ritmos Excessivos e Jornada


Prolongada de Trabalho
De acordo com Iida (2019), a fadiga é um dos principais fatores que
contribuem para a diminuição a produtividade. Em algumas situações,
a origem da fadiga tem relação com horários, trabalhos em turnos,
programação da produção ou relações pessoais dentro e fora do trabalho.

Em tarefas industriais foi verificado que as jornadas muito longas


causam diminuição de desempenho (Figura 3). Na maior parte dos eventos,
considera-se que a jornada de 8 a 8,5 horas é a máxima para que uma
boa produtividade seja conservada. Contudo, se ocorrer o aumento para
9 horas ou mais, a produção não será muito diferente, a não ser que os
trabalhadores apresentem ritmos forçados. Todavia, os erros começam a
surgir com uma frequência cada vez maior, fazendo com que a qualidade
da produção diminua, esclarece Iida (2019).
Figura 3 - Diminuições de desempenho

Fonte: Freepik.
16 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Por isso, em atividades que estabelecem atividade física pesada


ou em ambientes desfavoráveis, como altas temperaturas ou excesso de
ruídos, devem ser disponibilizadas pausas durante a jornada de trabalho,
informa Iida (2019).

IMPORTANTE:

Geralmente, pausas de curta duração introduzidas no


próprio período de trabalho são mais efetivas que aquelas
longas, após a finalização desse trabalho (IIDA, 2019).

Mattos e Másculo (2011) lembram que um ponto que deve ser


observado no trabalho em turnos é que ele exige alguns cuidados para
diminuir o estresse do trabalhador, como os elementos associados ao
ritmo circadiano, diferenças individuais, tipo de atividade, desempenho,
saúde e consequências sociais.

O ciclo circadiano exerce influência na atuação do trabalhador em


seu posto laboral, assim como algumas pessoas possuem mais facilidade
em se ajustar ao turno da noite do que outros. No campo social, os
trabalhadores noturnos possuem vida social e contato com os membros
da família e da comunidade de forma mais restrita e também têm mais
irritabilidade e cansaço, assim como úlceras e transtornos nervosos,
afirmam Mattos e Másculo (2011).

Regis Filho (2004) ainda complementa, dizendo que o trabalhador


em turnos e noturno pode manifestar a síndrome da má adaptação ao
trabalho em turnos, que abrange um conjunto de sintomas particulares,
como consequência da inaptidão do indivíduo para inverter os ritmos
biológicos e se adequar aos programas de rotação de turnos e ao trabalho
noturno.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 17

Monotonia, Repetitividade e Situações de Estresse


Físico e Psíquico
Os sintomas mais significativos de monotonia, segundo Iida (2019),
são uma sensação de fadiga, sonolência, morosidade e uma diminuição
de vigilância. As experiências revelam que a atividades prolongadas
e repetitivas de pouca dificuldade acabam aumentando a monotonia
(Figura 4).
Figura 4 - Monotonia

Fonte: Pixabay.

“Monotonia é a reação do organismo a um ambiente uniforme,


pobre em estímulos ou pouco excitante” (IIDA, 2019, p. 358).

Mattos e Másculo (2011 p. 345) complementam afirmando que,


quando são realizadas operações monótonas e repetitivas, existe um
aumento do sono, o que causa erros mais frequentes.

EXEMPLO: Um operador observando um quadro de comando


para identificar anormalidades que dificilmente acontecem encara uma
situação pobre em excitação. Essa pode ser uma atividade extremamente
monótona, exemplifica Iida (2019).

A monotonia nos ambientes de trabalho pode ser diminuída


com o alargamento (quando é alterada a função do funcionário, mas
conserva as mesmas atividades psicomotoras desempenhadas antes)
e enriquecimento do trabalho (compreende a mudança de função
acrescentando novas ações cognitivas e responsabilidades), mencionam
Mattos e Másculo (2011).
18 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Uma pessoa que exerce uma atividade monótona durante um


tempo longo sofre diminuição de sua capacidade física e mental, por
causa falta de desafios. Assim, uma tarefa excessivamente repetitiva,
que não gera novos desafios às pessoas, tende a atrofiá-las, enquanto os
ambientes que sempre ocasionam entusiasmo ou novos desafios tendem
a desenvolvê-las.

Contudo, não se pode exagerar, pois as pessoas sujeitas a desafios


muito grandes ou intoleráveis tendem a apresentar comportamentos de
fuga, sofrem de estresse e podem adoecer, explicita Iida (2019).

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos que


você leia o artigo “Riscos ergonômicos são realidades no
ambiente de trabalho”, clicando aqui.

Iida e Buarque (2018) afirmam que os trabalhadores vivem


crescentemente situações estressantes. As causas do estresse são muito
variadas e têm um efeito cumulativo. As exigências físicas ou mentais
excessivas causam estresse, mas este pode afetar mais intensamente
aqueles trabalhadores já atingidos por outros fatores, como conflitos com
a chefia ou até problemas familiares, informam os autores.

Vejamos algumas dessas causas, segundo Iida e Buarque (2018):

•• Conteúdo do trabalho – pode ser a pressão para manter certo ritmo


de produção e cumprir prazos, assim como as responsabilidades,
conflitos, o baixo significado do trabalho para o trabalhador, entre
outros.

•• Sentimentos de incapacidade – resultante da percepção pessoal


de incapacidade de atender a demanda do trabalho ou terminá-la.

•• Condições de trabalho – abarca várias situações, como as


condições físicas desfavoráveis, incluindo o excesso de calor,
umidade saturada, ventilação deficiente, ruídos exagerados, luzes
inadequadas, entre outros.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 19

•• Fatores organizacionais – compreende o comportamento


dos superiores hierárquicos, como chefes e supervisores,
demonstrando exigências e críticas excessivas, como também
questões de salário, carreira, horas extras, horários de trabalho e
turnos.

•• Pressões econômico-sociais – envolve os conflitos com colegas


de trabalho, amigos, familiares, assim como a pressão realizada
pela sociedade de consumo ou o dinheiro para pagar as contas.
Filho (2004) ainda destaca a existência de fatores que estão
presentes no local do trabalho e que mais induzem à fadiga mental, física
e crônica do trabalhador. São eles: os momentos de pausa insuficientes
para o descanso regular durante o trabalho; a postura estática no posto
de trabalho ao efetuar as tarefas e a execução das atividades laborais em
ambientes insalubres e inadequados.

RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Você deve ter
aprendido que os riscos ergonômicos fazem parte dos
riscos presentes no ambiente e correspondem a qualquer
fator que possa causar interferência nas características
psicofisiológicas do trabalhador, gerando desconforto ou
prejudicando sua saúde.

Eles podem ser esforço físico intenso, levantamento e transporte


manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de
produtividade, imposição de ritmos excessivos, jornada prolongada de
trabalho, monotonia e repetitividade e situações de estresse físico e psíquico.
Você viu também que o esforço físico é estabelecido no trabalho pesado,
que no levantamento e transporte manual de peso o trabalhador deverá
receber treinamento ou instruções suficientes quanto aos métodos de
trabalho que deverá empregar no processo de transporte, que em jornadas
prolongadas a qualidade da produção tende a diminuir e que, quando se
realizam operações monótonas e repetitivas, existe um aumento do sono,
o que pode causar erros mais frequentes. Por fim, você compreendeu que
os trabalhadores vivem crescentemente situações estressantes, sendo as
causas do estresse muito variadas e tendo um efeito cumulativo.
20 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Biomecânica Ocupacional

OBJETIVO:

Neste capítulo iremos conhecer o conceito de Biomecânica


e suas áreas, discutir a Biomecânica Ocupacional,
compreender os princípios relacionados com a Ergonomia,
o trabalho estático e dinâmico, as posturas e movimentos
corporais. Vamos juntos?.

A Biomecânica
Vamos compreender primeiramente o que é Biomecânica.

Segundo Souza (2018), a palavra Biomecânica é formada pelo


prefixo bio, que significa vida, e o termo mecânica, que se refere ao campo
que estuda as ações das forças e suas interações com os objetos. Dessa
forma, para Bottino e Costa (2012), a Biomecânica é um dos processos
necessários para estudar a forma como os seres vivos (especialmente o
ser humano) se adequam às leis da mecânica quando estão efetuando
movimentos espontâneos.

No estudo da Biomecânica, empregam-se as leis físicas da


mecânica ao corpo humano, assim, podem-se avaliar as tensões que
acontecem nos músculos e articulações durante uma postura ou um
movimento, elucidam Dul e Weerdmeester (2012).

A Biomecânica estuda áreas distintas que têm relação com o


movimento do ser humano e animais, abrangendo: funcionamento de
músculos, tendões, ligamentos, cartilagens e ossos; cargas e sobrecargas
de estruturas específicas e fatores que influenciam a performance,
descreve Souza (2018).
Ergonomia e Medicina do Trabalho 21

NOTA:

A Biomecânica é uma ciência muito vasta, que acaba


assumindo conceitos de múltiplas áreas para que seu
raciocínio seja desenvolvido (SOUZA, 2018).

A Biomecânica pode ser dividida em quatro grandes campos,


conforme Souza (2018): Cinemática, Cinética, Controle e Anatomia.
Cada um desses campos verifica questões diferentes do movimento
humano (Figura 5) e, para isso, faz uso de metodologias diferentes, como
a Antropometria, a eletromiografia, a dinamométrica e a cinemetria,
respectivamente.
Figura 5 - Movimento

Fonte: Pixabay.

A Cinética, segundo Bueno (2019 p. 9), é “o ramo da dinâmica que


lida com as forças que produzem, detêm ou modificam o movimento dos
corpos. É a subdivisão da Biomecânica que estuda as forças que causam
o movimento”.
22 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Ela consegue analisar, por meio da dinamometria, quais são as


forças produzidas em virtude das ações motoras efetivadas, que podem
ser internas ou externas, dependendo do tipo de informação que se
almeja, esclarece Souza (2018).

IMPORTANTE:

Pode-se identificar, num ambiente laboral dentro de


uma grande linha de produção de uma empresa, se a
postura provoca sobrecargas que podem ser prejudiciais
ao trabalhador, assim como quais são as adaptações
nesse espaço que podem ser benéficas para a saúde e a
produtividade (SOUZA, 2018).

A Cinemática é a parte da Biomecânica que estuda os movimentos


sem ter preocupação com as forças que acarretam esses movimentos,
explica Bueno (2019). Ela oferece informações sobre os movimentos
efetivados, deslocamentos, velocidades, acelerações de segmentos
e articulações que podem ser medidas e, assim, produzir padrões de
movimentos mais eficientes, complementa Souza (2018).

Souza (2018) diz que, no campo da Anatomia, avaliações


antropométricas podem oferecer informações relacionados à média do
tamanho dos segmentos corporais de uma população.

NOTA:

Isso permite que a indústria de vestuário estabeleça quais


as medidas de blusas e calças que mais se ajustam às
necessidades dos usuários (SOUZA, 2018).

Já na área de controle, Souza (2018) explica que a eletromiografia


permite analisar como conseguimos controlar nossos músculos e, como
resultado, estabelecer quais são os responsáveis por esse ou aquele
movimento.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 23

IMPORTANTE:

Além dos esportes, as atividades diárias (como um simples


caminhar) podem ser averiguadas sob as mais distintas
perspectivas, como aquelas que envolvem alterações
em razão do processo degenerativo motivado pelo
envelhecimento (SOUZA, 2018).

Conforme Zhang (2014), a Biomecânica se subdivide em cinco


subáreas que são a Biomecânica Ocupacional, Biomecânica do Esporte,
Biomecânica de Transporte, Biomecânica de Reabilitação e Biomecânica
Ortopédica. Nosso foco será a Biomecânica Ocupacional.

A Biomecânica Ocupacional
Para Iida e Buarque (2018), a Biomecânica Ocupacional é um
componente da Biomecânica Geral que se encarrega dos movimentos
do corpo humano e forças que têm relação com o trabalho, buscando
quantificar as cargas mecânicas quando esses movimentos são realizados,
avaliando o seu impacto sobre o sistema osteomuscular.

Segundo Iida (2019), ela trata das interações físicas do trabalhador


(Figura 6) com o seu ambiente laboral, máquinas, ferramentas e materiais,
buscando diminuir os riscos de distúrbios músculos-esqueléticos,
avaliando essencialmente o aspecto das posturas corporais no trabalho e
a aplicação de forças, assim como os seus resultados.
24 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Figura 6 - Interações físicas do trabalhador

Fonte: Freepik.

Dul e Weerdmeester (2012) citam alguns princípios importantes da


Biomecânica para a Ergonomia, que são:

•• Para manter uma postura ou alcançar um movimento, as


articulações devem ser preservadas, tanto quanto possível, na sua
posição neutra.

•• Os pesos devem ser preservados próximos do corpo, na medida


do possível.

•• Os períodos demorados com o corpo inclinado devem ser


evitados sempre que possível.

•• Deve-se evitar torções do tronco, pois essas posturas causam


tensões indesejáveis nas vértebras.

•• Deve-se evitar movimentos bruscos, pois podem gerar picos de


alta tensão de curta duração.

•• As posturas e movimentos devem ser alternados, pois não devem


ser conservados por longos períodos.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 25

•• A duração do esforço muscular contínuo deve ser limitada, pois


causa fadigas musculares localizadas.

•• A exaustão muscular deve ser evitada porque, se isso acontecer,


existe uma demora de vários minutos para a recuperação.

•• Devem ser realizadas pausas curtas e frequentes para que seja


reduzida a fadiga muscular.

Trabalho Estático e Trabalho Dinâmico


Alguns conceitos que são necessários entender diante da
Biomecânica Ocupacional é sobre o trabalho estático e o trabalho
dinâmico.

O trabalho estático, de acordo com Teixeira e Valle (2010), é o que


determina a contração constante de alguns músculos para preservar uma
determinada posição (Figura 7). Kroemer e Gradjean (2005) complementam
afirmando que ele se caracteriza por um estado de contração demorada
da musculatura, o que na maioria das vezes implica um trabalho de
manutenção de postura.
Figura 7 - Preservar determinada posição

Fonte: Freepik.
26 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Conforme Teixeira e Valle (2010), o elemento estático está presente


em quase todos os meios laborais e pode ser adotado em circunstâncias
comuns, como: efetuar tarefas que abrangem a torção do tronco para
frente e para os lados; segurar coisas com as mãos; pôr o peso do corpo
sobre uma perna enquanto a outra ativa o pedal; empurrar e puxar objetos
pesados; elevar os ombros por grandes períodos, entre outros.

EXEMPLO: Acontece com os músculos dorsais e das pernas,


para manter a posição de pé, como também com os músculos da mão
esquerda, para segurar a peça e martelar com a outra mão, exemplificam
Teixeira e Valle (2010).

Já o trabalho dinâmico é “caracterizado pela alternância de


contração e extensão, portanto, por tensão e relaxamento. Há mudança
no comprimento do músculo, geralmente de forma rítmica” (KROEMER;
GRANDJEAN, 2005, p. 15).

Esse movimento age como uma bomba hidráulica, ativando a


circulação nos capilares, aumentando o volume do sangue circulado em
até vinte vezes em relação à situação de repouso. Assim, o músculo passa
a receber mais oxigênio, aumentando a sua resistência à fadiga, elucida
Iida (2019).

EXEMPLO: Acontece nas tarefas de martelar, serrar, girar um volante


ou caminhar, exemplifica Iida (2019).

Iida (2019) destaca que o trabalho estático, quando muito fatigante,


deve ser evitado sempre que possível ou pelo menos aliviado, devendo-
se tomar várias providências com a finalidade de diminuir as contrações
estáticas dos músculos.

Postura
Postura, para Iida e Buarque (2018), é o estudo do posicionamento
referente a partes do corpo, como cabeça, tronco e membros, no
ambiente. A boa postura é fundamental para que o trabalho seja realizado
sem desconforto e sem estresse.

Trabalhando ou repousando, o corpo assume três posturas básicas


(Figura 8): deitada, sentada e em pé.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 27

Figura 8 - Posturas básicas

Fonte: Freepik.

Na posição deitada não existe acúmulo de tensão em nenhuma


parte do corpo. Sendo assim, ela é a mais indicada para repouso e
recuperação da fadiga, entretanto, ela não é aconselhada para o trabalho,
pois os movimentos são de difíceis execução, sendo muito cansativo
elevar a cabeça, braços e mãos, explica Iida (2019).

A posição em pé tem como vantagem a possibilidade de grande


mobilidade corporal, pois os braços e pernas podem alcançar os controles
das máquinas, assim como grandes distâncias podem ser percorridas
andando. Todavia, ela é excessivamente fatigante, pois exige muito
trabalho estático da musculatura envolvida para manter essa posição,
esclarece Iida (2019).

Já na posição sentada, o bem-estar e o rendimento no trabalho


são mais expressivos, já que nessa posição a fadiga é menor. Contudo,
28 Ergonomia e Medicina do Trabalho

se conservado por um longo tempo durante a jornada de trabalho, pode


causar dores lombares, dorsais, nos ombros e no pescoço, explicam
Teixeira e Villar (2010).

A posição sentada tem como benefício a liberação das pernas para


tarefas produtivas, aceitando grande mobilidade desses membros. Além
disso, o assento possibilita um ponto de referência relativamente fixo, o
que facilita a efetivação de trabalhos delicados com os dedos, informa
Iida (2019).

Movimentos Corporais e Força


O movimento do nosso corpo acontece por uma mudança de postura
e a troca da posição no espaço e no tempo, influenciada pelas forças.
Esta ação motora (os movimentos) é conduzida pelo sistema nervoso,
que estabelece o relaxamento e as contrações das fibras musculares,
atividade que é operacionalizada pelo sistema musculoesquelético,
descreve Abrahão et al (2009).

Iida e Buarque (2018) explicam que, para fazer um determinado


movimento, podem ser empregadas múltiplas combinações de
contrações musculares, cada uma delas com distintas características
de força, velocidade, precisão e alcance. Mas quais são os papéis
desempenhados por cada um desses elementos?

As forças das contrações dependem da quantidade de fibras


musculares contraídas e, geralmente, somente dois terços das fibras de
um músculo podem ser contraídas de forma voluntária por vez.

Para realizar grandes forças, deve-se empregar, de preferência,


a musculatura das pernas, que são mais resistentes, assim como deve-
se sempre usar a gravidade e a quantidade de movimento a seu favor,
explanam Iida e Buarque (2018).

EXEMPLO: Para suspender um peso de uma altura para outra, é


mais aconselhável que se use uma roldana e que a força seja exercida
para baixo, pois assim o peso do próprio corpo será usado para ajudar a
suspender, exemplifica Iida (2019).
Ergonomia e Medicina do Trabalho 29

Os movimentos (Figura 9) com maior precisão são efetivados com


a ponta dos dedos. Caso o movimento envolva, de forma sucessiva, o
punho, cotovelo e ombros, a força será aumentada, porém a precisão será
prejudicada, menciona Iida (2019).
Figura 9 - Movimentos

Fonte: Freepik.

Quanto ao ritmo, Iida (2019) afirma que:


os movimentos devem ser suaves, curvos e rítmicos,
pois acelerações ou desacelerações bruscas, ou rápidas
mudanças de direção são fatigantes, porque exigem
maiores contrações musculares. (IIDA, 2019, p. 175)

A velocidade de um movimento muscular geralmente é


inversamente proporcional à sua força. Desse modo, os braços podem
ser movimentados com mais agilidade e precisão do que as pernas, mas
estas podem desempenhar maiores forças.

Para efeito do trabalho, os movimentos dos dedos são considerados


mais rápidos e precisos, excedendo os movimentos dos punhos e dos
braços, elucidam Iida e Buarque (2018).
30 Ergonomia e Medicina do Trabalho

No ambiente de trabalho, as exigências de forças e torques devem


ser adequadas às capacidades do operador nas condições operacionais
legítimas. No caso de uma alavanca, por exemplo, a força deve ser medida
na posição adequada em que ela estiver localizada, na postura corporal
determinada e com o tipo de deslocamento que será efetuado, como
também a força para movimentar essa alavanca deve estar dentro de uma
faixa que um operador mais fraco consiga movimentá-la e também ter um
certo atrito ou inércia, para evitar acionamentos acidentais, relata Iida (2019).

RESUMINDO:

Neste capítulo você deve ter compreendido que a


Biomecânica estuda a maneira como os seres vivos se
adaptam às leis da mecânica quando estão realizando
movimentos espontâneos, que ela pode ser dividida
em Cinemática, Cinética, Controle e Anatomia e que se
subdivide em Biomecânica Ocupacional, do Esporte, de
Transporte, de Reabilitação e Ortopédica.

Você viu também que a Biomecânica Ocupacional se ocupa


dos movimentos do corpo humano e das forças que têm relação com
o trabalho, quantificando as cargas mecânicas na realização desses
movimentos e avaliando seu impacto sobre o sistema osteomuscular.
Por fim, você conheceu os princípios importantes da Biomecânica para
a Ergonomia, o que são o trabalho estático e o trabalho dinâmico, assim
como as posturas deitada, sentada e em pé, como são os movimentos do
nosso corpo e a força.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 31

Antropometria

OBJETIVO:

Neste capítulo iremos descrever a Antropometria, suas


principais características, conhecer os seus tipos e as
variações das medidas humanas..

A Antropometria
Conforme Iida e Buarque (2018), a Antropometria está relacionada
com as medidas físicas do corpo humano.

A palavra Antropometria origina-se do grego anthropos, que quer


dizer homem, e metrikus, que significa mensuração. Dessa forma, ela
é descrita como a ciência que a Ergonomia utiliza, sendo associada às
dimensões do corpo humano e à relação existente entre as várias partes
corporais, descreve Moraes (2014).

Para Dul e Weerdmeester (2012 p.22), a “Antropometria ocupa-se


das dimensões e proporções do corpo humano”.

Moraes (2014) explica que a Antropometria estuda as dimensões do


corpo humano e as diferenças dimensionais apontadas por trabalhadores,
com a finalidade de projetar ambientes laborais que obedeçam às
necessidades posturais de ao menos 90% dessa população.

Um estudo antropométrico compreende os métodos e técnicas


que nos permitem alcançar um conjunto suficiente de medidas e
conformações do corpo ou partes do corpo humano, relatam Másculo e
Vidal (2011).

As dimensões antropométricas têm relação direta com os alcances


motores de um indivíduo e às posturas seguidas por ele. Deste modo, o
método antropométrico consiste na mensuração sistemática e na análise
quantitativa das variações dimensionais do corpo humano, esclarece
Moraes (2014).
32 Ergonomia e Medicina do Trabalho

NOTA:

É preciso levar em consideração as pessoas mais altas,


para estabelecer o espaço necessário para acomodar as
pernas, e também as mais baixas, para que elas atinjam
uma determinada altura (MORAES, 2014).

A indústria necessita, cada vez mais, de medidas antropométricas


que sejam confiáveis e mais delineadas. Essa exigência é feita, de um lado,
pelas necessidades da produção em massa de produtos como vestuários
e calçados e, por outro lado, pelo surgimento de muitos sistemas de
trabalho complexos. É imprescindível que sejam tomados os cuidados
durante o projeto e dimensionamento desses sistemas, mencionam Iida
e Buarque (2018).

Conforme Moraes (2014), na Ergonomia a Antropometria revela as


relações entre diferentes dimensões corporais (Figura 10) que podem ser
utilizadas no planejamento ou na avaliação de produtos. Seu emprego
pode diminuir a necessidade de que os indivíduos se adaptem às
situações desfavoráveis no trabalho, o que pode reduzir a tensão dos
tecidos musculoesqueléticos.
Figura 10 - Dimensões corporais

Fonte: Freepik.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 33

A análise antropométrica, para Másculo e Vidal (2011), é uma fase


fundamental para a determinação do projeto. Sua correção dimensional
é por meio de verificação estática e ela tem responsabilidade direta por
uma fração essencial da dinâmica dos movimentos.

Se porventura o aspecto dimensional de um ambiente laboral for


elaborado de forma inadequada, decerto o operador terá que adotar
posturas forçadas em algum momento, ou fazer uma sequência de
movimentos sem equilíbrio numa configuração dinâmica.

EXEMPLO: Essas situações podem ser observadas com facilidade


em postos de trabalho nos quais os pontos de atuação estão muito altos,
fazendo com que o operador alongue os ombros ou flexione os punhos,
exemplificam Másculo e Vidal (2011).

Tipos
Iida e Buarque (2018) consideram a existência de três tipos de
medidas antropométricas que condicionam as medições e a consecutiva
utilização dos resultados alcançados. Esses tipos devem ser escolhidos
conforme o objetivo a ser atingido.

Os tipos de medidas são: estática, dinâmica e funcional. Vejamos


cada um deles a seguir.

Antropometria Estática
De acordo com Iida e Buarque (2018), na Antropometria Estática
(ou Estrutural) as medições são efetuadas nos segmentos corporais entre
pontos anatômicos identificados de forma clara, com o corpo parado.

Segundo Másculo e Vidal (2011), a Antropometria Estática busca,


primeiramente, determinar o melhor dimensionamento plausível para o
alcance, emprego, manuseio, deslocamento, encaixe ou acesso.
34 Ergonomia e Medicina do Trabalho

REFLITA:

Pense na altura das gôndolas nos supermercados. Essas


prateleiras têm produtos expostos em alturas em torno de
1,80m, chegando, em alguns casos, a 2,00m. Entretanto,
as mulheres brasileiras têm, em média, 1,57m. Então, isso
demonstra uma situação crítica, informam Másculo e Vidal
(2011).

É aconselhado que sejam dimensionados os produtos e locais de


trabalho onde acontecem somente pequenos movimentos corporais,
como no caso do mobiliário em geral (Figura 11). Contudo, isso não
acontece na maioria das vezes, pois as pessoas estão quase sempre
fazendo movimentos de maior amplitude, manipulando, operando,
andando ou transportando algum objeto, como explicam Iida e Buarque
(2018).
Figura 11 - Mobiliários em geral

Fonte: Freepik.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 35

Se o produto ou posto de trabalho for dimensionado com


informações da Antropometria Estática, deverão ser realizadas, em
seguida, algumas regulações para adaptar as principais movimentações
do corpo, explanam Iida e Buarque (2018).

Antropometria Dinâmica
Já a Antropometria Dinâmica, para Iida e Buarque (2018), mensura
os alcances dos movimentos corporais. Dessa forma, as medidas são
realizadas entre pontos anatômicos, adotados com o sujeito efetuando
algum movimento. Elas complementam os dados da Antropometria
Estática e colaboram para a produção de projetos com maior precisão.

São adquiridas informações relativas aos ângulos das articulações,


aos alcances, às posturas naturais e confortáveis. Essas medidas têm
relação com as dimensões que possibilitam aos indivíduos um certo grau
de liberdade dos movimentos, de maneira que possam apresentar posturas
naturais para a realização de movimentos ou um bom desempenho de
atividades específicas, explanam Pinheiro e Crivelaro (2014).

EXEMPLO: O alcance máximo das mãos com a pessoa sentada em


uma linha de montagem, exemplifica Iida e Buarque (2018).

Segundo Iida e Buarque (2018), a Antropometria Dinâmica deve


ser empregada em situações de trabalho que requerem uma grande
quantidade de movimentos corporais ou quando se deve manusear
partes que se mexem em máquinas ou postos de trabalho.

Antropometria Funcional
A Antropometria Funcional tem relação com as medidas
concernentes à verificação de tarefas em postos de trabalho, explicam
Pinheiro e Crivelaro (2014). Ela se aplica quando existe uma reunião de
diferentes movimentos corporais para a execução de determinadas
tarefas específicas, descrevem Iida e Buarque (2018).

EXEMPLO: Segundo Pinheiro e Crivelaro (2014), para o alcance das


mãos deve ser medido o movimento dos ombros, a rotação do tronco,
a inclinação das costas e o tipo de atividade a ser realizada pelas mãos.
36 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Pinheiro e Crivelaro (2014) ainda lembram que as Antropometrias


Dinâmica e Funcional também compreendem as amplitudes de movimento
das articulações e dos membros, assim como a força desempenhada
em diversas ações. Os dados adquiridos são aproveitados para o pré-
dimensionamento de produtos e ambientes de trabalho.

Variações das Medidas Humanas


Segundo Pinheiro e Crivelaro (2014), podem haver variações de
medidas antropométricas por fatores como gênero, fatores genéticos,
caracteres hereditários, clima e alimentação.

Vejamos, a seguir, como cada uma dessas variações ocorre.

Variações em Função do Gênero


Homens e mulheres têm formações diferentes desde o nascimento.
Os meninos nascem, em média, 0,6 cm mais compridos e 0,2 kg mais
pesados que as meninas, apresentando crescimentos parecidos (Figura
12) até o final da infância, esclarecem Iida e Buarque (2018).
Figura 12 - Crescimentos parecidos

Fonte: Freepik.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 37

As diferenças entre eles tendem a ressurgir na puberdade, e as


meninas começam tal fase com crescimento mais rápido. A diferença de
altura média da vida adulta entre homens e mulheres varia por volta de 6
a 11%, mencionam Pinheiro e Crivelaro (2014).

Iida e Buarque (2018) complementam explicando que a estatura


alcança o ponto máximo próximo aos 20 anos e conserva-se praticamente
sem alteração até os 50 anos. A partir dos 55 anos, todas as dimensões
lineares começam a declinar. Entretanto, outras medidas, como peso e a
circunferência dos ossos, podem aumentar.

Variações em Função de Fatores Genéticos e Here-


ditários
Diferentes estudos antropométricos feitos durante várias décadas
demonstraram que a etnia influencia nas alterações das medidas
antropométricas, relatam Iida e Buarque (2018).
Em termos de diferenças étnicas, as variações extremas
são encontradas na África. Os menores são os pigmeus
da África Central, que medem, em média 143,8 cm para
homens e 137,2 cm para mulheres. O menor homem
pigmeu mede cerca de 130cm. Os povos de maior estatura
também estão na África. São os negros nilóticos que
habitam a região sul do Sudão. Os homens medem 182,9
cm, com desvio padrão de 6,1 cm e as mulheres 168,9
cm com desvio padrão de 5,8 cm. Os homens mais altos
do Sudão medem cerca de 210 cm. Isso significa que a
diferença entre o homem mais alto (sudanês) e o mais
baixo (pigmeu) é de 62% em relação ao mais baixo. (IIDA,
2019, p. 101)

IMPORTANTE:

Existem muitos exemplos de inconformidade dos produtos


que foram exportados para outros países sem levar em
consideração as necessidades de adequação aos usuários
(IIDA; BUARQUE, 2018).

Atualmente, esses problemas demonstram ser mais graves devido


ao aumento do comércio internacional. Assim, um mesmo produto deve
38 Ergonomia e Medicina do Trabalho

ser produzido em diferentes versões ou apresentar regulagens suficientes


para se adaptar às diferenças antropométricas de diversas populações,
elucidam Iida e Buarque (2018).

Variações em Função do Clima


Conforme Pinheiro e Crivelaro (2014), o clima é um fator de influência
antropométrica de acordo com a região, pois os povos que vivem nas
regiões de clima mais quente têm, geralmente, o corpo mais fino e os
membros superiores e inferiores relativamente mais longos. Já aqueles
das regiões mais frias têm o corpo mais cheio, sendo mais volumoso e
arredondado.

Essa constatação foi verificada porque os corpos mais finos


possibilitam a troca de calor com o ambiente e os mais volumosos
possuem maior facilidade de manter o calor corpóreo, informam Pinheiro
e Crivelaro (2014).

Variações em Função do Tipo de Alimentação


O tipo de alimentação também influencia, pois as grandes
diferenças de nutrição entre os indivíduos agem como condição para
a saúde das diferentes esferas sociais e regiões de um país, afirmam
Pinheiro e Crivelaro (2014).

Ao longo do tempo, mudanças antropométricas são estudadas e


abrangem diversas gerações de grupos sociais. Vários estudos científicos
confirmam que as pessoas têm aumentado de peso e de dimensões
corporais nos últimos séculos. A explicação disso são a melhoria da
alimentação e do saneamento ambiental, a diminuição do trabalho infantil
e a adoção de práticas desportivas, lembram Pinheiro e Crivelaro (2014).

Variações em Função do Biótipo


Para Pinheiro e Crivelaro (2014), as diversas populações humanas
são formadas por pessoas de diferentes tipos físicos ou biótipos. Por causa
isso, o pesquisador antropométrico William Sheldon (1940) estudou, de
forma detalhada, as dimensões antropométricas com 4.000 estudantes
norte-americanos. Ele utilizou fotografias feitas de frente, perfil e costas e
definiu uma amostra de uma população constituída basicamente por três
tipos físicos básicos, sendo eles:
Ergonomia e Medicina do Trabalho 39

•• Ectomorfo – formas alongadas, corpo e membros longos e finos, o


mínimo de gordura e músculos, ombros largos e caídos, pescoço
fino e comprido, rosto magro, tórax o abdome estreitos e finos.

•• Mesomorfo – musculoso, formas angulosas, cabeça cúbica,


ombros e peito largos e abdome pequeno, membros musculosos
e fortes e pouca gordura subcutânea.

•• Endomorfo – formas arredondadas e macias, grandes depósitos


de gordura, menores em cima e maiores embaixo, abdome grande
e cheio, braços e pernas curtos e flácidos, ombros e cabeça
arredondados e os ossos pequenos.

Iida (2019) destaca que, naturalmente, a maioria das pessoas


não fazem parte de forma rigorosa de nenhum desses tipos básicos e
misturam as características desses três tipos, podendo ser mesoformo-
endofórmica, ectomorfo-mesofórmica e assim por diante.

RESUMINDO:

Agora, só para termos certeza de que você realmente


entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos
resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que
a Antropometria é a parte da Ergonomia que estuda as
dimensões e proporções do corpo humano com o objetivo
de projetar ambientes de trabalho que obedeçam às
necessidades posturais da maioria da população.

Viu também os tipos de medidas antropométricas que são a


Antropometria estática, que são as medidas efetuadas com o corpo
parado; a Antropometria dinâmica que mede os alcances dos movimentos
corporais; e a Antropometria funcional que se relaciona com as medidas
no momento da execução das tarefas em postos de trabalho. Por fim, você
conheceu as variações das medidas antropométricas que podem ocorrer
por fatores como gênero, fatores genéticos, caracteres hereditários, clima,
alimentação e ainda pelo biótipo. E que o biótipo se constitui basicamente
de três tipos físicos básicos que são o ectomorfo, o mesomorfo e o
endomorfo, porém, a maioria das pessoas não fazem parte de nenhum
desses tipos básicos de forma rigorosa, mas misturam os três tipos.
40 Ergonomia e Medicina do Trabalho

A Ergonomia e as Doenças Ocupacionais

OBJETIVO:

Neste capítulo iremos discutir as doenças relacionadas


com a Ergonomia, quais são as principais causas de
aparecimento e as principais características delas..

As Doenças Relacionadas com a


Ergonomia
Conforte Abrahão et al. (2009), o trabalho causa marcas nos
trabalhadores, sendo algumas bem aparentes e identificáveis, como
aquelas resultantes de acidentes com máquinas ou de algumas doenças
profissionais. Contudo, existem outras que não são tão visíveis e que só
podem ser reconhecidas por olhos mais experientes.

NOTA:

Geralmente as pessoas associam as doenças ergonômicas


a apenas àquelas que têm ligação como a coluna ou os
tendões, mas não é bem assim.

Entre elas podemos citar aquelas derivadas da forma de organização


do trabalho e do ambiente laboral. Elas apresentam as marcas do desgaste
físico e mental que surgem não na forma de doenças específicas, mas sim
de agravamento de doenças, de fadiga crônica, de sofrimento mental,
de hábitos alimentares pouco saudáveis ou ainda de envelhecimento
precoce, esclarece Abrahão et al. (2009).

Macedo (2012) complementa afirmando que os riscos ergonômicos


podem causar uma série de malefícios para o trabalhador, como: cansaço,
dores musculares, fraqueza, hipertensão arterial, úlceras, doenças
Ergonomia e Medicina do Trabalho 41

nervosas, agravamento do diabetes, alterações do sono, da libido, da vida


social (com reflexos na saúde e no comportamento), acidentes, problemas
na coluna vertebral, taquicardia, cardiopatia (angina, infarto), agravamento
da asma, tensão, ansiedade, comportamento estereotipados e medo.

Uma grande causa de tensão laboral são as condições ambientais


inapropriadas, como excesso de calor, ruídos, vibrações e gases nocivos.
Esses fatores provocam incômodo, ampliando o risco de acidentes e
podem causar danos consideráveis à saúde, mencionam Iida e Buarque
(2018).

Para cada uma das variáveis ambientais existem determinadas


características que são mais danosas ao trabalho. Dessa forma, incumbe
ao projetista identificar essas situações e, na medida do possível, adotar
as medidas necessárias para preservar os trabalhadores fora das áreas
de risco.

Contudo, quando isso não for possível, devem ser avaliados os


possíveis malefícios (Figura 13) à atuação e à saúde dos trabalhadores,
para que seja empregada a opção menos prejudicial, tomando-se todas
as medidas preventivas oportunas em cada situação, explanam Iida e
Buarque (2018).
Figura 13 - Possíveis malefícios

Fonte: Freepik.
42 Ergonomia e Medicina do Trabalho

O trabalho físico em condições extremas de calor pode levar o


trabalhador a sofrer desidratação, pelo excesso de suor e reposição
insuficiente de sais minerais. Nessas circunstâncias extremas, a pressão
sanguínea cai e o sangue não chega em quantidade satisfatória aos
órgãos vitais, como cérebro e rins.

A pele torna-se rosada, quente e seca, e a pessoa pode sofrer um


colapso se não for imediatamente retirada do ambiente quente e colocada
em um ambiente bem ventilado, sem as roupas, informa Iida (2019).

Outra situação que merece atenção diz respeito aos ruídos, pois
eles compõem a principal causa de reclamações sobre as condições
ambientais e têm como consequência mais clara a surdez, que pode se
apresentar de forma temporária, reversível ou até mesmo permanente,
lembram Iida e Buarque (2018).

IMPORTANTE:

O ouvido humano é capaz de alcançar uma determinada


quantidade de intensidades sonoras, sendo o ruído
equivalente ao do avião a jato praticamente o máximo que
o ouvido humano pode aguentar. Acima disso está o limite
da percepção dolorosa, que pode trazer danos ao aparelho
auditivo, afirmam Iida e Buarque (2018).

Abrahão et al. (2009) explica que a exposição contínua ao ruído


pode estar associada a um quadro de cefaleia leve, sensação de ouvido
cheio, fadiga e tontura. A ininterrupção de exposição por diversos anos
poderá proporcionar perda auditiva e, progressivamente, influenciar a
vida social das pessoas, da mesma maneira que pode acarretar vertigens,
náuseas, vômitos, sudorese e até incapacidade de locomoção.

Além disso, Iida (2019) afirma que ruídos acima de 90 dB começam


a causar reações fisiológicas danosas ao organismo, aumentando o
estresse e a fadiga, assim como aborrecimentos, por causa da parada
involuntária da atividade ou aquilo que as pessoas gostariam de estar
Ergonomia e Medicina do Trabalho 43

desempenhando, como conversar ou dormir, o que ocasiona tensões e


dores de cabeça.

Um outro elemento que causa danos é a vibração, que é “qualquer


movimento oscilatório que o corpo ou parte dele executa em torno de
um ponto fixo.” (IIDA e BUARQUE, 2018, p. 403). Iida (2019) complementa
explicando que existem muitas ferramentas manuais – como furadeiras,
grampeadores, martelos elétricos e pneumáticos – que produzem
vibrações nos braços e mãos, causando isquemias e dores locais.

A exposição constante pode acarretar lesões irreversíveis. Os efeitos


da vibração direta sobre o corpo humano podem ser excessivamente
graves, podendo comprometer alguns órgãos de forma permanente.

EXEMPLO: Os trabalhadores florestais que usam motosserra acabam


adquirindo degeneração regressiva do tecido vascular e nervoso, o que
causa perda da capacidade manipulativa e o tato das mãos, dificultando
o controle motor. Em casos mais graves, a circulação do sangue nos
dedos é afetada, tornando-os descoloridos e provocando o fenômeno do
“dedo branco”, fazendo com que os dedos fiquem insensíveis e até sofram
necrose, exemplifica Iida (2019).

Iida e Buarque (2018) mencionam que a vibração intensa disseminada


por ferramentas manuais (Figura 14), como furadeiras elétricas,
debitadores, peneiras vibratórias e motosserras, acaba se espalhando
pelas mãos, braços e corpo do operador e pode causar dormência dos
dedos, perda de coordenação motora, enjoos, interferência na fala e
confusão visual. Sua exposição constante pode levar a lesões da coluna
vertebral, desordem gastrointestinal e perda do controle muscular de
partes do corpo.
44 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Figura 14 - Ferramentas manuais

Fonte: Freepik.

O trabalho em pé por tempo prolongado, além de provocar a fadiga


da musculatura encarregada pelo trabalho estático, causa também
desconforto devido às condições divergentes do fluxo de retorno do
sangue venoso.

Essas condições divergentes da circulação acabam originando


muitas doenças das extremidades inferiores, contribuindo para a
ocorrência de dilatação das veias das pernas (varizes), edemas de
tecidos dos pés e das pernas (edema do tornozelo) e ulceração da pele
edemaciada, analisam Kroemer e Grandjean (2005).

SAIBA MAIS:

Aprofunde-se nesse tema lendo o artigo “Ministério do


Trabalho: Como prevenir doenças ocupacionais”, clicando
aqui.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 45

Quando falamos sobre Ergonomia, é comum que as pessoas


pensem dores musculares. Para Iida (2019), as dores musculares são
motivadas sobretudo pela manipulação de cargas pesadas ou posturas
inadequadas, como a torção da coluna, assim como outras atividades,
como puxar e empurrar cargas, podem acarretar as dores.

As dores podem acontecer também com o alongamento de forma


excessiva e inflamação dos músculos, tendões e articulações, e são
relacionadas comumente à forças, posturas e repetições exageradas dos
movimentos.

A manipulação de cargas na maioria das vezes exige bastante


esforço, tendo e o principal problema disso é o desgaste da coluna,
principalmente dos discos intervertebrais da região lombar, o que gera
um gradativo risco de distúrbios, explicam Kroemer e Grandjean (2005).

NOTA:

Os problemas de coluna podem ser dolorosos e diminuir


a mobilidade e vitalidade de uma pessoa (KROEMER;
GRANDJEAN, 2005).

Macedo (2008) entende que as dores musculares são um exemplo


de doenças da coluna vertebral (Figura 15), principalmente as dores
em coluna lombar, designadas lombalgias, como também problemas
posturais, que podem provocar desvios no eixo ou ampliação da curvatura
preexistente da coluna vertebral. Esses desvios são chamados de cifose,
lordose e escoliose. Osteofitose e hérnias discais também são razões
comuns de dores na coluna.
46 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Figura 15 - Doenças da coluna vertebral

Fonte: Freepik.

Vejamos como Macedo (2008) descreve cada uma delas:

•• A lombalgia pode acontecer em decorrência de problemas


mecânicos posturais, por causa de posturas viciosas, obesidade,
esforços repetitivos, ergonomia inapropriada, entre outros.

•• A cifose é caracterizada pelo acréscimo anormal da concavidade


posterior da coluna vertebral e tem como razões mais significativas
a má postura e condicionamento físico inadequado.

•• A lordose se apresenta como o aumento atípico da curva lombar,


induzindo a uma acentuação da lordose lombar anatômica e a
dor acontece sobretudo em atividades que abrangem a extensão
Ergonomia e Medicina do Trabalho 47

da coluna lombar, como conservar-se em postura ortostática por


muito tempo.

•• A escoliose nada mais é que a curvatura lateral da coluna vertebral.

•• A osteofitose é conhecida de forma popular como bico de


papagaio, acarreta a aproximação das vértebras e pode comprimir
a raiz nervosa, provocando fortes dores.

•• As hérnias de disco são decorrência de múltiplos pequenos


traumas da coluna, que vão, gradualmente, lesionando as
estruturas do disco intervertebral.

O sistema musculoesquelético pode ser sobrecarregado por um


encadeamento de traumas que, de maneira isolada, não ocasionam
prejuízos, mas seus efeitos cumulativos podem levar à sobrecarga. Eles
têm sido relacionados com trabalhos repetitivos, como escrever à mão,
explicitam Kroemer e Grandjean (2005).

VOCÊ SABIA?

O compositor Robert Schumann perdeu a capacidade


da mão direita por causa da lesão por esforço repetitivo
contraída pelo uso do piano (KROEMER; GRANDJEAN,
2005).

“Os esforços prolongados e repetitivos podem gerar desgaste


e lesões nas articulações, ligamentos e tendões. Estes problemas são
geralmente sumarizados sob o termo distúrbios musculoesqueléticos”
(KROEMER; GRANDJEAN, 2005, p. 19).
48 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Figura 16 - Lesões

Fonte: Freepik.

Iida (2019) explica que os traumas musculares são motivados pela


falta de compatibilidade entre as exigências do trabalho e as capacidades
físicas do trabalhador e acontecem essencialmente devido a duas causas:
impacto e esforço excessivo.

O trauma por impacto acontece quando a pessoa é acertada por


uma força inesperada, durante um curto espaço de tempo, em uma
região específica do corpo. Isso pode ocasionar contusões e traumatismos
sérios, como lacerações de tecidos e fratura ósseas. Já o trauma excessivo
acontece sobretudo quando existem cargas excessivas, sem a concessão
das devidas causas, assim como por movimentos altamente repetitivos.
Normalmente ele provoca lesões como tendinite, tenossinovites,
compressões nervosas e distúrbios lombares, informa Iida (2019).

Essas lesões por traumas repetitivos são conhecidas pelas seguintes


siglas:

•• DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

•• LTC – Lesões por Traumas Cumulativos

•• LER – Lesões por Esforços Repetitivos.


Ergonomia e Medicina do Trabalho 49

NOTA:

A sigla DORT é mais abrangente e inclui a LTC e a LER (IIDA,


2019).

Kroemer e Grandjean (2005) dividem os sintomas de sobrecarga em


dois grupos, que são os problemas reversíveis e os persistentes. Os sintomas
reversíveis são de curta duração e as dores são predominantemente
situadas na musculatura e nos tendões e desaparecem assim que a carga
é removida: são as dores de fadiga.

Os sintomas persistentes também são situados nos músculos e


tendões, mas também atingem as articulações e os tecidos adjacentes, as
dores não desaparecem e permanecem após o trabalho ser interrompido.
As queixas persistentes são conferidas aos processos inflamatórios e
degenerativos nos tecidos sobrecarregados.

Os maiores problemas no trabalho, na maioria das vezes, são


derivados dos traumas por esforços repetitivos e eles são os responsáveis
pela maior parte de distanciamento dos trabalhadores, em decorrência
das doenças e lesões no sistema musculoesquelético, lembra Iida (2019).

RESUMINDO:

Neste capítulo você deve ter compreendido que existem


doenças que se originam no ambiente laboral, assim como
algumas decorrem de agravamento de doenças, tendo nas
condições ambientais a grande causa de tensão laboral,
como excesso de calor, ruídos, vibrações e gases nocivos.
Você viu que o trabalho físico em condições extremas de
calor pode levar o trabalhador a sofrer desidratação pelo
excesso de suor e reposição insuficiente de sais minerais;
que a exposição contínua ao ruído pode estar associada
a um quadro de cefaleia leve, sensação de ouvido cheio,
fadiga e tontura; que a vibração intensa, disseminada por
ferramentas manuais, pode causar dormência dos dedos,
perda de coordenação motora, enjoos, interferência na fala,
e confusão visual, e sua exposição constante pode levar a
lesões da coluna vertebral, desordem gastrointestinal e
perda do controle muscular de partes do corpo.
50 Ergonomia e Medicina do Trabalho

Você aprendeu, também, que o trabalho em pé contribui para


a ocorrência de dilatação das veias das pernas (varizes), edemas de
tecidos dos pés e das pernas (edema do tornozelo) e ulceração da pele
edemaciada. Por fim, você entendeu que a manipulação de cargas, na
maioria das vezes, abrange bastante esforço, tendo como principal
problema o desgaste da coluna, principalmente dos discos intervertebrais
da região lombar, como o gradativo risco de distúrbios; que são exemplos
de doenças da coluna vertebral as dores em coluna lombar, designadas
lombalgias, como também problemas posturais, que podem provocar
desvios chamados de cifose, lordose, escoliose, assim como osteofitose
e hérnias discais. Você também viu que os esforços prolongados e
repetitivos podem gerar desgaste e lesões nas articulações, ligamentos e
tendões, conhecidas pelas siglas DORT, LTC E LER.
Ergonomia e Medicina do Trabalho 51

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