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EDIÇÃO ESPECIAL _ JANEIRO 2015

40 anos de relações diplomáticas


entre Brasil e China
Análises, depoimentos e expectativas sobre o futuro das relações bilaterais

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 1


é uma publicação da Secretaria Executiva do Conselho REVISÃO
Empresarial Brasil-China, que reúne reflexões acerca dos Carla Duarte
principais tópicos da agenda sino-brasileira, por meio de
entrevistas, artigos e análises, cedidas por renomados AGRADECIMENTOS
estudiosos da área, empresários e membros dos governos Embaixador Valdemar Carneiro Leão, Embaixada do Brasil em Pequim
brasileiro e chinês com experiência prática nas relações
bilaterais. Embaixador Chen Duqing
Embaixador Shen Yunao
Bruno Rasga e Michelle Tito, Empresa Brasil de Comunicação
PRESIDENTE
Conselheiro Cláudio Garon, Ministério das Relações Exteriores
Embaixador Sergio Amaral
Conselheira Tatiana Rosito, Ministério das Relações Exteriores
DIRETORES Conselheiro Marco Antonio Nakata, Ministério das Relações Exteriores
Alfredo de Goeye (Sertrading), Fernando Alves (PwC), Nelson Conselheiro Gláucio Nogueira Veloso, Secretaria de Comunicação
Salgado (Embraer), Marcos Jank (BRF), Octávio de Barros
Social da Presidência da República
(Bradesco), Pedro Freitas (Veirano Advogados), Márcio Senne
(Vale), Roberto Dias (Odebrecht), Roberto Milani (Comexport) Conselheiro Gustavo Menezes, Ministério das Relações Exteriores
Conselheiro Qu Yuhui, Ministério dos Negócios Estrangeiros, China
MEMBROS HONORÁRIOS Danielle Silva Ramos Becard
Luiz Fernando Furlan
Ivan Ramalho Embaixada do Brasil em Pequim
Renata Basseto de Oliveira – Fundação iFHC
SECRETÁRIA EXECUTIVA Ministro Oswaldo Biato Junior, Ministério das Relações Exteriores
Julia Dias Leite
Janaína Camara da Silveira, Grupo In Press
EDITOR - CHEFE Wang Da, China Eximbank
Embaixador Clodoaldo Hugueney
TRADUTORES
EQUIPE Yu Zhiming
ANÁLISE Zheng Jianya
Santiago Bustelo, Coordenador de Análise Chen Zongzhe
Tulio Cariello, Analista Internacional Kang Li
INSTITUCIONAL
PROJETO GRÁFICO
Christiane Sauerbronn, Coordenadora Institucional Presto Design
Karen Grimmer, Analista Internacional Sênior
Para fazer alguma crítica ou sugestão, entre em contato com a
COLABORADORA ESPECIAL Secretaria Executiva do CEBC: cebc@cebc.org.br | +55 21 3212-4350
Larissa Wachholz www.cebc.org.br

PATROCINADOR OFICIAL DESTA PUBLICAÇÃO:

O Banco Bradesco apresenta produtos e serviços para diferentes perfis de


clientes e tam­bém atua com a proposta de suprir as demandas de empresas
ESTA PUBLICAÇÃO FOI PRODUZIDA
interessadas em estabelecer e estreitar relações comerciais nos mercados
COM O APOIO DA:
brasileiro e chinês. Para isso, o segmento Corporate mantém uma gestão de
relacionamento centralizada, oferecendo soluções estruturadas – Tailor Made
e de Mercado de Capitais – e gerentes especializados em visões de risco, mer-
cado e setores econômicos. Os atendimentos são exclusivos para que as em-
presas recebam soluções customizadas de acordo com os negócios realizados.
Ao mesmo tempo, as Agên­cias e Subsidiárias no Exterior (Nova York, Londres,
Grand Cayman, Luxemburgo, Hong Kong, Buenos Aires e México) têm como
objetivo a obtenção de recursos no mercado internacional para repasses a
clientes, principalmente por meio de financiamento a operações de comércio
exterior brasileiro. Para mais informações acesse o site bradesco.com.br
Sumário
4 12
MENSAGENS ANÁLISE CEBC
40 anos das relações
sino-brasileiras
Presidente da Seção Brasileira
do CEBC
Embaixador Sergio Amaral
pag. 5
Visita de Estado do Presidente
Xi Jinping ao Brasil
Presidente da Seção Chinesa
do CEBC Os primeiros passos de uma nova
fase nas relações sino-brasileiras
Liu Mingzhong
pag. 50
pag. 6
1974 – 1994
Construindo uma visão
Do estabelecimento das relações à de futuro
Ministério das Relações Exteriores declaração da Parceria Estratégica
Ministro das Relações Exteriores pag. 52
pag. 14
Luiz Alberto Figueiredo

56
pag. 7

Embaixada do Brasil na China


Embaixador Valdemar
Carneiro Leão
ARTIGO
pag. 8
CONVIDADO
Embaixada da China no Brasil Fabiana D’Atri - Bradesco
Embaixador Li Jinzhang
1994 – 2004

67
pag. 10 Intensificação da parceria em
tempos de transformações
pag. 28

DEPOIMENTOS
Diplomatas
pag. 66

Acadêmicos
pag. 82

Confederações/Associações
2004 – 2014 pag. 88
O início de uma fase de maturidade
nas relações sino-brasileiras Empresas
pag. 36 pag. 96

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 3


MENSAGENS
Presidente da Seção Brasileira do CEBC
Embaixador Sergio Amaral

Presidente da Seção Chinesa do CEBC


Liu Mingzhong

Ministério das Relações Exteriores


Ministro das Relações Exteriores Embaixador
Luiz Alberto Figueiredo

Embaixador Valdemar Carneiro Leão


Embaixador do Brasil na China desde 2013

Embaixada da China no Brasil


Embaixador Li Jinzhang

4 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Embaixador
Sergio Amaral
Presidente da Seção Brasileira
do CEBC
Visão de futuro

As relações Brasil- O intercâmbio se reveste, cada vez mais, de um


China entraram sentido estratégico. O melhor exemplo será o
seguramente em da construção em conjunto das ferrovias para o
um novo momento. escoamento dos produtos brasileiros do Centro-
Não se trata apenas -Oeste para os portos e, em seguida, para o mer-
da ampliação sem cado chinês. E se beneficia igualmente de um
precedentes do inequívoco apoio político de ambos os governos,
comércio entre os cientes da complementaridade das duas econo-
dois países. Ou dos mias e de suas convergências em vários temas da
investimentos massivos de empresas chinesas realidade internacional.
no Brasil, que têm como contrapartida a
presença crescente de empresas brasileiras na O Conselho Empresarial Brasil-China orgulha-se
China. Trata-se também de uma mudança de de ter sido uma plataforma relevante neste pro-
qualidade. cesso, ao promover, como é o seu objetivo, uma
aproximação maior entre as comunidades em-
As relações econômicas se consolidam e se di- presariais dos dois países. Ao produzir estudos e
versificam. Não são mais apenas as empresas pesquisas para tornar conhecidas as realidades
estatais chinesas que vêm ao Brasil em busca da distintas, mas complementares entre as duas
garantia de fornecimento de matérias-primas economias e, sobretudo, ao sinalizar as muitas
de que a economia chinesa necessita. São, cada oportunidades de negócio para as respectivas co-
vez mais, empresas privadas, que diversificam munidades empresariais.
as áreas de atuação, para tirar proveito de um
mercado interno mais vigoroso. São oportu- Neste novo momento, cabe, ainda mais do que
nidades para a formação de parcerias entre antes, buscar entender os caminhos do futuro e
empresas dos dois países, seja para investir na contribuir para que este relacionamento promis-
infraestrutura, seja para promover o processa- sor se desenvolva de modo equilibrado e mutua-
mento dos produtos do agronegócio brasileiro mente proveitoso.
que se destinam ao mercado chinês.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 5


Liu Mingzhong
Presidente da Seção Chinesa do CEBC
A relação diplomática ca de rede. A migração nas trocas bilaterais, que
entre Brasil e China passam a privilegiar produtos de alto valor agre-
completa 40 anos em gado em detrimento de produtos primários, mar-
2014 e, nesse mesmo ca uma etapa de desenvolvimento à alta veloci-
ano, o Conselho Em- dade. Os próximos passos da Seção Chinesa do
presarial Brasil-China CEBC consistem em contribuir para a execução
chega aos 10 anos de dos acordos firmados pelos Presidentes dos dois
existência. Gostaria países; promover o desenvolvimento estável do
de aproveitar a oportunidade para expressar mi- comércio sino-brasileiro; aumentar o diálogo e as
nhas congratulações. Na última década, a parti- parcerias nas áreas de energia, transporte, agri-
cipação ativa do empresariado chinês e brasilei- cultura, financeira e de alta tecnologia; facilitar
ro, juntamente com o trabalho a execução de grandes proje-
desenvolvido pelo CEBC, permi- tos; continuar o trabalho de
tiu um grande crescimento do construção e fortalecimento
comércio bilateral e elevados Na última década, a da plataforma do CEBC e ofe-
investimentos mútuos. No mo- participação ativa do recer mais assistência e servi-
mento, a parceria econômica
empresariado chinês e ços, para assim aprofundar a
deixa para trás a sistemática parceria econômico-comercial
de casos pontuais, passando a
brasileiro, juntamen-
dos dois países.
caracterizar-se por uma dinâmi- te com o trabalho de-
senvolvido pelo CEBC,
permitiu um grande
crescimento do comér-
cio bilateral e elevados
investimentos mútuos.”

6 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Embaixador Luiz
Alberto Figueiredo
Ministro das Relações Exteriores

A comemoração dos Nossa cooperação em ciência, tecnologia, e


40 anos do estabele- inovação cruzou fronteiras do conhecimento
cimento de relações nos campos de biotecnologia, ciências agrá-
diplomáticas entre rias, nanotecnologia, energias renováveis e
Brasil e China, em mudança climática, entre outros. O Programa
2014, coincidiu com CBERS, pioneiro entre países em desenvolvi-
avanços expressivos mento no campo da alta tecnologia, lançou
dos dois países no pla- com êxito, em dezembro de 2014, seu quinto
no doméstico e em sua inserção internacional. satélite, o que aproximou mais ainda nossas
comunidades científicas.
Ao longo desse período, executamos com êxito
ambiciosos programas de inclusão social, forta- A China é, desde 2009, o principal parceiro comer-
lecemos nossas bases institucionais, consolida- cial brasileiro e o Brasil constituiu-se, em 2013, o
mos nossos fundamentos macroeconômicos e oitavo sócio comercial da China, o primeiro entre
alcançamos importantes progressos nos campos os membros do BRICS. Os investimentos mútuos
da ciência, tecnologia e inovação. vêm-se ampliando e diversificando progressiva-
mente para o campo industrial e de alta tecnologia,
A agenda política sino-brasileira transcendeu a o que agrega valor à nossa relação econômica e nos
esfera bilateral e assumiu crescente dimensão plu- credencia a ocupar papel de relevo na economia do
rilateral. Brasil e China foram convocados a partici- conhecimento deste século. Nesse contexto, nos-
par da discussão de questões de governança mun- sa relação econômico-comercial tem se beneficia-
dial e, por meio de sua atuação em mecanismos de do do importante papel que cumpre, há dez anos,
geometria variável, como BRICS, G-20 e o Conselho Empresarial Brasil-China, como ponte
BASIC, ampliaram as oportunidades de progresso entre os setores privados dos dois países.
para os países em desenvolvimento.
O amplo acervo de realizações dos últimos 40
Significativamente, essas conquistas foram anos renova nossa confiança no futuro de nos-
obtidas por meio de uma cooperação cada vez sas relações e em nossa capacidade de contribuir
mais estreita, ocorridas muitas vezes em mo- para o bem estar de nossos povos e para a cons-
mentos adversos da conjuntura internacional. A trução de uma sociedade internacional mais jus-
capacidade que revelamos de juntos superar di- ta, próspera e estável.
ficuldades reforçou o sentimento de amizade e
a confiança mútua que lastreiam nossa Parceria
Estratégica Global.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 7


Embaixador Valdemar
Carneiro Leão
Embaixador do Brasil na China
desde 2013
A meu ver, o arcabouço sujeitos a trâmites intermináveis de autorização
para o aprofundamen- de compra, e os segundos, a barreiras sanitárias
to do relacionamento e fitossanitárias de superação demorada. Por ve-
bilateral está dado pe- zes em flagrante descompasso com os critérios
las diretrizes do Plano internacionais de segurança dos alimentos. Pen-
Decenal, assinado em so que haveria grande avanço no clima de negó-
21 de junho de 2012, cios entre os dois países, se a China eliminasse as
pela Presidenta Dilma barreiras de natureza regulatória que têm pouca
Rousseff e o Primeiro-Ministro Wen Jiabao. Ali es- transparência ou que apresentam base científi-
tão elencadas as áreas prioritárias e os projetos- ca frágil.
-chave para o período 2012 a 2021.
O documento é abrangente e o es- Num plano que tem a ver
forço dos dois governos estará em essencialmente com o setor
eleger prioridades, seja na identifi- Especificamente privado, também acredito
na
cação de questões e projetos espe- que falta maior esforço pre-
cíficos em que é possível avançar
área comercial, o go- sencial do exportador bra-
rapidamente, seja na superação de verno brasileiro con- sileiro no mercado chinês,
barreiras à expansão da coopera- tinuará a buscar um seja em feiras e exposições
ção bilateral, seja na produção con- seja por meio de visitas mais
acesso ampliado ao frequentes de executivos e
junta de conhecimento. Limito-me
aqui a questões que se projetam mercado chinês. Te- maior contato direto com o
num futuro imediato. mos transmitido a importador local. Se tiver-
mensagem de que o mos em conta as dimensões
Especificamente na área comer- da China – hoje o segundo
cial, o Governo Brasileiro conti- êxito da cooperação na maior importador do mundo
nuará a buscar um acesso am- esfera comercial passa – é insignificante o número
pliado ao mercado chinês. Temos
por uma maior abertu- de missões empresariais que
transmitido a mensagem de que aqui chegam, provenientes
o êxito da cooperação na esfera
ra aos produtos em que
do Brasil.
comercial passa por uma maior nossa competitividade
abertura aos produtos em que é inquestionável, como Em matéria de investimen-
nossa competitividade é inques- tos, acredito que é chegado
é o caso dos aviões da
tionável, como é o caso dos avi- o momento de nossas em-
ões da Embraer e de produtos do Embraer e de produtos presas de maior porte ex-
agronegócio. Os primeiros estão do agronegócio.” plorarem as possibilidades

8 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


de investimentos na China, na esteira das re-
formas econômicas em curso e, mais especifi-
camente, no âmbito do projeto-piloto da Zona Num plano que tem a ver essen-
de Livre Comércio de Xangai. É consenso en- cialmente com o setor privado,
tre analistas que o número de setores já efeti-
também acredito que falta maior
vamente abertos ao investimento estrangeiro
naquela zona ainda é reduzido, mas o governo esforço presencial do exportador
chinês parece decidido a suspender progres- brasileiro no mercado chinês, seja
sivamente as restrições e, num segundo mo-
em feiras e exposições seja por
mento, reproduzir a experiência de Xangai em
Guangdong, Tianjin e Fujian. meio de visitas mais frequentes de
executivos e maior contato direto
Na área de ciência, tecnologia e inovação, vejo,
com o importador local.”
de imediato, espaço para que o Brasil e a Chi-
na desenvolvam conjuntamente projetos de
pesquisa em agricultura e biotecnologia. Em
ambos os casos existem áreas promissoras em
que os dois países encontram-se em estágios
similares de desenvolvimento científico e em
que a soma dos conhecimentos poderá trazer
resultados palpáveis. Haverá seguramente
outros segmentos de igual potencial que os
meios científicos poderão identificar. A expe-
riência tem demonstrado que projetos só pros-
peram quando há continuidade e quando am-
bas as partes têm algo a ganhar. Não acredito
em cooperação científica e tecnológica entre
países do porte do Brasil e da China, quando
há evidente assimetria de conhecimentos e
quando uma das partes espera receber mais
do que está em condições de oferecer.

Estou convencido de que o futuro do relacio-


namento bilateral também deverá contemplar
maior integração entre nossos povos. Progra-
mas como o “Ciência sem Fronteiras”, que já
trouxe cerca de 200 estudantes brasileiros à
China, embora tenham objetivos acadêmicos,
produzirão um efeito multiplicador no conheci-
mento recíproco das duas sociedades, facilita-
rão o intercâmbio de culturas e promoverão a
aproximação humana e a confiança.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 9


Embaixador Li
Jinzhang
Embaixador da China no Brasil
Ao longo dos últimos cial e destino de exportações e principal origem
40 anos desde o esta- de importações e investimentos no Brasil, en-
belecimento das rela- quanto o Brasil é o maior parceiro comercial da
ções diplomáticas, a China na América Latina e dentro dos BRICS.
China e o Brasil têm Além das áreas tradicionais econômica e comer-
aderido sempre ao cial, a cooperação pragmática estende-se cada
espírito de respeito vez mais para novas áreas, tais como finanças,
e benefícios mútuos, alta tecnologia, infraestrutura, minas e energia,
ganhos compartilhados, colaboração, intercâm- aeroespacial, entre outras. Os projetos, como a
bio e aprendizagem recíprocos. As relações bila- investigação e o lançamento conjunto de três
terais vêm se desenvolvendo de forma estável,
satélites de recursos terrestres e a fabricação
atingindo sucessivamente novos patamares. Em
conjunta de aeronaves, são iniciativas pioneiras
1993, os dois países estabeleceram a Parceria Es-
de cooperação na área de alta tecnologia. Com o
tratégica, a primeira que a China firmou com um
intercâmbio de pessoas cada vez mais intensifi-
outro país em desenvolvimento. Em 2012, as rela-
cado, o alicerce social e a opinião pública para o
ções sino-brasileiras foram elevadas ao status de
desenvolvimento das relações sino-brasileiras se
Parceria Estratégica Global e o Brasil se tornou o
tornam cada vez mais consolidados e favoráveis.
primeiro país latino-americano a estabelecer esta
categoria de parceria com a China.
Em julho de 2014, por ocasião do 40º aniversário

Atualmente, as relações entre a China e o Brasil do estabelecimento das relações diplomáticas


encontram-se no seu melhor momento histórico. entre a China e o Brasil, a convite da Presidenta
A confiança mútua política e Dilma Rousseff, o Presidente da
estratégica atinge um nível República Popular da China, Xi
inédito e a convergência de jinping, realizou uma visita de Es-
nossos interesses nunca foi A confiança mútua po- tado com pleno sucesso ao Brasil.
tão estreita. Sendo econo-
lítica e estratégica atin- Os dois líderes alcançaram uma
mias importantes emergen-
tes e membros dos BRICS, os ge um nível inédito e a série de consensos sobre como
dois países colaboram forte- convergência de nossos promover a cooperação entre a
mente nos assuntos inter- China e o Brasil nas diversas áre-
interesses nunca foi tão
nacionais para defender os as. Os dois lados assinaram uma
estreita.” grande quantidade de acordos de
interesses dos países em de-
senvolvimento. Com o rápido cooperação. A visita foi um mar-
crescimento do investimento e comércio bilate- co que elevou a Parceria Estratégica Global a uma
rais, a China já se tornou o maior parceiro comer- nova etapa.

10 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Na atual conjuntura internacional, marcada por vimento comum. Explorar as respectivas vanta-
profundas e complexas mudanças, os países gens complementares, materializar a conexão
emergentes enfrentam a convivência de oportu- das nossas estratégias de desenvolvimento e de
nidades e desafios. Hoje em dia, com as relações nossas indústrias, alargar ainda mais a dimensão
sino-brasileiras cada vez mais amadurecidas comercial e o investimentos mútuos, e acelerar
após uma série de desafios, os dois países preci- a implementação dos acordos de cooperação já
sam manter a perseverança estratégica, se livrar assinados. Ao mesmo tempo, temos que cultivar
das disrupções exteriores, e trabalhar conjunta- novas oportunidades na cooperação, com ênfase
mente para buscar o desenvolvimento mútuo nas áreas de energia, infraestrutura, inovação
sem temer as dificuldades passageiras. científica e etc., tornando a cooperação cada vez
mais profunda, alargada e sustentada.
Primeiro, temos que aprofundar ainda mais a
confiança estratégica recíproca, fortalecer a Terceiro, temos que dar maior importância à in-
coordenação e a colaboração nos mecanismos tensificação do intercâmbio entre pessoas, for-
internacionais e multilaterais,
talecer ainda mais a base da
participar proativamente na
opinião pública em relação ao
governança global, defenden-
relacionamento bilateral, para
do em conjunto os interesses Hoje em dia, com as re-
favorecer o desenvolvimento
comuns dos países em desen- lações sino-brasileiras
consistente e contínuo da co-
volvimento, impulsionando
uma distribuição mais equita-
cada vez mais aamadu- operação entre os dois países.
tiva e equilibrada dos poderes recidas após uma série Olhando para o futuro, tenho
internacionais, assim como de desafios, os dois paí-
plena confiança nas perspecti-
promovendo a prosperidade e
ses precisam manter a vas positivas do relacionamen-
estabilidade do mundo.
perseverança estratégi- to China-Brasil.
Segundo, temos que continuar ca.”
a focar no tema do desenvol-

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 11


ANÁLISE CEBC
Linha do tempo e visão de futuro

Introdução
40 anos das relações sino-brasileiras

1974 – 1994
Do estabelecimento das relações à declaração da Parceria Estratégica

1994 – 2004
Intensificação da parceria em tempos de transformações

2004 – 2014
O início de uma fase de maturidade nas relações sino-brasileiras

Visita de Estado do Presidente Xi Jinping ao Brasil


Os primeiros passos de uma nova fase nas relações sino-brasileiras

Construindo uma visão de futuro

12 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Introdução
40 anos das relações sino-brasileiras
As relações entre Brasil e China contam, em A década que compreende o período de 2004 a
períodos distintos, uma história de interesses 2014 marca a etapa em que a relação entre os
comuns e complementaridade. Apesar das dife- dois países começou a atingir sua maturidade
rentes tradições políticas, históricas e sociais, e o intercâmbio bilateral, nos campos político e
os dois países têm buscado maximizar os ganhos econômico, ganhou maior relevância. Ao longo
provenientes dessa interação. Ao longo destes desta terceira fase observou-se a inédita expan-
40 anos, empresários, diplomatas e acadêmicos são do comércio e dos investimentos bilaterais
brasileiros e chineses construíram vínculos que e a evolução da relação em termos qualitativos.
se baseiam no desejo mútuo de desenvolver uma O fortalecimento do diálogo – com a criação da
parceria estratégica entre os dois países, apro- Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Con-
fundando os laços econômicos e políticos, am- certação e Cooperação (COSBAN) e do Conselho
pliando a cooperação e valorizando a dimensão Empresarial Brasil-China (CEBC) – bem como a
global da parceria. cooperação na esfera internacional, com a pre-
sença convergente de ambos os países no G-20 e
No caminho percorrido nestas quatro décadas, a nos BRICS, projetaram a Parceria Estratégica em
relação sino-brasileira conquistou grandes avan- nível global.
ços. O estabelecimento de vínculos diplomáticos
em 1974 marca a primeira fase do relacionamen- As relações com o país que é hoje o maior parcei-
to, que se estende até a declaração da Parceria ro comercial e um dos principais investidores es-
Estratégica em 1993. A cooperação econômica, trangeiros no Brasil encontram-se, atualmente,
ainda que limitada frente ao que estes países em um estágio decisivo. Sua evolução impactará
de dimensões continentais poderiam potencial- diretamente o desenvolvimento econômico bra-
mente estabelecer, progrediu de forma consi- sileiro nos próximos anos. Hoje, o relacionamen-
derável neste período. As trocas comerciais, por to cresce a um ritmo sem precedentes, as par-
exemplo, cresceram de US$ 19 milhões em 1974 cerias empresariais continuam a edificar fortes
para US$ 1,3 bilhão em 1994. laços com benefícios econômicos para ambas as
sociedades e novas oportunidades de parcerias e
A segunda fase do relacionamento teve início negócios começam a se consolidar.
com a formalização da Parceria Estratégica, mo-
mento em que o intercâmbio com o país asiáti- A breve análise histórica apresentada a seguir
co ganhou maior densidade na política externa procura assinalar os principais resultados da
brasileira. Ao longo da década de 1990, as visitas relação Brasil-China nos últimos 40 anos. A re-
presidenciais se tornaram mais frequentes, o di- trospectiva ambiciona, sobretudo, oferecer con-
álogo político se intensificou e novas arenas de tribuições reais para que os setores empresariais
cooperação surgiram. O lançamento, em 1997, do dos dois países congregados no CEBC sigam par-
primeiro satélite sino-brasileiro de levantamen- ticipando da construção da Parceria Estratégica
to de recursos terrestres CBERS-1 confirmou o sino-brasileira, explorando as oportunidades
potencial das iniciativas cojuntas em setores de inauguradas pela nova fase que se inicia.
alta tecnologia.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 13


1974 – 1994
Do estabelecimento das relações
à declaração da Parceria
Estratégica

No início da década de 1970, quando o potencial do a exportar esse produto para a China. Estas
do comércio com a China se tornava cada vez mais vendas foram consideradas um marco na área
evidente, a história do relacionamento sino-bra- comercial, já que os países ainda não tinham re-
sileiro iniciou uma dinâmica de aproximação. De estabelecido as relações diplomáticas.
forma progressiva, diversas empresas brasileiras
se aventuravam às terras distantes do país asiá- Mudanças no plano internacional, como a recu-
tico em busca de negócios. Os resultados positi- peração pela China de seu assento na Organiza-
vos alcançados por uma missão comercial à Feira ção das Nações Unidas (ONU) em 1971 e a apro-
de Cantão, em 1971, revelaram as oportunidades ximação norte-americana, resultado da visita do
promissoras que o mercado chinês apresentava Presidente Richard Nixon em 1972, facilitaram
ao Brasil. ainda mais a integração do país asiático no cená-
rio internacional. O Brasil, além de outros países
Foram algodão e, em especial, açúcar e ferro- latino-americanos, não estava alheio a estas mu-
-gusa, os produtos que sustentaram as primeiras danças. A reaproximação com a China surgiu no
trocas comerciais, que alcançaram aproximada- contexto do “pragmatismo ecumênico responsá-
mente US$ 71 milhões em 1972. A China era um vel”, nome dado à política externa do Governo do
tradicional importador de açúcar de Cuba, mas, Presidente Ernesto Geisel, que buscava ampliar
em 1971, uma safra ruim impediu o país caribenho o leque de parceiros comerciais do país.
de atender à demanda chinesa. Nesse contexto,
o Governo de Pequim fez chegar à Brasília uma Durante a vinda de uma missão comercial ao Bra-
mensagem à Brasília sobre o desejo de adquirir sil para a compra de açúcar, foi tomada a decisão
o açúcar brasileiro. No ano seguinte o Brasil já de estabelecer relações diplomáticas com a Re-
embarcava 100 mil toneladas do produto para o pública Popular da China. No dia 15 de agosto de
país asiático. 1974, o Vice-Ministro do Comércio Exterior, Chen
Jie, e Azeredo da Silveira, Ministro das Relações
Em 1973 a companhia, à época chamada Vale do Exteriores do Brasil, assinaram o documento que
Rio Doce (atualmente, Vale), exportou 4,7 mil previa a troca de Embaixadas entre os países e
toneladas de minério de ferro para o mercado o reconhecimento do Governo Brasileiro de que
chinês, tornando o Brasil o primeiro país do mun- Taiwan era parte inalienável do território chinês.

14 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


1973
Empresarial

Primeiro embarque de minério de fer-


ro para a China feito pela Vale

1976
Comercial

Corrente comercial: US$ 9,3 milhões

1974
Comercial

Missão comercial da República Popu-


lar da China ao Brasil
Diplomacia

Estabelecimento das relações diplo-


máticas 1977 1978
Comercial

Visita à China do Presidente da Fun-


dação de Comércio Exterior, Marcus
Vinicius Pratini de Moraes

1975
Diplomacia

Participação de uma delegação chine-


sa na Brasil Export 77, em São Paulo

Diplomacia

Inauguração da Embaixada do Brasil


em Pequim

Inauguração da Embaixada da China


em Brasília

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 15


1979
1978 Diplomacia

Visita do Vice-Primeiro Ministro do


Conselho de Estado da China, Kang
Comercial
Shien, ao Brasil
Assinatura do Acordo Comercial
entre o Brasil e a China Comercial

Duas missões comerciais brasileiras


1977 Missão comercial brasileira à China
à China lideradas pelo Departa-
chefiada pelo Embaixador Tarso
mento de Promoção Comercial do
Flecha de Lima, com participação
Itamaraty e o Ministério de Minas e
de representantes da Vale e da
Energia
Petrobras
Empresarial
Missão comercial brasileira à China
Visita de empresários brasileiros à
chefiada pelo Ministro Shigeaki Ueki
China sob coordenação da Confede-
ração Nacional da Indústria (CNI)
e da Associação de Exportadores
Brasileiros

Apesar da predisposição de ambos os países, das bases da construção do “socialismo com ca-
os primeiros anos da recém oficializada relação racterísticas chinesas”.
sino-brasileira não foram fáceis, já que, em gran-
de medida, persistia a lacuna de conhecimento De forma progressiva, o comércio entre ambas
entre as sociedades. Contudo, a necessidade de as nações se expandiu para novos setores. Ape-
ampliar as exportações em uma conjuntura de sar da complexa cojuntura macroeconômica,
crise da dívida externa consolidou-se como o mo- na década de 1970 o Brasil era um país mais de-
tor para a superação dos primeiros obstáculos. senvolvido que a China. A composição da pauta
exportadora brasileira para o país asiático ao
As oportunidades de negócios propiciadas pelo longo deste período se concentrava em produtos
processo de modernização da China eram signi- industrializados, principalmente petroquímicos
ficativas, evidenciando que o país asiático come- e siderúrgicos, devido ao relativo atraso indus-
çava a renascer economicamente. Com a chega- trial chinês, enquanto as importações brasileiras
da de Deng Xiaoping ao poder, o Governo Chinês da China eram compostas, majoritariamente, de
iniciou um profundo processo de transformação petróleo e carvão. Apesar das crescentes impor-
através da política de reforma e abertura, uma tações deste último produto, entre 1974 e 1979 o

16 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Década de 1980
1980 Lembro que me impressionou
muito que os diplomatas brasi-
Comercial

I Reunião da Comissão Mista


leiros realizaram um estudo que
Comercial Brasil-República Popular mostrava que em mais de 90% das
da China
Empresarial
ocasiões havia uma coincidência
Contrato entre Petrobras e Sinochem nos votos brasileiro e chinês em
para a compra de mais de 1 milhão de
toneladas de petróleo chinês diversos fóruns internacionais. Era
Visita de sete missões empresariais uma convergência maior que entre
chinesas ao Brasil
Brasil e Argentina, que indicava
alta sincronia de posições.”
Embaixador Shen Yunao,
Embaixador da China no Brasil entre 1988 e 1993

1981 1982

Comercial

Corrente comercial: US$ 454 milhões

Brasil acumulou saldos comerciais positivos com afirmação da ação diplomática brasileira na
a China no valor de US$ 415 milhões. Ásia. De acordo com Shen Yunao, Embaixador
da China em Brasília entre 1989 e 1993, a visita
Nos anos subsequentes, o Brasil continuou a “significou um grande marco nos anais diplomá-
expandir suas exportações, obtendo conside- ticos, pois era a primeira visita de um Presiden-
ráveis superávits com o país asiático. Em 1985, te brasileiro”.
o intercâmbio comercial entre os países alcan-
çou a cifra de US$ 1,2 bilhão, posicionando a No entanto, foi a redemocratização brasileira
China entre os dez parceiros comerciais mais que abriu novas perspectivas para o relaciona-
importantes do Brasil. mento bilateral, permitindo explorar uma rela-
ção mais multifacetada com o país asiático. Além
Um importante passo para a consolidação da do comércio, desde o Governo do Presidente José
relação bilateral foi a visita do Presidente João Sarney o vínculo se ampliou para novas áreas,
Figueiredo à China em 1984. Para o Brasil, a com especial foco na cooperação científica e tec-
missão representava um avanço no projeto de nológica.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 17


1982
Diplomacia

Visita do Chanceler Ramiro Saraiva


Guerreiro à China, recebido por Deng
Xiaoping
Assinatura do Acordo de Cooperação
Científico-Tecnológico

1981 Comercial

II Reunião da Comissão Mista


Comercial Brasil-República Popular
da China
Empresarial

Inauguração em Pequim de escritó-


rios de representação do Banco do
Brasil, da Braspetro e do Brasilinvest

Ano 1984 Início da exportação de produtos da


Comexport para a China
Como a primeira visita de Esta-
do de um presidente brasileiro à
China, lembro que o Presidente
Figueiredo enfatizou muito este
fato e a relevância das relações
entre os dois países. A visita em si 1983
já significava um passo importan- Diplomacia

te nas relações. Ele foi brindado Missão científica e tecnológica


brasileira, chefiada pelo CNPq, com
com uma solenidade de alto nível. visitas à Pequim, Xangai e Cantão,
para cooperação nos setores de agri-
Todos os principais dirigentes da cultura, energia elétrica, genética,
China, incluindo Deng Xiaoping, o metalurgia e energia nuclear

Presidente Li Xiannian e o Primei- Comercial


Assinatura do Protocolo Adicional
ro Ministro estiveram ou conversa- de Comércio

ram com ele”. Empresarial

Exposição Econômica e Comercial da


Embaixador Shen Yunao, República Popular da China no Brasil
Embaixador da China no Brasil entre 1988 e 1993
Participação da Braspetro em cinco
contratos para exploração e produ-
ção de petróleo em áreas off-shore
da foz do Rio das Pérolas na China

18 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


1985
Diplomacia

Visita ao Brasil do Primeiro-Ministro


Zhao Ziyang e do Presidente do Ban-
co Central da China, Chen Muhua

1984 Assinatura do Acordo de Coope-


ração em Matéria de Siderurgia e
Geociências
Diplomacia

Visita do Presidente João Batista Estabelecimento do Acordo para a


Figueiredo à China Cooperação em Cultura e Educação

Comercial Comercial

III Reunião da Comissão Mista Valor recorde no comércio bilateral


Comercial Brasil-República Popular de US$ 1,2 bilhão, com saldo favorá-
1986
da China vel para o Brasil de aproximadamen-
te US$ 400 milhões
Expansão das exportações brasilei-
ras para a China, concentradas em Participação média de produtos
produtos industrializados, principal- manufaturados na pauta exportado-
mente siderúrgicos, petroquímicos ra brasileira para a China de 58,9%,
e têxteis entre 1985 e 1989

Empresarial China se torna um dos dez mais


I Feira Industrial Brasileira em importantes parceiros comerciais
Pequim do Brasil
Empresarial

Visita do Primeiro-Ministro Zhao


Ziyang à Mina de Carajás
Inauguração do escritório de repre-
sentação da Petrobras-Interbras em
Pequim
Implantação de indústria da empre-
sa Cacique Café Solúvel em Pequim

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 19


Ano 1988
1986 A China já tinha legítimo interesse
pelo Brasil e olhava o País com
Diplomacia

1985 Estabelecimento de 48 acordos de


bons olhos. Na conversa de Deng
amizade entre unidades administra- Xiaoping com o Presidente Sarney
tivas do Brasil e da China, entre 1986
e 2011 em 1988, comentou-se que sem o
desenvolvimento da China e da Ín-
dia não haveria “século asiático”,
assim como não haveria “século

1987 latino-americano” sem o desenvol-


vimento do Brasil. Era uma ideia
Diplomacia
que já vinha sendo muito bem pen-
Assinatura do Acordo para a Coope-
ração nos Usos Pacíficos da Energia sada pela Cúpula do Partido.”
Nuclear
Embaixador Chen Duqing,
Empresarial Embaixador da China no Brasil entre 2006 e 2009.
Realização de cerca de 70 missões
oficiais ao Brasil, cobrindo as mais
variadas áreas da economia. Envio de
missões brasileiras, mas em número
mais reduzido.

Dentre os principais avanços deste período, des- tir ao longo do início da década de 1990. Apesar
taca-se a assinatura do Acordo de Cooperação das dificuldades durante esses anos, Brasil e Chi-
para Pesquisa e Produção de Satélites Sino-Bra- na estavam em vias de dar um passo importante
sileiros de Recursos Terrestres (CBERS). Resulta- para impulsionar o relacionamento bilateral: o
do do encontro entre o Presidente José Sarney e lançamento da Parceria Estratégica, que marca-
Deng Xiaoping na China, em 1988, o acordo per- ria a aproximação pioneira entre dois grandes
dura até os dias de hoje. países em desenvolvimento.

Ao final da década de 1980, as relações perderam No ano de 1993, importantes líderes chineses
dinamismo devido a problemas internos nos dois visitaram o Brasil, dentre eles o Chanceler Qian
países. As consequências para as relações sino- Qichen e o então Vice-Primeiro-Ministro Zhu
-brasileiras foram significativas e se fizeram sen- Rongji. As visitas demonstravam o interesse

20 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


1989
Diplomacia

Assinatura do Protocolo de Coopera-


ção na Área de Tecnologia Industrial 1990

1988 Empresarial

Assinatura do Acordo Comercial


entre SIDERBRÁS e China Minmetals
Diplomacia para fornecimento à China de 300 mil
Visita do Presidente José Sarney à toneladas de aço
China
Assinatura do Acordo de Coopera-
ção para Pesquisa e Produção de
Satélites Sino-Brasileiros de Recursos
Terrestres (CBERS)
Comercial

Mais de 90% da pauta de importa-


ções brasileiras da China composta
de petróleo, entre 1978 e 1988
Empresarial

Missão empresarial chefiada pela


SIDERBRÁS e integrada por represen-
tantes da COSIPA, Usiminas e CSN,
para discussão do fornecimento de
aços planos para a China em negocia-
ção com a China Minmetals

chinês na criação de uma iniciativa de coopera- do por mecanismos institucionais. O termo ain-
ção de maior extensão com o Brasil. No mesmo da caracteriza a existência de relações dinâmicas
ano, durante a vinda ao Brasil do Presidente nos campos econômico e sociocultural, assim
Jiang Zemin, os países decidiram batizar formal- como uma cooperação ativa e abrangente em
mente o vínculo bilateral como Parceria Estra- questões estratégicas. O caráter “estratégico”
tégica, assinalando o início de uma nova etapa
concedido à parceria sino-brasileira indicava a re-
no relacionamento.
cuperação da relação comercial, com vistas a sua
O estatuto de Parceria Estratégica designa um expansão para novos setores, além de consolidar
grau avançado nas relações entre dois países, o programa CBERS. O Brasil foi um dos primeiros
utilizado quando há um diálogo profícuo e amis- países do mundo a ser considerado um Parceiro
toso entre altas autoridades políticas, sustenta- Estratégico pela China.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 21


1990
Diplomacia

Visita do Presidente da República


Popular da China, Yang Shangkun,
ao Brasil
Comercial
1989 Assinatura do Memorando de Enten-
dimento sobre minério de ferro
Exportações brasileiras a partir
da década de 1990 passam a ser
concentradas majoritariamente em
produtos básicos, dado o desenvol-
vimento das indústrias siderúrgica e

Ano 1990 petroquímica chinesas

Em 1990, Yang Shangkun visitou Empresarial

Assistência técnica da Odebrecht à


o Brasil. Ele era o número dois da construção da Usina Hidrelétrica de
Três Gargantas
China. Nessa época, o Ocidente
fazia um embargo geral contra
nosso país, mas o Brasil demons-
trou amizade e compreensão com
a China recebendo a visita dele.”
Embaixador Chen Duqing,
Embaixador da China no Brasil entre 2006 e 2009.

22 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


1991
Diplomacia

Início do programa de cooperação bi-


Ano 1993
lateral entre a Administração Estatal
Entre 1993 e 1995 diversos diri-
de Medicina Tradicional da China e a gentes da China viajaram por todo
FIOCRUZ
Acordo entre a Radiobras e a Rádio
o Brasil. Zhu Rongji em maio de
de Pequim 1993, Jiang Zemin em novembro de
Comercial 1993, Hu Jintao em abril de 1994
Ampliação da presença do minério (na qualidade de membro per-
de ferro e óleo de soja na pauta de
exportação do Brasil para a China, manente do Comitê, ou seja, não
que passou de 11,6% em 1986 para
56% em 1991 representando o Estado Chinês e,
sim, o Partido). Em 1995, Li Zhao-
xing. Quando a Cúpula do Gover-
no Chinês queria abordar algum
assunto sobre o Brasil, não era

1992 necessário fornecer muitas infor-


mações, pois todos os dirigentes já
Diplomacia conheciam o País.”
Inauguração do Consulado-Geral da Embaixador Chen Duqing,
República Popular da China no Rio de Embaixador da China no Brasil entre 2006 e 2009.
Janeiro
Visita do Primeiro-Ministro Li Peng
ao Brasil para a Conferência das
1993
Nações Unidas sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento
Empresarial

Realização de dez missões chinesas


para conhecer a experiência brasileira
na construção e implantação de
usinas hidrelétricas
Participação da Companhia Brasileira
de Projetos e Obras e da Andrade Gu-
tierrez em licitações para a constru-
ção de duas hidrelétricas chinesas

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 23


Ano 1993
Na conversa com o Presidente
Itamar Franco em Brasília, após
visita à Carajás, Zhu Rongji tomou
a iniciativa de sugerir o lançamen-
to de uma Parceria Estratégica,
ideia de pronto aceita. Nasceu,
assim, o motor maior de nossas re-
lações com aquele país – motor que
não se limitaria em anos seguintes
ao mero uso retórico e, sim, para
1993
impulsionar aos impressionantes Diplomacia

Visita do Ministro das Relações


níveis atuais as relações de diálo- Exteriores da China, Qian Qichen, ao
Brasil
go, cooperação e intercâmbio nos
Visita do Vice-Primeiro-Ministro Zhu
mais variados setores.” Rongji ao Brasil
Embaixador Roberto Abdenur, Visita oficial do Presidente da Repú-
Embaixador do Brasil na China entre 1989 e 1993. blica Popular da China, Jiang Zemin,
ao Brasil
Lançamento da “Parceria Estratégica
1992 Sino-Brasileira”
Criação do Grupo Parlamentar
Brasil-China
Comercial

Primeira venda do minério de Carajás


(da Vale) para a China
Presença significativa, pela primeira
vez, de produtos não energéticos na
pauta de importação brasileira da
China, incorporando produtos manu-
faturados intermediários
Empresarial

Visita do Presidente da China, Jiang


Zemin, à Usina Hidrelétrica de Itaipu
e à Embraer
Início das negociações sobre investi-
mentos conjuntos entre a empresa
brasileira Embraco e a chinesa
Snowflake

24 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


A declaração da Parceria Estratégica concluiu rado e altas taxas de crescimento, pilares que
a primeira fase do relacionamento entre Brasil iriam determinar a forte complementaridade de
e China. Desde o estabelecimento das relações ambas as economias nas décadas subquentes.
diplomáticas em 1974, a cooperação econômica, As relações políticas, apesar dos avanços, conti-
ainda que limitada diante do potencial existente nuavam restritas, com a presença diplomática
entre os dois países, avançou de forma conside- do Brasil na Ásia incipiente e a prospecção inter-
rável. Como observado anteriormente, as trocas nacional de ambos os países ainda modesta. Isto
comercias cresceram de US$ 19 milhões em 1974 se refletia nas visitas presidenciais esporádicas e
para US$ 1,3 bilhão em 1994. na ausência de um arcabouço institucional que
desse suporte à ampliação da cooperação. Seria
Durante este período, a China caminhava os pri- nas décadas seguintes que as visitas oficiais pas-
meiros passos em direção à etapa que seria mar- sariam a ser contínuas e as novas instituições
cada por um processo de industrialização acele- surgiriam para impulsionar o relacionamento.

Intercâmbio Comercial Brasil-China – 1974-1994

1.400

1.200

1.000
US$ milhões

800

600

400

200

1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
Exportação 18,9 67,4 9,0 163 129 118 72 104 92 270 453 818 517 362 718 628 382 226 460 799 822
Importação 0,6 1,0 0,3 0,4 4,0 84 244 350 312 505 365 419 289 298 83 128 169 129 117 305 463
Corrente 19,4 68,4 9,3 163 133 202 316 454 404 776 818 1.236 806 659 801 756 551 355 577 1.104 1.286

Fonte: MDIC Elaboração: CEBC

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 25


LINHA 1 Presidente Itamar Franco condecora seu colega Jiang Zemin
O presidente da República Popular da China, Yang Shangkun, com a Ordem do Cruzeiro do Sul, durante solenidade realizada
desce a rampa do Palácio do Planalto. Brasília, 18/05/1990. no Palácio do Planalto. Brasília, 23/11/1993. Foto: Agência Brasil,
Foto: José Cruz, Agência Brasil. Radiobrás.

Presidente Itamar Franco recebe, em audiência no Palácio do


Planalto, o Embaixador Shen Yunao, da República Popular da LINHA 3
China. Brasília, 11/06/1990. Foto: Antônio Cruz, Agência Brasil. Presidente Itamar Franco e Jiang Zemin reunem-se com
suas respectivas delegações no Palácio do Planalto. Brasília,
23/11/1993. Foto: Elza Fiuza, Agência Brasil.
LINHA 2
O Secretário de Ciência e Tecnologia, Hélio Jaguaribe, co- Presidente Itamar Franco cumprimenta o Vice-Primeiro ministro
munica ao Encarregado de Negócios da China, Fang Ming, da China, Zhu Rongji. Brasília, 01/06/1993. Foto: José Cruz,
a liberação de US$ 2 milhões para o Programa de Satélites Agência Brasil.
Sino-Brasileiro. Brasília, 16/07/1992. Foto: Hermínio Oliveira,
Agência Brasil.

26 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


LINHA 1 O Presidente Yang Shangkun brinda com o Presidente Fernan-
Chanceler Fernando Henrique Cardoso recebe o Ministro das do Collor de Mello no Itamaraty. Foto: José Cruz, Agencia Brasil.
Relações Exteriores da China, Qian Qichen. Brasília, 05/03/1993.
Foto: Roosevelt Pinheiro, Agência Brasil.
LINHA 3
O Presidente da China, Jiang Zemin, passa em revista à tropa O Presidente Itamar Franco recebe o novo Embaixador da
formada em sua homenagem, durante solenidade no Palácio do China, Yuan Tao, no Palácio do Planalto. Brasília, 19/04/1994.
Planalto. Brasília, 23/11/1993. Foto: Antônio Cruz, Agência Brasil. Foto: Antônio Cruz, Agência Brasil.

Presidente José Sarney recebe o senhor Wang Jun, primeiro


LINHA 2 vice-presidente da CITIC da China. Brasília, 20/09/1988. Foto:
O Presidente da China, Jiang Zemin, participa de sessão do STF, Guilherme Romão, Radiobrás.
ao lado do Presidente do Tribunal, Ministro Octávio Gallotti e
do Procurador Geral da República, Aristides Junqueira. Brasília,
23/11/1993. Foto: José Cruz, Agência Brasil.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 27


1994 – 2004
Intensificação da parceria em
tempos de transformações

Com a formalização da Parceria Estratégica, a em 1995, um aumento de cerca de 500%.


interação com a China ganhou maior densidade
na política externa brasileira. A visita do Durante a década de 1990, entretanto, a Chi-
Presidente Fernando Henrique Cardoso ao país na ingressava em uma nova etapa de reformas
asiático, em 1995, confirmou a nova dinâmica estruturais, que incluía maior abertura econô-
de intensificação das relações bilaterais. Neste mica e mudanças institucionais direcionadas
contexto, o Governo Brasileiro apresentou à à ampliação do ingresso do capital estrangeiro
China seus principais interesses econômicos no território nacional. O processo de criação de
e comerciais, dentre eles a participação Zonas Econômicas Especiais (ZEE) – regiões nas
de empresas brasileiras nos projetos de quais os investimentos seriam encorajados por
modernização da infraestrutura chinesa, a vantagens fiscais, procedimentos burocráticos
ampliação das oportunidades de exportação simplificados e incentivos alfandegários – foi
no setor agrícola e a necessidade de sofisticar significativamente intensificado ao longo des-
a composição da pauta de comércio entre te período.
os dois países. Além disso, foi proposto o
aprofundamento da parceria na área tecnológica, Em 1994, o volume de investimentos estrangei-
por meio de novo impulso ao Programa CBERS, ros chegou a 6% do Produto Interno Bruto (PIB)
que passaria a contar com um total de quatro do país asiático. Com o ingresso de empresas
satélites, dois a mais do que o previsto no projeto multinacionais atraídas pelos estímulos ofere-
inicial, elaborado em 1988. cidos à instalação de plataformas de exporta-
ção, a China foi capaz de integrar-se às cadeias
Do mesmo modo, o comércio bilateral entrava globais de produção, combinando as vantagens
em uma fase de expansão relativamente equili- tecnológicas e as marcas das companhias es-
brada. Em 1994, a corrente comercial alcançou o trangeiras à eficiência e baixo custo garanti-
valor de US$ 1,3 bilhão, marcando um novo recor- dos pelos fatores de produção chineses. Uma
de histórico, com crescimento quase ininterrup- característica relevante deste fenômeno foi a
to nos anos seguintes. Apesar da elevação das integração das cadeias produtivas na Ásia, com
importações oriundas da China, o Brasil se man- a formação de uma rede de produção na qual os
tinha em posição superavitária, já que as expor- insumos oriundos de diferentes países do leste
tações brasileiras para o país asiático passaram asiático eram destinados à China, onde os pro-
de US$ 226 milhões em 1991 para US$ 1,2 bilhão dutos finais eram montados.

28 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


1994
Diplomacia

Inauguração do Consulado-Geral do
Brasil em Xangai
Visita do Chanceler Celso Amorim à
China

1995
Intensificação do relacionamento
bilateral sino-brasileiro no campo
militar, entre 1993 e 1996
Comercial Diplomacia
Novo recorde histórico do comércio Visita do Presidente Fernando Henri-
bilateral: US$ 1.285 bilhão que Cardoso à China
Empresarial Comercial
1996
Inauguração de escritório da Compa- Salto das exportações brasileiras
nhia Vale do Rio Doce (atual Vale) em para a China de US$ 226 milhões
Xangai para US$ 1,2 bilhão, representando
um aumento de mais de 500%, entre
Intalação na China das empreiteiras
1991 e 1995
brasileiras CBPO, Andrade Gutierrez
e Mendes Júnior Empresarial

Criação em Pequim da empresa “Bei-


jing Embraco Snowflake”, primeira
joint-venture sino-brasileira, com in-
vestimento total de US$ 53 milhões

Ano 1995
Acompanhei o Presidente Fernando Henrique Cardoso
na visita à China na qualidade de Embaixador desig-
nado. Duas das questões prioritárias eram o progra-
ma CBERS, sobretudo a questão do financiamento, e o
estudo das práticas fiscais da China. Naquele momento,
o Brasil passava pela reestruturação do Plano Real e
interessava muito a nós entender como era a prática
chinesa nesse âmbito.”
Embaixador Sérgio Duarte,
Embaixador do Brasil na China entre 1996 e 1999.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 29


1996
Diplomacia

Visita do Primeiro-Ministro Chinês,


1995
Li Peng, ao Brasil
Comercial

Entre 1996 e 2000 reduz-se o inter-

1998
câmbio bilateral, com déficits para
o Brasil, invertendo a tendência de
superávits registrada entre 1986 e
1995
Diplomacia

Assinatura de contrato da General


Motors do Brasil com a China para a
exportação de caminhões, no valor
de US$ 710 milhões

1997
Diplomacia

1999
Visita do Vice-Primeiro-Ministro Li
Lanqing ao Brasil
Assinatura de acordo bilateral sobre
serviços aéreos Diplomacia

Lançamento do primeiro Satélite


Sino-Brasileiro de Levantamento de
Recursos Terrestes CBERS-1
Comercial

Início do fornecimento de veículos e


autopeças brasileiras para a China
Empresarial

Ingresso da Huawei no Brasil por


meio de parcerias com as principais
operadoras de telefonia brasileiras

30 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Não temos outra foto para 2001,
podemos deixar sem foto?

2001
Diplomacia

Visita do Presidente da República Popular


da China, Jiang Zemin, ao Brasil
2002

2000
Comercial

Forte redinamização do comércio bilateral


no início do ano, com importantes saldos
Comercial positivos para o Brasil
Inserção das aeronaves brasileiras da Empresarial
Embraer no mercado chinês Formalização de joint venture entre
Empresarial Marcopolo e Iveco, para apoio tecnológico
Inauguração de escritório de repre- na fabricação de caminhões e ônibus para
sentação do Bank of China no Brasil atendimento ao mercado chinês
Redefinição do modelo de negócios da
Comexport, incluindo, além de exportação,
importação de produtos da China
Início da prestação de serviços jurídicos
pelo escritório Felsberg Associados a
empresas brasileiras que buscavam investir
na China e a grupos chineses com interesses
no Brasil
Chegada à China de diversos equipamentos
produzidos pelo Consóricio VGS, em São
Paulo, para a construção da Usina Hidrelé-
trica de Três Gargantas

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 31


2001 2002
Diplomacia

Encontro em Pequim do Vice-Primeiro-


-Ministro Wu Bangguo com o Ministro
de Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, Sergio Amaral, no
Palácio do Povo
Empresarial

Estabelecimento de joint venture


entre a Embraer e a Aviation Industry
of China II para montagem final, em
Harbin, de jatos regionais
Entrada oficial da ZTE Corporation no
2003
mercado brasileiro Diplomacia

Criação de joint venture entre a Vale e Lançamento do segundo Satélite


a Baosteel para a produção de minério Sino-Brasileiro de Levantamento de
de ferro na Mina de Água Limpa, em Recursos Terrestes CBERS-2
Minas Gerais Comercial

China se consolida como o terceiro


mais importante parceiro comercial
do Brasil

Estas transformações tiveram importantes efei- Durante este período, importantes mudanças
tos para o relacionamento sino-brasileiro. Foi a na trajetória do desenvolvimento brasileiro tam-
partir dos anos noventa que, pela primeira vez, bém ocorriam. Foi adotada uma série de refor-
houve a presença significativa de produtos chi- mas que transformariam estruturalmente a eco-
neses não energéticos na pauta de importação nomia do Brasil, cujos principais efeitos foram
um processo inicial de estabilização e progressi-
do Brasil, que passou a incorporar itens manu-
va abertura econômica. Como resultado, a taxa
faturados intermediários, como brinquedos, cal-
média de crescimento do Brasil passou de 1,0%
çados, têxteis e aparelhos receptores de rádio e
entre 1990 e 1994 para 2,6% entre 1995 e 1998.
som, entre outros. A maior abrangência da pauta
de produtos chineses importados pelo Brasil foi Apesar destes avanços, a partir de 1997 ambos
resultado do processo de reformas e industriali- os países enfrentaram um período de dificulda-
zação experimentado pelo país asiático. des econômicas relacionadas, sobretudo, a ins-

32 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Intercâmbio Comercial Brasil-China – 1994-2004

10.000
9.000
8.000
7.000
US$ milhões

6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Exportação 822 1.204 1.114 1.088 905 676 1.085 1.902 2.520 4.534 5.440
Importação 463 1.042 1.133 1.166 1.034 865 1.222 1.328 1.554 2.148 3.710
Corrente 1.286 2.245 2.247 2.225 1.939 1.541 2.307 3.231 4.075 6.681 9.150

Fonte: MDIC Elaboração: CEBC

tabilidades financeiras e choques externos, que sificação da pauta, caracterizada pelo progressivo
prejudicaram o avanço da Parceria Estratégica. ingresso de manufaturas chinesas no Brasil, ou-
A economia chinesa foi afetada pela crise finan- torgou um novo perfil ao vínculo bilateral.
ceira asiática de 1997, ano em que as exportações
do país se reduziram sensivelmente por conta da Destaca-se também, neste período, a diversifica-
desvalorização cambial na maior parte de seus ção dos investimentos bilaterais, particularmen-
países vizinhos. Crise financeira análoga atingiu te o ingresso de algumas empresas brasileiras
diretamente o Brasil no final de 1998, conduzin- no setor produtivo chinês. A criação da empresa
do à flutuação cambial do Real em janeiro de Beijing Embraco Snowflake para a produção de
1999 e levando à redução da demanda por impor- compressores na China, assim como a inserção
tações chinesas. Após se manter em um patamar das aeronaves brasileiras da Embraer no mercado
de US$ 2,2 bilhões nos anos de 1995-1997, o inter- chinês no ano 2000 constituem iniciativas pionei-
câmbio comercial entre Brasil e China se reduziu ras desta etapa.
acentuadamente em 1998 e 1999, chegando no
último ano ao seu patamar mais baixo desde O diálogo político também ganhou densidade e
1994: US$ 1,54 bilhão. as visitas presidenciais tornaram-se mais frequen-
tes. O lançamento, em 1997, do primeiro Satélite
Estes impasses marcaram o final desta segunda Sino-Brasileiro de Levantamento de Recursos Ter-
fase do relacionamento sino-brasileiro. Desde a restres, CBERS-1, confirmou o potencial de ambos
declaração da Parceria Estratégica até os primei- os países para estabelecer iniciativas cojuntas em
ros anos do século XXI, Brasil e China atravessa- setores de alta tecnologia. No entanto, ainda se
ram importantes mudanças que transformaram fazia necessária uma arquitetura institucional
a relação em termos quantitativos e qualitativos. mais assertiva, que pudesse expandir o potencial
Além do aumento das trocas comerciais, a diver- desta cooperação para novos horizontes.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 33


LINHA 1 LINHA 3
Assinatura de atos entre o Governo da China e o Governo do Fernando Henrique Cardoso, Jiang Zemin e Lucélia Santos, Pe-
Brasil, 1995 . Foto: Getúlio Gurgel. Acervo Presidente Fernando quim, 1995. Foto: Evandro Teixeira. Acervo Presidente Fernando
Henrique Cardoso. Henrique Cardoso.

Fernando Henrique Cardoso, Jiang Zemin e Ruth Cardoso,


LINHA 2 1995. Acervo Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Brasil-China: uma parceria estratégica. Xangai, 1995. Acervo
Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Brasil-China: uma parceria estratégica. Xangai, 1995. Acervo


Presidente Fernando Henrique Cardoso.

34 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


LINHA 1 LINHA 3
Fernando Henrique Cardoso, Jiang Zemin, Revista às tropas, Visita de Fernando Henrique Cardoso à Feira de Comércio e In-
1995. Foto: Evandro Teixeira. Acervo: Presidente Fernando dústria Brasil-China, Xangai, 1995. Foto: Getúlio Gurgel. Acervo
Henrique Cardoso Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Visita de Fernando Henrique Cardoso à empresa Beijing Em-


LINHA 2 braco Snowflake Compressor Company, Pequim, 1995. Foto:
Visita de Fernando Henrique Cardoso ao Programa CBERS, Pe- Getúlio Gurgel. Acervo Presidente Fernando Henrique Cardoso.
quim, 1995. Foto: Evandro Teixeira. Acervo Fernando Henrique
Cardoso

Visita de Fernando Henrique Cardoso ao Programa CBERS,


Pequim, 1995. Foto: Getúlio Gurgel. Acervo Fernando Henrique
Cardoso

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 35


2004 – 2014
O início de uma fase de
maturidade nas relações
sino-brasileiras
A década que compreende o período de 2004 a do Comércio (OMC), em 2001, experimentou o
2014 inaugura um momento em que a relação fortalecimento de suas reformas econômicas,
sino-brasileira começa a atingir sua maturidade com a expansão da dimensão de mercado em sua
e o intercâmbio bilateral, nos campos político e economia, proporcionando altas taxas de cres-
econômico, conquista maior relevância. cimento, por vezes superiores a 10% ao ano. Foi
durante esses anos que a China investiu de for-
Desde o início dos anos 2000, os dois países ma significativa em infraestrutura e no processo
passaram por fases distintas, tendo em vista o de urbanização, tendo obtido também constan-
direcionamento de seus modelos de crescimen- tes superávits comerciais com o mundo e o au-
to econômico. O Brasil pautava suas diretrizes mento de suas reservas.
na estabilidade macroeconômica e nos ganhos
sociais, estimulando o consumo doméstico, es- O modelo de crescimento vigente na China,
pecialmente no período pós-crise. A China, sobre- particularmente durante a última década, criou
tudo após sua entrada na Organização Mundial uma grande janela de oportunidades para o

Intercâmbio Comercial Brasil-China – 2004-2013

90.000

80.000

70.000
US$ milhões

60.000

50.000

40.000

30.000

20.000

10.000

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Exportação 5.440 6.835 8.402 10.749 16.523 21.004 30.786 44.315 41.228 46.026
Importação 3.710 5.355 7.990 12.621 20.044 15.911 25.595 32.791 34.251 37.303
Corrente 9.150 12.190 16.393 23.370 36.567 36.915 56.381 77.105 75.479 83.329

Fonte: MDIC Elaboração: CEBC

36 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Brasil, explicitando a forte complementaridade Além da elevação no comércio bilateral, foi tam-
entre as duas economias. O novo fator deu bém notável o significativo aumento da presen-
grande impulso à corrente comercial, que, ça de investimentos chineses no Brasil, refletin-
a partir dos primeiros anos da década de do parcialmente a estratégia do Governo Chinês
2000, alcançou recordes históricos, com de incentivar o processo de internacionalização
variação média de crescimento de 30% ao ano, de suas empresas, sobretudo a partir de 2007.
totalizando US$ 83,3 bilhões em 2013. Muito limitados até o início dos anos 2000, os
investimentos chineses passaram a ter maior re-
A grande demanda chinesa de alimentos e da levância no cenário nacional a partir de 2010, ano
indústria intensiva em recursos naturais propor- que marca a descoberta do Brasil, por parte das
cionou um salto considerável nas exportações empresas chinesas, como um potencial destino
brasileiras de commodities, sobretudo de mi- para investimentos externos.
nério de ferro, soja, carnes, petróleo e celulose,
enfatizando a complementaridade entre as duas Como reflexo desta expansão, entre 2007 e
economias. Os bons resultados neste intercâm- 2013 foi contabilizado um montante de US$
bio transformaram a China, em 2009, no maior 56,5 bilhões em investimentos anunciados no
parceiro comercial do Brasil, posição que man- País, tornando inegável a nova fase da relação
tém até o momento. Neste período, o saldo do bilateral, não apenas voltada para o comércio,
comércio bilateral foi majoritariamente supera- mas também para parcerias em esferas mais
vitário ao Brasil, chegando a atingir o pico de US$ abrangentes. Os investimentos, em geral
11,5 bilhões em 2011, sendo desfavorável apenas tímidos entre 2007 e 2009 e com maior ênfase
em 2007 e 2008, anos próximos à crise econômi- em recursos naturais em 2010, ganharam grande
ca internacional. dinamismo nos anos seguintes. Entre 2011 e

Saldo Comercial do Brasil com a China – 2004-2013

14.000

12.000

10.000

8.000
US$ milhões

6.000

4.000

2.000

-2.000

-4.000

-6.000

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Saldo 1.730 1.480 412 -1.872 -3.522 5.093 5.190 11.524 6.976 8.723

Fonte: MDIC Elaboração: CEBC

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 37


2013, as empresas chinesas exploraram novas Brasil-China, em 2004, assinalou a necessidade
oportunidades na área industrial, em especial de um instrumento institucional de articulação
nos setores de máquinas e equipamentos, entre as empresas brasileiras e chinesas, com o
aparelhos eletrônicos, e automotivos, respaldo dos governos de ambos os países. For-
apresentando, ainda, fluxos recentes no setor mado por duas seções independentes, no Rio de
de serviços, em especial na área financeira. Janeiro e em Pequim, sua atuação busca ampliar
o diálogo entre as empresas associadas e com os
Nesse período, se observou, também, a presen- governos do Brasil e da China. A partir de uma
ça de investimentos brasileiros na China, ainda agenda de atividades, que inclui a publicação de
que de forma relativamente tímida se compa- estudos inéditos e a realização de eventos e reu-
rada à vinda de companhias chinesas ao Brasil. niões empresariais, o CEBC procura afirmar seu
Empresas como Vale, Petrobras e Embraco fo- papel como instituição de referência no que tan-
ram pioneiras nos empreendimentos no país ge ao estreitamento das relações empresariais
asiático. Por outro lado, nota-se um movimento sino-brasileiras, contribuindo para a consolida-
recente de investimentos brasileiros na China, ção e ampliação de suas bases.
com destaque para o aumento da diversificação
dos setores, como no caso da presença da BRF Da mesma forma que a presença dos investimen-
e da Suzano no agronegócio, da Weg na área de tos chineses no Brasil e a força da parceria comer-
maquinário, e do Banco do Brasil, primeira insti- cial apresentaram saltos significativos, o diálogo
tuição financeira da América Latina a inaugurar político também se intensificou entre os países,
uma agência bancária na China. gerando maior comprometimento com o estrei-
tamento dos laços diplomáticos e contribuindo
No contexto do aprofundamento das trocas para o aprofundamento das interações em esfe-
bilaterais, a criação do Conselho Empresarial ras mais abrangentes.

Investimentos chineses anunciados no Brasil – 2007-2013

40.000
35.792
35.000

30.000

25.000
US$ milhões

20.000

15.000 13.090
11.880
10.000 8.030
4.791 3.449 3.465
5.000
3.235
564 549
0
2007-09 2010 2011 2012 2013

Total Confirmados

Fonte: CEBC

38 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


2004
Diplomacia

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China Empresarial

Participação de uma comitiva composta


Visita do Presidente da República Popular da China, Hu
por mais de 400 empresários na Missão do
Jintao, ao Brasil
Presidente Lula à China
Criação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de
Associação entre Vale e duas empresas
Concertação e Cooperação (COSBAN)
chinesas para desenvolvimento da produção
Estabelecimento do Comitê Conjunto de Cooperação de aço, alumínio e exploração de carvão de
Agrícola coque na China

Assinatura de memorando de entendimento para a Aliança entre Petrobras e Sinopec para a


facilitação de viagens de grupos de turistas chineses ao prospecção de petróleo nos dois países e em
Brasil terceiros mercados
Início das atividades da Weg na China com a 2005
Comercial instalação de planta para produção de moto-
Assinatura de quatro Protocolos Sanitários que possibi- res elétricos em Nantong
litaram a exportação de carne de aves e bovina do Brasil
Inauguração do escritório da Petrobras na
para a China
China

CEBC Inauguração do escritório da Bolsa de Valores


BM&F Bovespa em Xangai
Missão empresarial, promovida pela Agência
de Promoção de Exportações (APEX), com a
concretização de negócios no valor aproxima-
do de US$ 460 milhões
Abertura de escritório de representação do
Banco do Brasil em Xangai
Inauguração de sede própria da Comexport
Criação do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) na China

1ª Reunião Bilateral do CEBC em Pequim

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 39


2005 2006
Diplomacia
Diplomacia
Visita do Vice-Presidente José Alen-
Visita do Vice-Presidente da Repúbli- car à China
ca Popular da China, Zeng Qinghong,
ao Brasil 1º Reunião da COSBAN

CEBC Assinatura do Acordo Governa-


Seminário “A emergência da China: mental de Cooperação no Setor
Oportunidades e Desafios para o Bra- Energético
2004
sil”, realizado pelo CEBC, em parceria CEBC
com o BID, em São Paulo 2ª Reunião Bilateral do CEBC, em
Empresarial Brasília, com a presença do Presiden-
Inauguracão de escritório de repre- te da Assembléia Popular da China,
sentação do Banco Itaú BBA em Wu Bangguo
Xangai Empresarial

Início da venda de celulose e sourcing Abertura de filial da Sertrading em


de componentes da Suzano para a Shenzhen, China
China

Neste sentido, foi estabelecida, em 2004, a Co- O Plano de Ação Conjunta define, para um pe-
missão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concer- ríodo de cinco anos, os objetivos, as metas e
tação e Cooperação (COSBAN), como o mecanis- orientações para a cooperação bilateral e busca
mo formal de maior importância voltado para o aprimorar a coordenação e a atuação dos meca-
acompanhamento e implementação da agenda nismos existentes, assim como ampliar e apro-
bilateral. A COSBAN conta com onze subcomis- fundar as trocas nas áreas política, econômica,
sões e seis grupos de trabalho dedicados aos agrícola, industrial, tecnológica e cultural. O Pla-
principais setores de interesse mútuo. Além dis- no estabelece como principais objetivos:
so, é responsável pelo monitoramento do Plano
de Ação Conjunta 2010-2014, firmado em 2010, i) esboçar uma estratégia de médio e longo
pelos Presidentes Lula e Hu Jintao, bem como prazo para o relacionamento;
do Plano Decenal de Cooperação Brasil-China ii) promover a expansão das relações forta-
(2012-2021), assinado pela Presidente Dilma lecendo a complementaridade entre as duas
Rousseff e pelo Primeiro-Ministro Wen Jiabao, economias;
em abril de 2011.

40 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


2007
Diplomacia

Lançamento do terceiro Satélite


Sino-Brasileiro de Levantamento de
Recursos Terrestes CBERS-2B
CEBC

2ª Conferência Internacional do
CEBC: “Desafios Emergentes”, em
São Paulo
2008
3ª Reunião Bilateral do CEBC, em
CEBC
Xiamen
Lançamento da Agenda China pelo
Empresarial CEBC em conjunto com o MRE,
Abertura de escritório da Suzano MDIC, MAPA, Apex-Brasil, CNI e
Papel e Celulose em Xangai ABDI, em Brasília
Empresarial
2009
Inauguração de fábrica de compo-
nentes da Marcopolo na China
Assinatura de contrato entre
Petrobras e Sinopec para
construção dos gasodutos
Cabiúnas-Catu e Cabuínas-Vitória,
no valor aproximado de US$ 1,9
bilhão
Início das atividades do escritório
de representação da Felsberg e
Associados em Xangai

iii) identificar potenciais obstáculos a esse Sem dúvidas, na última década o aprofundamen-
crescimento e intensificar o diálogo sobre essas to das relações sino-brasileiras ganhou amplitu-
questões; de em escala global, sendo notável que a apro-
iv) diversificar a interação no campo econômico- ximação entre os dois parceiros já ultrapassa o
-comercial e em outras áreas prioritárias, como escopo bilateral. Foi neste contexto que, duran-
ciência, tecnologia e inovação. te a visita do Premier Wen Jiabao ao Brasil em
junho de 2012, se estabeleceu a Parceria Estraté-
Como forma de complementar o Plano de Ação gica Global, como reconhecimento da crescente
Conjunta, os líderes dos dois países formaliza- dimensão internacional que ganha a relação
ram a criação do Plano Decenal de Cooperação sino-brasileira e de seu potencial em contribuir
Brasil-China. Seu objetivo é assinalar as áreas para as reformas nas instituições e regras mul-
prioritárias e os projetos-chave em ciência, tilaterais – como as de Bretton Woods – e para
tecnologia e inovação; cooperação econômica; a solução de grandes questões globais como as
e intercâmbios entre os povos, no período de mudanças climáticas.
2012 a 2021.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 41


2009
Diplomacia

Visita do Presidente Luiz Inácio Lula


da Silva à China

Ano 2009 Visita ao Brasil do Vice-Presidente


Xi Jinping
“A transformação da China no
Comercial
primeiro parceiro comercial do China se torna o primeiro parceiro
comercial do Brasil
Brasil, em 2009, é um marco de
Empresarial

2008 particular relevância. Representa Concessão de empréstimo de US$


10 bilhões pelo Banco de Desenvolvi-
um salto qualitativo e transcende mento da China à Petrobras
a relação bilateral, pois parceiros Início das operações comerciais do
comerciais tradicionais do Brasil Bank of China no Brasil

foram afetados direta e indireta- Entrada em operação de escritório


da Odebrecht em Xangai
mente pela mudança de status da CEBC

China nas nossas relações comer-


ciais. É também representativo da
maior densidade da presença da
China na América Latina. Pelas
3ª Conferência Internacional
tendências que se delineiam, não do CEBC: “Presença da China na
América Latina”, em São Paulo
vejo sinais de que a China possa
vir a perder sua preeminência no
comércio exterior brasileiro no
futuro próximo.”
Embaixador Valdemar Carneiro Leão,
Embaixador do Brasil na China desde 2013

42 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


2010
Diplomacia

Visita do Presidente Hu Jintao ao


Brasil
Assinatura do Plano de Ação Conjun-
ta Brasil-China 2010-2014
Abertura do Pavilhão Brasil na Expo
Xangai, na China 2011
Comercial
Diplomacia
Investimentos chineses confirma-
dos no Brasil: US$ 13,1 bilhões Visita do Ministro das Relações Exte-
riores, Antonio Patriota, à China
CEBC

4ª Reunião Bilateral do CEBC, em Visita da Presidente Dilma Rousseff


Xangai à China

Empresarial Comercial

Inauguração de Centro de Negócios Assinatura de 20 acordos de coope-


da Apex-Brasil em Pequim ração comercial e de investimento
entre Brasil e China
Entrada da Marfrig na China com a
aquisição da Keystone Foods, para a Investimentos chineses confirmados
distribuição de seus produtos no Brasil: US$ 8 bilhões
CEBC
Anúncio de compra de 40% das
operações da Respsol Brasil pela Lançamento das publicações do 2012
Sinopec, no valor de US$ 7,1 bilhões CEBC China-Brazil Update e Carta
Brasil-China
Escolha do Brasil pela State Grid
para realização do primeiro grande 5ª Reunião Bilateral do CEBC, em
investimento da empresa em um Pequim
país não-asiático Empresarial

Aquisição de sete companhias nacio- Investimentos de US$ 400 milhões


nais de transmissão de energia pela pela Chery para instalação de uma
State Grid Brazil Holding, no valor fábrica no Estado de São Paulo
de US$ 989 milhões Compra de 30% das operações da
Galp Energia no Brasil pela Sinopec,
por US$ 4,8 bilhões
Compra de 40% das operações no
campo de Peregrino da empresa no-
rueguesa Statoil ASA pela Sinochem
Inauguração de laboratório de bioe-
nergia e biocombustível da Futurage-
ne, empresa controlada pela Suzano
desde 2010, em Xangai

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 43


2012
Diplomacia

Visita do Primeiro-Ministrio Wen


Jiabao ao Brasil
Elevação das relações bilaterias ao
nível de Parceria Estratégica Global
2º Reunião da COSBAN
Lançamento do Plano Decenal de
Cooperação 2012-2021
Comercial

Investimentos chineses confirmados


Ano 2013 no Brasil: US$ 3,4 bilhões

“Dada a dimensão do investimento, CEBC


6ª Reunião Bilateral do CEBC, em São
2011
é significativa a participação de Paulo

duas petroleiras chinesas, a CNPC 4ª Conferência Internacional do


CEBC : “Brasil-China em um Mundo
e a CNOOC, no leilão do Campo de em Transição”, em São Paulo
Libra, formando o consórcio ven- Empresarial

Inauguração de escritório de repre-


cedor com a Petrobras, a Shell e a sentação da Confederação da Agri-
Total. Com isso, as três maiores cultura e Pecuária (CNA) em Pequim
Estabelecimento de joint-venture
petroleiras da China estão hoje entre a Brasil Foods (BRF) e a chinesa
no Brasil, contribuindo para de- Dah Chong Hong

senvolver recursos que queremos Início da construção de fábrica de


veículos da JAC Motors na Bahia, no
ver frutificar o mais rapidamente valor de R$ 900 milhões

possível.” Inauguração de sede da State Grid


Brazil Holding no Rio de Janeiro,
Embaixador Valdemar Carneiro Leão, com investimento superior a R$ 200
Embaixador do Brasil na China desde 2013. milhões

44 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


2013
Diplomacia

Visita do Vice-Presidente Michel


Temer à China
3º reunião da COSBAN, com a partici- Ano 2014
pação do Embaixador Sergio Amaral, “Podemos dizer que um novo pe-
Presidente do Conselho Empresarial
Brasil-China ríodo começa agora com a visita
Comercial do Presidente Xi Jinping. A relação
Corrente de Comércio Brasil-China:
US$ 83,3 bilhões, novo recorde bilateral ao longo dos últimos anos
histórico foi se transformando, com a ele- 2014
Acúmulo de saldos comerciais posi-
tivos com a China no valor total de
vação dessa Parceria Estratégica
US$ 37,5 bilhões, entre 2009 e 2013 para Parceria Estratégica Global
CEBC
durante a visita de Wen Jiabao em
7ª Reunião Bilateral do CEBC, em
Pequim 2012 e a visita da Presidente Dilma
Empresarial
Rousseff à China em 2011. Mas um
Abertura do escritório de representa-
ção do China Development Bank no novo período surge com a ascensão
Rio de Janeiro
de Xi Jinping. Ninguém imaginava
Participação das empresas chinesas
CNPC e CNOOC no consórcio vence- que as relações pudessem chegar
dor no leilão do Campo de Libra a esse ponto. Como testemunhas
oculares ou participantes, ficamos
muito felizes com isso.”
Embaixador Chen Duqing, Embaixador da China no
Brasil entre 2006 e 2009.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 45


Ano 2014
“Creio que a celebração dos 40
anos é um momento em que as
duas partes refletem sobre o que
foi feito, e muito foi feito, e lançam
um olhar sobre o futuro, tentando 2014
visualizar aquilo que interessa a Diplomacia

ambos e que pode ser de benefício Visita do Presidente Xi Jinping ao


Brasil
recíproco. Não tenho nenhuma Comemoração dos 40 anos do esta-
dúvida sobre a importância dessa belecimento das relações diplomáti-
cas entre o Brasil e a China
relação e seu potencial. A Chi- CEBC

na não tem, com nenhum outro Comemoração dos 10 anos da


fundação do Conselho Empresarial
2013 grande país em desenvolvimento, Brasil-China
relação tão promissora quanto a 8ª Reunião Bilateral do CEBC, em
Brasília, com a presença dos Presi-
que mantém com o Brasil. Jamais dentes Dilma Rousseff e Xi Jinping
houve qualquer fato que tenha Comercial

deixado algum ressentimento, nem Abertura da primeira agência bancá-


ria do Banco do Brasil em Xangai, a
há no presente qualquer circuns- primeira de uma instituição financei-
ra latinoamericana na China
tância que possa gerar desconfian-
Inauguração de escritório de repre-
ça ou dar algum matiz negativo sentação da CNT em Pequim
à relação. Já avançamos muito,
Assinatura de 56 atos e acordos em
mas ainda temos muito a avançar. diversas áreas entre entidades públi-
É uma relação desimpedida, sem cas e privadas do Brasil e da China
Lançamento do Satélite Sino-Brasi-
amarras, livre para crescer da leiro de Levantamento de Recursos
forma que melhor convenha aos Terrestres CBERS-4

interesses de ambos.”
Embaixador Valdemar Carneiro Leão,
Embaixador do Brasil na China desde 2013.

46 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Brasil e China têm ampliado diálogos conver- De forma geral, observou-se durante os últi-
gentes no contexto do G-20, refletindo a reo- mos dez anos o maior dinamismo nas relações
rientação da divisão do PIB mundial, com maior sino-brasileiras, com mudanças qualitativas e
presença dos países em desenvolvimento. O quantitativas. Na área econômica, houve au-
mesmo pode ser observado no âmbito do BASIC, mento considerável do fluxo de comércio e de
investimentos chineses no Brasil, em um cenário
que compreende ainda a participação de Índia e
no qual a criação e consolidação do CEBC vêm
África do Sul, no que tange às discussões sobre
contribuindo para o diálogo empresarial junto
o regime de mudanças climáticas. É também no
a diversos setores. Da mesma maneira, no plano
contexto do grupamento BRICS que Brasil e Chi- político, foi perceptível o fortalecimento do diá-
na dividem visões semelhantes sobre o papel das logo bilateral – com a criação de um maquinário
economias emergentes, sobretudo no tocante às institucional inserido na COSBAN – bem como
reformas da governança global nas esferas políti- na esfera global, com a presença convergente de
ca e econômica. ambos os países no G-20 e no BRICS.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 47


LINHA 1 LINHA 3
Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, 2004. Embaixador Sergio Amaral e Embaixador Li Jinzhang. Visita à
Agência Brasil. Embaixada da China no Brasil.

Protocolo de criação do CEBC, 2004. Ex-presidente do CEBC Ernesto Heinzelmann e Vice-Presidente


José Alencar, 2007.

LINHA 2
Participação na missão presidencial de uma comitiva composta
por mais de 400 empresários, 2004.

48 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


LINHA 1 LINHA 3
2ª Conferência Internacional do CEBC “Desafios Emergentes”, Reunião Bilateral do CEBC, 2014.
São Paulo, 2007.

4ª Conferência Internacional do CEBC. São Paulo. 2012. Foto:


Luiz Prado Luz.

LINHA 2
Visita do Presidente Xi Jinping. Reunião Bilateral do CEBC.
Jantar Comemorativo, 2014.

Visita do Ministro de Relações Exteriores da China, 2014.


Gustavo Ferreira. Ministério das Relações Exteriores.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 49


Visita de Estado do
Presidente Xi Jinping
ao Brasil
Os primeiros passos de uma
nova fase nas relações sino-
brasileiras

O encontro entre os Presidentes Dilma Rous- por parte de ambos os governos, da impor-
seff e Xi Jinping no Brasil, realizado em julho tância desta instituição, com a presença, pela
de 2014, resultou no avanço de diversas pau- primeira vez, dos presidentes dos dois países,
tas que favoreceram a intensificação da rela- Dilma Rousseff e Xi Jinping, na Reunião Anual
ção bilateral e o reconhecimento da Parceria Bilateral do CEBC.
Estratégica Global. A visita de Estado refor-
çou a dimensão política da interação sino- Ao mesmo tempo, também é notável a expansão
-brasileira, inaugurando uma nova fase deste da diversificação das relações bilaterais para
relacionamento. além da área econômica. Uma evidência deste
movimento é a distribuição dos acordos por se-
Durante o encontro presidencial, foram fir- tores mais abrangentes, incluindo agronegócio,
mados 56 acordos entre órgãos públicos e pri- aviação civil, finanças, ciência e tecnologia e in-
vados de ambos os países. Uma análise geral fraestrutura. Da mesma forma, houve incentivo
destes documentos demonstra que metade ao avanço nas áreas de intercâmbio acadêmico e
deles está inserida na área de comércio e in- de estudantes, e ensino de línguas.
vestimento, indicando o grande potencial eco-
nômico do intercâmbio entre Brasil e China. A visita marcou, ainda, o maior entendimento
entre os governos, fruto de avanços no diálogo
Cabe destacar que mais da metade dos atos bilateral, especialmente no que tange à supera-
assinados envolveu negociações entre empre- ção de impasses que obstruíam setores-chave da
sas chinesas e brasileiras. A expansão do perfil relação. O caso da suspensão do embargo man-
empresarial de trocas entre os dois países rea- tido pela China à exportação de carne bovina
firma o papel preponderante de instrumentos brasileira desde o final de 2012 exemplifica esse
como o Conselho Empresarial Brasil-China no movimento de avanço, assim como os resultados
apoio ao desenvolvimento da relação bilate- na área de aviação civil.
ral. A ocasião evidenciou o reconhecimento,

50 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Divisão setorial dos acordos O diálogo entre Brasil e China também foi con-
assinados no contexto da visita do vergente no contexto da reunião de cúpula dos
Presidente Xi Jinping ao Brasil. BRICS, realizada no mesmo período da visita do
presidente chinês, reforçando os contornos glo-
bais das relações sino-brasileiras. Foi firmado,
em Fortaleza, o compromisso de criação do Ban-
%
3% 4 co de Desenvolvimento dos BRICS, a ser sediado
% em Xangai, assim como do Arranjo Contingente
11

27
de Reservas, que funcionará como mecanismo de

%
proteção frente a instabilidades financeiras.
14%

Os resultados da visita do presidente chinês ao


Brasil inauguram uma nova etapa na relação Bra-
sil-China. A agenda interna do Presidente Xi Jin-
2

ping centra-se em amplo programa de reformas


% 5%
16
que visa a mudar as bases do crescimento chinês
e rebalancear a economia. As transformações
trarão potenciais oportunidades para o Brasil,
Comércio abrindo espaço para que a relação sino-brasileira
Investimento siga crescendo e diversificando-se.
Ciência e Tecnologia
Financeiro
Educação e Cultura

Defesa
Consular e Jurídico

Fonte: Ministério das Relações Exteriores Elaboração: CEBC

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 51


Construindo uma
visão de futuro
As reformas em curso na China, caso bem Nessas quatro décadas, a relação sino-brasi-
sucedidas, implicarão não apenas em uma leira passou por mudanças profundas que le-
série de transformações domésticas de gran- varam o gigante asiático a tornar-se hoje um
de magnitude, que parceiro prioritário
alterarão o modelo para o Brasil. Nes-
chinês de crescimen- Nessas quatro déca- se sentido, o êxito
to, mas também em das, a relação sino- das transformações
um novo tipo de in- chinesas concerne
tegração do país no -brasileira passou por ao País, tanto pela
mundo. Essas refor- mudanças profundas importância do
mas refletem os re- crescimento chinês
sultados obtidos em que levaram o gigan- para as economias
quatro décadas de te asiático a tornar-se brasileira e mundial,
rápido crescimento, quanto porque as
que transformaram
hoje um parceiro prio- reformas em curso
a China na segunda ritário para o Brasil. deverão abrir novas
maior economia do possibilidades para
mundo, e marcam o o crescimento e a
reconhecimento de que o desenvolvimento diversificação das relações bilaterais nas pró-
futuro deve ter uma dinâmica distinta e ou- ximas décadas. Caberá ao Brasil acompanhar
tros motores. e entender essas mudanças, analisando de

52 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Embora crescendo a Algumas indicações das particularidades
dessa nova China em gestação e de suas im-
taxas menores, a Chi- plicações para as relações sino-brasileiras são
na deverá manter um apresentadas em um recente estudo do Ban-
co Mundial intitulado “Implicações de uma
papel central na recu- China em transformação: oportunidades para
peração da economia o Brasil?”. Duas linhas gerais orientam o tra-
balho: os possíveis cenários para a economia
mundial e no aumento chinesa e as principais mudanças em curso em
do comércio global. termos de rebalanceamento e reformas estru-
turais, bem como as consequências dessas
forma estratégica maneiras de posicionar-se transformações para o Brasil e como o País
para aproveitar os novos espaços de intera- deverá posicionar-se para melhor aproveitar
ção e oportunidades de negócios. as características de uma nova China.

Essa é uma tarefa que envolverá um crescente Não caberá aqui uma análise detalhada do
entrosamento entre governo, setores produ- processo pelo qual passa a economia chinesa,
tivos e academia, e com a qual o CEBC poderá mas sim a ênfase de algumas de suas caracte-
rísticas especialmente relevantes no contexto
contribuir de forma significativa, favorecen-
das relações bilaterais. De um ponto de vista
do uma compreensão mais aprofundada das
geral, as reformas são fundamentais para ga-
novas características das relações bilaterais
rantir um novo ciclo de crescimento e abertu-
nos próximos anos, suas oportunidades e
ra. Embora crescendo a taxas menores, a China
desafios. Explorar de forma positiva a con-
deverá manter um papel central na recupera-
juntura inaugurada pelas transformações em
ção da economia mundial e no aumento do
curso na China demandará não apenas a cla- comércio global. A ampliação de seu já eleva-
reza acerca do que o país asiático é hoje, mas do grau de abertura e as modificações em sua
uma projeção fundamentada de para onde estrutura produtiva deverão torná-la um par-
ele caminha. ceiro ainda mais significativo para países que,

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 53


como o Brasil, já têm negócios com o país
uma relação econômi- O Banco Mundial indi- asiático. Se confir-
ca importante com a ca que as exportações madas, demandas
potência asiática. nas áreas de máqui-
para o país asiático nas, equipamentos
O rebalanceamento devem crescer entre e aparelhos médi-
da economia chinesa, cos e odontológicos
alçando o consumo 8% e 12% ao ano, em inaugurariam um
doméstico à posição média, até 2030. mercado potencial
de principal motor do para empresas bra-
crescimento, abrirá sileiras.
novas oportunidades para as exportações e os
investimentos brasileiros. Adicionalmente, a O desenvolvimento do setor de serviços deve
urbanização acelerada seguirá demandando ser mantido a ritmo acelerado, demandando
recursos naturais e impulsionando a comple- um posicionamento brasileiro. Será necessá-
mentaridade entre as economias dos dois pa- rio, sobretudo, envidar esforços na garantia
íses. Além da expansão das grandes metrópo- de padrões de qualidade elevados na presta-
les, a transferência populacional oriunda do ção das atividades, assegurando competitivi-
campo promoverá o crescimento de cidades dade para explorar as novas oportunidades,
de médio porte e a integração de vastas áreas como, por exemplo, na área de automatiza-
do interior aos segmentos mais dinâmicos da ção de serviços bancários.
economia chinesa. O Brasil, dispondo das con-
O crescimento da população chinesa de renda
dições necessárias para explorar as mudanças
média-alta coloca em evidência o grande po-
em curso, deverá manter o crescimento de
tencial de novas áreas nas quais o Brasil po-
suas exportações para o país, além de diver-
derá se inserir de forma competitiva. Setores
sificá-las.
de consumo de artigos de qualidade como cal-
No setor de alimentos, espera-se que o sur- çados, móveis, vestuário e cosméticos apre-
gimento de uma nova classe média chinesa sentarão possibilidades para a entrada em
implique em ganhos para as exportações bra- novos nichos do mercado chinês e poderão se
sileiras do agronegócio, acompanhando não consolidar como alternativas para o aumento
apenas o aumento da demanda, mas também da diversificação das exportações brasileiras.
a elevação das expectativas do consumidor
Do ponto de vista brasileiro, o estudo do Ban-
chinês em relação aos padrões de qualidade e
co Mundial indica que as exportações para o
sanidade dos produtos alimentícios.
país asiático devem crescer entre 8% e 12% ao
No que tange ao horizonte de diversificação, ano, em média, até 2030. Para que essa evolu-
alguns setores mostram potenciais bastante ção se confirme e seja acompanhada da maior
favoráveis às características brasileiras. Por diversificação da pauta, será necessário seguir
exemplo, os esforços do Governo Chinês na promovendo o aumento da produtividade e
reestruturação e modernização de seu sis- o aperfeiçoamento do ambiente de comércio
tema nacional de saúde – acompanhando os e investimentos. Uma das áreas onde novas
processos de transição demográfica e envelhe- oportunidades podem ser concretizadas é a
cimento da pirâmide etária observados atual- de infraestrutura, na qual parcerias entre em-
mente – devem suscitar novas perspectivas de presas brasileiras e chinesas podem contribuir

54 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


para a modernização do setor no Brasil. sentarão frente à série de transformações vi-
vidas pelo país asiático.
O grande desafio brasileiro para o futuro, no
médio prazo, será desenvolver uma visão es- O CEBC e os setores empresariais dos dois pa-
tratégica para o relacionamento com a China,
íses deverão trabalhar com afinco para que as
de forma a acompanhar as reformas chinesas
e consolidar as condições necessárias para ex- relações bilaterais sigam crescendo em bene-
plorar as diversas oportunidades que se apre- fício dos dois países.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 55


ARTIGO
CONVIDADO
Fabiana D’Atri – Bradesco

56 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Diante da desaceleração e das mudanças estruturais da economia chinesa,
oportunidades para o Brasil na cadeia do agronegócio, em infraestrutura e
nas questões ligadas ao meio ambiente devem ser ampliadas
Diante da desaceleração das economias chinesa A China assumiu papel importantíssimo no cená-
e brasileira e tomando algumas reflexões de im- rio econômico global, dando passos importantes
portante estudo publicado recentemente pelo na consolidação da sua presença no comércio
Banco Mundial 1 sobre as transformações em cur- mundial, na formação de uma cadeia produtiva
so da China, vislumbramos oportunidades para na Ásia e na agregação de valor na sua pauta de
os próximos anos para as relações entre os dois exportação de manufaturados. Com isso, hoje ¹
se coloca como o principal exportador mundial
países. Assim, entender a situação da economia
(saindo de cerca de 2% no início dos anos 90 para
chinesa, principalmente as mudanças em curso
quase 12% do total vendido no globo em 2013,² in-
no país, evidencia as oportunidades em que o
terage em um comércio intra-asiático altamente
Brasil deve se apoiar e que devem ser aprofunda-
integrado – no qual mais de 65% das exportações
das, para maximizar os ganhos dessa relação. O
dos países da região destinam-se a seus países
comércio e o fluxo de investimentos ligados ao vizinhos – e ³ os produtos de maior valor agre-
agronegócio, à infraestrutura e ao meio ambien- gado respondem por 53,6%3 dos bens manufa-
te, nesse contexto, devem ser vistos como os turados destinados ao mercado externo4. Além
canais prioritários e com maiores potenciais. Por disso, a China detém parte relevante da demanda
outro lado, entendemos que a competição no mundial de commodities, influenciando, direta e
segmento industrial deverá se acirrar, frente aos indiretamente, decisões ligadas a projetos de in-
avanços tecnológicos chineses esperados para os vestimentos nessas áreas e a taxa de câmbio de
próximos anos. diversos países.

China: variação interanual do PIB trimestral e tendência

13
12,4
12
11,9
11,2
11 10,8
9,7
10
9,0
9,6
9 8,4
9,1 7,8
8
8,0 7,9
7 7,4 7,5
6,8 6,6
6 6,2
6,0
5
mar/00

mar/06

mar/08

mar/09
mar/04
mar/96

mar/05
mar/98

mar/99

mar/02

mar/03

mar/07
mar/97

mar/10
mar/01

mar/14
mar/13
mar/12
set/00

set/06

set/08

set/09
set/04
set/96

set/05
set/98

set/99

set/02

set/03

set/07
set/97

set/10
set/01

set/13
set/12
set/11
mar/1

Fonte: CEIC Elaboração: Bradesco

1. “Implicações de uma China em transformação: oportunidades 2 . Para efeito de comparação, o Brasil respondeu por 1,3% das exportações globais
para o Brasil?” Banco Mundial, 2014 em 2013, mantendo praticamente o mesmo patamar desde os anos 80, segundo
dados da Unctad. Segundo o Banco Mundial, até 2030, as exportações chinesas
podem chegar a um patamar entre 19% e 23% das exportações globais.

3. Dados de 2013.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 57


1. Economia chinesa passará por importantes mudanças
nos próximos anos, com menor crescimento, mas buscan-
do eficiência e ampliação do consumo das famílias

A China assumiu papel importantíssimo no cená- tamente integrado – no qual mais de 65% das
rio econômico global, dando passos importantes exportações dos países da região destinam-se a
na consolidação da sua presença no comércio seus países vizinhos – e (3) os produtos de maior
mundial, na formação de uma cadeia produtiva valor agregado respondem por 53,6%3 dos bens
na Ásia e na agregação de valor na sua pauta de manufaturados destinados ao mercado exter-
exportação de manufaturados. Com isso, hoje (1) no4. Além disso, a China detém parte relevante
se coloca como o principal exportador mundial da demanda mundial de commodities, influen-
(saindo de cerca de 2% no início dos anos 90 para ciando, direta e indiretamente, decisões ligadas
quase 12% do total vendido no globo em 20132), a projetos de investimentos nessas áreas e a
(2) interage em um comércio intra-asiático al- taxa de câmbio de diversos países.

China e Brasil: participação nas exportações mundiais (%)

12% 11,7
10,3

8,7
9%

6,4
6%

3,3
3%
1,7
1,3
1,2
1,1 0,8
0,9
0
2000

2006

2008
2009
2004
2005
2002
2003

2007
2001

2010
1990
1980

1996
1986

1988
1984

1998
1999

2014
1989

1994

2013
2012
1982
1983

1995
1985

1992
1993
1987

1997

2011
1981

1991

Fonte: Unctad Elaboração: Bradesco

4. Cabem três observações: (1) o restante da pauta de exportação de ma-


nufaturados chineses é composto de 32% de itens de média tecnologia
e 14,4% de baixa tecnologia; (2) para o Brasil, no mesmo ano, tínhamos a
seguinte composição: 43,6% de média tecnologia, 28,7% de alta e 27,8%
de baixa; (3) estamos nos referindo apenas a manufaturas, uma vez que os
produtos agropecuários produzidos atualmente no Brasil contêm elevado
nível de tecnologia e valor agregado.

58 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Comércio intra-asiático (participação das exportações dos países asiáti-
cos para seus vizinhos asiáticos)

66 % 63,0

60% 58,9 59,7 62,6

55,8
54,6
54% 53,8
54,1

48% 49,1
45,7 49,2
44,6

42%
jun 01
out 01
fev 01
jun 02
out 02
fev 02
jun 03
out 03
fev 03
jun 04
out 04

jun 05
fev 04

out 05
fev 05
jun 06
out 06
fev 06
jun 07
out 07
fev 07
jun 08
out 08
fev 08
jun 09
out 09
fev 09
jun 10
out 10
fev 10
jun 11
out 11

jun 12
fev 11

out 12
fev 12
jun 13
out 13
fev 13
jun 14
out 14
fev 14
Fonte: CEIC Elaboração: Bradesco

China: pauta das exportações de manufaturados, por nível de tecnologia

60%
53,6
56,4
54,5
50%
44,6

40%
35,1
32,0
33,9 29,1
30% 30,6

20,3
20% 17,8
15,6 14,2 14,4

10%
1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Alta tecnologia Média tecnologia Baixa tecnologia

Fonte: Unctad Elaboração: Bradesco

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 59


A despeito dessas conquistas assumidas pela impostas à política de filhos, ao registro dos ci-
China, mudanças estruturais têm sido colocadas dadãos e à propriedade rural, o que também era
como prioridades para os próximos anos, frente acompanhado de elevado aparato regulatório e
à perda de dinamismo de sua economia. Essa de- burocrático. O governo também tem combatido
saceleração no ritmo de crescimento decorre de a corrupção como forma de consolidar o poder da
uma combinação de fatores, como demográficos atual liderança, especialmente do Presidente Xi
e restrições relevantes acumuladas nos últimos Jinping, e como instrumento de implementação
anos, com destaque para a crescente e elevada das reformas e de fortalecimento do Partido.
alavancagem do sistema financeiro (comprome- Certamente, não devemos nos esquecer da rede-
tendo inclusive as finanças dos governos locais 5 finição do papel do Estado e das estatais, uma
e para o excesso de capacidade em diversos seg- das prioridades das reformas e que abrirá espaço
mentos industriais. Nessa direção, investimen- para o setor privado – chinês ou estrangeiro. Ris-
tos – que nesse período de ascendência foram o cos nessa fase de transição também advêm do
vetor do crescimento – começam a perder efici- apoio que o atual presidente encontrará de seus
ência e enfrentam limitações para expansão nos
aliados, uma vez que muitas reformas implicam
anos à frente, principalmente em infraestrutura
necessariamente romper com grupos de interes-
uma vez que muito já foi construído.
ses do passado.

Essa tendência de redução do ritmo de cresci-


Ao mesmo tempo, nessa fase em que o Gover-
mento do PIB 6 tem imposto desafios para a li-
no chinês começa a aceitar taxas de expansão
derança política do país. Além disso, outros de-
menores, incertezas vêm à tona em todos os
sequilíbrios, acumulados nesse período, ficaram
momentos, quando a economia no curto prazo
evidentes com problemas ambientais graves,
ameaça desacelerar em intensidade e veloci-
como a poluição, e com aumento das dispari-
dade acima das desejadas. São os miniciclos de
dades de renda e acesso a serviços e à moradia,
aceleração e desaceleração, que recentemente
diante da rápida urbanização. Coloca-se, dessa
chegam a um ou dois trimestres e são motivados
forma, a redução da participação dos investi-
por ajustes na política econômica e pela sinaliza-
mentos na economia como um dos principais ob-
jetivos de política econômica, ao mesmo tempo ção do governo, impactando as expectativas e
em que o consumo das famílias deverá se fortale- que atualmente entraram em período de arrefe-
cer, com a economia ganhando mais eficiência e cimento. De todo modo, nossa visão é de que o
intensificação em tecnologia. governo tem aumentado sua tolerância a taxas
de crescimento menores, o que sustenta nossa
Nesse contexto, reformas começam a ser de- expectativa de redução da meta de expansão do
senhadas, como a flexibilização de restrições PIB em 2015, de 7,5% para 7,0%.

5. Do sistema financeiro, que contempla o endividamento dos governos 6. Essa desaceleração no ritmo de crescimento pode ser mais ou menos in-
locais financiado pelos bancos e pelas instituições não bancárias (o cha- tensa, segundo projeções recentemente divulgadas pelo Banco Mundial.
mado shadow banking) e que muitas vezes tem a terra e/ou a propriedade De fato, as taxas de crescimento podem cair entre 4 e 7 p.p. até 2030, em
como colateral. Assim, poderíamos dizer que temos quase toda a econo- relação ao padrão atual, nos cenários propostos pela instituição.
mia chinesa alavancada.

60 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


China: consumo das famílias e formação bruta de capital fixo (investimen-
tos) como proporção do PIB

48% 46,4
45,6 45,9

45,8

42%

39,0

38%
36,2
33,5 35,3
32,4 34,9

31,8
30%
1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013
Consumo das famílias Investimentos

Fonte: CEIC Elaboração: Bradesco

2. Relações comerciais entre Brasil e China são pautadas


pela complementaridade, dependência e concorrência

Tendo essa visão sobre as condições atuais da tes, equipamentos eletrônicos e de transmissão
China, entendemos que o comércio entre os dois e motores – com uma gama ampla de itens, de
países parece, por ora, praticamente consoli- baixo a alto valor agregado, sendo que esses úl-
dado e os investimentos, até agora, em fase de timos têm ganhado espaço. Hoje a China ocupa
amadurecimento. A corrente de comércio somou o posto de principal parceiro comercial do País,
mais de US$ 62 bilhões nos primeiros nove meses com 18,7% das nossas vendas e 16% das nossas
compras. Como efeito de comparação, o Brasil
deste ano, com as exportações acumulando que-
responde por cerca de 1,5% e 3,0% das exporta-
da de 3,6% e as importações, altas de 0,7% nesse
ções e importações da China, respectivamente.
período quando comparamos com o mesmo do
ano passado. Os principais produtos exportados Assim, a relação tem sido construída com base
pelo Brasil para a China continuam sendo miné- no comércio complementar 7, com algum grau de
rio de ferro, soja, celulose e petróleo. Há alguns dependência do lado da China, quando se pensa
itens que mostraram rápido crescimento como em commodities. Reforça esse caráter a posição
açúcar e carnes, ainda que tenham uma partici- que o Brasil ocupa como principal fornecedor de
pação menor. Por outro lado, importamos uma alimento para a China e como segundo maior
variedade de produtos chineses manufaturados, fornecedor de minério de ferro. Uma nova janela
com alguma concentração em máquinas e par- se abre no que tange às proteínas, que ainda en-

7. A complementaridade das relações se concentra nas dotações de recur-


sos naturais, na estrutura de oferta e no padrão de demanda.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 61


frentam barreiras não comerciais. Vale apontar a produtos chineses têm cada vez agregado mais
elevada quantidade de carne de frango, que já é valor e ainda oferecem preços bastante compe-
comprada por Hong Kong, mas que acaba tendo titivos –, impondo desafios importantes à in-
a China continental como mercado final do pro- dústria brasileira, bem como à global9. Segundo
duto brasileiro. Ao mesmo tempo, na cadeia de estudo do Banco Mundial, a concorrência brasi-
commodities, o Brasil fica em uma posição mais leira com a China se concentra nas exportações
vulnerável, frente às oscilações de preços ineren- de manufaturados de média tecnologia, princi-
tes ao comércio desses bens e à concentração em palmente na região da América Latina, na qual
poucos produtos8. aproximadamente 45% das exportações brasilei-
ras permanecem expostas à concorrência signifi-
Por outro lado, parte das relações comerciais cativa. Nos EUA e na Europa, essas taxas chegam
embute elevada competição, especialmente na a 29% e 21%, respectivamente.
cadeia de bens manufaturados – uma vez que os

China: saldo comercial da cadeia de alimentos – acumulado nos últimos 12


meses, até julho de 2014 (US$ milhões)

10.000

4.000

-2.000

-8.000

-14.000

-20.000

-26.000
Japão

Taiwan
Hong Kong

Rússia

Cingapura
Coreia do Sul

Alemanha

Itália

índia

Europa

Tailândia
Chile

Malásia

França

Canadá
Indonésia

Austrália

Argentina

Nova Zelândia

EUA

Brasil

Fonte: CEIC Elaboração: Bradesco

8. Apenas somando as vendas brasileiras para a China de minério de ferro 9. Mesmo que essa tendência esteja se revertendo nos últimos trimestres,
e soja, chegamos a mais de 75% do total exportado ao país de janeiro a a valorização dos preços das commodities favoreceu a apreciação da moe-
setembro deste ano. da brasileira, pressionando ainda mais a competitividade da indústria lo-
cal, influenciada tanto pela perda de exportações como pelo crescimento
da participação das importações no consumo final doméstico.

62 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


3. Investimentos chineses no Brasil revelam busca por re-
cursos, mercados e oportunidades no segmento de infra-
estrutura

Os investimentos chineses no Brasil têm passa- do a isso, em aquisições e fusões de operações


do por fases importantes. De forma resumida, globais, as empresas chinesas ganham cada vez
cabe uma pequena retrospectiva. Primeiramen- mais espaço entre as corporações que estão no
te, entre 2009 e 2011, a busca pelo fornecimento Brasil – movimento que deve prevalecer daqui
de matérias-primas levou à aquisição de ativos para frente.
relacionados aos recursos de mineração e petró-
leo – que se estendem até hoje, haja vista a en- Entre as estatísticas de recebimento de inves-
trada de duas estatais chinesas para exploração timento estrangeiro chinês no Brasil, os núme-
do Campo de Libra, em leilão ocorrido em 2013. ros ainda são muito baixos. Isso acontece por-
Em seguida, a partir de 2012, as indústrias come- que grande parte dessas operações de fusões
çaram a chegar de forma mais emblemática, bus- e aquisições é registrada em paraísos fiscais,
cando explorar o mercado consumidor, principal- como Ilhas Virgens e Luxemburgo. Estimamos
mente aquele ligado à tecnologia e telefonia, a que o pico de entrada de inversões chinesas te-
bens de capital e ao setor automotivo. Mais re- nha sido em 2010, com a operação da empresa
centemente, notam-se movimentos mais estra- Sinopec. Em 2014, até julho, somando China
tégicos em segmentos de infraestrutura – como com Hong Kong, temos a entrada de US$ 492
transmissão e geração de energia – e serviços, milhões – o que responde por 1,5% do total de
como bancos, especialmente para dar suporte às investimento estrangeiro direto recebido pelo
operações das empresas chinesas no país. Soma- País no período.

Investimento estrangeiro direto brasileiro recebido de China, Hong Kong


(incluindo operação SINOPEC, via paraíso fiscal) – em US$ milhões e em
porcentagem do total 2005 a 2014

8.000 7.348 16,0%

14,0% 14,0%
7.000

12,0%
6.000

10,0%
5.000
8,0%
4.000
6,0%
3.000
2.255 4,0%
3,2%
2.000 0,1% 1,5% 2,0%
0,5% 1,1%
0,1% 0,5%
1.000 0,1% 693 492 0,0%
101 0,0% 245
17 13 35 34
0 -2,0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Fonte: Banco Central Elaboração: Bradesco

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 63


4. Relatório do Banco Mundial identifica oportunidades
para o Brasil nas transformações chinesas
O mais novo relatório do Banco Mundial, contem- para o Brasil, bem como as oportunidades
plando as relações entre os dois países10, identifi- advindas, concentram-se nas exportações de
ca três potenciais transformações de mais longo commodities agrícolas, no setor de serviços, e em
prazo na economia chinesa: (1) crescimento es- segmentos de maior sofisticação tecnológica. A
truturalmente mais lento, (2) um novo equilíbrio figura a seguir expõe o cenário de crescimento
dos lados da oferta e da demanda, e (3) uma ten- para os diferentes setores da economia, nos
dência para a ascensão na cadeia de valor. Sobre próximos anos, com destaque para a demanda
esse primeiro aspecto, o documento defende que
por importações de energia, mineração,
a depender do cenário esperado para a produtivi-
alimentação e serviços, que deverá crescer em
dade do setor de serviços da economia chinesa,
ritmo mais pronunciado.
o crescimento entre 2025 e 2030 poderá ser de
3,5% ou 6,9%. A segunda transformação está re- Nessas condições, para o potencial brasileiro
lacionada à nova dinâmica da oferta (com maior
seguir competitivo, torna-se imprescindível
participação do setor de serviços) e da demanda
melhorar a infraestrutura ligada ao escoamen-
(com crescimento mais forte do consumo e das
to desses produtos. Para o setor de serviços,
importações em detrimento dos investimentos
é necessário o aumento da eficiência e da ex-
e das exportações). A terceira transformação
posição das empresas brasileiras ao mercado
está relacionada à busca de maior agregação de
chinês. Para a indústria, no entanto, no cenário
valor na sua produção, ampliando a sofisticação
tecnológica. em que a China segue investindo em tecnolo-
gia, é provável que a concorrência com o Brasil
As implicações dessas grandes transformações cresça ainda mais.

China: taxa média anual de crescimento por setor 2010-2030

9,0
8,2
8,0

6,3 7,1
7,0 6,7
6,3
6,0
5,6
5,3
5,0
4,2
4,0
3,2 3,3
3,0

2,0

1,0

0,0
Agricultura e Energia e Manufatura Serviços Crescimento
alimentos mineração do PIB

Baixo crescimento Alto crescimento

Fonte: Banco Mundial Elaboração: Bradesco


10. “Implicações de uma China em transformação: oportunidades para o
Brasil?” Banco Mundial, 2014

64 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Taxa de crescimento do valor das importações chinesas 2010-2030

18 17,0

16

14

12 11,0
10,0 10,0
10 9,0 9,0

8 7,0
6,0
6 5,0

4
3,0
2
Agricultura e Energia e Manufatura Serviços Total
alimentos mineração

Cenário de baixo crescimento Cenário de alto crescimento

Fonte: Banco Mundial Elaboração: Bradesco

Parcela chinesa do valor das importações mundiais (média dos cenários


de alto e baixo crescimento) 2010-2030

66 49,0

46

36

26 23,5
21,5
17,5

16
14,5
11,0
10,0 9,5 10,0 10,0

6
Agricultura e Energia e Manufatura Serviços Total
alimentos mineração

2010 2030

Fonte: Banco Mundial Elaboração: Bradesco

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 65


5. Potencial das exportações de alimentação é indiscutí-
vel, mas investimentos chineses no segmento de infraes-
trutura devem crescer e uma agenda estratégica na área
de meio ambiente seria capaz de agregar valor nas rela-
ções entre os dois países
No ano em que se chega aos quarenta anos de Somado a isso, enxergamos dois potenciais para
reestabelecimento das relações diplomáticas estreitamento do relacionamento. O primeiro
entre os dois países, cabe repensar a estraté- deles refere-se às parcerias que podem se inten-
gia do Brasil com a China. Nesse contexto de sificar entre empresas chinesas e brasileiras no
transformações em curso da economia chinesa, segmento de infraestrutura, com destaque para
as oportunidades – conforme reforçado pelo
ferrovias, levando em conta a experiência da Chi-
documento do Banco Mundial já mencionado
na em desenvolver sua malha ferroviária. As par-
– concentram-se no crescimento do consumo
cerias ligadas à inovação e tecnologia, além das
das famílias chinesas e na forma como essa
relacionadas à produção de alimentos, deveriam
demanda será atendida. Ou seja, o potencial
se focar em questões do meio ambiente. Os avan-
exportador de alimentos é crescente. Ao mes-
mo tempo, a indústria chinesa continuará bas- ços brasileiros em energia renovável e no aprimo-
tante competitiva, à medida que for agregando ramento tecnológico no setor de agronegócio
valor em suas cadeias e aumentando a integra- poderiam ser oportunidades de aproximação
ção dentro da Ásia. Esse será um desafio para o com o parceiro chinês, em um contexto no qual o
segmento industrial brasileiro. combate à poluição se torna uma urgência.

66 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


DEPOIMENTOS
Diplomatas
Acadêmicos
Confederações / Associações
Empresas

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 67


DEPOIMENTOS

Diplomatas
Embaixador Clodoaldo Hugueney
Embaixador do Brasil na China entre 2008 e 2013

Embaixador Luiz Augusto Castro Neves


Embaixador do Brasil na China entre 2004 e 2008

Embaixador Chen Duqing


Embaixador da China no Brasil entre 2006 e 2009

Embaixador Affonso Ouro Preto


Embaixador do Brasil na China entre 1999 e 2004

Embaixador Yuan Tao


Embaixador da China no Brasil entre 1994 e 1995

Embaixador Roberto Abdenur


Embaixador do Brasil na China entre 1989 e 1993

Embaixador Shen Yunao


Embaixador da China no Brasil entre 1988 e 1993

Embaixador José Alfredo Graça Lima


Subsecretário-Geral de Política II do Ministério
das Relações Exteriores

Embaixador Amaury Porto de Oliveira


Embaixador do Brasil em Cingapura entre 1987 e
1990, e membro do Instituto de Estudos Avança-
dos da USP

Embaixador Marcos Caramuru de Paiva


Cônsul-Geral em Xangai de 2008 a 2011

68 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Embaixador Clodoaldo Hugueney
Embaixador do Brasil na China entre 2008 e 2013

Tentar visualizar o fu- Dentro dessa perspectiva e baseado na convic-


turo é sempre tarefa ção de que as relações sino-brasileiras são de
arriscada, especial- crescente importância para o Brasil, creio que
mente em momento seis pontos são centrais para definir o futuro
de grande incerteza dessas relações.
e transformações
como o que vivemos O primeiro tem a ver com a complementaridade
no mundo, no Brasil e já explorada e as áreas novas de relacionamen-
na China. Nesses momentos, as projeções com to iniciadas. Devemos construir sobre o que já
base no passado, sempre duvidosas, têm sua alcançamos e valorizar a complementaridade
utilidade ainda mais reduzida. entre nossas economias e as oportunidades de
relacionamento em campos como inovação, in-
Não obstante essas dificuldades, devemos olhar tercâmbio entre pessoas e políticas públicas em
para as relações entre o Brasil áreas onde compartilhamos
e a China com uma perspectiva problemas.
de longo prazo, pois elas são
prioritárias para os dois paí- O segundo tem a ver com o
ses e para a projeção deles no
O Brasil deve identifi- objetivo sempre propalado,
mundo. Isso é ainda mais ver- car seus objetivos es- mas, infelizmente, não perse-
dadeiro no incerto momento tratégicos na relação guido com determinação, da
atual, quando planejamento e diversificação das relações.
com a China e atuar
estratégia são ainda mais im- Essa diversificação passa pela
portantes para enfrentar de- de forma constante e transformação da pauta ex-
safios, aproveitar oportunida- coerente com tais ob- portadora brasileira, mas não
des e assegurar o crescimento se esgota aí. Deve incluir uma
jetivos, buscando a
continuado e a diversificação e nova geração de investimen-
aprofundamento das relações superação de desafios tos nos dois sentidos e a aber-
bilaterais. e o aproveitamento de tura de novas frentes em áreas
oportunidades.” que promovam um melhor
Essa tarefa deve ser conjunta, conhecimento entre os dois
pois será, através do diálogo e países e definam campos de
da cooperação, que países que não têm entre si cooperação com base em desafios compartilha-
conflitos de natureza geopolítica e estratégica dos, como, por exemplo, em sustentabilidade e
construirão os próximos 40 anos de suas rela- urbanização.
ções. Mas, como brasileiro, preocupo-me com
o que o Brasil deve fazer para que as relações O terceiro tem a ver com o diálogo político que
sino-brasileiras sigam um caminho compatível deve ser intensificado em todos os níveis, tanto
com seus êxitos recentes e trilhem uma rota que no plano bilateral, como nas instâncias multi-
atenda cada vez mais aos interesses nacionais laterais. No plano bilateral, é necessário trans-
contribuindo para o nosso desenvolvimento e formar esse diálogo em alavanca de avanços e
para a projeção do Brasil no mundo. superação de problemas e de compartilhamento

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 69


de uma visão estratégica dos dois países em re- Finalmente, o sexto ponto tem a ver com a
lação a suas regiões e ao mundo. No plano mul- maneira segundo a qual devemos ver a China
tilateral, devemos trabalhar em favor de um or- e nossas relações. Nosso entendimento da
denamento internacional que abra espaços para China ainda é muito limitado e, a despeito
a ascensão de novos atores e busque construir de progressos na área acadêmica nos últimos
um multilateralismo renovado como alicerce da anos, ainda há muito por fazer. Essa é uma ta-
multipolaridade. refa inadiável e deveria contar com o apoio de
governo e empresas. Além disso, o posiciona-
O quarto ponto refere-se a nosso dever de casa. mento do Brasil em relação à China deve incor-
O Brasil deve identificar seus porar uma visão do processo
objetivos estratégicos na re- de reformas em curso naquele
lação com a China e atuar de país e as características daí re-
forma constante e coerente Além disso, o posicio- sultantes para a China e para
com tais objetivos, buscando a namento do Brasil em suas relações externas. O su-
superação de desafios e o apro-
relação à China deve in- cesso dessas reformas, que o
veitamento de oportunidades. Brasil deve ver com interesse
Necessitamos ter uma melhor corporar uma visão do e de forma positiva, concluirá
concepção de para onde que- processo de reformas uma fase do processo de as-
remos levar essa relação e ser
em curso naquele país censão chinesa e de aumento
consequentes com tais obje- da influência da China em sua
tivos e determinados em sua e as características daí região e no mundo. Levadas a
implementação. resultantes para a Chi- bom termo as reformas terão
na e para suas relações ainda um impacto positivo
O quinto também tem a ver nas relações bilaterais.
com os meios e instrumentos externas.”
que devemos colocar à dispo- Em suma, governo, empresá-
sição para levar adiante a relação. O exercício rios, academia e sociedade civil devem ter clara
de planejamento e a execução do planejado consciência da prioridade das relações com a Chi-
requerem uma estrita coordenação interna no na para o Brasil e do que daí decorre em termos
nível de todos os setores envolvidos e no nível de atenção e recursos dedicados à promoção des-
nacional. Essa tarefa exigirá a construção de sas relações e à defesa de nossos interesses.
instâncias de coordenação e o exercício perma-
nente do diálogo.

70 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Embaixador Luiz Augusto Castro Neves
Embaixador do Brasil na China entre 2004 e 2008

Brasil e China os quarenta anos de relações Brasil-China consti-


completam 40 anos do tuem uma história de sucesso.
estabelecimento de
relações diplomáticas. O relacionamento bilateral entre Brasil e China,
Foram quatro décadas desde o reatamento em 1974, colocou em evidên-
de um profícuo cia uma série de oportunidades e desafios para os
r e l a c i o n a m e n t o , dois países. Vivemos num mundo dito globaliza-
particularmente no do, caracterizado por uma crescente integração
campo econômico e comercial. A China é hoje econômica, com inegáveis reflexos em outros
o nosso principal parceiro comercial, tanto campos da atividade humana. Os chineses foram
como destino de nossas exportações, como talvez os primeiros a perceber o fenômeno da
origem de nossas importações. O extraordinário globalização tal como o entendemos hoje e trata-
crescimento chinês levou, por um lado, a um ram de promover, no dizer de Deng Xiaoping, “a
aumento dos preços das sua correta inserção no sistema
chamadas commodities e, internacional”. O extraordinário
por outro, a manter baixo o desempenho da economia chi-
preço dos bens industriais, O exemplo chinês, ba- nesa decorreu, dentre outras
intermediários ou finais. razões, de sua capacidade de
Essa circunstância permitiu
seado em abertura se inserir competitivamente
ao Brasil ter um excelente econômica, investi- nas cadeias globais de valor. É
desempenho em seu balanço mentos em infraes- claro que esses desafios e opor-
de pagamentos durante uma tunidades vislumbrados pelos
trutura e educação e chineses constituem um pano
década.
na busca da compe- de fundo importante no rela-
Hoje, os investimentos chine- titividade internacio- cionamento com o Brasil, que,
ses já têm uma presença rele- como a China, também aspira a
vante no Brasil e numerosas
nal, é algo a ser ava- ser um país plenamente desen-
empresas brasileiras estão liado seriamente pelo volvido. O exemplo chinês, ba-
estabelecidas na China. A des- Brasil...” seado em abertura econômica,
peito da distância que separa investimentos em infraestrutu-
os dois países, bem como das imensas diferenças ra e educação e na busca da competitividade in-
culturais e históricas, o relacionamento entre ternacional, é algo a ser avaliado seriamente pelo
eles é cada vez mais diversificado e complexo, Brasil, país tradicionalmente voltado para si mes-
evidenciando potencialidades antes insuspeita- mo, com boa parte de sua indústria decorrente
das. É também digna de nota a cooperação entre de um processo de substituição de importações,
os dois países em foros internacionais, sobretu- que possivelmente terá contribuído para negli-
do no que diz respeito à reivindicação de maior genciar o desafio da competitividade, essencial
voz nas questões que integram a agenda das para aproveitar as oportunidades criadas pela
relações internacionais. Sem sombra de dúvida, globalização.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 71


Embaixador Chen Duqing
Embaixador da China no Brasil entre 2006 e 2009

A visita do Presiden- chinês e outros instrumentos.


te Xi Jinping ao Bra-
sil, em julho de 2014, Não acredito que haja conflitos nas expectativas
foi um marco para o de futuro e de desenvolvimento econômico do
futuro das relações Brasil e da China, mas há necessidade de aumen-
entre Brasil e China. tar continuamente a compreensão mútua. Dife-
Levando-se em con- rente de uma negociação em que as partes não
ta a quantidade de se conhecem bem, na qual há uma postura maior
convênios e acordos assinados, haverá muito de desconfiança, quando se estabelece uma
trabalho a ser realizado amizade, o diálogo torna-se mais
em conjunto pelos dois pa- espontâneo. Isso se aplica tanto
íses. A China reconhece a à China quanto ao Brasil. E, neste
forte complementaridade
Penso também que sentido, gostaria de destacar a
entre as duas economias excelente performance no merca-
e, neste sentido, acredita o Brasil deveria ser do chinês de empresas brasileiras
que o ingresso de investi- mais agressivo quan-
como Embraer, Vale, WEG, Fras-le,
mentos chineses pode ser
to à criação de mer- entre outras.
muito benéfico para o Bra-
sil. Dúvidas e insatisfações cado para seus pro- Acredito que há oportunidades
quanto ao eventual fluxo dutos manufaturados também na cooperação tecno-
de investimentos chineses na China, por meio de
lógica, mas saliento que preci-
ainda são observadas no
Brasil. Assim, entendo que
pesquisas de mercado, samos reduzir os impedimentos
burocráticos dos dois lados no
um tópico importante a ser estudos mais aprofun-
que tange à execução dos acor-
discutido e reforçado são dados sobre os hábitos
dos. Há projetos já selecionados
os potenciais benefícios da
maior interação econômica
do consumidor chinês e que poderiam ser melhor con-
bilateral. outros instrumentos.” duzidos e outros que poderiam
ser iniciados. Particularmente,
Um dos desafios a ser trabalhado é a agilidade na admiro o trabalho realizado pelo Brasil através
preparação e disponibilização de projetos pelo da Embrapa e do Instituto Butantã, que consi-
Governo Brasileiro, especialmente no tocante dero ótimas referências.
à necessidade de infraestrutura, sobretudo de
ferrovias. Há inúmeros projetos já existentes, No contexto da globalização econômica, tanto a
que aguardam implementação, é preciso tirá- China como o Brasil devem adotar uma postura
-los do papel. Penso também que o Brasil deveria proativa com o intuito de se integrarem ao pro-
ser mais agressivo quanto à criação de mercado cesso global de produção e distribuição. Como
para seus produtos manufaturados na China, me disse uma vez um empresário paulista: se
por meio de pesquisas de mercado, estudos mais não é possível mudar a direção do vento, então,
aprofundados sobre os hábitos do consumidor mude a sua vela.

72 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Embaixador Affonso Ouro Preto
Embaixador do Brasil na China entre 1999 e 2004

Qualquer análise do também no grupamento BRICS e no G-20.


relacionamento bila-
teral deve partir da O futuro do relacionamento está baseado, por
verificação de que não parte do Brasil, no fato de que a China, hoje gi-
existe qualquer con- gante econômico, deverá, ao que tudo indica,
tencioso entre o Brasil continuar a crescer, ainda que em ritmo menos
e a China. O Brasil re- acelerado. As cifras hoje previstas indicam, como
se sabe, que entre 2022 e 2025 a China provavel-
conhece plenamente
mente ultrapassará os EUA. Atualmente, como
a soberania da China sobre Taiwan, não critica o
foi amplamente divulgado, o
país asiático em matéria de
principal parceiro comercial de
direitos humanos – processo
nosso país, quer como exporta-
usado para condenar certos
dor ou importador, é a China,
Estados específicos, assim O nosso destino será
sendo que, além disso, o inves-
como não participa, igual-
continuar a comerciar, timento chinês cresce no Brasil.
mente, das reservas sobre
Nada indica que, no futuro, essa
soberania chinesa a respeito prioritariamente, com
situação se altere. O nosso des-
dos pequenos arquipélagos a China, e o futuro de
tino será continuar a comerciar,
do mar da China. nosso relacionamento prioritariamente, com a China, e
A China, por sua vez, reco- consistirá numa adap-
o futuro de nosso relacionamen-
to consistirá numa adaptação a
nhece o Brasil como potência tação a essa situação.”
essa situação.
regional e define suas rela-
ções com as autoridades bra- Apesar da dimensão e intensidade do intercâm-
sileiras como estratégicas, bem como pretende bio bilateral, o Brasil, até hoje, não adotou ou
desenvolver e aprofundar o seu diálogo com o desenvolveu uma estratégia para guiar o seu
Brasil. Na área tecnológica, os dois países leva- relacionamento com o país asiático. Caberá à
ram adiante um arrojado programa de satélites sociedade brasileira desenvolver nichos a serem
de observação e criaram, no âmbito político e ampliados, com razoável produtividade, pela in-
econômico, mecanismos de alto nível para asse- dústria de nosso país, e admitir, igualmente, que
gurar a cooperação bilateral, como é o caso da as commodities desempenharão um papel priori-
COSBAN. Na esfera global, os parceiros atuam tário em nossas exportações para a China.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 73


Embaixador Yuan Tao
Embaixador da China no Brasil entre 1994 e 1995

Com o árduo trabalho entre a Presidente Dilma Rousseff e o Presidente


do Brasil e da China, os Xi Jinping, durante sua visita em julho deste ano;
40 anos das relações aprofundar a confiança mútua e a cooperação; e
diplomáticas entram estreitar a parceria estratégica. Baseados no Pla-
em uma fase de ama- no Decenal estabelecido, Brasil e China devem
durecimento e rápido ampliar o comércio bilateral e elevar a participa-
desenvolvimento. ção de produtos de alto valor agregado, solucio-
Creio que, nesses 40 nar os atritos comerciais, executar projetos de
anos, o fato de maior destaque ocorreu em 1993, parceria no valor de US$ 35 bilhões, aumentar os
quando ambos os países expressaram pela pri- investimentos entre si e usar a força motriz do
meira vez a proposta de parceria estratégica es- setor financeiro.
tável de longo prazo.
Brasil e China são nações com influência interna-
Nesses 40 anos, houve na esfera política um cional, países emergentes com enorme potencial
contínuo aprofundamento da confiança mútua. de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, seus
Em se tratando de questões centrais relativas à interesses são complementares. A relação sino-
soberania nacional, à segurança e à integridade -brasileira já transcende os dois países em si. Am-
do território, Brasil e China se entendem e se bos têm responsabilidades internacionais, na de-
apoiam. Em relação às grandes questões interna- fesa e promoção da justiça e igualdade mundial,
cionais, ambos possuem posições semelhantes na implantação da democratização do relaciona-
ou mesmo iguais e trabalham em cooperação. O mento internacional, e na defesa dos interesses
relacionamento econômico e comercial entre os dos países em desenvolvimento. Nesse sentido,
dois países cresce rapidamente, o comércio bila- Brasil e China já têm exercido um papel de gran-
teral atingiu em 2013 a cifra de US$ 90 bilhões, e a de importância.
projeção para o presente ano é de que ultrapasse
a marca dos US$ 100 bilhões. Hoje, o principal desafio que enfrentamos é, em
primeiro lugar, no complexo e instável cenário in-
No período em que fui Embaixador da China no ternacional, onde os dois países devem trabalhar
Brasil, a relação sino-brasileira avançou de uma juntos para enfrentar os inúmeros obstáculos. É
forma consistente. Durante esse período, os cien- preciso reforçar o diálogo e a negociação, tendo
tistas dos dois países trabalharam em conjunto, como ponto de partida os interesses de longo
especialmente, nos preparativos para o bem- prazo dos dois países e do planeta, cooperar nos
-sucedido lançamento do satélite de recursos na- grandes assuntos e fazer sua contribuição para
turais. Como resultado, essa parceria se tornou o a manutenção da paz e do desenvolvimento.
modelo de cooperação tecnológica entre os paí- Em segundo lugar, o norte do relacionamento
ses em desenvolvimento, a parceria “sul-sul”. sino-brasileiro já está estabelecido, sendo im-
portante daqui para frente focar em sua imple-
Nesse momento, para avançarmos na parceria mentação. É preciso ter espírito guerreiro e criar
estratégica sino-brasileira, ambas as partes de- as condições para a execução de cada acordo da
vem executar com empenho os acordos firmados parceria estratégica.

74 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Embaixador Roberto Abdenur
Embaixador do Brasil na China entre 1989 e 1993

A evolução do relacio- que, até então, prejudicavam seriamente seu re-


namento Brasil-China lacionamento com praticamente todos os seus
apresenta uma inte- vizinhos (exceto a Coreia do Norte), mas ainda
ressante – e pouco carecia de maior desenvoltura em distintos ce-
percebida – caracte- nários multilaterais (não integrava o GATT/OMC,
rística: a passagem por exemplo, e tinha perfil modesto em outros
de uma situação pa- foros, como o ECOSOC, a AGNU ou as institui-
ritária, de equilíbrio ções de Bretton Woods).
entre duas partes de peso econômico e político
mais ou menos equivalente, para um quadro de Nos dias de hoje, a economia chinesa é mais de
acentuada assimetria. Coloca isto, naturalmen- três vezes maior que a nossa. Sua participação
te, desafios para o futuro. Desafios que recaem, no comércio internacional chega a 13%, enquan-
claro está, particularmente sobre o lado agora to o Brasil segue estagnado com apenas pouco
“inferiorizado”. O lado brasileiro. mais de 1%. Possui reservas de mais de US$ 1,5
trilhão, contra nossos US$ 370 bilhões. Tornou-
Dado surpreendente para quem hoje contempla -se a segunda maior economia do mundo e deve
a amplitude das diferenças entre os dois países: proximamente ultrapassar a dos EUA.
em 1989, meu primeiro ano como Embaixador
em Pequim, o PIB brasileiro, situado em torno Ainda no campo da economia, a China, com as
dos US$ 400 bilhões, era ligeiramente superior reformas e abertura de Deng Xiaoping – facilita-
ao chinês, da ordem de US$ 380 bilhões. E era das por avanços em sua política externa – logrou
similar a participação nas exportações mundiais: integrar-se lucrativamente nas cadeias interna-
pouco mais de 1% para o Brasil, pouco menos de cionais de produção localizadas em seu entorno.
2% para a China (esta então favorecida pela con- E, a partir delas, vem se aproximando mais e mais
dição de exportadora de petróleo). de outros polos de dinamismo criativo, como a
Europa e os EUA. Tendo iniciado esse processo
Outro fato pouco percebido: havia, também, mediante recurso a mão de obra barata e atua-
equilíbrio político. O Brasil exercia papel ativo e ção em setores de baixa tecnologia, conseguiu
agregador em seu entorno regional, mantinha em pouco tempo galgar posições cada vez mais
boas relações com o mundo dito ocidental e com elevadas como potência científica e tecnológica
a África, e usufruía de considerável prestígio e e fonte de inovações. Em suma, a China teve ex-
mesmo liderança nos embates entre Sul e Norte traordinário êxito em valer-se das políticas exter-
em torno do ideário de uma nova ordem interna- na, econômica, industrial, educacional e de P&D
cional. A China apenas começava a sair de seu iso- para propiciar enormes ganhos a sua população,
lamento. Sim, tinha estabelecido relações com e conquistar posição de influência decisiva nos
Washington e se tornara membro permanente cenários internacionais. Não assim, infelizmen-
do Conselho de Segurança das Nações Unidas te, no caso do Brasil.
(CSNU), mas ainda engatinhava em seu diálogo
com EUA e Europa. A diplomacia chinesa dava Este quadro de ascensão da China manifestou-
passos significativos para superar as tensões se em termos candentes no plano bilateral. Pelo

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 75


lado positivo, houve a vertiginosa expansão das remota como um outro planeta - não voltou
trocas. Estas, que não iam muito além dos US$ apenas a ter posição de decisiva centralidade
2 bilhões nos dois sentidos até o final dos anos no plano global. Tornou-se, também, “central”
90, aproximam-se hoje dos US$ 70 bilhões. E para o Brasil. Em outras palavras: essencial, in-
a China deixou para trás os EUA, tornando-se dispensável, inevitável.
nossa principal parceira. A demanda chinesa por
commodities constituiu contribuição importante Dito isto, uma importante ressalva: central,
para o período de prosperidade experimentado essencial, indispensável, inevitável – mas não
pelo Brasil na última década. Mas não deixou quer isso dizer que o Brasil seja dela “dependen-
de ter outro efeito: cristalizou-se a tendência, te”. Como não o somos, de há muito, dos EUA ou
que vinha desde cedo, de limitar-se o Brasil a da Europa.
mero fornecedor de matérias-primas e grande
comprador de manufaturados. Mais de Um futuro de forte associação está posto. O de-
90% do que vendemos são commodities. safio que temos pela
Mais de 90% do que compramos são frente é fazer dessa
manufaturados. E entre estes, cada vez vinculação uma parce-
Novas e potencialmen- ria cada vez mais fértil
mais produtos de alto valor agregado,
como automóveis, eletrônicos, bens de te promissoras opor- e produtiva. Precisa-
capital, equipamentos para energia e tunidades tenderão a mos conduzir as várias
telecomunicações. frentes de trabalho
surgir pelo fato de que com uma mescla equi-
Vista a evolução das relações sob outro a China entra em mais librada de realismo,
prisma, constata-se o surgimento de adiantada etapa de de- objetividade, sereni-
duas novas tendências: a forte, muitas dade, pragmatismo,
senvolvimento...”
vezes imbatível, concorrência chinesa coerência, constância
com os produtos manufaturados na- e firmeza. Novas e po-
cionais em nossa vizinhança, em outros merca- tencialmente promissoras oportunidades ten-
dos importantes, como EUA e UE, e em nosso derão a surgir pelo fato de que a China entra em
próprio mercado interno; e a, até certo ponto mais adiantada etapa de desenvolvimento, com
surpreendente (pelo menos para um observa- o abandono da prioridade ao investimento e ao
dor mais “antigo”, como eu próprio), entrada em crescimento vertiginoso e forte ênfase na urbani-
cena da China, quase que da noite para o dia, zação, na redução das desigualdades regionais e
como grande investidora no país. E isso não ape- na melhora dos padrões de vida do povo.
nas em setores vinculados a seu interesse pelo
fornecimento de commodities, como petróleo e Esse processo pode oferecer-nos espaços para es-
alimentos, mas também no campo industrial, de forço de salto à frente no intercâmbio econômi-
infraestrutura e de energia, entre outros. co. No comércio, precisamos ir além da relação de
simples troca de produtos à distância e identifi-
De tudo o que precede, uma óbvia conclusão. car chances de entrosamento, de encadeamento
Óbvia, mas que nem por isso deve deixar de entre empresas dos dois lados. Algo em tal senti-
ser proclamada. Estamos, hoje e a partir de do já parece dar-se em setor de alta tecnologia,
agora, indissoluvelmente vinculados à China. como o aeroespacial (tenho em mente empre-
Zhong-guo, o “País do Centro” do milenar Im- endimentos como o CBERS e a Embraer). Novos
pério – e que à minha época como Embaixador nichos e setores podem ser no futuro identifi-
parecia aos olhos dos brasileiros quase tão cados. Os crescentes investimentos chineses no

76 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Brasil podem, em alguns casos, vir a ser para isso gente”, a China – e também, ainda que em menor
direcionados. Da mesma maneira, é preciso que escala, a Índia – constitui caso de vertiginosa as-
empresas brasileiras se instalem na China, tanto censão ao primeiro plano das grandes potências.
para atender ao mercado local quanto para efei- O Brasil será para a China, aqui e ali, amigável e
tos de exportação e/ou inserção nas dinâmicas agradável companheiro de viagem. Mas não te-
cadeias produtivas da Ásia Pacífico. nhamos a ilusão de que venha ela, por nossos be-
los olhos, abrir-nos as portas de clube exclusivo
No plano político-diplomático, cabe levar adian- como o CSNU ou secundar posturas nossas em
te o hoje bem estruturado arcabouço de diálogo, enfrentamentos com outras grandes potências,
concertação e cooperação. quando não se coadune isso com seus muito par-
ticulares interesses.
O relacionamento político entre os dois países
está em fluido desdobramento e encontra na
presente etapa formas concretas de ação conjun-
ta, como através dos BRICS (e, em outros termos,
No comércio, precisamos ir além
do G-20). Em tais foros, Brasil e China têm, como
nunca antes, veículos capazes de propiciar-lhes da relação de simples troca de
substanciais ganhos em sua busca de influência produtos à distância e identificar
sobre distintas questões internacionais. Que
chances de entrosamento, de en-
assim siga. Mas com uma qualificação: não deve
a diplomacia brasileira manter expectativas ir- cadeamento entre empresas dos
realistas sobre uma presumível “solidariedade” dois lados. Algo em tal sentido
a qualquer prova da China e de seus demais par- já parece dar-se em setor de alta
ceiros nos BRICS. Ou considerar que os BRICS
possam constituir alternativa a nosso relaciona-
tecnologia, como o aeroespacial
mento com EUA, Europa e outros dos quais esta- (tenho em mente empreendimen-
ríamos supostamente condenados a situações tos como o CBERS e a Embraer).
de “dependência”.
Novos nichos e setores podem ser
Enquanto o Brasil se afigura, no atual linguajar no futuro identificados.”
da política internacional, como um país “emer-

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 77


Embaixador Shen Yunao
Embaixador da China no Brasil entre 1988 e 1993

A julgar pelos 40 anos tecnologia e maior valor agregado, assim como


de relações sino-brasi- resolver adequadamente os atritos comerciais.
leiras, considero que, Ao mesmo tempo, deve-se ampliar o investimen-
no futuro, os interesses to mútuo, o papel de condução da cooperação
da China e do Brasil es- financeira e buscar projetos de cooperação de
tarão ainda mais inter- importância estratégica para atender as neces-
ligados. Os dois países sidades de desenvolvimento econômico e social
serão importantes par- de ambos os países, beneficiando, assim, os dois
ceiros estratégicos, em estreita colaboração em povos. Cabe ressaltar que os dois parceiros tam-
diversos campos, e desempenharão um papel mais bém podem buscar a cooperação em terceiros
importante nos assuntos mundiais. países da América do Sul e África na construção
de infraestrutura.
Por seu imenso território, numerosa população,
ricos recursos naturais e escala do PIB, o Brasil é De forma geral, as relações entre a China e o Bra-
o maior país emergente do Hemisfério Ocidental sil têm se caracterizado pelo respeito mútuo, a
e tem enorme potencial para o desenvolvimento. igualdade política e o desenvolvimento econô-
As economias da China e do Brasil são altamente mico conjunto. Acredito que esta é a razão do
complementares e, em muitos assuntos interna- desenvolvimento estável das relações bilaterais
cionais, os dois países têm também posições se- nos últimos 40 anos e também a chave para seu
melhantes e muitos interesses em comum. desenvolvimento contínuo nos próximos anos.

Tudo isso determina que as relações entre a As relações têm cada vez maior influência global.
China e o Brasil tenham uma importância que Considero que, ao tempo em que se desenvolve o
vai além do âmbito bilateral, relacionamento bilateral, os dois
exercendo, consequentemen- países devem cumprir as suas
te, influência no plano global. obrigações internacionais e refor-
Nesse sentido, o Brasil é, não Cabe ressaltar que os çar a coordenação e cooperação
apenas um importante par- nas organizações internacionais e
ceiro comercial e econômico
dois parceiros também multilaterais. Por sua vez, devem
para a modernização da Chi- podem buscar a coope- aderir aos propósitos e princípios
na, mas um parceiro estraté- ração em terceiros pa- da Carta das Nações Unidas, de-
gico muito importante nos fender a igualdade soberana dos
íses da América do Sul Estados, salvaguardar e promover
assuntos mundiais.
e África na construção a justiça internacional, promover
Neste contexto, os maiores de infraestrutura.” um mundo multipolar e a demo-
desafios são expandir ainda cratização das relações interna-
mais a escala do comércio bi- cionais e participar ativamente
lateral, que já é consideravelmente grande. Para na governaça global, no intuito de conquistar mais
isso, teremos que otimizar a estrutura de comér- poder institucional e o direito de falar pelos países
cio e aumentar a proporção de produtos de alta em desenvolvimento.

78 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Embaixador José Alfredo Graça Lima
Subsecretário-Geral de Política II do Ministério das
Relações Exteriores
Ao celebrarem os 40 com efeitos potencialmente duais na criação de
anos do estabeleci- expectativas e mobilização de energias, exigirão
mento de relações padrões de governança com a legitimidade e fun-
diplomáticas, em cionalidade necessárias para prover respostas
2014, Brasil e China em tempo menor às demandas sociais. A econo-
apresentaram-se aos mia do conhecimento do século XXI requererá
seus povos e à socie- renovado esforço de capacitação de nossos po-
dade internacional vos e tornará ainda mais ferrenha a disputa por
como protagonistas de dois dos prin- mercados externos. O
cipais programas de inclusão social imperativo da sustenta-
em todo o mundo; como economias bilidade, em seus três pi-
comprometidas com a eficiência, mo- Brasil e China inten- lares – social, econômico
dernização científica e tecnológica e
sificaram e diversifi- e ambiental – continuará
sustentabilidade ambiental; e como a exigir medidas preven-
atores influentes e construtivos em caram as relações em tivas urgentes. E a socie-
seus respectivos entornos regionais todos os campos de dade internacional ne-
e no cenário global. cessitará cada vez mais
sua extensa agenda,
de forças agregadoras
Essa convergência de fatores teve, bilateral, plurilateral entre diferentes povos e
sobretudo em anos recentes, uma e multilateral, num culturas.
trajetória anti-cíclica. Brasil e China
momento em que, sob
intensificaram e diversificaram as re- O amplo acervo de re-
lações em todos os campos de sua ex- os efeitos da crise eco- alizações das relações
tensa agenda, bilateral, plurilateral e nômica de 2008, paí- sino-brasileiras nos úl-
multilateral, num momento em que, timos 40 anos reforça a
ses se retraíam, inclu-
sob os efeitos da crise econômica de confiança na capacidade
2008, países se retraíam, inclusive sive em suas relações de Brasil e China de con-
em suas relações externas. externas.” tinuar a trilhar, por meio
da cooperação cada vez
Certamente novos desafios e oportu- mais estreita, o caminho do desenvolvimento,
nidades nos esperam. As transformações velozes da coesão social e da construção de um mundo
nas tecnologias de informação e comunicação, mais justo, próspero e estável.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 79


Embaixador Amaury Porto de Oliveira
Embaixador do Brasil em Cingapura entre 1987 e 1990, e
membro do Instituto de Estudos Avançados da USP
Desde que chegou ao Por sua vez, cabe destacar que a China está pas-
poder em março de sando por momento especialmente favorável para
2013, a quinta geração tomar a dianteira no desenvolvimento e comercia-
de líderes tem am- lização das energias renováveis. Assim como os Ti-
pliado a capacidade gres Asiáticos dos anos 1980-90 puderam inserir-se,
da China de ajudar os com êxito, na onda das Tecnologias da Informação
países em desenvolvi- (TI), a China vem podendo neste começo do século
mento. Zhang Jun, da XXI conquistar posição de relevo nas Tecnologias da
Universidade Fudan, em Xan- Energia (TE), com o Governo es-
gai, fala mesmo em um “Plano timulado a fazê-lo pelo proces-
Marshall chinês”: a utilização de so, já em marcha, da urbaniza-
parte das reservas cambiais do ção de um novo contingente de
país para financiar projetos de in-
Neste sentido, a reu- 300 milhões de camponeses.
fraestrutura em países emergen- nião dos BRICS em A demanda de energia para a
tes. Aqui no nosso hemisfério, Fortaleza em julho de edificação e o funcionamento
os dois grandes bancos estatais dos prédios, estradas e fábricas
2014, com a presença do novo país é aterradora e só
chineses concederam emprésti-
mos para países da área, entre do Presidente da Chi- poderá ser atendida sem a des-
2005-2013, mais do que o Banco na, permitiu ao Brasil truição do meio ambiente, com
Mundial ou o Banco Interame- o recurso a métodos inovado-
aparecer como a por-
ricano de Desenvolvimento. Os res de captação da energia: so-
financiamentos chineses para ta de entrada da ajuda lar, eólica e similares. A China
governos e companhias latino- chinesa à America La- já é o maior investidor mundial
-americanos somaram, em 2013, tina.” nesses métodos, gozando de
US$ 15,3 bilhões. duas vantagens importantís-
simas. Está entrando muito
Neste sentido, a reunião dos BRICS em Fortaleza cedo na indústria mundial correspondente, com
em julho de 2014, com a presença do Presidente melhores chances de colher maior valor agregado.
da China, permitiu ao Brasil aparecer como a por- O mercado chinês será, maciçamente, o mercado
ta de entrada da ajuda chinesa à America Latina. final do produzido.
No segundo dia da reunião dos BRICS, o grupo
deslocou-se para Brasília, a fim de encontrar re- É tempo de buscar convergência com a China nas
presentantes dos países da União de Nações Sul- Tecnologias da Energia. A Coppe-UFRJ está fazen-
-Americanas (Unasul) e da Cúpula da Unidade da do trabalho pioneiro a esse respeito. E uma gran-
América Latina e do Caribe (Celac). Foram quinze de oportunidade aparece na área de energia solar,
líderes da América ao sul do Rio Grande, que se com o interesse da Yingli Green Energy, líder mun-
entenderam com o presidente chinês. Ficou acer- dial em painéis fotovoltaicos, pela nascente uti-
tado, para janeiro de 2015, em Pequim, o primei- lização da energia solar no Brasil. A firma chinesa
ro Fórum China, América Latina e Caribe. abriu um escritório em São Paulo, em 2013.

80 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Embaixador Marcos Caramuru de Paiva
Cônsul-Geral em Xangai de 2008 a 2011

Há quarenta anos, a longo prazo. A China muda em alta velocidade e


economia brasileira não esmorece na procura de ampliar os seus su-
crescia a taxas eleva- pridores de commodities. Garantir nossa presen-
das e a China, ainda ça no mercado chinês deve ser um trabalho per-
pobre, abria-se e vol- manente, mesmo nos segmentos em que temos
tava à cena interna- sido bem sucedidos nas exportações.
cional, sem que se pu-
desse avaliar no que O segundo, forjar novas e mais sólidas parcerias
ela se transformaria. A em matéria de investimentos: inovar em joint
realidade mudou radicalmente. O ventures, na cooperação
Brasil passou por sucessivas crises empresarial, no encontro
financeiras, estabilizou a econo- de parcerias. Os chineses já
mia, mas busca ainda consolidar o exibem fluxos anuais signi-
seu rumo. Estamos em outro pa-
Estamos em outro pa- ficativos de investimentos
tamar, mas temos muito a fazer tamar, mas temos mui- diretos no exterior. Con-
para garantir o que conquistamos. to a fazer para garantir tudo, o panorama de suas
A China tornou-se um gigante eco- inversões no Brasil ainda é
o que conquistamos.
nômico. Porém, mostra desafios limitado a poucos setores.
estruturais que precisarão ser A China tornou-se um E as empresas brasileiras
enfrentados para confirmar o seu gigante econômico. Po- deixaram de ter o entusias-
destino. Os dois países redefiniram
rém, mostra desafios mo de dez anos atrás pela
o relacionamento. Na área bilate- realidade chinesa.
ral, nunca há tempo a perder. Três estruturais que preci-
pontos não podem ser obscureci- sarão ser enfrentados Terceiro, iniciar e desenvol-
dos na procura de nossos rumos para confirmar o seu ver um diálogo no mundo
econômicos comuns nas próximas financeiro. Sem esperar
décadas.
destino.” resultados imediatos, mas
certos de que a interação
O primeiro, evitar a complacência. Nem mesmo financeira deverá ser um dos pontos centrais de
os fluxos atuais de comércio estão seguros no nossa agenda futura.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 81


DEPOIMENTOS

Acadêmicos
Anna Jaguaribe
Diretora do Instituto de Estudos Brasil-China, IBRACH

Antônio Barros de Castro

Chen Tao Tao


Professora de Finanças, Faculdade de Economia e Gestão; Direto-
ra Executiva do Grupo Luksic, Centro de Estudos de Gestão para
China e América Latina, Universidade de Tsinghua, China

Renato Baumann
Diretor de Estudos, Relações Econômicas e Políticas Internacionais
(DINTE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA

Zhou Zhiwei
Secretário-Geral do Centro de Estudos Brasileiros, no Instituto
de Estudos da América Latina da Academia Chinesa de Ciências
Sociais, ILAS/CAS

82 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Anna Jaguaribe
Diretora do Instituto de Estudos Brasil-China, IBRACH
A parceria econômica e o diálogo político es- comercial, um grande investidor, mas igualmen-
tratégico entre o Brasil e a China representam te importante, um interlocutor internacional
um ganho para os dois países e uma novidade para um diálogo sobre reformas nas relações
política de bom augúrio para os que pensam na econômicas globais.
construção de uma governança global inclusiva
e multipolar. A nova relação econômica entre o Brasil e a China
e o entendimento político
Os últimos quarenta anos foram que daí decorre permitem
determinantes para os dois paí- uma melhor e maior com-
ses. Para o Brasil representou a
As opções econômicas preensão sobre as estra-
afirmação da democracia política tégias de crescimento e os
e uma nova busca de acertos eco- e tecnológicas feitas desafios da sustentabilida-
nômicos e de estratégias de cres- pelos dois países têm de. As opções econômicas
cimento. O Brasil de hoje é mais consequências que vão e tecnológicas feitas pelos
rico, mais avançado em ciência e dois países têm consequ-
tecnologia, mais inclusivo e insti-
além do nacional e de
ências que vão além do
tucionalmente mais sólido. Para suas relações comer- nacional e de suas relações
a China foram anos de transfor- ciais.” comerciais. O diálogo polí-
mações econômicas radicais e de tico leva a um maior enten-
afirmação política internacional que a levaram dimento e abertura sobre alternativas na gover-
à condição de segunda economia do mundo. nança global. É sem duvida uma grande parceria
internacional do momento.
Hoje o Brasil tem na China seu principal parceiro

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 83


Antônio Barros de Castro (in memoriam)
Professor Emérito, Instituto de Economia, Universidade
Federal do Rio de Janeiro

Deveríamos apostar em setores protegidos


pela especificidade dos nossos recursos na-
turais, por costumes, estrutura industrial e
demanda, áreas em que o chinês não está
nem vai estar. Não proponho uma volta ao
agrário. O agrário é uma trégua para, por
exemplo, construir uma indústria ligada ao
pré-sal, de satélites, de novos materiais, de
aços especiais. É aplicar os conhecimentos
existentes para desenvolver coisas próprias
e originais.”

Sem nosso potencial em produtos primários, em longo prazo estaríamos


numa situação dificílima. Mas hoje temos três bons problemas: segurar o
balanço de pagamentos por 10 ou 15 anos com petróleo, outras matérias-
-primas e produtos agrícolas; manter a expansão do mercado interno co-
locando areia para limitar a sua ocupação por importações; e desenvol-
ver o potencial industrial visando não otimizações, mas mudanças.”

Atualmente, um país como o Brasil, A emergência da China e as trans-


que no novo contexto tem vanta- formações por ela induzidas carac-
gens máximas no setor primário e terizam uma autêntica ruptura da
mínimas no industrial, tem que se normalidade e o surgimento de no-
reinventar protegendo a indústria vas tendências. Em outras palavras
que existe, tentando agregar valor estamos, no caso, diante de um fe-
às cadeias de produção, completan- nômeno essencialmente histórico e
do-as e sofisticando-as.” único.”

84 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Chen Tao Tao
Professora de Finanças, Faculdade de Economia e Ges-
tão; Diretora Executiva do Grupo Luksic, Centro de Estu-
dos de Gestão para China e América Latina, Universida-
de de Tsinghua, China
Entendo que entre China e Brasil existem desafios, culturas. Este estreitamento dos vínculos entre
como a distância geográfica, as diferenças cultu- chineses e brasileiros tem ajudado a estabelecer o
rais, o sistema administrativo, entre outras ques- respeito mútuo e a confiança entre os dois povos.
tões. Mas, graças aos esforços conjuntos realizados
ao longo de todos estes anos, Olhando para frente, com a só-
temos alcançado grande pro- lida base que sustenta nossa
gresso na compreensão mútua, relação, tenho firme confiança
diminuindo consideravelmente Ao superar as diferen- no futuro brilhante de ambos
os países.
a lacuna de conhecimento entre
ças mencionadas, al-
nossas sociedades.
gumas empresas chi- Tenho observado com entu-
siasmo os esforços feitos por
Além do rápido crescimento da nesas, como State Grid,
instituições como o CEBC, que
relação comercial, gostaria de
Huawei e Gree estão tem contribuído para o relacio-
salientar, especialmente, os pro-
gressos que têm sido alcançados bem estabelecidas no
namento entre empresas chi-
nesas e brasileiras nas últimas
na área de investimentos bila- mercado brasileiro, en-
décadas. Para o futuro, tais
terais. Ao superar as diferenças quanto empresas brasi-
instituições irão incentivar, ain-
mencionadas, algumas empre-
sas chinesas, como State Grid,
leiras, como a Embra- da mais, governos, empresas e
instituições acadêmicas a uni-
Huawei e Gree estão bem esta- er e o Banco do Brasil,
rem forças, contribuindo, dessa
belecidas no mercado brasileiro, também se instalaram
forma, para a redução da lacuna
enquanto empresas brasileiras,
e investiram no merca- de conhecimento entre os dois
como a Embraer e o Banco do países, criando novas oportuni-
Brasil, também se instalaram e
do chinês.”
dades e facilitando alianças en-
investiram no mercado chinês. tre nossas empresas.
Este fato demonstra que China e Brasil têm se tor-
nado fontes mútuas de capital e tecnologia, para Gostaria também de incentivar o intercâmbio
benefício de ambos os países. de experiências nas respectivas estratégias na-
cionais de desenvolvimento. Duas grandes eco-
De forma análoga ao desenvolvimento das rela- nomias emergentes, que percorreram diferentes
ções econômicas, também gostaria de destacar caminhos de política de abertura, certamente
o progressivo estabelecimento de uma calorosa terão experiências valiosas para a troca de ideias.
amizade entre as pessoas dos dois países. Des- Como resultado deste processo, ambos os países
cobrimos, com entusiasmo, que o povo chinês, podem se beneficiar da cooperação mútua, no
que manteve o confucionismo por milhares de sentido de dar maior coerência ao processo de
anos, em muito se assemelha ao povo brasileiro, tomada de decisões estratégicas, contribuindo
conhecido por ser aberto a abraçar diferentes para a prosperidade de ambos os povos.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 85


Renato Baumann
Diretor de Estudos, Relações Econômicas e Políticas
Internacionais (DINTE), Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, IPEA
Recentemente foram comemorados os 40 anos recorrentes dificuldades para diversificar suas
da reaproximação formal entre o Brasil e a China. exportações, é algo que aparece de imediato.
De uma decisão diplomática para reatar vínculos Complementa essa dificuldade o regionalismo
interrompidos por razões predominantemente do processo produtivo e sua associação com pre-
ideológicas, essa relação evo- ferências comerciais por países
luiu para um intenso vínculo
vizinhos da China, o que tem
comercial e um crescente fluxo
afetado negativamente as con-
de investimentos. Intensificar laços polí- dições de acesso de manufatu-
Optar por um bom relaciona-
ticos com a China atra- ras brasileiras àquele mercado.
mento com a segunda maior vés da criação conjun-
A expectativa de atrair investi-
economia do planeta parece ta de um agrupamento
algo evidentemente racional. mentos chineses em setores de
de países com preten-
Intensificar laços políticos com infraestrutura e em manufatu-
a China através da criação con-
sões de influenciar a ras só recentemente começa a
junta de um agrupamento de governança global e ser correspondida.
países com pretensões de in- buscar ampliar as áre-
fluenciar a governança global Por último, dúvidas com
as de possível comple-
e buscar ampliar as áreas de relação ao funcionamento do
possível complementaridade mentaridade também Banco de Desenvolvimento
também parece ser algo bas- parece ser algo bas- dos BRICS e ao grau de coesão
tante lógico. tante lógico.” política que será demandada
dos países BRICS em relação
Onde estariam os riscos embu-
aos conflitos abertos (caso da Ucrânia) ou poten-
tidos nessa empreitada?
ciais (caso do Mar da China) permanecem como
O desconforto com a composição da pauta bi- incógnitas e um desafio potencial ao bom rela-
lateral de comércio, com o Brasil encontrando cionamento bilateral.

86 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Zhou Zhiwei
Secretário-Geral do Centro de Estudos Brasileiros, no
Instituto de Estudos da América Latina da Academia
Chinesa de Ciências Sociais, ILAS/CAS

Durante os últimos 40 anos, as relações sino- mais influente na governança global.


-brasileiras apresentaram grandes avanços, evo-
luindo de uma “diplomacia prudente”, no período Vistos estes avanços, a cooperação nestes cam-
inicial da relação bilateral, para a Parceria Estra- pos deve continuar a ser uma prioridade para
tégica Global no cenário atual, o futuro das relações sino-
abrangendo múltiplas áreas de -brasileiras. No entanto, cabe
cooperação. Em particular, na destacar que novas oportu-
primeira década do século XXI, Hoje, a interação sino- nidades já estão surgindo, a
a cooperação bilateral cresceu exemplo dos investimentos
-brasileira vem se tor- bilaterais. Neste momento,
de forma acelerada, não só nos
aspectos comerciais e econômi- nando uma relação
o Brasil está se tornando um
dos principais destinos para
cos, mas também nos mecanis- entre duas grandes po-
os investimentos chineses no
mos multilaterais relacionados tências, com influência
exterior e, simultaneamente,
à governança global. Hoje, a
crescente nas questões o potencial do mercado con-
interação sino-brasileira vem
sumidor chinês está atraindo
se tornando uma relação entre internacionais.”
cada vez mais o investimento
duas grandes potências com in-
de empresas brasileiras.
fluência crescente nas questões internacionais.
Por esta razão, as relações econômicas entre Bra-
Os principais avanços nos vínculos sino-brasi-
sil e China deverão ser aprimoradas, com particu-
leiros nos últimos 40 anos podem ser sintetiza-
lar foco na promoção do comércio intraindustrial,
dos em alguns pontos específicos. Em primeiro
na busca pela diminuição das assimetrias comer-
lugar, ambos os países têm se beneficiado com
ciais e na consolidação da sustentabilidade nas
a aproximação econômica, que contribui para o
relações econômicas.
forte crescimento da China, a partir do acesso
a recursos de forma segura e contínua, e para o No entanto, o relacionamento sino-brasileiro
desenvolvimento do Brasil, devido à expansão ainda deve promover o engajamento da socieda-
e à diversificação de suas exportações, princi- de civil. Em outras palavras, as realizações men-
palmente impulsionadas pela forte demanda cionadas foram alcançadas, principalmente, de-
chinesa. Por sua vez, a cooperação científica e vido a um forte impulso dos governos de ambos
tecnológica – especificamente na área espacial os países, enquanto as iniciativas da sociedade
– alcançou resultados consideráveis, que foram civil são, ainda, comparativamente limitadas.
aprofundados nos últimos anos. Finalmente, Desta forma, em um futuro próximo, a compre-
a colaboração nos fóruns multilaterais obteve ensão mútua e a confiança estratégica devem
reforço, especialmente desde o surgimento dos ser metas relevantes para o relacionamento en-
BRICS, grupo de potências emergentes cada vez tre Brasil e China.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 87


DEPOIMENTOS

Confederações / Associações
ABIEC
Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes

ABIOVE
Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais

ABPA
Associação Brasileira de Proteína Animal

CNA
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

CNI
Confederação Nacional da Indústria

CNT
Confederação Nacional do Transporte

Ibá
Indústria Brasileira de Árvores

88 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


ABIEC
Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de
Carnes
A China e o futuro da um mercado com absoluta prioridade estratégica
carne bovina brasilei- para a indústria da carne, uma percepção compar-
ra: do início da década tilhada entre o setor privado e o setor público.
de 2000 até agora, o
crescimento das exportações de carne bovina foi Somente nos últimos cinco anos o aumento das
interrompido somente pela crise financeira glo- importações chinesas de carne bovina foi de
bal entre 2008 e 2009. 1.670%, atingindo em 2013 um volume de mais de
300 mil toneladas. No entanto, o consumo per ca-
Ao todo a indústria da carne bovina brasileira
surfou em uma conjuntura fa- pita chinês é de 4,5kg/hab/ano.
vorável impulsionada pelo cres- O brasileiro é 38kg/hab/ano.
cimento do consumo de proteí- Considerando a população
nas em mercados emergentes. Um consumo per ca- chinesa, o crescimento de sua
pita hoje baixo, aliado classe média e as limitações à
Estivemos, por assim dizer, no
produção local, podemos pre-
lugar certo e na hora certa. O a um crescimento em
sumir que ainda há imenso po-
Brasil tem uma vocação natu- renda e em população,
tencial a ser explorado.
ral para a pecuária, um parque
fazem da China um
industrial moderno, um status
sanitário em constante evolu- mercado com absolu- O Brasil tem todas as condi-
ções de ser o parceiro prefe-
ção e ainda um imenso espaço ta prioridade estraté-
para crescer em produtividade rencial da China na garantia da
gica para a indústria
de forma sustentável. Nenhum segurança alimentar de sua po-
outro fornecedor global reúne
da carne, uma percep- pulação. O fortalecimento das
tantas vantagens competitivas ção compartilhada en- relações bilaterais, a coordena-
para a produção de proteína. tre o setor privado e o ção entre diferentes áreas do

Segundo a FAO, a Ásia será


setor público.” Governo Brasileiro e sobretudo
os esforços no sentido de que
responsável nos próximos dez
esta relação bilateral tenha
anos por mais da metade do aumento do consu-
mo de carnes no mundo. E a China, obviamente, a prioridade que lhe é devida na agenda gover-
representa grande parcela deste aumento. Um namental são essenciais para que esta parceria
consumo per capita hoje baixo, aliado a um cresci- aconteça. E o Conselho Empresarial Brasil-China
mento em renda e em população, fazem da China tem papel fundamental nesse processo.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 89


ABIOVE
Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais

A soja, originária da China e a outro lado, a potência asiática representa um


principal cultura agrícola do verdadeiro motor para o crescimento da economia
Brasil, é um elo forte de liga- brasileira. O mercado chinês e a agropecuária
ção entre os dois países. Cerca brasileira são ambos muito promissores e são
de 75% das ex- boas as perspectivas de
portações bra- complementaridade entre
sileiras de soja em grão, em 2013, as economias dos dois
destinaram-se ao mercado chinês. países. O grande desafio
É com satisfação, portanto, que O mercado chinês e a
que se coloca, de imediato,
vemos o crescimento desses em- agropecuária brasi- é diversificar e agregar valor
barques para a nobre finalidade leira são ambos mui-
à pauta de comércio do
de prover proteína à população
chinesa.
to promissores e são Brasil vis-à-vis a China.
boas as perspectivas
Nossa visão é que, na me-
O relacionamento da Associação
de complementarida- dida em que a China es-
Brasileira das Indústrias de Óleos
Vegetais (ABIOVE) com a China
de entre as economias tabelece relações econô-
dos dois países. O micas mais fortes com a
é de respeito mútuo, em que
ganham ambos os lados. O Brasil América Latina, precisamos
grande desafio que se
domina a tecnologia de produção construir novas pontes de
e dispõe de recursos naturais
coloca, de imediato, é cooperação bilateral. Se-
escassos na China. Por isso, o Brasil diversificar e agregar minários e reflexões sobre
destaca-se como um fornecedor valor à pauta de co- caminhos futuros na rela-
confiável e competitivo para ção Brasil-China, como os
mércio do Brasil vis-à-
atender à ampliação do mercado promovidos pelo CEBC, são
de alimentos proteicos. Por -vis a China.” mais do que bem-vindos.

90 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


ABPA
Associação Brasileira de Proteína Animal
A solidez das relações papel fundamental nesta retomada. Após o início
comerciais entre Brasil dos embarques, a entidade passou a trabalhar
e China no comércio fortemente para a aprovação de mais plantas, o
de carne de frango re- que resultaria em maior volume de exportação –
mete a uma história recente. Em maio de 2009, isto, por meio de um trabalho criterioso de orien-
saíam dos portos brasileiros os primeiros contê- tação das empresas associadas no preenchimen-
ineres com destino ao solo chinês, após a reaber- to dos questionários de habilitação, coordenação
tura do mercado para o setor de missões e follow-up junto ao
avícola brasileiro. À época, cin- Ministério da Agricultura.
co plantas foram habilitadas
e, naquele ano, foram exporta- Em 2013, cerca de 180 Neste sentido, nosso próximo
das 23 mil toneladas. mil toneladas foram passo, agora, é aumentar o nível
de confiança institucional para
De lá para cá (menos de 5 anos), embarcadas. Entre
que as aprovações possam ser
houve um crescimento estron- janeiro e setembro de feitas no sistema de pre-listing
doso neste fluxo comercial. Em 2014, já são quase 170 e sem a necessidade de visita de
2013, cerca de 180 mil tonela-
das foram embarcadas. Entre
mil toneladas, número habilitação, como já funciona,
entre outros, com Cingapura,
janeiro e setembro de 2014, já 20% maior em rela-
Japão e União Europeia.
são quase 170 mil toneladas, ção ao desempenho no
número 20% maior em relação
mesmo período do ano Fato é que, dada a crescente de-
ao desempenho no mesmo pe-
manda chinesa – maior merca-
ríodo do ano passado. passado.”
do consumidor do mundo e com
taxas de urbanização crescentes – e da oferta do
Com a habilitação de cinco plantas neste ano, a
Brasil, é imperativo que os dois países estreitem
China passou a contar com o fornecimento de
produtos de 29 unidades frigoríficas do Brasil. A relações comerciais. O Brasil é um dos poucos
expectativa é que, em breve, este número suba países capazes de suprir o aumento de consumo
para 37 unidades. de alimentos da China e tem compromisso com
a produção de alta qualidade e a estabilidade de
Houve um extenso trabalho até que este fluxo fornecimento, em complementaridade com a in-
se consolidasse – e a ABPA, antiga UBABEF, teve dústria avícola chinesa.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 91


CNA
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
A expectativa da Con- nos próximos anos. Essa nova onda de urbani-
federação da Agricul- zação deverá gerar oportunidades para a nossa
tura e Pecuária do agroindústria.
Brasil (CNA) é de que
a China lidere as im- Por outro lado, a agricultura brasileira também
portações mundiais oferece inúmeras oportunidades para empresá-
de ali- rios chineses. É o caso, por
exemplo, de investimentos
mentos e de bebidas nos próxi-
em armazenagem, transpor-
mos anos. Esta é uma das razões
te e processamento de pro-
pelas quais a Confederação man- Somente no ano pas-
dutos agropecuários. Proje-
tém, em parceria com a Apex-Bra- sado, os chineses tos de ferrovias, hidrovias,
sil, escritório de representação
compraram U$ 22,8 portos e aeroportos já atra-
na capital Pequim, desde 2012.
bilhões em bens agro- em os interesses de investi-
Os consumidores chineses já dores chineses no Brasil.
pecuários do Brasil.
são os principais clientes da pro-
Entre janeiro e agos- A recente visita do Presidente
dução do campo brasileiro. Os
Xi Jinping ao Brasil, em julho
números de comércio revelam to de 2014, foram res-
passado, foi um marco impor-
a importância do parceiro asiá- ponsáveis por 28% da
tante para o setor agropecu-
tico. Somente no ano passado,
receita total das ex- ário. Em Brasília, o dirigente
os chineses compraram U$ 22,8
bilhões em bens agropecuários
portações brasileiras anunciou a reabertura do
mercado chinês para a nossa
do Brasil. Entre janeiro e agosto desse setor.” carne bovina. O gesto de Pe-
de 2014, foram responsáveis por quim reiterou a segurança e
28% da receita total das exportações brasileiras a qualidade do produto nacional. Os empresários
desse setor. brasileiros aguardam a finalização de procedi-
mentos burocráticos para reiniciarem os embar-
Tanto a sociedade quanto o governo chineses
ques.
sinalizam que o consumo será o novo motor de
crescimento do gigante asiático. As migrações Os históricos laços de amizade e as complemen-
das zonas rurais para os centros urbanos e o au- taridades econômicas entre os dois países deve-
mento da renda média deverão introduzir novos rão resultar em outros bons anúncios nos próxi-
produtos – principalmente proteínas – na dieta mos anos. E o setor agroindustrial brasileiro está
alimentar do povo chinês. Estima-se que 400 mi- pronto para atender as demandas dos consumi-
lhões de pessoas troquem o campo pelas cidades dores chineses.

92 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


CNI
Confederação Nacional da Indústria
Após 40 anos de estabe- Para isso, a Confederação Nacional da Indústria
lecimento dos laços di- (CNI) defende uma agenda consistente e de longo
plomáticos, as relações prazo com o parceiro, focada sobretudo no cam-
entre Brasil e China passaram por uma verda- po econômico-comercial.
deira revolução.
Para a indústria, o aprimoramento contínuo
Esse movimento ganhou im- do mecanismo de diálogo de
pulso com as alianças políticas alto nível bilateral, por meio
da COSBAN, é um passo deci-
– como a Parceria Estratégica
sivo. A partir dele, os países
entre os dois países e o protago- Para isso, a Confedera- (sobretudo a indústria brasi-
nismo nos BRICS, por exemplo –
mas são os resultados no campo
ção Nacional da Indús- leira) poderão lograr reduzir
econômico que chamam mais a tria (CNI) defende uma os obstáculos à diversifica-
ção do comércio e aos inves-
atenção. agenda consistente e timentos mútuos e, acima
de longo prazo com o de tudo, cooperar mais em
Além dos sucessivos recordes
na corrente de comércio, os pa- parceiro, focada so- inovação, área crítica para
o desenvolvimento dos dois
íses evoluíram para uma pauta bretudo no campo eco- países.
robusta e diversificada de in- nômico-comercial.”
vestimentos bilaterais, que vai A China merece atenção espe-
da manufatura à infraestrutura. Um grande ati- cial de nossos formuladores de política e é crucial
vo da relação bilateral, que deve ser preservado estabelecer e seguir em frente com um plano so-
e ampliado. bre o nosso interesse estratégico na relação.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 93


CNT
Confederação Nacional do Transporte
A evolução das relações em soluções para o desenvolvimento e integração
entre o Brasil e a China da infraestrutura de transporte no Brasil se apre-
nos últimos dez anos re- sentarão de diversas maneiras. O aproveitamento
vela que essa realidade abre imensas oportuni- das oportunidades e a superação dos desafios cami-
dades, algumas já aproveitadas, nham lado a lado e requerem
como nas áreas de comércio, uma visão de longo prazo por-
e outras ainda por aproveitar, que, nesse setor com projetos
como em infraestrutura. Ao mes- de magnitude e longa matura-
O aproveitamento das
mo tempo, à medida em que as ção, é fundamental que as par-
relações crescem e se adensam, oportunidades e a su- cerias entre brasileiros e chine-
aumentam os desafios para fa- peração dos desafios ses assentem-se em sólidas
zer com que o crescimento seja bases para serem duradouras.
caminham lado a lado
equilibrado, contribua para o
desenvolvimento brasileiro e
e requerem uma visão Somente este ano, a CNT já
atenda aos interesses do setor de longo prazo por- realizou, em conjunto com
o CEBC, painel voltado para
empresarial. que, nesse setor com
o setor de infraestrutura do
Para garantir que as relações
projetos de magnitude transporte na ocasião da vi-
cresçam de forma equilibrada e e longa maturação, é sita do Presidente Xi Jinping
positiva, em abril de 2014 a China fundamental que as ao Brasil e assinou memoran-
foi escolhida pela Confederação do de entendimento com a
parcerias entre bra- Câmara Chinesa de Comércio
Nacional do Transporte (CNT) para
receber seu primeiro escritório no sileiros e chineses as- de Importação e Exportação
exterior. Essa escolha se deve à sentem-se em sólidas de Máquinas e Produtos Ele-
importância do acompanhamento trônicos (CCCME). Além disso,
bases para serem du-
constante das relações e à necessi- tem feito apresentações para
dade de interlocução permanente radouras.” comitivas de potenciais inves-
entre os dois governos e os setores tidores chineses sobre o setor
empresariais, especialmente para o setor do trans- de infraestrutura de transporte, que tem gerado
porte no qual os avanços são ainda modestos, re- grandes expectativas.
velando grandes oportunidades de sinergia entre o
Brasil e a China. Com esse pensamento, a atuação da CNT e de
seu escritório em Pequim permite estreitar um
No Brasil, a capacidade do Governo Federal de elo importante para viabilizar as oportunidades
investir em infraestrutura parece chegar próximo criadas na área de transporte, tendo como papel
de seu limite. O país tem urgência em modernizar fundamental a redução do desconhecimento re-
e integrar sua infraestrutura de transporte para cíproco na identificação de oportunidades e na
se tornar competitivo no comércio internacional superação de desafios. Dessa maneira, fortalecer
e, assim, reduzir o custo das transações e garan- o setor de transporte brasileiro no cenário inter-
tir ou recuperar competividade às exportações, o nacional por meio da busca e da implementação
chamado “custo Brasil”. de parcerias técnicas, comerciais e tecnológicas,
que possam apoiar o desenvolvimento do setor,
Dessa forma, as oportunidades de investimento inovando-o e dinamizando-o.

94 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Ibá
Indústria Brasileira de Árvores

Criada em abril de O grande desafio da Ibá é continuar a conso-


2014, a Indústria Bra- lidar o setor de árvores plantadas brasileiro
sileira de Árvores (Ibá) como um dos principais fornecedores do mer-
é a associação responsável pela representação cado chinês. Esse objetivo vai ao encontro da
institucional da cadeia produtiva de árvores agenda interna da entidade, pelo aumento da
plantadas. A entidade representa 62 empresas competitividade industrial.
e 8 entidades estaduais de produtos originários
Os investimentos das empresas associadas à Ibá,
do cultivo de árvores plantadas, com destaque
em andamento e previstos,
para painéis de madeira, pisos
estão estimados em R$53 bi-
laminados, celulose, papel, flo-
lhões até 2020. Estes inves-
restas energéticas e biomassa,
timentos visam ao aumento
além dos produtores indepen- Nos últimos 10 anos, o
dos plantios, ampliação de
dentes de árvores plantadas e volume de exportações fábricas e novas unidades.
investidores institucionais.
de celulose do Brasil Grande parte deles tem como
Desde a sua criação, a Ibá vem para a China teve um objetivo principal continuar a
atender com excelência à de-
observando uma consolidação crescimento extraor- manda crescente por celulose
da parceria estratégica entre o
dinário de 268%, o que de alta qualidade na China.
Brasil e a China na área florestal.
Nos últimos 10 anos, o volume de transformou o país
O sucesso desta parceria está
exportações de celulose do Brasil asiático no principal diretamente relacionado à
para a China teve um crescimen- destino das exporta- certeza de que a árvore plan-
to extraordinário de 268%, o que tada brasileira é o futuro das
ções do produto...”
transformou o país asiático no matérias-primas renováveis,
principal destino das exporta- recicláveis e amigáveis ao ambiente, à biodiversi-
ções do produto, cerca de 30% do volume total. dade e à vida humana.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 95


DEPOIMENTOS

Empresas
Brasileiras Chinesas
Banco do Brasil Baidu

BNDES Bank of China

Bradesco Chery Automobile Corporation

BRF China Development Bank

Embraco China Three Gorges Corporation

Embraer Sany Indústria do Brasil – Grupo Sany

Marcopolo ICBC

Marfrig State Grid

Suzano

Vale

96 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Banco do Brasil

A China é o maior parcei- o objetivo de fortalecer cada vez mais o comércio


ro comercial do Brasil e o internacional entre Brasil e China e preencher um
Banco do Brasil acompa- espaço vital na relação entre as transnacionais
nha de perto a evolução brasileiras que operam no mercado chinês e as
dessa parceria há muitos anos. Resultado disso empresas e bancos chineses que atuam no Brasil.
foi a abertura de um Escritório de Representação
em Shangai em 2004 e a inauguração da Agência O Banco do Brasil é a maior instituição financeira
BB Shangai em 2014, a primeira de uma institui- da América Latina e entende que a parceria
ção financeira latino-americana localizada em Brasil-China está em franco desenvolvimento e
solo chinês. pode crescer ainda mais nos próximos anos.

A Agência BB Shangai veio coroar o sucesso de Por isso, fazemos questão de ressaltar nosso
uma estratégia iniciada há mais de dez anos, com compromisso em apoiar negocialmente os
clientes nos dois países e contribuir para tornar
esse relacionamento cada vez mais forte e
duradouro.
Por isso, fazemos questão de ressal-
tar nosso compromisso em apoiar
negocialmente os clientes nos dois
países e contribuir para tornar esse
relacionamento cada vez mais forte
e duradouro.”

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 97


BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social
Luciano Coutinho, Presidente do BNDES

A relação Brasil-China delegação do BNDES à Pequim, liderada pelo pre-


ganhou incontestável sidente do Banco, em maio do mesmo ano, para
importância econômica na última década e foi reiterar a importância dos investimentos chine-
recentemente alçada à categoria de relação es- ses no desenvolvimento sustentável do Brasil, es-
tratégica pelos dois governos. pecialmente em agronegócios e em logística, com
ênfase em ferrovias. Naquela ocasião foi possível
A evolução dessa relação tem sido observada com expor às autoridades chinesas os pleitos e as di-
atenção pelo BNDES em face do aumento de in- ficuldades enfrentadas pelas empresas brasilei-
teresse das empresas brasileiras em aprofundar ras naquele país, abrindo-se importantes canais
o relacionamento comercial e de investimentos de interlocução. Após a realização da reunião de
com as empresas chinesas. cúpula entre os Presidentes da China e do Brasil
vários dos assuntos então tratados frutificaram
O BNDES enxerga vantagens potenciais no
e novas iniciativas vêm se multiplicando.
desenvolvimento desses projetos e parcerias.
Em conformidade com a orientação do Gover- A parceria com instituições financeiras oficiais
no Federal, empreendeu-se uma aproximação chinesas foi fortalecida, através da assinatura de
com bancos públicos, entidades e órgãos chi- memorandos de entendimento entre o BNDES
neses, o que tem permitido um melhor diálogo e três relevantes instituições chinesas: o China
das empresas brasileiras com suas contrapar- Development Bank (CDB), o China Eximbank e
tes na China. o China Investment Corporation (CIC). Entre os
setores de interesse recíproco, constante nos ins-
A visita do Presidente Xi Jinping ao Brasil em ju-
trumentos assinados estão o de transportes, de
lho de 2014 foi altamente exitosa, registrando
logística, de geração de energia, de telecomunica-
importantes avanços na cooperação bilateral.
ções, de pesquisa e desenvolvimento tecnológico,
Para tal, contribuiu uma visita preparatória de
de agricultura, de agroindústria e o aeroespacial.
Outros bancos chineses que têm se instalado no
Brasil vêm buscando ativamente uma aproxima-
ção com o BNDES.
A parceria com instituições financei-
A partir dos caminhos abertos por essas iniciati-
ras oficiais chinesas foi fortalecida,
vas deve ser natural a evolução da parceria, con-
através da assinatura de memoran- solidando uma relação de confiança e aprendiza-
dos de entendimento entre o BNDES e do mútuos. Sigamos construindo, consolidando
três relevantes instituições chinesas: as oportunidades e enfrentando os obstáculos
neste relacionamento de tão grande potencial,
o China Development Bank (CDB),
que poderá gerar ganhos expressivos para os dois
o China Eximbank e o China Invest- países, suas economias e suas sociedades.
ment Corporation (CIC).”

98 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Bradesco

A relação entre Brasil e vista a elevada presença do Bradesco no Brasil e


China vem amadurecendo a ampla gama de produtos e serviços que temos
principalmente na última a oferecer.
década, com a ampliação
significativa da interação Também manteremos o foco nas oportunidades
comercial e do fluxo de investimentos entre as de negócios na Ásia, através do escritório por
empresas dos dois países. É nesse contexto que o enquanto presente apenas em Hong Kong, espe-
Bradesco entende como fundamental a compre- cialmente concentradas nas fontes de captação
ensão das transformações que têm ocorrido nas de recursos externos e nos canais de distribui-
duas economias, como forma de antecipar e aten- ção de produtos financeiros, dado o maior in-
der as demandas de produtos e serviços financei- teresse asiático pelos mercados emergentes. É
ros, envolvidas nesse processo. nessa direção que entendemos como elevado o
potencial de negócios, que faz crescer a relevân-
Ao longo desses últimos anos, a interação do cia da China para a diversificação das atividades
Bradesco com a China tem se dado principalmen- da instituição.
te através do relacionamento com as empresas,
clientes da instituição, que negociam com o país
asiático (ou estão expostas a ele) e da abertura
de um escritório em Hong Kong. A compreensão
das diferenças culturais, políticas e econômicas
tem sido crescente para que os negócios sejam
... a aproximação com as empre-
bem sucedidos.
sas chinesas que estão chegando
A estratégia para os próximos anos é aprofundar ao Brasil tem sido crescente, ten-
o que já vem sendo feito. Primeiramente, segui-
remos atentos às necessidades bancárias das
do em vista a elevada presença do
empresas brasileiras que comercializam com a Bradesco no Brasil e a ampla gama
China, bem como daquelas que estabelecem al- de produtos e serviços que temos a
gum vínculo de investimento, especialmente em
oferecer.”
território nacional. Ao mesmo tempo, a aproxi-
mação com as empresas chinesas que estão che-
gando ao Brasil tem sido crescente, tendo em

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 99


BRF

A China é o maior O aumento das exportações brasileiras de maior


mercado consumidor valor agregado, como é o caso de produtos
de proteína animal oriundos das proteínas animais, diminuiria a
do mundo, sendo concentração atual da pauta de exportações em
responsável por aproximadamente 15% do con- commodities como soja e minério de ferro para
sumo mundial de carne de aves e nada menos a China. Por outro lado, o Brasil tem enorme ca-
que 50% do de carne suína. Estima-se que apro- pacidade e potencial para ser um parceiro funda-
ximadamente um terço do aumento do consumo mental da China em sua estratégia de segurança
mundial de carnes até 2020 virá da China. Isso se alimentar.
dará em função dos processos de urbanização e
de crescimento da renda que tendem a promover A BRF tem orgulho de participar de forma deci-
a substituição do consumo de proteína vegetal siva desta parceria, fornecendo à China carnes e
pelo de proteína animal. Ou seja, não restam dú- outros produtos alimentícios que atendem aos
vidas quanto à crescente relevância do mercado mais exigentes e rigorosos padrões sanitários e
chinês para as carnes brasileiras. de qualidade. Neste sentido, a visão da BRF é de
estabelecer compromissos de longo prazo com
a China, por meio de parcerias com importantes
players locais. Para que estas parcerias se forta-
leçam é muito importante que novas unidades
... a visão da BRF é de estabelecer produtoras de carne de aves e carne suína da BRF
sejam habilitadas pelo Governo Chinês para ex-
compromissos de longo prazo com
portarem seus produtos.
a China, por meio de parcerias com
importantes players locais.” De forma mais ampla, dada a complementaridade
das economias brasileira e chinesa, acreditamos
existirem diversas oportunidades de parcerias de
investimento direto, tanto nas etapas a montan-
te como nas etapas a jusante das cadeias de valor
do agronegócio nos dois países.

100 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Embraco

Estamos presentes O mercado chinês continua em expansão, deman-


há aproximada- dando produtos de refrigeração de qualidade e
mente 20 anos na alta eficiência energética. Além disso, sua loca-
China, com foco consistente em pesquisa, de- lização geográfica é extremamente estratégica
senvolvimento e qualidade dos nossos produtos. para possibilitar a exportação para outros países
Fomos a primeira empresa brasileira a investir asiáticos, europeus e para os Estados Unidos. Por
no país, inaugurando nossa primeira unidade de estes motivos, nosso objetivo para os próximos
compressores em 1995 – e a Embraco Eletrônicos anos é fortalecer nossa atuação na China, estrei-
em 2008 – e nos tornando referência no desen- tando nossas relações com o Governo. Vamos
volvimento de refrigeração de alta tecnologia no continuar investindo entre 3% e 4% do nosso fa-
continente asiático. turamento global anual em inovações tecnológi-
cas, que permitam levar aos nossos clientes o que
Como líderes do nosso segmento, sabemos do há de mais moderno, econômico e sustentável
nosso compromisso de contribuir positivamen- em refrigeração.
te com a qualidade de vida dos consumidores ao
redor do mundo, antecipando tendências e ofere-
cendo soluções inteligentes em um mercado tão
promissor. Acreditamos que, para isso, é impres-
cindível nos adaptar e valorizar uma cultura tão
diferenciada como a chinesa. Nós, da Embraco, O mercado chinês continua em ex-
temos a diversidade em nosso DNA: estimulamos pansão, demandando produtos de
que a multiculturalidade esteja presente no nos-
so relacionamento com as várias nacionalidades
refrigeração de qualidade e alta
e nos negócios realizados em cada país, respei- eficiência energética. Além disso,
tando as diferentes culturas e impulsionando sua localização geográfica é ex-
aprendizados todos os dias. Ter a diversidade
tremamente estratégica para pos-
como modelo de gestão para a tomada de deci-
sões estratégicas torna a empresa cada vez mais sibilitar a exportação para outros
preparada para a atuação como uma organização países asiáticos, europeus e para
que pensa e age globalmente.
os Estados Unidos.”

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 101


Embraer

A Embraer está pre- tensivamente com o mercado. Para uma empresa


sente na China desde sediada no Brasil existem grandes desafios em
o ano de 2000, quando foi inaugurado um escri- acompanhar, do outro lado do mundo, uma eco-
tório comercial de representação na cidade de nomia tão dinâmica que cresce a 7,5% ao ano e
Pequim, com a visão estratégica de explorar as em adaptar-se rapidamente ao cenário à medida
oportunidades deste mercado para nossos pro- em que ele muda.
dutos aeronáuticos e analisar as possibilidades
de desenvolver parcerias com a indústria local. Nossas previsões para o mercado chinês apon-
tam para uma demanda agregada de 1.020 aviões
Confirmando o acerto dessa visão, em 14 anos comerciais na categoria de 70 a 130 assentos nos
de presença na China, comercializamos 216 aero- próximos 20 anos, e de 830 jatos executivos nos
naves, das quais 150 já foram entregues. Somos próximos 10 anos. A China já é a segunda maior
líderes em participação do mercado chinês em economia do mundo e também é o segundo
aviões regionais, com 72% da frota entre 30 e 120 maior mercado individual para a Embraer, atrás
assentos. Em dezembro de 2002, firmamos com apenas dos EUA. Assim, naturalmente, continu-
o parceiro chinês AVIC II a primeira joint venture amos com a confiança cada vez maior no futuro
para a produção de aeronaves da Embraer fora do deste país, do qual a Embraer já faz parte como
Brasil, na cidade de Harbin. Essa JV também foi uma das principais provedoras de produtos e ser-
a pioneira para a indústria aeronáutica chinesa viços aeronáuticos.
no tocante à montagem de jatos regionais de 50
assentos, o ERJ 145. Em junho de 2012, nossa JV
passou a ser a primeira montadora de jatos exe-
cutivos na China, onde hoje temos a linha para o
jato de cabine grande, o Legacy 650. Nossas previsões para o mercado
Negociar na China significa nunca perder de vis-
chinês apontam para uma deman-
ta a real necessidade do cliente, do mercado e do da agregada de 1.020 aviões co-
governo, em conjunto. É fundamental entender merciais na categoria de 70 a 130
a fundo cada ciclo do planejamento quinquenal,
assentos nos próximos 20 anos, e
e como a aviação vai se desenvolver de acordo
com esse plano. É vital buscar relacionamentos de 830 jatos executivos nos próxi-
de longo prazo e sustentáveis e comunicar-se in- mos 10 anos.”

102 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Marcopolo

Os chineses, em Zonas de Processamento de Exportação para


de forma geral, poder produzir ônibus e exportá-los para várias
estão muito abertos a fazer negócios e promover regiões do mundo.
os seus produtos para exportação. Estabelecer
a confiança e o relacionamento é fundamental O potencial do mercado de ônibus chinês é um
para poder ter uma boa parceria. Em termos de dos maiores do mundo, sendo crescente em fun-
como negociar, as refeições são momentos muito ção do próprio desenvolvimento do país. A polui-
importantes para estabelecer relacionamentos. ção em algumas cidades chinesas é provocada
O formato da maioria das mesas de restaurantes pela grande quantidade de automóveis e uma so-
(redondas e normalmente em salas específicas) lução é usar com maior intensidade o transporte
facilita as conversas, onde todos se enxergam coletivo, principalmente os sistemas massivos de
e interagem, criando assim um ambiente de transportes em vias segregadas (BRT).
compartilhamento.
A China poderá ser uma base de exportação da
A velocidade de desenvolvimento de amostras e Marcopolo para atender os mercados do Sudeste
ferramentais é um diferencial da China em rela- Asiático, bem como para realizar o envio de ôni-
ção a outros países. Pode-se reduzir o tempo de bus desmontados em KD´S para serem monta-
desenvolvimento no mínimo em 30% em relação dos em outros países da África e Oriente Médio.
a outros países e, inclusive, em contraste ao Brasil.

A nossa expectativa para a relação com a China


nos próximos anos é de que o Governo Chinês O potencial do mercado de ônibus
aprove o pleito da Marcopolo de se estabelecer
chinês é um dos maiores do mun-
do, sendo crescente em função do
próprio desenvolvimento do país.”

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 103


Marfrig

Nossa interação e nosso gociar, que nos possibilitou fazer planos de longo
aprendizado com a Chi- prazo para este mercado com base na confiança
na sempre foram muito estabelecida em nossos relacionamentos.
grandes, pois é um mer-
cado de alto volume e o Nossa parceria com os chineses teve início há 20
canal de exportação que mais cresceu nos últi- anos e hoje contamos com duas plantas na China
mos cinco anos, passando de quinto maior impor- e um recém-inaugurado escritório de vendas em
tador de carne do Brasil para o segundo maior. A Xangai. Adicionalmente, nossa base de produção
Marfrig sempre teve muita afinidade com o mer- de proteína animal na América do Sul está muito
cado chinês por causa do seu jeito simples de ne- bem posicionada para suprir o crescente consu-
mo de carne bovina da China, com alta qualidade
e a um preço competitivo. Certamente, esta será
uma parceria duradoura e crescente.
Acreditamos que a China será o
Acreditamos que a China será o maior importa-
maior importador de carne do dor de carne do Brasil num futuro breve. Neste
Brasil num futuro breve. Neste contexto, nossa base de produção de proteína
contexto, nossa base de produção animal na América do Sul, aliada a nossa estru-
tura instalada na China, nos deixarão bem posi-
de proteína animal na América do
cionados para absorver este potencial e forta-
Sul, aliada a nossa estrutura ins- lecer nosso relacionamento comercial com este
talada na China, nos deixarão bem país, tornando-se um dos maiores destinos de
nossas exportações.
posicionados para absorver este
potencial e fortalecer nosso rela-
cionamento comercial com este
país, tornando-se um dos maiores
destinos de nossas exportações.”

104 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Suzano

Como maior mercado impor- dos clientes em nosso negócio, chave esta para
tador de nossa matéria-pri- garantir o sucesso num mercado tão singular
ma, a China ocupa uma po- como o chinês.
sição estratégica em nossos
negócios. A Suzano, visando uma presença global Sem dúvida, a China continuará como o maior
com atuação local no mercado chinês, altamente mercado potencial para o setor de celulose nos
competitivo e dinâmico, estruturou sua operação próximos 10 ou 20 anos. A visão da Suzano Papel
na Ásia, com profissionais sino-brasileiros e chi- e Celulose é investir cada vez mais no mercado
neses. Nossa equipe tem como foco criar um rela- chinês, pois nenhum negócio que queira perma-
cionamento de longo prazo, com valor e respeito necer minimamente competitivo no cenário in-
às relações comerciais, promovendo benefícios ternacional poderá estar fora dele.
para ambos os lados e aumentando a confiança

Sem dúvida, a China continuará


como o maior mercado potencial
para o setor de celulose nos pró-
ximos 10 ou 20 anos. A visão da
Suzano Papel e Celulose é investir
cada vez mais no mercado chinês,
pois nenhum negócio que queira
permanecer minimamente com-
petitivo no cenário internacional
poderá estar fora dele.”

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 105


Vale

A Vale acredita em Em parceria com o setor público, acreditamos


um futuro brilhante que o empresariado sino-brasileiro deva buscar
para o Brasil e a Chi- soluções criativas em prol de maior cooperação
na. Estamos certos econômica a curto, médio e longo prazos. Con-
de que os dois países continuarão a desenvolver- sideramos fundamental o fomento ao diálogo,
-se, tendo ainda mais destaque na comunidade a fim de intensificar a troca de experiências
internacional. e promover a identificação de interesses co-
muns, consolidando os canais de interlocução
A China não é apenas um dos principais mer- entre os governos do Brasil e da China. Nesse
cados para a Vale mas também um parceiro sentido, o CEBC vem efetivamente contribuin-
estratégico a longo prazo. Iniciamos nossa do para o fortalecimento e o aprofundamento
parceria antes mesmo de o Brasil estabelecer do relacionamento bilateral.
relações diplomáticas com o país asiático. Já
fornecemos às siderúrgicas chinesas mais de Há também mecanismos institucionais impor-
1,1 bilhão de toneladas métricas de minério de tantes que ainda podem ser mais fortalecidos,
ferro, além de cobre, manganês e níquel. Nossa como a Cosban, que é uma sólida plataforma
parceria de sucesso completa 41 anos e ainda é para elevar a parceria bilateral a um patamar
promissora. A Vale está investindo na expan- ainda mais estratégico. Além disso, grupos
são do maior projeto de como G-20 e BRICS
minério de ferro da his- são importantes fó-
tória, o projeto S11D, em runs nos quais os
Carajás, no Pará, que irá A China não é apenas um dos prin- dois países podem as-
produzir 90 milhões de cipais mercados para a Vale mas sumir papel cada vez
toneladas por ano a par- mais relevante em
tir de 2018. Para vencer
também um parceiro estratégico a discussões de temas
o desafio logístico, in- longo prazo.” de interesse global.
vestimos na construção
dos Valemax, os maiores navios mineraleiros Temos à nossa frente uma oportunidade excep-
do mundo. Além de aumentarem nossa com- cional para fortalecer e aprofundar as relações
petitividade na rota Brasil-Ásia, os Valemax sino-brasileiras, e a Vale quer continuar contri-
possibilitam uma redução de 35% na emissão buindo para a solidez e a proximidade desse
de gases de efeito estufa. Para melhor atender relacionamento. Para nós, as celebrações dos
nossos clientes, também criamos centros de 40 anos das relações entre as duas nações sina-
distribuição, aumentando nossa proximidade lizam muitas outras décadas de prosperidade
geográfica e reduzindo o tempo de entrega do compartilhada.
produto.

106 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Baidu

O Brasil detém um mando rapidamente com o ingresso crescente de


dos mais dinâmicos investimentos chineses em setores avançados da
e criativos mercados economia brasileira, como o de serviços financei-
digitais do mundo, com uma centena de milhões ros, como a compra do brasileiro BIC Banco pelo
de usuários conectados e uma impressionante China Construction Bank, e o ingresso, no Brasil,
taxa de inclusão digital. De acordo com análises de companhias de internet com forte viés inova-
do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), dor, caso do Baidu, maior serviço de buscas em
só nos próximos 4 anos, mais 50 milhões de bra- língua chinesa e líder em seu mercado natal com
sileiros devem se conectar à web, totalizando 150 80% de market share.
milhões de cidadãos online.
Assim como a onda de investimentos chineses
Além do gigantismo no número de usuários, o em commodities dinamizou este mercado no Bra-
país possui um estimulante cenário para startups sil no início da década passada, fenômeno similar
de tecnologia e um mercado publicitário digital deve acontecer com o mercado brasileiro de tec-
que, em 2014, segundo a IAB (International Ad- nologia. Há apenas um ano no Brasil, por exem-
vertisement Bureau) deve superar os 2,5 bilhões plo, os produtos do Baidu já são utilizados por 50
de dólares de faturamento, registrando expan- milhões de usuários, o que corresponde à metade
são anual sempre na casa dos dois dígitos (entre da população nacional conectada. A companhia
10% e 12% sobre o ano anterior). Este cenário é chinesa também anunciou, este ano, a aquisição
bastante parecido com o que vivemos na China, do controle do Peixe Urbano, líder brasileiro no
país com taxa de penetração da web similar a do segmento de ofertas online, um claro sinal de que
Brasil (em torno de 50% da população) e forte a presença do Baidu no mercado brasileiro já esti-
crescimento tanto na base de usuários conecta- mula a economia digital local.
dos (atualmente no patamar de 700 milhões de
pessoas) quanto na expansão do mercado de pu- Em julho deste ano, a companhia de internet de
blicidade digital. origem chinesa anunciou, também, que cons-
truirá, no Brasil, um centro de pesquisa e desen-
O fato de ambas as economias, no entanto, ca- volvimento de classe mundial. Este será, aliás, o
minharem para uma universalização do acesso primeiro centro do tipo construído pelo Baidu na
à web e transferências de atividades antes re- América Latina, o que favorecerá a captação de
alizadas offline (como venda de serviços no va- talentos brasileiros altamente qualificados e o
rejo físico) para um cenário online (e-commerce, compartilhamento da expertise de uma das maio-
por exemplo), a colaboração entre os dois paí- res companhias de internet do mundo com seus
ses nos últimos anos notabilizou-se pela troca colaboradores brasileiros.
de produtos primários, como exportação de
commodities minerais e agrícolas, investimen- O cenário, portanto, é altamente positivo e trans-
tos em infraestrutura e exportação de produtos formador e deverá marcar uma mudança no pa-
de baixo valor agregado. radigma de colaboração entre Brasil e China para
um modelo mais digital, sofisticado e com poten-
A pauta comercial entre as duas nações de econo- cial de aumentar exponencialmente as transa-
mias complementares, porém, vem se transfor- ções entre os dois países.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 107


Bank of China

O Bank of China, firmado entre os dois países envolvendo as suas


com sua presença moedas locais, proporcionando mecanismos efi-
global, busca pro- cientes de proteção à exposição cambial, reduzin-
mover o crescimento das relações de negócios do os custos de conversão de moedas, estimulan-
entre o Brasil e a China, oferecendo o suporte fi- do o comércio bilateral, reforçando a cooperação
nanceiro necessário para esse desenvolvimento. financeira e contribuindo para a manutenção da
Tendo como base a ampla rede de atendimento estabilidade financeira.
do grupo ao redor do mundo, o Bank of China
pode oferecer um canal entre os mercados bra- O Brasil é rico em recursos naturais e as econo-
sileiro e chinês e entre outros importantes mer- mias dos dois países têm fortes características
cados financeiros mundiais. O Bank of China de complementaridade. Conforme as relações
tem como objetivo oferecer sua expertise para comerciais e de investimento forem se inten-
a operacionalização do Acordo de Swap que foi sificando, a demanda por produtos e serviços
financeiros de trade finance ou operações de
câmbio e remessas internacionais, por exemplo,
crescerá proporcionalmente, gerando oportuni-
dades de desenvolvimento de negócios para o
setor bancário.
O Bank of China tem como objetivo
oferecer sua expertise para a ope- O Bank of China sempre esteve atento ao merca-
racionalização do Acordo de Swap do brasileiro. Estabeleceu um escritório de repre-
sentação no Brasil em 1998 e, em 2009, estabele-
que foi firmado entre os dois paí-
ceu como banco múltiplo o Banco da China Brasil
ses envolvendo as suas moedas lo- S.A.. Foi, portanto, a primeira instituição finan-
cais, proporcionando mecanismos ceira chinesa a ser autorizada a operar na Amé-
rica do Sul. No cenário da consolidação da par-
eficientes de proteção à exposição
ceria estratégica global entre os dois países e da
cambial, reduzindo os custos de aproximação crescente dos países membros dos
conversão de moedas, estimulando BRICS, um banco de grande porte como o Bank
o comércio bilateral, reforçando a of China não poderia deixar de colaborar com a
estratégia do Estado Chinês, assumindo ativa-
cooperação financeira e contribuin- mente sua responsabilidade social e oferecendo
do para a manutenção da estabili- suporte financeiro com eficiência às empresas
dade financeira.” chinesas que investem no Brasil ou às empresas
brasileiras que investem na China.

108 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Chery

A Chery Automobile Cor- consolidando ainda mais a capacidade de produ-


poration é a primeira pro- ção em território nacional, a Chery poderá se tor-
dutora chinesa de veículos nar uma marca altamente competitiva no merca-
de passageiros a instalar uma fábrica no Brasil, do de automóveis brasileiro.
investindo US$ 400 milhões no projeto. Com a
conclusão da construção das duas fases da plan-
ta de produção no Brasil, a Chery Automobile
Corporation atingirá a capacidade de fabricação
de 150 mil unidades por ano e criará mais de 3 mil
A Chery Automobile Corporation
postos de trabalho. é a primeira produtora chinesa de
veículos de passageiros a instalar
Acreditamos que, no futuro próximo, com a ex-
pansão do mercado, da linha de produtos, das uma fábrica no Brasil, investindo
vendas em rede, com o upgrade dos serviços e US$ 400 milhões no projeto.”

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 109


China Development Bank
O estabelecimento de rela- exterior na China, tem o compromisso de apoiar
ções diplomáticas entre Brasil o desenvolvimento econômico e social chinês,
e China em 1974 inaugurou promovendo melhorias na vida das pessoas e a
uma nova era no intercâmbio cooperação internacional. Até o final de junho
amistoso entre os dois países. de 2014, o valor total dos ativos do banco era de
Em 1993, o Brasil tornou-se o 9,9 trilhões RMB (aproximadamente US$ 1,6 tri-
primeiro país em desenvolvimento a ser parceiro lhão), dos quais empréstimos comerciais interna-
estratégico da China. Em 2012, a relação sino- cionais correspondiam a aproximadamente US$
-brasileira se elevou à condição de Parceria Estra- 306,5 bilhões.
tégica Global, o que estabeleceu uma fundação
sólida para o avanço da cooperação. Em julho O Brasil tem sido um dos principais focos do tra-
deste ano, celebrando o aniversário de 40 anos balho de cooperação internacional do CDB. Des-
de estabelecimento das relações bilaterais, o Pre- de 2006, quando o banco enviou um grupo de tra-
sidente Xi Jinping esteve na Cúpula dos BRICS e balho ao país, boas relações foram estabelecidas
fez uma visita de Estado ao Brasil, aprofundando com instituições financeiras e empresas brasilei-
ainda mais as relações e criando condições para ras, incluindo o financiamento de projetos para
promover globalmente a cooperação econômica. a construção de gasodutos de gás natural, da
Usina Térmica de Candiota e de uma plataforma
Como os maiores países em desenvolvimento nos de perfuração de petróleo. Ainda com o intuito
hemisférios oriental e ocidental, importantes de oferecer apoio às empresas dos dois países, o
membros dos BRICS e fortes economias emergen- CDB assinou um acordo de cooperação e planeja-
tes, Brasil e China têm grande complementari- mento com o Governo do Estado do Mato Grosso.
dade econômica, sendo a cooperação econômica
muito proveitosa. No momento, o Brasil é o maior Atualmente, os dois países ingressaram em uma
parceiro comercial da China na América Latina, nova e importante fase da relação bilateral, na
enquanto a China é o maior parceiro comercial, qual a cooperação econômica e comercial tam-
maior destino de exportações e origem de im- bém apresenta características singulares. Um es-
portações do Brasil no mundo. Os investimentos critório do CDB foi formalmente estabelecido no
mútuos vêm aumentando significativamente e Brasil, a fim de continuar a promover a coopera-
as áreas de cooperação agora se estendem para ção sob a máxima do “desenvolvimento mútuo”,
os setores de energia, agricultura, aviação, auto- sobretudo nas áreas de maior potencial para o de-
móveis, eletrônicos, telecomunicações, finanças, senvolvimento sustentável, como recursos ener-
infraestrutura e áreas de alta tecnologia. O lança- géticos, infraestrutura, agricultura e inovação
mento do satélite sino-brasileiro é um exemplo tecnológica. O CDB desempenha uma posição de
dos benefícios mútuos dessa cooperação Sul-Sul. liderança como fonte de financiamento, contri-
buindo com a promoção e o aprofundamento da
O China Development Bank, na posição de impor- cooperação financeira e econômica entre os dois
tante banco de investimentos e financiamento países.

110 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


China Three Gorges Corporation

energia hidrelétrica e eólica, a empresa acredita,


mais amplamente, que Brasil e China se respeita-
No dia 17 de julho de 2014, sob o testemunho do rão e aprenderão um com o outro no processo de
Presidente Chinês, Xi Jinping, e da Presidente do desenvolvimento, gerando benefícios mútuos.
Brasil, Dilma Rousseff, o Sr. Luchun, Presidente
do Conselho da China Three Gorges Corporation,
o Sr. José da Costa, Presidente da State Grid
Corporation do Brasil e o Sr. Flavio Decat, Presi- A China Three Gorges Corporation
dente da Brazil State Grid Furnas Corporation
assinaram um Acordo de Cooperação Estratégica
considera o Brasil um mercado re-
no Palácio do Planalto. levante para o investimento estran-
geiro e criou uma empresa no país.
A presidente brasileira proferiu discurso na ceri-
mônia de assinatura, no qual mencionou, espe- Além de ter confiança na coopera-
cialmente, que seu governo apoia a cooperação e ção bilateral na área de energia hi-
a formação de uma parceria estratégica entre as drelétrica e eólica, a empresa acre-
empresas no tocante aos projetos hidrelétricos
brasileiros, como o de Tapajós, no Pará.
dita, mais amplamente, que Brasil e
China se respeitarão e aprenderão
A China Three Gorges Corporation considera o
um com o outro no processo de de-
Brasil um mercado relevante para o investimento
estrangeiro e criou uma empresa no país. Além de senvolvimento, gerando benefícios
ter confiança na cooperação bilateral na área de mútuos.”

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 111


Sany Indústria do Brasil – Grupo Sany

O Grupo Sany é um dos maiores A Sany percebe a grande complementaridade en-


produtores de máquinas pesa- tre Brasil e China no setor de construção, logísti-
das na China e no mundo. Seu ca e transportes como uma oportunidade valiosa
portfólio inclui máquinas e equi- para maior colaboração bilateral no campo eco-
pamentos de alta performance nômico-comercial. Enquanto o Brasil logrou, nos
para a construção civil (Linha últimos anos, incrementar o poder de compra da
Amarela), guindastes, turbinas eólicas e equipa- população e desenvolver o consumo interno, vol-
mentos portuários. A estrutura do Grupo conta tando-se agora à reestruturação da infraestrutu-
hoje com mais de 40 mil colaboradores, atuando ra do país, a China passa pelo processo inverso.
em 150 países, sendo cinco deles com estrutura Como resultado, grandes corporações chinesas
fabril: Brasil, Índia, Indonésia, Alemanha e Esta- surgiram para atender às demandas de infraes-
dos Unidos. trutura que o Brasil hoje apresenta, ao mesmo
tempo em que deverá haver maior demanda da
A Sany Indústria do Brasil iniciou suas atividades população chinesa por produtos exportados
no Brasil em 2007, inicialmente com a importa- pelo Brasil.
ção de equipamentos para o mercado brasileiro.
Quatro anos depois, tendo investido aproxima- É motivo de orgulho para a Sany estar entre as
damente US$ 200 milhões no mercado brasileiro, empresas mundiais de máquinas e equipamen-
a Sany consolidou sua presença no país com a tos que apresentam melhor desempenho e qua-
inauguração de planta para montagem de escava- lidade, além de ter sido uma das primeiras empre-
deiras e guindastes em São José dos Campos, SP. sas chinesas do setor de manufatura a perceber o
potencial do mercado brasileiro e aqui se instalar
com planta fabril. Reforçando o compromisso da
empresa com o Brasil, em julho de 2014 a Sany
anunciou novo investimento de US$ 300 milhões
...tendo investido aproximadamente
para a construção de nova fábrica, na presença
US$ 200 milhões no mercado brasi- da Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e do Pre-
leiro, a Sany consolidou sua presen- sidente da China, Xi Jinping. O objetivo da nova
ça no país com a inauguração de planta é nacionalizar outras linhas de produto do
Grupo e utilizar o Brasil como base exportadora
planta para montagem de escava- para países próximos.
deiras e guindastes em São José dos
Campos, SP.”

112 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


ICBC

Apesar da visível desacelera- Considerando o estreito relacionamento econô-


ção econômica experimentada mico-comercial entre Brasil e China, acreditamos
pelo Brasil como resultado do que produtos agrícolas e minerais permanecerão
desaquecimento econômico como os principais itens da pauta de exporta-
global, o potencial espaço de ções. São esses exatamente os setores para os
parceria econômico-comercial quais o ICBC presta maior número de serviços.
entre Brasil e China permanece
ilimitado dada a forte complementaridade exis- Acreditamos que haverá uma aceleração nos in-
tente entre as duas economias. Fora da China, o vestimentos em infraestrutura no Brasil, uma
ICBC possui escritórios em 40 países nos quatro vez que o interesse das empresas chinesas nes-
continentes – uma plataforma internacional que sas obras vem crescendo. Confiamos também
beneficia os serviços do ICBC Brasil. Atualmente, que o setor de maquinário ganhará cada vez mais
as filiais ICBC Nova York, ICBC Ásia e ICBC Oriente importância.
Médio dão suporte às necessidades das opera-
ções do ICBC Brasil, oferecendo financiamento, A China é o maior parceiro comercial do Brasil,
serviços de banco de investimento e leasing, en- que é, por sua vez, o nono parceiro comercial
tre outros. da China. Na visita de Estado do Presidente Xi
Jinping ao Brasil em julho de 2014, acordos de
cooperação no montante de bilhões de dólares
foram assinados entre empresários de ambos os
países, alçando a parceria estratégica entre os
dois países a um novo patamar.
Considerando o estreito relacio-
namento econômico-comercial A internacionalização tem sido uma estraté-
entre Brasil e China, acreditamos gia prioritária do ICBC nos últimos anos, sendo
fundamental para o crescimento e a geração de
que produtos agrícolas e minerais
lucro do banco no futuro. O Brasil é a sétima
permanecerão como os principais economia do mundo, uma das principais econo-
itens da pauta de exportações. São mias dos BRICS e dentre os países emergentes, e
é também a maior economia da América Latina.
esses exatamente os setores para os
Com todas essas características, o Brasil se torna
quais o ICBC presta maior número um país importante para a estratégia de inter-
de serviços.” nacionalização do ICBC, tanto em nível regional
quanto mundial.

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 113


State Grid

A State Grid está A China é o maior parceiro comercial da Brasil há


há quatro anos cinco anos e o Brasil representa o maior parcei-
investindo no ro da China na América Latina e no Caribe. Essa
Brasil por acreditar nas parcerias comerciais du- relação comercial apresenta forte tendência ao
radouras. Sabemos que Brasil e China possuem crescimento e à diversificação em áreas como
economias complexas, com grandes oportunida- energia, tecnologias da informação e da comu-
des e também enormes desafios. nicação, automóveis, alta tecnologia, bancos,
petróleo, entre outros setores, e consolida a
Esperamos que, ao longo dos próximos anos, Bra- China como grande parceira do desenvolvimento
sil e China reduzam ou eliminem obstáculos bu- brasileiro.
rocráticos para aumentar as relações comerciais,
culturais e científicas, favorecendo a parceria O Brasil é um mercado com perspectiva de
comercial que tem gerado resultados, até então, crescimento de longo prazo. A State Grid
positivos para ambos os países. continuará investindo em projetos greenfields
(novos) e brownfields, que já estão em operação.
Com cerca de seis mil quilômetros de linhas em
operação, a companhia responde por cerca de 5%
do setor no país.
O Brasil é um mercado com pers-
pectiva de crescimento de longo Como perspectiva para os próximos anos, a State
Grid planeja investir também em atividades de
prazo. A State Grid continuará in-
geração e distribuição de energia.
vestindo em projetos greenfields
(novos) e brownfields, que já estão
em operação. Com cerca de seis mil
quilômetros de linhas em operação,
a companhia responde por cerca de
5% do setor no país.”

114 Carta Brasil-China | Edição especial 1974


Quem somos
Fundado em 2004, o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) é
uma instituição bilateral, sem fins lucrativos, formada por duas seções
independentes, no Brasil e na China, e dedicada à promoção do diálogo
entre empresas dos dois países. O CEBC concentra sua atuação nos temas
estruturais do relacionamento sino-brasileiro, com o objetivo de aperfeiçoar
o ambiente de comércio e investimento entre os países.

A agenda de trabalho do Conselho envolve contatos com autoridades de


ambos os governos, reuniões periódicas com empresas brasileiras e chinesas,
seminários temáticos, mecanismos de intercâmbio de experiências empresariais
e divulgação de estudos relevantes para as atividades empresariais.

As seções do CEBC têm autonomia completa e pautam sua atuação de acordo


com os interesses de seus associados, mantendo intensa cooperação para o
fomento do comércio e de investimentos mútuos.

O CEBC é integrado pelas mais importantes empresas e instituições brasileiras


e chinesas com investimentos e negócios nos dois países, e tem atraído
cada vez mais a adesão de novos associados que reconhecem a China como
mercado estratégico.

Associados
Seção Brasileira
Agência de Promoção de Exportações e Confederação da Agricultura e Pecuária do Federação das Indústrias do Estado do Rio
Investimentos Brasil (CNA) de Janeiro (FIRJAN)
(Apex-Brasil) Confederação Nacional da Indústria (CNI) Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP)
Andrade Gutierrez Confederação Nacional do Transporte (CNT) Fundação Dom Cabral
Associação Brasileira das Indústrias Construtora Odebrecht Fundação Instituto de Administração (FIA)
Exportadoras de Carne (ABIEC)
Deloitte Indústria Brasileira de Árvores - Ibá
Banco do Brasil
Duarte Garcia, Caselli Guimarães e Terra Mattel do Brasil Ltda.
Banco Itaú BBA Advogados PwC
Bank of China Embraer Sertrading
Bank of Montreal Federação das Indústrias do Estado de Mato SGI - Sandstone Group International Power
BNDES Grosso (FIEMT) Transmission
Bradesco Federação das Indústrias do Estado de Minas Suzano Papel e Celulose
BRF Gerais (FIEMG)
TozziniFreire Advogados
Bunge Federação das Indústrias do Estado de Santa
Catarina (FIESC) Vale
Centro Brasileiro de Relações Internacionais
Federação das Indústrias do Estado de São Vallya
- CEBRI
Paulo (FIESP) Veirano Advogados
Comexport

Seção Chinesa
A&W(Shanghai) Woods Co.Ltd China Nonferrous Metal Industry’s Foreign Hubei Golden Ring Co.,Ltd
Engineering and Construction Co., Ltd. (NFC) Nuctech Company Limited
Aluminum Corporation of China Limited
China North Industries Corp. ShanXi Foreign Investment & Trade (Group)
BAIDE Industry (ZhaoQing) Co.,Ltd
China Railway Construction Corporation Co.Ltd
Baosteel Group Corporation
Limited SINOPEC
Blooming Drilling Rig Co.,Ltd
CITIC Group Wuhan Iron and Steel (Group) Company
China Aviation Industry Corp.(AVIC)
COFCO Corporation profiles
China Civil Engineering Construction
Fujian Electronics & Information (Group) Xinxing Cathay International Group Co., Ltd
Corporation
Co., Ltd. Yankuang Group Co.Ltd
China Forestry Group Corporation
Guangxi Liugong Machinery Co.,Ltd Yefela Trading (Beijing)Ltd.
China Metallurgical Group Corporation(MCC)
Guosen Securities
China Minmetals Corporation
Huawei Technologies Co., Ltd

2014 Carta Brasil-China | Edição especial 115


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116 Carta Brasil-China | Edição especial 1974

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